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Universidade Tecnológica Federal do Paraná ‐ UTFPR  

Programa de Pós‐Graduação em Ensino de Ciência e Tecnologia ‐ PPGECT 

                             

Bachelard e Perelman – um intertexto sobre


o uso de analogias no ensino de Ciências

Helena Rivelli

Márcio Silveira Lemgruber 

 
Resumo 
O presente texto constitui uma reflexão teórica sobre o uso da linguagem 
analógica  no  ensino  de  Ciências  à  luz  da  teoria  da  argumentação  de  Perelman  e 
das  reflexões  de  A  formação  do  espírito  científico,  de  Bachelard.  Apesar  de 
substanciais  diferenças,  podem‐se  considerar  aspectos  semelhantes  em  suas 
concepções epistemológicas. Entretanto, o relevante para esse estudo é o fato de 
que ambos se debruçam sobre um mesmo ponto: uma discussão que abarca o uso 
das analogias e metáforas. Sua contribuição para a educação em Ciências se faz na 
medida  em  que  a  linguagem  analógica  é  recurso  corrente  no  ensino  e  sua 
influência no espírito em formação está em constante debate.  

Palavras‐chave:  Bachelard,  Perelman,  linguagem  analógica,  ensino  de 


Ciências. 

Abstract 

Bachelard and Perelman – an intertext on the use of analogies in science 
education 
This text is a theoretical reflection about the use of analogical language in 
science  education  from  the  perspective  of  the  Perelman’s  theory  of 
argumentation  and  the  reflections  of  The  Formation  of  the  Scientific  Mind  of 
Bachelard.  Despite  substantial  differences  can  be  considered  similar  aspects  in 
II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia  
07 a 09 de outubro de 2010                                                                                                ISSN: 2178‐6135  
Artigo número: 166    
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their  epistemological  concepts,  which  are  designed  from  a  similar  perspective. 


However, relevant to this study is the fact that both lean over the same point: a 
discussion  that  includes  the  use  of  analogies  and  metaphors.  His  contribution  to 
science  education  is  done  in  that  analogical  language  is  stream  resource  in 
teaching and its influence on the mind in formation is in constant debate. 

Keywords: Bachelard, Perelman, analogical language, science education. 

II Simpósio Nacional de Ensino de Ciência e Tecnologia  
07 a 09 de outubro de 2010                                                                                                ISSN: 2178‐6135  
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Introdução
As  lacunas  que  permeiam  o  ensino  de  Ciências  emergem  em  estudos  que  visam  um 
balanço do cenário educacional nessa primeira década do século XXI. Em muitos casos, prevalece 
a  divulgação  de  uma  ciência  que  os  alunos  são  incapazes  de  abstrair  e  conhecer 
significativamente.  Assim,  a  construção  do  conhecimento  científico  por  parte  dos  alunos  no 
ensino fundamental abarca uma série de processos que anseiam por estudos em várias temáticas. 
Contemplar a construção desse conhecimento exige dos profissionais da educação um complexo 
entendimento  dos  mecanismos  que  envolvem  linguagem,  ensino  e  aprendizagem,  além  do 
domínio  das  bases  do  próprio  conhecimento  científico.  Pressupõe‐se  que  ensinar  Ciências  é 
inserir o estudante em uma nova cultura, com princípios, procedimentos e linguagem próprios e 
que essa introdução em um universo cultural específico pode ser dificultada pelo distanciamento 
entre o discurso científico e o discurso cotidiano dos estudantes (Mortimer e Bustamante, 2001; 
Jimenez‐Aleixandre e Erduran, 2007). Destacando o papel do professor mediador que deve buscar 
desenvolver estratégias de aproximação dos estudantes com os objetos da ciência, que não são 
os  fenômenos  da  natureza,  mas  construções  desenvolvidas  pela  comunidade  científica  para 
interpretar  a  natureza,  o  uso  das  analogias  como  prática  docente  merece  destaque,  já  que 
caracterizam um inegável recurso para a construção do conhecimento científico na sala de aula.  

De  acordo  com  Vygotsky  (1987),  ao  construir  seu  lento  caminho,  um  conceito  cotidiano 
desobstrui  a  trajetória  para  o  conceito  científico  e  seu  desenvolvimento  ascendente.  Portanto, 
quando  um  domínio  é  inacessível  à  experiência  e  à  verificação,  abstrato  e  desconhecido,  uma 
relação analógica pode ser estabelecida para seu esclarecimento.  As analogias “transpõem para 
outro  domínio  o  que  já  é  admitido  para  um  domínio  determinado”  (Perelman,  1987,  p.  259).  A 
partir da evocação dos saberes prévios dos alunos, a abstração dos conceitos científicos dá lugar a 
uma relação em que algo concreto e cotidiano facilita a compreensão do que parece distante e 
abstrato.  A  linguagem  analógica  é  capaz  de  aproximar  ainda  mais  o  discurso  científico 
(supostamente o do professor) do discurso dos alunos, pois se apoia em seus saberes cotidianos. 
Contudo, não é recente a preocupação com a influência que esses conhecimentos prévios têm na 
formação  científica.  Bachelard  já  ressaltava,  na  década  de  1930,  que  a  abstração  é  um  elo 
essencial para a formação do espírito científico e que, tomadas fora da complexidade que lhes é 
devida, “as metáforas seduzem a razão, tornando‐se esquemas gerais” (1996, p. 97). Parece cada 
vez mais clara, então, a necessidade de reflexões sobre o uso da linguagem analógica no ensino 
de Ciências. 

