Essas foram as palavras que permaneceram na minha mente após visitar a escola
em que minha mãe ensina. Ela é professora de jardim de infância em uma escola localizada
em Costa Barros, o segundo bairro com o menor IDH no estado do Rio de Janeiro, no
Brasil. Com frequência, nós conversamos sobre seu trabalho diurno; ela chega em casa
cansada, eu pergunto como foi o expediente e ela me conta o que as crianças aprontaram.
Há dias, porém, nos quais se emociona com algo que aconteceu em sala e acaba
compartilhando comigo maiores detalhes sobre o dia a dia dos alunos. A negligência vai de
uniformes sujos até casas com o teto despencando e infestação de ratos. “Se não fosse
pela escola provendo três refeições por dia”, ela me conta, “algumas crianças simplesmente
não conseguiriam comer”.
Eram sete da manhã. Eu ponderava como passar meu tempo livre, já que não teria
aulas no dia. De repente, meus pensamentos foram interrompidos pelo som familiar do
alarme da minha mãe. Eu já havia manifestado o interesse de conhecer seu ambiente de
trabalho, só faltava a oportunidade, já que nossos horários são tão conflitantes. Mas lá
estava. Perguntei se poderia acompanhá-la e a resposta foi sim. Ainda era cedo quando
entramos em seu carro e ela deu a partida. Olhei pela janela e assisti à paisagem que
conheço bem. A rota que minha mãe faz até o trabalho intersecta com as ruas que eu
costumava percorrer quando criança, a caminho da minha própria pré-escola. Eis o que eu
vi: gente correndo entre carros, aparência cansada, tentando pegar o ônibus. Muros e
prédios tomados por pichação. Pessoas sem-teto revirando lixo, procurando comida. Um rio
antigo que atravessa a cidade, agora consumido por poluição. Eis o que eu não vi: qualquer
investimento em políticas públicas nos arredores.
Quando trancamos o prédio e entramos no carro, já eram cinco da tarde. Olhei pela
janela novamente e dessa vez vi um aglomerado de crianças de diferentes escolas, todas
usando nosso uniforme de educação pública, rindo alto debaixo do brilho morno do sol;
todas andando na mesma direção, voltando para casa. Isso é o que eu mais amo no Brasil:
apesar de todos os obstáculos, nós ainda achamos tempo para rir e ter esperança. De certa
forma, vi meu país refletido no otimismo claro e desinibido das crianças. E, naquele
momento, eu pude claramente vê-las andando na direção de um futuro melhor, com
oportunidades iguais e potenciais alcançados.