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Intervenção parasita para ativação do contexto local

Uma prática pedagógica no ateliê de projeto


Hélio Hirao e Evandro Fiorin


Intervenção Parasita de Stephanie Tomé Lobozzo Dower, detalhe
Imagem divulgação [Acervo da disciplina PAUP-FCT/Unesp]

As características das metrópoles do capitalismo contemporâneo com seus diversos


componentes espalhados sobre a superfície de territórios indefinidos, cuja
finalidade prioritária é produzir materiais ou bens culturais estandardizados
contribuem para prejudicar a expectativa da concretização das manifestações e das
potencialidades humanas no espaço. Uma condição que têm se revelado, também, em
cidades do interior paulista. Nesse sentido, as inquietações com a situação atual
de nossas cidades, inseridas em uma conjuntura de aceleradas mudanças e
transformações socioespaciais e, em contextos cada vez mais híbridos, devem nos
conduzir para um outro olhar sobre as intervenções em arquitetura e urbanismo.
Desse modo, buscamos refutar em nossa prática pedagógica, as ações projetuais
arquitetônicas e urbanas que consideram o desígnio dominante e hegemônico, em
tentativas de unificar e padronizar os lugares da cidade estabelecendo processos
de gentrificação irreversíveis em importantes áreas urbanas deterioradas, com
registros materiais de inúmeras camadas históricas acumuladas ao longo do tempo e
com as suas populações emblemáticas. Ao reconhecer esse novo momento urbano e
seus desafios para uma prática projetual engajada política e criticamente, a
disciplina de “Projeto de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo – Paup”, do quarto
ano do Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Estadual Paulista “Júlio
de Mesquita Filho” – Unesp, Campus de Presidente Prudente, estruturou seu
conteúdo para o desenvolvimento de um exercício acadêmico projetual em uma área
da cidade com características espaciais e de ocupação humana heterogêneas, a qual
proporcionasse tratar de questões latentes no âmago dos municípios paulistas, ou
seja, as zonas centrais deterioradas ao longo dos antigos leitos férreos, de modo
a produzir uma intervenção para ativação do contexto local, buscando sua “re-
singularização” (1).

O contexto local

Presidente Prudente, cidade de cem anos, no oeste paulista, com o cultivo do


café, algodão, amendoim, a chegada da ferrovia e a implantação de uma
agroindústria iniciou o seu processo urbano. Depois com o desenvolvimento da
pecuária e do comércio e serviços e a substituição da ferrovia pela rodovia,
tornou-se um polo regional do oeste paulista (2) (3).

Neste contexto, selecionamos uma área urbana deteriorada, hoje excluída das
atividades produtivas da cidade, cujas camadas históricas materializadas no
espaço estão fortemente presentes, constituindo fissuras urbanas residuais
caracterizadas como vazios, com aparente ausência de usos, entretanto por outro
lado potencializam como promessa, como lugares das possibilidades, das
expectativas, das pessoas que necessitam conviver com os outros e com o outro,
um terrain vague (4).
A área escolhida foi a da Antiga Estação Ferroviária de Presidente Prudente, com
seus trilhos desativados. Reune em seu entorno duas vilas que iniciaram seu
processo urbano, a Vila Marcondes e a Vila Goulart (5).

A Goulart, defronte à estação, sofreu inúmeras transformações ao longo do tempo,


com a substituição de parte das construções públicas e privadas históricas por
uma arquitetura relacionada com os interesses do mercado imobiliário. Uma de suas
principais praças teve a inserção de um camelódromo, o que alterou seu cotidiano
de uso, apropriação socioespacial e atmosfera; uma tentativa de organizar o
comércio popular “ilegal” nas bordas da principal área comercial e histórica da
cidade. Por outro lado, tornou-se um lugar caracterizado pela diversidade,
simultaneidade e vitalidade com uma população das diversas classes socioculturais
e com grande fluxo de pessoas e autos.
A Marcondes, a vila de trás da estação, em contrapartida, com seus galpões
industriais e habitação operária, apresenta resíduos do Patrimônio Industrial
local, com requalificações como o do Antigo Galpões das Indústrias Reunidas
Matarazzo, agora como Centro Cultural; e do Instituto Brasileiro do Café - IBC
agora como Centro de Eventos; além da demolição e substituição dos Galpões da
Sociedade Algodoeira do Nordeste Brasileiro - Sanbra, hoje transformados em um
conjunto habitacional. Ao mesmo tempo, ainda preserva edificações comerciais e
habitações singelas, com traços art déco e ecléticos em suas fachadas, com uma
população de idosos mantém viva a memória do passado e remete aos tempos iniciais
de sua ocupação.
Nos meandros das vilas, uma faixa de terras aparentemente vazia e abandonada, o
contexto do terreno vago formado pelos trilhos desativados da antiga estrada de
ferro. Um lugar de mediação, espaço de transição entre as diferentes
espacialidades ainda existentes, do presente e do passado, local em espera, que
garante a convivência entre mundos e a diversidade à cidade.

