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CRÍTICA AO CÁLCULO CONTÁBIL COMO EXPRESSÃO DA

RACIONALIDADE ECONÔMICA MODERNA

O primeiro ponto a ser considerado é que o cálculo contábil ou econômico é um


elemento histórico, fruto dos princípios da modernidade e que insurge à tradição.
Portanto, a apreensão da eficiência econômica, no computo dos sucessos e insucessos
(planejamento) e o delineamento das decisões nos eixos fundantes da economia, sobre
‘o quê’, ‘como’ e ‘para quem produzir’ a partir do cálculo, denotam um processo
histórico que se consolida com a estrutura científica e racional da sociedade moderna.
A visão mecanicista do mundo, considerado como uma máquina, um todo
organizado, onde suas características podem ser reduzidas a números, e as causas dos
fatos determinadas, somando-se a um exame analítico, passam a coexistir com Isaac
Newton, que une a experimentação de Francis Bacon e o racionalismo de Descartes.
A revolução científica descrita acima pretendia a emancipação do homem de
uma estrutura social que privilegiava as tradições, costumes, valores, subordinando-se
às autoridades institucionais, consideradas como representantes de Deus e à natureza,
dando ao homem o poder de arbitrar como um Juiz, através de sua capacidade racional e
pragmática, voltada para o domínio, tanto da natureza como de seus próprios impulsos,
tendo por finalidade sua felicidade, a felicidade humana.
Esclarece-se, a partir do exposto, que a visão moderna busca libertar o homem e
não constituir um sistema de formalização matemática, este uma consequência.
Portanto, nosso olhar para esse processo filosófico-histórico apreende as mudanças
paradigmáticas que delineiam cognitivamente os agentes econômicos a agirem pelo
cálculo, bem como um olhar voltado ao próprio cálculo, problematizando a
quantificação.
O primeiro passo é conceituar a sociedade antiga. Conforme Capra (2012) antes
de 1500 o mundo possuía uma visão orgânica, onde as pessoas viviam em comunidades,
mantendo uma relação orgânica com a natureza, onde a terra representava uma mãe;
havia uma interdependência entre fenômenos espirituais e materiais, onde as
necessidades individuais estavam subordinadas às da comunidade; nesta sociedade a
estrutura científica mantinha duas autoridades, Aristóteles e a Igreja. Assim, baseava-se
tanto na razão como na fé; sua finalidade sendo a compreensão do significado das coisas
e não o ato de exercer a predição ou o controle1.
A razão que norteava a sociedade antiga não era inerente apenas à força da
mente individual, mas, também, estava presente no mundo objetivo, nas relações
sociais, nas instituições, na natureza e suas manifestações. Portanto,

O grau de racionalidade de uma vida humana podia ser determinado segundo


a sua harmonização com essa totalidade. A sua estrutura objetiva, e não
apenas o homem e os seus propósitos, era o que determinava a avaliação dos
pensamentos e das ações individuais. [...]. [Assim], opõem-se a qualquer
epistemologia que reduza a base objetiva do nosso entendimento a um caos
de dados não coordenados e identifique nosso trabalho científico com a mera
organização, classificação ou computação de tais dados (HORKHEIMER,
2002, p. 10 e 17).

O importante é notar que na sociedade antiga o homem estava subordinado a


instâncias de autoridade, sobretudo ligada à igreja, e às forças da natureza, onde para
conhecer o homem se subordinava. Nisto o homem possuía vínculos de costumes e
valores, preponderando os interesses da comunidade, à integração em detrimento da
individualidade.
Havia uma integração entre o social, o econômico, o político e o religioso, que
não se separavam. Tanto filósofos como teólogos em consenso quanto à subordinação
da economia à moralidade cristã (LECHAT, 2009).
Mas estes aspectos começam a se modificar, em um longo processo histórico,
sobretudo, com os pressupostos de Francis Bacon e René Descartes. Os pais da
modernidade propuseram os meios racionais de emancipação do homem das forças da
natureza e das autoridades da época, com o intuito de liberdade e domínio da realidade.
Isto implica que calcado no saber único advindo da razão, o homem moderno busca a
exploração intelectual da realidade, visando o domínio técnico da natureza, que passaria
a servir aos meios necessários para a felicidade humana (SILVA, ?).
Portanto, a sociedade que se insurge à tradição, forma-se entre os séculos XVI e
XVII observando o mundo como se fosse uma máquina, convertendo-se na metáfora
dominante e enfatiza o poder da razão e da ciência, promovendo uma revolução
científica e desconstruindo costumes; o método de investigação envolvendo a descrição

1
Complementarmente, extrai-se de Horkheimer (2002, p. 11): “A teoria da razão objetiva não enfoca a
coordenação do comportamento e objetivos, mas os conceitos [...] tais como a ideia do bem supremo, o
problema do destino humano e o modo de realização dos fins últimos”.
matemática da natureza defendida por Bacon, e o método analítico de raciocínio
concebido por Descartes (CAPRA, 2012).
Francis Bacon delineia sua forma de conhecer a partir do empirismo, podendo
ser considerado um “patologicamente romântico”2 da experimentação científica, e
indutivismo. Para tanto, o que se pretende destacar, neste projeto de saber, é a mudança
paradigmática em torno na visão da natureza. Em suas palavras:

Ciência e poder do homem coincidem, uma vez que, sendo a causa ignorada,
frustra-se o efeito. Pois a natureza não se vence, se não quando se lhe
obedece. E o que à contemplação apresenta-se como causa é regra na prática
[...] o império do homem sobre as coisas se apoia unicamente nas artes e nas
ciências. A natureza não se domina, senão obedecendo-lhe (FRANCIS
BACON 2003, P. 7 e 73).

