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Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

VISÃO 2030
O Futuro da Agricultura Brasileira

Embrapa
Brasília, DF
2018
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas


Parque Estação Biológica (PqEB)
Av. W3 Norte (Final)
CEP 70770-901 Brasília, DF
Fone: (61) 3448-1795
www.embrapa.br
www.embrapa.br/fale-conosco/sac

Coordenação técnico-científica
Édson Luis Bolfe (Coordenador)
Silvia Kanadani Campos, Marcos Antonio Gomes Pena Júnior, Elisio Contini, Renato de Aragão Ribeiro Rodrigues,
Carlos Augusto Mattos Santana, Daniela Biaggioni Lopes, Giani Tavares Santos da Silva, Gilmar Paulo Henz,
Jefferson Luis da Silva Costa, Judson Ferreira Valentim, Lívia Abreu Torres, Lúcio Brunale, Marisa Prado Gomes,
Roberta Dalla Porta Gründling, Virgínia Gomes de Caldas Nogueira

Responsável pela edição


Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas

Supervisão editorial
Silvia Kanadani Campos
Marcos Antonio Gomes Pena Júnior
Édson Luis Bolfe

Revisão de texto
Jane Baptistone de Araújo

Normalização bibliográfica
Rejane Maria de Oliveira
Márcia Maria Pereira de Souza (CRB 1441)

Projeto gráfico e diagramação


Caiê Turra Araujo

Todos os direitos reservados.


A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui
violação dos direitos autorais (Lei nº 9.610).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Embrapa

Embrapa.
Visão 2030 : o futuro da agricultura brasileira. – Brasília, DF : Embrapa, 2018.
212 p. : il. color. ; 18,5 cm x 25,5 cm.

ISBN 978-85- 7035-799- 1

1. Desenvolvimento agrícola. 2. Desenvolvimento econômico. 3. Agroindústria. 4. Políticas públicas. 5. Cadeia


produtiva. 6. Agricultura sustentável. I. Agropensa – Sistema de Inteligência Estratégica da Embrapa. II. Título.

CDD 630.72
Rejane Maria de Oliveira (CRB 1/2913) © Embrapa, 2018
Colaboradores

Alberto Roseiro Cavalcanti Daniela Tatiane de Souza Gilceana Soares Moreira Galerani
Alexandre Camargo Coutinho Daniella Lopes Marinho de Araujo Gilmar Paulo Henz
Alexandre Costa Varella Danielle Alencar Parente Torres Gilmar Souza Santos
Alexandre da Silva Resende Debora Pignatari Drucker Giovanni Rodrigues Vianna
Alexandre de Oliveira Barcellos Ederson Jesus Guilherme Cunha Malafaia
Alexandre Hoffmann Edilson Batista de Oliveira Guilherme Julião Zocolo
Alexandre Lima Nepomuceno Edméia Leonor Pereira de Andrade Gustavo Barbosa Mozer
Alexandre Morais do Amaral Edna Maria Morais Oliveira Gustavo Porpino de Araújo
Alitiene Moura Lemos Pereira Edina Regina Moresco Gustavo Ribeiro Xavier
Amaury da Silva dos Santos Ednaldo José Ferreira Guy de Capdeville
Ana Cristina Miranda Brasileiro Edson Eyji Sano Haron Abrahim Magalhães Xaud
Ana Lúcia Atrasas Édson Luis Bolfe Helano Póvoas de Lima
Ana Paula Dionisio Eduardo Caputi Henriette M. Cordeiro de Azeredo
André Luis da Silva Lopes Eduardo da Silva Matos Hercules Antônio do Prado
André May Eduardo Delgado Assad Hugo Bruno Correa Molinari
Angela Mehta dos Reis Eduardo Francia C. Campello Humberto Bizzo
Antonio Flávio Dias Ávila Eduardo Romano de Campos Pinto Humberto de Mello Brandão
Apes Roberto Falcão Perera Elaine Cristina Cardoso Fidalgo Idésio Luis Franke
Ariovaldo Luchiari Junior Élen Silveira Nalerio Ieda de Carvalho Mendes
Áurea Fabiana A. de Albuquerque Eliane Maria Ribeiro da Silva Iêdo Bezerra Sá Irineu Lorini
Austeclinio Lopes de Farias Neto Eliane Gonçalves Gomes Isabel Rodrigues Gerhardt
Beata Emoke Madari Elibio Leopoldo Rech Filho Isaque Vacari
Bruno dos Santos Figueiredo Brasil Eliseu Alves Ítalo Moraes Rocha Guedes
Bruno Galveas Laviola Elisio Contini Ivanildo Evódio Marriel
Bruno José Rodrigues Alves Eric Arthur Bastos Routledge Ivar Wendling
Camilo Carromeu Erich Gomes Schaitza Ivo Baldani
Carlos Alberto Arrabal Arias Esdras Sundfield Ivo Pierozzi Junior
Carlos Alberto Barbosa Medeiros Estefania Damboriarena Jalusa Deon Kich
Carlos Alberto da Silva Evandro Vasconcelos Holanda Junior Jamilsen de Freitas Santos
Carlos Augusto Mattos Santana Evaristo Eduardo de Miranda Janice Reis Ciacci Zanella
Carlos Bloch Júnior Fabiano Mariath Jayme Garcia Arnal Barbedo
Carlos Eduardo Pacheco Lima Fábio Gelape Faleiro Jean Luiz Simões de Araujo
Carlos Estevao Leite Cardoso Falberni de Souza Costa Jeanne Scardini Marinho Prado
Cauê Ribeiro de Oliveira Felipe Rodrigues da Silva Jefferson Luis da Silva Costa
Celso Luiz Moretti Fernanda Muniz Junqueira Ottoni Jerri Edson Zili
Celso Vainer Manzatto Fernanda L. de Almeida O´Sullivan Joanicy Maria Brito Goncalves
Christian Luiz da Silva Fernando Antonio Araújo Campos João Carlos Garcia
Christiane Abreu de Oliveira Paiva Fernando do Amaral Pereira João Flávio Veloso Silva
Claudia Regina de Laia Machado Fernando Flores Cardoso João Henrique Figueredo
Claudio Takao Karia Fernando Luis Garagorry Cassales João Ricardo Moreira de Almeida
Cleber Soares Fernando Mendes Lamas Joelsio José Lazzarotto
Clênio Nailto Pillon Fernando Rodrigues Teixeira Dias Jorge Antonio Ferreira de Lara
Clovis Oliveira de Almeida Flávio Ávila Jorge Duarte
Cynthia Cury Frederico de Pina Matta Jorge Enoch Furquim Werneck Lima
Daniel de Castro Victoria Geraldo Bueno Martha Júnior Jorge Madeira Nogueira Junior
Daniel Medeiros Geraldo da Silva e Souza José Antonio Azevedo Espindola
Daniela Biaggioni Lopes Giampaolo Q. Pellegrino José Luiz Bellini Leite
Daniela Matias de Carvalho Bittencourt Giani Tavares Santos da Silva Jose da Silva Souza
José Fernando da Silva Protas Marcos Cezar Visoli Renata Avilla Paldes
José Mauro Ávila Paz Moreira Marcos Renato de Andrade S. Esteves Renata Bueno Miranda
José Rodrigo Pandolfi Marcos Flávio Silva Borba Renato Cristiano Torres
Juan Diego Ferelli de Souza Maria Angelica de Andrade Leite Renato Cruz Silva
Juarez Campolina Machado Maria Conceição Peres Young Pessoa Renato da Cunha Tardin Costa
Judson Ferreira Valentim Maria de Lourdes M. Santos Brefin Renato de Aragão Ribeiro Rodrigues
Julio Carlyle Macedo Rodrigues Maria do Carmo Ramos Fasiaben Renato Linhares de Assis
Júlio César Dalla Mora Esquerdo Maria do Rosário Lobato Rodrigues Renner Marra
Julio Ferraz de Queiroz Maria E. F. Correia Ricardo Augusto Dante
Júnia Rodrigues de Alencar Maria Fernanda Moura Ricardo Borghuesi
Jurema Iara Campos Maria Lúcia Simeone Ricardo Lopes
Juscimar da Silva Maria Ortiz A. Baptista Portes Ricardo Elesbão Alves
Keize Pereira Junqueira Maria Regina Capdeville Laforet Richardson Silva Lima
Kelita Andrade Mariane Carvalho Vidal Roberta Dalla Porta Grundling
Kepler Euclides Filho Mariangela Hungria Roberto Hiroshi Higa
Kleber Xavier Sampaio de Souza Mariella Carmadelli Uzêda Robson Barizon
Klinger Aragão Magalhães Marília I. S. Folegatti Matsuura Rômulo Penna Scorza Junior
Krisle Silva Mário Alves Seixas Ronielli Cardoso Reis
Ladislau Martin Neto Marisa Prado Gomes Rosana Clara Victoria Higa
Laercio Duarte Souza Marta dos S. F. Ricci de Azevedo Rosângela Straliotto
Leonardo Ribeiro Queiros Mateus Batistella Rossano Gambetta
Leonardo Valadares Maurício Antônio Lopes Rui Alberto Gomes Junior
Lígia Souza Brandão Mauro Celso Zanus Ruy Rezende Fontes
Lívia Abreu Torres Milene da Silva Castellen Segundo Sacramento U. Caballero
Lívia Pereira Junqueira Milton Kanashiro Sérgio dos Anjos
Lucas Tadeu Ferreira Mirian Eira Silvia Kanadani Campos
Lucia Gatto Myriam Tigano Silvia Maria Fonseca S. Massruhá
Luciana Nakaghi Ganeco Kirschnik Nádia Solange Schmidt Bassi Sílvio Crestana
Lúcio Brunale Nilton Tadeu Vilela Junqueira Silvio Roberto Medeiros Evangelista
Luis Gustavo Barioni Nilza Patrícia Ramos Simone de Souza Prado
Luiz Alexandre Nogueira de Sá Norma Rumjanek Sônia Ternes
Soraya Carvalho Barrios de Araújo
Luiz Fernando Duarte de Moraes Odílio B. G. Assis
Stanley Robson de Medeiros Oliveira
Luiz Fernando Severnini Patrícia Menezes Santos
Susete do Rocio Chiarello Penteado
Luiz Sergio de Almeida Camargo Patrícia P. Anchão de Oliveira
Tatiana Deane de Abreu Sá
Manoel Teixeira Souza Junior Patrícia Rocha Bello Bertin
Thiago Teixeira Santos
Manoel Xavier Pedroza Filho Paula Regina Kuser Falcão
Thomaz Fronzaglia
Marcelo Augusto Boechat Morandi Paulo Roberto Galerani
Valeria Pacheco Batista Euclides
Marcelo Ayres Carvalho Paulo do Carmo Martins
Vania Beatriz Rodrigues Castiglione
Marcelo do Amaral Santana Pedro Abel Viera Júnior
Veronica Reis
Marcelo Hiroshi Hirakuri Pedro Freitas
Vinicius do Nascimento Lampert
Marcelo Nascimento De Oliveira Pedro L. O. de A. Machado
Vinícius Pereira Guimarães
Márcia Helena Galina Dompieri Petula Ponciano Nascimento
Virgínia Martins da Matta
Marcia Mitiko Onoyama Poliana Fernanda Giachetto Virgínia Gomes de Caldas Nogueira
Marcia Vizzotto Priscila Zaczuk Bassinello Vitor Henrique Vaz Mondo
Marcio Carvalho Marques Porto Rachel Bardy Prado Vitor Hugo de Oliveira
Marcio Elias Ferreira Rafael Vivian Waldyr Stumpf
Marco Antônio de Almeida Leal Rafaella de Andrade Mattietto Washington Esteves
Marcos Antonio Gomes Pena Júnior Regina C. A. Lago Ynaiá Masse Bueno
Marcos Brandao Braga Regina Isabel Nogueira Zander Navarro
Apresentação
A expansão da demanda mundial por água, mentando aproximadamente 1,5 bilhão de
alimentos e energia é fenômeno que ocorre pessoas no mundo. Os benefícios dessa con-
há décadas, tendo se intensificado nos últi- dição possibilitam preços mais acessíveis aos
mos anos, em decorrência do aumento po- consumidores, elevam a renda e a geração
pulacional nos países em desenvolvimento, de empregos e impulsionam a participação
da maior longevidade, da intensa urbaniza- da agricultura no Produto Interno Bruto (PIB)
ção, do incremento da classe média, princi- brasileiro. A disponibilidade de recursos na-
palmente no Sudeste Asiático e das mudan- turais, associada a políticas públicas, a com-
ças no comportamento dos consumidores. petências técnico-científicas e ao empreen-
Projeta-se, como consequência desses fa- dedorismo dos agricultores brasileiros foram
tores, o crescimento da demanda global fundamentais para esse desenvolvimento
por energia em 40% e por água em 50%1 e agrícola do País.
a necessidade de expansão da produção de
O Brasil continua investindo em processos
alimentos em 35%2 , até 2030.
de intensificação sustentável, com destaque
Internacionalmente, muitos esforços estão para a produção de duas safras por ano em
sendo envidados para estabelecer uma re- mesma área e para o Plano Setorial de Mitiga-
lação mais equilibrada entre população e ção e de Adaptação à Mudança do Clima para
ambiente e os componentes de produção a Consolidação de uma Economia de Baixa
de alimentos e energia. Destacam-se os Emissão de Carbono na Agricultura (Plano
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável ABC), vinculado ao Ministério da Agricultura,
(ODS) estabelecidos sob a coordenação da Pecuária e Abastecimento (Mapa), que incen-
Organização das Nações Unidas (ONU), vi- tiva o uso de tecnologias mais sustentáveis,
sando garantir, até 2030, um planeta mais tais como: recuperação de pastagens degra-
próspero, equitativo e saudável. Agricultura dadas; integração lavoura-pecuária-floresta
e alimentação estão no centro dessa agenda (ILPF); sistemas agroflorestais, sistema de
mundial, e o Brasil está preparado para de- plantio direto (SPD), fixação biológica de ni-
sempenhar um papel central no alcance das trogênio (FBN); florestas plantadas e trata-
metas estabelecidas pelos países membros mento de dejetos animais. Outras políticas e
da ONU. ações também fortalecem a sustentabilidade
do meio rural, como a Política Nacional de
Nesse contexto, a agricultura brasileira terá Biossegurança, o Código Florestal e o Cadas-
um papel protagonista. Nas últimas cinco tro Ambiental Rural.
décadas, o país passou de importador de
alimentos para um dos mais importantes De fato, a agricultura passa por profundas
produtores e exportadores mundiais, ali- transformações – econômicas, culturais, so-
ciais, tecnológicas, ambientais e mercadoló-
1
UN-Water (2017). gicas – que ocorrem em alta velocidade e em
2
Estimativas calculadas com base no estudo de Ale-
xandratos e Bruinsma (2012). Expansão em 2030 em diferentes direções, as quais impactam de
relação à produção média observada no período 2005- forma substancial o mundo rural. Dessa for-
2007.
ma, para as próximas décadas, uma questão A diversidade, pluralidade e heterogeneidade
primordial relacionada ao planejamento es- cultural, socioeconômica e ambiental do País
tratégico das organizações públicas e priva- é uma grande força competitiva e importan-
das de ciência, tecnologia e inovação (CT&I) te diferencial para irmos muito além da pro-
é analisar os principais sinais e tendências, dução de commodities. O Brasil certamente
antever transformações e contribuir para o tem potencial de produzir alimentos únicos,
delineamento estratégico da programação mais nutritivos e alinhados com as deman-
de pesquisa, desenvolvimento e inovação das dos mercados mais exigentes. As análi-
(PD&I). Isso é imprescindível para definir o ses geradas neste documento contribuem
ambiente e o foco de atuação para os próxi- para a tomada de decisões estratégicas da
mos anos no intuito de elevar ainda mais o Embrapa e dos diversos agentes e atores de
protagonismo da agricultura brasileira. todos os elos das cadeias produtivas agríco-
las, com vistas ao contínuo desenvolvimento
Com a preocupação de estar constantemen-
sustentável do Brasil.
te conectada a essas transformações e suas
implicações em CT&I para a agricultura, a
Embrapa tem aprofundado estudos de futu-
ro por meio de uma rede interna de especia-
listas, vinculados ao Sistema de Inteligência
Estratégica, o Agropensa. O conjunto mais re-
cente de sinais e tendências globais e nacio-
nais sobre as transformações na agricultura
foram captados e analisados pela Embrapa
e sua rede de parceiros, e deram origem a
um grupo de sete megatendências: Mudan-
ças Socioeconômicas e Espaciais na Agricul- Maurício Antônio Lopes
tura; Intensificação e Sustentabilidade dos Presidente
Sistemas de Produção Agrícolas; Mudança
do Clima; Riscos na Agricultura; Agregação
de Valor nas Cadeias Produtivas Agrícolas; Celso Luiz Moretti
Protagonismo dos Consumidores; e Conver-
Cleber Oliveira Santos
gência Tecnológica e de Conhecimentos na
Agricultura. Lúcia Gatto
Essas megatendências integradas, que apon- Diretores
tam desafios para a agricultura do País, fo-
ram detalhadas no presente livro Visão 2030:
o Futuro da Agricultura Brasileira. O sucesso
competitivo e sustentável da agricultura al-
cançado nas últimas décadas precisa ser
intensificado para que o País permaneça
aproveitando suas vantagens comparativas e
consiga assumir o papel de líder mundial no
fornecimento de alimentos, fibras e energia.
LISTA DE
COP 23 - 23ª Conferência das Partes da Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,
Bonn, 2017

SIGLAS
CRISPRS - Clustered Regularly Interspaced Short
Palindromic Repeat
CSA - Community Supported Agriculture

CST - Câmara Setorial e Temática

CT&I - Ciência, Tecnologia e Inovação


ABPA - Associação Brasileira de Proteína Animal
Dieese - Departamento Intersindical de Estatística e
AEF - Agricultural Industry Electronics Foundation Estudos Socioeconômicos

AEM - Avaliação Ecossistêmica do Milênio Dnit - Departamento Nacional de Infraestrutura


de Transportes
Amoled - Active-Matrix Organic Light-Emitting Diode
EC - Equivalente carcaça
ANA - Agência Nacional de Águas
EPE - Empresa de Pesquisa Energética-
ANDA - Associação Nacional para Difusão de Adubos
EUA - Estados Unidos da América
Apex - Agência Brasileira de Promoção de Exportações e
Investimentos FAO - Food and Agriculture Organization

APP - Área de Preservação Permanente FBN - Fixação Biológica de Nitrogênio

Ater- Assistência técnica e extensão rural Fiesp - Federação das Indústrias do Estado de São Paulo

BGI - Beijing Genome Institute FMIS - Farm Management Information System

BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Funai - Fundação Nacional do Índio

C&T - Ciência e Tecnologia GEE - Gases de efeito estufa

CAEs - Comitês Assessores Externos dos Centros de IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Pesquisa da Embrapa
ILPF - Integração lavoura-pecuária-floresta
CAR - Cadastro Ambiental Rural
IoT - Internet das coisas
CDB - Convenção de Diversidade Biológica
IPCC - Intergovernmental Panel on Climate Change
CGEE - Centro de Gestão e Estudos Estratégicos
Labex - Laboratórios virtuais no exterior (Embrapa)
CNUDS - Conferência das Nações Unidas sobre
Mapa - Ministério da Agricultura, Pecuária e
Desenvolvimento Sustentável
Abastecimento
Conab- Companhia Nacional de Abastecimento
Matopiba - Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia
Conabio - Comissão Nacional de Biodiversidade
MCTI - Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
COP 13 - 13ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro
MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Bali, 2007
Mercosul – Mercado Comum do Sul
COP 14 - 14ª Conferência das Partes da Convenção da
Diversidade Biológica, Sharm El-Sheikh, 2018 MMA - Ministério do Meio Ambiente
COP 18 - 18ª Conferência das Partes da Convenção- MME - Ministério de Minas e Energia
Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima,
Doha, 2012 Mpog - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
COP 21 - 21ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro Moderinfra - Programa de Incentivo à Irrigação e à
das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, Paris, 2015 Armazenagem
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Nasa - National Aeronautics Space Administration Pronasolos - Programa Nacional de Solos do Brasil

NBIC - Nanotecnologias, Biotecnologias, Tecnologias da PSA - Pagamento por Serviços Ambientais


Informação, Ciências Cognitivas
PSR - Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural
NDC - Nationally Determined Contribution
PTF - Produtividade total dos fatores
NGS - Next-Generation Sequencing
RCEs - Reduções Certificadas de Emissões
Nutir - Núcleos Territoriais de Inovação e Referência
Tecnológica RCP - Representative concentration pathways

ODM - Oligonocleotide Directed Mutagenesis Rio+20 - Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável
ODS - Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
RL - Reserva Legal
OECD - Organization for Economic Co-operation and
Development SBSTA - Subsidiary Body for Scientific and Technological
Advice
OGM - Organismo geneticamente modificado
Sealba - Sergipe, Alagoas e Bahia
OMS - Organização Mundial da Saúde
SGDC-1- Satélite Geoestacionário de Defesa e
ONU - Organização das Nações Unidas Comunicações Estratégicas 1

OVM - Organismo vivo geneticamente modificado Sicar - Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural

P&D - Pesquisa e desenvolvimento SIM - Secretaria de Inteligência e Macroestratégia

PD&I - Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação SIRE - Secretaria de Inteligência e Relações Estratégicas

PDA - Perda e desperdício de alimentos Sisdagro - Sistema de Suporte à Decisão na Agropecuária

PEA - População economicamente ativa Sites - Sistemas de inteligência territorial estratégica

PGPAF - Programa de Garantia de Preços para a SFB - Serviço Florestal Brasileiro


Agricultura Familiar
SPD - Sistema Plantio Direto
PHB - Polihidroxibutirato
TALEs - Transcription Activator-Like Effectors
PIB - Produto Interno Bruto
TIC - Tecnologias da informação e comunicação
PLA- Poliácido láctico
Tirfaa - Tratado sobre Recursos Fitogenéticos para
Plano ABC - Plano Setorial de Mitigação e de Adaptação Alimentação e Agricultura
à Mudança do Clima para a Consolidação de uma
Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura TPP - Trans Pacific Partnership

PL- Projeto de Lei UE – União Europeia

PNBL - Programa Nacional de Banda Larga UMP - Unidades Mistas de Pesquisa

PNC - Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima UNFCCC - United Nations Framework Convention on
Climate Change
PPP - Paridade de poder de compra
URT - Unidade de Referência Tecnológica
PRA - Programas de Regularização Ambiental
Usda - United States Department of Agriculture
Prada - Planos de Recuperação de Áreas Degradadas e
Alteradas Vant - Veículo aéreo não tripulado

PRECIS - Providing Regional Climates for Impacts Studies WTO - World Trade Organization

Proagro - Programa de Garantia da Atividade Zarc - Zoneamento de Risco Climático do Brasil


Agropecuária
ZFN - Zinc Fingers Nucleases
sumário sumário
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................ 11
TRAJETÓRIA DA AGRICULTURA BRASILEIRA................................................................................... 15
Evolução recente........................................................................................................................................ 15
Aspectos da demanda.............................................................................................................................. 24
Projeções dos mercados agrícolas ........................................................................................................ 30
MEGATENDÊNCIAS................................................................................................................................... 35
MUDANÇAS SOCIOECONÔMICAS E ESPACIAIS NA AGRICULTURA........................................... 40
Processos migratórios e as mudanças espaciais................................................................................. 42
Mudanças espaciais e aspectos socioeconômicos............................................................................. 48
Concentração da renda no campo ........................................................................................................ 52
Escassez e elevação do custo da mão de obra.................................................................................... 57
Concentração nos elos de processamento e distribuição ................................................................ 59
Análises espaciais e gestão territorial estratégica............................................................................... 61
Desafios........................................................................................................................................................ 63
INTENSIFICAÇÃO E SUSTENTABILIDADE DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLAS..... 64
Acordos internacionais e marcos regulatórios para o desenvolvimento sustentável.................. 66
Uso e conservação dos recursos naturais............................................................................................. 70
Intensificação e eficiência de sistemas agrícolas................................................................................ 74
Sistemas agrícolas sustentáveis.............................................................................................................. 76
Adequação ambiental das propriedades rurais.................................................................................. 80
Serviços agroambientais.......................................................................................................................... 80
Redução de perdas e desperdício de alimentos................................................................................. 81
Desafios ....................................................................................................................................................... 83
MUDANÇA DO CLIMA............................................................................................................................... 84
Vulnerabilidade, adaptação e mitigação............................................................................................... 86
Compromissos internacionais................................................................................................................. 92
Fomento à ciência e tecnologia.............................................................................................................. 93
Desafios ....................................................................................................................................................... 95
RISCOS NA AGRICULTURA..................................................................................................................... 96
Perdas econômicas.................................................................................................................................... 98
Riscos associados ...................................................................................................................................... 99
Gestão integrada de risco....................................................................................................................... 101
Estratégias e ferramentas de gestão de risco..................................................................................... 103
Desafios ..................................................................................................................................................... 105
AGREGAÇÃO DE VALOR NAS CADEIAS PRODUTIVAS AGRÍCOLAS........................................... 106
Alimentos, nutrição e saúde.................................................................................................................. 108
Nanotecnologia, bionanocompósitos e biotecnologia................................................................... 112
Bioeconomia............................................................................................................................................. 115
Novos materiais e processos................................................................................................................. 118
Automação................................................................................................................................................ 118
Indicação de procedência e denominação de origem..................................................................... 119
Desafios ..................................................................................................................................................... 120
PROTAGONISMO DOS CONSUMIDORES......................................................................................... 122
As tecnologias da informação e comunicação e o empoderamento individual........................ 124
Consumo de alimentos e nichos de mercados.................................................................................. 127
Desafios...................................................................................................................................................... 133
CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA E DE CONHECIMENTOS NA AGRICULTURA....................... 134
Desenvolvimento científico................................................................................................................... 136
Transformação digital ............................................................................................................................ 137
Biologia sintética e tecnologias em sistemas genéticos complexos............................................. 140
Bioinformática na análise e no compartilhamento de dados........................................................ 143
Mercado digital ........................................................................................................................................ 144
Desafios ..................................................................................................................................................... 147
O FUTURO DA AGRICULTURA BRASILEIRA: MEGATENDÊNCIAS
E O PAPEL DA CIÊNCIA, DA TECNOLOGIA E DA INOVAÇÃO....................................................... 148
REFERÊNCIAS.......................................................................................................................................... 157
ANEXOS..................................................................................................................................................... 180
GLOSSÁRIO.............................................................................................................................................. 201
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Introdução
Nas últimas cinco décadas, a ciência, a tec- demanda mundial por água, alimentos e fibras,
nologia e a inovação (CT&I), em conjunto impulsionada pelo aumento da população nos
com a disponibilidade de recursos naturais, países em desenvolvimento, da longevidade,
as importantes políticas públicas, a compe- do poder aquisitivo, da urbanização e pelos no-
tência dos agricultores e a organização das vos padrões de consumo, pressiona a agricul-
cadeias produtivas, tornaram o Brasil um tura para um desenvolvimento com uso mais
grande protagonista na produção e exporta- controlado dos recursos naturais. Essa condi-
ção de produtos agrícolas. Esse desempenho ção se consolida como indutora para que as or-
do meio rural contribuiu significativamente ganizações públicas e privadas de CT&I desen-
para o desenvolvimento econômico, social e volvam novos processos, métodos, sistemas e
ambiental do País. Na safra 2016/2017, o País produtos com foco no incremento da seguran-
alcançou seu recorde de produção de grãos e ça alimentar e da saúde, no intuito de reduzir
forneceu alimentos para o Brasil e para mais os impactos ambientais e contribuir para a miti-
de 150 países em todos os continentes. A pro- gação das desigualdades sociais e econômicas.
dução de origem animal e vegetal no meio
rural ultrapassa 400 produtos provenientes Considerando essas constantes transforma-
da agricultura em suas diferentes escalas ções e suas implicações em CT&I para a agri-
e tamanho de unidades produtivas. Como cultura, a Embrapa tem aprofundado suas
principais benefícios dessa condição agríco- ações em inteligência estratégica antecipa-
la, podem-se destacar a geração de empre- tiva. Desde 2012, estabeleceu o Sistema de
gos e de renda e os preços mais acessíveis Inteligência Estratégica, o Agropensa3, estru-
dos alimentos aos consumidores brasileiros. turado em dois pilares:

Em 2017, a balança comercial do agronegócio • Monitoramento permanente do ambiente


brasileiro registrou superavit de US$ 81,7 bilhões externo, focando na captação constante
(Agrostat, 2017). Contudo, a pauta de exportações de sinais e tendências e na elaboração de
do setor ainda é fortemente baseada em com- cenários e visões de futuro para a agricul-
modities. Além disso, em diversas cadeias produ- tura brasileira.
tivas, como a do café, o Brasil exporta grãos sem • Produção de informações que deem
processamento e importa produtos processados, base à elaboração de estratégias para os
não aproveitando potenciais ganhos sociais e mais diferentes atores e agentes de to-
econômicos adicionais. dos os elos das cadeias produtivas agrí-
Além do potencial de gerar mais valor interna- colas, em especial a própria Embrapa.
mente, o País, embora tenha destaque como No âmbito do Agropensa, a Embrapa lançou
potência agrícola com forte preservação am- em 2014 o documento intitulado Visão 2014-
biental, pode alcançar importantes avanços no
que diz respeito à sustentabilidade. A crescente 3
Embrapa. Disponível em: <http://www.embrapa.br/
agropensa>.

11
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

2034  – O Futuro do Desenvolvimento Tec- cadeias produtivas agrícolas, consolidando


nológico da Agricultura Brasileira (Embrapa, as megatendências. Esses conjuntos não in-
2014b), cujos principais resultados foram os corporam diretamente os aspectos incertos
desafios tecnológicos focados em seus po- que poderão acarretar diferentes contornos
tenciais impactos para a sociedade, os de- aos potenciais caminhos futuros aqui apre-
nominados “eixos de impacto” da Empresa: sentados. Apesar disso, os próprios sinais
1) avanços na busca da sustentabilidade; 2) e tendências contêm em certa medida, os
inserção estratégica e competitiva na bioeco- diferentes comportamentos do ambiente à
nomia; 3) contribuições a políticas públicas; frente. Com base nas definições de megaten-
4) inclusão produtiva e redução da pobreza; dência (Naisbitt; Aburdene, 1990; Marcial et
e 5) posicionamento na fronteira do conhe- al., 2017), neste estudo, essas são entendidas
cimento. Em 2016, apresentou a publicação como agrupamentos de aspectos científicos,
intitulada Cenários exploratórios para o de- tecnológicos, socioeconômicos, ambientais
senvolvimento tecnológico da agricultura e mercadológicos emergentes, denotando
brasileira (Martha Júnior et al., 2016), na qual forças que se formam de maneira lenta, mas
foram delineados quatro possíveis cenários geram consequências que perduram por um
para a agricultura do País. Entre esses possí- longo prazo. Representam, assim, conjuntos
veis cenários, o que apresenta as maiores po- de vetores de transformação mais fortemen-
tencialidades de desenvolvimento do setor é te interligados (seja de um ou de mais aspec-
aquele em que seríamos capazes de desen- tos citados) que deverão impactar a agricul-
volver papel protagonista na bioeconomia, tura brasileira no futuro. São elas:
gerando as tecnologias necessárias para tal4.
Mudanças socioeconômicas e
Com o objetivo de subsidiar a definição de espaciais na agricultura
novas ações estratégicas em CT&I no desen-
Foram reunidos aspectos relativos às al-
volvimento da agricultura e contribuir até
terações espaciais no mapa de produção
2030 para os Objetivos de Desenvolvimento
agrícola brasileira, confrontados com as-
Sustentável (ODS) propostos pelas Nações
pectos socioeconômicos. As mudanças
Unidas, a Embrapa apresenta este docu-
espaciais foram abordadas com base nas
mento intitulado Visão 2030 : O Futuro da
Agricultura Brasileira, que contempla, de forma tendências de migração rural-urbana e de
sucinta e estruturada, os resultados do monito- alteração entre regiões produtoras, bem
ramento do ambiente externo e da produção como na análise sobre a incorporação de
de informações estratégicas para o apoio à to- novas áreas para a produção agrícola. Al-
mada de decisões nos setores público e priva- guns fenômenos socioeconômicos, em
do que atuam na agricultura do País. parte causadores dessas mudanças (com
importantes impactos sobre a agricultura
O intuito da presente ação, consubstancia- e a sociedade), e que potencialmente se
da neste livro, é apontar grandes conjuntos intensificarão nos próximos anos, foram
de sinais e tendências que conformarão as abordados, tais como: concentração da
produção e da renda no campo; crescen-
4
Esse cenário foi denominado, no citado documento, te influência de imperativos econômicos
de “Na crista da onda”.

12
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

sobre as atividades agrícolas; escassez de e nacional, em virtude dos potenciais im-


mão de obra; e elevação do custo do tra- pactos que apresenta sobre a produção de
balho. Acrescenta-se ainda análise dos alimentos. Foram abordados aspectos refe-
impactos da concentração nos elos de pro- rentes aos atuais debates e compromissos
cessamento e distribuição. Dada a comple- internacionais e perspectivas a eles atrela-
xidade do espaço rural e suas interações, a das, as questões de vulnerabilidade e adap-
megatendência é finalizada com a discus- tação das atividades agrícolas e a mitigação
são sobre análises espaciais e gestão terri- dos potenciais impactos. Dada a sua impor-
torial estratégica. tância, os investimentos para o desenvolvi-
mento de tecnologias associadas a sistemas
Intensificação de produção mais resilientes à mudança do
e sustentabilidade dos sistemas clima em vários países têm aumentado, fina-
de produção agrícolas lizando a análise dessa megatendência.
Diante da expectativa de crescimento da de- Riscos na agricultura
manda em um ambiente com recursos natu-
rais finitos, crescentes requerimentos legais A dependência dos recursos naturais e dos
ambientais pressionam a produção agrícola processos biológicos confere maior rigidez
pela busca contínua por processos mais inten- ao processo produtivo e menor flexibilida-
sivos e sustentáveis, o que consolida essa me- de em decorrência de alterações de merca-
gatendência. Foram apresentados os principais dos ou na economia e, consequentemente,
acordos internacionais e marcos regulatórios maiores riscos às atividades agrícolas. Aos
do desenvolvimento sustentável, com impacto riscos climáticos e de produção (bióticos),
na agricultura brasileira e na definição de pro- somam-se os riscos relacionados à gestão,
tocolos e métricas de sustentabilidade. Nesse ao mercado e ao ambiente institucional. Isso
contexto, foram abordados ainda aspectos re- faz com que os gestores das atividades agrí-
lacionados ao uso e à conservação dos recur- colas precisem monitorar constantemente
sos naturais, aos sistemas agrícolas mais sus- os riscos associados à agricultura, para que
tentáveis e à redução de perdas e desperdícios. possam geri-los de maneira integrada, utili-
Considerando que os aspectos econômicos zando-se de adequadas estratégias e ferra-
são a principal força motriz dessa grande ten- mentas inovadoras.
dência, a intensificação e a eficiência dos siste-
mas produtivos foram abordadas, ponderando
Agregação de valor nas cadeias
ainda a questão dos yield gaps. Os aspectos de
produtivas agrícolas
adequação ambiental das propriedades rurais São diversas as possibilidades para que as
e valoração dos serviços agroambientais fazem cadeias produtivas agrícolas agreguem valor
parte das forças consideradas nessa megaten- a seus produtos e serviços, seja por meio da
dência. incorporação de características ou processos
Mudança do clima que levem os consumidores a perceberem
maior valor nos produtos oriundos da agri-
A mudança do clima consolida uma tendên- cultura, seja via estratégias de comunicação
cia de grande relevância em âmbito mundial e marketing que consigam construir valor

13
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

percebido nos produtos ofertados. A impor- Convergência tecnológica e de


tância de aspectos relacionados à nutrição e conhecimentos na agricultura
à saúde requer alimentos com características
específicas, consolidando o nexo entre ali- O crescente uso de diferentes tecnologias con-
mento e nutrição/saúde para incremento do vergentes envolvendo nanotecnologia, biotec-
valor ofertado. A riqueza da biodiversidade nologia, tecnologia da informação e ciência
brasileira oferece outras oportunidades para cognitiva como suporte ao desenvolvimento
agregação de valor, tais como explorar me- científico tem elevado o potencial de criação
lhor o conceito de “brasilidade” e fortalecer de produtos e processos disruptivos e de alto
a marca-país alinhada a produtos da agricul- impacto. Considerando ainda a intensificação
tura nacional. O aprofundamento da bioe- do mercado agrícola digital, tanto os avan-
conomia e sua disponibilização de novos ços da biologia sintética e das novas tecnolo-
materiais e processos também representam gias aplicadas a sistemas genéticos comple-
oportunidade. Acrescenta-se a isso, o desen- xos, quanto a expansão da bioinformática na
volvimento das ciências de nanotecnologia, análise e no compartilhamento de dados cien-
bionanocompósitos e biotecnologia, com tíficos são caminhos que tendem a se alargar.
suas tendências e possíveis impactos. Por Todas essas tendências encontram-se embasa-
fim, novos processos como indicação de das na intensa transformação digital que vem
procedência e denominação de origem ofe- ocorrendo na agricultura.
recem amplas possibilidades para agregação O objetivo deste documento é, portanto,
de valor à agricultura brasileira. apresentar as megatendências identifica-
Protagonismo dos das e os grandes desafios delas derivados,
consumidores e, ainda, analisar como poderá se configurar
a agricultura brasileira nos próximos anos5.
O crescimento exponencial das aplicações As análises geradas a partir do estudo con-
das Tecnologias da Informação e Comunica- tribuem para a tomada de decisões estraté-
ção (TIC) faz com que os indivíduos tenham gicas da Embrapa e parceiros e para o maior
cada vez mais poder de influenciar as cadeias desenvolvimento social, econômico e am-
de produção de alimentos, e suas decisões biental do Brasil.
de consumo de alimentos são pautadas em
interações constantes com os agentes pro- 5
Desde a implantação do Agropensa, a Embrapa vem en-
dutivos, o que, juntamente com os nichos de vidando esforços para desenvolver um processo em que
os sinais e as tendências observados no ambiente sejam
mercado em expansão, consubstanciam essa rapidamente captados, analisados e internalizados. O
megatendência. Nesse contexto, há a conver- intuito é que, com isso, seja possível ajustar, gradativa-
gência dos acelerados movimentos globais mente, a visão de futuro da agricultura brasileira, em face
das transformações tecnológicas, mercadológicas, entre
de intensificação do uso de plataformas di- outras, que possam ocorrer no decorrer do tempo. Esse
gitais nas relações de consumo, da cocriação processo recebeu o título-síntese de “visão que evolui”.
Entende-se que, à luz das megatendências apresentadas
de produtos e serviços e do crescente acesso aqui, devem ser analisados os “Grandes desdobramentos
à informação por meios digitais. Serão cada tecnológicos nas cadeias produtivas agropecuárias” deli-
vez mais valorizados alimentos seguros e neados no documento Visão 2014-2034 (Embrapa, 2014b,
p. 69). Dessa forma, os potenciais comportamentos futu-
com rastreabilidade, saudáveis e produzidos ros do setor ali observados serão reavaliados, possibilitan-
por meio de processos sustentáveis. do maiores subsídios aos tomadores de decisão.

14
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Trajetória da
Agricultura Brasileira
Evolução recente produção de insumos, processamento e distri-
buição, apresentassem importância cada vez
Nas décadas de 1960 e 1970, o Brasil vivia maior no Produto Interno Bruto (PIB).
processos de industrialização e urbanização
e de forte crescimento econômico, que, con- Em 2016, o agronegócio como um todo re-
tudo, não encontravam correspondência no presentou 23,6% do PIB, (enquanto a pro-
setor agrícola do País, caracterizado então dução agrícola per se respondeu por apenas
por baixa produtividade. Parte considerá- 5% desse montante) e foi responsável por
vel do abastecimento interno de alimentos 45,9% do valor das exportações, gerando
provinha das importações. Por falta de tec- um saldo comercial de US$ 71 bilhões (Pro-
nologia adaptada à produção tropical, os jeções..., 2017). No mesmo ano, esse setor
cerrados eram áreas marginais na produção foi responsável por 19 milhões de pessoas
agrícola. A migração rural-urbana se intensi- ocupadas, o que representou quase metade
ficava de maneira impressionante, fruto da (9,09 milhões) dos trabalhadores no segmen-
imensa pobreza rural nacional. to primário. A agroindústria e serviços em-
pregaram, respectivamente, 4,12 milhões e
Com o intuito de garantir segurança alimen- 5,67 milhões de pessoas, enquanto 227,9 mil
tar à população (crescentemente urbana) e pessoas estavam ocupadas no segmento de
reduzir os preços dos alimentos, o governo insumos do agronegócio (Barros, 2017).
instituiu políticas para aumentar a produção
e a produtividade agrícola, incluindo inves- Como resultados dos esforços empreen-
timentos públicos em pesquisa e desenvol- didos pelo governo, pelas instituições de
vimento (P&D), extensão rural e crédito rural ciência e tecnologia (C&T), pelos agentes pú-
subsidiado (Chaddad, 2016). Além disso, os blicos e privados do setor e especialmente
produtores rurais, com determinação para pelos produtores rurais, acentuados ganhos
assumir riscos e empreender, tiveram papel de produtividade no setor agrícola puderam
preponderante para que o setor agrícola ser observados, principalmente a partir da
brasileiro experimentasse rápido desenvol- década de 1990.
vimento, tendo sido também importantes as
Em termos agregados, enquanto a produção
diversas formas de organização dos produto-
aumentou 4,5 vezes, a utilização de insumos
res e das cadeias produtivas.
avançou pouco mais de 15%, o que pode
De fato, a organização e o intenso processo de ser explicado pela evolução da produtivida-
modernização das cadeias produtivas do agro- de total dos fatores (PTF), que cresceu qua-
negócio fizeram com que os elos anteriores e se quatro vezes entre 1975 e 2015 (Figura 1)
posteriores às atividades agrícolas, como os de (Gasques et al., 2017).

15
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

500
Índice PTF
450
400 Índice produto
350 Índice insumo
300
Índice

250
200
150
100
50
0
1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003 2007 2011 2015
Ano

Figura500
1. Índice da produtividade total dos fatores (PTF), do produto e do insumo, de 1975 a 2015.
Fonte: 450
Gasques
600 et al. (2017).
400
Qualquer
500 que seja o fator de produção avaliado
350 entre 1975 e 2015, a tecnologia é responsável
(mão 300
de obra, terra ou capital), observa-se for- por 59% do crescimento do valor bruto da pro-
ÍndiceÍndice

400
te incremento
250 em suas produtividades: entre dução, enquanto terra e trabalho explicam 25%
1975 e3002015, a produtividade da mão de obra
200 e 16% (Projeções..., 2017), respectivamente, do
aumentou
150 5,4 vezes; a da terra 4,4; e a do capi- crescimento da produção. Especificamente no
tal teve um crescimento de 3,3 vezes (Figura 2).
100
200 período entre 1995/1996 e 2005/2006, a impor-
50 tância da tecnologia é ainda maior, o que ex-
Analisando
100
0 a contribuição de cada um desses
plica 68% do aumento do valor da produção.
fatores de1975
produção,
1979observa-se
1983 que a tecnolo-
1987 1991 1995 1999 2003 2007 2011 2015
0 em grande parte, essa evolução da Terra e trabalho explicam respectivamente 9%
gia explica, Ano
1975 1979 1983 1987 1991 e 23% (Alves
1995 1999 et al.,
20032012).2007 2011 2015
produtividade. Quando se considera o período
Ano
600
Prod. mão de obra
500
Prod. terra
400
Prod. capital
Índice

300

200

100

0
1975 1979 1983 1987 1991 1995 1999 2003 2007 2011 2015
Ano
Figura 2. Índices da produtividade dos fatores de produção (mão de obra, terra e capital) na agricultura brasileira, de 1975 a 2015.
Fonte: Gasques et al. (2017).

16
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

A partir da década de 1990, as políticas macroe- pelo superavit da balança comercial brasileira.
conômicas de estabilização (controle da inflação Entre 1990 e 2017, o saldo da balança agrícola
e câmbio mais realista) e as maiores demandas do País aumentou quase dez vezes, alcançando,
interna e internacional devem ser consideradas nesse último ano, US$ 81,7 bilhões, valores que
também para explicar o crescimento do setor têm contribuído para o equilíbrio das contas ex-
agrícola, que passou a ser o principal responsável ternas do País (Figura 3).

100
Exportações
Exportação
90
Importações
Importação
80

Saldo
Saldo
Valor (bilhões de dólares)

70

60

50

40

30

20

10

0
1
1989 1993 1997 2001 2005 2009 2013 2017*

Ano

Figura 3. Importações, exportações e saldo da balança comercial do agronegócio brasileiro, de 1989 a 2017.
Nota: 1 estimativa.
Fonte: Agrostat (2017).
250
À medida que esse processo
Área foi se consoli- (Figura 4), enquanto a área plantada aumen-
dando, o Brasil foi se transformando num tou apenas 60%. Entretanto, o maior impulso
Produção (milhões de toneladas)

200 Produção
grande player no negócio agrícola global. se deu a partir de 1990, em grande parte de-
Área (milhões de hectares)

Entre 1977 e 2017, a produção de grãos6, vido ao crescimento das exportações, que se
que era150de 47 milhões de toneladas, cresceu tornaram a força motriz do crescimento re-
mais de cinco vezes, atingindo 237 milhões cente da agricultura brasileira. O País é atual-
mente o principal exportador de suco de la-
6 100 considerados referem-se a 15 produtos
  Os grãos ranja, açúcar, café e carnes bovina, suína e de
pesquisados mensalmente pela Conab. São eles: algo- aves, e o 2º maior de soja e milho (Estados
dão – caroço, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio,
cevada, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo, Unidos, 2017b).
50
trigo e triticale.

0
1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014 2017*
17
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Produção

Figura 4. Área e produção de grãos de 1977 a 2018. Nota: 1estimativa.


Fonte: Conab (2018).

O maior crescimento da produção em com- tos tiveram significativos aumentos de rendi-


paração à área pode ser visto por meio da mento: trigo e milho (240%) e arroz  (315%) .
evolução do rendimento médio das lavouras Soja e feijão, que apresentaram os menores
de arroz, feijão, milho, soja e trigo, no período crescimentos, praticamente dobraram o ren-
de 1977 a 2018 (Figura 5). Em geral, os produ- dimento no período analisado.

Figura 5. Rendimento médio (t/ha) dos grãos de 1977 a 2017. Nota: 1estimativa.
Fonte: Conab (2018).

18
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Embora tenha havido expressiva expansão da No caso da bovinocultura de corte, o efetivo


produção e da produtividade, a ocupação e mais do que dobrou nas últimas quatro dé-
o uso do solo demonstram que a agricultura cadas, enquanto a área de pastagens teve
brasileira, além de pujante, tem sido bem-su- pequeno avanço e até diminuiu em algumas
cedida na conservação do meio ambiente. A regiões. O crescimento da produtividade
área total de terras ocupada e em uso no Bra- explica-se, principalmente, pelo aumento
sil é de aproximadamente 30% (Figura 6), en- substancial da proporção de pastagens plan-
quanto as Áreas de Preservação Permanente tadas com cultivares de gramíneas e legumi-
(terras indígenas, unidades de conservação) e nosas com maior produtividade e qualidade
as áreas em propriedades privadas separadas e adaptadas aos diferentes ambientes bra-
em função da legislação ambiental  – como sileiros. Esse processo é reflexo também do
Reserva Legal (RL) e áreas de proteção  – re- melhoramento genético animal e da adoção
presentam quase 50% do território brasileiro. de boas práticas pecuárias, resultando no
Somando-se a vegetação nativa em terras não aumento do ganho de peso dos animais, na
cadastradas, esse percentual chega a 66% (Mi- diminuição da mortalidade, no aumento das
randa, 2017). As lavouras e florestas plantadas taxas de natalidade e também na expressiva
ocupam apenas 9% do território; as pastagens diminuição da idade no abate, com forte me-
plantadas, 13%; e as nativas, 8%.

Vege
sà em taçã
ada tação
estina vege is de co unidao nat
d d ra nse de iva
as ção veis ru r
13, vaçã s
a ó
s re

im ,5% 1% o
pre Á
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20
s

Vegeem terras
índige

tação nativa
Pastagens

13,8%
nativas
8,0%

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%
sta tadas

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13

não em taç
18
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9,0% e str
e

s ão rras adas
ada na
plant stas tiva
flore ras e
u
Lavo

Cidades, infraestruturas
e outros (3,5%)

Figura6.Ocupação e uso das terras no Brasil em 2017. Nota: dados calculados e estimados pelo Grupo de Inteligência Territorial Estratégica
(GITE) / Embrapa, em maio de 2017, à partir do Serviço Florestal Brasileiro (SFB), do Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural (Sicar), da
EMBRAPA, do IBGE, do Ministério do Meio Ambiente (MMA), da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Departamento Nacional de Infraes-
trutura de Transportes (Dnit), da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (Mpog).
Fonte: Miranda (2017).

19
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

lhora nas taxas de desfrute do rebanho (Me- A avicultura, que, até 1950, era uma atividade
nezes et al., 2016), que evoluiu de 15% para voltada para subsistência, tornou-se rapida-
25% no mesmo período. De fato, entre 1950 e mente comercial. Entre 1950 e 1970, o setor
2006, a produtividade animal explicou cerca foi caracterizado pela entrada de empresas
de 80% do aumento da produção pecuária. processadoras no mercado e, já naquela
A maior parte (65%) desse aumento da pro- época, pela adoção do sistema de integração
dutividade pode ser explicada pelo ganho de vertical, com técnicas de produção intensiva
peso por animal (kg de equivalente carcaça e o desenvolvimento de genética adaptada.
(EC) por cabeça), e o restante (35%) pela taxa Entre 1970 e 1990, iniciou-se o processo de
de lotação (cabeças por hectare) (Martha Jú- concentração do capital, acompanhado por
nior et al., 2012). um pacote de inovações tecnológicas, por
novas linhagens de matrizes e modernos
equipamentos nos setores de criação, aba-
te e processamento. A partir de 1990, com a
abertura da economia latino-americana, o
setor foi exposto à concorrência mundial, o
que obrigou as agroindústrias a redefinirem
O Brasil figura atualmente suas estratégias empresariais e reorganiza-
como um dos principais rem a base agroindustrial da cadeia produti-
va do frango (Rodrigues et al., 2014).
players mundiais na
A modernização da produção7 levou a um au-
produção e no mento expressivo da oferta de carne de fran-
comércio de carnes go (Figura 7), que passou de 217 mil toneladas
em 1970 para 12,9 milhões de toneladas em
2016 (Espíndola, 1999), consolidando o Brasil
como o maior exportador mundial dessa pro-
teína (Associação Brasileira de Proteína Ani-
mal, 2017b). O rebanho de aves aumentou
expressivamente em todas as regiões brasi-
No setor de carne bovina, é o 2º maior produ-
leiras, com destaque para o Sul, responsável
tor, atrás apenas dos Estados Unidos, e o prin-
por 76% das exportações de carne de frango.
cipal exportador, com previsão de exportações
Cabe destacar que, a partir dos anos de 1990,
de 1,9 milhão de toneladas de equivalente car-
o Centro-Oeste foi a região que mais recebeu
caça em 2017 (Estados Unidos, 2017b).
investimentos do segmento avícola, devido
Os setores de avicultura e suinocultura são ca- à procura por regiões com maior produção
racterizados pelo dinamismo da cadeia e pelo
uso intensivo de tecnologias. Além de eviden-
7
Em 1970, os frangos brasileiros precisavam de 49 dias
ciarem a pujança do agronegócio brasileiro, para atingir 1,7 kg. Atualmente atingem peso médio de
sinalizam para um conjunto de mudanças so- 2,60 kg em cerca de 35 dias. Houve também significati-
ciais, econômicas, político-institucionais e tec- va melhora no índice de conversão alimentar, em de-
corrência de avanços genéticos, melhorias de manejo e
nológico-produtivas que poderão ocorrer em bem-estar animal e nutrição. Em meados de 1970, eram
outras regiões rurais onde a dinâmica agrícola necessários 2,15 kg de alimento para produzir 1 kg de
peso corporal, e dados de 2009 indicam que esse nú-
se instalar (Navarro; Campos, 2013). mero diminuiu para 1,84 kg (Patricio et al., 2012).

20
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

de grãos8 (Belusso, 2010). Entre 2000 e 2010, conversão alimentar acima de 3,509 (Lopes,
a participação dessa região na produção na- 2005). Por sua vez, em 2017, passam a atingir
cional de carne de frango passou de 8,4% o peso de abate com 150 dias de idade e con-
para 14%, enquanto a região Sul apresentou versão alimentar abaixo de 2,210. Nesse mes-
redução de 64,4% para 59,5% e a região Su- mo período, o tamanho da leitegada passou
deste passou de 24,9% para 22,4% (Costa et de cerca de 10 leitões nascidos por parto, em
al., 2015). Em 2016, a região Centro-Oeste já 1970, para 12,5 (Associação Brasileira de Pro-
respondia por 15,16% do abate de frangos no teína Animal, 2017b). Também se registrou
Brasil (Associação Brasileira de Proteína Ani- um grande aumento na produção de carne
mal, 2017c). suína (Figura 7), que passou de 705 mil to-
neladas, em 1970, para 3,7 milhões de tone-
Por sua vez, no que se refere à intensifica- ladas em 2017, consolidando o Brasil como
ção produtiva, a suinocultura passou por o quarto maior produtor e exportador mun-
um processo semelhante, apesar de isso dial de carne suína (Associação Brasileira de
ter ocorrido um pouco mais tarde. Com a Proteína Animal, 2017b). Em 2016, as regiões
entrada de animais híbridos na década de Sul, Sudeste e Centro-Oeste respondiam por
1970, o melhoramento genético de suínos 69,3%, 16,27% e 14,3%, respectivamente, do
teve um grande salto. A partir de então, abate de suínos no Brasil, e as exportações
o setor passou por profundas alterações do setor totalizaram 732,9 mil toneladas, ge-
tecnológicas, visando ao aumento de pro- rando uma receita de US$ 1,483 bilhão (Asso-
dutividade e à redução dos custos de pro- ciação Brasileira de Proteína Animal, 2017c).
dução. Pressionados pelas exigências do
consumidor por uma carne com menos Em suma, o setor de carnes brasileiro apre-
gordura, técnicos e criadores passaram a sentou expressivo aumento da produção
desenvolver, por meio de programas de entre 1975 e 2017, com destaque para a pro-
genética e nutrição, um suíno com massas dução de frango, que cresceu mais de 26 ve-
musculares proeminentes – especialmente zes no período. Em 2017, a produção total de
em carnes nobres como o lombo e o per- carnes (bovina, de frango e suína) somou 25
nil – e com menores teores de gorduras na milhões de toneladas, ante 3,4 milhões de to-
carcaça. Atualmente o suíno apresenta de neladas em 1975, o que representa um cres-
55% a 60% de carne magra e de 1,0 cm a cimento de 642% (Figura 7).
1,5 cm de espessura de toucinho (Associa-
ção Brasileira de Proteína Animal, 2017a).
Essa evolução foi também evidente nas
áreas de sanidade, manejo e instalações.
9
Isso equivale a dizer que, para cada kg de ganho de
Na década de 1970, os suínos alcançavam peso do suíno, foram necessários 3,50 kg de ração.
10
Usualmente, existem dois mercados diferentes:
peso de abate somente após 200 dias e i) aquele para abastecimento do mercado interno
(açougues, supermercados, voltados a venda de carne
fresca), com animais mais leves (peso de 95 a 105 kg,
conversão de 2,2, 150 dias) e ii) indústria processadora,
8
O deslocamento da atividade das regiões Sul e Sudes- em que a maior parte da produção é de produtos in-
te para o Centro-Oeste é consequência de duas verten- dustrializados (animal com 125 kg para aumentar ren-
tes: a) o deslocamento da produção de milho e soja; dimento industrial, conversão média de 2.4, alcança-
e b) as implicações, principalmente ambientais, da dos em 165-170 dias) (Informação pessoal, Nilo Chaves
concentração da produção em regiões com crescente de Sá, diretor-executivo da Associação Brasileira dos
e intensa urbanização (Contini et al., 2013). Criadores de Suínos- ABCS).

21
0
1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014 2017*
Ano
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira


16
Bovina
14
Frango
Produção (milhões de toneladas)

12 Suína

10

0
1
1975 1978 1981 1984 1987 1990 1993 1996 1999 2002 2005 2008 2011 2014 2017*
Ano

Figura 7. Produção anual de carnes bovina, suína e de frango (em milhões de toneladas) no Brasil, de 1975 a 2017.
Nota: 1estimativa; 2os dados anteriores a 1996 também foram obtidos na Conab, embora não constem na base de
dados atual.
Fonte: Conab (2017).
Entre as proteínas animais, o setor de pesca e hidrográfica do planeta (Bacia do Amazo-
aquicultura é considerado emergente, em ra- nas), grandes lagos de hidrelétricas e açudes
zão da crescente demanda de consumo na- de reservação de água distribuídos em todas
cional e internacional. No Brasil, entre 2005 as regiões, as cadeias produtivas possuem
e 2015, o setor cresceu 123%, passando de grande potencial para elevar o protagonismo
257 mil para 574 mil toneladas, registrando a nacional na produção de peixes e crustáceos.
14ª maior produção aquícola do mundo. Até
2025 o setor deverá registrar um crescimento Em relação à silvicultura, entre 1990 e 2014
de 104%. (El estado..., 2016). Os sistemas se houve expansão de 52% na área de florestas
intensificaram tecnologicamente com rápida plantadas (em sua grande maioria eucaliptos
profissionalização e organização dos produ- e pinus), que passou de 5 milhões de hecta-
tores. Atualmente, grande parte da produção res para 7,6 milhões de hectares naquele úl-
brasileira está concentrada nas águas con- timo ano (FAO, 2017). Em 1990, foram produ-
tinentais, com peixes de água doce (84%), a zidas 1.838 mil toneladas de carvão vegetal,
marinha está mais restrita a alguns estados 22.738 mil metros cúbicos de lenha, 47.024
do Nordeste e do Sul, com a aquicultura mil metros cúbicos de madeira em tora e
(16%), a carcinicultura (12%) e as ostras, as 241 mil toneladas de outros produtos. Entre
vieiras e os mexilhões (4%). Embora existam 1990 e 2014, houve expansão na produção
mais de 30 espécies produzidas, a tilápia e o de carvão vegetal (238%) e lenha (147%),
tambaqui são as mais comercializadas, re- e 163% quando se considera madeira em
presentando 38% e 24% da produção (IBGE, tora. Apenas a categoria de outros produtos
2015). Considerando que o Brasil possui um da silvicultura apresentou retração de 70%
litoral de cerca de 7.300 km, a maior bacia (IBGE, 2017). Esses números demonstram o

22
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

expressivo avanço no rendimento médio dos crescer em decorrência do surgimento dos carros
produtos da silvicultura, com expansão da flex, o que acabou refletindo no crescimento da
produção bastante acima da área plantada demanda e produção. Em 2000, a produção de
com florestas. etanol (anidro mais hidratado) foi de 9,7 bilhões
de litros, atingindo 28,8 bilhões em 2015 (Anuá-
Em 2016, as plantações de eucalipto foram rio..., 2016).
responsáveis por 98,9% da produção de car-
vão vegetal, 85,8% de lenha, 80,2% de madei- A disponibilidade de
ra em tora para produção de celulose e 54,6%
da madeira em tora para outros usos no Bra-
recursos naturais, as
sil. No mesmo ano, as plantações de pinus políticas públicas, as
se destacaram por responder por 18,8% da competências técnico-
madeira em tora para produção de celulose, científicas, a geração
41,9% da madeira em tora para outros usos e
5,6% da lenha comercializada no Brasil.
de tecnologias e o
empreendedorismo
Por um lado, esses dados destacam a pre-
ponderância da silvicultura de eucalipto e
dos agricultores foram
pinus no setor florestal brasileiro. Por outro, fundamentais para o
revelam que, apesar de o Brasil manter 66% desenvolvimento
do seu território com vegetação nativa, essas
áreas têm participação marginal na econo-
agrícola do país
mia florestal brasileira. A função primordial Além dos impactos na renda dos produto-
das áreas de vegetação nativa é a provisão de res rurais, as fortes expansões da produção
produtos madeireiros e não madeireiros para agrícola e da produtividade dos fatores ge-
uso e geração de renda para os produtores raram impactos positivos em termos sociais
rurais, comunidades indígenas, extrativistas (mais emprego e renda) e ambientais, visto
e quilombolas, além da provisão de serviços que houve redução da necessidade relativa
ecossistêmicos vitais para a agricultura brasi- no uso de fatores tradicionais de produção,
leira e para o clima global. principalmente terra e insumos. De fato, em
menos de 40 anos, o Brasil passou de impor-
Outro tema de crescente importância na agricul- tador de alimentos para um dos importantes
tura brasileira é o de agroenergia. Embora a pro- celeiros do mundo, tendo sido também o pri-
dução de etanol tenha tido origem ainda na déca- meiro gigante tropical de alimentos (Gomes
da de 1920, culminando, em 1933, com a criação et al., 2016). Do lado da oferta, os fatores re-
do Instituto do Açúcar e do Álcool, foi apenas no cém-mencionados relacionados à tecnologia
final de 1975, com a criação do programa Pró-Ál- e inovação, capacidade de empreender por
cool, que a agroenergia de fato se consolidou no parte dos produtores rurais, aspectos climá-
País (Távora, 2011). Inicialmente eram produzidos ticos, além de investimentos em infraestrutu-
carros movidos completamente a etanol (chegou ra, foram os mais importantes. Destaca-se o
a atingir 11,4% do mercado em 1990). Em 1993, papel da tecnologia como vetor transforma-
foi aprovada a primeira lei de mistura do etanol dor e responsável pelo sucesso da agricultu-
anidro à gasolina e, desde então, esse percentual ra brasileira. O crescimento da produção foi
passou por algumas alterações (atualmente é importante para o abastecimento do merca-
de 27%). Em 2003, o mercado de etanol voltou a do interno e crescimento das exportações, o

23
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

que contribuiu para a acumulação de reser- mente são fatores fundamentais (Schinaider,
vas e administração da dívida externa. Nesse 2017), sendo importante ainda que os pro-
contexto, é reconhecido o esforço da Embra- dutores disponham de forma crescente dos
pa, dos institutos de pesquisa e das universi- meios para adotar novas tecnologias, bem
dades (Lopes, 2013a). como processos inovadores de produção e
de gerenciamento de suas propriedades.
Embora a agricultura brasileira tenha avan-
çado substancialmente nos últimos anos,
ainda é possível observar grande desigual- Aspectos da
dade de produtividade e de renda no campo, demanda12
o que tem sido atribuído, principalmente, ao
fato de a grande parte dos pequenos pro- Pelo lado da demanda, os principais fatores
dutores não ter sido capaz de adotar novas de influência sobre a produção agrícola são
tecnologias. Essa “não adoção”, por sua vez, crescimento da população, da renda e o com-
é consequência de inúmeros fatores, como portamento dos preços, tanto nacionalmente,
o elevado custo de incorporação das novas quanto em termos internacionais. Esses drivers
tecnologias, as imperfeições de mercado11 e exercerão influência em praticamente todas
a baixa adequação das políticas públicas a tal as megatendências elencadas neste estudo,
fato (Alves et al., 2016b). Assim, grande parte em virtude de seu aspecto transversal. O cres-
das pequenas propriedades, constituídas em cimento da população e o processo de urba-
sua maioria pelos denominados agricultores nização associados ao crescimento da renda
familiares, não acompanharam o desenvol- e ao incentivo à produção e ao consumo dos
vimento tecnológico observado nas grandes biocombustíveis13 fizeram com que a demanda
propriedades rurais nas últimas décadas. por alimentos e produtos agrícolas tivesse au-
mento considerável ao longo da última déca-
Nos próximos anos, para que seja possível da, com exceção do período da crise financeira
promover o desenvolvimento da agricultu- internacional de 2008.
ra nacional de forma mais ampla, será ne-
cessário estimular a profissionalização e o Em 1970, a população mundial era de 3,68 bi-
empreendedorismo do agricultor, especial- lhões de pessoas, chegando a 7,52 bilhões em
mente o familiar. De fato, o comportamento 2017. O século 20, especialmente em sua se-
empreendedor se destaca como uma das gunda metade, foi o período de expansão po-
principais características que fizeram com pulacional mais acelerado. Especificamente
que os produtores fossem capazes de perce- no Brasil, houve um incremento de 120% da
ber as oportunidades e promover o desen- 12
Os aspectos da demanda consolidam drivers de
volvimento da agricultura. Nesse contexto, a mudança das megatendências abordadas neste docu-
capacidade de inovar e empreender criativa- mento. Em razão de seu aspecto transversal, com im-
pactos importantes em praticamente todas as mega-
tendências, optou-se por considerar esses elementos
11
Muitas das imperfeições de mercado que se ligam ao nesta seção.
volume de compra de insumos e de venda de produ- 13
Embora a década de 2000 tenha sido marcada pelo
tos que favorecem a grande compra ou venda, sem ser incentivo globalizado à produção e ao consumo de bio-
consequência necessariamente do poder de mercado. combustíveis, a partir de 2016 alguns países e regiões
Outras imperfeições não são influenciadas pela dimen- sinalizaram que parte desses incentivos poderá ser eli-
são das vendas nem das compras, como o nível de es- minada. O Parlamento Europeu, por exemplo, recém
colaridade, a moradia em regiões de acesso dispendio- aprovou plano para restringir o uso de óleo de palma
so às políticas públicas, as peculiaridades do cadastro para produção de biodiesel na Europa, a partir de 2021
bancário, etc. (Alves; Souza, 2015a). (Reuters, 2018).

