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“AQUI TEM HISTÓRIA”: LUGARES DE MEMÓRIA

Adriely M. de Oliveira (C. Sociais – UEL/ Bolsista IC/Fundação Araucária).


Orientadora: Ana Cleide Chiarotti Cesário.

Palavras-chave: Memória, Patrimônio, Discurso.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho teve início com o projeto de extensão: “Monumentos


Históricos em Londrina: recrutamento, identificação e avaliação”, desenvolvido por
professores da área de História, Ciência Política e Sociologia, durante o período de 2005
a 2008. Este projeto possibilitou um amplo debate sobre a memória e o patrimônio
cultural da cidade de Londrina, dando origem ao projeto de pesquisa: “Memória
Coletiva e Patrimônio Cultural: Discursos Sobre a Cidade” que analisa o projeto da
Secretaria Municipal de Cultura de Londrina: “Aqui Tem História”.

O projeto “Aqui Tem História” fixa quatorze placas de bronze com imagens
do passado, acompanhadas de textos descritivos sobre as fotos nelas gravadas, situadas
no xadrez central de Londrina, planejado pela Companhia de Terras Norte do Paraná
(CTNP). De tal modo, tais lugares foram instituídos como referenciais de memória, isto
é, locais memoráveis na cidade, onde tem História.

Essa pesquisa relacionada ao IPAC/LDA, um Programa de Extensão,


Ensino e Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina (UEL), possibilitou a minha
inserção em uma bolsa de pesquisa da Fundação Araucária.

O trabalho de pesquisa encontra-se ainda em fase inicial, visto que já se tem


um pré-levantamento de campo e discussões teórico-metodológicas sobre o tema, o que
possibilita debate acerca do material coletado.
UMA PROPOSTA DE ANÁLISE DE UM PROJETO INSTITUCIONAL DE
MEMÓRIA.

Ao deparar-se com o projeto “Aqui Tem História” nota-se o propósito de


demarcar lugares de memória, bem como estabelecer um roteiro turístico na cidade.
Entretanto, deve-se ressaltar o interesse do poder local em demarcar tais espaços, visto
que, o projeto foi executado pela Secretária Municipal de Cultura na gestão do prefeito
Luiz Eduardo Cheida (mandato de 1993 a 1996).

Pode-se dizer que em torno da memória, sempre se estabelece um campo de


luta por poder simbólico. Logo, a idéia de transformar as quatorze placas em um trajeto
pela cidade faria cumprir com o objetivo de preservar a memória e a história de um
determinado grupo.

É das práticas discursivas sobre o patrimônio e a memória coletiva da


cidade que este projeto se ocupa, tendo como questão, nesse tipo
particular de leitura, a contradição existente entre tradição e moderno,
mas, sobretudo, a constituição de um campo que, por meio de
linguagens icnográficas e discursivas, expressa luta por capital
cultural e poder simbólico. (PROJETO DE PESQUISA..., 2007, p.9).

O Estudo pretende justamente focar estas questões, ou seja, desenvolver e


revelar os implícitos contidos nas quatorze placas, bem como demonstrar o porquê da
escolha desses locais e não de outros pelo poder público municipal. É importante
registrar que, o projeto “Aqui Tem História”, ao eleger alguns espaços como
referenciais de memória, notabilizam indivíduos e grupos a eles pertencentes e, ao
mesmo tempo, apaga outros espaços e silencia outros atores sociais.

A ênfase dada pelo “Aqui Tem História” aos espaços ocupados e


organizados pela Companhia de Terras do Norte do Paraná, com a participação de
agências, grupos e instituições que a ela se associaram, na condução do processo de
colonização de Londrina e região, pode ter produzido um efeito homogeneizador da
memória local, ocultando divergências e contradições que marcaram a história do
município. Esta é uma das principais questões com as quais a pesquisa se ocupa.
“Do mesmo modo, a memória coletiva foi posta em jogo de forma
importante na luta das forcas sociais pelo poder. Tornaram-se
senhores da memória e do esquecimento é uma das grandes
preocupações das classes, dos grupos, dos indivíduos que dominaram
e dominam as sociedades históricas. Os esquecimentos e os silêncios
da história são reveladores desses mecanismos de manipulação da
memória coletiva. O estudo da memória social é um dos meios
fundamentais de abordar os problemas do tempo e da história,
relativamente as quais a memória está ora em retraimento, ora em
transbordamento” (LE GOFF, 1996, P. 426)