Em outras palavras, Bacon consolida um saber voltado ao domínio, onde


obedecer à natureza não significa submeter-se às suas forças, mas desvendar seus
segredos3 através da saber científico para dominá-la e torná-la uma serva dos interesses
humanos. Desta forma, a ciência de Bacon liga-se ao poder, onde se busca o controle
dos meios necessários à coordenação de finalidades pré-estabelecidas, tendo como meta
o progresso, do qual o homem seria o principal beneficiado.
Concomitantemente, se por um lado o modelo de Bacon busca centralizar o
saber em prol do homem, para beneficiá-lo, e eliminar a estrutura científica tradicional,
“com uma cajadada só mata dois coelhos”. Tanto a autoridade da igreja como a visão da
natureza como uma mãe, que passa de uma cumplicidade de respeito e obediência, por
vezes de súplica, para uma, que quando exacerbada, excede o campo do domínio
atingindo um patamar de destruição, antiecológico, o que é observado há nosso tempo
em muitas instâncias da industrialização.
Para tanto, o que nos importa observar é a contribuição de Francis Bacon para a
transformação da mentalidade do sujeito moderno, da ciência4 moderna, em oposição à
“verdade” tradicional.
Neste sentido, outro grande contribuinte fora Descartes, que através do
racionalismo passa a “considerar as pessoas como seres racionais e não como seres cujo