24
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

população, que passou de 95 milhões de ha- mais em cada continente). A Europa observa-
bitantes em 1970 para quase 210 milhões em rá redução, ainda que lenta, de sua popula-
2017. A expectativa é que a população mun- ção, e a região da América Latina e do Caribe
dial atinja 8,5 bilhões de pessoas em 2030, atingirá 720 milhões de pessoas, 87 milhões
16% a mais que em 2016. A maior parte desse a mais que no período atual, segundo esti-
crescimento se dará nos continentes asiático mativas da Organização das Nações Unidas
e africano (cerca de 500 milhões de pessoas a (ONU) (Figura 8) (World..., 2015).

Mundo
7.349 | 8.501

América do Norte Ásia


Europa 4.393 | 4.923
358 | 396 738 | 734

Oceania
39 | 47

População África
Milhões de Pessoas
1.186 | 1.679
2015
América Latina
2030
estimativa
e Caribe
634 | 721

Figura 8. População mundial e por regiões, em 2015 e 2030.


Fonte: World... (2015a).

Em 2030 a expectativa é que o Brasil atinja Os níveis de urbanização14 variam significativa-


a marca de 230 milhões de pessoas. Com mente entre as diferentes regiões do mundo,
quase 5 bilhões de pessoas, a Ásia terá apro- e, em geral, os países da África são os menos
ximadamente 58% da população mundial, urbanizados (United Nations, 2015b). Especifi-
enquanto a Índia terá ultrapassado a China camente no Brasil, em 2014 a população urba-
e será o país mais populoso do mundo, tran- na representava 85% e a expectativa é que, em
sição estimada para ocorrer em 2023. Consi- 2030, esse percentual venha a ser de 91% (Uni-
derando um horizonte maior, cabe destacar ted Nations, 2016). Projeta-se que as próximas
os países da África, que apresentam alta taxa décadas tragam mudanças importantes na
de fertilidade e a maior taxa de crescimento distribuição espacial da população global. Até
populacional.
14
Esse processo inclui entre as suas causas o diferen-
Atualmente mais de 50% da população mun- cial de salário entre as cidades e o campo, as melhores
dial habita áreas urbanas (Figura 9), e a expecta- condições de emprego e infraestrutura social das áreas
urbanas e a carência de investimentos significativos em
tiva é que, em 2030, esse percentual atinja 60%. educação, saúde e habitação no meio rural.

25
0
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira
Mundo África Ásia Europa América Latina e América do Oceania
Caribe Norte

2030, mais de 90% do processo de urbaniza- Regiões


trará implicações importantes em termos de
ção ocorrerá nos países em desenvolvimento, consumo de alimentos, água e energia (Runde,
sobretudo na África Subsaariana e Ásia, o que 2015).

5
Rural
4 Urbana
População (bilhões)

0
1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009 2012 2015 2017

Ano

Figura 9. População mundial rural e urbana, de 1970 a 2017.
Fonte: World Bank (2017).

É essencial destacar que o crescimento popu- Ademais, impactos na demanda são espe-
lacional é altamente dependente do cenário rados em razão da expectativa de que 200
das taxas de fertilidade futura, uma vez que milhões de pessoas se tornem refugiadas em
pequenas mudanças na frequência de natali- decorrência de conflitos regionais e poten-
dade, quando projetadas sobre várias décadas, cial mudança do clima. Embora esse proces-
podem gerar grandes diferenças na população so não acarrete modificações diretamente na
total. O crescimento populacional futuro será população total, o impacto se dará na medi-
influenciado não apenas pelas taxas de fertili- da em que há deslocamento de trabalhado-
dade e mortalidade, mas também pela distri- res, elevação do número de pessoas sem re-
buição da população mundial nas diferentes ceber renda e, portanto, vivendo em situação
faixas etárias. Uma distribuição populacional de insegurança alimentar no globo.
mais jovem resultará em maior taxa de cresci-
Além do crescimento da população, o cres-
mento da população e uma mais velha, resul-
cimento da renda também exerce influência
tará em menor taxa de crescimento ou até mes-
sobre a demanda. No período entre 1990 e
mo em redução da população15.
2016, pôde ser observado um aumento do
PIB per capita em paridade de poder de com-
15
Como ilustração, se a taxa de fertilidade futura para
cada país permanecer, de forma consistente, 0,5 crian-
pra (PPP) em grande parte das regiões do
ça acima dos níveis assumidos para a variante média, mundo, com exceção do período da crise de
a população global alcançaria 10,8 bilhões em 2050 e 2008/2009. A partir do início dos anos 2000, a
16,5 bilhões em 2100. Por sua vez, se a taxa de fertilida-
de permanecer, de forma consistente, 0,5 criança abai- expansão da renda ocorreu mais fortemente
xo dos níveis assumidos, a população global alcança- nos países da Europa, da Ásia Central e do
ria 8,8 bilhões em 2050 e reduziria para 7,3 bilhões em
2100 (United Nations, 2017).
Leste Asiático e Pacífico.

26
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

No início dos anos 2000, a renda per capi- Ainda que as últimas projeções indiquem um cres-
ta média mundial era de aproximadamente cimento mais lento da renda nos países em desen-
US$ 10.000,00 e, no Brasil, de US$ 11.500,00. En- volvimento, bem como do comércio agrícola global,
tretanto, no biênio 2015-2016, o País apresen- do que aquele que foi observado na década de 2000,
tou queda acumulada de 7,2% no PIB (Saraiva; essas regiões – onde os rendimentos individuais são
Sales, 2017), com retomada lenta da economia baixos – serão as principais impulsionadoras da de-
em 2017 e possibilidade de impactos de longo manda até 2050. Projeções indicam ainda forte ex-
prazo, no que se refere ao consumo e aos inves- pansão da classe média na população total (Figura
timentos. Justamente por isso, um dos grandes 10), sendo a maior parte nos países da Ásia. Em 2030,
desafios para os países da América Latina ao serão 5,1 bilhões de pessoas no estrato de renda mé-
longo dos próximos 10 anos será o baixo cres- dia, o que corresponde a 60% da população (Kharas,
cimento (Estados Unidos, 2017b). 2017).

9 100%
Classe média mundial
8 População mundial 90%

Percentual
Participação da classe média
7 mundial no total da população 80%

Percentual
6 70%
Pessoas (bilhões)

60%

dada
5

população
50%

populaçãototal
4
40%
3
30%

total
2
20%
1 10%

0 0%
1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030

Figura 10. População mundial, classe média mundial e participação da classe média mundial no total da população,
de 1970 a 2030.
Fonte: Adaptado de Kharas (2017).

Quando se analisa o percentual da classe metade do século 20. Na virada dos anos 1990
média16 no total da população mundial, ob- para os anos 2000, houve uma aceleração do
serva-se que, em 1970, essa participação era contingente e, em 2010, mais de um terço da
de apenas 15% (Figura 10), parcela que foi se população global se encontrava nesse estrato
expandindo lentamente ao longo da segunda de renda, ultrapassando 40% nos anos recen-
tes (em 2016, havia cerca de 3,2 bilhões de pes-
16
A classe média compreende as famílias com renda
soas nessa condição) (Kharas, 2017).
per capita entre US$ 10 e US$ 100 por pessoa por dia,
em termos de paridade de poder de compra (PPP) de
2005, o que implica uma renda anual para um agrega-
do familiar de quatro pessoas entre US$ 14.600 e US$
146.000 (Kharas, 2017).

27
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

O aumento da renda implica mudanças nos per capita anual de carnes no Brasil entre
padrões de consumo, o que resulta na expan- 1970 e 2013, observa-se que o de bovina au-
são da demanda por carne, frutas e vegetais, mentou mais de 120%, o de suína pratica-
na redução do consumo de alimentos bási- mente 60% e o de frango 1.040% (Figura 11).
cos, na diversificação da cesta de consumo Consideradas as três carnes em conjunto, o
(Silva; Paula, 2017), bem como no aumento consumo per capita anual atingiu 97 kg, uma
da demanda por produtos mais elabora- expansão de 228%.
dos. Analisando-se a evolução do consumo

50 120
Bovina
45

Consumo per capita total (kg/hab./ano)


Suína
100
Consumo per capita (kg/hab./ano)

40
Frango
35 Total 80
30

25 60

20
40
15

10
20
5

0 0
1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009 2012 2013

Ano
Figura 11. Consumo per capita anual de carnes bovina, suína e de frango no Brasil, de 1970 a 2013.
Fonte: FAO (2017).

Considerando o consumo per capita anual pode ser explicado em razão de mudanças
de grãos17 no Brasil (Figura 12), o consumo nos padrões de consumo alimentar em de-
de trigo foi o que mais aumentou no período corrência do aumento do poder aquisitivo
analisado, passando de 34 kg/hab./ano em (para o arroz e feijão, a elasticidade-renda é
1970 para 51 kg/hab./ano em 2016. Isso se negativa – aumentos da renda geram redu-
deve principalmente ao aumento do consu- ção na quantidade demandada18) e do cres-
mo de produtos mais elaborados, como pães cimento da alimentação fora do lar.
e bolos. Por outro lado, houve retração no
consumo per capita de arroz e feijão, o que 18
A elasticidade média (considerando diferentes estra-
tos de renda) do arroz e feijão é levemente negativa.
Considerando o uso para alimentação humana, se-
17
Já para as carnes a elasticidade-renda é positiva (Hof-
mentes e indústria de feijão, milho, arroz e trigo. fman, 2007).

28
Con
0 0
1970 1973 1976 1979 1982 1985 1988 1991 1994 1997 2000 2003 2006 2009 2012
Ano
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Milho Trigo Arroz Feijão


70
Consumo per capita (kg/hab./ano)

60

50

40

30

20

10

0
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2016
Ano

Figura 12. Evolução do consumo interno per capita de grãos anual, de 1970 a 2016.
180
Notas: os dados referem-se ao consumo para alimentação humana, sementes e uso industrial; a fonte de dados de consumo
de feijão
160é a FAO e estão disponíveis apenas até o ano de 2013.
Fonte: Estados Unidos (2017b) e FAO (2017).
140

Embora
120 a maior parte da produção agríco- de de alimentos (quantidade e diversidade),
la brasileira seja direcionada para o merca- observou-se redução significativa dos preços
100
Índice

do interno, as exportações têm sido a força dos alimentos. Após uma forte expansão en-
motriz80do crescimento da produção agrícola tre as décadas de 1960 e 1970, os preços dos
nacional, sobretudo pelo aumento da de- alimentos atingiram os menores valores na
60
manda por grãos e carnes. Em 1989, o valor década de 2000, quando passaram a apre-
exportado
40 foi de US$ 13,9 bilhões, enquanto sentar leve tendência de alta19 (Figura 13).
em 2013 as exportações alcançaram um re-
20
corde de quase US$ 100 bilhões. Após bre-
0
ve retração em 2015 e 2016, as exportações
1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001 2005 2009 2013 2017
do agronegócio voltaram a ganhar ímpeto AnoVários fatores contribuíram para os aumentos de
19

em 2017, estando estimadas em US$ 96,3 preços na década de 2000, entre os quais se destacam:
utilização de matérias-primas para a produção de bio-
bilhões. Destaca-se ainda a importância do combustíveis, taxa de juros do mercado norte-america-
crescimento econômico da China, que im- no (além do efeito sobre estoques, justifica a procura
pulsionou as exportações brasileiras de soja por mercados futuros de commodities) e financiamen-
to do mercado de commodities. A partir deste último,
(entre 1997 e 2012, as exportações de soja agentes especuladores passaram a utilizar, de forma
em grão do Brasil para a China aumentaram intensa, os derivativos sobre commodities como ativo
em seus portfólios (Silveira et al., 2011). Embora haja
80 vezes) (Torres et al., 2014). controvérsias em relação a seus efeitos, a migração de
capitais dos mercados financeiros para as commodi-
Para o consumidor brasileiro, além dos be- ties tem provocado mudanças no padrão e na estabili-
nefícios relacionados à maior disponibilida- dade de preços desses produtos (Silva; Campos, 2012).

29
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

180

160 Índice preço cesta básica


Índicecesta básica

140

120

100
Índice preço

80

60

40

20

0
1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001 2005 2009 2013 2017
Ano


Figura 13. Índice dos preços reais da cesta básica na cidade de São Paulo, de 1965 a 2017 (1965 = 100).

Fonte: Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (2017).

Considerando os inúmeros aspectos mencio- continua tendo um papel de protagonismo


nados, o Brasil se consolidou como o único visando atender às crescentes demandas
país no cinturão tropical capaz de conquistar dos mercados nacionais e internacionais de
a posição de potência agrícola. As tecnolo- alimento, fibras e energia.
gias de manejo do solo e a tropicalização dos
cultivos permitiram que o País aproveitasse
terras em diversas condições climáticas. Os
Projeções dos
manejos e as práticas sustentáveis desen- mercados agrícolas
volvidas constituem um arsenal de defesa
O crescimento da população e o processo de
ambiental. O dinamismo empreendedor dos
urbanização, somados à elevação da renda e
produtores combinado com esses conheci-
ao incentivo à produção e ao consumo dos
mentos e com as oportunidades de mercado
biocombustíveis, fizeram com que a deman-
tornaram as safras brasileiras essenciais para
da por alimentos e produtos agrícolas tivesse
a segurança alimentar do País e do mundo
aumento considerável a partir da década de
(Lopes, 2017).
2000, com previsão de manutenção desse ce-
Em suma, a agricultura do Brasil possui uma nário nas próximas décadas.
trajetória de sucesso forjada nas condições
Projeta-se que, em 2025, os países em de-
de solo, clima e relevo; no avanço da ciên-
senvolvimento serão responsáveis por 96%
cia, tecnologia e inovações; na assertividade
do consumo adicional de grãos e 88% de
das políticas públicas; e na competência dos
produtos de origem animal (OECD-FAO...,
agricultores. Esses fatores conjugados torna-
2017). Nos países e regiões com rendimentos
ram o Brasil um dos líderes mundiais tanto
individuais maiores  – como Estados Unidos
na produção, quanto na exportação agríco-
da América (EUA), Canadá e União Europeia
las. Nesse sentido, a agricultura brasileira

30
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

(UE) –, há um movimento de substituição da por esse crescimento. No caso do milho, as


carne bovina e de cordeiro pela de aves, fato projeções indicam crescimento de 18%, o
que está associado, entre outros motivos, à que corresponde a 25 milhões de toneladas a
crise da encefalopatia espongiforme bovina mais no comércio mundial, que atingirá 168
(doença da vaca louca) e à percepção de que milhões de toneladas em 2026/2027 (OECD-
as carnes brancas são mais saudáveis. -FAO..., 2016).

De fato, entre as carnes, a de aves é aquela Em relação ao comércio mundial de algodão,


que apresenta maior expectativa de cresci- o crescimento da demanda chinesa implica
mento da demanda e. Segundo projeções, a expectativa de que, em 2026, 30% do al-
deverá haver um incremento de 24% das godão transacionado internacionalmente
importações por parte dos principais paí- tenha como destino aquele país. Espera-se
ses compradores. Com a estimativa de atin- que suas importações de milho e algodão
gir mais de 13,3 milhões de toneladas em aumentem, ao longo do período de projeção,
2026/2027 (Estados Unidos, 2017b). Outras para 6,1 milhões de toneladas e 14,4 milhões
projeções indicam que, em 2025, o comér- de fardos em 2026/2027, respectivamente.
cio mundial de carnes deverá ser 22% maior
do que no período base (2015) (OECD-FAO..., No que se refere ao comércio de arroz, a expec-
2016). tativa é que o seu consumo global aumente em
39 milhões de toneladas até 2026. A China será
Especificamente na China, anos seguidos de responsável por 20% desse aumento, que ocor-
crescimento somados ao amplo processo de rerá sobretudo por sua expansão populacional
urbanização impulsionaram a demanda por – o consumo per capita permanecerá prati-
carnes e peixes, fato que levou ao aumento camente estável ou reduzirá levemente. Não
de suas importações de soja. Estima-se que apenas a China causará fortes impactos nesse
80% da soja nesse país seja moída para pro- sentido, outros países, especialmente do eixo
duzir óleos e rações destinados à alimen- leste-sul asiático, também contribuirão para tal.
tação animal e apenas 20% à alimentação Exemplo disso é a Índia, que será responsável
humana (Savadore, 2013). Na prática, o cres- por 31% do acréscimo da demanda por arroz
cimento da China tem pressionado a deman- (OECD-FAO..., 2016).
da por inúmeras commodities, com exceção
Contudo a velicidade do crescimento da
do trigo (autossuficiência) e do sorgo [proje-
demanda por alimentos deverá desacelerar
ta-se que o comércio mundial de sorgo redu-
consideravelmente. Embora haja expectativa
zirá 22% até 2026 (Estados Unidos, 2017b)].
de crescimento da demanda per capita por
Contudo, a desaceleração da China no perío-
cereais alimentícios nos países em desenvol-
do recente tem contribuído para as expecta-
vimento, globalmente essa demanda deverá
tivas de redução da taxa de crescimento do
permanecer praticamente inalterada. O cres-
comércio agrícola e de baixa nos preços in-
cimento no consumo de carnes é também
ternacionais (OECD-FAO..., 2016).
influenciado por preferências nutricionais,
O comércio mundial de soja deverá crescer renda e restrições de oferta, que limitam o
25% (36 milhões de toneladas) em 10 anos, e seu aumento (calorias adicionais e proteínas
a China responderá por 85% desse aumento: virão principalmente de óleos vegetais, açú-
e o de óleo de soja 27% (3,2 milhões de tone- car e produtos lácteos). Asim, o consumo per
ladas), sendo a Índia a principal responsável capita deve permanecer estável, e a deman-

31
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

da por carne bovina deverá crescer a uma cia de o mandato do etanol nesse país estar
taxa similar à do aumento populacional. O estagnado. Como a demanda por combustí-
forte crescimento no consumo de frango na veis de transporte será sustentada no Brasil,
década de 2000 ocorreu devido ao aumen- a demanda por cana-de-açúcar permane-
to nos países da Organisation for Economic cerá relativamente robusta. Deverá ocorrer
Co-operation and Development (OECD), jun- retração do consumo de biomassa para bio-
tamente com Brasil e Rússia. Para o período combustíveis mundialmente, e a maior parte
entre 2016/2017 e 2026/2027, a expectativa é dessa retração estará concentrada no milho
de crescimento, contudo essa taxa deverá ser norte-americano (OECD-FAO..., 2017).
aproximadamente metade daquela observa-
da nos anos 2000. Quanto ao etanol, setor Em relação às exportações brasileiras, as pro-
também relevante para o Brasil, está previs- jeções do Mapa mostram que o País apre-
ta uma desaceleração do crescimento, e os sentará um incremento significativo para a
Estados Unidos são responsáveis por parcela maioria dos produtos até 2026/2027 (Tabela 1)
importante dessa redução como consequên- (Projeções..., 2017).

Tabela 1. Projeção de exportação de produtos agrícolas brasileiros em 2016/2017 e 2026/2027.


Produto 2016/2017 2026/2027 Variação (%)
Algodão pluma (mil t) 630 1.118 77,5
Milho (mil t) 25.500 35.130 37,8
Soja - grão (mil t) 63.000 84.111 33,5
Soja - farelo (mil t) 15.900 17.240 8,4
Soja - óleo (mil t) 1.550 1.557 0,5
Carne de frango (mil t) 4.280 5.890 37,6
Carne bovina (mil t) 1.800 2.429 34,9
Carne suína (mil t) 900 1.277 41,9
Café (mil t) 2.100 2.760 31,4
Açúcar (mil t) 28.933 39.466 36,4
Suco de laranja (mil t) 2.315 2.769 19,6
Leite (milhões L) 245 337 37,6
Papel (mil t) 2.172 2.380 9,6
Celulose (mil t) 13.858 19.170 38,3

Fonte: Projeções... (2017).

Outros fatores relevantes a serem considera- mission, 2016; OECD-FAO..., 2016; Estados
dos quando se analisa a demanda por produ- Unidos, 2017b). Se, por um lado, o dólar mais
tos agrícolas no comércio mundial são a taxa alto favorece as exportações brasileiras de
de câmbio e o preço do petróleo. Projeções commodities, por outro pressiona os custos
realizadas por várias organizações indicam a de produção, que poderão ser parcialmente
apreciação do dólar e preços baixos para o compensados pela redução do preço do pe-
petróleo na próxima década (European Com- tróleo.

32
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Uma razão adicional para a desaceleração gração que inclui Chile, Peru, Colômbia e Mé-
da taxa de crescimento do comércio exterior xico); Aliança do Pacífico e Mercado Comum
pode ser a adoção de políticas mais prote- do Sul (Mercosul); e entre México e o restante
cionistas em alguns dos principais países da América Latina (The Economist, 2017).
importadores. Ainda que a proteção comer-
Apesar da importância dos EUA e da China, a
cial agrícola venha sendo reduzida na maio-
União Europeia ainda é o principal parceiro
ria dos países da OCDE, várias economias
comercial do Mercosul e fonte de investimen-
emergentes (incluindo a China, a Índia e a
tos. Para a UE, o Mercosul também é um im-
Indonésia) estão perseguindo objetivos de
portante mercado (representa praticamente
autossuficiência e proteção de importação
metade do PIB da América Latina). Entretan-
(OCDE-FAO, 2016). A expectativa é que haja
to, o acordo de livre comércio Mercosul-UE,
a redução do estabelecimento de acordos
retomado em 2010, está sendo negociado
multilaterais em favorecimento aos acordos
de forma lenta, devido, principalmente, a
bilaterais.
obstáculos relacionados ao tratamento dos
Medidas de abandono de acordos comerciais produtos agrícolas (aspectos sanitários de
já existentes, como a saída dos Estados Uni- produtos de origem animal, o fato de a UE
dos do Acordo Transpacífico (Trans Pacific pleitear o livre comércio de 90% do volume
Partnership – TPP) e a renegociação de suas comercializado e a manutenção de sistema
relações comerciais com o México e também de quotas para as importações de alimentos
com a China, têm o potencial de prejudicar a oriundos da América Latina). Por parte do
confiança dos consumidores e dos empreen- Mercosul, existe ainda preocupação quanto
dimentos e, portanto, prejudicar o comércio às compras públicas (a UE pleiteia livre aces-
internacional e o investimento (World Trade so das suas empresas às licitações públicas
Organization  – WTO, 2017) (The Economist, dos países do Mercosul) e também quanto a
2017). Na Europa, a saída oficial20 do Reino resolução de controvérsias dos investimen-
Unido da União Europeia aumenta a incerte- tos (The Economist, 2017).
za sobre o formato futuro das suas relações
comerciais. Uma vez que a participação na A expectativa é que China, Índia e o restante
União Europeia permite que os países com- dos países do Sul da Ásia ainda serão os prin-
prem e vendam produtos e serviços entre si cipais importadores de produtos do agrone-
sem a aplicação de taxas e impostos dentro gócio até 2030, de todo o globo bem como
da área comum, o Reino Unido passará a ter do Brasil. Contudo, as constantes revisões
taxas diferentes no comércio exterior com os das políticas da China vêm criando incerte-
países europeus, podendo até mesmo trocar zas21 em relação ao comércio com aquele
país. No período 2015-2016, o governo chinês
de parceiros (European Commission, 2016).
adotou estratégias para ganho de escala nas
A América Latina vem retomando o aprofun- operações agrícolas e medidas para contro-
damento das relações de livre comércio e in- le dos impactos ambientais da agricultura, o
tegração regional, podendo-se destacar três que poderá impactar a produção doméstica
frentes: Aliança do Pacífico (projeto de inte- de commodities. Para a carne bovina, as res-
20
Embora o Reino Unido já tenha oficializado a saída
da União Europeia, o afastamento efetivo só ocorrerá 21
Essa discussão baseia-se no box China Policy
após negociações com os demais membros do bloco, Overhaul Creates Uncertainty do Usda Agricultural Pro-
podendo levar até 2 anos para a sua concretização jections to 2026 (Estados Unidos, 2017b, p. 58).

33
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

trições ambientais e os altos preços diminuí- Unidos, 2017b). Ademais, a China está experi-
ram o ritmo de crescimento da demanda por mentando diferentes abordagens para subsi-
esses produtos. No caso de algodão, soja, diar os agricultores, intensificando os esforços
canola e milho, o acúmulo de estoques as- para expandir as operações agrícolas, promo-
sociado à lacuna entre os preços doméstico ver a comercialização de direitos de uso da
e internacional motivou as autoridades chi- terra, ampliar o crédito agrícola, apoiar redes
nesas a permitirem uma queda de até 30% rodoviárias e de irrigação, melhorar os serviços
no preço doméstico. Em 2016, observou-se a de consultoria aos agricultores e a capacidade
substituição da política de apoio ao preço do doméstica de pesquisa e desenvolvimento.
milho com um pagamento aos produtores Contudo, todos esses programas são experi-
em uma estratégia chamada de “separando mentais, e seus impactos, em longo prazo, tam-
o subsídio do preço”. A remoção do preço mí- bém são incertos.
nimo para o milho poderá deslocar área para
outras culturas, como, por exemplo, forragei- Os contextos mundial e nacional ora apre-
ras e trigo. sentados sinalizam positivamente para as
projeções de continuidade do crescimento
No entanto, o impacto dessas políticas na de- da produção agrícola do Brasil. Em 2027, es-
cisão de produção, no uso de commodities e pera-se que o Brasil produza acima de 290
incentivos às importações não está totalmente milhões de toneladas de grãos e mais de 34
claro. A política de preços mínimos permanece milhões de toneladas de carnes bovina, suí-
em vigor para trigo e arroz, ainda que a China na e de frango (Tabela 2) (Projeções..., 2017).
tenha grande excedente desses grãos (Estados

Tabela 2. Área plantada, produção e rendimento médio das principais culturas no Brasil e quantidade produzida de
carne bovina, suína e de frango, em 2017 e 2027 (projeções).
Área plantada Produção Rendimento médio
(em mil ha) (em mil t) (em t/ha)
Produto
Projeção Projeção
2017 2017 2017
2027 2027
Soja 33.856 43.158 113.013 146.533 3,3
Milho 17.244 18.588 92.833 118.772 5,4
Feijão 3.094 1.826 3.328 3.106 1,1(1)
Arroz 1.961 969 11.963 12.589 6,1
Trigo 1.954 2.175 5.219 6.753 2,7(1)
Algodão pluma 940 965 1.489 1.993 1,6
Café 1.951 1.866 3.060 3.780 1,6(1)
Carne bovina - - 9.500 11.444 -
Carne suína - - 3.815 4.905 -
Carne de frango - - 13.440 17.930 -
(1)
Valor estimado pela Secretaria de Inteligência e Relaçoes Estratégicas (SIRE), com base nos dados de área plantada
e produção para 2017.
Fonte: Projeções... (2017).

34
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

MEGATENDÊNCIAS
O tratamento e a análise crítica dos sinais e documentos globais e nacionais que abor-
tendências captados no processo de delinea- dam questões de futuro, com impacto na
mento do “futuro da agricultura brasileira” agricultura (Anexo 2). Grande parte desses
levaram à definição de megatendências que documentos tem foco em cenários, e foram
conformarão as cadeias produtivas agrícolas. considerados, sobretudo, aqueles que abor-
Tendências e sinais do ambiente são forças dam possíveis contribuições de CT&I para
que estão em movimento de maneira interli- o desenvolvimento sustentável e inserção
gada, mas que apresentam maior proximida- competitiva da agricultura brasileira no mer-
de e influência mútua quando analisadas na cado global. Nessa etapa, foram realizados
perspectiva de alguns conjuntos, as mega- também painéis de especialistas por algu-
tendências. Elas são entendidas no presen- mas Unidades da Rede de Observatórios
te documento como conjuntos de forças de da Embrapa, com o intuito de aprofundar a
transformação mais fortemente interligadas identificação de sinais e tendências com im-
que deverão impactar fortemente o futuro. pacto sobre a agricultura brasileira.
Para a geração dos resultados apresentados fo- Foram elencados, ainda, documentos com
ram planejadas e executadas cinco etapas, com informações sobre a trajetória recente da
foco na identificação e na análise de aspectos agricultura e outros aspectos que acarretam
do contexto mundial que impactam direta e fortes impactos a ela, tais como demografia,
indiretamente o setor agrícola (Figura 14): 1) renda e comércio internacional. Nesse con-
identificação de sinais e tendências/drivers em texto, atentou-se para questões como pro-
conteúdos gerados por diferentes atores dos dução, produtividade, tecnologias, políticas
diversos elos das cadeias produtivas agrícolas; públicas, organização territorial e mudan-
2) análises desses sinais e tendências/drivers ças estruturais. Além disso, analisaram-se as
do ambiente elaborados pelos Observatórios, agendas estratégicas das Câmaras Setoriais
Portfólios de Projetos, Laboratórios Virtuais no e Temáticas (CSTs23) do Mapa, considerando
Exterior (Labex)22 e especialistas (ad hocs) da aspectos do setor produtivo brasileiro repre-
Embrapa; 3) definição das megatendências e sentado por essas instâncias. O conjunto de
desafios derivados; 4) consultas sobre mega- dados e informações levantado nessa etapa
tendências e desafios a segmentos da iniciati- subsidiou a elaboração de parte dos tópicos
va privada, do terceiro setor, de organizações iniciais do presente documento e sinalizaram
públicas e de unidades e especialistas da Em- tendências importantes, que não poderiam
brapa; e 5) consolidação da visão da agricultura deixar de ser abordadas durante o processo
brasileira. de construção do documento final.
O Passo 1 (Identificação de Sinais e Tendên- 23
Essas câmaras constituem importantes fóruns de dis-
cias/Drivers) consistiu na identificação de cussão entre os diversos elos das cadeias produtivas,
reunindo centenas de entidades representativas de pro-
dutores, empresários, organizações bancárias e de outros
Disponível em: <https://www.embrapa.br/programa-
22
atores do setor, além de representantes de órgãos públi-
embrapa-labex>. cos e técnicos governamentais (Brasil, 2016).

35
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Na sequência, foram elaboradas notas téc- lógica e de Conhecimentos na Agricultura.


nicas, por parte das equipes dos Observa- Cada uma dessas megatendências se des-
tórios do Sistema Agropensa, dos Labex, dobra em desafios considerando como ho-
dos Comitês Gestores dos Portfólios de rizonte o ano 2030, embora esses impactos
Projetos da Embrapa24 e, também, de espe- possam ocorrer nos próximos anos ou até
cialistas em temáticas específicas (autores depois desse horizonte.
ad hoc), consolidando o Passo 2 (Análise
de Sinais e Tendências/Drivers). Essas no- Além disso, ao longo de todo o processo
tas técnicas (Anexo 1) apontaram os prin- foram sendo compilados conteúdos de
cipais sinais e tendências gerais e de CT&I consultas realizadas a atores dos setores
no contexto nacional e internacional, com privado e público, com o intuito de identifi-
atenção àqueles com potencial de impac- car fortes sinais e tendências que apontam
to para o setor agrícola nos próximos anos. grandes transformações com potencial de
Nessa fase, também foram considerados impacto sobre as cadeias produtivas agrí-
sinais e tendências com base em informa- colas. Nesse processo, foram consultados
ções geradas no âmbito dos Comitês As- artigos de opinião (Anexo 3)25, com expec-
tativas de caminhos possíveis para o de-
sessores Externos dos Centros de Pesquisa
senvolvimento sustentável da agricultura
da Embrapa (CAEs).
brasileira. Essas diferentes visões foram
Todo o conteúdo captado nas etapas an- pautadas pela Agenda 2030, que funda-
teriores foi então analisado, permitindo a menta os 17 ODS da ONU. Esse material
extração dos pontos centrais, ou os mais foi tratado, com maior profundidade, no
intensos sinais e tendências para a agri- Passo 4 (Consultas sobre Megatendências
cultura brasileira. Esses pontos foram or- e Desafios), possibilitando melhor adequa-
ganizados em uma matriz, por meio da ção das megatendências. Destaca-se ainda
qual foram tratados e agrupados em uma nesse passo a disponibilização de consulta
proposta inicial para as megatendências, ao documento a todos os colaboradores da
o que se denominou de Passo 3 (Definição Empresa, da qual surgiram inúmeras indi-
das Megatendências). Nessa mesma etapa, cações de ajustes ao conteúdo, que foram
realizou-se um workshop com especialistas analisadas e processadas.
da Embrapa em temáticas ligadas aos si-
nais e tendências captados, para ajustes de Por fim, foi realizada análise integrada do
conteúdo, o que consolidou as sete mega- documento, com participação de instân-
tendências (Figura 15) com forte potencial cias de decisão estratégica (Comitês, Dire-
de impacto para a agricultura brasileira: 1) toria e Presidência) da Empresa, o que de-
Mudanças Socioeconômicas e Espaciais na nominou o Passo 5 (Consolidação da Visão
Agricultura; 2) Intensificação e Sustentabi- da Agricultura Brasileira). Essa etapa resul-
lidade dos Sistemas de Produção Agríco- tou na versão final do documento: Visão
las; 3) Mudança do Clima; 4) Riscos na Agri-
2030 : O Futuro da Agricultura Brasileira.
cultura; 5) Agregação de Valor nas Cadeias
Produtivas Agrícolas; 6) Protagonismo dos
Consumidores; e 7) Convergência Tecno-
25
Para maiores detalhes sobre os artigos de opinião,
24
Disponível em: <https://www.embrapa.br/pesquisa- consultar: <https://www.embrapa.br/olhares-
-e-desenvolvimento/portfolios>. para-2030>.

36
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

5
Consolidação da visão
da agricultura brasileira
Comitês estratégicos,
diretoria-executiva e
presidência da Embrapa
4
Consultas sobre
megatendências e desafios
Agentes e atores da iniciativa privada,
terceiro setor, organizações públicas

3
unidades e especialistas da embrapa

Definição das megatendências


Análise integrada
dos sinais e tendências/drivers
Workshop com especialistas
Levantamento dos desafios
2
1
Análise de sinais e
tendências/drivers
Observatórios Agropensa
Identificação de sinais Portfólios de projetos
e tendências/drivers Laboratórios virtuais
no exterior (Labex)
Estudos, cenários e projeções Especialistas (ad hocs)
Painéis de especialistas
Câmaras setoriais e temáticas/Mapa

Figura 14. Etapas do processo de elaboração do documento Visão 2030 : O Futuro da Agricultura Brasileira.
Fonte: Agropensa (2018).

37
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Figura 15. Megatendências apontadas para a agricultura brasileira.

38
Fonte: Agropensa (2018).
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

39
MUDANÇAS
SOCIOECONÔMICAS
E ESPACIAIS NA
AGRICULTURA
40
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Ao examinar o último meio século, destaca-se mento agropecuário brasileiro, associada


um fato social típico das regiões rurais brasilei- ao movimento de concentração da pro-
ras, o qual acarreta inúmeras consequências dução (e da riqueza em geral) no campo.
para a organização da economia e da socieda- Segundo dados do Instituto Brasileiro de
de como um todo. A partir da década de 1950, Geografia e Estatística (IBGE) (2018), em
migrações rurais, destinadas sobretudo às ci- 2015, a soja, por exemplo, teve 25% da
dades, ocorreram de forma intensa. No entan- sua produção concentrada em seis mi-
to, uma parte significativa também migrou em crorregiões (as seis maiores produtoras).
direção a outras regiões rurais, especialmente Ao se agregarem a esse grupo mais 17 mi-
nas regiões Centro-Oeste e Norte. crorregiões, chegamos a 50% da produ-
ção de soja no País. Ao se avançar ainda
Desde aquela década e, sobretudo, até
nesse agrupamento até alcançar 75% de
os anos 1990, de acordo com os censos
toda a produção nacional de soja, iden-
demográficos do período, um em cada
tificou-se que ela se encontrava concen-
três brasileiros deixou seu local de mora-
trada em 57 microrregiões, enquanto as
dia original e migrou. A partir desse sé-
restantes 215 microrregiões com registro
culo, contudo, houve um abrandamento
do produto responderam pelos demais
desses movimentos populacionais por
25% (comunicação pessoal) 26. Essa ten-
diversas razões. Essas migrações, inten- dência gera por si só uma série de desa-
sificadas na década de 1980, culminaram fios relacionados ao crescente esvazia-
em importantes “mudanças espaciais” mento do campo com encarecimento da
na agricultura brasileira. A região Centro- mão de obra.
-Oeste tornou-se, nas últimas décadas, a
grande região produtora agrícola do País Esses aspectos moldam um novo mosaico
e gerou grande parte do valor de produ- de uso e cobertura das terras no Brasil, e sua
ção nacional, impulsionando as exporta- compreensão é imprescindível para o plane-
ções. Importantes movimentos estão em jamento e a tomada de decisão em âmbito
pleno curso e continuarão influencian- público e privado. Nesse sentido, estudos
do as mudanças espaciais nos próximos que envolvem análises geoespaciais, mode-
anos, destacando-se a intensificação lagens agroambientais e inteligência territo-
agropecuária; a concentração da pro- rial estratégica vêm crescendo. A integração
dução; a expansão da fronteira agrícola, de informações sobre produção animal e
especialmente para os estados do Pará e vegetal, aspectos sociais e econômicos de
de Mato Grosso e para parte dos estados forma multiescalar e as análises multidisci-
do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e plinares facilitam o entendimento das mu-
da Bahia (Matopiba). A região delimita- danças espaciais e apoiam o desenvolvimen-
da pelos estados de Sergipe, Alagoas e to da agricultura brasileira.
Bahia (Sealba) também possui potencial
produtivo pela vantagem de localizar-se 26
Entrevista com Fernando Luís Garagorry: agrodinâ-
próximo a portos marítimos. mica brasileira [set. 2017]. Entrevistador: Marcos A. G.
Pena Júnior. Brasília, DF: Secretaria de Inteligência e
Destaca-se a manutenção da tendência Macroestratégia (SIM)/Embrapa Sede, 2017. Depoimen-
to presencial. Depoimento concedido à Supervisão de
que vem caracterizando o desenvolvi- Estudos Estratégicos da SIM/Embrapa.

41
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Processos migratórios que se dirigiu às regiões da fronteira agríco-


la, a partir do final da década de 1970. Uma
e as mudanças proporção significativa desses migrantes foi
espaciais atraída pelas atividades de construção de ro-
dovias, principalmente a BR-230, denomina-
A análise dos processos migratórios é im- da Transamazônica (de Cabedelo, PB, a Lá-
portante, pois esses explicam, em grande brea, AM), a BR-010 (de Brasília, DF, a Belém,
medida, as mudanças espaciais ocorridas PA) e a BR-364 (de Limeira, SP, a Rodrigues Al-
na agricultura as quais sinalizam tendências ves, AC). Esse processo migratório foi intensi-
em curso, colocando em evidência as pers- ficado pelas expectativas geradas pela mine-
pectivas de alterações no mapa da produção ração de ouro e outros metais preciosos, em
em um prazo mais curto. Quando se analisa especial, no estado do Pará. Em função desse
o período correspondente aos últimos 50 segundo movimento de migrantes nordesti-
anos, é possível citar a formação e o desen- nos, ampliou-se a ocupação do Maranhão e
volvimento, principalmente, de três gran- do Pará, e alguns grupos chegaram a ocupar
des movimentos migratórios, de magnitude regiões mais remotas em Rondônia.
nacional e, de certa forma, sequenciais, dos
quais dois contribuíram para também produ- Finalmente, o terceiro movimento popula-
zir mudanças importantes no mapa da pro- cional, que é, de fato, o mais relevante no
dução agrícola. que se refere à influência sobre uso e ocu-
pação das terras, diz respeito à “caminhada
O primeiro desses movimentos de alta densi- dos sulistas” (especialmente gaúchos), ocor-
dade demográfica diz respeito às migrações rida, em especial, a partir dos anos finais da
oriundas do Nordeste em direção, particular- década de 1980 e que foi acentuada na dé-
mente, às regiões que se industrializaram mais cada seguinte. Esse movimento originou-se
rapidamente, notadamente a cidade de São principalmente com os pequenos produto-
Paulo e outros polos próximos (Vale do Paraíba, res que, na década de 1970, aprenderam a
por exemplo), que ocorreram principalmente plantar soja. Posteriormente, ambicionaram
entre 1960 e 1980. Tanto em termos absolu- ampliar seus cultivos, mas as terras disponí-
tos quanto relativos, esses vinte a trinta anos veis já haviam se esgotado, fazendo com que
foram os de maior impacto em nossa história, buscassem novas áreas de expansão agrí-
no tocante às migrações de origem rural. Nesse cola. Inicialmente, esse fluxo migratório di-
período, quase 30 milhões de brasileiros deixa- recionou-se ao oeste do Paraná, região essa
ram o seu lugar de origem nas regiões rurais, que, com o tempo, tornou-se um dos maio-
buscando novas oportunidades em outras re- res polos produtores de soja do País. Depois
giões do País. Uma parcela desse deslocamen- disso, esses produtores seguiram para outras
to populacional também se dirigiu à Brasília, regiões: Grande Dourados (Mato Grosso do
quando a capital foi constituída. Por tais razões, Sul), partes do Triângulo Mineiro, sul de Goiás
São Paulo e Brasília podem ser vistas como al- e, também, a região em torno de Sorriso e Lu-
gumas das maiores “cidades nordestinas” do cas do Rio Verde, já em Mato Grosso. Essas
Brasil. regiões se consolidaram como importantes
produtoras de grãos do País (não apenas a
O segundo movimento migratório, também
soja, mas também a expansão do milho e
com origem principal no Nordeste, foi aquele
sua safrinha, além do algodão). Já na década

42
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

de 1990, esses produtores avançaram para chegando até mesmo em Rondônia. Na Fi-
o norte, entrando no Estado do Pará e, tam- gura 17, é possível observar as regiões com
bém, para o leste, na Bahia, tendo Luís Eduar- maior produção de cana-de-açúcar. Essas
do Magalhães como seu epicentro inicial. três culturas compõem, em grande parte, as
áreas agrícolas do Cerrado brasileiro, que se
Além desses processos migratórios, inúme- tornou a mais dinâmica região agropecuária
ros outros poderiam ser analisados e descri- do País.
tos por terem produzido importantes resulta-
dos econômicos e produtivos. O crescimento De fato, a cana-de-açúcar no Brasil vem pas-
da pecuária bovina, por exemplo, em alguma sando por mudanças espaciais no seu mapa
proporção, resultou da decisão de pecua- de produção, caracterizadas por três movi-
ristas paulistas de procurarem novas áreas mentos principais (Tabela 3): a) forte redução
no Centro-Oeste (posteriormente no Norte), da participação relativa do Nordeste no total
o que também permitiu a consolidação da da área plantada no País; b) crescimento da
atividade como uma das principais hoje em participação da região Sudeste, sobretudo
curso nas regiões rurais. dos estados de Minas Gerais e São Paulo; e c)
maior protagonismo do Centro-Oeste, princi-
Além da pecuária de corte, a bovinocultura palmente no período de expansão canavieira
de leite vem sendo ampliada na região, espe- ocorrido após 2002/2003 (quando houve o
cialmente em Rondônia. Com 49 laticínios e lançamento do carro flex).
produção anual de 699 milhões de litros em
2016 (o que representa 50% da produção da
região e 3% da produção brasileira)27, o esta-
do é o maior polo produtor de leite entre os
noves estados da Amazônia Legal.

Analisados em conjunto, portanto, especial- Quando se analisa o


mente os dois últimos movimentos migrató- período correspondente
rios descritos se traduzem, concretamente,
também em “mudanças espaciais” impor- aos últimos 50 anos, é
tantes para o estado atual e o futuro próxi- possível citar a formação
mo da agropecuária brasileira. Em especial,
destaca-se o desenvolvimento de um “arco
e o desenvolvimento,
produtivo” de produção de grãos (soja e mi- principalmente, de três
lho) em uma larga região central do País (Fi-
gura 16), que compreende a região oeste da
grandes movimentos
Bahia, metade sul de Goiás, parte dos esta- migratórios, de magnitude
dos de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, nacional e, de certa forma,
27
O estado de Rondônia tem aspectos inovadores por
sequenciais
ter constituído o Fundo de Investimento e Apoio ao
Programa de Desenvolvimento da Pecuária Leiteira do
Estado de Rondônia (Fundo Proleite), como instrumen-
to de natureza orçamentária, financeira e patrimonial,
a fim de viabilizar os incentivos previstos na política
de desenvolvimento da pecuária leiteira de Rondônia
(Rondônia, 2018).

43
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Tabela 3. Área plantada de cana-de-açúcar, por regiões brasileiras, nos anos de 1986, 1996, 2006 e 2016.
  1986 1996 2006 2016
Brasil 3.951.842   4.750.296   6.355.498   10.226.205  
Norte 8.913 0,2% 9.499 0,2% 20.972 0,3% 63.154 0,6%
Nordeste 1.287.228 32,6% 1.139.688 24,0% 1.120.547 17,6% 995.105 9,7%
Sudeste 2.256.153 57,1% 2.954.877 62,2% 4.142.674 65,2% 6.626.119 64,8%
Sul 196.841 5,0% 338.182 7,1% 483.246 7,6% 675.601 6,6%
Centro-Oeste 202.707 5,1% 308.050 6,5% 588.060 9,3% 1.866.226 18,2%

Fonte: IBGE (2018).

Figura 16. Municípios brasileiros que compunham o “arco produtivo” de produção de grãos (especialmente soja e
milho) no País, em 1990 e 2016. Nota: processamento Embrapa Informática Agropecuária.
Fonte: IBGE (2018)

44
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Figura 17. Municípios brasileiros que compunham as principais regiões produtoras de cana-de-açúcar, em 1990 e 2016.
Nota: processamento Embrapa Informática Agropecuária.
Fonte: IBGE (2018).
O algodão, que na década de 1980 tinha a dutora, com 62,9% do total produzido (arroz de
produção concentrada principalmente na re- várzea) em 2016 (IBGE, 2018). Considerando a
gião Nordeste (principalmente Bahia e Cea- tendência de redução da participação do arroz
rá) e nos estados do Paraná e de São Paulo de terras altas na produção total nacional, de-
(essas regiões somavam 83% do total produ- verá ocorrer um aumento considerável na pro-
zido em 1988), passou a ter sua produção de- dutividade média (Projeções..., 2017). Destaca-
limitada a praticamente dois estados: Bahia -se também que houve forte redução da área
e Mato Grosso. Este último detinha mais de plantada com a cultura na região Nordeste,
66% da área plantada em 2016. O Paraná, que, em 1988, chegou a ter área de 1,5 milhão
que em 1988 era o principal estado produtor, de hectares e, em 2016, passou a ter apenas 267
não produz mais algodão. mil hectares. A região Sudeste, por sua vez, cuja
área era de 932 mil hectares em 1988, reduziu
Com relação especificamente à produção de praticamente cinco vezes a produção de arroz,
arroz, embora a área plantada tenha reduzido alcançando 18.869 ha em 2016 (IBGE, 2018).
de 6 milhões de hectares em 1988 para cerca
de 2 milhões em 2016, a quantidade produzida Esses aspectos relacionados à mudança es-
permaneceu praticamente estável (em 1988, a pacial da agricultura nos anos mais recentes
produção foi de 11,8 milhões de toneladas e, podem ser evidenciados ainda pela compa-
em 2016, de 10,6 milhões). Contudo, as princi- ração do cultivo de grãos28, entre 1990 e 2017.
pais áreas de produção (com seus diferentes Nesse período, a região Centro-Oeste mais
sistemas de produção) passaram por altera- que triplicou a sua área plantada com essas
ções significativas. Na década de 1980, a região 28
  Os grãos considerados referem-se a 15 produtos
Centro-Oeste era a principal produtora (36% do pesquisados mensalmente pela Conab. São eles: algo-
dão – caroço, amendoim, arroz, aveia, canola, centeio,
total produzido  – arroz de terras altas). Atual- cevada, feijão, girassol, mamona, milho, soja, sorgo,
mente, a região Sul tornou-se a principal pro- trigo e triticale.

45
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

culturas, chegando ao patamar de 41% da cional. Por sua vez, a região Sul passou por
área total (Figura 18). A região, que em 1990 forte redução em sua representatividade de
produzia 11,2 milhões de toneladas de grãos área colhida, de 44% para 32%. Embora a
(correspondentes a 19% do total), teve sua quantidade produzida de grãos nessa região
produção aumentada em cerca de 10 vezes tenha reduzido de 56% para 35%, em termos
(atingindo 103 milhões de toneladas) em absolutos aumentou 2,5 vezes, passando de
2017, e passou a representar 44% do total na- 32 para 83 milhões de toneladas.

Participação na área plantada

Participação na área plantada


50%

45%
50% 1990

40%
45% 1990
2017
Participação (%)

35%
40%
2017
Participação (%)

30%
35%

30%
25%
25%
20%
20%
15%
15%
10%
10%
5%
5%
0%
0% Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
Norte Nordeste Centro-Oeste
Região Sudeste Sul
Região

Participação na quantidade produzida


Participação na quantidade produzida
60%
60%
1990
50% 1990
Participaçao (%)

50%
Participaçao (%)

40% 2017
40% 2017

30%
30%

20%
20%

10%
10%

0%
0%
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul
Região

Figura 18.19.
Figura
Figura Participação
19.Participação regional
Participaçãoregional no
regionalno total
nototal daárea
totalda
da área
área colhida
colhida
colhida daequantidade
ee da da quantidade
quantidade produzida
produzida
produzida degrãos
de de
grãos grãos,
em
em 1990eeem
1990 1990 e 2017.
2017.
2017.
Fonte:
Fonte: Conab
Conab
Fonte: (2018).
(2018).
Conab (2018).

46
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

A importância da região agrícola que com- municípios da região Sealba, cuja área de
põe o arco produtivo delimitado na Figura produção totaliza 5,15 milhões de hectares,
16 (para o ano de 2016) não deve ser subes- 68% localizados no bioma Mata Atlântica e
timada, pois ainda poderá ocorrer, nos próxi- 32% na Caatinga29. A produção nessa região
mos anos, forte ampliação da área plantada possui as seguintes vantagens: a) época de
e, em particular, dos volumes de produção. plantio e colheita diferenciada em relação às
Embora sendo uma nova região, onde são demais regiões produtoras de soja do Brasil;
encontradas propriedades extremamente b) proximidade de terminais portuários marí-
modernizadas, do ponto de vista tecnológi- timos nos três estados (como, por exemplo,
co e, também, administrativo, há muito ain- o de Aracaju), o que pode reduzir custos re-
da a avançar em termos de crescimento da lacionados ao frete; c) proximidade de gran-
produtividade. Além disso, a área plantada des bacias leiteiras; d) proximidade de usinas
poderá se expandir ainda mais para o norte, produtoras de biodiesel; e) oportunidades
especialmente para o estado do Pará e para para a diversificação produtiva na agricultura
a região do Matopiba (Miranda et al., 2014). (Procópio et al., 2016; Dall’Agnol, 2017).

A produção de grãos na região do Matopi- As mudanças espaciais aqui descritas tam-


ba foi de 20,5 milhões de toneladas na safra bém seguiram trajetórias baseadas nos pre-
2016/2017. As projeções indicam que essa ços da terra no Brasil. Embora os anos entre
produção deverá atingir 26 milhões de tone- 1994 e 1999 tenham registrado tendência
ladas até 2026/2027, o que continuará repre- de queda em termos reais, o período subse-
sentando 9% da produção nacional. Análises quente, de 2000 a 2013, registrou aumento
apontam que essa dinâmica agrícola é acen- significativo (Bacha et al., 2016), em torno
tuada pelo fato de a região possuir algumas de 6,8% ao ano (Gasques et al., 2015). As ter-
características essenciais para a agricultura ras de dupla aptidão, isto é, aptas para agri-
moderna, como áreas planas e extensas, cultura e pecuária, têm-se valorizado ainda
solos potencialmente produtivos, disponi- mais30. O Nordeste e o Centro-Oeste foram
bilidade de água e clima propício, com dias as regiões que apresentaram taxas reais mais
longos e elevada intensidade de radiação elevadas de crescimento anual do preço de
solar, mesmo que ainda possua certas limita- venda da terra de lavouras no período 2000-
ções na logística (especialmente transporte 2012, 10,68% e 8,66%, respectivamente Figu-
terrestre e capacidade portuária), na comu- ra 19. Situação similar ocorreu nessas regiões
nicação e, em algumas áreas, nos serviços com relação ao preço real de venda das ter-
financeiros. As mudanças envolvem áreas ras de pastagem. As terras de lavouras mais
de expansão e de conversão de uso, espe- caras do Brasil estão localizadas no Sul e no
cialmente na substituição de pastagens pela Centro-Oeste do País e as de pastagem en-
agricultura de larga escala, favorecidas pela contram-se no Sul e Sudeste (Gasques et al.,
mecanização e intensificação da produção 2015).
(Bolfe et al., 2016). 29
Apesar da aparente viabilidade do cultivo da soja em
Sealba (testes de adaptação foram conduzidos pela Em-
Outra região com potencial produtivo – es- brapa Soja), a cultura na região não está inserida no pro-
pecialmente para a soja, como uma alter- grama de Zoneamento de Risco Climático do Mapa, o que
a impede de acessar os benefícios inerentes ao seguro
nativa à produção da cana-de-açúcar que agrícola e a empréstimos bancários (Dall’Agnol, 2017).
se encontra em declínio –, é a composta por 30
Segundo o Relatório de Análise do Mercado de Terras
da Informa Economics FNP (2014).

47
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Brasil
6,75 | 6,78
Norte
6,37 | 9,04

Nordeste
10,68 | 11,68

Centro-Oeste Sudeste
8,66 | 10,22 4,96 | 5,51

Taxas anuais(%) Sul


7,18 | 8,64
Terras de
pastagem

Terras de
lavoura

Figura 19. Taxas de crescimento anual dos preços reais de vendas de terras no Brasil, no período de 2000-2012.
Fonte: Adaptado de Gasques et al. (2015).

A perspectiva crescente da demanda mun-


dial de alimentos nos próximos anos, soma-
Mudanças espaciais
da às crescentes limitações para expansão e aspectos
de áreas para produção agrícola, à tendência
de queda da taxa de juros doméstica, ao au-
socioeconômicos
mento da produtividade da terra e ao cres- A importância analítica do exame das mudan-
cente interesse de empresas/grupos estran- ças espaciais associadas ao setor agropecuário
geiros de investir na compra de terras no País brasileiro, em uma perspectiva histórica, decorre
(Mandl; Adachi, 2017), sugere que o preço do especialmente da possibilidade de identificar os
recurso terra deve continuar valorizando de determinantes principais de tais mudanças e in-
forma significativa nos próximos anos. Essa ferir sobre possíveis alterações futuras. Se forem,
tendência e a expressiva participação da ter- por exemplo, motivações associadas às caracte-
ra no custo de produção trazem importantes rísticas exclusivamente sociais (em seu significa-
implicações para a necessidade do aumento do mais estreito), o novo mosaico espacial daí de-
da produtividade e, ao mesmo tempo, para a corrente não indicará a ocupação de novas áreas
conservação ambiental. rurais, pois estas últimas seriam ainda precárias

48
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

para atrair os migrantes. Por essa razão, o primei- que se modernizou fortemente e até mesmo
ro movimento migratório citado anteriormente se integrou, com o fenômeno da globalização,
decorreu da procura por trabalho e moradias ur- aos mercados mundiais. Em termos mais di-
banas, elegendo as cidades como o seu destino fi- retos: os movimentos espaciais das últimas
nal, já que seria uma “migração devido aos fatores duas décadas evidenciam que os produtores
de expulsão” (por causa da precariedade da vida rurais vêm procurando novas terras, agora mo-
social rural). tivados por fatores que são, primordialmente,
econômicos e financeiros. Buscam manter ou
A predominância de determinantes sociais ampliar as suas taxas de lucratividade e, para
foi a marca mais decisiva no passado, por isso, movimentam-se no interior do território
essa razão alguns autores31 mencionam produtivo em busca de novas terras cujo cus-
que estaríamos observando a transição do
to de aquisição seja mais baixo e onde possam
“Brasil agrário” do passado, sob o qual pre-
ampliar os seus negócios.
dominavam os temas ligados à concentra-
da estrutura fundiária (e seus termos corre- Outro fator que, nas últimas décadas, con-
latos, como “latifundiários”) e também os tribuiu para o processo migratório no País
temas relacionados à pobreza rural e à fal- foram os programas de reforma agrária em
ta de direitos trabalhistas no campo, para seus diferentes níveis. No âmbito federal, es-
um país agrícola. Atualmente os determi- ses programas resultaram no assentamento
nantes principais passaram a ser aqueles de mais de 1,25 milhão de famílias distribuí-
de natureza econômico-financeira, e os das em cerca de 9 mil assentamentos. Essas
fatores “terra” e “trabalho” vêm deixando áreas ocupam em torno de 90 milhões de
de ter a proeminência que demonstraram hectares em todas as regiões do País, e a
no passado. Sob essa nova óptica, o fa- Amazônia Legal responde por aproximada-
tor principal para explicar o crescimento mente 55% das famílias, 38% do número de
da produção e da produtividade do setor projetos e 88% das áreas (Brasil, 2015). Esses
agropecuário passa a ser a tecnologia e sua assentamentos passam por desafios cons-
incorporação pelos produtores rurais em tantes relacionados à sua capacidade produ-
suas atividades. tiva e fixação das populações no meio rural
diante das condições de crédito, infraestrutu-
Por essa razão, o terceiro movimento migratório
ra, assistência técnica e extensão rural.
citado anteriormente evidencia uma natureza
distinta e inédita na história rural brasileira. Re- Análises sobre possíveis mudanças espaciais
flete, em especial, um movimento de pessoas, da produção que ocorrerão nos próximos
mas, dessa vez, associado também à mobili- anos, considerando aspectos relacionados à
dade dos capitais, demonstrando, essencial- produção de grãos, à criação de rebanho bo-
mente, a formação de um setor agropecuário vino, aos abates de animais e aos preços de
terras, demonstram uma tendência contínua
31
Embora as mudanças produtivas recentes venham do deslocamento geográfico da produção
atraindo a atenção analítica de diferentes estudiosos, o agrícola do Sul e do Sudeste, e sua consolida-
maior esforço de interpretação foi desencadeado a par-
tir de 2013, com a publicação do artigo Sete teses sobre ção, na próxima década, na região central do
o mundo rural brasileiro (Buainain et al., 2013), o qual País e no Nordeste, além de um crescimen-
foi seguido, no ano seguinte, pelo livro O mundo rural
no Brasil do século 21 (Buainain et al., 2014). Consulte- to em direção ao Norte, especialmente Pará,
-se, sobre o mesmo assunto, Navarro (2016), Chaddad Rondônia e Tocantins (Projeções..., 2017).
(2017) e Navarro e Buainain (2017).

49
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Como consequência, há uma concentração as regiões mais antigas de produção (a maioria


da riqueza nessas regiões, sobretudo no Mato pertencendo agora ao estado de MT).
Grosso, o que pode ser analisado por meio de
dados de valor bruto da produção agrícola dos Essa tendência à ocupação das novas áreas de
principais municípios, em 1996, 2006 e 2016 fronteira deve manter-se nos próximos anos, par-
(Tabela 4). Conforme se observa, em 1996, con- ticularmente em relação à região de Matopiba,
figuravam entre as principais regiões produ- considerada a atual fronteira agrícola nacional.
toras, municípios dos estados de SP, PR e RS. Além disso, observa-se que o valor médio da
Contudo, com o passar dos anos, a região cen- produção, por município, elevou-se considera-
tral do Brasil foi se tornando o mais significati- velmente no período analisado. O Município de
vo polo produtor de riqueza agropecuária e, em Sorriso, por exemplo, cujo valor da produção, em
2016, entre os 20 municípios que mais extraíam termos reais, era de 590 milhões de reais em 1996,
riqueza da agricultura nenhum se situava entre passou a ser de 3,2 bilhões em 2016.

Tabela 4. Valor bruto da produção agrícola (em mil reais) dos principais municípios e total do Brasil (lavouras tempo-
rárias e permanentes), em 1996, 2006 e 2016.
1996 2006 2016

TOTAL BRASIL 139.835.601 150.973.269 267.299.119

1 Campo Novo do Parecis, MT 892.562 1 São Desidério, BA 1.273.042 1 Sorriso, MT 3.196.217

2 Sorriso, MT 590.454 2 Sapezal, MT 1.139.608 2 Sapezal, MT 2.784.043

3 Morro Agudo, SP 557.494 3 Sorriso, MT 1.128.061 3 Nova Ubiratã, MT 2.074.175

4 Barreiras, BA 550.408 4 Campo Novo do Parecis, MT 823.469 4 Campo Novo do Parecis, MT 2.035.729

5 Rio Verde, GO 468.485 5 Campo Verde, MT 811.064 5 Nova Mutum, MT 1.886.774

6 Guaíra, SP 458.947 6 Nova Mutum, MT 700.197 6 Jataí, GO 1.861.916

7 Castro, PR 450.702 7 Uberaba, MG 692.700 7 Cristalina, GO 1.848.771

8 Uruguaiana, RS 415.640 8 Diamantino, MT 646.179 8 Rio Verde, GO 1.752.264

9 Primavera do Leste, MT 406.575 9 Jataí, GO 608.886 9 Diamantino, MT 1.665.981

10 Assis Chateaubriand, PR 404.814 10 Barreiras, BA 601.498 10 Campo Verde, MT 1.635.691

11 Diamantino, MT 394.709 11 Lucas do Rio Verde, MT 597.049 11 São Desidério, BA 1.543.883

12 Itaqui, RS 373.748 12 Cristalina, GO 590.795 12 Primavera do Leste, MT 1.405.206

13 São Desidério, BA 371.917 13 Rio Verde, GO 575.019 13 Maracaju, MS 1.391.940

14 Itiquira, MT 357.278 14 Primavera do Leste, MT 562.165 14 Lucas do Rio Verde, MT 1.371.937

15 Juazeiro, BA 355.531 15 Campos de Júlio, MT 554.465 15 Rio Brilhante, MS 1.172.054

16 Mogi Guaçu, SP 353.034 16 Maracaju, MS 538.796 16 Formosa do Rio Preto, BA 1.141.860

17 Guarapuava, PR 351.371 17 Morro Agudo, SP 507.824 17 Ponta Porã, MS 1.137.457

18 São Gabriel do Oeste, MS 348.909 18 Casa Branca, SP 467.570 18 Uberaba, MG 1.134.489

19 Jataí, GO 347.868 19 Paraguaçu Paulista, SP 449.564 19 Campos de Júlio, MT 1.118.125

20 Piracicaba, SP 347.375 20 Uruguaiana, RS 443.163 20 Unaí, MG 1.105.027

Região Sul Sudeste Nordeste Centro-Oeste


Nota: valores reais a preços de 2016.
Fonte: IBGE (2016).

