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Dupla Reflexão e Romantismo: a relação de Kierkegaard com Fichte e Schlegel a partir do

conceito de Reflexão
Texto para o Seminário Interno de 2016

O projeto teve origem na pergunta sobre o significado que o conceito de dupla reflexão na
filosofia de Kierkegaard. Para realizar uma exposição adequada do modo como esse conceito opera
dentro de sua filosofia, é necessário mostrar brevemente o seu locus específico no itinerário
kierkegaardiano, no qual se mostrará não só as apropriações por ele feitas de elementos das
filosofias anteriores a ele, como também a nota específica por ele concedida à expressão.
Apresentarei primeiro algumas diretrizes que podem condicionar a localização adequada do
conceito de dupla reflexão, e em seguida discorrerei sobre ele trazendo à baia as influências que
propiciaram sua formulação, nas filosofias de Fichte e Schlegel, para com isso elucidar o
significado dado por Kierkegaard ao romantismo, tanto enquanto conceito filosófico como enquanto
escola de pensamento e enquanto diretriz ontológica.
O diálogo de Kierkegaard com o idealismo alemão, em que são levantadas questões sobre o
significado de conceitos metafísicos como subjetividade, movimento e transcendência, perguntas
estas que se arredondam na questão sobre a modernidade e seu sentido histórico, inserem o filósofo
dinamarquês numa posição de interlocução digna de consideração dentro deste debate. Kierkegaard
deve ser concebido ao mesmo tempo enquanto um pensador da subjetividade, e ao mesmo tempo
um teólogo que define o religioso como um movimento interior, em que a subjetividade é concebida
como o palco em que se desenrola o movimento espiritual no qual o religioso se manifesta como
resultado. As descrições que se pode encontrar na obra de Kierkegaard deste elemento específico de
seu pensamento são sempre vinculadas a um procedimento indicado sob a rubrica do paradoxo, e a
partir de um confronto e um embate de uma subjetividade contra si mesma, de tal forma que o
movimento paradoxal é o ponto em que ela se eleva acima de si própria. Tal elevação é definida
religiosamente, embora passe por elaborações do âmbito da ética e da estética, sem deixar de lado o
caráter dialético que permeia o desenvolvimento e a formação do sujeito – que incorpora neste
processo o elemento do paradoxo religioso. Ademais, as construções teóricas por ele elaboradas
devem, numa mesma proporção, tanto à teologia quanto à poesia, e o conceito de dupla reflexão
constitui, nesse interstício, um ponto chave na apresentação dos vários elementos que vinculam as
duas esferas.
Aqueles que se pode enumerar, de início, seriam a pseudonímia e a comunicação indireta.
Os escritos pseudonímicos foram aqueles que concederam a Kierkegaard o estatuto de filósofo,
dado que aqueles de caráter veronímico são de cunho estritamente teológico, se tratando de
discursos edificantes de caráter exortativo. Nos seus diários, contudo, onde Kierkegaard realiza uma
auto-avaliação da sua obra de forma direta, ele expõe a pseudonímia como um artifício
metodológico de inspiração socrático-platônica, em que cada personagem constitui uma ocasião
para a realização de um procedimento maiêutico de extração da verdade, o que ele chama de “um
engodo para a verdade”. A este proceder Kierkegaard denominou comunicação indireta, e a razão
de ser deste peculiar tratamento de sua obra enquanto método é não mostrar ou revelar a verdade de
forma exterior, mas realizar uma espécie de operação estético-psicológica que realiza um
desdobramento da subjetividade numa sobrelevação para além de si mesma, um movimento interior
que realizaria uma vinculação do indivíduo com a verdade, no que ele chama de religioso. A
pseudonímia, nesse sentido, é mais uma decorrência da ironia enquanto postura filosófica
fundamental – sendo esta mais um elemento fundamental da tipologia da subjetividade religiosa, na
medida em que ela instaura o mal-entendido na perspectiva do discurso filosófico – tem-se que a
pseudonímia é não somente uma abertura para diferentes pontos de elocução dialógica, mas também
um tipo de articulação retórica que, na medida em que ao mesmo tempo revela e oculta, introduz de
forma indelével uma ambiguidade discursiva na elocução, o que faz jus às pretensões anti-
sistemáticas do filósofo dinamarquês.