Identificada e reconhecida como um espaço residual, com forte presença das


memórias, através dos registros das várias camadas materiais de sua história, foi
apropriada como abrigo pelas populações marginalizadas, tais como os moradores em
situação de rua, dependentes químicos, dentre outros; como contraponto à cidade
produtiva, temos a cidade invisível, apesar de prenhe de contradições, é o lugar
da heterogeneidade.
Ativação do espaço

O tema do exercício projetual da disciplina projeto de arquitetura, urbanismo e


paisagismo: “Intervenção parasita na cidade invisível para ativação do contexto
local”, sintetiza um objetivo de pensar hipóteses para ressignificar os espaços
desta cidade com suas singularidades e multiplicidades dos que lá habitam,
reinventando e agenciando territórios e territorialidades em um projeto sempre em
processo, com a participação colaborativa das pessoas para proporcionar lugares
da liberdade, experimentação e de possibilidades.

O procedimento metodológico utilizou a experimentação espacial para a imersão no


ambiente urbano, afim de construir possibilidades de ativação espacial, iniciando
um processo em que o aluno tivesse a oportunidade de se tornar, ao mesmo tempo,
coadjuvante e protagonista, na percepção urbana e na produção da cidade com suas
dinâmicas e possibilidades.

Desta forma, ao realizaram diversas derivas (6) no contexto escolhido, os alunos


se deixaram levar pelas solicitações do terreno, sem juízos pré-concebidos,
guiados pelas sensações e pela atmosfera do lugar, além dos encontros casuais com
o outro, inerentes ao processo. Ao caminhar por entre os trilhos e por ruelas e
meandros, experimentaram o território, com o corpo em movimento. Experiências que
proporcionaram novas relações com o lugar. Assim, o caminhar pela cidade ativou
experiências físicas com o espaço construído e possibilitou novas formas de
percepção (7).

Essas errancias realizadas foram materializadas em cartografias urbanas, como


representações das espacialidades e das ações humanas que buscam reconhecer o
outro e a cidade, os quais não são visíveis nas leituras dominantes, mas muito
presentes no lugar estudado. Assim, esse método que prima pela experiência do
fazer para saber, permitiu identificar as pegadas e rastros deixados no espaço,
como signos a serem revelados e incorporados na dinâmica da cidade. Constitui-se,
então, um tipo de atualização do projeto, através dos cartogramas que guardam os
registros da cidade já apropriada e modificada por seus usuários (8).

Desta forma, pelo contágio, como um vírus, as cartografias urbanas produzidas


reinventam os espaços da cidade referenciada na sua dinâmica constituinte. Não
são produzidos fatos alheios ao contexto estudado; eles derivam, justamente, das
experiências travadas no âmbito do caminho percorrido. Revelam as suas
descontinuidades e heterogeneidades, balizadas pela experimentação do aluno, como
um ator nesse contexto urbano. Por conseguinte, cada cartograma, já revela em si
um projeto e uma espécie de ativação do espaço, na medida em que detecta algumas
singularidades, diversidades e multiplicidades existentes, viabilizando, por
vezes, possibilidades de apropriações socioespaciais que agora consideram as
relações e tensões ocultas.

Intervenção parasita nas brechas, fissuras e vieses da cidade

A opção por uma intervenção parasita se configurou no sentido de constituir uma


provocação; um choque diante do sistema estabelecido que comumente constrói
barreiras, tal como quando colocam pedras ou cacos de vidro no chão, de forma a
impedir que as pessoas em situação de rua possam pernoitar, por exemplo, debaixo
de marquises – como afirmam os arquitetos holandeses Merel Pit, Karel Steller e
Gerjan Streng (9).

Além disso, ao optarmos por essa metáfora, buscamos considerar a percepção da


cidade enquanto corpo vivo, composto de um sistema físico e sensorial. Ao ocupar
os espaços residuais nas imediações da linha férrea, em áreas urbanas
consolidadas, uma intervenção parasita se coloca como um corpo estranho que deve
ser por si mesmo provocativo, podendo inclusive, gerar certo desconforto, mas,
também, configurar novas ocupações sócio espaciais na cidade.

