Francisco Cantanhede
Isabel Catarino
4.3
Marília Gago
Paula Torrão
«Livrai-nos, Senhor,
da peste, da fome
e da guerra»
Prece comum no século XIV.
Novgorod
N Mar do
Norte Moscovo
Polozk
Dublin
Bremen Danzig
Bristol
OCEANO Magdeburgo
Londres
ATLÂNTICO Colónia Praga
Áreas de propagação da Peste Negra Frankfurt
Paris
Viena
1346/7 EUROPA
La Rochelle
1348 Toulouse Génova Veneza
Mar Negro
1349 Narbonne Florença
Barcelona Marselha
1350 Roma Constantinopla
Lisboa
Valência Nápoles
Baixa incidência da Peste
Almeria
Messina
0 km 500
ÁFRICA
Mar Mediterrâneo
0 km 2000
Seropositivos Novas infeções por VIH Mortes provocadas pelo VIH
2
Passado
3 Doentes com Peste Negra. As pestes eram doenças contagiosas 4 Morte de Judeus (gravura do séc. XVI). Os cristãos
e quase sempre mortais. Uma das mais conhecidas foi a acreditavam que as pestes eram castigo divino, sendo
Peste Negra, que atingiu a Europa em meados do século XIV, os judeus frequentemente responsabilizados pelas
provocando a morte a mais de um terço da população. epidemias, o que levava a que fossem perseguidos.
Presente
3
PROFESSOR
1. A Peste Negra. não existiam os conhecimentos científicos e tecno-
2. África. lógicos que permitissem descobrir medicamentos
3. Mudança: o VIH, hoje, tornou-se uma doença que curassem a Peste ou a tornassem uma doença
crónica. Continuidade: as vítimas continuam a ser crónica.
marginalizadas.
4. O aluno deverá reconhecer que, na Idade Média,
N
Novgorod
Os séculos XII e XIII corresponde- Mar do
ram a um período de alguma paz Norte Moscovo
Polozk ÁSIA
e desenvolvimento económico na Dublin
Europa. Graças aos progressos téc- Bristol
Bremen Danzig
nicos na agricultura e nos trans- Londres
Magdeburgo
portes, a produção aumentou. Com OCEANO
Colónia Praga
ATLÂNTICO
mais alimentos, havia menos fome e, Paris Frankfurt
consequentemente, menos mortes Viena
La Rochelle EUROPA
e mais nascimentos, provocando
um aumento da população. A vida Toulouse Génova Veneza
Mar Negro
nas cidades reanimou-se, intensi- Narbonne Florença
Barcelona Marselha
ficando-se a atividade artesanal e Roma Constantinopla
comercial. Lisboa Nápoles
Valência
4
PROFESSOR
1. A peste e as guerras. 4. Porque temiam ser contagiados pela Peste, Conceito: A desvalorização da moeda acontecia
2. A população foi diminuindo até meados do século doença mortal. em períodos de guerra e de crise, pois as despesas
XIV, altura em que começou a aumentar. 5. A Peste, as guerras, as revoltas sociais e as fomes com as guerras contribuíam para a falta de moeda e
3. O alto preço dos cereais impedia que os mais contribuíram para o elevado número de mortos em tempos de crise económica também havia falta
pobres tivessem acesso ao pão, provocando muitas (doc. 2). de moeda, levando à sua desvalorização.
mortes.
4.3
Crise económica e conflitos sociais
Como já estudaste, os séculos XII e XIII foram, na Europa, tempos de
relativa paz social, de desenvolvimento económico e de aumento demo-
gráfico. Tudo isto foi, no entanto, interrompido no início do século XIV.
Séc. Séc. Séc. Séc. Séc.
