SISTEMA DE ENSINO
Autora
Cora de Andrade Ramos
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial
Hexag Editora
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista
Revisora
Ana Paula Chican de Oliveira
Pesquisa iconográfica
Cora de Andrade Ramos
Programação visual
Hexag Editora
Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Bruno Alves Oliveira Cruz
Camila Dalafina Coelho
Eder Carlos Bastos de Lima
Raphael de Souza Motta
Capa
Hexag Editora
Impressão e acabamento
Imagem Digital
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo usado apenas para fins didáticos, não represen-
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2016
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"entre frases"
estudo da escrita
CIDADE PREVISTA
(...)
A utopia nos distancia da realidade presente, ela nos torna Irmãos, cantai esse mundo
capazes de não mais perceber essa realidade como natural, que não verei, mas virá
obrigatória e inescapável. Porém, mais importante ainda, a utopia um dia, dentro em mil anos,
nos propõe novas realidades possíveis. Ela é a expressão de todas as talvez mais... não tenho pressa.
potencialidades de um grupo que se encontram recalcadas pela Um mundo enfim ordenado,
ordem vigente. uma pátria sem fronteiras,
Paul Ricoeur. Adaptado. sem leis e regulamentos,
uma terra sem bandeiras,
A desaparição da utopia ocasiona um estado de coisas sem igrejas nem quartéis,
estáco, em que o próprio homem se transforma em coisa. Iríamos, sem dor, sem febre, sem ouro,
então, nos defrontar com o maior paradoxo imaginável: o do homem um jeito só de viver,
que, tendo alcançado o mais alto grau de domínio racional da mas nesse jeito a variedade,
existência, se vê deixado sem nenhum ideal, tornando se um mero a mulplicidade toda
produto de impulsos. O homem iria perder, com o abandono das que há dentro de cada um.
utopias, a vontade de construir a história e, também, a capacidade de Uma cidade sem portas,
compreendê la. de casas sem armadilha,
Karl Mannheim. Adaptado.
um país de riso e glória
como nunca houve nenhum.
Acredito que se pode viver sem utopias. Acho até que é Este país não é meu
melhor, porque as utopias são ao mesmo tempo ineficazes e nem vosso ainda, poetas.
perigosas. Ineficazes quando permanecem como sonhos; perigosas Mas ele será um dia
quando se quer realizá las. o país de todo homem.
André Comte Sponville. Adaptado. Carlos Drummond de Andrade
A utopia não é apenas um genl projeto dicil de se realizar, como quer uma definição simplista. Mas se
nós tomarmos a palavra a sério, na sua verdadeira definição, que é aquela dos grandes textos fundadores, em
parcular a Utopia de Thomas More, o denominador comum das utopias é seu desejo de construir aqui e agora
uma sociedade perfeita, uma cidade ideal, criada sob medida para o novo homem e a seu serviço. Um paraíso
terrestre que se traduzirá por uma reconciliação geral: reconciliação dos homens com a natureza e dos homens
entre si. Portanto, a utopia é a desaparição das diferenças, do conflito e do acaso: é, assim, um mundo todo
fluido – o que supõe um controle total das coisas, dos seres, da natureza e da história.
Desse modo, a utopia, quando se quer realizá la, torna se necessariamente totalitária, mortal e até
genocida. No fundo, só a utopia pode suscitar esses horrores, porque apenas um empreendimento que tem por
objevo a perfeição absoluta, o acesso do homem a um estado superior quase divino, poderia se permir o
emprego de meios tão terríveis para alcançar seus fins. Para a utopia, trata se de produzir a unidade pela
violência, em nome de um ideal tão superior que jusfica os piores abusos e o esquecimento da moral
reconhecida.
Frédéric Rouvillois. Adaptado.
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Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
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Aula 2
Divulgação de
imagens violentas
Projeto de texto e tese
Todo texto tem um projeto. O projeto literário de José de Alen-
car, no Romantismo, era, por exemplo, criar uma nacionalidade Prescrição
brasileira. Era um projeto gigantesco, mas ele tinha um objetivo
to se faz
e a tese inicial de que o povo brasileiro se formou a partir de três Texto é coisa pública. Tex
. Não o encare
grupos étnicos. Para defender esse ponto de vista, foi construin- para ser lido por alguém
e somente seu
como uma confidência qu
do narrativas com características muito específicas dessa nacio- um conjunto de
professor vai ler ou como
nalidade que ele idealizava. o pelo corretor.
palavras que será avaliad
Em menor proporção, podemos pensar o projeto de texto de icação de ideias,
Ele será, sempre, comun
uma dissertação de vestibular. Depois de compreender a tarefa da ações. E comuni-
pontos de vista, fatos, situ
comum. No caso,
prova, é importante ter claro qual é o seu ponto de vista sobre aque- car é, justamente, tornar
diversos leitores.
le tema; de quais maneiras ele pode ser significativo; como pode comum entre autor e seus
desdobrar-se em implicações específicas. Essas são perguntas que
um autor se faz para começar a escrever. Para cada uma delas, ele
precisará oferecer respostas concretas. O par "tema e figura" entra
em uma cena: para cada ideia abstrata, oferece-se uma figura con-
creta que argumente em favor do ponto de vista que ela expressa. Mandando bem no Enem
Artigo IV
Ninguém será mantido em escravidão
Progressão de temas e figuras ou servidão, a escravidão e o tráfico de escravos se-
rão proibidos em todas as suas formas.
A cada nova ideia que o autor apresenta ao seu leitor, ele progri- Para ajudar a garantir os direitos humanos,
criou-se, em 2015, a Agenda 2030. Ela é um plano
de no tratamento que dá ao tema. É importante testar modelos
de ação para as pessoas, para o planeta e para a
de esquematizar o seu modo de organizar seus pensamentos,
prosperidade. Busca fortalecer a paz universal com
para que você nunca perca de vista qual é o seu projeto, o seu
mais liberdade. Todos os países e todas as partes
objetivo com aquelas ideias. Para qualquer projeto, é importante interessadas, atuando em parceria colaborativa,
lembrar que a progressão dos enunciados obedece a uma rela- implementarão este plano. Nessa grande reunião,
ção lógica e não cronológica. Um enunciado é anterior a outros decidiu-se libertar a raça humana da tirania da
não por causa de uma progressão temporal, mas por causa de pobreza e da penúria. Os países membros decla-
uma concatenação lógica. É muito útil usar análises, interpre- raram-se determinados a tomar medidas ousadas
tações, explicações para avaliar os dados da realidade. O texto e transformadoras que são urgentemente neces-
sárias para direcionar o mundo para um caminho
é livre para criar quaisquer relações: concessões, consecuções,
sustentável e resiliente. Eles se comprometeram
causalidades. O importante é não quebrar a lógica.
com o ideal de que ninguém será deixado para trás.
As características do texto dissertativo são: Adaptado de: Preâmbulo da Agenda 2030. Disponível
a. é predominantemente temático e usa como ferramenta em: <https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/>.
Menina vietnamita atingida por napalm foge Menina sudanesa em região assolada pela Menino sírio é encontrado morto em praia
de aldeia bombardeada. fome é observada por abutre. após naufrágio de barco com refugiados.
(Nick Ut. Vietnã, 1972.) (Kevin Carter. Sudão, 1993.) (Nilufer Demir. Turquia, 2015.)
T EX TO 1
Um dos traços característicos da vida moderna é oferecer inúmeras oportunidades de vermos (à distância, por
meio de fotos e vídeos) horrores que acontecem no mundo inteiro. Mas o que a representação da crueldade provoca
em nós? Nossa percepção do sofrimento humano terá sido desgastada pelo bombardeio diário dessas imagens?
Qual o sentido de se exibir essas fotos? Para despertar indignação? Para nos sentirmos “mal”, ou seja, para
consternar e entristecer? Será mesmo necessário olhar para essas fotos? Tornamo-nos melhores por ver essas
imagens? Será que elas, de fato, nos ensinam alguma coisa?
Muitos críticos argumentam que, em um mundo saturado de imagens, aquelas que deveriam ser importantes
para nós têm seu efeito reduzido: tornamo-nos insensíveis. Inundados por imagens que, no passado, nos choca-
vam e causavam indignação, estamos perdendo a capacidade de nos sensibilizar. No fim, tais imagens apenas
nos tornam um pouco menos capazes de sentir, de ter nossa consciência instigada.
(Susan Sontag. Diante da dor dos outros, 2003. Adaptado.)
T EX TO 2
Quantas imagens de crianças mortas você precisa ver antes de entender que matar crianças é errado? Eu
pergunto isso porque as mídias sociais estão inundadas com o sangue de inocentes. Em algum momento, as mí-
dias terão de pensar cuidadosamente sobre a decisão de se publicar imagens como essas. No momento, há, no
Twitter particularmente, incontáveis fotos de crianças mortas. Tais fotos são tuitadas e retuitadas para expressar
o horror do que está acontecendo em várias partes do mundo. Isto é obsceno. Nenhuma dessas imagens me
persuadiu a pensar diferentemente do modo como eu já pensava. Eu não preciso ver mais imagens de crianças
mortas para querer um acordo político. Eu não preciso que você as tuite para me mostrar que você se importa.
Um pequeno cadáver não é um símbolo de consumo público.
(Suzanne Moore. “Compartilhar imagens de cadáveres nas mídias sociais
não é o modo de se chegar a um cessar-fogo”. www.theguardian.com, 21.07.2014. Adaptado.)
T EX TO 3
A morbidez deve ser evitada a todo custo, mas imagens fotográficas chocantes que podem servir a propósitos
humanitários e ajudar a manter vivos na memória coletiva horrores inomináveis (dificultando, com isso, a ocorrên-
cia de horrores similares) devem ser publicadas.
(Carlos Eduardo Lins da Silva. “Muito além de Aylan Kurdi”. http://observatoriodaimprensa.com.br, 08.09.2015. Adaptado.)
T EX TO 4
Diretor da ONG Human Rights Watch, Peter Bouckaert publicou em seu Twitter a foto do menino sírio de 3 anos
que se afogou. Ele explicou sua decisão: “Alguns dizem que a imagem é muito ofensiva para ser divulgada. Mas ofen-
sivo é aparecerem crianças afogadas em nossas praias quando muito mais pode ser feito para evitar suas mortes.”
(“Diretor de ONG explica publicação de foto de criança”. Folha de S.Paulo, 03.09.2015. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, empregando a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
P UBLICAÇÃO DE IMAGENS TRÁGICAS :
BANALIZAÇÃO DO SOFRIMENTO OU FORMA DE SENSIBILIZAÇÃO ?
VNSP1503 | 004- CE-LingCódigos-Redação
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Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
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Aula 3
O acesso de estrangeiros
a benefícios sociais
O concreto e o abstrato; a figura e o tema
Concreto é todo termo que remete a algo presente no mundo natural; abstrato é toda palavra que não indica
algo presente no mundo natural, mas uma categoria que ordena o que está nele manifesto.
A primeira advertência a fazer no tocante a essa definição é que concreto e abstrato não são categorias da
realidade, mas da linguagem. Por conseguinte, a expressão "mundo natural" não é somente a realidade exterior,
visível, sensível, mas as realidades criadas pelo discurso. Assim, não há o menor propósito em perguntar se Deus,
fada ou saci são concretos ou não e em responder que isso depende da crença que se tenha neles. Eles são con-
cretos, porque Deus é um ser efetivamente presente no universo criado pelo discurso religioso, fada tem existência
na realidade criada pelo conto maravilhoso, saci ganha o estatuto de ser nas narrativas folclóricas.
A consequência de nossa definição de termo concreto e abstrato é que não só os substantivos se dividem de
acordo com essa categoria, mas todas as palavras lexicais. Assim, temos substantivos, adjetivos e verbos concretos
e abstratos: sol remete a algo efetivamente existente num dos mundos naturais, enquanto raiva não; branco é
um adjetivo concreto, pois expressa uma qualidade imediatamente perceptível do mundo natural, enquanto inteli-
gente é abstrato, pois é o termo que designa uma série de elementos concretos (alguém que aprende rapidamente,
compreende tudo o que é explicado etc.); plantar é um verbo concreto, enquanto envergonhar-se é abstrato, pois
o que é concreto são as manifestações da vergonha, como corar.
Na verdade, em lugar de pensar que concreto e abstrato são dois polos, deveríamos conceber a relação
entre concreto e abstrato como um contínuo que vai do mais abstrato ao mais concreto, passando
pelo mais ou menos abstrato, um pouco mais concreto, e assim por diante.
Por que as línguas têm essa categoria? Porque há duas formas básicas de discurso: os predominan-
temente concretos e os preponderantemente abstratos. Os primeiros são chamados figurativos, e os segundos,
temáticos. Aqueles são construídos com figuras, ou seja, termos concretos: estes, com temas, isto é, palavras
abstratas. Quando dizemos que um texto é temático ou figurativo não queremos dizer que ele é construído só
com temas ou apenas com figuras, mas que é composto predominantemente com temas ou figuras.
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Como se vê, a categoria concreto/abstrato tem um papel muito importante, porque é ela que permite
elaborar esses dois tipos de texto.
Cabe agora uma pergunta: por que há duas formas básicas de construção de textos?
Cada um dos tipos tem uma função distinta. Os textos figurativos produzem um efeito de realidade e, por
isso, representam o mundo, criam uma imagem do mundo, com seus seres, seus acontecimentos etc.; os temáticos
explicam as coisas do mundo, ordenam-nas, classificam-nas, interpretam-nas, estabelecem relações e dependên-
cias entre elas, fazem comentários sobre suas propriedades. Os primeiros criam um efeito de realidade, porque
trabalham com o concreto; os segundos explicam, porque operam com aquilo que é apenas conceito. Os primeiros
têm uma função representativa; os segundos, uma função interpretativa.