50
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

As mudanças espaciais do uso da terra no catarinense para o oeste paranaense e, aos


Brasil deverão ser determinadas também por poucos, também vem se instalando mais ao
aspectos legais ambientais, principalmente centro e a nordeste do País.
em razão da necessidade de adequação am-
biental dos estabelecimentos agropecuários A lógica econômica, portanto, também signi-
ao novo Código Florestal e do aumento da fica que as “especializações regionais”, como
eficácia, eficiência e efetividade do sistema foi no passado o caso da produção paulista de
de governança ambiental. café, a produção de cana em algumas partes
de Pernambuco ou da Paraíba, ou a produção
Diante de tais requerimentos legais e da ten- de arroz na depressão central gaúcha, entre
dência de aumento da demanda interna e ex- outras situações típicas da história rural, dora-
terna, espera-se, para os próximos 10 a 15 anos, vante deixarão de existir com a mesma força.
a ocorrência de dois processos principais, com Os movimentos espaciais da agricultura, cres-
impactos na alocação espacial da produção. centemente, estarão correlacionados com as
Primeiramente, a competição que se acirra variáveis econômicas e financeiras, as quais in-
entre os agentes econômicos do setor agrope- dicarão as formas sociais de ocupação e uso da
cuário forçará o crescimento da produtividade terra nos anos vindouros.
e, por consequência, a intensificação produ-
tiva, fenômeno que já se observa nas regiões Além disso, novas mudanças espaciais no
de maior dinâmica econômica (especialmente território rural são esperadas, sobretudo em
na produção de grãos). Nesse caso, os agentes razão de ser o Brasil um raro caso, no mundo,
econômicos irão procurar novas terras para de país que ainda pode ampliar significativa-
ampliar suas atividades, substituindo áreas de mente o total de sua produção agropecuária,
pastagens por lavouras de grãos na mesma dadas as diferentes possibilidades de expan-
região ou ocupando as regiões ainda relativa- são da área total utilizada – intensificação,
mente subutilizadas do campo brasileiro. terras de pastagens, etc. Atualmente, em to-
das as regiões brasileiras já existem dezenas
Em segundo lugar, a natureza essencialmen- de produtos e derivados que constam nas es-
te econômica da atividade também promove tatísticas oficiais de produção vegetal e ani-
mudanças espaciais, pois os agentes dos di- mal. Estima-se um importante incremento
ferentes subsetores produtivos cada vez mais para a próxima década para cultivos de grãos
se movem em função da variável lucrativida- como amendoim, girassol, mamona, sorgo,
de. Um exemplo dos anos recentes é a avicul- aveia, canola, centeio, cevada e triticale. O
tura, um ramo de alta densidade tecnológica. cultivo do trigo no Cerrado, com perspectiva
de produção apropriada para panificação,
Ao assumir tal posição, em forte competição
terá impacto sobre a produção nacional.
com os exportadores norte-americanos, re-
duzir os custos de produção tornou-se um Salienta-se ainda a crescente demanda na-
requerimento essencial para acessar merca- cional e internacional que tem impulsio-
dos. Nesse sentido, a realocação da produ- nado a implantação de novas áreas com as
ção para regiões mais próximas de produção chamadas pulses, subgrupo da família das
do principal insumo (milho) tornou-se cada leguminosas que engloba grãos secos, como
vez mais estratégico. No caso brasileiro, isso feijão-comum, feijão-caupi, ervilha, lentilhas,
significou um movimento espacial da pro- grão-de-bico, entre outros. Da mesma for-
dução avícola, que foi “subindo” do oeste ma, espera-se que seja expandida a diversi-

51
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

ficação da produção comercial de frutas (a condições climáticas adversas e concentrada pró-


exemplo do que ocorreu com a cadeia do ximo aos mercados consumidores possibilita o
açaí, com mercado crescente tanto inter- crescimento da produção em áreas específicas.
namente quanto internacionalmente) e de
produtos de origem florestal, como a palma Outros aspectos podem ainda exercer influên-
de óleo para o setor alimentício e de biocom- cia nos próximos anos na alocação espacial da
bustíveis. Nas proteínas animais, a aquicul- agricultura brasileira, entre os quais se desta-
tura é considerada emergente, em razão da cam a possível ampliação de compra de terras
crescente demanda de consumo nacional e por estrangeiros para até 100 mil hectares e a
internacional relacionada aos aspectos so- possibilidade de arrendamento de outros 100
ciais, econômicos, de saúde e religiosos. mil hectares32; a necessidade de otimizar o uso
das terras dos assentamentos rurais existentes
A silvicultura também tem impulsionado (quase 90 milhões de hectares distribuídos em
importantes mudanças com vistas à produ- todas as regiões do País); e melhorias tecno-
ção de energia, madeira, celulose e papel. O lógicas visando à incorporação das pastagens
Brasil possui aproximadamente 10 milhões degradadas – que só para o Cerrado já ocupam
de hectares de florestas plantadas - eucalip- cerca de 20 milhões de hectares – na produção
to (7,5 milhões), pínus (2,4 milhões) e outras de grãos (Andrade et al., 2015).
espécies (0,4 milhão) (Boletim SNIF, 2017). As
regiões Sudeste e Sul continuam concentran-
do grande parte da produção, porém novas
Concentração da
áreas e indústrias têm se intensificado no renda no campo
Nordeste e Centro-Oeste do País, especial-
A agricultura brasileira vem apresentando in-
mente em Mato Grosso do Sul.
tenso aumento da produção e da produtivi-
Outro fator que tem contribuído para a mu- dade. O grande volume das compras chinesas
dança espacial da produção agropecuária é a desencadeadas a partir do início da década de
expansão dos cultivos irrigados. A irrigação pas- 2000 (levando ao chamado boom de commo-
sou de 462 mil hectares em 1960 para 6,1 mi- dities) estimulou esse aumento e criou as bases
lhões em 2014 (Zoneamento..., 2017), especial- econômicas que propiciaram os investimentos
mente em razão do uso de pivôs centrais, que necessários para tal. Ampliou-se o rol de pro-
perfazem um total de 19.892 unidades (79% no dutos cultivados e o número de países para os
Cerrado) distribuídas em 1,3 milhão de hecta- quais o Brasil exporta alimentos. Os produtores
res (Levantamento..., 2016). No Nordeste, desta- intensificaram o uso de seus recursos e se ca-
cam-se os perímetros irrigados, que ocupam 65 pacitaram para gerir os seus estabelecimentos
mil hectares, com geração de 120 mil empregos com crescentes cuidados administrativos e ge-
diretos e indiretos (Perímetros..., 2014). renciais. Ou seja, o sucesso passou a ser cada
vez mais dependente da capacidade do produ-
Embora de menor magnitude, a produção agríco- tor de se apropriar das inovações.
la em ambiente protegido tem experimentado ex-
pressivo crescimento no mundo (sobretudo nos Se, por um lado, esse movimento foi de extre-
países asiáticos, em particular a China, com mais ma importância para o desempenho geral da
de 3 milhões de hectares). No Brasil, o cultivo pro- economia do País, por outro, vem conduzindo
tegido totaliza apenas 30 mil hectares (Rodrigues, 32
Projeto de Lei nº 4.059/2012, tramitando no Congres-
2015). Contudo, a possibilidade de produção em so Nacional (Brasil, 2012a).

52
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

a um processo de seletividade social. A cres- tes nesse subsetor produtivo. No último meio
cente complexidade da gestão da atividade (in- século, por causa do desenvolvimento tec-
clusive pela ampliação da normatividade am- nológico observado no setor, o processo de
biental), atrelada à dificuldade que a maioria seleção aprofundou-se e, assim, enquanto
dos pequenos produtores tem de se apropriar foram sendo eliminados produtores da inte-
de conhecimento tecnológico adequado, entre gração contratual antes existente, aumentou
outros fatores, aparenta estar fazendo com que de forma expressiva a produção total, a fim
parte considerável dos moradores dos estabe- de atender os mercados interno e externo.
lecimentos rurais desista de permanecer em Enquanto a produção saltou, no período de
suas atividades, especialmente aqueles que 1985-2006, de 229 para 682 mil toneladas,
não conseguem se integrar adequadamente o número total de produtores reduziu de
aos mercados e à competição natural em tais cerca de 35 mil para pouco mais de 12.500
períodos expansivos (Navarro; Campos, 2013). (Figura 20) (tendo o percentual de produto-
res integrados contratualmente às indústrias
Como ilustração, apresenta-se, na Figura 20,
aumentado de 40% para 55,5%) (Navarro;
o caso da suinocultura do oeste de Santa Ca-
Campos, 2013; Miele; Miranda, 2013).
tarina, uma das regiões brasileiras mais for-

35.089
682

Nº de produtores
23.527 (rebanho > 20 cabeças)
432 Produção (mil t.)

12.559
229

1985 1995-1996 2006

Figura 20. Número de produtores na suinocultura industrial e produção de carne suína, em Santa Catarina (1985, 1996
e 2006).
Fonte: Miele e Miranda (2013).

É importante destacar que essas tendên- tores, inclusive os ramos produtivos da agri-
cias vêm caracterizando o desenvolvimento cultura. Isso vem ocorrendo até mesmo em
agropecuário brasileiro em praticamente subsetores que, no passado, eram típicos de
todos os seus subsetores. Inicialmente, tra- pequenos produtores (como hortigranjeiros
tou-se de um processo típico da produção e produtores de feijão, por exemplo).
de suínos e aves, mas, atualmente, começa
também a caracterizar a pecuária de leite e, Com base no que foi exposto, conclui-se
gradualmente, vai abarcando os demais se- que, nos próximos anos, esse movimento de

53
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

concentração da produção (e da riqueza em relacionados à extensão rural, ao crédito de cus-


geral) no campo brasileiro continuará sen- teio e aos investimentos, entre outros) (Navarro;
do observado ainda mais, tornando-se uma Campos, 2013).
tendência irreversível. E, sem dúvida, esse
Para os demais 3.775.826 estabelecimentos (73%
processo econômico concentrador produz
do total), o valor médio da produção mensal equi-
implicações diretas para a ação governamen-
vale a 0,43 salário mínimo, o que revela um dos
tal, incluindo a pesquisa agrícola, e também
principais desafios que deve ser enfrentado pela
para a disseminação das novas tecnologias.
pesquisa agrícola e pela política pública brasileira.
Esses argumentos servem para corroborar as Será preciso encontrar soluções que contribuam
análises que demonstram que a agricultura brasi- para que as famílias desse grupo de menor por-
leira apresenta acentuado grau de concentração te econômico, concentrado principalmente na
da produção e da renda no campo33 (Alves et al., região Nordeste, superem o problema de insufi-
2013). Segundo dados do Censo 2006, apenas ciência de renda (Alves; Rocha, 2010).
0,43% dos estabelecimentos rurais, o que corres-
ponde a cerca de 22 mil dos 5.175.489 existentes A pobreza é um grave problema em todo o mun-
no Brasil, responde por mais da metade do valor do, sobretudo nas áreas rurais do mundo, que
produzido (Alves; Rocha, 2010). Esses números se abrigam mais de 70% da população pobre (Ru-
opõem à vasta maioria dos estabelecimentos (3,7 ral..., 2010). A proporção da população mundial
milhões), cuja renda bruta (em salários mínimos vivendo na extrema pobreza34 diminuiu de 44,3%
em 1981 para 10,7% em 2013, entretanto a situa-
mensais) atinge, no máximo, dois salários míni-
ção de baixo crescimento econômico observada
mos (Navarro; Campos, 2013). Ampliando o per-
na atualidade em vários países ameaça o alcance
centual para 85% do valor da produção, apenas
da meta de erradicar a pobreza extrema em nível
8% ou aproximadamente 420 mil estabelecimen-
global até 2030 (World..., 2017).
tos responderam por esse valor.
Quando se analisam os dados de pobreza
Examinando os 4.751.800 estabelecimentos que
no Brasil como um todo, nota-se que a pre-
contribuíram para os 15% restantes do valor da
valência da extrema pobreza35,36 reduziu de
produção (renda bruta) em 2006, observou-se
7,6% do total da população em 2004, para
que 975.974 deles produziram entre dois e dez
salários mínimos mensais da época e, com isso, 34
A definição de extrema pobreza utilizada aqui pelas Nações Uni-
participaram com 11% da renda agrícola bruta das tem como base uma linha de pobreza de US$ 1,90 por dia.
35
A linha de extrema pobreza no Brasil considerada nesse
total. Esse conjunto de estabelecimentos, loca- estudo corresponde a uma renda per capita mensal infe-
lizados principalmente nas regiões Sul, Sudeste rior a R$ 70,00, em valores de 2011 (Banco Mundial, 2017c).
e Centro-Oeste do Brasil, tem perspectiva de so- O Brasil não conta com uma linha oficial de pobreza e ex-
trema pobreza. Contudo, de acordo com as Nações Unidas
lucionar esse problema de baixa renda por meio (2017), pode-se considerar que a linha de pobreza extrema
da agricultura (precisando de auxílio em aspectos mais recomendada para se medir a pobreza no país advém
do Decreto nº 8.794/2016, que define critérios de renda para
transferência de benefícios sociais e considera em situação
33
Contudo, esse processo não é particularidade do de extrema pobreza aquela população com renda familiar
Brasil. Nos Estados Unidos (EUA), os estabelecimentos per capita mensal de até R$ 85,00, e em situação de pobreza
rurais com renda bruta anual igual ou superior a US$ as famílias com renda mensal per capita de até R$ 170,00.
1 milhão representavam, em 2015, 4% das proprieda- 36
A conclusão de que a incidência da pobreza no Bra-
des agrícolas e eram responsáveis por 52% do valor da sil seguiu uma tendência de queda nos últimos anos
produção agropecuária (em 1991, essa participação foi resulta tanto de análises que utilizam a variável renda
de 32%). Ou seja, a concentração da produção não é como indicador do bem-estar, quanto de estudos que
apenas elevada, mas também vem crescendo ao longo usam o consumo como medida básica, como, por
dos anos. exemplo, Rodrigues et al. (2014).

54
Ano

Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Norte Nordeste
2,8% 9 em 2014 (Banco Mundial, 2017c)37. Fato Entretanto, a pobreza
Sudeste continuará sendo um
Centro-Oeste
similar
8 ocorreu na área rural: a situação de dos principais Sul
desafios a serem enfrentados
extrema
7 pobreza diminuiu de 21,8% da po- na área rural do Brasil, sobretudo nas regiões
pulação rural em 2002 para 7,6% em 2014 Norte e Nordeste. Segundo dados do Censo
6
(Figura 21). Vários fatores contribuíram para 2006, cerca de 70% dos estabelecimentos ru-
5
essa trajetória, entre os quais estão o cresci- rais do País tinham renda média mensal de
mento 4 da economia brasileira, a expansão 0,43 salário mínimo e praticamente 57% des-
do mercado
3
de trabalho, aumentos reais do ses estabelecimentos estão concentrados
salário mínimo e políticas de transferência no Nordeste e apresentam média mensal de
2
de renda (exemplos dessas políticas são o 0,35 salário mínimo.
Programa Bolsa Família, o Plano Brasil Sem
1
Miséria e o Benefício de Prestação Conti- O Nordeste, embora heterogêneo em inúmeros
-
nuada de 2004Assistência
2005Social) (Rocha,
2006 2013;
2007 2008 aspectos,
2009 caracteriza-se
2011 2012 pela 2013
predominância
2014
Skoufias et al., 2017). de vasta área com características climáticas

25
21,8
21,1

20
17,9
extrema pobreza (%)

16,9
População rural em

15,1
15
13,3
11,8 11,3 11,4

10 8,9 8,9
7,6

0
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Ano

Figura 21. Extrema pobreza na área rural do Brasil, de 2002 a 2014 (valores em porcentagem).
Fonte: IBGE (2016).
similares38. O Semiárido, que abarca oito dos
nove estados nordestinos, abriga aproxima-
37
Convém mencionar que o Banco Mundial recomenda
a adoção de três parâmetros de definição de pobreza, damente 40% da população da região e 57%
a depender do custo de vida de cada país: renda per da sua população rural. Em 2006, 64% dos
capita de até US$ 1,90, US$ 3,20 e US$ 5,50 por dia. Para
o Brasil, o Banco Mundial sugere adotar o parâmetro 2.054.327 estabelecimentos rurais do Nordeste
de US$  5,50 ao dia. Se fosse considerado esse nível de estavam no Semiárido, dos quais 97% perten-
renda, em 2015 o Brasil possuía 22,1% da população ciam às classes de renda bruta, denominadas
vivendo em situação de extrema pobreza (Banco Mun-
dial, 2017a, 2017b). Além disso, os dados apresentados “muito pobre” e “pobre” (Alves; Souza, 2015a).
não consideram o período 2014-2016, em que houve
retração da economia brasileira e, possivelmente, au- 38
Precipitação pluviométrica média anual inferior a
mento da parcela da população nos estratos de pobre- 800 mL; índice de aridez de até 0,5; e risco de seca maior
za e extrema pobreza. que 60% (Christofidis, 2005).

55
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

De fato, a aptidão do solo e as condições Para superar essas limitações, vários esforços
edafoclimáticas do Semiárido resultam em vêm sendo empenhados por organizações
ambiente pouco propício à produção agrí- nacionais de pesquisa e universidades a fim
cola (Buainain; Garcia, 2013), considerando de promover o desenvolvimento tecnológico
a conjuntura socioeconômica e geopolítica dessas regiões. Resultados positivos têm sido
atual39. A mudança do clima aponta ainda obtidos40, porém ainda há muito a ser feito
para o agravamento das dificuldades de pro- com relação aos seguintes aspectos: geração
dução na região. Como a deficiência hídrica e e transferência de tecnologias, formulação
o padrão irregular de precipitação pluviomé- de políticas públicas, ampliação do uso de
trica são fatores condicionantes para o de- irrigação e manejo adequado dos solos.
senvolvimento da agricultura na região, a de-
finição de estratégias para o sistema de CT&I Essa realidade evidencia a importância do
desenvolvimento de tecnologias e políticas
agrícola – como foco no desenvolvimento e
que favoreçam maiores níveis de produção
adaptação de tecnologias para recuperação
agrícola e renda das famílias que vivem na
e conservação de mananciais, captação, ar-
pobreza. Por exemplo, pesquisas que substi-
mazenamento e uso eficiente dos recursos
tuam ou tornem mais baratos insumos que
hídricos na agricultura – requer atenção par-
são de grande importância particularmente
ticular de pesquisadores e formuladores de
para a pequena produção (Alves, 2016). Tec-
políticas públicas.
nologias que agreguem valor aos produtos
A pobreza rural também é bastante intensa ou incluam novos produtos no mercado tam-
na região Norte, onde 94% dos estabeleci- bém podem contribuir para melhorar a renda
mentos com área igual a (ou menor que) e o bem-estar dessas famílias de produtores
100 ha (e 74% dos estabelecimentos maio- rurais pobres e extremamente pobres.
res que 100 hectares) pertenciam (em 2006,
Contudo, apenas o desenvolvimento de tec-
com base no último Censo Agropecuário
nologias adequadas às diferentes condições
do IBGE) às classes de renda bruta deno-
socioeconômicas e ambientais não será a
minadas “muito pobre” e “pobre”. Além
solução, uma vez que esses produtores apre-
disso, as classes com renda média acima
sentam baixo nível de escolaridade e care-
de R$ 3.000,00 mensais em 2006 foram res-
cem de acesso à assistência técnica e exten-
ponsáveis por 67% da renda bruta gerada
são rural, o que dificulta ou até impossibilita
na região, o que reforça o processo de con-
a incorporação de tecnologias já existentes.
centração da renda. Cabe destacar a ex-
É importante facilitar o processo de tomada
pressiva parcela das populações indígenas
de decisão dos pequenos produtores com
e comunidades tradicionais extrativistas
relação ao que se deve produzir e como essa
que são usuárias e “guardiãs” de parcela
produção será realizada, provendo informa-
substancial de áreas de conservação de
ções e auxiliando na construção de sistemas
uso sustentável no bioma Amazônia e que
de produção ajustados à realidade dos esta-
estão inseridas nas classes de extrema po-
belecimentos. Em grande parte dos casos, as
breza e de pobreza no meio rural brasileiro.
políticas de transferência de renda têm papel
40
Como exemplo, citam-se as minifábricas de caju, im-
39
Uma vez que, com recursos e tecnologia adequados, pulsionadas por parcerias entre a Embrapa e a Central
o Semiárido pode se tornar uma região de importante de Cooperativas dos Cajucultores do Estado do Piauí
produção agrícola. (Cocajupi).

56
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

fundamental na manutenção dessas famílias cia a “masculinizaçao” daquela população42.


(Rocha, 2013; Skoufias et al., 2017), até que A adoção de políticas públicas, como a apo-
soluções adequadas e permanentes sejam sentadoria rural, aumentou a possibilidade
viabilizadas para promover a autonomia eco- de permanência dos mais idosos no espaço
nômica e o bem-estar dessas populações. rural (Froehlich et al., 2011), porém a saída
dos mais jovens agrava os problemas rela-
Em regiões do Semiárido e do Sul do Brasil, cionados à sucessão familiar. Além disso, as
políticas públicas tiveram papel importante taxas de fecundidade praticamente iguais às
para minimizar imperfeições de mercado41 urbanas43, com significativo percentual (12%)
e fazer com que parte dos pequenos produ- de casais sem filhos, vêm reduzindo os tama-
tores alcançasse elevado valor da produção nhos das famílias e consequentemente a dis-
por hectare. No Sul, teve destaque o associa- ponibilidade de mão de obra no campo.
tivismo, e no Semiárido os projetos de irriga-
ção (Alves; Souza, 2015b). Em muitos casos, o Especificamente no Nordeste do Brasil, essa si-
problema da renda desses estabelecimentos tuação é ainda agravada pela escassez de chu-
dificilmente será resolvido apenas por meio vas e pelos efeitos das mudanças do clima, que
da agricultura (Buainain; Garcia, 2013). Esse apontam para o agravamento das condições de
contingente da população rural tem sido produção agrícola naquela região. Essa região,
foco de políticas sociais governamentais de que atualmente abriga a maior população rural
complementação de renda, tendo como con- do Brasil, deverá observar um processo gradual
trapartida ações de saúde e educação das de esvaziamento demográfico nos próximos
famílias beneficiadas (Brasil, 2017a), o que anos. Ou seja, deverão ser observadas mudanças
deve permanecer como um fator de impor- espaciais nessa parte do País, não especificamen-
tância para esse público. te relacionadas à conversão de cultivos ou à troca
da agricultura pela pecuária, mas sim pela subs-
Escassez e elevação tituição de formas produtivas de baixa intensida-
de tecnológica e relativamente primitivas e pelo
do custo da mão de abandono por parte das famílias rurais. Cabe res-
obra saltar, entretanto, que, com recursos e tecnologia
adequados, o Semiárido poderá se tornar uma
Paralelamente a esses processos recém-dis- região de importante produção agrícola, como já
cutidos, as áreas rurais vêm sendo trans- comprovam algumas ilhas de alta produtividade,
formadas por aspectos demográficos, que onde sistemas eficientes de captação, armazena-
têm como consequência o esvaziamento do mento e uso da água (irrigação de precisão) e ma-
campo. A migração da população mais jo- nejo dos solos transformaram a realidade local44
vem (sobretudo as mulheres), que vai para as 42
Base dos Censos Demográficos e Pesquisa Nacional
cidades em busca de melhores oportunida- por Amostra de Domicílio (PNAD).
des, acentua o processo de envelhecimento 43
A taxa de fecundidade das mulheres passou de qua-
da população rural e tem como consequên- tro filhos por mulher em 1981 para 1,71 em 2011 (Maia;
Sakamoto, 2014).
44
A captação, o armazenamento e o uso de águas plu-
41
A imperfeição de mercado é caracterizada pela dife- viais, a promoção do turismo rural, a geração de ener-
rença de preços obtidos entre pequenos e grandes pro- gia por fontes alternativas (eólica e solar), a agroindus-
dutores que, em geral, alcançam valores mais altos na trialização e a produção animal – com destaque para a
venda do produto. Além disso, os pequenos produto- caprinocultura – são alguns dos fatores que têm con-
res pagam mais caro pelos insumos (Alves; Souza 2015, tribuído para a redução da fragilidade dos sistemas de
2015a). produção locais no Semiárido do Nordeste.

57
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

(na própria região Nordeste e também em casos agricultura brasileira (Figura 22). A PEA tem seguido
180
internacionais como em Israel). uma trajetória de queda, registrando redução de
160
20% durante o período 2004-2014 (passou de apro-
Esse processo de esvaziamento do campo decor-
140 ximadamente 18 milhões de pessoas para 14,5 mi-
re, por um lado, da concentração da riqueza, que
120 lhões). As regiões Nordeste e Sul apresentaram as
limita as oportunidades sociais (Buainain; Garcia,
maiores quedas; a primeira teve redução de 1,7 mi-
2013); e,100
por outro, da busca por melhores opor-
Índice

lhão de pessoas, enquanto a segunda 932 mil. Parte


tunidades 80 nas cidades. Ao mesmo tempo, o pro-
dessa redução foi compensada pela expansão de
cesso de60intensificação tecnológica na produção
ocupações não agrícolas. Especificamente no pe-
agrícola vem demandando cada vez menos mão
40 ríodo entre 2004 e 2014, a PEA não agrícola com 10
de obra e com maior nível de qualificação.
anos ou mais de idade, residente no meio rural, regis-
20
Para ilustrar esse movimento, são apresentados da- trou um aumento de 794 mil pessoas no Nordeste e
0
dos da população
1965 economicamente
1969 1973 1977 ativa
1981(PEA) na
1985 1989
de 197 mil
1993
na região
1997 2001
Sul do País
2005 2009
(IBGE, 2016).
2013 2017
Ano

Norte Nordeste
PEA agrícola (em milhões de pessoas)

9
Sudeste Centro-Oeste
8 Sul
7

-
2004 2005 2006 2007 2008 2009 2011 2012 2013 2014
Ano

Figura 22. Evolução da população economicamente ativa (PEA) agrícola de 10 anos ou mais de idade, por região, de
25
2004 a 2014 (em milhares de pessoas).
21,8
Fonte: IBGE (2016). 21,1
20
Em decorrência dessas 17,9
circunstâncias,
16,9 o cus- salário mínimo; o aumento do número de
to da mão de obra tem se elevado significa-
15,1
empregados com carteira de trabalho; os ga-
15
tivamente45. Essa elevação também é devida13,3 nhos de
11,8 11,3
produtividade
11,4
do trabalho agrícola;
a outros fatores, tais como: a valorização do a pressão exercida nos salários pela diminui-
10 8,9 8,9
ção da população agrícola rural; e7,6a regula-
45
Em geral, os salários na área rural são fixados com base mentação do mercado de trabalho rural.
5
no salário mínimo. O crescimento da economia dos úl-
timos anos (e a consequente concorrência exercida por Análises recentes (Maia; Sakamoto, 2014) as-
atividades urbanas pela mão de obra, diminuindo sua sinalam que o rendimento médio dos traba-
0
disponibilidade no meio rural, sobretudo a qualificada) e
os encargos2002 2003contribuem
trabalhistas 2004 2005
também 2006 2007
para o au- lhadores
2008 2009ocupados
2011 na agricultura
2012 2013 brasileira
2014
mento do custo da mão de obra rural.

58
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

seguiu uma trajetória ascendente na primei- bém um elemento estrutural importante da


ra década do século 21. Após oscilar e crescer agricultura nacional: a sucessão hereditária
4% nos anos 1990, a renda média46 do con- no comando/gestão das propriedades47. A
junto de pessoas ocupadas no meio agrícola questão da transferência hereditária da terra
no Brasil cresceu 51% entre 2001 e 2012. O é relevante, pois mudanças no perfil do pro-
crescimento foi mais acentuado nas regiões prietário do negócio criam novas demandas
Sul, Sudeste e Centro-Oeste do País, ou seja, tecnológicas, particularmente quando os no-
onde a agricultura se encontra em um pa- vos gestores são grandes empresas ou gru-
tamar mais elevado de desenvolvimento. O pos de investimento.
rendimento médio dos trabalhadores nessas
três regiões superou 67% no período 1992-
2012.
Concentração nos elos
de processamento e
Conforme mencionado, o uso de tecnolo-
gias poupadoras de mão de obra, além de distribuição
contribuir para o aumento da produtividade A forte expansão e concentração das redes vare-
do trabalho e da terra, vem reforçando a ne- jistas (as grandes redes de supermercado), ocor-
cessidade de mão de obra mais qualificada rida a partir da década de 2000, e ainda mais in-
e especializada, trazendo inúmeros desafios, tensamente de 2010 em diante, acarretou grande
em especial para os pequenos produtores. acúmulo de poder nas mãos de poucos players
Por um lado, a migração de alguns membros (Lovreta et al., 2016). Tal concentração varia entre
jovens da família para a cidade, a menor dis- países (entre 40% e 95% de participação no mer-
ponibilidade de mão de obra no mercado cado em poder de quatro ou cinco redes varejis-
para ser contratada e o seu custo mais eleva- tas)48 (Nicholson; Young, 2012; Heffernan, 2016;
do dificultam o êxito do negócio da pequena Atradius, 2017; Von Broembsen, 2017).
produção agropecuária em estabelecimen-
tos com baixo nível tecnológico e de gestão. A consolidação dessas redes apresenta im-
Por outro, a alternativa de compensar a es- pacto sobre produtores rurais e de alimentos
cassez de mão de obra via investimentos em (processados e semiprocessados), na medida
tecnologias poupadoras desse recurso tam- em que, nas negociações comerciais, apre-
bém desafia os pequenos produtores devido sentam maior poder de barganha, reduzindo
a sua limitada capacidade financeira. Essa as margens dos produtores e até mesmo a ca-
realidade reforça a necessidade de pesquisas pacidade de conduzir sua produção conforme
e de políticas públicas que contribuam para seus planejamentos (Nicholson; Young, 2012;
as requeridas soluções, particularmente em Warmoll, 2016). De maneira generalizada, os
cultivos que fazem uso intensivo de mão de países têm observado forte e crescente dis-
obra (como na produção de hortifrutícolas, crepância entre os preços pagos pelos consu-
palma de óleo e mandioca). midores e os pagos aos produtores agrícolas

Finalmente, cabe assinalar que, além de tra-


47
Estudo realizado no Vale do Taquari aponta que
32,5% das 32 mil propriedades pesquisadas não ti-
zer implicações para a disponibilidade e o nham sucessores para dar continuidade ao negócio
custo da mão de obra rural, o esvaziamento agropecuário da família (Univates, 2005).
48
No Brasil, as três maiores redes de supermercado,
demográfico do campo está alterando tam- pela ordem Carrefour, Pão de Açúcar e Walmart (con-
siderando o faturamento de 2016), detinham pratica-
46
Valores reais, atualizados para outubro de 2012. mente 43% do setor (300 maiores..., 2017).

59
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

(Competition..., 2014) em razão desse fenôme- seguintes. A pressão, contudo, não ocorre ape-
no, o qual é fortalecido pelo fato de as redes va- nas em relação a redução de preços e poster-
rejistas constituírem um elo concentrado que gação de pagamentos. Além desses dois fato-
tem acesso a uma enorme gama de fornecedo- res, a lista de mecanismos do abuso de poder
res e uma gigantesca base de consumidores49. de compra das redes varejistas inclui: taxas de
cadastramento em listagem de fornecedores;
Além da pressão exercida pelos grandes
ameaça de exclusão de listagem de fornecedo-
grupos de distribuição sobre os produtores
res cadastrados; taxas de espaço em prateleira;
agrícolas, há aquela gerada pelos grandes
exigência de descontos extra ou não acordados
grupos industriais, os quais apresentam
ou, ainda, de pagamentos dos fornecedores;
também forte concentração (Competition...,
exigência de pagamentos retrospectivos e des-
2014). Pouquíssimos grupos industriais pro-
contos pós-venda; retorno de produtos não
duzem praticamente todos os alimentos e
vendidos ao fornecedor; alterações retrospec-
bebidas que encontramos nas prateleiras
tivas em termos acordados; vendas a preços
dos supermercados (Myers, 2017; Taylor,
abaixo dos custos (repassados aos fornece-
2017): Nestlé, PepsiCo, Coca-Cola, Unilever,
dores); influência sobre a disponibilidade de
Danone, General Mills, Kellogg’s, Mars, Asso-
produtos ou aumento dos custos dos produtos
ciated British Foods, Smithfield, Kraft Heinz,
para outros varejistas (concorrentes); e promo-
ConAgra, Anheuser-Busch InBev, JBS, Tyson
ção de suas marcas próprias (varejistas)50 (Su-
e Mondelez. Esses grandes grupos têm defi- permercados..., 2010; Nicholson; Young, 2012;
nido táticas de relacionamento comercial  – Von Broembsen, 2017).
como o aumento dos prazos para pagamen-
tos de compras – que têm causado impactos Como resposta natural a isso, alguns movi-
nos produtores. Até o fim da década de 2000, mentos têm sido observados, como o sur-
os produtores recebiam os pagamentos des- gimento de lojas locais e pequenas novas
ses grandes grupos em torno de 30 dias após marcas e a comercialização de “produtos de
o faturamento, atualmente tais compradores supermercado” em outros canais, em dire-
estão impondo prazos que chegam a 120 ção oposta à concentração de grandes redes
dias (Ruddick, 2015; Strom, 2015). (Duff & Phelps, 2016; Federated, 2017). Outro
aspecto refere-se à organização de produto-
Na realidade, esse movimento ocorre em meio res/fornecedores, como o Fórum dos Negó-
a outro ainda mais intenso, a forte pressão que cios Privados (Forum of Private Business  –
os ainda mais concentrados distribuidores (as movimento de organização de pequenos e
redes varejistas) causam sobre esses mesmos médios fornecedores do Reino Unido para
grupos industriais. Ou seja, há uma reação em combater as imposições dos grandes grupos
cadeia: as grandes redes varejistas pressionam empresariais) (Big Business Bahaving Badily,
os grupos industriais de alimentos por redução 2015). Além disso, organizações que atuam
de preços (Gasparro et al., 2017) e estes últimos
“repassam” também tal pressão para os elos 50
É importante registrar que a existência de grandes
redes varejistas não acarreta apenas impactos nega-
tivos, pois, em certa medida, é responsável por uma
49
Esse fenômeno é verdadeiro para a grande maioria dos série de impactos positivos que vão desde o aumento
países desenvolvidos e em desenvolvimento, e o Brasil não da disponibilidade de certos produtos (alimentos, mais
representa exceção. Há estudos analisando os impactos da especificamente no caso do tópico aqui tratado) até a
concentração de poder e do abuso do poder de compra de redução dos preços ao consumidor ao longo do tempo.
redes varejistas. Por exemplo: Cavalcante (2004), Aguiar; Fi- Esses e outros aspectos positivos são apontados em
gueiredo (2011) e Costa e Fernandez (2014). Nicholson e Young (2012).

60
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

na defesa do consumidor têm aumentado logias, de modelagens agroambientais e de inteli-


suas ações de vigilância em relação a práticas gência territorial estratégica é imprescindível para
abusivas das grandes redes varejistas (ex.: as analisar e compreender as mudanças espaciais
atuações da Choice51, na Austrália, e da Whi- da agricultura de forma integrada, produzindo
ch?52, no Reino Unido). Somam-se a isso as diagnósticos e gerando cenários de futuro.
crescentes exigências dos consumidores por
produtos que eles conheçam melhor (Kowitt, Essas áreas têm evoluído rapidamente em
2015) e sobre os quais possam influenciar a razão do desenvolvimento vertiginoso das
produção (cocriação), o que causa pressão Tecnologias de Informação e Comunicação
adicional sobre os fornecedores. (TIC), do número crescente de satélites e
sensores, da maior precisão e disponibilida-
Em suma, por um lado, a concentração dos de de dados, da diminuição dos custos de
elos de processamento e de distribuição na levantamentos por sensoriamento remoto,
cadeia produtiva de alimentos tende a levar à do crescimento do mercado, do desenvolvi-
diminuição do número de pequenos estabe- mento de sistemas de informação geográfi-
lecimentos rurais (pelas claras implicações cas e de novos algoritmos mais consistentes
econômicas sobre esses). Entretanto, por ou- para o processamento de imagens e trata-
tro, os referidos movimentos de reação ten- mento de dados. O avanço na obtenção de
dem a intensificar nichos de mercado (ex.: dados espaciais – por diversos meios e ferra-
comércio local), que são naturalmente me- mentas, como satélites, veículos aéreos não
lhor atendidos por pequenas unidades pro- tripulados (Vants), dispositivos móveis, re-
dutivas (especialmente aquelas localizadas des sociais, sensores inteligentes e bases de
mais próximo aos centros consumidores). dados – tem contribuído significativamente
para a elevação dos dados disponíveis so-
Análises espaciais bre os sistemas produtivos. As aplicações
envolvendo a geoinformação e a informáti-
e gestão territorial ca permitem a transformação desses dados
estratégica multidisciplinares em bases espaciais es-
truturadas e não estruturadas (Sinha et al.,
As dimensões territoriais do Brasil, juntamente 2010), as quais se tornam cada vez mais fre-
com os elementos naturais, sociais e econômi- quentes na aplicação no processo de toma-
cos apresentados, estabelecem um espaço rural da de decisão, integrando aspectos que vão
complexo e diverso. Os sistemas de produção desde a propriedade rural até sua inserção
agrícolas interagem com o ambiente físico-bió- territorial nacional. Esse conjunto de técni-
tico de forma a estabelecer mosaicos dinâmicos cas é composto por hardware e software ca-
de uso e ocupação da terra. O processo decisório pazes de armazenar, manipular e processar
público, e especialmente o privado, no meio rural informações geográficas e imagens digitais.
torna-se cada vez mais dependente de dados e
informações geográficas. A adoção de geotecno- Análises geoespaciais têm sido cada vez mais
utilizadas no mapeamento de culturas agríco-
51
Mais informações sobre a Choice, consultar: <https:// las, na detecção de mudanças de uso e cober-
www.choice.com.au/> e <https://www.choice.com.au/ tura da terra, nos estudos sobre intensificação
shopping/everyday-shopping/supermarkets>.
52
Mais informações sobre a Which, consultar:: <https:// agrícola, entre outros. Programas e projetos pú-
www.which.co.uk/> e <https://www.which.co.uk/
policy/food>.

61
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

blicos, como o TerraClass53, de uso e cobertura de solos em escalas entre 1:20 mil e 1:40 mil.
da terra na Amazônia e Cerrado; o PRODES54 Nesse contexto, o Brasil pretende executar
de monitoramento da Floresta Amazônica Bra- nos próximos 30 anos – [Programa Nacional
sileira por satélite; o Zoneamento Agrícola de de Solos do Brasil (Pronasolos) – (Polidoro et
Risco Climático (Zarc55); e o Projeto de Dinâmi- al., 2016)] o mapeamento dos solos em 1:25
ca de Uso e Cobertura da Terra no Brasil56, têm mil, 1:50 mil, 1:100 mil, nos âmbitos munici-
exercido papel fundamental no apoio à tomada pal, estadual e federal, respectivamente. Es-
de decisões do setor privado e na definição de sas escalas melhoram a tomada de decisão e
políticas públicas no Brasil. Outras importantes o estabelecimento de políticas públicas para
análises sobre a dinâmica de uso e cobertura a agricultura.
das terras no País em escala nacional têm sido
geradas por universidades57, institutos de pes- Dessa forma, são crescentes as análises es-
quisa58 e organizações não governamentais59. paciais e as aplicações no monitoramento
agroambiental (avaliação das condições am-
Um aspecto importante para fortalecer o bientais de áreas agrícolas e de preservação);
planejamento do uso da terra e sua expan- na georrastreabilidade e certificação (iden-
são e intensificação é o levantamento de tificação de áreas de produção agrícolas na
dados sobre os solos no Brasil em escalas cadeia logística); nos modelos de simulação
mais apropriadas. Os atuais levantamentos, para auxiliar na tomada de decisões indivi-
iniciados na década de 1950, objetivavam o duais (como necessidade de irrigação ou uso
atendimento a necessidades prementes de de insumos), coletivas ou governamentais
planejamento, em um cenário de quase des- (avaliação ex ante de políticas públicas); nas
conhecimento dos solos do País. Em face das concessões de crédito ou de seguro agrícola
limitações de ordem financeira e de pessoal (diante de questões da legislação e variabili-
especializado, optou-se pela execução de dade espacial das áreas de produção); e na
mapeamentos generalizados, abrangendo prevenção de desastres naturais (enchentes,
grandes extensões territoriais. Atualmente, terremotos, etc.).
apenas uma pequena parte do País (cerca
de 5%) conta com mapas de solos em escala Da mesma forma, os sistemas de inteligência
1:100.000 ou maior, o que contrasta de for- territorial estratégica (Sites) têm sido apli-
ma acentuada com outros grandes países, cados para análises e estudos do território
que são integralmente cobertos por mapas em diferentes escalas, como, por exemplo,
o Site Matopiba (Miranda et al., 2014), que
53
Disponível em: <http://www.inpe.br/cra/projetos_ integra dimensões naturais, agrícolas, agrá-
pesquisas/dados_terraclass.php> e <http://www.dpi. rias, socioeconômicas e de infraestrutura.
inpe.br/tccerrado>.
54
Disponível em: <http://www.obt.inpe.br/OBT/ Informações inéditas são geradas a partir
assuntos/programas/amazonia/prodes>. das possibilidades de cruzamentos de pla-
55
Disponível em: <http://www.agricultura.gov.
br/assuntos/riscos-seguro/risco-agropecuario/ nos de informações multifonte, que apoiam
zoneamento-agricola>. a formulação de políticas públicas e decisões
56
Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/home/ estratégicas das atividades econômicas e de
geociencias/recursosnaturais/usodaterra/default.
shtm>. infraestrutura em bases territoriais para mu-
57
Disponível em: <https://www.lapig.iesa.ufg.br/ nicípios, estados ou país.
lapig/>; <http://www.igc.ufmg.br/>; <www.ufrgs.br>.
58
Disponível em: <http://www.inpe.br/>.
59
Disponível em: <http://mapbiomas.org/> e <http://
imazon.org.br/>.

62
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Desafios
◉◉ Caracterizar regionalmente os sistemas ◉◉ Ampliar o uso da inteligência territorial
de produção e os novos padrões tec- estratégica em ações de governança e
nológicos, sociais e econômicos, consi- gestão pública e privada das cadeias
derando a heterogeneidade do espaço produtivas da agricultura.
rural nacional.
◉◉ Intensificar os estudos sobre os solos do
◉◉ Integrar novas formas de articulação Brasil por meio de levantamentos mais
interinstitucional e interorganizacional detalhados e em escalas compatíveis às
com foco nas especificidades regionais, necessidades de planejamento de uso
como Unidades Mistas de Pesquisa da terra e de microbacias hidrográficas.
(UMP); Núcleos Territoriais de Inovação
e Referência Tecnológica (Nutir); Unida- ◉◉ Elevar a interoperabilidade dos sistemas
des de Referência Tecnológica (URT); e de monitoramento territorial em todas
laboratórios multiusuários. as esferas no meio rural, via integração
e uso de padrões abertos que permitam
◉◉ Estimular a reestruturação das organi- a comunicação de dados e informações
zações de assistência técnica e exten- territoriais.
são rural (Ater) públicas e privadas para
ações regionalizadas. ◉◉ Promover estudos e o desenvolvimento
de análises integradas de base de dados
◉◉ Ampliar a articulação e efetivar parce- para subsidiar ações de melhorias da in-
rias público-públicas e público-privadas fraestrutura de logística e de armazena-
para adensamento dos mapeamentos mento nas cadeias produtivas agrícolas.
básicos de cobertura vegetal, solos e
recursos hídricos, em escalas mais deta- ◉◉ Desenvolver e adaptar tecnologias de
lhadas. gestão, produção e processamento para
pequenas propriedades rurais.
◉◉ Mapear e monitorar sistemas intensi-
ficados e biodiversos de uso da terra ◉◉ Qualificar a mão de obra rural diante do
(diferentes safras, pastagens plantadas, crescimento da demanda por atividades
sistemas irrigados, cultivos protegidos mais especializadas e tecnificadas.
e integração lavoura-pecuária-floresta– ◉◉ Intensificar o comércio local por meio
ILPF) por regiões e perfil de produção. de ações de cooperativismo, associati-
◉◉ Desenvolver instrumentais digitais ino- vismo e da promoção de circuitos curtos
vadores que possibilitem o monitora- de produção e comercialização.
mento à distância das informações e a ◉◉ Incrementar o poder de barganha dos
elaboração de cenários que auxiliem os produtores das cadeias produtivas
processos de tomada de decisão quanto agroalimentares, especialmente peque-
ao uso do solo e dos recursos hídricos nos e médios, diante das grandes redes
regionais. varejistas e grandes grupos industriais.

63
INTENSIFICAÇÃO E
SUSTENTABILIDADE
DOS SISTEMAS DE
PRODUÇÃO AGRÍCOLAS
64
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

O Brasil tem se destacado mundialmente casos, já fazem parte do contexto agrícola


pela expansão da produção agrícola simul- brasileiro, entre os quais se destacam: ILPF;
taneamente à ampla preservação ambiental sistemas agroflorestais; sistema de plantio di-
(66% de seu território recoberto por vegeta- reto (SPD) e agricultura orgânica; fixação bio-
ção nativa) (Miranda, 2017). Nos últimos 40 lógica de nitrogênio (FBN); controle biológico
anos, o País apresentou uma das maiores de pragas e doenças; florestas plantadas; re-
taxas de aumento da produtividade na agri- cuperação de áreas degradadas; tratamento
cultura60, e o emprego de tecnologia res- de dejetos animais; recuperação, restaura-
pondeu pela maior parte desse crescimento ção e adequação ambiental das proprieda-
(Gasques, 2017). Aproximadamente 66% do des rurais. Como consequência, a realidade
território nacional ainda é coberto com fitofi- rural brasileira é, em geral, caracterizada por
sionomias naturais, 21% com áreas de pasta- paisagens multifuncionais que superam pos-
gens (pecuária de corte e leite), 9% de áreas síveis dicotomias entre a produção agrícola e
com agricultura anual, semiperene e perene a conservação da biodiversidade.
(grãos, horticultura, fruticultura e silvicultura)
e 3,5% com áreas urbanas, infraestrutura e Entre as potências produtoras de alimentos,
outros (Miranda, 2017). fibras e bicombustíveis, o Brasil é um dos
poucos países que concilia a possibilidade
Entretanto, assim como ocorre em âmbito de expandir suas fronteiras agrícolas com a
global, a intensificação produtiva no Brasil salvaguarda dos remanescentes naturais,
é pressionada por forças estruturantes, tais cuja proteção está prevista no Código Flores-
como: crescimento populacional, aumento tal. Isso será possível com a incorporação de
da renda e do consumo; redução da possi- áreas degradadas, abandonadas ou subutili-
bilidade de expansão da fronteira agrícola e zadas com aptidão para a produção agrícola,
valorização da terra; redução da disponibi- incremento de rendimento com redução do
lidade e aumento do custo da mão de obra diferencial entre a produtividade atual e po-
rural; necessidade de preservação dos recur- tencial das lavouras anuais e perenes (yield
sos solo e água; políticas agrícolas e legisla- gaps) e das diferentes atividades pecuárias.
ções ambientais e florestais. Conhecimentos Contudo, a maioria dessas terras hoje à mar-
e tecnologias no contexto social, econômico gem do sistema produtivo de alto rendimen-
e ecológico local, visando aumentar a renta- to apresenta alguma forma de degradação,
bilidade e minimizar os impactos ambientais, demandando a adoção em larga escala de
têm sido utilizados no intuito de promover tecnologias que possibilitem reverter esse
processos de intensificação produtiva. quadro.

Sistemas de produção (Hirakuri et al., 2012) O Brasil apresentou, na COP 21  – 21ª Con-
mais complexos, sistêmicos, resilientes, sus- ferência das Partes da Convenção-Quadro
tentáveis, como, por exemplo, de baixa emis- das Nações Unidas sobre a Mudança do Cli-
são de gases de efeito estufa (GEE), compõem ma, Paris, em 2015, compromissos de redu-
agenda de pesquisa de organizações públi- ção em 37% (abaixo dos níveis de 2005) da
cas, universidades, empresas e, em muitos emissão de GEE até 2025. Além disso, fez
indicativo subsequente de redução de 43%
60
Em comparação com outros países, o Brasil ficou (abaixo dos níveis de emissão de 2005) até
atrás apenas da China quando se considera apenas os 2030 (Brasil, 2016b). Entre as ações propos-
grandes produtores agrícolas (Estados Unidos, 2017b).

65
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

tas, destacam-se: reduzir em 80% e em 40%,


respectivamente, as taxas de desmatamento
Acordos internacionais
na Amazônia e no Cerrado e adotar tecnolo- e marcos regulatórios
gias de intensificação da agricultura para re-
cuperação de pastagens degradadas (ILPF e
para o desenvolvimento
ampliação do uso do SPD). Em consonância sustentável
com esse compromisso voluntário, durante a A tendência de intensificação e sustentabi-
Conferência das Nações Unidas sobre Desen- lidade da produção agrícola brasileira tam-
volvimento Sustentável (CNUDS ou Rio+20 bém é influenciada por marcos regulatórios
em 2012), já havia sido introduzida a ideia de e acordos internacionais estabelecidos no
se alcançar um mundo que seja neutro em âmbito de organismos multilaterais por seus
degradação de terra (United Nations, 2015a). países membros. Entre estes marcos e acor-
O País vem obtendo sucesso na adoção de ino- dos internacionais vigentes e em negociação,
vações, na forma de processos e produtos utili- com a participação do Brasil, destacam-se:
zados nos sistemas de produção (por exemplo, Objetivos do Desenvolvimento Sustentável
o uso de múltiplas safras na produção agríco- (ODS – 2030)61, Acordos e Protocolos da Con-
la), e na intensificação sustentável da agricul- venção do Clima (United Nations Framework
tura, com impactos positivos na produtividade, Convention on Climate Change – UNFCCC),
rentabilidade e bem-estar social da população Protocolos e Programas da Convenção de Di-
rural e urbana. Nas próximas décadas, as possi- versidade Biológica (CDB) e o Tratado sobre
bilidades de crescimento horizontal das áreas Recursos Fitogenéticos para Alimentação e
de produção de alimentos, fibras e bicombustí- Agricultura (Tirfaa).
veis serão decrescentes, o que aumenta os de- Esses elementos promovem o uso sustentável
safios e cria novos estímulos e oportunidades dos recursos naturais, a mitigação dos impac-
para o processo de intensificação sustentável tos da mudança do clima e adaptação a eles,
da agricultura brasileira. a conservação da diversidade biológica e utili-
A sociedade e sua crescente preocupação am- zação sustentável de seus componentes, bem
biental vinculada à produção agropecuária têm como a repartição justa e equitativa dos benefí-
demandado dos cientistas, do setor produtivo cios derivados da utilização dos recursos gené-
e das políticas públicas maior atenção no que ticos, entre outros. Assim sendo, influenciam os
diz respeito ao desenvolvimento de sistemas esforços empenhados na intensificação e sus-
de produção mais complexos, sistêmicos, re- tentabilidade da produção agrícola nacional.
silientes, sustentáveis e de baixa emissão de Em setembro de 2015, a ONU lançou a Agen-
GEE. Essas perspectivas consolidam a mega- da 2030. Fruto da deliberação de 193 nações
tendência de intensificação e sustentabilidade e de representantes da sociedade civil global,
da produção agropecuária, trazendo desafios a Agenda é composta por 17 Objetivos do De-
ainda maiores para a pesquisa e extensão rural senvolvimento Sustentável (ODS) (Figura 23),
em seus aspectos agronômicos, econômicos, “[...] integrados e indivisíveis, que mesclam, de
sociais, culturais e para as políticas públicas. forma equilibrada, as três dimensões do desen-
volvimento sustentável: a econômica, a social e
a ambiental” (United Nations, 2015b, p. 1).
61
Disponível em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/>.

66
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Figura 23. Os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS).


Fonte: ONU (2017).

Examinado o conjunto dos ODS, fica evidente A automação da agricultura contribui para o
o papel que a agricultura sustentável tem para trabalho menos penoso, porém pode impactar
o avanço da Agenda. No Brasil, a importância negativamente o nível de renda via desempre-
da agricultura para o alcance desses objetivos go de uma parcela da mão de obra no meio ru-
é ainda maior, considerando a extensão das ral. Nesse contexto, a Agenda 2030 reconhece e
áreas ocupadas com lavouras e pastagens, o ex- prevê que a ambição de alcance de seus objeti-
pressivo contingente de produtores e trabalha- vos dependerá de políticas públicas integradas
dores envolvidos no agronegócio e a relevância que atenuem objetivos conflitantes e potencia-
do setor para o desenvolvimento econômico e lizem sinergias existentes.
a melhoria do bem-estar social da população.
No Acordo de Paris, aprovado em dezem-
As conexões mais evidentes da agricultura com
bro de 2015 por 195 países integrantes da
os ODS se dão entre a produção de alimentos
COP21, é prevista a redução de emissões de
e nutrição, saúde e pobreza e entre agricultura,
GEE no contexto do desenvolvimento sus-
recursos naturais, energia limpa e mudanças
tentável (Brasil, 2016a). O Brasil submeteu à
climáticas. Contudo, são inegáveis também os
convenção das partes sua proposta de Con-
vínculos e as contribuições da agricultura para
tribuição Nacionalmente Determinada (Na-
o alcance dos outros ODS.
tionally Determined Contribution – NDC).
Há que se reconhecer e equilibrar os conflitos O País visa ampliar seus compromissos de
e a competição entre os objetivos ligados à redução agregada das emissões de GEE em
agricultura com os relacionados a outras áreas. 37% abaixo dos níveis de 2005, até 2025, e
Por exemplo, a produção de alimentos e a pro- em 43% abaixo dos níveis de 2005, até 2030
dução de biomassa para energia renovável (Marcovitch, 2016). Neste sentido, as ações
podem competir pelo uso da terra e da água. propostas abrangem o fortalecimento do

67
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Código Florestal, a promoção do desmata- Em dezembro de 2012, aproximadamente


mento ilegal zero, o reflorestamento de 12 200 países estenderam em Doha o período
milhões de hectares e o alcance de participa- de execução do Protocolo de Quioto por
ção estimada de 45% de energias renováveis mais 8 anos, ou seja, até 2020. A adoção
na composição da matriz energética (Reis et dessa medida, quando analisada sob o
al., 2016). ponto de vista do setor privado, evitou um
ambiente de insegurança jurídica. Do pon-
Além disso, medidas de adaptação que fortale- to de vista político, a Emenda de Doha tem
cem a resiliência dos sistemas produtivos e pro- o papel estratégico de preencher a lacuna
movem um processo de desenvolvimento de entre o fim do primeiro período de com-
baixo carbono também contribuirão para os ob- promisso do Protocolo de Quioto e a entra-
jetivos de mitigação e adaptação estabelecidos da em vigor do Acordo de Paris em 2020.
no Acordo de Paris, entre as quais se destacam o A ratificação plena dessa Emenda – em
Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Cli- análise no Congresso Nacional– seria uma
ma (PNC) (2016), aprovado pelo Brasil em 2016, importante sinalização política e indicati-
e o Plano ABC. Este último deverá ser revisto em va de envolvimento no processo formal de
2018, com proposta de ampliação da restauração construção e adoção de ações imediatas,
de pastagens degradadas em 15 milhões de hec- em âmbito nacional, diante dos desafios
tares e o incremento de 5 milhões de hectares de impostos pela mudança do clima.
sistemas de ILPF (Reis et al., 2016).
No que se refere à conservação da diversi-
O Protocolo de Quioto, negociado no Japão em dade biológica, à utilização sustentável de
1997 e executado a partir de 2005, estabelece metas seus componentes e à repartição justa e
internacionais de redução de emissões e está vincu- equitativa dos benefícios derivados da utili-
lado à UNFCCC (United Nations, 1998). O protocolo zação dos recursos genéticos, o Brasil é parte
contempla o Mecanismo de Desenvolvimento Lim- contratante da CDB desde 1994 e participa
po (MDL)62, que consiste em uma estrutura de flexibi- ativamente da construção de seus instru-
lização que possibilita, aos países que não alcancem
mentos de implementação. Entre os três pro-
os compromissos de redução, adquirirem crédito
tocolos em vigor, o Brasil ratificou, em 2004,
em outros países. Esse mecanismo foi um catalisa-
o Protocolo de Cartagena63, que versa sobre
dor de discussões e inovações tecnológicas, movi- o movimento transfronteiriço de organismos
mentando vários segmentos da sociedade, desde vivos modificados (OVMs). Nesse particular,
atividades de pequena escala, até grandes projetos está em vigor a Lei de Biossegurança (Brasil,
industriais, agrícolas e florestais, além da academia,
da sociedade civil e do setor político. 63
O Protocolo suplementar de Kuala-Lumpur vinculado
62
É um dos mecanismos de flexibilização criados pelo ao Protocolo de Cartagena versa sobre regras interna-
Protocolo de Quioto para auxiliar o processo de redu- cionais de responsabilização e compensação de danos
ção de emissões de gases de efeito estufa (GEE) ou de ligados ao uso de organismos vivos geneticamente mo-
captura de carbono (ou sequestro de carbono). O pro- dificados e ainda não foi ratificado pelo Brasil. O Pro-
pósito do MDL é prestar assistência às Partes Não Ane- tocolo de Nagoia (Convention On Biological Diversity,
xo I da UNFCCC, para que viabilizem o desenvolvimento 2014) sobre Acesso a Recursos Genéticos e Repartição
sustentável por meio da implementação da respectiva Justa e Equitativa de Benefícios advindos de sua utili-
atividade de projeto e contribuam para o objetivo final zação entrou em vigor em 2014 e, no Brasil, encontra-
da Convenção (Ministério Público do Estado de Goiás, -se ainda em análise pelo Congresso. Por não ser parte
2018). Países em desenvolvimento poderão se benefi- contratante, o País não tem direito a voto nas discus-
ciar das atividades de redução de emissões de gases de sões internacionais, lembrando que a legislação nacio-
efeito estufa, incluindo a venda das Reduções Certifica- nal [o Brasil possui legislação sobre a matéria – Lei nº
das de Emissões (RCEs) (Meio ambiente, 2014). 13.123/2015 (Brasil, 2015)] tem alcance apenas no País.

68
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

2005), que dá respaldo às ações que envol- O Tirfaa tem como objetivo a conservação
vem organismos geneticamente modificados e o uso sustentável dos recursos genéticos
(OGMs) em território nacional. Sem essa lei, de plantas para alimentação e agricultura,
que é fundamental para o desenvolvimento assim como a repartição justa e equitativa
da agricultura brasileira, o Brasil estaria im- dos benefícios derivados da sua utilização e
pedido, em cumprimento ao protocolo, de deve funcionar em harmonia com a CDB. Em
plantar e comercializar milho, soja, algodão, virtude de aspectos legais envolvendo, entre
além de vacinas para animais e outros pro- outros, a proteção de patentes nos diferentes
dutos geneticamente modificados. países, as partes postergaram novas decisões
para 2019. A razão mais explícita para isso é a
Embora tenha nascido como uma conven- pressão contrária da indústria multinacional
ção para tratar do tema biodiversidade, a im- de sementes, que teria de repassar os cus-
plementação da CDB tem levado à discussão tos da repartição de benefícios para os agri-
de assuntos novos. Um deles diz respeito à cultores. Impasses nesses acordos poderão
discussão e à implementação do uso de tec- prejudicar pesquisas no futuro envolvendo
nologias, como a biologia sintética, a nano- a variabilidade genética dos principais cul-
tecnologia, a geoengenharia, entre outras. tivos exóticos existente nas coleções ex situ
Quanto a outros instrumentos da CDB des- mantidas no País pela Embrapa e por outras
taca-se a aprovação das Metas de Aichi organizações.
como parte do Programa de Biodiversidade Nesse contexto, o Brasil vem tendo papel de
2011-2020, e sua internalização no Brasil por destaque nas discussões de acordos e com-
intermédio da Comissão Nacional de Bio- promissos internacionais. Ademais, por ter
diversidade (Conabio), sob os auspícios do uma economia fortemente baseada em seus
Ministério do Meio Ambiente (MMA). Já foram recursos naturais, mas, ao mesmo tempo,
iniciados os trabalhos de preparação do novo possuir uma agricultura baseada em material
Programa de Biodiversidade 2021-2030, que genético exótico (espécies originárias de ou-
será discutido na próxima COP 14 – 14ª Con- tros países), forte capacidade técnico-cientí-
ferência das Partes da Convenção da Diver- fica, potencial empreendedor em seu setor
sidade Biológica, em Sharm El-Sheikh, a ser privado, papel de liderança regional e ser um
realizada em 2018 (Convention on Biological
dos líderes mundiais na produção de alimen-
Diversity, 2018). Tudo indica que o foco do
tos, o País tende a continuar contribuindo de
programa estará voltado para serviços ecos-
forma efetiva para o alcance desses objetivos
sistêmicos, o que abre uma série de oportu-
comuns e com protagonismo no desenvolvi-
nidades para o setor agrícola brasileiro, caso
mento sustentável mundial.
o País participe ativamente das discussões já
em curso. Inevitavelmente, esses acordos e compro-
missos têm impacto nos protocolos e mé-
Um dos tratados mais importantes para a
tricas de sustentabilidade, definidos em
agricultura brasileira é o Tirfaa, que foi apro-
âmbito tanto nacional quanto internacional.
vado pelos países membros da Organização
Ao mesmo tempo, representam uma oportu-
das Nações Unidas para Agricultura e Alimen-
nidade para o Brasil, que vem cada vez mais
tação (FAO), em 2001, assinado pelo Brasil
consolidando seu protagonismo quando se
em 2002, ratificado em 2006 e promulgado
consideram critérios globais de produção
pelo Decreto nº 6.476, em 2008 (Brasil, 2008).

69
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

sustentável. Como forma de subsidiar as 2016). A pecuária brasileira ocupa aproxima-


tomadas de decisões nesses fóruns interna- damente 21% do território do País.
cionais, a pesquisa agrícola nacional deverá
ser aprofundada, por um lado, para subsídio Nesse contexto, o nexo água-alimento-ener-
técnico-científico necessário ao mais efetivo gia64 é fundamental para o desenvolvimen-
to sustentável, sendo substancial a pressão
delineamento das posições defendidas pelo
pelo aumento do rendimento da área agríco-
governo brasileiro e, por outro, para geração
la consolidada em função das pressões pelo
de inovações relacionadas à produção mais
uso do solo, expansão da fronteira agrícola
sustentável. Assim sendo, entende-se que a
e questões socioambientais (Marin et al.,
produção agrícola das próximas décadas es-
2016). Dentre os insumos agrícolas de grande
tará crescentemente embasada na recupera-
impacto na produtividade encontram-se os
ção e preservação dos recursos naturais.
fertilizantes e corretivos, especialmente con-
siderando as áreas tropicais com solos natu-
Uso e conservação dos ralmente ácidos e de baixa fertilidade, que
recursos naturais exigem a correção e a reposição sistemática
de nutrientes para garantir a produção vege-
A demanda por água, energia e alimentos tal sustentável. Entre 2000 e 2015, o uso de
está aumentando, impulsionada por uma fertilizantes no País cresceu 87%, contribuin-
crescente população global, urbanização do, em parte, para o significativo aumento
rápida, mudanças nas dietas e crescimento de 150% na produção de grãos, no mesmo
econômico (Um-Water, 2018). Em termos glo- período.
bais, o setor agrícola é o principal usuário de
terra e água (The state..., 2011). A demanda A produção nacional de fertilizantes é histo-
mundial de água deverá aumentar 40% até ricamente muito inferior à demanda interna
2030 e 55% até 2050 – ano no qual se estima e não apresentou crescimento similar ao da
que mais de 40% da população mundial vi- demanda. Em razão disso, a dependência
verá em áreas de grave estresse hídrico (Wa- em relação às importações vem aumentan-
ter..., 2014). do ano após ano, e, em 2015, entre 65% e
70% do consumo total foi suprido por im-
O uso da terra para a produção de alimentos portações (Heffer; Prud’Homme, 2015; Cruz
é a atividade antrópica que mais deman- et al., 2017). Assim sendo, um grande desafio
da espaço. A agricultura é responsável pela será reduzir a dependência externa por ferti-
ocupação de 12,2% da superfície terrestre lizantes. Com esse intuito, será necessária a
e pelo consumo de cerca de 7% das águas implantação de um plano estratégico, cujos
que fluem por rios e lagos do mundo (70% pilares deverão ser: 1) uma política de incen-
da água consumida), por meio da irrigação.
A pecuária ocupa cerca de 26% do total de 64
O nexo entre água, energia e alimentos (WEF, na si-
terras do mundo. No Brasil, a agricultura se gla em inglês) significa que há forte interligação entre
desenvolve em apenas 9% do território, e as os três tipos de segurança, a hídrica, a energética e
a alimentar, uma vez que as ações em uma das três
vazões consumidas para irrigação (836 m³/s) áreas têm impactos em outra(s). Em razão desses vín-
representam apenas 0,9% da disponibilidade culos inextricáveis, é imprescindível que se utilize uma
hídrica superficial no território brasileiro, que abordagem integrada para que se alcance em todo o
mundo níveis adequados de produção de energia,
é de 91.271 m³/s (Agência Nacional de Águas, uma agricultura sustentável e segurança da água e da
alimentação (FAO, 2018).