XII XIII XIV XV XVI
A fome
Os alimentos não eram suficientes para alimentar uma população cada
vez mais numerosa. Os invernos foram muito chuvosos e com arrefecimento À descoberta de palavras
acentuado, o que fez apodrecer as sementes e perder as colheitas, e os
adubos - estrume de animal - eram insuficientes, levando ao esgotamento Desvalorização da moeda
dos solos. Tudo isto contribuiu para que a produção agrícola fosse cada vez Perda de valor da moeda. No século
menor. A produção de trigo e de centeio – base da alimentação – foi a mais XIV, a falta de metais preciosos – ouro
afetada, provocando vários períodos de fome e muitas mortes (doc. 3). e prata – provocada pelos gastos com
as guerras levou alguns reis a mandar
A peste recolher todas as moedas em circula-
ção, ordenando depois que fosse re-
A população subnutrida (mal alimentada) estava mais sujeita a con- tirada uma parte do metal precioso
trair doenças. A falta de higiene contribuía igualmente para o apareci- NPNQNbZNQRYN`N»ZQR`RSNgR_RZ
mento de doenças: raramente se tomava banho, as pessoas coabitavam novas moedas Assim, as moedas pas-
com animais infestados de pulgas, os dejetos acumulavam-se nas ruas `N_NZNaR_ZR[\`ZRaNYY\T\»PN_NZ
com um valor real inferior.
e o vestuário, quase todo de lã, raramente era mudado. Em 1348, surgiu
uma das maiores epidemias de todos os tempos: a Peste Negra (docs. 1 e
A desvalorização da moeda
5). Trazida do Oriente em navios de comerciantes italianos, rapidamente
acontecia em períodos de
se espalhou por quase toda a Europa Ocidental, provocando a morte de guerra e de crise ou de paz
mais de um terço da população (doc. 2). As cidades e os mosteiros, locais e de desenvolvimento das
de maior concentração de população, foram os mais afetados. atividades económicas?
Justifica.
A guerra
À fome e à peste juntou-se a guerra, com destaque para a chamada
Guerra dos Cem Anos, entre 1337 e 1453 (doc. 4) e para as guerras entre Por-
tugal e Castela (1369-1382).
Os efeitos devastadores das guerras faziam-se sentir sobre as popula-
ções, através do roubo dos celeiros e do gado, do espezinhamento das cul-
turas por milhares de homens e de cavalos, das violações e dos assassínios.
As cidades eram cercadas, provocando o sofrimento dos seus habitantes,
que morriam de fome de sede e de doenças. Quando os invasores conse-
guiam ultrapassar as muralhas, verificavam-se pilhagens e mortes
As fomes, a peste e as guerras provocaram uma grande quebra demo-
gráfica, pois verificou-se um elevado número de mortes e uma acentuada
diminuição dos nascimentos. As despesas com as guerras contribuíram
para a escassez de ouro e de prata, obrigando a sucessivas desvalorizações
da moeda
moeda.
MC
1.1 1.6
1.2 1.7
1.3 2.1
1.4 2.2
1.5
N
Mar do
Norte
Lubeque
Revoltas nos campos 1 Europa (séc. XIV). Nas Revoltas urbanas 2 Revolta urbana
e nas cidades cidades, os revoltosos (iluminura
Zonas devastadas
e o medo da morte foram, essencialmente, pela guerra do séc. XIV).
artesãos assalariados
Revoltas
Quais terão sido as que pretendiam melhorar camponesas
consequências económicas as suas condições de vida.
da fome, da peste
e das guerras?
3 O tabelamento dos salários
O que terá conduzido
aos conflitos sociais D. Pedro, a vós homens bons e concelho de Santarém saúde. Sabede
nos campos e nas cidades? que, quando eu aí cheguei, me foi dito que essa vila era muito minguada
das cousas e que toda esta míngua [falta] era porque as herdades e vinhas
Será que o medo pode levar
não eram aproveitadas como cumpria. Tenho por bem que a todos os tra-
as pessoas a alterar os seus
balhadores seja posta taxação [tabelamento] quanto hajam de levar por
comportamentos?
dia. E que esses trabalhadores não podem exigir mais aos senhores que
aquilo que eles devem dar.
Carta régia de D. Pedro I, 1361 (adaptado).
