Reprodução de “Several Circles (Einige Kreise)” de Vasily Kandinsky © (January- February 1926. Oil on
canvas, 55 1/4 x 55 3/8 inches. Solomon R. Guggenheim Museum)
Resumo
O contínuo estudo e interesse na área da psicologia da família, transformações ao longo do ciclo
vital, relacionamento entre os seus membros e com os que os rodeiam, associa-se ao
desenvolvimento de novos instrumentos de investigação psicológica, numa contínua busca por
uma maior compreensão destes fenómenos. O presente estudo apresenta as propriedades
psicométricas de uma versão traduzida da mais recente escala de avaliação das relações
familiares de Olson, Gorall & Tiesel (2006) a FACES IV, aplicando no entanto os factores
encontrados na versão americana, num estudo em que participaram 284 sujeitos, pertencentes a
66 famílias em cada uma das duas tipologias familiares – com e sem elemento toxicodependente
(cada família composta por dois elementos). O objectivo de estudo centrou-se sobre as
diferenças nas relações familiares, procurando perceber a influência da tipologia familiar e
características dos indivíduos da amostra no nível da coesão, flexibilidade, comunicação e
satisfação familiar (subescalas da FACES IV). Embora as conclusões vão de encontro às
hipóteses formuladas, sendo confirmadas por diversos autores em investigações envolvendo o
mesmo tipo de variáveis, confirmamos que a versão americana não traduz a realidade
portuguesa, devendo esta escala ser aferida para a população portuguesa, para maior fiabilidade
dos dados em estudos semelhantes ao que apresentamos.
Abstract
The continuous study and interest in the family psychology area, changes during the life cicle,
relationship between the family membres and the ones around them, associates itself to the
development of new psicological investigation instruments, in a continuous search for greater
understanding of these phenomena. This study presents the psychometric properties of a
translated version of the latest scale of assessment of family relationships from Olson, Gorall &
Tiesel (2006) the FACES IV, however applying the factors found in the American version, in a
study involving 284 subjects who participated, belonging to 66 families in each of the two
family types - with and without addict element (each family composed of two elements). The
purpose of study focused on differences in family relationships, seeking understand the
influence of family types and characteristics of individuals in the sample level of cohesion,
flexibility, communication and family satisfaction (subscales of FACES IV). Although the
findings meet the assumptions made, and confirmed by several authors in investigations
involving the same type of variables, confirmed that the American version does not reflect the
reality Portuguese, this scale should be measured for the population to greater reliability of data
on studies similar to that present.
Agradecimentos
Embora tenha consciência de que o acto aqui expresso encerra o risco de eventuais
esquecimentos, não seria justo deixar passar em claro a minha manifestação de agradecimento
Aos meus pais, à minha irmã Luisa e ao meu namorado Zé, que incansavelmente estiveram ao
meu lado em todos os momentos, com toda a força e convicção de que seria capaz de fazer um
bom trabalho. Bem como aos bons amigos como a Sara, o Crespo, a Inês, a Lili, a Cá que me
trabalho que sempre acreditaram e me deram força, espaço e tempo para me dedicar ao
mestrado que culmina com esta tese, como o José Ricardo, a Elsa, a Marta, a Sofia, a D. Clara.
Um agradecimento especial ao Rui, cuja ajuda foi preciosa, com todo o seu conhecimento de
nível mais técnico, tanto no SPSS como no acompanhamento e monitorização, mas também a
ceder o seu tempo, bem como às instituições e seus técnicos que comigo colaboraram como a C.
Lopez Aragón, C. T. Sol por Hoje, C. T. Casa Grande e Centro Comunitário Espaço Aberto,
ART, Projecto Convívios Fraternos, C. T. R12, Comunidade Vida e Paz e Ass. A Minha Casa.
Resumo ............................................................................................................................. 4
Agradecimentos .................................................................................................................. 5
Índice
Introdução .................................................................................................................... 10
ANEXOS
Anexo I: FACES IV (versão original) .................................................................. 103
Anexo II: Questionário Sociodemográfico e FACES IV (Protocolo adaptado). .. 106
Anexo III: Tabelas de cotação da FACES IV. ...................................................... 112
Tabela 28: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a profissão do inquirido.
Tabela 29: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a escolaridade, no que respeita
às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 30: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a escolaridade do inquirido
Tabela 31: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a situação profissional, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 32: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a situação profissional do
inquirido.
Tabela 33: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as doenças de que padecem os
sujeitos, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV
Tabela 34: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo as doenças de que padecem os
sujeitos.
Tabela 35: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre o estado civil dos sujeitos, no
que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 36: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo o estado civil dos sujeitos.
Tabela 37: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre com quem vivem os sujeitos, no
que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 38: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo com quem vivem os sujeitos.
Tabela 39: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre estrutura da sua família, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 40: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo estrutura da família dos
inquiridos.
Tabela 41: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre lugar que ocupa no seio da
família, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Tabela 42: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo lugar que ocupa no seio da
família.
Figura 1: Perfil da FACES IV: seis tipos familiares (adaptada de Olson, Gorall, 2006,7).
Figura 2: Modelo Circumplexo e Pontuações da FACES IV(adaptada de Olson, Gorall, 2006,5).
Figura 3: Perfil da FACES IV: Equilibradas versus Caoticamente Desligadas (adaptada de Olson, Gorall, 2006,13).
Figura 4: Modelo Conceptual, base do presente estudo, contemplando a verificação da influência das variáveis
independentes e independentes mediadoras, nas variáveis dependentes.
Figura 5: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares (famílias com e
sem elemento toxicodependente).
Figura 6: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares.
Figura 7: Médias obtidas no “Nível de emaranhamento da relação familiar”, segundo a faixa etária dos inquiridos
Figura 8: Médias obtidas nas subescalas da FACES IV segundo a profissão dos inquiridos.
Figura 9: Médias observadas por factor de análise, segundo a escolaridade.
Figura 10: Médias observadas por factor de análise, segundo o estado civil.
Figura 11: Médias observadas por factor de análise, segundo o lugar ocupado pelo sujeito no seio da sua família.
Introdução
Este estudo mostra-se pioneiro na utilização desta escala, iniciando a autora do trabalho aqui
apresentado pela sua tradução (seguindo os trâmites requeridos) e aplicação, procurando
verificar se esta poderia medir fielmente o funcionamento familiar no contexto português. Foi
aplicado um inquérito por questionário (composto por um Questionários Sócio-Demográfico e a
Escala FACES IV traduzida para português) a uma amostra com duas tipologias familiares: 66
famílias com elemento toxicodependente e 66 famílias sem elemento toxicodependente (cada
família é composta por dois elementos, num total de 284 sujeitos). Encontrámos diferenças
entre ambas as tipologias familiares em todas as escalas, no entanto sem significância
estatística, sendo este o início do que o estudo vem trazer de novo. Pois embora se possa
mencionar o facto da reduzida dimensão da amostra, a grande questão passa pela incessante
vontade dos investigadores obterem uma correspondência fiel ao nível dos factores encontrados
e uma relevante significância estatística para uma escala aferida para uma população que em
tanto diverge da portuguesa, com toda a sua contextualização, cultura, princípios, valores e
tipologia familiar característicos. Uma vez que em vez dos cinco factores encontrados na análise
factorial da versão americana, encontrámos uma boa capacidade discriminativa com quinze
factores para a população portuguesa, o que requereria a criação de um instrumento adaptado às
características da população portuguesa. Temos ainda a hipótese (que não é nova, mas surge de
forma crescente) de cada vez se atenuarem mais as diferenças entre estas tipologias familiares.
Por fim, resta manifestar o quão gratificante foi este trabalho e ao mesmo tempo um
estímulo para lançarmos um novo olhar para a problemática da toxicodependência e levar por
diante o aprofundamento que se impôs. Alguns autores consideram que as teorias sistémicas,
sobre a família, serão um novo contributo para a nova conceptualização da problemática
“toxicodependência”, já que concedem pistas, explicativas e compreensivas, para a
complexidade deste fenómeno.
A. ENQUADRAMENTO TEÓRICO
Um dos conceitos centrais de todo o nosso trabalho passa pela definição de família, que se
revela como a instituição fundamental do desenvolvimento humano, já que funciona como
padrão de referência para a vida de cada um.
Várias são as definições que podemos encontrar de “família”. Contudo, nota-se nessas
definições a orientação conceptual que é defina pelos diversos autores. Neste sentido, Sampaio e
Gameiro (1992, p.9) definem família como “um sistema, um conjunto de elementos ligados por
um conjunto de relações, em contínua relação com o exterior, que mantém o seu equilíbrio ao
longo de um processo de desenvolvimento percorrido através de estádios de evolução
diversificados”. Numa outra linha de orientação conceptual, Menezes (1989, p.53) percepciona
a família como uma “Instituição social, contexto de primordial importância no desenvolvimento
do ser humano, núcleo por excelência, da vinculação, da coesão e interdependência mútua,
promotora de sentimentos de separação e autonomia”.
O conceito de família tem-se modificado ao longo dos tempos (Menezes, 1989) e é neste
sentido que se fala do ciclo vital da família como um conjunto de estádios que demarcam
transformações que ocorrem no seio da mesma (Relvas, 1996).
O desenvolvimento familiar reporta-se à mudança da família enquanto grupo, bem como às
mudanças nos seus membros, ao nível funcional, interaccional e estrutural. Assim, é importante
identificar as sequências de transformações na organização da família, ciclo vital, de acordo
com o cumprimento de tarefas bem definidas, que vão caracterizar as etapas desse ciclo. Estas
tarefas relacionam-se, por sua vez, com as características individuais dos elementos da família, e
com a pressão social para o desempenho adequado das tarefas essenciais à continuidade
funcional do sistema familiar. Neste sentido, a família deve resolver com sucesso a criação de
um sentimento de pertença ao grupo e a individuação/autonomização dos seus elementos
(Relvas, 2000).
Olson e colaboradores (1983) definem sete estádios, usados nos seus estudos da família,
partindo do Modelo Circumplexo.
- No primeiro estádio fazem alusão a casais jovens sem filhos, em que as preocupações do
casal respeitam à reformulação e negociação dos objectivos individuais e do casal, e estilos de
vida mutuamente aceites. No entanto, estas famílias ainda não encontraram as necessidades e
exigências dos filhos pequenos.
- Num segundo estádio, enquadram-se famílias com crianças pequenas e em idade pré-
-escolar. As famílias são idênticas neste estádio, pois as crianças passam a maior parte das horas
acordados em casa, e a família é orientada para o seu crescimento e nutrição. Os pais são as
fontes primárias de informação e controlo e a família é vista como centrada na criança.
- No terceiro estádio encontram-se as famílias com crianças em idade escolar, em que a
família é vista como estando focalizada na educação e socialização da criança. Aqui, a criança
mais velha tem entre seis e doze anos.
- Num quarto estádio, as famílias com adolescentes preocupam-se em preparar os seus
adolescentes para serem “lançados” de casa, existindo exigências consideráveis.
- No estádio cinco encontramos famílias lançadoras, ou seja, os adolescentes estão a deixar
a casa para estabelecer identidades e papéis fora da unidade familiar. Os papéis parentais e as
regras estão a mudar e a família é ocupada com a autonomização bem sucedida dos seus filhos.
- Num sexto estádio, são definidas as famílias como de ninho vazio, em que os filhos
abandonam o seu “ninho”, a casa dos seus pais. Os pais ainda mantêm algumas regras formais,
mas a família é largamente orientada para as necessidades do casal, estabelecendo
relacionamentos mais diferenciados com filhos e netos.
- Por fim, no sétimo estádio encontram-se as famílias na reforma, que completaram
largamente o crescimento e supervisão dos filhos. Concluíram as suas maiores contribuições na
carreira e estão ocupados com a manutenção do casal, assim como com os relacionamentos com
a família alargada e amigos.
Relvas (2000) refere que o grande objectivo da conceptualização do ciclo vital da família é
mostrar a relevância das relações humanas familiares contínuas, centrando-se na evolução
temporal das interacções (entre membros da família entre si, com outros e outras estruturas
sociais), fundamental para diagnosticar e planear a intervenção. A não consideração destes
aspectos (aplicação numa perspectiva simplista e linear) proporciona um estudo repartido e
descontínuo da vida familiar. A família torna-se crucial no desenvolvimento do ser humano por
duas razões: em primeiro lugar, porque não podemos pensar viver sem uma família (mesmo que
esta não seja a de origem); em segundo lugar, porque é a família que determina as primeiras
relações sociais e as primeiras aprendizagens que realizamos acerca das pessoas, das situações e
das nossas capacidades individuais, aquisições estas, que exercem grande influência na
construção da nossa personalidade (Sprinthall & Collins, 1994).
A partir dos anos 50, quando reflectimos sobre o sistema “família” e intervenção,temos que
falar da “terapia familiar” e do modelo sistémico. Este modelo surge nos E.U.A. num contexto
1. Tipologias familiares
Sendo o conceito “família” crucial neste trabalho, importa compreendê-la nas suas
diferentes estruturas e configurações, respondendo às tensões que possam surgir, de acordo com
essas condições que detêm. Neste sentido, importa referir os diversos tipos de famílias com que
nos podemos deparar de acordo com Minuchin e Fishman (1990):
- Família ‘pas de deux’, onde reside uma relação simbiótica de dois elementos;
- De três gerações, em que coexistem várias gerações de forma concomitante;
- Com suporte ou com filho parental, que integra um elemento que toma sobre si funções de
criação dos demais;
- Acordeão, com um elemento que está ausente por longos períodos de tempo;
- Flutuante, quando a família está constantemente a mudar de domicílio;
- Hóspede ou adaptativa, que acolhe temporariamente um membro da mesma;
- Reconstituída, quando um padrasto é incluído na unidade da família;
- Com um fantasma, onde um elemento da família desaparece, morre ou se ausenta;
- Descontrolada, onde se enfatiza a existência de problemas na hierarquia familiar, da
implementação de funções e na proximidade dos membros; e
- Psicossomática, em que há uma superprotecção, fusão ou união excessiva entre os
membros da família.
Malpique (1997) e Alarcão (2000) falam de famílias que abrangem vários elementos, como
a família nuclear, composta por elementos unidos por laços afectivos e biológicos e realizam
actividades comuns; a extensa, com um conjunto de (des)ascendentes, e colaterais do grupo da
família nuclear; a de origem, com o grupo familiar original de cada um dos cônjuges; e a
monoparental, com apenas um dos cônjuges.
Olson e Gorall (2006) providenciam uma nova tipologia de famílias para o estudo e análise
das relações familiares, sistematizada no instrumento FACES IV – Family adaptability and
Cohesion Scales (composto por seis escalas que medem as relações familiares), e no Modelo
Circumplexo, em que identificam seis tipos de famílias:
- Equilibradas, caracterizadas por elevado funcionamento saudável, e baixo nível de
funcionamento problemático. Hipoteticamente, estas famílias lidam bem com os elementos
stressores do dia-a-dia, e com as mudanças relacionais na família ao longo do tempo.
- Rigidamente equilibradas, com níveis elevados de aproximação emocional e rigidez.
Hipoteticamente estas famílias funcionam bem a maioria das vezes, dado o seu nível de
proximidade; no entanto, podem ter dificuldades em realizar as mudanças requeridas pela
situação ou mudanças ao nível do desenvolvimento, devido à sua elevada rigidez.
- Médias, por hipótese estas famílias funcionariam bem, não apresentando níveis extremos
de factores de força e protecção, nem de factores de risco.
- Flexivelmente desequilibradas, famílias, à partida, a indicar um funcionamento
problemático; no entanto, como demonstram níveis elevados de flexibilidade, teriam as
competências para alterar alguns níveis problemáticos quando necessário. Este é o tipo de
famílias considerado pelos autores como sendo o mais difícil de caracterizar.
- Caoticamente desligadas, têm por hipótese corresponder a famílias problemáticas, com
base numa falha de proximidade emocional e níveis baixos de flexibilidade, o que
demonstra uma grande dificuldade em promover mudanças.
- Desequilibradas, é o espelho exacto (imagem oposta) das famílias equilibradas e são as
mais problemáticas em termos de funcionamento, com grandes lacunas nos factores força e
protecção. São as mais prováveis de encontrar em terapia.
No entanto, Ausloos concorda com a ideia de Haley ao afirmar que “Não existe um tipo de
família que produza um tipo de paciente, mas produz-se numa família, em certo estádio, uma
perturbação seguida de uma intervenção externa que ocasiona um comportamento sintomático
num ou em vários dos seus membros” (Haley, cit.. in Ausloos, 1981, p.192).