70
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

tivo a aumento da produção industrial nacio- limitações, da ocorrência geográfica e da


nal; 2) um programa de PD&I para o desen- indicação de melhor utilização têm apresen-
volvimento de novas tecnologias, produtos e tado insuficiência e fragilidade. Acrescenta-
processos para o ambiente tropical e subtro- -se a isso o fato de que as novas fronteiras
pical, que aumentem a eficiência do uso de agrícolas se desenvolvem cada vez mais em
fertilizantes, diminuam sua participação nos áreas de solos frágeis (Donagemma et al.,
custos de produção das culturas agrícolas e 2016), com ênfase em solos de textura leve,
da pecuária e minimizem o impacto ambien- frequentemente considerados marginais
tal negativo, sobretudo nas emissões de GEE. para uso agrícola, o que exige forte atuação e
investimento em pesquisa para serem utiliza-
Outro importante desafio decorrente do uso
dos da forma mais conservacionista possível.
intensivo de fertilizantes e agroquímicos bem
como do revolvimento do solo relaciona-se No Brasil, estima-se que há entre 60 e 100
aos riscos de assoreamento e contaminação milhões de hectares de solos em diferentes
de corpos hídricos, superficiais e subterrâ- níveis de degradação, os quais poderão ser
neos. Relatórios recentes apontam o Brasil inseridos novamente ao processo produtivo
como um dos principais usuários de agro- com emprego de tecnologias de recupera-
químicos no mundo (Carneiro et al., 2012). ção, conservação e manejo de solo e das pas-
Ressalta-se, entretanto, que esses dados de- tagens, o que contribuiria para a redução do
vem ser relativizados considerando o total da avanço do desmatamento. Esse é um desafio
produção agrícola nacional. Além disso, são premente quando se considera que, apesar
necessárias ações e tecnologias para o uso dos inegáveis avanços em direção à sustenta-
racional desses insumos, de forma que isso bilidade, o País continua incorporando cerca
não represente um risco em relação aos mer- de 1 milhão de hectares de áreas de vegeta-
cados. ção nativa ao sistema de produção agrope-
cuária a cada ano.
Dados do The Economics of Land Degrada-
tion Initiative (Thomas et al., 2013) indicam Similarmente, a demanda anual por água para
que aproximadamente um terço da área cul- a agricultura irrigada no mundo aumentará
tivável no mundo é afetada pelo processo de 2.620 km3 em 2005-2007 para 2.906 km3 em
de degradação e desertificação, sendo um 2050, a maior parte desse incremento ocorre-
problema amplamente disseminado e em rá em países em desenvolvimento (Bruinsma,
crescimento. A crescente magnitude dos pro- 2009; The state..., 2011). A crescente demanda
cessos de erosão, compactação e salinação por recursos hídricos limitados exerce pressão
dos solos aumenta a necessidade e consoli- sobre a intensificação da agricultura e deverá
da os processos de intensificação como uma se amplificar nos próximos anos como resul-
das estratégias considerada prioritária para a tado da maior competição por esse recurso–
sustentabilidade da produção agrícola. imposta pela crescente urbanização e pelo uso
industrial. Entretanto, embora tenha grandes
Devido ao desconhecimento detalhado a reservas de água doce, incluindo parte majo-
respeito das características e propriedades ritária do maior aquífero do mundo (Aquífero
dos solos brasileiros, em escala compatível Guarani), o Brasil está sujeito à distribuição
com as unidades agrícolas ou mesmo de de água de forma não homogênea, tanto no
microbacias hidrográficas, os processos de espaço (Norte – 68,5%; Centro-Oeste – 15,7%;
identificação das suas potencialidades, das

71
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Sul – 6,5%; Sudeste – 6,0% e Nordeste – 3,3%) hidrológico recebe os efeitos, positivos e nega-
quanto no tempo, pois algumas regiões têm tivos, conforme o uso e o manejo do solo e da
regime de chuvas concentrado em poucos me- água, afetando a disponibilidade hídrica (Prado
ses, seguidos de longo período de estiagem e et al., 2017). No que se refere à qualidade, ape-
rios intermitentes (Prado et al., 2017). Além dis- sar de a poluição urbana ser a principal fonte
so, a distribuição das reservas não acompanha de degradação, a poluição difusa de origem
a concentração populacional nem a demanda rural causada pela elevada utilização de fertili-
hídrica das diferentes regiões do País. zantes, pesticidas e perda de solos por proces-
sos erosivos pode ser fortemente impactante
O uso da água no meio rural representa
em regiões com extensas áreas de uso agríco-
80,7% da demanda de captação de água to-
la. Como consequência, ocorrem prejuízos à
tal brasileira, dos quais 67,2% são destinados
biodiversidade aquática, à saúde humana e à
à irrigação, 11,1% ao consumo animal e 2,4%
economia do País. As perdas anuais de solos
ao consumo humano (Agência Nacional de
no Brasil são da ordem de 500 milhões de tone-
Águas, 2017). Além disso, o desperdício é
ladas pela erosão, ocasionando perda média
preocupante, estimado em cerca de 40%
de 0,5% ao ano na capacidade de armazea-
(Gibertoni; Pandolfi, 2015), devido às perdas
mento dos reservatórios e assoreamento de
em sistemas inadequados de irrigação ou
rios. Percebe-se, dessa maneira, que há estreita
vazamentos nas tubulações. A irrigação está
relação entre as funções e os serviços ecossis-
em franca expansão no Brasil, passou de 462
têmicos do solo e da água no meio rural, pois
mil hectares em 1960 para 6,1 milhões de
é através das relações solo-água que ocorrem
hectares em 2014, em especial por meio de
os processos de infiltração e recarga de aquífe-
pivôs centrais, perfazendo um total de 1,275
ros, a transferência de água para as plantas, a
milhão de hectares distribuídos em 19.892
evapotranspiração, a manutenção da umida-
pivôs (79% no Cerrado e 11% na Mata Atlân-
de e biodiversidade dos solos, o transporte de
tica) (Levantamento..., 2016; Zoneamento...,
nutrientes, o estoque de carbono, ente outros
2017). Desta forma, o uso adequado de recur-
(Prado et al., 2017).
sos hídricos no meio rural envolve decisões
sobre a irrigação, uso de métodos recomen- Um importante desafio será a redução de per-
dados para cada tipo de solo e cultura, além das por erosão hídrica de solo e água, mesmo
do seu manejo a partir do monitoramento em áreas manejadas com o sistema de plan-
preciso da evapotranspiração, utilização de tio direto, em várias regiões do País. Além da
sistemas mais eficientes e adaptados às con- intensificação dos processos erosivos, tem
dições locais, evitando o desperdício de água sido observada a diminuição da estabilidade
e energia. Em regiões onde a disponibilidade da produtividade das culturas, face à maior
hídrica é muito variável, reservatórios de pe- suscetibilidade das plantas à ocorrência de es-
queno porte, barragens subterrâneas (Silva tresses hídricos. O plantio direto, baseado em
et al., 2007), reuso e captação de chuvas em monocultura (soja-pousio-soja) e, menos fre-
propriedades agrícolas podem melhorar a quentemente, em sucessões simples do tipo
disponibilidade hídrica, reduzindo a vulnera- soja-milho safrinha ou, mais raramente, em
bilidade em relação à variabilidade hidrológi- sucessões como soja-milheto, soja-trigo ou so-
ca (Silva et al., 2007; Prado et al., 2017). ja-aveia-preta, tem provocado as perdas contí-
nuas da biodiversidade, o aumento de incidên-
É também no espaço rural que nascem os gran-
cia e custo do controle de pragas e doenças de
des mananciais de abastecimento, cujo regime

72
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

plantas, a concentração do sistema radicular ecossistêmico66 e na geração de renda. Regula-


nas camadas superficiais, resultando na perda mentação adequada, custos diferenciais, com-
da qualidade física, química e biológica do solo pradores interessados, fornecedores interessa-
(Embrapa, 2014a). Esse problema vem se am- dos e disposição dos reguladores para tentar
pliando nos últimos anos, devido, sobretudo, abordagens inovadoras são fatores impulsio-
à ausência de políticas que valorizem a ado- nadores essenciais para que mercados como
ção de técnicas conservacionistas, levando os esse se desenvolvam (Daukas, 2008).
agricultores a priorizar resultados econômicos
Além do foco nas propriedades, tecnologias e co-
imediatos, em detrimento dos princípios basi-
nhecimentos produzidos deverão envolver o uso
lares do SPD e da agricultura conservacionista
dos recursos naturais, como solo e água, nos am-
(Pereira Neto et al., 2007; Ralisch et al., 2010). De
bientes urbanos e deverão ser pensados e comu-
fato, um dos resultados mais evidentes desse
nicados para permitir a adoção por esse público.
manejo inadequado do solo é o assoreamento
O uso eficiente da água nos sistemas de produção
e a eutrofização de mananciais de superfície65.
agrícola é um dos desafios principais no que diz res-
Diante do histórico de degradação dos solos e peito ao uso racional dos recursos hídricos, e vem a
dos recursos hídricos no meio rural, é consen- cada ano tendo importância maior nas discussões
so entre os especialistas que medidas urgentes de comitês de bacias hidrográficas e nas agências
devem ser tomadas tanto pelos produtores reguladoras do direito do uso da água. Muitas tec-
rurais, no âmbito de suas propriedades, quan- nologias já foram desenvolvidas principalmente na
to pelos tomadores de decisão, no âmbito da área de irrigação, porém ainda existem muitos de-
paisagem, de modo a assegurar a provisão de safios a serem superados, como os programas de
água para usos múltiplos das gerações presen- manejo da água, que integram todo o setor agro-
te e futura (Prado et al., 2017). Na propriedade pecuário e urbano dentro de uma mesma bacia hi-
rural, destaca-se a necessidade de adequação drográfica, o manejo de irrigação parcelar, etc. Outra
ambiental, conforme está previsto no Código demanda crescente, principalmente pela escassez
Florestal, assunto que será tratado em um tó- hídrica que vem assolando diversos locais do mun-
pico específico mais adiante. Diversas técnicas do e influencia no abastecimento hídrico de centros
de manejo conservacionista do solo têm sido urbanos, é o “reuso de águas residuárias (efluen-
adotadas no Brasil e devem ser incentivadas, tes) e captação de águas pluviais” (Freitas; Ganem,
por exemplo, por meio de mecanismos de fi- 2014). Assim sendo, o Brasil precisa desenvolver e/
nanciamento da produção agrícola. ou adaptar tecnologias, levando em consideração
as condições socioeconômicas locais que possibili-
A gestão dos recursos naturais, como água e
tem o reuso de água dos meios urbanos e rurais em
solos, também no contexto da propriedade, é
atividades de produção agrícola, principalmente na
de suma importância para que se obtenham
irrigação, diminuindo, assim, o impacto do setor irri-
ganhos ambientais, sociais e econômicos, po-
gado no uso da água da bacia hidrográfica.
dendo até mesmo desdobrar-se em serviço
66
Análises baseadas em dados do mercado americano
evidenciam que uma estação de tratamento de água
tem um custo de remoção de nutrientes de US$ 20,00/
65
A Embrapa tem assumido esse desafio tecnológi- kg. Essa mesma operação, se realizada diretamente em
co por meio da Rede de Pesquisa SoloVivo (SoloVivo, uma fazenda local, geraria um custo de US$ 6,50. Ou
2018) que envolve pesquisa, desenvolvimento, valida- seja, se a estação adquirisse a água tratada ao preço de
ção e transferência de tecnologias em qualidade de US$ 11,00/kg de nutriente, economizaria algo em torno
manejo do solo e da água embasada na agricultura de US$ 9, e o produtor obteria um lucro de US$ 4,50/kg
conservacionista e no Sistema de plantio direto. de nutriente

73
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Intensificação e de novas tecnologias no processo produtivo,


com busca por maior eficiência das máquinas
eficiência de sistemas agrícolas, dos recursos humanos e dos recursos
agrícolas naturais, tornaram-se requerimento essencial
para acessar mercados. De fato, o crescimento da
A tendência de aumento da demanda inter- produção ao longo dos últimos 40 anos foi alcan-
na e externa atrelada à limitação dos recur- çado principalmente em decorrência de avanços
sos naturais e os crescentes requerimentos tecnológicos (os quais explicam 59% desse cresci-
legais ambientais vêm pressionando con- mento) (Projeções..., 2017).
tinuamente os produtores agrícolas para o
alcance de melhores índices de rendimento Além disso, o cultivo de múltiplas safras, com
por unidade de área. Ou seja, a competição atenção para a preservação e adequação
que se acirra entre os agentes econômicos ambiental das propriedades, é uma prática
do setor agrícola força a intensificação pro- crescente no País e tem contribuído subs-
dutiva, fenômeno que já pode ser observado tancialmente para a expansão da produção
em diversas regiões brasileiras, especialmen- e a economia do recurso terra. A obtenção
te naquelas de maior dinâmica econômica. de cultivares de soja e milho com ciclos mais
curtos, associada a técnicas de manejo, pos-
A agricultura passou a ser uma atividade geradora sibilitaram o cultivo de mais de uma safra em
de riqueza, atraindo cada vez mais agentes espe- um mesmo ano de produção. No caso do
cializados, caracterizada pela presença cada vez milho, por exemplo, a segunda safra (ou sa-
maior de estabelecimentos mais modernizados frinha), especialmente no Cerrado, tornou-se
e, com frequência, de média e larga escala de pro- mais importante que a primeira safra e cor-
dução (Navarro; Campos, 2013). Nesse ambiente responde a quase 70% da produção total (Fi-
de forte competição, a redução dos custos de gura 24) (na região Centro-Oeste correspon-
produção bem como o emprego cada vez maior de a 95% da produção) (IBGE, 2017).

90 Quant. Prod. 1ª safra


(milhões toneladas)

Quant. Prod. 2ª safra


80

70

60
Toneladas

50
de milho
ProduçãoMIlhões

40

30

20

10

0
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016

Figura 24. Produção de milho no Brasil: o processo de migração da primeira para a segunda safra, de 2003 a 2016.
Fonte: IBGE (2018).

74
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Embora tenham havido expressivos ganhos que, para vários países68, entre os quais o
nas produtividades médias no País, há ainda Brasil, reduzi-los (ou eliminá-los) não é ne-
muito potencial de expansão das produtivi- cessário para garantir sua autossuficiência
dades médias alcançadas em determinadas alimentar (nem atualmente nem no futuro
regiões. Vastas áreas de produção ainda com projetada expansão de demanda). No
apresentam rendimentos físicos por unidade entanto, esses países são atualmente expor-
de área (ou unidades de lotação, no caso das tadores líquidos de alimentos, o que faz com
atividades pecuárias), que são baixos, suge- que haja estímulo para que reduzam essas
rindo que ainda existe um caminho para ele- diferenças entre as produtividades médias
var a PTF. alcançadas e as potenciais (se for economi-
camente rentável e ambientalmente eficien-
Análises mundiais apontam que regiões em te aumentar a produção de culturas para
que se observa estabilização das produtivida- exportação). Observa-se que os yield gaps
des médias, identifica-se que foi alcançado algo são muito maiores em culturas de sequeiro
em torno de 75% a 90% de seu limite potencial. (que representam 74% das terras cultivadas
Esse fenômeno reforça o desafio de aumentar o no mundo) que nas irrigadas. Aquelas produ-
potencial genético de produtividade das culturas, zem apenas 44% das calorias potenciais, en-
bem como otimizar as técnicas de manejo das quanto as últimas alcançam 60%. Afirma-se
culturas. Entender em detalhes essas questões que são quatro as grandes limitações para
é imprescindível para que se possam tomar de- que os potenciais produtivos sejam alcança-
cisões acertadas sobre as regiões e os métodos dos, quais sejam: restrições agroclimáticas,
agronômicos adequados, a fim de alcançar o ne- restrições da qualidade do solo, acesso ao
cessário incremento da produção nas próximas mercado e variabilidade da produtividade
décadas sem comprometer a disponibilidade causada pelo clima (Pradhan et al., 2015).
ambiental para as gerações futuras (Van Ittersum;
Cassman, 2013; Van Wart et al., 2013; Kruseman; Organizações como a Bill and Melinda Gates
Roett, 2015). Destaca-se ainda que as capacida- Foundation, o Banco Mundial e a Rockefeller
des de incremento da produção por meio do Foundation têm demonstrado, nos últimos
aumento das produtividades variam entre países, anos, o entendimento de que é necessário
regiões e localidades (em função de diversos fato- expandir a produção de alimentos (e bio-
res, tais como condições biofísicas e tecnologias massa, de maneira geral), sem, contudo,
e manejo agropecuário adotados) (Ramos; Gara- gerar mais danos ao meio ambiente (Gillis,
gorry, 2017). 2011). Aproveitar ao máximo o potencial pro-
dutivo é imperativo para que se alcance esse
Análises com foco na identificação de yield objetivo. Projeta-se que o crescimento futuro
gaps de produção de calorias67 demonstram da produção agrícola deverá ter como seu
principal fator as melhorias na produtividade
dos seus sistemas de produção69, seja pela
67
Análises que combinaram informações sobre yield
redução dos ainda grandes yield gaps seja
gaps de produção de calorias de determinada cultura pela intensificação dos processos de pro-
com deficits de calorias para alimentação da popula-
ção dessa mesma cultura identificaram as regiões onde 68
Por exemplo, os Estados Unidos, a Rússia, o Brasil, a
esses yield gaps são importantes em termos de redu- Austrália e os países da Europa Ocidental.
ção ou eliminação de deficitdéficits de calorias vegetais 69
Embora se projete que o crescimento das produtivi-
para a alimentação da população da região (soberania dades diminua ligeiramente ao longo da próxima dé-
alimentar) (Pradhan et al., 2015). cada.

75
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

dução (OECD-FAO..., 2017). Concretizar essa 2017). A agricultura sustentável compreen-


projeção é condição sine qua non para que a de principalmente sistemas integrados de
necessária expansão produtiva (Van Ittersum práticas utilizadas na produção de plantas
et al., 2013) não comprometa as condições e de animais aplicáveis a determinados
ambientais das diferentes regiões e biomas ambientes de produção e que, ao longo
do planeta (Mueller; Binder, 2015). do tempo, satisfarão as necessidades hu-
manas de fibras e alimentos; melhorarão
Outro importante fator que tem contribuído
a qualidade ambiental e a base de recur-
para a intensificação produtiva são os siste-
sos naturais da qual a economia agrícola
mas de cultivo em ambientes protegidos e
depende; farão o uso mais eficiente dos
irrigados. A produção agrícola em ambiente
recursos não renováveis e de recursos nas
protegido tem experimentado grande cres-
propriedades, integrando, onde for apro-
cimento no mundo, com destaque para a
priado, os ciclos e os controles biológicos
China, com mais de 3 milhões de hectares e
naturais; sustentarão a viabilidade econô-
90% das estufas utilizadas no mundo (Jank,
mica dos processos agrícolas; e melhora-
2017; Monte et al., 2018). Alguns benefícios
rão a qualidade de vida dos produtores e
dessa forma de cultivo, que está associada
da sociedade como um todo (Cornell Law
fortemente à automação, são a produção de
School, 2017).
alimentos em condições climáticas adversas
e com intensificação e economia de áreas e Os sistemas de ILPF, em suas diferentes
de recursos naturais. Uma tendência, nesse modalidades (lavoura-pecuária, lavoura-
sentido, é a utilização de lâmpadas LED em -pecuária-floresta, sistemas agroflorestais e
ambientes de produção protegida, o que silvipastoris, entre outros), já são uma reali-
está fazendo com que aumente rapidamen- dade em 11,5 milhões de hectares no Brasil
te o número de unidades produtivas agríco- (ILPF..., 2016). Os estados com maior área de
las “urbanas” e “indoor” (Crowhurst, 2018). adoção são Mato Grosso do Sul (2 milhões
Dessa forma, a pequena produção em áreas de hectares); Mato Grosso (1,5 milhão de
urbanas, em formato de “fábrica agrícola” hectares); Rio Grande do Sul (1,4 milhão de
(produção “indoor”), é algo que vai se des- hectares); Minas Gerais (1 milhão de hecta-
cortinando como perspectivas crescentes res) e Santa Catarina (680 mil hectares). Nos
(Green, 2015; Kratochwill, 2015; Ingram, 2016; últimos 5 anos, o incremento foi de 10% en-
Inada, 2018; Patton, 2018). tre os pecuaristas e 1% entre os produtores
de grãos. Projeções baseadas em entrevis-
Sistemas agrícolas tas com pecuaristas indicam que o espaço
médio destinado à ILPF chegue a 20,6% da
sustentáveis área agricultável das propriedades em 2030.
Os principais fatores motivadores apontados
O desenvolvimento agrícola sustentável
para a adoção de sistemas de ILPF pelos pe-
pode ser entendido como o manejo e a
cuaristas relacionam-se com a preocupação
conservação da base de recursos naturais
na adequação ambiental da atividade diante
e a orientação das mudanças tecnológicas
das pressões, a cada dia maiores, da socie-
de forma a assegurar o alcance e a satisfa-
dade e dos mercados. Já entre os produto-
ção contínua das necessidades humanas
res de grãos, as principais motivações para a
do presente e das futuras gerações (FAO,
adoção se relacionam ao aumento da renta-

76
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

bilidade e à diminuição dos riscos financei- A agricultura orgânica vegetal (grãos, horta-
ros (Skorupa; Manzatto, 2016). liças e frutas) e animal (carne, ovos e leite)
tem se destacado como uma das alterna-
Ressalta-se ainda a crescente evolução dos
tivas de renda para os pequenos, médios e
sistemas sustentáveis na produção animal,
grandes produtores, principalmente devido
nos quais os grandes desafios estão associa-
à crescente demanda mundial e brasileira
dos ao aumento da produção, para atender a
por alimentos mais saudáveis e sustentáveis.
demanda, e, ao mesmo tempo, reduzir o po-
O mercado mundial de alimentos orgânicos
tencial poluente de algumas das atividades
alcançou o valor de 81,6 bilhões de dólares
do setor, como a suinocultura. Nesse sentido,
em 2015 com uma área estimada em 50,9 mi-
são crescentes o desenvolvimento e as adap-
lhões de hectares (Research Institute of Or-
tações às exigências do novo mercado con-
ganic Agriculture, 2017). Só em 2016, o mer-
sumidor, com foco em segurança alimentar,
cado brasileiro de alimentos orgânicos teve
melhoria na qualidade dos produtos e deri-
um incremento de 30% (Organicsnet, 2017).
vados animais, rastreabilidade da produção,
A produção orgânica tem se destacado pelo
restrição ao uso de antimicrobianos, prote-
seu potencial no desenvolvimento social e
ção ambiental e bem-estar animal.
local, pelo estímulo à formação de circuitos
Os sistemas agroflorestais, em suas diferen- de comercialização de curta distância entre
tes estruturas (sequenciais, simultâneos ou produtor e consumidor (cadeias curtas) e
complementares), incorporam maior diversi- pela venda para os mercados institucionais
dade vegetal com espécies agrícolas, frutífe- como escolas e hospitais. Além disso, em de-
ras e florestais (nativas e exóticas) e ocupam corrência das mudanças de hábitos, maior
milhares de hectares em todos os biomas informação e poder aquisitivo de segmentos
brasileiros. O aproveitamento racional e sus- de consumidores, a tendência é de cresci-
tentável das diferentes espécies nativas do mento desse mercado.
Brasil também tem sido uma importante ver-
O SPD já está presente em torno de 86% da
tente de ações governamentais, industriais
área agrícola brasileira de soja, milho (1a sa-
e de movimento sociais nos últimos anos. fra) e feijão (1a safra) (Federação..., 2014), au-
Além de alimentos in natura, fibras e resinas, mentando o acúmulo de carbono no solo70,
esta biodiversidade tem contribuído signifi- promovendo melhorias biológicas no solo
cativamente como matérias-primas de cos- e diminuindo o processo de erosão e asso-
méticos, perfumaria, essências, fragrâncias, reamento dos recursos hídricos. Além de ser
medicamentos, inoculantes e alta gastrono- uma prática conservacionista, o plantio dire-
mia. Novos nichos de mercados estão sen- to foi fundamental para que o País ampliasse
do organizados envolvendo produtores e o sua área de segunda safra, ao reduzir o tem-
setor agroindustrial, valorizando ainda mais po utilizado no preparo do solo.
a biodiversidade das espécies nativas, como
frutas, castanhas, palmito, peixes e recursos
florestais não madeireiros. Esses sistemas 70
Em média, lavouras de grãos cultivados sob plantio
deverão ter relevância crescente no processo direto registra-se, na região dos Cerrados, um acúmulo
de carbono no solo da ordem de 350 kg ha-1 ano-1, se-
de intensificação sustentável da agricultura questrado da atmosfera e que pode atingir 480 kg ha-1
brasileira nas próximas décadas. ano-1 na região sul do Brasil, numa profundidade de
20 cm (Bayer et al., 2006; Freitas et al., 2007).

77
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

A FBN é a principal fonte de nitrogênio da agri- Plantios florestais com espécies nativas e
cultura brasileira e contribui para diminuir a exóticas (homogêneos ou integrados) têm
importação de fertilizantes, hoje responsá- fortalecido o processo de intensificação
vel pelo atendimento de 76% da demanda sustentável da produção florestal brasilei-
doméstica, e com projeções de atingir 83% ra. A produtividade das florestas plantadas
em 2025 (Associação Nacional para Difusão no Brasil é superior a do restante do mun-
de Adubos, 2017). A FBN tem melhorado as do. O País contribui anualmente com 17%
propriedades físicas, químicas e biológicas de toda a madeira colhida mundialmente,
do solo, resultando em maior produtividade, com uma área equivalente a 3% da área
menor impacto ambiental e maior economia mundial de florestas plantadas (Moreira et
para o produtor. al., 2017). Esses altos níveis de produtivida-
de estão associados ao melhoramento ge-
De fato, o uso de microrganismos em prol da
nético e aos tratamentos silviculturais que
agricultura continua em ascensão. Na produ-
foram desenvolvidos para determinadas
ção de cana-de-açúcar, destaca-se o uso de
finalidades e regiões brasileiras. Nas pró-
bactérias diazotróficas e de fungos arbuscu-
ximas décadas, a inovação tecnológica da
lares micorrízicos, além de bactérias promo-
silvicultura de espécies nativas e exóticas
toras de tolerância à seca. O uso crescente de
terá papel de grande relevância para apoiar
pastagens consorciadas de gramíneas com
a solução dos passivos ambientais de Re-
leguminosas será essencial para viabilizar a
servas Legais decorrentes dos Programas
intensificação dos sistemas de produção, re-
de Regularização Ambiental (PRA) dos esta-
duzir a pegada ambiental da pecuária a pas-
dos e dos Planos de Recuperação de Áreas
to e liberar áreas para expansão da produção
Degradadas e Alteradas (Prada) dos mais
de alimentos, fibras e bicombustíveis. Além
de 5 milhões de propriedades rurais do
disso, há tendência crescente do uso de mi-
Brasil. Também haverá tendência de ocu-
crorganismos associados a plantas por seu
pação de áreas de pastagens degradadas
potencial na recuperação de áreas degrada-
liberadas pela intensificação da produção
das, na redução da emissão de GEE, na dimi-
pecuária para crescimento da silvicultura
nuição de riscos de contaminação do solo e
visando à produção de fibras e à agroener-
da água e no uso racional de insumos.
gia (Plano..., 2012).
O manejo integrado e o controle biológi-
Tem tido destaque o uso da biodiversidade
co de pragas e doenças na agricultura têm
brasileira no extrativismo vegetal. Apenas em
sido fortalecidos, visando minimizar os
2016 foram registrados mais de 30 produtos
atuais níveis de utilização de agrotóxicos.
extrativos não madeireiros sendo explorados
Métodos de controle racional são desen-
comercialmente. Essas atividades geraram
volvidos com objetivo de reduzir impactos
praticamente R$ 1,9 bilhão, derivados de
ambientais e minimizar os resíduos nos ali-
mais de 1,110 milhão de toneladas de produ-
mentos, melhorando com isso a qualidade
to não madeireiro (Figura 25) (Boletim SNIF,
de vida do produtor rural e do consumidor.
2017).
Esse conjunto de práticas e processos ino-
vadores terá relevância crescente na transi-
ção dos sistemas de produção atuais para
uma agricultura mais sustentável no Brasil.

78
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Figura 25. Quantidade de produtos não madeireiros extraídos em 2016.


Fonte: Boletim SNIF (2017).

79
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Adequação ambiental Análises com base em dados do CAR possi-


bilitam inferir que são relativamente estreitas
das propriedades as opções de se ampliar em demasia a área
rurais plantada ou a área total de pastagens no País,
o que faz aumentar a pressão para maior efi-
O aumento da demanda por produção agrí- cácia produtiva e para o aproveitamento de
cola sustentável tem levado à necessidade da pastagens com algum nível de degradação
recuperação dos passivos ambientais das pro- para a produção agrícola (Miranda, 2017).
priedades rurais. O passivo ambiental estimado
para o cumprimento do Código Florestal é de
cerca de 16 milhões de hectares de RL e quase
Serviços
5 milhões de hectares de Área de Preservação agroambientais
Permanente (APP), principalmente nos biomas
Com a publicação do relatório da Avaliação
Amazônia, Cerrado e Mata Atlântica.
Ecossistêmica do Milênio (AEM), o conceito de
A restauração da paisagem florestal e a ade- serviços ecossistêmicos ganha divulgação e se
quação ambiental das propriedades rurais espalha rapidamente pelas esferas política e
são forças motrizes para a ampliação da ado- científica (Victor, 2018). O AEM define esses ser-
ção de técnicas e sistemas de uso do solo viços como benefícios que as pessoas obtêm
que elevem a produtividade vegetal e ani- dos ecossistemas e classifica-os em quatro gru-
mal, reduzam a perda de solos e nutrientes pos: serviços de provisão (alimentos, água, ma-
por erosão (evitando a degradação) e resta- deira e fibra); serviços de regulação (regulação
beleçam serviços ambientais relacionados do clima, controle de inundações e doenças,
à proteção da biodiversidade e ao aumento tratamento de resíduos e controle da qualida-
da segurança hídrica. Esses fatores tendem a de da água); serviços culturais (que oferecem
reduzir riscos de perdas e a aumentar a resi- benefícios recreativos, estéticos e espirituais);
liência das paisagens diante dos impactos da e serviços de suporte (como a formação dos
mudança do clima. solos, a fotossíntese e a ciclagem de nutrien-
tes). O termo “serviços ambientais” tem sido
De fato, essa intensificação agrícola sustentável tem utilizado por alguns autores e nas políticas pú-
contribuído crescentemente para a maior conscien- blicas, principalmente na América Latina, para
tização do setor produtivo. O Cadastro Ambiental designar os serviços prestados pelo manejo e
Rural (CAR)71 já conta com 4,3 milhões imóveis rurais pelas ações conservacionistas realizadas pelo
cadastrados, totalizando 441 milhões de hectares, homem, que influenciarão também a provisão
em processo de adequação às exigências do novo e a manutenção dos serviços ecossistêmicos
Código Florestal (Brasil, 2012b). Esse instrumento (Prado, 2014).
consiste no levantamento de informações georre-
ferenciadas do imóvel, com delimitação de APPs, As pressões antrópicas sobre os serviços ecos-
áreas de RL e de remanescentes de vegetação nati- sistêmicos estão relacionadas à dinâmica de uso
va, área rural consolidada e áreas de interesse social e cobertura da terra e suas consequentes altera-
e de utilidade pública, com o objetivo de traçar um ções nos ciclos biogeoquímicos, destruição e frag-
mapa digital a partir do qual são calculados os valo- mentação dos ambientes, introdução de novas
res das áreas para diagnóstico ambiental. espécies e interferências das atividades humanas
no clima (Sala et al., 2000). A demanda por água,
71
Disponível em: <http://www.car.gov.br>.

80
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

alimentos, fibras, energia, e outros recursos, vem de produção (Fidalgo et al., 2017). Destaca-se o
crescendo rapidamente no Brasil e no mundo, ul- Programa Produtor de Água da Agência Nacional
trapassando em muitos casos a capacidade dos de Águas (ANA), que atua em diversos biomas
ecossistemas de fornecê-los. Sendo assim, são brasileiros, cujo foco são os serviços ecossistê-
necessários instrumentos de incentivo à conser- micos hídricos (Santos et al., 2010). O Plano ABC
vação e manutenção dos serviços ecossistêmi- também contempla e menciona a provisão e a
cos, tais como pagamentos pela sua prestação. manutenção dos serviços ecossistêmicos, a partir
das práticas conservacionistas previstas.
O pagamento por serviços ambientais (PSA) apre-
senta-se como um caminho promissor para a Diante disso, a pesquisa sobre o tema “serviços
proteção dos recursos do solo e da água. A noção ambientais” tem crescido em busca de respostas
de PSA surgiu no início dos anos 2000, a partir das para melhor avaliação dos serviços ecossistêmi-
críticas a políticas anteriores de gestão ambiental cos fornecidos pelos diferentes sistemas de pro-
nos países em desenvolvimento e devido à falta dução agropecuários, bem como pela paisagem
de eficiência dos projetos de desenvolvimento e rural onde esses sistemas se inserem, e também
conservação e aos limites ao uso dos mecanis- para a criação e o desenvolvimento de mecanis-
mos de comando e controle (Eloy et al., 2013). mos que incentivem a adoção pelos produtores
Essas críticas levaram à busca de outros mecanis- rurais de medidas que promovam esses serviços
mos econômicos para valorizar o fornecimento (Fidalgo et al., 2017).
dos serviços ecossistêmicos. Surgiram então os
mecanismos baseados no princípio poluidor-pa- A abordagem desses serviços é integradora, uma
gador (mercados ambientais) e no princípio pro- vez que foca na multifuncionalidade dos agroe-
vedor-recebedor, que é o caso do PSA. cossistemas e é importante para avaliar, simular
e valorar a real sustentabilidade dos sistemas de
Idealizado como instrumento de mercado na li- produção agrícolas e sua eficiência em múltiplas
teratura científica, na prática os PSAs combinam escalas, desde a propriedade rural até a paisagem.
mecanismos de mercado com regulamentação Permite valorizar o papel do homem que vive no
governamental e subsídios aos agricultores (Eloy campo como provedor de serviços ecossistêmi-
et al., 2013). Dentre os marcos regulatórios, desta- cos, podendo ainda contribuir para a agregação
ca-se o Novo Código Florestal (Brasil, 2012b), que, de renda no meio rural e para dar maior visibili-
em seu art. 41, menciona os serviços ambientais; dade à agricultura brasileira também no contexto
institui mecanismos para favorecer a geração des- internacional, onde esse tema tem sido bastante
ses serviços e a conservação dos ecossistêmicos; aplicado tanto na ciência como na tomada de de-
e destaca o papel da agricultura familiar ao esta- cisão e na elaboração de políticas públicas.
belecer que o pagamento ou incentivo a serviços
ambientais serão prioritariamente destinados a
esse grupo de produtores. Nesse contexto, muitas
Redução de perdas
iniciativas de pagamento por serviços ambien- e desperdício de
tais privilegiam os pequenos produtores rurais,
implantando mecanismos para compensar o
alimentos
desenvolvimento de práticas de conservação A FAO estima que cerca de 1/3 de todo o ali-
ou restauração dos ecossistemas naturais, como mento produzido no mundo seja desperdiça-
também o desenvolvimento de práticas de ma- do ou descartado. As perdas e desperdícios
nejo sustentável e conservacionista de sistemas de alimentos (PDAs) têm efeitos econômicos

81
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

e impacto ambientais negativos. Do ponto de dependendo da tecnologia disponível em


vista econômico, representam investimentos cada país e do desenvolvimento dos merca-
desperdiçados que podem reduzir a renda dos dos. Embora haja excedentes na produção de
agricultores e aumentar as despesas dos con- alimentos, as PDAs impactam a sustentabilida-
sumidores. Para o meio ambiente, as PDAs oca- de dos sistemas agroalimentares e repercutem
sionam uma série de impactos, como emissão na segurança alimentar e nutricional de três
de gases de efeito estufa desnecessários e uso maneiras: 1) reduzem a disponibilidade local
ineficiente de solo e água da produção agríco- e mundial de alimentos, afetando a saúde e a
la, que, por sua vez, podem levar à redução de nutrição da população; 2) ocasionam efeitos
ecossistemas naturais e de serviços ambientais negativos no acesso aos alimentos, resultan-
(Lipinski et al., 2013). do em perdas econômicas e de renda para
produtores e comerciantes, assim como para
O desperdício global de alimentos no final da
consumidores, devido à contração de mercado
cadeia agroalimentar tem tendência de cresci-
e à alta de preços gerada pelas perdas e desper-
mento dadas as mudanças de hábitos alimen-
dício; 3) impactam de maneira negativa o meio
tares nos países em desenvolvimento (Borlaug,
ambiente devido à utilização não sustentável
2007; West et al., 2014). Alguns sinais apontam
de recursos naturais, afetando a produção futu-
também para a permanência do quadro de
ra e atual dos alimentos, e à geração de descar-
elevado desperdício de alimentos no Brasil em
tes (Pérdidas..., 2014, 2015).
horizonte de médio prazo. O enfraquecimen-
to do sistema público de extensão rural, por Para o Brasil, a principal questão é como
exemplo, dificulta a transferência de tecnolo- se pode reduzir o desperdício de alimentos
gias para a redução das perdas pós-colheita, diante das cíclicas crises econômicas e so-
e os investimentos insuficientes na melhoria ciais e, ao mesmo tempo, promover a sus-
da logística necessária para escoar a produção tentabilidade das cadeias de abastecimento
agrícola também reduzem a capacidade de di- e garantir a segurança alimentar e nutricional
minuir as perdas no País. da população. O desperdício de alimentos
nos domicílios é um fenômeno social que
Além disso, é elevado o tempo de tramitações do
somente agora começa a ser estudado e me-
poder legislativo para a aprovação dos projetos
lhor compreendido. As famílias brasileiras
de lei (PLs) necessários para fomentar a doação
também descartam quantidade considerá-
de alimentos e, por consequência, fortalecer o
vel de alimentos devido a fatores culturais,
papel dos bancos de alimentos no combate ao
como, por exemplo, cozinhar mais do que o
desperdício. Também são raras, no âmbito das
necessário e apresentar grandes porções de
universidades e instituições de C&T brasileiras, as
alimentos à mesa, que constituem traço cul-
linhas de pesquisa com enfoque em redução de
tural comum a alguns países latinos. Particu-
PDA. Por fim, o Brasil ainda carece do alinhamen-
larmente nos domicílios brasileiros, estoques
to entre as políticas públicas de combate à fome
abundantes de alimentos são muito valoriza-
e iniciativas de educação nutricional, necessárias
dos e, para famílias de baixa renda, é recon-
para mudar o comportamento de consumo da
fortante servir comida em grandes quanti-
maior parte da população.
dades por simbolizar riqueza ou demonstrar
As PDAs ocorrem em graus variáveis em todo gesto de hospitalidade (Porpino et al., 2015).
o mundo, em todos os segmentos da cadeia
produtiva e em todos os tipos de alimentos,

82
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

A redução do desperdício de alimentos pode ter ◉◉ Recuperar áreas degradadas para uso agrí-
impacto na redução da pobreza, por possibilitar cola ou para fins de conservação ambiental,
maior acesso aos alimentos de parte da popula- por meio do desenvolvimento de tecnolo-
ção em situação de risco alimentar e igualmente gias e de políticas públicas.
melhoria da sua condição nutricional. Também
tem impacto na inserção produtiva de cooperati- ◉◉ Desenvolver indicadores e protocolos de
vas e associações na reciclagem de lixo orgânico, certificação socioambientais de propriedade
com potencial geração de emprego e renda para rurais, produtos e serviços.
milhares de desempregados. Em outra vertente, ◉◉ Intensificar avaliações, com base em indi-
há possibilidades de aproveitamento econômico cadores econômicos, sociais e ambientais,
de resíduos de processos agrícolas e agroindus- de sistemas de produção e manejo flores-
triais na elaboração de produtos de valor agre- tal (fins madeireiros e não madeireiros).
gado, além do desenvolvimento de produtos ou
tecnologias inovadoras que aumentem a conser- ◉◉ Aprimorar o desenvolvimento e o uso de
vação dos alimentos, mantenham sua qualidade. ferramentas gerenciais dos sistemas de
O comportamento dos consumidores tem gran- produção agrícola.
de impacto no entendimento de mudanças nos
◉◉ Implementar políticas públicas e programas
hábitos e padrões de consumo de alimentos, e é
que promovam a adoção de boas práticas agrí-
de fundamental importância em um país como
colas e o pagamento por serviços ambientais.
o Brasil, com grandes diferenças regionais e desi-
gualdade social (Porpino, 2016). ◉◉ Melhorar o manejo da irrigação de precisão,
por meio do uso mais eficiente da água, de
Desafios fertilizantes e defensivos e da utilização de
sistemas de informações geográficas.
◉◉ Melhorar a genética e o manejo animal para ◉◉ Ampliar a participação dos biocombustíveis
elevar a capacidade de conversão alimentar. sustentáveis e de outras fontes de energia re-
◉◉ Ampliar o uso de sistemas integrados e sus- nováveis na matriz energética brasileira.
tentáveis de produção agrícola, reduzindo ◉◉ Otimizar o aproveitamento de resíduos agrí-
riscos sociais, ambientais e econômicos. colas e o desenvolvimento de novos proces-
◉◉ Otimizar o uso de recursos hídricos na agri- sos de manejo e de utilização dos dejetos da
cultura irrigada na produção aquícola. produção animal.
◉◉ Reduzir perdas e desperdício de alimentos
◉◉ Fomentar pesquisas e difusão de conhecimen-
por meio do desenvolvimento de novas
tos para fortalecimento dos sistemas ILPF com
embalagens, técnicas de armazenamento,
foco nos diferentes biomas brasileiros.
manuseio, transporte, marco regulatório,
◉◉ Expandir o uso da FBN para maior número campanhas de conscientização, banco de
de espécies vegetais. alimentos e outras estratégias.

83
mudança do clima

84
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Com base em dados e simulações realizadas ano, o que representa menos de um quarto
em diversas regiões do globo, o quinto re- das emissões globais dos setores intensivos
latório do Painel Intergovernamental sobre no consumo de combustíveis fósseis, como
Mudanças Climáticas (Intergovernamental energia, transporte e indústria (Edenhofer
Panel On Climate Change  – IPCC) destacou et al., 2014). O Brasil tem participado pró-a-
que o aquecimento global é inequívoco. tivamente na redução e melhoria das aná-
Desde 1950, são observadas mudanças sem lises dessas emissões e lançou, em 2016, a
precedentes no período de décadas ou milê- Terceira Comunicação Nacional do Brasil à
nios: a atmosfera e o oceano aqueceram, as UNFCCC com os dados do inventário de GEE
camadas de gelo e neve diminuíram e o nível como apoio ao IPCC, abrangendo os seguin-
dos oceanos subiu (Edenhofer et al., 2014). tes setores: energia, processos industriais,
Considerando que as emissões de GEE con- agricultura, uso da terra, mudanças de uso
tinuarão se elevando às atuais taxas, a tem- da terra e florestal e tratamento de resíduos
peratura do planeta poderá aumentar até 5,4  (National Communication of Brazil to the
°C até 2100. Em decorrência desse aumento, United Nations Framework Convention on
o nível do mar poderá ter elevação de até Climate Change, 2016).
82 cm e impactar grande parte das regiões
costeiras do globo. Para o Brasil e a América Em razão da vulnerabilidade natural dos
do Sul, os principais impactos previstos con- setores agrícola e florestal a flutuações de
sistem na extinção de habitat e de espécies, temperatura, precipitação e ventos, é pos-
principalmente na região tropical; substitui- sível inferir que esses setores serão, propor-
ção de florestas tropicais por savanas e de cionalmente, mais impactados pelos efeitos
vegetação semiárida por árida; aumento de da mudança do clima do que os setores in-
regiões em situação de estresse hídrico, ou tensivos em emissões. Análises e estudos em
seja, sem água suficiente para suprir as de- diferentes escalas estão sendo realizados em
mandas da população; e aumento de pragas todo o mundo com o objetivo de antecipar
em culturas agrícolas e de doenças, como, possíveis impactos na agricultura. No Brasil,
por exemplo, a dengue e a malária, além do a mudança do clima poderá diminuir a área
deslocamento e da migração de populações favorável aos cultivos de soja, café, milho,
(Plano Nacional de Adaptação à Mudança do arroz, feijão e algodão, podendo levar a um
Clima, 2016). prejuízo de R$ 7,4 bilhões já em 2020 (De-
conto, 2008). Essa mudança tem expressivo
A relação entre agricultura e mudança do cli- potencial de alterar a paisagem agrícola nas
ma, assim como ocorre com outros setores próximas décadas.
da economia, envolve um componente ati-
vo  – a contribuição do setor agrícola, como Nesse contexto, a adaptação ganha relevân-
uma atividade econômica, relacionada às cia na medida em que evidências indicam
emissões de gases de efeito estufa  – e um impactos positivos e/ou negativos nos siste-
componente passivo – representado pelo mas de produção. O Brasil vem assumindo
conjunto de efeitos que a mudança do cli- importantes compromissos internacionais
ma impõe sobre essa atividade econômica. visando à mitigação desses efeitos com me-
As emissões antrópicas de GEE pelo setor tas de redução da emissão de GEE até 2030.
de agricultura e florestal mundial correspon- No setor agrícola, a estratégia é fortalecer,
dem a cerca de 10-12 GtCO2 equivalente/ entre outros, a intensificação sustentável,

85
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

por meio da restauração de pastagens degra- 0,3 °C e 1,7 °C, de 2010 até 2100, enquanto
dadas e da implantação de sistemas de ILPF. aumento do nível do mar seria entre 26 cm
Parcerias público-privadas estão em franca e 55 cm. Esse cenário é considerado “mui-
expansão visando articular novas ações que to otimista” e tem sido preterido nas análi-
promovam a mitigação e a adaptação de sis- ses de projeção climáticas.
temas produtivos no País, com grande desta-
• O cenário RCP 4.5 supõe um armazena-
que para a Associação Rede ILPF72.
mento de 4,5 W/m2 e representa uma
estabilização das emissões de gases de
Vulnerabilidade, efeito estufa antes de 2100. Nesse caso,
adaptação e mitigação a temperatura terrestre aumentaria en-
tre 1,1 °C e 2,6 °C, e o nível do mar subiria
O Quinto Relatório de Avaliação do IPCC entre 32 cm e 63 cm. Esse cenário tem
propôs quatro novos cenários de níveis de sido um dos mais utilizados.
emissão denominados representative con-
centration pathways (RCPs) ou trajetórias re- • O cenário RCP 6.0 supõe o armazena-
presentativas de concentração. Os modelos mento de 6,0 W/m2 com estabilização
climáticos desenvolvidos buscam responder das emissões de gases de efeito estufa
como o clima se comportará em diversos logo após 2100. O aumento da tempera-
cenários de emissões, considerando suas tura terrestre estaria entre 1,4 °C e 3,1 °C,
interações e forçantes externas como o sol, e a elevação do nível do mar ficaria entre
aerossóis, gases, etc. O Plano Nacional de 33 cm e 63 cm.
Adaptação à Mudança do Clima (PNC) indica • O cenário RCP 8.5, considerado o mais “pes-
que cada cenário construído considerou inú- simista”, é caracterizado pelo aumento nas
meros fatores para suas projeções, destacan- emissões sem sua estabilização, ou seja, as
do a emissão de GEE, tipo e uso do solo e di- emissões continuam a crescer, bem como
ferentes tecnologias para geração de energia a concentração de gases de efeito estufa ao
(Plano Nacional de Adaptação à Mudança do longo do tempo. O aumento da temperatura
Clima, 2016). terrestre estaria entre 3,2 °C e 5,4 °C, e a ele-
• O cenário RCP 2.6 supõe que o sistema vação do nível do mar ficaria maior do que a
terrestre armazenará 2,6 watts adicionais do cenário RCP 6.0.
de energia por metro quadrado (W/m2) Contudo, o PNC destaca que nenhum modelo
e representa uma redução gradativa das numérico consegue simular com exatidão um
emissões de gases de efeito estufa, atin- evento climático futuro, pois existem incertezas
gindo emissão zero por volta de 2070. Os sobre as emissões, principalmente no que diz
processos de absorção de gases podem respeito à variação da oferta pluviométrica, à
superar as emissões em algum momento variabilidade natural do clima e à própria mo-
e, nesse caso, os aumentos esperados da delagem envolvendo os modelos globais, re-
temperatura média terrestre seriam entre gionais e de impactos. Essas incertezas fazem
parte das projeções de mudança do clima e,
72
A referida parceria público-privada nasceu em 2012,
como Rede de Fomento ILPF, e evoluiu até chegar ao
nesse sentido, é importante considerar os efei-
estágio de Associação Rede ILPF. Atualmente é com- tos das incertezas sobre a magnitude e/ou so-
posta pelas seguintes empresas: Cocamar, Dow AgroS- bre os padrões da mudança do clima.
cience, John Deere, Parker, Syngenta e Embrapa.

86
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Uma forma de aprimorar as análises seria mudanças extraídas das quatro simulações
elaborar ou utilizar conjuntos de simulações indicam o intervalo possível das mudanças
de modelos em diferentes cenários de emis- derivadas dessas simulações regionalizadas.
sões, preferencialmente os que levam a dife-
rentes aumentos projetados na temperatura Segundo a análise do PNC, em todos os cená-
média global, por meio dos quais os efeitos rios de emissão, projeta-se aquecimento para
de diferentes fontes de incerteza possam ser todo o continente. Os máximos de aquecimen-
analisados. As Figuras 26 e 27 mostram, por to se localizam na região Centro-Oeste, em to-
exemplo, as mudanças de temperatura e pre- das as estações do ano, e se estendem para as
cipitação para duas estações do ano (verão regiões Norte, Nordeste e Sudeste do País até
e inverno austral) em períodos de 30 anos, o final do século 21. Esses máximos de aqueci-
de 2011 a 2040, de 2041 a 2070 e de 2071 a mento médio no final do século podem variar
2100. O limiar inferior e o limiar superior das entre 2 °C e 8 °C em algumas áreas.

VERÃO INVERNO
Dezembro, janeiro e fevereiro Junho, julho e agosto

Figura 26. Projeções regionalizadas de mudanças da temperatura (°C) entre o presente e diferentes períodos futuros.
Fonte: Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (2016).

87
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

VERÃO INVERNO
Dezembro, janeiro e fevereiro Junho, julho e agosto

Figura 27. Projeções regionalizadas de mudanças na precipitação (mm/dia) entre o presente e diferentes períodos
futuros.
Fonte: Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (2016).

Esses cenários indicam a crescente vulnera- tos adversos da mudança climática, ou sua
bilidade dos sistemas agrícolas, que, associa- incapacidade de administrar esses efeitos,
da ao aumento da demanda mundial por ali- incluindo variabilidade climática (Mccarthy
mentos, água e energia, representa enorme et al., 2001).
desafio para a sustentabilidade da produção,
Estudo utilizando um cenário de aumento de
dos ecossistemas terrestres e aquáticos e dos
3  °C até 2050 (Plano Nacional de Adaptação
serviços à sociedade. A vulnerabilidade refe-
à Mudança do Clima, 2016) identificou que,
re-se ao grau de reação de um determinado
nessa situação, o Brasil teria como impacto o
sistema a uma mudança climática específica.
decréscimo de até 50% na produção agrícola
O IPCC define vulnerabilidade como o grau
até 2050 (Figura 28).
de suscetibilidade de um sistema aos efei-

88
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Sem dados

Mudança percentual nas produtividades entre 2010 e 2050.

Mudança -50% Mudança +100%

Figura 28. Evolução das safras para 2050 com acréscimo de mais 3  °C na temperatura média.
Fonte: Development... (2010).

Análise específica para o Brasil sugere que o (algodão, arroz, café, cana-de-açúcar, feijão,
aumento de temperatura poderá provocar di- girassol, mandioca, milho e soja), juntamen-
minuição de regiões aptas para o cultivo dos te com pastagens e gado de corte. As simu-
grãos no País, gerando expressiva mudança lações foram feitas para os anos 2020, 2050
na paisagem agrícola. Possíveis exceções e 2070. Outros importantes resultados desse
apontadas seriam a cana-de-açúcar, que te- estudo podem assim ser sintetizados:
ria espaço para expansão da produção, e a
• Perdas na agropecuária chegariam a R$ 7,4
mandioca, que, apesar de perder espaço de
bilhões em 2020 e R$ 14 bilhões em 2070.
cultivo no Nordeste, poderia ser produzida
em outras regiões do País (Deconto, 2008). • A soja poderá ser a cultura mais afetada
Essas condições são válidas, se mantido o (no pior cenário chegaria a 40% de per-
princípio da inação, ou seja, nenhum esforço das em 2070).
de adaptação tanto tecnológico como gené-
tico seja feito no sentido de minimizar os im- • O café arábica poderá perder até 33% da
pactos do aquecimento na produção agríco- área de baixo risco em São Paulo e Minas
la. Foram considerados diferentes cenários, Gerais, apesar da possibilidade de au-
como: A2 (pessimista), que estima os impac- mentar sua área na região Sul do País.
tos com um aumento na temperatura global
• O milho, o arroz, o feijão, o algodão e o
entre 2  °C e 5,4 °C até 2100; e o B2 (otimista),
girassol poderão sofrer forte redução de
que estima os impactos de um aumento glo-
área de baixo risco no Nordeste, com sig-
bal entre 1,4 °C e 3,8 °C até 2100. Os impac-
nificativa perda da produção.
tos foram analisados para diferentes culturas

89
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

• A mandioca poderá ter um ganho de raram um aumento nas temperaturas mun-


áreas com baixo risco, porém sofreria diais médias entre 2 °C e 5,4 °C até 2100,
perdas na região Nordeste. utilizando o Sistema PRECIS (Providing Re-
gional Climates for Impacts Studies). As aná-
• A cana-de-açúcar poderá dobrar sua lises permitiram inferir que o cenário A2 do
área plantada nas próximas décadas. quarto IPCC poderá afetar significativamente
A partir do Zarc73, outro estudo de cenários algumas culturas selecionadas nas próxi-
agrícolas foi gerado, tendo como ano base mas duas décadas no País. O aumento da
2010 e com projeções futuras para 2020 e temperatura elevaria a evapotranspiração e,
2030 (Santana, 2011). Esses cenários foram consequentemente, o deficit hídrico no solo,
desenvolvidos para algumas culturas sele- ocasionando a redução das áreas com bai-
cionadas, com base nas projeções do clima xo risco climático. A área com baixo risco de
definidas no Quarto Relatório de Avaliação cultivo de trigo e café nos principais estados
do IPCC. As simulações do estudo conside produtores, por exemplo, sofreria uma im-
portante redução até 2030 (Tabela 5).
Tabela 5. Potenciais impactos em áreas de baixo risco climático de algumas culturas no Brasil até 2020/2030.
Variação (%) entre Variação (%) entre
Cultura agrícola
2010 e 2020 2010 e 2030
Mandioca (Manihot esculenta) 2,82 7,08
Café (Coffea arabica) -19,10 -24,64
Algodão (Gossipium hirsutum) -0,60 -1,98
Feijões (Phaseolus vulgaris, Vigna unguiculata) -1,34 -3,09
Milho (Zea mays) -0,28 -0,75
Arroz (Oryza sativa) -1,89 -2,70
Sorgo (Sorghum bicolor) -0,0005 -0,14
Soja (Glycine max) -3,03 -5,26
Cana-de-açúcar (Saccharum spp.) 0,08 1,21
Trigo (Triticum spp.) -17,48 -36,34
Fonte: Santana (2011). Outro estudo sobre potenciais impactos da mu-
dança do clima no setor agrícola brasileiro focou
na agricultura familiar das regiões Norte e Nordeste
(Mudança..., 2016). Dentre as análises, apresenta-se
um panorama geral dos potenciais impactos para
73
Método desenvolvido pela Embrapa e parceiros, apli- alguns cultivos regionais específicos até 2040, com
cado no Brasil oficialmente desde 1996, por meio do
base no ano de 2011, considerando cenário de au-
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(Mapa), que proporciona a indicação de datas ou perío-
mento médio global das temperaturas entre 1,8 oC
dos de plantio/semeadura por cultura e por município, e 4,0 oC até 2100 (cenário IPCC- AR4), (Tabela 6). O es-
considerando as características do clima, o tipo de solo tudo destaca ainda que há necessidade de adapta-
e o ciclo de cultivares, de forma a evitar que adversida- ção dos pequenos agricultores à mudança do clima,
des climáticas coincidam com as fases mais sensíveis com o planejamento e o uso de técnicas inovadoras,
das culturas, minimizando as perdas agrícolas.
para que se reduzam as vulnerabilidades.

90
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Tabela 6. Potenciais impactos do cenário IPCC- AR4 na produtividade de culturas nas regiões Norte e Nordeste até 2040.
Região Região
Colheita Brasil
Nordeste Norte
Mandioca (Manihot esculenta) (↑) (↓) (↑)
Algodão (Gossypium hirsutum) (↓) (↓) (↓)
Café (Coffea arabica) (↓) (↓) (↓)
Feijão (Phaseolus vulgaris) (↓) (↓) (↓)
Feijão-caupi (Vigna unguiculata) (↓) (↓) -
Milho (Zea mays) (↓) (↓) (↑)
Abacaxi (Ananas comosus) (↓) (↓) (↓)
Banana (Musa spp.) ? (↓) (↓)
Cacau (Theobroma cacao) ? ? ?
Caju (Anacardium occidentale) ? ? ?
Coco (Cocos nucifera) ? ? ?
Palma (Elaeis guineensis) (↓) (↓) ?
Açaí (Euterpe oleracea) ? ? -
Cupuaçu (Theobroma grandiflorum) (↓) (↓) -
Fonte: Mudança... (2016).

Com base nesse contexto de crescentes vul- No contexto da adaptação à mudança do cli-
nerabilidades, eleva-se a importância da ma, será cada vez mais demandado um con-
mitigação e adaptação dos sistemas produ- junto de ações para adaptação aos impactos
tivos agrícolas, pecuários e florestais. Nesse que já podem ser observados, como aquelas
sentido, no plano de ação de Bali, definido voltadas para o incremento da resiliência dos
na COP 13  – 13ª Conferência das Partes da sistemas produtivos. Será necessária a am-
Convenção-Quadro das Nações Unidas so- pliação do nível de compreensão acerca dos
bre Mudança do Clima, Bali, em 2007, foram desafios impostos pela mudança do clima, a
propostas algumas ações, as quais podem implementação de um sistema de monitora-
assim ser resumidas (Motta et al., 2011, p. 13): mento e avaliação robusta de todos os be-
nefícios e cobenefícios vinculados à adoção
• compromissos e metas mais ambiciosos por par-
dessas boas práticas, ambientais, sociais,
te dos países desenvolvidos, que poderiam alme-
biológicas e agronômicas, além da coleta,
jar reduções de até 40% em 2020 e 80% em 2050;
processamento e distribuição adequada des-
• contribuições voluntárias, na forma de ações, sa informação para atores interessados, para
visando à redução no aumento previsto das a sociedade civil e para tomadores de deci-
emissões dos países em desenvolvimento, são tanto em âmbito local, quanto nacional.
as quais sejam monitoráveis, comunicáveis
No contexto das tratativas do Subsidiary
e verificáveis (MRV); e Body for Scientific and Technological Advi-
• aporte de recursos por parte dos países em ce (SBSTA), órgão de assessoramento téc-
desenvolvimento para financiamento des- nico-científico da COP 23  – 23ª Conferên-
sas contribuições voluntárias e assistência cia das Partes da Convenção-Quadro das
em ações de adaptação. Nações Unidas sobre Mudança do Clima,

91
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Bonn, em 2017, uma importante decisão rendimentos sem comprometer a integri-


para a agricultura deu destaque à viabili- dade ambiental ou a saúde pública. Entre
zação de ações que contribuam para a re- os compromissos internacionais vincula-
dução de emissões de GEE e para a adap- dos à mudança do clima, destaca-se o Pla-
tação e mensuração de seus impactos. O no Setorial de Mitigação e de Adaptação
desenvolvimento de uma estratégia nacio- à Mudança do Clima para a Consolidação
nal de adaptação aos impactos causados de uma Economia de Baixa Emissão de
pelas mudanças do clima permite ampliar Carbono na Agricultura – Plano ABC, as-
a percepção social sobre os riscos difusos sumido pelo Brasil, a partir de 2010. Esse
dessas mudanças, além de promover um plano tem como finalidade a organização
processo estruturado de planejamento e e o planejamento de ações a serem rea-
priorização de investimentos, fomentar o lizadas para a adoção das tecnologias de
intercâmbio de informação e o uso cada produção sustentáveis, selecionadas com
vez mais intenso de sofisticadas ferramen- o objetivo de responder aos compromis-
tas de análise, tais como a "mineração de sos de redução de emissão de GEE no se-
dados". tor agropecuário e de promover ambiente
favorável para adoção de um modelo de
A aplicação de conhecimentos e tecnolo-
desenvolvimento sustentável do ponto
gias que gerem inovações no setor agrí-
de vista econômico, ambiental e social.
cola poderá minimizar possíveis impactos
O Plano Setorial desenvolvido para o se-
causados pela mudança do clima e poten-
tor agrícola é o único com clara atenção à
cializar benefícios do clima futuro sobre a
adaptação.
agricultura, a exemplo do aumento da con-
centração de CO2 na atmosfera (Marin et A necessidade de uma estratégia de adap-
al., 2016). Uma estratégia robusta de adap- tação se deve à percepção de que o de-
tação não pode prescindir de um planeja- senvolvimento de ações estruturais para o
mento de longo prazo focado no desen- setor agrícola precisa ser pensado de for-
volvimento de novos processos, práticas e ma a fomentar o incremento da resiliên-
tecnologias. Nesse contexto, novas cultiva- cia dos sistemas produtivos, reduzindo
res, genes e sistemas produtivos – como o sua vulnerabilidade em face dos impactos
sistema de ILPF  – são tecnologias e práti- causados por eventos climáticos, além de
cas capazes de amenizar danos potenciais fomentar um canal de comunicação claro
ou catalisar eventuais oportunidades para e objetivo com a sociedade civil, a fim de
o futuro da agricultura brasileira. ampliar a compreensão dos riscos difu-
sos associados aos efeitos da mudança
Compromissos do clima. Na Tabela 7, são apresentados
os principais processos tecnológicos, os
internacionais compromissos em área para a adoção e o
potencial de mitigação associado a cada
Crescentes incentivos e políticas públi-
tecnologia assumida até 2020.
cas para garantir a sustentabilidade da
agricultura e a manutenção dos serviços
ecossistêmicos estão sendo realizados
para atender às demandas de melhores

92
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Tabela 7. Processo tecnológico, compromisso nacional relativo (aumento da área de adoção ou uso) e potencial de
mitigação por redução de emissão de GEE (milhões de Mg CO2 eq).
Compromisso Potencial de Mitigação
Processo Tecnológico
(aumento de área) (milhões Mg CO2 eq)
Recuperação de Pastagens Degradadas(1) 15,0 milhões ha 83 a 104
Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (2)
4,0 milhões ha 18 a 22
Sistema Plantio Direto (3)
8,0 milhões ha 16 a 20
Fixação Biológica de Nitrogênio (4)
5,5 milhões ha 10
Florestas Plantadas (5)
3,0 milhões ha -
Tratamento de Dejetos Animais (6)
4,4 milhões m3
6,9
Total - 133,9 a 162,9
Notas: 1 Por meio do manejo adequado e adubação. Brase de cálculo foi de 3,79 Mg de CO2 eq.ha-1 ano -1.
2
Incluindo Sistemas Agroflorestais (SAFs). Base de cálculo foi de 3,79 Mg de CO2 eq.ha-1ano -1.
3
Base de cálculo foi de 1,83 Mg de CO2 eq.ha-1 ano -1.
4
Base de cálculo foi de 1,83 Mg de CO2 eq.ha-1 ano -1.
5
Não está computado o compromisso brasileiro relativo ao setor de siderurgia; e não foi contabilizado o po-
tencial de mitigação de emissão de GEE.
6
Base de cálculo foi de 1,56 Mg de CO2 eq.m-3.
Fonte: Plano...(2012).