6
PROFESSOR
1. As zonas devastadas pelas guerras e as revoltas então que o rei decidiu tabelar os salários. 5. Sim, pois o medo da morte e o receio dos castigos
urbanas e de camponeses. 3. Os camponeses e os artesãos. divinos levaram muitas pessoas a ajudar os mais po-
2. O elevado número de mortes provocou a falta 4. O aluno deverá reconhecer que o tabelamento bres, a fazer doações à Igreja e a praticar sacrifícios
de trabalhadores nos campos, logo os que ficaram dos salários contribuiu para o descontentamento como a flagelação.
exigiram melhores salários, o que contribuiu para dos camponeses, logo foi uma das razões que
reduzir os rendimentos dos donos das terras. Foi levaram às revoltas nos campos.
4.3
Revoltas nos campos e nas cidades
A fome, a peste e as guerras provocaram o despovoamento dos À descoberta de palavras
campos e a falta de mão de obra. Esta situação originou não só o aumento
dos salários dos camponeses, como também a redução da produção agrí- Crise económica
cola, fazendo, assim, aumentar os preços dos produtos. Face à diminui- Ocorre quando as atividades econó-
ção dos rendimentos, os senhores aumentaram os impostos aos seus micas – agricultura, comércio e ar-
camponeses e conseguiram que os reis publicassem leis que proibiam o tesanato ou indústria – estão em de-
abandono dos campos e os obrigavam a trabalhar com salários tabelados cadência, ou seja, quando se produz
menos, logo também se compra e
(doc. 3). Estas medidas provocaram o descontentamento e a revolta dos vende menos.
camponeses que chegaram a assaltar e a incendiar os castelos dos nobres
(doc. 4). Os senhores uniram os seus exércitos, tendo matado milhares de
camponeses e queimado aldeias inteiras Crise económica e social
Nas cidades, ao contrário do que se passou nos campos, a falta de Invernos Fomes e Guerras
mão de obra não se fez sentir de forma tão acentuada, pois muitos muito doenças
chuvosos:
camponeses abandonavam os campos indo ocupar os lugares dos que más
morriam. Contudo, também lá surgiram graves conflitos sociais. Foram, colheitas
sobretudo, os artesãos assalariados, descontentes com as difíceis con- agrícolas
dições de trabalho, que se revoltaram (docs. 1 e 2). Em França, aliaram-se
aos camponeses contra os altos impostos que pagavam, em consequên-
Quebra demográfica
cia dos gastos provocados com a Guerra dos Cem Anos. Nestas revol-
tas urbanas destacaram-se os roubos, os massacres e os incêndios. Em
Falta de mão de obra
alguns casos, os revoltosos conseguiram melhorar as suas condições de
trabalho.
As fomes, a peste, as guerras e as revoltas rurais e urbanas provoca- Aumento Quebra da Inflação
dos salários produção (subida
ram, não só, uma quebra demográfica, mas também uma crise económica
económica, dos preços)
já que muitos campos foram abandonados, verificando-se uma acentuada
diminuição da produção, o que também afetou o comércio. Diminuição do rendimento
dos senhores
1. No que respeita à crise do século XIV na Europa, refere uma c) O desemprego está a aumen-
consequência: a) social; b) económica. tar, havendo famílias inteiras
sem trabalho e sem recebe-
2. Indica as razões das revoltas. a) nos campos; b) nas cidades. rem qualquer subsídio.
3. Escreve um texto explicando o esquema. 7
MC
1.1 1.6
1.2 1.7
1.3 2.1
1.4 2.2
1.5
1 Fomes, pestes e guerras em Portugal
A diminuição da produção agrícola
conduziu à redução dos rendimen- 1348 A Peste Negra entra 1372 A nova rainha já tinha sido
tos dos senhores. Estes consegui- em Portugal. casada, tendo o casamento
ram que alguns reis tabelassem os anterior sido anulado. O povo
1349 D. Afonso IV publica leis
salários e obrigassem os campo- não aceitou o casamento,
sobre o trabalho, destinadas
neses a trabalhar nas terras. Sur- tendo provocado alguns
a melhorar a agricultura.
giram, então, revoltas rurais. Nas tumultos.
1355-56 Fome e peste.
cidades foram, essencialmente, 1372-73 Segunda Guerra Fernandina.
os artesãos assalariados que se 1361-65 Peste.
