JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 19ª REGIÃO
Aos 21 dias do mês de março do ano dois mil e dezessete, às 13:05 horas, estando aberta
a audiência da 1ª VARA DO TRABALHO DE MACEIÓ/AL, na sala de audiências da
respectiva Vara, sito à AV. DA PAZ 1994, CENTRO, com a presença do(a) Sr(a) Juiz(a)
do Trabalho Substituto(a) LUIZ JACKSON MIRANDA JÚNIOR, foram por ordem
do(a) Sr(a) Juiz(a) do Trabalho apregoados os litigantes: WILLAMIS CARNEIRO LIMA
MATIAS, RECLAMANTE e BANCO ABN AMRO REAL S.A, RECLAMADO.
1 - RELATÓRIO
2 - FUNDAMENTAÇÃO
Não acolho. A exordial atendeu os requisitos do art. 840 da CLT, eis que, ao contrário do
que sugere o reclamado, houve exposição dos fatos e dos fundamentos jurídicos, tanto
que ele entendeu os pedidos e fundamentou a sua resposta. Não houve prejuízo ao seu
direito de defesa. Rejeito.
extras laboradas a partir da sexta hora diária, sucessivamente, remuneração das horas
extras a partir da oitava hora diária, bem como seus reflexos legais em repouso semanal
remunerado, férias acrescidas de 1/3, 13.os salários, gratificação semestral e nas verbas
rescisórias (férias proporcionais, 13º salário proporcional, férias vencidas mais 1/3) e
FGTS.
O reclamado, por sua vez, argumentou que, "durante todo o pacto laboral o reclamante
exerceu as funções de subgerente e gerente de relacionamento, sendo tais cargos de
hierarquia e confiança no banco reclamado, tendo o reclamante laborado oito horas
diárias, nos horários de 09h às 18h ou 8:30h às 17:30h, uma vez enquadrado na exceção
de que trata o artigo 224, da CLT" (fl. 118). Afirmou, ainda, que não merecem prosperar
os pleitos relativos à jornada de trabalho, haja vista que a compensação de horas e o
pagamento do labor extraordinário sempre foram realizados de forma correta, bem como
que a jornada de trabalho do reclamante sempre foi consignada nos registros de ponto.
À análise.
Inicialmente, cumpre enfrentar a questão do enquadramento bancário, uma vez que o
reclamado afirma que o reclamante estava submetido à jornada de 8h e este reivindica
expediente reduzido de 6h.
Consoante cediço, reza o caput do art. 224 da CLT que a duração normal do trabalho dos
empregados em bancos, casas bancárias e Caixa Econômica Federal será de 6 (seis) horas
contínuas, perfazendo um total de 30 (trinta) horas de trabalho por semana.
Essa regra comporta exceção. Com efeito, o §2º do referido dispositivo exclui da jornada
"reduzida" os funcionários que implementem duas condições concomitantemente, quais
sejam: exercício de função de confiança (requisito subjetivo) e recebimento de
gratificação em valor não inferior a 1/3 do salário do cargo efetivo (requisito objetivo).
E o ônus da prova de que o empregado está enquadrado na exceção à regra compete ao
empregador, por constituir fato impeditivo ao direito postulado. In casu, resta
evidenciada, pelos contracheques juntados às fls. 226-286, a percepção de gratificação
em valor superior a 1/3 do salário básico, preenchendo assim o requisito objetivo.
No entanto, como já exposto, não basta que o obreiro receba esse plus salarial.
Indispensável a comprovação de que também atende o requisito subjetivo, qual seja: de
ser detentor de fidúcia especial, que o distinga dos empregados comuns (não se
confundindo, porém, com a hipótese inserta no art. 62, II, da CLT de amplos poderes de
mando e gestão).
Para a jurisprudência predominante, a configuração do exercício da função de confiança
bancária depende da prova das reais atribuições do empregado, não decorrendo,
banco. E não há motivo para preferir uma à outra. Elas no geral se equivalem, de forma
que uma anula o que a outra disse. E, com isso, o que sobra incólume são os controles de
jornada.
