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SOCIEDADE EM REDE E CIDADANIA

Caio Sperandéo de Macedo*


 

RESUMO ABSTRACT

No presente trabalho será retratado o This work will be portrayed the rise of
surgimento da sociedade em rede, seu the network society, its concept and logic of
conceito e a lógica de seu funcionamento its operation pertinent to the capitalist
pertinente ao sistema de produção capitalista. production system. Furthermore, endorse the
Outrossim, referendar que a revolução ongoing technological revolution, which
tecnológica em curso, que relativiza a noção relativizes the notion of space and time of
de espaço e tempo do homem, espraia sua man, spreads its influence to all sectors of
influência para todos os setores da sociedade, society, particularly for the relativization of
notadamente para a relativização da soberania state sovereignty, on the factors of economic
dos estados; sobre os fatores de produção production, on the media, and on political
econômica; sobre a mídia; e sobre ação action of citizens in democracy of modern
política dos cidadãos na democracia dos states.
Estados contemporâneos.

Palavras-chave: Sociedade em rede. Keywords: Network Society. Sovereignty.


Soberania. Cidadania. Democracia. Citizenship. Democracy.

*Caio Sperandéo de Macedo: Doutorando em Filosofia do Direito, Mestre em Direito Constitucional e Graduado em
Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(PUC/SP), Advogado e Professor do UniFMU. E-mail:
caio@advcsm.com.br.
Orientadores:
Prof. Dr. Gabriel Benedito Issaac Chalita (gabrielchalita@uol.com.br). Doutor em Comunicação e Semiótica pela
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo(1997) e doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo(1998).
Profa. Dra. Marcia Cristina de Souza Alvim (maral@uol.com.br). Doutora e Mestre em Direito pela Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo. Professora do Programa de Graduação em Direito da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo.
Área do direito: Direito Constitucional
SOCIEDADE EM REDE E CIDADANIA Caio Sperandéo de Macedo

da sociedade em rede, incluindo


Introdução estudos que demonstram a
existência de factores comuns do
seu núcleo que atravessam
A sociedade da informação como a sua culturas, assim como diferenças
sucessora, a sociedade em rede, tiveram sua culturais e institucionais da
origem na sociedade capitalista pós-industrial sociedade em rede, em vários
e surgiram no final do século XX no contexto contextos. É pena que os media, os
da era da informação e juntamente com elas a políticos, os actores sociais, os
líderes económicos e os decisores
expressão “globalização”, que se assenta na continuem a falar de sociedade de
visão da economia interligada em escala informação ou sociedade em rede,
mundial, possibilitada por inovações ou seja o que for que queiram
tecnológicas como o microprocessador, a chamar-lhe, em termos de
comunicação por satélites, a rede mundial de futurologia ou jornalismo
desinformado, como se essas
computadores (internet), a fibra ótica etc. transformações estivessem ainda
Estes novas conquistas tecnológicas, no futuro, e como se a tecnologia
estabeleceram novos paradigmas fosse uma força independente que
comportamentais e uma série de mudanças deva ser ou denunciada ou
sociais, culturais e políticas observadas na adorada. Os intelectuais
tradicionais, cada vez mais
sociedade contemporânea, notadamente em incapazes de compreender o
decorrência da disponibilidade de amplo mundo em que vivem, e aqueles
acesso ao fluxo de transmissão de que estão minados no seu papel
conhecimentos e informações que trafegam no público, são particularmente
espaço cibernético de forma praticamente críticos à chegada de um novo
ambiente tecnológico, sem na
instantânea (em tempo real), para qualquer verdade conhecerem muito sobre
lugar do mundo. os processos acerca dos quais
elaboram discursos. No seu ponto
1. O que é a sociedade em rede? de vista, as novas tecnologias
destroem empregos, a Internet
Diante da vanguarda do tema e não isola, nós sofremos de excesso de
obstante as influências já sentidas pela informação, a info-exclusão
aumenta a exclusão social, o Big
sociedade, advindas com a incorporação das Brother aumenta a sua vigilância
novas tecnologias da informação e da graças a tecnologias digitais mais
comunicação em redes, apoiamo-nos no potentes, o desenvolvimento
escólio de Manuel Castells 1 para traçar um tecnológico é controlado pelos
panorama sobre o assunto: militares, o tempo das nossas vidas
é persistentemente acelerado pela
tecnologia, a biotecnologia leva à
Nos primeiros anos do século XXI,
clonagem humana e aos maiores
a sociedade em rede não é a
desastres ambientais, os países do
sociedade emergente da Era da
Terceiro Mundo não precisam de
Informação: ela já configura o
tecnologia mas da satisfação das
núcleo das nossas sociedades. De
suas necessidades humanas, as
facto, nós temos já um
crianças são cada vez mais
considerável corpo de
ignorantes porque estão sempre a
conhecimentos recolhidos na
conversar e a trocar mensagens em
última década por investigadores
vez de lerem livros, ninguém sabe
académicos, por todo o mundo,
quem é quem na Internet, a
sobre as dimensões fundamentais
eficiência no trabalho é sustentada
                                                                                                                em tecnologia que não depende da
1
CASTELLS, Manuel. Compreender a Transformação experiência humana, o crime e a
Social. p.17/20. Artigo escrito para Conferência de 4 e 5 violência, e até o terrorismo, usam
de Março de 2005, em Portugal-Lisboa, sob o título a Internet como um médium
Sociedade em Rede: do Conhecimento à Acção Política, privilegiado, e nós estamos
em Conferência promovida pela Presidente da rapidamente a perder a magia do
República Portuguesa, Jorge Sampaio, organizado por toque humano. Estamos alienados
Manuel Castells e Gustavo Cardoso. Conforme: pela tecnologia.
www.cies.iscte.pt, visitado em 3 de Setembro de 2013.