Ao escolher espaços que reafirmam o poder simbólico de grupos que


detiveram poder econômico e/ ou político, o projeto “Aqui tem História” confere pouca
visibilidade aos trabalhadores, pequenos proprietários e outros grupos que também
participaram do processo de colonização do norte do Paraná. Nota-se que em relação
aos pequenos proprietários, a própria Companhia elaborou a propaganda do seu
empreendimento exaltando a importância da pequena propriedade como fator de
igualdade de condições para os colonos interessados na compra de terras para se
fixarem na região. Portanto, a não visibilidade do pequeno proprietário no conjunto de
placas do “Aqui tem História” provoca estranhamento no pesquisador. Pois, conforme
Halbwachs afirma “Nosso entorno material leva ao mesmo tempo nossa marca e a dos
outros” (HALBWACHS, 2004, p. 137). Dessa forma, o lugar passa a ter um sentido
para o grupo retratado, que por sua vez relaciona o indivíduo e as imagens do entorno.
Em contraste a essa idéia o “Aqui Tem História” determinou uma memória
homogeneizadora para a cidade de Londrina, silenciando outros atores sociais também
importantes no processo de ocupação da cidade e região.

“Não se pode concentrar num único quadro a totalidade dos


acontecimentos passados senão na condição de desligá-lo da memória
dos grupos que deles guardavam a lembrança, romper as amarras
pelas quais participavam da vida psicológica dos meios sociais onde
aconteceram, de não manter deles senão o esquema cronológico e
espacial. Não se trata mais de revivê-los em sua realidade, porém de
recolocá-los dentro de quadros nos quais a história dispõe os
acontecimentos, quadros que permanecem exteriores aos grupos [...]”
(HALBWACHS, 2004, p. 90)

Cumpre assinalar que a idealização do projeto “Aqui Tem História” foi feita
por Domingos Pellegrini, Secretário da Cultura em gestão anterior, que demarcava um
número maior de lugares de memória. Entretanto, sua execução posterior pelo poder
público, vinculado à empresa privada patrocinadora, não levou em conta todos aqueles
lugares, se fixando aos fatos ligados à Companhia de Terras Norte do Paraná e à Viação
Garcia, possibilitando a homogeneização da memória da cidade.

Desse modo, a presente pesquisa pretende colocar em questão a tendência


que se observa, nos estudos sobre patrimônio cultural, em se reproduzir uma memória
homogeneizada pela ação de grupos hegemônicos no processo sócio-histórico que é
tenso e contraditório por natureza. A noção de patrimônio cultural que orienta a
investigação – como elucida Magnani (1985) – não se refere apenas a locais e
acontecimentos excepcionais, mas, procura ir além, entendendo o patrimônio cultural
como algo amplo e que diz respeito ao cotidiano e à história circunstancial.
Especialmente, não se prende apenas aos aspectos materiais, mas procura revelar o
imaterial, a produção de sentidos dentro da cidade de Londrina, ou seja, a relação que os
habitantes têm com os lugares de memória.

TEORIA E MÉTODO

Assim, fica evidente a análise que se pretende fazer das placas, pois, será
necessário apreender os sentidos que estão nelas impregnados, analisando os textos e
imagens contidas nas quatorze placas. Entretanto, os signos que nelas estão impressos
não estão evidentes, logo, esse estudo pretende analisar tais signos para revelar a
identificação do londrinense com seu patrimônio cultural.

Para tanto, a investigação concebe a Análise de Discurso de linha francesa


(AD) como teoria e método, para desse modo, verificar quais sentidos são atribuídos e
conferidos pelas placas a esses espaços urbanos de Londrina. Assim, o estudo terá como
referência a AD para analisar as inscrições das placas – tanto texto como imagem –
entendendo-as como objeto simbólico, analisando as discursividades presentes.

O projeto compreende como memória coletiva, a idéia de Le Goff, que


pontua:

[...] memória colectiva faz parte das grandes questões das sociedades
desenvolvidas e das sociedades em vias de desenvolvimento, das
classes dominantes e das classes dominadas, lutando todas pelo poder
ou pela vida, pela sobrevivência e pela promoção [...]. Mas memória
colectiva é não somente uma conquista, é também um instrumento e
um objectivo de poder. São as sociedades cuja memória colectiva
sobretudo oral ou que estão em vias de constituir uma memória
colectiva escrita que melhor permitem compreender essa luta por
dominação da recordação e da tradição, esta manifestação da
memória. (LE GOFF, 1990, p.46).

