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O desenvolvimento industrial brasileiro e suas interpretações

O desenvolvimento da indústria no Brasil é um tema que inspira amplo debate na


literatura econômica. Afinal, como um país de economia essencialmente agrário-exportadora,
no começo do século XX, evoluiu para uma estrutura produtiva relativamente diversificada,
incluindo a produção de bens de capital, já no início da década de 1970? A partir do estudo
histórico e econômico dos fatores condicionantes do desenvolvimento brasileiro, várias linhas
teóricas foram construídas para a interpretação do rápido processo de industrialização no país.
Dentro desse modelo de análise, Suzigan (2000, p.23) conseguiu identificar quatro
interpretações fundamentais na literatura econômica, relacionadas às mudanças estruturais no
Brasil. Sob essa perspectiva, as visões de diferentes autores podem ser classificadas nas
seguintes linhas: 1) “teoria dos choques adversos”; 2) “ótica da industrialização liderada pela
expansão das exportações”; 3) “interpretação do capitalismo tardio”, e 4) “a ótica da
industrialização intencionalmente promovida por políticas governamentais”.
A seguir, serão discutidas essas diferentes interpretações, assim como suas limitações
e contribuições para o debate em relação ao desenvolvimento industrial brasileiro.
De acordo com a perspectiva da Teoria dos Choques Adversos, o avanço da indústria é
fomentado por fatores exógenos1 que de alguma maneira se tornam capazes de exercer
influência sobre os preços ou a viabilidade das importações (SUZIGAN, 2000, p.25). Desse
modo, a restrição da oferta de artigos estrangeiros combinado com o aumento da demanda
interna, estimulada por políticas econômicas expansionistas, implicaria em um incentivo para
as firmas nacionais. Ou seja, nesse contexto, embora possa existir uma crise que afete o
comércio internacional e a oferta de produtos, a procura interna por esses artigos continua
presente. Essa demanda passa então, a ser suprida pela indústria nacional, que se desenvolve
para abastecer o mercado interno.
A interpretação dos choques adversos foi utilizada por autores brasileiros como
Furtado (1963) e Tavares (1972) para explicar o processo de industrialização brasileira que
ocorreu na década de 1930, estimulado pela queda internacional dos preços do café.
(SUZIGAN, 2000, p.25) Dessa forma, com a escassez de divisas estrangeiras, o governo
tentava manter a renda dos cafeicultores por meio da desvalorização cambial e compra dos
excedentes de café. Esses mecanismos permitiram estimular a demanda interna no período de
crise internacional. Por outro lado, a desvalorização da moeda resultou no aumento do preço

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Suzigan (2000, p.25) evidencia que o choque adverso pode ser ocasionado, por exemplo, por crises no setor
exportador, guerras, ou crises econômicas.
das importações. Ou seja, havia a presença de demanda interna, mas a restrição da oferta de
divisas implicava na dificuldade de obtenção de produtos estrangeiros. Frente a esse cenário, a
solução foi a substituição de parte do consumo de artigos importados por produtos nacionais.
Em decorrência desse novo estímulo, “as atividades ligadas ao mercado interno não somente
cresciam impulsionadas por seus maiores lucros, mas ainda recebiam novo impulso ao atrair
capitais que se formavam ou desinertiam no setor de exportação” (FURTADO, 2005, p.195).
A partir desse contexto, a indústria nacional teria encontrado oportunidades para a aceleração
de seu desenvolvimento. Dadas as dificuldades enfrentadas no período também para a
importação de bens de capital, em um primeiro momento a manufatura teria ampliado sua
produção por meio do aproveitamento da capacidade ociosa. Posteriormente, pela compra de
máquinas oriundas de linhas de produção dos países centrais, desativadas em decorrência da
crise.
Nesse sentido, é oportuno enfatizar, que a interpretação desses dois autores considera
apenas a crise do comércio de café e a Grande Depressão como episódios nos quais os efeitos
dos choques adversos tenham sido verificados no desenvolvimento da indústria nacional. A
partir de outra perspectiva, existe uma versão extrema da interpretação dos choques adversos.
Não obstante, sua abordagem é equivocada ao se apresentar como uma teoria de aplicação
universal. (SUZIGAN, 2000, p.25).