Nas diversas classificações de tipos de famílias, Relvas (1999) destaca as interaccionais e
estruturais, sendo a mais conhecida elaborada por Salvador Minuchin (1990), colocando as
famílias disfuncionais em extremos opostos, definindo-as como “emaranhadas” e
“desmembradas”, sendo a família “emaranhada” caracterizada por um relacionamento centrado
nela própria, defendendo a unidade em prol da individualização. Nelas existem papéis rígidos e
sintomas por vezes psicossomáticos e é frequente um dos pais encontrar-se numa posição
hierárquica baixa (one down) e as fronteiras entre gerações e indivíduos serem difusas e mal
definidas, opostas à fronteira exterior geralmente rígida. São, assim, sistemas fechados e
isolados no que respeita ao contacto com o meio. No outro oposto, as famílias “desmembradas”
são excessivamente abertas, com um relacionamento que se afasta do centro da família, em que
tentam expulsar demasiado cedo os seus membros para a vida em sociedade, sem os munir de
competências adaptativas consistentes (pelo que a entrada das crianças na vida social se torna
conflitual). Os papéis parentais apesar de uma aparente rigidez são instáveis, e os sintomas são
frequentemente de carácter psicossocial (delinquência, prostituição, gravidez precoce…),
centrando em si a atenção do resto da família.
Nos resultados das suas investigações, Minuchin revela, ainda, que encontra estes dois tipos
de família em estratos socio-económicos muito baixos, transparecendo a ideia de se tratar de
uma questão cultural, nomeadamente da cultura organizacional de cada família.
Na Teoria de Bowen (in Relvas, 1999, p.55) “a família emaranhada aproxima-se da família
definida pela fusão emocional, i.e., com um «Eu Familiar indiferenciado», enquanto a
desmembrada corresponderia ao sistema e cutt-off.
Guy Ausloos (1981, p.190) propõe uma tipologia que acrescenta o aspecto estrutural,
alargando o conceito de homeostase. Parte, assim, do princípio que a estabilidade homeostática
do sistema é constituída pela tendência para a mudança (morfogénese) e pela tendência para a
manutenção (morfostase), sendo o equilíbrio resultante da tensão entre as tendências opostas.
Assim, a noção de estabilidade dirige-se para um resultado, sendo a tendência um meio de o
atingir. Ausloos (idem, p.195) defende que um desequilíbrio nestas tendências tanto pode
conduzir à patologia, como à «normalização», o que permite dizer que o “aparecimento de uma
perturbação se associa ao grau de activação de uma das tendências, tanto quanto à adequação
dessa activação à situação problemática, “sendo a situação problemática percebida como o que
induz aos movimentos de equilíbrio (homeostase). Distingue então quatro tipos de famílias:
- Sistemas familiares flutuantes (movimento de fraca amplitude num sistema perto do
equilíbrio) ou com interacções flexíveis (mobilidade estrutural em termos de modalidades de
comportamento, bem como rígidas e caóticas) (famílias ditas normais);
- Sistemas familiares convergentes (evoluções diferenciáveis em função do reforço das
ligações entre o subsistema) ou com interacções rígidas (famílias nas quais em certas
condições surge um membro psicótico);
- Sistemas familiares divergentes (evoluções diferenciáveis em função do relaxamento das
ligações entre o subsistema) ou com interacções caóticas (nestas famílias surgem
essencialmente problemas de comportamento);
- Sistemas familiares alternantes ou pendulares. Famílias que alternam entre sistemas
convergentes e divergentes, de acordo com as situações, podendo referir-se como exemplo
grande parte das famílias com toxicómanos.
Beavers (in Relvas, 1999, p.59) defende um modelo que segue essencialmente uma «linha»
da patologia à saúde, a que corresponde um gráfico em flecha com duas dimensões, em cujos
cruzamentos assistimos à progressão das tendências psicopatológicas/sintomatológicas
(descendendo) até à saúde mental. Este modelo é organizado em três grandes níveis: 1) de
famílias na base da flecha, extremamente confusas ou caóticas, com limites precários e
hierarquia inexistente, 2) famílias extremamente autoritárias e 3) mais extremo, com famílias
mais flexíveis e adaptativas. O autor manifesta alguma preocupação no que respeita ao processo
evolutivo das famílias, procurando perceber ou antever a direcção da mudança.
- A triangulação (quando há uma relação estável intergeracional na maior parte das vezes,
ligada com o facto de um dos progenitores estar aliado ao filho e coligado contra o outro
progenitor).
- E a aliança entre os pais (quando esta é exagerada ou inexistente).
Minuchin (1990) reconhece quatro situações indutoras de pressão no seio familiar: (1)
problemas particulares; (2) períodos de transição do ciclo vital; (3) contacto de um membro da
família com a fonte externa de pressão; (4) contacto da família com uma fonte externa de
pressão. A família deverá ser capaz de desencadear mecanismos próprios, que lhe permitem
lidar e ultrapassar estas condicionantes no seu desenvolvimento.
Segundo Steinglass (1978), o significado de “todo” e relações interdependentes é o que
distingue a teoria dos sistemas das outras teorias, sendo assim importante referir os limites, os
subsistemas, as regras da família, a causalidade circular e a homeostase na compreensão do todo
(família) e do seu funcionamento (Thombs, 1999).
Os limites existem então para distinguir os elementos pertencentes ao sistema familiar dos
que não pertencem, assim como caracterizam a qualidade das relações entre o sistema e o meio
e a troca de informação com outros sistemas (Pearlman, 1998). As barreiras ou limites podem ir
de muito difusas a muito rígidas, estando o equilíbrio nos limites claros, que permitem a
individualidade dos indivíduos, mantendo, no entanto, a intimidade. As barreiras difusas
existem em relacionamentos de super envolvimento, em que as famílias não permitem que os
adolescentes se individualizem, o que leva muitos deles a manifestações de revolta pelo abuso
de álcool e drogas (Lawson, Peterson & Lawson, 1983).
A interacção dos vários subsistemas e hierarquias contribuem, também, para a organização
do sistema familiar. Nas famílias disfuncionais, os subsistemas permanecem estáticos e as
crianças/adolescentes assumem papéis inapropriados, como por exemplo os dos pais (Lawson et
al., 1983). As regras pelas quais o sistema se organiza são implícit.as, mais que explícit.as, e
vão definir as condutas apropriadas dentro do sistema.
Quando nos remetemos para famílias quimicamente dependentes, percebemos que contêm
algumas particularidades, existindo regras típicas, como o facto de ser proibido falar
abertamente sobre o abuso de substâncias (Deutsch, 1982); o existir “não sinto, não confio, não
falo”; a raiva só pode ser expressa quando o dependente está a consumir (Lawson et al., 1983);
“só me sinto confortável em expressar a minha afectividade depois de ter consumido”.
Na teoria dos sistemas a causalidade circular é enfatizada, ou seja, as relações entre
elementos de um sistema são influenciadas pelo feedback transmitido, não se tratando de uma
causalidade linear (Pearlman, 1988).
De acordo com Stanton (1980), a homeostase numa família com um dependente químico,
existe com um equilíbrio patológico, em que os membros não dependentes, investem
emocionalmente no membro dependente, mantendo a sua adicção (Pearlman, 1988). O abuso de
químicos desempenha um papel fundamental na manutenção do equilíbrio da família. O
consumo mantém a família num equilíbrio embora patológico, mas relativamente estável, em
que estas famílias optam por um nível baixo de desconforto, mantendo o consumo, de forma a
evitar situações mais dolorosas.
Em suma, podemos dizer que a família não é uma estrutura rígida, mas vai-se moldando, ao
longo do ciclo vital, às novas situações e contingências que se lhe deparam, de forma a
proporcionar a sua adaptação e consequente homeostasia, sendo as diferenças na sua
estruturação, interacção e comunicação o que permite diferenciar os tipos de famílias.
1
Para a construção deste ponto da dissertação baseamo-nos no estudo empírico realizado por Olson e Gorall (2003).
partilhados, embora poucos. Uma relação ligada é caracterizada pelo maior nível de equilíbrio
entre ligação e separação. Uma relação muito ligada tem um proximidade emocional e lealdade
à relação. Há uma ênfase no “estar junto”, o tempo junto é mais importante que o tempo
sozinho. Não há apenas amigos separados, mas também amigos partilhados pelo casal ou
família. Os interesses partilhados são comuns em actividades separadas.
As famílias que comparecem em terapia tendem a posicionar-se num dos extremos ou áreas
de desequilíbrio, áreas de extrema separação ou ligação. Num dos extremos, quando há níveis
elevados de emaranhamento, há um enorme consenso/proximidade emocional no seio da família
e uma diminuta independência. Num outro extremo, sistema desligado, cada elemento da
família “trata da sua vida”, com níveis de ligação e comprometimento muito precários para com
a família.
Os níveis desequilibrados de coesão encontram-se nos extremos, quer seja extremamente
baixo (desligado) ou extremamente elevado (emaranhado). Uma relação desligada demonstra,
frequentemente, separação emocional. Há um envolvimento escasso entre os membros da
família e uma grande separação pessoal e independência. Os indivíduos fazem as suas próprias
tarefas, predomina um tempo, espaço e interesses separados, em que os membros são incapazes
de se apoiar uns aos outros e solucionar problemas em conjunto. Numa relação emaranhada há
um montante extremo de proximidade emocional, e é exigida lealdade. Os indivíduos são
extremamente dependentes de, e reactivos para, uns com os outros. Há uma falha de separação
pessoal e é permitida muito pouca privacidade. A energia dos diversos elementos é focada quase
em exclusividade para dentro da família, sendo raros os amigos individuais exteriores, assim
como os interesses.
Resumindo, níveis de coesão extremamente elevados (emaranhados) ou baixos (desligados)
tendem a ser problemáticos para os indivíduos e para o desenvolvimento de relacionamentos a
longo curso. Por outro lado, relações com níveis moderados tendem a oscilar entre a separação e
aproximação de forma mais funcional. Apesar de não haver em absoluto um nível ideal para um
relacionamento, muitos serão problemáticos se funcionarem nos extremos por longos períodos
de tempo. Também é esperado que os sistemas de casal e familiar oscilem entre os vários níveis
ao longo do tempo.
A Flexibilidade (definição revista) é definida como a qualidade e expressão da liderança e
organização, relação de papéis, relação de regras e negociações. Conceitos específicos
contemplam a liderança (controlo e disciplina) e estilos de negociação, atendendo à forma como
o sistema oscila entre a estabilidade e mudança.
1. Toxicidade
O termo “droga” é bastante vago e equívoco, levando a que se confundam expressões como
“uso”, “abuso” e “dependência” (Carvalho, 1989). Fernandes (1998) define droga como um
conjunto de substâncias químicas que são introduzidas voluntariamente no organismo, com a
finalidade de modificar as condições psíquicas provocadas por uma situação de dependência.
O “uso de drogas” refere-se ao consumo, quase nunca continuado, de determinada droga. O
indivíduo consome-a esporadicamente quando quer e esta não lhe produz problemas de saúde
nem sociais (Carvalho, 1989).
No DSM-IV2 (American Psychological Association - APA), (1996, p.186) reconhece-se que
o “abuso de substâncias é um padrão desadaptativo de utilização da substância manifestado por
consequências adversas, recorrentes e significativas, relacionadas com a utilização repetida das
substâncias”. Ainda no DSM-IV (idem, 180) se refere que a dependência de “substâncias é um
conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e fisiológicos indicativos de que o sujeito
continua a utilizar a substância apesar dos problemas significativos relacionados com esta.”
De acordo com a definição da Organização Mundial de Saúde, de 1969, a
toxicodependência é “um estado psíquico e às vezes físico, resultante da interacção entre um
organismo vivo e uma substância que se caracteriza por modificações do comportamento e por
outras reacções que compreendem sempre um impulso para consumir de modo contínuo ou
periódico, a fim de obter os seus efeitos psíquicos e por vezes para evitar o mal-estar devido à
privação. Este pode ou não acompanhar-se de tolerância e um mesmo indivíduo pode estar
dependente de várias drogas” (cit.. in Fernandes, 1990, p.13).
Segundo Patrício (1997, 45), a dependência que pode ser, psicológica e/ou física, indica a
necessidade tão intensa de consumir uma substância que, se não for satisfeita, se traduzirá por
fortes perturbações físicas e ou/emocionais, em que está sempre presente uma perda de controlo
no consumo do produto, ou seja, o indivíduo tem a sensação de não poder passar sem a
substância.
Alguns estudos cit.ados por Carvalho (1989), mostram o impacto que a droga tem no
indivíduo e no meio que o rodeia, traduzindo que o consumo de droga se encontra positivamente
relacionado com o rendimento escolar do indivíduo e, igual correlação positiva entre o consumo
de drogas e o envolvimento do indivíduo em actividades delinquentes e anti-sociais.
2
DSM-IV – Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais, da Associação Psiquiátrica Americana (tradução
portuguesa, da IV edição).
2. Toxicidade e Família
Muitos têm sido os estudos que procuram analisar o papel da família na génese, manutenção
e tratamento do abuso de drogas. A maioria dos estudos mostra que as relações “positivas”
desencorajam o consumo de substâncias psicoactivas, enquanto a instabilidade familiar e o
divórcio podem promover esse mesmo consumo (Lawrence & Vellerman, 1974).
Já se aceitou a toxicodependência como um problema de desenvolvimento psicológico
iniciado na infância precoce, pelo que era indiscutível o papel desempenhado pelos factores
familiares, de tal forma, que Ganger e Shugart (1996) (in Fleming, 1996) se referiram à
toxicodependência como uma “doença familiogénica”. Num outro sentido, Rosenberg (1971,
cit.. in Fleming, 1996, p.66) diz-nos que “a dependência de droga não é só uma manifestação de
uma perturbação adolescente da personalidade mas é também sintomática de um problema
familiar mais vasto”.
Ainda nesta linha, considera-se que o consumo de droga poderá dar ao toxicodependente
uma imagem de ‘pseudo-individuação’ (Fleming, 1996), ou seja, dá-lhe a ilusão que se encontra
autonomizado e independente dos pais, mantendo-o, concomitantemente ligado, dependente e
fiel à família.
Weidman (1983) diz-nos que o consumidor de drogas é alguém que, desde a infância, nunca
se separou dos pais, mantendo uma relação simbiótica dependente, nunca tendo sido encorajada
a sua individuação na família.
Face ao exposto, a questão que norteia a investigação da família do toxicodependente, recai
na procura de elementos que a permitam diferenciar de outras famílias. Várias investigações têm
sido levadas a cabo, cada uma delas enfatizando determinado aspecto que se considera
diferenciador deste tipo de famílias (Fleming, 1996).
Pensou-se que um elemento diferenciador seria o nível socio-económico da família. Os
estudos preconizados evidenciam tendências divergentes e, por isso, pouco conclusivas. Em
França, Fréjaville, Davidson e Choquet (1977) mostram que a maior parte dos consumidores
regulares de droga pertencem ao extracto da população inactiva. Outros estudos (Pritchard,
Fielding, Choudry, & Cox, 1986) mostram a existência de correlações significativas entre a taxa
elevada de desemprego do pai e o consumo de drogas. Em Portugal estudos antigos,
preconizados por Amaral Dias (1980) e Fleming e Vaz (1981), evidenciam maior taxa de
consumo nos grupos socio-económicos mais elevados.
Outro elemento diferenciador considerado diz respeito à distorção do anel familiar, ou seja,
ao impacto da morte e da separação de membros da família. Estudos mostram (e.g. Amaral
Dias, 1980) que a perda de um ou mais elementos da família (por morte ou separação) se
encontra frequentemente na história de vida de um consumidor. Fleming e Vaz (1981) e
Fleming e colaboradores (1988), demonstram que os adolescentes que revelaram maior contacto
com drogas ilícit.as eram aqueles cujos um ou ambos os pais estavam ausentes, por morte ou
separação. Rosch (1988) também encontrou nas famílias de toxicómanos uma taxa de
separação/divórcio superior à população em geral e, num outro achado, concorda com Angel
(1983), no respeitante ao número de pais e mães de toxicómanos que usam e abusam do álcool e
dos psicotropos, como sendo muito significativos: 15% dos pais abusam do álcool e 29% das
mães abusam de psicotropos.
A qualidade dos laços afectivos tem sido elemento considerado, já que a ausência destes
poderá desencadear um vácuo e isolamento entre os elementos da família (Fleming, 1996).