Pode-se justificar o estudo do “Aqui Tem História”, pois, entende-se que,


ao analisar uma determinada placa pode-se chegar a usos de espaços não referidos por
ela, o que não deixa de ser também uma forma de silêncio. Pelo não-dito será possível
também compreender os significados e sentidos atribuídos à cidade tendo como ponto
de partida esses suportes de memória.

Isso pode ser exemplificado pela placa fixada na Catedral, onde a foto nela
gravada nos remete à primeira Igreja Matriz e o texto nela impresso transmite uma idéia
de substituição de uma igreja pela outra, ou seja, nos remete a um processo contínuo.
Contudo, essa idéia de continuidade produz um sentido que deixa implícita a
substituição da uma igreja de madeira por outra de arquitetura neogótica que foi
demolida para dar lugar à atual, edificada a partir de 1972.

Compreende que a escolha e a análise das placas pode ao apreender os


sentidos produzidos por elas, ter acesso ao entendimento do processo de produção da
memória coletiva de Londrina. Como ensina a AD, a presença da historicidade no texto
leva à compreensão do sujeito como integrante do discurso, agente de um processo
histórico e afetado pela ideologia. Não será atribuída às placas a função de relacionar o
discurso com a exterioridade, mas, sobretudo será analisada como texto que contém
historicidade, isto é, fatos e circunstâncias da vida londrinense e norteparanaense.

Desse modo, o estudo pretende interpretar o sentido implícito do discurso


das placas para dessa maneira, apreender o real sentido de lugares de memória na
cidade. E nessa linha teórico-metodológica, estabelecer a relação da memória regional
com a memória nacional.

Portanto, fica evidente que o objetivo do estudo é entender o projeto “Aqui


Tem História” e os locais de memória como monumento, relacionando a memória
regional com a memória nacional. È preciso insistir também no fato de que se faz
necessário compreender a ideologia que envolve o projeto “Aqui Tem História”, isto é,
quais os efeitos ideológicos que o projeto produz. Entendendo dessa forma, o que o
projeto silencia, e quais os grupos, iniciativas e eventos que ele notabiliza. Nota-se
assim, que os objetivos são amplos, mas, a definição de um recorte direcionado dos
espaços que serão analisados, será posterior, pois, a partir do material coletado será feita
uma redefinição do corpus de análise.

Numa perspectiva metodológica, o estudo busca junto à AD compreender o


contexto em que o discurso foi construído, não trabalhando somente com o texto em si,
mas, sobretudo, com a situação histórica e social em que o texto foi produzido,
analisando assim, os efeitos de sentido do discurso. Logo, esta metodologia, que
também é teoria, permite trabalhar com os textos impressos nas placas, discutindo
memória, lugares de memória e memórias subterrâneas.

O estudo busca, principalmente, compreender o silenciamento de


determinados grupos e as memórias desses grupos, ou seja, as memórias subterrâneas de
Londrina. A partir da concepção e idéias de Pollak, considera que o controle da imagem
a ser transmitida implica em uma oposição entre “objetivo e subjetivo”, num
enquadramento da história que separa seletivamente os acontecimentos, as práticas e as
sociabilidades a partir de clivagens sociais.

Uma vez rompido o tabu, uma vez que memórias subterrâneas


conseguem invadir o espaço público, reivindicações múltiplas e
dificilmente previsíveis se acoplam a essa disputa de memória.
(POLLAK, 1989, p.5).

Mais ainda,

Vê-se que as memórias coletivas impostas e defendidas por um


trabalho especializado de enquadramento, sem serem o único fator
aglutinador, são certamente um ingrediente importante para a
perenidade do tecido social e das estruturas institucionais de uma
sociedade. (POLLAK, 1989, p.11).

