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Prof.

Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 1

A Reforma Protestante: Uma Introdução Histórica e Teológica


Professor Ms. Lucas Gesta 1

Esboço Temático:

╬ Mudanças doutrinárias gerais (Antiguidade até a Idade Média):


 A igreja sofrerá grandes e drásticas transformações No campo litúrgico:
 Há um declínio e progressiva clericalização da liturgia onde os clérigos tendem
a monopolizar o culto enquanto o laicato se torna apenas um espectador;
 Ganha terreno a noção de “sacerdotalismo”, no qual a celebração do
sacramento só se torna eficaz através deste;
 A ênfase dada ao bispo, derivada da doutrina da sucessão apostólica, leva
muitos a o verem como o verdadeiro despenseiro dos meios da Graça, através
dos sacramentos;
 A Ceia e o Batismo tornaram-se ritos que só poderiam ser celebrados por um
ministro desse nível;
 A ideia da missa como um sacrifício se associa a ideia do bispo como o único
capaz de exercer essa função dada sua santidade;
 A missa se reveste de um movimento pragmático de dar em troca de algo a
receber na vida material ou espiritual;
 As “missas privadas” facilitam tendências individualistas;
 O ritualismo amplo e espetacular reduz o espaço do anúncio da Palavra de
Deus;
 O laicato acaba se tornando um mero espectador enquanto o clero executa a
missa;

 A igreja sofrerá grandes e drásticas transformações no campo doutrinário:


 A presença germânica e das massas de pagãos convertidos quase que
“automaticamente” fruto de decisões políticas ou da conversão de seus
monarcas, trouxe velhos padrões de vida e costumes pagãos para a Igreja;
 Há uma tendência à materialização da liturgia para torná-la acessível a esses
fiéis;
 A adoração \ veneração de anjos, santos, relíquias, imagens e estátuas foi uma
consequência lógica deste processo;
 A veneração dos santos surge do desejo natural de honrar aqueles que foram
mártires pelo Evangelho;
 O culto aos heróis foi logo substituído pelo culto aos santos;

1
Mestre em História Social – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Especialista em História da Igreja – Faculdade Evangélica de Ciências, Tecnologia e
Biotecnologia (FAECAD). Licenciado em História – Fundação Dom André Arcoverde (FAA -
Valença). Professor de História da Igreja Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea na graduação
em Teologia da FAECAD. Professor de História da Igreja Antiga na Pós-graduação em História da
Igreja (FAECAD). Professor de Tópicos Especiais no Mundo Greco-romano na Pós-graduação em
Teologia do Novo Testamento (FAECAD). Professor de História de Israel no Período Greco-Romano
e na Idade Moderna da Pós-graduação em História de Israel (FAECAD). Professor de História do
Cristianismo e Religiões Contemporâneas da Pós-graduação em Docência do Ensino Superior Cristão
(Faculdades Integradas Signorelli).
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 Até 300 a celebração em túmulos de mártires constava apenas como orações


pela alma do morto; em 590 a oração por eles virara oração a Deus por
intermédio deles;
 Festas a estes santos, bem como igrejas erigidas sobre seus túmulos e lendas de
seus milagres começaram a se multiplicar;
 O comércio de relíquias, como cadáveres, dentes, cabelos e ossos de santos se
tornaram um grave problema;
 O uso de imagens e esculturas no culto propagou-se como uma forma de
materializar a realidade invisível da divindade;
 Ações de graças ou procissões de penitência tornaram-se parte do culto a partir
de 313;
 Peregrinações à Jerusalém ou a túmulos de santos famosos tornaram-se
comuns;
 A veneração de Maria desenvolveu-se rapidamente por volta de 590;
 A série de milagres atribuídos a ela em certos livros apócrifos contribuíram
para esse processo. Além disso, alguns pais creditaram a virgindade eterna a
ela, além de Agostinho defender que Maria jamais cometera pecado;
 Isto levava a igreja romana a lhe tributar honra especial;
 Aquilo que de início era apenas um reconhecimento de sua posição elevada
como mãe de Cristo, logo transformou-se em uma crença nos seus poderes
intercessórios;
 Em meados do século V ela foi colocada como a principal de todos os santos;
 Festas ligadas a seu nome começaram a surgir no mesmo século, como a
Anunciação (25 de março), a Candelária (2 de fevereiro), a Assunção (15 de
agosto);
 No século VI Justiniano pediu sua intercessão em favor de seu Império e Maria
já ocupava uma posição singular no culto romano;
 Porém, dogmas como a imaculada conceição (1854) e a Assunção miraculosa
aos céus (1950) são mais tardios.
 A intimidade com o Estado monárquico provocou mudanças no culto, que
passou de uma forma democrática mais simples para uma outra mais
aristocrática, com clara distinção entre clero e laicato;
 Aumentou o número de cerimônias que passariam a ter funções sacramentais,
como casamento, penitência, ordenação do clero, confirmação, extrema unção
etc.

 Declínio moral do clero:


 A aliança estreita entre o papado e a França, unida a um crescente espírito
nacionalista, nutriu a inimizade de boa parte da Europa contra os papas;
 Isto gerou o episódio conhecido como o “Cativeiro Babilônico” da Igreja
(1309-1377);
 Os papas de Avinhão viviam no luxo de suas cortes;
 Quando a situação finamente se normalizou e o papa retornou à Roma, por
esforços de políticos, intelectuais, populares e figuras carismáticas como
Catarina de Siena, outra crise esperava essa instituição;
 Essa crise foi o chamado “Grande Cisma Ocidental” (1378-1417), quando
dois papas, e mais tarde, três papas, alegaram simultaneamente ser o cabeça
supremo da Igreja;
 As guerras constantes na Itália requeriam amplos recursos econômicos;
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 Para sustentar o luxo e pagar as guerras foi criado todo um sistema de impostos
eclesiásticos;
 Prática da simonia: compra e venda de cargos eclesiásticos;
 Prática do nepotismo: nomeação de pessoas para ocupar cargos eclesiásticos,
não com base em sua competência, mas sim em seu parentesco com o
indicador;
 Prática do absentismo: prática de ocupar um cargo e residir em outro lugar;
 Prática do pluralismo: ocupar ao mesmo tempo vários cargos eclesiásticos,
sem cumprir as obrigações de nenhum deles.

 Durante a Baixa Idade Média houveram vários movimentos que buscavam uma
purificação, reforma ou transformação das práticas eclesiásticas;
 Esses movimentos reconheciam os problemas estruturais da Igreja e tentavam mudá-
los, seja a partir de uma experiência religiosa mais profunda, ou de reformas práticas
na administração eclesiástica.
 Alguns desses movimentos foram reconhecidos e absorvidos pela estrutura
eclesiástica da Igreja Católica;
 Outros, por diversos motivos, foram excluídos do sistema e considerados hereges.

╬ Movimentos reformistas no interior da Igreja:

 A reforma monástica: a partir do século X, a Igreja experimentou uma série de


movimentos monásticos de caráter reformistas que, por sua submissão ao papa e pela
imensa adesão popular através da pregação de líderes carismáticos, se mantiveram no
seio da Igreja.
 A reforma monástica - esta reforma queria alcançar três objetivos:

 Luta contra a simonia; - compra e venda de cargos eclesiásticos


 Imposição do celibato; - o matrimônio entre os clérigos ainda perdurava e era
um grande problema para a Reforma;
 Uma ação contra forte influência dos leigos na Igreja – pelo fim da nomeação e
das investiduras de bispos e abades por reis e imperadores.
 Alguns expoentes:

 Cluny e cistercienses – retorno à obediência irrestrita e à regra monástica


original (São Bento). A vida cúltica foi ampliada até o ponto de pararem de se
dedicar ao trabalho e se dedicar apenas às orações. A parte de Cluny, partiram
reformando mosteiros em toda a Europa, transformando-os em outras
“clúnias”. Cluny era um mosteiro na Borgonha. Os cistercienses eram de um
mosteiro de Citeaux, ou em latim, Cister. Aprofundaram a reforma de Cluny e
diferiam dela. Davam ênfase à autonegação ascética, na simplicidade
arquitetônica de suas construções e na organização centralizada. Enquanto os
de Cluny brilharam entre a aristocracia, a simplicidade dos cistercienses
brilhou entre os camponeses e aderiu grande parte da população. O seu mais
famoso monge foi Bernardo de Claraval, um místico que muito influenciou,
com suas pregações na realização da Segunda Cruzada.

