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O PODER PSICOTERAPÊUTICO DA AGRESSIVIDADE E DA RAIVA ˗

A COMPREENSÃO DA ANÁLISE BIOENERGÉTICA

Resumo
O presente estudo objetivou uma compreensão do significado e papel da agressividade e da
raiva sob a égide da Análise Bioenergética. Para que tal finalidade fosse alcançada utilizou-se
metodologicamente de revisão narrativa da literatura, focalizando as buscas por estudos acerca
da temática tanto na visão da Psicologia Corporal quanto da biologia e da teoria reichiana. Foi
utilizado um total de 22 referências compostas por livros, artigos e trabalhos acadêmicos
encontrados através de fontes de busca na internet e biblioteca pessoal. Percebeu-se que, para a
Análise Bioenergética, a raiva e a agressividade são componentes naturais do ser humano,
constituindo-se como uma força energética propulsora para qualquer de nossas ações, não
tendo, pois, um caráter destrutivo. Se estes componentes são bloqueados, a energia fica
acumulada no corpo, tornando o indivíduo enfraquecido e dependente. E, contrapondo-se ao
que se pensa, apenas desenvolvendo a capacidade de agredir, podemos tornar-nos saudáveis,
evitando sintomas neuróticos associados à violência e destrutividade.

Palavras-chave: Agressividade. Raiva. Análise bioenergética. Psicologia corporal.

THE PSYCHOTHERAPEUTIC POWER OF AGGRESSIVENESS AND ANGER ˗


THE UNDERSTANDING OF BIOENERGETIC ANALYSIS

Abstract
The aim of the present study was to understand the meaning and role of aggression and rage for
the Bioenergetic Analysis. For this, it was used a narrative review of the literature as
methodology, focusing on studies about the subject in both the view of Body Psychology,
biology and Reich’s theory. It was used a total of 22 references composed of books, articles and
academic works found in internet search sources and personal library. It was noticed that, for
Bioenergetic Analysis, rage and aggression are natural components of human beings,
constituting a driving energy force for any of our actions, thus, not having a maleficent
character. If these components are blocked, the energy accumulates in the body, making the
person weakened and dependent. And, in contrast to what are usually thought, only by
developing the capacity to express our aggressiveness, we can become healthy, avoiding the
use of destructiveness.

Keywords: Aggressiveness. Rage. Bioenergetic analysis. Body psychology.


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O PODER PSICOTERAPÊUTICO DA AGRESSIVIDADE E DA RAIVA ˗


A COMPREENSÃO DA ANÁLISE BIOENERGÉTICA

Jéssica Regina Chaves


Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Estadual do Piauí. Contato:
jessica.reginach@gmail.com

Périsson Dantas do Nascimento


Orientador do trabalho. Doutor em Psicologia Clínica (PUCSP). Psicólogo Clínico e
Psicoterapeuta Corporal. Local Trainer do Instituto de Análise Bioenergética de São Paulo.
Analista Bioenergético (CBT) e supervisor em Análise Bioenergética com reconhecimento
pelo IIBA. Professor Adjunto da Universidade Estadual do Piauí. Contato:
perisson.dantas@gmail.com

Resumo
O presente estudo objetivou uma compreensão do significado e papel da agressividade e da
raiva sob a égide da Análise Bioenergética. Para que tal finalidade fosse alcançada utilizou-se
metodologicamente de revisão narrativa da literatura, focalizando as buscas por estudos acerca
da temática tanto na visão da Psicologia Corporal quanto da biologia e da teoria reichiana. Foi
utilizado um total de 22 referências compostas por livros, artigos e trabalhos acadêmicos
encontrados através de fontes de busca na internet e biblioteca pessoal. Percebeu-se que, para
a Análise Bioenergética a raiva e a agressividade são componentes naturais do homem,
constituindo-se de força energética propulsora para qualquer de nossas ações, não tendo, pois,
um caráter maleficente. Se estes componentes são bloqueados, a energia fica acumulada no
corpo, tornando o indivíduo enfraquecido e dependente. E, contrapondo-se ao que se pensa,
apenas desenvolvendo a capacidade de agredir, podemos tornar-nos saudáveis, evitando a
utilização da destrutividade.

Palavras-chave: Agressividade. Raiva. Análise bioenergética. Psicologia corporal.

Abstract
The aim of the present study was to understand the meaning and role of aggression and rage for
the Bioenergetic Analysis. For this, it was used a narrative review of the literature as
methodology, focusing on studies about the subject in both the view of Body Psychology,
biology and Reich’s theory. It was used a total of 22 references composed of books, articles and
academic works found in internet search sources and personal library. It was noticed that, for
Bioenergetic Analysis, rage and aggression are natural components of human beings,
constituting a driving energy force for any of our actions, thus, not having a maleficent
character. If these components are blocked, the energy accumulates in the body, making the
person weakened and dependent. And, in contrast to what are usually thought, only by
2

developing the capacity to express our aggressiveness, we can become healthy, avoiding the
use of destructiveness.

Keywords: Aggressiveness. Rage. Bioenergetic analysis. Body psychology.

