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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Programa de Pós-Graduação em Avaliações e Perícias de Engenharia

Erick Wendelly Fialho Cordeiro

VALORAÇÃO DE SERVIÇOS AMBIENTAIS: CUSTO DE OPORTUNIDADE


DA CONSERVAÇÃO, APLICABILIDADE DA ABNT NBR 14.653-6:2008.

Belo Horizonte/MG
2018
Erick Wendelly Fialho Cordeiro

VALORAÇÃO DE SERVIÇOS AMBIENTAIS: CUSTO DE OPORTUNIDADE


DA CONSERVAÇÃO, APLICABILIDADE DA ABNT NBR 14.653-6:2008.

Trabalho de Conclusão do Curso de Pós-


Graduação em Avaliações e Perícias de
Engenharia da Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais – Instituto de Educação
Continuada (IEC), apresentado como requisito
parcial para obtenção do título de Especialista
em Avaliações e Perícias de Engenharia.

Orientador: Igor Almeida Fassarella

Belo Horizonte/MG
2018
RESUMO

VALORAÇÃO DE SERVIÇOS AMBIENTAIS: CUSTO DE OPORTUNIDADE


DA CONSERVAÇÃO, APLICABILIDADE DA ABNT NBR 14.653-6:2008.

O presente artigo aborda a utilização do método de custo de oportunidade, como


uma das etapas de valoração de serviços ambientais, demonstrando
inicialmente os conceitos e a importância dos serviços ambientais e sua
valoração. Sendo realizada a confrontação de informações da literatura e as
normas técnicas da série ABNT NBR 14.653. Dando destaque ao método do
custo de oportunidade da conservação, demonstrando os procedimentos
necessários para determinar quais os valores a serem pagos aos provedores de
serviços ambientais. Posteriormente, apresenta observações descritas por
profissionais da engenharia de avaliações, no tocante a situações encontradas
em diversas tipos de valorações de bens, mas que possam auxiliar na valoração
de serviços ambientais. Por fim, sugere-se a realização de estudos
complementares para identificação e análise de outras características relevantes
para valoração de serviços ambientais.

Palavras-chave: Valoração Ambiental. Pagamento de Serviços Ambientais


(PSA). Custo de Oportunidade da Conservação.
ABSTRACT

VALUATION OF ENVIRONMENTAL SERVICES: COST OF CONSERVATION


OPPORTUNITY, APPLICABILITY OF ABNT NBR 14.653-6:2008.

The methodologies to approach the use of the business opportunity method, as


one of the stages of environmental valuation, demonstrate the capacity of
concepts and the reality of environmental services and their valuation. Being a
comparison of information in the literature and as technical standards of the
series ABNT NBR 14.653. Emphasizing the savings opportunity method,
demonstrating the necessary procedures to obtain the same values as the
systems paid to environmental service providers. Present the descriptions of the
rating professionals regarding the functions in various ways of valuing assets, but
which are useful in valuing environmental services. Finally, it is suggested to carry
out complementary studies to identify and analyze other characteristics relevant
to the valuation of environmental services.

Keywords: Environmental Valuation. Payment of Environmental Services (PES).


Opportunity Costs of Conservation.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 5

2 METODOLOGIA .......................................................................................... 6

3 RECURSOS NATURAIS E AMBIENTAIS ................................................... 7

3.1 Conceito e importância ............................................................................. 7

3.2 Valoração ambiental ................................................................................. 7

3.3 Serviços Ecossistêmicos e Serviços Ambientais .................................... 10

3.4 Valorização dos Serviços Ambientais ..................................................... 12

3.5 Pagamentos de Serviços Ambientais (PSA) .......................................... 13

4 PROCEDIMENTOS PARA VALORAÇÃO DE SERVIÇOS AMBIENTAIS . 16

4.1 Procedimentos de Excelência e Atividades básicas ............................... 16

4.2 Documentação ....................................................................................... 17

4.3 Vistoria ................................................................................................... 17

4.3.1 Generalidades ..................................................................................... 18

4.4 Procedimentos metodológicos................................................................ 18

4.5 Metodologia do custo de oportunidade ................................................... 20

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 24


5

1 INTRODUÇÃO

A exploração cada vez maior de recursos naturais e ambientais, em prol


do desenvolvimento econômico, ocasiona a degradação ambiental e diminuição
da quantidade e qualidade de matérias-primas. Assim, há necessidade de se
criarem alternativas para substituir ou prolongar a disponibilidade de tais
recursos.
A busca de novas tecnologias de exploração ou maximização de recursos
naturais é constante. Porém, o período entre a criação da tecnologia e sua
implantação em larga escala demanda tempo. Logo, é crescente o número de
empresas que buscam prolongar as fontes de recursos ambientais ao máximo,
pelo melhor custo-benefício e uma das formas é através de Pagamentos de
Serviços Ambientais (PSA). Seja para compensar os impactos provocados por
suas atividades ou para preservar a fonte de um insumo utilizado na produção,
como exemplos podemos citar a recuperação da bacia hidrográfica do Rio Doce,
ocasionado pelo rompimento da barragem de rejeitos de minérios em Mariana-
MG (PSA rio Doce), e a melhoria da qualidade e quantidade de água a montante
da captação de empreendimentos que utilizam água como matéria-prima
(exemplo de PSA hídrico, implementados por companhias de abastecimento de
água).
Para que se tenha a sustentabilidade de programas de pagamentos de
serviços ambientais é primordial que haja demanda por tais serviços, e que
existam consumidores em busca de provedores de serviços ambientais. Os
provedores de serviços ambientais só serão incentivados se os valores a serem
recebidos forem mais rentáveis que a atividade atual. E os consumidores só
serão incentivados se os custos com tais programas forem menores que os
benefícios gerados pelos serviços prestados.
Para implantação de um programa de PSA, é necessário um estudo de
viabilidade com interesse em descobrir se os valores a serem remunerados aos
provedores de serviços ambientais, atendam às expectativas financeiras de
ambos os lados. Para análise do custo-benefício aos consumidores devem ser
incluídos as despesas com implantação e operação do programa além dos
valores pagos aos produtores de serviços ambientais.
6