As histórias de Kalamy e Elena estão no livro infantil de Gang Gyeongsu, intitulado Estas Histórias Não Deveriam
Ser Verdadeiras, 2011. O título da obra é uma tese, e expressa a opinião do autor sobre os fatos que ele vai contar
para seus pequenos leitores.
Assuma um posicionamento diante da tese de Gyeongsu e, a partir do seu próprio conceito de justiça e
injustiça, argumente em função dele, usando as histórias de Kalamy e Elena para respaldar, com fatos, as suas
ideias. Lembre-se que seu leitor não os conhece.
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Proposta 3
TEXTO 1
Entrou em vigor em julho de 2015, no Espírito Santo, a lei estadual que proíbe bares e restaurantes de deixar o sal ex-
posto, acessível para os clientes. O governo alega que a proibição é uma questão de saúde pública. “É o Estado induzindo
à mudança de comportamento com o olhar para a promoção da saúde e prevenção do adoecimento das pessoas”, explicou
a gerente da Vigilância Sanitária de Vitória, Flávia Costa.
(“Regulamentação de lei que proíbe sal em mesas é publicada no ES”. http://g1.globo.com. Adaptado.)
TEXTO 2
É função do Estado a promoção do bem-estar social. A moderna atividade econômica voltada para o consumo mas-
sificado e baseada na livre iniciativa exige a interferência estatal através de leis que a conciliem com o respeito aos direitos
sociais, como o direito à saúde. Na medida em que a produção de alimentos interfere de forma direta e significativa na
saúde da população que os consome, essa legislação torna-se essencial para a eficiência do Estado. Intervindo assim nas
relações de consumo, o poder público está assumindo uma política sanitária. E essa legislação significa restrições para
o fornecedor de produtos alimentícios. Dispõe a Constituição Federal que “a saúde é direito de todos e dever do Estado,
garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença”.
(João Lopes Guimarães Júnior. “Obesidade e proteção jurídica da saúde do consumidor”. www.mpsp.mp.br. Adaptado.)
TEXTO 3
A liberdade de escolha, um dos pilares de Estados democráticos, continua, cada vez mais, submetida à tutela estatal.
Os cidadãos são tratados como incapazes de decidirem o que é melhor para si. Tudo isto não é feito em nome do simples
autoritarismo, mas, supostamente, em nome do bem de cada um, como se fosse missão do Estado exercer uma espécie
de monopólio da virtude. Contudo, a associação entre leis restritivas ao consumo e o autoritarismo do bem – pró-saúde,
geralmente – não é nada saudável.
Se o consumo de um produto é proibido por seu suposto alto teor de sal ou de gordura, o que impede a proibição dos
doces, que causam cáries? Nada. Com proibições desse tipo, o recado é claro: o indivíduo não tem o direito de viver
conforme suas convicções, deve viver conforme o plano que o Estado desenha para ele. Uma sociedade que renuncia à
liberdade perde o seu bem mais precioso: a liberdade de escolha.
(Denis Lerrer Rosenfield. “Liberdade e tutela”. http://oglobo.globo.com. Adaptado.)
Com base nas informações dos textos e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, de acordo com a
norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
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Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
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Mandando bem no Enem
Direitos humanos não é coisa de comunista
Os direitos humanos modernos são uma referência para a garantia de um conceito oci-
dental de dignidade e nasceram no seio do liberalismo. A 24 de outubro de 1945, no rescaldo
da Segunda Guerra Mundial, as Nações Unidas surgiram como uma organização intergo-
vernamental com o propósito de salvar as gerações futuras da devastação do conflito in-
ternacional. A Comissão das Nações Unidas para os Direitos Humanos, sob a presidência de
Eleanor Roosevelt, cuidou da criação da Declaração Universal dos Direitos do Homem. Ela foi
redigida por representantes de todas as regiões do mundo e abarcou todas as tradições legais.
Sofreu resistência do bloco soviético na época por conta, entre outros temas, da presença da
propriedade privada como direito humano. Inicialmente adotada pelas Nações Unidas a 10
de dezembro de 1948, é o documento dos direitos humanos mais universal em existência,
delineando os direitos fundamentais que formam a base para uma sociedade democrática.
Adaptado de: <http://www.humanrights.com/>.
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Aula 4
A persistência da violência
contra a mulher
Especificidades do Enem
A partir desta aula, você vai descobrir que o a prova de Redação do Enem é estruturada de forma diferente das
provas que vimos até agora. Ao mesmo tempo, vai notar que ela é bem parecida com o que você aprendeu nos
tempos de escola. Isso acontece porque, antes de tornar-se uma porta para o Sisu, para o Fies e para o ProUni, o
Enem era um exame de avaliação do Ensino Médio. Ou seja, ele seguia os critérios mais usados nas escolas para
avaliar as redações. E é isso que acontece até hoje.
Esse método chama-se tópico frasal e nasceu há cerca de 40 anos, e era bastante comum nas universida-
des norte americanas. É um modo simples de organizar e de ler uma tese, uma anti-tese e as conclusões extraídas
da análise desses pontos de vista.
Lembre-se: há, no primeiro parágrafo, a introdução, uma indexação de tudo que o leitor vai encontrar na
dissertação: uma breve contextualização do tema (já no recorte que o autor escolheu para defesa do seu ponto de
vista); a declaração da tese, a opinião do autor; um desdobramento, conhecido como anti-tese – que também é
parte da opinião do autor – e vai apresentar uma problemática decorrente da tese; e, por fim, o anúncio de uma
intervenção* para esse problema.
Os parágrafos seguintes retomam as teses e desenvolvem-nas, ainda abstratas, com fatos, para torná-las
mais concretas. É o uso de dados da coletânea, repertório sociocultural, exemplos sucintos e claros. Eles são mais
simples que as figuras argumentativas que você vem aprendendo. Para o Enem, adotaremos a nomenclatura
exemplo argumentativo.
Um dos parágrafos argumentativos deve ser dedicado a desenvolver um problema social dentro do tema.
Do contrário, não haveria fundamento exigir uma intervenção. Evite generalizações e faça-o simples: um problema
bem explicado é suficiente. Quanto mais claro o problema for para você e para seu leitor, melhor será o encadea-
mento da intervenção, que vale um quinto da nota dessa prova.
No Enem, a intervenção deve respeitar os Direitos Humanos, então, uma solução inadequada, que levaria
a redação a um zero, seria, por exemplo, obrigar a população que tem casa própria a ceder um cômodo para
moradores de rua. Isso fere a Declaração, que prevê o direito à propriedade privada. Essa intervenção precisa ser
detalhada, e chamar à responsabilidade mais de um setor da sociedade, como o Estado, a população e organiza-
ções não governamentais.
*nem toda prova que trabalha com o Tópico Frasal exige intervenção. Então, sempre preste muita atenção às instruções e tarefas.
23
Critérios de correção
Como você compreende cada
competência 200 pontos
um desses conceitos?
Demonstra excelente domínio da modalida-
de escrita formal e de escolha de registro.
Demonstrar domínio da modalidade escrita
Desvios gramaticais serão aceitos somente
formal da Língua Portuguesa.
como excepcionalidade e quando não carac-
terizem reincidência.
Compreender a proposta de redação e apli-
car conceitos das várias áreas de conheci-
mento para desenvolver o tema, dentro dos Desenvolve o tema por meio de argumen-
limites estruturais do texto dissertativo-ar- tação consistente, a partir de um repertório
gumentativo em prosa. Desenvolve o tema sociocultural produtivo, e apresenta exce-
por meio de argumentação consistente, a lente domínio do texto dissertativo-argu-
partir de um repertório sociocultural produ- mentativo.
tivo, e apresenta excelente domínio do texto
dissertativo-argumentativo.
Apresenta informações, fatos e opiniões re-
Selecionar, relacionar, organizar e interpre-
lacionados ao tema proposto, de forma con-
tar informações, fatos, opiniões e argumen-
sistente e organizada, configurando autoria,
tos em defesa de um ponto de vista.
em defesa de um ponto de vista.
Demonstrar conhecimento dos mecanismos
Articula bem as partes do texto e apresenta
linguísticos necessários para a construção
repertório diversificado de recursos coesivos.
da argumentação.
Elaborar proposta de intervenção para o Elabora muito bem proposta de intervenção,
problema abordado, respeitando os direitos detalhada, relacionada ao tema e articulada
humanos. à discussão desenvolvida no texto.
Hoje, propaga-se a ideia de que a mulher conquistou sua emancipação financeira, mas isso, além de não ser
verdade, seria o mínimo para viver com dignidade. A grande questão, ainda tão velada, é a violência que persiste
contra ela. As leis Maria da Penha e do Feminicídio são, de fato, as conquistas fundamentais para o alcance da
verdadeira independência e igualdade de gênero. No entanto, ainda é grande o medo de acioná-las para defender-
-se. Isso se evidencia através do alarmante número de casos de violência que aumentam ano após ano. Medidas
públicas se fazem necessárias para impedir que esse derramamento do sangue feminino continue.
Não se pode negar que, após muita luta, a mulher conquistou algum espaço na sociedade civil. Ela pode votar, traba-
lhar, decidir quando engravidar. Pode ser CEO de empresas e presidir países. Somam-se a essas vitórias importantes leis que
têm como objetivo a proteção feminina e entraram em vigor no país recentemente. As leis Maria da Penha e do Feminicídio
asseguram justiça às vítimas de violência e de assassinato. Exemplo dessa eficácia é o número de denúncias registradas e de
processos que foram instaurados com base na lei Maria da Penha, garantindo o mínimo de segurança às vítimas.
Ainda que essas duas leis tragam justiça, são insuficientes perante a complexidade do problema. Na sociedade machis-
ta, aparentemente, a legislação não impede que homens cometam crimes contra mulheres. Os casos de violência só aumentam
e, muitas vezes, resultam em mortes, expondo dois grandes problemas que, aparentemente, ninguém quer ver: o machismo que
mata e a fragilidade do sistema judiciário brasileiro. Eles ficam claros diante das estatísticas e do crescente número de relatos de
violência doméstica, praticados pelos próprios maridos, registrados pelo disque-denúncia e veiculados em jornais e na internet.
Para evitar essa conduta, o ministério público deve ampliar a jurisdição da lei Maria da Penha e da lei do Feminicí-
dio, para atender e acolher o maior número de mulheres possível. Além disso, é imprescindível a adoção de políticas educa-
cionais desde a infância, para que pensamentos misóginos não se perpetuem na sociedade do futuro. É preciso educar as
crianças: os meninos, para que respeitem a vida alheia; as meninas, para que se empoderem em defesa das próprias vidas.
24
Erga fortalezas
Adaptado do rascunho de M. Fortes (960 no Enem 2016)
O machismo está enraizado em nossa sociedade, na qual ainda prevalece o modelo patriarcal. A mulher foi
inserida na política brasileira, tornando-se cidadã, na Era Vargas. Entretanto, passaram-se décadas antes de serem
protegidas por leis como a Maria da Penha e a recente Lei do Feminicídio, resguardando sua integridade física e
psicológica. Embora o Brasil esteja caminhando rumo a uma sociedade mais igualitária, os índices de violência
permanecem altos. Isso exige que o Estado tome mais providências para, de fato, acabar com a misoginia que é
ainda triste realidade.
A agressão física persiste como problema, evidenciando uma disparidade nas relações de poder na socie-
dade brasileira. Segundo Foucault, todas as relações sociais ocorrem associadas a um poder individual. O homem
ainda ganha o privilégio de ser considerado o mais forte, enquanto a mulher luta para desconstruir a imagem de
“sexo frágil”. Ao erguer o punho para uma mulher, o homem tenta impedi-la de empoderar-se.
Portanto, ao contrário do homem, que já possui uma força intrínseca à sua imagem, a mulher precisa cons-
tantemente se impor como membro integrante da política e das relações sociais. E uma forma de colocar-se contra
essa violência que, no entanto, parece inabalável, é usufruir dessas novas leis. O crescente número de registros de
casos de violência coopera para a construção prática de direitos tão básicos. Ao mesmo tempo, essas estatísticas
evidenciam o quanto o corpo social ainda reproduz padrões violentos que matam tantas mulheres todos os dias.
Portanto, torna-se notório que é preciso cortar essas raízes machistas em nossa sociedade. Se o homem
nada mais é se não o que a educação faz dele, como explica Kant, a escola e a família devem exercer o papel de
desconstruir conceitos retrógrados de desigualdade, discutindo o empoderamento feminino em sala de aula. Desse
modo, transformaremos as vítimas de hoje nas fortalezas de amanhã.
25
Proposta 4
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija texto dissertativo-argumentativo em modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema
“A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, apresentando proposta de intervenção
que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos
para defesa de seu ponto de vista.
TEXTO I
Nos 30 anos decorridos entre 1980 e 2010 foram assassinadas no país acima de 92 mil mulheres, 43,7 mil só na
última década. O número de mortes nesse período passou de 1.353 para 4.465, que representa um aumento de 230%,
mais que triplicando o quantitativo de mulheres vítimas de assassinato no país.
WALSELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2012. Atualização: Homicídio de mulheres no Brasil. Disponível em: www.mapadaviolencia.org.br. Acesso em: 8 jun. 2015.
