Esboço Temático:
1
Mestre em História Social – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO).
Especialista em História da Igreja – Faculdade Evangélica de Ciências, Tecnologia e
Biotecnologia (FAECAD). Licenciado em História – Fundação Dom André Arcoverde (FAA -
Valença). Professor de História da Igreja Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea na graduação
em Teologia da FAECAD. Professor de História da Igreja Antiga na Pós-graduação em História da
Igreja (FAECAD). Professor de Tópicos Especiais no Mundo Greco-romano na Pós-graduação em
Teologia do Novo Testamento (FAECAD). Professor de História de Israel no Período Greco-Romano
e na Idade Moderna da Pós-graduação em História de Israel (FAECAD). Professor de História do
Cristianismo e Religiões Contemporâneas da Pós-graduação em Docência do Ensino Superior Cristão
(Faculdades Integradas Signorelli).
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 2
Para sustentar o luxo e pagar as guerras foi criado todo um sistema de impostos
eclesiásticos;
Prática da simonia: compra e venda de cargos eclesiásticos;
Prática do nepotismo: nomeação de pessoas para ocupar cargos eclesiásticos,
não com base em sua competência, mas sim em seu parentesco com o
indicador;
Prática do absentismo: prática de ocupar um cargo e residir em outro lugar;
Prática do pluralismo: ocupar ao mesmo tempo vários cargos eclesiásticos,
sem cumprir as obrigações de nenhum deles.
Durante a Baixa Idade Média houveram vários movimentos que buscavam uma
purificação, reforma ou transformação das práticas eclesiásticas;
Esses movimentos reconheciam os problemas estruturais da Igreja e tentavam mudá-
los, seja a partir de uma experiência religiosa mais profunda, ou de reformas práticas
na administração eclesiástica.
Alguns desses movimentos foram reconhecidos e absorvidos pela estrutura
eclesiástica da Igreja Católica;
Outros, por diversos motivos, foram excluídos do sistema e considerados hereges.
Os Valdenses:
Os cátaros (albigenses):
Origens; - nos “hereges” que seguiam uma doutrina parecida com a dos
maniqueus na Bulgária, os “bogomilos”.
Heresia; - pregavam a dualidade entre o bem e o mal, entre espírito e matéria.
O corpo era mal e deveria-se abster de tudo o que lhe agradava. O Deus do
A.T. era mal e o do N.T. era bom. Cristo não era homem, mas apenas espírito
aparente que veio trazer a mensagem da salvação.
Estilo de vida – cultivavam a pobreza cristã, um estilo de vida simples (voto de
pobreza) e, quando viam um pobre mendigando pelo caminho, eram capaz de
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 6
dar todas as suas roupas para ele. Combatiam o clero rico e corrupto. Não se
casavam (castidade); viviam em jejuns e rações com um ascetismo muito
acentuado.
Perseguição – foram perseguidos pela inquisição medieval, também foram
evangelizados pela pregação dominicana, mas por fim foram extintos pela
Cruzada Albigense, dirigida por Inocêncio III em 1209.
Mudanças geográficas:
A civilização talássica;
1492 – descoberta da América por Colombo;
1522 – fim da viagem da circunavegação da Terra por Magalhães;
Descoberta e colonização de novos e antigos continentes – Américas, África,
Ásia;
Resultado: ampliação da cosmovisão, da noção de espaço, descoberta de novas
religiões, culturas e paradigmas.
Mudanças políticas:
O surgimento das nações-Estado:
Fim da descentralização medieval;
Ascensão de governos fortes, centralizados nas mãos de um
monarca, com presença de um corpo burocrático e militar;
Cada Estado equivale a uma nação;
Resultado: assim como o Estado é nacional, haverá uma demanda por uma Igreja
nacional e pela independência em relação à Igreja de Roma.