Com a entrada em vigor do Acordo de Paris agrícola especificamente, a estratégia é forta-


(COP 21), as NDCs assumem um papel relevan- lecer a intensificação sustentável na agricultu-
te nas discussões sobre o futuro dos acordos ra, por meio da restauração de 15 milhões de
mundiais sobre a mudança do clima. O Brasil hectares de pastagens degradadas e pelo incre-
foi o único país em desenvolvimento, que, na mento de 5 milhões de hectares de sistemas de
formulação de sua NDC, comprometeu-se com ILPF até 2030 (Reis et al. 2016), além dos com-
a redução absoluta de emissões de GEE. O País promissos já assumidos no Plano ABC.
propôs reduzir 37% de suas emissões até 2025,
em relação aos níveis de 2005, além de uma
contribuição indicativa subsequente de reduzir
Fomento à ciência e
as emissões em 43%, abaixo dos níveis de 2005, tecnologia
até 2030. A NDC proposta indica elementos tan-
Em vários países, são crescentes os investi-
to de mitigação de emissões de GEE quanto de
mentos públicos e privados em P&D no de-
adaptação aos efeitos da mudança do clima
senvolvimento de novas tecnologias associa-
que devem compor o conjunto de estratégias
das a sistemas de produção mais resilientes
nacionais adotadas para atingir esse objetivo.
à mudança do clima. Um conjunto de tecno-
A implementação é prevista por arranjos nas
logias, em diversos estágios de desenvolvi-
seguintes áreas: biocombustíveis, mudança de
mento e adoção, foi selecionado e avaliado
uso da terra e florestas, agricultura, energia, in-
de forma aprofundada, porém é improvável
dústria e transportes (Sumário..., 2017).
que essas sejam as únicas tecnologias que
Ações de mitigação já ocorrem em todo o País, serão importantes nos próximos 40 anos
nos diversos setores da economia. No setor (Rosegrant et al., 2014). Recursos são inves-

93
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

tidos no desenvolvimento tanto de práticas produção agrícola, no consumo alimentar,


tradicionais de manejo quanto de modernas na segurança alimentar, no comércio e na
aplicações agrícolas e novas variedades de qualidade ambiental. A diversidade dessas
cultivos mais resilientes à mudança do cli- opções tecnológicas ilustra as principais ver-
ma. Entre as práticas e os sistemas aplicados tentes de P&D em face da crescente escassez
no Brasil, podem-se destacar: plantio direto; de recursos naturais, mudança do clima e
manejo integrado da fertilidade de solos; maiores demandas de alimentos. Métricas
captação de água nos sistemas agrícolas; ir- adequadas de avaliação da sustentabilidade
rigação inteligente; agricultura de precisão; dessas práticas devem ser desenvolvidas e
variedades melhoradas – com tolerância ao aprimoradas, para dar suporte à adoção em
calor, à seca e outros estresses abióticos; efi- larga escala dessas tecnologias.
ciência no uso de N; agricultura orgânica; e
O aperfeiçoamento de técnicas de aquisição
aprimoramento do manejo integrado na pro-
de dados e processamento de informações
teção de culturas contra doenças, insetos e
e construção de modelos para simulação de
ervas daninhas. Todas essas práticas buscam
risco e avaliação da vulnerabilidade de siste-
difundir a importância da sustentabilidade
mas agrícolas deve ser priorizada. Um siste-
nas cadeias produtivas associadas (carne,
ma de análise de metadados terá importante
grãos e silvicultura).
impacto no apoio ao processo de tomada de
Novos parcerias e arranjos institucionais (pú- decisão e será viabilizado com o uso de mo-
blico-privados) também estão presentes no dernas ferramentas computacionais destina-
País. A Rede ILPF74, cujo objetivo principal é das à interoperabilidade analítica (analytics)
o de acelerar a ampla adoção dos sistemas de diferentes bancos de dados.
de ILPF por produtores rurais como parte de
um esforço visando à intensificação susten-
tável da agricultura brasileira é um exemplo
desse tipo de arranjo. Essa parceria permite a
implantação e condução de Unidades de Re- Recursos são investidos
ferência Tecnológica (URTs) distribuídas em no desenvolvimento tanto
todos os biomas brasileiros. Outra ação é a
Sala de Inovação75, iniciativa do governo para
de práticas tradicionais
coordenar as ações de atração de centros e de manejo quanto de
projetos de PD&I de grandes empresas para
o Brasil. Essa atração é um importante fator
modernas aplicações
de aumento da competitividade do Brasil, agrícolas e novas
pois busca ampliar competências tecnológi- variedades de cultivos
cas, formar talentos locais e aumentar o valor
agregado das exportações. mais resilientes à
A efetiva ampliação do uso do mix de tec-
mudança do clima
nologias terá impactos importantes na

74
Disponível em: <https://www.embrapa.br/web/rede-
-ILPF>.
75
Disponível em: <http://www.mdic.gov.br>.

94
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Desafios
◉◉ Desenvolver métricas de sustentabilida-
◉◉ Fortalecer a governança da política na-
de que considerem a complexidade da
cional de mudança do clima, por meio
agricultura tropical e sejam baseadas
de análises e estudos sobre indicadores
em critérios técnico-científicos robustos.
de avaliação econômica, social e am-
biental. ◉◉ Ampliar o desenvolvimento de novos
sistemas de mineração de dados e mé-
◉◉ Desenvolver tecnologias de adaptação
todos analíticos para análises e suporte
e mitigação dos efeitos da mudança do
à tomada de decisão pública e privada.
clima.
◉◉ Estruturar, de forma integrada, análises
◉◉ Reduzir as emissões de GEE, tendo
multivariadas de risco climático capazes
como base a inovação tecnológica e a
de antecipar necessidades e demandas,
ampliação da adoção das boas práticas
de forma a viabilizar a gestão de priori-
agrícolas.
dades nos âmbitos mesorregional, esta-
◉◉ Desenvolver métodos científicos que dual e nacional.
assegurem a viabilidade técnica e finan-
◉◉ Reduzir o input energético dos sistemas
ceira para a geração de dados de base
produtivos agrícolas e substituir fontes
para o processo de MRV (mensuração,
de carbono fóssil por fontes renováveis.
comunicação e verificação – sigla em
inglês para Measurement, Reporting and ◉◉ Intensificar esforços na modelagem e na
Verification). construção de cenários de risco climáti-
co, visando apoiar a definição de estraté-
◉◉ Ampliar o alinhamento e a atuação na-
gias de minimização dos impactos cau-
cional em negociações de compromis-
sados pela mudança do clima.
sos internacionais propostos e assumi-
dos pelo País e que dialoguem com o ◉◉ Disponibilizar informações estratégicas
modelo e a vocação do desenvolvimen- do clima, por meio de plataformas ati-
to agrícola brasileiro. vas, de fácil uso, acessíveis via múltiplas
mídias.
◉◉ Desenvolver sistemas de produção ani-
mal e vegetal, considerando caracterís- ◉◉ Remunerar os produtores rurais pelos
ticas regionais, o uso racional, a substi- serviços ambientais prestados com foco
tuição de insumos e os novos cenários na redução das emissões de GEE e oferta
climáticos. de água.
◉◉ Aumentar a eficiência de processos pro-
dutivos agrícolas e a redução de impac-
tos ambientais.

95
riscos na
agricultura

96
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

A atividade agrícola é fortemente marcada É necessário considerar ainda que atualmen-


por uma especificidade que a diferencia da te a agricultura está inserida em uma nova
produção da indústria e do setor de serviços: ordem global, que condiciona sua dinâmica,
a forte dependência dos recursos naturais seu desempenho e interfere nos riscos em
(como terra, clima e solo) e dos processos geral. Destacam-se, em particular, alguns
biológicos. Em particular, essa característi- fatores: a) o ambiente criado pelo multila-
ca requer as seguintes condições: a) maior teralismo e pelo peso crescente das regras
rigidez do processo produtivo, tendo como fixadas em acordos internacionais e na legis-
consequência menor flexibilidade para ajus- lação nacional; b) controles e regras que re-
tar-se aos ciclos da economia e às mudanças gulam os principais aspectos que envolvem
nas conjunturas dos mercados relevantes; b) toda a cadeia do agronegócio  – ambiente,
sazonalidade da produção; e c) dependência segurança alimentar, saúde, relações de tra-
de processos biológicos que são responsá- balho, comércio, propriedade intelectual; c)
veis diretos pelas operações mais importan- mudança do clima no âmbito global, que se
tes do processo produtivo. Essas condições reflete na elevação da temperatura e princi-
refletem os riscos que cercam a atividade palmente na instabilidade do clima; d) pres-
agrícola, os quais tendem a ser maiores do sões sociais com suficiente força para impor
que aqueles relacionados ao conjunto das regras, atitudes, legitimar ou refutar opções
demais atividades. tecnológicas, etc.; e) valorização do consumi-
dor como stakeholder central da cadeia de
Na atualidade, esses riscos são ainda mais valor do agronegócio. Esse novo ambiente
intensos devido aos maiores requerimentos interfere diretamente nos riscos agropecuá-
de investimento. A agricultura contempo- rios, em particular nos riscos institucionais,
rânea se caracteriza pelo uso intensivo do tecnológicos e de produção, riscos de merca-
capital, em todas as suas modalidades: fixo do, do ambiente de negócios, bem como na
e o fundiário  – resultado da transformação percepção de integração e na consequente
da terra por investimentos e aplicação de gestão desses riscos.
tecnologia –, ambiental, humano, circulante
e financeiro. Essa utilização intensiva de ca- Ressalta-se que, dados os recursos disponí-
pital implica, por si só, riscos mais elevados, veis e as variáveis do contexto, os resultados
uma vez que o custo de eventos adversos é da atividade agrícola estão relacionados à
maior. A atividade agropecuária se caracte- qualidade das diversas decisões dos agri-
riza também por um ambiente de negócios cultores, antes, durante e após o processo
mais complexo, com intensificação das rela- produtivo, e se referem às três questões bá-
ções a jusante e a montante, como parte de sicas da economia: “O que produzir? Como
uma cadeia produtiva bem mais ampla, que produzir? Para quem produzir?” Tais deci-
envolve indústrias e serviços e mobiliza um sões, que dizem respeito à definição de qual
número muito maior de pessoas do que as produto produzir, à tecnologia a ser empre-
diretamente empregadas na produção pri- gada, à forma de financiamento, à estratégia
mária. Isso significa que eventos adversos, de comercialização, entre outros fatores, são
em geral, propagam-se mais rapidamente do envolvidas, influenciadas e modificadas por
que no passado, potencializando e multipli- diversos tipos de riscos. Ou seja, ao tomar es-
cando os impactos que incidem diretamente sas decisões, os agricultores levam em conta,
sobre a agricultura. consciente ou inconscientemente, os riscos,

97
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

e estão fazendo, portanto, uma gestão inte- mundial; a política econômica, em particular
grada do risco. Por isso é possível afirmar que a política cambial e fiscal; o contexto político
a gestão do risco é inseparável da gestão da e institucional; a situação fiscal e os indica-
produção agrícola, especialmente no Brasil, dores sociais, particularmente os do meio ru-
pela sua dimensão continental, pela grande ral. Deve-se ter claro que o desempenho eco-
diversidade socioeconômica dos produtores nômico e social da agricultura é determinado
rurais e pela diversidade agronômica dos sis- pela combinação do conjunto de fatores aqui
temas de produção vegetais e animais. indicados e do conjunto de riscos que têm
impacto significativo sobre os resultados do
Perdas econômicas setor. Eventos climáticos, por exemplo, po-
dem determinar perdas relevantes na produ-
Estudo realizado em 48 países em desenvol- ção, queda das exportações, redução da ocu-
vimento indica que 25% dos danos advindos pação direta e indireta, maior volatilidade na
de desastres naturais ocorridos entre 2003 e produção e renda dos produtores, elevação
2013 recaíram sobre a agropecuária, causan- de preços para os consumidores e inseguran-
do prejuízos de US$ 70 bilhões nessas ativi- ça alimentar. Impõe-se, assim, o desafio de
dades (The impact..., 2015). Estima-se que viabilizar tecnologias inovadoras que garan-
44% dessas perdas foram causadas por seca tam a produção de alimentos em um cenário
e 39% por enchentes. Associados a essa con- global de riscos crescentes, forte pressão so-
dição, destaca-se que, atualmente, 75% dos bre o recurso água, além de exigências cres-
alimentos do mundo são gerados a partir de centes por segurança do alimento e redução
doze espécies de plantas e cinco espécies de de impactos ambientais e sociais do proces-
animais (FAO, 2016), tornando o sistema ali- so produtivo (Schwab, 2015). A conjunção
mentar global altamente suscetível aos riscos sincronizada desses riscos poderia levar a
inerentes à atividade agrícola, como pragas e uma crise mundial de alimentos.
doenças em animais e plantas, e agravados
Dada a importância da agricultura para a
pelos efeitos da mudança do clima. No Bra-
economia brasileira e a expectativa de inten-
sil, análises evidenciam perda anual próxima
sificação de eventos que aumentam os riscos
de R$ 11 bilhões (1% do PIB agrícola) devido
associados à produção agrícola, a gestão dos
a eventos extremos (Arias et al., 2015). O fato
riscos é tema estratégico para o Brasil. O País
de a maior parte da produção agropecuária
já dispõe de políticas e programas de gestão
nacional situar-se na faixa tropical indica a
de risco para sua agricultura, mas são vários
necessidade premente de sofisticação nas
os indicativos de que é necessário aumentar
práticas de gestão de risco. Considerando
a eficiência e a efetividade desses mecanis-
que a mudança do clima em âmbito global já
mos. Para responder ao crescente número
é perceptível pela intensificação de estresses
de riscos e perigos, é preciso ampliar a ca-
térmicos, hídricos e nutricionais nos sistemas
pacidade de antecipar futuros possíveis para
produtivos, pode-se afirmar que a agricultura
a agricultura brasileira, de realizar escolhas
brasileira é uma "ilha em um mar de riscos".
inteligentes e planejar trajetórias futuras, de
Também é relevante entender os fatores ma- forma cada vez mais sofisticada e compe-
croeconômicos que afetam o desempenho tente (Lopes, 2017). O País não pode mais
da agricultura brasileira, destacando: a traje- prescindir de um planejamento estratégico e
tória e a conjuntura da economia nacional e de maior estabilidade para o setor – avanços

98
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

que garantam atenção destacada à gestão de no tempo a oferta agrícola. Observa-se ainda
riscos, ao uso de sistemas de inteligência es- que o risco de preço também está associado
tratégica para orientar o desenvolvimento ru- à própria organização do negócio, em parti-
ral sustentável, além da incorporação de co- cular às fontes e modalidades de financia-
nhecimentos e tecnologias para a mitigação mento utilizadas. A utilização de capital de
e a adaptação a situações de risco e de ga- terceiros na estrutura de capital do negócio,
nhos de resiliência nos sistemas produtivos. mediante captação de empréstimos bancá-
A seguir, são apresentadas reflexões acerca rios, introduz o risco relativo à alavancagem
do imenso desafio que é a gestão integrada financeira na atividade, e este está associa-
de riscos na agricultura e de como o Brasil do às oscilações não desejáveis das taxas de
terá de enfrentá-los ao longo dos próximos juros e de câmbio e à possibilidade da não
anos, de forma compatível e coerente com renovação dos empréstimos (Hardaker et al.,
sua condição de grande potência agrícola e 2004). O risco do ambiente institucional, por
grande provedor de alimentos para o mundo. sua vez, tem base na possibilidade de altera-
ções não previstas em leis/regulamentações
Riscos associados em certa região ou ainda em mudanças do
marco regulatório que rege a economia na-
Os riscos relativos à agricultura podem ser cional e o comércio mundial.
classificados em duas categorias. A primeira
Com base na origem dos riscos e na inci-
leva em conta as origens dos fatores de risco,
dência sobre os diferentes agentes e níveis
enquanto a segunda considera a natureza do
de agregação, uma classificação alternativa
risco (IBGC, 2007). Sob a análise das origens,
tem sido apresentada e discutida (Arias et al.,
os fatores geradores de risco são separados
2015): a) riscos de produção; b) riscos sanitá-
em externos e internos ao processo produti-
rios; c) riscos de gestão dos recursos, em es-
vo. Em relação à natureza, os riscos são clas-
pecial dos recursos naturais; d) riscos de cré-
sificados em três grandes grupos: risco de
dito e comercialização; e) riscos relacionados
produção, risco de mercado e risco do am-
ao mercado externo; f) riscos decorrentes da
biente de negócios. Enquanto o risco de pro-
infraestrutura; g) riscos do ambiente institu-
dução está associado à possibilidade de o
cional relacionados a direitos de proprieda-
volume produzido planejado não se efetivar
de mal definidos, mudanças nas regras de
devido à ocorrência de um evento climático,
comércio e mudanças nas regras relaciona-
de incidência de doença ou praga ou ainda
das à própria produção.
de falhas operacionais, o risco de mercado se
deve basicamente ao grau de variabilidade Um exemplo de como o ambiente econômi-
dos preços dos insumos, dos produtos agrí- co pode causar impactos nos riscos são as
colas, da taxa de câmbio e da taxa de juros. mudanças na política macroeconômica, as
Esse tipo de risco possui destaque na agri- quais incidem diretamente sobre a taxa de
cultura devido a dois fatores, que restringe o juros e sobre o acesso ao crédito e sua dis-
tempo e eleva o custo para a comercialização ponibilidade e custo. Outros riscos, como
do bem: 1) perecibilidade de boa parte dos aqueles associados a eventos climáticos ex-
produtos; 2) custos associados ao carrega- tremos, podem ocorrer tanto em uma área
mento temporal do produto, isto é, ao arma- bastante específica, atingindo apenas al-
zenamento necessário para desconcentrar guns produtores individuais, como alcançar

99
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

toda uma comunidade ou região. Assim, as mentação internacional em direção à adoção


soluções deverão considerar uma análise das fontes renováveis, ainda existem inúmeros
integrada dos diferentes riscos (ainda que desafios a serem vencidos, no que se refere aos
produtores e governos possam tratá-los se- aspectos tecnológicos, econômicos, sociais e
paradamente, com instrumentos próprios ambientais. Esse movimento pela substituição
para cada situação), que, na maioria das ve- das fontes fósseis de energia pelas renováveis
zes, estão inter-relacionados, ora reforçando vem acompanhado ainda pela demanda de
impactos negativos ora atenuando alguns substituição de uma economia linear por uma
efeitos indesejáveis advindos de um dos gru- economia circular de base renovável, também
pos. Nesse processo, é necessário identificar conhecida como bioeconomia.
os principais riscos, quantificar o potencial
de perda e avaliar a capacidade de gerencia- A existência de enormes áreas de reserva de
mento, selecionando a alternativa de gestão petróleo, principalmente o pré-sal no Brasil,
e o monitoramento da operação. A raciona- associada ao potencial uso do carro elétrico
lidade desse processo está em chegar até as e aos novos modelos de mobilidade, traz in-
soluções que representam o maior retorno certezas quanto ao futuro das energias reno-
para as intervenções diante de um quadro de váveis em curto e em médio prazo. Por isso,
recursos escassos. torna-se fundamental que se estabeleçam
políticas públicas e programas de incentivo
Outro fator relevante para a agricultura mun- que incluam apoio à infraestrutura e à logísti-
dial e nacional, e que se apresenta no topo ca de transporte e de escoamento, incentivos
das diferentes formas de risco, é a disponi- às ações de pesquisa e desenvolvimento tec-
bilidade energética para todos os processos nológico, modelos matemáticos de quantifi-
produtivos em todos os elos das cadeias cação de redução de emissões pela adoção
agrícolas. Esse fator ganha importância ain- de tecnologias mais sustentáveis, estratégias
da maior em um cenário global de incertezas, para abertura de mercados, entre outras.
que incluem mudança do clima, mudanças
geopolíticas e demográficas, com economias Outro grande fator de risco da produção agrícola
emergentes intensificando a demanda por brasileira está na dependência da importação de
alimentos e bens de consumo. O grande de- insumos, especialmente fertilizantes. Entre 2000
safio relativo a esse fator está na capacidade e 2015, o uso de fertilizantes no País cresceu 87%,
de suprimento de forma eficiente e sustentá- contribuindo, em parte, para o significativo au-
vel e a custo competitivo. mento de 150% na produção de grãos no mesmo
período. Entretanto, desde a década de 1990, o
Nesse contexto, a produção e o uso de energias processo de privatização das indústrias estatais de
renováveis tem ganhado cada vez mais adep- fertilizantes e a facilitação da entrada de produtos
tos. Existe um movimento crescente para sua importados, por meio de isenção de impostos, fez
adoção de forma ampla em substituição às com que a produção nacional de fertilizantes se
energias de fontes não renováveis. Organiza- tornasse muito inferior à demanda interna. Em
ções nacionais e internacionais têm produzido decorrência disso, a dependência em relação às
estudos que avaliam cenários futuros para a importações vem aumentando ano após ano e,
maioria das fontes renováveis de energia (eó- atualmente, acima de 70% do consumo total de
lica, solar, biomassa, biogás, etanol, biodiesel, fertilizantes na agricultura brasileira é suprido por
etc.), mostrando que, apesar de toda a movi- importações.

100
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Os fertilizantes respondem por mais de 40% do se refere à "resistência a pragas"- e sobre o


custo total de produção das principais culturas no consumidor final, que passou a demandar in-
Brasil. Por sua vez, estima-se que apenas os ferti- formações a respeito dos seus efeitos sobre a
lizantes nitrogenados sejam responsáveis pelo in- saúde humana.
cremento de cerca de 40% na oferta de alimentos
no mundo (Erisman, 2008). Há grande influência
dos preços da matéria-prima internacional e das
Gestão integrada
commodities agrícolas, além da cotação do pe- de risco
tróleo, na formação de preços desses insumos. A
De forma geral, as soluções para gestão do
partir dessa constatação, percebe-se que alguns
risco envolvem uma combinação de medidas
drivers de futuro serão essenciais para a susten-
e de atores, com atuação dos setores privado
tabilidade do agronegócio em relação a esse fa-
e público, em que a disponibilidade de recur-
tor de risco. O desafio de reduzir a dependência
sos frequentemente determina as ações. É
externa por fertilizantes e diminuir o impacto dos
necessário, assim, estabelecer critérios obje-
insumos no custo da produção agrícola passa por
tivos, claros e consistentes para selecionar as
planos estratégicos liderados pelo Estado brasilei-
ferramentas/metodologias adequadas para
ro, os quais envolvem a participação intensa do
cada situação. Para isso, os analistas podem
setor privado.
estabelecer filtros baseados em uma escala
Outra questão de risco associada à intensifi- de benefícios, custos e abrangência, além da
cação produtiva brasileira é a chamada “pon- percepção dos stakeholders. A análise das
te verde” (Lopes, 2013b), ou seja, a sequência soluções não pode isolar os vários elemen-
ininterrupta de cultivos, que tem favorecido tos que interagem e interferem na definição
algumas doenças e pragas, como a ferrugem do risco, das estratégias e das políticas/ins-
e os nematoides da soja; a lagarta-do-cartu- trumentos de gestão. Em geral, o risco ob-
cho do milho; a multiplicação de nuvens da servado já reflete a adoção de medidas de
mosca-branca, disseminando doenças como gestão de risco adotadas previamente pelos
o mosaico-dourado do feijão; e a lagarta He- agentes, que adotam estratégias – ainda que
licoverpa armigera, que ataca o algodão, o intuitivas e informais – com base na expe-
milho, a soja e as hortaliças. riência anterior, na percepção própria dos
riscos agropecuários, nas políticas existen-
É importante considerar que os riscos elen- tes, etc. Por isso, não é possível isolar e iden-
cados (clima; sanidade; crédito e comercia- tificar riscos individuais, estratégias isoladas
lização; gestão, em especial dos recursos de produtores e políticas governamentais,
naturais, do mercado externo, da infraestru- sendo necessária uma visão holística para a
tura/logística, da energia, dos insumos e do análise do sistema e que incorpore os riscos
ambiente institucional) são orientados pelos agropecuários e suas fontes, as estratégias
ganhos de produtividade, o que remete aos dos produtores e as políticas governamen-
riscos tecnológicos. Não se trata apenas do tais (Managing..., 2009, p. 16).
impacto sobre a produtividade decorrente do
uso de uma nova técnica, a exemplo da na- A definição da estratégia e a escolha das po-
notecnologia, mas das consequências dessa líticas envolvem o conhecimento de duas
tecnologia na cadeia de valor. Um exemplo dimensões-chaves dos riscos em geral: a
disso foi a adoção dos OGMs, que apresen- probabilidade de ocorrência dos eventos e a
tou impactos na produção agrícola- no que severidade dos impactos sociais e econômi-

101
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

cos. Com base nessas dimensões, é possível Entre os atuais programas e políticas públicas
segmentar os riscos da seguinte forma: mais importantes relacionados aos três grupos
de riscos agropecuários (produção, mercado
• Riscos frequentes, os quais ocasionam per-
e ambiente de negócios) citam-se os seguin-
das pequenas. São os riscos normais do
tes: o Zarc, a Subvenção ao Prêmio do Seguro
negócio, em geral assumidos pelos próprios
Rural (PSR), o Programa de Garantia da Ativi-
produtores, que fazem a gestão usando ins-
dade Agropecuária (Proagro), o Programa de
trumentos disponíveis no estabelecimento
Garantia de Preços para a Agricultura Familiar
ou acessando políticas públicas gerais.
(PGPAF) e o Programa de Incentivo à Irrigação e
• Riscos cuja frequência e impacto não po- à Armazenagem (Moderinfra).
dem ser negligenciados e nem assumidos
No entanto, o País possui quase 17 mil quilô-
pelos próprios produtores, que buscam
metros de divisas terrestres, grande parte em
proteção em instrumentos específicos de-
florestas nativas, mais de 7.300  km de fron-
senhados para transferi-los, via operações
teiras marítimas e um espaço aéreo superior
de mercado, para terceiros.
a 8 milhões de quilômetros quadrados. É
• Riscos que, mesmo tendo uma frequên- fundamental interpretar e tratar os riscos na
cia pequena, geram grandes perdas, por escala do território, considerando a diversi-
isso são classificados como catastrófi- dade e a complexidade de relações e intera-
cos, os quais não podem ser assumidos ções no espaço rural brasileiro (Lopes, 2017).
pelos produtores e, portanto, justificam- Além disso, apresenta lacunas que restrin-
-se ações governamentais. gem uma adequada gestão do risco. Quando
analisadas as principais políticas públicas
O Brasil já conta com um conjunto de políticas, para a gestão dos riscos considerados (cli-
programas e instrumentos que contribuem ma e incêndio, sanidade animal, sanidade
para reduzir os efeitos negativos que os riscos vegetal, crédito e comercialização, comércio
causam aos produtores rurais e à sociedade exterior, logística e marco regulatório), fica
consumidora. Esse conjunto abrange as várias evidente que, em sua maioria, são dedica-
dimensões, incluindo a mitigação76, a trans- das à estratégia da mitigação, com menor
ferência77 e a resposta78, as quais beneficiam participação das estratégias de transferência
diferentes atores do setor, ou seja, agricultores e resposta. Se, por um lado, ambas as ques-
familiares, produtores médios e empresariais. tões (diversificação das estratégias de gestão
e complexidade da gestão) são um entrave
76
Ações que acontecem antes da outra (ex ante) para pre- para o desenvolvimento do setor agropecuá-
venir, reduzir ou eliminar a ocorrência de eventos/impactos
econômicos negativos à produção agropecuária. Alguns
rio e, consequentemente, do País, por outro
exemplos incluem os seguintes: sistemas de informação lado, representam uma oportunidade que
(zoneamentos), de drenagem e de irrigação; melhoramento transcende o setor agrícola, gerando “novos”
genético preventivo; e práticas conservacionistas.
77
Ações para transferir o risco a uma terceira parte com negócios, a exemplo da assistência técnica e
custo (prêmio), por exemplo, seguros, resseguros e co- da tecnologia da informação, que, além de
berturas de preço.
78
Ações realizadas durante ou depois do evento (ex post), a
contribuírem para reduzir a volatilidade e as
fim de reconstruir ou compensar perdas ocasionadas pela perdas no setor agrícola, contribuirão para a
sua ocorrência. Elas incluem, entre outras, o apoio emergen- geração de receita fiscal.
cial concedido aos produtores para reestruturação de dívidas
e/ou reconstrução de infraestrutura produtiva.

102
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Estratégias e Com a intensificação dos sistemas produtivos, a ges-


tão integrada tem ocupado cada vez mais a agenda
ferramentas de gestão do setor agrícola mundial e brasileiro. A produção
de risco vegetal e animal é suscetível a riscos múltiplos que
podem ser agrupados em riscos de produção, de
O gerenciamento do risco pode ser agrupado mercado e de ambiente de negócios (Managing...,
em: prevenção/mitigação, transferência e en- 2009). As consequências dos riscos variam segundo
frentamento (Tabela 8). A prevenção/mitigação a região, o tipo de produtor e a cadeia de valor (ani-
visa reduzir a probabilidade de ocorrência de mal e vegetal). As perdas extremas podem ser maio-
eventos adversos e/ou reduzir o impacto dos res sobre a renda do produtor rural nas regiões mais
eventos. A transferência visa diluir os efeitos carentes e com menor acesso aos mecanismos
econômicos negativos entre um grupo de ato- para mitigação. A agricultura familiar, por dispor de
res, esse o caso clássico do seguro. Já o enfren- menor acesso a instrumentos financeiros de trans-
tamento objetiva aliviar os efeitos negativos ferência de riscos, pode sofrer grande impacto na
provocados pela ocorrência dos eventos, ten- renda. Os riscos implicam gastos fiscais importantes
do como exemplo o Programa Garantia Safra. dos governos e também posição competitiva brasi-
leira nos mercados internacionais.

Tabela 8. Ferramentas de gestão de risco, conforme nível institucional e grupos de estratégia.


Nível institucional
Estratégia
Fazenda/Comunidade Mercado Governo
Políticas macroeconômicas,
Prevenção/ Escolha tecnológica; diver- Treinamento em técnicas de
prevenção contra desastre e
Mitigação sificação da produção gestão de risco
doenças animais

Derivativos, seguro rural, in- Sistema tributário de renda


Compartilhamento da tegração vertical, comercia- progressivo, programas con-
Transferência
produção lização não focada na safra, tracíclicos, regras de fronteira
trabalho fora da agricultura (medidas de biossegurança)
Empréstimo com fami- Venda de ativos, empréstimo Assistência social, progra-
Enfrentamento liares, amigos e/ou na bancário, renda de fora da mas agrícolas de suporte ao
comunidade agricultura agricultor
Fonte: Managing... (2009).

Não obstante esse aspecto, as perspectivas ças nos preços e na produtividade podem
futuras sinalizam que o uso crescente de afetar significativamente a sustentabilidade
novas tecnologias na agricultura aumentará econômico-financeira dos negócios agríco-
ainda mais o risco econômico, na medida las. Assim, cada vez mais os riscos agrícolas
em que, apesar de controlarem variáveis am- requerem entendimentos inovadores no seu
bientais e mitigarem o risco da produção, exi- processo de gestão, com o envolvimento de
gem grandes investimentos e maior inserção diferentes estratégias, instrumentos, riscos
dos produtores nos circuitos financeiros. Em e atores, a exemplo do indicado pelo Banco
um contexto como esse, pequenas mudan- Mundial (Arias et al., 2015) (Figura 29).

103
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Instrumentos

Investimento
Assistência
Técnica
Políticas

Atores Setoriais
Riscos Produtores
Estratégias
Rurais
Produção Setor Privado Mitigação

Mercado Setor Público Transferência


Ambiente Resposta
Institucional

Figura 29. Visão integrada da gestão de riscos agropecuários.


Fonte: Arias et al. (2015).

Com a mudança do clima e o processo de in- assumirem abordagens sistêmicas e voltadas à


tensificação dos sistemas produtivos, cada vez tomada de decisões sobre períodos acima de
mais os sistemas de gestão de risco ganham um ano/safra, apesar das crescentes incertezas
importância nas diferentes cadeias produtivas sociais, políticas, econômicas e ambientais.
da agricultura. Sistemas hoje disponíveis em
A adoção de novas tecnologias na gestão integrada
escala municipal, como o Agritempo – Sistema
de Monitoramento Agrometeorológico79 e o de múltiplos riscos na produção animal e vegetal
Sistema de Suporte à Decisão na Agropecuária depende da capacidade de inovação da pesquisa
(Sisdagro)80, têm potencial para apoiar a toma- e da transferência de tecnologia e sua interação
da de decisão na propriedade rural em tempo direta, e em tempo real, com os produtores rurais.
real. A complexidade e a dinâmica da agricul- A gestão de risco integrada possibilitaria ao produ-
tura brasileira apontam para a necessidade da tor rural informação mais qualificada e suficiente
integração multiescalar dos sistemas existentes para lhe garantir “acesso amplo” aos mercados e,
com outros ainda não dedicados à gestão de assim, também desenvolver seu empreendedoris-
risco, a exemplo das informações de mercado, mo e maior sustentabilidade produtiva.
de gestão dos recursos naturais, de sanidade Um plano estratégico para a melhor gestão de ris-
(animal e vegetal) e de logística. Há a necessida- cos agropecuários no Brasil deve ser implementa-
de crescente de os processos de gestão de risco do paulatinamente, iniciando-se pela integração
e pela articulação de algumas políticas e progra-
79
Disponível em: <http://www.agritempo.gov.br/ mas públicos por meio dos quais a gestão inte-
agritempo/index.jsp>.
80
Disponível em: <http://sisdagro.inmet.gov.br/ grada de riscos já vem sendo realizada. Essa es-
sisdagro/app/index>. tratégia deveria ter como foco o alcance de maior

104
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

estabilidade da renda do produtor rural, melhor previsibilidade do manejo e o uso mais efi-
regularidade no fornecimento de matérias-pri- ciente dos recursos naturais e insumos na
mas para os setores agroindustriais e redução nos produção animal e vegetal.
custos dos produtos das cadeias agroalimentares
para os consumidores. ◉◉ Intensificar ações que visem aumentar a previ-
sibilidade da ocorrência de pragas e doenças.
Assim, a gestão integrada deve considerar ini-
cialmente: a) geração e transferência de tecno- ◉◉ Preservar a diversidade genética por meio da
logias; b) transferência de riscos agropecuários; coleta, manutenção e caracterização de ban-
c) planejamento integrado da logística agrícola cos de germoplasma.
e de investimentos em infraestrutura rural; d) ◉◉ Fortalecer articulações público-privadas e
integração de ferramentas de gestão de risco público-públicas para prover sistemas de
climático na gestão dos recursos naturais; e) gestão integrada de riscos na agricultura.
integração de riscos do setor às iniciativas de
promoção e monitoramento do comércio ex- ◉◉ Fortalecer o sistema de defesa sanitária agro-
terior. À medida que essas ações iniciais forem pecuária e de pesquisa para reduzir os riscos
sendo implementadas, será possível explorar sanitários animais e vegetais, os estresses
soluções mais complexas. bióticos e abióticos e os impactos de eventos
climáticos.

Desafios ◉◉ Desenvolver novas formulações de fertilizan-


tes, diminuindo riscos ambientais, sociais e
◉◉ Viabilizar a produção agrícola em regiões econômicos.
com crescente risco agrícola e vulnerabilida-
de social nas cadeias produtivas agrícolas. ◉◉ Realizar programas de PD&I para o desen-
volvimento de novas tecnologias, produtos
◉◉ Desenvolver sistemas inovadores de ges- e processos em ambiente tropical e subtro-
tão de risco da agricultura, integrando as- pical.
pectos climáticos, tecnológicos, socioeco-
nômicos, ambientais e de mercado. ◉◉ Integrar sistemas de informação e bases de
dados de risco climático com informações
◉◉ Analisar os aspectos preponderantes do de- de mercado, recursos naturais, sanidade
clínio produtivo de sistemas agrícolas, consi- (animal e vegetal), e logística e infraestrutura.
derando de forma integrada fatores técnicos,
sociais, econômicos e ambientais. ◉◉ Desenvolver fontes alternativas de nutrientes
e aumentar a produção nacional de fertili-
◉◉ Desenvolver protocolos e sistemas de diag- zantes, no intuito de diminuir a dependência
nóstico rápido e eficiente em apoio à defesa internacional.
sanitária animal e vegetal.
◉◉ Promover o uso mais eficiente de fertilizan-
◉◉ Avançar e aprimorar continuamente o zo- tes e corretivos na produção agrícola.
neamento de risco climático no apoio ao
fomento às políticas públicas com foco na ◉◉ Implementar políticas públicas que promo-
intensificação produtiva sustentável. vam gestão integrada de risco no sistema
agroalimentar.
◉◉ Desenvolver ferramentas de acesso à previ-
são meteorológica que permitam elevar a

105
AGREGAÇÃO DE
VALOR NAS CADEIAS
PRODUTIVAS AGRÍCOLAS
106
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

O consumidor final é o pagador de todos os maior controle; substituição de insumos; uso


valores81 gerados ao longo da cadeia de valor racional de insumos e mão de obra), seja pelo
dos produtos. A agregação de valor a um pro- aumento do valor final do produto (maior
duto ou serviço ocorre quando o consumidor vida útil; produto diferenciado; rastreabili-
percebe acréscimos nas características que dade; certificação; embalagem diferenciada;
lhe são entregues por meio de tal produto/ entre outros) (Zocolo, 2017).
serviço. Por consequência, adicionar (agre-
gar) valor a um produto ou serviço significa Para incrementar o valor percebido, algumas
incrementar características nele que levem o estratégias de marketing apresentam ten-
consumidor a perceber isso como justificati- dência de crescimento e podem represen-
va para um preço adicional ou permitam ao tar um diferencial mesmo quando não há
produtor reduzir seu custo de produção, am- diferença tangível entre o produto oferecido
pliando a margem de contribuição do produ- sem esforço de marketing e o produto bem
to/serviço. posicionado. Como exemplo, o uso de story-
telling no varejo de alimentos pode, além de
O valor pode ser entendido como a propor- aproximar o consumidor urbano do produtor
ção (ou trade-off) qualidade/preço, compo- rural, incrementar o valor de commodities
nentes esses que possuem efeitos diferentes diversas, que não seriam percebidas como
no valor percebido pelo consumidor. Alguns produto diferenciado sem as ações de comu-
consumidores percebem valor quando o pre- nicação mercadológica. Estratégias de mar-
ço é baixo, outros percebem valor quando keting também são usadas para incrementar
existe um balanço ou equilíbrio entre qua- a percepção de autenticidade do produto,
lidade e preço (Zeithaml, 1988). Outra visão um componente importante para “descomo-
acerca do significado de valor argumenta ditizar” produtos agrícolas como, por exem-
que defini-lo apenas pelo trade-off qualida- plo, o café (Lee; Shin, 2015; Porpino, 2015).
de e preço pode ser muito simplista. O forne-
cimento de valor superior ao comprador em Em mercados mais maduros (no que se refe-
termos de qualidade do produto, caracterís- re às ações de marketing para o setor agroa-
ticas especiais ou serviço pós-venda também limentar)  – tais como o norte-americano, o
é responsável por agregar valor (Porter, 1990). francês e o italiano –, a valorização da com-
pra local (buy local) também ajuda a agregar
No presente documento, entende-se por valor à produção de pequenos produtores.
agregação de valor a aplicação de conheci- Entre as ações nessa linha, destaca-se o Pro-
mentos que promovam o aumento do valor grama Farmers Markets, do Departamento
adicionado (valor de venda do produto me- de Agricultura dos Estados Unidos (United
nos o custo de matérias-primas e operações), States Department of Agriculture – Usda) (Es-
seja pela redução dos custos de operação tados Unidos, 2018b), que fomenta a venda
(uso de tecnologia inovadora ou melhorada; direta do produtor ao consumidor.
uso de equipamentos mais eficientes ou de
Do ponto de vista macro, as nações têm tra-
81
  Entende-se que o valor é um atributo de um produ- balhado suas marcas-país para exportar pro-
to (ou serviço) que justifica sua compra. Esses atributos
representam características que são traduzidas pelos dutos com incremento de margem de lucro.
custos e pelas margens de lucro geradas por um pro- Para o Brasil, as evidências indicam oportuni-
duto (Selig, 1993). Sendo assim, a percepção de valor dades de fortalecer o País enquanto marca no
que o consumidor tem sobre o produto justifica o pre-
ço que ele está disposto a pagar por ele. setor de alimentos, dado que o consumidor

107
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

estrangeiro faz associação positiva do Brasil


com seus elementos naturais, seu clima e fer-
Alimentos, nutrição
tilidade do solo, que, por sua vez, impactam e saúde
positivamente a imagem de produtos ligados
Questões econômicas, sociais e culturais for-
a esses atributos, tais como alimentos (Costa
talecem aspectos relacionados à demanda
Filho et al., 2016).
crescente por produtos diferenciados. De for-
Especificamente sobre as cadeias produtivas ma geral, os alimentos podem ter valor agre-
agrícolas, o processo de agregação de valor gado no que se refere à sua qualidade global,
não passa necessariamente pelo mercado como aparência, sabor, maciez, sanidade e
“tradicionalmente agropecuário”. O setor quí- características nutricionais. Um produto ve-
mico, por exemplo, é mercado para produtos getal ou animal, in natura, minimamente pro-
agrícolas (o açaí é utilizado para produção de cessado ou industrializado pode conter dife-
cápsulas de antocianina). A nanotecnologia renciais de qualidade como funcionalidades,
apresenta importante papel nesse processo, terroir ou regionalidade  – queijos e deriva-
ao habilitar ou facilitar processos de rastrea- dos, embutidos, polpas, frutas tropicais, do-
bilidade, conservação, na qualidade e certi- ces. A rastreabilidade do produto (insumos,
ficação de produtos agrícolas, entre outros. características locais da produção, colheita/
As biotecnologias oferecem possibilidade de abate, método de conservação, qualidade e
geração de novos produtos por meio de tec- tempo de armazenamento, transporte, pro-
nologias ômicas. cessamento) e a geração de um novo pro-
duto/processo (extratos vegetais, fármacos,
Além de o consumidor ter cada vez mais óleos essenciais, novos usos, novos mate-
poder decisório (protagonismo do consu- riais diferenciados) são formas crescentes de
midor), de a agregação de valor nas cadeias agregação de valor.
produtivas agrícolas frequentemente depen-
der de mercados que não são agro (ex.: géis O panorama da questão alimentar no mun-
super absorventes para mudas só são viáveis do se depara com cenários diversos e, em
se atrelados ao mercado de fraldas e absor- alguma medida, contraditórios. Em primei-
ventes) e de diversos serem os mercados po- ro lugar, não se pode deixar de discutir os
tenciais para produtos agrícolas, o processo aspectos ligados à desnutrição, incluindo a
de agregação de valor derivado de resultados subnutrição e as deficiências de micronu-
gerados por institutos de pesquisa agrícolas trientes, que geram elevados custos sociais
requer maior aproximação com o setor pro- e econômicos para a sociedade, em todos
dutivo, objetivando a expansão das ações de os países do mundo. As estimativas da FAO
“desenvolvimento pós-validação” e de esca- mostram que, em 2015, 795 milhões de pes-
lonamento de produção. Isso também pode soas estavam subnutridas, o que representa
potencializar a agregação de valor aos pro- 10,9% da população mundial e quase 2 bi-
dutos das cadeias produtivas agrícolas por lhões de pessoas sofriam carência de um ou
meio da inovação aberta (lógica Intel inside), mais nutrientes (The State..., 2015).
tendência muito forte em um ambiente cada
De fato, o mundo tem enfrentado uma crise
vez mais digital.
nutricional com a predominância de dietas
de baixa qualidade em todos os países, o que
torna premente a necessidade de enfrentar

108
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

as consequências das dietas inadequadas, inapropriadas. Ou seja, trata-se de um pro-


tais como aumento do sobrepeso, obesida- blema complexo, cujas causas passam por
de e doenças crônicas não transmissíveis re- questões econômicas, sociais, políticas,
lacionadas à nutrição. Em 2015, 1,33 bilhão ambientais, culturais e fisiológicas muito
de pessoas estavam acima do peso ou obe- mais amplas. Independentemente de seus
sas (Global..., 2016). Ou seja, apesar do pro- fatores, a desnutrição está intimamente li-
gresso significativo que se verifica no comba- gada, direta ou indiretamente, às principais
te à fome, a má nutrição, em todas as suas causas de morte no mundo, constituindo
formas, ainda afeta um terço da população um dos maiores desafios para a sociedade
mundial (The State..., 2013). moderna e para as políticas públicas.

O Brasil, apesar de ter saído do mapa da fome Por sua vez, verifica-se um mercado de ali-
em 2014, ainda conta com milhões de pes- mentos cada dia mais dinâmico e inovador,
soas que não têm acesso regular ao alimento mas que, de alguma forma, também busca
e, assim como nos outros países, também atender a demandas originadas pela baixa
apresenta um quadro de deficit nutricional e qualidade das dietas. O mundo globalizado,
incidência de doenças crônicas relacionadas caracterizado pela aproximação dos merca-
à baixa qualidade da dieta. dos, permite o acesso a produtos alimen-
tícios de diferentes origens, assim como a
informações sobre eles. A globalização e o
aumento da capacidade de consumo, asso-
As tendências atualmente ciados ao estilo de vida moderna, influen-
observadas no segmento ciam os hábitos alimentares das diferentes
camadas da população. As tendências atual-
agroalimentar são mente observadas no segmento agroalimen-
decorrentes de fatores como tar são decorrentes de fatores como a urba-
a urbanização crescente, nização crescente, o aumento da expectativa
de vida, as novas relações de trabalho e a
o aumento da expectativa rapidez no acesso à informação, entre outros
de vida, as novas relações (Les 10..., 2017).

de trabalho e a rapidez no O documento Brasil Food Trends 2010:2020


acesso à informação (Brasil Food Trends, 2010), baseado em estu-
dos internacionais de diferentes institutos e
agências, apresentou os aspectos que repre-
sentam as principais tendências de alimen-
As causas imediatas da má nutrição são tação no mundo, que são: sensorialidade e
complexas e multidimensionais, poden- prazer, saudabilidade e bem-estar, conve-
do-se destacar: acesso insuficiente e/ou niência e praticidade, confiabilidade e quali-
não disponibilidade de alimentos segu- dade, sustentabilidade e ética.
ros, variados e nutritivos; falta de acesso
No Brasil, também se verificou aderência
à água potável; ausência de saneamento
ao observado de forma global. A tendência
e de cuidados de saúde; alimentação in-
“conveniência e praticidade” representa, pro-
fantil inadequada; e escolhas alimentares
porcionalmente, o maior segmento encon-

109
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

trado no País, com 34% dos consumidores (22%), aparece a tendência “sensorialidade e
brasileiros (Figura 30). Trata-se de um seg- prazer”, na qual os consumidores priorizam o
mento motivado pelo ritmo de vida nos cen- sabor e as características sensoriais do pro-
tros urbanos, onde a demanda por produtos duto. Nesse grupo, também se encontram
que permitam economia de tempo e esforço aqueles consumidores com renda um pouco
são a prioridade. A tendência “confiabilidade superior, que valorizam produtos gourmet,
e qualidade” é um pilar que orienta ou deter- especiarias regionais e pagam preços mais
mina as escolhas e a fidelização dos consu- altos por produtos inovadores. E, por fim, no
midores desse grupo (23%), que estão mais Brasil observa-se a fusão entre duas tendên-
conscientes e informados e valorizam pro- cias observadas nos estudos internacionais –
dutos seguros e de qualidade atestada, com saudabilidade e bem-estar e sustentabili-
garantia/certificação de origem e selos de dade e ética –, com 21% dos consumidores
qualidade. Com quase o mesmo percentual (Figura 30).

Tendências observadas para o


consumo de alimentos (%)

21%
Conveniência e praticidade
34%
Confiabilidade e qualidade

Sensorialidade e prazer

22% Saudabilidade e bem-estar


e sustentabilidade e ética
23%

Figura 30. Tendências observadas para o consumo de alimentos.


Fonte: Brasil Food Trends (2010).

110
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Individualmente, essas tendências não estão São demandados tanto produtos frescos que
consolidadas no Brasil, e as duas estão atre- aportem conteúdos relevantes de nutrientes
ladas à atitude do consumidor. O que mais se e compostos antioxidantes, quanto os produ-
destaca nesse grupo é a busca por alimentos tos direcionados a dietas especiais. Para isso,
saudáveis, que possam trazer algum benefício têm sido desenvolvidos produtos com con-
à saúde, entre os quais se podem destacar: teúdo reduzido de substâncias que possam
[
...] produtos benéficos à saúde em diferentes as- causar danos à saúde quando consumidas
pectos, tais como físico, mental, cardiovascular e em excesso, como o sal (condimentos cria-
gastrointestinal; produtos para dietas específicas tivos), o açúcar (sucos mistos integrais) e as
e alergias alimentares; produtos isentos ou com
teores reduzidos de sal, açúcar e gorduras; produ- gorduras (molhos), ou, ainda, produtos isen-
tos com aditivos e ingredientes naturais; produtos tos de substâncias alergênicas (massas ali-
fortificados; produtos diet/light; produtos para es-
portistas; produtos à base de plantas; entre outros mentícias baseadas em leguminosas). Nessa
(Moraes, 2010, p. 45). mesma linha, um desafio é o desenvolvimen-
to de substitutos naturais para o açúcar, o sal
Quase uma década após a divulgação des- e os corantes alimentícios (Food..., 2016).
ses estudos, os segmentos relacionados à
saudabilidade e bem-estar continuam em Em paralelo, buscam-se oferecer alimentos
crescimento constante e vêm se firmando enriquecidos ou combinações de matérias-
como uma tendência consolidada no Brasil -primas e ingredientes na forma de produtos
e no mundo. O mercado global de alimen- com propriedades benéficas para a nutrição
tos funcionais, por exemplo, vem ampliando e a saúde, tais como biofortificados, bebidas
consideravelmente (em 2015, esse mercado mistas, prebióticos e probióticos, bioativos
girou em torno de US$ 130 bilhões, com uma micro e nanoencapsulados, etc.
projeção de crescimento de 92% em 10 anos)
A pesquisa e o desenvolvimento com foco no
(Grand View Research, 2017).
aumento da produtividade devem ser incen-
No horizonte para 2050, verifica-se uma in- tivados, uma vez que as estimativas da FAO
tensificação dessas tendências, associadas indicam que é necessário aumentar em 60%
às novas tecnologias, como, por exemplo, o a produção de alimentos básicos no mundo
controle do alimento ingerido por meio de até 2050, porém deve-se também aumentar o
aplicativos de telefones celulares, a aceita- investimento em pesquisas relacionadas à pro-
ção de comidas “feitas sob demanda”, como dução e à qualidade de frutas, hortaliças, grãos,
o alimento impresso em 3D, que represen- frutos secos e alimentos de origem animal. A
tam uma “personalização” do alimento, as- pesquisa deve englobar o sistema alimentar
sim como o avanço no conhecimento da como um todo, desde a produção agrícola até
microbiota humana e o uso da nutrigenô- a obtenção de alimentos prontos para consu-
mica. Ainda na linha da “personalização” ou mo e que propiciem dietas de alta qualidade.
“individualização” do alimento, verifica-se
Alimentos de qualidade poderão ser obtidos
o crescimento dos mercados de nicho, que
por meio do uso de técnicas moleculares de
atendem a demandas específicas dos consu-
edição de genoma como o CRISPR [Cluste-
midores, em paralelo à redução de mercados
red Regularly Interspaced Short Palindromic
das grandes marcas produtoras de alimentos
Repeat], que poderá contribuir para a obten-
(Moreira, 2016).
ção de matérias-primas agropecuárias com
maior valor nutricional, isenta de compostos

111
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

alergênicos e/ou com características tecno- cias de saudabilidade e bem-estar podem


lógicas mais adequadas. Visando à redução assim ser descritas:
das deficiências em micronutrientes, a pes-
• Redução do número de aditivos e de
quisa em biofortificação em culturas que
alguns tipos de ingredientes utilizados
ainda não foram estudadas continua sendo
na formulação dos produtos, como, por
uma estratégia importante.
exemplo, conservantes, alguns tipos de
Além disso, o conceito de Food Design tende gordura e sódio.
a se fortalecer por priorizar o desenvolvimento
• Utilização de aditivos e ingredientes
de produtos de alto valor agregado, a partir da
naturais em detrimento dos artificiais,
biodiversidade brasileira, direcionados para o
como, por exemplo, emulsificantes, aro-
mercado consumidor interno e externo.
mas e corantes.
Pode-se destacar, portanto, como importan-
• Aumento da oferta de produtos com me-
tes tendências de consumo na temática de
nor densidade energética, maior densi-
alimentos, nutrição e saúde: a) alimentos
dade nutricional, baixo índice glicêmico,
funcionais com características antioxidantes,
com mais proteínas e de saciedade pro-
probióticas, prebióticas, e/ou ingredientes
longada.
funcionais, com foco nas biomoléculas como
fitoesteróis, ácidos graxos, peptídeos, fibras, • Inclusão de frutas e vegetais na formu-
flavonoides, ácidos fenólicos, vitaminas, etc.; lação de uma gama cada vez maior de
b) produtos reduzidos ou isentos de açúcar e produtos.
sódio e gorduras trans; processos e produtos
para fins e públicos-alvo específicos  – atle- • Segmentação da dieta, com o propósito de
tas, idosos, crianças, pessoas com alergias atender os diferentes grupos que podem ser
e intolerâncias alimentares; c) novas fontes formados quando se levam em considera-
proteicas: proteínas de plantas, carne de la- ção as faixas etárias, os estilos de vida, esta-
boratório, algas, coprodutos, insetos; d) pro- dos de ânimo e características genéticas.
dutos com apelos de “tecnologia limpa”, am-
• Aumento da oferta de produtos enrique-
bientalmente amigáveis, isentos de aditivos
cidos e funcionais.
químicos, oriundos da biodiversidade; ingre-
dientes naturais; aproveitamento de copro-
dutos agroindustriais para obtenção de com- Nanotecnologia,
postos de interesse; e) alimentos específicos
para necessidades dietéticas individuais.
bionanocompósitos e
biotecnologia
Em suma, os aspectos relativos à saudabili-
dade e ao bem-estar das pessoas implicam A intensa competição entre os agentes eco-
oportunidades crescentes para elevar o valor nômicos implica a necessidade de constante
agregado aos produtos agrícolas. Isso traz investimento em tecnologias emergentes,
impactos à indústria alimentícia como um que possuam potencial de inovação e de
todo, por meio de, por exemplo, necessidade aumento de competitividade de seus pro-
de redução no processamento e no uso de dutos. Nos últimos anos, a nanotecnologia
aditivos artificiais e inclusão de outros mais tem demonstrado um enorme potencial para
benéficos ao organismo. Algumas tendên- melhorar o desempenho de vários produtos

112
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

e processos, que podem ter um impacto po- Além disso, biossensores têm sido fabricados
sitivo tanto no desenvolvimento de novos com a imobilização de enzimas e outras pro-
produtos, como na agregação de valor a pro- teínas, com alta sensibilidade, pois são ex-
dutos agropecuários. ploradas interações específicas de reconhe-
cimento molecular.
A nanotecnologia permite o conhecimento
da composição, manipulação, otimização A aplicação industrial se desdobra ainda na
de propriedades e também a descoberta indústria de insumos (fertilizantes, pestici-
de novas propriedades da matéria na esca- das), de medicamentos para uso veterinário,
la nanométrica, ou seja, em escala atômica além de setores relacionados ao processa-
e molecular. Assim, a nanotecnologia pode mento e à conservação de alimentos – como,
ser usada também para explorar melhor as por exemplo, pela aplicação de novas gera-
propriedades de vegetais, microrganismos, ções de embalagens inteligentes. As aplica-
enzimas, animais, resíduos e produtos agro- ções não se limitam a essas áreas, porém a
pecuários em geral, permitindo a melhoria característica convergente da nanotecnolo-
do desempenho de suas propriedades ou gia requer atuação multi e transdisciplinar,
descoberta de novas propriedades, funcio- com potencial para fomentar um grande con-
nalidades e aplicações dessas para o desen- junto de cadeias de inovação associadas ao
volvimento de novos produtos com valor produto agropecuário.
agregado. Entre as aplicações, destacam-se,
por exemplo, a extração de nanocelulose de Há um grande interesse mundial no desenvolvi-
resíduos de vegetais, que pode atingir valor mento de tecnologias inseridas no conceito de
agregado cerca de 100 a 1.000 vezes maior, “química verde” que possibilitem a utilização
com propriedades únicas que possibilitam o de produtos de menor impacto ambiental. Na
desenvolvimento de novos produtos, como busca por processos químicos e produtos que
embalagens biodegradáveis, sensores de levem a um ambiente mais limpo, saudável e
alta sensibilidade, filtros de separação e adi- sustentável, destaca-se a aplicação de recur-
tivos para a indústria química. sos naturais na preparação de novos materiais.
Questões relevantes como a biodegradabilida-
No ganho específico de valor dos produtos de e o uso de fontes renováveis são considera-
agrícolas, a nanotecnologia abre possibili- das primordiais para garantir a preservação am-
dades para habilitar ou facilitar processos de biental e proporcionar melhor padrão de vida
rastreabilidade, na qualidade e certificação à sociedade. Nesse contexto, os compósitos
de produtos agrícolas e ainda no monitora- biodegradáveis, produzidos a partir de produ-
mento ambiental, através de novas classes tos e subprodutos agropecuários, têm atraído
de sensores. A nanotecnologia aplicada ao o interesse de muitos pesquisadores. A nano-
desenvolvimento de sensores já demonstrou, tecnologia permite aplicar em novos produtos
por meio dos resultados da língua eletrônica, conceitos associados ao comportamento da
que pode contribuir para avanços da análise matéria em dimensões próximas à dimensão
sensorial e do monitoramento da qualidade atômica. É uma área portadora de futuro, que
de produtos agropecuários, tais como ali- tem se destacado pela imensa permeabilidade
mentos, bebidas, óleos e biocombustíveis, e convergência em áreas relacionadas, desde a
além de permitir a detecção de contaminan- física e a química até a biologia e a agronomia.
tes orgânicos e inorgânicos em solo e água.