Violência física
31,81% Violência psicológica
Violência moral
Violência sexual
9,68% Violência patrimonial
2,86% Cárcere privado
1,94% 1,76%
0,26%
Tráfico de pessoas
BRASIL. Secretaria de Políticas para as Mulheres. Balanço 2014. Central de Atendimento à Mulher: Disponível em: www.compromissoeatitude.org.br.
Disque 180. Brasília, 2015. Disponível em: www.spm.gov.br. Acesso em: 24 jun. 2015 (adaptado). Acesso em: 24 jun. 2015 (adaptado).
TEXTO IV
O IMPACTO EM NÚMEROS
Com base na Lei Maria da Penha, mais de 330 mil processos foram instaurados
apenas nos juizados e varas especializados
homens enquadrados na
A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas copiadas
desconsiderado para efeito de correção.
Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
tiver até 7 (sete) linhas escrit
fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo.
apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos.
apresentar parte do texto deliberadamente desconectada do tema proposto.
26
Projeto de texto modelo Enem
27
Aula 5
A leitura como redução de
pena de presidiários
A descrição como ferramenta
para a construção da figura argumentativa
"A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu lado mais imponente. Descomposta, com o escalavrado flanco
exposto ao sol, erguia-se altaneira e desassombrada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escaldante e cheia
de cordas que mesquinhamente lhe escorriam pela ciclópica nudez com um efeito de teias de aranha. Em certos
lugares, muito alto do chão, lhe haviam espetado alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis
tábuas que, vistas cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos pigmeus de forma humana
equilibravam-se, desfechando golpes de picareta contra o gigante."
Aluisio Azevedo. 0 cortiço. 25. ed. São Paulo: Ática, 1992. p. 48-49.
30
Exemplo de uso da descrição em uma redação real
A imagem abaixo e a frase de Theodor Adorno estão na
Fuvest 1995 e motivaram o parágrafo abaixo.
31
Proposta 5
TEXTO 1
O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJSP) instituiu a redução de pena pela leitura por meio de uma portaria,
em 2013, que estabeleceu a possibilidade de que o preso, no período de um ano, possa reduzir até 48 dias de sua pena por
meio da apresentação de resenhas de obras literárias disponíveis na unidade prisional. O texto define que o preso tem até
30 dias para realizar a leitura de uma obra e apresentar a sua resenha a uma comissão formada no sistema prisional – em
caso de suspeita de plágio, o juiz pode realizar a arguição oral do participante.
De acordo com o juiz auxiliar da Corregedoria do TJSP, Jayme Garcia dos Santos Junior, a expectativa é de que, até o
segundo semestre de 2016, a possibilidade de redução pela leitura, que hoje acontece em alguns presídios da capital e do
interior de São Paulo, já seja realidade em 90% das unidades prisionais do estado.
(Luiza de Carvalho Fariello. www.cnj.jus.br, 30.06.2015. Adaptado.)
TEXTO 2
O projeto “Remição da Pena pelo Estudo através da Leitura” do governo do Paraná registrou, até 2014, a média mensal
de 2,3 mil detentos participantes.
Pedagoga e professora do curso de pedagogia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Aparecida Meire Calegari-
-Falco ressalta a importância da leitura no processo de humanização das pessoas, especialmente daquelas que se encontram
privadas de liberdade. “A leitura pode ser uma janela para o mundo lá fora, além de que o projeto talvez seja a única possi-
bilidade de contato com a leitura que essas pessoas terão”. A pedagoga reforça, ainda, o incentivo ao conhecimento que o
hábito de ler pode trazer, contribuindo para diminuir a reincidência de crimes. Segundo ela, a falta de capacitação profissional
é um dos principais motivos para que ex-detentos continuem a cometer delitos, um problema que pode ser resolvido através
do incentivo ao conhecimento proporcionado pela leitura.
Desde a implantação da lei, o Paraná vem sendo reconhecido no cenário nacional por ser o pioneiro no projeto. Tendo
ganhado vários prêmios, o Estado já possui o maior número de presos que garantiram uma vaga na universidade neste ano.
Através do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), 55 detentos entraram para uma
universidade pública em 2015.
(Fabiola Junghans et al. www.portalcomunicare.com.br. Adaptado.)
TEXTO 3
Cid Gomes, enquanto governador do Ceará, apresentou projeto de redução de pena pela leitura, conferindo ao condenado
4 dias a menos na prisão por livro lido no mês. Embora simpática aos olhos de alguns, a medida merece ser censurada sob
vários aspectos.
A respeito da execução da pena, a legislação federal estabelece a possibilidade de redução por trabalho ou por estudo,
devendo, nesta hipótese, ocorrer a frequência escolar – atividade de ensino fundamental, médio, profissionalizante, superior,
ou ainda de requalificação profissional. A proposta governamental esbarra nessa lei, pois a simples leitura não se enquadra
em estudo regular, mesmo mediante avaliação. A leitura serve como mero deleite, busca de conhecimento, de reconstrução,
de entretenimento, sendo um item a mais no processo de ressocialização. É, porém, inadmissível que ressocialização seja
sinônimo de redução de pena. A leitura, pela simples leitura e sem o ensino formal, não propiciará a revitalização do sistema
penitenciário brasileiro.
(Heitor Férrer. www.opovo.com.br, 19.12.2014. Adaptado.)
Com base na leitura dos textos e em seus próprios conhecimentos, escreva uma dissertação, na norma-padrão da língua
portuguesa, sobre o seguinte tema:
FMMA1502| 002-Prova-II-Objetiva
32
Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
33
Aula 6
Camarotização
Coesão – parte 1
A coesão é uma relação semântica entre um elemento
do texto e algum outro elemento crucial para a sua in- Profilaxia
terpretação – que pode estar explícito em outra frase, ou maiores edu-
Para Paulo Freire, um dos
implícito no contexto. A coesão, por estabelecer relações , lemos o mundo
cadores do Brasil, primeiro
de sentido, é um conjunto de recursos semânticos. Por endemos a asso-
ao nosso redor. Depois, apr
meio deles uma sentença se liga com a que veio antes. ão, compreender
ciar letras a sons para, ent
rita. Com ela, tor-
e produzir a palavra esc
erpretar o mundo
namo-nos capazes de int
tro. Escrever uma
Ferramentas de coesão textual e transmiti-lo para um Ou
te desse proces-
Redação de vestibular é par
dos pelas cole-
§§ coesão por elipse so: é uma forma de, motiva
ndo e transmiti-lo
O Papa Francisco esteve ontem em Viena. Lá, dis- tâneas, lermos nosso mu
a um leitor.
se que a igreja aceita o amor em suas variadas formas.
Quando o leitor se depara com o verbo disse, é a
desinência do verbo que o informa que quem disse foi
o Papa Francisco.
§§ coesão por referência
O Papa Francisco esteve, ontem, em Viena. Na referida cidade, o mesmo disse que a igreja aceita o amor
em suas variadas formas.
No Manual de redação e estilo do jornal O Estado de S. Paulo, há uma notificação sobre o emprego dessas
palavras como recurso de coesão:
a. Mesmo. É condenável o uso de o mesmo, a mesma, os mesmos, as mesmas para substituir pronome
ou substantivos. Estão vetadas, dessa forma, construções reais como: “Os diretores reuniram-se ontem e os
funcionários saberão amanhã a decisão dos mesmos”/A moça voltou de viagem e a mesma fará amanhã
o vestibular”.
b. Referido. Use esse deputado, essa publicação, em vez de “referido deputado”, “referida publicação”.
Observe como o texto fica mais claro e fluido:
O Papa Francisco esteve, ontem, em Viena. Lá, ele disse que a igreja aceita o amor em suas variadas formas.
As palavras responsáveis pela coesão por referência são os pronomes, que podem ser pessoais (ele, ela,
nós, o, a, lhe etc.), possessivos (meu, teu, seu etc.), demonstrativos (este, esse, aquele etc.), os advérbios de lugar
e também os artigos definidos:
Comi um hambúrguer e batatas fritas. O hambúrguer, entretanto, não caiu bem.
Comi um hambúrguer e batatas fritas. Um hambúrguer, entretanto, não caiu bem.
Note que a segunda frase não faz sentido, justamente porque o determinante o não apareceu para definir
de qual hambúrguer trata o segundo período da frase.
§§ Coesão por substituição lexical Dose de gramática –
conjunções coordenativas
Uma moça correu para a delegacia da mulher.
A garota parecia assustada. Aditivas – estabelecem relação de soma: e, nem
Francisco esteve, ontem, em Viena. Na cida- Adversativas – relação de oposição, adversidade:
de alemã, o Papa disse que a igreja aceita o amor nas mas, porém, contudo
suas variadas formas. Alternativas – relação de alternância: ou...ou, ora...ora
Conclusivas – relação de conclusão: logo, portanto
35
Explicativas – relação de confirmação ou justificação:
pois, porque, que
As palavras mais usadas neste processo de coesão são os hiperôni-
mos, ou seja, palavras que correspondam ao gênero do termo a ser retomado.
Acabamos de receber cinquenta estetoscópios e vinte otoscópios. Es-
Mandando bem no Enem ses instrumentos devem ser encaminhados aos novos residentes.
Desigualdade Também pode-se usar a metonímia:
Na Agenda 2030, o 10º O presidente Obama deverá reunir-se ainda nesta semana com o líder
compromisso é reduzir desigualdades: cubano Fidel Castro. Fontes bem informadas acreditam, entretanto, que
progressivamente alcançar e susten- não será dessa vez que Cuba cederá às pressões da Casa Branca.
tar o crescimento da renda dos 40%
Esse tipo de coesão permite também manifestar a atitude apreciativa
da população mais pobre a uma taxa
ou depreciativa do autor em relação aos termos-objetos da coesão.
maior que a média nacional; empo-
O Papa Francisco esteve, ontem, em Viena. Lá, o carismático líder
derar e promover a inclusão social,
religioso disse que a igreja aceita o amor em suas variadas formas.
econômica e política de todos. Isso
O Papa Francisco esteve, ontem, em Varsóvia. Lá, o já caduco líder
significa garantir a igualdade de opor-
tunidades e reduzir as desigualdades religioso blasfemou que a igreja aceita o amor em suas variadas formas.
Adaptado do Curso de Redação, de Antonio Suarez Abreu.
de resultados, inclusive por meio da
eliminação de leis, políticas e práticas
discriminatórias. Pretende-se adotar
Exercícios
políticas, especialmente fiscal, salarial
e de proteção social, e alcançar pro-
O texto abaixo é real, motivado pela proposta da aula 12. Se quiser, você pode
gressivamente uma maior igualdade.
consultá-la. Reescreva-o e faça as alterações necessárias para que ele tenha
coesão, mantendo a essência da opinião do autor original. Você pode tirar in-
formações sobressalentes ou acrescentar informações que julgar necessárias.
É preciso uma autorreflexão do que e como se expor nas redes sociais, pois as pessoas utilizam da mesma
para se relacionarem, sem o devido cuidado de saber quem realmente está do outro lado da tela. Bauman acredita
que os relacionamentos são baseados em quantidade e não em qualidade. Conectando-se e desconectando-se
sem fortes vínculos, acarretando uma fragilidade social para a vida política.
De acordo com o governo, o projeto “internet para todos”tem funcionado de maneira plausível, porém,
existe uma dificuldade na transmissão do acesso à banda larga para cidades distantes das grandes metrópoles.
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Exercícios para destravar
1) Explique por que algumas ativistas feministas são chamadas de feminazis. Desenvolva o raciocínio
explicando, também, por que as mulheres que se consideram feministas não se identificam com o termo e
ainda consideram-no ofensivo.
3) Conceitue a palavra periguete. Explique por que ela é considerada ofensiva e por que é carregada de
preconceitos. Aponte e demonstre os problemas sociais que a repetição desses conceitos pode gerar.
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Proposta 6
Na verdade, durante a maior parte do século XX, os estádios eram Comentário do Prof. Michael J.
lugares onde os execuvos empresariais sentavam se lado a lado com Sandel referente à afirmação de
os operários, todo mundo entrava nas mesmas filas para comprar que, no Brasil, se teria produzido
sanduíches e cerveja, e ricos e pobres igualmente se molhavam se uma sociedade ainda mais
chovesse. Nas úlmas décadas, contudo, isso está mudando. O segregada do que a norte
advento de camarotes especiais, em geral, acima do campo, separam americana.
os abastados e privilegiados das pessoas comuns nas arquibancadas
mais embaixo. (...) O desaparecimento do convívio entre classes O maior erro é pensar que serviços
sociais diferentes, outrora vivenciado nos estádios, representa uma públicos são apenas para quem não
perda não só para os que olham de baixo para cima, mas também pode pagar por coisa melhor. Esse é
para os que olham de cima para baixo. o início da destruição da ideia do
Os estádios são um caso exemplar, mas não único. Algo bem comum. Parques, praças e
semelhante vem acontecendo na sociedade americana como um transporte público precisam ser tão
todo, assim como em outros países. Numa época de crescente bons a ponto de que todos queiram
desigualdade, a “camarozação” de tudo significa que as pessoas usá los, até os mais ricos. Se a
abastadas e as de poucos recursos levam vidas cada vez mais escola pública é boa, quem pode
separadas. Vivemos, trabalhamos, compramos e nos distraímos em pagar uma parcular vai preferir
lugares diferentes. Nossos filhos vão a escolas diferentes. Estamos que seu filho fique na pública, e
falando de uma espécie de “camarozação” da vida social. Não é assim teremos uma base políca
bom para a democracia nem sequer é uma maneira sasfatória de para defender a qualidade da
levar a vida. escola pública. Seria uma tragédia
Democracia não quer dizer igualdade perfeita, mas de fato exige se nossos espaços públicos fossem
que os cidadãos comparlhem uma vida comum. O importante é que shopping centers, algo que
pessoas de contextos e posições sociais diferentes encontrem se e acontece em vários países, não só
convivam na vida codiana, pois é assim que aprendemos a negociar no Brasil. Nossa idendade ali é de
e a respeitar as diferenças ao cuidar do bem comum. consumidor, não de cidadão.