1374-75 Epidemias e maus anos
revoltaram. As fomes, as pestes, 1367 Morre D. Pedro I. agrícolas. Aumento dos
as guerras e as revoltas urbanas D. Fernando é aclamado rei. preços.
e rurais provocaram, não só, uma
1369-71 Primeira Guerra Fernandina 1375 D. Fernando I publica a Lei
grande quebra demográfica mas das Sesmarias, com vista a
(primeira guerra entre
também uma crise económica. Portugal e Castela, no resolver os problemas
reinado de D. Fernando). agrícolas.
Desvalorização da moeda.
A crise do século XIV 1381-82 Terceira Guerra Fernandina.
Aumento dos preços.
em Portugal: crise económica, 1383 Tratado de Salvaterra
social e política. 1372 Casamento de D. Fernando I
de Magos, que pôs fim
com D. Leonor Teles.
às guerras com Castela.
Que medidas terão tomado
os reis portugueses
para tentar resolver
a crise na agricultura? 2 A crise na agricultura
Como terão terminado Fui informado que, em muitos concelhos, há homens e mu-
as guerras entre Portugal lheres que agora já não querem trabalhar no que antes faziam
e Castela? [agricultura] e que há muitos outros que agora só trabalham
se lhes pagarem quanto pedem. Mando-vos, por isso, que obri-
gueis todos os que costumavam trabalhar nos campos a voltarem
aos seus serviços e que tabeleis os salários. Se acharem alguns homens e
mulheres que podem e não querem trabalhar e andam pedindo esmolas,
obrigai-os a trabalhar. E se não quiserem açoitem-nos e obriguem-nos a
sair do concelho.
Circular de D. Afonso IV aos concelhos, 1349 (adaptado)
Descendência
ilegítima 3
D. Leonor Teles D. Fernando I D. João D. Dinis D. João I
(Mestre de Avis) Esquema genealógico
de D. Pedro I.
A morte de D. Fernando I provocou
D. Beatriz D. João de um grave problema de sucessão
Castela
ao trono de Portugal.
1 DOC. 1 3 DOC. 3
a) Identifica os problemas que afetavam Portugal. a) Identifica o legitimo herdeiro do trono, após a morte
b) Refere as medidas tomadas com vista a resolver de D. Fernando I.
a crise agrícola. b) Na tua opinião, se D. Beatriz fosse aclamada rainha, a
c) Indica como terminaram as guerras entre Portugal independência de Portugal poderia estar em perigo?
e Castela. Justifica.
2 DOC. 2 Identifica:
a) as razões que levaram o rei a tomar medidas;
b) as medidas tomadas pelo rei.
8
PROFESSOR
1. a) Fome, peste e guerra. b) D. Afonso IV publicou tivessem trabalhado nas terras eram obrigados a Castela, este poderia ter a tentação de se imiscuir
as Leis do Trabalho e D. Fernando I publicou a Lei voltar ao seu trabalho e os salários foram tabelados. nos assuntos de Portugal, favorecendo os interes-
das Sesmarias. c) Com a assinatura do tratado de Os pedintes eram também obrigados a trabalhar ses de Castela, até porque D. Beatriz ainda não tinha
Salvaterra de Magos. nas terras. filhos (doc. 3) que pudessem herdar o trono.
2. a) Alguns deixaram de trabalhar nos campos e 3. a) D. Beatriz. b) O aluno deverá reconhecer que
outros exigiam salários mais altos. b) Todos os que sim, pois estando D. Beatriz casada com o rei de
4.3
A crise do século XIV em Portugal
Crise económica e social
Na segunda metade do século XIV em Portugal, tal como nos outros
países da Europa, sucederam-se períodos de fomes, epidemias e guer-
Séc. Séc. Séc. Séc. Séc.
ras, provocando uma grave crise que abrangeu o final do reinado de XII XIII XIV XV XVI
D. Afonso IV (1325-1357) e se prolongou pelos reinados de D. Pedro I (1357-
1367) e de D. Fernando I (1367-1383). Terminou, assim, a relativa paz social
e o desenvolvimento económico que tinham caracterizado as épocas de
D. Afonso III e de D. Dinis.
Para tentar solucionar os problemas da agricultura, como a escassez e
o elevado preço da mão de obra, a diminuição da produção e a subida dos
preços (doc. 2), os reis portugueses, à semelhança de outros reis euro-
peus, tomaram várias medidas:
t D. Afonso IV publicou leis sobre o trabalho, como o tabelamento dos
salários;
t D. Fernando I publicou a Lei das Sesmarias, pela qual, entre outras
medidas, obrigava todos os proprietários rurais a manter as suas
terras cultivadas e os camponeses a trabalhar nos campos.