A versão extrema da teoria dos choques adversos originou-se, principalmente, a partir
da ampla influência da abordagem histórico-estrutural cepalina, utilizada como método de
análise para o estudo do processo de desenvolvimento dos países latino-americanos. Nesse
sentido, a interpretação da CEPAL2 é que a mudança do padrão de crescimento, originalmente
liderado pela exportação de produtos primários, ocorreu nos países periféricos por meio do
ajustamento de sua produção interna à limitação da capacidade de importação de artigos
manufaturados. Essa restrição foi ocasionada por Guerras Mundiais e pela Grande Depressão
da década de 1930. Os episódios de adversidade no mercado mundial ou “choques” teriam se
constituído, nessa perspectiva, uma condição fundamental para o investimento voltado ao
processo de industrialização na América Latina. (SUZIGAN, 2000, p.25)
A teoria dos choques adversos se mostra incapaz de se tornar uma interpretação de
aplicação geral. Essa afirmação pode ser justificada empiricamente. Na América Latina, por
exemplo, é possível observar períodos de aumento do crescimento industrial que coincidem

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Suzigan (2000, p.23) destaca que, embora Furtado (1963) e Tavares (1972) façam parte do pensamento
cepalino, suas análises em relação ao desenvolvimento industrial brasileiro não corresponde à versão extrema da
interpretação dos choques adversos.
com os ciclos de elevação no nível das exportações. (SUZIGAN, 2000, p.27). Na mesma linha
de análise, Dean (1976, p. 95) afirma que em momentos de guerra ou crises no comércio,
muitas matérias primas e peças para maquinaria importadas pela indústria ficaram mais caras.
Portanto, a dificuldade para a importação de mercadorias, assim como o estudo de seus
possíveis estímulos à atividade manufatureira, também deve considerar a estrutura produtiva
do país e sua dependência de insumos externos para a execução de suas atividades. Com a
dependência de produtos estrangeiros essenciais para o suporte ou crescimento das suas
operações, as empresas industriais podem ter sua oportunidade de expansão sufocada. Nesse
contexto, a estagnação ou queda na produção ocorre ainda que haja o aumento da demanda
interna por produtos nacionais.
De outra maneira, a ótica da industrialização liderada pela expansão das exportações
se caracteriza por considerar a relação direta entre o bom desempenho das exportações e o
desenvolvimento industrial. Ou seja, nessa perspectiva períodos de aumento da intensidade do
comércio internacional implicariam em estímulos para o desenvolvimento do setor
manufatureiro. De forma análoga, em momentos de fraco desempenho do setor exportador
ocorreria o atraso do desenvolvimento da indústria nacional, a qual as possibilidades de
crescimento estariam sujeitas às variações do comércio mundial. De acordo com Suzigan
(2000, p.32) dois autores se destacam na utilização dessa abordagem: Dean (1976) e Nicol
(1974). Com base nessa visão, a interpretação de ambos os autores enfatiza que a Primeira
Guerra Mundial foi responsável pela descontinuação de processo de desenvolvimento
industrial no país. Nesse período a atividade de exportação cafeeira foi prejudicada, reduzindo
o montante de divisas que entravam no Brasil. Em decorrência da escassez de moeda
estrangeira no país, houve a desvalorização do mil-réis, consequentemente a importação de
máquinas e insumos básicos para a fabricação de artigos manufaturados se tornou mais cara.
Esse fator teria interrompido a continuidade do processo de crescimento industrial que estava
sendo verificado nos anos anteriores.
Outra linha de interpretação do desenvolvimento da indústria brasileira, identificada
na literatura por Suzigan (2000, p.34), foi a ótica do capitalismo tardio. Essa teoria recebeu
relevantes contribuições de autores como Mello (1975), Tavares, (1974), Cano (1977) e
Aureliano (1981). A ótica do capitalismo tardio busca rever os argumentos teóricos do
pensamento estruturalista cepalino. Dessa maneira, essa teoria incorpora uma abordagem que
atribui o resultado do crescimento industrial ao nível acumulação de capital do setor agrícola-
exportador. Ou seja, sob essa perspectiva o capital industrial é considerado como um
“transbordamento” resultante da estrutura de produção e exportação do café3.