Desse modo, a memória aparece como um fator de coerção e coesão da vida


social, como um enquadramento da memória feito pelos dirigentes, servindo como
controle das reivindicações de grupos “subterrâneos” e da própria memória coletiva.
Seguindo essa esteira de pensamento, o trabalho pretende entender os nexos causais do
enquadramento da memória em Londrina.
AS PRIMEIRAS QUESTÕES DECORRENTES DA ANÁLISE EMPÍRICA

Há que se registrar que a pesquisa de campo consiste em entrevistar usuários


e transeuntes dos lugares de memória. A técnica utilizada é a entrevista qualitativa que é
gravada e transcrita, tornando-se texto.

Para o trabalho de campo foi feito um levantamento fotográfico, que


constitui um primeiro contato com o objeto material de análise – as placas enquanto
monumento –, com o intuito de levantar características dos quatorze lugares. Nesse
trabalho de campo, que se encontra em fase inicial. Tivemos o cuidado de
determinarmos que a pesquisa de campo fosse em dias alternados da semana e horários
também alternado, pois, a população que freqüenta os lugares – transeuntes e usuários –
é bem distinta, dessa forma o trabalho de campo, que combina entrevista com
observação participante, possa apreender as diversas dinâmicas de uso e apropriação
daqueles espaços. A abordagem consiste na apresentação do projeto e do tema a ser
discutido para o entrevistado, sendo que temos encontrado mais facilidade na
abordagem dos usuários do que dos transeuntes. Contudo, os primeiros são mais
reticentes nas respostas – quando mantém vínculo de trabalho formal com o lugar – do
que o transeunte que aceita responder o questionário. Entretanto, no geral, os
entrevistados aparentam querer debater questões sobre a memória.

Como dito anteriormente, não podemos ainda apresentar conclusões deste


trabalho. Entretanto, considerando o levantamento do material e as primeiras entrevistas
uma primeira impressão que se tem é da existência de ambigüidade dos sentidos
produzidos pelos lugares de memória. Pois, ao mesmo tempo que os entrevistados
reconhecem e lembram os locais como históricos e memoráveis, tanto usuários quanto
os transeuntes, não estabelecem uma relação de pertencimento com eles. Nota-se que
não há uma relação do passado e da memória da cidade, e conseqüentemente com os
locais designados. Essas impressões sugerem que o objetivo do “Aqui Tem História”
não está sendo cumprido, pois, os indivíduos se vêm exteriores ao passado de Londrina,
uma vez que o projeto abarca somente a memória de um determinado grupo
hegemônico.
Dessa forma, ao entrevistar, perguntamos quais outros lugares de memória
que temos na cidade, e, em diversas entrevistas encontramos a indicação do Lago Igapó
geralmente considerado um “cartão postal” da cidade, mas, que foi esquecido no
projeto.

Em contraponto vemos que nem transeuntes, nem usuários conhecem em


detalhes as placas mesmo quando utilizam o espaço de modo constante, os entrevistados
aparentam não se sentir parte do local. Cumpre a essa investigação compreender se o
fato de ter instituído lugares oficiais de memória promove na população um
reconhecimento como espaços identitários. O local tido como um elemento exterior
introduzido na vida dos indivíduos, tornando uma memória nova, incompatível com a
memória de seu grupo.

Pois, como alerta Halbwachs,

“Se o acontecimento pelo contrário, se a iniciativa de um ou de alguns


de seus membros, ou enfim, se circunstâncias exteriores introduzirem
na vida do grupo um novo elemento, incompatível com seu passado,
um outro grupo nascerá, com uma memória própria, onde subsistiria
apenas uma lembrança incompleta e confusa daquilo que precedeu a
crise.”(HALBWACHS, 2004, p. 92)

REFERÊNCIAS

HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva. São Paulo: Centauro Editora, 2004.

LE GOFF, Jacques. Memória. In: _____. História e Memória. Campinas: Editora da


UNICAMP, 1990.

__________. Memória. In: _____. História e Memória. 2 ed. Campinas: Editora da


UNICAMP, 1996.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Patrimônio Cultural. Secretaria de Estado da


Cultura e do Esporte – Coordenadoria do Patrimônio Cultural. Curitiba, 1985.

POLLAK, Michael. Memória, Esquecimento, Silêncio. Estudos Históricos, Rio de


Janeiro, v.2, n.3, Edições Vértice, 1989.

PROJETO DE PESQUISA, Memória Coletiva e Patrimônio Cultural: Discursos Sobre


a Cidade, UEL/2007.

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