cinema. Refletiam, assim como os teóricos da montagem, sobre a montagem como construção
do discurso e os modos de apreensão humana deste. O chamado “movimento formalista”
nasce entre 1915 e 1930 na Rússia, mantendo diálogo com Eisenstein e Vertov, pretendendo
construir uma poética para o cinema, comparável a poética literária (STAM, p. 64). Era latente
a preocupação com a técnica, com fins de atingir o público, modificar a percepção estética
deste em relação ao cotidiano. Buscava-se, ainda, a especificidade da obra artística, o que a
define enquanto tal.
Um dos principais formalistas russos foi Chklovski (ano), que funda conceitos como
“desfamiliarização”/”estranhamento” e “dificultação”. Para o autor, era preciso definir o
caráter estético de um objeto. Partindo do pressuposto de que “A arte é pensar por imagens”
(p. 39), Chklovski procura estabelecer as bases de uma técnica artística em que seria possível
alcançar um pensamento sensível que estranhasse o que já se tornou habitual. Enquanto as
imagens comuns, do cotidiano, são meios práticos de pensar e agrupar objetos, a imagem
poética (ou o objeto estético), criada através de procedimentos particulares, teria o objetivo
de reforçar a percepção estranhada.
O objetivo da arte é dar a sensação do objeto como visão e não como reconhecimento; o
procedimento da arte é o procedimento da singularização dos objetos e o procedimento que
consiste em obscurecer a forma, aumentar a dificuldade e a duração da percepção. O ato de
percepção em arte é um fim em si mesmo e deve ser prolongado; a arte é um meio de
experimentar o devir do objeto, o que é já ‘passado’ não importa para a arte. (p. 45)