1 CABIMENTO
(*)
Mestre em Direito Agroambiental pela Universidade Federal de Mato Grosso (Técnica
Processual e Tutela Coletiva de Interesses Ambientais Trabalhistas). Coordenador da Pós-
graduação em Direito e Processo do Trabalho da Escola Superior da Magistratura do Trabalho
da 23ª Região. Professor de Teoria Geral do Processo, Direito Processual do Trabalho e Direito
Ambiental do Trabalho em cursos de pós-graduação lato sensu. Juiz Titular de Vara no
Tribunal Regional do Trabalho da 23ª Região. Autor de livros jurídicos. Os termos mais
frequentes na sua produção acadêmica são: Redução dos Riscos Inerentes ao Trabalho,
Tutelas de Urgência, Tutela Inibitória, Tutela de Remoção do Ilícito e Tutela Ressarcitória na
Forma Específica.
1 Usei a expressão “nunca houve grande dissenso”, já que o processualista Wagner D. Giglio,
grande homenageado da presente obra, assevera no seu livro Direito Processual do Trabalho,
10 ed. São Paulo: Editora Saraiva, 1997, p. 512, que parte da doutrina sustenta, especialmente
quanto aos embargos de terceiro, que o recurso cabível seria o ordinário e não o agravo de
petição, “posto que os embargos constituem ação incidente na execução, e contra o primeiro
julgamento proferido em ação seria cabível o mais amplo dos recursos, para revisão de toda a
matéria de fato e de direito”. Na sequência, todavia, o aludido professor rechaça com
brilhantismo a aludida tese minoritária, sob o fundamento de que “a legislação trabalhista
específica, prevendo o cabimento do agravo para quaisquer decisões proferidas na fase de
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Do mesmo modo, não resta dúvida que as sentenças que extinguem a
execução (artigos 794 e 795 do CPC), igualmente clamam enfrentamento por
via do recurso ora analisado.
Todavia, a redação excessivamente aberta do artigo 897, “a”, da CLT, a
dizer que caberá agravo de petição das decisões (sem esclarecer quais) que o
juiz prolatar nas execuções, acabou por gerar, historicamente, uma palpável
desarmonia sobre o cabimento ou não do recurso em questão para a
hostilização imediata de decisões interlocutórias em que magistrado, no curso
da execução, tenha resolvido questões incidentes.
Ainda que minoritária, a corrente que pugna pela possibilidade possui
alguma força, não sendo a aludida hipótese completamente descartada pela
doutrina. É de se ver, a propósito, as palavras de Renato Saraiva:
execução, afasta a possibilidade de argumentar com base na doutrina processual civil. Acresce
que esse recurso [referindo-se ao agravo de petição] assegura, na prática, a mesma ampla
possibilidade de revisão do julgado ensejada pelo recurso ordinário e até, sendo discutida
matéria constitucional, o direito ao recurso de revista.”
2 SARAIVA, Renato. Curso de direito processual do trabalho. 4 ed. São Paulo: LTr, 2010, p.
476.
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Creio, assim, que o agravo de petição deva, em regra, ser
restritivamente manejado, com utilização cingida à objurgação de sentenças
típicas, sejam de extinção do procedimento executivo ou resolutivas de ações
incidentes à execução.
Mas se por um lado é certo que pelo menos na perspectiva histórica
essa é a conclusão que melhor se amolda às singularidades do Processo do
Trabalho, por outro não é menos correto que a questão ganhou contornos um
tanto mais intrincados hodiernamente.
Ocorre que pelo menos no atual estágio do Processo Civil, os embargos
do devedor perderam o status de ação, já que a Lei 11.232-2005 inseriu no
CPC o artigo 475-L, que trata os antigos embargos sob o título de impugnação,
relegando-os a um papel de mero incidente executivo.
A partir daí a decisão que soluciona os embargos (rectius: impugnação)
assumiu certa natureza híbrida, como de resto já acontecia nas objeções de
pré-executividade.
Excepcionalmente, assim, se a pretensão veiculada na impugnação for
acolhida e a execução em decorrência for extinta, a decisão ostentará
inequívoca natureza sentencial. Em regra, contudo, se a pretensão aviventada
na impugnação for rejeitada, ou mesmo acolhida sem conduzir à extinção da
execução, a decisão adquirirá inelutável feição interlocutória.
