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PRINCÍPIO DE NÃO-INTERVENÇÃO

Celso A. Mello·

1. Introdução; 2. Algumas observações preliminares sobre a


intervenção; 3. Prindpio de não-intervenção no DI universal;
4. O mesmo princfpio no continente americano; 5. Tese Drago;
6. Conclusão.

1. Introdução

o presente estudo visa traçar a evolução hist6rica do princípio de


não-intervenção, principalmente no continente americano, com a finalidade de se
verificar a existência de alguma especificidade que possa contribuir para a
fonnação do DI americano.

2. Algumas observàç6es preliminares sobre a intervenção

o estudo da intervenção pertence à política, e não ao direito. "Ela está acima e


além do domínio do direito", assinalava um jurista inglês no século XIX.' Um
internacionalista, também inglês, em trabalho relativamente recente, afirma que a
"intervenção é um antigo hábito político e talvez uma necessidade política". 2
Pode-se, assim, afirmar que a intervenção faz parte da realidade política
internacional e o direito trava uma luta realmente ingl6ria tentando reprimi-la.
Pode-se lembrar que as duas grandes ideologias que dominam o mundo
internacional são ambas expansionistas. O Instituto Brookings (EUA), em estudo
realizado por solicitação do Pentágono e publicado em janeiro de 1977, afirma
que "os Estados Unidos teriam intervindo militannente ou teriam ameaçado de
intervir 215 vezes depois do fim da n Guerra Mundial".' Ora, a intervenção não é
realizada apenas por meios militares, mas pode sê-Io por meios diplomáticos e
econômicos. Não há Estado que possa af'umar jamais ter cometido um ato de
intervenção. Ela é, infelizmente, uma atividade diária na vida internacional.
Conceituar intervenção não é fácil e apenas pretendemos adotar uma deimição
operacional, que é calcada na de Charles Rousseau, • com ligeiras modificações.
Assim, intervenção seria a ingerência por um Estado nos assuntos de outro, com a
fmalidade de obter uma atitude determinada. A nosso ver, a ingerência deve ter
um aspecto compuls6rio. Esta observação mostra a relatividade deste conceito,
uma vez que uma pequenâ potência não poderia intervir em uma grande potência.

• Professor de direito internacional pdblico na UFRJ e na PUC-RJ; juiz do Tribunal Marítimo.


, útters by Historicus on some questions ofintemationaI law. Reprinted from Tire Trnes, with considerable
additions. London and Cambridge, Macmillan, 1863. p. 14. ("Historicus" é o pseudônimo de William Ver-
non Harcourt.)
2 Fawcen, E. S. Intervention in internationallaw. In: Recueil descoUTs. 1961. v.2, t. 103, p. 347.

3 Rousseau, Charles. Droit international public. Paris, Sirey, 1980. L4, p. 101.
• A defInição do internacionalista francês é a seguinte: ,,~ o fato de um Estado que realiza um ato de in-
gerência nos assuntos internos ou externos de um outro Estado para exigir a execução ou a inexecução de
uma ação ou de uma prestação determinada." (Rousseau, Charles. op.ciL p. 37.)

R.C. pol., Rio de Janeiro, 33(3):9-19, maio/jul. 1990


A intervenção não é uma prática nova na hist6ria. A doutrina tem citado um
tratado entre o fara6 dos egípcios e o rei dos hititas (1294 a.c.), em que é
estabelecida a assistência ml1tua entre os contratantes pelo envio de tropas em
caso de revolta dos sl1ditos.· De qualquer modo, a intervenção, como uma política
consagrada na vida internacional, parece ser mais ou menos recente. Deste modo,
McNemar' aftrma que a não-intervenção no sistema europeu predominou até a
Revolução Francesa e depois de 1850 até a I Guerra Mundial, quando os Estados
adotavam uma "política de não-intervenção em relação às guerras ci vis". Foi a
Revolução Francesa, ao provocar como reação a ela a política legitimista, que
trouxe a intervenção para a política européia como uma prática usual. Para nos
limitarmos ao século XX, podemos lembrar as intervenções dos EUA,
Grã-Bretanha, França e Japão na guerra civil da URSS, em 1918, ou ainda a da
Itália e Alemanha (a partir de 1936) na guerra civil espanhola. Ap6s a 11 Guerra
Mundial, a prática intervencionista continua a ser usual nas relações
internacionais, como as intervenções da URSS na Checoslováquia (1968), na
Hungria (1956), ou ainda a dos EUA, na década de 60, no Vietnã, para citarmos
apenas algumas das que obtiveram maior repercussão.
VelIas 7 aftrma que na Conferência de Yalta foram criadas duas zonas de
influênCia: a da URSS e a das "potências ocidentais". Ap6s a Conferencia de
Bandoeng (1955), com o "desmantelamento progressivo dos dois blocos, cinco
grandes zonas de influênCia foram constituídas": a) a dos EUA no continente
americano (medidas dos EU A contra Cuba, em 1962, na crise dos mísseis e
intervenção na República Dominicana, em 1965); b) a da URSS com as
intervenções acima citadas; c) a da Grã-Bretanha na Commonwealth "com as
intervenções do exército inglês na África Oriental e na Malásia de 1964 a 1966";
d) a da França na África de língua francesa, onde se pode citar a intervenção no
Gabão em 1964; e) a da China no Sudeste asiático. VelIas, ao fazer
esta exposição, pretende mostrar que a intervenção tem sido admitida e s6 é
"proibida" quando realizada fora da zona de influência da grande potência.
Assim, Franck e Rodley8 observam que "a prática dos EUA nas crises de Berlim,
Hungria, Polônia e Checoslováquia tem tido reciprocidade por parte da União
Soviética na crise cubana dos mísseis e na crise dominicana".
A ánica conclusão possível é que toda grande potência é intervencionista, e
neste caso estão os EUA, que têm co~o sua "reserva de caça", respeitada pelos
demais países, a América Latina.

