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O presente trabalho tem como objetivo angariar algumas das ideias a respeito do tema, para mostrar como sua relevância contemporânea pode ser suscitada e aplicada neste momento de consumo compulsivo de criações artísticas, bem como diferenciar o trabalho, quiçá a intenção, de dois artistas em particular, Andy Warhol e Romero Britto, para mostrar como, mesmo inseridos dentro da esfera popular, podem se apresentar de modos distintos.
O presente trabalho tem como objetivo angariar algumas das ideias a respeito do tema, para mostrar como sua relevância contemporânea pode ser suscitada e aplicada neste momento de consumo compulsivo de criações artísticas, bem como diferenciar o trabalho, quiçá a intenção, de dois artistas em particular, Andy Warhol e Romero Britto, para mostrar como, mesmo inseridos dentro da esfera popular, podem se apresentar de modos distintos.
O presente trabalho tem como objetivo angariar algumas das ideias a respeito do tema, para mostrar como sua relevância contemporânea pode ser suscitada e aplicada neste momento de consumo compulsivo de criações artísticas, bem como diferenciar o trabalho, quiçá a intenção, de dois artistas em particular, Andy Warhol e Romero Britto, para mostrar como, mesmo inseridos dentro da esfera popular, podem se apresentar de modos distintos.
Graduação em Artes Genealogias das Artes/Política Professor Luiz Sérgio de Oliveira
Rafael Alt
Cultura de massa, arte popular e pop art
Niterói 2013 Introdução
Há muito tempo – mais quase um século, pode se dizer – o aspecto
da comercialização da arte vem sendo analisado com certa atenção. Clement Greenberg, Theodor Adorno, dentre outros, têm procurado esmiuciar os elementos da cultura de massa, a fim de identificar tanto sua origem quanto seus efeitos, usando-a, ainda, como contraponto à cultura de vanguarda. Concomitantemente à evolução da avaliação crítica da distinção entre estas formas, alheia a esta preocupação, a sociedade não para de consumir “produtos da arte”, em especial nos anos correntes, nos quais a revolução digital provocou profundas mudanças na forma de realização, distribuição e consumo das obras. Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo angariar algumas das ideias a respeito do tema, para mostrar como sua relevância contemporânea pode ser suscitada e aplicada neste momento de consumo compulsivo de criações artísticas, bem como diferenciar o trabalho, quiçá a intenção, de dois artistas em particular, Andy Warhol e Romero Britto, para mostrar como, mesmo inseridos dentro da esfera popular, podem se apresentar de modos distintos.
A indústria cultural
Com a crescente urbanização da população, notadamente no pós-
revolução industrial, surgiu uma nova classe de consumidores de arte que, conforme afirma Greenberg, são insensíveis aos valores da cultura genuína, porém desejam a diversão advinda de alguma manifestação cultural. Voltado a esta classe, então, configurou-se um novo mercado de arte, de cunho popular, que não pode, porém, ser considerada cultura popular, em sentido estrito, devido a peculiaridades bem nítidas. A este mercado nos referimos como indústria cultural. A indústria cultural recebe essa alcunha devido a características que compartilha com a produção industrial, em oposição à produção individual, ou artesanal, que gera resultado único, singular. Se originalmente a arte era resultado da reflexão, da expressão e da dedicação pessoais do artista, dentro deste novo contexto ela passou a reproduzir seus efeitos, se preocupando meramente com a aparência, a forma final. Seu objetivo principal não é estimular o prazer decorrente da apreciação estética – pelo contrário, o kitsch, como Greenberg denomina esta modalidade cultural, visa apenas abastecer o mercado com novos produtos que são meramente mais do mesmo, se alimentando justamente da insensibilidade de seu consumidor. Por ser uma produção que visa o lucro, as criações da indústria cultural são geradas através de fórmulas, utilizando-se de elementos consagrados pela cultura autêntica. Desta feita, não é necessariamente a falta de qualidade que as reveste, mas, conforme Adorno, o “primado imediato e confesso do efeito”, em contraposição à suposta autonomia que as verdadeiras criações do espírito têm. Ainda, portanto, que tais obras atinjam determinado nível de excelência estética, a desconsideração desta como intenção primordial as mantêm dentro do escopo mercadológico, que objetiva tão somente o lucro.
Cultura de massa, arte popular e pop art
Adorno e Hockheimer passaram a utilizar a expressão indústria
cultural em lugar de “cultura de massa”, pois este não passava o real significado deste fenômeno: seus defensores apreciavam a impressão de que esta era a legítima cultura que emana do povo. Esta, na verdade, seria melhor classificada como cultura ou arte popular. A pop art, por seu lado, surgida no meio do século XX, foi um movimento artístico, estético e focal, que voltou a temática artística a situações, objetos e relações cotidianos. Assim sendo, a pop art não guarda relação direta com mercado, muito menos com a indústria da arte, configurando-se num estilo historica e originalmente valioso. Andy Warhol: pop com conceito
Um dos maiores expoentes da pop art, Andy Warhol enfrentou o
preconceito de ter sido também ilustrador comercial. Ao invés de combater este fato, porém, usou justamente a mentalidade consumista norteamericana como ponto de partida para sua arte. Logo, estava se inspirando em coisas mundanas, que gostava ou, mais importante, consumia, como latas de sopa que, segundo o próprio, foi seu almoço por grande parte da vida. Ao voltar seu foco para o imediatamente próximo, contudo, Warhol não pretendia realizar uma produção comercial; seu interesse era buscar inspiração. Além do mais, já havia nesta proximidade uma relação íntima, uma cumplicidade. Quando Warhol reproduz cinquenta vezes a mesma imagem de Marilyn Monroe em Marilyn Diptych (1962), ele cria um diálogo que lhe era familiar, entre a devoção midiática à celebridade e o desgaste do ser humano por trás dela: a repetição ressalta o fascínio, a idolatria àquela imagem que personifica o ideal americano, enquanto o olhar perdido da estrela, as imperfeições entre cada cópia e o desbotar gradativo indicam a falibilidade desta pseudoheroína.