Introdução

Este trabalho objetiva compreender o significado e o papel da agressividade e da raiva


sob a égide da Análise Bioenergética através de estudos encontrados na literatura. Tendo como
foco esta abordagem, partimos de um olhar do ser humano como um ser dinâmico, apreendido
sob uma ótica somatopsíquica indissociável, integrada e mantida por uma força vital de caráter
energético.
Dialogar acerca da agressividade e da raiva tem se tornado cada vez uma tarefa mais
árdua, tendo em vista que tais termos receberam ao longo da história uma conotação negativa
associada à destrutividade e ao caos social, como bem pontuaram Lowen e Pierrakos (1969).
No entanto, se partirmos de um olhar elementar para a evolução das espécies, já podemos
perceber que a agressividade sempre esteve presente nos organismos vivos, sendo uma fonte de
ação, aquilo que nos "move em direção a", que impulsiona o ser na busca de suas satisfações.
Um dos estigmas que a Psicoterapia Corporal, mais especificamente a Análise
Bioenergética, carrega enquanto abordagem terapêutica, é de utilizar métodos catárticos
intensos de expressão emocional, dentre as quais, a raiva, sendo criticada por excitar
demasiadamente os pacientes. Instigados através de leituras prévias e vivências com a
Psicologia Corporal que, desde seus primórdios, luta pela libertação emocional do indivíduo
através do uso terapêutico de movimentos, exercícios e técnicas que se manifestam no corpo,
bem como a percepção de que ainda nos primeiros anos de vida somos ensinados e cobrados a
controlar nossa raiva e a agressividade, surgiu o interesse que fomentou esta pesquisa. Brotou,
pois, um questionamento: como a Análise Bioenergética compreende a agressividade e a raiva?
E, seriam essas emoções importantes de serem consideradas como recursos terapêuticos para a
promoção de saúde psicossomática?
Para que fosse possível uma maior compreensão, percorreu-se um caminho através de
uma revisão narrativa da literatura sobre a temática, fazendo uma contextualização que vai dos
aspectos biológicos e evolutivos acerca da agressividade, já que Lowen, criador da Análise
Bioenergética trouxe o biológico para o foco da psicologia; como a teoria reichiana compreende
a temática, fazendo uma correlação com a visão de Reich sobre a pulsão de morte freudiana e,
por fim, a compreensão da Psicologia Corporal.
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Metodologia

O presente estudo consiste em uma revisão narrativa da literatura sobre o papel da


agressividade sob o olhar da Psicoterapia Bioenergética. Considerou-se também buscar maior
contextualização da temática a partir de um apanhado da literatura desde as concepções da raiva
e agressividade nos animais, bem como a compreensão da temática para a teoria reichiana.
A revisão narrativa, na perspectiva de Rother (2007), trata-se de uma metodologia mais
ampla, utilizada para compreensão, descrição e discussão acerca do estado de arte de
determinada temática, do ponto de vista teórico e contextual. Não requer critérios específicos e
sistemáticos para busca e análise crítica da literatura, não precisando esgotar as fontes de
informação. Constitui-se de análise da literatura, interpretação e análise crítica pessoal do
pesquisador. Assim, a interpretação das informações está sujeita à subjetividade do autor.
As referências foram coletadas a partir de bases de dados na internet, como o Scielo,
Bireme, BVS Psi, Google Acadêmico, Periódicos da CAPES e sites de publicações acerca da
Psicoterapia Bioenergética, tais como o do Centro Reichiano, Libertas, Sociedade Brasileira de
Análise Bioenergética - SOBAB, Instituto Brasileiro de Biossíntese, Instituto de Análise
Bioenergética de São Paulo e site da Federação Latino-Americana de Análise Bioenergética -
FLAAB. Utilizou-se também de pesquisas em livros e revistas impressas sobre o tema a partir
de biblioteca pessoal.
Foram selecionados estudos acerca da agressividade e da raiva nas perspectivas da
Análise Bioenergética e da teoria reichiana, bem como compreensões biológicas sobre o tema
e outras referências que auxiliassem para melhor compreensão do mesmo, como acerca da
teoria da pulsão de morte. Assim, foram utilizados no total 22 referências, sendo 5 artigos, 12
de livros e 3 trabalhos acadêmicos (tese e monografias), em um período de 1977 a 2016, sendo
os estudos mais antigos referentes livros de autores importantes na Psicologia Corporal.
Os descritores utilizados nas buscas foram: agressividade e bioenergética, agressividade
e psicologia corporal, raiva e bioenergética, raiva e Reich, agressividade e Lowen, pulsão de
morte e Reich, agressividade e animais, emoções e animais. As categorias que surgiram a partir
da pesquisa foram de: perspectivas biológicas sobre a agressividade e raiva; perspectivas
reichianas sobre a agressividade e a raiva ˗ com uma subcategoria acerca da concepção de
pulsão de morte para Reich; e a agressividade e raiva na visão de Lowen.
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Uma questão de sobrevivência: breve apanhado sobre a perspectiva de teorias biológicas