Mudanças econômicas:
A ascensão da burguesia:
Durante toda a Idade Média, a economia da Europa se voltava para a
agricultura, era a base do comércio;
Na Baixa Idade Média até 1500 começam a ressurgir as cidades, abrem-
se novos mercados locais e regionais;
Descobrem-se novas fontes de matéria prima;
Reconstroem-se antigas estradas, drenam-se pântanos, constroem-se
novos interpostos comerciais através dos burgos;
Uma nova classe, a burguesia, ascende economicamente e cada vez
mais acumula poder político e social;
A era do comércio:
Inaugura-se uma nova era pautada pelo comércio e não apenas pela
agricultura;
Começam a circular as moedas e o padrão monetário substitui o
escambo;
A busca pelo lucro começa a tomar conta das pretensões humanas;
Começa a surgir o mercado financeiro e os bancos;
Conflito entre a religiosidade católica e a burguesia:
Lucro e usura;
Os banqueiros e comerciantes judeus;
Impostos e dízimos papais;
Interferências estatais:
As terras da Igreja Católica eram cobiçadas pelos governantes
nacionais, pela nobreza e pela classe média dos novos Estados-nações;
Os governantes lamentavam a perda do dinheiro enviado para o tesouro
papal e também a isenção de impostos nacionais por parte do clero e da
Igreja;
A tentativa papal de tirar mais dinheiro dos Estados alemães no século
XVI aborreceu a classe governante e burguesa;
Essa situação agravou-se com o aumento da inflação e do custo de vida
por causa do metalismo espanhol;
Resultado:
A nova classe burguesa irá procurar o apoio religioso em quem
permitisse o funcionamento de seus negócios;
Os monarcas nacionais irão combater a evasão de dinheiro dos seus
Estados para Roma e tentarão reter todo lucro financeiro em seus
domínios;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 8
Mudanças tecnológicas:
Criação dos relógios mecânicos – estimulou o europeu pelo interesse de construir
máquinas complexas de toda a sorte; racionalizaram o curso da vida cotidiana
europeia, acabando com a flexibilidade do tempo; o trabalho foi regulado com
maior precisão, desenvolvendo-se a noção de que tempo é produção (dinheiro);
Aperfeiçoamento dos óculos – possibilitaram as pessoas mais idosas a continuarem
a leitura;
Criação das naus e tecnologias marítimas – permitiram as Grandes Navegações e
descobertas de todo o mundo;
Criação do papel vegetal – o pergaminho era feito com a pele dos animais
agrícolas, preciosos. Para se escrever uma Bíblia era necessário matar cerca de
duzentos a trezentos carneiros (caríssimo) [um animal produzia-se cerca de 4
folhas de pergaminhos]. O papel era feito de trapos transformados em polpas nos
moinhos baixou o preço sensivelmente. Criação da imprensa;
Resultado:
Tornou-se mais barato ler e escrever;
Os livros popularizaram-se e se espalharam por toda a Europa;
Inaugurou-se a civilização da imprensa escrita;
As Bíblias e escritos dos reformadores eram produzidos em larga escala
e difundidos rapidamente em longas distâncias a baixo custo;
A produção literária permitiu a unificação dos idiomas e a criação de
línguas nacionais.
Mudanças sociais:
A mobilidade social:
A sociedade medieval era extremamente imóvel e estamental;
Com a ascensão do comércio, novas classes surgem e a oportunidade de
enriquecimento mexe com todas as classes sociais;
A Igreja perde o monopólio e a hegemonia da manutenção social para o
comércio e a política dos Estados;
A livre iniciativa:
As pessoas passaram a depender cada vez menos de um senhor feudal
ou algo semelhante para criarem ou manterem seus negócios e gerirem
suas vidas;
Surgem então pequenos proprietários livres, pequenos empresários de
manufaturas etc;
O regime da servidão se desestrutura, em prol do trabalho livre
assalariado;
A independência pessoal:
Cada vez mais ampliou-se a revolta e insatisfação contra à dominação
temporal e atemporal de todo o povo por parte de uma minoria rica (1°
e 2° estamentos);
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 9