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07 a 09 de outubro de 2010                                                                                                ISSN: 2178‐6135  
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Entender  como  se  dá  o  processo  de  ancoragem1  do  conhecimento  no  espírito  em 
formação levou Vasconcelos (1997, p. 209) a salientar que: 

O problema pedagógico básico que se coloca é quanto ao que fazer para que o 
aluno  possa  se  apropriar  do  saber  de  uma  maneira  o  mais  significativa, 
concreta,  transformadora  e  duradoura  possível.  Durante  muito  tempo,  houve 
uma  preocupação  muito  grande  em  ‘como  ensinar?’.  Atualmente,  se  percebe 
que  para  enfrentar  esta  questão,  a  ênfase  tem  que  ser  deslocada,  ou  seja, 
deve‐se buscar um outro eixo de definição: ‘como o aluno aprende?’. 

Entretanto, é possível que se coloque agora uma outra pergunta: qual a influência da linguagem 
analógica  na  construção  do  conhecimento  científico  na  sala  de  aula?    Nas  reflexões  sobre  essa 
questão,  duas  teorias  ganham  destaque  por  sua  real  contribuição  para  esse  estudo:  a  teoria  de 
Chaïm  Perelman  e  as  discussões  de  Gaston  Bachelard.  Busca‐se  agora  a  compreensão  de  como 
seria um possível diálogo entre elas a fim de obter um sólido referencial para a prática pedagógica 
dos professores de Ciências. 

O presente texto constitui, sem a pretensão de se esgotar o assunto, uma reflexão teórica 
sobre a o uso da linguagem analógica no ensino de Ciências à luz da teoria da argumentação de 
Perelman  e  das  contribuições  de  A  formação  do  espírito  científico  de  Bachelard,  visando 
contribuições à prática docente. 

Bachelard e A formação do espírito científico


Gaston  Bachelard  dedicou‐se  intensamente,  de  1940  a  1962  –  ano  de  sua  morte  –  a 
atividade  docente  na  Sorbonne,  em  Paris.  Suas  contribuições  são  rotineiramente  divididas  em 
dois momentos: Bachelard “diurno”, aquele que pensa o saber científico; e Bachelard “noturno”, 
que se preocupa com a criação artística, as potências da imaginação. São marcadamente de seu 
período  “diurno”  as  reflexões  que  orientam  A  formação  do  espírito  científico:  contribuição  para 
uma psicanálise do conhecimento, editado pela primeira vez em 1938. Remontando os cenários 
científicos de épocas de intensa atividade, Bachelard (1996) rotula, a grosso modo, três etapas do 
conhecimento  científico:  o  estado  pré‐científico  (tanto  a  Antiguidade  quanto  os  séculos  de 
renascimento  e  de  novas  buscas);  o  estado  científico  (em  preparação  no  fim  do  século  XVIII, 
século XIX e início do século XX) e o novo espírito científico (tem o ano de 1905 como o início de 
                                                            
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              Relativo à apropriação de novos conteúdos apoiada em conhecimentos prévios. 
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sua  era,  momento  em  que  a  Relatividade  de  Einstein  e  as  contribuições  da  física  quântica 
deformam conceitos primordiais que eram tidos como fixados para sempre). Nessa obra, o autor 
apresenta  um  rico  discurso,  sempre  atual,  sobre  os  obstáculos  e  principais  dificuldades  que 
constituem  resistências  ao  conhecimento  científico.  Reforça  ainda  que  (Bachelard,  1996,  p.  7) 
“tornar  geométrica  a  representação,  delinear  os  fenômenos  e  ordenar  em  série  os 
acontecimentos decisivos de uma experiência ‐ eis a tarefa primordial em que se firma o espírito 
científico”. 

Acreditando  na  possibilidade  de  se  distinguirem  três  estágios  na  formação  científica  –  o 
estado  concreto;  o  estado  concreto‐abstrato  e  o  estado  abstrato,  é  que  a  noção  de  obstáculo 
epistemológico  emerge.  Esse  se  configura  como  uma  barreira  ao  conhecimento,  pois  imagens 
gerais podem permanecer como um obstáculo à abstração. Com efeito, ao examinar a evolução 
do espírito científico, logo se percebe um movimento que vai do geométrico mais ou menos visual 
para  a  abstração  completa,  procedimento  normal  e  fecundo  do  raciocínio  científico.  Para 
Bachelard (1996, p. 17), “o ato de conhecer dá‐se contra um conhecimento anterior, destruindo 
conhecimentos  mal  estabelecidos,  superando  o  que,  no  próprio  espírito,  é  obstáculo  à 
espiritualização”.  Assim,  as  intuições/experiências  primeiras  e  o  senso  comum  (conhecimentos 
gerais)  se  incrustam  no  conhecimento  não  questionado,  impedindo  a  concretização  dos  três 
estágios necessários à formação do espírito científico, porque “diante do real, aquilo que cremos 
saber com clareza ofusca o que deveríamos saber” (Bachelard, 1996, p. 18).   