Dessa maneira, a teoria do capitalismo tardio enfatiza que nos momentos de crise do
setor exportador o segmento industrial é inicialmente prejudicado. Nesse ponto essa teoria se
assemelha à ótica da industrialização liderada pela expansão das exportações. No entanto, a
abordagem do capitalismo tardio se diferencia da ultima linha quando assume que após o
impacto negativo na atividade industrial existe a recuperação da produção industrial. Essa
retomada no desenvolvimento manufatureiro seria o reflexo do efeito protecionista decorrente
da queda do nível de divisas estrangeiras no país, necessárias para a compra de artigos
importados (SUZIGAN, 2000, p.37). Desse modo, a dificuldade para a importação de artigos
estrangeiros direcionaria a demanda para a indústria nacional, que receberia um impacto
positivo para seu desenvolvimento.
É válido enfatizar que interpretação do capitalismo tardio reconhece a existência da
contraditoriedade atrelada ao desenvolvimento industrial dependente do segmento agrícola-
exportador. De outra maneira, o desenvolvimento do setor manufatureiro baseado na atividade
exportadora era incompleto. Ou seja, dado o baixo grau de diversificação da produção, a
indústria nacional ainda dependia da oferta de bens de capital dos países centrais. Mello
(1975, p.108) afirma que esses aspectos são típicos do tipo de crescimento de um setor
industrial “retardatário”, que em última instância, estava sujeito à dinâmica da acumulação
internacional de capital.
Partindo da análise dos pressupostos teóricos da ótica do capitalismo tardio, Suzigan
(2000, p. 39), afirma que de fato existem indícios da existência de uma convergência direta
entre os momentos de crescimento do setor agrícola de exportação e a expansão do
investimento na indústria. Entretanto, destaca que a associação entre impactos advindos das
crises do comercio internacional e seus incentivos a indústria nacional deve ser feito de
maneira cuidadosa. A necessidade de cautela na generalização dos efeitos positivos da
restrição de importações para a manufatura decorre da ausência de dados suficientes para
avaliar os níveis de produção industrial no período que antecedeu a Primeira Guerra Mundial.
Nesse sentido, alguns obstáculos também se apresentaram à indústria incipiente nos
períodos de queda na atividade agrícola de exportação. Dean (1976, p. 107), por exemplo,

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Como exemplo da estrutura viabilizada pela cultura cafeeira, que também beneficiou o setor manufatureiro, se
destaca o desenvolvimento do sistema de transporte (como ferrovias e portos), o aumento da intensidade do
comércio exterior e a disseminação de serviços bancários.
destacou que os impactos decorrentes da Primeira Guerra Mundial não teriam sido tão
benéficos para a indústria paulista. Essa dificuldade estaria relacionada à dificuldade na
obtenção de matérias-primas advindas do exterior, indispensáveis no processo de produção
dessas fábricas. Suzigan (2000, p.40) segue uma abordagem semelhante ao enfatizar que,
devido à dependência de matérias-primas importadas, não poderia haver um reflexo
inteiramente positivo para o segmento industrial nesses cenários. A partir dessa perspectiva, é
oportuno destacar que embora existisse o aumento inicial da demanda por produtos nacionais,
a utilização de insumos, máquinas e equipamentos ociosos atingia seu limite. Por conseguinte,
no período da Primeira Guerra Mundial, como resultado da dificuldade em se adquirir esses
artigos do exterior, a indústria apresentou queda no nível de produção já em 1918.