2
Termo cunhado de Galbraith (1985).
3
“a ideia da natureza como uma mulher cujos segredos têm que ser arrancados mediante tortura, com a
ajuda de instrumentos mecânicos” (CAPRA, 2012, p. 54).
4
“Segundo a filosofia do intelectual médio moderno, só existe uma autoridade, a saber, a ciência,
concebida como classificação de fatos e cálculo de probabilidades” (HORKHEIMER, 2002, p. 29).
destino está nas mãos de uma autoridade divina” cuja apreensão da realidade, de uma
verdade absoluta, viria através da aquisição racional do conhecimento (TEIXEIRA,
2006, p. 86).
Seu método pode ser descrito em quatro regras: a evidência, que implica na
dúvida, ou seja, recusar qualquer fato que não seja evidente por si mesmo; a análise, que
busca a fragmentação, ou seja, a decomposição do problema em partes; a síntese, que
promove o reducionismo, ordena os pensamentos a partir daqueles mais simples e fáceis
de compreender até o conhecimento mais complexo; e a enumeração, que busca uma
revisão geral e a enumeração de todas as possibilidades sem omitir nada (TEIXEIRA,
2006).
Os pontos em destaque para esta pesquisa são inerentes, sobretudo, a regra da
análise, onde Descartes atenta para a matematização, com ênfase na decomposição de
equações complexas e a redução de múltiplos a seus multiplicadores. Defende que o
conhecimento do mundo externo, além de si mesmo ou da existência de Deus se dá com
referência às propriedades quantitativas, geométricas, matemáticas, as únicas
reconhecidas pela razão (TEIXEIRA, 2006).
Com isto começa a delinear-se o que Horkheimer (2002, p. 48) classifica como:
“o cálculo substitui a verdade, e o processo histórico que na sociedade tende a tornar a
verdade uma expressão vazia recebe as bênçãos do pragmatismo, que transforma isso
numa expressão vazia dentro da filosofia”.
Não obstante, somada a certeza matemática, Descartes reduz o universo material
“a concepção da natureza como uma máquina perfeita, governada por leis matemáticas
exatas”. Desta forma, mecanizando a natureza eliminam-se as restrições culturais que
limitavam as ações dos homens. A ciência passa a ser observada como meio para a
manipulação e a exploração da natureza, similitudes estas ao próprio pensamento de
Bacon, e que parece um consenso na modernidade. (CAPRA, 2012, p. 58).
Assim, de forma genérica evidencia-se, até aqui, dois aspectos, a negação dos
princípios norteadores da sociedade tradicional pela modernidade, com inúmeras
consequências na visão do mundo, dentre os quais se enumera o segundo aspecto, à
submissão da natureza pelo homem.
Tudo isto consubstanciando um modelo filosófico-histórico que busca a
emancipação do homem das instâncias da tradição, tornando-o um Juiz, sobretudo,
sobre a natureza, que busca a conquista da felicidade e a apreensão da verdade pela
matematização. Mas, como veremos adiante, a autonomia do homem pela razão não
culmina em sua liberdade, mas num processo reificante (SILVA, ?).
Em resumo, a visão científica do mundo moderno passa a ser aquela voltada
para explicar eventos, prevendo acontecimentos futuros e compreensão para estabelecer
prognósticos. E quando estas três etapas são comprovadas confirma-se a veracidade da
teoria. Por outro lado, elimina-se o fosso entre a teoria e a prática, de tal forma que a
prática passa a ser uma aplicação da teoria. Isso implica que a distância entre dizer
como as coisas são e a utilização do conhecimento para manipular objetos e eventos
deve ser superada (MARCOS NOBRE, 2011).
Mas não é só a visão de mundo científico que muda. As relações sociais,
produtivas, por consequência as atividades humanas, os costumes, valores etc. passam
por um longo processo de transformação, consolidando outra revolução, a industrial.
Nesta revolução produtiva a racionalidade econômica liberta-se das amarras da
sociedade tradicional que impeliam sua subordinação a outras racionalidades, o que
permite que sua centralidade, o objetivo de maximizar a geração de riquezas, cresça
além dos limites do suficiente, com o intuito crescente de acumular capital e norteando-
se pelo referencial do lucro econômico.
Portanto, clarifica-se o segundo ponto considerado nesta pesquisa, as
transformações estruturais na sociedade moderna. Para tanto, é necessário ser pontual, e
abordar transformações com ligação direta ao terceiro ponto a ser considerado, o cálculo
econômico em si.
Para situar o leitor no contexto que esta abordagem se encontra, inicialmente,
citam-se aspectos da revolução industrial do modo de produção capitalista,
caracterizando-o sucintamente.
Uma contextualização sucinta encontra-se em Marcos Nobre (2011, p. 25 – 30),
descrita a partir da obra O Capital de Marx (1996). Nobre esclarece que o modo de
produção capitalista é uma forma histórica e que se caracteriza por organizar toda a vida
em torno do mercado, nele convergindo todas as atividades de produção e de
reprodução da sociedade.
Desta forma, torna-se necessário a compreensão do mercado, a forma que se
distribui o poder político, e a riqueza, etc. Para isto é necessário observar a lógica que
norteia o capitalismo e determina o comportamento dos agentes no mercado, a lógica da
troca mercantil. Nela valores e crenças são suprimidos, e há uma subordinação à troca.
Mas para entender a troca é preciso compreender sua forma elementar, a mercadoria.
Isto significa dizer que no sistema capitalista todo bem está susceptível de ter um
determinado valor, deve ser apreciável, transformando-se em uma mercadoria5.
(MARCOS NOBRE, 2011).
Neste processo há uma tendência que tudo vire mercadoria. Por exemplo, o
próprio trabalho humano transformasse em mercadoria na forma de força de trabalho.
Para isto é necessário a separação dos homens de seus instrumentos de trabalho, que
transcorre ao longo do tempo. Todavia, isto implica no progresso técnico, tendo em
vista o aprimoramento técnico para potencializar a força de trabalho e a capacidade
produtiva. Que por sua vez, implica na exigência de quantidades crescentes de capital,
que só é possível pela concentração da riqueza na mão de poucos (capitalistas),
empregando-a na compra de equipamentos e máquinas (MARCOS NOBRE, 2011).
Observa-se, portanto, que neste processo há a divisão da sociedade em duas
classes6, onde há uma mudança qualitativa, por exemplo, o camponês transformando-se
em proletário. Este passando a vender sua força de trabalho por salário e por
consequência formando um mercado interno para a indústria. Portanto, estabelece-se
que o mercado funciona tanto como mecanismo de troca, como de aprofundamento das
desigualdades, haja vista que a riqueza tende a se concentrar em um dos polos, por
exemplo, através da mais-valia. Para tanto, não é assim que a visão liberal enxerga o
mercado, considerado como uma instituição que garante a liberdade e a igualdade para
todos. A partir do exposto, o presságio de Marx, ao considerar contraditórios os
princípios de liberdade e igualdade no sistema capitalista, é que a realização destes
princípios depende de uma revolução que venha a abolir o capital e sua forma social
(MARCOS NOBRE, 2011).
Para tanto, o que se deve notar é que a estrutura da sociedade moderna não é
naturalista, mas fruto de transformações em um processo histórico, e se coerentemente
ou não, Marx (1996) denuncia este processo histórico.
Primeiramente, observa-se que quando a racionalidade econômica adentra em
um campo que não lhe é pertinente, desregula as relações sociais (GORZ, 2007). “O
progresso, portanto, é feito à custa da desarticulação do social e do cultural,

5
Na sociedade capitalista a riqueza é expressa por uma imensa coleção de mercadorias, que por sua vez,
são um “objeto externo, uma coisa, a qual pelas suas propriedades satisfaz necessidades humanas de
qualquer espécie” (MARX, 1996, p. 165).
6
Há de se notar que a abordagem da sociedade atual não se restringe a esta dicotomia, o próprio conceito
de proletariado passa a denotar inúmeras estruturas de poder. O que precede proletariados e não somente
proletariado.
consequentemente, da moral devendo rearticular-se pela subordinação aos interesses
individuais da acumulação” (LECHAT, 2009).
As relações não deixam de ser sociais, mas precedem não mais os interesses da
comunidade, mas os individuais, que na sociedade, no mercado, se “harmonizam”.
Neste aspecto cita-se Adam Smith que atenta em: “pôr a nu o mecanismo pelo qual a
sociedade se mantém unida”, levando-o a formular as leis do mercado, mostrando que “os
interesses e paixões particulares dos homens são orientados na direção mais benéfica para o
interesse da sociedade inteira”, sob a regulação da competição, que conflita os interesses no
mercado – “O mercado regula tanto os preços quanto a quantidade de mercadorias, de
acordo com o arbítrio da demanda, também regula os rendimentos de cada um que coopera
para a produção das mercadorias” – resultando em harmonia social (HEILBRONER, 1996,
p. 53, 54 e 55).
Mas para realizar isto, “a formação social em que o processo de produção domine os
homens” (MARX, 1996, p. 206), é necessário linearizar os bens, sob um denominador
comum, ou seja, seu valor.
Esse denominador comum não pode ser uma propriedade natural, esta característica
confere utilidade e liga-se ao valor de uso7. Deve-se, portanto, eliminar as diferenças
qualitativas, e demarcar que entre mercadorias as diferenças só podem ser de quantidades
diferentes. Portanto, os bens são linearizados, ou transformam-se em mercadorias, sob o
valor de troca8, ou seja, uma “relação quantitativa, a proporção no qual valores de uso de
uma espécie se trocam contra valores de uso de outra espécie, uma relação que muda
constantemente no tempo e no espaço” (MARX, 1996, p. 166).
Mas, “deixando de lado então o valor de uso dos corpos das mercadorias, resta a
elas apenas uma propriedade, que é a de serem produtos do trabalho”. Com isto, o próprio
trabalho transformar-se em nossas mãos, para ser apropriado pelo mercado. Desaparece o
carácter útil dos produtos do trabalho, com ele o carácter útil dos trabalhos neles
representados, reduzindo-se ao trabalho humano abstrato9. (MARX, 1996, p. 167).
É necessário, portanto, diferenciar trabalho de força de trabalho. Como esclarece
Gorender (1996):

7
“A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso [...]. Determinada pelas propriedades do corpo da
mercadoria, ela não existe sem o mesmo. [...]. Esse seu carácter não depende de se a apropriação de suas
propriedades úteis custa ao homem muito ou pouco trabalho [...] [e] realiza-se somente no uso ou no
consumo” (MARX, 1996, p. 166).
8
Impõe-se que, como mercadorias os bens com mesmo valor de troca possuem mesmo valor de uso, ou
seja, que a satisfação no consumo de ambas é o mesmo.
9
“uma simples gelatina de trabalho humano indiferenciado, isto é, do dispêndio de força de trabalho
humano, sem consideração pela forma como foi despendida” (MARX, 1996, p. 168).
O trabalho não é senão o uso da força de trabalho, cujo conteúdo consiste nas
aptidões físicas e intelectuais do operário. Sendo assim, o salário não paga o
valor do trabalho, mas o valor da força de trabalho, cujo uso, no processo
produtivo, cria um valor maior do que o contido no salário. O valor de uso da
força de trabalho consiste precisamente na capacidade, que lhe é exclusiva,
de criar um valor de grandeza superior à sua própria. O dono do capital e
empregador do operário se apropria deste sobrevalor ou mais-valia sem
retribuição.

Mas surge uma dúvida, e como determinar o valor de troca a partir da quantidade de
trabalho? Esta medida passa a ser a duração do tempo de trabalho nas suas determinadas
frações do tempo, como hora, dia. E isto depende de sua grandeza de valor, ou seja, do
quantum de trabalho socialmente necessário ou o tempo de trabalho socialmente necessário
para produção. Assim, a grandeza de valor muda a cada mudança na força produtiva do
trabalho (“habilidade dos trabalhadores, nível de desenvolvimento da ciência e sua
aplicabilidade tecnológica, a combinação social do processo de produção, o volume e a
eficácia dos meios de produção e as condições naturais”). (MARX, 1996, p. 169).
Portanto, a própria noção do tempo é transformada, porque passa a ser uma medida
de valor. Não atoa que se difunde a ideia de que tempo é dinheiro. Uma boa reflexão a este
respeito encontra-se em Thompson (1998). O autor aborda a mudança no senso de tempo
que tanto muda a disciplina do trabalho como influencia a percepção interna de tempo dos
trabalhadores. O tempo que antes era marcado pelo ritmo natural, pelo cantar do galo, pela
trajetória do sol, ou mesmo pelo tempo de fritar um ovo, é apropriado pelo uso econômico,
e vira moeda, ou seja, ninguém mais passa o tempo, e sim o gasta.
Cita o autor supracitado que por meio da:

Divisão do trabalho, supervisão do trabalho, multas, sinos e relógios,


incentivos em dinheiro, pregações e ensino, supressão das feiras e dos
esportes – formaram-se novos hábitos de trabalho e impôs-se uma nova
disciplina de tempo. [...]. Na sociedade capitalista madura, todo o tempo deve
ser consumido, negociado, utilizado; é um ofensa que a força de trabalho
meramente “passe o tempo” (THOMPSON, 1998, p. 297 e 298).

Contudo, estes aspectos citados até aqui, apesar de necessários não são
suficientes ao sistema capitalista de produção. Outro ponto é eliminar as características
do isto me basta para adentrar na noção do quanto mais melhor. Desta forma, deixando
de produzir para o autoconsumo, produzindo para o mercado. Isto equivale que além de
destinada à troca mercantil a produção deve destinar-se à troca em um mercado livre –
onde produtores sem elos entre si encontram-se na qualidade de concorrentes diante de
compradores sem manter nenhum laço. Para isso deve haver um “consenso” a respeito
do preço, procedimentos e técnicas de produção, esta uma maneira de autolimitar a
concorrência (GORZ, 2007).
Além disso, não deve haver limitações às necessidades, porque a categoria do
suficiente não é uma categoria econômica, mas cultural, existencial. E quando o sujeito
é capaz de determinar suas necessidades tanto impede a aplicação da racionalidade
econômica como tende a limitar suas necessidades para limitar seu esforço, limitando
ainda o consumo, por consequência à própria acumulação de capital (GORZ, 2007).
Recapitulando, o leitor chega até aqui com uma descrição de um quadro de
transformações históricas, que vão da mudança na mentalidade científica, que rejeita as
estruturas tradicionais a favor da razão e da ciência, implementando métodos que vão
agregar tanto uma perspectiva analítica quanto experimental, mas que ao mesmo tempo
favorece a subjetivação da razão. Isso implica que a razão objetiva em Aristóteles, onde
a razão era vista tanto no sujeito como no objeto de estudo (aqui utilizando uma
linguagem positivista, ou seja, de um quadro mais próximo da ciência moderna) e a
racionalidade era composta dessa harmonização transforma-se em uma razão que é
inerente à mente humana e voltada para a ação, ao domínio.
Esse processo permite a emancipação do homem do sistema tradicional, que do
status de subordinação às forças da natureza e as autoridades tradicionais passa ao de
dominador, subordinando o mundo externo, mas também o interno, à capacidade
racional e empírica. Isto permite o nascimento de um novo mundo, onde a coesão de
racionalidades (social, econômica, política, religiosa, ambiental etc.) fragmenta-se sob o
comando da racionalidade econômica, que passa dominar tudo, inclusive o próprio
homem, que recém emancipado do mundo tradicional passa do atributo de livre para o
de coisa no mundo reificado do sistema capitalista.
Mas para que comece a se consolidar um novo modo de produção, o capitalista,
que “dar a luz” à racionalidade econômica emancipada, é necessário transformações
socias. A primeira é a própria desregulação das relações sociais, uma vez que, sob a
tutela da racionalidade econômica moderna o que deve vigorar é a relação social do
capital. Não obstante, desregula-se o sistema produtivo, que de um carácter de
subsistência passa a servir às trocas mercantis.
Com isso os interesses gerais, que norteavam a visão orgânica do mundo antigo,
voltado para a convivência em comunidade, transforma-se em interesses individuais da
acumulação. Como consequência “a liberdade dos mercados e dos empreendedores, a
proteção da propriedade privada10 e da acumulação, liberam as energias do capitalismo
que explodiram com grande brutalidade social” (LECHAT, 2009, p. 3).
Nesta brutalidade social ocorre um processo de acumulação inicial que Marx
(1986) intitula de acumulação primitiva, onde por meio de diversas formas o camponês
é expropriado de seus meios de produção e de sua base fundiária, processo este que
culmina em uma mudança qualitativa (negativa) onde o camponês transforma-se em
proletário, e passa a vender sua força de trabalho. Aliás, aqui se encontra outra mudança
qualitativa – negativa – onde o trabalho do homem transforma-se em força de trabalho.
A força de trabalho é necessária ao capital, e sua medição em tempo permite
linearizar os bens, ou seja, transformá-los em mercadoria. Desta forma, o denominador
comum de toda mercadoria passa a ser o valor de troca, que impõe diferenças apenas
quantitativas entre diferentes mercadorias, esvaziando o valor de uso.
Mas esvaziados tanto as propriedades qualitativas do trabalho como dos bens é
necessário esvaziar o tempo, ou melhor preenche-lo. O tempo vira dinheiro, não pode
ser vivido em um ritmo natural, mas deve ser gasto de forma disciplinada sob a visão da
produtividade. Quem não se submete é considerado vagabundo.
Nada disso adiantaria se a produção não tivesse por fim o mercado. Nele escoa
todas as atividades produtivas, permitindo o encontro entre mercadorias, digo,
mercadorias e consumidores. Assim, o homem tem acesso ao produto de sua força de
trabalho através de um sistema monetário, através da moeda, que há nosso tempo
equivale ao dinheiro. Sem ele toda esta estrutura supracitada não se alavancaria, a
sociedade moderna é construída a partir do uso do dinheiro.

[...] somente a análise dos preços das mercadorias levou à determinação da


grandeza do valor, somente a expressão monetária comum das mercadorias
levou à fixação de seu caráter de valor. É exatamente essa forma acabada —
a forma dinheiro — do mundo das mercadorias que objetivamente vela, em
vez de revelar, o caráter social dos trabalhos privados e, portanto, as relações
sociais entre os produtores privados. [...] Na mesma medida, portanto, em
que se dá a transformação do produto do trabalho em mercadoria, completa-
se a transformação da mercadoria em dinheiro (MARX, 1996, p. 201 e 2012).