É característica do espírito pré‐científico, que se aliena em intuições infundadas, apoiar‐se 
em  concepções  próprias  e  ingênuas  dos  fenômenos  do  mundo  para  tirar  suas  conclusões.  Os 
grandes obstáculos epistemológicos (também aludidos como obstáculos pedagógicos) do espírito 
pré‐científico, provenientes dessas primeiras experiências que concebem ingenuamente o mundo 
natural  e  que  se  apresentam  como  barreiras  também  ao  ensino  de  Ciências,  apresentam‐se  de 
variadas  formas.  No  obstáculo  constituído  por  uma  imagem  geral,  o  acúmulo  de  imagens 
prejudica evidentemente a razão, já que o concreto, apresentado sem prudência, impede a visão 
abstrata  e  nítida  dos  problemas  reais.  O  obstáculo  substancialista  se  configura  ao  buscar  na 
essência das substâncias a explicação para os mais variados fenômenos. No obstáculo animista, a 
natureza e todas as suas relações são envolvidas em uma teoria geral da vida, aplicada a todos os 
fenômenos da matéria. Por fim, o obstáculo constituído pela libido se caracteriza, principalmente, 
por intuições maniqueístas relativas ao ato gerador. 

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Analisando  o  caminho  da  ciência  nos  últimos  séculos,  em  especial  no  século  XVIII, 
observa‐se o quanto metáforas e analogias equivocadas embargaram o avanço e a objetividade2 
do  conhecimento  científico.  Essas  metáforas,  nem  sempre  passageiras,  acabam  por  se  tornar 
esquemas gerais que dão lugar à busca pelo concreto, a experiências fortemente individualizadas, 
obstruindo  o  caminho  da  abstração.  Desse  modo,  são  aos  obstáculos  epistemológicos  que  se 
alude  ao  questionar  a  construção  do  conhecimento  científico  na  sala  de  aula  apoiado  em 
analogias. Segundo Bachelard (1996, p. 23): 

Os  professores  de  Ciências  imaginam  que  o  espírito  começa  como  uma  aula, 
que  é  sempre  possível  reconstruir  uma  cultura  falha  pela  repetição  da  lição, 
que  se  pode  fazer  entender  uma  demonstração  repetindo‐a  ponto  por  ponto. 
Não levam em conta que o adolescente entra na aula (...) com conhecimentos 
empíricos  já  constituídos:  não  se  trata,  portanto,  de  adquirir  uma  cultura 
experimental,  mas  sim  de  mudar  de  cultura  experimental,  de  derrubar  os 
obstáculos já sedimentados pela vida cotidiana. 

Pensar as analogias e metáforas como entraves ao conhecimento não é algo novo, uma 
vez  que  Bachelard  demonstrava  essa  preocupação  em  seus  estudos  na  década  de  1930.  No 
entanto, essa temática se torna cada vez mais atual, juntando‐se a concepções que exaltam o uso 
desse  recurso  como  facilitador  no  ensino  de  Ciências.  Transpor  as  barreiras  deixadas  pelos 
obstáculos pedagógicos é atividade que deve ser pensada e construída cautelosamente ao longo 
da  prática  docente  dos  professores  de  Ciências.  Estender  todo  o  denso  conhecimento  proposto 
na  obra  de  Bachelard  ao  ensino  da  ciência  nas  escolas  requer  uma  crítica  posição  do  professor 
frente  às  barreiras  à  construção  do  conhecimento  científico.  Cabe  refletir  então  sobre  como  se 
dá, no aluno, a abstração necessária a apropriação desse conhecimento. 

A teoria da argumentação de Perelman


Chaïm Perelman nasceu  na Polônia, passando grande parte  de  sua vida na Bélgica onde 
foi  professor  na  Universidade  de  Bruxelas,  dedicando‐se  a  estudos  no  campo  da  filosofia  e  do 
direito e apresentando‐se como um dos maiores estudiosos da retórica no século XX. Influenciado 
por algumas das teorias aristotélicas da comunicação tornou‐se defensor de uma nova retórica, 