Para a identificação dos valores a serem pagos em retribuição à prestação


de serviços ambientais devem seguir as normas de avaliação de bens da ABNT
NBR 14.653-6:2008 que descreve sobre a avaliação de recursos naturais e
ambientais. Uma das alternativas para valorar os serviços ambientais é através
do cálculo do “Custo de Oportunidade” que provém da ideia que, se um recurso
está sendo empregado em um trabalho, ele perde a oportunidade de ser
empregado em outro. No caso de um fazendeiro, por exemplo, ele possui a
oportunidade de arrendar sua terra a outra pessoa, mas escolhe perder essa
renda proveniente da atividade de arrendamento ao utilizar a terra para suas
atividades (MOTTA, 2006).
Motta (1997), relata que os custos de oportunidade da proteção ambiental
são mensurados levando-se em conta o consumo de bens e serviços que foi
abdicado, isto é, custos dos recursos alocados para investimentos e gastos
ambientais. Por exemplo, restrições ao uso da terra em unidades de
conservação impõem perdas de geração de receita, visto que atividades
econômicas são restritas in-situ.
O presente artigo tem o objetivo de apresentar conceitos, diretrizes e
informações básicas sobre a valoração ambiental pelo método do custo de
oportunidade da conservação, para se chegar a valores de remuneração pagos
aos provedores de serviços ambientais. Seguindo os procedimentos descritos
na norma NBR 14.653-6:2008.

2 METODOLOGIA

A metodologia deste trabalho compreende a análise da literatura,


legislação e normas aplicadas a recursos naturais e ambientais. Assim,
apresentou conceitos, critérios, diretrizes básicas e procedimentos relativos as
avaliações de bens presentes nas normas NBR 14.653-1:2001 - Avaliação de
Bens - Procedimentos Gerais; NBR 14.653-2:2011 - Avaliação de Bens - Imóveis
Urbanos; NBR 14.653-3:2004 - Avaliação de Bens - Imóveis Rurais, NBR 14.653-
4:2002 - Avaliação de Bens - Empreendimentos e NBR 14.653-6:2008 -
Avaliação de Bens - Recursos Naturais e Ambientais, atendendo às demais
normas e legislações pertinentes.
7

3 RECURSOS NATURAIS E AMBIENTAIS

3.1 Conceito e importância

O conceito de recurso natural apresentado pelo professor Venturi (2006),


após inúmeras análises, avaliações e ponderações desenvolvidas com seus
alunos, durante os anos de 2005 e 2006, é exposto de forma simplificada:
Recurso natural pode ser definido como qualquer elemento ou aspecto
da natureza que esteja em demanda, seja passível de uso ou esteja
sendo usado direta ou indiretamente pelo Homem, como forma de
satisfação de suas necessidades físicas e culturais, em determinado
tempo e espaço. [...] (VENTURI, 2006, p.15).

A conceituação de recursos ambientais dada pela Lei Federal nº 7.804,


de 18 de julho de 1989, é mais uma exemplificação do que propriamente um
conceito: "a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os
estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna
e a flora". Já a norma ABNT NBR: 14.653-6:2008, descreve: "é um recurso
natural necessário à existência e preservação da vida, como atmosfera, as águas
interiores, superficiais e subterrâneas, estuários, mar territorial, solo, subsolo, a
fauna e a flora".
A capacidade de recomposição de um recurso no horizonte do tempo
humano que tem sido o principal critério para a classificação dos recursos
naturais que podem ser renováveis, ou reprodutíveis, e não-renováveis, também
conhecidos como exauríveis, esgotáveis ou não reprodutíveis (SILVA, 2003).
Sabemos da importância de tais recursos ambientais para o suporte às
funções que garantem a sobrevivência das espécies, inclusive para a qualidade
de vida dos seres humanos. Porém, cada indivíduo pode atribuir um valor
diferente a um bem natural. Essa importância se traduz em valores associados
aos bens ou recursos ambientais, que podem ser valores morais, éticos ou
econômicos (ORTIZ, 2003).
3.2 Valoração ambiental

Segundo Agazzi (2017), a valoração ambiental é a aplicação da Economia


Ambiental, que surgiu em meados da década de 1970, na qual pode ser
considerada um desdobramento da Economia do Bem-estar ou "Welfare
8

Economics". A economia ambiental visa incorporar à teoria econômica assuntos


relacionados ao manejo e à proteção dos recursos naturais (BRANCO, 2015).
Para o desenvolvimento da economia do bem-estar, foi essencial o
reconhecimento da existência de condições nas quais os mercados funcionam
de forma imperfeita, ou simplesmente não existem (HADDAD, 2012).
Valorar economicamente um recurso ambiental significa determinar
quanto melhor, ou pior, ficará o bem-estar das pessoas, em função da mudança
na quantidade ou qualidade dos bens ou serviços (BRANCO, 2015). Ainda que,
o uso dos recursos ambientais não tenha seu preço reconhecido no mercado,
todo recurso ambiental tem um valor intrínseco que, por definição, é o valor que
lhe é próprio, interior, inerente ou peculiar. Seu valor econômico é atribuído à
medida que seu uso altera o nível de produção e consumo (bem-estar) da
sociedade (MOTTA, 1997; ORTIZ, 2013).
Conforme Haddad (2012), o não reconhecimento do valor de mercado dos
recursos ambientais, ou seja, as falhas de mercado, estão ligados a
externalidade e utilização de bens públicos. Segundo Motta (1997), a
externalidade ocorre quando os custos da degradação ecológica não são pagos
por aqueles que a geram, ao dizer que:
As externalidades estão presentes sempre que terceiros ganham sem
pagar por seus benefícios marginais ou percam sem ser compensados
por suportarem o malefício adicional. Assim, na presença de
externalidades, os cálculos privados de custos ou benefícios diferem
dos custos ou benefícios da sociedade (MOTA, 1997 p. 224).