 A reforma dos frades – representaram um outro tipo de monasticismo


reformador no século XII. Como os outros monges, prestavam votos de
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pobreza, castidade e obediência; entretanto, em vez de viver em comunidades


monásticas para oração e trabalho separadas do mundo, eles viviam entre o
povo das cidades para servi-lo e para pregar ao povo em sua língua. Podemos
citar os franciscanos, dominicanos, carmelitas e agostinianos.

 Franciscanos – fundado pelo filho de um rico comerciante, que depois


de uma série de enfermidades, retirou-se para uma gruta onde fez longa
reflexão sobre sua vida, e decidiu-se “casar com a pobreza”. Francisco
(Francesco – pequeno francês) de Assis (1182-1226). Sua regra exigia
pobreza, castidade e obediência, sobretudo ao papado. Sua ordem foi
aprovada pelo papa Inocêncio III. Se tornou a vanguarda dos esforços
missionários da Igreja. Francisco pregou na Espanha e no Egito. Muitos
foram para o Oriente Próximo e Extremo Oriente (João de Monte
Corvino chegou a Pequim em 1300).

 Dominicanos - Domingos era doze anos mais velho que Francisco.


Nasceu na Espanha em Burgos, Castela. Mas sua obra veio depois.
Numa viagem ao sul da França, compadeceu-se dos hereges albigenses
(que eram maltratados e às vezes convertidos à força ou mortos) e
concebeu a ideia de enfrentar a heresia com as armas da austeridade de
vida, da simplicidade e do argumento (como clamavam os mesmos
contra as autoridades ortodoxas). Por essa razão os “cães do Senhor”
(dominicanos) destacavam a educação. Se tornaram os grandes
intelectuais a serviço de Roma. Tomás de Aquino, Mestre Eckart,
Savonarola são exemplos de teólogos brilhantes que vieram dessa
ordem. Acabaram sendo o principal veículo da disseminação da
Inquisição Moderna.

 Impacto geral dessas ordens

Os dominicanos eram, assim como os franciscanos, mendicantes (não


poderiam ter bens e dependiam de doações para sobreviver). Enquanto
os franciscanos foram grandes missionários convertendo os homens
pelo exemplo de vida e pelo apelo emocional, os dominicanos foram os
grandes eruditos que tentaram converter os homens da heresia através
da persuasão intelectual. O apelo dos dominicanos era à cabeça do
homem, enquanto o dos franciscanos era ao coração. Sua ligação e
submissão direta ao papa os colocava livres da interferência de clérigos
locais e dos soberanos leigos. Reestabeleceram a pregação no
vernáculo dentro da Igreja Romana. Eram excelentes missionários em
todo o mundo. Os hospitais franciscanos eram reconhecidos pelo seu
tremendo trabalho.

 O conciliarismo: a “plenitudo potestatis” reside somente em Deus, não em qualquer


indivíduo e nem mesmo no papa.
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 O conciliarismo combatia diretamente o Curialismo, uma teoria de governo


que investia de suprema autoridade, tanto temporal quanto espiritual, as mãos
do papado;
 A visão conciliar afirmava a superioridade dos Concílios Ecumênicos sobre o
papa no governo e na reforma da Igreja;
 Guilherme de Occam declarou que qualquer cristão, “mesmo uma mulher”,
poderia conclamar um Concílio Geral, em um momento de emergência.

╬ Movimentos reformistas “fora” da Igreja: - muitos foram os movimentos


reformistas ou que divergiam doutrinariamente da ortodoxia católica que foram
sufocados, expulsos, perseguidos ou martirizados. A lenda de uma uniformidade da
Igreja Católica durante a Idade Média é apenas uma visão de história eclesiástica.

 Os Valdenses:

 Pedro Valdo; - Rico comerciante de Lion quando ouviu em praça pública


sobre a vida de Santo Aleixo, se comoveu grandemente e começou a renunciar
de seus bens. Acabou dando tudo o que tinha para viver na pobreza e seguir o
exemplo de pregação apostólica. Lia Mateus 10 em seus sermões e atraía
multidões.
 Bíblia e sacerdócio universal; - ensinava que todos os homens deveriam ter a
Bíblia traduzida para a sua língua, pois esta era a Lei de Cristo. E também que
qualquer um, mesmo leigo, poderia pregá-la. Ela era a autoridade final para a
fé e a vida. Defendia as confissões ecumênicas, a Ceia, o batismo e a
ordenação de leigos para pregar e ministrar o sacramento. Como Cristo
ordenou, seus membros saíam de dois em dois para pregar, vestidos de forma
simples na sua língua.
 Proibição e Excomunhão. – No início o Papa acetou e elogiou o movimento de
pobreza desde que não pregasse mais a ninguém (pois isso era autoridade do
clero). Foi perseguido por Walter Map que os ridicularizou e mostrou a
incapacidade intelectual para pregar. Foram excomungados em 1184 por sua
recusa de parar de pregar. Fundaram então seu próprio clero e continuaram
pregando. Com o aumento da perseguição foram obrigados a se refugiar nos
Alpes italianos.

 Os cátaros (albigenses):

 Origens; - nos “hereges” que seguiam uma doutrina parecida com a dos
maniqueus na Bulgária, os “bogomilos”.
 Heresia; - pregavam a dualidade entre o bem e o mal, entre espírito e matéria.
O corpo era mal e deveria-se abster de tudo o que lhe agradava. O Deus do
A.T. era mal e o do N.T. era bom. Cristo não era homem, mas apenas espírito
aparente que veio trazer a mensagem da salvação.
 Estilo de vida – cultivavam a pobreza cristã, um estilo de vida simples (voto de
pobreza) e, quando viam um pobre mendigando pelo caminho, eram capaz de
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dar todas as suas roupas para ele. Combatiam o clero rico e corrupto. Não se
casavam (castidade); viviam em jejuns e rações com um ascetismo muito
acentuado.
 Perseguição – foram perseguidos pela inquisição medieval, também foram
evangelizados pela pregação dominicana, mas por fim foram extintos pela
Cruzada Albigense, dirigida por Inocêncio III em 1209.

 Johannes Wicleff (John Wycliffe):


 Importante erudito da Universidade de Oxford;
 Teorias contra o domínio temporal do Papa;
 O Estado se volta contra ele;
 Doutrinas:
 O verdadeiro senhorio (poder temporal é aquele que não serve a si
próprio, mas ao próximo;
 A Bíblia como única fonte e regra de fé e autoridade.

A REFORMA PROTESTANTE: ANTECEDENTES


╬ Antecedentes da Reforma:
 Por volta do ano 1500, os fundamentos da velha sociedade medieval estavam ruindo, e
uma nova sociedade com dimensão geográfica mais ampla e com transformações
políticas, sociais, econômicas, intelectuais e religiosas estavam surgindo;
 É difícil definir até que ponto a Reforma foi favorecida pelos acontecimentos que
geraram a Modernidade ou até que ponto a Modernidade surgiu exatamente por causa
da Reforma;

 Mudanças geográficas:
 A civilização talássica;
 1492 – descoberta da América por Colombo;
 1522 – fim da viagem da circunavegação da Terra por Magalhães;
 Descoberta e colonização de novos e antigos continentes – Américas, África,
Ásia;
 Resultado: ampliação da cosmovisão, da noção de espaço, descoberta de novas
religiões, culturas e paradigmas.