                                                            
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              Uma das características mais marcantes do conhecimento científico, segundo Bachelard. 
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imersa na chamada racionalidade argumentativa3. Jamais abraçando o extremismo, questionou a 
objetivação  do  meio  físico  e  o  método  racional  dedutivo,  proposto  inicialmente  por  Descartes, 
como  o  único  acesso  seguro  à  verdade.  Para  Perelman,  a  racionalidade  argumentativa  é  aquela 
que  prefere  o  verossímil  ao  verdadeiro  (Perelman  e  Olbrechts‐Tyteca,  2005).  Envolvido  com  as 
formulações  dessa  nova  retórica,  dedicou‐se  à  elaboração  de  uma  teoria  da  argumentação  e, 
juntamente com sua colaboradora Lucie Olbrechts‐Tyteca, organizou‐a em um tratado publicado 
pela primeira vez em 1958, onde projeta todas as suas reflexões sobre o que considera como um 
outro campo, para além do demonstrativo, que é desprezado pela lógica formal. É esse campo ao 
qual  deu  o  nome  de  argumentativo,  ou  seja,  todo  o  discurso  que  não  é  passível  de  redução  ao 
cálculo.  Sobre  as  discrepâncias  entre  o  discurso  demonstrativo  característico  das  explanações 
formais e o discurso argumentativo, acrescenta ainda que:  

A argumentação é essencialmente comunicação, diálogo, discussão. Enquanto 
a  demonstração  é  independente  de  qualquer  sujeito,  até  mesmo  do  orador, 
uma vez que um cálculo pode ser efetuado por uma máquina, a argumentação 
por sua vez necessita que se estabeleça um contato entre o orador que deseja 
convencer e o auditório disposto a escutar (Perelman, 1987, p. 235).  

Perelman e Olbrechts‐Tyteca (2005) consideram que o discurso argumentativo não é um 
monólogo  onde  não  existe  qualquer  preocupação  com  os  outros:  faz‐se  através  da  interação. 
Ampliam  o  conceito  de  auditório  para  além  do  referencial  grego,  onde  era  concebido  como  o 
conjunto  dos  ouvintes  presentes  à  ágora.  O  auditório  se  refere,  então,  a  todos  os  ouvintes  do 
discurso, oral ou escrito, que o influenciam e são influenciados por ele.  Desse modo, a linguagem 
é meio importante para o discurso argumentativo, pois para que haja argumentação é necessária 
uma comunidade efetiva dos espíritos.  Portanto, o orador deve fazer um esforço para conhecer 
de forma reflexiva seu auditório, a fim de obter a aceitação/persuasão no tocante a sua tese. No 
auditório universal, aquele que se  pretende como  encarnação  de todos os ouvintes  possíveis, o 
orador  se  vê  embasado  por  premissas  de  senso  comum.  Por  esse  ângulo,  é  o  que  mais  se 
aproxima da sala de aula, em toda a sua diversidade. No auditório de elite, que se constitui pelo 
conjunto de especialistas que compartilham de premissas basilares semelhantes, se não iguais, o 
orador  tem  de  argumentar  com  vistas  a  um  público  com  teses  já  bem  definidas.  No  auditório 
particular, o orador se esforça para atingir ouvintes adeptos de determinadas crenças ou posições 

                                                            
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            Aquela  que  Perelman  e  Olbrechts‐Tyteca  (2005)  concebem  como  um  dos  campos  da  racionalidade 
humana. 
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políticas  também  já  estabelecidas.  A  argumentação  se  faz,  então,  um  espaço  interativo  em  que 
orador  e  ouvinte  estabelecem  uma  ponte  comunicativa  por  meio  da  linguagem  onde 
conhecimentos  de  ordem  argumentativa,  não  redutíveis  à  lógica  formal,  se  inter‐relacionam 
visando um acordo. 

Apesar da aparente distância entre a teoria da argumentação e a educação em Ciências, 
há aí uma importante contribuição à mesma. Os métodos baseados em raciocínios lógico‐formais, 
comuns  nas  ciências  naturais,  irradiam  seus  reflexos  no  ensino  de  Ciências,  confundindo‐o  e 
dificultando a ancoragem dos conteúdos com formas pouco ou nada dialógicas de transmissão de 
conceitos, apoiadas em atividades fundamentalmente demonstrativas e narrativas. Um ensino de 
argumentativo pode se tornar alicerce àqueles que contemplam a sala de aula como espaço social 
e,  por  isso,  lugar  de  interação:  onde  os  atores  se  encontram  face  a  face  e  sofrem  influência 
recíproca uns dos outros (Cajal, 2003).  