A comunicação indireta é o resultado de uma ruptura irônica na univocidade do discurso, e
aduz diretamente à oposição insistente de Kierkegaard à proposição idealista da identidade entre o
interior e o exterior. Ela salvaria, por assim dizer, a modalidade discursiva da própria comunicação
da interioridade, que é ameaçada pelo exterior no próprio embate da subjetividade consigo própria
no processo de elocução. Ora, a validade deste embate do ponto deste vista sub aespecie
interioritatis, que aparece nos textos do dinamarquês sob a figuração de conceitos religiosos como
"provação" ou "luta de mútua justificação", indica ela própria como se justifica a explicação da
comunicação indireta através da identificação desta com o que Kierkegaard chama de dupla
reflexão. Este conceito aparece vinculado repetidas vezes à explanação da ideia de comunicação
indireta, especialmente na obra Postscriptum Conclusivo Não-Científico às Migalhas Filosóficas, e,
de forma mais recorrente, em seus Diários. Trata-se de um tipo de articulação que remete, nesse
caso em específico, à forma da expressão da interioridade fora dos moldes de um discurso objetivo,
e que funciona, portanto, sob registros distintos, somente sob os quais há a possibilidade de que o
Indivíduo religioso se manifeste na sua refratariedade com relação à objetividade e cientificidade do
discurso.
Outras formulações conceituais que constam no aparato discursivo da filosofia de
Kierkegaard remetem a articulações semelhantes, em que esse redobramento, ao qual a reflexão é
submetida na perspectiva da comunicação indireta, aparece como uma operação nuclear e essencial.
Podemos tomar como exemplo Temor e Tremor, em que o "movimento em virtude do absurdo",
uma das descrições determinantes do significado da fé – ou seja, o próprio salto para o religioso, é
descrito como um duplo movimento de arrependimento e resignação de um lado, e resiliência e
justificação do outro; ou mesmo o "conceito" de repetição (que dá o título de uma de suas obras
pseudonímicas), que pode ser tomado como o próprio fundamento do tipo de dialética negativa que
Kierkegaard desenvolve na sua obra em geral. Em algumas passagens nesta e em outras obras,
Kierkegaard alude a uma segunda potência da subjetividade, representada pela individualidade
religiosa e alcançada por meio do salto para a fé, que indica a efetivação subjetiva no indivíduo
existente de uma relação autêntica de auto-apropriação.
As ideias de salto, repetição, potenciação da subjetividade e de duplicação indicam,
portanto, uma operação espiritual de importância central para a concepção da subjetividade efetiva,
ou, como Kierkegaard gosta de chamar, “existente”. Ao associar esta operação ao conceito de
reflexão, sua pretensão se revela do ponto de vista metodológico, no qual aparece a necessidade da
estruturação filosófica de sua obra na forma peculiar da pseudonímia e da comunicação indireta, e
também se justificam as suas apropriações das determinações metafísicas de uma filosofia da
subjetividade fortemente inclinada para uma acepção ontológica vinculada com a reflexão, como é
o caso em Fichte, e de uma aproximação com a ontologia poética do romantismo, na qual é
advogado um anti-fundacionalismo epistêmico que vincula filosofia e poesia, e em que a relação do
indivíduo com a verdade se dá num movimento de aproximação infinita. Recuperar estas injunções
pode colaborar com a compreensão da construção do estético – para utilizar uma expressão de
Adorno – em Kierkegaard não apenas como um conceito relacionado ao problema do belo na arte,
mas também enquanto constituindo uma diretriz do estético como uma etapa da existência ou um
“estágio no caminho da vida”, para citar o título de mais uma de suas obras. Podemos agora passar
para uma exposição em linhas gerais destas diretrizes, começando pela perspectiva fichteana.

Fichte: Pode-se dizer que a primeira formulação explícita da ideia denominada por
Kierkegaard como dupla reflexão é feita primeiramente por Fichte para elucidar alguns aspectos da
crítica filosófica. Em Fichte não encontramos uma expressão semelhante; contudo, a concepção
fichteana de reflexão se refere na sua exposição justamente à operação de duplicação que
Kierkegaard tem em mente ao formular este conceito. A visada fichteana sobre o conceito de
reflexão o concebe especificamente sob um duplo aspecto, a partir de dois movimentos distintos
realizados pelo movimento da consciência em pôr a si mesma e aperceber-se de si mesma
concomitantemente, que se mostram interligados entre si por meio da característica intrínseca ao
sujeito de estabelecer a si mesmo reflexivamente, como é exposto em sua Doutrina da Ciência. Ali
Fichte mostra como ideia de uma subjetividade autoponente não pode prescindir de um conceito de
reflexividade para determinar a consciência enquanto uma auto-apercepção, que também se traduz,
no ponto de vista prático, numa auto-determinação. A reflexividade da consciência, enquanto um
dos motivos condutores do desenvolvimento fichteano da subjetividade, faz com que a auto-
asserção reflexiva da consciência seja determinada como um elemento ontologicamente constitutivo
desta: não há, portanto, consciência, nem tampouco subjetividade, sem um movimento reflexivo da
parte do Eu de sair de si mesmo e retornar a si mesmo. Cada momento deste movimento é, contudo,
reflexivamente determinado, o que numa reincidência recíproca de cada um sobre o outro e sobre si
mesmo, determina que a concepção da reflexão enquanto tal deva ser concebida num duplo
movimento simultâneo, que incide ao mesmo tempo sobre si e sobre seu outro. Essa sutileza que se
encontra no movimento duplo exercido pelo ato reflexivo fundamental da consciência, concebido
então numa simultaneidade não temporal, mas lógica, é o que o permite designar como uma
reflexão da reflexão, ou uma dupla reflexão em sentido estrito, que manifesta portanto a estrutura
fundamental da subjetividade na forma como é exposta na Doutrina da Ciência.