Portanto, nenhum imperativo limitante pode subsistir no mercado, sob risco de


ruinar o sistema, a racionalidade econômica deve reinar soberanamente.

10
Esclarece Marx (1986) que a propriedade privada só existe como antítese da propriedade
social, coletiva, onde os meios de trabalho e suas condições externas pertencem a pessoas
privadas, logo, diante a expropriação do trabalhador de seus meios de produção individuais.
Concomitantemente, a visão das necessidades deve ser aquela descrita já nas disciplinas
introdutórias da ciência econômica, e que está encrustada em todas as demais, a que as
necessidades são ilimitadas.
Dito estes aspectos, é necessário abordar o terceiro ponto deste trabalho que
postergamos até aqui, ou seja, o cálculo econômico.
Inicialmente considera-se que o cálculo econômico, através da racionalidade
econômica, inicia seu pleno desenvolvimento com a centralidade no objetivo de
maximizar a geração de riqueza. A introdução do cálculo permitiu e agilizou a troca
mercantil e, por consequência, a formação de mercados, delimitando decisões nos eixos
fundantes da economia que dizem respeito às decisões de ‘o quê’, ‘como’ e ‘para quem
produzir’. Ou seja, o cálculo contábil através da razão instrumental passa a ser uma
premissa para medir a eficiência, permitindo que a racionalidade econômica domine os
meios para alcançar seus fins.
Aliás, sua existência (cálculo econômico) se deve à linearização dos bens, ou
seja, do sistema de trocas mercantis, por consequência da existência de um meio de
troca de aceitação geral, portanto, do dinheiro e o referencial de preços. A partir disto é
permitido ao homem manter balanços patrimoniais, e guiar-se pelo caminho de
maximizar os recursos sob seu domínio, otimizando seus lucros. Em outras palavras, o
cálculo econômico passa a ser uma orientação diretiva das ações humanas.
Para Gorz (2007) isto implica que quando se deixou de produzir para o
autoconsumo para produzir para o mercado exigiu-se calcular11, mensurar os custos de
oportunidade para maximizar a produção. Do contrário, sem calcular o produtor estaria
impelido a sequer ganhar o suficiente para sobreviver.
Mas, apesar de maximizar a eficiência econômica (aqui não faço juízo de valor
se isto é bom ou não), o cálculo econômico possui inúmeras consequências, além
daquelas já descritas que o permitem existir. Gorz (2007) chega a o considerar como a
forma por excelência da racionalização reificadora.

Ele mede em si mesmo a quantidade de trabalho por unidade de produto,


ignorando o vivido: o prazer ou o desprazer que esse trabalho me
proporciona, o tipo de esforço que ele demanda, minha relação afetiva,
estética com a coisa produzida. Cultivarei cebola, repolho, alface, mais do
que flores, se quero garantir tal ou qual ganho. Minhas atividades serão
decididas em função de um cálculo, sem que minhas preferências, meu gosto,

11
“Calcularei, portanto, e minha vida será organizada em função desse cálculo, segundo um tempo linear,
ho-mogêneo, insensível aos ritmos naturais” (GORZ, 2007, p. 109).
sejam consideradas. Acolherei as inovações técnicas que aumentam o
rendimento de meu trabalho mesmo se elas o tecnicizam, submetem-no a
rígidos imperativos, fazem-no assemelhar-se a um trabalho rude. Aliás, não
tenho escolha: se não acompanhar a evolução das técnicas (ou adiantar-me a
elas), logo mais não poderei viver da venda de meus produtos: não serei mais
“competitivo” (GORZ, 2007, p. 109).

Esta talvez a maior lástima do cálculo econômico, a de eliminar os fatores


qualitativos12, uma herança de um dos percussores do uso da linguagem matemática
Galileu Galilei, que segundo Capra (2012) formula que para descrever
matematicamente é necessário o estudo das propriedades essenciais da matéria –
formas, quantidades e movimentos – ou seja, aquelas susceptíveis à medição e
quantificação. Já os fatores qualitativos, deveriam ser refutados, negligenciados por
serem consideradas projeções subjetivas da mente, por exemplo, o som, a cor, o sabor e
o cheiro13.
Não obstante, eliminar critérios morais e/ou estéticos na regulação das decisões
confere segurança moral e conforto intelectual14, porque a aplicação de um
procedimento de cálculo expressa objetividade e impessoalidade, dispensando a
angústia e a incerteza do sujeito. Para tanto, isto resulta na autonegação do sujeito15,
própria das técnicas de cálculo, tornando-se o paradigma de todo pensar. “A
formalização matemática [...] faz do pensar uma técnica. Com ela nasce a faculdade de
pensar o ser em sua exterioridade de indiferença e na condição de exterioridade”
(GORZ, 2007, p. 125).