Apesar destas medidas, a situação agravou-se no reinado de
D. Fernando I, devido às guerras em que este monarca se envolveu. Entre
1369 e 1382, D. Fernando I, que se considerava com direito ao trono cas-
telhano por laços familiares, travou três guerras com Castela, o que pro-
vocou em Portugal, entre outros males, uma grave crise financeira (falta
de dinheiro) que levou à desvalorização da moeda e à subida de preços,
especialmente do trigo e do centeio, base da alimentação do povo. Esta
situação deu origem a revoltas populares.
Crise política
Após a derrota nas guerras com Castela, D. Fernando I assinou, em
1383, o Tratado de Salvaterra de Magos (doc. 1), que, embora tivesse posto
fim aos conflitos, deu origem a outros problemas.
Nesse tratado estipulava-se o casamento de D. Beatriz, única filha de
D. Fernando I e de D. Leonor Teles, com D. João I de Castela, que entretanto
ficara viúvo (Doc. 3). No caso de D. Fernando I vir a falecer sem herdeiro
masculino, D. Beatriz e o seu marido seriam proclamados reis de Portu-
gal, sendo a sucessão da Coroa portuguesa para o filho primogénito que
D. Beatriz viesse a ter. Até que este atingisse a idade de 14 anos, ficaria
D. Leonor Teles como regente de Portugal.
A independência do reino parecia, assim, salvaguardada: o filho de
D. Beatriz seria rei de Portugal, enquanto o filho mais velho de D. João I de
Castela (fruto do seu primeiro casamento) herdaria o trono castelhano.
No entanto, caso D. Beatriz morresse sem descendência, o rei de Castela
poderia tornar-se rei de Portugal.
MC
3.1
3.2
N
Braga
No século XIV, Portugal também Guimarães
foi afetado pelas fomes, pestes e Porto
Pinhel
guerra. D. Afonso IV e D. Fernando I OCEANO Trancoso Almeida
Candidatos ao trono ATLÂNTICO
tomaram medidas para combater Ciudad
a crise agrícola. Contudo, as guer- Guarda Rodrigo
Coimbra
ras entre Portugal e Castela con- Mestre de Avis D. Beatriz
tribuíram para agravar a crise eco- Leiria
Tomar
nómica. Estas guerras terminaram Apoiantes Aljubarrota
com a assinatura do Tratado de Bombarral Atoleiro
Salvaterra de Magos, no qual cons- Santarém Valverde
Elvas
tava o casamento entre D. Beatriz e LISBOA
Povo, parte Parte do Almada Olivença
o rei de Castela, o que poderia pôr Évora
da burgue- clero e da
em perigo a independência de Por- sia, do clero nobreza
tugal. e da nobreza
4 Mudanças na sociedade
2[^bN[a\ b[` P\[`R_cNcNZ N` N[aVTN` »QNYTbVN`
\ba_\` »YU\` QR U\ZR[` QR ONVeN P\[QVyw\ HU\ZR[` Q\
povo], foram feitos cavaleiros [por D. João I] por terem
prestado bons serviços e trabalhos. Elevaram-se tanto que
os seus descendentes se chamam «dons» e são tidos em
3 As Cortes de Coimbra de grande conta.
1385, em que o Mestre de Avis
Fernão Lopes, Crónica de D. João I, c. 1450 (adaptado).
foi aclamado rei de Portugal,
com o título de D. João I
(imagem do séc. XX).