acerca da agressividade e da raiva

Iniciemos por uma breve explanação do significado que a agressão apresenta dentro do
cenário da Biologia para, então, compreendermos como Lowen congregou-o à Psicologia
Corporal na construção de sua compreensão acerca da agressividade, bem como da raiva ˗
emoção a qual é frequentemente atrelada, embora equivocadamente. A necessidade de trazer
essa abordagem diz respeito ao argumento de que a agressividade e a raiva constituem um
fenômeno natural importante, constitutivo das espécies animais, enquanto processos
emocionais que mediam sua relação com o mundo.
Em uma perspectiva biológica, Huntingford e Chellappa (2007) definem agressão como
um comportamento animal capaz de gerar danos a outro, da mesma espécie ou não, podendo
levar a consequentes ataques, brigas ou à submissão. É bastante difundida na natureza e muito
depende do aparato físico do animal, sendo usualmente um mecanismo de sobrevivência, seja
pela briga por território e alimentação ou pela conquista a uma fêmea por machos de uma
determinada espécie, por exemplo, sendo este componente agressivo encontrado mesmo nos
organismos com organização neural mais simples.
A tão difundida teoria darwiniana acerca da evolução das espécies corrobora para o
pensamento das autoras. Os diversos organismos vivos desde os primeiros passos no processo
evolutivo precisaram conviver com a necessidade de lutar pela sobrevivência, sendo
perpetuados aqueles da espécie que melhor se adaptam às exigências ambientais. Esta teoria é
conhecida como Teoria da Seleção Natural ˗ processo que visa à preservação das diferenças e
variações individuais que são mais favoráveis à sobrevivência e eliminação das características
nocivas a esta (CARMO; BIZZO; MARTINS, 2009).
Desta forma, a agressividade tornou-se um fator evolutivo de singular importância para
aqueles animais que desejavam perpetuar suas espécies. Nenhum animal conseguiria sobreviver
sem o impulso agressivo (LOWEN; PIERRAKOS, 1969), pois é este impulso que permite a
resolução de problemas relacionados à autopreservação, à proteção dos filhotes e, claro, a
competição pelos recursos naturais, tendo em vista que o animal que se mostra mais forte (lê-
se mais agressivo) tem mais acesso a alimentos e mecanismos de proteção para si e para seu
bando.
Assim, Huntingford e Chellapa (2007) encontram a resposta à pergunta “porque os
animais brigam?”. Ora, ao terem acesso à maior quantidade de recursos, a agressão tornou-se
um fator que entra de acordo com a teoria darwiniana de seleção natural, tendo sido, assim,
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selecionada para garantir a permanência dos mais fortes/ aptos. No entanto, partindo-se desta
explicação, as próprias autoras lançam mão de outro questionamento: porque, então, os animais
não lutam de forma mais agressiva? Ou mesmo, porque não se utilizam da agressividade com
mais frequência?
A resposta a esses questionamentos justifica-se pela questão do custo e benefício desse
comportamento ˗ um contraponto às ideias até então discutidas aqui. Além do alto custo
energético, envolvem tempo que pode ser despendido em outras atividades, interferindo ainda
na vigilância ˗ animais que passam muito tempo lutando podem tornar-se mais vulneráveis a
outros predadores. Outro ponto a ser frisado é que em decorrência de lutas prévias em que um
animal sai submetido ao outro, quando estes se encontram, o que está sob domínio tende a se
retrair e evitar novas lutas, a fim de garantir sua sobrevivência e integridade física.
Objetivando maior entendimento posterior da visão da Psicologia Corporal acerca da
agressividade, faz-se necessário pontuar que a agressão ocorre ainda na defesa de interesses
vitais. O animal (considerando aqui também o homem) tem a possibilidade de, frente a uma
ameaça, lutar ou fugir. Reações agressivas, de paralisia ou fuga são espectros possíveis de
acordo com a situação a ser avaliada. O ser humano, por exemplo, estaria mais inclinado a
reações de fuga do que atos heroicos de enfrentamento. É, pois, uma questão relacionada a
fatores fisiológicos, aprendizados e avaliação do ambiente, e não a uma característica predatória
ou “força do mal” inerente aos organismos (REGO, 2005).
Até o momento temos discutido acerca da agressividade vista sob a luz das ciências
biológicas. No entanto, como nos aponta Rego (2005), é importante que façamos uma distinção
entre este e outro termo a que este artigo tem como proposta de estudo: a raiva. De acordo com
Panksepp (1998 apud Rego, 2005), a raiva nem sempre leva à agressão, bem como a agressão
nem sempre está acompanhada da emoção raiva. Quando estes dois componentes estão
interligados costumam servir a propósitos bem definidos em decorrência, em geral, da privação
de liberdade, de frustrações e situações desagradáveis (REGO, 2005) ˗ definição que, como
veremos mais adiante, fomenta boa parte da compreensão bioenergética sobre a temática.
Em seu livro “A expressão das emoções no homem e nos animais”, Darwin apresenta-
nos perspectivas biológicas acerca da raiva. Esta foi uma das obras em que Darwin se dedicou
à compreensão dos homens e de suas emoções e comportamento, além dos outros animais,
fazendo uma apresentação sistemática das mais variadas emoções que conseguiu reunir em seus
estudos ˗ diferentes reações de animais e tribos frente a variadas situações. Pontua-se o fato de
Darwin não ter dado ênfase apenas aos fatores fisiológicos emocionais, mas buscado uma
compreensão interligada aos fatores psicológicos (CASTILHO; MARTINS, 2012),
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constituindo importantes contribuições aos estudos de Lowen na construção da Análise