 Mudanças políticas:
 O surgimento das nações-Estado:
 Fim da descentralização medieval;
 Ascensão de governos fortes, centralizados nas mãos de um
monarca, com presença de um corpo burocrático e militar;
 Cada Estado equivale a uma nação;

 Unificação intelectual, cultural, linguística e histórica;


 Os novos governantes verão com cada vez maior insatisfação a interferência da
política papal e eclesiástica em seus territórios;
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 Resultado: assim como o Estado é nacional, haverá uma demanda por uma Igreja
nacional e pela independência em relação à Igreja de Roma.

 Mudanças econômicas:
 A ascensão da burguesia:
 Durante toda a Idade Média, a economia da Europa se voltava para a
agricultura, era a base do comércio;
 Na Baixa Idade Média até 1500 começam a ressurgir as cidades, abrem-
se novos mercados locais e regionais;
 Descobrem-se novas fontes de matéria prima;
 Reconstroem-se antigas estradas, drenam-se pântanos, constroem-se
novos interpostos comerciais através dos burgos;
 Uma nova classe, a burguesia, ascende economicamente e cada vez
mais acumula poder político e social;
 A era do comércio:
 Inaugura-se uma nova era pautada pelo comércio e não apenas pela
agricultura;
 Começam a circular as moedas e o padrão monetário substitui o
escambo;
 A busca pelo lucro começa a tomar conta das pretensões humanas;
 Começa a surgir o mercado financeiro e os bancos;
 Conflito entre a religiosidade católica e a burguesia:
 Lucro e usura;
 Os banqueiros e comerciantes judeus;
 Impostos e dízimos papais;

 Interferências estatais:
 As terras da Igreja Católica eram cobiçadas pelos governantes
nacionais, pela nobreza e pela classe média dos novos Estados-nações;
 Os governantes lamentavam a perda do dinheiro enviado para o tesouro
papal e também a isenção de impostos nacionais por parte do clero e da
Igreja;
 A tentativa papal de tirar mais dinheiro dos Estados alemães no século
XVI aborreceu a classe governante e burguesa;
 Essa situação agravou-se com o aumento da inflação e do custo de vida
por causa do metalismo espanhol;

 Resultado:
 A nova classe burguesa irá procurar o apoio religioso em quem
permitisse o funcionamento de seus negócios;
 Os monarcas nacionais irão combater a evasão de dinheiro dos seus
Estados para Roma e tentarão reter todo lucro financeiro em seus
domínios;
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 Afastamento cada vez maior com o catolicismo que condenava o lucro,


a usura e as riquezas terrenas.

 Mudanças tecnológicas:
 Criação dos relógios mecânicos – estimulou o europeu pelo interesse de construir
máquinas complexas de toda a sorte; racionalizaram o curso da vida cotidiana
europeia, acabando com a flexibilidade do tempo; o trabalho foi regulado com
maior precisão, desenvolvendo-se a noção de que tempo é produção (dinheiro);
 Aperfeiçoamento dos óculos – possibilitaram as pessoas mais idosas a continuarem
a leitura;
 Criação das naus e tecnologias marítimas – permitiram as Grandes Navegações e
descobertas de todo o mundo;
 Criação do papel vegetal – o pergaminho era feito com a pele dos animais
agrícolas, preciosos. Para se escrever uma Bíblia era necessário matar cerca de
duzentos a trezentos carneiros (caríssimo) [um animal produzia-se cerca de 4
folhas de pergaminhos]. O papel era feito de trapos transformados em polpas nos
moinhos baixou o preço sensivelmente. Criação da imprensa;
 Resultado:
 Tornou-se mais barato ler e escrever;
 Os livros popularizaram-se e se espalharam por toda a Europa;
 Inaugurou-se a civilização da imprensa escrita;
 As Bíblias e escritos dos reformadores eram produzidos em larga escala
e difundidos rapidamente em longas distâncias a baixo custo;
 A produção literária permitiu a unificação dos idiomas e a criação de
línguas nacionais.
 Mudanças sociais:
 A mobilidade social:
 A sociedade medieval era extremamente imóvel e estamental;
 Com a ascensão do comércio, novas classes surgem e a oportunidade de
enriquecimento mexe com todas as classes sociais;
 A Igreja perde o monopólio e a hegemonia da manutenção social para o
comércio e a política dos Estados;
 A livre iniciativa:
 As pessoas passaram a depender cada vez menos de um senhor feudal
ou algo semelhante para criarem ou manterem seus negócios e gerirem
suas vidas;
 Surgem então pequenos proprietários livres, pequenos empresários de
manufaturas etc;
 O regime da servidão se desestrutura, em prol do trabalho livre
assalariado;
 A independência pessoal:
 Cada vez mais ampliou-se a revolta e insatisfação contra à dominação
temporal e atemporal de todo o povo por parte de uma minoria rica (1°
e 2° estamentos);
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 As constantes guerras, pestes e fomes bem como as novas relações


sociais geravam grande miséria, desespero e desestruturação social;
 Assim, as pessoas perdiam cada vez mais a confiança nas antigas
relações medievais para as protegerem e gerirem suas vidas, a saber: ao
senhor feudal e a Igreja Romana;
 A ascensão da sociedade mercantil levou também ao crescimento do
individualismo;
 O coletivo deu lugar ao privado nas relações comerciais e produtivas, e
assim, às relações sociais, familiares, religiosas e no seu auge, ao que
tange à Salvação espiritual.

 Mudanças intelectuais:
 O Escolasticismo:
 Este termo refere-se às escolas (scholae). Caracteriza um período de intensa
reflexão e produção intelectual teológica e filosófica, despertada após as
Cruzadas;
 Buscava-se o equilíbrio entre a fé e a razão, e uma maneira profunda de
explicar as bases da fé em perspectiva aristotélica;
 Os escolásticos que mais influenciaram a Reforma foram Tomás de Aquino e
Guilherme de Occam;

 O Misticismo alemão:
 Movimento de reflexão espiritual que visava conhecer a Deus, não
através de uma teológia rígida, mas sim da experiência pessoal e
individual com Deus;
 O misticismo ontológico aplicou o poder absoluto de Deus à alma
individual, a doutrina da união mística da alma com Deus;

 O humanismo:
 Foi um movimento intelectual-religioso que buscava a valorização do ser
humano na cosmovisão europeia;
 Assim como os renascentistas, eles tinham grande apego ao estudo das fontes
greco-romanas e a sua valorização do homem como produtor de razão,
conhecimento, beleza, artes etc.;
 Os humanistas se interessaram pela religião cristã tanto quanto pela literatura
pagã e buscavam integrar esses dois conhecimentos;
 Eles acentuavam o estudo da herança judaico-cristã;
 Por isso, estudaram os documentos bíblicos nas línguas originais e
aplicavam as técnicas de estudo humanista à interpretação bíblica;
 Erasmo de Rotterdam:
 Foi um dos mais importantes humanistas no tocante à sua influência na
Reforma protestante;
 Tornou-se um erudito em todas as áreas do conhecimento humano,
tendo estudado em diversas universidades europeias;
 Denunciou os abusos do clero e da Igreja católica em geral através de
seus escritos ácidos e satíricos;
 Foi fonte de inspiração universitária de Lutero e Zuínglio;
 Sua contribuição mais marcante foi a tradução do Novo Testamento
para o grego, publicado em 1516;
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 Foi esse Novo Testamento que Lutero usou para fazer a tradução do
Novo Testamento pela primeira vez para a língua alemã;
 Com isto ele pôde elaborar as diferenças entre a Igreja do Novo
Testamento e a da sua época.
 A tradução da Bíblia (tanto o N.T. quanto A.T.) para o grego, bem
como o estudo sistemático do grego e hebraico permitiu as traduções
protestantes da Bíblia nas línguas vernáculas que eclodiram em toda a
Europa;
 O estudo dos humanistas tornaram claras as diferenças entre a Igreja do
N.T. e as da época posicionando-se contra a organização eclesiástica
medieval e papal;

 Resultado:
 A ênfase renascentista no indivíduo foi preponderante para o ensino
protestante de que a salvação era uma questão pessoal, a ser resolvida
entre o indivíduo e Deus sem a interferência de um sacerdote ou
mediadores humanos;
 O espírito crítico dos humanistas contagiou os futuros reformadores nas
suas críticas à hierarquia, aos sacramento e demais práticas que não
estavam de acordo com as Escrituras.