Relativamente à coesão familiar, vários autores defendem ser fraca e os membros pouco
valorizados e reconhecidos (Cannon, 1976). Vários estudos mostram que os indivíduos
utilizadores de marijuana possuem uma percepção de menor envolvimento afectivo com os seus
pais, do que os não utilizadores (Brook et al., 1981). Por sua vez, Graeven e Shaefer (1978)
mostram que os utilizadores de heroína relatam menos intimidade com os seus pais e mais lutas
entre eles.
Na revisão feita por Jurich e colaboradores (1985), que contemplaram famílias de
consumidores, os autores denotam uma falta de proximidade afectiva e de “mútua rejeição”,
esta última acentuada pela falta de competência parental no exercício dos seus papéis, por
imaturidade ou incapacidade de se adaptar a situações novas. A investigação e a teoria da
vinculação sugerem que os modelos internos da vinculação, do controlo percebido e das
orientações autónomas podem exacerbar ou proteger as reacções dos indivíduos face a
acontecimentos potencialmente ansiógenos.
Estes factores protectores poderão ser considerados como resilientes. Cichetti e Garmezy
(1993) sublinham que o grau de resiliência de um indivíduo é considerado uma função de
factores e processos protectores internos e externos. Neste âmbito, o estudo da vinculação nos
comportamentos aditivos envolve uma atenção sobre os factores que poderão, de alguma forma,
proteger o indivíduo do risco da toxicodependência. Sob o ponto de vista dinâmico, os
consumos aditivos visam proteger o indivíduo contra ameaças do mundo externo, contra a
instabilidade e a desorganização da vida emocional (Ribeiro, 1998), já que pode ser visto como
uma tentativa de reforçar as suas defesas contra as vivências da fragilidade do self.
Como tal, a necessidade de estabelecer vínculos afectivos no seio da família é a primeira
relação onde tudo ganha sentido. Assim, Soares (1992) considera que pais disponíveis e
carinhosos contribuíam para a formação de um padrão seguro, sendo esta necessidade intrínseca
o motor do desenvolvimento da identidade e do auto-conhecimento da criança. Também
Guedeney e Guedeney (2004) realçam a importância da transmissão intergeracional dos
vínculos entre pais e filhos, e questionam a necessidade de se inovar na clínica da primeira
infância.
Já Bowlby (1998) argumentava, na sua teoria, que os padrões de vinculação se transmitem
mais ou menos fielmente de geração em geração, uma vez que as crianças tendem
involuntariamente a identificar-se com os pais e, portanto, quando se tornam pais adoptam os
padrões que tiveram experiência na infância. A formação de estilos e aptidões parentais
concretas devia desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de factores de protecção
contra a toxicodependência, mesmo na primeira infância (Burkhart, 2000).
A qualidade de vinculação é um factor importante na vida do toxicodependente, uma vez
que o desapego afectivo do indivíduo, face às infrutíferas tentativas de ‘reconciliação afectiva’
com a figura significativa, acaba por ser extensível a todos os objectos do meio, junto dos quais
o indivíduo poderia encontrar uma relação satisfatória. No entanto, a sua extrema sensibilidade
relativamente a todo o sistema de conflito ambivalente leva-o a procurar pessoas ou actividades
às quais possa aderir, sem que estabeleça, contudo, uma ligação afectiva verdadeira (Farate,
2000).
Duncan Stanton e colaboradores (1982) concluem, numa revisão da literatura, que a maior
parte dos trabalhos sobre a toxicomania masculina refere a existência de famílias em que a mãe
está envolvida com o jovem numa relação hiperprotectora, permissiva e aglutinada, enquanto o
pai estaria ausente, seria fraco e não envolvido na relação com o filho. Bravo e colaboradores
(1982, p.167-182) concordam com esta caracterização: “Geralmente o progenitor super-
envolvido e indulgente é do sexo oposto ao do toxicómano e verificam-se frequentemente
situações de incesto manifesto”. Se nos anos 70 os pais tinham estes papéis e implicações na
dinâmica familiar, de há uns 20 anos para cá, segundo a teoria dos sistemas familiares, cada
membro afecta e é afectado pelos outros, assumindo a noção de causalidade uma dimensão
circular (Angel & Angel, 2005).
Os resultados destas investigações sugerem um denominador comum, que é a existência de
fracos laços entre o sistema parental e os filhos consumidores. Inúmeros estudos mostraram a
influência de variáveis ligadas ao meio familiar no consumo de drogas na adolescência, sendo a
confiança nos pais (correlação negativa) e o progresso na escola (correlação negativa) os
factores altamente correlacionados com o uso de drogas. A vinculação aos pais ou as relações de
confiança no seio da família surgem como factores dissuasivos do consumo de drogas,
demonstrando que a estabilidade e bom ambiente familiar, o diálogo entre pais e filhos, são
alguns factores de protecção eficazes relativamente ao consumo de drogas (Angel & Angel,
2005).
Stanton e Todd (1982), por outro lado, consideram que a dependência à droga pode
funcionar como um mecanismo estabilizador quando a homeostasia familiar se encontra em
ruptura. Outros estudos têm vindo a confirmar esta suposição (Reilly, 1975; Weidman, 1983;
Leyine, 1985) partindo da hipótese de que a função da toxicodependência é proteger o laço
marital, pois os conflitos do casal são evitados, quando a atenção se centra no comportamento
“incompetente” e “doente” do filho toxicodependente.
Os conflitos familiares são entendidos na relação entre os pais, pela autoridade; em termos
intergeracionais dos pais com os seus próprios pais, sendo que o motivo é o filho, ponto onde se
vão fixar e desenvolver os conflitos (Angel & Angel, 2005). Segundo os autores, estes pais
manifestam uma enorme incapacidade de se posicionarem como pais e o filho é
instrumentalizado nestas situações. Na origem de tudo isto são encontradas, muitas vezes,
carências afectivas sofridas pelos pais, daí surgir a sua vulnerabilidade e necessidade de
protecção, que vai aumentar a tendência conflitual. Assim, torna-se impossível a autonomização
do filho adolescente, pois este tornou-se um instrumento necessário aos pais para exprimir a sua
posição na estrutura familiar. O jovem pode, desta forma, procurar os consumos de droga como
uma solução para o seu sofrimento, aquele consumo, por sua vez vai transformar-se no motivo
do conflito e vai permitir ao jovem fazer-se reconhecer como uma pessoa. Esta situação ainda
pode funcionar como auxílio à não fragmentação da família, uma vez que esta se junta para lutar
em torno do problema do toxicómano.
Outro aspecto, ainda, diz respeito ao padrão de comunicação utilizado no seio da família.
Algumas investigações têm vindo a mostrar que as falhas na capacidade de comunicação entre
os membros se afiguram um aspecto disfuncional. Os adolescentes consumidores sentem que os
pais bloqueiam a comunicação e os pais negam esta falha para evitar ouvir coisas negativas ou
desagradáveis (Jurich, Polson, Jurich & Bates, 1985).
Stanton e Todd (1982) constatam que as famílias dos consumidores de heroína apresentam
papéis familiares rígidos e estereotipados, bem como padrões de comunicação mais rígidos.
Kirschenbaum, Leonoff e Maliano (1974) descrevem os padrões de comunicação e interacção
característicos de famílias de toxicodependentes, dos quais constam grandes níveis de conflito,
como estilo autoritário dos pais, falta de intimidade, crítica frequente ao filho, isolamento
emocional, falta de prazer na relação. A depressão é também frequente, assim como a tensão, a
coligação dos pais contra o jovem e os conflitos sexuais na díade parental (Ferros, 2003).
3
“Aparente perseverança com que alguns familiares, normalmente cônjuges e companheiros(as), se dedicam aos parentes com
problemas de dependência, alcoolismo, jogo patológico ou outro transtorno grave da personalidade.”
http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=392&sec=34 Psiqweb (01.06.2006)
Por outro lado, o consumo de drogas nos jovens está directamente relacionado com o facto
de os pais consumirem ou não drogas e a frequência com que o fazem (Weiner, 1995).
A literatura demonstra que o beber excessivo por parte dos pais, e o vínculo familiar são
determinantes no consumo de álcool dos adolescentes (Kuntshe & Kuendig, 2006). O vínculo
familiar é definido como o sentimento de proximidade e intimidade de uns para com os outros
(filhos para com os pais) e reflecte-se na monitorização percebida, na comunicação, no
envolvimento e nas actividades realizadas em conjunto na família, que tem mostrado
repetidamente uma relação negativa com os consumos de álcool pelo adolescente (Bahr et al.,
1995; Vakalahi et al., 2001; Kuntshe & Kuendig, 2006). Há ainda uma expectativa em que os
adolescentes que percepcionem os seus pais como bebedores excessivos, bebam mais
frequentemente e se embebedem mais regularmente que os seus pares que não tenham essa
percepção (Smith et al., 1999; White et al., 2000; cit... in Kuntshe & Kuendig, 2006). Masten e
Powell (2003, cit.. in Kuntshe & Kuendig, 2006) referem o vínculo familiar como um indicador
de qualidade parental, aparentemente um mecanismo potencialmente poderoso no
desenvolvimento ou fortalecimento de recursos e competências adaptativas. Zhang, Welt,
Wiekzorek (1999) observaram que o consumo de álcool por parte dos adolescentes diminui com
o aumento do vínculo familiar, mesmo que a família demonstre níveis elevados de consumo de
álcool. No entanto, nenhuma relação foi encontrada em famílias com níveis baixos de
consumos. Os autores concluíram que um elevado nível de vinculação familiar contrabalança os
efeitos negativos do beber excessivo por parte dos pais.
Efectivamente, em alguns estudos (Gorsuch & Butler, 1976; Kandel, Kesseler, Margulies,
1978; Barret, 1990; Johnson, 1996; citados por Beman, 1995) é sugerido que em famílias onde o
uso de drogas é elevado e onde se verificam disfunções familiares, os indivíduos têm mais
probabilidade de se envolverem com esta substância.
Van der Vorst e colaboradores, (2006, in Chassin & Handley, 2006), num estudo
longitudinal afirmam não ter encontrado ligação parental como prospectiva e preditora de
hábitos de bebida ou como moderador do efeito do controlo parental no comportamento de
beber por parte do adolescente. Isto é surpreendente atendendo a que, teoricamente, a ligação
parental deveria aumentar o poder das mensagens de sociabilização parentais, pois as crianças
seguramente ligadas acreditam que os pais os conduzirão apropriadamente e são mais receptivas
ao controlo parental (Grusec & Goodnow, 1994; Grusec et al., 2000, in Chassin & Handley,
2006). Noutros estudos longitudinais, o suporte parental e coesão familiar servia como factor
atenuador dos efeitos de fumar e beber dos pais nos mesmos comportamentos nos filhos
(Doherty & Allen, 1994; Urberg et al., 2005, in Chassin and Handley, 2006). Andrews, Hops e
Duncan (1997, in Chassin and Handley, 2006) verificaram que um relacionamento positivo com
os pais fortalecia o efeito do consumo de substâncias por parte dos pais e no consumo de
substâncias por parte dos adolescentes (com algumas combinações de idade e género). No
entanto, a ligação parental ou envolvimento aos pais pode reduzir a exposição ou o impacto do
uso de drogas pelos pares no consumo por parte do adolescente (Darling & Cumsille, 2003;
Marshal & Chassin, 2000, in Chassin e Handley, 2006). Portanto, quer a influência da ligação
dos pais sobre os consumos do adolescente seja positiva, quer seja negativa, dependerá do
próprio consumo dos pais, das suas mensagens de socialização, das influências dos pares e das
características individuais da criança. Patock-Peckham e Morgan-Lopez (2006, in Chassin e
Handley, 2006), demonstram que a influência da família continua a predizer o comportamento
de beber mesmo na passagem a adultos. Sugerem ainda que estes efeitos contínuos se devem,
em parte, às influências parentais no desenvolvimento da auto-regulação (impulsividade). É
uma ligação notória entre as influências familiares e o risco disposicional para o abuso de
substâncias.
Ainda comparado com o abuso do álcool, o abuso das drogas tende a ser mais fortemente
relacionado com o baixo controlo do comportamento (desinibição, McGue et al., 1999);
impulsividade e baixos valores de amabilidade (Chassin et al., 2004, cit. in, Chassin et al.,
2006). No entanto, o abuso de álcool, na ausência de abuso de drogas, tende a estar mais
fortemente relacionado com a emocionalidade negativa (McGue et al., 1999, in, Chassin et al.,
2006) e com o neuroticismo (Chassin et al., 2004, in, Chassin et al., 2006). Estes últimos
autores descobriram que a impulsividade servia de mediadora entre o alcoolismo parental e a
dependência de drogas, com ou sem dependência de álcool, mas sem ligação ao consumo de
álcool por parte dos pais à dependência de álcool por si só.
Relativamente às interacções familiares horizontais, inicialmente exploradas por Coleman
(1979, in Angel & Angel, 2005), é referida a importância do subsistema familiar constituído
pela fratria. Pesquisas clínicas demonstraram que os irmãos de cocainómanos e heroinómanos
são mais frequentemente alcoólicos ou toxicómanos do que os do grupo de controlo. Existe
ainda, neste subsistema familiar, uma forte prevalência de patologias psiquiátricas graves nos
irmãos de toxicómanos. Isto remete-nos para a noção de “contágio” familiar das perturbações
psicopatológicas, elegendo a fratria como alvo prioritário da prevenção primária (Angel &
Angel, 2005).
A este respeito, Tarter e Schneider (1976, in Lawson, 1992) identificaram catorze variáveis
que influenciam a iniciação, continuação e interrupção do consumo de drogas, entre as quais
Segundo Ferros (2003), alguns jovens de famílias com pais e irmãos consumidores são
testemunhas passivas desde a infância e descrevem os consumos como algo normal, tratando-se
de um comportamento modelado e associado a sentimentos de pertença.
Relativamente a eventos significativos, Ferros (2003) refere a mobilidade residencial como
prejudicial no estabelecimento e manutenção de laços sociais e comunitários, contribuindo para
o isolamento e marginalização social com risco de aproximação a pares marginais.
Murphy (1984, in Fleming, 1996) descreve dois tipos básicos de famílias disfuncionais onde
haveria probabilidade de ocorrência de comportamentos de consumo: (1) sistema familiar
dominante/submissivo (onde o controlo é assumido pelos pais, havendo crianças pouco
afectuosas, inibidas, com mínima proximidade, deixando-lhes pouco espaço para a sua
individualidade) e (2) sistema familiar conflitual crónico (onde os pais disputam abertamente o
poder, pelo que cada decisão torna-se inevitavelmente numa luta pelo controlo).
Em estudos desenvolvidos em famílias de toxicodependentes constata-se que estas se
relacionam através de um mecanismo que envolve pai, mãe e o filho toxicodependente, num
triângulo designado de “perverso”4 (Fleming, 1996). Ainda nesta linha de pensamento, Farate
(2000) considera que o gesto adictivo não é considerado uma manobra de rejeição interna do
afecto e de tudo aquilo que ele implica e é, por isso, um arranjo relacional perverso.
Pinheiro e colaboradores, (2006) encontraram grande percepção da existência de
mecanismos e triangulação entre três elementos da tríade familiar, indicando um grande risco de
disfuncionamento ao longo da proximidade emocional. Emaranhamento, fusão interoperacional
e triangulação são as três dimensões que numericamente contextualizam esta disfunção. Neste
seguimento foi encontrada uma disfunção familiar específica: as partições hierárquicas e de
poder não são claras, em que uma pode encontrar alianças intergeracionais que leva à formação
de fronteiras difusas, trazendo dificuldades no eixo emocional de proximidade-distância, mas
também no eixo da dominação-submissão, bem como nas dimensões da intimidação
interoperacional. Como postulado por Bowen (1978, cit. in Pinheiro et al, 2006) a relação
triangular entre pais e criança constitui uma unidade estrutural que contribui para a
determinação da autonomia individual. Separação e individuação pode ser arriscado e perigoso
para a homeostasia familiar, e ter um filho adicto à cocaína pode ser fundamental para a
4
Haley descreve “triângulo perverso” como “um disfuncionamento familiar específico (…) onde a hierarquia e a repartição do
poder são confusas, conduzindo a inversões de posição relativamente às fronteiras intergeracionais” (Miermot, 1987, cit. in
Fleming 1996, 76). Haley (1976, cit. in Fleming 1996) refere que as características deste triângulo são o facto das pessoas que
nele interagem não serem todas da mesma geração, existindo transgressões na hierarquia estabelecida entre gerações. No
processo de interacção, duas pessoas de gerações diferentes formam uma coligação (união de duas pessoas contra uma terceira),
contra o seu próprio par ou cônjuge. Por fim, a coligação entre as duas pessoas é denegada desde que alguém procure revelá-la,
ela está presente no plano de comunicação, mas índices metacomunicativos mascaram a sua importância e escondem a sua
existência.
manutenção (embora patológica) da coligação familiar (Friedman et al., 1987; Hoffman, 1981;
Mackensen e Cottone, 1992, & in Pinheiro et al., 2006).