Tanto é assim, que o § 3º do artigo 475-M do CPC (também inserido no
CPC por força da Lei 11.232-2005) estatui que a decisão que resolver a
impugnação é recorrível mediante agravo de instrumento, salvo quando
importar extinção da execução, hipótese em que caberá apelação.
Como se sabe, a natureza jurídica dos embargos nunca foi bem
equacionada no âmbito da processualística laboral, limitando-se a doutrina e a
jurisprudência trabalhista a alardear, com fulcro nas lições do Processo Civil,
que esta seria de ação.
Na prática, todavia, os embargos sempre tiveram tratamento de reles
incidente executivo, na medida em que sequer eram autuados e apensados ao
processo principal, sendo meramente encartados e processados nos próprios
autos do cumprimento de sentença.
Antedita prática (de encartar e processar os embargos nos próprios
autos do cumprimento de sentença), aliás, acabou sendo parcialmente
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absorvida pelo Processo Civil com o advento da Lei 11.232-2005, na medida
em que, atualmente, o artigo 475-M, § 2º, do CPC estabelece que uma vez
deferido efeito suspensivo à impugnação3, esta será instruída e decidida nos
próprios autos.
Assim, diante da precariedade da legislação trabalhista acerca do tema,
e da iniludível similaridade entre os embargos do Processo do Trabalho e a
impugnação do Processo Civil, não me parece nenhuma heresia jurídica
considerar que, também na processualística juslaboral, os embargos do
devedor mereçam tratamento de mero incidente executivo, desprovidos,
portanto, do antigo status de ação.
Dessarte, não há como se concluir de modo diferente, a não ser para
compreender que a decisão que acolher os embargos e extinguir a execução
terá natureza de sentença, enquanto que a decisão que rejeitá-los ou que
acolhê-los sem induzir à extinção do procedimento executivo, possuirá matiz
interlocutório.
Consoante já se pode intuir, a discussão não se restringe ao mero
interesse acadêmico, possuindo, a bem da verdade, indisfarçável importância
prática, pois, como é palmar, as interlocutórias não são recorríveis de plano no
Processo do Trabalho.
O que fazer, então, quando a decisão rejeitar a pretensão aviada nos
embargos? Não me parece saudável, nesses casos, que a interposição de
agravo de petição seja pura e simplesmente repelida.
Creio, com efeito, que em atenção à proporcionalidade das garantias
processuais colidentes, o princípio juslaboral da irrecorribilidade imediata das
interlocutórias deva ser excepcionalmente mitigado, já que tal solução, ao
mesmo tempo em que, por exemplo, garantirá ao devedor o postulado
fundamental da ampla defesa com os meios e recursos a ela inerentes (artigo
5º, LV, da CRFB), em nada prejudicará o direito do exequente trabalhista a um
devido processo sem dilações temporais indevidas (artigo 5º, LXXVIII, da
CRFB), pois a regra geral da não suspensividade dos embargos (artigo 475-M,
caput, ab initio, do CPC) permitir-lhe-á que a execução siga seu curso até os
ulteriores termos, inclusive com liberação de dinheiro se for o caso.
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Observe-se que se por acaso o dinheiro for liberado ao exequente antes
do julgamento do agravo de petição interposto pelo devedor, a questão, em
sendo necessário, será solucionada à luz do disposto no § 2º do artigo 694 do
CPC, por via da chamada execução invertida, quando o executado
eventualmente terá direito a haver do exequente o valor por este recebido
como produto da arrematação
2 PRAZO E PREPARO
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depósito recursal corresponderá ao valor do acréscimo, sem qualquer limite,
sendo efetivado mediante guia de depósito judicial expedida pela Secretaria
Judiciária, à disposição do Juízo da Execução.
Já quanto à custas, é previsto o pagamento de R$44,26 no caso da
interposição de agravo de petição (artigo 789-A, IV, da CLT). Tais custas, no
entanto, são sempre de responsabilidade do executado e somente são pagas
ao final da execução (artigo 789-A, caput, in fine, da CLT), não podendo ser
consideradas, portanto, como inseridas no âmbito do preparo recursal.