A Doutrina da Ciência parte do pressuposto de que o fundamento do saber é dado a partir de
uma subjetividade absoluta, que põe a si mesma a partir de um estado-de-ação imediato e puro.
Aqui o Eu absoluto de Fichte é infinito e absolutamente indeterminado, pelo simples fato de não
encontrar nada fora de si ao qual possa se contrapor enquanto um conceito determinado. A ideia de
determinação enquanto negação é o que pauta portanto o desenvolvimento da ciência a partir deste
fundamento: o Eu absoluto deve negar a si mesmo no seu próprio caráter absoluto e infinito para
que o saber se torne efetivo, e nisso ele se transmuta no seu oposto, um eu finitizado e limitado por
um não-Eu. Aqui já está dada a condição para um primeiro ato de reflexão: nesta finitização, o Eu
se reflete num outro ao qual se contrapõe, e assim está dado o primeiro objeto, a primeira
objetificação do fundamento da ciência. A reflexividade que aí se instaura é ela própria o
movimento deste Eu em direção ao objeto, um movimento de aproximação cuja origem é o
fundamento puro e simples do Eu em si mesmo. O que Fichte defende (ao menos na primeira versão
da Doutrina da Ciência, a que mais influenciou seus interlocutores), portanto, é uma teoria
fundacionalista do saber a partir de uma subjetividade auto-constituída. O caráter reflexivo da
atividade fundamental deste fundamento é revelado apenas posteriormente, no §5 da Doutrina da
Ciência como sendo a própria atividade reflexiva do Eu. Nesse sentido, pode-se distinguir, a grosso
modo, dois momentos no conceito de reflexão que determina a sua atividade: o primeiro como a
deste Eu finito, que se contrapõe a um não-Eu objetivo, uma reflexão finita que incide somente
sobre o outro, e o segundo como uma determinação da atividade mesma do Eu enquanto reflexiva, a
partir da própria atividade reflexiva fundamental. Tem-se, deste modo, esta própria reflexão como
objeto de uma outra reflexão, que agora tem a primeira diante de si como um processo do qual ela
própria se origina e com o qual ela própria interage, mas desta vez numa relação de infinitude e de
pura subjetividade do Eu consigo mesmo. Assim, encontramos uma reflexão sobre a reflexão, por
meio da qual vem a ser sempre possível pensar o pensar, o que não seria possível sem a própria
noção de auto-consciência, na medida em que esta é intencionalmente referida ao eu pensante
enquanto objeto.
Esta concepção fichteana possui suas reverberações mais imediatas na apropriação crítica
feita pelos românticos da escola de Jena, cuja figura representativa mais destacada é Friedrich
Schlegel. Nele, a concepção de reflexão da reflexão adquire um delineamento crítico que indica de
modo mais definido a posição de Kierkegaard dentro do seu debate com o romantismo.

Schlegel: A filosofia do romantismo pode ser delineada a partir de um debate imediato com
Fichte. Em resposta dada por Schlegel à filosofia fichteana lança as bases do idealismo absoluto,
cuja formulação foi sistematizada posteriormente por Hegel, cuja base epistêmica é justamente uma
proposta de vinculação da filosofia com a poesia, em resgate aos moldes platônicos do fazer
filosófico. Tal concepção foi possível a partir de um abandono efetuado pelos românticos do
pressuposto fichteanos de um fundamento absoluto e único do pensamento, de modo que
convencionou-se chamar a tese romântica de anti-fundacionalismo. Esta se caracteriza por um
ceticismo com relação à possibilidade de conhecimento do absoluto, que tem como consequência
uma relativização de uma noção forte de verdade. Embora este ceticismo apareça de forma
matizada na obra dos românticos, ele se harmoniza com o espírito kantiano, que punha o absoluto
como uma ideia num horizonte regulativo, o qual deveria ser buscado e no entanto não é alcançado
– embora os românticos prefiram dizer que é alcançado no infinito. A crítica a Fichte vai na direção,
portanto, de que ele teria ido além dos limites impostos pela crítica. Com isso, o fundacionalismo de
um primeiro princípio é substituído por um “começar no meio”, nas palavras de Friedrich Schlegel,
embora sem abdicar de uma concepção regulativa de unidade orgânica e uma pluralidade de pontos
de partida.