Para  uma  melhor  compreensão  dos  recursos  argumentativos,  Perelman  tece  em  sua 
teoria  uma  densa  teia  de  técnicas  argumentativas.  Estas  ajudam  a  compreender  como  os 
diferentes elementos do discurso interagem em toda a amplitude da argumentação. Os esquemas 
argumentativos se caracterizam, assim, em processos de ligação e de dissociação. “Entendemos 
por processos de ligação esquemas que aproximam elementos distintos e que visam estabelecer 
entre  eles  uma  solidariedade”  (Perelman  e  Olbrechts‐Tyteca,  2005,  p.  215).  Já  os  processos  de 
dissociação  correspondem  a  “técnicas  de  ruptura  com  o  objetivo  de  dissociar,  separar,  desunir 
elementos  considerados  um  conjunto  solidário  dentro  de  um  mesmo  sistema  de  pensamento” 
(Perelman e Olbrechts‐Tyteca, 2005, p. 215). Os elementos de ligação ainda são classificados em 
três  categorias  intercambiáveis  na  dinâmica  do  discurso.    Os  argumentos  quase‐lógicos 
pretendem  certa  força  de  convicção,  na  medida  em  que  se  apresentam  como  comparáveis  a 
raciocínios  formais.  Os  argumentos  baseados  na  estrutura  do  real  valem‐se  do  mesmo  para 
estabelecer  uma  solidariedade  entre  juízos  admitidos  e  outros  que  se  pretende  admitir.  As 
ligações que fundamentam a estrutura do real tendem a generalizar o que é aceito a propósito de 
um  caso  particular.  É  nessa  categoria  que  se  inserem,  segundo  Perelman,  as  metáforas  e 
analogias, elementos que merecem destaque nesse estudo.    
Considera‐se  que  o  uso  da  analogia  consiste  na  aproximação  de  dois  domínios 
semelhantes, em que o primeiro representa o que se desejaria esclarecer, apoiado no segundo. 
Nesse contexto, tem‐se a metáfora como uma analogia condensada, isto é, ao omitir o termo que 
permite  ligar  dois  elementos  analógicos  traduz  as  semelhanças  de  suas  relações  em  identidade 
(Perelman  e  Olbrechts‐Tyteca,  2005).  Autores  como  Cachapuz  (1989)  e  Nagem  et  al  (2001) 

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07 a 09 de outubro de 2010                                                                                                ISSN: 2178‐6135  
Artigo número: 166    
Universidade Tecnológica Federal do Paraná ‐ UTFPR  

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sustentam  que  a  linguagem  metafórica  se  apresenta  como  um  estilo  menos  rígido  e  mais 
expressivo  de  transferência  de  um  domínio  conceitual  para  outro,  além  de  representar  uma 
forma  interativa  de  se  estruturar  conceitos.  As  analogias  fornecem,  assim,  uma  similitude  de 
relações  entre  um  termo  que  se  deseja  explicar  e  outro  já  conhecido,  e  não  uma  simples 
comparação, imagem ou modelo a ser seguido.  
Resta,  agora,  compreender  como  essa  técnica  argumentativa  proposta  por  Perelman  e 
Olbrechts‐Tyteca  poderá  orientar  a  prática  dos  professores  de  Ciências  na  construção  do 
conhecimento na sala de aula. 

 
Bachelard e Perelman: o intertexto no ensino de Ciências
A  busca  por  uma  educação  científica  que  contemple  a  dialogicidade  como  realidade  é 
constante, visto que o enrijecimento do ensino com métodos exclusivamente demonstrativos há 
muito se mostra incompatível com a formação do espírito científico. Partindo do pressuposto de 
que, além da motivação e as experiências de cada indivíduo, a linguagem exerce importante papel 
na  criação,  construção  e  aprendizagem  de  conhecimentos,  tem‐se  como  ponto  de  partida  em 
estudos  que  visam  um  real  avanço  nos  processos  ensino‐aprendizagem  de  Ciências  a  relação 
entre  conhecimento  e  linguagem.  Estabelecer  uma  relação  dialógica  entre  as  noções  propostas 
por  Perelman  e  Bachelard  não  é  tarefa  simples,  uma  vez  que  cada  um  deles  explora  com  suas 
teorias  diferentes  campos  do  conhecimento.  O  primeiro  busca  promover  um  resgate  de 
pressupostos  retóricos.  Já  o  segundo,  entretém‐se  em  explicitar  as  principais  barreiras  ao 
conhecimento  científico  ao  longo  do  tempo.  Entretanto  podem‐se  considerar  aspectos 
semelhantes  em  suas  concepções  epistemológicas.  Concebidas  sob  a  ótica  de  uma  perspectiva 
regressiva,  ambas  salientam  que  o  conhecimento  não  se  apoia  em  verdades  primeiras  ou 
axiomáticas, mas sim em primeiros erros. Com uma abordagem histórica, acentuam que todo o 
conhecimento, assim como as conquistas da ciência, é historicamente datado. Suas reflexões não 
são passíveis de extensão a todo e qualquer campo da razão humana, devido ao seu caráter sócio‐
histórico  e  setorial.  No  entanto,  o  interessante  para  esse  estudo  é  o  fato  de  que  ambos  se 
debruçam  sobre  um  mesmo  ponto:  uma  discussão  teórica  que  abarca  o  uso  das  analogias  e 
metáforas. Sua contribuição para a educação se faz na medida em que a linguagem analógica é 
recurso corrente no ensino e sua influência no espírito em formação está em constante debate. 
No que tange o ensino de Ciências se questiona como a teoria da argumentação de Perelman e A 
formação do espírito científico de Bachelard podem contribuir para esse debate. 