3 PRESSUPOSTOS ESPECÍFICOS
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pontos que queira rechaçar da conta homologada, sob censura de não ver o
seu agravo de petição conhecido4.
Verdadeiro truísmo que sobre os pontos não impugnados a coisa julgada
se formará, de modo a permitir, imediatamente, a liberação definitiva ao
exequente de eventual numerário constritado. Justamente por isso é que a
parte final do § 1º do artigo 897 da CLT permite a execução da parte
remanescente (não impugnada) até o final, nos próprios autos ou por carta de
sentença.
Corroborando o que foi asseverado no parágrafo anterior, a Súmula 416
do TST vaticina que “devendo o agravo de petição delimitar justificadamente a
matéria e os valores objeto da discordância, não fere direito líquido e certo o
prosseguimento da execução quanto aos tópicos e valores não especificados
no agravo”.
4 EFEITOS
4Vide, nesse sentido, CARRION, Valentin. Comentários à consolidação das leis do trabalho. 33
ed. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 800.
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Ora, na maioria esmagadora das vezes o agravo de petição será
manejado em um contexto no qual a decisão que lastreia a execução (sentença
cognitiva) já transitou em julgado, sendo definitivo, portanto, o procedimento
executivo (vide, mais uma vez, o § 1º do artigo 475-I do CPC). Por corolário
lógico, não haverá cabimento em se falar na concessão ao agravo de petição
de efeito suspensivo, cuja nótula emblemática, como já ressaltado, é a de
impedir a execução provisória da sentença.
Para se compreender corretamente a questão, será fundamental
observar que o artigo 897, § 1º, da CLT foi construído à luz do antigo
regramento do Código de Processo Civil, que impregnava os embargos do
devedor de efeito suspensivo (vide, a propósito, a redação do § 1º do antigo
artigo 739 do CPC, com a redação que lhe outorgava a Lei 8.953-94).
Como não poderia deixar de ser, se os embargos tinham efeito
suspensivo e se o agravo de petição é o recurso que se maneja contra a
rejeição dos temas neles veiculados, revelava-se óbvio que não seria legítimo
executar, até os ulteriores termos, as matérias e valores impugnados.
O artigo 897, § 1º, da CLT não carregava consigo, assim, mais do que
uma obviedade.
Hoje, todavia, diante da regra geral da não suspensividade dos
embargos (artigo 475-M, caput, do CPC), que ilumina o Processo do Trabalho
à luz da omissão celetista, o artigo 897, § 1º, da CLT deve ganhar nova leitura,
para ter-se em mente que sendo a execução definitiva, nada obstará que a
execução atinja integralmente o seu cume5.
Caso o devedor obtenha êxito no agravo de petição, restar-lhe-á o
remédio da execução invertida, que atualmente está expressamente
consagrado no § 2º do artigo 694 do CPC.
Pensar o contrário seria distribuir, de modo absolutamente perverso, o
ônus do tempo no processo, para se atribuir ao exequente de créditos de
natureza alimentícia todos os percalços processuais, fechando os olhos para o
fato de o seu direito ter sido reconhecido em sentença transitada em julgado.
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5 PROCESSAMENTO
6No Processo Civil a solução será diferente, já que por força do § 2º do artigo 475-M do CPC,
os embargos (rectius: impugnação) desprovidos de efeitos suspensivo serão instruídos e
decididos em autos apartados.
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suplementares em casos como de agravo de instrumento, precatórios, agravos
regimentais e execução provisória.
6 SÍNTESES CONCLUSIVAS
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execução definitiva, nada obstará que ela atinja integralmente o
seu cume;
Nos autos analógicos deverão ser apresentadas à Secretaria, em
tempo hábil e devidamente autenticadas, as cópias das peças
processuais necessárias à instrução do recurso, remanescendo
os autos principais no piso, para a realização dos atos de
expropriação;
Com a adoção do Processo Judicial Eletrônico na Justiça do
Trabalho a formalidade indicada no parágrafo anterior restará
superada.
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