Michael J. Sandel. Professor da Universidade Harvard. Entrevista. Folha de S. Paulo,
O que o dinheiro não compra. Adaptado. 28/04/2014. Adaptado.
[No Brasil, com o aumento da presença de classes populares em centros de compras, aeroportos, lugares
turíscos etc., é crescente a tendência dos mais ricos a segregar se em espaços exclusivos, que marquem sua
disnção e superioridade.] (...) Pode ser que o fenômeno “camarozação”, isto é, a separação sica entre
classes sociais, prospere para muitos outros setores. De repente, os supermercados poderão ter ala VIP, com
entrada independente, cuja acessibilidade, tacitamente, seja decidida pelo limite do cartão de crédito.
Renato de P. Pereira. www.gazetadigital.com.br, 06/05/2014. [Resumido] e adaptado.
Até os anos de 1960, a escola pública que eu conheci, embora exissse em menor número, nha boa
qualidade e era um espaço animado de convívio de classes sociais diferentes. Aprendíamos muito, uns com os
outros, sobre nossas diferentes experiências de vida, mas, em geral, nos senamos pertencentes a uma só
sociedade, a um mesmo país e a uma mesma cultura, que era de todos. Por isso, acreditávamos que teríamos,
também, um futuro em comum. Vejo com tristeza que hoje se estabeleceu o contrário: as escolas passaram a
segregar os diferentes estratos sociais. Acho que a perda cultural foi imensa e as consequências, para a vida
social, desastrosas.
Trecho do testemunho de um professor universitário sobre a Escola Fundamental e Média em que estudou.
Os três primeiros textos aqui reproduzidos referem se à “camarozação” da sociedade nome dado à
tendência a manter segregados os diferentes estratos sociais. Em contraponto, encontra se também
reproduzido um testemunho, no qual se recupera a experiência de um período em que, no Brasil, a tendência
era outra.
Tendo em conta as sugestões desses textos, além de outras informações que julgue relevantes, redija uma
dissertação em prosa, na qual você exponha seu ponto de vista sobre o tema “Camarozação” da sociedade
brasileira: a segregação das classes sociais e a democracia.
Instruções:
A redação deve ser uma dissertação, escrita de acordo com a norma padrão da língua portuguesa.
Escreva, no mínimo, 20 linhas, com letra legível. Não ultrapasse o espaço de 30 linhas da folha de redação.
Dê um tulo a sua redação.
38
Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
39
Aula 7
Obesidade infantil:
pais ou sociedade?
A narração como ferramenta para a
construção da figura argumentativa
Características da narrativa
a. é um conjunto de transformações de situações referentes a personagens determinadas, mesmo que sejam
coletivas, como o povo brasileiro, os neonazistas, os imigrantes, as crianças obesas do século
XXI... Tudo isso num tempo preciso e num espaço bem configurado;
b. É um texto figurativo, já que trabalha com personagens, situações, tempos e espaços bem determinados, ou
seja, predominantemente termos concretos;
c. sempre contém uma progressão temporal entre os acontecimentos relatados, isto é, conta eventos conco-
mitantes, anteriores ou posteriores uns aos outros. Mas o autor pode dispor esse acontecimentos na ordem
que achar conveniente para expressar seus pontos de vista.
Como a dissertação é um texto mais temático, os pontos de vista, nela, são explícitos. Na descrição, o pon-
to de vista é manifestado, entre outros, pelos aspectos selecionados para serem descritos e pelos termos escolhidos.
Nela, o produtor do texto transmite, por exemplo, uma visão positiva ou negativa do que está sendo descrito. Vimos,
na descrição da pedreira de Aluísio Azevedo, que, pela seleção das palavras referentes à pedreira e aos seres huma-
nos, o descritor mostra que o homem está inferiorizado em relação à natureza. Na narração, um dos meios mais efi-
cientes de manifestar um ponto de vista é o encadeamento de figuras e de percursos figurativos. Veja um exemplo:
A Veja SP, de 19 de outubro de 1994, publicou uma reportagem sobre Celso Russomano, então repórter do
Aqui e agora e candidato a deputado federal mais votado nas eleições de 1994. Depois de narrar episódios que
mostram sua atuação como defensor dos consumidores, conta o seguinte:
41
A casa em que mora, na rua Adalivia de Toledo, §§ A narração mostra mudanças de situação de
perto do Palácio dos Bandeirantes, no Morumbi, é um es- um ser particular, com os enunciados dispostos
pinho na sua biografia de bom moço. Construída no estilo numa progressão temporal, numa relação de
dos anos 60, com abundância de vitrais e de vãos, a casa anterioridade e de posterioridade. A narração
tem piscina e dois andares. Pela cotação de mercado, vale capta o mundo em sua mudança, no dinamismo
400 mil dólares. Em dezembro do ano passado, Russoma- de suas transformações.
no fechou o negócio por 300 mil dólares, com a facilidade §§ A descrição expõe propriedades e aspectos de
de que a proprietária da casa é mãe do segundo marido um ser particular numa relação de simultaneida-
de sua sogra, Márcia Torres. O contrato foi assinado por de; nela não há mudanças. Ela apresenta, então,
Berenice Ribeiro, cunhada de Márcia e procuradora da um ser tal como é visto num dado momento,
mãe. A dívida deveria ter sido quitada até junho em cinco fora do dinamismo da mudança.
parcelas. Nesse período, ele pagou apenas 10 mil dólares §§ O texto dissertativo é predominantemente te-
e se recusava a discutir o restante, até Berenice ameaçar mático. Explica, analisa, classifica, avalia os seres
levar o caso à imprensa. Russomano deu-lhe mais 34 mil concretos. Por isso, sua referência ao mundo faz-
dólares e teria ameaçado matar o outro irmão de Bere- -se por conceitos, modelos. Aparecem nele des-
nice, José Carlos, se o caso se tornasse público (p. 18). crições, narrativas, mudanças de situação, mas a
Fica evidente o posicionamento da revista diante importância das relações de posterioridade e de
do então candidato a deputado federal, sem a necessi- anterioridade entre os enunciados apenas ajuda
dade de formular teses. A narrativa expressa essa visão, a comprovar as relações lógicas entre eles.
sem deixar dúvidas para o leitor. É claro que, na dis- §§ O texto dissertativo é mais abstrato que os outros
sertação, é raro o uso de uma situação assim, com um dois, ele explica os dados concretos da realidade. Os
personagem particular. Mas, no caso de personagens três tipos se misturam porque essa realidade preci-
e acontecimentos históricos ou de comportamentos de sa ora ser descrita, ora, relatada. Numa dissertação,
um grupo social, esse recurso torna-se bastante útil. as referências a casos concretos e particulares –
narrações ou descrições – ocorrem para concreti-
zar, no imaginário do leitor, as teses e ideias
abstratas do imaginário do autor. Ajudam a
Profilaxia
argumentar a favor delas ou contra elas.
ão, deve-
Para produzir uma Redaç
toda prova de
-se ler a coletânea. Logo, Mandando bem no Enem
a prova de lei-
texto é, antes de tudo, um
to da intersec-
tura. Seu texto é o produ Consumismo
seu repertório.
ção entre a coletânea e O consumismo é uma ideologia,
cópia, sem
O uso dessa coletânea, sem um hábito mental forjado que se tornou
A partir dela,
paráfrase, é fundamental. uma das características culturais mais
prova estabe-
a banca que elaborou a marcantes da sociedade atual. Hoje, todos que
é isso que vai
leceu uma expectativa. E são impactados pelas mídias de massa, inclusive
regular a correção. as crianças, são estimulados a consumir de modo
inconsequente. O Código de Defesa do Consumidor
considera a publicidade abusiva e ilegal quando se
aproveita da deficiência de julgamento e experiên-
cia da criança em ações publicitárias direcionadas
Recapitulando
a elas que usam de entretenimento e degustação
Existem estes três tipos básicos de texto: a narração, de produtos. O Conselho Nacional dos Direitos da
a descrição e a dissertação. Cada um deles tem uma Criança e do Adolescente (Conanda) reforça as leis
função distinta. Os textos narrativos e descritivos são existentes. Com esse respaldo, o Projeto Criança e
figurativos. Eles representam o mundo, simulam-no. Consumo, do Instituto Alana, notifica as empresas
que realizam esse tipo de propaganda.
42
Adaptado de: <www.criancaeconsumo.org>.
Exercício para destravar
A imagem ao lado, comum nas redes so-
ciais, traz, evidentemente, um ponto de
vista. Textualize-o e defenda-o. Para isso,
explique cada uma das frases com dados,
fatos, evidências concretas.
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43
Proposta 7
T EX TO 1
A obesidade é considerada um dos maiores problemas que a humanidade enfrenta. Em uma tentativa de combater o
problema, o território americano de Porto Rico, na América Central, está debatendo a possibilidade de multar pais que não
consigam fazer seus filhos perderem peso.
Há duas semanas, políticos de Porto Rico começaram a debater se o governo deveria se envolver mais em um dos
motivos considerados cruciais para o aumento da obesidade infantil – pais irresponsáveis.
Se a assembleia legislativa aprovar os planos do senador Gilberto Rodriguez Valle, professores terão de avaliar estu-
dantes que consideram obesos e encaminhá-los a um orientador psicológico ou, em casos mais graves, a um assistente
social. Em seguida, funcionários das secretarias de saúde visitarão os pais para determinar se a obesidade da criança tem
origem em um problema de saúde ou no hábito de comer muito. Se o problema for o hábito, os pais serão encarregados
de estabelecer um programa de dieta e exercícios, com visitas mensais de funcionários para ter certeza de que ele está
sendo mantido. Após seis meses, a criança é examinada novamente, e os pais podem ter de pagar multas de até US$ 800
caso não haja melhora dentro de um ano.
Críticos da proposta dizem que, em uma sociedade na qual a magreza se tornou um símbolo de status perpetuado pela
mídia, a ideia de professores agirem como “polícia do corpo” contribuirá para estigmatizar ainda mais o sobrepeso.
Além disso, segundo Andrew Hill, professor de psicologia médica da Universidade de Leeds, no Reino Unido, a obe-
sidade é um problema maior em grupos sociais mais pobres, que vivem em um ambiente “obesogênico”. Ele diz que as
possibilidades de se exercitar são menores e, por causa da maior proporção da renda que família gasta com comida, a
tendência é que se comprem mais produtos baratos e com muitas calorias, açúcar ou gordura.
(“Pais deveriam ser punidos pela obesidade de filhos?” http://mulher.uol.com.br, 18 de fevereiro de 2015. Adaptado.)
T EX TO 2
O maior responsável pelas deficiências alimentares dos filhos são os pais, já que cabe a eles a tarefa de decidir o que
as crianças vão comer. Entretanto, pesquisas que estudam os hábitos alimentares das crianças mostram que essa missão
está sendo desempenhada com displicência. Os pais acham natural que seus filhos prefiram batata frita, salgadinhos,
hambúrguer, sorvete, etc... a comer uma salada de cenoura, agrião ou um pedaço de peito de frango grelhado.
O problema é que a grande maioria das pessoas se esquece que as crianças nascem sem saber qual é a exata dife-
rença entre esses alimentos. Deveria haver estímulos e esforços dos pais no sentido de oferecer aos seus filhos alimentos
saudáveis.
(Jocelem Salgado. “Pais são responsáveis pela obesidade infantil”. www.uol.com.br/vyaestelar. Adaptado.)
T EX TO 3
Definir obesidade infantil como displicência dos pais coloca um fardo tremendo sobre os parentes. Considerando o marketing
e o baixo custo de cereais adoçados, refeições do tipo fast food com alto índice de gorduras e outras ameaças que visam expli-
citamente as crianças, outros também têm responsabilidade pela epidemia de obesidade infantil.
(Philip Yam. “De quem é a culpa?” www.uol.com.br/sciam. Adaptado.)
T EX TO 4
Os governos têm responsabilidades. Medidas como políticas de caráter educativo ou controles sobre ingredientes e
qualidade dos produtos consumidos pelas crianças devem estar na pauta de nossas autoridades. Os empresários, por sua
vez, poderiam praticar seus discursos de responsabilidade social e se absterem de vender produtos alimentares nocivos
à saúde de crianças.
(Flávio Cure Palheiro. “Obesidade infantil: uma responsabilidade de todos”. http://jblog.jb.com.br. Adaptado.)
Com base na leitura dos textos e em seus próprios conhecimentos, redija uma dissertação, na norma-padrão da língua
portuguesa, posicionando-se em relação ao seguinte tema:
44
Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
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Aula 8
Lei Seca
Especificidades do Enem
Exercícios
1) Identifique, na introdução, quais os tópicos frasais que indexam a tese, os argumentos e
a intervenção.
Beber e dirigir é uma mistura fatal. No Brasil, metade das mortes no trânsito são causadas por esse hábito.
Para diminuir essa estatística tão sangrenta, o Estado outorgou a lei seca que, em poucos anos de atuação, já
apresenta bons efeitos. Ela deve ser mantida. No entanto, é comum encontrar falhas na sua operacionalização.
Denúncias de má fiscalização são recorrentes nos noticiários. Diante disso, é imprescindível que Estado e sociedade
civil mobilizem-se para acabar com esse comportamento e alcançar os benefícios que a lei é capaz de atingir.