As externalidades podem ser negativas ou positivas. Guedes e Seehusen


(2011) cita como exemplos de externalidades negativas os impactos da
produção de uma companhia química, cujos efluentes implicam em custos
adicionais de tratamento de água a outra empresa captadora de água em um rio.
E exemplos de externalidades positivas as ações de mitigação dos impactos das
mudanças climáticas relacionadas com a decisão de proteger ecossistemas e
evitar emissões de carbono, que geram benefícios para a comunidade global.
Os bens públicos são ignorados no mercado por não estarem totalmente
definidos e em equilíbrio. Logo, Motta (1997), descreve bens públicos como:
Aqueles bens cujos direitos de propriedade não estão completamente
definidos e assegurados e, portanto, suas trocas com outros bens
acabam não se realizando eficientemente através do mercado. Dessa
forma, o sistema de preços é incapaz de valorá-los adequadamente.
9

Um bem público pode ser aproveitado por inúmeros indivíduos ao


mesmo tempo (não-rivalidade) e uma vez que um bem público esteja
disponível, negar seu acesso a um consumidor é proibitivamente
dispendioso (não-exclusão). No outro extremo, um bem privado puro
obedece aos princípios de exclusão e rivalidade. Estes últimos tendem
a ser eficientemente produzidos pelos mercados. (MOTTA, 1997, p.
222 e 223).

Para Motta (1997), o valor econômico dos recursos ambientais é derivado


de todos os seus atributos, que podem ou não estar associados a um uso, isto
é, o consumo de um recurso ambiental se realiza via uso e não-uso.
Os fluxos de bens e serviços ambientais, derivado do consumo de um
recurso ambiental, definem seus atributos. Entretanto, existem também atributos
de consumo associados à própria existência do recurso ambiental,
independentemente do fluxo atual e futuro de bens e serviços apropriados na
forma do seu uso (MOTTA, 1997).
Motta (1997), descreve que determinar o valor econômico de um recurso
ambiental é estimar o valor monetário deste em relação aos outros bens e
serviços disponíveis na economia. Destaca ainda que alguns bens e serviços
públicos não são transacionados em mercado e, portanto, não têm preços
definidos. Sugerindo ele, há dificuldade para se valorar um recurso ambiental,
ou seja, encontrar preços de mercado (adequados ou não) que reflitam os
valores atribuídos aos recursos ambientais. Esta dificuldade é maior à medida
que passamos dos valores de uso para os valores de não-uso. A valoração dos
usos indiretos e de opção apresentam, maior dificuldade que os usos diretos
(MOTTA, 1997).
Atribuir valor monetário a um recurso ambiental ou serviço ambiental tem
diversas aplicações: valoração de danos ambientais, valoração de compensação
ambiental, avaliação de recurso mineral, entre outros. Assim, para dar
direcionamento aos procedimentos de valoração de recursos ambientais, a
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), criou a NBR - 14.653-
6:2008.
Os métodos de valoração ambiental descritos nesta norma, são usados
não somente para estimar danos ambientais, mas em análise de custos de
políticas públicas ambientais, para mensurar benefícios de projetos de
desenvolvimento, para a escolha de políticas públicas, na mensuração de
10

recursos intangíveis ou imateriais da natureza, para calcular o valor monetário


de ativos ambientais urbanos, monumentos arqueológicos e demais ativos
construídos pelo homem (MOTTA, 2011).
3.3 Serviços Ecossistêmicos e Serviços Ambientais

A Convenção sobre a Diversidade Biológica (CDB) da Organização das


Nações Unidas (ONU) define ecossistema como um “complexo dinâmico de
comunidades vegetais, animais e de micro-organismos e o seu meio inorgânico
que interagem como uma unidade funcional” (BRASIL, 1994). São exemplos de
ecossistemas: oceanos, costas, florestas, campos, manguezais, lagos, rios,
desertos, áreas de cultivo, tundras, ambientes rochosos e glaciares (GUEDES e
SEEHUSEN, 2011).
Nos ecossistemas ocorrem diversos processos naturais, que resultam das
complexas interações entre os seus componentes bióticos (organismos vivos) e
abióticos (componentes físicos e químicos) por meio das forças universais de
matéria e energia. Esses processos naturais garantem a sobrevivência das
espécies no planeta e têm a capacidade de prover bens e serviços que
satisfazem necessidades humanas direta ou indiretamente (GUEDES e
SEEHUSEN, 2011).
Dentre as definições mais conhecidas de serviços ecossistêmicos a de
Daily (1997), descreve como:
As condições e os processos através dos quais os ecossistemas
naturais e suas espécies sustentam e satisfazem a vida humana. Os
serviços ecossistêmicos mantêm a biodiversidade e a produção de
bens ecossistêmicos, tais como fibras, alimentos, madeira, produtos
farmacêuticos, combustível, entre outros (DAILY, 1997, p. 3).

Costanza et al. (1997) ao descrever as funções do ecossistema, trata os


bens e serviços ecossistêmicos de maneira conjunta:
As funções do ecossistema referem-se de forma variada ao habitat, às
propriedades biológicas ou do sistema ou aos processos dos
ecossistemas. Bens ecossistêmicos (como alimentos) e serviços
(como a assimilação de resíduos) representam os benefícios que as
populações humanas obtêm, direta ou indiretamente, das funções do
sistema. Por simplicidade, nos referiremos aos bens e serviços
ecossistêmicos juntos como serviços ecossistêmicos (COSTANZA et
al., 1997, p. 253).