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(...) Existe de facto um grande Essa sociedade é designada por


hiato entre conhecimento e Castells como sociedade em rede,
consciência pública, mediada pelo caracterizada por uma mudança na
sistema de comunicação e pelo sua forma de organização social,
processamento de informação possibilitada pelo surgimento das
dentro das nossas «molduras» tecnologias de informação num
mentais. período de coincidência temporal
A sociedade em rede, em termos com uma necessidade de mudança
simples, é uma estrutura social econômica (a globalização das
baseada em redes operadas por trocas e movimentos financeiros) e
tecnologias de comunicação e social(a procura de afirmação das
informação fundamentadas na liberdades e valores de escolha
microelectrónica e em redes individual e iniciada com os
digitais de computadores que movimentos estudantis de Maio de
geram, processam e distribuem 68).
informação a partir de
conhecimento acumulado nos nós Portanto, a confluência de fatores
dessas redes. A rede é a estrutura sociais, políticos e econômicos que,
formal (vide Monge e Contractor,
2004). conjugados com as novas tecnologias da
(...) As redes são estruturas abertas comunicação, permitiu a ascensão da
que evoluem acrescentando ou sociedade pós-industrial para a atual sociedade
removendo nós de acordo com as em rede.
mudanças necessárias dos
programas que conseguem atingir
os objectivos de performance para 2. Sociedade em rede e a governança
a rede.(...) transnacional
O que a sociedade em rede é
actualmente não pode ser decidido Entre os desdobramentos marcantes
fora da observação empírica da verificados em decorrência de a sociedade
organização social e das práticas
que dão corpo à lógica da rede.
estar conectada em redes, pode-se destacar que
sua influência reforça o conceito de partilha de
Assim, pode-se dizer que a sociedade em soberania entre os Estados (então soberanos),
rede está diretamente relacionada com o para resolver assuntos complexos de dimensão
processo histórico conhecido por internacional.
2
“Globalização” , com a formação de uma rede Aduz Manuel Castells4 que estamos em
de redes globais que ligam seletivamente, em um período de transição: a sociedade
todo o planeta, encampando todas as conectada em nível global e os Estados
dimensões funcionais da sociedade. organizados em nível nacional, donde
E Gustavo Cardoso 3 nos esclarece o vislumbra que o regramento do tema
contexto sócio-político que possibilitou o caminhará para a relativização da soberania
surgimento da sociedade em rede: dos Estados e para uma governança
transnacional, como única forma de tratar
conjuntamente os assuntos de interesse global:
                                                                                                               