2) Identifique, ao longo da argumentação, quais períodos retomam a tese e quais argumen-
tam em função dela. Lembre-se que teses são temáticas, mais abstratas, e que os argumentos se
constituem figurativamente, ou seja, são mais concretos e factuais.
Desde que foi implementada, a lei seca já foi responsável por diminuir as vítimas no trânsito. Reduziu em
6,2% a média nacional de mortes e, na Grande Rio, em 27% o número de vítimas de acidentes. Também nessa re-
gião, caiu em 13% o atendimento hospitalar. Somado a isso, 97% da população aprova o uso de bafômetros para
fiscalizar as ruas brasileiras. Esse apoio fica ainda mais evidente quando surgem campanhas de empresas privadas
que defendem a iniciativa governamental. Exemplo disso é a conhecida propaganda do “motorista da rodada”,
que se espalhou como sinônimo de responsabilidade no trânsito. Diante desses fatos, fica evidente que manter a
lei em total funcionamento é fundamental.
A lei seca, no entanto, ainda carece de cuidados na sua manutenção. A fiscalização tem se mostrado pre-
cária. Assim como outras infrações no trânsito eram burladas com propina, essa nova medida também segue na
contra mão. Desde sua implantação, os noticiários já denunciaram diversas cenas de corrupção dos policiais que
operam nas blitz. Há casos gravados em que o próprio oficial demonstra ao motorista propensão de liberá-lo da
multa em troca de gratificação. Nesse triste cenário, dois infratores saíram impunes e as estatísticas de mortes no
trânsito correm ainda o risco de aumentarem.
3) Agora que você identificou tese, anti-tese e argumentos, tente intervir para o problema
que esta dissertação abordou.
Diante dessa problemática, fica evidente a necessidade de _________________________________
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PROPOSTA DE REDAÇÃO
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua
formação, redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema
“Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil”, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos
humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto
de vista.
Qual o objetivo da “Lei Seca ao volante”?
De acordo com a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), a utilização de bebidas alcoólicas é
responsável por 30% dos acidentes de trânsito. E metade das mortes, segundo o Ministério da Saúde, está relacionada
ao uso do álcool por motoristas. Diante deste cenário preocupante, a Lei 11.705/2008 surgiu com uma enorme missão:
alertar a sociedade para os perigos do álcool associado à direção.
Para estancar a tendência de crescimento de mortes no trânsito, era necessária uma ação enérgica. E coube
ao Governo Federal o primeiro passo, desde a proposta da nova legislação à aquisição de milhares de etilômetros.
Mas para que todos ganhem, é indispensável a participação de estados, municípios e sociedade em geral.
Disponível em: www.dprf.gov.br. Acesso em: 20 jun. 2013.
- 13% 97%
Atendimento Aprovaram o uso
Hospitalar dos bafômetros
Fonte: Secretaria Municipal
de Saúde (RJ) Fonte: IBPS
-6,2%
-27%
Vítimas de acidente Média Nac. de
no Grande Rio redução
vítimas fatais
Fonte: ISP - RJ Fonte: DataSUS
Disponível em: www.brasil.gov.br. Acesso em: 20 jun. 2013. Disponível em: www.operacaoleisecarj.rj.gov.br. Acesso em: 20 jun. 2013 (adaptado).
Belo Horizonte foi bem simples. Ímãs foram inseridos em bolachas utilizadas para descansar os copos, de forma
imperceptível para o consumidor. Em cada lado, há uma opção para o cliente: dirigir ou chamar um táxi depois de
beber. Ao mesmo tempo, tulipas de chope também receberam pequenos pedaços de metal mascarados com uma
uma peça no cliente. Ao tentar descansar seu copo com a opção dirigir virada para cima, os ímãs apresentavam a
mesma polaridade e, portanto, causando repulsão, fazendo com que o descanso fugisse do copo; se estivesse virada
mostrando o lado com o desenho de um táxi, ela rapidamente grudava na base do copo. A ideia surgiu da necessidade
de passar a mensagem de uma forma leve e no exato momento do consumo.
Disponível em: www.operacaoleisecarj.rj.gov.br. Acesso em: 20 jun. 2013 (adaptado).
INSTRUÇÕES:
• O rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
•
• A redação que apresentar cópia dos textos da Proposta de Redação ou do Caderno de Questões terá o número de linhas
copiadas desconsiderado para efeito de correção.
Receberá nota zero, em qualquer das situações expressas a seguir, a redação que:
•
• fugir ao tema ou que não atender ao tipo dissertativo-argumentativo.
• apresentar proposta de intervenção que desrespeite os direitos humanos.
• apresentar parte do texto deliberadamente desconectada com o tema proposto.
48
Projeto de texto modelo Enem
49
Redação modelo
Os efeitos do medo da Lei Seca
Cora Ramos
Beber e dirigir é uma mistura fatal. No Brasil, metade das mortes no trânsito são causadas por esse hábito.
Para diminuir essa estatística tão sangrenta, o Estado outorgou a lei seca que, em poucos anos de atuação, já apre-
senta bons efeitos. Ela deve ser mantida. No entanto, é comum encontrar falhas na sua operacionalização. Essa medi-
da pune e controla o infrator apenas pelo medo de ser autuado. Ela ainda não é capaz de educar a sociedade. Diante
disso, é imprescindível que Estado e sociedade civil mobilizem-se para ampliar os benefícios que a lei pode alcançar.
Desde que foi implementada, a lei seca já foi responsável por diminuir as vítimas no trânsito. Reduziu em
6,2% a média nacional de mortes e, na Grande Rio, em 27% o número de vítimas de acidentes. Também nessa re-
gião, caiu em 13% o atendimento hospitalar. Somado a isso, 97% da população aprova o uso de bafômetros para
fiscalizar as ruas brasileiras. Esse apoio fica ainda mais evidente quando surgem campanhas de empresas privadas
que defendem a iniciativa governamental. Exemplo disso é a conhecida propaganda do “motorista da rodada”,
que se espalhou como sinônimo de responsabilidade no trânsito. Diante desses fatos, fica evidente que manter a
lei em total funcionamento é fundamental.
É importante perceber que a lei seca, apesar de tantos benefícios, configura-se apenas como uma punição.
O sujeito sabe-se vigiado, sabe das consequências – como multa, pontos na carteira e prisão – e, para evitá-las,
cumpre a legislação. A longo prazo, a medida perde sua eficácia, já que é impossível vigiar todas as esquinas bo-
êmias das cidades brasileiras. Não há bafômetros nem contingente policial que abarquem todo o território. Isso é
impraticável. Em outras palavras, a lei não educa o motorista. Ainda não é capaz de fazê-lo entender a necessidade
de respeitar para preservar a própria vida e a de outros. Essa legislação precisa ser compreendida como o grande
Leviatã de Hobbes: um monstro que protege a todos, para garantir-lhes a sobrevivência.
Diante dessa problemática, fica evidente a necessidade de Estado e população unirem esforços para melho-
rar a conscientização do motorista brasileiro. O tempo gasto nos cursos de formação de condutores é muito grande.
Ele deve ser, então, mais eficiente: vítimas do álcool associado à direção e familiares de vítimas fatais podem gravar
mensagens para os novos motoristas. E, para cuidar da questão desde cedo, o MEC pode seguir o conselho de
Mandela e instruir as crianças: a educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo. Uma solução a longo
prazo é ensiná-las a respeitar a vida, não apenas as leis pelo medo da punição.
50
"entre frases"
estudo da escrita
Profilaxia
encarada
A escrita não pode ser
preenchimento
como um ato mecânico de
estudos teóricos
de linhas em branco. Há algum propó-
am esse com- Escreve-se, sempre, para
tradicionais que já catalogar
fundir, comover,
portamento em redações
de vestibulan- sito: persuadir, encantar, con
tende responder
dos. Problemas de Redação,
de Alcir Péco- agredir... A dissertação pre
problema que o
ra, é um dos trabalhos ma
is conhecidos a alguma questão, a algum
ndo e deseja de-
nessa área. autor detectou no seu mu
nos mais diversos
senvolver para modificar,
s leitores sobre
sentidos, a postura de seu
uma carta, por
aquele ponto de vista. Em
o propósito de per-
exemplo, escreve-se com
portamento que
suadir o leitor a algum com
r.
o autor acredita ser o melho
Dose de gramática – coloca-
ção pronominal: mesóclise
§§ Futuro do presente:
Convencê-lo-ei a aceitar nossa oferta.
§§ Futuro do pretérito: Mandando bem no Enem
Convencê-lo-ia a aceitar casar, se
tivesse certeza de teu amor. Artigo I
Cuidado com a mesóclise! Em muitos casos, ela Todas as pessoas nascem livres e iguais
soa pedante, brega. Lembre-se de imprimir no texto em dignidade e direitos. São dotadas de razão e
o seu estilo. consciência e devem agir em relação umas às outras com
espírito de fraternidade.
53
Proposta 9
T EX TO 1
T EX TO 2
Liberdade
Deve existir nos homens um sentimento profundo que corresponde a essa palavra LIBERDADE, pois sobre ela se têm escrito
poemas e hinos, a ela se têm levantado estátuas e monumentos, por ela se tem até morrido com alegria e felicidade.
Somos, pois, criaturas nutridas de liberdade há muito tempo, com disposições de cantá-la, amá-la, combater e certamente morrer
por ela.
Ser livre – como diria o famoso conselheiro... – é não ser escravo; é agir segundo a nossa cabeça e o nosso coração, mesmo tendo
de partir esse coração e essa cabeça para encontrar um caminho... Enfim, ser livre é ser responsável, é repudiar a condição de
autômato e de teleguiado – é proclamar o triunfo luminoso do espírito. (Suponho que seja isso.)
Ser livre é ir mais além: é buscar outro espaço, outras dimensões, é ampliar a órbita da vida. É não estar acorrentado. É não
viver obrigatoriamente entre quatro paredes.
Por isso, os meninos atiram pedras e soltam papagaios. A pedra inocentemente vai até onde o sonho das crianças deseja ir.
(Às vezes, é certo, quebra alguma coisa, no seu percurso...)
Os papagaios vão pelos ares até onde os meninos de outrora (muito de outrora!...) não acreditavam que se pudesse chegar tão
simplesmente, com um fio de linha e um pouco de vento!...
Acontece, porém, que um menino, para empinar um papagaio, esqueceu-se da fatalidade dos fios elétricos e perdeu a vida.
E os loucos que sonharam sair de seus pavilhões, usando a fórmula do incêndio para chegarem à liberdade, morreram queimados,
com o mapa da Liberdade nas mãos!...
São essas coisas tristes que contornam sombriamente aquele sentimento luminoso da LIBERDADE. Para alcançá-la estamos
todos os dias expostos à morte. E os tímidos preferem ficar onde estão, preferem mesmo prender melhor suas correntes e não pensar
em assunto tão ingrato.
Mas os sonhadores vão para a frente, soltando seus papagaios, morrendo nos seus incêndios, como as crianças e os loucos.
E cantando aqueles hinos, que falam de asas, de raios fúlgidos – linguagem de seus antepassados, estranha linguagem humana,
nestes andaimes dos construtores de Babel...
(Cecília Meireles. Escolha o seu sonho, 1998. Adaptado.)
T EX TO 3
Há uma diferença entre liberdade de e liberdade para. O consumidor quer ser livre para… consumir. O escravo, supõe-se, queria
ser livre do senhor. Mas na prática as coisas eram mais complicadas, como sentiram na pele os escravos recém libertos, principalmente
os sexagenários, que depois de uma vida inteira de servidão, não tinham ideia do que fazer com essa liberdade (acabaram fazendo,
entre outras coisas, o samba). O que fazer com uma liberdade que não foi solicitada e que traz consigo uma série de consequências?
Ser livre significa não ter ninguém para mandar, tampouco alguém para cuidar de si.
Liberdade é não ser nem se sentir oprimido mas é também a abertura para um campo de possibilidades de realização. É fácil
perceber sua existência quando ela é de alguma forma negada, tolhida ou retirada. O cárcere é o exemplo paradigmático. Buscamos
nos libertar de tudo que nos aprisiona, como as barreiras físicas das grades de uma prisão ou as barreiras psicológicas de um rela-
cionamento. Fugimos da opressão e da injustiça, como a realizada por regimes tirânicos e truculentos. Buscamos recursos cada vez
mais desenvolvidos para nos libertar das limitações do tempo e do espaço. Buscamos ajuda na tecnologia para que possamos nos
sentir cada vez mais livres. Mas será que tais objetivos são alcançados?
Gostamos de pensar que somos livres, que decidimos soberanamente sobre nosso destino. Não gostamos de pensar que somos
determinados, que forças mais poderosas do que nós dominam nossa minúscula existência. UFTM1303/002-ÁrSaúde
Que fazer quando nos damos conta de que não somos senhores absolutos de nossos destinos e que ideologias e corporações são
muitas vezes os verdadeiros mestres por trás de nossas ações? É possível ainda utilizarmos a palavra liberdade quando tomamos
consciência do papel poderoso que sobre nós exercem tais forças? É possível ser livre vivendo em um tempo em que, por toda parte,
impera um sistema que capitaliza todas as forças, maquínicas e humanas, transformando vida em lucro e o resto em lixo? Pode-se
falar em liberdade diante do mundo que se nos apresenta, em que um terço da população do planeta sofre de fome e guerra desne-
cessariamente enquanto menos de um por cento concentra riquezas incalculáveis?
(Marcio Acselrad. Liberdade, responsabilidade e o paradoxo da tecnologia. www.comciencia.br. Adaptado.)
