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esti-

los COMPORTAMENTO
POR Ana Tulha

36 16.12.2018 Notícias Magazine


Oh não,
EVITAR
GETTY IMAGES

outra discussão
TENSÕES?
PODE NÃO SER
O MELHOR
REMÉDIO

de Natal
Para quem quer
evitar a todo o
custo a mínima
discussão em
contexto natalício,
há conselhos
óbvios que se

Altas expectativas, velhos desaguisados que surgem com frequência,


podem dar: evitar
temas fraturantes,
problemas recalcados que têm nos encontros pontuais um terreno fértil suscetíveis de moti-

para emergir em força. A velha máxima de que a quadra natalícia é paz


var conflitos, fazer

e harmonia pode ser bem traiçoeira.


por ignorar aquele
sorriso sarcástico
que não cai bem,
reforçar o espírito
conciliador. E até
evitar o consumo

C
excessivo de bebi-
aso um: na família Silva, há muito há um elefan- flitos existentes apenas na época de Natal. Depois, manda a das alcoólicas,
te na sala. O ambiente nem é mau, no geral, mas tradição que no Natal se juntem as famílias. E quando se trata visto que estas
há uma cunhada que as irmãs nunca viram com de juntar duas famílias diferentes, há um período de adapta- podem toldar o
bons olhos. Durante o ano, com poucos encon- ção, em que é preciso procurar pontos de equilíbrio. Quando discernimento... e
tros, a coisa flui sem dramas. Mas, no dia de Natal, há pressões de parte a parte, aquela história do ‘tens de passar fazê-lo esquecer-se
conversa puxa conversa, lá vêm os assuntos me- aqui, não, tens é de passar connosco’, cria-se um terreno fértil de todos os princí-
lindrosos. E o bate-boca, invariavelmente, resva- para discussão. E depois vão-se buscar outras coisas”, analisa o pios anteriores.
la para a discussão. O ambiente fica pesado. Por psicólogo. Mas se acha que
vezes, insuportável. Caso dois: Edite, a matriar- Daí que o risco possa ser maior quando, no caso de um casal re- uma troca de ideias
ca, é louca pelo Natal desde sempre. Tanto que, para garan- cém-formado, se juntam as famílias nas primeiras vezes. “Mas mais acesa é o pior
tir que a festa corra bem, passa os dias anteriores à quadra (e isto não é exclusivo do Natal. Há a transição para a conjugalida- que lhe pode acon-
as noites) a preparar tudo com afinco. No jantar de Natal, de, para a paternidade. Há sempre transições no ciclo de vida fa- tecer no Natal,
uma das filhas, inocentemente, constata que as couves estão miliar e as mudanças são propícias a épocas de crise. Por natu- saiba que pode não
mal cozidas. Edite não tolera a crítica. Responde com sete reza, podem gerar maiores níveis de conflito, não necessaria- ser bem assim.
pedras na mão e ainda culpa todos pela ajuda que não deram. mente disfuncionais”, acrescenta. Depois, há a questão de o “Discutir não é
Com o passar dos anos, a pressão cansa. Há mesmo quem ab- Natal, pela carga simbólica que tem, poder potenciar os sen- necessariamente
dique de passar a consoada em casa de Edite e opte por ir ce- timentos de solidão e a vulnerabilidade. No fundo, o rastilho negativo. Pode ser
lebrar com o outro lado da família. Caso três: os Pereira não perfeito para que as discussões possam explodir. uma oportunidade
têm por hábito fazer grandes ajuntamentos familiares du- “Não há estudos sobre o assunto. Mas é preciso considerar que, para resolver coisas
rante o ano. Mas, no Natal, dita a tradição, o clã junta-se à nesta quadra, há pessoas que têm mais tendência a sentir-se so- antigas. É certo que
mesa. Manuel é doente pelo F. C. Porto. José pelo Benfica. zinhas. E para aqueles que já têm problemas relacionais, o Na- não vai ao encontro
São cunhados. A noite festiva é em casa de Manuel. Mas nem tal acaba por ter um grande impacto. A simbologia cultural tem daquela ideia tradi-
por isso José deixa de lançar as habituais provocações fute- um peso significativo sobre a dor”, considera Fabrizia Raguso, cional do Natal que
bolísticas. Manuel avisa uma vez. José insiste. Segundo avi- terapeuta familiar. A trabalhar em Portugal há 18 anos, a italia- nós temos, mas
so. E o tema Benfica continua na mesa. Acabam-se os avisos. na alerta para o perigo das generalizações (cada caso é um caso pode trazer um
Manuel perde as estribeiras e pede a José que pegue na mu- e o convívio e as motivações são sempre distintas) e recorda um momento de cres-
lher e saia, para não haver mais discussão. episódio concreto, com que se deparou no exercício da profis- cimento. Se evitar
Os nomes são todos fictícios. Assim mandam os bons costu- são. “Em tempos, acompanhei um casal que decidiu separar-se discussões signi-
mes e os pruridos. Assumir desaguisados familiares, ainda mais definitivamente na altura do Natal. A crise já existia, devido a fica não enfrentar,
em época natalícia, extravasa os limites do que a sociedade im- uma série de contingências e a separação consistiu, no fundo, é melhor não
põe como moralmente correto. Já as situações são bem reais. em dar seguimento a um processo de tensão anterior. Às vezes, evitar”, aconselha
Mas então o Natal não é, por tradição, uma quadra de família, o Natal também pode trazer estas ruturas, enquanto atos sim- Fabrizia Raguso.
paz e harmonia? Sim. E mesmo assim há casos em que a che- bólicos que dão ênfase a momentos de dor.” Ricardo Peixoto
gada da quadra, só por Depois, há a questão das expectativas, as tais que a matriar- deixa outro alerta
si, significa que há dis- ca Edite põe nos píncaros todos os anos e que fazem com que a ter em conta:
O NATAL, PELA cussões a caminho? reaja com azedume e indignação à mais pequena crítica. “É “É importante que
CARGA SIMBÓLICA Também sim. Como? óbvio que, quando há uma expectativa exacerbada, é fácil ge- as pessoas se
Ricardo Peixoto ajuda rar-se alguma insatisfação. Isso acontece sobretudo com pes- foquem mais nas
QUE POSSUI, a explicar o fenóme- soas muito perfeccionistas”, destaca Ricardo Peixoto, apon- relações. Ideal-
PODE POTENCIAR no. “Muitas vezes es- tando como fatores de risco um historial anterior de conflitos mente, seria inte-
SENTIMENTOS tas situações relacio- e o facto de o Natal poder ser um dos raros encontros familia- ressante que, no
nam-se com a existên- res em todo o ano – como aconteceu com os Pereira, que aca- Natal, as relações
DE SOLIDÃO E cia de desavenças an- baram de candeias às avessas por causa do futebol. Quem dis- saíssem reforça-
VULNERABILIDADE teriores. Não são con- se que o Natal era só paz e harmonia? ● m das”.

Notícias Magazine 16.12.2018 37

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