10
PROFESSOR
1. a) O Mestre de Avis e D. Beatriz. b) O povo, parte do D. Beatriz receavam perder privilégios e não nos, na batalha de Aljubarrota.
clero e parte da nobreza apoiava o Mestre de Avis; aceitavam o Mestre de Avis por ser filho ilegítimo 3. a) O rei D. João I. b) O apoio dado ao Mestre de Avis
parte do clero e da nobreza apoiava D. Beatriz. c) Os de D. Pedro I. para que se tornasse rei de Portugal.
apoiantes do Mestre de Avis temiam que Portugal 2. a) O exército castelhano levantou o cerco quando
perdesse a sua independência e não queriam ser foi atacado pela peste. b) O Mestre de Avis, com o
governados por D. Leonor Teles; os apoiantes de título de D. João I. c) Com a derrota dos Castelha-
4.3
A revolução de 1383
e a formação da identidade nacional
À descoberta de palavras
Os Portugueses divididos
Revolução
Em 1383, com a morte de D. Fernando I, foi aclamada D. Beatriz como
rainha de Portugal, tendo D. Leonor Teles assumido a regência do reino, o Mudanças relativamente rápidas que
provocam profundas alterações polí-
que lhe assegurava um longo período de governo, visto que D. Beatriz ainda
ticas, económicas e sociais.
não tinha filhos. Registaram-se, então, tumultos em muitas cidades e vilas,
pois a maioria do povo odiava a regente e temia a entrega do reino a Castela.
Dá um exemplo de mudança
Preparou-se uma conspiração, com o fim de afastar a regente e matar política e outro de mudança
o seu conselheiro, o conde castelhano João Fernandes Andeiro, acusado social que ocorreram em
de influenciar D. Leonor na governação de Portugal. Para executar o plano Portugal durante a Revolução
foi escolhido D. João, Mestre da Ordem Militar de Avis, que, por ser cunhado de 1383-1385.
da rainha, tinha acesso fácil ao Paço Real. D. Leonor Teles viu-se obrigada
a fugir para Santarém, de onde pediu ajuda ao seu genro, o rei de Castela.
Entretanto, nas ruas de Lisboa, o povo aclamava o Mestre de Avis como
«Regedor e Defensor do Reino».
Rapidamente a rebelião alastrou a todo o reino. A população dividiu-se
(doc. 1) e, em várias localidades que tinham aderido à causa de D. Beatriz, o
povo tomou castelos e fortalezas.
t No século XIV, Portugal também foi afetado pelas fomes, pestes e guerra.
D. Afonso IV e D. Fernando I tomaram medidas para combater a crise agrícola.
Contudo, as guerras entre Portugal e Castela contribuíram para agravar a crise
económica. Estas guerras terminaram com a assinatura do Tratado de Salva-
terra de Magos, no qual constava o casamento entre D. Beatriz e o rei de Cas-
tela, o que poderia pôr em perigo a independência de Portugal.
t Quando D. Fernando I morreu, D. Leonor Teles assumiu a regência do reino,
tendo mandado aclamar D. Beatriz rainha de Portugal. Surgiram, então,
revoltas populares. Foi o início da Revolução de 1383-1385. O Mestre de Avis
matou o conde Andeiro, e o rei de Castela invadiu Portugal e cercou Lisboa. O
cerco só foi levantado quando a peste atacou os Castelhanos. Reuniram-se,
então, Cortes em Coimbra e o Mestre de Avis foi eleito rei de Portugal, como
João I. O exército castelhano voltou a invadir Portugal. Na batalha de Aljubar-
rota (1385), os Castelhanos foram derrotados. Portugal continuou indepen-
dente, teve início uma nova dinastia e com ela surgiu uma «nova nobreza».
12
PROFESSOR
1. A fome, as pestes e a guerra. D. Fernando I as Leis das Sesmarias. independência. Em Lisboa, o povo revoltou-se contra
2. Diminuição da produção e falta de mão de obra nos 5. Quando D. Fernando I morreu, a sua única filha, a aclamação de D. Beatriz. Foi o início da Revolução.