Com base nos textos apresentados e em outros conhecimentos que julgar pertinentes, elabore um texto dissertativo, em norma-padrão
da língua portuguesa, sobre o tema:
54
Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
55
Veja um modelo na Redação a seguir
A prisão cotidiana
J. Brunini (adaptado)
No final do século XVII, o jurista inglês, Jeremy Bentham, concebeu a ideia do Panóptico. Em uma estrutura
circular, essa construção se tornaria um cárcere. Nele, todos os prisioneiros estariam sujeitos a um vigia central
que sempre lhes estaria implícito. Mas, ao mesmo tempo, seria capaz de observá-los continuamente. Nesse mesmo
formato, constituiu-se nosso sistema econômico . Abrangendo a sociedade, quase como um todo, o capitalismo
impõe suas regras e vigia os indivíduos por todos os lados. Por meio das lojas, dos estilos e modelos de vida. Assim,
o Homem contemporâneo, como os presos do Panóptico, não tem liberdade.
Já nesse sistema, no final do século XIX, Eça de Queiros publicou ‘’A Cidade e as Serras’’. Nessa obra, o
protagonista Jacinto creditava sua felicidade, exclusivamente, aos seus bens tecnológicos. Vivia em um dos grandes
centros industriais de sua época, Paris. Em um grande casarão, permanecia rodeado de bens materiais, frutos de
seu consumo. Como na ficção, dentro do universo capitalista, criou-se esse ideal de felicidade. Esse sentimento foi
transformado em uma consequência exclusiva do capitalismo e do consumo proporcionado por ele. Assim, como
uma obrigação, do século XIX ao XXI, atrelou-se um único estilo de vida ao bem-estar humano.
Diante dessa imposição, o indivíduo realizou concessões. O sociólogo Zygmunt Bauman explica que há um
paradoxo na sociedade moderna. Empenhamos nossa liberdade em função da segurança: quanto mais seguros
pretendemos estar, mais encarcerados nos mantemos. Isso já se ilustrava nos versos de Falcão, que questionava se
as grades do condomínio traziam proteção ou uma nova forma de prisão. Fica evidente a relação do capitalismo
com a necessidade de segurança. É a herança que a desigualdade social proporciona aos indivíduos. O medo do
Outro, da invasão da propriedade, da invasão do corpo.
Como consequência dessas concepções, no século XXI, torna -se claro que o Homem não é livre. A liberdade
que Jacinto procurou nas Serras perdeu-se em meio aos valores pregados pelo capital, em meio ao medo que a
desigualdade propaga. A felicidade passou a ser considerada fruto do consumo proporcionado por ele. E, nesse
cenário, até mesmo a individualidade rendeu-se a uma prisão na qual o vigia é onipresente: somos os presos do
Capitalismo panóptico.
56
Aula 10
Internação compulsória de
usuários de drogas
Coesão – parte 2: mais usos da substituição lexical
A coesão por substituição lexical permite maior clareza ao texto:
Versão 1: O governo de muitos países tem decidido liberar a maconha para uso doméstico. A Inglaterra agora faz
vistas grossas ao seu consumo. Ela deixará, a partir de agora, de efetuar prisões por seu porte para consumo
próprio. Ela segue a tendência europeia de maior tolerância com os usuários de drogas leves.
Versão 2: O governo de muitos países tem decidido liberar a maconha para uso doméstico. A Inglaterra agora faz
vistas grossas ao consumo da erva. As autoridades inglesas deixarão, a partir de agora, de efetuar prisões por
porte desse entorpecente para consumo próprio. O país segue a tendência europeia de maior tolerância com
os usuários de drogas leves.
Ela também ajuda a acrescentar informações interessantes ao texto, para melhor contextualizar seu leitor:
Desde que os terroristas do Estado Islâmico atacaram o Jornal Charlie Hebdo, em 2015, há uma certeza:
a organização prepara novos atentados. A dúvida era quando e onde. Porém, nos últimos meses, mesmo com
as alianças de vigilância internacional entre os países europeus, a comunicação entre as células do grupo terro-
rista seguiu e novos ataques a Paris foram inevitáveis.
59
Coesão textual indireta O texto abaixo é real, motivado pela proposta da
aula 12. Se quiser, você pode consultá-la. Reescreva-o e
Às vezes, a coesão textual é feita de maneira indire- faça as alterações necessárias para que ele tenha coe-
ta, apelando para o conhecimento que o leitor tem do são, mantendo a essência da opinião do autor original.
mundo. Ela é feita lexicalmente, não com um termo da Você pode tirar informações sobressalentes ou acres-
frase anterior, mas com uma ideia contida no frame centar informações que julgar necessárias.
desse termo. Esse frame faz parte do seu imaginário en-
quanto autor, e do imaginário do seu leitor. É um senso A rede social atrai diversos internautas, por meio dos
comum: uma sabedoria comum a muitos leitores que perfis individuais, é usada com benefícios, podendo rea-
compartilham da mesma cultura. lizar amizades e até mesmo refazer antigas. Porém, tam-
Vejamos as sequências: bém é um meio de afetar o respeito e a dignidade de ou-
Ontem fui a uma festa de casamento. O bolo tros indivíduos perante a sociedade, como por exemplo a
estava delicioso. publicação de fotos e vídeos pessoais e íntimos.
Liguei o carro e saí. Duas quadras depois, notei ________________________________________
que um pneu da frente estava vazio. ________________________________________
Minha mãe ficou dez dias internada no hospi- ________________________________________
tal. Ela chegou a ficar amiga das enfermeiras. ________________________________________
Houve um grande acidente na estrada. Deze- ________________________________________
nas de ambulâncias transportaram os feridos para os ________________________________________
hospitais da cidade mais próxima. ________________________________________
Adaptado do Curso de Redação, de Antonio Suarez Abreu
________________________________________
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Exercícios ________________________________________
________________________________________
Reescreva o texto e reduza a repetição excessiva ________________________________________
de palavras:
a. Assuma o ponto de vista da cliente do salão. Explique e demonstre por que é tão opressor o uso de burcas.
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b. Claramente, a charge expressa uma ironia. Explicite-a e faça dela a sua tese. Defenda-a.
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61
Proposta 10
TEXTO 1
Movimentos sociais fizeram na manhã desta segunda-feira [21.01.13] um ato em frente ao Centro de Referência de Álcool,
Tabaco e Outras Drogas (CRATOD), no centro da capital paulista, para protestar contra a medida do governo estadual que pre-
tende tornar mais ágeis as medidas de internação compulsória ou involuntária de dependentes químicos em São Paulo. Para as
organizações ligadas à defesa dos direitos humanos e à luta antimanicomial, a iniciativa seria mais eficiente se houvesse o reforço
da política de atenção psicossocial.
“Estão começando do fim e não do começo. Hoje, se tiver uma situação de internação involuntária na Cidade Tiradentes, as
mães vão aonde? Vir de lá até aqui [no CRATOD]? O que precisamos é ter uma assistência social democrática, universal e ao
alcance dessas famílias”, explicou o padre Júlio Lancelloti, membro da Pastoral de Rua da Arquidiocese de São Paulo. Ele defende
a instalação de Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) em todos os bairros da cidade.
A novidade da medida que começa a valer hoje é a parceria entre profissionais de saúde da rede estadual, Ministério Público e
Tribunal de Justiça de São Paulo. Será instalado no próprio CRATOD um plantão diário, das 9h às 13h, para agilizar os proces-
sos de internação involuntária ou compulsória de dependentes químicos, especialmente daqueles que frequentam a Cracolândia,
na região central.
(www.cartacapital.com.br. Adaptado.)
TEXTO 2
O crack é o principal desafio para nós, especialistas em drogas. É uma droga com alto potencial para sensibilizar o cérebro,
ligando a chave do “quero mais”. O crack é singular. Então, considero que a internação compulsória pode ajudar esses indivíduos
em situação de rua. Faria toda a diferença ter um lugar para se desintoxicar e aprender sobre a própria dependência química.
É preciso entender que esses indivíduos já perderam tudo. Queremos dar alguma dignidade a eles, para decidirem mudar de vida.
Internados, eles vão sair da dor da síndrome de abstinência, vão ter novas chances. E eles não têm mais autonomia pra decidir se
devem ser internados ou não. A droga altera a capacidade de crítica desses indivíduos. O crack age no córtex pré-frontal, que cons-
tantemente analisa a realidade e forma o pensamento. Com a dependência, essa capacidade está comprometida. E estamos falando
de dependência grave, que já provocou sequela no cérebro. Ainda mais na rua, esses dependentes não têm mais vínculos sociais.
Eles precisam dessa oportunidade para receber um bom tratamento, para poder olhar o outro lado da história.
(Ana Cecília Marques. O Estado de S.Paulo, 27.01.2013. Adaptado.)
A partir dos textos e de outros conhecimentos sobre o assunto, escreva uma redação em gênero dissertativo, observando a
norma-padrão da língua escrita, sobre o tema:
UNNV1203/002-Prova-II
62
Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
63
Aula 11
Shopping: "aproveite o melhor
que o mundo tem a oferecer"
Leituras: coletânea e redação
Prescrição
muito importante no
A revisão é uma etapa
as
e seu texto. Verifique se
processo de escrita. Revis per -
uídas; se o vocabulário é
orações estão bem constr -
ais pontuações estão ade
tinente; se as vírgulas e dem
nto...
quadas; se falta algum ace
m parte de seu tem-
Todos os escritores dedica
de o que escrevem. Franz
po a revisar com intensida -
s escritores em língua ale
Kafka, um dos mais famoso
se conformava com sua
mã, também o fazia. E não à
ava enviar seus escritos
própria revisão. Ele costum sse
Bauer, para que os revisa
sua melhor amiga, Felice
que fossem publicados. En-
e desse sua opinião antes s
o, é muito positivo dar seu
quanto você está praticand es
lerem e ler os textos del
textos para seus colegas
existe para se lido.
também. Lembre-se: texto
Use as habilidades e conhecimentos que você adquiriu na aula cinco, de descrição como ferramenta argumentati-
va, para ler a imagem do Shopping. As imagens, nas coletâneas, não são ilustrações. Elas são fortes motivadores
de tarefas e teses. Perceba se há mais de um plano, observe as cores, as linhas, simetrias, contrastes. Questione-
-se sobre as relações que essas características estabelecem entre si, com os outros textos e, por fim, com o seu
próprio repertório.
65
Proposta 11
Esta é a reprodução (aqui, sem as marcas normais dos anunciantes, que foram substituídas
por X de um anúncio publicitário real, colhido em uma revista, publicada no ano de 2012.
Como toda mensagem, esse anúncio, formado pela relação entre imagem e texto, carrega
pressupostos e implicações: se o observarmos bem, veremos que ele expressa uma determinada
mentalidade, projeta uma dada visão de mundo, manifesta uma certa escolha de valores e assim por
diante.
Redija uma dissertação em prosa, na qual você interprete e discuta a mensagem contida nesse
anúncio, considerando os aspectos mencionados no parágrafo anterior e, se quiser, também outros
aspectos que julgue relevantes. Procure argumentar de modo a deixar claro seu ponto de vista sobre
o assunto.
Instruções:
A redação deve obedecer à norma padrão da língua portuguesa.
Escreva, no mínimo, 20 e, no máximo, 30 linhas, com letra legível.
Dê um tulo a sua redação.
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Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
67
Leia a Redação a seguir. Demarque as teses, as figuras; analise como ela progride para a conclusão.
Um ambiente agradável, com corredores largos e circulares. A iluminação é ideal e a temperatura amena.
Alguns andares, muitas e variadas lojas. Quem está por lá perde, totalmente, a noção do tempo. O Shopping Center,
inventado pelos norte-americanos, tem um papel fundamental na sociedade contemporânea: incentivar o consumo.
E o homem moderno compra essa ideia e, de certa forma, torna-se dependente dela.
Isso reflete o poder da ideologia capitalista e da globalização que, juntas, ao longo dos anos, transformaram
uma sociedade de produção em sociedade de consumo. Esse fato foi descrito pelo sociólogo polonês Zygmunt
Bauman, em sua obra A Modernidade Líquida. De acordo com o autor, a velocidade em que tudo acontece passa
a ser a característica mais marcante desses tempos. Novas tecnologias e produtos são criados, constantemente,
motivando a renovação dos produtos: o antigo e obsoleto telefone do ano passado é simplesmente descartado.
Além disso, investe-se muito em propagandas, sempre direcionadas para um público específico. A imagem
de pessoas famosas passa a ser vendida e associada a determinado produto. O craque Neymar, com a Claro; a musa
Gisele Bundchen, com a Sky são bons exemplos disso. Ademais, o poder de compra não está mais concentrado na
elite. Outras classes sociais, através do crédito, aumentam seu poder de compra; e a ilusão de serem como Neymar
ou Gisele, aproveitando o melhor que a vida tem a oferecer. As empresas se fortalecem, a economia é movimentada
e, consequentemente, aumenta a dependência dos consumidores e a propagação desses valores tão vazios.
Logo, o ser humano, com essa necessidade adquirida de consumo, passa a relacionar felicidade com ima-
gens famosas e produtos. Se pode tê-las, é feliz e, com a rapidez que substitui essas mercadorias, reproduz a
mentalidade do consumismo desenfreado. Isso gera um círculo vicioso infindável. E, assim, o shopping pode ser
considerado um Templo do Consumo; a propaganda, sua palavra sagrada; e o crédito, sua fé.
68
Aula 12
A rede mundial tornou-se um veículo de socialização tão importante que foi declarada um direito básico.
Ele deve ser, então, assegurado. Ao mesmo tempo, viver em rede acarreta problemas, como o excesso de exposição.