2
“Globalização” pode ser conceituada como “(...) um Mas existe uma transformação
processo econômico e social que estabelece uma ainda mais profunda nas
integração entre os países e as pessoas do mundo todo. instituições políticas na sociedade
Através deste processo, as pessoas, os governos e as em rede: o aparecimento de uma
empresas trocam ideias, realizam transações nova forma de Estado que
financeiras e comerciais e espalham aspectos culturais gradualmente vai substituindo os
pelos quatro cantos do planeta. O conceito de Aldeia estados-nação da Era Industrial.
Global se encaixa neste contexto, pois está relacionado Isto está relacionado com a
com a criação de uma rede de conexões, que deixam as globalização, ou seja, com a
distâncias cada vez mais curtas, facilitando as relações formação de uma rede de redes
culturais e econômicas de forma rápida e eficiente”. globais que ligam selectivamente,
Site:www.suapesquisa.com/globalização, visitado em em todo o planeta, todas as
22/10/2013.
3
CARDOSO, Gustavo. “A Mídia na Sociedade em                                                                                                                
4
rede”. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007, p.28. Ibid., p. 25.

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dimensões funcionais da soberania, a fim de possibilitar a atuação


sociedade. Como a sociedade em concertada em assuntos cuja solução depende
rede é global, o Estado da
sociedade em rede não pode
de todos.
funcionar única ou primeiramente
no contexto nacional. Está
comprometido num processo de
governação global mas sem um 3. Sociedade em rede e o poder
governo global. As razões para a econômico
não existência de um governo
global, que muito provavelmente Outra característica a chamar a atenção é
não existirá num futuro previsível,
estão enraizadas na inércia
que a dinâmica do funcionamento global da
histórica das instituições e nos sociedade em redes, mas do que influenciar, se
interesses sociais e valores adapta ao “status quo” dominante do azo que
imbuídos nessas mesmas sua lógica se coaduna com o sistema de
instituições. Colocando a questão produção capitalista de acumulação de
de forma simples, nem os actuais
actores políticos e nem as pessoas
riquezas e sua estrutura social excludente,
em geral querem um governo donde sua interação com o poder econômico
mundial, portanto não irá não tem o condão de operar mudanças de
acontecer. Mas uma vez que a cunho político de per si.
governação global de algum tipo é A este respeito, Manuel Castells 6
uma necessidade funcional, os
estados-nação estão a encontrar
desvenda os pontos convergentes entre o
formas de fazer uma gestão sistema de produção capitalista e a
conjunta do processo global que organização da sociedade em redes:
afecta a maior parte dos assuntos
relacionados com a prática Redes são instrumentos
governativa. Para o fazer, apropriados para a economia
aumentaram a partilha de capitalista baseada na informação,
soberania enquanto continuam a globalização e concentração
agitar orgulhosamente as suas descentralizada; para o trabalho,
bandeiras. Formam redes de trabalhadores e empresas voltadas
estados-nação sendo a mais para a flexibilidade e
significativa, e integrada, a União adaptabilidade; para uma cultura
Europeia.” de desconstrução e reconstrução
contínua; para uma política
Portanto, para Manuel Castells 5 destinada ao processamento
instantâneo de novos valores e
caminhamos para um Estado em rede, onde a
humores públicos; e para uma
“governação é realizada numa rede, de organização social que vise a
instituições políticas que partilham a soberania suplantação do espaço e
em vários graus, que se reconfigura a si invalidação do tempo. Mas a
própria numa geometria geopolítica variável”. morfologia da rede também é uma
fonte de drástica reorganização das
Assim, a influência tecnológica global
relações de poder. As conexões
em curso no início de Século XXI está a que ligam as redes (por exemplo,
adentrar a esfera da soberania dos Estados fluxos financeiros assumindo o
contemporâneos, posto que a complexidade de controle de impérios da mídia que
determinados assuntos de interesse mundial influenciam os processos políticos)
representam os instrumentos
(como “exempli gratia”: combate ao
privilegiados do poder. Assim, os
terrorismo; à guerra cibernética; à conectores são os detentores do
biopirataria; ao desenvolvimento de armas poder. Uma vez que as redes são
atômicas; uso de energia nuclear; múltiplas, os códigos
degradação do meio ambiente; o controle interoperacionais e as conexões
entre redes tornam-se as fontes
dos mercados financeiros, etc.) transborda os
fundamentais da formação,
limites físicos e espaciais de determinado
Estado e exigem a relativização da sua                                                                                                                
6
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Tradução
                                                                                                                de Roneide Venacio Majer, atualização para a 6ª edição,
5
Ibid., idem, p. 26. São Paulo: Paz e Terra, 1999, p. 566.