No entanto, o conceito de serviços ecossistêmicos comumente utilizado


foi estabelecido pela Avaliação Ecossistêmica do Milênio (AEM), na qual, "os
11

serviços ecossistêmicos são os benefícios que as pessoas obtêm dos


ecossistemas" (ALCAMO et al., 2003, p. 55, apud ALACON, 2014). Born (2016),
exemplifica, tais serviços como ciclo de nutrientes, equilíbrio do clima e da
temperatura, fluxo de águas, processos de formação e retenção do solo,
produção primária de biomassa, equilíbrio do sistema ecológico etc.
Além da conceituação a AME define quatro categorias de serviços
ecossistêmicos, baseadas nas características de funcionalidade dos
ecossistemas, são eles (ALCAMO et al., 2003):
 os serviços de provisão (incluem os bens ecossistêmicos – fibras,
água, recursos genéticos, combustível, alimentos, etc.);
 os serviços de regulação (manutenção da qualidade da água,
regulação da temperatura e da água, controle da erosão, controle de
pragas, polinização, entre outros);
 os serviços culturais e estéticos (valores espirituais, religiosos e
estéticos, diversidade cultural, recreação, ecoturismo, entre outros);
 os serviços de suporte, que são considerados como a base para a
produção dos demais (formação do solo, produção primária, provisão
de hábitat, ciclagem de nutrientes, etc.).
O termo "serviços ambientais", na literatura é utilizado frequentemente
como sinônimo de serviços ecossistêmicos. Porém, há diferenças (ALACON,
2014; BORN, 2016), Koellner (2010 apud ALACON, 2014) sugere que o termo
"serviços ambientais" seja adotado para aqueles serviços produzidos pelo
homem, os quais podem parcialmente substituir os serviços ecossistêmicos. E
Tôsto et al. (2012 apud BORN, 2016) descreve que:
Os serviços ambientais relacionam-se com atividades humanas de
gestão, modificação e recuperação de ambientes naturais ou
antropizados, tais como replanto de vegetação ciliar, cercamento de
áreas de nascentes, práticas de controle de erosão na agricultura,
nesse caso com vistas, por exemplo, à lixiviação do solo e
assoreamento de cursos de água (TÔSTO et al, 2012 apud BORN,
2016 p.3).

Muradian et al. (2010) consideram os serviços ecossistêmicos como uma


subcategoria dos serviços ambientais, onde, os serviços ecossistêmicos estão
relacionados apenas aos benefícios providos pelos ecossistemas naturais,
enquanto os serviços ambientais incluem também os benefícios associados aos
12

diferentes tipos de ecossistemas manejados pelo homem, como práticas


agrícolas sustentáveis e paisagem rurais.
3.4 Valorização dos Serviços Ambientais

Como já descrito, os serviços ambientais são de suma importância para a


conservação ou recuperação de ecossistemas, que serão utilizados direta ou
indiretamente na qualidade de vida humana, atual e futura.
A conservação de florestas, rios, lagos, oceanos implicam em custos que
devem ser mensurados para permitir a divisão entre os diversos agentes que
usufruem destes benefícios. Ou seja, a atividade de conservação traz consigo
um custo de oportunidade das atividades econômicas que poderiam estar sendo
desenvolvidas nas áreas protegidas (BRANCO, 2015).
Deve-se gerenciar os bens e recursos (naturais e ambientais) com uma
visão futura de retorno, ou seja, o custo-benefício de conservar/recuperar, em
detrimento da falta de tais recursos ou aos custos para a sua substituição.
Costanza (1997), relata que apenas nos momentos de crise valoramos os
serviços ecossistêmicos:
Mudanças na qualidade ou quantidade de serviços ecossistêmicos têm
valor na medida em que modificam os benefícios associados às
atividades humanas ou alterem os custos dessas atividades. Estas
mudanças nos benefícios e custos têm um impacto no bem-estar
humano através de mercados estabelecidos ou através de atividades
não mercantis (COSTANZA, 1997, p. 255).

Motta (1997), destaca que a gestão, independente da forma, a ser


desenvolvida seja por governos, organizações não-governamentais, empresas
ou mesmo no grupo familiar, o gestor terá que equacionar o problema de alocar
um orçamento financeiro limitado frente a inúmeras opções de gastos que visam
diferentes opções de investimentos ou de consumo.
Para Motta (1997), o valor econômico total dos serviços ambientais não
se limita aos valores relacionados ao custo de oportunidade da conservação.
Devem ser incluídos os custos associados ao investimento, manutenção e
operação das ações para a proteção ambiental (gastos de proteção), visto que
os programas de PSA demandam recursos que poderiam estar sendo utilizados
em outras atividades pelos consumidores. Sendo relevante discriminar os custos
13

de oportunidade e os gastos de proteção por agentes envolvidos (MOTTA,


1997).
Pearce e Turner (1990, apud ALARCON, 2014), definem os tipos de
valores relacionados aos bens e serviços providos pelo ecossistema em: valor
de uso direto, valor de uso indireto, valor de opção e valor de existência. Pagiola
(2006) demonstra através da Figura 1 que o valor econômico total de um serviço
ambiental é a soma dos valores de usos (direto e indireto) e do valor de não uso,
que incluem os valores de existência e valores de opção.

Figura 1: Esquema de Pagamento por Serviços Ambientais. Fonte: Pagiola (2006) (versão
português, 2011).