 Martin Luther :
 Criação:
 Lutero nasceu em 1483 na pequena cidade de Eisleben;
 Sua família, de origem humilde, foi galgando crescimento econômico
até se tornar uma das famílias respeitadas da classe média da região de
Masnfeld;
 Seu pai, um camponês pobre, se mudou para as regiões de mineração e
ganhou muito dinheiro com as minas de cobre;
 Foi criado sob dura disciplina, o que gerou grandes traumas e
influenciou sua carreira espiritual;
 Seus pais eram extremamente rígidos, cristãos, mas cultivavam uma
série de superstições;
 Foi enviado para fazer seu ensino básico na escola latina de Mansfeld,
que também o traumatizou devido sua rígida disciplina
 Formação:
 Passou um tempo na escola dos Irmãos da Vida Comum em
Magdeburg, sendo depois mandado para uma escola em Eisenach,
ficando de 1498 a 1501, sendo sustentado por amigos bondosos. Ali
recebeu o ensino superior de latim, condição para ingressar na
Universidade;
 Ingressou em 1501 na Universidade de Erfurt. Lá teve contato com as
ideias de Guilherme de Occam e Aristóteles;
 Occam ensinava que a Revelação era o único guia no campo de fé.
Esses estudos levaram Lutero a perceber a necessidade da intervenção
divina para que o homem conhecesse a verdade spiritual e se salvasse;
 Após se tornar bacharel em Artes e depois mestre em Artes (Filosofia
Moral, Filosofia Natural e Metafísica);
 A seu pai lhe interessava que cursasse Direito o que ingressou em
1505;
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 Porém, dois meses depois, em meio a uma grande tempestade, numa


estrada perto de Erfurt, cercado por raios, prometeu a Santa Ana que se
lhe desse livramento, ele se tornaria um monge;
Semanas depois ele ingressou em mosteiro agostiniano em Erfurt, contra a vontade do pai,
que só lhe perdoou anos depois
 Conflitos internos:
 A culpa pelos seus pecados, o temor ao julgamento de Deus, o medo da
morte eram constantes na vida de Lutero e o levavam a conflitos
espirituais violentíssimos;
 Isso também contribuiu para seu ingresso no mosteiros. Porém, sua
dedicação e competência o destacavam;
 Em 1507 foi ordenado e celebrou sua primeira missa. Porém quase
hesitou em continuá-la pois o temos de Deus se apoderara
tremendamente, por pensar ser um pecador e estar oferecendo a Cristo;
 Lutero, nesse tempo, via Deus como um juiz impiedoso (como antes
seus pais e professores haviam sido) e que haveria de lhe pedir contas
de todas as suas faltas;
 Por isso tentava se justificar pelos meios que a Igreja lhe oferecia:
confissão, penitência, boas obras etc.;
 Mas não era suficiente, pois por mais perfeitamente que realizasse tudo
isso, o peso do pecado voltava em sua vida e ele era esmagado;
 Diversos fatores contribuíram para que Lutero se distanciasse cada vez
mais com os ensinos medievais da Igreja, seu sistema de pensamento
escolástico e aquela religiosidade que já estava em declínio;
 Um pouco antes, entre 1510 e 1511 sua ordem o enviara a Roma a
negócios. Lá ele viu todo o luxo da Igreja, a miséria e opressão dos
peregrinos que lá iam buscar sua salvação e de parentes;
 Ele peregrinou em todas as igrejas vendo as numerosas relíquias que lá
haviam. Ficou chocado com a leviandade dos sacerdotes italianos e o
resultado da crença popular;
 Em 1512 recebeu o grau de Doutor e foi indicado por toda a vida a ser
lectura in Biblia na Universidade de Württemberg, sucedendo seu
mestre Staupitz;
 A partir de 1513 começou seus sermões sobre Salmos, depois
Romanos, Gálatas, Hebreus, e em 1919 Salmos novamente;
 Como Lutero observou: “No transcorrer desses estudos, o papado
soltou-se de mim”;
 Mas foi, provavelmente, em 1515 que ocorreu sua conversão. Durante
os estudos em Romanos ele encontrou respostas para suas dificuldades;
 Ele narra que Romanos 1.17 começa dizendo que “no Evangelho a
justiça de Deus se revela [...]”;
 Essa frase sobre a justiça de Deus trazia grande tormenta a sua alma,
pois levava a pensar que ninguém poderia se justificar diante de Deus e
isso o levaria para o inferno;
 Lutero sempre vira a Deus como um juiz mau que iria castigar os
pecados e chegara a dizer que odiava a Deus, pois era impossível amar
um Deus justo que lhe pediria conta de todas as suas ações;
 Mas meditando dia e noite sobre o versículo inteiro de Romanos,
compreendeu que ele dizia outra coisa;
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 A “justiça” de Deus não se referia, como pensava a teologia tradicional,


ao castigo de Deus, mas sim que a “justiça” do justo não é obra dele,
mas sim de Deus; logo a “justiça de Deus” tem quem vive pela fé, não
porque seja em si mesmo justo, ou porque cumpre as exigências
divinas, mas porque é Deus que dá esse dom;
 Assim, tanto a fé como a justificação do pecador são obras de Deus, um
dom gratuito;
 Como consequência desta conclusão, Lutero disse: “senti que havia
nascido de novo e que as portas do paraíso me haviam sido abertas.
Todas as Escrituras tinham novo sentido. A partir de então, a frase “a
justiça de Deus” não me encheu mais de ódio, mas se tornou
indizivelmente doce em virtude de um grande amor”.
 Conflitos com o papado:
 Antecedentes políticos:
 O arcebispo Albert de Brandemburg, da poderosíssima casa dos
Hohenzollern, tinha duas sedes episcopais e desejava mais uma, a mais
rica de todas em Mainz;
 Para isso solicitou ao Papa Leão X que lhe concederia em troca de 10
mil ducados, um grande valor para a época;
 O papa autorizou Albert a proclamar uma grande venda de indulgências
(perdão) nos territórios alemães;
 Antecedentes políticos:
 De tudo o que fosse arrecadado, metade seria enviado ao erário papal.
O papa pretendia com esse dinheiro terminar a construção da Catedral
de S. Pedro em Roma;
 Para isso, o arcebispo enviou o dominicano Johann Tetzel, um homem
sem escrúpulos para vender as indulgências em Jüterbock;
 Tetzel ensinava que o arrependimento não era necessário, pois ela por
si mesma era capaz de perdoar;
 Dizia também que quem comprasse suas indulgências se tornava “mais
limpo do pecado que Adão antes da queda”, “mais limpo do que
quando saiu do batismo”, que “a cruz do vendedor de indulgências
tinha tanto poder como a cruz de Cristo” e que ao ofertar para a compra
das indulgências “tão pronto a moeda caísse no cofre, a alma saía do
purgatório”;
 Início da Ruptura com Roma:
 Vendo o ambiente terrível que a venda de indulgências criava,
Lutero preparou suas “95 Teses”;
 Nelas ele condenava os abusos do sistema de indulgências e
desafiava a todos que tomassem conhecimento delas para um
debate sobre o assunto;
 Publicada as Teses (que também foram enviadas para Albert) e
impressas rapidamente difundindo-as por toda a Alemanha,
Tetzel, Albert e o imperador do S.I.R.G., Maximiliano pediram
que o papa interviesse;
 O papa decidiu deixar esse problemas nas mãos da ordem
agostiniana;
 Lutero debateu isto em Heidelberg, em 1518, perante os de sua
ordem e acabou conquistando mais adeptos;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 13

