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poesia que hoje se escreve não faz aí, neste desarrimo. Basicamente, <a}eXjZ\lXhl`#eX8dX[fiX6
melhor figura que o beletrismo, e este é o meu método: ando com um Nasci em Lisboa, Forno do Tijo-
anda por aí gloriosamente empa- enxame na cabeça, depois só te- lo, Bairro das Colónias… Na Rua
lhada, e enquanto se discute mais nho de esperar um dia ou uma tar- Oliveira Salgado, mais precisa-
as questões de pontuação, Nunes de, uma circunstância qualquer mente. Bom, nasci na MAC, como
da Rocha deixa uma ou outra su- em que saco a abelha-mestra, e as- toda a gente, mas, curiosamente,
gestão («ide regar estrelas»). Ou sim que o faço, depois, o resto é a casa dos meus pais ficava nas
então «aguardemos outro acor- trabalho de escritório, digamos as- traseiras da MAC, na Rua do Vi-
do ortográfico/ pensamentos lí- sim. Mas até lá recuso-me a entrar riato… Vivi em Lisboa até aos
dimos concordâncias barro- no escritório. Prefiro andar pelas meus 12, 13 anos. Depois fomos
cas/ boas maneiras para mor- ruas a fazer nada, que é uma das ‘expulsos’ para a Brandoa, onde
rer sem imaginação»... coisas de que mais gosto. Portan- vivi muitos anos, num bairro
Quando ia começar a entrevis- to, esta maneira de andar livre é clandestino, e dali para aqui ain-
ta, foi necessário recuperar o atra- uma forma de ter a cabeça ocupa- da passei por muitos sítios, por
so da volta para que foi com a fotó- da. Depois há um clique e, então causa dos trabalhos que fui arran-
grafa, Mafalda, indígena também sim, com a abelha-mestre na mão jando… Desde Torres Vedras,
ela daqueles bairros, entusiasma- é hora de ir buscar a colmeia toda Alentejo, Cacém… Mas boa parte
da por conhecer o poeta vizinho e ir por aí fora. da minha vida tem sido aqui, na
de quem nada sabia. Amadora, e identifico-me com
Fhl\kiXqXˆ6 este ambiente.
<ekf#fe[\`XXZfem\ijX6 Ando com este bloquinho [saca de
Estava a contar que não gosto de um pequeno caderno azul que vo- Fhl\]Xq`Xdfjj\ljgX`j6
viajar, e que ando sempre pelos mita rabiscos], que é um bocado A minha mãe, que já cá não está,
mesmos sítios. Estava a explicar inútil, e onde o que acabo por era mulher-a-dias, e o meu pai ca-
à Mafalda porque me agrada este apontar mais são números de te- nalizador. Julgo que isso transpa-
giro pelas redondezas, e porque lefone, mas às vezes lá me ocorre rece: as minhas raízes. Tento que
sou assim, que é por me deixar a uma frase que pode ser a abelha- transpareça de um modo ou outro
cabeça livre. Como lhe disse, pos- -mestre. Muitas vezes estou ali na- o sentido de classe, do qual me or-
so sair de casa sem nada, sem a quele tasco onde estivemos, e a gulho bastante. Afinal, nestas mi-
carteira, sem telemóvel, por es- que chamamos o ‘Pata Larga’, que nhas voltas, e entre as pessoas que
quecimento ou não, e compro o é a alcunha do dono… Todos nós frequento aqui na Amadora não
jornal, bebo os meus copos, com- aqui temos alguma alcunha. tenho amigos ditos intelectuais,
pro tabaco, faço tudo, e ninguém ou pessoas com preocupações ao
me pede dinheiro. (É claro que vou <i\]\i\d$j\XfkXjZfg\cXXcZle_X nível das leituras. São todos orgu-
pagar essas coisas depois, mas es- [f[fef6 lhosamente trolhas, canalizado-
tou sempre à vontade.) Isso liber- Sim. Ele não gosta muito. res, electricistas, gajos que não fa-
ta-me a cabeça para outras coisas. zem nenhum... tráfico também,
Não ando a fazer contas, a pensar Gfihl†6 parasitas... que é uma actividade
onde devo ir e o que é que hei-de Tem uma mãozorra (risos). Quan- que me parece excelente também.
comer. Simplesmente, vou aos sí- do a coisa transborda, digamos E é com essa gente que me identi-
tios, e o que houver come-se. que não deixa pôr o pé em ramo fico, e creio que isso transparece
verde. no que escrevo.
Efc_\X^iX[X`idX`jcfe^\#Xe[Xi
j\di\]\i†eZ`Xj6 EXjZ\l\dhl\Xef6
Tenho uma memória péssima, Em 1957.O ano em que a RTP co-

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mas há dias dei com uma frase meçou a transmitir. Foi também
que dizia qualquer coisa como: o o ano em que o Sputnik foi colo-
turismo desencanta as pessoas cado em órbita. Tenho 61 anos;
porque quando chegam ao desti- faço 62 em Junho.
no este só pode frustrar a mística
que as atraiu até lá. Acho o turis- 8d`e_Xd\\iX =Xcfl[fÊGXkXCXi^XË#ldXXcZle_X
mo uma das mais perniciosas mi-
sérias característica deste tempo.
dlc_\i$X$[`Xj#\ Zli`fjX\hl\d\gXi\Z\gf[\iXgc`$
ZXi$j\~jlX\jZi`kX1dl`kf[fhl\
O turismo de massas, quero dizer. fd\lgX` \jZi\m\„ki\d\e[Xd\ek\Zlckf#ef
E nesse sentido prefiro ‘viajar’ ZXeXc`qX[fi% ljf[Xji\]\i†eZ`Xj#ef[\j\dYXiX$
como o Pessoa, ou seja, perdendo ƒfZfdfkiXq~c`ƒXXkiX[`ƒfc`k\$
países. Prefiro esburacar-me, via-
Alc^fhl\`jjf i}i`X#\]XqXZf`jX[\ldX]fidXjX$
jar cá dentro. kiXejgXi\Z\ef Yfifjˆjj`dX%%%dXjZfdgXkXcXi^X#
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<X\jZi`kX6 Xc^l„dhl\m\dgfiXˆZfdfZXjZf
Não sou gajo para me sentar à j\ek`[f[\ X]\e[\ifdXZX[Xd\%
mesa e obrigar-me a escrever um ZcXjj\#[fhlXc Isso sempre foi um objectivo meu.
poema. Ando pela rua, vou vendo d\fi^lc_f Para todos os efeitos, a verdade é
as pessoas, estando com elas – e te- que tenho um mestrado e um dou-
nho a fama de ser muito despista- YXjkXek\% toramento em Teoria da Literatu-
do, e muitas vezes vêm atrás de ra, portanto, forçosamente tenho
mim: ‘olhe o chapéu’, ‘olhe o ca- de ter alguma bagagem nessa coi-

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derno’… –, mas tenho, ao mesmo sa. Mas sempre gostei de partir da
tempo, a liberdade de andar por ideia de que um livro meu deverá >

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