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orientação e desorientação das definindo o destino de empresas,


sociedades. poupanças familiares, moedas
A convergência da evolução social nacionais e economias regionais. O
e das tecnologias da informação resultado na rede é zero: os
criou uma nova base material para perdedores pagam pelos
o desempenho de atividades em ganhadores. Mas os ganhadores e
toda a estrutura social. Essa base os perdedores vão mudando a cada
material construída em redes ano, a cada mês, a cada dia, a cada
define os processos sociais segundo e permeiam o mundo das
predominantes, consequentemente empresas, empregos, salários,
dando forma à própria estrutura impostos e serviços públicos. O
social. mundo daquilo que, às vezes, é
(...) Mas esse tipo de capitalismo é chamado de “a economia real”, e
profundamente diferente de seus eu seria tentado a chamar de “a
predecessores históricos. Tem duas economia irreal”, já que, na era do
características distintas capitalismo em rede, a realidade
fundamentais: é global e está fundamental em que o dinheiro é
estruturando, em grande medida, ganho e perdido, investido ou
em uma rede de fluxos financeiros. poupado, está na esfera financeira.
O capital funciona globalmente Todas as outras atividade (exceto
como uma unidade em tempo real; as do setor público em fase de
e é percebido, investido e enxugamento) são primariamente a
acumulado principalmente na base de geração do superávit
esfera de circulação, isto é, como necessário para o investimento nos
capital financeiro. Embora o fluxos globais ou o resultado do
capital financeiro, em geral, investimento originado nessas
estivesse entre as frações redes financeiras.
dominantes do capital, estamos
testemunhando a emergência de Assim, na era do capitalismo em rede e
algo diferente: a acumulação de do imediatismo das operações eletrônicas
capital prossegue e sua realização
de valor é cada vez mais gerada junto aos mercados globais (Bolsas de valores)
nos mercados financeiros globais em tempo real, assistimos a um
estabelecidos pelas redes de aprofundamento da destinação das riquezas
informação no espaço intemporal produzidas pelas demais atividades
de fluxos financeiros. A partir econômicas serem revertidas para o setor
dessas redes o capital é investido
por todo o globo e em todos os financeiro (especulativo), que as investe,
setores de atividade: informação, reinveste, empresta, compra e aplica tais
negócios de mídia, serviços recursos em aplicações financeiras atraentes ao
avançados, produção agrícola, redor do mundo em busca de maior lucro;
saúde, educação, tecnologia, tendo por certo que onde uns ganham a
indústria antiga e nova, transporte,
comércio, turismo, cultura, maioria perde, conforme a sorte ou infortúnio
gerenciamento ambiental, bens do jogador.
imobiliários, práticas de guerra e Aliás, com relação à acumulação das
de paz, religiões, entretenimento e riquezas na sociedade em rede, Pekka
esportes. Algumas atividades são Himanen 7 aponta como uma das tendências
mais lucrativas que outras,
conforme vão passando por ciclos, globais o aprofundamento da divisão entre
altos e baixos do mercado e ricos e pobres, ao alertar que:
concorrência global segmentada.
No entanto, qualquer lucro (de Se mantivermos o business as
produtores, consumidores, usual, a desigualdade e a
tecnologia, natureza e instituições)                                                                                                                
é revertido para a metarrede de 7
HIMANEN, Pekka. Desafios Globais da Sociedade de
fluxos financeiros, na qual todo o Informação. p.350. Artigo escrito para Conferência de 4
capital é equalizado na democracia e 5 de Março de 2005, em Portugal-Lisboa, sobre o
da geração de lucros transformada título Sociedade em Rede: do Conhecimento à Acção
em commodities. Nesse cassino Política, em Conferência promovida pela Presidente da
global eletrônico capitais República Portuguesa, Jorge Sampaio, organizado por
específicos elevam-se ou Manuel Castells e Gustavo Cardoso. Conforme:
diminuem drasticamente, www.cies.iscte.pt, visitado em 3 de Setembro de 2013.