113
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Da mesma forma, os bionanocompósitos bioinformática (determinante para dispo-


que contêm nanopartículas atraem atenção nibilizar o acesso a bancos de dados) cons-
para uma ampla faixa de aplicações, notada- tituem o fundamento estrutural e funcional
mente para aquelas em que são desejáveis para o efetivo uso da biologia sintética na
melhor desempenho mecânico e maior esta- engenharia de sistemas biológicos. Entre
bilidade térmica. Isso ocorre porque, mesmo as principais rotas que a biotecnologia de-
em baixas concentrações, a incorporação de verá perseguir estão o domínio de proces-
nanopartículas em matrizes poliméricas re- sos metabólicos de organismos (plantas,
sulta em uma grande área interfacial matriz/ animais e microrganismos) e seu foco em
agente de reforço, que reduz a mobilidade materiais e substâncias de elevado valor,
molecular das cadeias poliméricas e, con- ampliando suas metas para usos não ali-
sequentemente, melhora as propriedades mentares, por exemplo, com aplicações na
térmicas e mecânicas do material. A modi- química, bioquímica, medicina, enferma-
ficação química controlada de superfícies gem, nutrição e energia.
representa outra relevante estratégia para
inserir características diferenciadas em no- Com isso, aumentam-se as possibilidades
vos materiais. Em particular, a modificação para ganhos na produtividade de plantas
química buscando conferir hidrofobicidade a e animais domésticos e na redução dos
polímeros naturais tem sido investigada com danos causados por pragas, doenças e in-
o objetivo de preparar superfícies compatí- vasoras nos sistemas de produção agrope-
veis com meios apolares. cuários. Efeitos positivos são esperados na
melhoria da qualidade e na composição
No âmbito da Embrapa, enorme quantidade nutricional dos produtos, bem como na
de estudos vem sendo feita no intuito de con- eficiência de uso dos recursos. Espera-se,
cretizar as novas ideias que surgem no domí- também, forte protagonismo da biotecno-
nio dos novos materiais e da nanotecnologia. logia na atenuação de estresses bióticos e
De igual importância é a atenção dada às al- abióticos, produtos alimentares desenha-
ternativas que utilizem fontes renováveis e dos para atender às necessidades alimen-
valorizem resíduos em geral. A tendência é tares específicas, combustíveis líquidos
avançar no entendimento da relação estru- produzidos diretamente a partir de gás
tura-propriedade e desenvolver produtos e carbônico, plásticos biodegradáveis e de
processos com potencial inovador e com- biomassa, além de biossensores para mo-
petitivos para um mercado promissor. Nes- nitoramento em tempo real das plantações
se contexto, objetiva-se desenvolver biona- e do ambiente. A transversalidade desse
nocompósitos à base de fontes renováveis, tema é grande e permite atuação em diver-
utilizando a nanotecnologia e técnicas de sas cadeias industriais.
caracterização avançadas.
Globalmente, há um domínio tecnológico
No campo das biotecnologias, há um gran- evidente das grandes empresas de biotec-
de leque de tendências de prospecção de nologia agrícola, e as sete maiores corpo-
novos produtos através de tecnologias rações controlam aproximadamente dois
emergentes, como a genômica, proteômi- terços do mercado global de sementes.
ca, metabolômica e metagenômica. Essas Novos processos de fusão e aquisição leva-
tecnologias sistematizadas por meio da rão à concentração ainda maior no futuro

114
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

próximo. No Brasil, até meados da déca- mente ao aumento do rendimento ou à


da de 1990, a participação de empresas agregação de valor em várias commodities
nacionais de melhoramento genético nos e outros produtos da agricultura.
mercados de sementes de soja e milho era
superior a 70% e 30%, respectivamente. No
entanto, em decorrência de diversas aqui-
Bioeconomia
sições de empresas de capital nacional, da Outro aspecto a ser destacado, é o papel
adoção da Lei de Patentes, em 1996, e da da bioeconomia para agregação de valor. A
Lei de Proteção de Variedades Vegetais, bioeconomia pode ser definida como uma
em 1997, sementes proprietárias foram economia cujos pilares básicos de produ-
introduzidas maciçamente pelas grandes ção, como materiais, químicos e energia,
corporações da agrobiotecnologia no mer- são derivados de recursos renováveis (Bra-
cado brasileiro. Como resultado, a partici- sil 2035, 2017). Nessa “nova” economia, a
pação nacional no mercado de sementes transformação da biomassa possui papel
de soja e milho foi reduzida. central na produção de alimentos, fárma-
cos, fibras, produtos industriais e energia.
Uma característica distinta das grandes
A diferença entre a bioeconomia do passa-
empresas de biotecnologia agrícola é a sua
do e a atual é que esta última tem por base
capacidade de inovação para o desenvol-
o uso intensivo de novos conhecimentos
vimento contínuo de genótipos superiores,
científicos e tecnológicos, como os produ-
utilizando-se ferramentas biotecnológicas.
zidos pela biotecnologia, genômica, biolo-
Para isso, utilizam-se estratégias robustas
gia sintética, bioinformática e engenharia
de pesquisa e desenvolvimento em adição
genética, que contribuem para o desenvol-
ao melhoramento genético convencional,
vimento de processos com base biológica e
fazendo uso de ferramentas biotecnológi-
para a transformação de recursos naturais
cas, tais como marcadores moleculares,
em bens e serviços.
engenharia genética e edição genômica,
com o propósito de gerar novas cultivares É importante ressaltar ainda que, por meio
com maior valor nutricional, resistência a da bioeconomia, há um fortalecimento
herbicidas e pragas e maior tolerância a di- da relação entre agricultura e indústria,
ferentes estresses. Por meio dessas estraté- tornando-as parte do mesmo processo e
gias, milhares de genótipos são avaliados aportando maior valor adicionado para a
anualmente e aqueles selecionados são agricultura, com potencial para contribuir
responsáveis por ganhos de produtividade, para o desenvolvimento econômico do
sobretudo em condições adversas. Global- País. Dessa forma, a bioeconomia tem sido
mente, essa estratégia tem sido bem-suce- vista como uma oportunidade para a agri-
dida na descoberta, no desenvolvimento e cultura brasileira utilizar e aprimorar todo
na comercialização de cultivares, fazendo a o seu potencial de multifuncionalidade,
convergência das mais diversas ferramen- que é a sua capacidade de produção de ali-
tas biotecnológicas. Existem, portanto, vá- mentos, fibras, energia, prestação de servi-
rios exemplos, de transgenes e cisgenes ços ambientais e ecossistêmicos, química
introduzidos por engenharia genética que verde e novos insumos.
foram capazes de melhorar características
agronômicas, levando direta ou indireta-

115
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

assegurando ao mesmo tempo a biodiversi-


dade e a proteção ambiental. A bioeconomia
A bioeconomia tem contempla não apenas setores tradicionais,
sido vista como uma como agricultura, silvicultura e pesca, mas
também setores como as biotecnologias
oportunidade para a e bioenergias. A biotecnologia moderna já
agricultura brasileira possibilita a criação de muitos produtos e
processos que se adequam a esse campo de
utilizar e aprimorar estudo, como energia renovável, alimentos
todo o seu potencial de funcionais e biofortificados, biopolímeros,
biopesticidas, medicamentos e cosméticos.
multifuncionalidade Com os avanços da biologia sintética, a ten-
dência é que cada vez mais surjam biofárma-
cos, bioinsumos e bioprodutos.
As últimas décadas têm sido marcadas por O Brasil possui enorme riqueza natural, mo-
preocupações da população mundial com tivo que abre uma janela de oportunidades
questões ambientais que envolvem o esgota- para seu crescente protagonismo na bioeco-
mento de recursos fósseis e as consequências nomia mundial. Além disso, a competência
da poluição. Nesse contexto, uma demanda do País em bioenergia, aptidões agrícolas
crescente tem surgido em relação a proces- e biotecnologia tornam o Brasil um ator de
sos e produtos baseados na exploração ra- liderança nesse cenário. Para participar de
cional e sustentável de recursos renováveis, maneira significativa desse desafio, é im-
que atraem o interesse de diversos setores portante garantir espaço para produtos ino-
industriais. A expectativa é que os inúmeros vadores e processos de base biológica, em
recursos da biodiversidade brasileira, quan- segmentos vitais como a agricultura, a saúde
do bem caracterizados e racionalmente ex- e as indústrias de materiais, de energia e quí-
plorados pelas novas ciências, possam con- mica. O País precisa adotar políticas que es-
tribuir de forma cada vez mais efetiva com a timulem pesquisadores, cientistas e ambien-
pujança da bioeconomia nacional. talistas, ao mesmo tempo em que facilitem o
A Comissão Europeia, por exemplo, esta- acesso ao vasto patrimônio genético contido
beleceu a bioeconomia como um plano de na biodiversidade de nosso território.
estratégia e ação que incide sobre três as- A utilização de biomassa integral ou residual
pectos fundamentais: desenvolvimento de como matéria-prima para produção de ener-
novas tecnologias e processos; desenvolvi- gia é alternativa sólida no cenário mundial,
mento de mercados e competitividade nos mas ainda contribui com percentual muito
setores; incentivo para que os responsáveis reduzido do total de energias renováveis. En-
políticos e as partes interessadas trabalhem tretanto, à medida que utilizamos a biomas-
juntos (European Union, 2012). A tendência é sa como fonte de energia, novos processos
buscar uma economia inovadora com baixas de conversão de biomassa têm possibilitado
emissões, que concilie as exigências para a produzir inúmeros bioprodutos que, inseri-
agricultura sustentável e a pesca, a seguran- dos no contexto da bioeconomia mundial,
ça alimentar e o uso sustentável dos recursos permitirão ao País diminuir a dependência
biológicos renováveis para fins industriais,

116
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

de recursos de fontes fósseis, reduzindo o im- plantas geneticamente modificadas para uti-
pacto sobre a biodiversidade e sobre o meio lização industrial).
ambiente, além de ampliar o crescimento
econômico. No Brasil, estudos do Ministério de Minas
e Energia (MME), da Empresa de Pesquisa
Estudos conduzidos por organizações da UE Energética (EPE), do Banco Nacional de De-
e dos EUA, como a OECD e a FAO, estimam senvolvimento (BNDES) e do Centro de Ges-
que a substituição de fontes fósseis por fon- tão e Estudos Estratégicos (CGEE)  – organi-
tes renováveis poderia levar à redução nas zação social supervisionada pelo Ministério
emissões de cerca de 2,5 bilhões de tonela- da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)  –
das de CO2 eq. por ano, até 2030. Essa poten- mostram que as principais biorrefinarias se
cial redução vem estimulando a produção e destacam pela produção de biocombustíveis
o consumo de produtos de base biológica, (etanol e biodiesel), de papel e celulose e, em
expandindo o mercado e os empregos asso- menor extensão, de químicos. Considerando
ciados. Para acompanhar esse aumento da biocombustíveis e papel/celulose, a situação
demanda, há necessidade de diversificar ma- do Brasil é relativamente confortável, mas
térias-primas, conhecer suas características, em relação aos químicos o Brasil tem deficit
ter processos para sua conversão e conhecer comercial da ordem de US$ 30 bilhões. Isso
os produtos de base biológica que elas per- se deve ao fato de a produção de químicos a
mitem gerar com os processos que domina- partir de biomassa no País ainda estar na fase
mos hoje. de desenvolvimento de rotas tecnológicas,
principalmente para álcoois, polióis e éteres.
A bioeconomia europeia movimenta mais
de 2 trilhões de euros por ano e emprega Ao analisarmos a atual estrutura das biorre-
mais de 22 milhões de pessoas. Ainda assim finarias nacionais, fica óbvia a pouca flexibi-
enfrenta grandes desafios técnicos e cien- lidade para adoção de múltiplas biomassas,
tíficos. As principais frentes exploradas nas o que dificulta a diversificação de produtos
biorrefinarias no contexto da bioeconomia oferecidos. Esse é o caso, por exemplo, das
mundial são: a) a produção, por processos biorrefinarias de produção de etanol e bio-
químicos, termoquímicos e biológicos, de diesel que se baseiam na cana-de-açúcar e
combustíveis sólidos, líquidos ou gasosos na soja para produzir etanol/açúcar e farelo/
(peletes, biodiesel, etanol e bioquerosene, biodiesel, respectivamente. Para nossa bioe-
hidrogênio, syngas e biogás); b) os químicos conomia se tornar competitiva e nos posi-
verdes (biometanol, ácidos succínico e levu- cionarmos como exportadores de produtos
línico, tolueno, xilenos) e biofertilizantes (ri- de base biológica, teremos de desenvolver
zobactérias fixadoras de N e solubilizadoras soluções inovadoras baseadas em projetos
de P); c) os biopolímeros e biomateriais [poli- modernos de biorrefinarias que permitam
peptídeos, polissacarídeos, poliácido láctico arranjos modulares organizados em conjun-
(PLA), polihidroxibutirato (PHB), compósitos tos de processos para produção de múlti-
de nanofibras de celulose]; d) os produtos plos produtos. Esse modelo é analisado em
da biotecnologia industrial (microrganismos estudo da IEA Bioenergy Task 42. Para isso,
e microalgas melhorados ou modificados organizações de pesquisa deverão ter agen-
geneticamente para produção de químicos, das estratégicas focadas em soluções inova-
enzimas celulolíticas e polímeros, além de doras. Deverão ser ainda capazes de captar

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Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

recursos para suas pesquisas e nas relações 2011; Tiwari; Syväjärvi, 2014; Fakhouri et al.,
de parceria que estabelecerem entre si e o 2015; Salgado et al., 2015).
setor privado. Também, deverão prospectar
tendências tanto científicas e tecnológicas No enfoque dos materiais de fontes minerais
como de mercado e sociopolíticas para de- ou sintéticas, outras aplicações vêm sendo
senvolver os processos, os produtos e as tec- prospectadas com sucesso e há elevado po-
nologias necessárias a essa diversificação. O tencial de que se experimentem ainda maio-
Estado deverá promover políticas, incentivos res avanços nos próximos anos. Sistemas
fiscais e reduzir a burocracia das relações pú- como nanopartículas oxidantes, sistemas
blico-privadas. O setor produtivo e a indús- meso e nanoporosos, entre outros, desti-
tria devem investir em ciência e tecnologia e nam-se a múltiplas aplicações: por exemplo,
ter predisposição para modernização. pode-se utilizar a mesma classe de material
nanoporoso para filtração de água ou libera-
ção controlada de um feromônio. Há, dessa
Novos materiais e forma, oportunidade de agregação de valor
processos pela adequação desses desenvolvimentos a
aplicações específicas, como a racionaliza-
O desenvolvimento de novos materiais cons- ção da aplicação de insumos, a conversão
titui a chave para a consolidação de pro- de produtos agrícolas (particularmente em
dutos e processos inovadores em todas as agroenergia), o tratamento de efluentes gera-
áreas de produção tecnológica e de serviços dos desses processos e a valorização de pro-
a elas atrelados, incluindo-se o agronegócio dutos agroflorestais. Todas essas aplicações
(Wilde, 2016). Nesse sentido, existe a tendên- vêm prospectivamente surgindo no merca-
cia de haver ainda maior interesse e desen- do internacional e, com a redução de custo
volvimento tanto em novos materiais pos- associado ao aumento de escala, têm sido
sivelmente obtidos de produtos agrícolas propostas para uso no meio agropecuário
quanto naqueles destinados ao desenvol- (Tiwari; Syväjärvi, 2014; Ranjan et al., 2016).
vimento de novos processos e produtos de
base agrícola.
Automação
Entre os materiais de fonte renovável, desta-
Tecnologias para automação de processos
cam-se os polímeros naturais (como amido,
vêm continuamente impactando o cená-
poliácido láctico e quitosana), que podem
rio geral de produção de bens, por meio do
ser utilizados na produção de embalagens
aumento específico de produtividade, da
funcionais ou filmes finos protetores de ali-
diminuição de falhas associadas a erro hu-
mentos. Esses materiais vêm continuamen-
mano, da redução do trabalho penoso e de
te ganhando propriedades técnicas que os
riscos operacionais, entre outros impactos
aproximam dos polímeros convencionais,
gerais. No setor agropecuário, a automação
permitindo a substituição (com ganho em
de alguns processos específicos – em exem-
biodegradabilidade) ou a integração com ou-
plos como plantio, colheita, ordenha, abate,
tras funcionalidades – como indicadores da
etc. – já é estabelecida, com perspectivas
qualidade do alimento pela variação de cor,
de intensificação e expansão no mundo e
integração com sistemas com propriedades
no Brasil nas próximas duas décadas. A in-
bactericidas, entre outros (Falguera et al.,

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Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

tensificação da automação das atividades No Brasil, esse tema é incipiente quando com-
agrícolas, atrelada a outros aspectos da de- parado com os Estados Unidos, a Europa, e o
nominada agricultura inteligente – como a Japão. Internacionalmente, o tema tem sido
utilização de sensores e imagens de satélite organizado pela Agricultural Industry Electro-
de alta resolução –, resultará em aumento da nics Foundation (AEF), que congrega cerca de
produtividade e sistemas de produção mais 140 membros, majoritariamente empresas
eficientes (Wilde, 2016). privadas, liderados pelos maiores fabricantes
de máquinas agrícolas. Os temas prioritários
Outra tendência observada na automação apontados pela AEF são a padronização de
são os tratores autônomos que já operam dados de comunicação e de controle entre tra-
na forma de protótipo em diferentes países, tores e implementos (ISO-11783 ou ISOBUS),
inclusive no Brasil, e possui expectativa de o padrão para potência elétrica em máquinas
comercialização até 2023 (Salomão, 2017). A agrícolas e a padronização de dados e informa-
maior eficiência da telemetria tem contribuí- ção do Sistema de Informação para Gestão de
do para essa evolução, pois é possível avaliar Propriedade Agrícola (Farm Management Infor-
a performance, o percurso e a velocidade das mation System – FMIS).
máquinas de forma precisa, permitindo um
desempenho mais eficiente. Há também tendência de uso de ferramentas
digitais (como big data e data mining) para
Ainda que processos associados à produção habilitar processos de automatização em
de commodities agrícolas já disponham de larga escala – que, no entanto, também de-
algumas tecnologias, várias demandas es- pendem do desenvolvimento de novas gera-
pecíficas, com especificidades regionais ou ções de sensores e atuadores, para coleta de
que demandam processos de agregação de dados sistematizados, e da solução de pro-
valor, precisam ainda ser atendidas, inclusive blemas comuns no campo, principalmente
aquelas tipicamente associadas à agricultura relacionados à conectividade (Milovic; Rado-
familiar – que, até o momento, pouco assimi- jevic, 2015; Majumdar et al., 2017). Paulatina-
lou dos processos de automação. mente, essas tecnologias vêm surgindo e se
Porém, apesar de o Brasil apresentar um firmando como tendências para aumento da
grande potencial de protagonismo nessa produtividade e consequente ganho de valor
área, as indústrias de máquinas e equipa- no produto agropecuário final.
mentos agrícolas nacionais ainda depen-
dem de grande contingente de mão de obra Indicação de
pouco qualificada e não possuem um histó-
rico de desenvolvimento de inovação mais procedência e
radical nesse tema. Estudos socioeconômi- denominação de
cos mostraram que a automação em seto-
res industriais criou mais oportunidades de
origem
emprego mais qualificadas, mais seguras e Aspectos relacionados à rotulagem, como
mais especializadas, do que a eliminação de selos de qualidade, denominação de origem,
postos de trabalho, com a consequente am- produtos orgânicos, social e ambientalmen-
pliação de mercado, melhoria de qualidade e te amigáveis, entre outros, estão sendo cada
competitividade de seus produtos. vez mais empregados para agregação de
valor. Apresentação, embalagem, ponto de

119
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

comercialização, marketing e demandas es- garantindo o desenvolvimento sustentável da-


pecíficas de nichos de mercado também têm quelas comunidades. Observa-se tendência de
impactado de forma decisiva muitos merca- crescimento de iniciativas relacionadas à indi-
dos, bem como a imagem que o consumidor cação geográfica de produtos de maneira que
tem de certa marca ou País. Portanto, essas esses sejam associados a altas qualidades e
características podem se tornar valor agre- reputação (nos aspectos ambientais e sociais),
gado ao produto, o qual deve ser percebido fazendo com que os consumidores percebam
pelo comprador. tais características como imputadoras de maior
valor nos produtos (Samper, 2017).
A finalidade de uma indicação geográfica
é a proteção de produtos (ou serviços) que
sejam provenientes de uma determinada Desafios
região, que os tornem diferenciados, únicos
◉◉ Desenvolver novos sistemas de produção
(seja por absorverem peculiaridades – re-
que considerem aspectos da multifuncio-
ferentes a fatores naturais como solo, clima
nalidade do espaço rural, integrando a pro-
e/ou relevo –, seja decorrente de fatores hu-
dução de alimentos, fibras e energia às ativi-
manos – tais como o saber fazer, a tradição
dades econômicas não agrícolas, tais como
ou a cultura de uma determinada comuni-
turismo rural e serviços ecossistêmicos.
dade). Em contrapartida, também se busca
a proteção ao consumidor, ao informá-lo ◉◉ Ampliar a automação e a agricultura de
corretamente sobre o produto que ele está precisão nas cadeias produtivas com foco
consumindo, garantindo sua procedência e na agregação de valor a seus produtos,
genuinidade. Essas características, uma vez serviços e processos.
incorporadas aos produtos, fazem com que
os consumidores percebam maior valor no ◉◉ Intensificar o uso da agricultura de pre-
produto em relação à sua contraparte tradi- cisão para identificar locais de produção
cional (Adding..., 2010; Albert, 2010). mais adequados para culturas e varieda-
des específicas, com certificação de ori-
Especificamente do ponto de vista do produ- gem e procedência.
tor, buscam-se essencialmente dois objetivos.
O primeiro, mais imediato, constitui um acrés- ◉◉ Desenvolver insumos agropecuários de
cimo no preço do bem a ser comercializado – alta eficiência, de liberação prolongada ou
consequência do reconhecimento de sua ori- para compostos-alvo que possam agregar
gem geográfica. O segundo, mais relevante, é a valor às cadeias produtivas agrícolas.
concretização do reconhecimento de um lugar ◉◉ Desenvolver processos de produção, rea-
como originário de um determinado produto, proveitamento e otimização de fontes
que se encontra impregnado da história da- energéticas para a utilização sustentável
quela região e do povo que a habita, bem como de matérias-primas renováveis.
de sua cultura, reputação e constância (Bruch,
2008). Esse reconhecimento não garante ape- ◉◉ Prospectar novos materiais para melhoria
nas o mercado para o produto, mas a perma- de processos agroindustriais, como fertili-
nência daquelas pessoas no lugar, onde elas zação e aplicação de defensivos com libe-
cultivam hábitos transmitidos entre gerações, ração controlada e localizada e desconta-
minação de águas.

120
◉◉ Desenvolver novos materiais a partir de
produtos e resíduos das cadeias produti-
vas agroalimentares para usos alimenta-
res e não alimentares.

◉◉ Gerar novos polímeros, substâncias e bio-


moléculas sintetizadas em plataformas
biotecnológicas.

◉◉ Prospectar a bioacessibilidade, biodispo-


nibilidade e eficácia in vitro e in vivo de
compostos de interesse estratégico para a
agricultura.

◉◉ Desenvolver técnicas de processamento


de alimentos para obtenção de novos pro-
dutos industrializados, para públicos-alvo
específicos – atletas, idosos, crianças, en-
tre outros – e para nutrição animal.

◉◉ Identificar materiais da agrobiodiversida-


de brasileira com potencial para uso co-
mercial ou incorporação a programas de
melhoramento genético.

◉◉ Promover ações de agregação de valor


para a geração de renda na agricultura fa-
miliar.

◉◉ Desenvolver mecanismos para certifica-


ção de produtos oriundos dos sistemas
integrados.

◉◉ Analisar e caracterizar a potencialidade


da agrobiodiversidade para a geração de
biocombustíveis (especialmente etanol e
biodiesel) e produtos da química verde.
protagonismo
dos consumidores
122
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

A tecnologia da informação e seus acelera- tado na agroindústria para desenvolver pro-


dos avanços, como as mídias sociais e as dutos alimentícios de valor agregado, a partir
plataformas digitais  – como as de comércio de subprodutos ou excedentes que seriam
eletrônico  –, transformaram as formas de re- descartados – tendência em crescimento na
lacionamento, interação e comunicação entre Europa e nos Estados Unidos e com poten-
empresas e consumidores. Os computado- cial de inserção no Brasil nos próximos anos.
res e celulares cada vez mais acessíveis, a in-
A tendência dos indivíduos de modificar há-
ternet de baixo custo, a fonte aberta e o Wi-Fi
possibilitam acesso à informação e propiciam bitos já estabelecidos é resultado dos am-
crescente protagonismo do consumidor na plos e complexos movimentos econômicos,
tomada de decisão na hora de comprar, bem sociais, culturais e políticos que constante-
como no compartilhamento de experiências mente influenciam a vida das pessoas. Ques-
e controle de produtos e marcas. O avanço da tões como nível de escolaridade, incremento
economia digital e colaborativa82 incrementam, de renda e envelhecimento da sociedade,
além do nível de informações, as habilidades e entre outras, têm um peso importante na
o engajamento dos consumidores, bem como determinação das mudanças no padrão de
as condições necessárias para que ele seja consumo. Os principais estudos realizados
crescentemente protagonista nas decisões nos sobre mudanças das tendências do consumo
processos produtivos (seu empoderamento) alimentar indicaram como determinantes os
(Gazzola et al., 2017). seguintes fatores: crescimento da população,
urbanização, educação e informação, estru-
A transformação impulsionada pelo protago- tura etária e familiar e renda. Algumas dessas
nismo dos consumidores tem gerado novos tendências identificadas foram assim conso-
modelos de negócios e oportunidades em lidadas (Brasil Food Trends, 2010): sensoria-
diversos setores, entre os quais o agroin- lidade e prazer, saudabilidade e bem-estar,
dustrial. Contudo, ao mesmo tempo produz conveniência e praticidade, confiabilidade e
desafios para os tomadores de decisão em qualidade, e sustentabilidade e ética.
diversos âmbitos: política de concorrência,
proteção e privacidade dos consumidores, Em mercados mais heterogêneos  – com dife-
tributação, direitos de propriedade intelec- renças acentuadas entre as classes sociais  –,
tual, entre outros (Gazzola et al., 2017). como o brasileiro, o protagonismo do consu-
midor no setor agroalimentar tende a ser pu-
Analisando especificamente o setor agroali- xado pelas classes com maior poder de com-
mentar, o crescente protagonismo dos con- pra. Contudo, análises do comportamento do
sumidores pode ser evidenciado pela emer- consumidor, apontam que mesmo aqueles de
gência de novos modelos de negócio, tais classe média baixa valorizam características
como o de venda direta do produtor, lança- nos alimentos que vão além do preço (como
mento de produtos alimentícios cocriados saudabilidade, sabor e qualidade percebida na
por consumidores e, ainda, o upcycling, ado- decisão de compra) (Parente et al., 2005; Rocha,
2017), embora esse ainda seja, em geral, o prin-
82
A chamada economia colaborativa resulta da maior
interação com os consumidores nos processos de en- cipal atributo para esse consumidor.
trega de valor e está em franca expansão no cenário
internacional. Exemplo desses fenômenos é o fato de Analisando o outro lado da cadeia de valor,
a economia colaborativa ter dobrado de tamanho na nos próximos 10 anos as empresas e as redes
União Europeia de 2014 para 2015, quando movimen-
tou 28 bilhões de euros (European Commission, 2016). serão mais valorizadas pela inclusão dos pe-

123
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

quenos produtores e pela incorporação da mente, das produtivas. Esse empoderamento


responsabilidade social corporativa em seus é, ao mesmo tempo, causa e efeito de outras
negócios, tanto em termos de compliance, tendências, como a expansão da economia
quanto de execução e comunicação de práti- global, o rápido crescimento de países em
cas empresariais ambientalmente corretas e desenvolvimento e a exploração de novas
socialmente justas. Também será observado formas de comunicação.
o crescimento das redes de fair trade, com
tendência de crescimento das certificações Os consumidores, quando optam conjunta-
de comércio justo. A criação de incentivos mente pela mesma escolha, formam grupos
para associações e cooperativas deverá ser que são capazes de exercer influência nas to-
um dos focos dos governos (Neves, 2014). madas de decisão produtiva. Contudo, parte
desse poder de influência só é possível nas
Três indutores globais inter-relacionados condições atuais de avanços sociais e econô-
fornecem um quadro geral para caracterizar micos, em que não há, estruturalmente, em
cadeias de suprimentos de alimentos e ten- escala mundial, insuficiência de produção.
dências futuras: urbanização e concentração A produção ampliada, como a que tem sido
do setor agrícola; transição, segmentação e observada nas últimas décadas, permite aos
mudança das dietas; e aumento do comércio consumidores usufruir de certo “poder de de-
globalizado (Parfitt et al., 2010). Esses indu- cisão”, que seria muito mais limitado numa
tores atrelados ao crescente protagonismo época de restrição da oferta de alimentos (ou
dos consumidores indicam que as cadeias de produtos industrializados). Ou seja, o con-
produtivas agrícolas e afins terão de concen- sumo é um dos elos das cadeias produtivas,
trar suas ações no fornecimento de produtos os quais são mutuamente dependentes, não
com as seguintes características: a) ambien- sendo possível considerar que qualquer um
talmente amigáveis; b) adaptados às neces- deles, separadamente, determine os demais.
sidades de conforto e praticidade dos con-
sumidores; c) com opções de diferenciação As TIC permitem que os consumidores pos-
apropriadas aos novos hábitos alimentares; sam conhecer melhor o que consomem,
d) adequados às características modernas de acompanhar a reputação das marcas, ava-
unidades familiares com menor número de liar empresas concorrentes, ter mais infor-
indivíduos, o que implica embalagens meno- mações sobre principais características,
res, alimentos minimamente processados e desenvolvimento, qualidade e relação custo-
com maior vida útil. -benefício dos produtos e serviços à sua dis-
posição. O indivíduo empoderado nas suas
ações de consumo quer obter o que deseja
As tecnologias da e, ao mesmo tempo, evitar o que não deseja.
informação e comunicação E esse indivíduo pode fazer isso porque tem
as ferramentas das TIC em sua mochila e em
e o empoderamento seu bolso (Vision Critical, 2017). A influência
individual das TIC na decisão final do consumidor se
apresenta para os mais diversos produtos,
O empoderamento individual implica a ne- incluindo produtos agrícolas – a era digital
cessidade de que o consumidor consolide envolve uma geração conectada. Há uma
seu papel no direcionamento das decisões expressão popularmente utilizada que diz
econômicas, de maneira geral, e, especial-

124
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

“quem tem informação tem poder”, e a co- dição necessária para isso, não é suficiente.
nectividade permitiu ao consumidor o com- Uma das mais fortes mudanças que direcio-
partilhamento de informações e trocas de narão o mercado e o futuro de muitas empre-
experiências de forma rápida e eficiente. Esse sas será o controle exercido pelo consumidor
consumidor acredita que a multicanalidade83 no seu relacionamento comercial e nas suas
é algo natural e exige integração entre todos escolhas de compra. Assim, é imperativo que
os meios. as empresas se adaptem e se transformem
para atender ao “novo consumidor”.
Não é de se surpreender que, nessa era de
amplas e profundas transformações ocasio- A informação cada vez mais compartilhada
nadas pelas TIC, uma das principais forças por meio das mídias sociais molda o novo
formadoras da visão de futuro da agricultu- consumidor, detentor de muita informação e
ra brasileira seja a influência exercida pelo opiniões sobre saúde, alimentação e diversi-
novo consumidor, cada vez mais conectado. dade de produtos existentes no mercado. A
Munido de mais informação e maior conheci- mais recente pesquisa brasileira de domicí-
mento acerca dos produtos oferecidos e seus lios em 2015 mostra que 58% da população
preços, esse agente econômico se torna cada brasileira já usava a internet – o que repre-
vez mais um determinador dos atributos que senta 102 milhões de internautas. Indivíduos
deseja, potencializado pelas oportunidades crescentemente interligados com seus gad-
e ferramentas digitais. Contudo, o crescen- gets continuamente conectados à rede (web)
te protagonismo dos indivíduos enquanto e com acesso a qualquer tipo de informação
agentes decisórios (especialmente no as- em tempo real são fortes formadores de opi-
pecto econômico  – consumidores) apenas nião em seus círculos de influência, o que de-
ocorre quando os consumidores podem e monstra que a confiança que eles depositam
decidem se beneficiar desses instrumentos. nas organizações (fornecedores) impacta
fortemente a sobrevivência delas (IBM, 2011).
O consumidor visto como um indivíduo pas- Nesse ambiente, a informação confiável e
sivo e à mercê das manipulações das em- completa que é repassada ao consumidor é
presas é apenas uma caricatura do passado. de extrema importância para que uma em-
Atualmente, ele se caracteriza por enorme presa permaneça no mercado. Caso se sinta
participação em redes sociais e por maiores ludibriado e/ou lesado, o consumidor tende
conhecimentos a respeito de seus direitos e a abandonar o fornecedor que tenha lhe cau-
deveres. Esse dinamismo decorrente da co- sado esse sentimento e a influenciar outras
municação mais ampla e rápida, bem como pessoas.
a conscientização a respeito do potencial
econômico individual, favorece a circulação Mesmo considerando que o Brasil permane-
imediata e abrangente de informações e ce sendo um País de baixa escolaridade, com
opiniões, aumentando de forma crescente 51% da população adulta tendo concluído
o poder de influência que o novo consumi- apenas o ensino fundamental e com índice
dor exerce sobre os mercados e processos de igualmente elevado de analfabetismo fun-
produção. Embora a conectividade seja con- cional, percebe-se que o protagonismo dos
consumidores deve ser impulsionado nas
83
Multiplicidade de canais de interação/comunicação próximas décadas em razão do maior aces-
consumidor-empresa: canais tradicionais – lojas físi- so às informações por meio de novas mídias
cas, lojas virtuais –, internet, aplicativos, entre outros.

125
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

(IBGE, 2017). Essa é uma tendência consoli- vez mais os consumidores com informações
dada, mesmo no contexto da classe média de qualidade, ou melhor, informações emba-
baixa brasileira, como apontam estudos re- sadas cientificamente sobre temas sensíveis
centes. Mesmo na zona rural, por exemplo, relacionados à agricultura, por exemplo, so-
o WhatsApp já é o principal meio de comu- bre o adequado uso de insumos agrícolas e
nicação no Brasil, sendo utilizado por 96% o bem-estar animal. Tendência que caminha
dos produtores rurais que possuem acesso em conjunto com a anterior é o marketing
à internet, e 61% dos produtores já utilizam direcionado decorrente de análises em gran-
celulares inteligentes ou smartphones (Asso- des bases de dados (big data).
ciação Brasileira de Marketing Rural e Agro-
O atendimento às demandas dos consumi-
negócio, 2017).
dores exigirá crescente coordenação dos
Outras análises do mercado nacional, foca- atores das cadeias produtivas. Para organi-
das em áreas urbanas, apontam que prin- zações dedicadas diretamente à pesquisa,
cipalmente o segmento mais jovem utili- o conhecimento do perfil, das necessidades
za smartphones, compara preços, valoriza e dos desejos desse novo consumidor é um
marcas e caminha para ser um consumidor elemento essencial para suas atividades. En-
omnichannel84, tais como os consumidores tretanto, cabe assinalar que os consumidores
de renda mais elevada. O Brasil possuía, no não são apenas aqueles que atuam no final
primeiro semestre de 2017, 198 milhões de da cadeia de valor (consumidor ou cliente
smartphones em uso, com estimativa de al- final). Os agentes produtivos85 que utilizam
cançar um smartphone por habitante antes as tecnologias, produtos e serviços gerados
do início de 2018 (Meirelles, 2017). Tais ca- pela organização fazem parte dos consumi-
racterísticas apontam para a tendência, tam- dores intermediários, que também influen-
bém no Brasil, de avanço do protagonismo ciam as atividades de pesquisa. Portanto, o
dos consumidores. aprofundamento do conhecimento empírico
sobre a realidade das atividades desenvol-
Há uma tendência global crescente de as or- vidas por esses públicos deve ser objeto de
ganizações dos diferentes elos das cadeias atenção constante.
produtivas atuarem na comunicação com
esses novos consumidores, fornecendo a A análise dos consumidores, bem como as
eles informações que possam melhorar seu transformações estruturais, tendências de
conhecimento, impactando suas opiniões. mercados e mudanças tecnológicas em
Entre diversas ações, as organizações das curso devem ser examinadas no intuito de
cadeias produtivas agrícolas proverão cada contribuir para os processos de definição da
agenda de pesquisa e formulação de políti-
84
Por meio da tecnologia, o novo consumidor omni- cas públicas. Ressalte-se que o Brasil, com
channel tornou-se onipresente: acessa informações participação expressiva e crescente no mer-
e interage com as empresas nas mais diversas pla- cado mundial de produtos da agricultura,
taformas, muitas vezes ao mesmo tempo em canais
on-lineonline e presencial. Seus hábitos de busca por especialmente de alimentos, se quiser man-
informações, de escolha por produtos e serviços e, con- ter sua competitividade mundial, não pode
sequentemente, de interação acabam por exigir das
organizações novos processos que, estruturalmente, 85
No caso de uma organização de P&D como a Embra-
possuem maior interatividade e conectividade (Ceri- pa, os produtores rurais, as agroindústrias, provedores
belli, 2014; Almeida et al., 2017). de insumos, entre outros atores relevantes das cadeias
de valor da agricultura e pecuária.

126
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

considerar somente o mercado interno, mas grandes cidades e ao envelhecimento da po-


também as demandas e exigências do mer- pulação, influenciando a busca por uma vida
cado externo. mais saudável (Brasil Food Trends, 2010). Os
segmentos de consumo que surgem a partir
Consumo de dessa tendência são os seguintes: alimentos
funcionais (produtos com propriedades an-
alimentos e nichos de tioxidantes, produtos para a saúde gastroin-
mercados testinal), produtos para dietas específicas e
controle de peso com redução ou eliminação
Estudos realizados sobre mudanças das ten- de nutrientes calóricos (produtos para ce-
dências do consumo alimentar indicam que líacos, produtos sem açúcar, produtos para
o crescimento da população, urbanização, saciar o apetite); e uma nova geração de pro-
educação e informação, a estrutura etária e dutos naturais que se sobrepõem aos produ-
familiar e a renda são fatores determinantes tos orgânicos (chocolate, misturas para bolo,
nas tendências de consumo de alimentos. ketchup), com eliminação de aditivos quími-
Algumas dessas tendências são discutidas cos, entre outras características. Os produtos
nesta seção (Brasil Food Trends, 2010). com propriedades cosméticas também são
considerados como um mercado bastante
A tendência “sensorialidade e prazer” vem
promissor. A obesidade, observada na po-
direcionando o anseio de consumidores por
pulação de diversos países, tem estimulado
novos produtos que valorizam cada vez mais
segmento diet/light, aliado a produtos com
as artes culinárias e experiências gastronô-
ingredientes específicos para queimar calo-
micas  – consumidores esses denominados
rias e saciar o apetite.
de foodies, que sustentam o crescimento de
segmentos de produtos relacionados à gas- O ritmo de vida nos centros urbanos e as mu-
tronomia, cozinha caseira e socialização em danças verificadas na estrutura tradicional
torno da alimentação. Destacam-se produ- das famílias estimulam a demanda por pro-
tos sofisticados, obtidos de matéria-prima dutos que permitam a economia de tempo e
ou ingredientes selecionados, de maior valor esforço dos consumidores. A tendência “con-
agregado, como os produtos gourmet e pre- veniência e praticidade” rege o surgimento
mium, por exemplo, azeites em edições es- de produtos prontos ou semiprontos para o
peciais obtidos por processos mais elabora- preparo de refeições, ou produtos em peque-
dos, chocolates de produção artesanal com nas porções (snacking e finger food) e emba-
maior teor de cacau, produtos de receitas lados em porções individuais (monodoses)
tradicionais com referências a entes queridos de fácil abertura, para serem consumidos
ou incentivando a refeição em família. Essa fora do lar em diferentes contextos, além dos
tendência está relacionada, entre outros fa- produtos de delivery. Todavia, essa tendên-
tores, com o aumento do nível de educação, cia converge com a necessidade de saudabi-
informação e renda da população (Brasil lidade e bem-estar, aumentando as deman-
Food Trends, 2010). das por produtos com essas características,
como bebidas naturais, iogurtes, snacks de
A tendência “saudabilidade e bem-estar”
vegetais, entre outros. Segundo pesquisa
origina-se nas descobertas científicas que
da Federação das Indústrias do Estado de
vinculam determinadas dietas à boa saúde
São Paulo (Fiesp) (Brasil Food Trends, 2010),
ou doenças, aliadas ao estilo de vida das

127
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

34% dos consumidores brasileiros, divididos estão sendo consideradas pelas empresas.
igualmente entre as classes sociais A, B e C, Muitos negócios já estão nascendo em for-
valorizam a conveniência e a praticidade, for- matos digitais, com a oferta de experiên-
mando o maior segmento atitudinal do País. cias novas ao consumidor. Exemplo disso
Essa prioridade é devida ao trabalho em tem- é o mercado das refeições prontas para a
po integral e ao pouco tempo para cuidar da alimentação dentro do lar  – embalagens
casa, dos filhos e da alimentação da família. com porções individuais, alimentos de fácil
e rápido preparo, embalagens para micro-
Consumidores mais conscientes e informa-
-ondas, serviços de delivery, etc.
dos valorizam a tendência “confiabilidade
e qualidade”, demandando produtos segu- Embora haja tendência – recentemente origi-
ros e de qualidade atestada. Essa tendência nada na Europa – de aumento da compra de
valoriza a garantia de origem, os selos de produtos locais (comércio local), de maneira
qualidade, a tipicidade, a certificação e a generalizada, observa-se a mudança da ló-
rastreabilidade de alimentos. A rastreabili- gica do mercado de um padrão centrado na
dade e a garantia de origem, bem como os aquisição de produtos comercializados em
certificados de sistemas de gestão de quali- um raio restrito ao local de moradia – padrão
dade e segurança e a rotulagem informativa, do século 20 – para outro centrado no con-
são formas de comunicação que contribuem sumidor empoderado, com uso de ferramen-
para a credibilidade das marcas e aumenta a tas on-line para comparação entre produtos,
confiança, a preferência e a fidelização dos marcas e fornecedores de todo o globo, bus-
consumidores. ca por economia e praticidade – padrão do
século 2186.
A exigência por qualidade de produtos e pro-
cessos acaba por levar às preocupações com A integração dos canais que as empresas uti-
“sustentabilidade e ética” na relação com o lizam para interagir com os consumidores in-
meio ambiente e nas relações sociais e de crementam o maior protagonismo do consu-
trabalho, de forma a contribuir com as pe- midor. O chamado consumidor omnichannel
quenas comunidades agrícolas por meio da utiliza os canais on e off-line simultaneamen-
compra de seus produtos alimentícios locais te, e toma decisões baseadas em interações
(comércio local). Em relação à sustentabili- multicanais. A tendência de integração dos
dade ambiental, os consumidores valorizam canais impacta, por exemplo, na forma pela
aspectos como menor “pegada” de carbono qual o consumidor avalia a qualidade do pro-
e hídrica, menor impacto ambiental, emba- duto ou serviço, pesquisa preços e efetua as
lagens recicláveis, produtos não associados compras. Nesse novo modelo, a experiência
aos maus-tratos de animais, certificações de na loja física é complementada pela intera-
origem, comércio justo, responsabilidade so- ção digital e vice-versa. Nos Estados Unidos,
cial, etc. 73% dos consumidores já utilizam múltiplos
canais durante a jornada de compras e há
Contudo, atualmente as empresas reco- tendência de crescimento no Brasil. Esse
nhecem que o tempo, a energia e a atenção
devem ser valorizados, pois são necessá- 86
Apenas como ilustração do impacto dessa mudança
rios para a compra. A facilidade e a prati- de padrão, identificou-se, em 2008, que os consumido-
cidade que os consumidores desejam no res do Reino Unido, da Alemanha e da França, econo-
mizaram aproximadamente 980 milhões de euros em
momento de adquirir produtos e serviços novos produtos no eBay (2009).

128
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

perfil de consumidor pode, por exemplo, co- mo propósito, o de reduzir os impactos das
nhecer um vinho em loja física, mas efetuar a ações do homem sobre o meio ambiente, for-
compra on-line. As agroindústrias e o varejo talecendo a perspectiva do desenvolvimento
de alimentos também estão sendo impac- sustentável. Nesse contexto, o “movimento
tados pela integração dos canais, por meio verde” se intensifica cada vez mais e oferece
dos quais o consumidor tem maior acesso à novas oportunidades de negócios, incluindo
informação e maior poder de influência no o desenvolvimento de energias mais limpas
momento da compra. Da mesma forma, as e a resposta às demandas dos consumidores
vendas diretas do produtor rural para o con- por produtos ecologicamente amigáveis.
sumidor, modelo que ganha força nos EUA
por meio dos farmers markets e dos progra- Os novos consumidores estão mais atentos
mas de agricultura comunitária (Community quanto aos processos produtivos que im-
Supported Agriculture – CSA) também estão pactam negativamente o meio ambiente
fortemente presentes nos países da Europa e/ou causam danos à saúde humana, por
ocidental e podem crescer ainda mais com a exemplo, sistemas de produção que fazem
emergência do omnichannel. uso excessivo de agrotóxicos ou que provo-
cam desmatamento e degradação dos re-
Mudanças nos valores e nas atitudes dos con- cursos naturais ou aumentam a emissão de
sumidores conscientes têm grande influência gases de efeito estufa. Essa tendência sina-
nos padrões de consumo individuais, na defi- liza a necessidade de ampliar esforços para
nição de políticas públicas e nos sistemas de o desenvolvimento de inseticidas, fertili-
produção de alimentos. O maior protagonis- zantes e herbicidas biológicos, assim como
mo do consumidor poderá afetar questões de novas tecnologias e práticas de menor
de segurança alimentar e governança dos impacto ambiental para o controle de pra-
sistemas agroalimentares, como aquelas que gas e doenças e a criação de sistemas de
envolvem interesses nacionais e soberania produção sustentáveis, como os sistemas
alimentar; restrições à aceitação de tecno- de integração agropecuária (lavoura-pe-
logias modernas na produção de alimentos cuária), silvipastoril (pecuária-floresta) e
(por exemplo, modificação genética, nano- agrossilvipastoril (lavoura-pecuária-flores-
tecnologia, clonagem de animais, biologia ta) – utilizados na produção da Carne Car-
sintética); valorização de sistemas de produ- bono Neutro.
ção altamente especializados (por exemplo,
orgânico, biodinâmico, sustentáveis, con- O mercado de alimentos e bebidas orgânicos
servacionistas); aumento da preocupação deverá alcançar US$ 320,5 bilhões até 2025
com o bem-estar animal; maior importância (hoje alcança cerca de US$ 78 bilhões), sen-
da sustentabilidade ambiental e proteção à do representado principalmente por frutas e
biodiversidade; e questões de equidade e co- hortaliças (37%) (Grand View Research, 2017).
mércio justo. Esforços da Agência Brasileira de Promoção
de Exportações e Investimentos (Apex Brasil)
A crescente pressão sobre o uso consciente permitiram o reconhecimento de produtos
dos recursos naturais incita o enfrentamen- orgânicos do Brasil em outros países, com
to às alterações climáticas e ao problema do mais de 70 empresas e um portfólio acima de
esgotamento desses recursos. Essa necessi- 1.000 produtos classificados e reconhecidos.
dade liga empresas e consumidores no mes- Com movimentação na ordem de R$ 2,5 bi-

129
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

lhões por ano, a indústria iniciou um proces- de alimentos e bebidas saudáveis alcançou
so de estruturação dessas cadeias, a partir de R$ 93,6 bilhões em vendas, colocando o País
pequenos grupos de produtos e agricultores em quinto lugar no ranking dos países nes-
familiares, seguido pelo setor secundário, se setor (Dino, 2017). Enquanto as vendas de
envolvendo pequenos investidores voltados alimentos e bebidas tradicionais cresceram
para o mercado de orgânicos processados. 67% nos últimos cinco anos no Brasil, as de
O mercado mundial cresce, em média, 20% produtos saudáveis aumentaram 98% no
ao ano e possui suporte do setor público, por mesmo período. Em média, o brasileiro gas-
meio de políticas e normas de regulamenta- ta US$ 119 por ano na compra de produtos
ção, organização e informação das cadeias mais saudáveis, ainda distante das popu-
produtivas (Research Institute of Organic lações dos EUA e da Inglaterra, com gastos
Agriculture, 2017; Willer; Lernoud, 2017). aproximados de US$ 513 e US$ 473 ao ano,
respectivamente (Gomes, 2017).
Em paralelo aos orgânicos, um movimento
de valorização e diferenciação de produtos Existe demanda crescente por alimentos
tem se destacado: o mercado gourmet, em originários de sistemas alternativos de pro-
evidência crescente pelas grandes redes va- dução agrícola, em resposta ao modelo pre-
rejistas. Nos Estados Unidos, no Japão e na dominante da agricultura convencional de
Espanha, a popularidade da gastronomia é produção intensiva e em larga escala. Além
considerada como uma oportunidade para disso, os novos consumidores apresentam
lançar produtos que orientem e facilitem os interesse crescente pela valorização do bem-
consumidores no preparo de receitas. Ape- -estar animal e por produtos mais naturais
sar de essa tendência estar mais consolida- (menor nível de processamento/industriali-
da nos países desenvolvidos, no Brasil já há zação), provenientes de sistemas de produ-
um movimento similar. Um exemplo disso é ção, que, como os orgânicos, não utilizam
a participação de chefs de cozinha em pro- insumos químicos.
cessos de PD&I das grandes empresas ali-
mentícias ou a assinatura de chefs famosos Há uma parcela do mercado consumidor que
no lançamento de produtos no mercado na- valoriza também produtos alimentícios com
cional. Ainda nessa linha, outros consumido- indicação de “comércio justo” (fairtrade). Os
selos Fairtrade e Bem-Estar Animal tendem
res estão se tornando alvo das indústrias: os
foodies com pouca disponibilidade de tem- a ganhar mais espaço no mercado interno e
po, que procuram opções saborosas, mas contribuem para o melhor posicionamento
que poupem tempo de preparo e consumo e dos produtos no mercado exterior, tendência
sejam saudáveis. essa que passa a ser uma obrigatoriedade e
não mais um diferencial. Além disso, perma-
Outras segmentações de mercado para pú- nece a correlação direta entre a valorização
blicos específicos ganham espaço e fazem dos aspectos de comércio justo e bem-estar
parte das linhas de pesquisa de grandes gru- animal com o nível educacional do consumi-
pos voltados para o setor de alimentos. Des- dor. Mercados com médias mais elevadas de
tacam-se os produtos isentos de lactose e escolaridade da população, tais como o Ca-
de glúten, sem aditivos e corantes artificiais, nadá e os países do norte europeu, valorizam
sem açúcar refinado e veganos ou vegetaria- mais esses fatores.
nos. Somente em 2016, o mercado brasileiro

130
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Outro segmento crescente de mercado é o lorizam cada vez mais a autenticidade, o que
de consumidores que buscam experiências reflete na busca de produtos típicos e regio-
únicas de consumo e autenticidade. Os pro- nais, além da valorização do ambiente natu-
fissionais de marketing estão, cada vez mais, ral, da população e da cultura local. O turis-
se afastando do marketing tradicional de mo rural possibilita aos viajantes o contato
“características e benefícios” e explorando com a natureza, com a agricultura e cultura
um novo conceito que busca criar experiên- locais, contribuindo para o desenvolvimen-
cias para os seus clientes. Os consumidores to regional. Além disso, o rural traz aspectos
atuais consideram a qualidade e os benefí- simbólicos e recursos que se perderam na
cios dos produtos “coisas normais”, e que- sociedade contemporânea, como ar puro,
rem produtos que estimulem os sentidos silêncio, cores e odores originais, biodiversi-
e mexam com as emoções, desejando ex- dade, entre outros.
periências. A sociedade, caracterizada pelo
consumo emocional, demanda atributos Embora a valorização de alimentos perce-
intangíveis, como as sensações, as vivências bidos como "sustentáveis" seja uma ten-
e os sentimentos, que fascinam e impactam dência consolidada, há também um amplo
o consumidor, convertendo-se em experiên- segmento da população, notadamente em
cias únicas e memoráveis. países como o Brasil, que está começando
a inserir-se no mercado e tende a consumir
A busca por aspectos exclusivos, autênticos mais produtos alimentícios processados. Se,
e singulares representa uma oportunidade por um lado, há a busca pelo consumo ver-
para a agricultura nacional. Alimentos úni- de, por outro, a maior parcela do mercado
cos, derivados das diversas espécies nativas consumidor da classe C está abandonando
dos biomas brasileiros, contribuem para in- as dietas consideradas saudáveis, baseadas
crementar a percepção de autenticidade dos em alimentos frescos. A relação inversa entre
produtos, fator diferencial importante para renda e consumo de alimentos processados
agregar valor à produção agropecuária brasi- contribui para o crescimento das indústrias
leira. A autenticidade tende a ser valorizada de alimentos no Brasil, mas, paralelamente,
pelo mercado internacional e, internamente, tem aumentado os níveis de obesidade87, so-
atende a nichos crescentes de mercado. Por bretudo na população de baixa renda. A ten-
exemplo, produtos com apelo regional são dência do consumo de frutas e hortaliças, por
diferenciais para o varejo de alimentos e for- exemplo, é maior entre o segmento de renda
talecem também a relação entre agricultura mais elevada, o que exige o estabelecimento
e turismo. Em mercados mais maduros, tais de estratégias de distribuição e educação nu-
como o italiano, o francês e o norte-ameri- tricional para atender a classe média baixa.
cano, a tipicidade é valorizada pelo merca-
Do ponto de vista da pesquisa agropecuária,
do consumidor e contribui para aumentar a
há muitas oportunidades derivadas da ten-
margem de lucro de pequenos produtores
dência de crescimento da classe C brasileira
e cooperativas agrícolas que comercializam
no horizonte até 2030. Os hábitos de con-
produtos percebidos como autênticos.
sumo da classe C possuem peculiaridades
Outra oportunidade para aumentar receitas que diferenciam esse segmento da classe
cambiais, gerar emprego e renda é o turismo 87
Em âmbito mundial, a obesidade triplicou desde
rural. No mundo globalizado, os turistas va- 1975 (World Health Organization, 2017; World Obesity,
2018).

131
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

média alta e, dada a correlação entre ocor- fortificadas lançadas no mercado, enquanto
rência de doenças derivadas da má nutrição outras culturas são objeto de pesquisa em
e as classes sociais mais baixas, deve-se, por andamento. A perspectiva é que o interesse
exemplo, empenhar esforços direcionados por produtos com esses atributos continue
a ampliar a biofortificação e promover o ali- aumentando nos próximos anos.
nhamento de pesquisas com a temática de
nutrição e saúde (Global Panel, 2015, 2016; Esse ambiente em que o consumidor está
Bouis; Saltzman, 2017). crescentemente mais atento às característi-
cas dos alimentos que consome e os impac-
Outro nicho de mercado com tendência de tos que causam em sua saúde e tem maior
expansão é o de alimentos isentos de anti- acesso a informações, torna-o também mais
bióticos, principalmente carnes. Diversas ca- suscetível a ser influenciado por conteúdos
deias de fast-food já adotaram a política de que indiquem benefícios no consumo de de-
servir somente refeições produzidas a partir terminado alimento. Nesse sentido, proces-
de matéria-prima sem antibióticos. A Organi- sos amplos de marketing88 e pesquisas cien-
zação Mundial da Saúde (OMS) elaborou um tíficas que estimulem os cidadãos a manter
plano mundial, exigindo que todos os paí- ou aumentar seu consumo de determinados
ses desenvolvam planos de ação nacionais produtos (commodities alimentares) em fun-
para reduzir o uso excessivo de antibióticos ção dos seus impactos para a saúde89 têm
na produção animal (Global Opportunity sido realizados nos Estados Unidos desde o
Report, 2016). Dessa forma, a crescente de- início da década de 1990. Esses movimentos
manda dos consumidores de alimentos sem se apresentam como potenciais tendências
antibióticos, combinado com pressão políti- a se intensificarem nos mercados alimenta-
ca para essa redução no uso, representa um res, especialmente nos países de economias
desafio e uma oportunidade única para toda emergentes como o Brasil. Um exemplo re-
a cadeia de valor da carne. O desenvolvimen- cente dessa questão no País é o caso das be-
to de um novo conjunto de padrões globais bidas à base de coco (Rosa, 2017; Carvalho et
para certificar produtos à base de carne pro- al., 2018).
duzidos “sem antibióticos” ou com “uso res- 88
Neste documento marketing é entendido como área
ponsável de antibióticos” aumentará ainda de estudos que se dedica ao entendimento das neces-
mais essa oportunidade. sidades e desejo dos consumidores e das ferramentas
para o mais efetivo atendimento por parte das empre-
sas dessas necessidades e desejos.
Preocupações com a qualidade, inocuidade 89
A sociedade americana desenvolveu e tem amplia-
e valor nutricional dos alimentos passaram do os programas de desenvolvimento de mercado
a ter peso crescente na escala de valor dos para produtos alimentares, os chamados Commodity
Checkoff Programs, instituídos por meio da Lei de Pro-
bens consumidos pelo novo consumidor. moção, Pesquisa e Informação de Mercadorias (Com-
Como resultado, organizações de pesquisa modity Promotion, Research, and Information Act, no
original em inglês) de 1996. Embora não sejam recentes
tem buscado desenvolver variedades mais e venham sendo alvo de questionamentos (inclusive
nutritivas e também biofortificadas, direcio- sobre sua constitucionalidade na Suprema Corte ame-
nadas ao combate dos problemas de saúde ricana), esses programas têm sido capazes de dar bons
níveis de retorno para os produtores (ainda que isso
pública associados a deficiências de micro- não seja um consenso) e têm se mantido ao longo do
nutrientes em alimentos. Atualmente, vários tempo (esses programas passam por referendos a cada
três anos, podendo ser descontinuados caso os produ-
cultivos como milho, batata-doce, feijão-cau- tores assim decidam) (U.S. Government Publishing Of-
pi e mandioca contam com variedades bio- fice, 1996; Sabet, 2010; Brandon, 2011; Huehnergarth,
2016; Manger, 2016; Estados Unidos, 2018a).

132
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Finalmente, outro segmento de mercado ◉◉ Desenvolver tecnologias alinhadas com


com crescimento acelerado é o de animais a transformação digital, direcionadas às
domésticos (pets), que representa grande tendências de consumo de alimentos,
potencial de expansão no ambiente urbano. fibras e energia.
O Brasil é o segundo maior mercado nesse
setor no mundo e o terceiro em faturamento ◉◉ Gerar e difundir informações a respeito da ori-
e movimenta mais de R$ 18,9 bilhões ao ano. gem, qualidade, métodos de produção, im-
Segundo o IBGE, os lares brasileiros hoje têm pactos ambientais e sociais, entre outros, da
mais animais de estimação do que crianças produção agrícola, tais como bem-estar ani-
(Pets International, 2016). Assim, são inú- mal e o adequado uso de insumos agrícolas.
meras as oportunidades desse mercado em ◉◉ Utilizar a biodiversidade brasileira de maneira
expansão, em decorrência do aumento da sustentável, enaltecendo fatores como auten-
demanda por rações, princípios ativos para ticidade, especificidade e regionalidade.
medicamentos, entre outros fatores.
◉◉ Ampliar análises e estudos de plantas alimen-
Não é de se surpreender que, nessa era de am- tícias não convencionais (Pancs) para o desen-
plas e profundas transformações ocasionadas volvimento de novos produtos alimentícios.
pelas TIC, uma das principais forças formado-
ras da visão de futuro da agricultura brasileira ◉◉ Criar novos produtos e processos para
seja a influência exercida pelo novo consumi- o setor alimentício, direcionados para
dor, cada vez mais conectado. Munido de mais nichos de mercado com demanda cres-
informação e com maior conhecimento acerca cente, tais como produtos orgânicos,
dos produtos oferecidos e seus preços, esse probióticos, vitamínicos, alergênicos,
agente econômico torna-se cada vez mais um bioestimulantes, produtos gourmet e
determinador dos atributos que deseja, poten- premium.
cializado pelas oportunidades e ferramentas di-
◉◉ Produzir alimentos com os atributos de
gitais. Contudo, o crescente protagonismo dos
qualidade e confiabilidade, de acordo com
indivíduos enquanto agentes decisórios (espe-
as mudanças de percepção do consumidor
cialmente no aspecto econômico  – consumi-
e das legislações.
dores) apenas ocorre quando os consumidores
podem e decidem se beneficiar dessas oportu- ◉◉ Desenvolver produtos com atributos adicio-
nidades e ferramentas (Parfitt et al., 2010). nais de qualidade nutricional, segurança,
durabilidade, praticidade, porcionamento,
Desafios conveniência, bem como novas embala-
gens, entre outros.
◉◉ Monitorar continuamente o perfil e os desejos
◉◉ Desenvolver alimentos com base nos diferen-
dos consumidores (intermediários e finais) e as
tes hábitos e culturas alimentares regionais.
tendências de consumo agroalimentares.
◉◉ Ampliar e diversificar a produção de alimen-
◉◉ Monitorar o comportamento e o consumo de
tos biofortificados com foco nos aspectos
alimentos nos diferentes extratos de renda (por
de saúde e nutrição dos alimentos, em es-
exemplo, analisar a incidência de obesidade e
pecial para as classes de renda mais baixa.
outros problemas de saúde, associados aos
hábitos de consumo em cada classe de renda).

133
convergência
tecnológica e de
conhecimentos na
agricultura
134
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

O setor agrícola vivencia transformações re- nologia, da biotecnologia, da tecnologia da


levantes em razão da migração da socieda- informação e da ciência cognitiva (NBIC). Essa
de da informação e do conhecimento para sinergia é considerada como a de maior po-
a sociedade da era digital. Em torno de 90% tencial de avanço na inovação nos próximos 20
dos produtores rurais já utilizam o celular anos (Rocco; Bainbridge, 2002). Trata-se da in-
em suas atividades diárias (pessoais e pro- tegração crescente no mundo e no Brasil entre
fissionais). Observa-se ainda a crescente as tecnologias que operam no domínio da vida
utilização de meios digitais e redes sociais e intervêm na construção de dispositivos bioló-
(Facebook, Instagram, Twitter) nos negócios gicos e que principalmente manipulam genes;
rurais, atualmente em 18% das propriedades as que operam no domínio da nanoescala e
rurais (Sebrae, 2017). Convergências técnico- intervêm na construção dos blocos da matéria
-científicas são crescentes nas organizações ou na miniaturização dos dispositivos a partir
as pesquisa, empresas e propriedades rurais. da manipulação atômica; as que operam no
âmbito dos processos e sistemas informacio-
Essas convergências podem ser entendidas
nais e comunicacionais e manipulam bits; e as
como um processo de integração sinérgica de
que operam com os processos cerebrais e com
conhecimentos e tecnologias já disponíveis em
neurônios (Carvalho, 2017).
várias áreas e setores, possibilitando a geração
de novos conhecimentos e a produção de bens As abordagens sistêmicas via bioinformática,
e serviços que não seriam possíveis em cada com o uso da matemática e da computação
área ou setor isoladamente (CGEE, 2008). permitirão entender melhor o funcionamen-
to de sistemas complexos do mundo natural,
Uma das convergências é derivada das geo-
tais como a agricultura, a mente humana, as
tecnologias, da agricultura de precisão e da
interações sociais e os órgãos do corpo hu-
internet das coisas (IoT). Associada à evolução
mano. O papel da ciência computacional,
exponencial da inteligência artificial e à visão
juntamente com a teoria e a experimentação,
computacional, essa convergência tem propor-
será fundamental para o avanço da pesquisa
cionado novos cenários para as propriedades
científica na agricultura. Novos algoritmos
rurais de diferentes escalas, a chamada smart
para extração de conhecimento, busca de
farming. Essa transformação digital da agricul- inferências, padrões, categorizações e otimi-
tura amplifica inovações do dia a dia e permite,
zação de predições a partir dos dados serão
por exemplo, a aquisição de dados e a super-
desenvolvidos com foco agrícola.
visão de operações do plantio em tempo real.
Máquinas inteligentes são acionadas remota- Nesse novo paradigma, os negócios convencio-
mente ou de forma autônoma. Aplicativos para nais irão se desenvolver sob a ótica de merca-
pequenos, médios e grandes produtores são dos digitais, nos quais devem ser observados
desenvolvidos com foco em gestão das áreas alguns pilares, tais como a compreensão das
agrícolas, manejo de rebanhos, cotação de necessidades dos novos clientes e consumi-
insumos, previsão de clima, identificação de dores, o relacionamento com os ecossistemas
doenças, uso de defensivos, irrigação, adequa- empresariais, o uso intensivo da automação e
ção ao Código Florestal e comercialização. a convergência das tecnologias de informação.
Tudo isso consolidado por meio de uma cama-
Outra importante convergência, com impac-
da de inteligência cognitiva computacional que
to maior sobre o desenvolvimento científico,
viabilizará a criação de novos produtos e servi-
advém da utilização sinergética da nanotec-
ços digitais na agricultura brasileira.

135
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Outra condição crescente no contexto dessas


convergências é o crescente investimento do se-
Desenvolvimento
tor privado mundial em pesquisa e desenvolvi- científico
mento tecnológico. Em agricultura, observa-se,
As convergências e a complexidade na ciên-
por exemplo, crescente participação de empresas
cia e tecnologia assumiram velocidades nun-
privadas em ações da transformação digital via
ca presenciadas e geram inúmeras inovações
AgTech, na geração de novas cultivares, melho-
disruptivas para o setor agrícola. Os conheci-
ramento genético, sanidade e nutrição animal.
mentos acumulados das ciências, especial-
Essa tendência tem demandado novos arranjos
mente as agrárias, biológicas, engenharias
institucionais que envolvem atores públicos e pri-
exatas e da terra, são a base para áreas como
vados para o estabelecimento de ambientes de
a transformação digital, a nanotecnologia, a
inovação diferenciados.
biotecnologia, a tecnologia da informação
No Brasil, ressalta-se o Marco Legal da Ciên- e a ciência cognitiva. Essas convergências
cia, Tecnologia e Inovação (Brasil, 2018), que assumem papéis de alta relevância para me-
estabeleceu novas medidas de incentivo à lhorar o desempenho e aumentar o alcance
inovação e à pesquisa científica e tecnológica de resultados, gerando maior competitivida-
no ambiente produtivo, visando à capacitação de de serviços, produtos ou processos para a
tecnológica, ao alcance da autonomia tecnoló- sociedade.
gica e ao desenvolvimento do sistema produti-
Dessa forma, há fortes sinais de que o sé-
vo nacional e regional. Essas medidas incluem
culo 21 será uma era de inovações transfor-
o apoio à integração de empresas privadas no
mativas ou disruptivas (gerando produtos
sistema público de pesquisa, a simplificação
ou processos inteiramente novos), em con-
de processos administrativos nas organizações
traponto com o século 20, no qual as ino-
públicas de pesquisa e a descentralização do
vações predominantes eram majoritaria-
fomento a setores de CT&I. O objetivo é dar
mente incrementais (melhoria de produtos
maior flexibilidade e criar novos ambientes
e processos preexistentes). O mercado al-
de atuação que envolvem duas dimensões: a)
tamente competitivo com alvos múltiplos e
ecossistemas de inovação90 e mecanismos de
móveis requer o surgimento mais frequen-
geração de empreendimentos91.
te de inovações de caráter disruptivo para
desenvolvimento contínuo da agricultura.
90
Espaços que agregam infraestrutura e arranjos ins-
titucionais e culturais, que atraem empreendedores
Isso provavelmente só poderá ser alcança-
e recursos financeiros, constituem lugares que poten- do com a contínua convergência da ciência
cializam o desenvolvimento da sociedade do conhe- e da tecnologia na fronteira do conheci-
cimento e compreendem, entre outros, parques cien-
tíficos e tecnológicos, cidades inteligentes, distritos de mento, em especial na agricultura, com a
inovação e polos tecnológicos. capacidade de dialogar na caracterização
91
Mecanismos promotores de empreendimentos ino-
vadores e de apoio ao desenvolvimento de empresas
e no desenvolvimento de novos produtos,
nascentes de base tecnológica, que envolvem negócios serviços e alimentos. Essa megatendência
inovadores, baseados em diferenciais tecnológicos, e de convergência tecnológica, em médio
buscam a solução de problemas ou desafios sociais e
ambientais, oferecem suporte para transformar ideias prazo, deverá gerar ativos e produtos de
em empreendimentos de sucesso, e compreendem, inovação capazes de proporcionar maior
entre outros, incubadoras de empresas, aceleradoras
de negócios, espaços abertos de trabalho cooperativo
diversidade à agregação de valor aos pro-
e laboratórios abertos de prototipagem de produtos e dutos do agronegócio. Entre os diversos
processos.

136
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

exemplos de convergência tecnológica, de safra e riscos agrícolas. O mundo alcançará


destacam-se as aplicações da biologia sin- o número de 30 bilhões de dispositivos conec-
tética em sistemas genéticos complexos, tados à internet em 2020, e a IoT, nos diversos
as novas ferramentas disponibilizadas pela setores econômicos (Smit et al., 2016), pode
engenharia genética e o protagonismo da chegar a US$ 11,1 trilhões em 2025, ou seja,
bioinformática no compartilhamento e na 11% da economia global. Isso faz com que sis-
análise de dados técnico-científicos. temas de supervisão, coleta e aquisição de da-
dos do campo alterem sua plataforma, passan-
Transformação digital do a operar exclusivamente em nuvem.