 Em 31 de outubro de 1517, ele as afixou na porta da Igreja do


Castelo de Württemberg. Esta é considerada a data de início da
Reforma;
 Uns porque estavam convencidos da razão de Lutero e outros
por simples rixa entre agostinianos e dominicanos;
 Nesse mesmo ano ele conseguiu o apoio de Martin Bucer e
Filipe de Melanchton enviado a Württemberg para ensinar
grego – enquanto Lutero foi a voz profética, Melanchton foi o
teólogo da Reforma;
 As ideias de Lutero se fortaleceram ainda mais durante este ano,
e outros em sua Universidade passaram a defender suas ideias
lealmente;
 Nessa época Lutero já dizia que A Bíblia seria a única
autoridade no debate, não o papa e nem a Igreja;
 O papa então decidiu que Lutero se retratasse na Dieta de
Augsburg (1518), que se aproximava;
 Frederico, o sábio, Eleitor da Saxônia e príncipe responsável
pela jurisdição onde Lutero vivia e o construtor da Universidade
de Württemberg, decidiu proteger Lutero;
 Não concordava com um julgamento injusto de um brilhante
professor da sua Universidade. No mais deveria concordar com
muitas de suas ideias pró Alemanha;
 Todos temiam pela vida do jovem monge, pois Huss, havia sido
condenado e queimado injustamente 100 anos antes nas mesmas
circunstâncias;
 Frederico dera salvo-conduto para Lutero comparecer perante o
cardeal Cajetano, o representante do papa na Dieta;
 A conversa entre Lutero e o cardeal não deu certo;
 Cajetano não queria discutir ideias com Lutero, mas apenas que
ele se retratasse e negasse suas ideias;
 Lutero concordava em negar apenas se lhe convencessem pelas
Escrituras que ele estava errado;
 Vendo que o cardeal poderia lhe arrastar e condenar mesmo
com o salvo-conduto, Lutero fugiu a noite, escondido e voltou
para Württemberg;
 Lá, apelou para um Concílio geral.
 Neste ínterim, Maximiliano, imperador do S.I.R.G. havia
morrido e o papa temia que o próximo imperador rivalizasse
com o seu poder;
 Por isso, o papa foi cauteloso e decidiu pedir um silenciamento
de Lutero, antes de realizar qualquer Concílio que pusesse em
risco o apoio integral dos Eleitores alemães ao papado;
 No entanto, o papa decidiu atacar Carlstadt, outro professor de
Württemberg que defendia as ideias de Lutero mais
exageradamente;
 Vendo que ao ameaçar Carlstadt, o Concílio, na verdade
atacava suas próprias ideias, Lutero decidiu participar do
mesmo e lá debateu com John Eck;
 Por causa de seu domínio sobre o direito canônico e a teologia
medieval, Eck levou o debate para seu campo espertamente;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 14

 Assim, conseguiu arrancar de Lutero, que este admitia a falibilidade de


um Concílio geral (como o de Constança que condenou Huss), que um
cristão com a Bíblia tem mais autoridade que todos os papas e concílios
e a defender um herege queimado na fogueira (Huss);
 Via-se então um claro rompimento de Lutero com a Igreja. No entanto
suas doutrinas conquistavam cada vez mais professores universitários,
os humanistas, os sacerdotes católicos mais zelosos e os nacionalsitas
alemães;
 Em 1520, Lutero decidiu expandir todas o desenvolvimento de suas
ideias em três panfletos que sacudiram a cristandade:
 O “Apelo à nobreza Germânica”: que atingia a hierarquia
eclesiástica dizendo que os príncipes é que deveriam reformar a Igreja;
que o papa não poderia interferir nos negócios civis; e todos os crentes
eram sacerdotes espirituais de Deus, que poderiam interpretar as
Escrituras e tinham o direito de escolherem seus próprios sacerdotes;
 O “Cativeiro Babilônico”: pelo qual desafiava o sistema sacramental
de Roma. Atingia o centro do sistema romano – os sacramentos como
meios de graça quando ministrados pelo sacerdócio. Lutero só
destacava a validade de dois sacramentos: a ceia e o batismo;
 O “Sobre a Liberdade do Homem Cristão”: atingia diretamente a
teologia católica. Afirmava o sacerdócio de todos os crentes como
resultado da fé pessoal em Cristo;
 Logo, as posições estavam claras: Lutero atacava a hierarquia, os
sacramentos e a teologia da Igreja Romana e invocava uma Reforma
Nacional;
 Em junho de 1520, o papa Leão X lança uma bula, Exsurge Domine, que mais
tarde resultou na excomunhão de Lutero;
 Os livros de Lutero foram queimados em diversos locais. Porém, Lutero fez o
mesmo e em 10 de dezembro queimou a bula papal em público, junto de outros
livros que defendiam as doutrinas papistas: era o rompimento final com o
papado;
 Carlos V, o novo imperador do S.I.R.G. convocou uma dieta imperial
em Worms, no ano de 1521, na qual Lutero deveria comparecer para
responder suas ideias;
 No primeiro dia Lutero relutou, ainda com seus antigos temores de se
opor a toda a Igreja e ao Imperador. Confirmou que aqueles eram seus
livro, mas pediu um dia para considerar sua resposta;
 No dia seguinte, correu a notícia que ele lá estaria e a população lotou o
palácio;
 A Ruptura com Roma:
 O sentimento nacional se exacerbou quando viram o Imperador
espanhol rodeado de soldados que tanto oprimiam o povo;
 Novamente perguntaram se ele se retrataria, ao passo que respondeu
que o escrevera não era mais do que a doutrina cristã defendida por ele
e seus amigos professores;
 Ao novamente pressioná-lo para se retratar Lutero respondeu:
 Ao novamente pressioná-lo para se retratar Lutero respondeu:
 “A não ser que eu seja convencido do meu erro pelo testemunho
das Escrituras ou pela razão simples não posso e não quero
retratar-me de qualquer coisa, pois agir contra a própria
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 15