Uma das finalidades de se valorar os serviços ambientais, está


relacionada a implantação de Programas de Pagamento de Serviços Ambientais.
Programas que visam a remuneração de conservação de serviços
ecossistêmicos preservados ou ameaçados pela ação humana.
3.5 Pagamentos de Serviços Ambientais (PSA)

Klemz et al. (2017) descrevem que o "PSA é um instrumento econômico


que busca recompensar todo aquele que, em virtude de suas práticas de
conservação, proteção, manejo e recuperação de ecossistemas, mantém ou
incrementa o fornecimento de um serviço ecossistêmico (benefícios providos
pela natureza)".
Desde 2004, Forest Trends monitora a situação global dos arranjos de
pagamento e compensação por serviços ambientais, através de uma iniciativa
chamada “Matriz Global de Serviços Ecossistêmicos”.
14

A Matriz ajuda a visualizar e acompanhar, de forma simples e direta, as


tendências globais e regionais dos mercados de serviços ambientais. Conforme
a Matriz Brasileira para Serviços Ecossistêmicos 2015, elaborada pela Forest
Trends (2015), os serviços ambientais que geram maior interesses em
esquemas de PSA, são classificados em quatro modalidades: carbono, hídrico,
biodiversidade e múltiplo. É possível citar diversas iniciativas de PSA no país
conforme Quadro 1.
Quadro 1 - Exemplos de Programas de Pagamentos de Serviços Ambientais no Brasil*.
Modalidades Programas
 Projeto MDL de Reflorestamento no Estado de São Paulo da AES
Tietê.
 Restauração do sistema de abastecimento de água da Cantareira:
Iniciativa de Carbono, Comunidade e Biodiversidade.
PSA Carbono  Projeto de Redução de Emissões de GEE Provenientes do
Desmatamento da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do
Juma, Amazonas.
 Projeto Alto Vale do Itajaí: Mecanismo de carbono modelo para
Mata Atlântica.
 Oasis.
 Produtor de Água no Guandú.
PSA Hídrico  Programa Reflorestar - Programa Capixaba de Ampliação da
Cobertura.
 Florestal.
 Projeto Corredor Tingua Bocaina.
 Projeto restaurando o habitat do Muriqui.
 Adoção de Parques Parque Nacional Lençóis Maranhenses.
PSA Biodiversidade
 Florestas de Mangue.
 Agroextrativistas Garantindo seu Território: Reservas
Extrativistas no Cerrado.
 PSA rio Doce.
 Projeto Verde Novo.
PSA Múltiplo
 Sentinelas da Floresta.
 Projeto Ilhas Verdes.
Fonte: Informações coletadas no site (http://brazil.forest-trends.org/), Forest Tends.

Branco (2015), relata que na prática, programas de PSA não envolvem


exclusivamente transações financeiras. A essência de um projeto deste tipo é a
transferência de incentivos positivos, sejam eles financeiros ou não, e que
possam envolver outras motivações, como a solidariedade e o altruísmo
(SOMMERVILLE, 2009 apud BRANCO, 2015).
Os benefícios ambientais promovidos pela prestação de serviços
ambientais não são possíveis de serem mensurados (quantificados) previamente
ou em curto período de tempo devido às características intrínsecas do local e a
nível de degradação inicial. Neste sentido, a consolidação de um sistema de PSA
15

não requer uma valoração econômica completa dos serviços ambientais


(benefícios dos pagadores), nem uma análise dos retornos financeiros dos usos
da terra alternativos (custos de oportunidade dos provedores) (BRANCO, 2015).
Essas valorações podem ser úteis no processo de negociação do preço a
ser pago. Entretanto, qualquer preço que seja negociado entre as partes de
forma voluntária e consciente, pode ser entendido como valor de mercado se
houver fonte de financiamento suficiente para manter o sistema de PSA
operando (WUNDER e WERTZ-KANOUNNIKOFF, 2009 apud BRANCO, 2015).
Os valores atribuídos a remuneração pelos serviços ambientais, é
dependente de condicionalidades impostas aos provedores de serviços
ambientais. As condicionalidades são utilizadas como método central para
motivar a prestação de serviços, pois cria uma consequência para quem não
fornecer o serviço. Seu uso também torna a definição do serviço, o regime de
monitoramento e a imposição explícita ao comprador e ao provedor de serviços
(SOMMERVILLE, 2009).
Na Figura 2 é apresentado o Fluxo de Desenvolvimento e
Implementação de Projetos de PSA, seguindo pelo Programa de PSA Oásis.
Para se chegar a fase de desenho técnico do projeto é de suma importância que
já se conheça as fontes pagadoras (consumidores) de serviços ambientais.

Figura 2: Fluxo de Desenvolvimento e Implementação de Projetos de PSA. Fonte: Grupo


Boticário.
16

A fase de desenho técnico compreende a identificação e caracterização


das áreas de projeto, identificação dos serviços ambientais possíveis de serem
remunerados e a valoração propriamente dita de tais serviços.
Assim passaremos a analisar os procedimentos necessários para
valoração de serviços ambientais conforme a NBR 14.653-6:2008. Onde busca-
se conhecer no mercado de serviços ambientais, quais são os serviços possíveis
de serem executados, quem são os possíveis provedores, e quem são os
consumidores. Vale destacar que se não houver demanda (consumidores) não
se justifica o PSA, o programa não se sustenta.

4 PROCEDIMENTOS PARA VALORAÇÃO DE SERVIÇOS AMBIENTAIS

4.1 Procedimentos de Excelência e Atividades básicas

Lima (2011), destaca que os procedimentos de excelência se referem


basicamente à Ética profissional, quando remete à capacitação, sigilo,
propriedade intelectual, interesses, independência, competição e difusão de
conhecimento. Itens estes que devem ser observados pelo profissional da
engenharia de avaliação para que seu trabalho seja respeitado. Esse profissional
da engenharia de avaliações deve adotar os procedimentos descritos nos
subitens de 6.1 a 6.7 da NBR 14.653-1:2001.
No campo da ética profissional é possível destacar também que a norma
recomenda que os profissionais, ao serem contratados ou designados para
valoração ambiental, levem em conta o caráter transdisciplinar do trabalho,
assessorando de especialistas nas diversas áreas pertinentes (subitem 7.1 da
ABNT NBR 14.653-6:2008).
Os esclarecimentos preliminares ao processo de valoração ambiental de
serviços ambientais, compreendem identificar finalidade, objetivo, prazo de
apresentação do laudo, e demais condições propostas pelo contratante. Como
exemplo de finalidade temos os custos de oportunidade da proteção ambiental
ou compensação de danos ambientais, e como objetivos têm-se de identificar a
viabilidade de implantação de um programa de PSA (o custo total de implantação
de um programa de PSA) ou apenas identificar o valor a ser pago aos provedores
de serviços.
17