A inteligência artificial estará presente em qua-


A transformação digital é cada vez mais con-
se todas as fases da produção agrícola. Os da-
siderada uma mudança ou um processo dis-
dos provenientes dessas tecnologias passam
ruptivo. Tal como ocorreu na industrializa-
a ser coletados além dos meios convencionais,
ção, em que o vapor e a eletrônica tornaram
utilizando-se de plataformas colaborativas ou
as máquinas mais poderosas, nessa nova era
mídias sociais. Haverá a necessidade de maior
a informação, a comunicação e a inteligência
compartilhamento de conhecimento entre os
artificial, que possibilitam que as máquinas
atores das cadeias produtivas e das platafor-
tomem decisão com a mínima intervenção
mas de dados abertos, com consequente in-
humana, tornam o armazenamento e a recu-
tensificação do uso de arquiteturas big data e
peração de dados a chave do sucesso dessa
de ferramentas de mineração de dados. Como
convergência entre a informação e a tomada
resultado, serão gerados algoritmos cada vez
de decisão (Figura 31).
mais inteligentes, que poderão ser utilizados por
Novas formas de alavancar a competitividade agentes públicos e privados para identificar ten-
devem ser utilizadas no campo, tais como: apli- dências, novos nichos de mercado e demandas
cações autônomas, IoT, sistemas de predição dos diversos elos da cadeia.

Mundo Digital

• Maior conhecimento
• Big data
• Eficiência melhorada
• Iot • Dados analíticos
• Mobile computing • Novos modelos de trabalho
• Algoritmos preditivos
• Cloud computing • Automações • Novas práticas de recursos humanos
• Cyber security • Novas fontes de talento
• Experiências personalizadas

Figura 31. Convergência digital – tecnologia, convergências e resultados esperados.

137
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Na agricultura e na silvicultura, redes neurais da para os próximos anos. Essa tendência de


treinadas serão alimentadas por sensores queda nos custos beneficia a transformação
autônomos que permitirão a automação de digital na agricultura e deverá ampliar ainda
boa parte do processo de produção. Essa mais o uso dessas tecnologias nos próximos
transformação digital pode envolver os se- anos para todas as classes de produtores ru-
guintes aspectos: sistema de irrigação inteli- rais, em especial nos países em desenvolvi-
gente, agricultura de precisão com aplicação mento.
de inteligência embarcada, automação e
rede de sensores locais para mapeamento de As impressoras 3D estão revolucionando o
solos, monitoramento de doenças e de variá- sistema produtivo, pois, em ambiente do-
veis meteorológicas (Massruhá; Leite, 2016). méstico, elas possibilitam a produção de ob-
Novos Vants, estações meteorológicas, GPS jetos com qualidade a partir de vários mate-
de precisão e câmeras especiais interconec- riais. Isso causa um impacto na demanda de
tadas poderão captar informações, indicar produção ao mercado industrial de pequeno
níveis de produtividade e necessidade de porte. A Nasa criou uma impressora 3D capaz
manejos específicos nos talhões. de imprimir peças em metal para foguetes e
mísseis (Nasa, 2013). Esse avanço gera po-
A pecuária poderá se beneficiar do monitora- tencial para o produtor rural criar suas pró-
mento contínuo e não invasivo dos animais prias peças para equipamentos e para que
por meio da visão computacional e da bioa- fabricantes de equipamentos agrícolas e as-
cústica, melhorando a questão do bem-estar sistências técnicas regionais disponibilizem
animal. Aliadas a novos processos de produ- repositórios de modelos 3D de peças, faci-
ção, como os sistemas integrados (ILPF), es- litando o acesso e diminuindo o tempo de
sas tecnologias estarão presentes nas smart manutenção de máquinas e equipamentos
farms e irão identificar em campo, de forma no meio rural. Estima-se que, até 2027, 10%
autônoma, a presença de animais doentes de tudo o que for produzido no mundo será
ou feridos e aqueles que atingiram peso e co- impresso em 3D (Carpenter, 2017). Torna-se
bertura de carcaça desejáveis. Poderá apoiar crescente também o desenvolvimento das
a identificação de áreas degradadas ou que impressoras 4D, onde já é possível criar ob-
necessitem da gestão de insumos e outras jetos com potencial alteração de forma ao
atividades da pecuária de precisão, essen- longo do tempo.
ciais para melhorar a produção e a qualida-
de, respeitando o bem-estar dos animais. Esses novos equipamentos associados à
computação móvel, à visão computacional
Com a contínua miniaturização de processa- e à bioacústica irão inaugurar uma nova era
dores e elevação da capacidade de processa- de serviços para a agricultura. Tais serviços
mento com os transistores 3D, associadas ao poderão ser acessados por realidade au-
baixo consumo de energia, a indústria pode- mentada  – mostrando informações contex-
rá desenvolver equipamentos mais baratos e tualizadas no ambiente real e orientando, de
com maiores aplicações agrícolas. De fato, de forma audiovisual, as medidas a serem to-
acordo com Status... (2016), os preços médios madas – ou por meio de assistentes virtuais
de venda de sistemas microeletromecânicos que interagem em linguagem natural com o
e sensores têm diminuído substancialmente usuário. Esses assistentes serão integrados
desde a década 2000, com tendência de que- aos serviços digitais na forma de aplicativos,

138
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

que, uma vez instalados, não precisarão mais Com a existência de diversos sistemas, o
ser explicitamente acessados. Dessa forma, a mundo converge para um sistema de iden-
interação com esses novos serviços será ain- tidade digital único, portanto não será mais
da mais intuitiva, beneficiando da agricultura necessário um usuário para rede social, ou-
familiar até grandes produtores. tro para e-mail ou, ainda, para ligar uma
máquina agrícola. Uma chave digital cripto-
O acúmulo de dados representará um gran-
grafada, associada a uma identificação bio-
de desafio para os sistemas de armazena-
métrica, será o mecanismo seguro de auten-
mento e métodos de processamento, bem
ticação. Nos próximos 20 anos, incidentes
como de identificação digital, o que deverá
de segurança serão identificados e sanados
garantir uma identidade universal. Estima-se
por agentes inteligentes, softwares que fa-
que, até 2020, haverá mais de 16 zetabytes de
rão a patrulha da rede de dados, tornando
dados circulando diariamente pelo mundo,
o ambiente digital mais seguro. Máquinas
um crescimento estimado de 236% por ano
serão equipadas com vidros de matriz ativa
(CGEE, 2017). Considerando que dados são
de diodo orgânico emissor de luz (Active Ma-
essenciais e que o uso de big data e analy- trix Organic Light-Emitting Diode – Amoled),
tics é o propulsor da inovação empresarial, flexíveis e dobráveis, que apresentarão a pre-
espera-se cada vez mais uma demanda por visão do tempo, os indicadores da bolsa de
processamento de dados, fomentado pelo valores, o progresso da atividade, e serão to-
esforço da aprendizagem de grandes redes talmente interativas ao toque e com possibi-
neurais artificiais. lidade de permitir a realização de videocon-
A tendência de maior oferta de energia elétri- ferência com consultores remotos.
ca em localidades remotas com uso crescen- Nesse contexto, o interesse de multinacionais
te de painéis solares abre uma nova perspec- tradicionais na área de insumos, maquinários
tiva para mitigar problemas de comunicação e equipamentos agrícolas, no investimento e
com a ampliação da rede 4G e sua atualiza- na aquisição de start-ups com base em bio-
ção para o novo padrão, o 5G, que vem sen- tecnologia, robótica e inteligência artificial é
do projetado especificamente para atender, crescente em todo o mundo. Só nos Estados
entre outras coisas, a IoT e sua alta densi- Unidos, as startups baseadas em tecnologia
dade de dados provenientes de milhões de aumentaram seu número em 47% na última
dispositivos conectados ao mesmo tempo. década (Wu; Atkinson, 2017). No Brasil, em
Painéis flexíveis e bioadaptáveis (Bergeron, 2016 já foram identificados pelo menos 76
2011) poderão viabilizar o uso de sensores startups utilizando tecnologias de suporte
complexos em animais em criação extensiva a decisões, softwares para gestão, agricultu-
ou em biomas de difícil manejo, como o Pan- ra de precisão, equipamentos inteligentes e
tanal. Entre 2018 e 2020, os fabricantes co- software (StartAgro, 2016). Essas empresas
meçarão a desenvolver os chips compatíveis têm gerado novos empregos e contribuem
com o padrão 5G (Braga, 2017). Destaca-se de forma significativa para inovação, produ-
ainda o lançamento do Satélite Geoestacio- tividade e competitividade.
nário de Defesa e Comunicações Estratégicas
1 (SGDC-1) com o objetivo de ampliar o Pro- A crescente convergência tecnológica muda-
grama Nacional de Banda Larga (PNBL) para rá os rumos da pesquisa agrícola, pois, com a
todo o Brasil (Brasil, 2017). evolução dos sistemas de realidade virtual e

139
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

a inteligência artificial, será possível simular vem permitindo avanços ímpares no proces-
diversos fenômenos naturais. O avanço no so de conhecimento da natureza e na apli-
fornecimento de tecnologia de comunicação cação de seus princípios para a geração de
sem fio nas propriedades rurais possibilitará novos produtos e serviços.
ao produtor enviar imagens bi/tridimensio-
nais de amostras, que poderão ser analisa- Há a necessidade de aprimorar e intensificar
das e conferidas pelo pesquisador de forma a capacidade de melhoramento genético de
on-line em conjunto com o produtor. Com espécies de interesse agrícola por meio da
a diminuição de custos, a agricultura digital engenharia genética de plantas e animais,
também deve viabilizar o surgimento de tec- não apenas para alimentação, mas como
nologias substancialmente mais acessíveis fonte de insumos renováveis para os demais
para todas as classes de agricultores. Impor- setores produtivos. Diante desses desafios,
tantes ações já estão em curso no Brasil para as tecnologias existentes precisam ser com-
proporcionar alternativas que minimizem os plementadas com abordagens avançadas e
fatores que dificultam o acesso à informação direcionadas para transformar recursos ge-
por parte de agricultores familiares, como a néticos valiosos, de forma mais eficiente e
baixa familiaridade com as tecnologias di- rápida, em produtos agrícolas utilizáveis.
gitais e os escassos sistemas de informação Trinta anos após a produção da primeira ge-
específicos para esse público (Codaf, 2018). ração de plantas geneticamente modificadas
(GM), avançamos para uma nova era de tec-
Biologia sintética nologia de culturas recombinantes por meio

e tecnologias em da aplicação da biologia sintética, que permi-


te, além de adições incrementais de genes, o
sistemas genéticos desenvolvimento direcionado de novas rotas
complexos metabólicas, o controle da regulação gênica,
a modulação de características fisiológicas e
Nessas últimas décadas, várias tecnologias estratégias de controle do desenvolvimento
com uma base científica sólida e inovado- das plantas.
ra alcançaram uma posição avançada, com
Na engenharia genética, geralmente apenas
fortes impactos econômicos, ambientais e
um gene é introduzido na planta, enquanto
sociais, tais como: a nanociência, a biotecno-
na biologia sintética um cassete com dife-
logia, a biomedicina, a engenharia genética,
rentes genes é transferido para a planta. Os
a ciência e a tecnologia da informação e das
genes nessas construções podem conter in-
comunicações, incluindo a computação e as
formações completamente novas, ausentes
comunicações avançadas (CGEE, 2008).
na espécie de interesse, não existentes na na-
Com a rapidez das mudanças e a comple- tureza ou sequências gênicas modificadas.
xidade crescente dos conhecimentos cien- Para a construção de genomas mínimos, os
tíficos e das tecnologias modernas, novos genes não essenciais são identificados e ex-
conhecimentos, instrumentos e áreas têm cluídos. Dessa forma, ocorre o redesenho do
surgido e se integrado de forma cada vez organismo visando à criação de “máquinas
mais complexa, possibilitando a exploração genéticas” que possuem novas propriedades
de novos horizontes na biologia agrícola. A e funcionamento maximizado.
nanotecnologia associada à biotecnologia

140
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

A capacidade de sintetizar quimicamente e nar essa tecnologia, tendo, até mesmo, em


com alta eficiência sequências de DNA geram 2011 conseguido que a CTNBio autorizasse
duas possibilidades de inovações disrupti- o uso comercial no País de plantas de feijão
vas: 1) a construção de elementos genéticos GM resistente ao vírus do mosaico dourado
individuais funcionais para montagem de sis- pelo uso de RNAi (Diniz, 2011). Essa tecnolo-
temas genéticos complexos, tais como rotas gia inovadora poderá proporcionar aos pro-
e portas lógicas e 2) premissas para o desen- dutores brasileiros uma economia de alguns
volvimento de cromossomos artificiais e cé- milhões de dólares na redução do uso de
lulas totalmente sintéticas, idênticas àquelas agrotóxicos importados para o controle da
oriundas da natureza. mosca-branca, agente disseminador da viro-
se, além de proporcionar maior sustentabili-
A biologia sintética deverá, portanto, inten-
dade ambiental.
sificar o contínuo melhoramento de caracte-
rísticas de interesse demandadas pelo setor Novos usos de RNAi têm sido testados com
agropecuário, como a resistência a estres- sucesso em diversas fronteiras tecnológicas.
ses bióticos e abióticos e o incremento na A empresa Monsanto, por exemplo, tornou
produtividade; a geração de plantas como público que o uso de RNAi aplicado de for-
matérias-primas de biomassa para biocom- ma tópica, como spray na superfície das fo-
bustíveis; a produção de alto valor agregado, lhas, pode melhorar a eficácia do glifosato
como melhoria nutricional e alimentos fun- no controle de algumas plantas daninhas
cionais; e as biofábricas para a produção de resistentes ao herbicida. Essa tecnologia de-
insumos para setor industrial e farmacêutico. nominada BioDirect™ traz inovações disrup-
tivas capazes de alterar o paradigma atual no
Novas tecnologias têm surgido com eleva-
potencial de controle de pragas e doenças
do potencial de acelerar o desenvolvimento
em animais e plantas (Monsanto, 2018). Enfa-
científico da agricultura. A engenharia genéti-
tiza-se que o uso tópico do RNAi é fundamen-
ca não tem se limitado somente a gerar plan-
tado no argumento de que são moléculas
tas GM para o controle de pragas e doenças.
“achadas na natureza”, por isso já participam
A inserção de genes que conferem resistên-
de nossa cadeia alimentar e poderiam dar
cia/tolerância a esses estresses tem também
suporte a uma agricultura mais sustentável.
proporcionado o desenvolvimento de estra-
Este sem dúvida é um momento crítico da re-
tégias inovadoras capazes de revolucionar o
volução na genética da atualidade. Informa-
mercado de defensivos agrícolas. A molécula
ções da base genética que têm sido obtidas
de RNA, por exemplo, ganhou destaque no
por equipamentos e metodologias de última
cenário da genética com a descoberta, na
geração estão trazendo o embasamento para
década de 1990, de sua função na regulação
o desenvolvimento de estratégias inovadoras
da expressão gênica. Os RNAs de interferên-
de controle fitossanitário, sem o uso de de-
cia (RNAi ou siRNA) e os microRNAs (miRNA)
fensivos agrícolas tradicionais.
podem levar ao silenciamento gênico. Assim,
hoje o uso de RNAi tem sido aplicado no si- No desenvolvimento de tecnologias GM, a
lenciamento gênico pós-transcricional em engenharia genética depende em muitas si-
plantas e animais, tanto para estudos fun- tuações da cultura de tecidos para viabilizar
cionais, como já na geração de plantas GM. a introdução de transgenes e outras molécu-
No Brasil, a Embrapa se destaca por já domi- las em células e tecidos vegetais. Entretanto,

141
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

novos métodos disruptivos se fazem neces- Mais recentemente, surgiu ainda uma nova
sários para superar as limitações impostas revolução no aprimoramento da variabilida-
por essa técnica. É imperativo que sejam de genética: a edição genômica. As primeiras
desenvolvidos métodos de larga escala mais plantas que tiveram seu genoma editado
eficientes (high throughput) e universais de por técnicas de engenharia genética de pre-
transformação. Pouca dependência da cultu- cisão, como CRISPR, Zinc Fingers Nucleases
ra de tecidos ou mesmo o emprego amplo de (ZFN), Oligonocleotide Directed Mutagenesis
métodos ainda incipientes de transformação (ODM) e Transcription Activator-Like Effectors
de gametas, eliminado completamente a ne- (TALEs), começaram a ser colocadas no mer-
cessidade de cultura de tecidos, são cenários cado. Como exemplo, híbridos de milho com
futuros bastante promissores. a composição modificada de amido com
100% de amilopectina e 0% de amilose ou,
Em outra vertente, a engenharia genética
ainda, cogumelos e maçãs cujos genomas
também tem sido aplicada em animais de
foram editados para inativação de oxidases
produção, como biorreatores para produção
de polifenóis, enzimas que causam o escu-
de biofármacos. É o caso da empresa rEVO
recimento do tecido vegetal, proporcionam
Biologics, que produz uma antitrombina re-
maior vida de prateleira para esses produtos.
combinante em cabras geneticamente mo-
Por não conterem transgenes, nos EUA, no
dificadas, e a Pharming Group, que produz a
Canadá e na Argentina, esses produtos ob-
proteína recombinante inibidora da C1 este-
tiveram autorização para comercialização. A
rase em coelhos geneticamente modificados.
edição genômica deve, portanto, impactar
Ambos biofármacos são comercializados na
os processos regulatórios, acelerando a in-
Europa e nos Estados Unidos e visam a um
trodução no mercado de plantas genomica-
mercado de saúde humana de milhões de
mente editadas que não contêm fragmentos
dólares. Outros biofármacos já são produzi-
de DNA de outras espécies.
dos por animais geneticamente modificados,
mas ainda estão em estudos pré-clínicos. A empresa americana Recombinetics Inc. tem
trabalhado com edição genômica, aplicando
A engenharia genética contribui ainda com
os sistemas TALEs e CRISPR no melhoramen-
inovações como o Sequenciamento Genô-
to genético animal (Recombinetics, 2018).
mico de Nova Geração (Next-Generation Se-
Essas tecnologias podem acelerar a geração
quencing  – NGS). Recentemente, emergiu o de animais com características fenotípicas
entendimento de que comunidades micro-
desejadas, que, apenas com o cruzamento
bianas associadas a espécies vegetais prove-
tradicional, só seriam alcançadas depois de
nientes de ambientes historicamente secos
décadas. Algumas dessas características, tais
são mais propensas a promover tolerância à
como tolerância ao calor, aos carrapatos e
seca em plantas do que microrganismos ori-
ginados de ambientes onde a água não é um
recurso limitante. Nesse sentido, vários estu- A inteligência artificial
dos têm demonstrado que genes oriundos estará presente em quase
do microbioma são transferíveis entre espé-
cies e podem conferir tolerância aumentada todas as fases da
a estresses em plantas. produção animal e vegetal

142
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

às doenças transmitidas por parasitas tropi- A bioinformática surgiu a partir da necessidade


cais, se introduzidas em novas gerações de de organizar, gerenciar, visualizar e trocar dados
bovinos, poderão sensivelmente aumentar a biológicos de sequências. Com a disponibiliza-
competitividade do Brasil nesse setor. ção dessa informação, a bioinformática evoluiu
para a criação de ferramentas de análise, inter-
A edição genômica oferece, ainda, a oportu- pretação e modelagem de sequências, estrutu-
nidade de aumentar a população de animais ras, genomas, redes metabólicas, criando uma
que produzem leite de melhor qualidade rede cada vez mais complexa de informações.
nutricional e proteínas benéficas para a saú- Hoje é possível realizar análises em diferentes
de humana ou, então, de inibir a secreção níveis de complexidade, com conjuntos de da-
de proteínas alergênicas, como a beta-lac- dos denominados “omas”, que permite reve-
to globulina. Essa tecnologia pode também lar os aspectos da organização complexa dos
favorecer a introgressão de genes ou alelos. sistemas biológicos por meio de estudos em
Recentemente, o alelo dominante mocho genômica, transcriptômica, proteômica, meta-
responsável pela ausência de chifres em An- bolômica, além da análise fenotípica em larga
gus foi introduzido, via edição genômica, em escala dos mais variados organismos. A desco-
células de bovino com chifres, da raça Holan- berta de genes que controlam características
desa. Após a produção de embriões, clones complexas e suas funções e os estudos de inte-
geram animais mochos homozigotos. A in- rações gênicas deverão promover avanços que
trogressão desse alelo evita, portanto, a des- irão impactar, por exemplo, diversas áreas da
corna realizada em bezerros, contribuindo produção animal, como manejo, nutrição, sa-
para o bem-estar dos animais e para o mane- nidade e melhoramento genético, resultando
jo da fazenda. Edições no genoma permitem em produtos mais sustentáveis, com melhor
também incorporar características múltiplas, qualidade nutricional e segurança.
como, por exemplo, gerar animais mochos
que produzam leite com maiores teores de Integrar grandes volumes de dados hetero-
proteína e que sejam mais resistentes a car- gêneos gerados pelas ciências ômicas é um
rapatos proporcionando assim o avanço ra- grande desafio na área de genômica integra-
dical no desenvolvimento científico do setor. tiva. Os dados por si só valem muito pouco.
O seu valor potencial só é realizado quando
Bioinformática na análise é utilizado de maneira inteligente para a to-
mada de decisões. Ao lidar com dados ar-
e no compartilhamento mazenados em diferentes locais e formatos,
de dados combinando com a utilização de estratégias
de aprendizagem de máquina, matemática,
Nas últimas décadas, a biotecnologia foi fun- algoritmos computacionais e supercompu-
damental para o avanço científico na agricul- tadores, será possível explorar de maneira
tura, em especial pela sua convergência com inovadora os dados gerados pelas diferen-
a informática, permitindo a análise de gran- tes ciências ômicas. Essa inovação acontece
de volume de dados resultantes das tecno- na forma de predição de funções biológicas
logias genômicas. Esse crescente volume de e pela compreensão de mecanismos bioló-
informações exige soluções em pelo menos gicos, tais como aqueles responsáveis por
três âmbitos: infraestrutura escalável, geren- doenças, pela definição de características de
ciamento dos dados e seu uso inteligente. interesse agronômico e de produtividade.

143
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

A China vem desenvolvendo grande esforço cien- estudos em biologia aplicada na agricultura do fu-
tífico, tecnológico e financeiro na formação de turo requererão cada vez mais a fusão com méto-
bancos de caracteres genéticos. O Beijing Geno- dos matemáticos, estatísticos, e computacionais,
me Institute (BGI), em seu projeto de sequencia- visando ao maior entendimento de processos bio-
mento de 1.000 espécies de referência, já comple- lógicos complexos, nos seus mais diversos níveis,
tou o sequenciamento e a montagem do genoma na busca contínua por inovações disruptivas para
de 95 espécies, e outras 505 estão em fase final. o desenvolvimento da agricultura brasileira.
Reconhecida como talvez a maior plataforma de
genômica e bioinformática do mundo, com ca-
pacidade de sequenciar até 30 mil genomas hu-
Mercado digital
manos por ano (Beijing Genomics Institute, 2018), O mundo já presenciou algumas transforma-
cientistas do BGI quebraram vários paradigmas ções como a Revolução Industrial e a era da
ao desenvolverem tecnologias que, hoje em uso, informação e do conhecimento no pós-guer-
eram tidas como impossíveis de funcionar. Utilizar ra. Essas eras provocaram muitas adapta-
essas novas ferramentas para caracterizar os ban- ções nos modelos de trabalho e, ao mesmo
cos de germoplasma de nosso país, visando criar tempo, eliminaram negócios e criaram no-
bancos de caracteres que possam ser explorados vas oportunidades de empreendimentos. A
por pesquisadores brasileiros, é uma prioridade e mudança no panorama industrial, cultural
deve ser amplamente entendida e instituciona- e, consequentemente, econômico foi mais
lizada. Para espécies de valor econômico, isso já bem internalizada por aqueles que perce-
vem sendo feito pelas grandes empresas privadas beram essas oportunidades e se engajaram
em escala bilionária de investimentos. Por sua vez, em novas práticas e formas de trabalho e re-
focar somente em caracteres presentes em espé- lacionamento. A diferença agora é que a era
cies comerciais limita a informação genética obti- digital impõe uma velocidade de mudança e
da. Buscar, na biodiversidade brasileira, a fonte de reposicionamento por parte de empresas e
novos genes e estratégias de adaptação pode não das pessoas muito mais rápida. Se antes es-
somente ajudar a garantir nossa independência sas mudanças levaram 60 anos, agora acon-
mas também ser um grande trunfo na busca de tecem anualmente.
parcerias público-privadas para desenvolvimento
de produtos agrícolas de alto valor agregado. Nesse novo modelo, novas oportunidades
e caminhos são apresentados para que in-
É inegável que a convergência em ciência e tec- divíduo e as empresas possam romper com
nologia para pesquisa e inovação na agricultura os velhos paradigmas e pensar de maneira
constitui uma megatendência mundial e brasi- inovadora e disruptiva. A atuação com novos
leira. No entanto, novas ferramentas devem ser parceiros, em especial os pequenos, exigirá
continuamente exploradas para que, cada vez um comportamento ágil e não tão formal.
mais, descobertas significativas sejam extraídas a Esse é um dos principais desafios para as
partir desses dados, e isso requer gerenciamento empresas. A cadeia produtiva agrícola é com-
dinâmico das informações biológicas compiladas posta pela soma das operações de produção
e suas respectivas análises integradas. Muitos sis- e distribuição de suprimentos, das operações
temas de integração requerem modelos matemá- de produção nas unidades rurais, do armaze-
ticos relacionais na sua base conceitual que pos- namento, processamento e comercialização
sam descrever modelos mecanísticos das relações dos produtos agrícolas e dos itens produzi-
entre seus componentes. Contudo, é certo que os dos a partir deles. O tamanho estimado do

144
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

mercado de agricultura digital em 2021 é de va com a digitalização (Lofink, 2018). As pla-


US$ 15 bilhões, e 80% das empresas do agro- taformas digitais amplificam benefícios para
negócio esperam obter vantagem competiti- vários setores agrícolas (Figura 32).

Maior Gestão territorial e


compartilhamento uso eficiente da terra
de informações

Aumento da
produtividade

Aperfeiçoamento da
Irrigação de produção aquícola
precisão

Aperfeiçoamento das
cadeias produtivas

Ampliação
do poder de
informação Monitoramento Maior integração
do desperdício cidade / campo
da produção

Figura 32. Benefícios da agricultura digital.


Fonte: Nações Unidas (2018).

Este novo mercado agrícola digital poderá capaci- ou seja, novas empresas que atuam com agri-
tar clientes, fornecendo informações sobre históri- cultura digital. A maior parte delas (56%) atua
co de alimentos e segurança no ponto de compra, com soluções de suporte à decisão, e as demais
auxiliando na melhor tomada de decisão. Do lado atuam em IoT, agricultura de precisão e softwa-
do setor produtivo, permitirá um gerenciamento re para gestão (StartAgro, 2018). No entanto,
mais preciso e ações automatizadas pelo uso de reconhece-se que o hardware sozinho já não é
robôs e máquinas avançadas. Na sua maioria, o suficiente. A chave é integrar esse hardware em
mercado digital irá integrar sistemas em toda a ca- sistemas que capturam os dados mais preci-
deia de suprimentos, a fim de permitir o melhor sos, usam algoritmos para torná-los utilizáveis
compartilhamento de informações entre fornece- e redirecionam o uso de hardware agrícola com
dores, distribuidores, varejistas, consumidores e melhor aproveitamento e eficiência. Embora
indústrias de serviços de apoio. existam muitas soluções individuais, nenhuma
empresa parece ter todas as competências na
No Brasil, novas empresas já estão oferecen- agricultura digital, e as futuras empresas deve-
do produtos e serviços com base em tec- rão fazer a convergência e aglutinação neces-
nologias de agricultura digital. O 1º Censo sárias para a criação ou modelagem de novas
Agtech Startups Brasil identificou 75 startups, abordagens disruptivas. Isso significa que as

145
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

empresas de sucesso serão aquelas capazes de • Dispositivos móveis e plataformas irão


identificar suas principais capacidades e traba- conectar produtores familiares ou de pe-
lhar para construir relacionamentos nas áreas queno porte aos diversos mercados.
em que não possuem as habilidades que lhes
• Identificadores digitais únicos melhorarão o
seriam complementares.
acesso e a troca de dados entre os produtores.
Estudo indica que o setor de TIC representa 3,3%
• Análises geoespaciais ajudarão os pe-
do PIB brasileiro e 2,7% do total de investimen-
quenos produtores a tomar decisões.
tos em tecnologia da informação (TI) no mundo
(Abes Softwate, 2018). O mercado de TI no Brasil, Outro fator que revolucionará as relações con-
incluindo hardware, software e serviços, aumen- tratuais e econômicas em escala global é o uso
tou 9,2% em 2016, enquanto a média global de do blockchain e as criptomoedas. Apesar de o
crescimento foi de 5,6%. No ranking de inves- bitcoin ter sido a criptomoeda mais conhecida
timento no setor de TI na América Latina, o País na mídia, o blockchain é a grande estrutura e a
se manteve em primeiro lugar, com 45% dos in- revolução tecnológica por trás dessas moedas
vestimentos, somando US$ 59,9 bilhões, seguido digitais. Essa tecnologia se popularizará rapida-
por México (20%) e Colômbia (8%). Desse valor, mente para controle de ativos digitais, sejam
US$ 12,3 bilhões vieram do mercado de softwa- eles criptomoedas ou qualquer ativo de valor
re e US$ 14,3 bilhões do mercado de serviços. A que possa circular no meio digital, como, por
soma desses dois segmentos superou 44% do exemplo, contratos, votos, músicas e, até mes-
mercado total de TI, indicando que o Brasil integra mo, dados de pesquisa. Atualmente, existem
o grupo de economia que privilegia o desenvolvi- projetos abertos e fechados para implementa-
mento de soluções e sistemas. O mesmo estudo ção das cadeias por meio de plataforma com-
aponta que a agroindústria movimentou US$ 280 putacional distribuída.
milhões desse total, tendo tido um aumento de
25,3% em relação à pesquisa de 2014-2015. Pro- Diante desse cenário, os sistemas produti-
jeções apontam para um mercado da agricultura vos da agricultura poderão se beneficiar de
digital no futuro com movimentações financeiras maneira segura, e com mercados próprios,
ainda mais expressivas. Só o mercado de drones apoiados por plataformas digitais. Se, no
na agricultura deverá movimentar cerca de US$ passado remoto, a troca de produtos agríco-
3,6 bilhões em 2022 (MarketWatch, 2016). las e serviços como forma de comércio entre
os produtores rurais era uma realidade, agora
O World Economic Forum (Sunga, 2017) des- redes digitais de contratos inteligentes e com
taca que cinco tecnologias com propósitos criptomoedas podem se tornar uma fonte
bem segmentados irão globalmente mudar a de fluxo econômico sem os intermediários
vida dos pequenos produtores rurais: financeiros convencionais (bancos e outras
• O maior acesso à eletricidade ocasiona-
organizações de fomento), o que reduzirá ta-
rá aumento da eficiência e redução no xas de administração e consequentemente
desperdício de alimentos. aumentará a liquidez dos produtores.

• O aumento da conectividade de internet


Nos próximos 20 anos, a agricultura digital
permitirá maior acesso ao conhecimen- apoiada pela convergência dessas tecnologias
to para melhoria da produtividade nos afetará os modelos de negócios existentes no
empreendimentos rurais. setor e criará novas oportunidades. Maior foco
no usuário final, incentivado por algumas tec-

146
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

nologias com redução contínua no custo de ◉◉ Desenvolver plataformas digitais para elevar
disponibilização, permitirá que provedores lo- a interação e conectividade entre produtores
cais de pequena escala sejam mais inovadores rurais e consumidores agroalimentares.
e explorem novas aplicações.
◉◉ Ampliar PD&I em telemetria, IoT, big data, analy-
tics, Vants, impressoras 3D e 4D, entre outros,
Desafios fomentando as chamadas smart farming.
◉◉ Estabelecer “laboratórios tecnológicos ◉◉ Desenvolver e adaptar soluções de tec-
colaborativos e experimentais” para pes- nologia da informação em apoio à ras-
quisa avançada em agricultura digital. treabilidade e à certificação de produtos
que envolvam integração de sistemas,
◉◉ Promover a comunicação aberta de da-
processamento de imagens e marcado-
dos e informações em todas as esferas
res moleculares, dentre outros.
(rural-rural – rural-urbana).
◉◉ Desenvolver novos insumos biológicos
◉◉ Ampliar e fortalecer a infraestrutura de
(DNA, RNA, imunógenos, proteínas, carboi-
processamento de imagens de senso-
dratos, etc.) para o controle zoofitossanitário.
riamento remoto de alta resolução es-
pacial, temporal e espectral com foco na ◉◉ Desenvolver usos inovadores de RNAi,
agricultura digital. para aplicação, por exemplo, no controle
de pragas e doenças em plantas e animais.
◉◉ Utilizar novos meios de comunicação
seguros e estrutura cibernética para pro- ◉◉ Desenvolver e aprimorar métodos de
cessamento de complexidade algorítmi- transfecção voltados à engenharia ge-
ca e/ou grandes volumes de dados no nética de espécies animais de interesse
apoio à tomada de decisão em tempo econômico, social e ambiental.
real e ao desenvolvimento científico.
◉◉ Desenvolver novos processos de enge-
◉◉ Promover a cobertura de grandes exten- nharia genética em substituição aos pro-
sões de área de produção agrícola com cessos químicos convencionais.
dispositivos atuadores e sensores, para
aplicações em agricultura de precisão. ◉◉ Ampliar a utilização da engenharia gené-
tica para novas rotas metabólicas para
◉◉ Promover a ciência cidadã (citizen a obtenção de biofertilizantes, bioenzi-
science) para valorizar e incorporar o co- mas, processos fermentativos e proces-
nhecimento local sobre processos e fenô- sos aplicados à produção de biocom-
menos e para validar resultados e produ- bustíveis em biorrefinarias, entre outros.
tos obtidos em organizações de pesquisa.
◉◉ Obter moléculas bioativas para incre-
◉◉ Desenvolver e adaptar plataformas digitais mentos na FBN, como compostos fenó-
para suporte à tomada de decisão na agri- licos e outros indutores dos genes da
cultura, baseadas em modelos matemáti- nodulação.
cos, estatísticos e computacionais com o
uso de inteligência artificial, visão compu- ◉◉ Desenvolver novos modelos de negócios
tacional e processamento de imagens. digitais, para compartilhar informações
técnico-científicas públicas e privadas.

147
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

O futuro da agricultura
brasileira: megatendências
e o papel da ciência, da
tecnologia e da inovação
As projeções mundiais de aumento do consu- cidades sustentáveis, proteção e uso sustentá-
mo de água (+50%), energia (+40%) e alimentos vel dos oceanos e dos ecossistemas terrestres,
(+35%) até 2030 são reflexos principalmente das crescimento econômico inclusivo, infraestru-
tendências de expansão populacional, maior tura, industrialização, entre outras. Agricultura
longevidade e aumento do poder aquisitivo de e alimentação estão no centro dessa agenda
grande parte da população mundial, particu- mundial, e o Brasil deverá desempenhar papel
larmente na Ásia, África e América Latina. Esses de destaque no alcance das metas estabeleci-
aspectos, associados ao processo de intensa das.
urbanização, alterações no comportamento
dos consumidores, às mudanças nas cadeias Nesse contexto, a agricultura brasileira passa
produtivas globais e aos conflitos geopolíticos, por profundas transformações econômicas,
pressionam o setor agrícola no mundo inteiro culturais, sociais, tecnológicas, ambientais e
para que concilie o aumento da produção de mercadológicas, que ocorrem em alta veloci-
alimentos, fibras e biocombustíveis com a ne- dade e em direções distintas, impactando de
cessária sustentabilidade. forma substancial o mundo rural. O conjunto
mais recente de sinais e tendências globais e
Internacionalmente, agendas inclusivas e inte- nacionais sobre essas transformações, captado
gradas têm demandado das organizações de e analisado pela Embrapa e sua rede de parcei-
CT&I novos comprometimentos diante do de- ros, deram origem a um grupo de sete mega-
senvolvimento sustentável. Destaque pode ser tendências que, integradas, proporcionam uma
dado aos ODS, coordenados pelas Nações Uni- visão sobre o futuro da agricultura brasileira,
das. São 17 objetivos e 169 metas a serem atin- detalhada nos capítulos anteriores e sintetizada
gidos até 2030, com ações mundiais nas áreas na Figura 33.
de erradicação da pobreza, segurança alimen-
tar, agricultura, saúde, educação, igualdade de Processos como expansão e intensificação agrí-
gênero, redução das desigualdades, energia, colas serão ainda mais dinâmicos e continua-
água e saneamento, padrões sustentáveis de rão a impulsionar a velocidade das mudanças
produção e de consumo, mudança do clima, socioeconômicas e espaciais na agricultura
no Brasil. A conjunção desses processos tende a

148
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

concentrar ainda mais a produção de grãos em gualdades e na erradicação da pobreza rural;


larga escala no Cerrado brasileiro e com poten- bem como investimentos privados em pesquisa
cial expansão em novas direções para o Norte e desenvolvimento.
do País. A especialização e a intensificação das
produções animal e vegetal serão crescentes A sociedade terá preocupação crescente e de-
em todas as regiões. Haverá maior contribuição mandará das instituições públicas e de suas po-
desses sistemas para elevar a produtividade de líticas, bem como do setor produtivo, atenção
forma sustentável, aumentando a oferta de ali- no desenvolvimento de sistemas de produção
mentos, fibras e bicombustíveis no mercado in- mais sustentáveis. O Brasil poderá fortalecer
terno e a diversidade da pauta de exportações. seu reconhecimento e protagonismo mundial
na elevação da produtividade e no aumento da
A disponibilidade de mão de obra no campo oferta de produtos agrícolas com maior equilí-
continua em queda, decorrente não somente brio ambiental. Porém, será necessário elevar
da tendência de concentração da riqueza, que ainda mais os esforços visando à intensifica-
limita as oportunidades sociais, mantendo a ção e à sustentabilidade dos sistemas de
pobreza rural como importante desafio em produção agrícolas diante da limitação de re-
algumas regiões, mas também da busca por cursos naturais, especialmente água e solo, e da
melhores oportunidades nas cidades, especial- pressão mundial pela sustentabilidade em seus
mente pela população mais jovem. A abertura três aspectos (social, econômico e ambiental).
de postos de trabalho com maior nível de quali-
ficação continuará crescente, especialmente os Sistemas de produção mais resilientes e sus-
atrelados à intensificação tecnológica. tentáveis serão incentivados e priorizados nas
novas agendas de pesquisa de organizações
Ações inovadoras de governança dos processos públicas e privadas. No mundo rural, serão cada
e resultados nas cadeias produtivas deverão vez mais presentes os seguintes sistemas e pro-
experimentar melhorias estratégicas. Estudos cessos: integração lavoura-pecuária-floresta;
multiescalares envolvendo análises de paisa- agrofloresta; agricultura orgânica; plantio dire-
gens, biomas, tanto no Brasil quanto no mundo, to; fixação biológica de nitrogênio; recuperação
deverão se intensificar. Monitoramentos geoes- de pastagens degradadas; manejo de florestas
paciais e inteligência territorial estratégica serão nativas e florestas plantadas; otimização da irri-
desafiados a integrar uma diversidade ainda gação, controle biológico de pragas e doenças;
maior de dados agrícolas com aspectos sociais, reciclagem de resíduos e produção protegida.
econômicos, ambientais, mercadológicos, de
infraestrutura, de logística e armazenamento, A intensificação, viabilizando de dois a três
além de viabilizar a realização de análises sob cultivos por ano em um mesmo local, será
diferentes recortes geográficos. incrementada ainda mais pela inovação tec-
nológica, gerando maiores benefícios sociais,
A compreensão desses processos se tornará econômicos e ambientais. A demanda cres-
cada vez mais relevante para o planejamento cente por energia impulsionará ainda mais a
e a tomada de decisão, tanto na esfera pública produção de agroenergia  – biocombustíveis
quanto privada. Serão essenciais políticas pú- e biogás – e das energias eólica e solar no am-
blicas inovadoras e integradas (saúde, educa- biente rural. Em substituição às fontes fósseis,
ção  – com ênfase na formação profissional  –, essas energias renováveis estarão vinculadas à
saneamento, crédito e assistência técnica), com intensificação agrícola e deverão amplificar as
foco na inclusão social, na redução das desi- oportunidades regionais de emprego e renda.

149
Mudanças socioeconômicas

Longevidade
e espaciais na agricultura

Aumento da demanda: Alimentos - Água - Fibras - Energia


Intensificação e sustentabilidade
dos sistemas de produção agrícolas

Desenvolvimento mais Sustentável


Urbanização

Mudança do clima
Crescimento

Riscos na agricultura
Populacional

Agregação de valor nas


cadeias produtivas agrícolas

Protagonismo
Econômico

dos consumidores

Convergência tecnológica e de
conhecimentos na agricultura

Figura 33. O futuro da agricultura brasileira: principais sinais e tendências em cada megatendência.
Fonte: Agropensa (2018).
Dinamicidade espacial da população e produção | Produção e renda mais
concentradas | Escassez de mão de obra no meio rural | Concentração do
processamento e distribuição de alimentos | Avanços em análises espaciais de
uso da terra nos biomas | Ampliação da gestão territorial estratégica | Expansão
da multifuncionalidade do meio rural

Expansão sustentável e sistêmica da agricultura | Maior preservação dos recursos naturais |


Crescimento da produção agrícola especializada | Avanços em adequação ambiental e em
serviços agroambientais das propriedades rurais | Redução de perdas e desperdício de
alimentos | Influência crescente de acordos internacionais e marcos regulatórios |
Expansão dos incentivos à diversidade produtiva animal e vegetal

Elevação da temperatura média mundial | Crescentes vulnerabilidades |


Incremento do fomento em ciência & tecnologia | Novas tecnologias de adaptação e
mitigação | Sistemas agropecuários de baixa emissão de carbono | Aumento dos
acordos e compromissos mundiais | Valoração da agricultura sustentável nas
negociações internacionais

Incertezas geopolíticas globais | Aumento dos riscos econômicos, sociais e


ambientais | Persistência de gargalos em logística e armazenagem | Maior
pressão por sanidade agropecuária | Elevação dos riscos associados ao mercado
e do ambiente de negócios | Gestão integrada de riscos em expansão | Novas
ferramentas de gestão de risco

Uso mais intenso da biodiversidade | Crescente oportunidade para turismo,


gastronomia e produtos regionais | Alimentos mais nutritivos e saudáveis |
Rastreabilidade, rotulagens e certificação mais intensas | Inovações em
nanotecnologia, biotecnologia e automação | Avanços em bioeconomia |
Desenvolvimento de novos materiais e bioprodutos

Plataformas digitais nas relações de consumo | Empoderamento individual | Cocriação


de produtos e serviços | Crescente preocupação com sustentabilidade e bem-estar
animal | Maior demanda por praticidade e saudabilidade | Aumento do consumo de
produtos orgânicos | Crescimento de mercados especializados e de nichos

Novos arranjos institucionais em ecossistemas de inovação | Transformação digital


mais intensa no uso de TIC, automação e robotização | Acelerado desenvolvimento de
inteligência cognitiva computacional e IoT | Inovações em biologia sintética e
engenharia genética | Análises sistêmicas via bioinformática | Ampliação do
compartilhamento de dados | Mercado digital em expansão
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

As sinergias e interdependências do nexo água- estudos, análises e zoneamento das potencia-


-energia-alimento irão elevar a necessidade de lidades e vulnerabilidades ambientais e socie-
planejamento, implementação, monitoramen- conômicas nos diferentes biomas para o cres-
to e integração de políticas econômicas, sociais cimento da agricultura no Brasil, com base na
e ambientais. Serviços ambientais providos oferta de água e insumos.
nas APPs e em áreas de RL das propriedades
poderão cosntituir um diferencial na competiti- Questões ambientais, energéticas, sanitárias
vidade brasileira diante dos mercados interna- (animais e vegetais), de insumos, investimentos,
cionais de produtos agropecuários e florestais. mercado e comercialização poderão elevar ain-
A multifuncionalidade do espaço rural, com a da mais os riscos na agricultura na próxima
integração de atividades econômicas não agrí- década. É imprescindível o enfrentamento dos
colas, como turismo rural e gastronomia, tende riscos de forma mais articulada entre os setores
a crescer em todo o País. O desenvolvimento público e privado, passando por sua gestão in-
de métodos, indicadores e protocolos de certi- tegrada. O Brasil deverá contar com novas políti-
ficação desses sistemas sustentáveis precisará cas, programas e mecanismos que contribuam
ser incrementado, favorecendo a superação de para minimizar riscos e diminuir o diferencial
possíveis dicotomias entre a produção agrícola tecnológico entre as diferentes classes de pro-
e a preservação do meio ambiente. dutores rurais.

Apontada por inúmeros cenários, a mudan- Haverá uma progressiva necessidade de oti-
ça do clima indica riscos e possíveis impactos mização e aperfeiçoamento do desempenho
para a agricultura em todo o mundo nas pró- dos sistemas de produção, com melhor apro-
ximas décadas. A contínua discussão e análise veitamento dos períodos de plantio, manejo
dessas mudanças produzirão novos compro- e colheita; além da elevação da eficiência das
missos nacionais e internacionais. Novas tecno- operações no dia a dia da propriedade rural.
logias de adaptação e mitigação dos efeitos da Novas plataformas acessadas por múltiplas
mudança do clima deverão ser desenvolvidas vias, incluindo dispositivos móveis, devem pro-
e implementadas para as diferentes realidades ver acesso a dados e informações estratégicas,
rurais do País. A redução das emissões de GEE, projeções, cenários e comunicação diretamen-
a diminuição das taxas de desmatamento, o te para a sociedade, em escalas locais. Análises
aumento das áreas com sistemas agropecuá- integradas e prospectivas deverão apoiar a to-
rios intensivos de baixa emissão de carbono e a mada de decisão e incrementar a capacidade
recuperação de áreas degradadas serão funda- dos produtores de antecipação e de adaptação
mentais no processo de valoração da agricultu- dos seus sistemas produtivos às diferentes fon-
ra brasileira nas negociações mundiais. tes de riscos.

As tecnologias avançadas serão um ingredien- A agregação de valor nas cadeias produ-


te essencial para a sustentabilidade, porém tivas agrícolas será crescente, inclusive com
dependentes das decisões humanas em suas perspectiva de ampliação no uso da biodiversi-
formas de uso. Estudos sobre métricas de re- dade nativa. A diversificação e a especialização
siliência, ciclo de vida e balanço de energia de permitirão atender expectativas de uma socie-
sistemas de produção animal e vegetal deverão dade mais exigente, sofisticada e com consu-
apoiar a governança da política nacional de midores propensos a pagar preço-prêmio, em
mudança do clima. Será necessário amplificar um ambiente em que os mercados serão ainda
mais competitivos. A rastreabilidade dos produ-

152
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

tos que contenham informações de seu local mídias nos meios urbano e rural. Os avanços
de origem, insumos utilizados, colheita, abate, das mídias sociais e das plataformas de comér-
processamento, conservação, qualidade, ar- cio eletrônico têm impulsionado grandes trans-
mazenamento e transporte se tornará condição formações no relacionamento, na interação e
essencial para atendimento ao consumidor que na comunicação entre produtores, comercian-
exigirá transparência em relação a tais caracte- tes e consumidores.
rísticas.
A economia digital e colaborativa incremen-
O desenvolvimento de alimentos e bebidas tará ainda mais as habilidades de negociação
baseados em nichos de mercado, como funcio- e interações do consumidor nos processos
nais, fortificados, reduzidos ou isentos de açú- comerciais. No setor agroalimentar, isso é evi-
car, sódio e gorduras trans, será ampliado. Além denciado pela emergência de novos modelos
da nutrição, o alimento ganhará novos espaços, de negócio, como a venda direta do produtor,
como seu poder de socialização, prazer senso- o desenvolvimento de alimentos a partir de ex-
rial e experiência cultural. Produtos com novas cedentes e a valorização de produtos regionais,
funcionalidades, comercialização diferenciada, orgânicos, probióticos, vitamínicos, alergênicos,
terroir ou regionalidade de bebidas, queijos, bioestimulantes, bem-estar animal, gourmet e
embutidos, polpas, frutas e doces tendem a premium. Cada pessoa pode tornar-se um pro-
gerar cada vez mais empregos e renda no meio dutor e/ou um criador e difundir seus próprios
rural. produtos e conteúdos por meio de suas redes
de relacionamento através das plataformas di-
O uso de recursos biológicos renováveis será
gitais.
amplificado na produção de alimentos, quími-
cos, semioquímicos, fármacos, nutracêuticos, Cadeias produtivas serão mais valorizadas por
fibras, extratos e óleos essenciais, produtos causa da inclusão dos diferentes grupos sociais
industriais e energia. A domesticação e o apro- de produtores tradicionais e da incorporação
veitamento da biodiversidade nativa deverão de novas responsabilidades em seus negócios,
continuar crescentes, permitindo poupar recur- tanto em termos de compliance, quanto pela
sos naturais e fortalecer os espaços rurais com capacidade de executar e comunicar práticas
inclusão social e econômica das populações empresariais ambientalmente corretas e social-
locais. Aspectos relacionados à rotulagem e às mente mais justas. As redes de fair trade tendem
certificações, como os selos de qualidade, de- a maior protagonismo associado ao incremen-
nominação de origem, produto orgânico e so- to das certificações de comércio justo, com o
cioambiental, tendem a expressivo crescimento desenvolvimento de melhores condições de
nas próximas décadas. troca e a garantia dos direitos para produtores
e trabalhadores.
O protagonismo dos consumidores acelera
movimentos globais em direção à intensifica- Concomitantemente às mudanças sociais, cul-
ção do uso de plataformas digitais nas relações turais e econômicas nacionais e mundiais, a
de consumo, à cocriação de produtos e servi- agricultura passará por novas transformações
ços e à redução do desperdício de alimentos. O baseadas na convergência tecnológica e de
crescente nível de escolaridade da população conhecimentos na agricultura. A convergên-
adulta brasileira nas próximas décadas deve- cia das geotecnologias (GPS, Vants e sistemas
rá aumentar esse protagonismo, em razão do de informação) com a agricultura de precisão
maior acesso às informações por meio de novas (robótica, automação, inteligência artificial e

153
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

impressoras 3D) proporcionarão novos pata- Para superar os desafios em CT&I decorrentes
mares de eficiência e sustentabilidade na pro- das megatendências e aproveitar as oportuni-
dução animal e vegetal via agricultura digital. dades em uma agricultura cada vez mais com-
plexa e um mercado exigente em qualidade e
A interoperabilidade por meio da IoT permi-
sustentabilidade, alguns desafios serão comuns
tirá ampliar a supervisão e a análise das ope-
e transversais a todas as organizações dedica-
rações nas propriedades rurais. O número de
das a CT&I agrícola, destacando a necessidade
aplicativos para pequenos, médios e grandes
de:
produtores terá elevado desenvolvimento, es-
pecialmente para a gestão das áreas agrícolas, ◉◉ Fortalecer a articulação público-privada e
manejo de rebanhos, cotação de insumos, pre- público-pública, visando integrar investi-
visão de clima, identificação de doenças, uso de mentos e esforços estruturais diante das
defensivos, irrigação, código florestal e comer- rupturas tecnológicas crescentes e ampliar
cialização. O desenvolvimento científico será o acesso à saúde, à educação e à segurança
ampliado com a utilização convergente das alimentar das comunidades rurais, a fim de
áreas de nanotecnologia, biotecnologia, tecno- minimizar as desigualdades regionais.
logia da informação e ciência cognitiva (NBIC).
◉◉ Amplificar a análise integrada das in-
Abordagens e análises sistêmicas via bioinformáti- certezas e riscos econômicos, sociais e
ca proporcionarão melhor compreensão sobre o ambientais em escalas regionais e sua
funcionamento de sistemas agrícolas mais com- influência global no planejamento es-
plexos e suas interações com o meio. A engenharia tratégico da organização das diferentes
genética, por meio da edição genômica, tende a cadeias produtivas agrícolas.
evoluir exponencialmente na busca de genes que
◉◉ Definir estratégias de planejamento ter-
conferem maior resistência e tolerância a estres-
ritorial visando ao uso e à ocupação do
ses climáticos, no controle de pragas e doenças
solo via nexo de produção alimentar e
agrícolas e no melhoramento genético animal,
energias renováveis, conservação e pre-
bem como na diminuição de custos de produção
servação ambiental.
e maior sustentabilidade. Rotas metabólicas ino-
vadoras serão desenvolvidas visando à obtenção ◉◉ Identificar e analisar novos padrões de
de novos bioprodutos, como cosméticos, biofár- consumo visando atender às crescentes
macos, bioplásticos, biofertilizantes, bioenzimas exigências do consumidor em saudabi-
e biocombustíveis. Espera-se ainda um crescente lidade, praticidade, qualidade, confiabi-
desenvolvimento da citizen science (ciência cida- lidade, sensorialidade, prazer, sustenta-
dã) para melhorar a tomada de decisão de produ- bilidade e ética da produção e consumo
tores rurais e políticas públicas. de alimentos e derivados.
Nesse paradigma, os negócios convencionais se ◉◉ Contribuir para políticas públicas regio-
desenvolverão sob a ótica do mercado digital. O nalizadas visando ao maior dinamismo
relacionamento com clientes e consumidores organizacional científico-industrial-ins-
será fortalecido por meio dos ecossistemas em- titucional, apoiando arranjos produti-
presariais, do uso intensivo da automação e da vos agroindustriais e sua integração aos
convergência das TIC. A inteligência cognitiva mercados locais.
computacional viabilizará a criação de novos
produtos e serviços digitais para a sociedade.

154
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

◉◉ Estabelecer novas conexões entre sis- o papel das organizações públicas e privadas de
temas de conhecimento tradicionais e CT&I, como a Embrapa, será imprescindível.
científicos envolvendo múltiplos atores
As seguintes questões centrais se apresentam
e agentes públicos e privados para gerar
para o futuro das organizações: definir seu foco
inovações sociais e tecnológicas.
de atuação, reconhecendo a necessidade de
◉◉ Aprimorar articulações para constru- realizar pesquisa e inovação responsáveis, e fo-
ção de redes institucionais de múltiplos mentar a adoção de novos padrões de consu-
atores – do governo, da sociedade civil mo, a diversificação da produção e melhorias
organizada e do setor privado – com ar- na governança e inovação institucional.
ticulações intersetoriais e intergoverna-
mentais para desenvolver tecnologias e O Brasil alcançou seu recorde de produção de
práticas voltadas também à agricultura grãos na última safra, com cerca de 240 milhões
urbana e periurbana. de toneladas de grãos. Produz mais de 400 produ-
tos de origem animal e vegetal, provenientes das
◉◉ Melhorar a capacitação, tanto pública diferentes escalas e tamanhos de unidades pro-
quanto privada, técnica e profissional, dutivas, os quais são consumidos internamente
bem como o acesso a tecnologias, ino- e exportados para mais de 150 países de todos os
vações e conhecimentos de gestão das continentes. Os efeitos dessa condição proporcio-
propriedades agrícolas, a fim de atender naram preços mais acessíveis aos consumidores,
às diferentes classes rurais e às necessi- elevaram a renda, geraram novos empregos e
dades específicas de gênero (avançando impulsionaram a participação da agricultura no
na equidade de gênero). PIB brasileiro. Em 2017, as exportações de produ-
tos agropecuários alcançaram US$ 96,1 bilhões e
◉◉ Fortalecer alianças estratégicas nacio-
responderam por 44,1% do total das exportações
nais e internacionais, conjugando atores
brasileiras. O sucesso competitivo e sustentável da
e ações governamentais, do setor priva-
agricultura nacional passará por sua diversidade,
do e da sociedade civil organizada para
pluralidade e heterogeneidade, resultantes das re-
maior acesso a informações, tecnolo-
lações culturais, sociais, econômicas e ambientais
gias, financiamentos e mercados.
em curso e futuras.
◉◉ Desenvolver estratégias de comunica-
O conjunto das megatendências e os desafios
ção rural-urbana e Brasil-Mundo, forta-
apresentados neste estudo podem moldar a
lecendo a importância estratégica da
agricultura do futuro e seu efeito transformador
produção de alimentos saudáveis e da
para nossa história. A população e a renda con-
agroenergia limpa, ambas ambiental-
tinuam crescendo e a longevidade se expandin-
mente sustentáveis.
do em âmbito global, acarretando o desafio de
Ciência, tecnologia e inovação foram pilares do atender à elevação do consumo de alimentos,
desenvolvimento agrícola brasileiro nessas últi- fibras e energia de mais de 2 bilhões de pessoas
mas décadas e será com essa mesma tríade, de- adicionais no planeta até 2030. As vulnerabilida-
senvolvida por fortes parcerias público-privadas des e incertezas são crescentes e, nesse futuro
orientadas por políticas públicas consistentes e próximo, não bastará produzir maiores volu-
efetivas, que o protagonismo da agricultura no mes, será imperativo produzir com mais quali-
desenvolvimento econômico, social e ambien- dade, reduzindo custos, minimizando riscos e
tal no País e no mundo será mantido. Para tanto, conservando os recursos naturais.