Acresce que era do reclamante o ônus de infirmar os referidos documentos (inteligência
do art. 818 da CLT), do qual não se desincumbiu.
Convém destacar ainda que, em linha com a defesa, esses controles mostram jornada até
às 19 horas em vários dias do mês, aqueles que ambas as partes chamaram de dias de pico
(19:05, fl. 212; 18:53, fl. 208; 19:05, fl. 214; 18:56, fl. 206), excesso que, além de
corroborar o argumento patronal de idoneidade das folhas de frequência, justifica a
correspondente rubrica hora extra nos contracheques colacionados.
Por outro lado, a testemunha apresentada pelo reclamado admitiu uma situação de labor
extraordinário não registrado: "que o reclamante laborava na abertura de contas
universitárias e ia até as faculdades, no que ficava até as 21h00 / 22h00 a depender do
horário da faculdade; que eram quinze dias de campanha no início de cada semestre
letivo; que eram duas campanhas, uma no início do ano e outra no meio do ano".
Em consequência, resolvo deferir 2 horas extras por dia, de segunda a sexta-feira, o que
totaliza 10 horas por semana, durante todo o contrato de trabalho, face enquadramento no
art. 224, caput, da CLT, e 4 horas extras por dia, de segunda a sexta-feira, em duas
semanas a cada seis meses, o que totaliza 40 horas por semestre, durante todo o contrato
de trabalho, relativas às campanhas de abertura de contas universitárias, todas acrescidas
do adicional de 50% e com repercussões em 13º salários, férias acrescidas de 1/3, DSR e
FGTS. Excluam-se as ausências legais.
Improcedentes as demais horas extras postuladas, inclusive as intervalares.
Diante da carga horária de 36 horas semanais, o reclamante faz jus ao divisor de 180. Não
cabe dedução.
A base de cálculo das horas extras deve ser a remuneração do reclamante, observada sua
evolução.
O reclamante alegou que durante todo o pacto laboral teve que, compulsoriamente,
vender 10 dias dos seus 30 dias de férias, gozando, assim, somente 20 dias de férias
anuais. Ressalta que a reclamada desvirtuou a norma trabalhista, qual seja, o art. 143, da
CLT, que faculta ao empregador converter 1/3 do período de férias a que tiver direito em
abono pecuniário. Nessa seara requer o pagamento de 10 dias de férias por ano, em
dobro, acrescido do 1/3 constitucional, com seus reflexos no FGTS (fl. 07).
O reclamado, em sua defesa, alegou que o reclamante gozou plenamente as férias durante
o período laboral e que quitou devidamente as parcelas de direito do autor, consoante
documentos juntados aos autos (fls. 215-286).
Com razão o reclamado.
Diante do teor da defesa, caberia ao reclamante demonstrar o vício alegado, ônus do qual
não se desincumbiu. A testemunha arrolada pelo próprio reclamante, Antonio Carlos da
Rocha Santos Júnior, negou a suposta obrigatoriedade da venda de 10 dias dos 30 dias de
férias, aduzindo que era possível o empregado gozar trinta dias de férias, contudo, "se o
empregado quisesse gozar os 30 dias não poderia escolher o período das férias, mas se
vendesse 10 dias, aí sim podia escolher o período das férias".
Cumpre sublinhar que o art. 136, da CLT, reza que a época da concessão das férias será a
que melhor consulte os interesses do empregador. Assim, a data de concessão das férias é
prerrogativa do empregador, podendo haver negociação do empregado com o patrão a
fim de encontrar uma melhor data, adequando os interesses de ambos. Neste contexto,
ainda que a mencionada atitude do reclamado seja considerada como pouco conciliadora
e harmoniosa, não se pode falar que a mesma obrigava os seus empregados a vender 10
dias de suas férias anuais.
Cumpre sublinhar, outrossim, que os documentos anexados aos fólios pelo réu deixam
claro que o autor gozou férias, bem como que houve o pagamento da verba em tela (fls.