Bioenergética.
Darwin afirmava que a maioria das emoções estão ligadas de tal forma às suas
manifestações corporais que dificilmente ocorrem sem que haja qualquer manifestação.
Comentou, por exemplo, acerca do ódio, afirmando que “um homem pode odiar imensamente
outro, mas enquanto seu corpo não é afetado, não se pode dizer que esteja enfurecido”
(DARWIN, 2000, p.223). Nesse sentido, o ódio nos seres humanos não pode ser considerado
uma emoção propriamente dita, pois possui um componente cognitivo mais elaborado e que
perdura no tempo.
Segundo Celeri, Jacintho e Dalgalarrondo (2010), Darwin observou em seus próprios
filhos a expressão da emoção de raiva já em seus primeiros meses de vida, apresentando
características como o fluir do sangue para a cabeça e face, o abrir e fechar das mandíbulas e
tentativas de empurrar objetos ou bater, ainda que desajeitadamente. O autor percebeu e
descreveu algumas manifestações somáticas da fúria, bem semelhantes às da raiva, como o
enrubescimento, o coração e circulação acelerados, dilatação das veias da testa e pescoço, bem
como alterações na respiração, que podem ser percebidas através do arqueamento do tórax e
dilatação e tremor nas narinas. Acerca da raiva, pôde apreender ainda sinais como lábios
comprimidos e testa enrugada, punhos cerrados e geralmente erguidos prontificados para a luta
e tórax expandido (DARWIN, 2000).
Desta forma, muitas são as nuances pelas quais tanto a agressividade quanto a raiva
podem ser vistas de uma perspectiva biológica. Ainda assim, diante do exposto e concordando
com Rego (2005), percebe-se que há uma necessidade emergente em melhor conceituar estas
terminologias, especialmente para nós, objetivando uma compreensão sob a égide
bioenergética. Partamos, pois, para as concepções reichianas acerca da agressão que, em muitos
pontos, teve como base as teorias biológicas destacadas nesta sessão.

Raiva e agressividade em Reich: primeiros passos para a Psicoterapia Bioenergética

À sua época, Wilhelm Reich foi um dos maiores, se não o maior responsável por trazer
os aspectos somáticos para a luz das discussões sobre a personalidade e os acometimentos
psíquicos, tais como a histeria, colocando o corpo em cena e dando o pontapé para uma
compreensão mais unitária do homem. Este aspecto somático não poderia estar de fora de suas
concepções acerca da raiva e da agressividade.
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Castel (2008) nos aproxima do conceito reichiano das emoções, pontuando que estas
não devem ser tomadas apenas por um viés de abstração, mas também por uma perspectiva
biológica. As emoções recebem, assim, um sentido somático, ou seja, aquilo a que o autor
chama de corporeidade. Cada emoção tem sua configuração fisiológica básica e é isto o que a
teoria reichiana buscou defender e que foi o solo sobre o qual Lowen viria a construir a Análise
Bioenergética.
Para Reich, existiriam três emoções básicas que dão base ao surgimento das outras.
Temos a angústia e a sexualidade, responsáveis pelo mecanismo de contração e expansão,
respectivamente, e existe uma terceira emoção: a raiva ou ódio, a que Castel (2008) relata
preferir denominar de agressividade, representando um movimento que pode ou não vir a tomar
vias de raiva ou ódio.
A raiva é considerada um processo emocional pulsatório de expansão, diferente do ódio,
que é constituído por meio da contração/repressão da agressividade, tendo um componente
neurótico mais elaborado. De acordo com os pressupostos reichianos, a neurose, por exemplo,
somente se desenvolve quando uma criança é bloqueada em sua expressão da raiva por um
insulto à sua própria personalidade. Tem-se, então, uma perda de integralidade corporal que só
pode ser restaurada mobilizando-se energia agressiva expressa através da raiva (LOWEN,
1997).
Boa parte das inibições da agressividade infantil decorre de uma ideia de agressão como
algo mau ou sexual (REICH, 1975). Desde muito cedo a raiva e as ações agressivas são
repreendidas e a criança é impedida de uma descarga de energia, tendo em vista que atitudes
como o morder e o bater, comumente presentes na infância, são castradas já nos anos iniciais
de vida, pelo receio dos adultos de que se tornem em violência em fases posteriores. Este
pensamento trata-se, no entanto, de um equívoco, já que, como pontua Hortelano (2004), a
teoria reichiana acerca da agressividade concebe esta como uma característica saudável de
reivindicação ativa, enquanto a destrutividade consiste em eliminar um objeto representativo
de perigo.
Para que exista a capacidade de amor é necessário que exista a capacidade de agredir ˗
que se constitui em instinto básico da vida, pois, para reivindicarmos o que queremos e
necessitamos é preciso que haja a presença deste componente agressivo, não sendo, desta forma,
sinônimo de destrutividade. A raiva visa, assim, na verdade, à eliminação de situações que
ameacem a vida do indivíduo (REGO, 2005).
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A partir disto e a fim de compreendermos um pouco mais a visão de agressividade de


Reich é necessário tecermos um caminho acerca da concepção do autor sobre a teoria freudiana
da pulsão de morte.