consciência não é são e nem seguro. É esta a minha posição. Não


posso agir diversamente. Deus me ajude. Amém.”
 O Desenrolar da Reforma:
 Vendo isso, Frederico, o sábio mandou que sequestrassem a Lutero.
Este foi colocado em segurança no castelo de Wartburg, ficando lá até
1522. Ali traduziu o Novo Testamento para o alemão;
 Em Worms foi publicado um Edito ordenando a todo o súdito do
Imperador a prender Lutero e encaminhá-lo às autoridades. Seus
escritos também deveriam ser queimados;
 Entre 1521 e 1522 Melanchton lançou a Loci Communes, o primeiro
tratado teológico da Reforma;
 Ele foi o responsável também por fundar o sistema escolar alemão
desde as escolas das vilas até as Universidades;
 Esse pacífico e gentil erudito foi o teólogo da Reforma luterana e
amigo de Lutero por 30 anos;
 A tradução da Bíblia luterana terminou em 1534. Esta foi a primeira Bíblia no
vernáculo alemão. Também serviu como padrão da língua nacional alemã;
 Lutero também convocou monges e freiras a repudiarem seus votos iníquos e
se casarem;
 Ele mesmo se casou em 1525 com uma ex-freira Katharine von Bora. Se havia
alguma esperança entre os católicos de reintegrá-lo à sua igreja, este havia sido
o golpe final;
 Rapidamente, em Württemberg e outras regiões as mudanças doutrinárias
alcançaram as igrejas. O culto foi simplificado e passou a se usar o alemão ao
invés de latim;
 Aboliram-se as missas pelos mortos, cancelaram-se os dias de jejum e
abstinência
 e Melanchton começou a oferecer a comunhão de duas espécies (o cálice)
também para os leigos;
 Quando Carlstadt e outros se puseram a destruir imagens, Lutero recomendou
moderação;
 As revoltas camponesas (1522-1525):
 Durante o exílio em Wartburgo, apareceram em Württemberg os “profetas de
Zwickau” que propunham uma revolução radical, através das orientações que o
Espírito Santo lhes davam, sem necessidade das Escrituras;
 Lutero voltou do exílio, sob risco de ser preso e morto, e depois de oito
sermões acalorados, venceu-os na palavra;
 Porém, de 1522 até 1525 o clamor social por Reformas políticas e sociais
juntou-se à pregação luterana;
 Primeiramente a baixa nobreza se rebelou em 1522 e 1523. Eram cavalheiros
sem terras e sem dinheiro que acusavam o papado de empobrecê-los. Foram
duramente massacrados pelos príncipes alemães;
 Contudo em 1525 foi a vez dos camponeses se sublevarem contra a miséria e
opressão feudal que lhes ocorria e, insuflados por profetas e ideias místicas
como os de Zwickau e pelas ideias de Lutero, poram-se a lutar;
 Primeiramente criaram os “12 artigos” que abordava demandas econômicas e
religiosas;
 Lutero no início apoiou intercedendo por eles aos príncipes dizendo que sua
demanda era justa;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 16

 Porém, quando os camponeses se armaram Lutero instou contra eles os


príncipes para que sufocassem o movimento;
 Os príncipes derrotaram-nos, mas ao invés de conceder misericórdia, conforme
Lutero pedira, mataram mais de cem mil cruelmente;
 Isto fez com que os príncipes católicos colocassem a culpa do massacre em
Lutero e proibissem o luteranismo em seu território;
 Por outro lado, muitos camponeses abandonaram o luteranismo voltando ao
catolicismo, ou se juntando aos movimentos anabatistas;
 Tomás Müntzer foi um desses líderes radicais que influenciou grandes pessoas
por pregar um reino teocrático na Alemanha;
 Outros rompimentos:
 Além de seu problema com os camponeses, Lutero também perdeu apoio dos
humanistas;
 Erasmo rompeu seu apoio com Lutero, pois era um defensor da religião
tradicional, não querendo uma nova Igreja, mas uma reforma da antiga;
 Porém, o ponto que mais os dividiu e marcou o rompimento final foi em torno
do livre-arbítrio na salvação. Lutero sempre afirmou que o pecado leva o
homem a um estado de total separação de Deus e sua salvação por conta
própria é impossível;
 O fim da perseguição:
 Os acontecimentos de então levaram Lutero a ter de organizar uma instituição
e uma liturgia eclesiástica própria para seus seguidores;
 Ficou claro então a distinção entre a Igreja Romana e a dos seguidores de
Lutero;
 Em 1523 a Dieta de Nuremberg adotou a política de tolerância para o
luteranismo, mesmo contra a vontade do papa e do Imperador;
 As dietas do Império
 Porém, o fim da perseguição tomou corpo na Dieta de Speier em 1526;
 Ela estabeleceu o princípio cujus regio ejus religiu, pela qual cada governante
decidiria em paz qual religião adotaria em seu Estado;
 Esse é considerado o princípio da Modernidade;
 No entanto, Carlos V tentou voltar atrás na Dieta de Spira em 1529, mas os 6
príncipes luteranos protestaram formalmente, sendo chamados de
“protestantes”;
 Em 1530, Carlos V reuniu uma nova Dieta, em Augsburg aceitando ouvir a
posição dos protestantes;
 Para isso Melanchton sob orientação de Lutero criou a Confissão de
Augsburg, o primeiro credo oficial da Igreja Luterana que se transformou em
padrão para todas as outras;
 Lutero desenvolveu também a Missa Germânica, a Ordem do Culto e os
Catecismos Maior e Menor;
 Em 1535, a faculdade de Würtemberg começou a examinar e ordenar
candidatos;
 As guerras religiosas germânicas (1531-1555)
 A Lida de Schmalkald (1531):
 Os protestantes lograram grande sucesso em toda norte germânico;
 Aproveitando as guerras contra os turcos e um período de paz, os
príncipes alemães que aceitaram o luteranismo se uniram para
organizar uma defesa mútua e se preciso fosse, recorressem às armas
para defender a fé;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 17

 Em 1535 foram estabelecidas regras de ordenação para sacerdotes o


que marcou o rompimento final com a hierarquia romana;
 Em 1546 Lutero faleceu deixando a liderança para Melanchton;
 O Imperador Carlos V viu nisso (e no fim da guerra contra os turcos)
um caminho aberto para guerrear e estabelecer o catolicismo em todo
território imperial;
 As Guerras Schmalkádicas duraram de 1546 a 1552;
 A luta só terminou com a Paz de Augsburgo de 1555;
 A Paz de Augsburgo (1555):
 Com essa paz ficava determinado que cada príncipe determinasse a religião de
seu território;
 Se houvessem dissidentes em seu território, eles teriam o direito de emigrar;
 Se um líder católico se tornasse protestante, teria de deixar o cargo, e vice e
versa;
 Isto é considerado pelos historiadores o início da Modernidade, ou seja, com a
liberdade de escolha, o pluralismo religioso e o surgimento de Igrejas
Nacionais.

 O legado de Lutero e do luteranismo


 Lutero, definitivamente, criou um novo paradigma religioso que se
caracterizava por:
 Sola Fide;
 Sola Gratia;
 Sola Scriptura;
 Solo Crhistus;
 Soli Deo Gloria;
 Ao traduzir a Bíblia para o alemão, criou a própria identidade da nação alemã;
 Abriu mão de uma liderança rígida, criando um sistema de Igrejas Locais,
“independentes”, mas unidas pelos mesmos princípios e em comunhão com todos os
membros;
 A Igreja não deveria estar sob autoridade de um “papa”, mas apenas do governante;
 Ou seja, a liberdade de cada povo gerir seus próprios negócios;
 Melanchton criou o sistema universal de educação elementar para que o povo pudesse
aprender a ler a Bíblia em alemão;
 A execução dessa tarefa foi recomendada aos governos das cidades alemãs em
1524 e em 1530 escreveu acerca da obrigação dos pais enviarem seus filhos à
escola;
 A educação elementar compulsória teve aí seu início no mundo;
 Também desenvolveu o sistema de escolas secundárias e a ligação dessas com
a Universidade;
 Lutero recolocou a pregação em seu devido lugar, reestabelecendo um meio de
instrução espiritual que havia se perdido;
 Lutero não repudiou o individualismo da Renascença, mas fez dele um assunto
espiritual ao propor que, pela fé em Jesus, o indivíduo poderia manter
comunhão salvífica direta com Deus;
 Deu a todo o crente a autoridade de sacerdote e a liberdade de consultar a Deus
diretamente, através de sua Palavra para se orientar em questões de fé e moral;

 Huldrych Zwingli (Úlrico Zuínglio) :


 Formação:
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 18

 Zuínglio (1484-1531) pertenceu a primeira geração de reformadores.