Mudanças intelectuais:
O Escolasticismo:
Este termo refere-se às escolas (scholae). Caracteriza um período de intensa
reflexão e produção intelectual teológica e filosófica, despertada após as
Cruzadas;
Buscava-se o equilíbrio entre a fé e a razão, e uma maneira profunda de
explicar as bases da fé em perspectiva aristotélica;
Os escolásticos que mais influenciaram a Reforma foram Tomás de Aquino e
Guilherme de Occam;
O Misticismo alemão:
Movimento de reflexão espiritual que visava conhecer a Deus, não
através de uma teológia rígida, mas sim da experiência pessoal e
individual com Deus;
O misticismo ontológico aplicou o poder absoluto de Deus à alma
individual, a doutrina da união mística da alma com Deus;
O humanismo:
Foi um movimento intelectual-religioso que buscava a valorização do ser
humano na cosmovisão europeia;
Assim como os renascentistas, eles tinham grande apego ao estudo das fontes
greco-romanas e a sua valorização do homem como produtor de razão,
conhecimento, beleza, artes etc.;
Os humanistas se interessaram pela religião cristã tanto quanto pela literatura
pagã e buscavam integrar esses dois conhecimentos;
Eles acentuavam o estudo da herança judaico-cristã;
Por isso, estudaram os documentos bíblicos nas línguas originais e
aplicavam as técnicas de estudo humanista à interpretação bíblica;
Erasmo de Rotterdam:
Foi um dos mais importantes humanistas no tocante à sua influência na
Reforma protestante;
Tornou-se um erudito em todas as áreas do conhecimento humano,
tendo estudado em diversas universidades europeias;
Denunciou os abusos do clero e da Igreja católica em geral através de
seus escritos ácidos e satíricos;
Foi fonte de inspiração universitária de Lutero e Zuínglio;
Sua contribuição mais marcante foi a tradução do Novo Testamento
para o grego, publicado em 1516;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 10
Foi esse Novo Testamento que Lutero usou para fazer a tradução do
Novo Testamento pela primeira vez para a língua alemã;
Com isto ele pôde elaborar as diferenças entre a Igreja do Novo
Testamento e a da sua época.
A tradução da Bíblia (tanto o N.T. quanto A.T.) para o grego, bem
como o estudo sistemático do grego e hebraico permitiu as traduções
protestantes da Bíblia nas línguas vernáculas que eclodiram em toda a
Europa;
O estudo dos humanistas tornaram claras as diferenças entre a Igreja do
N.T. e as da época posicionando-se contra a organização eclesiástica
medieval e papal;
Resultado:
A ênfase renascentista no indivíduo foi preponderante para o ensino
protestante de que a salvação era uma questão pessoal, a ser resolvida
entre o indivíduo e Deus sem a interferência de um sacerdote ou
mediadores humanos;
O espírito crítico dos humanistas contagiou os futuros reformadores nas
suas críticas à hierarquia, aos sacramento e demais práticas que não
estavam de acordo com as Escrituras.
Martin Luther :
Criação:
Lutero nasceu em 1483 na pequena cidade de Eisleben;
Sua família, de origem humilde, foi galgando crescimento econômico
até se tornar uma das famílias respeitadas da classe média da região de
Masnfeld;
Seu pai, um camponês pobre, se mudou para as regiões de mineração e
ganhou muito dinheiro com as minas de cobre;
Foi criado sob dura disciplina, o que gerou grandes traumas e
influenciou sua carreira espiritual;
Seus pais eram extremamente rígidos, cristãos, mas cultivavam uma
série de superstições;
Foi enviado para fazer seu ensino básico na escola latina de Mansfeld,
que também o traumatizou devido sua rígida disciplina
Formação:
Passou um tempo na escola dos Irmãos da Vida Comum em
Magdeburg, sendo depois mandado para uma escola em Eisenach,
ficando de 1498 a 1501, sendo sustentado por amigos bondosos. Ali
recebeu o ensino superior de latim, condição para ingressar na
Universidade;
Ingressou em 1501 na Universidade de Erfurt. Lá teve contato com as
ideias de Guilherme de Occam e Aristóteles;
Occam ensinava que a Revelação era o único guia no campo de fé.