3. Princ(pio de não-intervenção no Dl universal

Os mais diferentes doutrinadores datam o princípio de não-intervenção nos


textos do fil6sofo alemão Kant, que no seu Projeto de paz perpétua (1795)

• Boutros-Ghali, Contribution a une th/orle g~nlrale des alliances. Paris, Éditions A. Pedone, 1963. p.
15-16.
8 McNemar, Donald W. United Nations peacekeeping: an altemative for future vietnams. In: Falk, Ri-
chard. A., coord. The Vietnam war and intemationallaw. Princeton, Princeton University Press, 1976. v.4,
p.98.
7 Vellas, Pierre. Droit intemational public. Paris Librairie Générale de Droit et de Jurisprudence 1967 p.
236-8. '
8 Franck, Thomas M. & Rodley, Nigel S. Legitirnacy and legal rights of revolutionary movements with
special reference to the people's Revolutionary Govemmente of South Vietnam. In: Falk, Richard A., co-
ord. The Vietnam warandintemationallaw. Princeton, Princeton University Press, 1972. v.3, p. 729.

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estabeleceu o seguinte princípio: "Nenhum Estado deve imiscuir-se pela força na
constituição e governo de um outro Estado."
É o 52 dos "artigos preliminares", seguido de comentário em que ele observa
que mesmo em "conflito interior ainda não resolvido ( ... ) [a] ingerência de
potências estrangeiras seria uma lesão dos direitos de um povo lutando somente
contra seu sofrimento interior, e não dependendo de nenhum outro; isto seria dar
lugar a um escândalo e tomar incerta a autonomia de todos os Estados". 9
A doutrina no século XIX vai também condenar a intervenção. Kluber,'o em
obra publicada inicialmente em 1819 e que possui uma edição aumentada em
1821, escreve que o Estado não se pode imiscuir nos assuntos internos de outro.
Heffter," em livro publicado em 1844, aÍrrma que "nenhuma potência tem o
direito de se imiscuir nos assuntos internos de um Estado estrangeiro".
Funck-Brentano e Sorel 12 negam a existência de um direito de intervenção e
defendem que o uso da palavra direito neste caso é um "abuso", bem como
escrevem que "a intervenção armada constitui sempre uma violação do direito das
gentes em tempo de paz" - todavia, admitem a intervenção diplomática.
No século XX, a conden3:ção à intervenção continua a ser feita e para citarmos
apenas um texto, que é o mais importante, a Carta da Organização das Nações
Unidas (ONU), estabelece no art. 22:
"A Organização e seus membros, para a realização dos propósitos mencionados
no art. 12 , agirão de acordo com os seguintes princípios:
7. Nenhum dispositivo da presente Carta autorizará as Nações Unidas a intervirem
em assuntos que dependam essencialmente da jurisdição de qualquer Estado ou
obrigará os membros a submeterem tais assuntos a uma solução, nos tennos da
presente Carta ( ... )."
Duas observações iniciais devem ser fonnuladas. A primeira é que o art. 12
consagra, entre outros propósitos, a "igualdade de direitos e a autodeterminação
dos povos", 13 isto é, exatamente os fundamentos da não-intervenção. A segunda
observação é que o art. 2 2 limita a atuação da própria ONU no sentido de que ela
deverá respeitar a jurisdição doméstica dos Estados. Ora, em conseqüência, não se
poderia conceder o direito de intervenção aos Estados indevidamente. É de se
assinalar que a ONU age em nome dos interesses da sociedade internacional, ou
como representante destes mesmos interesses.
A idéia de se condenar a intervenção pode ser vista, a nosso ver, também no
art. 2 2 , alínea 4, que estabelece:
"Todos os membros deverão evitar em suas relações internacionais a ameaça ou o
uso da força contra a integridade territorial ou a independência política de

9 Kant, Emmanuel. Projel de paix perplruelle. Trad. ]. Gibelin. Paris, Librairie Philosophique ]. Vrin,
1948. p. 8. .
10 Kluber.]. L. Droil des gens modeme de rEurope. ed. rev. anol. complel. por A. Ott. Paris, Librairie de
GuilIaumin, 1861. p. 72-3.
" Heffter, A. C. Le droil inlemalionaIderEurope.4.ed.aumenl.anol.porHeinrichGeffcken.Trad.de
]ules Bergsen. Paris, A. CotilIon, 1883. p. 108-9.
12 Funck-Brentano Th. & SoreI, Albert. Prlcisdu Droitdes Gens. 3. ed. Paris, PIon, 1900. p. 211 segs.