Neste cenário, o Estado tem um duplo papel: garantir esse direito e a proteção do usuário.
O uso que se faz dessa ferramenta garante diversos benefícios. Concretiza-se, por exemplo, uma inscrição
em vestibulares e concursos. Os mais importantes não oferecem a opção presencial. Somam-se a isso os perfis das
redes sociais. Do mesmo modo que o candidato só existe se acessa a internet, o indivíduo torna-se sujeito quando
tem um perfil virtual. Sua identidade existe se navegar e socializar. Na liquidez da modernidade, o teclado começa
e mantém amizades.
O grande problema disso é que público e o privado se misturam. Exemplo claro é o menino judeu Nissin
Ourfale, que teve um vídeo de seu bar mitzwa publicado no youtube. Sua vida familiar e religiosa tornou-se motivo
de chacota nas redes virtuais e na vida real. O agravante é que a própria família levou o vídeo ao site. Ignoravam
que estava disponível para tantos usuários. Fica claro que esta é uma sociedade de controle: todos são vigiados
constantemente.
Já que não há como escapar disso, posto que é a nova forma de socialização, deve-se evitar que o público e
o privado se misturem. É fundamental que o Estado eduque o usuário para a vida em rede. A longo prazo, o MEC
deve implantar a educação virtual nas escolas por meio de treinamentos para os professores. Junto a isso, e em
curto prazo, o Ministério das Telecomunicações pode entrar em acordo com sites de relacionamento em português
para que propagandas educativas e instrucionais sejam divulgadas.
71
Proposta 12
Com base na leitura dos textos motivadores seguintes e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo em norma padrão da língua portuguesa sobre o tema VIVER EM REDE NO
SÉCULO XXI: OS LIMITES ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO, apresentando proposta de conscientização social
que respeite os direitos humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos
para defesa de seu ponto de vista.
A ONU acaba de declarar o acesso à rede um direito fundamental do ser humano – assim como saúde, moradia
e educação. No mundo todo, pessoas começam a abrir seus sinais privados de , organizações e governos se
mobilizam para expandir a rede para espaços públicos e regiões onde ela ainda não chega, com acesso livre e gratuito.
ROSA, G.; SANTOS, P. Galileu. Nº 240, jul. 2011 (fragmento).
Uma pesquisa da consultoria Forrester Research revela que, nos Estados Unidos, a população já passou
mais tempo conectada à internet do que em frente à televisão. Os hábitos estão mudando. No Brasil, as pessoas
já gastam cerca de 20% de seu tempo on-line em redes sociais. A grande maioria dos internautas (72%, de
do indivíduo do século XXI estar numa rede social. Não estar equivale a não ter uma identidade ou um número
de telefone no passado”, acredita Alessandro Barbosa Lima, CEO da e.Life, empresa de monitoração e análise
de mídias.
que não se deve publicar o que não se fala em público, pois a internet é um ambiente social e, ao contrário do que
se pensa, a rede não acoberta anonimato, uma vez que mesmo quem se esconde atrás de um pseudônimo pode
INSTRUÇÕES:
da redação deve ser feito no espaço apropriado.
deve ser escrito à tinta, na , em até 30 linhas.
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Projeto de texto modelo Enem
73
Aula 13
O parto anônimo deve ser
permitido no Brasil?
Dose de gramática – pontuação: aspas ( “ “ )
pontuação: ponto e vírgula ( ; )
A função básica das aspas é isolar a parte do
Separa orações coordenadas muito longas ou texto que, de algum modo, é alheia ou estranha
que guardam alguma simetria: ao autor.
“Eu lhe paguei o cafezinho, ele me pagou o Indicam citações textuais, palavras ou expres-
bonde” (Rubem Braga) sões que desviam do padrão culto ou do idioma
Separa orações coordenas que já apresentam do texto.
vírgulas no seu interior: Enfatizam palavras ou expressões:
Eram frustradas, insatisfeitas; além disso, Precisávamos parar de atrasar as contas. Afi-
pouco interessadas na opinião alheia. nal, agora éramos “gente grande”.
Não se usa para separar a oração subordina- Indicam que a palavra está em um sentido
da da sua oração principal. diferente do normal:
Um desses “oficiais”defensores da liberdade
era o Capitão Virgulino Ferreira, o Lampião. (Rachel
pontuação: dois pontos ( : ) de Queiroz)
Na argumentação, um dos maiores objetivos
A função básica dos dois pontos é introduzir
é a clareza. Portanto, evite o duplo sentido, a ironia
palavras, expressões ou frases que servem para es-
tacanha. Aprimore seu vocabulário para expressar-
clarecer, desenvolver ou explicar melhor uma pas-
-se sempre melhor.
sagem anterior.
Introduz uma citação:
É como Bauman afirma: a sociedade moderna
pontuação: parênteses ( )
fez-se líquida.
Discrimina componentes de uma ideia: Isolam passagens que se desviam da sequên-
“Hoje é domingo pé de cachimbo, todo do- cia lógica do enunciado.
mingo aquele esquema: praia, bar, soneca, futebol, Podem circunscrever uma reflexão:
jantar em restaurante” (Drummond) “Creio que seria capaz (talvez seja presunção)
Complementa uma palavra ou expressão anterior: de aguentar com relativa indiferença um hecatom-
“A mulher prevenira: domingo não haveria be” (Paulo Mendes Campos)
almoço” (Drummond) Inclui um comentário paralelo:
“O trabalho de lê-las (a caligrafia do amigo
era impenetrável), resumi-las e copiá-las deixou-
pontuação: reticências ( ... ) -me cansado.” (Cyro dos Anjos)
Encaixa uma explicação ou definição:
As reticências servem, basicamente, para in-
O governo de Londres congelou todos os
dicar que uma parte da frase foi omitida ou que a
bens públicos e privados da Argentina na Grã-
frase foi truncada.
-Bretanha e envia hoje para as Ilhas Falkland
E isso pode ocorrer por uma razão prática: a
(Malvinas para os argentinos) força tarefa com 40
parte suprimida não interessa à citação.
navios de guerra.
“...da liberdade em raios fúlgidos
Na argumentação, evite desviar da sequência
Brilhou no céu da pátria...” (Hino Nacional
lógica do período. É mais claro e mais interessante
Brasileiro)
incorporar as informações importantes à sintaxe
Ou pode ocorrer por razões expressivas, como indi-
direta. Se a informação não for tão relevante, re-
car um intervalo de silêncio do texto, seja por hesitação,
considere se ela deve compor o texto.
reflexão. Não é comum nos textos argumentativos , mas
pode aparecer para compor um trecho irônico, um título;
ou ainda aparecer em outros gêneros, como a carta.
75
Proposta 13
TEXTO 1
Um bebê recém-nascido foi encontrado em outubro de 2015 dentro de uma sacola de pano depositada no pé de uma
árvore em Higienópolis, bairro de classe média alta da região central de São Paulo.
A sacola foi encontrada por um morador que ergueu o saco para sentir seu peso e ouviu o gemido ao depositá-lo nova-
mente no chão. Ao abrir a sacola, encontrou o bebê – uma menina que aparentava poucos dias de vida – com roupas de
recém-nascido.
(Fernanda Mena. “Bebê é encontrado dentro de sacola em Higienópolis, centro de São Paulo”, 04.10.2015. http://www1.folha.uol.com.br. Adaptado.)
TEXTO 2
O abandono do bebê em Higienópolis e a detenção da sua mãe reacenderam o debate sobre o parto anônimo, ou seja,
o direito de a mulher doar o filho recém-nascido sem se identificar, permitindo que a gestante faça o pré-natal e dê à luz
com assistência e entregue o bebê para adoção no hospital de forma anônima. No Brasil, houve um projeto nesse sentido
que tramitou durante três anos na Câmara dos Deputados e acabou sendo arquivado em 2011.
O fato é que o abandono de bebês sempre existiu. Nesse e em tantos outros casos que ocorrem país afora longe dos
holofotes da mídia fica claro que essas mães não querem maltratar seus filhos. Do contrário não os deixariam em locais
que permitem sua rápida localização, como aconteceu em Higienópolis. São mulheres pobres, sozinhas, desesperadas.
Foi pensando nessas mulheres que dão à luz sozinhas e depois deixam seus bebês nas ruas que a Itália reinventou a
“roda dos expostos”, um local seguro em que a mãe pode deixar o bebê e ir embora sem se identificar. Ao menos três hos-
pitais filantrópicos em Roma e Milão dispõem de berços aquecidos, com vídeo e alarme para avisar da chegada do bebê.
O tribunal italiano espera 20 dias para que a mãe se arrependa e reclame o filho, antes de levá-lo para adoção.
(Cláudia Collucci. “No caso de bebê abandonado, sobra crítica e falta sentimento”, 08.10.2015. http://www1.folha.uol.com.br. Adaptado.)
TEXTO 3
Com o parto anônimo haveria a descriminalização do abandono, as mães interessadas poderiam deixar os bebês nos
hospitais ou postos de saúde para a adoção sem ter de registrar a criança em seu nome e sem precisar sequer se identifi-
car. A adoção seria menos burocrática por não envolver o registro de pai e mãe nos documentos, isto é, sem a necessidade
de fazer a destituição do poder familiar. Hoje, pais biológicos precisam passar para o adotante, de maneira irrevogável e
definitiva, o direito sobre a criança.
(Felipe Recondo, Lígia Formenti e Simone Iwasso. “Proposta de parto anônimo causa polêmica”, 21.02.2008.
http://vida-estilo.estadao.com.br. Adaptado.)
TEXTO 4
O parto anônimo impedirá que a criança tenha condições de conhecer sua origem biológica. E esse pode ser um aspec-
to bastante negativo numa época em que a dignidade humana e o livre desenvolvimento de todo ser humano é levado em
consideração pelos mais variados ordenamentos jurídicos. Na França, em 2007, pessoas que nasceram nessas condições
foram às ruas para reivindicar seu direito de saber sua ascendência genética. Isso não pode ser deixado de lado ao se
tratar do parto anônimo.
(Débora Gozzo. “Débora Gozzo fala sobre parto anônimo”, 07.04.2008. www. familiaesucessoes.com.br. Adaptado.)
Com base em seus conhecimentos e nos textos apresentados e levando em consideração os aspectos positivos e negati-
vos da adoção da prática do parto anônimo, redija uma dissertação, na norma-padrão da língua portuguesa, sobre o tema:
76
Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
77
pontuação: travessão ( – )
Além de introduzir os interlocutores de um diálogo, o travessão também pode ser usado para dar destaque
a palavras ou expressões dentro de uma frase. Neste caso, é usado em par, como os parênteses:
Entrou na casa aos berros. Corria, tropeçava no que lhe aparecia à frente, maldizia – esbravejava contra uma
quina, um pé de mesa – e continuava a correr.
Profilaxia
essário saber
Seja qual for o tema, é nec
o. Ter um objetivo cla-
por que se está escrevend
lícitos no trabalho,
ro. Eles não precisam ser exp
a estruturá-lo. As per-
mas devem ser claros par
um autor deve fazer
guntas fundamentais que
er são: que proble-
a si mesmo antes de escrev
que maneira quero
ma estou analisando? De
em suas opiniões de-
que meus leitores repens
e novo conhecimento
pois de ler meu texto? Qu
e novas atitudes ou
desejo que ele adquira? Qu
ocionais?
crenças? Que estados em
78
Aula 14
Fronteiras
Leituras: coletânea e redações modelo
Prescrição
lise atentamente
Ao receber sua correção, ana
Ao escrever e reescre-
os comentários do corretor.
cada sequência, reorga-
ver cada frase, organizar
erimentar a ordem das
nizar cada parágrafo, exp
o autor deve se pergun-
ideias, fatos e argumentos,
eu quis dizer sobre esse
tar: o que é mesmo que
dizendo? Por que não
assunto? O que eu acabei
eria dizer? Como fazer a
cheguei a dizer o que qu
lhor e comunicar o que
leitura desse texto ser me
ho de buscar uma cons-
eu pretendia? Esse trabal
tribui para a descoberta
trução mais adequada con
tese, que tantas vezes
dos objetivos iniciais da sua
corretor.
não fica clara para o leitor/
buscar pertinên-
Suas teses devem sempre
anize seu repertório.
cia. Pesquise bastante, org
surdas, baseadas em
Evite argumentações ab
e não condizem com a
clichês ou em recortes qu
verdadeiros, como na
realidade, ainda que sejam
imagem ao lado.
81
Proposta 14
fronteira
substantivo feminino
1 parte extrema de uma área, região etc., a parte limítrofe de um espaço em relação a outro. Ex.: Havia patrulhas
em toda a f.
2 o marco, a raia, a linha divisória entre duas áreas, regiões, estados, países etc.
Ex.: O rio servia de f. entre as duas fazendas.
3 Derivação: por extensão de sentido. o fim, o termo, o limite, especialmente do espaço. Ex.: Para a ciência, o
céu não tem f.
4 Derivação: sentido figurado. o limite, o fim de algo de cunho abstrato.
Ex.: Havia chegado à f. da decência.
Fonte: Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Adaptado.
As fronteiras geográficas são passíveis de contínua mobilidade, dependendo dos movimentos sociais e
políticos de um ou mais grupos de pessoas.
Além do significado geográfico, físico, o termo “fronteira” é utilizado também em sentido figurado,
especialmente, quando se refere a diferentes campos do conhecimento. Assim, existem fronteiras psicológicas,
fronteiras do pensamento, da ciência, da linguagem etc.