Esses estudos levaram Lutero a perceber a necessidade da intervenção
divina para que o homem conhecesse a verdade spiritual e se salvasse;
Após se tornar bacharel em Artes e depois mestre em Artes (Filosofia
Moral, Filosofia Natural e Metafísica);
A seu pai lhe interessava que cursasse Direito o que ingressou em
1505;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 11
Para garantir a eficácia do sistema, Calvino usou o Estado para infligir outras
penalidades mais severas;
Essas penalidades se configuravam severas demais, quando, até 1546, 58
pessoas já haviam sido executadas e 76 exiladas;
Em 1564, Calvino morreu;
Teodoro Beza, reitor da Academia de Genebra, assumiu a liderança do trabalho
na cidade;
Calvino e o Calvinismo:
Durante a vida de Calvino, a principal questão que dividia os reformados era a
presença de Cristo na Ceia;
Calvino se situava em um meio termo entre Lutero e Zuínglio, crendo que a
presença de Cristo, na Ceia, é real, porém espiritual. Ou seja, há ação por parte
de Deus em benefício da Igreja que participa dela;
Em 1536, Bucer, Lutero e outros chegaram à Concórdia de Wittemberg, que
conciliou as diferentes opiniões;
Em 1549, o Consenso de Zurique, reuniu Bucer, Calvino e os principais
teólogos suíços e da Alemanha com o mesmo objetivo;
Logo, a predestinação, só será algo distintivo dentro do Calvinismo bem mais
tarde, com Calvino já falecido;
Características teológicas, da personalidade e legado:
Comparando-o com Lutero podemos dizer:
Lutero enfatizava a pregação enquanto Calvino a formulação de um sistema
formal de teologia;
A ênfase de Lutero era na justificação pela fé enquanto a de Calvino estava na
soberania de Deus;
Lutero cria na consubstanciação, enquanto Calvino apenas na presença mística;
Comparando-o com Lutero podemos dizer:
Lutero era um pregador nato, enquanto Calvino um estudioso, professor e
teólogo;
Lutero se adaptou aos setores aristocráticos (Alemanha monárquica), enquanto
Calvino enxergava o governo representativa eleito pelo povo como ideal
(Suíça Republicana);
Lutero era fisicamente forte enquanto Calvino enfrentou debilidades e
problemas corporais a vida inteira;
Lutero amava o lar e a família, enquanto Calvino preferia o estudo solitário;
Características teológicas, da personalidade e legado:
A influência de Calvino devido a qualidade e quantidade de escritos fez-se
sentir em boa parte da Europa: Holanda, Escócia, Hungria, França etc.
As igrejas que surgiram influenciadas por seus escritos foram chamadas de
“reformadas”;
A maior contribuição de Calvino foi dar uma teologia completa e fechada ao
protestantismo, pois essa ainda não havia;
Nas Institutas, ele propôs 2 fundamentos da Fé Reformada: a importância da
doutrina e a centralidade de Deus na teologia cristã;
Calvino incentivou a educação criando em Genebra um sistema educacional
em três níveis, em cujo topo estava a Academia, conhecida hoje como
Universidade de Genebra;
Calvino influenciou no avanço da democracia, pois aceitou o princípio
representativo da direção da Igreja e do Estado;
Genebra foi exemplo para a expansão do protestantismo para o mundo todo;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 22
Antecedentes religiosos:
A Reforma já havia, a essa época, se desenvolvido na Europa continental;
Na Inglaterra, porém, os ideais pré-reformadores já estavam disseminados:
Através dos lollards (os seguidores de Wycliff) que evangelizavam a
população pobre;
Através dos ideias humanistas de Erasmo de Rotterdam e Thomas More que já
haviam atingido todo o clero, desejosos de uma reforma nos padrões bíblicos
humanistas;
Através dos Humanistas Bíblicos de Oxford que começaram a estudar a Bíblia na língua
original e explicar seu significado ao povo;
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 23
BIBLIOGRAFIA
Bibliografia Básica
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993.
GONZÁLEZ, J. L. História ilustrada do cristianismo. A era dos mártires até a era dos
sonhos frustrados. 2. ed. rev. São Paulo: Vida Nova, 2011.
KAUFMANN, T; et alli (org). História Ecumênica da Igreja. Da alta Idade Média até o
início da Idade Moderna. São Paulo: Paulus; São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: Loyola,
2014.
Bibliografia Complementar
BURNS, E. M. História da Civilização Ocidental. Vol. 2. 44. ed. São Paulo: Globo, 2005.
CAIRNS, E. E. O cristianismo através dos séculos. São Paulo: Vida Nova, 2008.
DREHER, Martin N. De Luder a Lutero: uma biografia. São Leopoldo: Sinodal, 2014.
____. Uma História do Pensamento Cristão: da Reforma Protestante ao século 20. Vol. 3.
São Paulo: Cultura Cristã, 2015.
Prof. Mestre Lucas Gesta – Filigranas de História da Igreja 24
MUIRHEAD, A.B. O cristianismo através dos séculos. Vol. 1 e 2. 4. ed. Rio de Janeiro:
Casa Publicadora Batista, 1959.
_____. Perspectivas da Teologia Protestante nos séculos XIX e XX. 4° ed. São Paulo:
Aste, 2010.
WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. São Paulo: Martin Claret,
2001.