• 3 L6pez, Angustias Moreno./gua/dad de rJerec1w~ y libre detemrinaci6n de 1cs pueblos. Principio Ejede De-
recho Internacional Contemporaneo. Granada, Universidad de Granada, F. de Derecho, 1977; Suceda, A.
Rigo. The evolulion of lhe righl of self-delemainJllion. Leiden, A. W. Sijthoff, 1973.

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qualquer Estado, ou qualquer outra ação incompatível com os propósitos das
Nações Unidas."
A Declaração relativa aos princípios de direito internacional concernentes às
relações amigáveis e à cooperação entre os Estados, conforme a Carta das Nações
Unidas (1970), estabelece os seguintes princfpios:
"Nenhum Estado nem grupo de Estados têm o direito de intervir, diretamente ou
indiretamente, por qualquer razão que seja, nos assuntos interiores ou exteriores
de um outro Estado. Em conseqüência, não somente a intervenção armada, mas
também qualquer outra forma de ingerência ou toda ameaça dirigidas contra a
personalidade de um Estado ou contra seus elementos polfticos, econômicos e
culturais são contrários ao direito internacional. Nenhum Estado pode aplicar nem
encorajar o uso de medidas econômicas, polfticas ou de qualquer natureza para
constranger um outro Estado a subordinar o exercício de seus direitos soberanos e
para obter dele vantagens de qualquer ordem que sejam.
Todo Estado tem o direito inalienável de escolher seu sistema polftico,
econômico, social e cultural sem ingerência de qualquer forma da parte de
qualquer outro Estado."
A mesma condenação da intervenção é encontrada na Ata final da Conferência
sobre a Segurança e Cooperação na Europa (Helsinki, 1975) que proíbe seja ela
"direta ou indireta, individual ou coletiva" nos assuntos internos ou externos que
façam parte da "competência nacional" de um Estado. Proíbe a coerção militar,
polftica ou econômica. Estabelece ainda a proibição de qualquer auxflio direto ou
indireto a "atividades terroristas ou atividades subversivas" que visem a
"derrubada violenta do regime de um outro Estado".
O Protocolo 11 de 1977 às Convenções de Genebra de 1949 estabelece:
"Art. 3 2 Não-intervenção -
1. Nenhuma disposição do presente Protocolo será invocada com a finalidade de
atingir a soberania de um Estado ( ... ).
2. Nenhuma disposição do presente Protocolo será invocada como uma
justificação de uma intervenção direta ou indireta, por qualquer razão que seja, no
conflito armado ou nos assuntos internos da Alta Parte contratante ( ... )."
Pode-se ainda recordar que os Pactos de Direitos do Homem (1966)
estabelecem no art. 12:
"I. Todos os povos têm o direito de autodeterminação. Em virtude deste direito
estabelecem livremente sua condição polftica (... )."
A nossa intenção não foi reproduzir todos os textos que no DI universal
condenam a intervenção, mas apenas alguns deles, com a finalidade de
demonstrannos que o princípio de não-intervenção está consagrado no mundo
jurfdico.

4. O mesmo princfpio no continente americano

Acreditamos poder dizer que a luta pela não-intervenção é o tema central das
relações interamericanas. No início de sua hist6ria, a América Latina temeu as
intervenções européias que a Doutrina de Monroe nem sempre foi capaz de evitar
e, posteriormente, passou a temer as intervenções dos EUA, muito mais
ameaçadoras e perigosas do que as européias, devido à sua proximidade
geográfica e poderio econômico e militar. Por outro lado, a América Latina se
transformou em zona de influência dos EUA, que passou a exercer um
"policiamento" sobre o nosso continente. A intervenção é uma realidade