Não são poucas as evidências que justificam o sublinhar das práticas parentais como
importantes na compreensão da etiologia do uso de substâncias aditivas na adolescência. Um
dos comportamentos parentais contra o uso de substâncias aditivas é o suporte (Needle, Glynn
& Needle, 1983; Simons & Robertson, 1989), que inclui o orgulho, encorajamento,
manifestação de afecto físico, acompanhamento, demonstração de aprovação, amor e aceitação
(Barnes, 1990).
Adlaf e Ivis (1996) mostram que as relações e interacções no seio da família têm um grande
impacto no uso de drogas, sendo os factores de risco familiar (i) os conflitos na família, (ii) uma
disciplina parental muito permissiva, severa ou inconsistente, (iii) uma fraca vinculação
parental, (iv) situações de violência conjugal ou familiar, (v) consumo de drogas pelos pais e/ou
irmãos e a presença nos pais de psicopatologia.
Para Clayton, um factor de risco é definido como um atributo individual, uma condição
substancial ou um ambiente ou contexto que incrementam a probabilidade do abuso de
substâncias psicoactivas. Um factor de protecção é aquele atributo individual, condição
situacional, ambiente ou contexto que reduz a probabilidade de tais circunstâncias (in Mejía
Motta, 1998). Para Kandel (1978) um dos principais factores protectores é o afecto e a
proximidade aos pais, especialmente à mãe, mais que o controlo da conduta e a adesão ao grupo
social convencional (in Mejía Motta, 1998).
Entre os predictores do abuso de drogas nos adolescentes encontram-se factores como o
grau de intimidade de relação com os pais (Brook et al., 1977, 1978), o volume da relação
(Gursuch & Butler, 1976) e a reacção ao controlo parental (Kandel et al., 1978) (in Motta,
1998).
Para Ledaer e Jackson (1992), a consistência, responsabilidade e segurança nas relações
familiares facilitam o desenvolvimento dos indivíduos sãos dentro do grupo, trazendo-lhes
estabilidade, previsibilidade nas reacções e consequências de diferentes comportamentos e
situações, sensações de entendimento e controlo do meio em que se vive e transparência nas
responsabilidades que cada um dos indivíduos desempenha na sua família (in Mejía Motta,
1998).
O estado de saúde física e psicológica do indivíduo encontra-se determinado, em grande
medida, pelas condições da realidade social que o rodeiam. Sendo a família o círculo social no
qual se dá maior número de relações de carácter afectivo e o principal contexto de
aprendizagem de um indivíduo, é possível afirmar que o comportamento deste depende, em
grande medida, do bom funcionamento da situação familiar (Cusinato, 1992, in Mejía Motta,
1998).
Segundo Umbarger (1983), na família começa-se a construir uma série de significados que
vão ter influência sobre a maneira como o indivíduo interpreta a realidade. Ou seja, no consumo
de substâncias psicoactivas, a família pode ser o primeiro meio onde se geram formas de actuar
e entender a realidade, por isso, ao estudar a família, podem-se explicar muitos dos
comportamentos dos seus membros (in Mejía Motta, 1998).
Para Recio e colaboradores (1991), existe uma alta correlação entre o consumo de
substâncias psicoactivas e insatisfação nos jovens, face às relações familiares. A qualidade da
relação do adolescente com os seus pais é o factor protector mais eficaz contra o consumo de
drogas (in Motta, 1998).
De acordo com a Teoria Sistémica, “a família é considerada como o sistema relacional
primário no processo de individuação, crescimento e mudança do indivíduo, imerso no seio do
processo de individuação, crescimento e mudança de todo o sistema familiar” (Malagoli, 1983,
in Motta, 1998), processos esses que podem ser bloqueados.
A família organiza-se em torno dos consumos de uma forma em que a “cegueira familiar5”
mantém a homeostasia, não havendo grandes flutuações do sistema e não tendo este de se
deparar com algo que vem desequilibrar ou desorganizá-lo. A família usa o segredo tanto no seu
seio, como com o meio exterior, nomeadamente com o terapeuta, de forma a paralisar a história
familiar, ao mesmo tempo que impede a evolução da própria família (Alarcão, 2000).
Relativamente à evolução do consumo de drogas, Frazão e colaboradores (2005) referem
diversos factores com influência na manutenção e impulsionamento do comportamento adictivo.
Tais factores são um casamento precoce, não preparado e planeado, em que face ao seu
insucesso os consumos adquirem novas proporções. Da mesma forma que ao observar a
repetição do “modelo familiar” ao longo das gerações no que respeita à parentalidade e
conjugalidade, os padrões são recorrentes, certos autores explicam este mecanismo de
transmissão intergeracional por um processo e identificação. Segundo Faimberg, cit.ado por
Prieur (1999), esta identificação (que só se conheceu pela memória dos outros) é possível por
um processo denominado pelo autor de “visão telescópica geracional familiar”, exprimindo a
experiência de ver, quer de perto, quer de longe, o que pertenceu aos antepassados.
Os relacionamentos amorosos, vivência destes com uma componente de dependência
afectiva muito grande (possessividade, obsessão, compulsão para a morte se perde o
companheiro), relacionamentos que envolvem violência verbal e física, desilusões amorosas que
5
Este termo designa a incapacidade de um familiar de um toxicómano dar uma interpretação coerente às mudanças que ocorrem
face a uma situação de dependência (Angel & Angel, 2005).
levam os sujeitos a sentir insegurança e falta de confiança nos outros, bem como interrupções
voluntárias da gravidez e dependência de sexo (relacionamentos extraconjugais) foram factores
encontrados por Frazão e colaborares (2005) como potenciadores dos consumos.
No que remete à personalidade, Frazão e colaboradores (1995) encontraram factores como a
forma de lidar com o corpo e identidade sexual. Segal (1983), por sua vez, refere a importância
de construtos da personalidade que podem ser chamados rebeldia, procura de autonomia,
liberalismo, vontade de ter novas experiências e luta pela independência. Num estudo deste
autor, que pretendeu perceber quais as variáveis da personalidade que distinguiam jovens que
consomem dos que não consomem drogas, sendo preponderante nos jovens consumidores a
“procura de autonomia”, o “deixar-se ir”, “impulsividade, arriscar”, “não procurar e
aparentemente necessitar de aprovação social”, “não conformismo” e “tendência para a
extroversão”.
Para Duterte e colaboradores (2003) existem muitos grupos de jovens e subculturas que
idealizam o que vai contra a norma, principalmente se isso reflectir as suas percepções da sua
própria identidade.
Outro grupo de factores foi o que se relacionou com problemas associados à sexualidade
como a identidade sexual, iniciação da vida sexual, dificuldades em lidar com o próprio corpo,
violação sexual. Ainda relativamente à identidade, Frazão e colaboradores (2005) referem o
auto-conceito, a existência de uma baixa auto-estima, o sentimento de diferença, a insegurança,
a não-aceitação de si mesmo, a carência afectiva, o abandono, a solidão, a incompreensão, a
dificuldade de estabelecer amizades, como situações para as quais, os entrevistados afirmam ter
usando a droga como factor de integração.
Neste contexto, Duterte e colaboradores (2003) referem a associação entre o uso e abuso de
drogas e a depressão feita em inúmeros estudos, em que viver com uma visão fatalista da vida
poderá ter sido uma forma dos participantes, no seu estudo, darem significado e excit.ação às
suas vidas; de sentirem que se não causam impacte na vida, provavelmente poderão causar
impacte na morte.
Num estudo de Elkins e colaboradores (2006), as perturbações em criança envolvendo baixo
controlo comportamental, desordem de conduta, desordem oposicional desafiante, desordem de
hiperactividade ou défice de atenção, mostraram associações preditivas com um contexto
precoce de problemas com bebida (antes dos 15 anos; McGue et al., 2001, in Elkins et al. 2006),
níveis elevados de uso de substâncias na adolescência (Molina & Pelham, 2001, in Elkins et al.
2006), desenvolvimento de problemas com substâncias durante a adolescência (Boyle, et al.,
1992; Disney et al. 1999; King et al., 2004; in Elkins et al. 2006), bem como uso e abuso de
substâncias em jovens adultos (Chassin et al., 1999, in Elkins et al. 2006). Indicadores da
personalidade de baixo controlo comportamental e impulsividade também mostraram predizer o
contexto do uso de substâncias e o seu crescimento e escalada para abuso patológico de
substâncias. Num estudo prospectivo, a procura de novidade com onze anos de idade, funcionou
como preditor para o abuso de álcool em jovens adultos (Cloninger et al.,1988, in Elkins et al.
2006).
Em síntese, podemos analisar alguns elementos da estrutura e do funcionamento da família
que integra um elemento toxicodependente e que nos permite ‘categorizar’ o setting familiar do
toxicodependente.
Em termos estruturais, encontramos fronteiras ou limites pouco claros entre os subsistemas
familiares, inversão da hierarquia familiar, ausência de ligação afectiva ou distante na díade pai-
-filho, existência de coligação entre um dos progenitores e o filho toxicodependente em
oposição ao outro progenitor (Fleming, 1996).
A nível de funcionamento, encontramos alcoolismo ou abuso de drogas nos pais, separação
precoce do meio familiar e incapacidade de resolução do luto, antecedentes psiquiátricos nos
pais, grandes conflitos intrafamiliares, problemas conjugais graves, padrões de comunicação
fracos ou ausentes, laços afectivos negativos, ausentes ou inexistentes (Fleming, 1996).
As famílias dos toxicodependentes não são necessariamente disfuncionais, são sistemas
complexos, apresentando dificuldades comunicacionais e não conseguindo descobrir os seus
próprios recursos para crescer (Relvas, 1998).
O tóxico tem assim um valor funcional para o sistema familiar, pois a droga faz
aparecer/desaparecer o que se quer mostrar ou esconder. A droga manifesta um valor
comunicacional que se pode descrever a nível semântico (o que é que o consumo significa para
cada um), a nível sintáctico (o que é ou não suportado pela família), e a nível pragmático
(implicações do comportamento adictivo) (Ausloos, 1981a). A função “sintomática” da
toxicodependência, nestas famílias, tem a ver com a separação/autonomização e a deslealdade
ao grupo que ela pode significar. O consumo do tóxico na adolescência contribui para o
evitamento (da família ou jovem) do cumprimento das tarefas desenvolvimentais desta fase e o
ciclo normativo não segue o caminho esperado (Relvas, 1998).
Apesar de conseguirmos encontrar alguns elementos de estrutura e funcionamento que
caracterizam a família com elementos toxicodependentes, devemos ter parcimónia na sua
categorização, já que muitos destes elementos são coincidentes com certas culturas existentes
(Gameiro, 1994).
- Matlack e colaboradores, (1994) usaram a escala FACES III num estudo, e a coesão
familiar foi definida por dois extremos. Alta coesão familiar parecia produzir uma super
identificação com a família resultando numa extrema integração. No outro extremo da escala
estava o desligamento, caracterizando a baixa integração. Um equilíbrio entre a estrutura e a
flexibilidade foi encontrado na origem de um óptimo funcionamento familiar, enquanto os
extremos de rigidez e caos determinaram um declínio no funcionamento familiar.
- Schill e colaboradores, (1991) concluíram que uma personalidade auto-derrotista estava
ligada ao ambiente familiar com falta de coesão.
papéis. Esta definição conceptual de flexibilidade é revista para reflectir mais correctamente o
que está a ser (e foi no passado) medido pelas escalas da flexibilidade em ambas – FACES IV e
Clinical Rating Scale (CRS). A terceira dimensão do Modelo Circumplexo, a comunicação, é
definida como competências comunicacionais positivas utilizadas no sistema de casal e familiar.
É uma dimensão facilitadora e é através do uso de competências de comunicação de forma
positiva que os casais e as famílias alteram os seus níveis de coesão e flexibilidade.
A hipótese central do modelo é que cada uma das dimensões, coesão e flexibilidade, tem
uma relação curvilínea com o funcionamento familiar (os valores extremos em cada dimensão
estão associados a funcionamentos familiares problemáticos, enquanto os níveis moderados
estão relacionados com o funcionamento familiar saudável), enquanto a dimensão comunicação
tem uma relação positiva linear com o funcionamento familiar (quanto maior for a comunicação
familiar melhor o funcionamento da mesma, e vice-versa).
Com base em críticas feitas ao modelo ao longo dos anos, foram feitas alterações nas
definições conceptuais e operacionais das dimensões coesão e flexibilidade, bem como no
instrumento de auto-diagnóstico FACES.
ficando o número de factores limitado a cinco. Os itens com valores abaixo de .30 e os que
cruzam foram removidos. O número de itens foi limitado a sete e este foi o número máximo
aceitável de itens para a escala emaranhada e foi desejado que tivesse um número uniforme de
itens para cada escala. Os itens de valores mais baixos remanescentes foram então removidos,
de modo a formar escalas uniformes de sete itens.
Tabela 1: Análise factorial de todos os itens da FACES IV (adaptado de Olson, Gorall e Tiesel, 2006,p.10)
diversos itens. Nenhum item teve mais de 80% de índice de resposta para uma resposta de uma
só opção.
As escalas desenvolvidas para formar o instrumento FACES IV corresponderam
directamente a quatro destes cinco factores. A excepção foi o factor 1, que contém itens que
abrangem coesão elevada e muito baixa, tendo este sido dividido em duas escalas baseadas nos
itens positivos e negativos deste factor. As escalas foram rotuladas segundo os aspectos da
coesão e flexibilidade que foram concebidas para abranger. As escalas emaranhada, coesão e
desligada foram desenhadas para abranger níveis de coesão elevados, moderados e baixos,
respectivamente; as escalas caótica, flexível e rígida foram desenhadas para abranger valores de
flexibilidade elevada, moderada e baixa, respectivamente.
Tabela 2: Fidelidade de Alpha na FACES IV e Escalas de Validação (adaptado de Olson, Gorall & Tiesel, 2006,
p.13)
Escala Alpha de Cronbach
Escalas da FACES IV --
Desiquilibradas --
Desligada .87
Emaranhada .77
Rígida .83
Caótica .85
Equilibradas --
Coesão equilibrada .89
Flexibilidade equilibrada .80
Escalas Validadas --
Satisfação Familiar 93
SFI .93
FAD .91
Tabela 3: Matriz de correlação das escalas familiares (adaptado de Olson, Gorall & Tiesel, 2006,p.14)
Escala I. II. III. IV. V. VI. IX. X. XI.
I. Desligada 1
II. Coesão -.80** 1
III. Emaranhada .26** -.14** 1
IV. Rígida .28** -.14** .38** 1
V. Flaxibilidade -.50** .60** .02 -.16** 1
VI. Caos .59** -.53** .36** .19** -.30** 1
IX. SFI -.81** .88** -.16** -.12** .68** -.62** 1
X. FAD (1) -.82** .85** -.27** -.20** .63** -.63** .90** 1
XI. Satisfação familiar -.73** .80** -.17** -.12** .66** -.58** .86** .84** 1
** Correlação significativa quando p < .01
(1) a pontuação do FAD foi revertida para simplificar interpretação, valores mais altos indicam melhor funcionamento.