A última linha de interpretação das origens do desenvolvimento industrial brasileiro é
classificada como “A ótica da industrialização intencionalmente promovida por políticas de
governo”. Como o próprio nome sugere, essa teoria enfatiza o papel do Estado como um
importante agente de promoção e fomento da indústria nacional. Nesse sentido a ação
governamental se daria no sentido de promover medidas de proteção tarifária, incentivos e
subsídios para favorecer o desenvolvimento industrial no país. Dessa maneira pode-se afirmar
que:
[...] a intenção declarada dessa corrente de pensamento é a de contestar a afirmação
usualmente encontrada na historiografia brasileira, de que o papel do Estado na
promoção do desenvolvimento industrial no período anterior a 1930 foi mínimo ou
não significativo. Argumenta-se, ao contrário, o Estado desempenhou um papel
positivo, primeiramente por meio de uma proteção alfandegária deliberada e, em
segundo lugar, por meio da concessão de incentivos e subsídios a indústrias
específicas. (SUZIGAN, 2000, p.41)
De acordo com Suzigan (2000, p. 42) os principais autores que defendem essa linha
interpretativa são F.R. Versiani e M. T Versiani. Dessa maneira, com base no estudo do
desenvolvimento da indústria de tecidos de algodão, os autores atribuem o padrão cíclico de
investimentos e expansão do setor à variações da taxa cambial. A partir dessa perspectiva,
havia momentos em que a sobrevalorização da moeda barateava as importações e criava a
oportunidade para a compra de máquinas e ampliação da produção. Por outro lado, ela
também tornava outras mercadorias estrangeiras mais baratas. Esses artigos concorriam com
os produtos nacionais, aumentando a concorrência enfrentada pelas fábricas brasileiras. Em
outros momentos, no entanto, a desvalorização cambial permitia proteger a produção da
concorrência externa, visto que tornava as importações mais caras. Não obstante, esse mesmo
mecanismo também encarecia os bens de capital advindos do exterior.
Portanto, segundo essa abordagem a alternância da política cambial, verificada no
intervalo entre 1906-1912, seria intencionalmente adotada para o fomento ao setor produtivo e
teria favorecido o crescimento industrial no período. Contudo, para se afirmar que houve, de
fato, uma política cambial efetiva e intencional por parte do governo, é necessária a obtenção
de um leque mais ampliado de análise. Esse deve considerar os efeitos inter-relacionados de
variáveis como: direitos aduaneiros, taxas cambiais e a relação de preços de importação e
preços praticados internamente. Além disso, nos períodos que antecederam à Primeira Guerra
Mundial, não foram encontrados indícios de que as variações presentes na proteção tarifária
ocorriam de maneira proposital, objetivando a proteção do mercado interno frente à
concorrência de produtos estrangeiros. Essa evidência foi apontada, por não ser constatada a
escolha de setores preferenciais para o direcionamento de incentivos por meio de direitos
aduaneiros (SUZIGAN, 2000, p.44).
Como observado, o processo de desenvolvimento industrial brasileiro ainda é um
assunto inacabado, que apresenta amplo debate na literatura. No entanto, alguns períodos
históricos se destacam por serem os que apresentam maior grau de divergência entre os
autores. Os períodos críticos para o consenso das diferentes abordagens se concentram,
sobretudo: no fim da década de 1880 e início da década de 1890; no período inicial ao da
Primeira Guerra Mundial e nos anos em que incidiram os efeitos da crise do café e Grande
Depressão (SUZIGAN, 2000, p. 47).
De acordo com Suzigan, a partir da perspectiva da fase de aceleração da formação
das primeiras manufaturas brasileiras (1886-1894), surgem duas questões. Uma delas está
relacionada a definição da principal origem do capital empregado na indústria nacional. Outra
questão, ainda discutida, está relacionada aos efeitos gerados pela crise do Encilhamento na
indústria.
Em relação a origem do capital industrial, autores como Mello (1975), Silva (1976),
Cano (1977) e Aureliano (1981) afirmam que seu “nascimento” teria ocorrido no período
compreendido entre 1886 e 1894. No entanto há vários indícios de que fábricas têxteis,
moinhos de trigo, cervejarias e indústrias metalmecânicas tenham se estabelecido antes
mesmo da década de 1880. Nesse sentido, há evidências de que o capital industrial não teve
sua origem a partir de 1886, embora tenha apresentado expressiva aceleração entre os anos de
1886 a 1894. (SUZIGAN, 2000, p.49)
O Encilhamento ficou conhecido como um período de expansão na oferta de moeda e
intensa atividade no mercado de ações. Naquela época a implementação de políticas
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monetárias expansionistas e as reformas institucionais permitiram o acesso mais facilitado
ao crédito. Foram verificados também, incentivos para a consolidação da oferta de
financiamento por meio da emissão de ações (HANLEY, 2001, p.4). Não obstante, esse
episódio de intensa euforia e especulação teve sérias consequências para a estabilidade
econômica, culminando em problemas inflacionários, crise no sistema bancário e quebra de
instituições financeiras.