A intervenção de Stephanie Tomé Lobozzo Dower evidencia suas percepções e


encontros com o outro nos cartogramas de reconhecimento urbano do contexto
estudado. Eles identificam três brechas transversais à linearidade da faixa de
terras da linha férrea; revela espaços em espera entre as vilas Goulart e
Marcondes, cada qual com suas particularidades espaciais e apropriações. A
primeira um sistema de túneis, a segunda uma ponte e a terceira um viaduto.

Cartogramas de Stephanie Tomé Lobozzo Dower


Imagem divulgação [Acervo da disciplina PAUP-FCT/Unesp]

Conduzido pelo movimento da dinâmica da ambiência urbana relacionada à cada


localidade, faz menção à criação de balanços, um equipamento de lazer muito
comum, aderido a estas atmosferas singulares. Em cada uma das brechas considera
um projeto prenhe de peculiaridades, diversidades e simultaneidades ampliando,
assim, as possibilidades e imprevisibilidades de uso e apropriação no cotidiano.
Intervenção Parasita de Stephanie Tomé Lobozzo Dower
Imagem divulgação [Acervo da disciplina PAUP-FCT/Unesp]

O trabalho de Mariana Guimarães Marchezi Chaves, parte dos rastros do seu


percurso, reconhecidos e cartografados, e os utiliza como subsídios
socioespaciais para conceber sua intervenção. A sua percepção da delimitação dos
territórios da linha férrea fechados por muros e entraves potencializa ações de
subversão projetual, agora assumidas e utilizadas na sua ação de ativação dos
lugares.

Cartogramas de Mariana Guimarães Marchezi Chaves


Imagem divulgação [Acervo da disciplina PAUP-FCT/Unesp]
Busca em sua intervenção conciliar os limites do território com os muros e
entraves. Configura possibilidades de interação espacial radicalizando as
fissuras já existentes nas barreiras físicas limítrofes à ferrovia, ampliando
essa potencialidade e inserindo equipamentos provisórios, a serem utilizados pela
diversidade de pessoas que habitam o lugar, por vezes invisíveis ao olhar
dominante da cidade. Seus andaimes e aparatos acoplados aos muros gerariam
apropriações inesperadas integrando sua atmosfera, de alguma maneira, aos
significados mambembes do lugar.
Intervenção Parasita de Mariana Guimarães Marchezi Chaves
Imagem divulgação [Acervo da disciplina PAUP-FCT/Unesp]

Uma outra intervenção, de Juliana Morassutti Vilares de Oliveira demonstra nos


cartogramas produzidos pelas suas derivas, sua preocupação com a população
vulnerável, em situação de rua à margem da dinâmica urbana. Certo tom artístico
comparece nessa sua produção quando ensaia uma vista aérea do viaduto habitado
por sem-teto, com cores fortes. Entretanto, apresenta também, croquis que revelam
uma reflexão sobre um fazer projetual inerente ao processo da deriva urbana.

Cartogramas de Juliana Morassutti Vilares de Oliveira


Imagem divulgação [Acervo da disciplina PAUP-FCT/Unesp]

Uma intervenção que ao invés de buscar o feitio de um projeto habitacional


padrão, lê seu contexto e insiste na invisibilidade desta população, aproveitando
um material encontrado em abundancia nas redondezas para realizar sua proposta.
Pallets de madeira são pensados de modo a serem reciclados para conceber
equipamentos móveis, em vieses adequados à permanência noturna desta população em
situação de rua, com o objetivo de criar e valorizar as ambiências para
convivência das diversidades existentes.
Imagem divulgação
Intervenção Parasita de Juliana Morassutti Vilares de Oliveira [Acervo da disciplina
PAUP-FCT/Unesp]

Algumas Considerações sobre essa prática pedagógica no ateliê de projeto

A prática acadêmica desenvolvida busca permitir reflexões sobre o procedimento


metodológico projetual de intervenção no espaço da cidade contemporânea diante
das complexidades e das especificidades dos lugares em que se inserem,
especialmente, no caso das cidades do interior paulista.

Em um contexto cada vez mais dependente da tecnologia informacional, o qual


promove aceleradas mudanças e transformações, constatamos a importância da
vinculação das estratégias projetuais com as práticas democráticas e reconexão
com a escala humana de construção do território e suas atividades básicas como
caminhar, compartilhar, colaborar, encontrar e relacionar.

As intervenções no espaço urbano necessitam de ativações que dinamizem a


existência humana considerando a experiência espacial do corpo com o espaço,
permitindo trazer à tona as vivencias, a memória e a imaginação das pessoas.
Dessa forma, buscamos reconhecer o território e suas territorialidades, através
da experiência-ação do espaço, tendo em vista o método da cartografia.