Tabela 4: Análise Discriminativa das famílias problemáticas e não problemáticas (adaptado de Olson, Gorall &
Tiesel, 2006, p.15)
Escala Topo vs Fundo Topo vs Fundo Topo vs Fundo Topo vs Fundo
50% em SFI e 40% em SFI e 50% na Satisfação 40% na Satisfação
FAD FAD familiar familiar
N para cada grupo Topo = 199 Topo = 142 Topo = 231 Topo = 211
Fundo = 192 Fundo = 149 Fundo = 228 Fundo = 177
Removidos = 76 Removidos =178 Removidos = 10 Removidos = 81
Escalas desiquilibradas - - - -
Desligada 86 89 76 82
Caótica 80 85 60 77
Emaranhada 64 65 53 61
Rígida 54 55 51 52
Escalas Equilibradas - - - -
Coesão 89 94 80 87
Flexibilidade 74 80 72 76
Seis escalas juntas 94 99 84 87
Valores das dimensões - - - -
Rácio Coesão 87 91 75 79
Rácio Flexibilidade 78 86 75 77
Rácio Total 85 91 80 83
Escalas de Validação - - - -
SFI # # 82 86
FAD # # 82 87
Satisfação Familiar 88 93 # #
# Não reportado pois os grupos para a análise discriminativa são baseados nas mês escalas.
PERCENTAGEM Figura 1: Perfil da FACES IV: seis tipos familiares (adaptado Olson & Gorall, 2006,p.7)
Os seis tipos e família variam do mais saudável e feliz para o mais problemático e não
saudável: equilibrada, rigidamente coesa, mediana, flexibilidade desequilibrada, caoticamente
desligada e desequilibrada (ver figura 1). O desenvolvimento dos seis tipos de famílias baseados
nas pontuações das escalas providencia uma nova tipologia familiar para o estudo e análise das
relações familiares. A versão anterior do modelo Circumplexo permite uma análise das famílias
que podem ser categorizadas como equilibradas, desiquilibradas e medianas. Esta nova tipologia
irá permitir uma comparação dos seis tipos de família, atendendo a uma grande variedade de
critérios e variáveis. Famílias individuais podem ser comparadas com estes seis tipos familiares
e a análise pode ser feita relacionada com outras características destes seis tipos familiares.
Tabela 5: Pontuações de validação para os seis tipos familiares (adaptado de Olson & Gorall, 2006,p.9)
Equilibrada Rigidamente Médias Flexivelmente Caóticamente Desiquilibrada Entre Termo
Escalas de
n=99 eqibilbradas desiquilibrada desligada grupos Linear
validação
n=103 n=72 N=50 n=63 n=57 F F
SFI 74.9 71.2 65.9 59 48 46 171.6* 828.7*
(4.7)a (5.6) (6) (8.1) (10.2) (12.9)
FAD** 15.8 18.6 21.5 29.1 32.5 35.5 139.8* 680.1*
(3) (3.6) (4.4) (6.8) (7.6) (9.7)
Satisfação 43.6 41.4 37.4 34.1 28.3 25.8 112* 545.9*
familiat (4.2) (4.3) (5.3) (5.9) (7.3) (8.1)
Desvios-padrão contidos entre parêntesis.
* p < .001 ** Pontuações mais baixas indicam um funcionamento mais saudável
Figura 2: Modelo Circumplexo e Pontuações da FACES IV (adaptado de Olson & Gorall, 2006,p. 5)
Tabela 6: Seis tipos familiares – Rácio de Coesão, Rácio de Flexibilidade e Rácio Total Circumplexo (adaptado de
Olson & Gorall, 2006,p.11)
Rácio
Tipologia
Rácio de Coesão (1) Rácio de Flexibilidade (2) Circumplexo
Familiar
Total (3)
Coesão Desligado Rácio de Flexibilidade Rígifo Rácio de
equilibrada Emaranhado Coesão Equilibrada Caótico Flexibilidade
Equilibrado 83 27/38 2.6 80 35/33 2.4 2.5
Rigidamente 72 39/58 1.5 57 76/38 1 1.3
equilibrado
Mediano 47 55/53 .87 47 28/45 .77 .82
Flexivelmente 38 76/44 .63 68 74/81 .87 .75
desequilibrado
Caoticamente 18 81/44 .29 25 28/79 .47 .38
desligado
Desequilibrado 18 83/69 .24 19 81/75 .24 .24
(1) Rácio de Coesão = Coesão equilibrada / (Desligado + Emaranhado / 2)
(2) Rácio de Flçaxibilidade = Flexibilidade equilibrada / (Rígido + Caótico / 2)
(3) Rácio Circumplexo Total = Rácio de Coesão + Rácio de Flexibilidade / 2 ou
(Coesão equilibrada + Flexibilidade equilibrada / 2) / (Desligado + Emaranhado + Rígido + Caótico / 4)
Figura 3: Perfil da FACES IV: Equilibradas versus Caoticamente Desligadas (adaptado de Olson & Gorall,
2006,p.12)
A Faces IV permitiu alcançar muitos dos objectivos para a revisão do instrumento. A análise
de cluster foi conduzida a revelar seis tipos familiares baseados nas seis escalas familiares
desenvolvidas. Para além de providenciar uma base de comparação de dados familiares
individuais, o desenvolvimento destes seis tipos familiares baseados em pontuações da escala
providencia uma nova tipologia familiar para o estudo e análise das relações familiares. Os
autores acreditam que o resultado final é de um instrumento que será útil em ambos os campos,
da clínica e pesquisa. As hipótese testam que as famílias equilibradas são mais saudáveis e
funcionais que os sistemas familiares desequilibrados, através das seis escalas e dos valores dos
rácios.
Os clínicos quererão explorar as escalas individualmente, usando a especificidade oferecida
pela combinação das escalas equilibradas e desequilibradas para auxiliar a planear, seguir e
avaliar a terapia que realizam com as famílias.
A versão anterior do Modelo Circumplexo permitiu uma análise das famílias que podiam ser
categorizadas como equilibradas, desequilibradas ou medianas. Esta nova tipologia permite a
comparação de seis tipos familiares diferentes, atendendo a uma vasta variedade de critérios e
variáveis.
B. ESTUDO EMPÍRICO
1. PERCURSO METODOLÓGICO
Tabela 7: Perguntas correspondentes a cada subescala da FACES IV (versão adaptada Olson & Gorall, 2006).
Coesão Equilibrada
1. Os membros da família estão envolvidos nas vidas uns dos outros.
7. Os membros da família sentem-se muito próximos uns dos outros.
13. Os membros da família apoiam-se uns aos outros, durante tempos difíceis.
19. Os membros da família consultam outros membros da família em decisões importantes.
25. Os membros da família gostam de passar algum do seu tempo livre uns com os outros.
31. Apesar dos membros da família terem interesses individuais ainda participam nas actividades da família.
37. A nossa família é equilibrada ao nível da separação e aproximação.
Flexibilidade Equilibrada
2. A nossa família tenta novas formas de lidar com os problemas.
8.Os pais partilham igualmente a liderança na nossa família.
14. A disciplina é justa na nossa família.
20. A minha família é capaz de se ajustar a mudanças quando é necessário.
26. Nós alternamos as responsabilidades domésticas, de pessoa para pessoa.
32. Nós temos regras e papéis claros, na nossa família.
39. Os membros da família agem principalmente de forma independente.
Escala Desequilibrada Desligada
3. Nós damo-nos melhor com pessoas fora da nossa família do que de dentro.
9. Os membros da família parecem evitar o contacto uns com os outros quando estão em casa.
15. Os membros da família sabem muito pouco acerca dos amigos dos outros membros da família.
21. Os membros da família estão por sua conta quando há um problema a ser resolvido.
27. A nossa família raramente faz coisas juntas.
33. Os membros da família raramente dependem uns dos outros.
39. Os membros da família agem principalmente de forma independente.
Escala Desequilibrada Emaranhada
4. Nós passamos tempo demais juntos.
10. Os membros da família sentem-se pressionados para passar a maior parte do tempo livre juntos.
16. Os membros da família estão demasiado dependentes uns dos outros.
22. Os membros da família têm pouca necessidade de amigos fora da família.
28. Nós sentimo-nos demasiado ligados uns aos outros.
34. Na nossa família ressentimo-nos quando alguém faz coisas fora da família.
40. Os membros da família sentem-se culpados quando querem passar tempo afastados da família.
Escala Desequilibrada Rígida
5. Há consequências rígidas para a quebra de regras na nossa família.
11. Existem consequências claras quando um membro da família faz algo de errado.
17. A nossa família tem uma regra para quase todas as situações possíveis.
23. A nossa família é altamente organizada.
29. A nossa família fica frustrada quando há uma mudança nos nossos planos ou rotinas.
35. É importante seguir as regras na nossa família.
41. Uma vez tomada uma decisão é muito difícil modificar essa decisão.
Escala Desequilibrada Caótica
6. Nós nunca
12. É difícil saber quem é o líder na nossa família.
18. É difícil levar a cabo as coisas na nossa família.
24. Não é claro quem é responsável pelas coisas (pequena tarefa, actividades) na nossa família.
30. Não há liderança na nossa família.
36. A nossa família não tem consciência de quem faz as diversas tarefas domésticas.
42. A nossa família sente-se sempre sobre pressão e desorganizada.
Escala do nível de Comunicação
43. Os membros da família estão satisfeitos com a forma de comunicar uns com os outros.
44. Os membros da família são muito bons ouvintes.
45. Os membros da família exprimem afecto uns pelos outros.
46. Os membros da família são capazes de pedir uns aos outros o que querem.
47. Os membros da família conseguem calmamente discutir os problemas uns com os outros.
48. Os membros da família discutem as suas ideias e convicções uns com os outros.
49. Quando membros da família fazem perguntas uns aos outros recebem respostas honestas.
50. Os membros da família tentam compreender os sentimentos uns dos outros.
51. Quando zangados, os membros da família raramente dizem coisas negativas sobre cada um dos outros.
52. Os membros da família expressam os seus verdadeiros sentimentos uns aos outros.
Para melhor compreender a cotação das diferentes subescalas (A. Coesão; B. Flexibilidade;
C. Desligada; D. Emaranhada; E. Rígida; F. Caótica), apresentamos as tabelas 8 e 9, com as
grelhas para a cotação e instruções sistematizadas.
Tabela 8: Grelha de cotação da FACES IV para a definição das pontuações nas suas subescalas (versão adaptada
Olson & Gorall, 2006).
Grelha de Cotação da FACES IV
1.__ 2. __ 3. __ 4. __ 5. __ 6. __ Colocarovalordecadarespostano número
correspondente.Somarnaverticalobtendoo valordeA,
Flexibilidade
Tabela 9: Grelha de transformação dos resultados brutos das subescalas da FACES IV em resultados padronizados
(versão adaptada Olson & Gorall, 2006).
Resultado bruto da escala Percentis Resultado bruto da escala Percentis
__________ A converte para ______ % __________ D converte para ______ %
__________ B converte para ______ % __________ E converte para ______ %
__________ C converte para ______ % __________ F converte para ______ %
Por fim, para a obtenção dos rácios da Coesão, Flexibilidade e Total da escala FACES IV,
podemos utilizar as seguintes fórmulas:
1.2 Variáveis
No seguimento da escolha do instrumento surge a identificação das variáveis, tendo sido
identificadas como variáveis independentes: os tipos de família, com e sem elemento
toxicodependente e variáveis independentes mediadoras, tais como sexo, idade, estado civil,
escolaridade, profissão, situação face ao emprego, estrutura familiar, número de filhos, lugar
que ocupa no seio da família, com quem vive, quais os problemas de saúde, idade de início de
consumo, as substâncias inicialmente consumidas e as de eleição, bem como o tempo de
consumo e o de tratamento.
As variáveis dependentes são compostas pelas dimensões da FACES IV, contendo as
subescalas equilibradas coesão e flexibilidade, as subescalas desequilibradas desligada,
emaranhada, rígida, caótica e ainda as subescalas satisfação e comunicação. De acordo com a
versão original da escala FACES IV, os valores extremos traduzem um desequilíbrio familiar e
os valores moderados um equilíbrio familiar a nível das duas dimensões coesão e flexibilidade
(Olson, 1981).
1.4 Procedimentos
Com base no Modelo Conceptual, foi nossa opção ministrar um protocolo (com base num
instrumento de avaliação americano traduzido para português), recorrendo assim a uma técnica
de investigação quantitativa, de administração indirecta, no nosso caso em particular. O
inquérito foi ministrado num primeiro grupo a sessenta e seis sujeitos jovens e adultos
actualmente em tratamento, sem estar sob o efeito de substâncias alteradoras do estado de
consciência, internados em clínicas de recuperação de toxicodependentes e alcoólicos (num total
de vinte clínicas de norte a sul do país) e a um familiar de cada sujeito, perfazendo um total de
cento e trinta e dois inquiridos. A aplicação do inquérito foi feita indirectamente, dado que os
protocolos foram enviados por correio entre Fevereiro e Março de 2007 para as diversas
clínicas, após contacto telefónico com o psicólogo ou responsável terapêutico pelo grupo, em
que foram dadas todas as instruções de preenchimento e selecção da amostra. Foi solicitado
ainda que os respondentes tivessem idades superiores a doze anos, se encontrassem no seu
estado normal de consciência e fosse fácil o acesso a um familiar de modo a cruzar a
informação e percepcionar a dinâmica familiar. Foram recepcionados os protocolos entre Março
e Maio de 2007.
Num segundo grupo, foram entregues questionários a sessenta e seis sujeitos sem historial
de adicção (no seu percurso ou no percurso de um familiar) e a pelo menos um familiar seu,
obtendo assim a perspectiva de sessenta e seis famílias (por cada família respondem dois
elementos) sem historial de consumos. A entrega a esse segundo grupo incidiu maioritariamente
em sujeitos da rede laboral, familiar e de amigos da autora do trabalho que aqui é apresentado e
seus respectivos círculos, tendo estes sido entregues e recepcionados entre Fevereiro e Maio de
2007.
Os protocolos e respectivas instruções para cada um dos grupos foram ligeiramente
diferentes, não constando no segundo grupo as questões referentes ao historial de consumos,
uma vez que tal situação não se aplica àquelas pessoas. As instruções foram adaptadas para cada
grupo, atendendo ainda ao facto de que num primeiro grupo foram formados técnicos acerca das
instruções a dar aos sujeitos que iriam responder ao questionário, e num segundo grupo todas as
informações deviam constar nas instruções, dada a inexistência de um elemento orientador junto
de cada inquirido.
No presente estudo, a amostra é aleatória simples, seleccionada randomicamente, já que
todos os sujeitos, supostamente, tiveram igual oportunidade de nela se integrar. Foi apenas
definida uma única condição, que se traduziu na necessidade em serem inquiridos apenas
sujeitos com idade superior a doze anos e no seu estado normal de consciência, sem influência
de substâncias alteradoras do mesmo.
2. QUALIDADES PSICOMÉTRICAS
Procedemos á avaliação das qualidades psicométricas da FACES IV na nossa amostra.
2.1 Sensibilidade7
Para analisar a sensibilidade do instrumento optou-se pela comparação de médias, a sua
variabilidade e dispersão de itens (Média, Desvio Padrão, Máximo e Mínimo), de modo a
conferir ao instrumento a capacidade para discriminar os sujeitos.
Nível de flexibilidade 249 10 96 52,24 15,838 250,847 -,382 ,154 -2,48 ,121 ,307 ,394
Nível d desligamento da 249 12 75 30,57 11,646 135,625 ,807 ,154 5,24 ,797 ,307 2,596
família
Nível de interligação
243 13 64 34,13 11,305 127,806 ,779 ,156 5,058 ,534 ,311 1,717
emaranhada da família
Nível de Rigidez das relações
252 16 90 39,02 14,129 199,617 ,818 ,153 5,346 ,126 ,306 ,4117
na família
Nível de uma relação caótica 248 13 75 31,34 12,387 153,439 1,160 ,155 7,48 1,212 ,308 3,935
na família
Nível da Comunicação entre - -
256 10 99 53,43 23,948 573,485 -,241 ,152 -,877 ,303
os elementos da família 1,585 2,894
Nível da satisfação no seio da -
255 10 99 37,55 24,828 616,414 ,816 ,153 5,333 -,369 ,304
família 1,213
Rácio do nível de coesão 231 1 3 1,56 ,430 ,185 ,831 ,160 5,19 ,910 ,319 2,852
familiar
Rácio do nível de 10,15
231 1 3 1,29 ,293 ,086 1,469 ,160 9,18 ,319 31,82
flexibilidade familiar 3
Rácio total do nível familiar 212 1 3 1,44 ,323 ,104 ,425 ,167 2.544 ,363 ,333 1,09
Valid N (listwise) 205
2.2 Validade8
7
Pela análise do coeficiente de simetria (enviesamento à direita ou esquerda mediante o valor obtido dividindo o valor
estatístico pelo erro), se o valor for inferior a 2 significa que a distribuição é simétrica, pertencendo a um intervalo de confiança
de 95%; se o valor for superior a 2, significa uma distribuição assimétrica, não pertencendo ao intervalo de confiança
mencionado. Por fim, a curtose representa o grau de achatamento em relação à curva normal, à esquerda/negativo ou à
direita/positivo, em que se os valores foram abaixo de -2 é uma distribuição achatada, enviesada à esquerda ou platicúrtica; se o
valor for inferior a 2, denomina-se de mesocúrtica; se valor superior a 2, estamos perante uma distribuição achatada ou
leptocúrtica.