Entretanto, embora muitas vezes associada a crises e instabilidade na economia,
existem autores que afirmam que o fenômeno do Encilhamento pode ter sido benéfico para a
atividade industrial. Stein (1979 apud SUZIGAN 2000), por exemplo, ao estudar o segmento
têxtil, conseguiu observar aspectos positivos para o crescimento do setor nesse período. A
partir dessa perspectiva, os incentivos para a indústria têxtil parecem ter se convertido na
forma de maior disponibilidade de financiamento. Consequentemente, esse novo aporte de
recursos permitiu a ampliação da capacidade produtiva, transformando-se em investimento
industrial.
De outra forma, Versiani e Versiani (1974, p.136 apud SUZIGAN 2000, p.50) não
consideram que o período do Encilhamento tenha refletido em grandes investimentos voltados
ao aumento da capacidade da indústria têxtil. Dessa maneira, a partir da análise dos dados
disponíveis na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro, os autores contrariam a afirmação de Stein
ao destacar que não houve aumento expressivo no estoque real de capital da indústria. Esse
argumento é explicado pelo fato de que cerca de 72% do crescimento verificado no mercado
de capitais, teria sido decorrente da distribuição de títulos de bonificações.
A partir de outra abordagem, por meio da análise de dados presentes em seu trabalho,
Suzigan encontrou conclusões semelhantes às obtidas por Stein. Desse modo, foram
descobertos indicadores confiáveis5 que apontaram o crescimento expressivo do segmento
industrial no período do Encilhamento. A partir do estudo dos materiais encontrados o autor
descobriu que: “Os dados indicam a ocorrência de um pico no investimento industrial durante
o Encilhamento: as exportações de maquinaria industrial para o Brasil aumentaram cerca de
30% em 1890 e mais 70% em 1891!” (SUZIGAN, 2000, p.50) Portanto, assim como Stein,
Suzigan observa que apesar da instabilidade econômica gerada no fim do período do
Encilhamento, esse episódio teve resultados concretos para indústria. A facilidade na
obtenção de empréstimos para os investimentos teria contribuído para a consolidação de

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Para estimar o crescimento industrial Suzigan (2000, p.50), utilizou como indicador dados internacionais
relacionados à exportação de equipamentos para o Brasil e dados de importação de máquinas direcionadas à
indústria. De maneira adicional, o autor buscou o registro de novas empresas industriais, fundadas na época,
além de dados relacionados a expansão de fábricas no mesmo período.
projetos industriais. Nesse sentido cabe salientar, que a acumulação de capital nas fábricas
pode ter ocorrido justamente em um período onde a atividade agrícola de exportação atingia
seu ápice.
Os anos da Primeira Guerra Mundial se constituem em mais um ponto polêmico para
a história econômica brasileira. Por conseguinte, tornam- se mais aparentes as divergências
entre as diferentes interpretações do desenvolvimento industrial do país (SUZIGAN, 2000,
p.51). A partir da análise desse período Dean (1976, p. 95), por exemplo, destaca que não
existem justificativas para afirmar que o declínio do comércio de café tenha sido benéfico
para os empreendimentos paulistas. Durante esses episódios havia a queda da renda e
consequentemente, o encolhimento da demanda. Adicionalmente, Dean ressalta que no
Período da Primeira Guerra Mundial, a importação de máquinas e matérias primas sofreu
maior nível de redução se comparado a queda na a importação de produtos acabados. Ou seja,
a restrição da capacidade de importação, gerada pela falta de divisas, teria impactado de
forma mais intensa a produção do que o consumo. A partir dessa perspectiva, a guerra
prejudicou o processo de desenvolvimento industrial em curso, o qual era diretamente
estimulado pela expansão cafeeira.
Contrariando a versão de Dean, Fishlow (1972, p.136 apud SUZIGAN 2000, p.52),
destaca que a guerra foi importante para o desenvolvimento das manufaturas. Sob essa ótica, a
dificuldade para a importação permitiu o incentivo do consumo de produtos nacionais,
estimulando o processo de substituição de importações. Dessa maneira, ainda que o aumento
da produção não tenha se materializado, ela proporcionou um beneficio potencial à indústria
ao favorecer a elevação dos lucros e incentivar o futuro aumento de investimentos.