4.2 Documentação

É recomendável que, ao iniciar o procedimento de avaliação, a primeira


providência do engenheiro de avaliações, seja tomar conhecimento da
documentação disponível (subitem 7.1 da ABNT NBR 14.653-1:2001). A
documentação apresentada pela contratante é de suma importância para
determinar as ressalvas relativas ao método avaliatório e o grau de precisão,
principalmente em se tratando de prazos de entrega do laudo.
Para agilidade da valoração ambiental é de suma importância que estudos
prévios estejam disponíveis, como exemplo: Planos Municipais de Saneamento
Básico, Plano de Ação de Recursos Hídricos de Bacias Hidrográficas, Lei de Uso
e Ocupação do Solo, Censo Agropecuário, entre outros. Todas essas
informações servirão como ponto de partida, mas que deverão ser verificadas
nas etapas seguintes com a realização da vistoria.
Na impossibilidade do contratante ou interessado fornecer toda a
documentação necessária ou esclarecer eventuais incoerências, o profissional
da engenharia de avaliações deverá julgar sobre a possibilidade de elaborar a
avaliação. Em caso positivo, deverá deixar claramente expressas as ressalvas
relativas à insuficiência ou incoerência da informação, bem como os
pressupostos assumidos em função dessas condições (subitem 7.2 da ABNT
NBR 14.653-1:2001).
4.3 Vistoria

O subitem 7.3 da ABNT NBR 14.653-1:2001, determina que nenhuma


avaliação poderá prescindir da vistoria. Contudo a valoração ambiental para fins
de PSA, podem envolver área de dimensões variadas, desde uma bacia
hidrográfica, município(s), estado(s), bioma, ou até mesmo um país. Por tanto,
tratam-se de casos excepcionais, admitindo-se a adoção de situações
paradigmas, desde que acordada entre as partes e explicitada no laudo.
Devemos destacar que a vistoria é de suma importância para verificar a
veracidade dos dados descritos nos documentos apresentados pela contratante.
18

4.3.1 Generalidades

Com base em estudos prévios e vistoria, recomenda-se apresentar a


caracterização da região onde se situa o recurso natural ou ambiental (subitem
7.4.2 da ABNT NBR 14.653-6:2008): aspectos gerais, aspectos ambientais,
localização, infraestrutura pública e aspectos econômicos.
Todas essas informações servirão como ponto de partida para as
próximas etapas, inclusive para a identificação dos serviços ambientais a serem
valorados.
A etapa de caracterização do bem, compreende a identificação de
propriedades que serão propriamente afetadas pelos serviços ambientais. Ao
considerar que os programas de PSA já implementados, fazem contratos
individuais com proprietário ou posseiro dos imóveis que tenham interesse (de
forma voluntária) e capacidade de prestar serviços ambientais. Assim pode-se
criar situações paradigmas de propriedades rurais com características
semelhantes aos imóveis a serem atendidos pelo programa de PSA. Tais
situações paradigmas devem representar as características dos imóveis da
região em estudo, conforme subitem 7.4.3 da ABNT NBR 14.653-6:2008: tipo de
atividade, localização, dimensões, limites, confrontações, atividade econômica
atual e potencial, bem como os condicionantes legais, infraestrutura disponíveis,
características ambientais e estado de preservação, estado de conservação ou
nível de degradação ambiental.
4.4 Procedimentos metodológicos

A metodologia a ser aplicada na avaliação de um bem é função,


basicamente, da natureza do bem avaliando, da finalidade da avaliação e da
disponibilidade, qualidade e quantidade de informações colhidas no mercado. A
sua escolha do método técnico a ser utilizado deve ser justificada e ater-se ao
estabelecido na parte 1 da ABNT NBR 14.653, bem como nas demais partes (2
a 7) que compõem série da ABNT NBR 14.653, com o objetivo de retratar o
comportamento do mercado por meio de modelos que suportem racionalmente
o convencimento do valor (subitem 8.1.1 da ABNT NBR 14.653-1:2001).
As partes de 1 a 7 da ABNT NBR 14.653 se aplicam a situações normais
e típicas do mercado. Em situações atípicas, onde ficar comprovada a
19

impossibilidade de utilizar as metodologias previstas, é facultado ao profissional