8
Nos questionários e inventários, os itens não se encontram formulados no sentido de diferenciar os sujeitos de acordo com a
suas dificuldades, pelo contrário, solicita-se que os sujeitos respondam a todos os itens, afirmando que não existem boas nem
más respostas. O cálculo do índice e discriminação dos itens nestas escalas (Likert) é feito correlacionando a pontuação do item
e a nota total da escala ou subescala a que pertence (Reliability Analysis – SPSS). Aos valores mais elevados, de poder
discriminativo, associam-se coeficientes mais elevados de fidelidade, pois vão no sentido da homogeneidade da prova.
A validade externa, consiste na relação que existe entre as respostas dos sujeitos a um item e o seu desempenho numa outra
situação que não o próprio teste (variável critério). Múltiplos critérios podem ser utilizados dependendo muitas vezes da sua
disponibilidade na prática, ou, eventualmente, de outras provas já existentes e bem apreciadas. Dado que a construção de uma
prova envolve diversas aplicações e amostras, alguns autores defendem a realização de estudos cross-validação de resultados
como forma de garantir a sua posterior generalização. As questões de validade das medidas psicossociais podem entender-se
como um processo contínuo de apreciação da qualidade da informação recolhida, de acordo com o momento, o grupo e o
contexto das próprias investigações. A validade interna relaciona-se com a consistência e homogeneidade, enquanto a externa se
liga mais à prática com maior poder preditivo. Assim sendo, os melhores itens a incluir numa prova são os que apresentam
níveis mais elevados de ambos os coeficientes; no entanto, nem sempre existe coincidência entre ambos.
Componentes
Itens
F1 F2 F3 F4 F5 F6 F7
48. Os membros da família discutem as suas ideias e convicções uns com os outros. ,713
49. Quando membros da família fazem perguntas uns aos outros recebem respostas
,713
honestas.
46. Os membros da família são capazes de pedir uns aos outros o que querem. ,688
43. Os membros da família estão satisfeitos com a forma de comunicar uns com os outros. ,685
52. Os membros da família expressam os seus verdadeiros sentimentos uns aos outros. ,675
45. Os membros da família exprimem afecto uns pelos outros. ,669
44. Os membros da família são muito bons ouvintes. ,668
50. Os membros da família tentam compreender os sentimentos uns dos outros. ,664
37. A nossa família é equilibrada ao nível da separação e aproximação. ,522
47. Os membros da família conseguem calmamente discutir os problemas uns com os
,518
outros.
23. A nossa família é altamente organizada. ,436
42. A nossa família sente-se sempre sobre pressão e desorganizada. -,425
7. Os membros da família sentem-se muito próximos uns dos outros. ,415
2. A nossa família tenta novas formas de lidar com os problemas. ,381
8.Os pais partilham igualmente a liderança na nossa família. ,378
55. A capacidade da família em ser flexível. ,779
61. A justiça das críticas na família. ,767
54. A capacidade da família em lidar com o stress. ,743
60. A forma como os problemas são discutidos. ,691
58. A capacidade da família para resolver conflitos. ,629
57. A qualidade de comunicação entre os membros da família. ,604
53. O grau de proximidade entre os membros da família. ,575
56. A capacidade da família em partilhar experiências positivas. ,558
51. Quando zangados, os membros da família raramente dizem coisas negativas sobre
,517
cada um dos outros.
59. A quantidade de tempo que passam em conjunto, como uma família. ,456
62. A preocupação dos membros da família uns com os outros. ,429
17. A nossa família tem uma regra para quase todas as situações possíveis. ,765
32. Nós temos regras e papéis claros, na nossa família. ,631
11. Existem consequências claras quando um membro da família faz algo de errado. ,587
35. É importante seguir as regras na nossa família. ,553
1. Os membros da família estão envolvidos nas vidas uns dos outros. -,558
5. Há consequências rígidas para a quebra de regras na nossa família. ,549
18. É difícil levar a cabo as coisas na nossa família. ,510
21. Os membros da família estão por sua conta quando há um problema a ser resolvido. ,508
33. Os membros da família raramente dependem uns dos outros. ,486 ,459
6. Nós nunca parecemos ficar organizados na nossa família. ,472
25. Os membros da família gostam de passar algum do seu tempo livre uns com os outros. ,605
27. A nossa família raramente faz coisas juntas. -,590
31. Apesar dos membros da família terem interesses individuais ainda participam nas
,761
actividades da família.
9. Os membros da família parecem evitar o contacto uns com os outros quando estão em
-,416
casa.
Alpha Cronbach ,875 ,926 ,646 ,417 -1,469 -,922 -
Média 53,01 35,91 12,14 20,44 6,16 5,80 -
Desvio-padrão 8,082 7,824 2,634 2,625 ,980 ,963 -
Componentes
Itens
F8 F9 F10 F11 F12 F13 F14 F15
24. Não é claro quem é responsável pelas coisas (pequena tarefa, actividades)
,011
na nossa família.
36. A nossa família não tem consciência de quem faz as diversas tarefas
,352
domésticas.
39. Os membros da família agem principalmente de forma independente. -,072
22. Os membros da família têm pouca necessidade de amigos fora da família. -,06
34. Na nossa família ressentimo-nos quando alguém faz coisas fora da
,368
família.
28. Nós sentimo-nos demasiado ligados uns aos outros. ,059
16. Os membros da família estão demasiado dependentes uns dos outros. ,043
29. A nossa família fica frustrada quando há uma mudança nos nossos planos
,047
ou rotinas.
41. Uma vez tomada uma decisão é muito difícil modificar essa decisão. -,129
40. Os membros da família sentem-se culpados quando querem passar tempo
-,209
afastados da família.
30. Não há liderança na nossa família. ,748
19. Os membros da família consultam outros membros da família em
,692
decisões importantes.
10. Os membros da família sentem-se pressionados para passar a maior parte
,538
do tempo livre juntos.
15. Os membros da família sabem muito pouco acerca dos amigos dos outros
,759
membros da família.
3. Nós damo-nos melhor com pessoas fora da nossa família do que de dentro. ,430
14. A disciplina é justa na nossa família. ,803
20. A minha família é capaz de se ajustar a mudanças quando é necessário. -,502
38. Quando os problemas surgem nós acomodamo-nos. ,576
Alpha Cronbach ,476 ,414 ,473 ,395 ,126 ,362 -,157 -
Média 7,70 8,07 6,40 13,36 5,66 5,36 7,57 -
Desvio-padrão 1,968 1,954 1,671 2,567 1,337 1,555 2,542 -
podemos afirmar que a escala apresenta uma validade de constructo suficiente para assumir a
estrutura definida nos estudos originais da versão americana da FACES IV.
Assim cada constructo (factor) aparece como um constructo multidimensional constituído
por diversos itens. Comparando com a versão original da escala FACES IV, composta por cinco
factores, obtivemos com significância apenas três factores, o que explica 27,8% de variância
explicada da escala.
2.3 Fidelidade9
A Fidelidade do instrumento, ou seja, a qualidade psicométrica que implica que um
instrumento meça bem o que pretende medir (Pinto, 1990), é a forma de análise de consistência
interna através do procedimento estatístico Alpha de Cronbach, em que são seleccionados os
itens da escala com maior consistência interna.
Na nossa amostra podemos afirmar que a escala tem uma capacidade discriminativa bastante
aceitável (Alpha=,792), e os itens associados à escala tem suficiente capacidade discriminativa,
conforme se pode verificar na tabela 13.
9
Se o Alpha de Cronbach se encontra entre ,61 e ,73 considera-se que a escala tem uma capacidade discriminativa aceitável; se
se encontra perto de ,81 bastante aceitável; quando se encontra em ,89 moderadamente alta e por fim maior ou igual a ,90 a
escala possui uma capacidade discriminativa alta. Ou seja, a capacidade discriminativa é insuficiente se inferior a ,60, em que a
análise dos resultados leva-nos a equacionar que os itens associado a esta escala não têm suficiente capacidade discriminativa.
Quando superior a ,60 diz-se que os resultados nos levam a equacionar que os itens associados à escala têm suficiente
capacidade discriminativa, aliada a uma estrutura factorial clara e coerente.
Tabela 14: Cruzamento de variáveis independentes género, idade e habilitações literárias, com variáveis
independentes mediadoras (quatro elementos das duas tipologias familiares)
PI10 Familiar e PI Elemento não Elemento não
Total
Variáveis toxicodependente toxicodependente toxicodependente1 toxicodependente2
N % N % N % N % N %
Masculino 60 90.9 20 32.3 21 31.8 21 31.8 122 46.9
Género Feminino 6 9.1 42 67.7 45 68.2 45 68.2 138 53.1
Total 66 100 62 100 66 100 66 100 260 100
12-20 A 1 1.6 4 6.7 11 17.5 8 12.5 24 9.7
21-30 A 24 39.3 9 15 22 34.9 22 34.4 77 31
31-41 A 29 47.5 13 21.7 13 20.6 16 25 71 28.6
Idade
42-55 A 7 11.5 18 30 12 19 14 21.9 51 20.6
56 e mais A 0 0 16 26.7 5 7.9 4 6.3 25 10.1
Total 61 100 60 100 63 100 64 100 248 100
1º ciclo 9 14.5 16 25.4 12 18.5 6 9.2 43 16.9
Habilitações Literárias
10
Paciente Identificado (PI) - Portador do sintoma ou paciente “oficial”, tal como é identificado pela família e contextos
psiquiátricos clássicos (Relvas, 1999, 161).
Tabela 15: Teste do Qui Quadrado para a variável Idade Tabela 16: Teste do Qui quadrado para a variável sexo
Teste de Qui Quadrado Teste de Qui Quadrado
Idade Valor df p (bi caudal) sexo Valor df p (bi caudal)
Pearson Chi-Square 55,218(a) 12 ,000 Pearson Chi-Square 68,718(a) 3 ,000
Likelihood Ratio 58,019 12 ,000 Likelihood Ratio 76,138 3 ,000
Linear-by-Linear Linear-by-Linear
1,238 1 ,266 42,233 1 ,000
Association Association
N of Valid Cases 248 N of Valid Cases 260
a 0 células (,0%) esperaram cotar menos de 5. a 0 células (,0%) esperaram cotar menos de 5.
A cotação minima esperada é de 5,81. A cotação minima esperada é de 29,09.
Tabela 17: Cruzamento de variáveis independentes estado civil e situação profissional, com variáveis
independentes mediadoras (quatro elementos das duas tipologias familiares)
PI Familiar e PI Elemento não Elemento não
Total
Variáveis toxicodependente toxicodependente toxicodependente1 toxicodependente2
N % N % N % N % N %
Solteiro 39 59.1 14 21.2 27 4.9 26 39.4 106 40.2
1ºcasamento 10 15.2 33 50 34 51.5 33 50 110 41.7
Estado civil
É possível verificar que 41,7% dos sujeitos da amostra são casados, primeiro casamento,
40,6% são solteiros e 8,3% são divorciados, havendo 14 elementos em união de facto, 5
separados e 7 viúvos. Os elementos toxicodependentes, relativamente ao estado civil, são
maioritariamente solteiros (59,1%), seguindo-se os divorciados (16,7%), encontrando-se os
restantes elementos familiares maioritariamente no 1º casamento; 21.1% dos familiares de
elemento toxicodependente (51,5%), dos elementos não toxicodependentes1 e 39.4% dos
elementos não toxicodependentes2.
Procedeu-se, ainda, ao cruzamento da profissão com a tipologia familiar, no entanto não se
obtendo qualquer resultado cujo significado estatístico seja passível de aqui ser apresentado.
54,4% dos elementos toxicodependentes encontram-se desempregados, 39,3 % dos seus
familiares respondentes estão empregados por conta de outrem. No que respeita às famílias sem
elemento toxicodependente, 62% dos elementos1 trabalham por conta de outrem, da mesma
forma que 72,7% dos elementos2.
63,5 % dos elementos toxicodependentes afirmam viver com os pais e apenas 14,5% vivem
sozinhos. Nas famílias sem elemento toxicodependente, verificamos que, quer nos elementos1,
quer nos elementos2, 41,3% afirma viver com parceiro e filhos, havendo ainda lugar para uma
percentagem elevada que viva com os pais (49,9 % para os elementos1 e 33,3% para os
elementos2).
Em termos das análises de significância através do teste do Qui Quadrado, nenhuma variável
(situação profissional e estado civil) reuniu as condições necessárias para a sua aplicabilidade, o
que nos leva a crer que não há uma associação com significância estatística entre as variáveis.
Tabela 18: Cruzamento de variáveis independentes com quem vive, lugar ocupado no seio da família e problemas de
saúde, com variáveis independentes mediadoras (quatro elementos das duas tipologias familiares)
PI Familiar e PI Elemento não Elemento não
Total
Variáveis toxicodependente toxicodependente toxicodependente1 toxicodependente2
N % N % N % N % N %
Sozinho 9 14.3 4 6.3 2 3.2 5 7.9 20 7.9
Com Pais 40 63.5 11 17.2 22 34.9 21 33.3 94 37.2
Com quem vive
digestivos/úlceras
Problemas 0 0 1 11.1 1 11.1 2 22.2 4 8.2
tiróide/diabetes
Bronquite, asma, 0 0 0 0 1 11.1 2 22.2 3 6.1
alergias
Problemas do 1 4.5 2 22.2 0 0 0 0 3 6.1
sistema nervoso
DST 20 90.9 3 33.3 0 0 0 0 23 46.9
Reumatismo 1 4.5 2 22.2 0 0 0 0 3 6.1
Total 22 100 9 100 9 100 9 100 49 100
Foram realizados cruzamentos entre as variáveis independentes com quem vive, lugar
ocupado no seio da família e problemas de saúde com os quatro elementos representantes das
duas tipologias familiares, de modo a perceber se há associação entre as variáveis (tabela 18).
Procedeu-se ainda ao cruzamento do número de filhos com a tipologia familiar, no entanto
não se obtendo qualquer resultado cujo significado estatístico seja passível de aqui ser
apresentado. Relativamente à estrutura da família, em todos os elementos familiares se
verificou uma percentagem elevada dos que afirmam ter dois pais biológicos, no entanto 18,2
% dos elementos toxicodependentes tem apenas um dos pais e 19,4 % dos familiares de
elemento toxicodependente afirmam ter também um dos pais na estrutura familiar.
No que respeita ao lugar ocupado no seio da família, 32,3% dos elementos
toxicodependentes ocupam o lugar de primeiro filho, 50% dos seus familiares respondentes
ocupa o lugar de mãe e nas famílias sem elemento toxicodependente 30,8% dos elementos1
ocupam o lugar de mãe e outros 30,8% o lugar de primeiro filho, ocupando 28,8% dos
elementos2 o lugar de mãe e 36,4% o lugar de primeiro filho.
Por fim, relativamente a problemas de saúde, verificamos que 90,9% dos elementos
toxicodependentes sofrem de doenças sexualmente transmissíveis, da mesma forma que 33,3%
Tabela 19: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e idade de início de consumo.
Idade de inicio de 10-13 anos 14-16 anos 17.20 anos 21-40 anos Total
consumo N % N % N % N % N %
Haxixe 2 28.6 16 47.1 6 35.3 0 0 24 37.5
Álcool 1 14.3 1 2.9 0 0 0 0 2 3.1
Substância inicial de
Tabela 20: Cruzamento das variáveis independentes substância de início de consumo e tempo de consumo.
Tabela 21: Médias na comparação entre tipologia familiar, obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Erro standardizado
Tipologia familiar N Média Desvio-Padrão da média
Família com elemento
toxicodependente 129 44,05 22,618 1,991
Nível de coesão familiar Família sem elemento
toxicodependente 127 57,20 20,500 1,819
Família com elemento
Nível de flexibilidade toxicodependente 124 49,55 17,881 1,606
familiar Família sem elemento
toxicodependente 125 54,92 13,041 1,166
Família com elemento
Nível de desligamento toxicodependente 123 34,44 12,127 1,093
familiar Família sem elemento
toxicodependente 126 26,79 9,820 ,875
Família com elemento
Nível de interligação toxicodependente 119 36,12 11,969 1,097
emaranhada da família Família sem elemento
toxicodependente 124 32,22 10,321 ,927
Família com elemento
Nível de Rigidez das toxicodependente 129 40,26 16,175 1,424
relações na família Família sem elemento
toxicodependente 123 37,73 11,528 1,039
Família com elemento
toxicodependente 127 34,62 13,590 1,206
Nível de caos familiar Família sem elemento
toxicodependente 121 27,89 9,925 ,902
Família com elemento
Nível de comunicação toxicodependente 131 45,00 22,458 1,962
familiar Família sem elemento
toxicodependente 125 62,26 22,293 1,994
Família com elemento
Nível de satisfação toxicodependente 128 27,77 19,242 1,701
familiar Família sem elemento
toxicodependente 127 47,39 25,974 2,305
Família com elemento
Rácio do nível de coesão toxicodependente 113 1,40 ,347 ,033
familiar Família sem elemento
toxicodependente 118 1,71 ,445 ,041
Família com elemento
Rácio do nível de toxicodependente 117 1,22 ,283 ,026
flexibilidade familiar Família sem elemento
toxicodependente 114 1,37 ,283 ,026
Família com elemento
Rácio total do nível toxicodependente 106 1,31 ,298 ,029
familiar Família sem elemento
toxicodependente 106 1,56 ,301 ,029
Tabela 22: Comparação de médias entre amostras independentes para cada um dos factores da FACES IV mediante
os factores encontrados na escala americana, através do teste t para amostras independentes.