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Admitindo  a  barreira  da  linguagem  como  um  importante  entrave  ao  ensino  do 
conhecimento científico na sala de aula, estabelece‐se uma importante relação com a noção de 
auditório. Para Perelman, orador, diálogo e auditório, mediados por uma linguagem comum, são 
condições  essenciais  para  um  processo  de  comunicação  eficiente.  As  percepções  de  orador  e 
auditório influenciam o discurso argumentativo, pois as opiniões de qualquer pessoa dependem 
de seu meio social, de seu círculo, das pessoas que frequenta e com quem convive.  O auditório se 
apresenta como aquele que ouve e, portanto, deve ser ouvido para que haja contato intelectual 
entre  os  espíritos.    Assim,  “o  conhecimento  daqueles  que  se  pretende  conquistar  é,  pois,  uma 
condição  prévia  de  qualquer  argumentação  eficaz”  (Perelman  e  Olbrechts‐Tyteca,  2005,  p.  23). 
Reportando  tais  reflexões  a  cenários  reais  de  ensino  fixa‐se  como  figura  central  o  professor  em 
sua condição de orador, frente a um auditório não mais concebido como uma folha em branco, 
mas  como  espíritos  que,  apesar  de  ainda  em  formação,  têm  uma  longa  trajetória  de  primeiras 
experiências. Estas devem ser respeitadas, uma vez que o orador‐professor deve adaptar‐se a seu 
auditório‐alunos de modo a transformar suas primeiras experiências em reflexão para um possível 
conhecimento crítico da realidade. Por esse ângulo, os conhecimentos gerais ou de senso comum 
representam  as  primeiras  interpretações  do  aluno  e  têm  importante  papel  no  seu 
desenvolvimento intelectual. 

Esses  primeiros  dados  que  o  aluno  obtém  da  realidade  através  de  suas  próprias 
experiências  são  também  seus  primeiros  (pré)conceitos.  Quando  o  estudante  se  apoia  em 
interpretações equivocadas para tecer a base de um conhecimento futuro cria para sua própria 
formação  um  obstáculo  epistemológico.  Tendo  incrustados  em  seu  espírito  conhecimentos  não 
questionados,  pois  se  supõe  verdadeiros,  o  aluno  é  incapaz  de  evoluir  na  construção  do 
conhecimento  científico,  uma  vez  que  “chega  o  momento  em  que  o  espírito  prefere  o  que 
confirma seu saber àquilo que o contradiz, em que gosta mais de respostas do que de perguntas. 
O  instinto  conservativo  passa  então  a  dominar,  e  cessa  o  crescimento  espiritual”  (Bachelard, 
1996, p. 19). É devido a essa preocupação com os obstáculos pedagógicos que Bachelard se refere 
aos saberes subjetivos a as intuições primeiras como contra‐pensamentos, ou seja, “a experiência 
colocada antes e acima da crítica – crítica esta que é, necessariamente, elemento integrante do 
espírito científico” (Bachelard, 1996, p. 29). 

Nesse  conturbado  contexto,  emergem  as  analogias  e  metáforas  com  a  pretensão  de 
constituir  um  recurso  pedagógico  para  o  ensino  de  Ciências.  Estabelecendo  relações  entre  algo 
que  se  deseja  conhecer  e  um  dado  já  conhecido,  trazem  à  luz  semelhanças  que  os  alunos 
atribuem  ao  novo  conceito  apresentado.    Quando  Perelman  as  inclui,  em  suas  Técnicas 

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Argumentativas, na classe dos argumentos que fundam a estrutura do real, supõe que extrapolem 
o  papel  do  modelo  ou  do  exemplo,  que  generalizam  o  que  é  aceito  em  um  caso  particular.  As 
analogias  também  têm  o  papel  de  evocar  certa  presença  a  algo  completamente  desconhecido, 
mas  não  se  prestam  a  generalização  do  caso  particular:  “como  uma  forma  de  raciocínio,  o 
argumento por analogia e o uso das metáforas são indispensáveis a todo o pensamento criador” 
(Perelman, 1987, p. 207).  Longe de ser um meio de prova, a analogia, por oposição à proporção, 
consiste na aproximação de dois domínios heterogêneos. Assim (Perelman, 1987, p. 208): 

Nunca ninguém contestou o papel heurístico das analogias: quando se trata de 
explorar  um  domínio  desconhecido,  de  sugerir  a  idéia  daquilo  que  não  é 
cognoscível,  um  modelo  extraído  de  um  domínio  conhecido  fornece  um 
instrumento indispensável para guiar a investigação e a imaginação. 

O  uso  desse  recurso,  tal  qual  propõe  Perelman,  se  mostra  eficiente  na  construção  do 
conhecimento e possibilita ao professor transpor a barreira que a linguagem muitas vezes impõe 
ao  ensino  de  Ciências.  Contudo,  a  busca  por  concretizar  um  conceito  abstrato  é,  como  sugere 
Bachelard, apenas uma das etapas fundamentais da experiência científica. 