12
“É verdade, naturalmente, que a qualidade é muito mais difícil de ser “manipulada” do que a
quantidade, assim como o exercício da capacidade de julgar é uma função mais elevada do que a
capacidade de contar e calcular. Diferenças quantitativas podem ser mais facilmente aprendidas e por
certo mais facilmente definidas do que as qualitativas; sua aparência concreta é enganadora e dá-lhes
foros de precisão científica, ainda quando essa precisão foi adquirida pela supressão de diferenças vitais
de qualidade. A grande maioria dos economistas ainda está perseguindo o ideal absurdo de tornar sua
“ciência” tão científica e exata quanto a física, como se não houvesse diferença qualitativa entre átomos
irracionais e o homem criado à imagem de Deus” (SCHUMACHER, 1983, p.23).
13
“Perderam-se a visão, o som, o gosto, o tato e o olfato, e com eles foram-se também a sensibilidade
estética e ética, os valores, a qualidade, a forma; todos os sentimentos, motivos, intenções, a alma, a
consciência, o espírito. A experiência como tal foi expulsa do domínio do discurso científico” (LAING,
1982, apud CAPRA, 2012, p. 53).
14
Horkheimer (2002, p. 28) chega a afirmar que se “um pensamento ou palavra se torna um instrumento,
podemos nos dispensar de “pensar” [...] a vantagem da matemática [...] reside justamente nesta
“economia intelectual”. Complicadas operações lógicas são levadas a efeito sem real desemprenho de
todos os atos intelectuais em que estão baseados os símbolos matemáticos e lógicos. Tal mecanização é
na verdade essencial à expansão da indústria; mas se isso se torna a marca característica das mentalidades,
se a própria razão é instrumentalizada, tudo isso conduz a uma espécie de materialidade e cegueira, torna-
se um fetiche, uma entidade mágica que é aceita ao invés de ser intelectualmente aprendida”.
15
“A total transformação de todos os domínios do ser à condição de meios leva à liquidação do sujeito
que presumivelmente deveria usá-los. Isso dá a moderna sociedade industrializada o seu aspecto niilista.
A subjetivação que exalta o sujeito, também o condena” (HORKHEIMER, 2002, p. 98).
Por consequência a razão se instrumentaliza, e perde autonomia, sendo
totalmente aproveitada no processo social e passando a ser avaliada apenas pelo seu
valor operacional, com papel no domínio dos homens e da natureza (HORKHEIMER,
2002).
As consequências desta instrumentalização são inúmeras, por exemplo: i) Os
conceitos são esvaziados a uma síntese de características em comum. Ideias são
automatizadas, consideradas como coisas, sem significado próprio. A linguagem, mais
um instrumento no aparelho de produção da sociedade moderna, onde as palavras são
usadas para calcular tecnicamente probabilidades adequadas ou para outros propósitos
práticos. Os significados suplantados pela função ou efeito do mundo das coisas e
eventos; ii) Desumaniza-se o pensamento, pois a formalização implica que ideias e
conceitos separam-se do conteúdo humano, do conceito de universalmente humano, da
espécie humana; iii) O pensamento volta-se para a ação, onde o significado de qualquer
ideia se reduz a um plano ou projeto, sobretudo, com o pragmatismo que afirma que
nossas ideias são verdadeiras quando nossas expectativas se cumprem e nossas ações
têm sucesso, e não o contrário, que nossas expectativas e ações se confirmam porque
nossas ideias são verdadeiras; iv) Substitui-se a lógica da verdade pela lógica da
probabilidade, o cálculo substitui a noção de verdade; v) “Tanto o ataque à
contemplação quanto o louvor da perícia técnica expressam o triunfo dos meios sobre os
fins”. Onde apenas as atividades humanas consideradas úteis e ligadas a outras
finalidades são racionais (e capazes de se transformarem em mercadorias), nada passa a
existir por si mesmo16, e o que é em si mesmo é sem sentido ou supérfluo
(HORKHEIMER, 2002, p. 50).
Se não bastasse, este processo de formalização da razão pela técnica ao invadir
as esferas do pensamento “conduz a um sistema de proibição de pensar que deve
resultar finalmente na estupidez subjetiva, prefigurada na idiotia objetiva de todo o
conteúdo da vida. O pensamento em si mesmo tende a ser substituído por ideias
estereotipadas” (HORKHEIMER, 2002, p. 60 – 61).
Mas as críticas ao cálculo econômico não se restringem apenas a estes aspectos.
Schumacher (1983) enumera outras: i) o julgamento econômico é fragmentário,
considera, tão somente, o lucro em dinheiro aos que se incubem de determinada