Teste de Levene para
Variâncias iguais Teste t para médias iguais
Diferença
p (bi Diferença do erro 95% Intervalo de
F Sig. t df caudal) de médias padrão confiança da diferença
Mais Mais Mais Mais Mais Mais Mais
baixo elevado baixo elevado baixo elevado Mais baixo elevado Mais baixo
Nível da Assumidas variâncias iguais
coesão familiar
1,877 ,172 -4,875 254 ,000 -13,158 2,699 -18,474 -7,843
Nível de Assumidas variâncias
flexibilidade diferentes
14,077 ,000 -2,707 224,926 ,007 -5,372 1,985 -9,283 -1,461
Nível d Assumidas variâncias iguais
desligamento
1,020 ,313 5,473 247 ,000 7,645 1,397 4,894 10,397
Nivel Assumidas variâncias iguais
emaranhado
3,759 ,054 2,724 241 ,007 3,900 1,432 1,079 6,721
Nível de Assumidas variâncias iguais 21,054 ,000 1,420 250 ,157 2,524 1,777 -,976 6,024
Rigidez Assumidas variâncias
diferentes
1,432 231,715 ,154 2,524 1,763 -,950 5,998
Nível de caos Assumidas variâncias
diferentes
6,886 ,009 4,468 230,660 ,000 6,729 1,506 3,762 9,697
Nível da Assumidas variâncias iguais
Comunicação
2,031 ,155 -6,167 254 ,000 -17,256 2,798 -22,766 -11,746
Nível da Assumidas variâncias
satisfação diferentes
25,624 ,000 -6,850 232,256 ,000 -19,620 2,864 -25,264 -13,977
Rácio do nível Assumidas variâncias iguais
de coesão
3,296 ,071 -6,020 229 ,000 -,317 ,053 -,421 -,213
Rácio do nível Assumidas variâncias iguais
de flexibilidade
1,479 ,225 -4,177 229 ,000 -,155 ,037 -,229 -,082
Rácio total Assumidas variâncias iguais ,103 ,749 -5,891 210 ,000 -,243 ,041 -,324 -,161
Figura 5: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares (famílias com e
sem elemento toxicodependente)
70
63,3
59,5
60 56,3
50 48,9
Família sem PI
Toxicodependente
40 37,4
32,4
Família com PI
30 27,7
25,5 Toxicodependente
20
nível da coesão nível de Nível d Nivel de Nível de Nível de uma Nível da Nível da
familiar flexibilidade desligamento interligação Rigidez das relação caótica Comunicação satisfaçã no
da família emaranhada da relações na na família entre os seio da família
família família elementos da
família
Figura 6: Comparação das médias das subescalas da FACES IV, nas duas tipologias familiares
40
30
20
Quisemos verificar as diferenças entre as médias da nossa amostra em cada uma das
subescalas e rácios da FACES IV, segundo o sexo dos nossos inquiridos. Sendo o sexo uma
variável dicotómica, optámos pela análise do teste t para amostras independentes.
Tabela 23: Médias na comparação entre sexo feminino e masculino, obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV
Erro standardizado
Sexo do inquirido N Média Desvio padrão
da média
Masculino 118 48,97 22,886 2,107
Nível de coesão familiar
Feminino 134 52,19 22,449 1,939
Nível de flexibilidade Masculino 116 53,25 16,926 1,572
familiar Feminino 129 51,57 14,850 1,307
Nível de desligamento Masculino 116 31,99 11,316 1,051
familiar Feminino 130 29,14 11,867 1,041
Nível de interligação Masculino 112 35,38 11,484 1,085
emaranhada da família Feminino 127 32,50 10,652 ,945
Nível de Rigidez das Masculino 118 41,97 15,355 1,414
relações na família Feminino 131 35,82 11,842 1,035
Masculino 117 31,76 11,261 1,041
Nível de caos familiar
Feminino 128 30,52 12,905 1,141
Nível de comunicação Masculino 119 51,91 23,276 2,134
familiar feminino 133 54,86 24,679 2,140
masculino 120 35,23 23,026 2,102
Nível de satisfação familiar
feminino 131 39,79 26,434 2,310
Rácio do nível de coesão masculino 107 1,49 ,403 ,039
familiar feminino 121 1,63 ,445 ,040
Rácio do nível de masculino 110 1,26 ,255 ,024
flexibilidade familiar feminino 119 1,33 ,316 ,029
Rácio total do nível masculino 101 1,38 ,294 ,029
familiar feminino 109 1,50 ,336 ,032
Segundo a leitura dos resultados obtidos pelo teste t para amostras independentes (tabelas
23 e 24), verificamos que existem diferenças nas médias das subescalas emaranhada (p=.047),
rácio do nível de coesão familiar (p=.017), rácio total do nível familiar (p=.008), e diferenças
altamente significativas na subescala rígida (p<.001), querendo isto dizer que o facto de ser do
sexo feminino ou masculino manifesta uma diferente influência nas subescalas acima referidas,
sendo sempre os valores das médias superiores no sexo feminino. Não há, porém, influência,
com significância estatística, da variável sexo relativamente às restantes subescalas.
Foi também nossa intenção apurar diferenças entre as características dos sujeitos da
amostra no que respeita às médias obtidas em cada um dos factores em análise, para o que
recorremos ao teste One-way Anova. Todavia, a aplicabilidade deste teste depende de algumas
condições, como a normalidade da distribuição e a homogeneidade de variâncias. Para o
primeiro caso, utilizámos o teste Kolmogorov-Smirnov. O nível de significância obtido foi
inferior a 0,001, levando-nos a considerar que não estamos perante uma distribuição normal.
No segundo caso, o teste de homogeneidade de variâncias mostrou também que existem
diferenças a esse nível. Perante este cenário, conclui-se que não estão reunidas as condições
Tabela 25: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às
médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV
Através desse teste, cujos resultados se apresentam na tabela 25, concluímos que apenas no
“Nível de emaranhamento da relação familiar” existe pelo menos uma faixa etária com média
significativamente diferente da dos restantes grupos, dado que o nível de significância obtido
foi de 0,032. Em todos os restantes factores da nossa análise, os resultados obtidos levam-nos a
afirmar que as diferenças existentes entre as médias dos restantes grupos etários não são
estatisticamente significativas.
Tabela 26: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a faixa etária do inquirido
Figura 7: Médias obtidas no “Nível de emaranhamento da relação familiar”, segundo a faixa etária dos inquiridos.
40
20
10
0
12-20anos 21-30anos 31-41anos 42-55anos 56 e mais anos
idade agrupada em classes
Tabela 27: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as idades, no que respeita às
médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV
Nível
Nível Nível Nível de Nível de Rácio Rácio
Nível de de caos Nível de Nível da Rácio
da de desliga emaranha da da
Rigidez na Comuni satisfaçã total do
coesão flexibili mento na mento na coesão flexibili
na relação relação cação o nível
familia dade relação relação familia dade
familiar familia Familiar familiar familiar
r familiar familiar familiar r familiar
r
Qui
quadrado
21,392 11,275 27,269 17,128 8,998 26,572 31,567 27,671 32,924 18,120 26,970
df 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12 12
p ,045 ,506 ,007 ,145 ,703 ,009 ,002 ,006 ,001 ,112 ,008
Tabela 28: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a profissão do inquirido.
Afigura-se, pois, importante detectar a que níveis se dão essas diferenças, para o que
recorremos novamente ao teste de Tamhane. Uma das diferenças observadas dá-se entre
“Quadros Superiores da Administração Publica, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa”
e “Trabalhadores não Qualificados”. Estas diferenças são observadas em quase todos os
factores da nossa análise, com a média dos primeiros a ser sempre superior ao dos segundos.
Por conseguinte, existe evidência estatística que nos permite afirmar que os sujeitos com
categoria profissional “Quadros Superiores da Administração Publica, Dirigentes e Quadros
Superiores de Empresa” têm níveis inferiores de desligamento, superiores de comunicação,
satisfação e rácio de coesão que os “Trabalhadores não Qualificados” (com níveis de
significância de 0,005; <,001; 0,010; 0,009 respectivamente pela ordem dos factores
apresentada na tabela 28).
Encontramos ainda diferenças altamente significativas entre “Quadros Superiores da
Administração Publica, Dirigentes e Quadros Superiores de Empresa” e “Sujeitos sem
Profissão” (p<,001) no nível de comunicação familiar.
Figura 8: Médias obtidas nas subescalas da FACES IV segundo a profissão dos inquiridos.
46,7
45,5
44,8
41,2
42
40,4
39,6
40 38,7 38,5 38,3
37,4
36
33,5 33,4
29,4
30 28,2 28,2
27 27,5
26,6
25,7
23,7 23,3
20,2
20
fi d i i id
A figura 8 compara as médias das subescalas da FACES IV em função da profissão dos
inquiridos, ajudando-nos a perceber o que acabamos de afirmar.
Tabela 29: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a escolaridade, no que respeita às
médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível Rácio
Nível Nível Nível d Nível de Rácio
Nível de de caos Nível de Nível da da Rácio
da de desligam emaranha da
Rigidez na Comunic satisfaçã flexibili total do
coesão flexibili ento na mento na coesão
na relação relação ação o dade nível
familia dade relação relação familia
familiar familia Familiar familiar familia familiar
r familiar familiar familiar r
r r
Qui
quadrado
13,603 4,475 28,660 23,650 8,894 30,407 7,189 20,138 31,913 23,970 27,093
df 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6 6
p ,034 ,613 ,000 ,001 ,180 ,000 ,304 ,003 ,000 ,001 ,000
Para conseguirmos aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em
função da escolaridade, recorremos, uma vez mais, ao teste One-way Anova. Ao verificarmos
as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de normalidade da
distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, que assevera diferenças
significativas entre as médias de diversos graus escolares com Licenciatura, em diversas
subescalas da FACES IV, como podemos verificar na tabela 29.
Tabela 30: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a escolaridade do inquirido.
Diferença 95% Interv. de confiança
V. Dependente
Escolaridade (i) Escolaridade (j) entre médias D.P. p Limite Limite
FACES IV
(i-j) mínimo máximo
Nível de Coesão
2ºciclo Lic. 16,867 4,930 ,021 -32,35 -1,39
Familiar
1º ciclo Lic. 9,895 2,267 ,001 2,74 17,05
Desligamento 2ºciclo Lic. 10,630 2,331 ,001 3,26 18,00
familiar 3ºciclo Lic. 9,988 1,929 ,000 3,98 15,99
E. Secund. Lic. 8,200 2,150 ,005 1,50 14,90
Nível de
3º ciclo Lic 8,511 2,358 ,011 1,12 15,91
Emaranhamento
Bach. 12,868 2,556 ,000 4,67 21,06
1º ciclo
Lic. 8,866 2,576 ,021 ,75 16,98
Nível de Caos Bach. 15,131 2,648 ,000 6,57 23,69
2º ciclo
Familiar Lic. 11,128 2,667 ,002 2,64 19,61
3º ciclo Bach. 10,730 2,188 ,000 3,69 17,77
E. Secund. Bach. 9,193 9,193 ,070 ,002 2,48
1º ciclo 2ºciclo 15,065 4,339 ,020 1,34 28,79
Nível de
3ºciclo -16,045 3,801 ,001 -27,90 -4,19
satisfação
Familiar
2ºciclo E. Secund. -15,891 4,118 ,005 -28,79 -2,99
Lic. -24,211 4,805 ,000 -39,45 -8,97
1º ciclo Lic. -,453 ,106 ,001 -,79 -,12
Rácio de coesão 2º ciclo Lic. -,526 ,100 ,000 -,84 -,21
familiar 3º ciclo Lic. -,437 ,092 ,000 -,73 -,14
E. Secund. Lic. -,347 ,094 ,010 -,64 -,05
Rácio de 1º ciclo Lic. -,193 ,059 ,035 -,38 -,01
flexibilidade
2ºciclo Lic. -,204 ,062 ,034 -,40 -,01
familiar
1º ciclo Lic. -,318 ,079 ,003 -,57 -,07
Rácio familiar 2ºciclo Lic. -,325 ,078 ,002 -,57 -,08
total
3º ciclo Lic. -,258 ,066 ,005 -,47 -,05
Nível da satisfação no
seio da família
40 39,1
38,4
38 38
36,6 36,2
36
37,3
33,8
33,2
32,5
31,4 31,9
30,8 30,5 30,3 32,6 30,2
29,7
30 30,7
30
27
25,8
23,7
21,6
21
20
l id d d i i id
A leitura gráfica, dada pela figura 9, mostra claramente que as médias observadas
aumentam em simultâneo com o aumento da escolaridade nos factores satisfação e coesão
familiar, ao mesmo tempo que os valores do desligamento, emaranhada e caos diminuem
conforme aumenta a escolaridade.
Com a realização deste teste é, pois, possível atestar que a capacidade comunicativa e de
satisfação familiar dos sujeitos é maior quando estes têm níveis de escolaridade mais elevados.
Tabela 31: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre a situação profissional, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível Nível d Nível de Nível Rácio
Nível Nível de Nível de Rácio Rácio
de desligame emaranham de caos Nível da da
da Rigidez Comunic da total do
flexibili nto na ento na na satisfação flexibili
coesão na relação ação coesão nível
dade relação relação relação familiar dade
familiar familiar Familiar familiar familiar
familiar familiar familiar familiar familiar
Qui
quadrado
4,528 4,341 3,557 2,395 2,048 4,851 10,151 2,213 2,172 2,476 1,697
df 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
p ,339 ,362 ,469 ,664 ,727 ,303 ,038 ,697 ,704 ,649 ,791
Para conseguirmos aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em
função da situação profissional dos sujeitos, recorremos, uma vez mais, ao teste One-way
Tabela 32: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo a situação profissional do
inquirido.
Diferença 95% Interv. de
V. Dependente Situação Situação confiança
entre D.P. p
FACES IV profissional (i) profissional (j) Limite Limite
médias (i-j) mínimo máximo
Nível de
Emp. Conta de
Comunicação Desempregado 12,528 4,079 .026 ,89 24,17
outrem
Familiar
Mais uma vez recorremos às comparações post hoc – nomeadamente ao teste de Tamhane
– para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas na subescalas Comunicação
familiar na situação profissional dos sujeitos (tabela 32), tendo-se, neste caso, verificado que os
sujeitos empregados por conta de outrem manifestam níveis de comunicação superiores
relativamente aos sujeitos desempregados (p=.026).
Tabela 33: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre as doenças de que padecem os
sujeitos, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível Nível d Nível de Nível Rácio
Nível Nível de Nível de Nível da Rácio Rácio
de desligame emaranham de caos da
da Rigidez Comunic satisfaçã da total do
flexibili nto na ento na na flexibili
coesão na relação ação o coesão nível
dade relação relação relação dade
familiar familiar Familiar familiar familiar familiar
familiar familiar familiar familiar familiar
Qui
quadrado 4,905 8,448 9,039 6,940 8,543 6,881 15,082 23,172 4,889 2,795 3,778
df 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7
p ,672 ,295 ,250 ,435 ,287 ,441 ,035 ,002 ,674 ,903 ,805
Para aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise, em função das
doenças de que padecem os sujeitos, recorremos, uma vez mais, ao teste One-way Anova. Ao
verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de
normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, para
investigar a existência de alguma diferença estatística de médias entre as doenças de que
padecem os sujeitos da amostra e os factores em análise. Pela tabela 33, podemos observar que
Tabela 34: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo as doenças de que padecem os
sujeitos
Recorrendo às comparações post hoc – teste de Tamhane – para deciframos a que nível se
situam as diferenças observadas na subescala Nível de satisfação Familiar, percebemos que
estas diferenças se encontram entre os problemas cardíacos e as DST (p=,001), tendo as
segundas uma maior influência na satisfação familiar, indiciado por valores médios.