Vinha de uma família abastada de fazendeiros que permitiu seu estudo
nas melhores universidades, educando-o para o sacerdócio;
 Passou pela Universidade de Viena e Basileia, tendo nesta última
contato com as ideias humanistas e de Erasmo;
 Começou sua carreira sacerdotal a partir de 1506, tendo sido capelão
dos exércitos mercenários de seu país;
 Nesta época, os estudos de Erasmo lhe fizeram se afastar da teologia
escolástica e o levaram à Bíblia. Também se revoltou com os horrores
que aconteciam nas guerras, matando os jovens de seu país;

 A partir de 1516 serviu como pastor em Einsiedeln, um centro de


peregrinos. Lá viu os abusos do sistema romano das indulgências;
 Em 1519 começou a pastorear em Zurique, onde proibiu o engajamento
de mercenários suíços no serviço estrangeiro;
 Ali, após uma epidemia de peste bubônica e o contato com as ideias de
Lutero, passou pela experiência de conversão;
 Ministério:
 Levantou a bandeira da Reforma quando declarou que os dízimos
pagos pelos fiéis não eram exigência divina, mas uma questão de
voluntariedade;
 Passou a defender a autoridade única da Bíblia;
 Casou-se secretamente em 1522 com Anna Reinhard;
 Quando Christopher Froshauer deu comer salsichas aos seus
trabalhadores durante a Quaresma e quando começou a observar a
alteração no sistema romano de culto, as autoridades católicas
promoveram um debate público em que Zuínglio enfrentaria a todos
sozinho;
 Após isso, os líderes civis escolheriam a fé que a cidade de cada cantão
adotaria;
 Antes, Zuínglio havia preparados seus “65 artigos de Religião”, nos
quais destacava:
 A Salvação pela Fé;
 Autoridade da Bíblia;
 Supremacia de Cristo na Igreja;
 Direito dos sacerdotes ao casamento;
 Condenava as práticas romanas não aprovadas pela Bíblia.
 O conselho da cidade decidiu-se pela vitória de Zuínglio e a Reforma
se espalhou pelos cantões do norte da Suíça;
 As taxas de batismo e sepultamento foram abolidas;
 Monges e freiras receberam autorização para se casar;
 O uso de imagens e relíquias foi proibido;
 Em 1525, a Reforma se completou com a Supressão da Missa;
 Zuínglio instituiu que a última palavra pertencia à comunidade
cristã, que exerceria sua autoridade através de um governo eleito que
desenvolveria sua ação com base na autoridade da Bíblia;
 Zuínglio rompeu com os grupos chamados anabatistas exatamente pela
sua ênfase no rebatismo e da não necessidade do batismo infantil, ao
qual Zuínglio voltou atrás por questões políticas;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 19

 Zuínglio também rompeu com Lutero no Colóquio de Marburg, em


1529, por questões relativos à presença de Cristo na Ceia;
 Zuínglio era o mais humanista dos reformadores, e assim, dado o seu
caráter racionalista, não dava valor aos aspectos materiais na vida
cristã, diferentemente de Lutero;
 Assim, cria que a Ceia era apenas um memorial e que Cristo não estava
presente nos elementos;
 Da mesma forma rejeitou no culto cristão tudo aquilo que levasse a
exaltação de objetos materiais;
 Aceitou a predestinação para a Salvação, porém, entendeu que somente
aqueles que ouvissem a pregação e a rejeitassem eram que acabavam
condenados;
 Ele concebia o pecado original como uma doença moral e não como
uma culpa, e assim, as crianças poderiam ser salvas por Cristo sem o
batismo;
 Com o sucesso da ideias de Zuínglio, os Cantões católicos do Sul
formaram uma liga e declararam guerra aberta contra o Norte;
 Zuínglio foi morto em guerra (1531), pois foi, como capelão, a frente
de suas tropas, lutando pelos seus ideais;
 Mais tarde os seus seguidores e os calvinistas se juntaram através do
Consenso de Zurique em 1549, criando as Igrejas Reformadas da
Suíça;
 Zuínglio foi, sem dúvida, o mais radical dos “três grandes nomes da
Reforma”;
 A sua forma de ver a Reforma foi a que mais influenciou o cristianismo
que se expandiu mundialmente a partir dos E.U.A.;
 Seu culto, ideias, liturgia e sua figura de pastor de ovelhas, o tempo
todo perto do povo, criou o novo paradigma religioso que influenciou
nossa religião protestante americana e latina;

 O Movimento Anabatista Radical:


 Os anabatistas não constituem um único grupo, com características e teologia
semelhantes. Antes, eles fazem parte de diversos movimentos, até anteriores à
Reforma protestante, que tinham em comum:
 o rompimento com a religião oficial do Estado
 a volta à leitura das Escrituras como meio de se chegar até a fé
verdadeira
 e daí, o rebatismo como rito iniciático obrigatório na vida dos novos
religiosos;
 Porém, o movimento anabatista moderno tem o seu início na Suíça,
concomitantemente com os ensinos de Zuínglio;
 Conrad Grebel (1498-1526) é considerado o iniciador do movimento;
 Nas suas ideias gerais os anabatistas pregavam a separação entre Igreja e
Estado, a autoridade da Bíblia como única regra de fé e prática e o batismo
consciente dos crentes;
 Também tendiam ao pacifismo e ao batismo por imersão (mais tarde);
 Alguns se tornaram milenaristas em sua escatologia e acabaram gerando
excessos;
 Geralmente esses grupos estavam envolvidos com a agricultura e comércio
agrícola;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 20

 Quando migraram, se transformaram em grandes comunidades de crentes,


regidos pelo ensino bíblico, através de uma política democrática;
 Alguns se isolaram do mundo afora. Existem até hoje, como os Amish e os
Menonitas;
 Jean Calvin (João Calvino):
 Calvino foi o organizador por excelência do Protestantismo;
 Nasceu em Noyon, no norte da França. Seu pai era um respeitado cidadão que
reservou seus esforços econômicos para a educação de Calvino;
 Estudou em diversas universidades como a de Paris (onde conheceu as ideias
humanistas e protestantes), Orleans (onde iniciou seu estudo de Direito) e
Bourges onde recebeu o diploma de Direito em 1532;
 Entre a conclusão de sua obra sobre Sêneca e 1533, Calvino se converteu,
adotando as ideias da Reforma e dispensando as rendas eclesiásticas;
 Foi forçado a abandonar a França por se juntar ao humanista Nicholas Cop,
reitor da Universidade de Paris, na elaboração deum documento que exigia
uma reforma bíblica;
 De lá seguiu para Basileia onde terminou a primeira parte da maior de suas
obras, as “Institutas da Religião Cristã”, em 1536, aos 26 anos de idade;
 O livro era dirigido ao Rei Francisco I, da França, na tentativa de defender os
protestantes da França, que eram perseguidos;
 Era um livro de caráter apologético que seguia de perto as ideias de Lutero;
 Esta obra só foi concluída em 1559, em um total de quatro livros, formando
um extenso tratado de Teologia;
 Certa vez, fugindo de guerras, Calvino foi levado a pernoitar em Genebra;
 Lá, Guilherme Farel havia estabelecido os princípios da Reforma, através de
um plebiscito em que toda a população aceitou as ideias luteranas para
administrar a cidade;
 Ao conhecê-lo, Farel solicitou sua ajuda na obra reformista na cidade;
 Calvino teve de aceitar, mesmo contra sua vontade, pois temeu a maldição de
Farel à recusa;
 Assim, a partir de 1536 Calvino começa uma nova etapa de sua vida, como
ministro de ensino de Genebra;
 Em 1530 ele e Farel foram expulsos de Genebra por conta de disputas acerca
da liturgia da Ceia e da excomunhão por forças rebeldes;
 Em 1540 casou-se com Idelette de Bure, viúva de um pastor anabatista. Seu
único filho morreu ainda criança. Em 1549 sua esposa também faleceu;
 Em 1541, as forças reformadoras retomaram o controle de Genebra e Calvino
foi convidado a voltar;
 Ali, Calvino promulgou as Ordenanças Eclesiásticas, as quais envolviam a
religião com a figura do Estado. Nelas, a Igreja seria dividida em 4:
 Uma associação de pastores para dirigir a disciplina;
 Um grupo de mestres para ensinar a doutrina;
 Um grupo de diáconos para administrar a obra de caridade;
 O Consistório
 Ali, Calvino promulgou as Ordenanças Eclesiásticas, as quais envolviam a
religião com a figura do Estado. Nelas, a Igreja seria dividida em 4:
 O Consistório: composto de ministros e anciãos para supervisionar a
teologia e a moral da comunidade, com a faculdade de punir, quando
necessário, com a excomunhão os membros renitentes.
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 21