Ao contemplar as etapas que convergem para a formação individual do espírito científico, 
Bachelard  apresenta  notável  preocupação  com  a  capacidade  de  abstração.  Segundo  ele,  no 
estado  concreto,  o  espírito  se  entretém  com  as  primeiras  imagens  do  fenômeno.  No  estado 
concreto‐abstrato,  o  espírito  acrescenta  à  experiência  esquemas  geométricos.  No  estado 
abstrato,  deve  adotar  informações  voluntariamente  subtraídas  à  intuição  do  espaço  real, 
voluntariamente desligadas da experiência imediata. Portanto (Bachelard, 1996, p. 10): 

Sobre  qualquer  questão,  sobre  qualquer  fenômeno,  é  preciso  passar  primeiro 


da  imagem  para  a  forma  geométrica  e,  depois,  da  forma  geométrica  para  a 
forma  abstrata,  ou  seja,  seguir  a  via  psicológica  normal  do  pensamento 
científico. (...) Não é de admirar que essa geometrização tão difícil e tão lenta 
apareça por muito tempo como conquista definitiva e suficiente para constituir 
o sólido espírito científico, tal como se vê no século XIX. Será necessário, porém, 
provar que esta geometrização é um estágio intermediário. 

Dessa  maneira,  fica  claro  o  quanto  o  desejo  de  atingir  o  concreto,  aludido  em 
apropriações  analógicas  equivocadas,  pode  dificultar  a  apropriação  do  conhecimento  por  parte 
dos alunos. A abstração se mostra, então, como um último estágio dessa construção. Os limites 

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concreto‐abstrato norteiam o modo essencial como analogias e metáforas devem ser apropriadas 
no ensino.  

Dialogando sobre essa problemática, Bachelard tem como uma de suas preocupações os 
momentos  em  que  os  saberes  preconcebidos  que  os  alunos  trazem  consigo,  aliados 
erroneamente  ao  pensamento  analógico,  constituem  barreiras  ao  avanço  do  conhecimento 
científico, pois se transformam em esquemas gerais que permanecem em vez de assumirem um 
papel  transitório  (Ferry  e  Nagem,  2008).  Quanto  a  isso,  Perelman  e  Olbrechts‐Tyteca  (2005) 
destacam a complexidade do uso da linguagem analógica: já que traduz relações entre um termo 
que se deseja explicar e outro já conhecido seu uso deve ser sistemático para que o aluno possa 
captar a estrutura da analogia e integrá‐la de forma significativa em sua estrutura cognitiva.  Para 
alertar sobre o possível aspecto reducionista das analogias, Lemgruber (2007, p. 5) faz referência 
ao exemplo do professor de Ciências que diz para seus alunos:  

que  o  átomo  é  como  um  sistema  solar  em  miniatura.  Essa  analogia,  essa 
comparação entre um campo que se quer conhecer (no caso, o átomo) com um 
que se conhece – ou se pretende conhecer – (no caso, o sistema solar) permite 
dar  um  chão  a  um  conceito  tão  complexo,  tão  pouco  palpável.  O  problema  é 
que esse modelo atômico já tem mais de 100 anos. Hoje atrapalha mais do que 
ajuda. Ou seja, em algum momento essa analogia terá que ser desconstruída 
para não passar a se constituir em um obstáculo pedagógico. 

Assim,  as  diferenças  entre  os  elementos  da  relação  analógica  devem  também  ser 
explicitadas,  para  que  não  ocorram  transferências  indesejáveis.  Para  que  a  relação  seja 
suficientemente esclarecida, a analogia deve ser desconstruída4 ou desrealizada5 até o ponto em 
que  os  alunos  sejam  capazes  de  compreender  a  finidade  das  relações.  Portanto,  o  papel  da 
analogia  “será  o  de  andaimes  em  uma  casa  em  construção  que  são  retirados  quando  o  edifício 
está terminado” (Perelman, 1987, p.208).  

Faz‐se referência aqui à analogia não como simples figura retórica, mas como um recurso 
da linguagem capaz de auxiliar na compreensão daquilo que se concebe como realidade. Com a 
desconstrução  da  analogia,  a  linguagem  analógica  é  capaz  de  contribuir  na  evolução  dos  três 
estágios, propostos por Bachelard, necessários à construção do conhecimento científico. Resta ao 

                                                            
4
              Perelman (2005). 
5
              Nagem et al (2001). 
 
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professor de Ciências articular sua prática pedagógica respeitando a tríade: primeiras imagens  
busca  pelo  concreto    abstração,  na  qual  a  analogia  e  sua  desconstrução  significam, 
respectivamente,  segundo  e  terceiro  membros,  lembrando  sempre  que  o  conhecimento  efetivo 
necessita  da  conclusão  dessas  três  etapas.  Acredita‐se  que  dessa  forma  o  uso  sistemático  da 
analogia contribui significativamente para o ensino de Ciências. 