Tabela 35: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre o estado civil dos sujeitos, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível Nível d Nível de Nível de Nível Rácio Rácio
Nível Nível de Rácio
de desligam emaranham Rigidez de caos Nível da da da
da Comunic total do
flexibili ento na ento na na na satisfação coesão flexibili
coesão ação nível
dade relação relação relação relação familiar familia dade
familiar Familiar familiar
familiar familiar familiar familiar familiar r familiar
15,86
Chi-Square 6,121 3,223 16,340 7,348 15,423 6,161 7,642 8,881 8,145 14,983
2
df 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5
p ,295 ,666 ,006 ,196 ,009 ,291 ,177 ,114 ,007 ,148 ,010
Mais uma vez, na tentativa de aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em
análise, em função do estado civil dos sujeitos, recorremos, ao teste One-way Anova. Ao
verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de
normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, podendo
perceber que as diferenças estatísticas de médias, no que respeita ao estado civil dos sujeitos da
amostra, são positivas ao nível do desligamento familiar (p=,006), rigidez (p=,009), rácio de
coesão familiar (p=.007) e total (p=.010) (tabela 35).
Tabela 36: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo o estado civil dos sujeitos.
Diferença 95% Interv. confiança
V. Dependente
estado civil (i) estado civil (j) entre D.P. p Limite Limite
FACES IV mínimo máximo
médias (i-j)
Rácio de Coesão Solteiro Divorciado ,246 ,073 ,029 ,02 ,48
Familiar 1º Casamento Divorciado ,356 ,079 ,001 ,11 ,60
Solteiro Separado ,355 ,048 ,001 ,16 ,55
Rácio Familiar
Separado ,403 ,053 ,000 ,21 ,60
Total 1º Casamento
Divorciado ,255 ,070 ,017 ,03 ,48
Figura 10: Médias observadas por factor de análise, segundo o estado civil.
Rácio do nivel de
1,8 1,791 coesão familiar
Rácio familiar total
Rácio do nivel de
coesão familiar
Rácio familiar total
1,647
1,6
1,556 1,55
1,517
1,483
Média
1,435 1,427
1,4
1,291
1,229
1,2
1,111
1,08
A figura 10, vem confirmar os resultados acima mencionados, sendo de fácil leitura que os
indivíduos solteiros e os que se situam num primeiro casamento dispõem de valores médios
superiores, em ambos os factores em análise, do que ao sujeitos que se encontram separados e
divorciados.
Uma vez mais, na tentativa de aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em
análise, em função de com quem vivem os sujeitos, recorremos, ao teste One-way Anova. Ao
verificarmos as condições para a sua realização, concluímos novamente pela ausência de
normalidade da distribuição. Por conseguinte, foi efectuado o teste Kruskal-Wallis, que nos
permitiu verificar que a variável “com quem vive o indivíduo”, manifesta diferenças
significativas entre médias ao nível do desligamento, satisfação e rácio total familiar (p=.042,
p=.043, p=.014 e p=.050 respectivamente) (tabela 37).
Tabela 38: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo com quem vivem os sujeitos
Tabela 39: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre estrutura da sua família, no que
respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível Nível d Nível de Rácio
Nível Nível de Nível Nível de Rácio Rácio
de desligame emaranha Nível da da
da Rigidez de caos Comunic da total do
flexibili nto na mento na satisfação flexibili
coesão na relação familia ação coesão nível
dade relação relação familiar dade
familiar familiar r Familiar familiar familiar
familiar familiar familiar familiar
Qui
quadrado
2,130 4,474 6,317 13,629 6,980 10,961 ,832 3,084 3,873 7,487 4,149
df 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
p ,546 ,215 ,097 ,003 ,073 ,012 ,842 ,379 ,276 ,058 ,246
Tabela 40: Teste de Tamhane, para comparação múltipla entre médias segundo estrutura da família dos inquiridos.
Para deciframos a que nível se situam as diferenças observadas nas subescalas Nível de
emaranhamento e caos familiar, recorremos ao teste post hoc Tamhane, em que as diferenças
são estatisticamente significativas (p<.001) ao nível de emaranhamento familiar, entre famílias
cuja estrutura familiar é composta por dois pais (padrastos) e famílias com apenas um dos pais
(valores médios de 29 versus 2), tendo as primeiras maior influência sobre o nível de
emaranhamento familiar.
Tabela 41: Estatísticas obtidas pelo teste Kruskal-Wallis, para comparação entre lugar que ocupa no seio da
família, no que respeita às médias obtidas em cada subescala e rácios da FACES IV.
Nível
Nível Nível d Nível de Rácio
Nível Nível de de caos Nível de Nível da Rácio Rácio
de desligame emaranham da
da Rigidez na Comunic satisfaçã da total do
flexibili nto na ento na flexibili
coesão na relação relação ação o coesão nível
dade relação relação dade
familiar familiar familia Familiar familiar familiar familiar
familiar familiar familiar familiar
r
Chi-Square 3,615 5,856 9,190 5,465 10,487 13,915 8,558 13,454 7,113 4,646 4,925
df 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5 5
p ,606 ,320 ,102 ,362 ,063 ,016 ,128 ,019 ,212 ,461 ,425
Tentando novamente aferir a diferença entre as médias nos diferentes factores em análise,
em função do lugar que os sujeitos ocupam no seio da família, recorremos, ao teste One-way
Anova. Verificámos as condições para a sua realização, tendo concluido novamente pela
ausência de normalidade da distribuição. Recorremos ao teste Kruskal-Wallis, salientando que
o lugar ocupado pelo sujeito, no seio da sua família, manifesta diferenças significativas entre
médias nas subescalas relativas ao nível de caos e nível satisfação familiar (p=.016 e p=.019
respectivamente).
Tabela 42: Teste de Tamhane, comparação múltipla entre médias segundo lugar que ocupa no seio da família.
Lugar que Lugar que 95% Intervalo de
Diferença
V. Dependente ocupa no ocupa no confiança
entre D.P. p
FACES IV seio da seio da médias (i-j)
Limite Limite
mínimo máximo
família (i) família (j)
Pai Outro 28,833 3,688 ,000 16,86 40,80
Nível de Mãe Outro 24,077 3,382 ,000 12,91 35,24
Satisfação 1º Filho Outro 31,097 3,263 ,000 20,18 42,01
Familiar 2º Filho Outro 19,071 4,370 ,002 5,05 33,09
3º e mais
Outro 19,967 5,341 ,029 1,41 38,52
Filho
Figura 11: Médias observadas por factor de análise, segundo o lugar ocupado pelo sujeito no seio da sua família.
40
36,2
35,5
33,6
32,7
30,9
30,3
30
28,4
27,7
Média
20
11,5
10
A versão final da FACES IV é baseada quase numa década de pesquisa e é a mais recente
de uma série de desenvolvimentos dos instrumentos das FACES, que remontam há quase 25
anos. Observamos o desenvolvimento das escalas com vista a alcançar os aspectos
equilibrados e desequilibrados do funcionamento familiar como um avanço no
desenvolvimento do instrumento e na avaliação da família no geral. Foi desenvolvido um novo
conjunto de seis escalas de avaliação da família para efeitos de pesquisa e uso clínico que
avaliassem as dimensões da coesão e da flexibilidade. A criação do rácio das pontuações
equilibradas e desequilibradas é uma ferramenta poderosa que fornece também uma maneira
de avaliar a Curvilinearidade (hipótese central do Modelo Circumplexo, que sustenta a
escala).A escala tem níveis de confiabilidade que a configuram apropriada para a pesquisa e a
avaliação da família, na população americana para a qual foi aferida.
Nesse sentido, no nosso estudo, procurámos medir a validade de constructo da tradução da
nossa escala aplicada à nossa amostra, tendo verificado uma estrutura factorial de quinze
factores, que corresponderia a uma percentagem acumulada de variância explicada de 65,9%;
no entanto, apenas obtivemos significância estatística em três factores, o que passou a explicar
27,8% da variância da escala (< 59%). Relativamente à fidelidade, a nossa escala apresenta um
alpha de Cronbach de .792, o que demonstra uma capacidade discriminativa aceitável da
mesma (quando remetida para os quinze factores inicialmente encontrados).
Em termos de caracterização da nossa amostra, a maior parte dos sujeitos
toxicodependentes (90.9%) são do sexo masculino, situando-se essencialmente nas faixas
etárias dos 21 a 41 anos, sendo as restantes categorias familiares maioritariamente do sexo
feminino. Ainda a maior parte dos sujeitos toxicodependentes afirma viver com os pais, e os
seus familiares afirmam viver com parceiro e filhos maioritariamente. O que vem de encontro
ao que afirmam Stanton e colaboradores (1982) que referem que pelo menos dois terços dos
heroinómanos do sexo masculino (que constitui 75 a 85% da população toxicodependente)
com pelo menos 35 anos vive com a família e a maior parte dos restantes (80 a 85%) mantém
ligações com as figuras parentais. Apesar de não ser possível traçar um perfil desta tipologia
familiar, existem características comuns que permitem apontar algumas modalidades de
interacção familiar e compreender de forma mais clara a grande resistência à mudança que
tendem a apresentar (Stanton et al., 1982). Angel e Angel (2005), realçam a enorme
incapacidade dos pais em se posicionarem como pais, tornando-se impossível a autonomização
Remetendo agora para futuras investigações, para os autores da versão original, esta deve
examinar se a estrutura factorial, fidelidades, habilidades discriminativas do instrumento
FACES podem ser replicadas. É recomendado pelos mesmos, que análises futuras às estruturas
factoriais utilizem o modelo estrutural equacional como uma técnica factorial confirmatória da
apresentada na pesquisa presente. Também sugerem que as escalas desenvolvidas sejam
utilizadas com grupos de sujeitos clínicos e não clínicos para testar em maior profundidade a
habilidade discriminativa das mesmas. Há ainda planos de recolha de dados para usos futuros
da escala, pelos autores da escala, de modo a desenvolver um grupo de controlo mais
representativo.
Apesar das suas actuais limitações, esta última versão (IV) da Escala FACES é muito mais
refinada que as anteriores versões da FACES (I, II e III), com maior poder diferenciador e
discriminativo dos diferentes posicionamentos das famílias no enquadramento do seu
funcionamento e relações. É uma versão de simples aplicação, sendo um bom instrumento para
a aferição da coesão e flexibilidade familiar, devendo ser aferido para a população portuguesa,
a fim de permitir uma maior significância dos resultados obtidos e maior cientificidade dos
mesmos quer no âmbito da investigação quer na sua utilização na clínica.
Capítulo V – Conclusões
Chegados a esta fase do trabalho, importa reter as principais conclusões a que chegámos,
após a análise e discussão dos resultados, feitos nos capítulos anteriores. Ao conceptualizar a
íntima relação entre família, relação intra familiar (coesão, flexibilidade, comunicação e
satisfação) em famílias com e sem elemento toxicodependente, surge este trabalho.
- Verificamos que, na sua maioria, os sujeitos toxicodependentes são do sexo masculino,
maioritariamente entre 21 e 41 anos, incidindo os seus familiares na faixa dos 56 e mais anos.
Os sujeitos toxicodependentes são na sua maioria solteiros e divorciados, vivendo grande parte
deles com os pais. Os seus elementos familiares e os elementos familiares sem sujeito
toxicodependente encontram-se mais frequentemente num primeiro casamento, vivendo
principalmente com parceiro e filhos. Os sujeitos solteiros e num primeiro casamento revelam
valores mais adaptados ao nível do rácio de coesão e rácio total familiar do que os sujeitos
separados e divorciados.
- Relativamente à escolaridade, as famílias com sujeito toxicodependente tendem a apresentar
níveis mais baixos do que as famílias sem elemento toxicodependente. Os níveis de satisfação
e coesão familiar aumentam à medida que a escolaridade aumenta, por outro lado diminuem os
níveis de caos, desligamento e emaranhamento familiar. Encontrámos ainda maiores taxas de
desemprego em elementos toxicodependentes do que nos restantes elementos da amostra,
estando ainda relacionado com os níveis de comunicação, sendo estes inferiores para sujeitos
desempregados.
- Ao abordar a questão da saúde, é notória a elevada percentagem de elementos
toxicodependentes que sofrem de doenças sexualmente transmissíveis, padecendo também os
seus familiares desta patologia bem como de problemas do sistema nervoso e reumatismo. Os
sujeitos padecentes de doenças sexualmente transmissíveis manifestam níveis inferiores de
satisfação familiar.
- No que remete para o lugar ocupado no seio da família, entendemos como factores
protectores ao nível da satisfação familiar, o facto de ocupar a posição de pai, mãe, ou filho.
- Pela análise de todos os elementos teórico-práticos apresentados, constatamos uma relação
intrínseca destes elementos, ou seja, verificámos diferenças nas relações familiares entre ambas
as tipologias familiares, no entanto sem significância estatística, por diversos factores
nomeadamente pelas características e dimensão da nossa amostra.
Webgrafia
Psiqweb - (01.06.2006) - http://virtualpsy.locaweb.com.br/index.php?art=392&sec=34
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ANEXOS
Anexo I: FACES IV (versão original)
Anexo II: Questionário Sociodemográfico e FACES IV (Protocolo adaptado).
Anexo III: Tabelas de cotação da FACES IV.
FACES IV Questionnaire
1 2 3 4 5
Strongly Generally Generally Strongly
Undecided
Disagree Disagree Agree Agree
13. Family members are supportive of each other during difficult times.
14. Discipline is fair in our family.
15. Family members know very little about the friends of other family members.
16. Family members are too dependent on each other.
17. Our family has a rule for almost every possible situation.
18. Things do not get done in our family.
25. Family members like to spend some of their free time with each other.
26. We shift household responsibilities from person to person.
27. Our family seldom does things together.
28. We feel too connected to each other.
29. Our family becomes frustrated when there is a change in our plans or routines.
30. There is no leadership in our family.
1 2 3 4 5
Strongly Generally Generally Strongly
Undecided
Disagree Disagree Agree Agree
31. Although family members have individual interests, they still participant in family
activities.
32. We have clear rules and roles in our family.
33. Family members seldom depend on each other.
34. We resent family members doing things outside the family.
35. It is important to follow the rules in our family.
36. Our family has a hard time keeping track of who does various household tasks.
43. Family members are satisfied with how they communicate with each other.
44. Family members are very good listeners.
45. Family members express affection to each other.
46. Family members are able to ask each other for what they want.
47. Family members can calmly discuss problems with each other.
48. Family members discuss their ideas and beliefs with each other.
49. When family members ask questions of each other, they get honest answers.
50. Family members try to understand each other’s feelings
51. When angry, family members seldom say negative things about each other.
52. Family members express their true feelings to each other.
1 2 3 4 5
Very Somewhat Generally Very Extremely
Dissatisfied Dissatisfied Satisfied Satisfied Satisfied
Toda a informação recolhida através deste questionário é confidencial, não escreva o seu nome,
ou algo que o identifique em parte nenhuma das folhas.
Toda a informação recolhida através deste questionário é confidencial, não escreva o seu nome, ou algo
que o identifique em parte nenhuma das folhas.
Problema(s) de saúde/doença(s)?______ Qual ou quais? __________________ Problemas com a justiça? Sim__ Não __
Estado civil: Com quem vive:
Solteiro Sozinho
Use a situação da família actual para responder. Se não tem, use a da família de origem.
Qual a estrutura da sua família? Que lugar ocupa no seio da sua família?
Agradeço a sua colaboração para este estudo, no âmbito da minha Tese de Mestrado, pela Faculdade de Psicologia e de Ciências
da Educação da Universidade de Coimbra, acerca das Relações Familiares. Os Questionários devem ser preenchidos um por si e
outro por um elemento da sua família.
Toda a informação recolhida através deste questionário é confidencial. Não escreva o seu nome, ou algo que o identifique em parte
nenhuma das folhas. Atribuímos um número/código igual ao seu questionário e ao do seu familiar para que ambos os questionários
correspondam à mesma família.
Inteiramente ao vosso dispor para qualquer esclarecimento.
Joana Rebelo (T:938284807)
FACES IV
Versão original:Gorall, Tiesel & Olson, 2004, 2006
Versão portuguesa: Rebelo, 2007