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constante na vida política da América Latina. É o princípio de não-intervenção a
norma jurídica internacional mais violada nas Américas. Talvez seja a nossa uma
das regiões do globo em que há mais tempo na história o princípio de
não-intervenção tem permanecido letra morta. Nunca o DI foi tão "dever ser"
quanto no princípio de não-intervenção.
Fabela" faz um levantamento detalhado da poSlçaO da doutrina
latino-americana a respeito da intervenção. A seguir resenha da exposição do
internacionalista mexicano nos permite segui-lo com tranqüilidade. Começa a
exposição por analisar a obra do "decano" dos internacionalistas
latino-americanos, Andrês Bello, cuja obra Pri.ncfpios de Derecho Internacional,
de 1832, condena a intervenção, mas a admite no caso de guerra civil, como
pertencendo ao direito costumeiro. Dentro de orientação semelhante está Carlos
Calvo, que afirma serem a intervenção e a não-intervenção "princípios de Direito
das Gentes", mas que parece "prevalecer" nas relações internacionais a
não-intervenção. Kane,'5 com fundamento na obra de Fabela, observa que até
Drago, no início do século XX, os autores latino-americanos seguiam a posição
européia admitindo a intervenção, mas que, no corrente século, eles se filiam ao
princípio de não-intervenção,'· o que serve para demonstrar o ingresso tardio
deste princípio no nosso continente, apesar de sermos, no século XIX, países
fracos em um mundo de grandes potências. De qualquer modo, a doutrina no
século XX vai defender a não-intervenção e a diplomacia latino-americana vai
lutar pela sua consagração em texto convencional. Fabela vê uma manifestação
neste sentido na recomendação aprovada na I Conferência Internacional
Americana (Washington), consagrando a igualdade de direitos civis entre
estrangeiros e nacionais, bem como que "a nação não reconhece em favor dos
estrangeiros nenhuma outra obrigação ou responsabilidade que as estabelecidas
em favor dos nativos nos mesmos casos, pela Constituição e as leis". Afirma o
internacionalista que a citada resolução visava os EUA, que faziam inúmeras
intervenções em nome da defesa de seu nacional. Ela não foi aprovada pelos
EUA.'7
Na n Conferência Internacional Americana (México) manifesta-se a mesma
tendência de especificar os direitos de que gozam os estrangeiros. Entretanto, a
formulação é mais precisa e estabelecida em uma convenção, em que se estatui a
não-responsabilidade do Estado por danos causados a estrangeiros por "atos de
facciosos", etc. H
Na Conferência Internacional Americana de Buenos Aires é reconhecida a
arbitragem para a solução das "reclamações por danos e prejuízos pecuniários".
Salienta Fabela "que o interesse de todas as delegações em insistir sobre a
arbitragem obrigatória era com o fim precisamente de evitar intervenções ( ... )."11
.. Fabela, Isidro. Intervencwn. M~xico, Escuela Nacional de Ciencias Polfticas y Sociales, 1959. p. 133
segs. Ver, ainda, uma excelente análise deste princípio nas diferentes confer!ncias pan-americanas: Oliveira,
Jane Tereza Gonzaga de. O princfpio de não-intervenção no sistema das relações inteTt1l7lericanas. Tese de
doutorado. Rio de Janeiro, Faculdade de Direito, UFRJ, 1986. mimeogr.
'5 Kane, WiIliam Everett. CNU striJe in Latin America: a legal history ofU.S. involvement. Baltirnore, The
Johns Hopkins University Press, 1972. p. 115.
11 Ver Fabela, Isidro. op. cito p. 133 segs.
17 Id. ibid. p. 195.
11 Id. ibid. p. 197 -202.
11 Id. ibid. p. 204.

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Na Conferencia de Havana (1928), o tema da intervenção volta novamente à
discussão, havendo várias manifestações em favor da não-intervenção, mas sem
que seja concluído qualquer texto convencional a consagrando. 20
Finalmente, em 1933, na Conferencia de Montevidéu, é firmada Convenção
sobre direitos e deveres dos Estados, cujo art. 82 estabelece:
uNenhum Estado possui o direito de intervir nos assuntos internos de outro."
Este dispositivo não foi aceito pelos EUA, apesar de a delegação
norte-americana af"mnar "que sob o regime do Presidente Roosevelt o Governo
dos Estados Unidos se opõe, tanto como qualquer outro Governo, a toda
ingerencia na liberdade, na soberania ou outros assuntos internos ou
procedimentos de outras nações".
O princípio de não-intervenção s6 vai ser consagrado com a aceitação dos Et; A
do protocolo adicional relativo à não-intervenção, concluído na Conferencia
Interamericana de Consolidação da paz (Buenos Aires, 1936). É um protocolo
adicional à Convenção de Montevidéu citada anteriormente. Ele determina:
"Art. 12 As Altas Partes Contratantes declaram inadmissível a intervenção de
qualquer delas, direta ou indiretamente, e seja qual for o motivo, nos assuntos
internos ou externos de qualquer outra Parte."
Em 1938, na Conferencia Internacional Americana, realizada em Lima, é
aprovada a Declaração de Princípios Americanos, que determina:
"1 2 É inadmissível a intervenção de um Estado nos assuntos internos ou externos
de qualquer outro."
Na Conferencia Intenurericana sobre Problemas da Guerra e da Paz
(Chapultepec - 1945), na "resolução sobre assistência recíproca e solidariedade
americana", se consagra:
"a) que os Estados-Americanos têm incorporado ao seu Direito Internacional,
desde 1890, por intermédio de convenções, resoluções e declarações, as seguintes
normas:( ... )
b) condenação da intervenção de um Estado nos assuntos internos ou externos de
outro (VII Conferencia Internacional Americana, 1933 e Conferência
Interamericana de Consolidação da Paz, 1936)."
Finalmente, na Conferência de Bogotá (1948) é aprovada a Carta da
Organização dos Estados Americanos (OEA), que consagra de modo mais claro o
princípio de não-intervenção:
"Art. 18. Nenhum Estado ou grupo de Estados têm o direito de intervir, direta ou
indiretamente, seja qual for o motivo, nos assuntos internos ou externos de
qualquer outro. Este princípio exclui não somente a força armada, mas também
qualquer outra forma de interferência ou de tendência atentat6ria à personalidade
do Estado e dos elementos políticos, econômicos e culturais que o constituem.
Art. 19. Nenhum Estado poderá aplicar ou estimular medidas coercitivas de
caráter econômico e político, para forçar a vontade soberana de outro Estado e
obter deste vantagens de qualquer natureza."
O que se pode verificar é que o DI americano codificou o princípio de
não-intervenção antes do DI universal. Entretanto, isto não significa que este
princípio seja mais respeitado no nosso continente do que no resto da sociedade
internacional. Pelo contrário, as mais flagrantes violações têm ocorrido no nosso
continente.
20 Sobre os debates na Conferência de Havana, ver Noel, Jacques. Le principe de non-intervention: théorie
et pratique dans les relations inter-am6ricaines. Bruxelas, Universit6 de BruxelIes/Éditions Émile Bruylant,
1981. p. 46 segs.