 Para garantir a eficácia do sistema, Calvino usou o Estado para infligir outras
penalidades mais severas;
 Essas penalidades se configuravam severas demais, quando, até 1546, 58
pessoas já haviam sido executadas e 76 exiladas;
 Em 1564, Calvino morreu;
 Teodoro Beza, reitor da Academia de Genebra, assumiu a liderança do trabalho
na cidade;
 Calvino e o Calvinismo:
 Durante a vida de Calvino, a principal questão que dividia os reformados era a
presença de Cristo na Ceia;
 Calvino se situava em um meio termo entre Lutero e Zuínglio, crendo que a
presença de Cristo, na Ceia, é real, porém espiritual. Ou seja, há ação por parte
de Deus em benefício da Igreja que participa dela;
 Em 1536, Bucer, Lutero e outros chegaram à Concórdia de Wittemberg, que
conciliou as diferentes opiniões;
 Em 1549, o Consenso de Zurique, reuniu Bucer, Calvino e os principais
teólogos suíços e da Alemanha com o mesmo objetivo;
 Logo, a predestinação, só será algo distintivo dentro do Calvinismo bem mais
tarde, com Calvino já falecido;
 Características teológicas, da personalidade e legado:
 Comparando-o com Lutero podemos dizer:
 Lutero enfatizava a pregação enquanto Calvino a formulação de um sistema
formal de teologia;
 A ênfase de Lutero era na justificação pela fé enquanto a de Calvino estava na
soberania de Deus;
 Lutero cria na consubstanciação, enquanto Calvino apenas na presença mística;
 Comparando-o com Lutero podemos dizer:
 Lutero era um pregador nato, enquanto Calvino um estudioso, professor e
teólogo;
 Lutero se adaptou aos setores aristocráticos (Alemanha monárquica), enquanto
Calvino enxergava o governo representativa eleito pelo povo como ideal
(Suíça Republicana);
 Lutero era fisicamente forte enquanto Calvino enfrentou debilidades e
problemas corporais a vida inteira;
 Lutero amava o lar e a família, enquanto Calvino preferia o estudo solitário;
 Características teológicas, da personalidade e legado:
 A influência de Calvino devido a qualidade e quantidade de escritos fez-se
sentir em boa parte da Europa: Holanda, Escócia, Hungria, França etc.
 As igrejas que surgiram influenciadas por seus escritos foram chamadas de
“reformadas”;
 A maior contribuição de Calvino foi dar uma teologia completa e fechada ao
protestantismo, pois essa ainda não havia;
 Nas Institutas, ele propôs 2 fundamentos da Fé Reformada: a importância da
doutrina e a centralidade de Deus na teologia cristã;
 Calvino incentivou a educação criando em Genebra um sistema educacional
em três níveis, em cujo topo estava a Academia, conhecida hoje como
Universidade de Genebra;
 Calvino influenciou no avanço da democracia, pois aceitou o princípio
representativo da direção da Igreja e do Estado;
 Genebra foi exemplo para a expansão do protestantismo para o mundo todo;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 22

 Assim, alguns autores associam o surgimento do paradigma capitalista


moderno - baseado no trabalho como meio de dignificação da vida, através de
um espírito ascético que impunha economia e austeridade – com a ética
protestante calvinista;
 Ou seja, Calvino é um dos “fundadores” da modernidade.

╬ Henrique VIII (1509-1547):


 Antecedentes:
 A Inglaterra já respirava um espírito nacionalista desde a Baixa Idade Média.
Sua nobreza estava enfraquecida e a burguesia era a principal aliada e
financiadora da Coroa;
 A Inglaterra sempre se ressentiu dos altos impostos eclesiásticos que saíam de
seu país em direção a Roma;
 Além do mais, as intervenções políticas do papado nos negócios públicos e
civis ingleses já não estavam sendo tolerados;
 O príncipe Henrique se viu forçado a casar com a esposa de seu falecido
irmão, Artur, de acordo com a grande política matrimonial que seu pai,
Henrique VII, realizava na Europa com seus filhos;
 Essa mulher era Catarina de Aragão, princesa espanhola, tia de Carlos V
(Imperador do SIRG);
 Henrique nunca teve a mínima pretensão de se casar com ela;
 Ao assumir o trono, e com o passar dos anos, Henrique VIII se ressentiu
porque Catarina não lhe dava filhos homens;
 O casal teve apenas uma filha, Maria I, mais conhecida como Maria Tudor, ou
“Mary Bloody”;
 Henrique apaixonara-se por Ana Bolena, uma plebeia burguesa de família rica
que muito ambicionava ser rainha e era sua amante;
 Ao ver que sua esposa não lhe dava filhos homens, Henrique se afligiu por crer
que somente um filho homem salvaria a Inglaterra após sua morte, em um
momento tão turbulento para a política e economia;
 No mais, pensou que Deus lhe amaldiçoara por casar com sua cunhada, prática
proibida pela lei canônica e bíblica;
 Então, encarregou seu conselheiro, o cardeal Wolsey, de negociar seu divórcio
com o papa Clemente VII;
 Clemente VII não atendeu, pois o papado na época estava sob a influência de
Carlos V, rei da Espanha, Imperador do SIRG, e sobrinho de Catarina, o qual
não aceitaria tal humilhação (além do que isso frustraria suas pretensões
políticas de um futuro domínio da Inglaterra através de um descendente
familiar no trono);

 Antecedentes religiosos:
 A Reforma já havia, a essa época, se desenvolvido na Europa continental;
 Na Inglaterra, porém, os ideais pré-reformadores já estavam disseminados:
 Através dos lollards (os seguidores de Wycliff) que evangelizavam a
população pobre;
 Através dos ideias humanistas de Erasmo de Rotterdam e Thomas More que já
haviam atingido todo o clero, desejosos de uma reforma nos padrões bíblicos
humanistas;
Através dos Humanistas Bíblicos de Oxford que começaram a estudar a Bíblia na língua
original e explicar seu significado ao povo;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 23

 Na Inglaterra, porém, os ideais pré-reformadores já estavam disseminados:


 Através dos esforços de William Tyndale e Miles Coverdale que passaram
a traduzir e publicar a Bíblia em inglês (Tyndale, em 1525, havia publicado
6.000 exemplares do N.T.; Coverdale, em 1535 publicou toda a Bíblia em
inglês);
 Através da obra de Lutero “O Cativeiro Babilônico”, que conseguiu grande
acolhida em Oxford e Cambridge;
 O Rei, porém, condenou e mandou queimar os livros de Lutero, bem como
todas as Bíblias e escritos identificados com a Reforma em território inglês;
Também perseguiu e matou lollards e aqueles que se identificavam com os
ideias reformistas;
 Como era teólogo, reagiu publicando um livro “Defesa dos Sete Sacramentos”
que defendia o catolicismo;
 Com isso recebeu o título de “Defensor da Fe”, pelo papa.

BIBLIOGRAFIA

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Prof. Ms. Lucas Gesta Palmares Munhoz de Paiva


Mestre em História Social - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Especialista em História da Igreja - FAECAD
Master in Biblical and Ministries Studies - FABAT
Facebook / Youtube: Prof. Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja

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