Considerações finais
A intenção aqui não é defender ou idealizar um ensino de Ciências que tenha por objetivo 
formar  cientistas,  mas  salientar  sua  responsabilidade  frente  à  necessidade  da  formação  de 
cidadãos  cientificamente  conscientes.    Apesar  de  o  conhecimento  científico  ser  obtido  por 
métodos  tradicionalmente  exatos,  seu  ensino  nas  escolas  não  prescinde  de  exatidão:  ensinar 
Ciências não é preciso. Portanto, mostra‐se urgente a discussão acerca de metodologias de ensino 
que  sejam  capazes  de  contemplar  o  aluno  com  toda  a  sua  “bagagem”  cultural.  As  analogias  e 
metáforas constituem uma dessas metodologias. Seu uso, entretanto, requer uma lúcida reflexão 
por parte do professor. Perelman e Bachelard podem guiá‐lo nesse estudo.  

Tomando a apropriação como um processo de aprendizagem que conduz à interiorização 
do conhecimento, faz‐se muitas vezes necessário o uso de recursos que estimulem tal processo.  
A linguagem analógica é um desses recursos. Ignorando sua complexidade, muitos ainda utilizam 
a analogia como um exemplo que generaliza um caso particular e ao qual o aluno se agarra para 
estabelecer  as  bases  de  sua  compreensão.  Desse  modo,  como  afirma  Bachelard,  cria  em  seu 
processo de formação um obstáculo. Para evitar que isso ocorra, Perelman salienta que a relação 
analógica  é  apenas  um  andaime,  ou  seja,  algo  que  deve  ser  retirado  quando  o  processo  de 
construção estiver concluído.  

Admitindo  as  três  etapas  da  formação  científica  –  estado  concreto,  estado  concreto‐
abstrato e estado abstrato – o professor de Ciências deve estar preparado para compreender o 
papel  do  senso  comum.  O  eu  empírico  representa  aqueles  conhecimentos  que  o  aluno  adquiriu 
por  força  de  suas  próprias  experiências  –  é  o  seu  cotidiano  adentrando  a  sala  de  aula.  Nesse 
momento,  longe  de  ignorar  as  dificuldades  dessa  abordagem,  é  preciso  que  se  opere  a 
dissociação entre senso comum e conhecimento científico, aproximando ao máximo este último 
de situações vivenciadas pelos alunos. A linguagem analógica se apresenta eficaz nesse aspecto. 
Superando  a  geometrização  e  atingindo  a  etapa  da  abstração,  consideram‐se  apropriados  pelos 

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alunos os novos conceitos propostos e o eu epistêmico pode agora refletir sobre os vários papéis 
que a ciência desempenha em sua vida. 

Referências
BACHELARD,  G.  A  formação  do  espírito  científico:  contribuição  para  uma  psicanálise  do 
conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996. 

CACHAPUZ,  A.  Linguagem  metafórica  e  o  ensino  de  Ciências.  Revista  Portuguesa  de  Educação, 
Braga, v.2, n.3, 1989. 
CAJAL, I. B. A interação de sala de aula: como o professor reage às falas iniciadas pelos alunos? 
In: Cox, M. I. P.; Asis‐Peterson, A. A. (orgs.). Cenas de sala de aula. Campinas: Mercado de Letras, 
2003. 
FERRY,  A.  S.  e  NAGEM,  R.  L.  Analogias  e  contra‐analogias:  uma  proposta  para  o  ensino  de 
Ciências numa perspective bachelardiana. Experiências em Ensino de Ciências, Porto Alegre, v. 3, 
n. 1, 2008. 

JIMÉNEZ‐ALEIXANDRE,  M.  P.  e  ERDURAN,  S.  Argumentation  in  science  education:  an  overview. 
In: Erduran, S.; Jiménez‐Aleixandre, M. P. Argumentation in Science Education: perspectives from 
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LEMGRUBER,  M.  S.  Argumentação,  metáforas  e  educação.  In:  VII  Encontro  de  Pesquisa  em 
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MORTIMER, E. F e BUSTAMANTE, A. L. Linguagem, cultura e cognição: reflexões para o ensino e a 
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NAGEM, R. L.; CARVALHAEs, D. O. e DIAS, J. A. Y. T. Uma proposta de metodologia de ensino com 
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PERELMAN, C. Analogia e metáfora. Enciclopédia Einaudi, Lisboa, v. 11, 1987. 

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VASCONCELOS, C. S. Construção do conhecimento em sala de aula. São Paulo: Libertad, 1997.  

VYGOTSKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987. 
 
 
 
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Helena Rivelli. Aluna do Programa de Mestrado em Educação da Universidade Federal de Juiz de 
Fora. helenarivelli@yahoo.com.br 
Márcio Silveira Lemgruber. Professor Doutor Associado da Faculdade de Educação – Universidade 
Federal de Juiz de Fora. mslemgruber@gmail.com 

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