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A intervenção integra a polftica externa dos EUA, sendo que Blasier observa
apresentarem as revoluções latino-americanas uma relevância especial devido aos
seus interesses na região. Este autor mostra a "participação" norte-americana nas
mais diferentes revoluções ocorridas no nosso continente. 21 Para citarmos apenas
alguns casos mais recentes podemos lembrar a intervenção norte-americana na
Rept1blica Dominicana,22 em 1965, ocasião em que é elaborada a Doutrina
Johnson, que procura mascarar a intervenção norte-americana com a OEA. Neste
caso, os EUA enviaram 30.000 homens para protegerem 8.000 estrangeiros,
quando as tropas da Rept1blica Dominicana não ultrapassavam 25.000 homens. As
tropas norte-americanas foram desembarcagas com o pretexto de defenderem os
cidadãos estrangeiros e evitar o derramamento de sangue, tendo em vista a guerra
civil que ali se desenrolava. A América Latina se manifesta receosa de uma volta
à polftica intervencionista dos EUA. Em conseqüência, as tropas norte-americanas
vão ser substituídas pela Força Interamericana da Paz (FIP) , criada pela X
Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores. Esta FIP é ilegal no
contexto da OEA, porque esta s6 possui o direito de legítima defesa e não de
"polfcia internacional". E mais, o art. 53 da Carta da ONU proíbe qualquer ação
coercitiva por parte das organizações regionais, sem a autorização do Conselho de
Segurança. Desde 1961 que fazia parte da política externa dos EUA a criação de
uma força internacional sob a OEA.23 A tentativa norte-americana de transformar
a FIP em algo permanente fracassou, devido à oposição da grande maioria dos
países da América Latina, como Chile, México e Venezuela. No tocante a esta
intervenção, os EUA não tiveram a menor preocupação com o aspecto legal,
sendo que o Consultor Jurídico do Departamento de Estado afirma que não se
deve analisar o que estabelece um "código" ou fazer uma "análise legal", mas
sim dar "uma solução prática e satisfat6ria" ao problema. 2.
Foi dentro deste quadro que foi formulada a Doutrina Johnson, em discurso
pronunciado por este presidente, na Universidade de Baylor (Texas), em 1965,
afIrmando que a diferença entre guerra civil e guerra internacional não tem mais
validade no mundo atual e que a OEA deve intervir nos casos de ameaça do
comonismo na América. Esta doutrina nos parece falsa e perigosa pelas seguintes
razões: a) há sempre a possibilidade de existirem conflitos internos sem a
participação de Estados estrangeiros; b) não distinguir guerra civil de guerra
internacional acabará por conduzir à IH Guerra Mundial; c) a OEA não tem uma
autonomia e continuará a ser cada vez mais instrumento da polftica externa

21 Blasier, Cole. TIu! Iwvering giant. U.S. responses to revolutionary change in Latin America. University
of Pittsburgh, 1976. p. 3. A contradição entre a defesa do princfpio de não-intervenção e as intervenções
constantes no continente americano é explicada por Noel, J. (op. cit. p. 2) da seguinte maneira: "a identifi-
cação dos interesses das elites locais com os de Washington" é que "o apoio e a intervenção dos EUA são
então indispensáveis para esta classe continuar a reinar". Observa que as elites não têm o apoio dos povos,
da( a necessidade da intervenção. Salienta ainda que "a regra de não-intervenção, proclamada por esta mes-
ma classe, serve para adormecer a vigilância, a acreditar na existência em seu seio de um cuidado de inde-
pendência nacional" •
22 Ver sobre o tema: Marinho, limar Penna. Conseqüências da crise dominicana sobre a evolução do siste-
ma interamericano. In: Boletim da Sociedade Brasileira de Direito Internacional, 41/42: 69 segs., janJdez.
1965. Ver ainda: Polftica externa independente. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, n. 2, ago. 1965.
23 Veneroni, Horacio L. Estados Unidos Y las Fuerzas Armadas de AmLrica Latina. Buenos Aires, Periferia,
1973. p. 74.; Child, Jobo. Unequal aDiance: The inter-american rnilitary 1938-1978. Boulder, Westview
Press, 1980. p. 128.
2. Apud Kane, William Everett. op. cito p. 2.