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marginalização continuarão a formam os seus pontos de vista


agravar-se, nacional e através do processamento de sinais
globalmente. Durante a primeira da sociedade no seu conjunto. Por
fase da sociedade da informação, outras palavras, enquanto a
i.e, desde os anos 60 até à viragem comunicação interpessoal é uma
para o Século XXI, a distância em relação privada, formada pelos
termos de rendimento entre os actores da interacção, os sistemas
20% mais pobres e os 20% mais de comunicação mediáticos criam
ricos da população mundial os relacionamentos entre
duplicou e é agora instituições e organizações da
aproximadamente de 75:1. Este sociedade e as pessoas no seu
desenvolvimento mantém-se, conjunto, não enquanto indivíduos,
particularmente pelas distorções do mas como receptores colectivos de
comércio mundial e pela divisão informação, mesmo quando a
do conhecimento entre países informação final é processada por
desenvolvidos e em vias de cada indivíduo de acordo com as
desenvolvimento. A situação só suas próprias características
poderá melhorar pessoais. É por isso que a estrutura
consideravelmente, mudando as e a dinâmica da comunicação
estruturas do comércio mundial e social é essencial na formação da
estabelecendo pontes no sentido de consciência e da opinião, e a base
colmatar a divisão do do processo de decisão política.
conhecimento.”
Donde o renomado autor9 desenvolve o
Portanto, a própria sociedade da interessante conceito de “comunicação de
informação organizada em redes se encarrega massa autocomandada” para elucidar o poder
de reproduzir a concentração de renda ínsita ao da difusão de informação através das redes de
modelo capitalista, donde a equalização de novas tecnologias de comunicação e
oportunidades e eventuais mudanças chamando à atenção para a marcante
socioeconômicas somente vingarão quando a característica de que a comunicação opera à
sociedade formar sua opinião por meio das margem dos canais institucionais e
mídias existentes (eletrônicas e tradicionais) e governamentais que a sociedade normalmente
exigir mudanças através de um processo se utiliza, o que acaba por transbordar sua
político. influência na formação da opinião pública e,
por consequência, para o processo político:
4. Sociedade em rede e mídia
Com a difusão da sociedade em
Como outro vértice da dimensão da rede, e com a expansão das redes
indelével influência da sociedade em rede, de novas tecnologias de
comunicação, dá-se uma explosão
Manuel Castells 8 destaca sua importância
de redes horizontais de
como instrumento de formação da opinião comunicação, bastante
pública a influenciar os processos de decisão independentes do negócio dos
política, vez que o fluxo de comunicação tem media e dos governos, o que
o condão de transformar o espaço público, ao permite a emergência daquilo que
chamei de comunicação de massa
possibilitar que as pessoas que recebem
autocomandada. È comunicação de
informação formem suas convicções como massa porque é difundida em toda
receptores coletivos. Em suas palavras: a Internet, podendo potencialmente
chegar a todo o planeta. É
Uma característica central da autocomandada porque geralmente
sociedade em rede é a é iniciada por indivíduos ou
transformação da área da grupos, por eles próprios, sem a
comunicação incluindo os media. mediação do sistema de media. A
A comunicação constitui o espaço explosão de blogues, vlogues
público, ou seja, o espaço (vídeo-blogues), podding,
cognitivo em que as mentes das streaming e outras formas de
pessoas recebem informação e interactividade. A comunicação

                                                                                                                                                                                                                               
8 9
Ibid., p. 23. Ibid., p. 24.

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entre computadores criou um novo acesso à informação, seja das que


sistema de redes de comunicação nos permitem organizar, participar
global e horizontal que, pela e influenciar os acontecimentos e
primeira vez na história, permite as escolhas.
que as pessoas comuniquem umas (...)
com as outras sem utilizar os As tecnologias de comunicação e
canais criados pelas instituições da informação, na sociedade em rede,
sociedade para a comunicação não se substituem umas às outras,
socializante. pelo contrário, criam ligações entre
(...) si. A televisão comunica-se com a
Uma vez que a política é internet, com os SMS ou com os
largamente dependente do espaço telefones. Como também a internet
público da comunicação em oferece conectividade com todos
sociedade, o processo político é os meios de comunicação de
transformado em função das massa, telefones, e milhares de
condições da cultura da endereços e páginas pessoais e
virtualidade real. As opiniões institucionais na web. Essa rede de
políticas e o comportamento tecnologia não é o mero produto
político são formados no espaço da de uma mera convergência
comunicação. Não significa isto tecnológica, mas sim de uma
que tudo o que se diga neste forma de organização social criada
espaço determine o que as pessoas por quem delas faz uso.
pensam ou fazem.(...) A sugestão de que se escreve e se
ouve música pela internet, mas
Assim, através dos canais de mídia escuta-se a vida pelo rádio e vê-se
eletrônica, possibilita-se aos cidadãos o mundo pela televisão (Castells,
2001) é um dos exemplos dessa
interlocução horizontal para debates e troca de nossa relação pessoal em rede com
opiniões, livre das idiossincrasias e restrições a mídia. E é da seleção e
dos demais veículos de massa (TV, Rádio, articulação dessas diferentes
Jornais) ao viabilizar o amplo acesso de mídias, em função dos nossos
informações, interação entre os participantes projetos, que a autonomia é gerada
e a cidadania exercida na era da
da rede e, portanto, o contraditório, para a informação.”
formação da opinião pública.
Não nos olvidando de acrescentar que a Como se depreende da relação entre
autonomia das escolhas dos cidadãos decorre sociedade em rede e mídias, no plano
das diversas interações tecnológicas de mídia individual ideal, a autonomia gerada pelo
combinadas e interligadas(jornais; rádio, acesso a rede para o exercício da cidadania
televisão; internet; SMS etc) para a formação decorre da formação da opinião do cidadão
da sua opinião e seu consequente exercício de através do amplo acesso e seleção do fluxo de
cidadania. informações que obtém pelas diversas mídias
Por este enfoque, Gustavo Cardoso 10 que interagem entre si, sendo processada por
confirma a interação entre as diversas mídias cada indivíduo de acordo com as suas próprias
para a formação da opinião pública, bem como características pessoais.
acrescenta ainda a necessidade de domínio
individual do cidadão com relação ao uso das 5. Sociedade em rede, globalização e
mídias, pois: exercício de cidadania
O sucesso do exercício da
Contudo, para a cidadania ser exercitada
cidadania, na sociedade em rede,
depende da interligação em rede e fazer valer a autonomia possibilitada pela era
entre as diversas mídias, mas da informação se faz necessário que a
também do domínio individual das sociedade, a mídia, o Governo e o sistema
habilidades necessárias, para político se utilizem deste aparato tecnológico
interagir com as ferramentas de
para fins de integração e participação dos
mediação, seja das que fornecem
cidadãos, não nos olvidando de mencionar
                                                                                                                ainda a necessária superação da barreira da
10
CARDOSO. Gustavo. A Mídia na Sociedade em rede.
Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007, p.32/33.

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exclusão digital e informacional11, preconizada São múltiplos os sentidos da


acima. globalização, ora percebidos pelo
modo como são afetados os
Na reflexão de Tércio Sampaio Ferraz subsistemas sociais (globalização
Junior 12 com relação à globalização e sua econômica, política, jurídica,
crítica ao desenvolvimento em torno do religiosa, cultural), ora pelos
admirável mundo novo da informação, que instrumentos de atuação
influencia os demais subsistemas sociais, (globalização tecnológica,
organizacional, comunicacional),
opera estruturas de exclusão/inclusão e ora pela alteração das formas de
potencial para produzir a alienação dos apreensão da realidade, em que
cidadãos, que: espaço e tempo parecem sobrepor-
se(globalização territorial, de
simultaneidade dos eventos em
                                                                                                                qualquer espaço).
11
“Dado um ambiente social em que não existam É difícil encontrar nessa
disparidades sócio-econômicas, o uso de tecnologias de multiplicidade uma espécie de
informação e comunicação parece ser promissor e denominador comum. A tentativa
possuir um potencial fantástico. Mas sabe-se que na mais corrente é a de enxergá-lo na
realidade de países como o Brasil a exclusão digital ascensão da informação como
deve ser considerada ao se pensar no uso de novas centro organizador de suas
tecnologias para que estas não venham a perpetuar a diferentes manifestações. A
exclusão e criar um abismo ainda maior entre os que informação é vista, assim, como
têm e os que não têm acesso às inovações tecnológicas. um meio de interconexão de
No Brasil a inclusão digital ainda não é realidade. quaisquer atividades humanas,
Alguns termos definem a presente situação de exclusão capaz de gerar uma nova
digital, as expressões infoexclusão e apartheid digital, concepção antropológica: o homo
por exemplo, são definidas por alguns pensadores como “informaticus”. Na sua base está a
a exclusão de oportunidades de acesso às novas concepção do ser humano como
tecnologias da comunicação e informação. Outros um ser que se comunica, sendo
tomaram a idéia de infoexclusão com um significado este o sentido de sua existência.
bem mais amplo e a definem como todo e qualquer tipo Com isso, a globalização é vista
de exclusão informacional que uma pessoa ou grupo como um fenômeno em que o
social possa estar submetido. A problemática da mundo passa a ser visto como uma
exclusão digital apresenta-se como um dos grandes comunidade de informação. É
desafios deste início de século, com importantes nessa comunidade que as
conseqüências nos diversos aspectos da vida humana estruturas de exclusão/inclusão se
na contemporaneidade. As desigualdades há muito organizam, ao mesmo tempo que
sentidas entre pobres e ricos entram na era digital e dão ao desenvolvimento um
tendem a se expandir com a mesma aceleração novas sentido funcional de participação.
tecnologias. Pierre Lévy, filósofo francês, pensador da E, reciprocamente, nas
área de tecnologia e sociedade, afirmou que: “toda comunidades regionais, as
nova tecnologia cria seus excluídos”. Com essa estruturas funcionais ganham
afirmação não está atacando a tecnologia, mas quer significados, dando ao
lembrar que, por exemplo, antes dos telefones não desenvolvimento um sentido de
existiam pessoas sem telefone, do mesmo modo que de participação segmentária e
se inventar a escrita não existiam analfabetos.Com desequilibrada.
relação ao uso da mídia como via de acesso para
aquisição e concretização da cidadania, percebe-se a Donde cabe alertar que a utilização
existência de algumas iniciativas, no entanto, essas destes amplos meios de comunicação e
iniciativas ainda são pouco abrangentes quando se informação pelos poderes instituídos e por
considera toda a potencialidade que poderia ser
partidos políticos pode também ser desvirtuada
explorada neste sentido.Vê-se claramente que apenas o
acesso às mídias e tecnologias de informação e para mera propaganda, como instrumento de
comunicação não é suficiente para assegurar aos publicidade, renegando direitos de cidadania
cidadãos a efetivação de seus direitos e o exercício de da sociedade a fim de servir como instrumento
uma cidadania plena, no entanto, o não acesso agrava de cooptação da vontade do eleitor. Pois,
ainda mais o quadro de exclusão e desigualdade
consoante nos alerta Gustavo Cardoso13:
social.(...)”. Texto de Gabriela E. Possolli Vesce, para o
site: www.infoescola.com/sociologia/exclusaodigital.
12
FERRAZ JUNIOR. Tercio Sampaio. Estudos de
Filosofia do Direito. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2009, p.                                                                                                                
13
315/316. Ibid., p.322/323.

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SOCIEDADE EM REDE E CIDADANIA Caio Sperandéo de Macedo

O problema no exercício da novas carências que exigirão novas demandas


cidadania não é a mídia, não é a de liberdade e de poderes:
televisão, ou a internet. É o próprio
sistema político, pois é a sociedade
Para dar apenas alguns exemplos,
que modela a mídia. Focando o
lembro que a crescente quantidade
caso da internet, Castells (2004ª)
e intensidade das informações a
cita que, onde há mobilidade
que o homem de hoje está
social, a internet converte-se num
submetido faz surgir, com força
instrumento dinâmico de troca
cada vez maior, a necessidade de
social, onde há burocratização
não ser enganado, excitado ou
política e política estritamente
perturbado por uma propaganda
midiática de representação dos
maciça de deformadora; começa a
cidadãos, a internet é
se esboçar, contra o direito de
simplesmente um painel de
expressar as próprias opiniões, o
anúncios. A mídia eletrônica
direito à verdade das informações.
(rádio, televisão, internet) em
No campo do direito à participação
conjunto com a imprensa
no poder, faz-se sentir na medida
constituem o espaço privilegiado
em que o poder econômico se
da política, da participação e do
torna cada vez mais determinante
exercício da cidadania. Um espaço
nas decisões políticas e cada vez
simbólico no qual circula a maior
mais decisivo nas escolhas que
parte da comunicação e
condicionam a vida de cada
informação política produzidas nas
homem – a exigência de
democracias.
participação no poder econômico,
(...) No entanto, quando é mera via
ao lado e para além do direito(já
unidirecional de informação para
por toda parte reconhecido, ainda
captar a opinião, converter
que nem sempre aplicado) de
simplesmente os cidadãos em
participação no poder político.”
votantes potenciais(para que os
partidos obtenham informação
para saber como ajustar a sua Assim, para além da importante
publicidade) perde o seu papel observação com relação ao desenvolvimento
mobilizador e de participação ao direito à verdade das informações; e
social, de aproximação entre combater a propaganda maciça e deformadora
eleitos e eleitores(Castells, 2004a).
- elementos deletérios para a livre
manifestação dos cidadãos, temos que a
Logo, apenas dispor de acesso ao amplo
liberdade e a autonomia para as mídias em
repertório de mídias (tradicionais e
geral, aliada a ampla interação entre os
eletrônicas) atualmente existentes e ao amplo
participantes, é a chave para combater a
fluxo de informações geradas pela organização
manipulação de opiniões e estimular
em redes não basta para o efetivo exercício de
participação cívica.
cidadania. É necessário garantir um grau de
autonomia e liberdade ao setor de mídia em
relação ao poder político e econômico a fim de
Conclusão
alimentar a sociedade com informações de A sociedade em rede opera com a lógica
fontes confiáveis, complementares e das economias e dos fatores de produção
independentes para formar a livre opinião dos interligados em escala mundial, possibilitada
cidadãos. por inovações tecnológicas como o
Tanto esta dinâmica se faz sentir que microprocessador, a comunicação por satélites,
Norberto Bobbio 14 , ao comentar sobre as a rede mundial de computadores (internet), a
transformações das condições econômica e fibra ótica, etc., que relativizam a noção de
sociais frente à influência da ampliação dos espaço e tempo.
meios de comunicação na organização A transmissão, o processamento e
humana, exemplifica com o surgimento de partilha das informações dentro da rede são
aos principais fatores de geração de riquezas
                                                                                                                na sociedade em rede, que se coaduna com o
14
BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução de sistema de produção capitalista.
Carlos Nelson Coutinho; apresentação de Celso Lafer,
Rio de Janeiro: Elsevier, 2004, 13ª. Reimpressão, p.138.

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SOCIEDADE EM REDE E CIDADANIA Caio Sperandéo de Macedo

Na sociedade em rede, como a sociedade interações tecnológicas de mídia combinadas e


está conectada em nível mundial e os Estados interligadas (jornais; rádio, televisão; internet;
organizados em nível nacional, vislumbra-se SMS, etc).
um processo de relativização da soberania dos O acesso ao amplo repertório de mídias
Estados para uma governança transnacional, (tradicionais e eletrônicas) atualmente
como única forma de tratar conjuntamente existentes e ao amplo fluxo de informações
assuntos de interesse global que transbordam geradas pela organização em redes não é
os limites territoriais dos Estados, como a suficiente para o efetivo exercício de
defesa do meio ambiente, combate ao cidadania. Mais do que isso, é necessário
terrorismo, à segurança nuclear etc.. garantir um amplo grau de liberdade e
Os canais de mídia eletrônica, diante do independência ao setor de mídia em relação ao
amplo acesso de informações, viabilizam aos poder político e econômico, a fim de fornecer
cidadãos interlocução horizontal para debates à sociedade informações de fontes confiáveis,
e troca de opiniões, a interação entre os complementares e independentes para formar a
participantes da rede e, portanto, o livre opinião dos cidadãos, mais cônscios de
contraditório, para a formação da opinião seus direitos e deveres de participação nos
pública, não olvidando que a autonomia das desígnios da sociedade.
escolhas dos cidadãos está ligada as diversas

REFERÊNCIAS

BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Tradução de Carlos Nelson Coutinho; Rio de Janeiro:
Elsevier, 2004.
CARDOSO. Gustavo. A Mídia na Sociedade em rede. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2007.
CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede. Tradução Roneide Venacio Majer, atualização para a
6ª edição, São Paulo: Paz e Terra, 1999.
__________. Compreender a Transformação Social. p.17/20. Artigo escrito para Conferência de
4 e 5 de Março de 2005, em Portugal-Lisboa.
FERRAZ JUNIOR. Tercio Sampaio. Estudos de Filosofia do Direito, 3ª ed. São Paulo: Atlas,
2009.

HIMANEN, Pekka. Desafios Globais da Sociedade de Informação. p.350. Artigo escrito para
Conferência de 4 e 5 de Março de 2005, em Portugal-Lisboa.

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