campos. D. Beatriz, estava casada com o rei de Castela, tendo 6. Morte de D. Fernando I; aclamação de D. Beatriz
3. O aumento dos impostos e a exigência de melhores D. Leonor Teles assumido a regência do reino. O como rainha de Portugal; revolta popular; morte do
salários. povo e parte do clero e da nobreza não gostavam de conde Andeiro; cerco de Lisboa; Cortes de Coimbra;
4. D. Afonso IV publicou as Leis do Trabalho e D. Leonor Teles e temiam que Portugal perdesse a batalha de Aljubarrota.
Século XIV na Europa
Revoltas
$SJTFFDPO²NJDBFTPDJBM
Þ 1PSUVHBMDPOUJOVPVJOEFQFOEFOUF
Þ "MHVOTNFNCSPTEBCVSHVFTJBBTDFOEFSBN
OPCSF[B
Þ .FNCSPTEBCBJYBOPCSF[BBTDFOEFSBNBMUB
OPCSF[B
Þ *O¬DJPEFVNBOPWBEJOBTUJB
13
1. Observa o documento 1
e o esquema.
1
3
2
Diminuição do rendimento
dos senhores
2. Identifica:
a) o século em que ocorreram as fomes, a peste Aumento dos impostos
e as guerras;
b) o continente onde aconteceram. Conflitos sociais
Revoltas Revoltas
rurais urbanas
D
14
PROFESSOR
1. 1.1 A-3; B-2; C-4; D-1. 1.2. a) Invernos muito chuvo- 4. 4.1 Sim, pois a sociedade do século XI era formada sociais em Portugal: elementos da baixa nobreza
sos provocaram más colheitas agrícolas. A falta de pelo clero, nobreza e povo, sendo uma sociedade ascenderam à alta nobreza e alguns burgueses
alimentos provocou a fome. b) Quebra demográfica. estratificada e hierarquizada. O nascimento definia ascenderam à nobreza.
c) Aumento de salários e quebra de produção. o grupo social e o estrato a que se pertencia, 5. Sim, pois ao vivenciarmos situações de
2. a) Século XIV. b) Europa. raramente se verificando mobilidade social. sofrimento, passamos a compreender melhor
3. 3.1 A-4; B-3; C-2; D-1; E-5. 3.2 D1; B3; C2; A4; E5. A Revolução de 1383-1385 provocou alterações todos os que sofrem.
3. Lê a informação seguinte.
3.1 Relaciona a informação das duas colunas, fazendo
a correspondência entre as letras e os números.
A. Cortes de Coimbra 1. Foi combinado o casamento de D. Beatriz com D. João I, rei de Castela. O filho
mais velho de D. Beatriz e do rei de Castela seria rei de Portugal, após a morte
de D. Fernando I.
C. Cerco de Lisboa 3. D. João, Mestre de Avis, foi ao paço da rainha, matou o conde Andeiro, conselheiro
de D. Leonor Teles, tendo esta fugido para Santarém. Nas ruas de Lisboa, o povo
aclamava o Mestre de Avis, como «Regedor e Defensor do Reino».
D. Tratado de Salvaterra 4. Graças à ação do Dr. João das Regras, o Mestre de Avis é confirmado como rei
de Magos de Portugal.
E. Batalha de Aljubarrota 5. O exército português, com a ajuda dos Ingleses, derrotou o numeroso exército
castelhano, que incluía alguns Portugueses, membros da nobreza, que sempre
tinham apoiado D. Beatriz.
Batalha de Aljubarrota
3 A sociedade medieval
A alta nobreza, apoiante de D. Beatriz,
perde terras, títulos e cargos Aos membros do clero, Deus manda ensinar a manter
a verdadeira fé e devem rezar pelas misérias do povo. Os
D. João I compensa os que o ajudaram nobres são os guerreiros, os protetores das igrejas. Defen-
dem todos os homens, grandes e pequenos. O outro grupo é
Elementos da Alguns burgueses o dos não-livres. São eles que fornecem a todos alimentos e
baixa nobreza recebem terras, vestuário.
recebem terras, títulos e cargos
títulos e cargos A casa de Deus está pois dividida em três: uns rezam,
outros combatem e outros trabalham. Todos vivem, no en-
tanto, em conjunto e não se podem, por isso, separar.
Uma nova nobreza
Adalbéron, bispo francês do século XI, Cântico ao Rei Roberto,
c. 1030 (adaptado).
2 Mudanças sociais.
978-111-11-3469-3
9 781111 134693
www.leya.com www.texto.pt