Não-intervenção 15
norte-americana, fazendo com que a América Latina acabe por perder qualquer
credibilidade nesta organização; d) ela limita a soberania dos Estados do
continente americano. 25 Na verdade, como bem observam Bretton e Chaudet, os
EUA sofrem de um "complexo de uma segunda Cuba", bem como têm medo de
uma expansão do castrismo. U
Esta 6ltima observação se aplica perfeitamente à mais recente intervenção dos
EUA, a realizada em Granada. Entretanto, antes de entrarmos neste caso, devemos
lembrar que, em 1975, o Presidente Ford defende a prática da intervenção sempre
que for necessária para a segurança dos EUA."7 Em 1983, o Governo Reagan
auxilia o governo de EI Salvador na luta contra os revoltosos e na Nicarágua
auxilia os revoltosos na luta contra o governo sandinista. Neste mesmo ano foram
desembarcadas tropas em Granada, com o fundamento de que se visava a proteção
de mil cidadãos norte-americanos, bem como teria havido solicitação da
Organização dos Estados do Caribe Oriental (Oeco). Estes fundamentos não
procedem, porque o governo de Granada havia assegurado a integridade dos
cidadãos norte-americanos, bem como havia permitido que dois diplomatas dos
EUA fossem vê-los. Acresce, ainda, que apenas 30 cidadãos norte-americanos
queriam ser repatriados. A Oeco é um pacto de cooperação econômica e de
solidariedade entre os Estados da região. U No caso, não havia qualquer agressão
externa. São membros da Oeco: Ant(gua, Dominica, Montserrat, St. Kitts-Nevis,
Santa L6cia, Granada, São Vicente e Granadinas. As suas decisões devem ser
tomadas por unanimidade e para a reunião em que foi feita a solicitação aos EUA
não foram convidadas: St. Kitts-Nevis, Montserrat e a pr6pria Granada. É de se
recordar que os EUA não fazem parte da Oeco, bem como o fato de que Granada
pertence à Commonwealth e o seu governo era reconhecido pela Grã-Bretanha. O
desembarque inicial foi feito com 1.900 homens e posteriormente aumentado para
7.500 homens. Forneceram soldados e policiais: Ant(gua, Santa L6cia, Dominica,
São Vicente, Barbados e Jamaica, sendo que estas duas 6ltimas não integram a
OecO.29
Hoffrnann procura explicar a atitude dos EUA, afirmando que o principal
problema até o final do século é o da revolução e que os EUA não se encontram
preparados para enfrentá-lo, "porque a sua 6nica experiência revolucionária
foi nacional e não social", bem como que as revoluções atuais são contra os

25 Ver Brenon, Ph. & Chaudet, 1. P. La coexistence pacifique. Paris, Armand Colin, 1971. p. 304.
28 Op. cit. p. 310.
27 Rousseau, Charles. op. cil. p. 47-8.
28 Texto do tratado institutivo da Oeco. In: InteT7UJtional Legal Materiais, 20 (5):1.166 segs., Sept. 1981.
29 Sobre esta matéria, ver loyner, Christopher C. Reflections on the lawfulness of invasion. In: American
Joumal of lntemational Law (Ajil), 78(1): p. 131 segs.lan. 1984; Vagts, Detlev F. Intemational law under
time-pressure: grading the Grenada take-home examination. In: American JOUT7UJ1 of InteT7UJtwnal Law
(Afil), 78(1): p. 169 segs. lan. 1984; Boyle, Francis A.; Chayes, Abram; Falk, Richard et alii. International
lawlessness in Grenada. In: Ajil, 78( 1): p. 172 segs; lan. 1984; Moore, lohn Nonon. Grenada and the intema-
tional double standard. In: Ajil, 78(1): p. 145 segs. lan. 1984. O 11nico autor dos citados que defende, do ponto
de vista jurídico, a intervenção em Granada é Nonon Moore que, outrora, também defendeu a intervenção
none-americana no Vietnã. Os argumentos de Moore podem ser resumidos nos seguintes: a) as ações de as-
pecto regional para a manutenção da paz visam restaurar a autodeterminação e não se constituem em sanções
contra os governos; b) cita como precedente a ação empreendida na República Dominicana; c) alega que a
Assembléia Geral da ONU condenou a ação em Granada, mas não condena outros fatos que ocorrem na
ordem internacional. Como se pode verificar é uma argumentação mais de ordem polCtica do que jurídica,
bem como coloca os EUA como árbitro do que é autodeterminação.

16 R.C.P.3/90
abusos do capitalismo. Conclui o seu pensamento dizendo que se os EUA virem
em cada revolução uma intervenção de Moscou eles vão "escorregar de uma crise
para outra". 30
A razão parece estar com Ronning, que afmna: "A não-intervenção 'absoluta',
deste modo, se toma, para os EUA, um objetivo ut6pico e inacessível. O seu
poder político e econômico é tão grande, que qualquer coisa que 'façam' ou
'deixem de fazer' em relação a outra repdblica americana influenciará os neg6cios
políticos dessa repdblica. "31
Na verdade, suprimir a intervenção em um mundo dominado por grandes
potências é de certo modo uma utopia. Não adiantaria substituí-la por um sistema
regional de intervenção, porque este acabaria por ser dominado por uma grande
potência. Substituí-la por um sistema universal também não funcionaria, porque s6
tem conduzido, em parte, a uma divisão do mundo em áreas de influência, bem
como não há ainda um "amadurecimento" da sociedade internacional neste sentido.
De qualquer modo, n6s, que nos dedicamos ao direito internacional positivo,
somos um pouco ut6picos. Defendemos o princípio de não-intervenção como
norma desse direito, apesar de suas constantes violações.