215-216, fls. 251-252, fls. 266-267, fls. 277-279).
Indefiro, pois, o pedido de pagamento de 10 dias de férias, em dobro, acrescida de 1/3,
bem como seus reflexos legais.
O autor postulou o ressarcimento dos quilômetros rodados com seu próprio veículo, para
atender os interesses da entidade patronal (fl. 08), com reflexos em gratificações
semestrais, férias acrescida de 1/3, 13º salário, horas extras, FGTS e nas verbas
rescisórias (férias proporcionais mais 1/3, 13º salário proporcional, férias vencidas mais
1/3).
O reclamado argumentou que o reembolso das despesas com combustível se dá mediante
apresentação dos respectivos comprovantes e aprovação superior, em observância ao art.
5º, XLI, da Constituição Federal. Pontuou o réu que os gastos com locomoção eram
reembolsados à razão de R$ 0,50 (cinquenta centavos) por quilômetro rodado, levando-se
É importante citar que a Súmula 225, do TST, orienta no sentido de que as gratificações
de produtividade e por tempo de serviço, pagas mensalmente, não repercutem no cálculo
do repouso semanal remunerado. A mencionada orientação é decorrente da interpretação
da Lei 605/49, art.7º, § 2º, em que já se considera remunerado repouso semanal do
empregado mensalista, cujo cálculo de salário mensal é efetuado na base do número de
dias do mês. Contudo, não é o caso da verba em destaque, eis que, consoante confessou o
próprio reclamado, a parcela constitui remuneração variável, sendo uma "remuneração
suplementar" decorrente do lucro percebido por ela, com natureza de comissão, em que o
pagamento apesar de ter sido feito de forma habitual, não era mensal (documentos de fls.
227-286), assim como não era efetuado levando-se em consideração a quantidade de dias
do mês, não sendo aplicável, portanto, no caso, a Súmula 225, do TST.
Nesse sentido é o entendimento da Subseção I Especializada em Dissídios Individuais, do
TST:
O obreiro asseverou que "a partir da convenção coletiva 2007/2008 foi previsto mais um
benefício à categoria dos bancários, qual seja, a décima terceira cesta alimentação" (fl.
09). Pontuou que o referido benefício está previsto na cláusula 16º, a qual estabelece que
a concessão do mesmo deve ser feita até o dia 30 de novembro. O autor, contudo, afirma
que não recebeu nenhum valor a este título, fazendo jus, portanto, à verba a partir do
período abrangido pela convenção coletiva 2007/2008, durante todo o período de
trabalho, bem como seus reflexos em férias integrais e proporcionais, acrescido 1/3, 13os.
salários integrais e proporcionais e FGTS.
O reclamado, por sua vez, alegou que todos os valores devidos ao reclamante a esse título
foram corretamente adimplidos, consoante os recibos de pagamento dos meses de
outubro, pugnando pela improcedência do pleito autoral.
Vinga o pleito obreiro.
Nos recibos residentes nos autos, diferentemente do que sugeriu o reclamado, não consta
o pagamento da décima terceira cesta de alimentação (documentos de fls. 230-231, 253-
254, 266-267, 278-279), o que deixa claro que não houve a devida quitação da verba em
comento. Razão pela qual defiro o pagamento da décima terceira cesta alimentação em
todo o contrato de trabalho.
Como na norma coletiva é negada a natureza salarial dessa parcela (cláusula 16,
parágrafo terceiro, fls. 42 e 42 verso), indefiro os reflexos requeridos.
O obreiro, na inicial, afirmou que "foi vítima de tortura psicológica, durante o período
contratado, na forma de preconceito por sua opção sexual (...) expondo-o a situações
humilhantes e constrangedoras capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou
à integridade psíquica" (fl. 10). Neste diapasão pleiteia indenização por danos morais
decorrente do assédio moral praticado pela reclamada.