16
“A afirmação de que a justiça e a liberdade são em si mesmas melhores do que a injustiça e a opressão
é, cientificamente inverificável e inútil [...] do mesmo modo que seria a afirmação de que o vermelho é
mais belo do que o azul” (HORKHEIMER, 2002, p. 29).
atividade. Fatores sociais, estéticos, morais ou políticos? Considerados como razões
não-econômicas, portanto, secundários; ii) além de fragmentários são
metodologicamente limitados: atribuem um peso muito maior ao curto prazo; se
baseiam em uma definição de custo que exclui todos os bens gratuitos, ou seja, todo o
meio ambiente; lida com os bens com o seu valor de mercado e não pelo que realmente
são. As mesmas regras aplicadas para bens secundários são imputadas aos bens
primários, porque o ponto de vista fundamental é o da lucratividade privada;
metodologicamente é inerente à economia ignorar a dependência do homem face ao
mundo natural; iii) lida com bens e serviços do ponto de vista do mercado. Assim, caso
um vendedor rico reduza seus preços para fregueses pobres e necessitados sua atitude
seria antieconômica, pois o mercado é a institucionalização do individualismo e da não-
responsabilidade, sem contar que esta atitude reduziria o lucro desejado.
Ademais, no mercado são suprimidas as diferenças qualitativas de importância
vital para o homem, porque nele tudo é igual a tudo mais, basta atribuir um preço e
tornar intercambiável17. Mas, para se redimir da exclusão de valores não econômicos do
cálculo econômico, como beleza, saúde etc., os economistas propõem o método da
análise custo/benefício. Porém, medir o imensurável é absurdo e se constitui como
método que passa de noções preconcebidas para conclusões antecipadas, basta imputar
valores apropriados aos custos e benefícios imensuráveis para se atingir o resultado
desejado (SCHUMACHER, 1983).
Contudo, não se deve olhar para este quadro com um pessimismo imobilizante,
como o fez Horkheimer, em parte, porque nesta atitude reside um aspecto niilista. Ao
constatar o predomínio da razão instrumental nas atitudes do homem, que chamou de o
mundo controlado, constatou um bloqueio a qualquer possibilidade real de
emancipação, porque a dominação da racionalidade instrumental sobre o conjunto da
sociedade capitalista resulta em um bloqueio estrutural da prática, tronando a crítica
uma possibilidade precária de mudança, como assevera Marcos Nobre (2011).
De qualquer modo há alternativas, e talvez o primeiro passo seja reconhecer
nossos limites, promovendo uma mudança interna de valores.

A economia opera legítima e utilmente dentro de uma “dada” estrutura, que


fica totalmente fora do cálculo econômico. Podemos dizer que a economia
não se mantém sobre os próprios pés ou que é um corpo de pensamento

17
“O pior e destruidor da civilização é a pretensão de que tudo tem um preço ou, em outras palavras, de
que o dinheiro é o valor mãos elevado” (SCHUMACHER, 1983, p. 21).
“derivado”- derivado da metaeconomia18. Se o economista deixa de estudar
metaeconomia, ou, pior ainda, se permanece alheio ao fato de haver limites
para a aplicabilidade do cálculo econômico, é provável que incorra num erro
semelhante ao de certos teólogos medievais, que tentaram acertar questões de
física por meio de citações bíblicas. Toda ciência é benéfica dentro de suas
próprias fronteiras, mas torna-se má e destrutiva logo que as ultrapassa
(SCHUMACHER, 1983, p. 21).

Respectivamente, é necessária outra citação, onde Gorz (2007, p. 17 – 118, 119


– 120) esclarece que uma grande contribuição para a transformação da mentalidade
econômica é o aumento do tempo livre, aquele que é infenso à racionalidade econômica,
ou seja, que não é apropriado para uma finalidade específica de uso econômico.

[...] os trabalhadores só descobrirão os limites da racionalidade econômica


[...] quanto [...] um espaço suficientemente amplo de tempo livre a eles se
abra para que possam descobrir uma esfera de valores não quantificáveis, os
valores relativos ao “tempo de viver” da soberania existencial. Ao contrário,
quanto mais o trabalho é coercitivo por sua intensidade e sua duração, menos
o trabalhador é capaz de conceber sua vida com um fim em si mesma, fonte
de todos os valores; e mais ele é levado a mercadejá-lo, isto é, a concebê-lo
como mero meio para alguma outra coisa que valeria por si só,
objetivamente: o dinheiro. [...]. Na falta de tempo para viver, o dinheiro é a
única compensação ao tempo perdido, à vida desperdiçada no trabalho [...] o
dinheiro ganho pelo trabalhador é originalmente percebido como valendo
mais que a vida que teve de sacrificar a ele.

Destarte, percebeu-se que a razão econômica moderna, através do cálculo


econômico, liberta-se de imperativos limitantes da sociedade tradicional, maximizando
a geração de riqueza. Para tanto, subordina as estruturas societárias, as atividades
humanas e políticas, em favor das relações produtivas do capital. Promove uma série de
transformações históricas, tanto na mentalidade humana como na sua prática. Desta
forma, emerge a necessidade de novas transformações para mudar este cenário, para que
o homem passe do estado reificante de coisa no sistema capitalista, para um ser em
harmonia com o todo, onde o social, o econômico, o político e o ambiental
sobrevenham a coexistir, passando de uma visão individualizada para sistêmica.

18
“O que é, pois, metaeconomia? Como a economia trata do homem em seu meio ambiente, podemos
esperar que a metaeconomia consista de duas partes - uma que trata do homem e a outra, do meio
ambiente. Em outras palavras, podemos esperar que a economia infira suas metas e seus objetivos de um
estudo do homem e extraia pelo menos grande parte de sua metodologia de um estudo da natureza”
(SCHUMACHER, 1983, p.22).

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