5. Tese Drago

Os Estados latino-americanos, os primeiros subdesenvolvidos na sociedade


internacional a alcançarem a independência, vão ser defensores do princípio de
não-intervenção. Dentro desta linha de pensamento se encontra a tese Drago. A
sua origem está no bloqueio da Venezuela, onde foram bombardeados La Guaíra,
Maracaibo e Porto Cabello, em 1902, por uma esquadra da Alemanha, Inglaterra e
Itália. O fundamento deste ato dos países europeus era que a Venezuela não
efetuava o pagamento de indenizações a alemães, ingleses e italianos, que tinham
sofrido danos com os movimentos revolucionários que ali ocorriam, bem como
não pagava as amortizações e juros dos empréstimos contraídos para a construção
de estradas de ferro e outras obras públicas.
Esta intervenção européia fez com que Luis Maria Drago, Ministro das
Relações Exteriores, enviasse, através do ministro argentino em Washington, uma
nota32 ao Departamento de Estado dos EUA, em que sustentava a não-intervenção
nos casos de cobrança das dívidas pdblicas com os seguintes fundamentos: a) o
credor sabe a quem empresta o dinheiro e "não ignora que tratou com entidade
soberana e uma das condições pr6prias de qualquer soberania é a de não poder ser
iniciado nem concluído, contra ela, processo executivo nenhum, porque tal modo
de cobrança comprometeria a sua pr6pria existência ( ... )"; b) "os Estados, seja
qual for a força de que disponham, são entidades perfeitamente iguais entre si
(... )"; c) "(... ) a cobrança compuls6ria e imediata em determinado momento, por
meio da força, levaria à ruína as nações mais fracas ( ... )"; d) "a cobrança manu
militar; dos empréstimos incide na ocupação territorial, ocupação que presume a
supressão ou a subordinação dos governos", o que violaria a Doutrina de Monroe.
.' Afmna ainda: "em uma palavra: o princípio que a Repdblica Argentina desejava
I'.
!
ver reconhecido é que a dívida pdblica não pode provocar a intervenção armada e

30 Hoffrnann, Stanley. La nouvelle gue"efroide. Paris, Berger-Levrault, 1983. p. 192-3.


31 Ronning, Neale. O direito no diplomacia interamencana. Trad. Jo~ Carlos Coelho de Souza. Rio de
Janeiro, Forense, sld p. 105. (Edição americana: 1963.)
32 A sua data ~ 29.12.02.

Não-intervenção 17
menos ainda a ocupação material do solo das nações americanas por uma potência
européia."33 Esta doutrina acabou por receber o apoio do Presidente Theodore
Roosevelt, em 1905. 34 Em 1906, ela foi trazida à discussão na Conferência
Panamericana, realizada no Rio de Janeiro, mas como a matéria era de interesse,
não apenas dos Estados americanos" mas tambépt dos europeus, resolveu-se adiar
a sua discussão, com uma moção aprovada neste sentido, para a 11 Conferência de
Haia, a se reunir em 1907.
Na Conferência de Haia, a Doutrina Drago foi aprovada com o apoio dos EUA,
cuja delegação tinha a chefia do General HoracePorter, que nela introduziu
alterações.35 Assim sendo, foi aprovada uma convenção concernente à limitação
do emprego da força para a cobrança de devidas contratuais, que ficou conhecida
como convenção Drago-Porter. Ela é de um certo modo uma conciliação entre a
prática intervencionista e o princípio de não-intervenção. Ela determina: 38 a) não
haver o recurso "à força armada para a cobrança de dívidas contratuais
reclamadas ao Governo de um País pelo Governo de outro País, como devidas a
seus nacionais"; b) a determinação anterior "não poderá aplicar-se, quando o
Estado devedor recusar ou deixar sem resposta uma proposta de arbitragem, ou,
aceitando-a, tomar impossível a celebração do compromisso, ou, depois da
arbitragem, deixar de conformar-se com a sentença proferida".
Algumas observações devem ser formuladas. A primeira delas é que a idéia de
arbitragem nestas questões figurou, em 1903, em uma nota do Secretário de
Estado norte-americano 10hn Hay, em resposta à nota Drago. 37 A segunda é de
que Drago não se opôs, em Haia, à arbitragem, mas ele não aceitava que se fizesse
intervenção em momento algum.
Sobre o alcance da citada Convenção de Haia no tocante à expressão "d(vidas
contratuais", esta tem sido entendida como abrangendo toda e qualquer dívida do
Estado, inclusive as dívidas pl1blicas (exemplo: emissão de bônus) de que falava
Drago. As devidas pl1blicas se caracterizam por não serem passíveis de execução,
uma vez que são contraídas a título soberano, podendo o devedor fixar a forma de
pagamento. 3. 8 Strupp" considera que a Convenção de Haia não inclui as dívidas
oriundas de atos delituosos. Em sentido contrário está Moulin. 40
33 A nota de Drago está reproduzida em Bevilacqua. Clovis. A nota Drago: In: Revista da Faculdade Livre
ck Direito da Bahia. Bahia, Litho-Typographia Almeida, p. 79-87, 1910. Pode-se dizer que esta tese tem as
suas raízes em Carlos Calvo, que combateu a intervenção, sob qualquer forma, por motivos econômicos ou
por prejuízos causados em guerra civil aos nacionais no estrangeiro. Considerava que isto era um abuso das
grandes nações (ver Fabela, op. cit. p. 137). Ver ainda: Strupp, Karl. tlene~ du Droillntemational public
universel, europlen et amhicain. Pref. Alejandro Alvarez. 2. ed. Paris, Les Editions Internationales, 1930.
v.l, p. 124; Drago, Luis M. Cobro coercitivo de ckudas pl1blicas, Buenos Aires, Coni, 1906.
34 Inicialmente esta doutrina foi recebida com frieza nos EUA e na Europa. Ver: Moulin, H. A. La doctrine
de Drago. Revue GlnbaIe de Droit Intemational Public, Paris, A. Pedone, p. 4, 1907.
3 5 ~ interessante observar que Drago compareceu pessoalmente a esta Confer!ocia, bem como que o Brasil
combateu esta doutrina, vez que o Barão do Rio Branco temia com a sua defesa a fuga dos capitais
estrangeiros.
38 Mello, Rubens Ferreira de. Textos de direito internacional e ck hist6ria diplom4tica. Rio de Janeiro, A.
Coelho Braoco, 1950. p. 141-2.
37 La Doctrina Drago. Colecci6n de documentos. Con una adverteocia preliminar de S. P&CZ Triana y una
introducci6n de W. T. Stead. London, Imprenta de Wertheimer, 1908, p. 12-3. A arbitragem veio a ser
consagrada no nosso continente na convenção sobre reclamações pecuniárias. coocluída em Buenos Aires,
em 1910, onde os Estados americanos se obrigam a submeterem à arbitragem "as reclamações por danos e
prejuízos pecuniários" que nio sejam resolvidas amigavelmente. Ver: Mello, Rubens Ferreira de. op. cit. p.
223-5.
3. Moulin. op. cit. p. 9.
3' Id. ibid. v. I, p. 125. 1,1930, p. 125.
40 Id. ibid. p. S-9.