Com base na análise do crescimento da produção6 no intervalo entre 1914 e 1918,
observou-se que os impactos da Primeira Guerra Mundial foram diferentes entre os gêneros
nacionais de artigos manufaturados (SUZIGAN, 2000, p. 57). Nesse sentido, o nível de
produtividade variou em relação ao tipo de matéria prima empregada pelas fábricas. Os
segmentos industriais que utilizavam majoritariamente matérias-primas domésticas7, sendo
menos prejudicados pelo aumento do preço das importações, conseguiram aumentar sua
produção e foram beneficiados nesse período. Nesse segmento estavam mercadorias como:
chapéus, calçados, produtos de couro, tecidos de algodão, perfumaria e cosméticos. O

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Suzigan (2000, p.57) analisou o crescimento da produção de diversas mercadorias como: tecidos , chapéus,
calçados, couros e peles, produtos de fumo, produtos químicos e alimentícios.
aumento quantidade produzida desses artigos foi direcionada para atender a parcela do
mercado anteriormente suprida por importações e até mesmo a demanda externa8.
Por outro lado, a maioria dos segmentos industriais foi prejudicada pela dificuldade
na obtenção de insumos importados. Além disso, como no período grande parcela dos bens de
capital empregada na indústria vinha de outros países, a dificuldade de reposição desses
equipamentos pelo inevitável desgaste se tornou um grande problema no fim da guerra.
Dessa menira:
As indústrias de chapéus e calçados também foram afetadas pela falta de corantes e
outros insumos importados. Os moinhos de trigo e as cervejarias tiveram a produção
limitada pela falta de matérias-primas básicas (trigo, malte e cevada). A falta de
produtos químicos importados dificultou a produção de fósforo, e a produção de papel
foi limitada pela falta de produtos químicos e pasta de madeira. Finalmente, a redução
das importações de ferro e aço certamente restringiu o crescimento das indústrias metal
mecânicas. (SUZIGAN, 2000, p.58)
Nesse sentido, a abordagem de Suzigan se assemelha a interpretação de Dean em
relação à ênfase da limitação que a Primeira Guerra impôs para a manutenção do nível de
produção industrial. A partir dessa perspectiva, Dean (1976, p.99) chega a afirmar que o
desafio imposto pela Guerra à indústria se concentrou de maneira muito mais expressiva na
manutenção dos equipamentos e da produção do que na expansão dos mercados para a venda
de produtos manufaturados.
Ao final do século XIX o crescimento industrial pode ser relacionado, de maneira
direta, à expansão do setor exportador. No entanto, essa ligação teria–se enfraquecido
gradualmente no decorrer do século XX, de maneira que o segmento industrial passou a ser
responsável pela geração de encadeamentos internos, estimulando investimentos em
atividades complementares à produção manufatureira no país. Como exemplo desse processo
podem ser citados os estímulos na produção de sacaria de algodão (utilizada para embalar os
produtos derivados do trigo e açúcar), garrafas de vidro para cerveja, latas para embalar
alimentos, entre outros. Sob essa perspectiva, a Primeira Guerra não teria contribuído para o
aumento da produção, mas de uma forma diferente, tornou mais perceptível a carência de
diversificação da produção brasileira. Portanto, pode se afirmar que esse período foi
fundamental para acelerar o processo de ampliação da variedade de artigos produzidos no
país. A diversificação da produção foi observada de maneira mais evidente a partir da década
de 1920 e contou, parcialmente, com incentivos e subsídios do governo. (SUZIGAN, 2000, p.
75)

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Segundo Suzigan (2000, p.58) entre os produtos manufaturados que chegaram a ser exportados durante a
Primeira Guerra estão o açúcar, as carnes industrializadas o óleo e o caroço de algodão.
A relação de dependência existente entre a expansão das exportações e crescimento
da produção industrial, só se rompeu após o episódio da Grande Depressão, na década de
1930. No entanto, o país ainda não possuía uma indústria de bens de capital robusta. Dessa
maneira a manufatura ainda dependia, ainda que em menor instância, do setor exportador para
a importação de máquinas e algumas matérias primas ( SUZIGAN, 2000, p. 75). Dessa
maneira, após esse período iniciou- se uma nova etapa do desenvolvimento industrial
brasileiro: o processo de industrialização substitutiva de importações.
Referências:

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