Nesta proposição é preciso, então, fazer para aprender. Trilhar um caminho que
vai desvelando os nuances do terreno e os desafios do ensino-aprendizagem para o
reconhecimento urbano. Apenas a experiência do espaço revela os seus meandros e
particularidades. Nesse sentido, o futuro arquiteto urbanista pode se reconectar
com o lugar e com os “outros” que habitam a cidade, sendo ao mesmo tempo um ator
social e aquele que concebe, junto com os outros, um projeto de mudança, amparado
pela experimentação.

Conduzimos, então, para a constituição de hipóteses que desenhem espaços de


liberdade, que reconheçam o sentido de pertencimento para, assim, possibilitar a
re-ativação do contexto local. Projetos como obras abertas, in process e, em
construção junto com as pessoas. Deste modo, evitamos estimular as relações
diretas ao status quo e conduzimos à experiência dos espaços, aproveitando as
sinergias existentes.
Assim, essa proposta didático-pedagógica contém componentes exploratórios que
podem permitir avanços sobre como pensar a cidade contemporânea. Desta forma, não
nos detemos em um método estanque que produz propostas ideais, finais, ou
espetaculares, mas sobretudo, que permitem refletir sobre as brechas, fissuras e
vieses que configuram as zonas de intensidade das nossas cidades – os lugares
vivos onde há mistura de usos e pessoas.

Saídas possíveis para que o fator social possa ser revisitado e reinventado, não
nos moldes do modernismo, mas, na direção da valorização das subjetividades. Esse
pode ser o novo caminho para a “resingularização” do papel do arquiteto urbanista
e para o pensamento sobre o fazer arquitetura e urbanismo, imerso em uma visão
social, que não seja de cunho assistencialista, mas imbuída das várias dimensões
existenciais do ser humano.

notas

1
GUATTARI, Félix. A Restauração da Paisagem Urbana. Revista do IPHAN, n. 24, 1996, p.
293-300.
2
BARON, Cristina Maria Perissinotto; PAIVA, Suzana Cristina Fernandes. Complexo
Industrial e patrimônio urbano em Presidente Prudente. In FIORIN, Evandro; HIRAO,
Hélio (org.) Cidades do Interior Paulista. São Paulo, Cultura Acadêmica/Paco
Editorial, 2015.
3
FRANCISCO, Arlete Maria; FIORIN, Evandro. Patrimônio e Paisagem Urbana de Presidente
Prudente. In BARON, Cristina Maria Perissinotto; FIORIN, Evandro (org.). 100 anos
Presidente Prudente. Arquitetura e Urbanismo. Bauru, Canal 6, 2017.
4
SOLÀ-MORALES RUBIÓ, Ignasi de. Territórios. Barcelona, Gustavo Gili, 2002.
5
HIRAO, Hélio. Cenário e atmosfera das vilas Goulart e Marcondes: a paisagem de
Presidente Prudente, 2017, 100 anos. In BARON, Cristina Maria Perissinotto; FIORIN,
Evandro (org). Op. cit.

6
DEBORD, Guy (1958). Teoria da Deriva. Protopia Wiki <http://pt
br.protopia.wkia.com/wiki/Teoria_da_Deriva>
7
CARERI, Francesco. Caminhar e parar. São Paulo, GG Brasil, 2017
8
JACQUES, Paola Berenstein. Corpografias urbanas. Arquitextos, São Paulo, ano 08, n.
093.07, Vitruvius, fev. 2008
<http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/08.093/165>.
9
IANDOLI, Rafael. O que é a arquitetura parasita. E como ela ganha espaço em
cidades. Nexo Jornal, São Paulo, 2017
<https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/09/05/O-que-%C3%A9-a-arquitetura-
parasita.-E-como-ela-ganha-espa%C3%A7o-em-cidades>.

sobre os autores
Hélio Hiraoé doutor em Geografia Urbana (FCT Unesp, 2008); mestre em Arquitetura e
Urbanismo (FAU USP, 1990); graduação em Arquitetura e Urbanismo (FAU USP, 1981);
coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da FCT Unesp (2012-2014). Co-autor do
livro Cidades do Interior Paulista (Cultura Acadêmica/Paco Editorial, 2015.
Evandro Fiorin é doutor em Arquitetura e Urbanismo FAU USP (2009); mestre em
Arquitetura e Urbanismo (EESC USP, 2003); graduação em Arquitetura e Urbanismo (Faac
Unesp, 1998); coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo da FCT Unesp (2014-
2016). Co-autor Cidades do Interior Paulista (Cultura Acadêmica/Paco Editorial, 2015.

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