Tal posicionamento resultou na necessidade de pensar uma forma de articulação entre os
princípios que demandam igualmente o estatuto de ponto de partida para a filosofia. Dessa forma,
surge o conceito de Schlegel de prova ou determinação recíproca, cuja raiz envolve uma referência
equânime entre os princípios conflitantes, ou, no dizer fichteano, numa primazia da oposição entre
eu e não-eu sobre a auto-posição do Eu absoluto. Nesse sentido, o começar no meio se dá no
interstício entre os dois extremos, o da pura subjetividade e o da pura objetividade, numa oscilação
que colapsa qualquer pretensão absoluta de verdade, que, no entanto, deve permanecer como
horizonte. Assim encontra-se imposto um limite à filosofia cuja origem se dá nessa duplicidade
originária dos princípios. Para Schlegel, esta se instaura a partir do momento em que a crítica
filosófica incide sobre o próprio filosofar enquanto possibilidade, ou seja, quando se coloca a
pergunta fundamental sobre a condição de possibilidade da própria crítica, na medida em que esta,
segundo o espírito kantiano, consiste na forma fundamental do questionamento filosófico.
Assim, a formulação desta pergunta se dá como crítica da crítica, que expressa a articulação
fundamental da filosofia romântica. Os românticos se apropriam desta operação de auto-referência
metaperspectivística conceitual e a aplicam sem restrições a todas as outras formas de elaboração
conceitual dentro da filosofia crítica, pois ela é a expressão mesma da filosofia crítica: nesse
sentido, eles se referem a uma filosofia da filosofia, a uma poesia da poesia, e por fim, a uma
reflexão da reflexão, quando aduzem à forma fundamental de expressar a atividade reflexiva, cuja
estrutura dualística de projeção numa alteridade a nível de fundamento e que condiciona a forma de
estruturação ontológica do discurso filosófico. O auto-criticismo que foi adotado pelos românticos
enquanto método possibilitou a abertura para uma forma de filosofia que incorpora a criatividade da
consciência que cria a si mesma segundo as suas próprias leis, e assim incorporou-se a poesia ao
filosofar, no sentido de que a consciência que vem à tona neste processo é posta num procedimento
auto-criativo e auto-poiético. Isso se torna possível em virtude desta duplicação fundamental que
incide na própria consciência, que se efetiva enquanto processo numa consciência duplicada e cuja
própria atividade é uma dupla reflexão.

Conclusão: O conceito de dupla reflexão consiste num ponto de inflexão cuja abrangência
permite vincular a filosofia de Kierkegaard com os pressupostos relevados por Fichte e Schlegel.
Nela, o conceito adquire um estatuto metodológico fundamental que condiciona toda a estruturação
da sua obra; ele expressa tanto razão de ser da pseudonímia de Kierkegaard, quanto a via negativa
que ele concebe como forma de trazer à tona a verdade filosófico-religiosa. Tal pressuposto se
apresenta em Fichte como uma descoberta em resposta à filosofia crítica, na qual a reflexão é
elevada ao estatuto de fundamento do movimento da consciência, e sua sobrelevação ou duplicação
se expressa no reestabelecimento da consciência absoluta na filosofia prática fichteana. No entanto,
na medida em que ela aparece aqui enquanto um resultado, na apropriação feita pelos românticos já
se encontra a primeira tentativa de incorporar suas exigências últimas enquanto condicionantes do
próprio fazer filosófico, proposta esta que encontra sua forma acabada em Kierkegaard. A relação
de Kierkegaard com os românticos vai, portanto, além da crítica formal feita na sua obra O
Conceito de Ironia, onde ele repete a crítica hegeliana do formalismo subjetivista, e atinge um
patamar mais profundo na própria estruturação do fazer filosófico enquanto uma filosofia que se
apropria metodologicamente da poesia e que se imbui de uma meta-reflexividade cujos
pressupostos críticos são levados a consequências mais amplas a partir da simetria entre a dialética
kierkegaardiana e a sinfilosofia romântica.

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