Reich e a teoria da pulsão de morte

A pulsão de morte foi uma teoria calcada por Freud em 1920, após formular a segunda
teoria pulsional. Hortelano (2004) afirma que as tendências sádicas observadas nas pessoas à
época de Freud contribuíram para que ele modificasse sua “teoria da libido”, em que a
sexualidade era tida como força motriz do amor (Eros), para a de que existia uma contrapartida
instintiva: uma tendência de morte e autodestruição (Thanatos).
Para ele, havia no homem uma tendência de retorno ao estado inorgânico, uma tendência
à destruição e à morte ˗ um instinto de morte disposto a conduzir o organismo a um estado
inanimado (PORTELA, 2007). Ao reformular sua teoria sobre as pulsões, Freud colocou em
foco uma discussão sobre a agressividade e impulsos destrutivos, despertando em Reich,
posteriormente, a necessidade de uma colocação sobre o tema.
De acordo com as pesquisas de Rego (2005), Reich, desde o início, não demonstrava
muita identificação com a teoria freudiana da pulsão de morte, embora, em seus primeiros
escritos não deixasse claro se concordava ou discordava desta proposição. Mesmo quando se
permite a uma discussão sobre a o assunto, parecendo aceitá-lo, em 1927, ao publicar a primeira
versão de seu livro “A função do orgasmo”, Reich aponta um caminho diferente, afirmando que
os impulsos destrutivos não são primários, mas originados pela frustração sexual e estase da
libido.
Já em 1930, ele rompe de vez com a teoria proposta por Freud ao discutir acerca do
masoquismo. Para Reich a hipótese teórica da pulsão de morte diminuía o papel do mundo
externo e suas frustrações para o ser humano, dando vazão somente a uma visão pessimista de
sujeito, focada apenas nas questões internas (REICH, 1998). Boa parte desta tendência de Reich
a se afastar cada vez mais das ideias freudianas se deu devido ao seu envolvimento na política,
criticando a reformulação da teoria pulsional por retirar a possibilidade de um o componente
crítico social de efetiva transformação das relações humanas.
Na sessão sobre destruição, agressão e sadismo de sua obra “A função do Orgasmo”,
Reich inicia discordando da psicanálise que, para ele, utilizava-se de tais termos sem fazer muita
distinção entre eles. Agressão e destruição (o instinto de morte que se dirige ao mundo) eram
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discutidas na teoria psicanalítica quase que de forma idêntica, sendo o sadismo um instinto
parcial primário que era ativo no estágio de desenvolvimento genital (REICH, 1975).
Para Reich, o motivo pelo qual um impulso destrutivo se desenvolvia no indivíduo não
era o prazer pela destruição, mas uma tentativa de eliminar uma fonte de perigo, afirmando até
mesmo que, neste caso, este impulso serviria a um “instinto de vida”, a um desejo biológico
primário de viver. Já a agressão não tem, para o autor, nada a ver com sadismo e destruição,
mas tem um sentido de “aproximação”, uma “expressão de vida da musculatura e do sistema
de movimento” (REICH, 1975, p.81).
O sadismo era visto na tese reichiana como uma mistura de impulsos sexuais primários
e secundários, uma inibição geral da sexualidade natural do organismo, sendo toda a ação
destrutiva uma reação à frustração da satisfação de uma necessidade, em especial a sexual. Seria
um comportamento cruel-destrutivo, decorrente de excitação sexual bloqueada, bem como o
masoquismo (HORTELANO, 2004). O sadismo era, portanto, para Reich, uma reação à
frustração do impulso libidinal.
A cultura tem contribuído cada vez mais para a propensão à agressão já desde o início
da vida extra-uterina quando o bebê é privado do contato materno (REGO, 2005). Se uma
satisfação é negada ao indivíduo, a agressividade passa a ser o próprio mecanismo de descarga
de tensão e não mais o meio pelo qual se buscara satisfazer um impulso instintivo, como no
caso da sexualidade, por exemplo. Isto porque o desejo, a necessidade de satisfação permanece,
ainda que tenha ocorrido uma frustração decorrente de bloqueio da descarga. Assim, surge um
impulso para satisfação desta necessidade a qualquer custo. “A necessidade de agressão começa
a suprimir a necessidade de amar” (REICH, 1975, p.82), e é este processo que, de acordo com
a teoria reichiana, dá margem para a origem do sadismo.
Vieira (1996) partilha das formulações de Reich, afirmando que o bloqueio é decorrente
de uma alteração no movimento ondulatório da energia no corpo. Tratando acerca da voracidade
˗ compreendida aqui como uma forma de expressão da agressão ˗, a autora concorda com a
teoria reichiana de que os desejos sobre algo no Outro ou no Mundo quando barrados não
desaparecem, mas buscam uma forma de escape que podem, na tentativa de atravessar essa
barreira, transformar-se em raiva destrutiva.
Assim, uma teoria do sadismo como de origem biológica da forma como era percebido
por Freud e a existência de uma natureza destrutiva tiraria completamente o sustento da terapia
do ponto de vista de Reich, pois, se existe uma natureza sádica, o que se poderia fazer e que
esperança restaria à humanidade?
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Outro ponto apontado por Rego (2005) em suas pesquisas que nos aproxima das ideias
reichianas enquanto nos afasta cada vez mais da teoria da pulsão de morte, é a característica de
reconciliação encontrada no reino animal e, em especial, no homem. Existindo essa habilidade
de “fazer as pazes” e optar pelo não uso da hostilidade agressiva, então, como apontava Reich,
não há no homem uma natureza voltada para a destruição, mas uma capacidade natural de
ajustamento social, embora ele não negasse a existência de intenções malévolas em diversas
ações humanas. Dessa forma, na concepção reichiana a raiva destrutiva é um impulso tentando
romper o encouraçamento (padrão de tensões musculares crônicas formadas ao longo da vida
para proteger o indivíduo de experiências dolorosas e que ameacem sua integridade) a qualquer
custo (REICH, 1949/1973 apud REGO, 2005).
Diante disto tudo, Reich (1975) percebeu que a potência orgástica era, então,
incompatível com o sadismo e os impulsos de destruição e que, com a eliminação destes a
energia bloqueada poderia ser liberada e transferida para os genitais. Porém, foi sincero ao
revelar que isto estaria longe de ser a solução definitiva ao problema do sadismo. Seria
necessário ir ainda mais fundo do que apenas objetivar terapeuticamente a potência orgástica,
mas encontrar os mecanismos responsáveis pela inibição das reações de ódio. Somente assim o
fluxo energético libidinal se encontraria livre para fluir no corpo, fazendo com que a fonte de
energia estásica (paralisada, reprimida) pudesse ser descarregada, não mais alimentando os
sintomas neuróticos.

