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GUERRA E SOBREVIVÊNCIA

nos perdemos na história e não sabemos muito bem como aconteceu.


olhar pra trás é nos ver arrastadas por viaturas, acorrentadas,
laçadas, enforcadas e queimadas na fogueira.
quem escreveu os livros foram eles e nós sentimos na pele
arranhadas cada uma das palavras de morte que saem de suas
canetas-penas.
vivemos uma guerra – exatamente como a vivida por palestinas e
indígenas – nessa batalha onde só um lado tem forças para bater
e o otro lado procura se proteger e vezemquando “revidar”.

{nós mulheres y povos oprimidos entendemos de pequenas revoltas,


revides y desobediências. não é por covardia – ao menos não da
nossa parte}

RESISTIR É PRECISO
são aprendizados muito profundos em nossa pele-cabeça. nos ver
pequenas, burras, frágeis, pouco, erradas. são séculos ouvindo a
mesma ladainha. é mais que aprendizado terreno: é memória
coletiva.
é preciso desaprender. mergulhar corpo-cabeça na lama fértil e
encher os pulmões dela. destruir as raízes do patriarcado é
destruir tudo o que eles construíram: como se organizam, como se
alimentam, como fazem política, como se relacionam, como se
comunicam, do que gostam e não gostam.

DESENVOLVIDAS Y INADAPTADAS
(tentar) viver no cotidiano o que almejamos para o mundo {se não
agora, quando? se não nós, quem?_________________ nossa vingança
é ser feliz}
perceber, destruir y reconstruir prazer nesse corpo. ser sincera
comigo, com meu corpo, meu sentir. expressar incômodos y
prazeres, falar sempre, falar francamente.

o silêncio não optativo é misógino.

*
utopia cotidiana lésbica:
é tentar me livrar da culpa todos os dias
é tentar me livrar da feminilidade todos os dias
é tentar me livrar da rivalidade feminina todos os dias
é tentar me livrar do amor romântico todos os dias
é tentar me livrar da branquitude todos os dias

busco me desadaptar y nisso me desenvolvo -- não do modo


evolutivo moderno, mas revolucionário porque antipatriarcal.
criar escudos. escudos y machados. me defender, mas sair da
defensiva. atacar. me permitir o ódio tão negado às mulheres.
{venho descobrindo que odiar o otro que pisa é melhor que odiar
a si mesma pisada}

[me debato até trucidar, mas saio dessa gaiola com vida]

A FORTALEZA DAS INSURGIDAS

na minha utopia lésbica o amor afetivo-sexual não é o primeiro


da cabeça-mulher. o autoamor y a amizade ocupam un espaço
equivalente y não sofremos com os efeitos dos desequilíbrios
vividos hoje.

conhecer nossa história, conhecer o máximo de histórias de


mulheres que vieram antes de nós, ouvir mulheres mais velhas,
ouvir lésbicas mais velhas (!), nos reconhecer nas histórias.
seguir com a história, remendando y sem quebrar o elo da
corrente construir una fortaleza.
pequenas ilhas de lesbos urbanas y rurais. pequenos quilombos.
pequenas aldeias de amazonas.
desenvolver totalmente do zero novas formas de amar y
relacionarse não é tarefa fácil – pensar que não seria do zero
se tivéssemos mais história come um pouco do ânimo, mas não pode
ser motivo paralisante.
não há nada mais assustador y inspirador do que ter que inventar
a utopia antes de vivê-la. holisticamente inventamos y vivemos,
enquanto muito veneno morre-sai da gente.
*

praticar utopias desejar utopias desenhar utopias

minha utopia lésbica é vegana e sem a existência de qualquer


dinheiro ou despertadores. é separatista de homens adultos –
cuidamos dos meninos, educamos e vemos no que dá.
é cotidiana enquanto não vem.
é viver com mulheres que amam mulheres, é exaltar mulheres
sempre y não dar nenhum biscoito pra homem. é amar meu corpo com
pelos. é tentar me forçar olhar de frente para o ciúme que sinto
de minha companheira.
é ter prazer y gozar nesse corpo. é conhecer minha buceta.
minha utopia lésbica é coletiva y comunitária. é quando nos
sentimos inteligentes ao ler juntas y entender juntas. é me
sentir forte em dividir o peso.
é poder me sentir grande porque quase sempre dou conta, e quando
não dou, tenho elas.

acordei com o sol na janela, vou como de costume assar a massa


que deixei crescendo durante a noite. quando as otras acordarem
a casa terá cheiro de pão.
ainda estou semidespida, o calor desse verão é muito forte – eu
adoro.
a lembrança que a nudez pode se tornar um problema é distante,
como uma pulga atrás da orelha de quem aprendeu a viver com
medo.
desaprender leva tempo, mas é mais fácil aqui: onde esse medo
não existe concretamente. as meninas que aqui crescem não estão
mutiladas pelo medo: jamais carregarão cicatrizes como as minhas
y essa certeza me cura.
aos poucos as mulheres acordam. cada uma ao seu tempo. dormimos
juntas quando queremos, mas todas têm seu espaço – aprendemos
solitude de una maneira doce – o único quarto coletivo fixamente
é o das crianças, cuidam-se entre si y se divertem mais em
alcateia.
o café da manhã aos poucos se torna una roda animada, umas
contam o sonho que tiveram, otras ajudam a interpretar,
lembramos de histórias y mitos que ajudam a entender as
simbologias, contamos histórias às crias y unas às otras. aos
poucos vamos saindo da mesa y geralmente só sobram as mais
falantes.
eu peguei o hábito de andar de bicicleta ou à cavalo depois do
café da manhã. sentir o vento correr em meu rosto nesse
descampado sobre pedras tão velhas,
cuidar do meu silêncio,
tomar sol.

UTOPIAS LÉSBICAS
contato: alemap@riseup.net
inverno de 2018

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