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Universidade Federal Fluminense

Instituto de Artes e Comunicação Social


Graduação em Artes
Genealogias das Artes/Política
Professor Luiz Sérgio de Oliveira

Rafael Alt

Cultura de massa, arte popular e pop art

Niterói
2013
Introdução

Há muito tempo – mais quase um século, pode se dizer – o aspecto


da comercialização da arte vem sendo analisado com certa atenção.
Clement Greenberg, Theodor Adorno, dentre outros, têm procurado
esmiuciar os elementos da cultura de massa, a fim de identificar tanto sua
origem quanto seus efeitos, usando-a, ainda, como contraponto à cultura
de vanguarda.
Concomitantemente à evolução da avaliação crítica da distinção
entre estas formas, alheia a esta preocupação, a sociedade não para de
consumir “produtos da arte”, em especial nos anos correntes, nos quais a
revolução digital provocou profundas mudanças na forma de realização,
distribuição e consumo das obras.
Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo angariar
algumas das ideias a respeito do tema, para mostrar como sua relevância
contemporânea pode ser suscitada e aplicada neste momento de consumo
compulsivo de criações artísticas, bem como diferenciar o trabalho, quiçá
a intenção, de dois artistas em particular, Andy Warhol e Romero Britto,
para mostrar como, mesmo inseridos dentro da esfera popular, podem se
apresentar de modos distintos.

A indústria cultural

Com a crescente urbanização da população, notadamente no pós-


revolução industrial, surgiu uma nova classe de consumidores de arte
que, conforme afirma Greenberg, são insensíveis aos valores da cultura
genuína, porém desejam a diversão advinda de alguma manifestação
cultural. Voltado a esta classe, então, configurou-se um novo mercado de
arte, de cunho popular, que não pode, porém, ser considerada cultura
popular, em sentido estrito, devido a peculiaridades bem nítidas. A este
mercado nos referimos como indústria cultural.
A indústria cultural recebe essa alcunha devido a características
que compartilha com a produção industrial, em oposição à produção
individual, ou artesanal, que gera resultado único, singular. Se
originalmente a arte era resultado da reflexão, da expressão e da
dedicação pessoais do artista, dentro deste novo contexto ela passou a
reproduzir seus efeitos, se preocupando meramente com a aparência, a
forma final. Seu objetivo principal não é estimular o prazer decorrente da
apreciação estética – pelo contrário, o kitsch, como Greenberg denomina
esta modalidade cultural, visa apenas abastecer o mercado com novos
produtos que são meramente mais do mesmo, se alimentando justamente
da insensibilidade de seu consumidor.
Por ser uma produção que visa o lucro, as criações da indústria
cultural são geradas através de fórmulas, utilizando-se de elementos
consagrados pela cultura autêntica. Desta feita, não é necessariamente a
falta de qualidade que as reveste, mas, conforme Adorno, o “primado
imediato e confesso do efeito”, em contraposição à suposta autonomia
que as verdadeiras criações do espírito têm. Ainda, portanto, que tais
obras atinjam determinado nível de excelência estética, a
desconsideração desta como intenção primordial as mantêm dentro do
escopo mercadológico, que objetiva tão somente o lucro.

Cultura de massa, arte popular e pop art

Adorno e Hockheimer passaram a utilizar a expressão indústria


cultural em lugar de “cultura de massa”, pois este não passava o real
significado deste fenômeno: seus defensores apreciavam a impressão de
que esta era a legítima cultura que emana do povo. Esta, na verdade,
seria melhor classificada como cultura ou arte popular.
A pop art, por seu lado, surgida no meio do século XX, foi um
movimento artístico, estético e focal, que voltou a temática artística a
situações, objetos e relações cotidianos. Assim sendo, a pop art não
guarda relação direta com mercado, muito menos com a indústria da
arte, configurando-se num estilo historica e originalmente valioso.
Andy Warhol: pop com conceito

Um dos maiores expoentes da pop art, Andy Warhol enfrentou o


preconceito de ter sido também ilustrador comercial. Ao invés de
combater este fato, porém, usou justamente a mentalidade consumista
norteamericana como ponto de partida para sua arte. Logo, estava se
inspirando em coisas mundanas, que gostava ou, mais importante,
consumia, como latas de sopa que, segundo o próprio, foi seu almoço por
grande parte da vida.
Ao voltar seu foco para o imediatamente próximo, contudo, Warhol
não pretendia realizar uma produção comercial; seu interesse era buscar
inspiração. Além do mais, já havia nesta proximidade uma relação íntima,
uma cumplicidade. Quando Warhol reproduz cinquenta vezes a mesma
imagem de Marilyn Monroe em Marilyn Diptych (1962), ele cria um
diálogo que lhe era familiar, entre a devoção midiática à celebridade e o
desgaste do ser humano por trás dela: a repetição ressalta o fascínio, a
idolatria àquela imagem que personifica o ideal americano, enquanto o
olhar perdido da estrela, as imperfeições entre cada cópia e o desbotar
gradativo indicam a falibilidade desta pseudoheroína.

Romero Britto: “Tem gente que junta uns objetos, como fez o
Marcel Duchamp, e pronto.”