de engenharia de avaliações o emprego de outro procedimento, desde que
devidamente justificado (subitem 8.1.2 da ABNT NBR 14.653-1:2001).
O subitem 8.1.2 da ABNT NBR 14.653-6:2008, destaca que sempre que
os recursos naturais e ambientais se assemelharem aos bens comuns e
possuírem mercado, pode ser utilizado o método comparativo direto de dados
de mercado e seguidas as prescrições para este, o qual consta na ABNT NBR
14.653-2:2011. Já o subitem 8.1.3 da mesma norma descreve que se os
recursos naturais e ambientais puderem ser objetos de exploração econômica
assemelhada à de um empreendimento, como o caso de recursos minerais, pode
ser utilizado o método da capitalização da renda e seguidas as prescrições que
consta na ABNT NBR 14.653-4:2002.
E, nos demais casos, devem ser utilizados os métodos descritos no
subitem 8.4 da ABNT NBR 14.653-6:2008, que representa o estado da arte da
valoração ambiental.
Os métodos de custos de reposição, custos de relocação, custos
defensivos ou de proteção evitados, e os custos de controle evitados (subitens
8.6.1.1 a 8.6.1.4 da ABNT NBR 14.653-6:2008), quando cabíveis, podem ser
utilizados, os procedimentos expostos em 8.3 da ABNT NBR 14.653-1:2001.
Já o método do custo de oportunidade, descrito em 8.7.1 da ABNT NBR
14.653-6:2008, pode ser considerado como caso particular dos métodos para
identificar indicadores de viabilidade da utilidade, descrito em 8.4 da ABNT NBR
14.653-1:2001, com respeito aos recursos ambientais. Recomenda-se observar
também o descrito em 8.3 da ABNT NBR 14.653-4:2002, que trata de
indicadores de viabilidade econômica de empreendimentos.
A escolha do método depende do objetivo da valoração, das hipóteses
assumidas, das disponibilidades de dados e do conhecimento da dinâmica
ecológica do bem a valorar (NBR 14.653-6:2008).
Cada método apresenta limitações (metodológica e de informações
disponíveis) associadas ao objetivo e à fundamentação da valoração, às
hipóteses sobre o comportamento do consumidor e aos efeitos do consumo
ambiental em outros setores da economia, o que leva à necessidade de explicitar
20

claramente no laudo os fatores limitantes e os pressupostos assumidos na


valoração (NBR 14.653-6:2008).
Diferentemente de avaliações de bens como imóveis urbanos e rurais,
para avaliação de bens naturais não é possível estabelecer, a priori, a
prevalência de um método em relação a outro. Porém, sempre que os recursos
naturais e ambientais se assemelharem aos bens comuns e possuírem mercado,
pode se usar o método comparativo direto de dados de mercado constantes na
ABNT NBR 14.653-2:2011. E, no caso de tais recursos ambientais puderem ser
objeto de exploração econômica assemelhando a um empreendimento pode ser
utilizado o método de capitalização da renda conforme ABNT NBR 14.653-
4:2004.

4.5 Metodologia do custo de oportunidade

A metodologia predominantemente adotada nos programas de PSA, para


se determinar ao valor das remunerações aos provedores de serviços
ambientais é o custo de oportunidade de uso da terra (GUEDES e SEEHUSEN,
2011; PAGIOLA, et al., 2013; ALARCON, 2014; BRANCO, 2015). Este método
mensura as perdas de renda nas restrições da produção e consumo de bens e
serviços privados devido às ações para conservar ou preservar os recursos
ambientais (MOTTA, 1997).
Conforme Motta (1997) e a ABNT NBR 14.653-6:2008, o custo de
oportunidade da conservação na realidade não se propõe a valorar diretamente
o recurso ambiental, mas sim o custo de sua conservação, por meio da
mensuração do custo de oportunidade de atividades econômicas restringidas
pelas ações de proteção ambiental, considerados os benefícios econômico-
ecológicos da conservação. Assim, uma análise de custo-benefício poderia ser
realizada comparando os valores estimados dos recursos ambientais com o
custo de oportunidade das atividades econômicas restringidas.
A ABNT NBR 14.653-1:2001 descreve que os procedimentos avaliatórios
usuais com a finalidade de determinar indicadores de viabilidade da utilização
econômica de um empreendimento são baseados no seu fluxo de caixa
projetado, a partir do qual são determinados indicadores de decisão baseados
21

no valor presente líquido, taxas internas de retorno, tempos de retorno, entre


outros.
Ao se tratar de áreas de pastagem, pode ser utilizado o valor presente
líquido dos valores médios regionais de arrendamento de pastagens nas
mesmas condições, deduzindo os custos diretos e indiretos, inclusive o custo da
terra, conforme proposto no subitem 10.3.3.1 da ABNT NBR 14.653-3:2004.
Para se valorar os serviços ambientais, é primordial a utilização de
métodos descritos em outras partes da ABNT NBR 14.653, conciliar métodos
conforme as informações disponíveis no mercado como exemplos é possível
citar 7 situações.
1) Na avaliação de custo de oportunidade da conservação para se
implantar uma unidade de conservação, a renda líquida abdicada pela restrição
destas atividades é uma boa medida.
Assim, é possível avaliar as áreas de pastagem, por meio do custo de
formação ou o custo de arrendamento médio regional da pastagem.
2) A valoração da terra nua, onde pode-se considerar as classes de
capacidade de uso da terra proposto por Lepsch (1983), e desconsiderar a atual
utilização do solo.
3) A avaliação de viabilidade técnica de um empreendimento, onde devem
ser propostos cenários viáveis. Logo, devem ser levantados os passivos
ambientais, como ocupação irregular de áreas de Reserva Legal (RL), áreas de
preservação permanente (APP) e leis de usos e ocupação do solo.
Segundo Lima (2011, p. 59-60), "em uma propriedade em que a legislação
ambiental é respeitada existirá uma área de RL; o simples enquadramento das
terras sob esta reserva serem classificadas como VIII é o mesmo que penalizar
quem cumpre a lei”. Assim sendo, o correto deve ser a classificação das terras
ocupadas por reservas legais, reservas particulares ou áreas de preservação
permanente, devem receber o mesmo tratamento, tanto nos dados da pesquisa
quanto no imóvel a ser avaliado (como variável, por exemplo). Na falta desta
informação na pesquisa, estas áreas não devem ser classificadas como Classe
VIII e sim como terras sem cobertura vegetal, como determina o manual
respectivo (LEPSCH 1983; LIMA, 2011).
22