O reclamado, a seu turno, alegou que não praticou qualquer ato capaz de macular a honra
ou dignidade do reclamante, "sendo certo que o autor, seja por sua opção sexual ou
qualquer outra razão, nunca sofreu assédio ou discriminação por parte da reclamada ou de
qualquer funcionário" (fl. 143). Ressalta o réu que "em momento algum, tratou o autor de
forma humilhante, constrangedora, vexatória ou discriminatória" (fl. 144), razão pela
qual pugna pela improcedência do pleito de indenização por dano moral por suposto
assédio moral.
Novamente com razão o réu.
O autor não demonstrou o fato constitutivo de seu direito, ônus que era seu ( inteligência
do art. 818 da CLT e art. 333).
A testemunha, Antonio Carlos da Rocha Santos Júnior, arrolada por ele mesmo, aduziu
em seu depoimento que "não se recorda do reclamante ter sofrido algum problema de
relacionamento no trabalho por causa de sua opção sexual" (fl. 373).
A segunda testemunha, Waliane Souza Fernades, trazida aos fólios pelo autor, também
não o ajuda, uma vez que ela, que é esposa da primeira testemunha Antonio Carlos da
Rocha Santos Júnior, embora tenha dito em seu depoimento que "o reclamante viveu
problemas de relacionamento com os colegas de trabalho por causa de sua opção sexual,
sendo vítima de gracejos/brincadeiras deles" (fl. 375), afirmou que seu marido tinha
ciência dos problemas de relacionamento vividos pelo obreiro em razão da sua opção
sexual, sendo este vítima de discriminação, asseverando a mesma que "não sabe dizer se
o seu marido nessas reuniões percebia as brincadeiras de mau gosto, mas dizia a ele em
casa sobre essas brincadeiras, num tom de reprovação" (fl.375).
Diante do exposto, é razoável se entender que as mencionadas afirmações da testemunha
Waliane Souza Fernades não podem ser tidas como verdadeiras, eis que são conflitantes
com o que informou o seu próprio marido, quando do seu depoimento.
De resto, a terceira testemunha inquirida, apresentada pela empresa, negou o assédio
moral.
A conclusão, portanto, é a de que o reclamante não demonstrou ter sido vítima de assédio
moral.
Indefiro o pedido de indenização por danos morais por assédio moral.
O reclamante, na inicial, postulou indenização por danos morais, pois teria sido vítima de
um assalto a mão armada nas dependências do reclamado, ressaltando que chegou a ser
agredido pelos assaltantes, o que provocou um sangramento. Afirmou que a situação
gerou pânico, "incorporando a sua rotina o aterrorizante e constante medo" (fl. 15).
Salientou, ainda, que o descumprimento das normas de segurança, aos quais está
Defiro o benefício da justiça gratuita ao reclamante, tendo em vista que ele declarou ser
Inexiste, haja vista que o direito de ação e de defesa foi amplamente assegurado pela
CF/88, e dele o autor fez uso sem abuso, ainda que eventualmente seus argumentos
venham a ser rechaçados pela Justiça.
3 - CONCLUSÃO
Para os fins do artigo 832, § 3º, da CLT, dentre os direitos objeto da sentença, são de
natureza remuneratória horas extras e seus reflexos em 13º salários, férias acrescidas de
1/3 e DSR; gratificação semestral e seus reflexos em 13ºs. salários; reflexo das comissões
de agenciamento nos repousos semanais remunerados, no que deve a reclamada
apresentar comprovação de recolhimentos previdenciários devidos a encargo do
empregador, sob pena de execução. Em relação aos recolhimentos previdenciários e de
IRRF a encargo da reclamante, incidentes sobre o valor da condenação, devem ser retidos
quando do pagamento do valor principal e depois recolhidos regularmente, com posterior
certificação nos autos, tudo nos termos da Súmula 368 do c. TST.
E para constar, foi lavrada a presente ata, que vai assinada na forma da lei.
E para constar, foi lavrada a presente ata, que vai assinada na forma da lei.
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LUIZ JACKSON MIRANDA JÚNIOR - Juiz(a) do Trabalho Substituto(a)
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JOSÉ GIOVANI RODRIGUES VENTURA- Diretor(a) de Secretaria