18 R.C.P.3/90
De qualquer modo, esta discussão não tem nenhum valor, porque a Carta da
ONU proíbe o uso da força armada por parte dos Estados, tomando a convenção
Drago-Porter em algo de interesse meramente hist6rico.

6. Conclusão

A tradição na hist6ria da América Latina é a intervenção. Alberdi aÍrrmava ser


ela "tradição de 1810",., isto é, desde a independência das colônias da América
espanhola4 Os Estados do nosso continente intervêm sempre um no outro,
entretanto, o grande receio foi, inicialmente, a intervenção das potências européias
e, posteriormente, dos EUA. Daí o princípio de não-intervenção que o nosso
continente é o primeiro a codificar na sociedade internacional. Acabamos por
influenciar o DI Universal, sendo suficiente comparar a Carta da OEA e a
Declaração relativa aos princípios de direito internacional, concernentes às
relações amigáveis e a cooperação entre os Estados, conforme a Carta das Nações
Unidas, para se verificar a semelhança na redação entre alguns princípios aí
estabelecidos e os que figuram na Carta da OEA.
A pr6pria posição da América Latina nem sempre foi uniforme, sendo
suficiente lembrar a denominada Doutrina Larreta, proposta pelo Ministro das
Relações Exteriores do Uruguai, Eduardo Rodriguez Larreta, em 1945. Ele
assinala "o paralelismo entre a paz e a democracia" e recorda que as conferências
internacionais americanas sempre consagraram os ideais da democracia. Para
tomar isto efetivo propunha que no sistema interamericano fosse estabelecida uma
intervenção coletiva para garantir a democracia. A maior parte dos Estados
americanos desaprovou a nota enviada pelo chanceler uruguaio, alegando a
dificuldade de se caracterizar a democracia, bem como o fato de que esta nem
sempre está ligada à paz. 42
Podemos concluir aÍrrmando que, hoje, o princípio de não-intervenção, além de
pertencer ao DI Positivo, é também um ideal da sociedade internacional, pelo
menos, da maior parte dos Estados que a integram, isto é, os países em
desenvolvimento, as eternas vítimas da intervenção. Ele deixou de ser um
princípio exclusivo do DI americano.

4' Moreno, Isidoro Ruiz. Aspectos modernos de la Doctrina Drago. C6rdoba. Universidad Nacional de
C6rdoba, 1960. p. 19.
42 Tbomas, Ann Van Wynen & Thomas Ir., A. J. La no intuvenci6n. Trad. Eduardo Ponssa 4e la Vega.
p. 449 e 50. Buenos AireS, La Ley, 1959. E ainda: Tbomas, Ann Van Wynen & TbomasIr., A. J. TheOr-
ganization of American S tates. Dallas, Southem Melhodist University PmIS, 1963. p. 219-20. Sefte Câmara
considera com razão que a doutrina 6 "p~", beJp como qu~ 56 "organismos internacionais"
poderão tratar do respeito b liberdades individuais (Seue Câmara Filho, J. A doutrina Larreta. In: Boletim
da Sociedade Brasileira de Direito Internacional, (3): p. 55 segs., janJjun. 1946). Ver ainda: Ulloa. Alberto.
La propuesta Rodríguez Larreta. In: Revista Peruana de Derecho Internacional, Lima. Sociedad Peruana de
Derecho Internacional, Torres Aguirre, 5 (18): p. 291 sega., octJnovJdic. 1945. Trellcs, Camilo Bareia.
EspafIa, I! ONU, la Doctrina Larreta y el problema de la intervenci6n. In: Trencs, Camilo Barcia. Estudios
de poIItica internacional y tkrecho tU gentes. Madrid, Consejo Superior de Investigacioncs Científicas,
Instituto Francisco de Vitoria, 1948. p. 87. sega., espec. p. 112 sega.

Não-intervenção 19

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