Há alguns anos, o artista brasileiro Romero Britto foi comparado a


Picasso, em curiosa matéria – cuja autoria permanece nebulosa –
constante, dentre outros lugares, em seus website. Este texto enfatizava a
originalidade dos dois como a mais válida similaridade, afirmando que
ambos criaram um estilo totalmente novo e abstrato. A mesma matéria,
por outro lado, expõe alguns exemplares do trabalho destes artistas, lado
a lado, numa comparação imediata, dentre os quais a releitura de Britto
do Abaporu de Tarsila do Amaral. Esta comparação, por si só, já torna
dificílima a consideração da suposta originalidade do brasileiro; ela atesta
mais uma realização contrária, de subproduto do que é consagrado, seja
Tarsila ou Picasso.
Em diversas entrevistas, o próprio Britto tende a desmistificar a
produção artística, através de sua própria, alegando fazer dezenas de
quadros por dia, e repete como um mantra – ou talvez um slogan – que
sua preocupação é unicamente trazer alegria através das cores, e criar
uma arte universal, e paralelamente enumera seus inúmeros clientes
famosos, como se isto lhe outorgasse alguma qualidade específica. Este
fato confirma com clareza os dois principais aspectos do seu trabalho: um
conceito sem profundidade (sepuder ser considerado um conceito), e a
destinação comercial de sua produção, a qual foi inicialmente projetada
através da publicidade de conhecida marca de vodka, e que atualmente
responde majoritariamente a encomendas altamente bem pagas,
concretizadas em série, como numa linhagem industrial.

Separando o joio do trigo

O legado de Andy Warhol e a atividade de Romero Britto são,


certamente, dois exemplos culturais que compartilham várias
características, como a vibração das cores e a concretude expressa pela
temática habitualmente direta. Entretanto, não há meios de considerá-los
páreos, nem mesmo em nível semelhante.
Através de sua obra, Warhol exprime conceitualmente a dicotomia
do fascinante inatingível/realidade efêmera, inspirando-se em objetos de
desejo, numa (auto)crítica ao ambiente consumista em que cresceu.
Embora seus trabalhos tenham uma correlação visual muito forte, às
vezes parecendo simplesmente variações sobre um tema ou até
reproduções, eles transmitem sempre uma ideia artistica incutida, dentro
de um campo temático invariável. Esta semelhança favorece, então, uma
identidade e uma unidade criativa, comum aos grandes nomes, de uma
forma análoga às composições de Mondrian, por exemplo.
Por sua vez, Romero Britto desenha objetos, comumente a partir de
encomendas, a partir de uma ideia frágil – a do uso de cores fortes para
alegrar o mundo – que faz com que todo produto seu pareça um
semiclone do anterior, seja ele um retrato pessoal, uma releitura de
alguma imagem famosa ou um desenho de corações com flores. Aqui, a
semelhança não é decorrente da ideia, mas um pressuposto constitutivo,
delineador do resultado final, que deve atender a expectativa de seu
mercado, objetivando a arte – talvez até desqualificando estas realizações
como tal e as conduzindo para o campo do design.
Outra característica importante do trabalho de Britto, dentro desta
visão dele, é a forma mecânica, em série com a qual ele é feito. Soa
improvável que a fabricação de trinta quadros por dia represente uma
expressão autônoma da percepção de um um artista, combustível
primário da arte. O volume impressionante desta produção lhe confere
um caráter prolixo, esvaziando o sentido de cada peça, do qual, como
analisado acima, já nasce carente.
Desta forma, embora possam ser inseridos numa mesma esfera
artística – a da pop art – os artistas acima e suas obras respectivas
distinguem-se fundamentalmente, pois a de Britto revela em sua gênese
tudo o que é necessário para que seja inexoravelmente considerada parte
integrante da cultura de massa. Nas palavras de Platão (apud Adorno): “o
que é objetivamente, em si, falso, não pode ser verdadeiro e bom
subjetivamente, para os homens”.

Bibliografia

ADORNO, Theodor. A indústria cultural. In: Indústria cultural e


sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

BRITTO, Romero. "Arte é para alegrar". Entrevista concedida a Marcelo


Marthe, revista Veja. <http://veja.abril.com.br/160102/entrevista.html>.
Acesso em 11/08/2013.
BRITTO, Romero. "Romero Britto revela seu esquema de produção
artística". Entrevista concedida a Roberto Kaz, revista Veja.
<http://www1.folha.uol.com.br/serafina/1066430-romero-britto-revela-
seu-esquema-de-producao-artistica.shtml>. Acesso em 11/08/2013.

GREENBERG, Clement. Vanguarda e kitsch. In: FERREIRA, Glória &


COTRIM, Cecilia (org). Clement Greenberg e o debate crítico. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

TATE. 'Marilyn Diptych', Andy Warhol. Disponível em:


<http://www.tate.org.uk/art/artworks/warhol-marilyn-diptych-t03093>.
Acesso em: 11/08/2013.

______. Romero Britto – the new Picasso. Disponível em:


<http://www.britto.com/portuguese/downloads/newsandevents/articles/
Britto-Picasso-USAweb.pdf>. Acesso em: 11/08/2013.

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