Um olhar sobre o corpo: a importância da agressividade na Bioenergética a partir de Lowen

Como pôde ser visto até aqui, falar de agressividade é uma tarefa que requer tecer
caminhos que perpassam por diversas conotações e nuances. Em discurso proferido na
Community Church, Lowen e Pierrakos (1969) perfizeram um breve apanhado acerca da
agressividade, pontuando o significado negativo e incompleto que o termo muitas vezes
apresenta tanto no senso comum quanto na psiquiatria e psicologia. O primeiro limita-se apenas
à conceituação pelos atos hostis, enquanto as teorias psiquiátricas e psicológicas de
personalidade ignoram o fator motivacional, abarcando apenas a noção de oposição à
passividade.
Para os autores, no entanto, a energia necessária à vida se produz sob a égide de impulsos
agressivos. Eles compararam esse processo com o crescimento de uma semente em planta, onde
a semente precisa mobilizar certa agressividade para lançar-se através da terra para cima,
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buscando encontrar a luz que lhe fornecerá as bases energéticas necessárias à sua sobrevivência,
não tendo, portanto, um caráter maleficente.
Complementando, Lowen (1984) pontuou que a agressividade se trata de “mover-se em
direção a” e é uma função do sistema muscular, de ação, podendo se adicionar a sentimentos
como a hostilidade ou afetuosidade. Apesar disto, desde os primeiros anos de vida a agressão é
inibida nos humanos, resultando em relações sociais neuróticas e insatisfatórias. O autor utiliza
como exemplo a constante pressa e competitividade presentes na constituição das relações
humanas no sistema capitalista.
Já em sua fase inicial, a criança manifesta, por exemplo, sentimentos de irritação através
de movimentos de chutes e, na medida em que há um amadurecimento e fortalecimento
corporal, tal sentimento passa de irritação para a raiva, que propõe um alívio de tensão no lugar
do habitual choro infantil. Porém, normalmente essa raiva frustra a criança por se mostrar
impotente diante do meio que a relega e o choro retorna como mecanismo de liberação da
tensão. Este movimento infantil da agressividade só é possível porque, segundo Lowen e
Pierrakos (1966), a consciência humana se desenvolve intimamente ligada ao crescimento e
coordenação do sistema muscular.
Citando a emoção da raiva, faz-se necessário clarificar que ela faz parte da função mais
ampla de agressão (LOWEN, 1997). Enquanto esta última é uma função de movimento que
envolve o sistema muscular, a raiva, bem como o medo, é uma emoção de emergência que ativa
o sistema simpático/suprarrenal para luta e fuga, como já pudemos perceber através das teorias
embasadas na biologia. Maior e Correia (2016) complementam ainda ao mencionarem que a
raiva é uma emoção carregada de energia para ação, que cria uma tensão corpórea que nos
coloca em posição de ataque ou defesa. E, diferente do que se pensa, não é sinônimo de
hostilidade, pois esta é uma emoção fria, de desvio, enquanto a raiva se constitui em uma
emoção quente.
Difere também de fúria e ira, com os quais é equivocadamente percebida como
sinônimo. A ira é uma ação destrutiva e explosiva que tem a intenção real de machucar o outro.
Depois que irrompe, ela não pode ser controlada, diferente da raiva. Já a fúria é um sentimento
de raiva extremo, o lado físico do ódio, e é também destrutiva, como um furacão (LOWEN,
1997).
Quanto aos aspectos somáticos, a raiva é experienciada nas costas, entre as espáduas,
assim como nos animais estudados por Darwin. De acordo com Lowen (1977b), nos animais,
por exemplo, quando se preparam para uma luta, pode-se perceber as costas curvadas, os pêlos
eriçados e mandíbulas prontas para o ataque em mordidas. Nos seres humanos essa energia é
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dirigida mais intensamente para os braços, mantendo-os prontos para a situação de ataque ou
defesa. A energia se move de forma pendular ˗ de baixo para cima ˗ na raiva e na ira, na região
posterior das costas. Há um forte fluxo de sangue para as partes responsáveis pelo ataque, por
isso algumas pessoas afirmam ver tudo vermelho ou ficarem vermelhas na região superior de
seus corpos quando se encontram em situação de desencadeamento da raiva.
Segundo Maior e Correia (2016), se a expressão da raiva for reprimida, vários músculos
trabalham para essa contenção, gerando tensões musculares crônicas nas regiões dos membros
superiores, parte superior das costas e mandíbula. As autoras ainda mencionam que,
dependendo da fase de desenvolvimento em que ocorreu a repressão dessa emoção, o sujeito
pode tornar-se paralisado diante da vida, sentindo-se impotente e sem a capacidade de reagir
sob determinadas situações.
Corroborando-se a isto, Cristofolini (2009) pontua que precisamos compreender a
formação do caráter para entendermos mais profundamente a agressividade em Psicologia
Corporal. Para a autora o desenvolvimento psíquico-afetivo apresenta fases de desenvolvimento
cruciais, sendo a formação do caráter relacionada a possíveis estresses que ocorram em alguma
dessas etapas. Em situações de trauma decorrentes de frustrações nas necessidades pulsionais
do desenvolvimento infantil, mecanismos de defesa de caráter serão formados a partir da etapa
evolutiva em que esse trauma aconteceu na criança. Com relação à agressividade compreende-
se que o estresse se deu no período de desenvolvimento oral ou de sustentação. O indivíduo
adulto com este traço de caráter apresentar-se-á como dependente, podendo ter características
agressivas (CRISTOFOLINI, 2009).
Lowen (1977a) percebeu que a pessoa com estrutura de caráter oral apresenta uma
fraqueza das costas como resultado da sua inabilidade em ser agressivo. O indivíduo é
desenergizado e a explicação encontrada por ele para isso é baseada no fato de a energia provir
do meio (oxigênio, alimentação, prazer). Sem o impulso de agressividade que permite o
indivíduo de buscar os meios de sobrevivência, ele toma atitudes infantis diante da vida,
esperando que os outros satisfaçam suas necessidades sem que faça qualquer esforço. Sua
estrutura torna-se assim mais fraca.
Dito isto, Hortelano (2004) nos coloca que a criança proibida de expressar sua agressão
natural vai tendo seus impulsos de reivindicação cada vez mais enfraquecidos, anulando e
bloqueando o biossistema e diminuindo a força de canalização do instinto que se transforma
em excedente pulsional exigindo saída e que, em situações propícias, sim, poderá fluir de
maneira sádica e violenta. Esse excesso de energia torna-se, assim, uma espécie de bomba
armada para atitudes violentas.
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São as tensões musculares que irão controlar essa “bomba”. Com isto, ocorre no
indivíduo o que Lowen chamou de interrupção. A pessoa fica interrompida através de um ciclo
vicioso: se há iminência de violência, a agressividade precisa ser bloqueada; tal bloqueio dá
vazão à ira e violência, necessitando que o indivíduo permaneça sob constante controle. Se o
fluxo de energia agressiva a ser enviado para a parte inferior do corpo ˗ pélvis e pernas ˗ é
bloqueado, ele fica preso e acumulado entre os ombros (escápulas). A pessoa fica incapaz de
um movimento livre, fica, pois, interrompida em seu potencial de expressão e vivência de prazer
afetivo e sexual.
O sentimento provoca medo à criança (já que o social percebe a agressão como algo
maléfico), assim, ela precisa inibir sua expressão da raiva. Contrai, pois, os músculos e mantém
retida a sua respiração, bloqueando dentro de si o seu impulso agressivo que é impulso de busca
˗ uma busca por aquilo que necessita e deseja do Mundo e dos Outros. Uma criança que foi
contida em suas buscas crescerá submissa aos pais, criando uma barreira e uma atitude de NÃO
para a vida, apresentando muitas vezes características como o medo de rejeição e de parecer
agressiva aos olhos dos outros, bem como timidez (WEIGAND, 2000).
A energia que é gasta para preservação da vida (busca no exterior e protesto) fica
congelada e se transforma em contenção, de modo a preservar a vida. Tem-se, desta forma, uma
mudança nesta criança: o que era vida passa a assumir um significado de morte (a expressão de
quem ela é), e o que era antes morte passa a ter um significado de vida e sobrevivência (ela
retém os sentimentos e submete-se).
Assim, o movimento se torna sem energia, pois esta está sendo despendida em manter
o bloqueio, em uma dinâmica baseada no medo infantil que se repete pela vida do indivíduo.
Dinâmica essa a qual Freud denominava de compulsão à repetição e que a Psicologia Corporal
compreende como uma resistência de caráter, uma compulsão de repetição da dor infantil
(WEIGAND, 2000).
Uma consequência que Lowen encontrou em pacientes adultos devido ao bloqueio da
emoção de raiva na infância foi a dificuldade em “tomar as rédeas das situações” ou de
“abocanharem a vida”, fazendo referência a repressão do ato de morder ˗ primeira forma pela
qual a raiva se manifesta, comum em crianças e animais. O autor vai ainda mais longe ao afirmar
que “foi demonstrado bioenergeticamente que subjacente a todos os sentimentos crônicos de
medo e desamparo está a raiva reprimida” (LOWEN, 1984, p.165).
O indivíduo incapacitado de mobilizar sua agressividade natural é, tendo em vista todas
as considerações feitas até aqui, um ser que muitas vezes pode ter de se deparar com a solidão
por sua inabilidade em se estender ao mundo, além de desapontamentos que o perseguem ao
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longo da vida, ao dar-se conta de que o outro não pode satisfazê-lo plenamente (LOWEN,
1977a).
De acordo com Lowen, o problema no processo terapêutico é que as pessoas só
conseguem sentir sua raiva reprimida ao serem provocadas. Para ele, não adianta falar da raiva
que o paciente tem, mas mostrar a este a repressão em seu próprio corpo, permitindo que ele
ganhe mais contato corporal consigo mesmo e, assim, restaure sua agressividade natural a fim
de obter bom funcionamento do corpo, e que encontre o caminho do prazer: sexual e no
trabalho.
A Análise Bioenergética atua, pois, no sentido de flexibilizar e suavizar o
encouraçamento muscular resultante do bloqueio da raiva em ambiente terapêutico, ou seja, um
ambiente seguro onde a emoção possa ser expressada de forma mais fácil, analisando ainda as
defesas psíquicas empreendidas na repressão. Então, como afirma Weigand (2000), o papel da
terapia é, a partir da compreensão da agressividade (que gera o que a autora chama de
Negatividade), colocar a energia novamente em movimento, descongelá-la e energizar as partes
negativas, permitindo que o fluxo de vida retorne para a pessoa.

Conclusões

Podemos concluir, a partir do que foi explanado neste estudo, que tanto a agressividade
quanto a raiva constituem-se como componentes naturais do homem enquanto ser
somatopsíquico, apresentando-se como movimento para buscar a energia necessária à vida ou,
ainda melhor, como uma própria forma de expressão vital.
Assim, a Análise Bioenergética, calcada nos pressupostos de Lowen, percebe a agressão
como impulso de busca que encontra suas bases na corporeidade, ou seja, está intimamente
ligado ao corpo, ao sistema muscular, não tendo, assim, caráter maleficente. Fica claro, então,
que cada uma de nossas reivindicações e movimentos perante as diversas situações cotidianas
contém (e deve conter) um elemento de agressão. Quer seja na busca por saciar a fome ou na
tentativa de conquistar um objeto de amor, quer seja em uma luta física com outra pessoa. Sem
esse componente ˗ essa força promotora de energização ˗ tornamo-nos estáticos diante da vida.
Tentativas de retenção da raiva e da agressividade, ao contrário do que se pensa, em
especial no senso comum, apenas colaboram para o desenvolvimento de sujeitos dependentes,
enfraquecidos, submissos e incapacitados de movimentar-se pela vida, podendo, a partir do
acúmulo no corpo do excesso de energia da raiva que não pôde ser descarregada ˗
principalmente na infância ˗, tornarem-se, então, como uma bomba armada que, em sua
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iminência de explosão, força o corpo a encouraçar-se ainda mais e interrompe o organismo em


um ciclo vicioso, podendo ainda dar espaço ao sadismo e à violência.
Concordamos, pois, com aquilo que Hortelano (2004) nos lembra: que apenas
desenvolvendo nossa capacidade de agredir podemos sair de uma situação, enquanto humanos,
de biossistemas frágeis e dependentes que buscam compensar carências e frustrações através
de dinâmicas violentas e sadomasoquistas para nos tornarmos seres saudáveis, onde a
destrutividade não encontre justificação para existência.
Quanto à temática compreende-se também uma necessidade de pesquisas mais recentes
que deem maior subsídios à Análise Bioenergética, pois percebe-se uma escassez de estudos
recentes, sendo a maioria pautados ainda na vivência prática e pesquisas de Lowen e Reich
quando buscaram perfazer o caminho para a Psicologia Corporal. Deixa-se, então, um caminho
aberto para a possibilidade de novos trabalhos e indagações que venham a contribuir para uma
melhor compreensão da agressividade, da raiva, do corpo, da psique, da vida.

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