155
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

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179
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

ANEXOS
Anexo 1. Notas técnicas que serviram de base para o documento Visão 2030 : O Futuro da Agricultura Brasileira.
Título Fonte Autores/Colaboradores
Paula Regina K. Falcão
A bioinformática como Felipe R. da Silva
transdutor do big data para Observatório de Infor- Poliana Fernanda Giachetto
a biotecnologia e agricul- mática Agropecuária Isabel Rodrigues Gerhardt
tura Ricardo Augusto Dante
(Embrapa Informática Agropecuária)
A dimensão econômica no
Geraldo B. Martha Jr.
Departamento de Agricul-
Labex USA Brief (Secretaria de Relações Internacionais - Labex/
tura dos Estados Unidos
USA)
(Usda): uma reflexão inicial
Camilo Carromeu
A era da transformação di-
(Embrapa Gado de Corte)
gital e seus impactos para
Observatório de Inova- Fabiano Mariath
o agronegócio brasileiro
ção e Negócios Digitais (Departamento de Tecnologia da Informação)
e oportunidades para a
Renato Cristiano Torres
Embrapa
(Embrapa Agrossilvipastoril)
Nilza Patrícia Ramos
André May
A sustentabilidade como (Embrapa Meio Ambiente)
Portfólio Sucroalcoo-
oportunidade para o setor Maria Lúcia Simeone
leiro Energético
sucroenergético brasileiro (Embrapa Milho e Sorgo)
Sérgio dos Anjos
(Embrapa Clima Temperado)
Geraldo B. Martha Jr.
A sustentabilidade da
Labex USA Brief (Secretaria de Relações Internacionais -
pecuária brasileira
Labex/USA)

180
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


Amaury da Silva dos Santos
(Embrapa Tabuleiros Costeiros)
Carlos Alberto Barbosa Medeiros
(Embrapa Clima Temperado)
José Antonio Azevedo Espindola
(Embrapa Agrobiologia)
Ações de PD&I em siste- Portfólio de Sistemas
Marcos Flávio Silva Borba
mas de produção de base de Produção de Base
(Embrapa Pecuária Sul)
ecológica Ecológica
Mariane Carvalho Vidal
(Embrapa Hortaliças)
Tatiana Deane de Abreu Sá
(Embrapa Amazônia Oriental)
Ynaiá Masse Bueno
(Departamento de Transferência de Tecnologia)
Observatório de
Regina C. A. Lago
Admirável mundo novo Agroindústria
(Embrapa Agroindústria de Alimentos)
Alimentos
Alexandre Camargo Coutinho
Daniel de Castro Victoria
Eduardo Delgado Assad
Júlio César D. Mora Esquerdo
Luis Gustavo Barioni
(Embrapa Informática Agropecuária)
Agricultura digital: perspec-
Édson Luis Bolfe
tivas futuras em geotec-
Portfólio Geotecno- (Secretaria de Inteligência e Macroestratégia)
nologias e modelagem
logias Elaine Cristina Cardoso Fidalgo
agroambiental para a
(Embrapa Solos)
produção agrícola
Haron Abrahim Magalhães Xaud
(Embrapa Roraima)
Iêdo Bezerra Sá
(Embrapa Semiárido)
Márcia Helena Galina Dompieri
(Embrapa Tabuleiros Costeiros)
Agricultura familiar e
agroindústria rural – valor, Observatório da Agri- Marcelo Nascimento de Oliveira
recursos e dinâmicas como cultura Familiar (Departamento de Transferência de Tecnologia)
desafios para PD&I
Aqüicultura e sanidade: de- Alitiene Moura Lemos Pereira
Ad hoc
safios para o crescimento (Embrapa Meio - Norte)

181
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


José Antonio Azevedo Espindola
Aspectos científicos e tec- Eliane Maria Ribeiro da Silva
nológicos da agroecologia Observatório da Agro- Marco Antonio de Almeida Leal
e dos sistemas orgânicos biologia Marta dos S. F. Ricci de Azevedo
de produção Renato Linhares de Assis
(Embrapa Agrobiologia)
Daniela Tatiane de Souza
Richardson Silva Lima
Manoel Teixeira Souza Junior
Guy de Capdeville
Biodiesel e bioquerosene:
Observatório de Marcia Mitiko Onoyama
o papel da Embrapa Agroe-
Agroenergia Gilmar Souza Santos
nergia
João Ricardo M. de Almeida
Rossano Gambetta
Bruno Galveas Laviola
(Embrapa Agroenergia)
Marcos Antonio G. Pena Jr.
Bioeconomia: oportunida-
Observatório do Agro- Danielle Alencar P. Torres
des para o setor agrope-
pensa Roberta Dalla P. Gründling
cuário
(Secretaria de Inteligência e Macroestratégia)
Geraldo B. Martha Jr.
(Secretaria de Relações Internacionais - Labex/
Brazil’s national
Labex USA Brief USA)
characteristics
Eliseu Alves
(Diretoria – Executiva/ Presidência)
Isaque Vacari
Compartilhamento e aber-
Debora Pignatari Drucker
tura de dados no contexto
Observatório de Infor- Ivo Pierozzi Junior
científico, tecnológico e de
mática Agropecuária Marcos Cezar Visoli
inovação: oportunidades e
Patrícia Rocha Bello Bertin
desafios
(Embrapa Informática Agropecuária)

182
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


Eric Arthur Bastos Routledge
Luciana Nakaghi G. Kirschnik
(Embrapa Pesca e Aquicultura)
Julio Ferraz de Queiroz
(Embrapa Meio Ambiente)
Alitiene Moura Lemos Pereira
Conhecimento e tecnolo-
(Embrapa Meio - Norte)
gia para aumento da com- Portfólio de Aquicul-
Carlos Alberto da Silva
petitividade da aquicultura tura
(Embrapa Tabuleiros Costeiros)
nacional
Fernanda L. de Almeida O’Sullivan
(Embrapa Amazônia Ocidental)
Jorge Antonio Ferreira de Lara
(Embrapa Pantanal)
Ricardo Borghuesi
(Embrapa Agropecuária Oeste)
Crescimento do consumo
Maria do Rosário L. Rodrigues
do óleo de palma e das
Ricardo Lopes
demandas de soluções Portfólio de Palma de
(Embrapa Amazônia Ocidental)
tecnológicas para a cadeia Óleo
Rui Alberto Gomes Junior
produtiva da palma de
(Embrapa Amazônia Oriental)
óleo
Demandas atuais e futuras
Observatório Suínos Nádia Solange Schmidt Bassi
da cadeia produtiva de
e Aves (Embrapa Suínos e Aves)
suínos
Ednaldo José Ferreira
(Embrapa Instrumentação)
Fernando Rodrigues Teixeira Dias
(Embrapa Pantanal)
Helano Póvoas de Lima
Kleber Xavier S. de Souza
Desafios da computação
Luis Gustavo Barioni
científica face à transfor- Observatório de Infor-
Maria do Carmo R. Fasiaben
mação digital na agricul- mática Agropecuária
Maria Fernanda Moura
tura
Roberto Hiroshi Higa
Sônia Ternes
Stanley Robson de Medeiros Oliveira
(Embrapa Informática Agropecuária)
José Mauro M. Ávila Paz Moreira
(Embrapa Florestas)

183
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


Desafios e tendências Vinícius do Nascimento Lampert
tecnológicas para uma Fernando Flores Cardoso
Observatório de Pe-
pecuária competitiva e Alexandre Costa Varella
cuária Sul
sustentável nos campos Estefanía Damboriarena
sul-brasileiros (Embrapa Pecuária Sul)
Desafios para o país com
maior consumo de agro- Robson Barizon
Portfólio de Manejo
tóxicos: equilíbrio entre (Embrapa Meio Ambiente)
Racional de Agrotó-
produção agrícola, socie- Rômulo Penna Scorza Junior
xicos
dade urbana e preservação (Embrapa Agropecuária Oeste)
ambiental
Desenvolvimento e Marcos Brandão Braga
adaptações de tecnologias Juscimar da Silva
Observatório de Hor-
para a produção agrícola Ítalo Moraes Rocha Guedes
taliças
sustentável em ambiente Carlos Eduardo Pacheco Lima
protegido (Embrapa Hortaliças)
Documento “vision,
stratégie et ambitions du Pedro L. O. de A. Machado
Cirad pour 2018-2028” Labex EU Brief (Secretaria de Relações Internacionais - Labex/
revisão e importância para EU)
a Embrapa
Marcio Elias Ferreira
Eduardo Romano de Campos Pinto
Edição de genomas Angela Mehta dos Reis
Observatório de
CRISPR-CAS9: desafios e Giovanni Rodrigues Vianna
Recursos Genéticos e
oportunidades do uso da Júlio Carlyle M. Rodrigues
Biotecnologia
ferramenta Jorge Madeira N. Junior
Milene da Silva Castellen
(Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia)
Alexandre Lima Nepomuceno
(Embrapa Soja)
Ana Cristina Miranda Brasileiro
Elibio Leopoldo Rech Filho
Edição genômica e uso (Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia)
tópico de RNAI: perspecti- Hugo Bruno Correa Molinari
Portfólio EnGenAgro
vas e oportunidades para o (Embrapa Agroenergia)
agronegócio Isabel Rodrigues Gerhardt
Ricardo Augusto Dante
(Embrapa Informática Agropecuária)
Luiz Sergio de A. Camargo
(Embrapa Gado de Leite)

184
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


Virgínia Martins da Matta
(Embrapa Agroindústria de Alimentos)
Rafaella de Andrade Mattietto
(Embrapa Amazônia Oriental)
Estratégias para produção
Priscila Zaczuk Bassinello
de alimentos que atendam Portfólio de Alimento,
(Embrapa Arroz e Feijão)
a dietas de alta qualidade Nutrição e Saúde
Marcia Vizzotto
nutricional e funcional
(Embrapa Clima Temperado)
Ana Paula Dionisio
Edna Maria Morais Oliveira
(Embrapa Agroindústria Tropical)
Ieda de Carvalho Mendes
(Embrapa Cerrados)
Mariangela Hungria
Fixação biológica de ni-
Portfólio de Fixação (Embrapa Soja)
trogênio: sustentabilidade
Biológica de Nitrogê- Segundo S. Urquiaga Caballero
agrícola e responsabilida-
nio Jerri Edson Zili
de ambiental
(Embrapa Agrobiologia)
Krisle Silva
(Embrapa Floresta)
Áurea Fabiana A. de Albuquerque
Gilmar Souza Santos
Fruticultura tropical no Observatório de Man- Jose da Silva Souza
Brasil: sinais e tendências dioca e Fruticultura Marcelo do Amaral Santana
Carlos Estevão Leite Cardoso
(Embrapa Mandioca e Fruticultura)
Impactos das mudanças
demográficas e econômi-
cas globais, com cresci-
mento da participação
dos países emergentes na Judson Ferreira Valentim
Ad hoc
economia global para o (Embrapa Acre)
posicionamento estratégi-
co do sistema de inovação
agropecuário do Brasil até
2050
Lívia Pereira Junqueira
Impactos sociais e eco- Keize Pereira Junqueira
nômicos e tendências de Observatório de Pro- (Embrapa Produtos e Mercados)
mercado para as cultivares dutos e Mercados Nilton Tadeu Vilela Junqueira
de maracujá BRS Fábio Gelape Faleiro
(Embrapa Cerrados)

185
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


Maurício A. Lopes
Institutional innovations (Diretoria – Executiva/ Presidência)
in Brazilian agricultural Labex USA Brief Geraldo B. Martha Jr.
organizations (Secretaria de Relações Internacionais - Labex/
USA)
Segundo Urquiaga
Ivo Baldani
Bruno J. R. Alves
Jerri Zilli
Insumos biológicos:
Veronica Reis
imprescindíveis para o de- Observatório da Agro-
Norma Rumjanek
senvolvimento sustentável biologia
Jean L. Simões Araujo
da agricultura brasileira
Ederson Jesus
Maria E. F. Correia
Gustavo R. Xavier
(Embrapa Agrobiologia)
Manoel Xavier Pedroza Filho
Intensificação tecnológica Observatório de Pesca
Eric Arthur Bastos Routledge
da aquicultura brasileira e Aquicultura
(Embrapa Pesca e Aquicultura)
Silvia Maria Fonseca S. Massruhá
Ariovaldo Luchiari Junior
Eduardo Delgado Assad
Internet das coisas e suas Júnia Rodrigues de Alencar
Observatório de Infor-
implicações na agricultura Kleber Xavier S. de Souza
mática Agropecuária
digital Maria Angélica de Andrade Leite
Paula Regina Kuser Falcão
Silvio Roberto Medeiros Evangelista
(Embrapa Informática Agropecuária)
Manejo integrado da paisa-
gem florestal e agrícola na
Milton Kanashiro
propriedade rural e unida- Ad hoc
(Embrapa Amazônia Oriental)
des de conservação,UC) de
uso indireto
Rafael Vivian
Mercado agropecuário Jurema Iara Campos
- processo dinâmico e Ad hoc (Embrapa Produtos e Mercado)
sensível Ana Lucia Atrasas
(Secretaria de Negócios)

186
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


José Mauro M. Ávila Paz Moreira
O desafio de restaurar e Rosana Clara Victoria Higa
reflorestar 12 milhões de Observatório de Flo- Erich Gomes Schaitza
hectares de florestas até restas Edilson Batista de Oliveira
2030 para múltiplos usos Susete do Rocio Chiarello Penteado
(Embrapa Florestas)
Gilmar Paulo Henz
O futuro da alimentação no
Observatório Agro- (Secretaria de Inteligência e Macroestratégia)
Brasil: o paradoxo da abun-
pensa Gustavo Porpino de Araujo
dância e do desperdício
(Secretaria de Comunicação)
O futuro na visão da Aus-
Ivar Wendling
trália e seus impactos para Ad hoc
(Embrapa Florestas)
a agricultura tropical
Rosângela Straliotto
Claudia Regina de Laia Machado
O papel do solo como Kelita Andrade
recurso essencial para a Renato de Aragão Ribeiro Rodrigues
consolidação da agricultu- André Luis da Silva Lopes
Observatório de Solos
ra tropical conservacionis- Lígia Souza Brandão
ta, sustentável e de baixo Maria Ortiz A. Baptista Portes
carbono Maria Regina Capdeville Laforet
Renata Avilla Paldes
(Embrapa Solos)
Observatório vitivinícola
brasileiro: estratégia para José Fernando da Silva Protas
articulação, desenvolvi- Alexandre Hoffmann
mento e validação de uma Observatório Uva e Joelsio José Lazzarotto
ferramenta de prospecção Vinho Mauro Celso Zanus
de sinais e tendências João Henrique Figueredo
como subsídio para a pes- (Embrapa Uva e Vinho)
quisa e inovação
Nádia Solange Schmidt Bassi
Oportunidades e desafios (Embrapa Suínos e Aves)
Observatório Suínos
em PD&I na cadeia produti- Christian Luiz da Silva
e Aves
va de frangos de corte (Universidade Tecnológica Federal do Paraná -
Utfpr)

187
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


Frederico de Pina Matta
Patrícia Menezes Santos
Pastagens: mercado de (Embrapa Pecuária Sudeste)
inovação e oportunidades Portfólio de Pastagens Juarez Campolina Machado
científicas e tecnológicas (Embrapa Gado de Leite)
Valeria Pacheco Batista Euclides
(Embrapa Gado de Corte)
Perspectivas e tendências
Jamilsen de Freitas Santos
da cafeicultura brasileira
Observatório do Café Lucas Tadeu Ferreira
no contexto do mercado
(Embrapa Café)
mundial de café
Pesquisa exploratória so-
bre pragas quarentenárias
ausentes e exóticas não re-
Maria Conceição Peres Young Pessoa
gulamentadas de potencial
Jeanne Scardini Marinho Prado
importância econômica Observatório do Meio
Luiz Alexandre Nogueira de Sá
para as principais commo- Ambiente
Simone de Souza Prado
dities brasileiras, visando
(Embrapa Meio Ambiente)
análise de tendências de
comportamento, estabele-
cimento e controle
Geraldo B. Martha Jr.
Policies for food and
(Secretaria de Relações Internacionais - Labex/
nutritional security in USA)
Labex USA Brief
Brazil: a very brief Cleber Soares
introduction
(Embrapa Gado de Corte)
Giampaolo Q. Pellegrino
Poliana F. Giachetto
(Embrapa Informática Agropecuária)
Bruno J. R. Alves
Principais tendências em (Embrapa Agrobiologia)
PD&I na interface entre Portfólio de Mudanças Marília I. S. Folegatti Matsuura
mudanças climáticas e Climáticas Marcelo A. B. Morandi
agricultura (Embrapa Meio Ambiente)
Rosana C. V. Higa
(Embrapa Florestas)
Patrícia P. Anchão de Oliveira
(Embrapa Pecuária Sudeste)

188
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


Clovis Oliveira de Almeida
Produção de mandioca no
Carlos Estevão Leite Cardoso
Brasil: o desafio do incre- Observatório de Man-
Marcio Carvalho Marques Porto
mento de produtividade dioca e Fruticultura
Laércio Duarte Souza
com preservação de solos
(Embrapa Mandioca e Fruticultura)
Produtores rurais, orga-
nização e oportunidades
Juan Diego Ferelli de Souza
de mercado: questões
Observatório de Capri- Klinger Aragão Magalhães
fundamentais para o
nos e Ovinos Vinicius Pereira Guimarães
desenvolvimento rural e
(Embrapa Caprinos e Ovinos)
produtivo para a ovinocul-
tura e caprinocultura
Redução do uso de antimi-
Jalusa Deon Kich
crobianos em sistemas de Portfólio de Sanidade
José Rodrigo Pandolfi
produção animal: oportu- Animal
(Embrapa Suínos e Aves)
nidades para o futuro
Carlos Alberto Arrabal Arias
Reposicionamento de Marcelo Hiroshi Hirakuri
Observatório da Soja
cultivares de soja Irineu Lorini
(Embrapa Soja)
Sinais e tendências de de-
mandas para o desenvolvi-
mento sustentável do setor
Jorge Enoch F. Werneck Lima
agropecuário em relação Ad hoc
(Embrapa Cerrados)
aos recursos hídricos: ciên-
cia, tecnologia, inovação e
negócios
Sustentabilidade e sus-
Silvia Kanadani Campos
tentação da produção de Observatório Agro-
Danielle Alencar Parente Torres
alimentos: tendências e pensa
(Secretaria de Inteligência e Macroestratégia)
desafios

189
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


Geraldo B. Martha Jr.
(Secretaria de Relações Internacionais - Labex/
USA)
Technology and innovation Elibio Rech
Labex USA Brief
in Brazilian agriculture
(Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia)
Maurício A. Lopes
(Diretoria – Executiva/ Presidência)
Técnicas e estratégias
Luiz Fernando Duarte de Moraes
para a construção de uma
Mariella Carmadelli Uzêda
paisagem sustentável: Observatório da Agro-
Alexandre da Silva Resende
restauração e adequação biologia
Eduardo Francia C. Campello
ambiental de propriedades
(Embrapa Agrobiologia)
rurais
Guilherme Julião Zocolo
(Embrapa Agroindústria Tropical)
Élen Silveira Nalerio
Tecnologia da biomassa e
(Embrapa Pecuária Sul)
química verde: da biodi-
Portfólio de Agregação Regina Isabel Nogueira
versidade a bioeconomia,
de valor (Embrapa Agroindústria de Alimentos)
agregação de valor à
Ronielli Cardoso Reis
agroindústria brasileira
(Embrapa Mandioca e Fruticultura)
Humberto de Mello Brandão
(Embrapa Gado de Leite)
Leonardo Valadares
Washington Esteves
Temas de futuro em Portfólio de Química (Embrapa Agroenergia)
química e tecnologia da e Tecnologia da Bio- Henriette M. C. de Azeredo
biomassa massa (Embrapa Agroindústria Tropical)
Humberto Bizzo
(Embrapa Agroindústria de Alimentos)
Jayme Garcia Arnal Barbedo
Tendências futuras para
Leonardo Ribeiro Queiros
as áreas de automação, Observatório de Infor-
Thiago Teixeira Santos
agricultura de precisão e mática Agropecuária
Ariovaldo Luchiari Junior
internet das coisas
(Embrapa Informática Agropecuária)
Utilização de microrga-
nismos para aumentar a João Carlos Garcia
eficiência de processos Observatório de Milho Ivanildo Evódio Marriel
produtivos que envolvem e Sorgo Christiane Abreu de Oliveira Paiva
a produção de milho e do (Embrapa Milho e Sorgo)
sorgo

190
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Fonte Autores/Colaboradores


Você conhece o preço
Maria de Lourdes M. Santos Brefin
ambiental de seu consumo Ad hoc
(Embrapa Cocais)
de alimentos?

Anexo 2. Estudos prospectivos de base para elaboração do documento Visão 2030 : O Futuro da Agricultura Brasileira.

Título Referência
ROSENZWEIG, C.; ELLIOTT, J.; DERYNG, D.; RUANE, A. C.; MÜLLER, C.;
ARNETH, A.; BOOTE, K. J.; FOLBERTH, C.; GLOTTER, G.; KHABAROV, N.;
Assessing agricultural risks
NEUMANN, K.; PIONTEK, F.; PUGH,T. A. M.; SCHMID, E.; HONG, Y. E.;
of climate change in the 21st
JONES, J. W. Assessing agricultural risks of climate change in the 21st
century in a global gridded crop
century in a global gridded crop model intercomparison. PNAS, v. 111,
model intercomparison
n. 9, p. 3268-3273, Mar. 2014. Disponível em: <http://www.pnas.org/
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Australia’s agricultural future
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WORLD ECONOMIC FORUM. Building partnerships for
Building partnerships for sus-
sustainable agriculture and food security. Jan. 2016.
tainable agriculture and food
Disponível em: <http://www3.weforum.org/docs/IP/2016/NVA/
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NVAGuidetoCountryLevelAction.pdf>. Acesso em: 17 Aug. 2017.
CANADA 2030: an agenda for sustainable development.
Canada 2030 - an agenda for Disponível em: <http://www.post2015datatest.com/wp-content/
sustainable development uploads/2015/02/Canada-2030-Final-Feb-2014.pdf>. Acesso em: 20
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CASTRO, L. B. de; SOUZA, F. E. P. de. Cenários mundo-Brasil 2030:
Cenários mundo-Brasil 2030 – insumos para o planejamento estratégico do BNDES. Disponível
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192
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

SUNDSTRÖM, J. F.; ALBIHN. A.; BOQVIST, S.; LJUNGVALL, K.;


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BARANZELLI, C.; PERPIÑA, C. C.; BARBOSA, A. L.; SILVA, F. B.;
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193
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

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194
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

STRASSBURG, B. N.; LATAWIEC, A. E.; BARIONI, L;. G.; NOBRE,


When enough should be C. A.; SILVA. V. P. da; VALENTIM, J. F.; VIANNA, M.; ASSAD, E. D.
enough: improving the use of When enough should be enough: improving the use of current
current agricultural lands could agricultural lands could meet production demands and spare
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and advance tables
key_findings_wpp_2015.pdf>. Acesso em: 14 jun. 2017.

Anexo 3. Artigos de opinião consultados na plataforma Olhares para 2030: Desenvolvimento Sustentável.

Título Autor Organização


Organização das Nações Unidas
A segurança alimentar, a produção agrí- para a Alimentação e a Agricultura
Alan Bojanic
cola e o desenvolvimento sustentável
(FAO Brasil)
Alimentos seguros: desafio tecnológico John Deere
Alexandre Hoffmann
em resposta à sociedade Brasil
A engenharia genética na agricultura e o
Alexandre Nepomuceno Embrapa
desenvolvimento sustentável
Caminhos sustentáveis para o futuro da Alfredo Kingo Oyama
Embrapa
amazônia brasileira Homma
Instituto Mato-Grossense do
A agricultura brasileira diante de novos Algodão
Alvaro Salles
desafios
(IMAmt)
Mercados agrícolas e a inovação. Ponto Associação Brasileira dos Produ-
de partida: regulação de padrões, certi- Alysson Paolinelli tores de Milho
ficações e rastreabilidade (Abramilho)
Sustentabilidade na cadeia de valor do Archer Daniels Midland 
agronegócio e sua importância para o Amanda Cosenza
futuro da atividade (ADM Brasil)

Desafios da segurança alimentar Ana Amélia Senado Federal


Observatório ABC como processo de me- Fundação Getúlio Vargas
Angelo Costa Gurgel
lhoria ao desenvolvimento sustentável (FGV)

195
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Autor Organização


Tendências para os biocombustíveis Laboratório Nacional de Ciência e
avançados no brasil – a integração dos Antonio Bonomi Tecnologia do Bioetanol
sistemas produtivos (CTBE)
Faculdade de Economia, Adminis-
A política e a economia da agricultura e
Antonio Delfim Netto tração e Contabilidade da Univer-
da segurança alimentar
sidade de São Paulo (FEA/USP)
Revolução na qualidade e na produtivi- FSL Angus ITU
dade na pecuária de corte – o papel da Antonio Maciel Neto Biotick
embrapa Quero Ser CEO
Associação Nacional dos Fabri-
A transformação do campo por meio da cantes de Veículos Automotores
Antonio Megale
mecanização
(Anfavea)
Associação Brasileira dos Produ-
Arlindo de tores de Algodão
Cotonicultura pensada para durar
Azevedo Moura
(Abrapa)
Associação Brasileira dos Criado-
Agricultura e desenvolvimento susten- res de Zebu 
Arnaldo Borges
tável
(ABCZ)
Ministério da Agricultura, Pecuária
Agricultura e o desenvolvimento susten- e Abastecimento
Blairo Maggi
tável no horizonte de 2030
(Mapa)
Uma reflexão sobre mudanças climáti- Academia Brasileira de Ciências
cas, riscos para a agricultura brasileira e Carlos Nobre
o papel da embrapa (ABC)

A mulher como promotora de sustenta- Núcleo Feminino do Agronegócio


Carmem Perez
bilidade da atividade agropecuária (NFA)
A pesquisa pública como fonte gerado-
Celso Moretti Embrapa
ra de valor para a agricultura brasileira
A organização de bancos genéticos
como base para a segurança alimentar Clara Oliveira Goedert Embrapa
e melhoramento genético
A inovação social, desafios e perspec- Cristhiane Oliveira da
Embrapa
tivas Graça Amâncio
A educação profissional e a assistência Serviço Nacional de Aprendiza-
técnica e gerencial: rentabilidade e sus- gem Rural
Daniel Klüppel Carrara
tentabilidade nas propriedades rurais
brasileiras (Senar)

196
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Autor Organização


A biotecnologia e a genômica de
espécies florestais no desenvolvimento Dario Grattapaglia Embrapa
sustentável das florestas no futuro
Transformação digital e o futuro susten-
Édson Luis Bolfe Embrapa
tável da agricultura
Agricultura e mudanças climáticas: o
Eduardo Delgado Assad Embrapa
que esperar no futuro?
Proteção das lavouras para uma agri- Basf
Eduardo Leduc
cultura sustentável América Latina
Faculdade Presbiteriana
Brasil 2030 e os reflexos na área agrícola Elaine C. Marcial
Mackenzie Brasília
Biodiversidade como fonte para do-
mesticação sintética de características
Elibio Rech Embrapa
específicas, como fator de equalização
para intensificar o desenvolvimento
Conselho Nacional de Segurança
Precisamos de comida de verdade no Alimentar e Nutricional
Elisabetta Recine
campo e na cidade
(Consea)
Desenvolvimento da agricultura Eliseu Alves Embrapa
Aquicultura brasileira e o desafio da
Eric Routledge Embrapa
intensificação sustentável
Rede nacional de pesquisa e inovação Fundação de Amparo à Pesquisa
Evaldo Ferreira Vilela e do Estado de Minas Gerais
para a agropecuária (RNPA) - uma
Geraldo M. Callegaro
proposta (Fapemig)
Inteligência territorial estratégica na
Evaristo de Miranda Embrapa
dinâmica do desenvolvimento
Sanidade animal: um olhar para o
Flábio Ribeiro de Araújo Embrapa
futuro
Sanidade vegetal: desafios e contribui- Francisco Ferraz
Embrapa
ção para o desenvolvimento sustentável Laranjeira
A trajetória da agrishow como vitrine Associação Brasileira de Agrone-
de tendência e inovações tecnológicas Francisco Matturro gócios
para a agricultura brasileira (Abag)
Associação Brasileira de Proteína
Mais proteínas e mais segurança ali- Animal
Francisco Turra
mentar
(ABPA)

197
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Autor Organização


Produtividade e exportação: as alavan- Centro de Estudos Avançados em
Geraldo Sant’Ana de Economia Aplicada
cas do crescimento do agronegócio
Camargo Barros
brasileiro (Cepea-Esalq/USP)
Agricultura e o desenvolvimento Giampaolo Queiroz
Embrapa
sustentável, no horizonte de 2030 Pellegrino
Serviço Brasileiro de Apoio às
O Sebrae e o agronegócio Guilherme Afif Domingos
Micro e Pequenas Empresas (Sebrae)
A Química verde e a Química biotec-
nológica: perspectivas para a pesquisa Guy de Capdeville Embrapa
brasileira
O empreendedorismo de pequenos Heloisa Guimarães de
Sebrae
negócios para um futuro sustentável Menezes
O futuro da informação e da comunica-
Humberto Pereira Globo Rural
ção para o mundo agro brasileiro
Fixação biológica de nitrogênio: um
grande aliado para a fome zero e a Iêda de Carvalho Mendes Embrapa
agricultura sustentável
Sindicato de Fabricação de Álcool
O brasil está pronto para liderar o de- do Estado de São Paulo
Jacyr Costa Filho
senvolvimento sustentável mundial
(Sifaesp)
A cooperação técnica internacional em Agência Brasileira de Coopera-
agricultura e o desenvolvimento susten- João Almino ção do Ministério das Relações
tável no horizonte de 2030 Exteriores
Do plantio direto aos sistemas de inte- João Kluthcouski
gração entre lavoura e pecuária: trajetó- Luiz Adriano Maia Embrapa
rias da produtividade agropecuária Cordeiro
Empresa Brasileira de Pesquisa e
Inovação na agricultura: perspectivas Inovação Industrial
Jorge Guimarães
para avanços da indústria no setor
(Embrapii)
Gestão de energia para o desenvolvi- Universidade de São Paulo
José Goldemberg
mento sustentável (USP)
Liderança, empreendedorismo e coope-
José Luiz Tejon Megido TCA International/ Biomarketing
rativismo no agronegócio do futuro
A seca e as mudanças no semiárido
José Nilton Moreira Embrapa
brasileiro
Universidade Federal do Rio de
A nova economia baseada em biomas- Janeiro
José Vitor Bomtempo
sa
(UFRJ)

198
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Autor Organização


Química e tecnologia de biomassa para Leonardo Fonseca
Embrapa
o desenvolvimento sustentável Valadares
Perspectivas para a gestão de água
Lineu Neiva Rodrigues Embrapa
na agricultura
Integração lavoura-pecuária-floresta:
intensificação sustentável e segurança Lourival Vilela Embrapa
alimentar
Agricultura irrigada Luís Henrique Bassoi Embrapa
Luiz Carlos Corrêa
Oportunidades para o agronegócio Abag
Carvalho
Uso da terra: o nexo entre clima, flores- Coalizão Brasil, Clima,
Marcelo Furtado
tas e agricultura Florestas e Agricultura
Evolução da liderança da agricultura Sociedade Rural Brasileira
Marcelo Vieira
brasileira (SRB)
Organização das Cooperativas
O futuro para o cooperativismo agrícola Brasileiras
Marcio Lopes de Freitas
no brasil
(OCB)
Federação das Indústrias do Esta-
A produção agroindustrial diante dos do de São Paulo
Mario Sergio Cutait
desafios da inovação
(Fiesp)
A agricultura brasileira na agenda global
Maurício Antônio Lopes Embrapa
de desenvolvimento sustentável
A informação transparente é o caminho
Mauro Zafalon Folha de São Paulo
para vencer barreiras
Árvores, produção agroflorestal e
florestas: recursos florestais nativos na Milton Kanashiro Embrapa
perspectiva dos ODS
Instituto Brasileiro para Inovação
Inovação e sustentabilidade e Sustentabilidade do Agronegó-
Mônika Bergamaschi cio (IBISA)
do agronegócio
ABAG
Biomassa – contribuição brasileira para
Nilza Patrícia Ramos Embrapa
energia limpa e acessível
Secretaria de relações internacionais do
agronegócio SRI/Mapa: apoiando a in-
Odilson Luiz Ribeiro e
serção internacional e a transformação Mapa
Silva
contínua da maior agricultura tropical
do planeta

199
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Título Autor Organização


Conselho Nacional dos Sistemas
Novos modelos e alianças para a pes- Estaduais de Pesquisa Agropecuária
Orlando Melo de Castro
quisa agropecuária brasileira
(Consepa)
A formação de líderes para o desenvol-
Oscar Motomura Grupo Amana-Key
vimento sustentável
A responsabilidade socioambiental Banco Nacional do Desenvolvi-
como fator nos investimentos do Paulo Rabello de Castro mento
BNDES (BNDES)
Tecnologia – fator-chave para atração e
retenção de jovens no campo e ganhos John Deere
Paulo Renato Herrmann
de produtividade e eficiência operacio- Brasil
nal
Os avanços e desafios para garantir a Associação Brasileira de Bares e
segurança dos alimentos no setor de Paulo Solmucci Restaurantes
bares e restaurantes (Abrasel)
Automação pode tornar o processo de
Ricardo Inamasu Embrapa
produção no campo mais eficiente
Uma agenda colaborativa pela seguran- DuPont
Roberto Hun
ça alimentar mundial Brasil
Fundação Getúlio Vargas
Segurança alimentar global Roberto Rodrigues
(FGV)
Brasília – futuro polo de conhecimento
Rodrigo Rollemberg Governo do Distrito Federal
e inovação para o mundo tropical
Controle biológico Rose Monnerat Embrapa
Sérgio Augusto Instituto Agronômico
M.Carbonell de Campinas (IAC)

Luis Augusto Barbosa Universidade Estadual de


Agropolo campinas-brasil: uma ferra- Cortez Campinas (Unicamp)
menta de inovação em benefício da IAC
Lilian Cristina Anefalos
agricultura tropical do futuro
Luis Fernando Instituto de Tecnologia de Alimentos
Ceribelli Madi (Ital)
Ricardo Baldassin Junior Unicamp
O agronegócio como valor econômico
Tarcísio Hübner Banco do Brasil S.A
para o desenvolvimento sustentável
A liderança feminina na construção do
Teresa Vendamini SRB
futuro do agronegócio brasileiro
Produção, conservação de alimentos e
Virgínia Martins da Matta Embrapa
nutrição: interações e contradições

200
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

GLOSSÁRIO
máquina para máquina (M2M), conectivida-
de entre dispositivos móveis, computação
em nuvem, métodos e soluções analíticas
para processar grandes volumes de dados e
Adaptação (efeitos da mudança do clima): construir sistemas de suporte à tomada de
Desenvolvimento de mecanismos e imple- decisões de manejo, englobando agricultura
mentação de ações de antecipação aos im- e pecuária de precisão, automação e robó-
pactos da mudança do clima. tica agrícola, técnicas de big data e internet
das coisas (Massruhá; Leite, 2017).
Agricultura: Palavra advinda do latim agri-
cultūra – composta por ager (campo, ter- Agricultura inteligente: Traduz a utilização
ritório) e cultūra (cultivo) –, que apresenta da eletrônica, de sensores e da informática
inicialmente o sentido restrito de cultivo do aplicados à agricultura, fortemente baseada
solo, ou seja, a arte e a ciência de cultivar a na comunicação de máquina para máquina
terra. Ampliando um pouco seu sentido, po- (M2M), com vistas ao desenvolvimento de
de-se entender por agricultura o conjunto uma agricultura mais avançada e eficiente.
de atividades realizadas para utilizar o am-
Agricultura orgânica: Produção agrícola em
biente e os recursos naturais para produção
que se empregam métodos culturais, biológi-
vegetal e animal, com fins de alimentação e
cos e mecânicos, em substituição à utilização
sustento humanos, o que inclui fibras e pro-
de materiais sintéticos, organismos genetica-
dutos florestais. No presente documento, é
mente modificados e radiações ionizantes,
também entendida de forma mais ampla,
em todas as fases do processo de produção
incluindo, além do cultivo de plantas, a pe-
e com especial atenção à proteção do meio
cuária, a pesca e a aquicultura, a silvicultura
ambiente.
e a agroindustrialização. Quando citado no
documento, a expressão “cadeias produtivas Agroindústria: Atividade econômica de in-
agrícolas” (ou agroalimentares ou do agro- dustrialização dos produtos agrícolas, que
negócio) abrange, além do entendimento de engloba o beneficiamento, a transformação
agricultura acima citado, os elos de produ- dos produtos e o processamento de maté-
ção e fornecimento de insumos (químicos, rias-primas provenientes do setor agrícola.
máquinas, matérias-primas, mão de obra,
entre outros), de armazenamento e transpor- Agropecuária: Termo que representa o con-
te, financeiros, de serviços e de distribuição. junto de atividades de produção primária
que envolve o cultivo de plantas e a criação
Agricultura de precisão: Sistema de ge- de animais com fins de alimentação e susten-
renciamento agrícola baseado na variação to humanos.
espacial e temporal da unidade produtiva,
que visa ao aumento de retorno econômico, Agrossilvipastoril: Sistema de produção
à sustentabilidade e à minimização do efeito que procura integrar, numa mesma área, cul-
no ambiente (Bernardi et al., 2014). tivos agrícolas, criação de animais e preser-
vação de florestas, tendo como um de seus
Agricultura digital: Representa a utilização objetivos aumentar a quantidade de alimen-
de métodos computacionais de alto desem- tos produzidos na terra, por meio de práticas
penho, rede de sensores, comunicação de que não agridam a natureza.

201
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Alimentos seguros: Termo que designa o Bioativos: Componentes extranutricionais


alimento produzido com a observância de presentes em alimentos ou em suplementos
um conjunto de condições, práticas, manu- dietéticos, normalmente presentes em pe-
seio e armazenamento adequados, para que quenas quantidades nos alimentos. São res-
se preserve sua qualidade e se previna sua ponsáveis por alterações no estado de saúde
contaminação, bem como se assegure que dos indivíduos.
os alimentos mantenham nutrientes sufi-
cientes para uma dieta saudável. Biocontroladores: Agentes naturais que di-
minuem a população de plantas invasivas.
Aplicações autônomas: Ações práticas de São principalmente insetos, parasitas e pató-
sistemas mecânico-digitais com habilidade genos utilizados no manejo dessas plantas.
de tomar suas próprias “decisões” (por exem-
plo: veículos autônomos). Bioeconomia: Setores da economia em que
a produção é realizada com recursos renová-
Área de Preservação Permanente: Área veis e em que a transformação da biomassa
coberta ou não por vegetação nativa, públi- possui papel central na produção de alimen-
ca ou privada, urbana ou rural, que esteja em tos, fármacos, fibras, produtos industriais e
condições de fragilidade e vulnerabilidade energia. Não sendo fenômeno recente, con-
ambientais. Trata-se de espaço territorial le- vém destacar que o termo foi cunhado no
galmente protegido, o qual foi instituído pelo final dos anos 1990 por pesquisadores de
Código Florestal (Brasil, 2012b). Harvard (bioeconomy) e contempla a visão
de que a sociedade é crescentemente menos
Ator: Organizações e estruturas que congre- dependente de fontes fósseis e produz ener-
gam agentes que atuam em determinado gia, serviços e bens por meio da utilização de
foco, nível e ambiente nos quais os indiví- recursos renováveis de maneira sustentável.
duos interagem.
Biofábricas: Processo produtivo em que a
Bactérias diazotróficas: Bactérias que têm biomassa é utilizada para sua conversão em
a capacidade de utilizar e fixar o nitrogênio. enzimas, proteínas terapêuticas ou outras
Big data: Representa um conjunto inco- substâncias, a fim de gerar agentes biológicos
mensurável de dados, advindos de fontes em escala industrial viável, apontando para a
tradicionais e digitais, que não podem ser possibilidade de que essas substâncias subs-
processados por apenas uma máquina. É tituam, com custos menores e em grande es-
necessária a utilização de ferramentas e mé- cala, os atuais processos industriais.
todos especiais para armazenamento, trata- Biofortificação: Processo pelo qual a qua-
mento e análise desse conjunto de dados. lidade nutricional das culturas alimentares
Bioacústica: Combinação de duas áreas de é melhorada por meio de práticas agronô-
estudo: acústica e biologia. Ela normalmen- micas, criação de plantas convencionais ou
te se refere à produção, dispersão e recepção biotecnologia moderna. A biofortificação di-
de som dos animais. As métricas utilizadas fere da fortificação convencional, na medida
na bioacústica para classificar e quantificar em que visa aumentar os níveis de nutrientes
processos sonoros (...) são a frequência, am- nas culturas durante o crescimento da plan-
plitude e envelope (Fonseca, 2014). ta, e não através de meios manuais durante
o processamento das culturas. (World Health
Organization, 2018).

202
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Bioinformática: Área da ciência que se dedi- Biotecnologia: Conjunto de conhecimentos,


ca ao estudo da aplicação de técnicas com- técnicas e processos, ou seja, área de pesqui-
putacionais e matemáticas para elaborar sa tecnológica da biologia, que visa à utili-
modelos de moléculas dos seres vivos, ge- zação de agentes biológicos (organismos,
rando e gerenciando informações de interes- células, organelas, moléculas), a fim de gerar
se para a Biologia e a Biotecnologia. resultados para diversas outras áreas, em
especial para a criação de diferentes e úteis
Bioinsumos: São todos os produtos bioló-
produtos (como para avanços na produção
gicos produzidos por microrganismos, ar-
agrícola e na indústria alimentícia).
trópodes ou extratos de plantas, os quais se
destinam a ser aplicados como insumo na Blockchain: Tipo de livro-razão imutável
produção agroindustrial. que armazena registros e históricos de tran-
sações com criptomoedas (moedas digitais
Biomassa: Qualquer matéria orgânica de-
criptografadas) em inúmeros computadores
rivada de plantas e animais, como madeira,
espalhados pelo mundo. Embora essas infor-
plantas diversas, algas e resíduos de animais,
mações sejam públicas e estejam disponíveis
que pode ser utilizada como fonte renovável
para o escrutínio de qualquer pessoa que te-
de energia e outros produtos.
nha interesse, seus registros são protegidos
Bionanocompósitos: Materiais de consti- por potentes criptografias.
tuição híbrida entre matéria orgânica e inor-
Cadastro Ambiental Rural (CAR): Instru-
gânica, compostos de, ao menos, duas fases
mento fundamental para auxiliar no processo
em que no mínimo uma delas é uma matriz
de regularização ambiental de propriedades
de biopolímero de partículas nanométricas
e posses rurais. Consiste no levantamento
provenientes de recursos renováveis e biode-
de informações georreferenciadas do imó-
gradáveis.
vel, com delimitação das Áreas de Proteção
Biopolímeros: Polímeros ou copolímeros Permanente (APP), Reserva Legal (RL), re-
produzidos a partir de matérias-primas de manescentes de vegetação nativa, área rural
fontes renováveis. consolidada, áreas de interesse social e de
utilidade pública, com o objetivo de traçar
Biorrefinarias: Planta industrial na qual se um mapa digital a partir do qual são calcu-
operam processos sustentáveis de conversão lados os valores das áreas para diagnóstico
de biomassa em produtos – como materiais ambiental.
químicos e rações – e/ou energia – como ele-
tricidade, combustíveis e calor. Cadeia de valor: Modelo desenvolvido por
Michael Porter para descrever o conjunto de
Biossensores: Pequenos dispositivos analíticos atividades realizadas por uma organização,
que incorporam componentes biológicos para com o objetivo de descrever o processo pelo
detecção das reações geradas sobre o compo- qual ela recebe materiais brutos e os trans-
nente-alvo da amostra (analito) em um experi- forma adicionando valor a eles. A “cadeia de
mento. Esses dispositivos utilizam-se da apurada valor” de um negócio, portanto, é um mapa
sensibilidade e especificidade da biologia, em detalhado do seu processo de produção,
conjunto com transdutores físico-químicos, para com especial foco nas atividades que adicio-
fornecer medidas bioanalíticas complexas em nam valor aos produtos.
formato simples e de fácil manuseio.

203
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Carne Carbono Neutro: Carne bovina que Comércio justo/Fairtrade: Condição de co-
apresenta seus volumes de emissão de GEEs mércio baseada em diálogo, transparência e
neutralizados durante o processo de produ- respeito, que busca maior equidade de con-
ção, pela presença de árvores em sistemas dições entre os agentes envolvidos.
de integração do tipo silvipastoril (pecuá-
ria-floresta  – IPF) ou agrossilvipastoril (la- Commodity (plural: commodities): Pro-
voura-pecuária-floresta – ILPF), por meio de duto de ampla disponibilidade, que não
processos produtivos parametrizados e audi- apresenta diferenças significativas entre
tados. A Embrapa desenvolveu o selo Carne unidades, não havendo impactos, portanto,
Carbono Neutro como marca-conceito que na substituição de um item por outro. Além
atesta que a carne atentou para os requisitos disso, é um produto, no geral, primário, em
mencionados. estado bruto e de importância comercial nas
transações internacionais. São exemplos de
Cenários: No presente documento, enten- commodities: cobre, estanho, zinco, chum-
de-se por “cenários” o conjunto de técnicas bo, petróleo, gás natural, gado vivo, açúcar,
e métodos de estudo acerca das possibili- café, soja, milho e algodão.
dades de futuro de determinado objeto, que
consubstanciam o conteúdo gerado em um Compra local: Refere-se à tendência de
documento (também denominado de “cená- aquisição de produtos no local em que são
rios”), com a finalidade de descrever diferen- produzidos. Os principais argumentos para a
tes eventos e estratégias de atores, que pode- compra local são os seguintes: 1) redução de
rão levar a diferentes possibilidades futuras. impactos ambientais; 2) desenvolvimento de
pequenos negócios e comunidades locais; 3)
Ciência cidadã (citizen science): Colabora- maior intensidade econômica e circulação
ção dos cidadãos, com atuação pública di- de renda no local; 4) aumento na criação de
reta nas pesquisas científicas para aumentar postos de trabalho; 5) aumento na arrecada-
o volume e a qualidade do conhecimento ção de impostos na própria localidade.
científico, bem como sua apropriação pelos
cidadãos. Significa, portanto, a participação Controle biológico: A premissa básica do
das pessoas no compartilhamento e na con- controle biológico é controlar as pragas agrí-
tribuição para programas de monitoramento colas e os insetos transmissores de doenças,
e coleta de dados; bem como a realização di- a partir do uso de seus inimigos naturais, que
reta de pesquisas científicas pelos cidadãos podem ser outros insetos benéficos, preda-
por meio de colaboração coletiva (crowd- dores, parasitoides e microrganismos, como
sourcing), por exemplo. fungos, vírus e bactérias. Trata-se de um mé-
todo de controle racional, que tem como ob-
Cocriação: Atividade de criação coletiva, jetivo utilizar esses inimigos naturais que não
presencial ou a distância (em negócios entre deixam resíduos nos alimentos e são inofen-
empresa e cliente), em que todos os envolvi- sivos ao meio ambiente e à saúde da popula-
dos atuam de maneira integrada com o ob- ção (Embrapa, 2018c).
jetivo de criar algo propositalmente (não por
acaso)  – solução para problemas, avanços Conversão alimentar (CA): Necessidade
em desempenho, um novo produto ou servi- alimentar por unidade de ganho de peso
ço –, a partir de sua interação, do qual todos animal (Kessler, 2001). Pode ser aferida pela
se beneficiarão. divisão da quantidade de ração (kg) consu-

204
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

mida por um lote de animais pelo peso (kg) dia, usando o Poder de Paridade de Com-
dos animais no mesmo período considerado. pra (PPC) de 2011. Especificamente neste
documento, considerou-se para as análises
Demanda: Quantidade de um bem ou ser-
mundiais de extrema pobreza o estudo das
viço que um consumidor deseja e está dis-
Nações Unidas (World..., 2018) que conside-
posto a adquirir por um determinado preço
ra o limiar internacional; e, para as análises
em um determinado momento. A demanda
nacionais, o estudo do Banco Mundial (Ban-
depende de fatores como: preferência do
co Mundial, 2017a) que considera renda per
consumidor; poder de compra do consumi-
capita mensal inferior a R$ 70,00, em valores
dor, sem o qual a demanda não existe em
de 2011.
termos econômicos; preços de outros bens
(tanto dos bens substitutos quanto dos com- Fator de produção: Elemento utilizado no
plementares); preço do bem ou serviço em processo produtivo de bens materiais. Tra-
questão; qualidade e expectativas do consu- dicionalmente são considerados fatores de
midor quanto à sua renda pessoal e aos pre- produção: a terra (terras cultiváveis, florestas,
ços praticados (Sandroni, 2008). minas), o trabalho (mão de obra humana) e
o capital (máquinas, equipamentos, instala-
Desafios: Ações necessárias para que um
ções, matérias-primas). Atualmente, costu-
indivíduo, grupo de indivíduos e/ou organi-
ma-se incluir mais dois fatores: organização
zações direcionem esforços para a redução
empresarial e o conjunto ciência/técnica
ou mesmo eliminação dos impactos de uma
(pesquisa). De forma geral, os fatores de pro-
ameaça ou de aproveitamento de potenciais
dução são escassos, por isso eles se combi-
ganhos de uma oportunidade.
nam de forma diferente conforme o local e a
Elasticidade-renda: Medida da variação na situação histórica, a fim de se obter um deter-
quantidade demandada de um bem quando minado bem (Sandroni, 2008).
a renda do consumidor é alterada, manten-
Fronteira agrícola: Áreas pouco povoadas
do-se constantes todos os outros fatores que
ou não povoadas que, por apresentarem re-
influenciam a demanda (Sandroni, 2008).
lativa potencialidade agrícola, passam a ser
Eutrofização: Fenômeno indesejável que ocupadas para exploração produtiva. No Bra-
ocorre principalmente em lagos, represas e sil, essas áreas têm representado historica-
açudes, causado pelo acúmulo de nutrientes mente o desbravamento e a incorporação de
como nitrogênio e fósforo, encontrados em novas terras ao setor agrícola, embora mui-
abundância nas fezes de homens e animais. tas das áreas ainda chamadas de fronteiras
A água enriquecida faz com que proliferem já tenham sido incorporadas aos processos
bactérias, plâncton e algas, muitas delas tóxi- de produção, não mais apresentando carac-
cas, que, ao morrerem, causam gosto e odo- terísticas típicas dessas regiões de fronteira
res desagradáveis, além de consumirem oxi- (Sicsú; Lima, 2000).
gênio dissolvido e matarem peixes (Mapa...,
Fungos arbusculares micorrízicos: Fungos
2018).
que formam simbiose com as plantas, auxi-
Extrema pobreza: Em 2015, o Banco Mun- liam na absorção de água e nutrientes mine-
dial definiu como linha de pobreza interna- rais pelas raízes e recebem fotoassimilados
cional o valor de US$ 1,90 por pessoa por da planta.

205
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Gadgets: Produto tecnológico de ponta, ge- públicas, as peculiaridades do cadastro ban-


ralmente de pequeno porte, que visa facilitar cário, entre outras.
o acesso a funcionalidades disponibilizadas
por aplicações mais abrangentes. Infraestrutura escalável: Infraestrutura de-
finida por software e hardware, com capaci-
Genômica: Ciência que estuda o genoma dade de atender a uma demanda crescente
dos organismos a partir do seu sequencia- de uso (Sky.One, 2016).
mento completo, com o objetivo de enten-
der sua estrutura, organização e função. O Inoculante: Produto que contém microrga-
sequenciamento do genoma de espécies nismo com ação benéfica para o desenvolvi-
animais, incluindo o genoma humano, e ve- mento das plantas (Xavier et al., 2018).
getais tem fornecido evidências para estudos Inovação aberta: Processo de inovação no
de sintonia das funções gênicas. Essa ciência qual indústrias e organizações promovem
divide-se em estrutural, funcional e compara- ideias, pensamentos, processos e pesquisas
tiva (Miranda et al., 2018). abertas, a fim de melhorar o desenvolvimen-
Geotecnologias: Conjunto de tecnologias to de seus produtos, prover melhores servi-
para coleta, processamento, análise e ofer- ços para seus clientes, bem como aumentar a
ta de informação com referência geográfica. eficiência. É a combinação de ideias internas
Entre as geotecnologias, podem-se destacar: e externas, assim como caminhos internos e
sistemas de informação geográfica, cartogra- externos para o mercado, de modo a avançar
fia digital, sensoriamento remoto, sistema de no desenvolvimento de novas tecnologias
posicionamento global e topografia georre- em produtos e processos (Inovação, Compe-
ferenciada (Rosa, 2011). titividade e Design, 2018).

Germoplasma: Recursos genéticos vivos, Instituições: Restrições estabelecidas pelo


como sementes ou tecidos, que são manti- homem que podem ser formais (como
dos com o objetivo de promover o melhora- regras, leis, constituições) ou informais
mento de plantas e animais e a preservação, (como convenções, códigos de conduta
além de outros usos na pesquisa. autoimpostos) (North, 1993). Importante
atentar para a diferença entre esse conceito
Imperfeições de mercado: São situações e o de organizações (pág. 207).
nas quais os recursos não são alocados efi-
cientemente no mercado (Pindyck; Rubin- Insumos: Constituem os serviços dos fatores
feld, 2002). Especificamente neste documen- de produção, tais como o uso de combus-
to, é caracterizada pela diferença de preços tíveis, materiais e produtos intermediários
obtidos entre pequenos e grandes produto- necessários ao processo produtivo (Black,
res que, em geral, alcançam valores mais al- 2003).
tos na venda do produto. Muitas das imper- Integração lavoura-pecuária-floresta:
feições de mercado se ligam ao volume de Consiste em um sistema de produção inte-
compra de insumos e de venda de produtos grado. Os sistemas de integração envolvem a
que favorecem a grande compra ou venda. produção de grãos, fibras, madeira, energia,
Podem ser ainda influenciadas por variáveis leite ou carne na mesma área, em plantios
como o nível de escolaridade, a moradia em em rotação, consorciação e/ou sucessão. O
regiões de acesso dispendioso às políticas sistema funciona basicamente com o plan-

206
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

tio, durante o verão, de culturas agrícolas Internet das coisas (IoT): Conexão de “ob-
anuais (arroz, feijão, milho, soja ou sorgo) e jetos inteligentes”, como máquinas, equi-
de árvores, associado a espécies forrageiras pamentos, veículos e construções, os quais
(braquiária ou Panicum). Há várias possibili- são providos de dispositivos digitais, como
dades de combinação entre os componentes sensores e interface de programação de apli-
agrícola, pecuário e florestal, considerando cativos (Application Programming Interface -
espaço e tempo disponíveis, resultando em APIs), capazes de coletar e transmitir dados
diferentes sistemas integrados, como lavou- e informações por meio da estrutura de rede
ra-pecuária-floresta (ILPF), lavoura-pecuá- da Internet. Essa conexão forma uma rede
ria (ILP), silvipastoril (SSP) ou agroflorestais tanto entre objetos, quanto entre objetos e
(SAF) (Embrapa, 2007). indivíduos.

Inteligência artificial: Ramo da ciência da Introgressão: Movimento de um gene de


computação, também conhecido por “com- uma espécie para o acervo genético de ou-
putação” cognitiva, que se propõe a elabo- tra, por meio de repetidos retrocruzamentos
rar dispositivos que simulem a capacidade entre um híbrido e sua geração progenitora
humana de raciocinar, perceber, aprender, original.
tomar decisões e resolver problemas. As
Megatendências: Grandes conjuntos de
aplicações incluem veículos autônomos, re-
sinais e tendências que conformarão as ca-
conhecimento automático de voz e geração
deias produtivas agrícolas. Esses conjuntos
e detecção de novos conceitos e abstrações
não incorporam diretamente os aspectos
(úteis para detectar potenciais novos riscos e
incertos que poderão acarretar diferentes
ajudar os seres humanos a entender rapida-
contornos aos potenciais caminhos futuros
mente grandes corpos de informações sem-
aqui apresentados. Apesar disso, os próprios
pre em mudança).
sinais e tendências contêm, em certa medi-
Inteligência estratégica antecipativa: Pro- da, os diferentes comportamentos do am-
cesso informacional coletivo e contínuo pelo biente à frente. De forma mais detalhada, as
qual um grupo de indivíduos busca e utiliza megatendências são entendidas como agru-
informações antecipativas relacionadas às pamentos de aspectos científicos, tecnológi-
mudanças suscetíveis de ser produzidas no cos, socioeconômicos, ambientais e merca-
ambiente exterior da empresa, com o objeti- dológicos emergentes, denotando forças que
vo de criar oportunidades de negócios e de se formam de maneira lenta, mas geram con-
reduzir riscos e incertezas em geral (Lesca et sequências que perduram por longo prazo.
al., 2003).
Metabolômica: Ciência que estuda altera-
Inteligência territorial estratégica: Con- ções na expressão de pequenas moléculas
junto de ferramentas e métodos aplicados orgânicas denominadas metabólitos (Falei-
para a compreensão de um território em sua ro, 2017).
totalidade, através da integração de informa-
Metagenômica: Técnica de análise genômi-
ções provenientes de diferentes bancos de
ca das comunidades de microrganismos de
dados. Essas informações integradas servi-
um determinado ambiente por técnicas in-
rão para apoiar a tomada de decisão para o
dependentes de cultivo.
desenvolvimento territorial (Santos, 2016).

207
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Mineração de dados: Processo analítico nanométrica, a matéria apresenta proprie-


projetado para explorar grandes quantidades dades físicas e químicas distintas, podendo
de dados, visando descobrir padrões consis- assim ser desenvolvidos novos dispositivos
tentes e/ou relacionamentos sistemáticos e produtos com funcionalidades diferentes
entre variáveis e, assim, validá-los, aplicando dos similares em escala macrométrica.
os padrões detectados a novos subconjuntos
Observatórios: Mecanismo de gestão estra-
de dados.
tégica, com foco no acompanhamento do
Mitigação (da mudança do clima): Refe- ambiente externo, que tem como objetivo
re-se à implementação de medidas (de in- monitorar, coletar, analisar e difundir sinais e
tervenção humana) que têm a finalidade de tendências tecnológicos, socioeconômicos e
reduzir as emissões de gases de efeito estufa de mercado.
(GEE) (Brasil, 2018b).
Omnichannel: Representa o novo consumi-
Modelos mecanísticos: Modelos que des- dor que, por meio da tecnologia, tornou-se
crevem de forma quantitativa os mecanis- onipresente, acessando informações e inte-
mos e processos que causam as respostas ragindo com as empresas nas mais diversas
da planta de acordo com o ambiente. São plataformas, muitas vezes ao mesmo tempo
chamados em inglês de process based crop em canais on-line e presencial. Seus hábitos
models. de busca por informações, de escolha por
produtos e serviços e, consequentemente,
Multifuncionalidade do espaço rural (ou
de interação acabam por exigir das organiza-
dos agroecossistemas): Diz respeito à in-
ções novos processos que, estruturalmente,
tegração do espaço rural a atividades eco-
possuem maior interatividade e conectivida-
nômicas não agrícolas, como turismo rural e
de (Ceribelli, 2014; Almeida et al., 2017).
gastronomia.
Organizações: Grupos de indivíduos vincu-
Nanoencapsulados: Refere-se a um sistema
lados por algum propósito comum para atin-
composto no qual materiais ou agentes quí-
gir objetivos. As organizações incluem órgãos
micos ativos, de dimensões nanométricas,
políticos (partidos políticos, agências regula-
são revestidos, isolados ou aprisionados por
doras), econômicos (empresas, sindicatos),
uma membrana delgada, formando vesí-
sociais (igrejas, clubes) e educacionais (esco-
culas ou cápsulas que têm como objetivo o
las, universidades) e podem ser entendidas
transporte, a proteção e a posterior liberação
como agentes de mudanças institucionais.
do composto retido.
Em outras palavras, o termo “instituição”
Nanopartículas: Quaisquer objetos sólidos, refere-se às regras do jogo, enquanto “or-
em formato diverso (esferas, cubos, fibras, ganização” refere-se aos jogadores do jogo
etc.), nos quais pelo menos uma das dimen- (North, 1990).
sões esteja dentro do intervalo de 1 nm a
Paridade de poder de compra: São as taxas
100 nm.
de câmbio de diferentes moedas que permi-
Nanotecnologia: Ciência dedicada à ma- tem harmonizar o poder de compra relativo
nipulação e caracterização da matéria em a diferentes moedas por meio da eliminação
escala atômica ou molecular, ou seja, em das diferenças nos níveis de preços em dife-
dimensões menores que 10-9 m. Na escala rentes países. Na sua forma mais simples, as

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Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

paridades de poder de compra são simples bactérias desejáveis no intestino (cólon), be-
preços relativos que mostram a razão dos neficiando o indivíduo hospedeiro dessas
preços nas moedas nacionais para o mesmo bactérias (Food..., 2018).
bem ou serviço em diferentes países (OECD,
2001). Probióticos: Microrganismos vivos que, ad-
ministrados em quantidades adequadas,
Perdas e desperdícios: As “perdas” de ali- conferem benefícios à saúde de quem os in-
mentos se referem à redução da quantida- gere (Food..., 2018).
de de alimento disponibilizado em todos os
estágios da cadeira alimentar, anteriores ao Proteômica: Área da ciência que tem como
consumo humano. O “desperdício” se refere objeto de estudo o produto da expressão gê-
ao alimento já disponível ao consumo hu- nica – as proteínas – e tem como objetivo o
mano nos domicílios que é descartado por conjunto completo de proteínas (proteoma)
algum motivo ou que se deteriora em seu ar- resultante da expressão gênica de uma célu-
mazenamento. la, de um tecido ou de um organismo (Falei-
ro, 2017).
Plataformas digitais: Modelo de negócio
que permite e estimula a interação entre Quitosana: Biopolímero do tipo polissaca-
duas partes ou múltiplos grupos de usuários rídeo, que possui estrutura molecular qui-
(produtores e consumidores, por exemplo), micamente similar à celulose (Azevedo et
criando geralmente um corpo coletivo para al., 2007). Destaca-se a possibilidade de seu
criação e troca de valores e/ou para a solução uso na preservação de alimentos, na produ-
de problemas em comum. Exemplos de pla- ção de embalagens funcionais e biofilmes e
taformas digitais: Twitter, LinkedIn, Amazon, até mesmo no suporte ao controle de pragas
Uber, entre outras. (Berger et al., 2011).

Pobreza: Privação das condições necessá- Rastreabilidade: Mecanismo que permi-


rias para o acesso do homem a uma vida dig- te identificar a origem do produto desde o
na (Nações Unidas, 2001). campo até o consumidor final. Um sistema
de rastreabilidade, portanto, é um conjunto
Poliácido láctico (PLA): Consiste em um de medidas que possibilita controlar e moni-
biopolímero formado a partir da polimeriza- torar sistematicamente todas as entradas e
ção por condensação do ácido lático. Possui saídas nas unidades, sejam elas produtivas,
características de um plástico biodegradável, processadoras ou distribuidoras, visando ga-
absorvível, atóxico, hidrolisável (Torres et al., rantir a origem e a qualidade do produto final
2012). Suas aplicações vão desde a produção (Dulley et al., 2003).
de filmes, bandejas termoformadas de fru-
tas e legumes, sacos de lixo biodegradáveis, Redes neurais: Técnicas computacionais
até a produção de cápsulas para a liberação que apresentam um modelo matemático
temporária de fertilizantes e pesticidas no inspirado na estrutura neural de organismos
solo (Silva, 2011). inteligentes e que adquirem conhecimento
por meio da experiência. Uma rede neural ar-
Prebióticos: Componentes alimentares não tificial é composta por centenas ou milhares
digeríveis que estimulam seletivamente a de unidades de processamento, geralmen-
proliferação ou atividade de populações de te conectadas por canais de comunicação.

209
Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

O comportamento inteligente de uma rede Serviços ambientais: Iniciativas individuais


neural artificial vem das interações entre as ou coletivas que podem favorecer a manu-
unidades de processamento da rede (Redes tenção, a recuperação ou a melhoria dos ser-
Neurais Artificiais, 2018). viços ecossistêmicos (Embrapa, 2018a).

Reserva Legal: Área com cobertura de vege- Serviços ecossistêmicos: Benefícios gerados
tação nativa destinada a ser mantida dentro pelos ecossistemas, em termos de manutenção,
do imóvel rural. Trata-se de área localizada recuperação ou melhoria das condições ambien-
no interior de uma propriedade ou posse ru- tais, tais como: provimento de água em quanti-
ral, cuja função é assegurar o uso econômico dade e qualidade, alimentos, fibras, ciclagem de
de modo sustentável dos recursos naturais nutrientes, decomposição de resíduos, manuten-
do imóvel rural, além de auxiliar a conserva- ção da fertilidade do solo, polinização, dispersão
ção e a reabilitação dos processos ecológicos de sementes, controle natural de pragas agríco-
e promover a conservação da biodiversida- las, conservação da biodiversidade, equilíbrio
de, bem como o abrigo e a proteção de fauna hidrológico, controle de processos erosivos, entre
silvestre e da flora nativa. Sua dimensão mí- outros (Embrapa, 2018a).
nima em termos percentuais relativos à área
do imóvel varia de acordo com a localização Sinais: Informações de caráter antecipativo
geográfica do imóvel rural e o bioma nele relacionadas ao futuro, que não contam com
existente (Embrapa, 2018b). volume de dados suficiente para que sejam
definidas formalmente como tendência.
Rizobactérias: Bactérias que colonizam Subdividem-se em fortes e fracos: a) sinais
o sistema radicular das plantas. Têm sido fortes: informações consolidadas suficiente-
apontadas como essenciais ao ecossistema mente específicas que permitem respostas
de plantas devido ao seu papel no suprimen- adequadas; b) sinais fracos: informações ain-
to de elementos de crescimento como nitro- da imprecisas que geram dúvidas sobre seu
gênio e fósforo (Melo, 1998). comportamento futuro, embora já sejam fa-
tos presentes (Ansoff, 1975).
Segurança alimentar: Acesso físico, social
e econômico de todas as pessoas a alimen- Sistemas agroflorestais: Os sistemas agro-
tos suficientes, seguros e nutritivos, que florestais (SAFs) são consórcios de culturas
atendam suas necessidades e preferências agrícolas com espécies arbóreas que podem
alimentares para uma vida ativa e saudável ser utilizados para restaurar florestas e recu-
(FAO, 1997). perar áreas degradadas (Embrapa, 2004).

Serviços agroambientais: Iniciativas indi- Smart farmings: Propriedades rurais com


viduais ou coletivas que promovem a ma- amplo uso de tecnologias, como GPS, sen-
nutenção e a recuperação dos benefícios sores, drones e big data, cuja finalidade é a
gerados pelos ecossistemas naturais, man- otimização da produção e a redução do risco.
tendo boas condições ambientais. Incenti-
vam produtores a proteger as áreas agrícolas Stakeholder: Qualquer pessoa, organização,
por meio de mecanismos de compensação grupo social ou sociedade que, de alguma
(Prado, 2013). forma, participe dos negócios de uma em-
presa, podendo influenciar ou ser influen-
ciado, afetar ou ser afetado por meio desse
relacionamento.

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Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Startup: É uma organização empreendedora Unidades de conservação (UC): Espaços


que busca e desenvolve novos modelos de territoriais, incluindo seus recursos ambien-
negócio, que possam ser reproduzidos em tais, com características naturais relevantes,
larga escala em condições de extrema incer- cuja função é assegurar a representatividade
teza. de amostras significativas e ecologicamente
viáveis das diferentes populações, habitat
Storytelling: Habilidade de desenvolver
e ecossistemas do território nacional e das
uma narrativa, com o uso de palavras e ou-
águas jurisdicionais, preservando o patrimô-
tros recursos disponíveis, com o objetivo de
nio biológico existente. As UCs asseguram às
transmitir conteúdo específico ou comparti-
populações tradicionais o uso sustentável
lhar conhecimento.
dos recursos naturais de forma racional e
Sustentabilidade: Tem sua origem no termo ainda propiciam às comunidades do entorno
“desenvolvimento sustentável” e significa, re- o desenvolvimento de atividades econômi-
sumidamente, a capacidade de garantir às cas sustentáveis. Essas áreas estão sujeitas
próximas gerações condições econômicas, a normas e regras especiais. São legalmen-
sociais e ambientais de suprirem suas neces- te criadas pelos governos federal, estaduais
sidades futuras. e municipais, após a realização de estudos
técnicos dos espaços propostos e, quando
Taxa de desfrute: A taxa de desfrute, ou de necessário, consulta à população (Brasil,
extração, mede a capacidade do rebanho 2018a).
de produzir animais excedentes para venda,
sem comprometer seu efetivo básico. A taxa Valor bruto da produção: Índice de fre-
de desfrute anual (em percentagem) é dada quência anual, calculado com base na pro-
pelo número de animais vendidos ao longo dução agrícola municipal e nos preços rece-
do ano dividido pelo número de animais exis- bidos pelos produtores. Engloba produtos da
tentes em janeiro (somados os nascimentos agricultura, da pecuária, da silvicultura, do
do ano), multiplicado por 100. extrativismo vegetal, da olericultura, da fru-
ticultura, de plantas aromáticas, medicinais
Taxa de lotação (cabeças por hectare): É a e ornamentais, da pesca, etc. (Paraná, 2018).
relação entre o número de unidades animais
(UA) e a área por eles ocupada (Aguiar et al., Visão computacional: Processo de mode-
2006). lagem e replicação da visão humana usando
software e hardware. É um campo de ciência
Tendências: Movimentos cuja perspectiva da computação cujo objetivo é possibilitar
de direção e sentido é consolidada e visível que os computadores vejam, identifiquem e
para se admitir sua permanência no período processem imagens da mesma maneira que
futuro considerado (Marcial, 2011). a visão humana e, em seguida, forneçam re-
sultados apropriados, estando, portanto, inti-
Transcriptômica: Refere-se ao estudo das
mamente ligada à inteligência artificial (Data
moléculas de RNA formadas a partir do pro-
Science Academy, 2017; Techopedia, 2018).
cesso de transcrição (DNA → RNA) e que de-
terminam as proteínas (proteoma) a serem
formadas pela célula (Faleiro, 2017).

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Visão 2030: O Futuro da Agricultura Brasileira

Visão de futuro: Descrição, normalmente


apresentada em documento, com delinea-
mento de uma perspectiva geral de futuro
acerca de um ou mais temas, setores, países
e/ou regiões geográficas, isolada ou conjun-
tamente, elaborada com base na análise de
tendências e sinais de futuro. Diferentemen-
te de cenários (ver acima), um documento
de “visão de futuro” delineia uma perspecti-
va geral do futuro e não futuros alternativos
possíveis (estes últimos mais derivados de
grandes incertezas sobre perspectivas futu-
ras do objeto em análise).

Yield gaps: Diferenças entre a estimativa do


potencial alcançável de produtividade (em
condições de intensa utilização de insumos
e avançado gerenciamento) – Produtividade
Potencial (PP) – e a produtividade de fato ob-
servada, mais baixa que aquela – Produtivi-
dade Real (PR) –, em uma condição espacial
e temporal específica (Pradhan et al., 2015;
Visses, 2016).

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CGPE 14451

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