Romero Britto: “Tem gente que junta uns objetos, como fez o Marcel Duchamp, e pronto.”
Há alguns anos, o artista brasileiro Romero Britto foi comparado a
Picasso, em curiosa matéria – cuja autoria permanece nebulosa – constante, dentre outros lugares, em seus website. Este texto enfatizava a originalidade dos dois como a mais válida similaridade, afirmando que ambos criaram um estilo totalmente novo e abstrato. A mesma matéria, por outro lado, expõe alguns exemplares do trabalho destes artistas, lado a lado, numa comparação imediata, dentre os quais a releitura de Britto do Abaporu de Tarsila do Amaral. Esta comparação, por si só, já torna dificílima a consideração da suposta originalidade do brasileiro; ela atesta mais uma realização contrária, de subproduto do que é consagrado, seja Tarsila ou Picasso. Em diversas entrevistas, o próprio Britto tende a desmistificar a produção artística, através de sua própria, alegando fazer dezenas de quadros por dia, e repete como um mantra – ou talvez um slogan – que sua preocupação é unicamente trazer alegria através das cores, e criar uma arte universal, e paralelamente enumera seus inúmeros clientes famosos, como se isto lhe outorgasse alguma qualidade específica. Este fato confirma com clareza os dois principais aspectos do seu trabalho: um conceito sem profundidade (sepuder ser considerado um conceito), e a destinação comercial de sua produção, a qual foi inicialmente projetada através da publicidade de conhecida marca de vodka, e que atualmente responde majoritariamente a encomendas altamente bem pagas, concretizadas em série, como numa linhagem industrial.
Separando o joio do trigo
O legado de Andy Warhol e a atividade de Romero Britto são,
certamente, dois exemplos culturais que compartilham várias características, como a vibração das cores e a concretude expressa pela temática habitualmente direta. Entretanto, não há meios de considerá-los páreos, nem mesmo em nível semelhante. Através de sua obra, Warhol exprime conceitualmente a dicotomia do fascinante inatingível/realidade efêmera, inspirando-se em objetos de desejo, numa (auto)crítica ao ambiente consumista em que cresceu. Embora seus trabalhos tenham uma correlação visual muito forte, às vezes parecendo simplesmente variações sobre um tema ou até reproduções, eles transmitem sempre uma ideia artistica incutida, dentro de um campo temático invariável. Esta semelhança favorece, então, uma identidade e uma unidade criativa, comum aos grandes nomes, de uma forma análoga às composições de Mondrian, por exemplo. Por sua vez, Romero Britto desenha objetos, comumente a partir de encomendas, a partir de uma ideia frágil – a do uso de cores fortes para alegrar o mundo – que faz com que todo produto seu pareça um semiclone do anterior, seja ele um retrato pessoal, uma releitura de alguma imagem famosa ou um desenho de corações com flores. Aqui, a semelhança não é decorrente da ideia, mas um pressuposto constitutivo, delineador do resultado final, que deve atender a expectativa de seu mercado, objetivando a arte – talvez até desqualificando estas realizações como tal e as conduzindo para o campo do design. Outra característica importante do trabalho de Britto, dentro desta visão dele, é a forma mecânica, em série com a qual ele é feito. Soa improvável que a fabricação de trinta quadros por dia represente uma expressão autônoma da percepção de um um artista, combustível primário da arte. O volume impressionante desta produção lhe confere um caráter prolixo, esvaziando o sentido de cada peça, do qual, como analisado acima, já nasce carente. Desta forma, embora possam ser inseridos numa mesma esfera artística – a da pop art – os artistas acima e suas obras respectivas distinguem-se fundamentalmente, pois a de Britto revela em sua gênese tudo o que é necessário para que seja inexoravelmente considerada parte integrante da cultura de massa. Nas palavras de Platão (apud Adorno): “o que é objetivamente, em si, falso, não pode ser verdadeiro e bom subjetivamente, para os homens”.
Bibliografia
ADORNO, Theodor. A indústria cultural. In: Indústria cultural e
sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
BRITTO, Romero. "Arte é para alegrar". Entrevista concedida a Marcelo
Marthe, revista Veja. <http://veja.abril.com.br/160102/entrevista.html>. Acesso em 11/08/2013. BRITTO, Romero. "Romero Britto revela seu esquema de produção artística". Entrevista concedida a Roberto Kaz, revista Veja. <http://www1.folha.uol.com.br/serafina/1066430-romero-britto-revela- seu-esquema-de-producao-artistica.shtml>. Acesso em 11/08/2013.
GREENBERG, Clement. Vanguarda e kitsch. In: FERREIRA, Glória &
COTRIM, Cecilia (org). Clement Greenberg e o debate crítico. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
TATE. 'Marilyn Diptych', Andy Warhol. Disponível em: