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Lei Maria da Penha: necessidade

de um novo giro paradigmático


Dossiê

Carmen Hein de Campos


Professora do Programa de Pós-Graduação em Segurança Pública da Universidade de Vila Velha - UVV-ES. Doutora em Ciências
Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul - PUCRS. Mestre em Direito pela Universidade de Toronto.
Graduada em Direito pela Universidade Federal de Pelotas.
Lei Maria da Penha: necessidade de um novo giro paradigmático
Carmen Hein de Campos

charmcampos@gmail.com

Resumo
O ingresso da Lei Maria da Penha no cenário jurídico promoveu uma ruptura paradigmática tanto quanto à sua formulação
quanto às mudanças legais introduzidas. Após dez anos de vigência, estudos apontam diversos obstáculos para a sua
implementação, especialmente relacionados às medidas protetivas de urgência, conforme recentes pesquisas indicam.
Observa-se que a lógica da centralidade da mulher vem sendo subvertida pelo lógica do sistema de justiça penal tradi-
cional. Pesquisa inédita sobre as condições socioeconômicas e a violência doméstica no Nordeste traz novos elementos
para a análise sobre a violência doméstica contra mulheres nordestinas. A partir desses estudos, este artigo sustenta a
necessidade de um novo giro paradigmático da lei que diminua a incidência do sistema de justiça e privilegie as políticas
de prevenção e de assistência.

Palavras-Chave
Lei Maria da Penha. Violência doméstica. Sistema de justiça. Prevenção.

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Dossiê
Lei Maria da Penha: necessidade de um novo giro paradigmático
Carmen Hein de Campos
Introdução

R ecentes pesquisas sobre a Lei Maria


da Penha, especialmente as que ana-
lisam as medidas protetivas de urgência, e a
No entanto, a abordagem inovadora da lei
encontra resistências diversas e passados dez
anos, ao que tudo indica, os obstáculos per-
Pesquisa de Condições Socioeconômicas e sistem. Nesse contexto, este artigo analisa pes-
Violência Doméstica e Familiar contra a Mu- quisas recentes sobre as medidas protetivas e
lher (PCSVDFMulher) trazem importantes os resultados da PCSVDFMulher e aponta a
dados para uma reflexão sobre as políticas pú- necessidade do que chamo de um novo giro pa-
blicas de enfrentamento à violência doméstica radigmático da LMP.
e familiar contra a mulher (VDFCM) e a lei
11.340/2006, a Lei Maria da Penha (LMP). A PRIMEIRA RUPTURA OU O PRIMEIRO
GIRO PARADIGMÁTICO DA LMP
A LMP é fruto de um acúmulo feminista A entrada da LMP no cenário jurídico em
tanto político quanto teórico e corresponde à 2006 causa reações diversas em atores do cam-
mais inovadora legislação pensada para o enfren- po do direito, que variam desde uma atitude
tamento à VDFCM. A lei rompe com a lógica de perplexidade ao apontamento de sua supos-
privatizante da violência doméstica e o tratamen- ta inconstitucionalidade ou, ainda, à conside-
to como delito de menor potencial ofensivo e ração da lei como “um conjunto normativo
propõe uma abordagem integral, entendendo a de regras diabólicas”1. Pode-se dizer que essas
complexidade da violência doméstica e familiar. atitudes são, até certo ponto, compatíveis com
Denomino essa perspectiva inovadora – tanto em o grau de inovações introduzidas pela LMP.
sua formulação quanto no tratamento integral da Várias são as mudanças legais, a começar pela
questão – de ruptura paradigmática ou primeiro sua concepção. Entendo que essas inovações
giro paradigmático da LMP. promoveram uma virada paradigmática, que

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compreende dois momentos ou dois aspectos: nismo brasileiro afirma os estudos feministas
o primeiro refere-se à origem da lei e o segun- sobre o tema e disputa com o tradicionalismo
do às inovações jurídicas. jurídico um lugar de fala, ou seja, quem defi-
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ne que temas devem ser abordados e como o


Quanto à origem da lei sistema jurídico deve tratar a violência domés-
Um aspecto que denota grande diferen- tica contra mulheres. Dito de outra forma, o
cial no processo de produção e proposição da feminismo desafia teórica e juridicamente os
LMP compreende o protagonismo do mo- cânones do ensino do direito e do tratamento
vimento feminista e de mulheres. A LMP é jurídico dessa violência (CAMPOS, 2011).
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pensada, gestada e proposta por um consórcio


de ONGs feministas e pelo movimento de Quanto às mudanças jurídicas
mulheres (BARSTED, 2011; CALAZANS; O segundo aspecto da mudança paradig-
CORTES, 2011). A partir das necessidades mática introduzida pela LMP vincula-se ao
concretas sentidas por mulheres de carne e primeiro, e refere-se às principais inovações no
osso atendidas por organizações feministas2, o campo jurídico e das políticas públicas, entre
feminismo brasileiro propõe então uma legis- as quais destaco: a) tutela penal exclusiva para
lação que trata a violência doméstica como um as mulheres; b) criação normativa da categoria
fenômeno complexo e com uma abordagem violência de gênero; c) redefinição da expressão
integral, intersetorial e interdisciplinar (CAM- vítima; d) exclusão dos crimes de violência do-
POS, 2011, 2016). méstica do rol dos crimes considerados de me-
nor potencial ofensivo e suas consequências; e)
O processo de concepção da Lei Maria da previsão de a companheira ser processada por
Penha é fruto de uma longa trajetória femi- violência doméstica e familiar em relações ho-
nista e de uma discussão de mais de dois anos moafetivas; f ) criação de medidas protetivas de
do Consórcio Nacional de ONGs com movi- urgência; g) criação dos juizados especializados
mentos de mulheres, parlamentares, juristas de VDFCM com competência civil e criminal;
e diversos aliados (BARSTED, 2011; CAM- h) tratamento integral, intersetorial e interdis-
POS, 2016; CALAZANS; CORTES, 2011). ciplinar da violência doméstica e familiar4.
Portanto, diferentemente das proposições le-
gislativas originadas no parlamento, a LMP Assim, a LMP introduz uma profunda
nasce da luta feminista. mudança paradigmática, que se verifica tan-
to no processo de elaboração/proposição fe-
O protagonismo feminista talvez esteja na minista quanto nas suas inovações jurídicas.
base e ajude a compreender a resistência de Essas modificações que propugnam por um
profissionais do direito – especialmente da ma- tratamento/atendimento integral, intersetorial
gistratura e do Ministério Público – em aceitar e interdisciplinar aos casos de violência do-
a nova lei que se insere no ordenamento jurídi- méstica provocam um profundo mal-estar nas
co3. Ao propor uma legislação inovadora para instituições jurídicas, acostumadas a lidar com
o tratamento da violência doméstica, o femi- a violência doméstica contra mulheres como

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delito de menor potencial ofensivo e quase pri- No entanto, a burocracia e o tradiciona-
vado ou como no modelo tradicional – auto- lismo jurídico na aplicação têm sido obstácu-
ria – evidência (prova) do crime. A nova lógica los para o cumprimento do previsto na LMP,

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introduzida pela lei rompe com ambas as pers- conforme indicam alguns estudos sobre as
pectivas. No entanto, ao que tudo indica, essa medidas protetivas.
nova abordagem não é inteiramente absorvida
pelos profissionais do direito, que relutam em Em geral, as medidas protetivas são reque-
cumprir a lei ou a manipulam para adequá-la à ridas pela polícia através de um documento
perspectiva jurídica tradicional. padrão (CAMPOS et al., 2016). No entanto,

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esse documento pode variar se a medida é so-
Recentes pesquisas sobre as medidas proteti- licitada em uma Delegacia Especializada no
vas de urgência revelam como a abordagem fe- Atendimento à Mulher (Deam) ou em uma
minista da lei está longe de ser compreendida ou delegacia comum (CAMPOS et al., 2016; DI-
adotada pelo sistema jurídico (AZEVEDO et al., NIZ; GUMIERI, 2016).
2016; DINIZ; GUMIERI, 2016; PASINATO
et al., 2016), o que desvela uma resistência jurídi- A concessão ou o indeferimento das medi-
ca que se contrapõe aos propósitos da lei. das também variam. Pesquisa realizada por Di-
niz e Gumieri (2016) sobre medidas protetivas
A RESISTÊNCIA DO SISTEMA JURÍDICO julgadas no Distrito Federal entre 2006 e 2012
Um dos aspectos centrais da LMP, as medi- revela que em 48% dos casos as medidas são ne-
das protetivas de urgência (MPUs) podem ser gadas por falta de informações para análise dos
consideradas o coração da Lei Maria da Penha, requerimentos, indicando fragilidade na formu-
ou seja, um de seus aspectos vitais. lação das medidas. Para as autoras, a postura do
Poder Judiciário é protelatória, pois “ignora o
As MPUs são criadas como mecanismo caráter urgente da medida e sobrecarrega as víti-
rápido, de fácil acesso e de proteção imediata mas com um ônus argumentativo e probatório”
às mulheres. Previstas nos artigos 18 a 24 da (DINIZ; GUMIERI, 2016, p. 215). Como se
LMP, as medidas protetivas são de dois tipos: sabe, em contexto de violência doméstica a pa-
as que obrigam o agressor (art. 22) e de prote- lavra da vítima não pode ser mitigada, pois a
ção à ofendida (art. 23). As medidas podem ser violência dessa natureza ocorre geralmente sem
requeridas pela ofendida ou pelo Ministério testemunhas (LAVIGNE; PERLINGEIRO,
Público (art. 19) e não dependem do registro 2011) e geralmente há muito tempo.
do boletim de ocorrência, de testemunhas ou
qualquer outro meio de prova. Quando solici- A referida pesquisa aponta ainda a dis-
tadas com o registro de ocorrência policial, a plicência judicial com os pedidos das MPUs,
autoridade policial deve remeter o pedido den- pois um em cada quatro pedidos é indeferido
tro de 48h em expediente apartado (art. 12) e sem justificativa (DINIZ; GUMIERI, 2016)
o juiz deve analisar o pedido também em 48h ou porque não possui as provas ou testemunhas
do seu recebimento (art. 18). necessárias (PASINATO et al., 2016).

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Ressalto que a inversão do ônus proba- parte dos casos, não gosta de interferir ou
tório não é permitida pela Lei Maria da Pe- pode aconselhar a desistência da denúncia.
nha, já que o objetivo é a urgência da pro- Mesmo em casos de lesão corporal, as mar-
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teção. A inversão do ônus da prova valoriza cas físicas nem sempre são tão visíveis e o
a palavra do ofensor e não a da vítima. Tal magistrado pode achar que não é nada grave,
postura viola a Lei Maria da Penha e des- esquecendo que não há violência física sem
virtua o caráter de urgência da medida e a violência psicológica.
centralidade que a lei confere à mulher e
não ao réu. Além disso, a lei prevê que o A preocupação com a prova – elemento para
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Ministério Público seja comunicado, po- o oferecimento da denúncia – é uma postura


dendo desta forma produzir prova (inciso inadequada nos casos dos pedidos de medidas
III do art. 18). Ademais, o indeferimento protetivas, pois estas se revestem de caráter ur-
da MPU sem uma justificativa é incons- gente e protetivo e não de instrumentalização
titucional, pois toda decisão judicial deve para o processo penal (CAMPOS, 2016). Ou
ser fundamentada (inc. IX do art. 93, da seja, as medidas protetivas visam a proteção dos
Constituição Federal). direitos fundamentais, evitando a continuidade
da situação de violência, e não focalizam proces-
Refuto igualmente o argumento da falta de sos, mas pessoas (LIMA, 2011).
prova de risco de morte da vítima para o inde-
ferimento da MPU, pois a violência doméstica Quanto ao prazo para a concessão das me-
não costuma ter testemunhas. Observa-se que didas, pesquisas apontam que também varia
nesses casos impera uma lógica burocrática e não raramente ultrapassa a previsão legal de
para a concessão das medidas e não a estabe- 48h (AZEVEDO et al., 2016; DINIZ; GA-
lecida pela lei, de proteção e centralidade da MIERI, 2016; PASINATO et al., 2016).
mulher em situação de violência.
Pode-se ilustrar o dano causado pela não
A exigência de provas e testemunhas sub- concessão de uma medida protetiva. O re-
verte a lógica da Lei Maria da Penha e é uma cente caso de Ana Raquel dos Santos Trin-
tentativa de adequá-la à lógica do sistema dade, amplamente noticiado, mostra as con-
penal tradicional. Ou seja, para que a polícia sequências da visão negligente e burocrática
comprove a existência do delito, há necessi- do sistema de justiça em casos de violência
dade de autoria e materialidade. Por exem- contra mulheres. Mesmo tendo procurado a
plo, a materialidade do crime de ameaça ou Delegacia da Mulher de Florianópolis (SC)
violência psicológica será inexistente se não por mais de oito vezes e registrado boletins
houver uma prova ou testemunhas. Ora, de ocorrência contra seu ex-namorado, nada
sabe-se que a violência doméstica acontece feito por qualquer instituição do sistema de
entre quatro paredes, e em geral sem teste- justiça (Delegacia da Mulher, Ministério Pú-
munhas ou com o testemunho de filhos. A blico, Defensoria e Poder Judiciário). Como
família, quando sabe da violência, na maior consequência, Ana, em um ato de desespero,

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matou o ex-namorado com mais de seis tiros5. ainda mais bem avaliados (AZEVEDO et al.,
Ou seja, a omissão de todas as instituições de 2016; PASINATO et al., 2016).
justiça, coletiva e individualmente, foi res-

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ponsável pela atitude que levou Ana Raquel Os obstáculos para a concessão das me-
a matar o ex-companheiro. didas, especialmente a exigência de provas e
testemunhas, revela uma operacionalidade
No que se refere às medidas mais requeri- jurídica que não sai dos “limites da casa pa-
das, os estudos apontam que a proibição de triarcal”, para usar a expressão de Lauretis
aproximação da ofendida foi a mais solicitada (1994) e tenta, de todas as maneiras, con-

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(CAMPOS et al., 2016; DINIZ, GAMIERI, ter e confinar a Lei Maria da Penha em seus
2016; PASINATO, et al., 2016). No entanto, domínios (CAMPOS, 2016). A recusa de
não é possível saber se essa é uma solicitação entender que a lei possui “um sistema jurí-
genuína das mulheres ou se decorre do fato dico autônomo que deve ser regido por re-
de já constar do Termo de Pedido da medida gras próprias de interpretação, de aplicação
(CAMPOS et al., 2016). e de execução penal” (CAMPOS; CARVA-
LHO, 2011, p. 144) e o desejo de que a lei
Apenas 12% das medidas são descum- se conforme aos padrões anteriores do pro-
pridas, de acordo com a pesquisa de Diniz cesso penal tradicional revelam um sistema
e Gamieri (2016). Entretanto, como não há de justiça criminal que parece só ter olhos
monitoramento dessa informação, pode ha- para si próprio, ou que gira em torno de seu
ver subnotificação. A prisão preventiva é de- próprio umbigo. A Lei Maria da Penha tem
cretada em 23% dos casos, mas não é motiva- como centralidade a mulher em situação de
da pelo descumprimento da medida (DINIZ; violência e é para ela e não contra ela que o
GAMIERI, 2016). sistema de justiça deve se voltar.

No que tange à eficácia das medidas, A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER CONFOR-


Pasinato et al. (2016) entendem que o ME OS DADOS DA PSCVDFMULHER
simples deferimento da medida protetiva A Pesquisa de Condições Socioeconômi-
não representa a efetividade da proteção cas e Violência Doméstica e Familiar contra
e a ausência da integração do sistema de a Mulher (PCSVDFMulher), realizada pelo
justiça criminal com a rede de serviços Instituto Maria da Penha (IMP), Univer-
torna a medida simbólica. A ausência de sidade Federal do Ceará e Universidade de
monitoramento das medidas constitui ou- Toulouse, é a primeira pesquisa longitudinal
tro problema (DINIZ; GUMIERI, 2016; sobre o tema da VDFCM conduzida no Bra-
PASINATO, 2016). sil. Os resultados iniciais foram divulgados
recentemente6, mas já permitem analisar,
Em contrapartida, programas de patrulha- mesmo que provisoriamente, alguns cami-
mento específicos realizados pela Polícia Militar nhos trilhados até agora para o enfrenta-
apontam resultados positivos, mas devem ser mento à violência doméstica e familiar e a

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aplicação da LMP. A pesquisa foi realizada Parceiros atuais e ex-parceiros mais recentes
nas nove capitais da Região Nordeste, mas são responsáveis pela quase totalidade da vio-
essa delimitação não impossibilita a utili- lência doméstica perpetrada contra as mulhe-
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zação dos dados, ainda que parciais, para a res. Aspecto interessante é que a violência física
reflexão proposta neste artigo. e sexual é mais praticada por ex-parceiros do
que pelos parceiros atuais.
A pesquisa conta com uma amostra de
mais de 10 mil mulheres com idades entre Outro aspecto relevante da PCSVDFMu-
15 e 49 anos e aborda especialmente os temas lher é ter indagado sobre órfãs e órfãos das mu-
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da saúde geral, sexual e reprodutiva, normas, lheres assassinadas pelos seus parceiros ou ex-
consciência/conhecimento sobre violência -parceiros. Apesar das dificuldades enfrentadas
contra a mulher e a LMP, o poder de barganha para acessar tais dados, a pesquisa estima uma
na relação, experiências de violência domésti- taxa alta de prevalência desse tipo de orfanda-
ca da entrevistada relacionada ao parceiro (ou de (mais de dois órfãos por feminicídio). Isso
ex) ou não relacionada a ele. A pesquisa foi permite indagar com quem ficam as crianças
pensada em duas ondas: uma em 2016 e uma e adolescentes depois da morte da mãe: com
segunda em 2017. a família da vítima, com a do agressor, ou são
encaminhadas para abrigo ou adoção? Ou seja,
Conforme os resultados, aproximadamen- essas vítimas invisíveis do feminicídio são em
te, 3 em cada 10 mulheres (27,04%) nor- geral esquecidas pelas políticas públicas e pelo
destinas sofrem pelo menos um episódio de sistema de proteção a crianças e adolescentes.
violência doméstica ao longo da vida. Esse re-
sultado é expressivo e compatível com outras A abordagem sobre o “medo do crime” ou
pesquisas (VENTURI; GODINHO, 2010; a “sensação de (in)segurança” das mulheres
DATAFOLHA; CRISP; SENASP, 2013; constitui um elemento inovador adicional da
INSTITUTO AVON; DATA POPULAR, pesquisa, fator com significativa presença na
2013). Levantamento realizado na Austrália Região Nordeste. Essa sensação de medo, de
para investigar a prevalência e as consequên- ser vítima de agressão tanto física quanto sexu-
cias da violência contra a mulher na saúde al, impacta negativamente a qualidade de vida
revela que entre 33% e 39% das mulheres dessa mulheres. Além disso, esse é um aspecto
pesquisadas vivenciam violência física ou se- importantíssimo para o entendimento do não
xual praticada por parceiro íntimo, pelo me- rompimento das relações violentas e, de forma
nos uma vez na vida (FANSLOW; ROBSIN- complementar, para o reforço de estereótipos
SON, 2016, p. 4). e incompreensões a respeito das mulheres que
permanecem em relações violentas.
Aproximadamente 1 em cada 10 mulheres
(11,92%) nordestinas relata ter sofrido pelo Conforme pesquisa realizada por Pain
menos um episódio de violência doméstica nos (2012), ser vítima de violência doméstica
12 meses que antecederam a entrevista. praticada por um parceiro íntimo molda a

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natureza do medo imediato durante inci- Igualmente graves são as ocorrências de vio-
dentes violentos. Isso também leva ao medo lência durante a gravidez, situação que já ex-
crônico, que se acumula a longo prazo, e a pressa vulnerabilidade para a mulher indepen-

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traumas significativos e efeitos negativos so- dentemente da exposição à violência domésti-
bre a saúde e o bem-estar. O aprisionamen- ca. Neste caso, a pesquisa registra que, entre as
to e o isolamento social e físico que muitas mulheres que já engravidaram, 6,2% sofrem ao
vezes acompanham o abuso reforçam esses menos uma agressão física durante a gestação.
temores e tornam a busca de ajuda mais difí-
cil. O medo é muitas vezes uma razão funda- Além disso, a PCSVDFMulher mostra

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mental para não sair da relação, e esse medo que a violência doméstica ocorre ao longo
é racional e justificado (PAIN, 2012, p. 7). de toda a gestação para uma parcela signifi-
Ainda segundo a autora, o controle psicoló- cativa de mulheres. Aproximadamente 1 em
gico e emocional que resultam do medo são cada 3 vítimas (34,0%) de violência domés-
uma maneira fundamental de funcionamen- tica na última gravidez reporta ter sofrido
to da violência doméstica. agressões físicas durante todos os três trimes-
tres de gestação.
Portanto, a dimensão do risco (probabili-
dade futura) de a violência acontecer tem sido Nota-se, assim, que a gravidez não é um
negligenciada pelo sistema jurídico e tem le- fator redutor da violência doméstica, pois
vado à não concessão de medidas protetivas e, entre as mulheres vítimas de agressões físicas
ainda, a duvidar da palavra da vítima ou a um durante a última gestação, 60,0% declaram
absurdo entendimento de que as mulheres fa- que as agressões se mantiveram constantes ou
zem “uso abusivo da LMP”. até mesmo aumentaram durante a gravidez.

Ainda conforme a PCSVDFMulher, du- A PCSVDFMulher apresentou evidências


rante a infância, aproximadamente 1 em cada de que a exposição dos filhos à violência do-
5 mulheres (20,1%) soube de agressões físi- méstica não ocorre somente durante a fase in-
cas sofridas por sua mãe. Cerca de 1 em cada trauterina, mas também ao longo da infância.
8 mulheres (12,3%) reporta que, durante a
infância, seu parceiro ou ex-parceiro (o mais Entre as mulheres que sofreram agressões
atual) soube de agressões físicas sofridas por físicas, 55,2% indicam que seus filhos teste-
sua mãe. Da mesma forma, 1 em cada 10 mu- munharam tais agressões ao menos uma vez, e
lheres (10,5%) relata que seu parceiro ou ex- 24,1% deste grupo de mulheres reportam que
-parceiro sofreu agressões físicas causadas por os filhos também foram agredidos.
familiares durante a infância. Esses resultados
são importantes evidências sobre o impacto Por fim, outra questão inovadora da pes-
geracional da violência direta e indireta sobre quisa reside no conhecimento da violência por
as crianças e devem orientar as políticas de parte da vizinhança. O percentual de 29,3%
prevenção à violência futura. de mulheres que percebem a ocorrência de vio-

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lência doméstica tanto na vizinhança (29,30%) de atendimento a crianças e adolescentes. Da
quanto no círculo social (29,45%) é expressivo mesma forma, considerar políticas de preven-
e demonstra o caráter público dessa violência. ção durante a gestação, condição que torna
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as mulheres ainda mais vulneráveis. A rede


A SEGUNDA RUPTURA OU O SEGUNDO de atendimento às mulheres deve estar pre-
GIRO PARADIGMÁTICO DA LMP parada para receber quem sofreu violência no
As dificuldades de aplicação da LMP que período gestacional, inclusive para considerar
se observam no sistema jurídico (polícia, a possibilidade de aborto legal decorrente da
Ministério Público e magistratura), espe- violência sexual.
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cialmente para a concessão das medidas pro-


tetivas, evidenciam a permanência de uma Aspecto negligenciado nas políticas pú-
lógica jurídica tradicional que se contrapõe blicas de segurança das mulheres é o medo do
à lógica de proteção da mulher, cuja centra- crime e a concreta probabilidade de risco de
lidade foi dada pela LMP. sofrer uma violência, que impedem o rompi-
mento da relação violenta. O medo muitas ve-
Apesar das dificuldades com o atendimen- zes motiva o pedido de medida protetiva e a
to nas Deams evidenciadas em diversos estu- visão burocrática tanto das Deams quanto do
dos (OBSERVE, 2011; CEPIA, 2013; PASI- judiciário aumentam a possibilidade de risco
NATO, 2009; SANTOS, 2015; SENADO para as mulheres. Nesse sentido, não é a mu-
FEDERAL, 2013; TAVARES, 2015), bem lher que deve provar que está sob risco, mas o
como com o sistema de justiça no país (SE- Ministério Público e o juízo têm a obrigação de
NADO FEDERAL, 2013), as políticas públi- fundamentar consistentemente uma negativa.
cas nos últimos anos privilegiaram o sistema A inversão desse ônus para a mulher subver-
de justiça e segurança, sem que mudanças pu- te a LMP, revela a incompreensão da violência
dessem ser observadas no tratamento jurídico doméstica, a banalização de seu tratamento e
e no atendimento às mulheres em situação coloca o sistema de justiça contra as mulheres.
de violência doméstica e familiar (SENADO
FEDERAL, 2013). Além disso, evidencia-se a necessidade de
uma política de assistência que ultrapasse a
A PCSVDFMulher traz a lume informa- mera concessão da medida protetiva, que por
ções importantes que, em meu entendimento, si só não garante segurança às mulheres. Nesse
devem ser consideradas para uma mudança de sentido, uma rede de assistência deve incorpo-
foco na implementação da LMP. rar mecanismos rápidos e seguros, com a re-
visão das políticas de abrigamento (SENADO
Destaco a perspectiva geracional da vio- FEDERAL, 2013).
lência evidenciada pela exposição direta ou
indireta de crianças e adolescentes à violência A elevada ocorrência da violência domés-
doméstica. Essa abordagem dever ser pensa- tica conforme revelado pela PCSVDFMu-
da como central nas políticas de prevenção e lher evidencia a necessidade de se repensa-

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rem as políticas de enfrentamento à violên- com dignidade e humanidade as mulheres,
cia doméstica e familiar, privilegiando a pre- duas palavras que parecem passar longe da
venção e assistência. Nesse sentido, embora maioria dos serviços que integram o sistema

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não se deva abdicar do sistema de justiça, de justiça. Há que se pensar também no en-
mas considerando sua ineficiência e imper- volvimento da vizinhança e das redes sociais
meabilidade à LMP, parece ser mais produ- (as novas comunidades), que podem atuar
tivo fazer apostas nas duas outras dimensões como agentes de prevenção.
da lei: a prevenção e a assistência. Portanto,
há necessidade de um segundo giro paradig- Esse novo giro paradigmático da lei pare-

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mático na Lei Maria da Penha, privilegiando ce ser o que a PCSVDFMulher está a mostrar.
o evitamento de novas violências, acolhendo Resta saber se estamos dispostas a escutar.

1. Expressão que consta da decisão proferida pelo juiz de direito de Sete Lagoas (MG), Edílson Rumbelsperger Rodrigues, em 12 de fevereiro
de 2007, conforme Autos nº 222.942-8/06.

2. O Consórcio Nacional de ONGs que elaborou o anteprojeto de lei de violência doméstica foi composto por Themis (RS), Cepia (RJ), Cladem
Brasil, Cfemea (DF) e Agende, organizações que possuem contato direto com mulheres em situação de violência doméstica. A Agende não
está mais em funcionamento.

3. Sobre a resistência da magistratura, conferir Lavigne (2011).

4. Para detalhamento, ver obra de Campos e Carvalho (2011).

5. Conferir em Um inferno na vida das mulheres, disponível em <http://justificando.cartacapital.com.br/2016/12/01/um-inferno-na-vida-das-


mulheres/>.

6. Os resultados foram divulgados nos dias 8 e 9 de dezembro de 2016 em um evento realizado pelo IMP em Fortaleza. O relatório da pesquisa
está disponível no site <www.institutomariadapenha.org.br>.

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paradigmático
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Resumen Abstract
Lei Maria da Penha: necessidade de um novo giro paradigmático
Carmen Hein de Campos

Ley Maria da Penha: necesidad de un nuevo giro Maria da Penha Law: Need for a new paradigm shift
paradigmático The introduction of the Maria da Penha Law into the juridical
La entrada de la Ley Maria da Penha en el escenario jurídico scenario promoted a break in paradigm both in terms of its
promovió una ruptura paradigmática tanto en cuanto a su formulation and the legal changes enacted. Ten years after its
formulación como a los cambios legales introducidos. Después introduction, studies indicate a number of different stumbling
de diez años de vigencia, estudios señalan diversos obstáculos blocks in its implementation, particularly regarding the urgent
para su implementación, especialmente relacionados a las protective measures, as revealed by recent surveys. The
medidas protectoras de urgencia, según lo indican recientes logic of the centrality of the woman has been undermined
pesquisas. Se observa que la lógica de la centralidad de la by the logic of the traditional criminal justice system. Novel
mujer viene siendo subvertida por la lógica del sistema de research on socioeconomic conditions and domestic violence
justicia penal tradicional. Una pesquisa inédita sobre las in the Northeast has yielded new elements for analysis on
condiciones socioeconómicas y la violencia doméstica en domestic violence against Northeastern women. Drawing on
el Nordeste trae nuevos elementos para el análisis sobre these studies, the present article confirms the need for a new
la violencia doméstica contra mujeres nordestinas. A partir paradigm shift in the law that can reduce the influence of
de estos estudios, este artículo sostiene la necesidad de un the justice system and center on prevention and care policies.
nuevo giro paradigmático de la ley que reduzca la incidencia
del sistema de justicia y privilegie las políticas de prevención Keywords: Maria da Penha Law. Domestic violence. Justice
y de asistencia. System. Prevention.

Palabras clave: Ley Maria da Penha. Violencia doméstica.


Sistema de justicia. Prevención.

Data de recebimento: 13/12/2016


Data de aprovação: 14/01/2017

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