Outro exemplo, apresentado por Motta (1997), em se tratando de


legislação ambiental é o caso do Parque Nacional Tailandês Khao Yai. Neste é
proibida à população local de fazer uso dos recursos da área. Apesar de ser
proibida a caça de animais, a derrubada de árvores e a coleta de plantas, todas
estas atividades são amplamente praticadas. Um levantamento realizado na
região mostrou que 61% de seus moradores reconhecem que suas rendas não
são suficientes para a manutenção da família, sendo necessária sua
complementação através de usos ilegais do parque. O atual custo de
oportunidade para a população, em termos de alternativas perdidas devido à
preservação, seria o valor do uso, caso não houvesse regulamentação alguma,
menos o valor da atual utilização que é realizada ilegalmente, caso muito comum
no Brasil.
4) Para determinar o valor econômico total dos serviços ambientais
devemos somar: os custo de oportunidade de uso da terra, os custos associados
aos investimentos, manutenção e operação das ações para a proteção ambiental
(gastos de proteção), visto que demandam recursos que poderiam estar sendo
utilizados em outras atividades. Nesse sentido, Motta (1997) diz:
É relevante discriminar os custos de oportunidade e os gastos de
proteção por agentes envolvidos. Para tal, a seguir estão sugeridas
algumas formas:
(i) custos de oportunidade sustentado por classes de renda ou setores
econômicos;
(ii) custos de oportunidade associados à receita fiscal perdida pelos
governos local e central;
(iii) gastos de conservação incorridos pelos governos central e local; e
(iv) gastos de conservação incorridos pelas agências ambientais e
proprietários privados da área do sítio natural.
Note que os custos discriminados não são mutuamente exclusivos e
seus valores não devem ser somados. Discriminações (i) e (ii) assim
como (iii) e (iv) podem ser parte integrante uma da outra, apesar de
serem medidas distintas. O objetivo principal aqui é representar os
custos incorridos pelos diferentes agentes envolvidos com a proteção
ambiental para auxiliar no processo político de definição de prioridades,
como foi mencionado na análise de custo-benefício (ACB) (MOTTA,
1997, p. 8).

5) Valoração ambiental para estimar valores para PSA, Young (2016), ao


propor uma valoração de serviços ambientais para todos os municípios
brasileiros apresentou os três modelos alternativos para estimativa do custo de
oportunidade de terras, elaborados com intuito de calcular o valor médio (por
hectare) da renda agropecuária sacrificada em razão da conservação.
23

Young (2016) encontrou limitações para se trabalhar com dados


referentes ao preço da terra, ao valor de arrendamento de propriedades, à
rentabilidade de diversas culturas agrícolas, bem como para a silvicultura e
pecuária. As limitações incluindo a baixa amostragem, descontinuidade da série
histórica, má estimação ou mesmo a inexistência de informações para uma
grande parcela do território nacional.
Por isso, a introdução de critérios qualitativos para a definição de metas
de áreas prioritárias para a implementação de PSA deve levar em consideração
outros critérios além do custo, por exemplo o cumprimento de metas
estabelecidas aos provedores (condicionalidades) (YOUNG, 2016).
7) Não é possível estimar os benefícios da restauração/recomposição de
uma área em curto período. Portanto, não se pode valorar os serviços ambientais
por meio de estimativas de custos associados aos danos da não conservação
de tais recursos ambientais. Logo, restando apenas fazer o monitoramento das
ações propostas para cada provedor, e pagar proporcionalmente ao que for
cumprido do projeto.
O custo de oportunidade da terra refere-se ao valor sacrificado (em termos
monetários) pela desistência da utilização das terras em atividades
agropecuárias em favor da sua conservação para a manutenção dos serviços
ecossistêmicos. Isto é, trata-se da renda mínima que o proprietário rural está
disposto a receber para conservar as áreas de remanescentes florestais ou
regenerar vegetação nativa em sua propriedade (Young & Bakker, 2015).
Young (2016) relata um caráter voluntário intrínseco aos programas de
Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), diferentemente do que se observa
para as políticas de comando e controle. Se a transferência de recursos aos
proprietários de terras em contrapartida da produção dos serviços
ecossistêmicos for pelo menos igual ao custo de oportunidade, pode-se garantir
que, do ponto de vista do interesse privado, tais agentes estarão indiferentes
entre conservar suas propriedades ou convertê-las para o uso agropecuário.
Deste modo, não é o bem-estar privado que justifica a adoção dos programas de
PSA, mas sim, os ganhos de bem-estar coletivo em função da manutenção dos
bens e serviços ambientais, sabendo que a disponibilidade dos mesmos é capaz
de impactar a utilidade e função de produção dos agentes econômicos.
24

Vale ressaltar a necessidade de apresentar no laudo de valoração


ambiental conforme o item 10 da ABNT NBR 14.653-6:2008. E, se forem
utilizados procedimentos ou métodos contemplados nas partes 2, 3 e 4 da ABNT
NBR 14.653 é obrigatório a apresentação dos graus de fundamentação e
precisão da valoração.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando existir uma considerável quantidade e variabilidade de programas


de PSA implementados, será possível realizar a valoração ambiental dos
serviços ambientais por meio do método comparativo direto de dados de
mercado, uma vez que o mercado já estará estabelecido, identificando assim as
diferentes variáveis que compõem o valor.
Para que seja proposto um Programa de PSA, é necessário verificar os
modelos já existentes, analisar programas já implantados com a finalidade de
identificar os pontos de sucesso e fracasso para que sejam mantidos ou
corrigidos.
Outra questão refere-se ao Projeto de Lei n.º 312/2015, instituição da
Política Nacional de Pagamento de Serviços Ambientais, sendo importante a
contribuição do conhecimento técnico dos membros do Instituto Brasileiro de
Avaliação e Perícias de Engenharia (IBAPE), em tais discussões.
Outro ponto importante a ser destacado é a criação e/ou fortalecimento
das Câmaras Técnicas Ambientais, nos IBAPEs, a exemplo do IBAPE-SP.
Por fim, sugere-se o aprofundamento de outras características de
interesse nas vistorias de imóveis urbanos, que porventura possam ser
identificadas, testadas e admitidas estatisticamente.
25

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