Com base nas idéias sugeridas acima, escolha uma ou até duas delas, como tema, e redija uma dissertação
em prosa, utilizando informações e argumentos que dêem consistência a seu ponto de vista.
82
Projeto de texto modelo Fuvest / Vunesp
83
Fronteiras e idealizações do nacionalismo
M. Fortes.
84
Veja um modelo de Redação com teses difu- Ainda analisando o romance, fica evidente a
sas. Analise-a. Tente destacá-las e perceber a pro- metáfora política e econômica que afasta Portugal da
gressão temática. União Europeia. Um dos últimos países a ser aceito por
esse bloco, foi também um dos primeiros a entrar em
Fronteiras crise. Assim como os mais ricos puderam fugir para o
Cora Ramos
continente no romance, poucos foram os portugueses
que conseguiram escapar do recente colapso financeiro
De norte a sul, uma imensa rachadura começa
e, ao mesmo tempo, serem aceitos como força de traba-
a dividir Portugal do continente europeu. A população
lho nos países vizinhos.
é orientada a manter-se no interior do país. Os mais
Assim, observa-se como a literatura desenha fe-
abastados fogem nos últimos aviões. Geólogos e me-
nômenos humanos em diversas instâncias. Em A Janga-
tereologistas são acionados e ninguém consegue ex-
da de Pedra, a mobilidade fantástica das fronteiras geo-
plicar o fenômeno. A imprensa mundial fica alarmada.
gráficas de Portugal demonstra metaforicamente outros
Finalmente, aquela imensa porção de terra começa a
limites que dividem este país do continente. Movimentos
navegar em direção às américas. Ruma para o sul e para
culturais, a língua portuguesa, a economia e heranças
entre Brasil e Açores.
históricas são forças que puxaram Portugal para o sul,
Neste romance fantástico de José Saramago é
aproximando-o fisicamente daquelas que foram suas
retratado o sentimento lusitano de afastamento que
colônias e, hoje, tornaram-se espaços de identificação.
este povo tem em relação ao resto da Europa. O único
país europeu falante de português é culturalmente mui-
to distante do restante, mesmo que as reais fronteiras
Dose de gramática –
geográficas que os separam sejam sutis como uma linha
crase não ocorre
tracejada no chão. Somado a isso, as fronteiras são mui-
to menores nas ex-colônias, que têm o mesmo idioma §§ Nas expressões formadas pela repetição de
como língua oficial; além de manifestações musicais e mesmo termo, ainda que com nome feminino:
literárias que se tangem. Em Cabo Verde, por exemplo, frente a frente
a Morna é um canto tradicional muito semelhante ao cara a cara
face a face
Fado: ambos são tristes e evocam o sentimento de sau-
gota a gota
dade. Já em Moçambique, há autores que têm pai por-
§§ Diante de numerais cardinais:
tuguês e mãe moçambicana. Eles têm raízes nas duas
Chegou a duzentos o número de feridos.
nações, publicam suas obras e transitam livremente em
Daqui a uma semana começa o campeonato
ambos os países. Não à toa, Saramago estaciona a jan-
gada de pedra em que Portugal se transformou entre
duas antigas colônias.
85
Aula 15
O trabalho na construção
da dignidade humana
Exercícios para destravar
1) A partir do humor provocado pela tirinha, estabeleça uma tese a respeito da relação do Homem
com o Trabalho.
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Há algumas décadas, pensava-se que o progresso técnico e o aumento da capacidade de produção permitiriam que
o trabalho ficasse razoavelmente fora de moda e a humanidade tivesse mais tempo para si mesma. Na verdade,
o que se passa hoje é que uma parte da humanidade está se matando de tanto trabalhar, enquanto a outra parte
está morrendo por falta de emprego.
M.A. Marques
2) Assuma um posicionamento diante das afirmações do texto. Defenda, com fatos, o seu ponto
de vista.
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Proposta 15
PROPOSTA DE REDAÇÃO
Com base na leitura dos seguintes textos motivadores e nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação,
redija texto dissertativo-argumentativo em norma culta escrita da língua portuguesa sobre o tema O Trabalho na
Construção da Dignidade Humana, apresentando experiência ou proposta de ação social, que respeite os direitos
humanos. Selecione, organize e relacione, de forma coerente e coesa, argumentos e fatos para defesa de seu ponto de vista.
liberdade. Este segundo fator nem sempre é visível, uma vez que não mais se utilizam
correntes para prender o homem à terra, mas sim ameaças físicas, terror psicológico ou
mesmo as grandes distâncias que separam a propriedade da cidade mais próxima.
O futuro do trabalho
Felizmente, nunca houve tantas ferramentas disponíveis para mudar o modo como trabalhamos e, consequentemente, como vivemos.
E as transformações estão acontecendo. A crise despedaçou companhias gigantes tidas até então como modelos de administração. Em
vez de grandes conglomerados, o futuro será povoado de empresas menores reunidas em torno de projetos em comum. Os próximos
anos também vão consolidar mudanças que vêm acontecendo há algum tempo: a busca pela qualidade de vida, a preocupação com
o meio ambiente, e a vontade de nos realizarmos como pessoas também em nossos trabalhos. “Falamos tanto em desperdício de
I NSTRUÇÕES :
Seu texto tem de ser escrito à tinta, na folha própria.
Desenvolva seu texto em prosa: não redija narração, nem poema.
O texto com até 7 (sete) linhas escritas será considerado texto em branco.
O texto deve ter, no máximo, 30 linhas.
O Rascunho da redação deve ser feito no espaço apropriado.
88
Projeto de texto modelo Enem
89
Exercício para destravar
Mesmo sendo proibido por lei, o trabalho escravo ainda ocorre em grande escala no Brasil. Distribuído nas regiões
de forma distinta, o tipo e a causa do trabalho são diferentes. A disparidade na distribuição de renda age direta-
mente nas famílias mais carentes, que acabam por aceitar esse tipo de condição.
3) O texto acima é uma produção real, de um vestibulando iniciando seus estudos na escrita. Colo-
que-se na posição de um corretor e tente compreender a intenção do autor ao escrever esse peque-
no parágrafo. Ajude-o a definir uma tese e estabelecer a progressão argumentativa pretendida por
ele no tópico frasal. Reescreva o parágrafo, mantendo as escolhas originais do autor.
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90
Aula 16
Unicamp: resenha e texto
de divulgação científica
Dose de gramática –
regência: verbos complicados
§§ implicar
Especificidades da Unicamp Objeto direto: dar a entender, pressupor
Sua desobediência implica uma rebeldia mal resolvida.
A prova de redação da Unicamp pauta-se em alguns Objeto direto e indireto: comprometer, envolver.
princípios essenciais: solicitar a escrita a partir de uma Implicaram o presidente da república com embasa-
situação específica de comunicação verbal, com o subsí- mento em seu discurso.
dio de textos-fonte, num gênero de texto específico. Isso Objeto indireto: acarretar, provocar.
implica situar a produção escrita quanto ao gênero, aos A sua desobediência implicará em consequências.
interlocutores, ao propósito que é necessário atender, Objeto indireto: antipatizar.
à forma de circulação do texto. Esses princípios estão Joana implicava com Raquel.
explicitados em documentos oficiais que orientam e §§ visar
regulam o ensino de língua portuguesa no Brasil, tais Objeto direto: mirar, apontar, pôr visto:
como as Orientações Curriculares para o Ensino Médio O arqueiro visou o centro do seu alvo e acertou.
(OCEM, 2006) e os Parâmetros Curriculares Nacionais Minha mãe esqueceu de visar o cheque em branco.
de Língua Portuguesa de 5a a 8a série (PCN, 1997). A Objeto indireto: ter em vista, ter por objetivo.
proposta curricular desses documentos estabelece, en- As novas medidas na empresa visam ao bem-estar geral.
tre outras premissas, que o trabalho de escrita deve
estar baseado em uma concepção de língua como (inter)ação e na diversidade de gêneros do discurso, o que
implica considerar os aspectos inerentes a qualquer tipo de interação verbal: quem são os interlocutores, quais as
finalidades da interação, qual o gênero etc.
Levando tais princípios em consideração, os candidatos inscritos no vestibular Unicamp são, a cada ano,
expostos a demandas de uso da linguagem variadas – uma vez que os próprios gêneros, interlocutores e temas
variam. Dessa forma, são desafiados a mobilizar conhecimentos e estratégias distintas, a fim de cumprir o solicitado
nas duas propostas da prova. A temática, antes de ser o ponto de partida da produção, como ocorre nas “redações
sobre o tema X”, emerge desses parâmetros da situação apresentada no enunciado.
A avaliação por meio da produção de determinados gêneros discursivos é importante porque possibilita aos candi-
datos o uso estratégico de seus conhecimentos sobre a linguagem e sobre as restrições que os gêneros impõem. O trabalho
com os gêneros permite que os candidatos não fiquem presos a modelos de texto preestabelecidos, mas que mobilizem seus
conhecimentos na elaboração de uma tarefa específica e detalhadamente orientada, tal como acontece nas práticas cotidianas
de uso da escrita. Um exemplo disso é a questão das cartas de caráter argumentativo. Dependendo do propósito comunicativo,
do tipo de interlocutor que é definido e dos textos-fonte, a carta pode atender a diferentes objetivos, possibilitando que a
execução da tarefa ocorra de forma flexível e adaptada ao contexto de produção previsto no enunciado. Uma carta do leitor e
uma carta-convite guardam em comum certas características formais, mas se distanciam em termos de propósito mais especí-
fico. É possível dizer que ambas demandam algo do interlocutor em questão e procurarão ser o mais persuasivas possível para
alcançar os objetivos que se propõem. Nesse sentido, ambas são argumentativas, mas não se estruturarão da mesma forma.
Desse modo, a semelhança de gêneros não significa que os candidatos sejam desafiados da mesma maneira
e possam, indistintamente, aplicar conhecimentos sobre um “modelo” do que é denominado carta argumentativa.
O treinamento exaustivo de modelos de gênero termina por deixar em segundo plano a reflexão fundamental
sobre uma série de aspectos na escrita do candidato, tais como:
a) o modo como o locutor (aquele que escreve, conforme o enunciado) e o interlocutor (aquele a quem se
destina o texto escrito) estão representados na linguagem do texto;
b) a pertinência do registro de linguagem adotado (formal, semiformal, informal) na escolha das palavras
e expressões;
c) o modo como o tema é abordado;
d) as estratégias de argumentação adotadas;
e) o uso da norma padrão e das formas de organização textual que atenderão aos tópicos anteriores (es-
trutura das sentenças, elementos de coesão etc.).
93
A avaliação dos aspectos mencionados depende dos parâmetros da situação de escrita, ou seja, dos inter-
locutores pressupostos, do propósito da produção e dos textos-fonte oferecidos. Nesse sentido é que a redação
solicitada no vestibular da Unicamp deve ser vista como a reprodução de uma prática situada de escrita e não como
mero exercício de redação.
Os critérios de correção da Unicamp são quatro:
1) Gênero: o texto elaborado pelo candidato em cada uma das tarefas deve ser representativo do gênero
solicitado e considerar os interlocutores nele implicados.
2) Propósito: o candidato deve cumprir o propósito da tarefa que está sendo solicitada, observando o
tema, a situação de interação proposta e as instruções de elaboração do texto.
3) Leitura: é esperado que o candidato estabeleça pontos de contato com o(s) texto(s) fornecido(s) em
cada tarefa. Ele deve mostrar a relevância desses pontos para o seu projeto de escrita e não simplesmente repro-
duzir o(s) texto(s) ou partes do(s) mesmo(s) em forma de colagem.
4) Articulação escrita: os textos produzidos pelo candidato devem propiciar uma leitura fluida e envol-
vente, mostrando uma articulação sintático-semântica ancorada no emprego adequado de elementos coesivos e
de outros recursos necessários à organização dos enunciados. O candidato também deve demonstrar ter habilidade
na seleção de itens lexicais apropriados ao estilo dos gêneros solicitados e no emprego de regras gramaticais e
ortográficas que atendem à modalidade culta da língua.
O candidato tem o limite de 24 linhas para produzir cada um dos dois textos. Aqui, não será diferente. E os
60 minutos do E.E. devem ser usados para produzir esses dois textos.
94
Proposta 16 – texto 1
Você é um estudante universitário que participará de um concurso de resenhas , promovido pelo Centro de
Apoio ao Estudante (CAE), órgão que desenvolve atividades culturais em sua Faculdade. Esse concurso tem o
objetivo de estimular a leitura de obras literárias e ampliar o horizonte cultural dos estudantes. A resenha
será lida por uma comissão julgadora que deverá selecionar os dez melhores textos, a serem publicados.
Você escolheu resenhar a fábula de La Fontaine transcrita abaixo. Em seu texto, você deverá incluir:
Seu texto deverá ser escrito em linguagem formal, deverá indicar o título da obra e ser assinado com um
pseudônimo.
Deliberar, deliberar...
conselheiros, existem vários;
mas quando é para executar,
onde estarão os voluntários?
(Fábulas de La Fontaine. Tradução de Milton Amado e Eugênia Amado. Belo Horizonte: Itatiaia, 2003, p. 134-136.)
Glossário
Abade: superior de ordem religiosa que dirige uma abadia.
Frade: indivíduo pertencente a ordem religiosa cujos membros seguem uma regra de vida e vivem separados
do mundo secular.
Decano: o membro mais velho ou mais antigo de uma classe, assembleia, corporação, etc.
Guizo: pequena esfera de metal com bolinhas em seu interior que, quando sacudida, produz um som tilintante.
Solerte: engenhoso, esperto, sagaz, ardiloso, arguto, astucioso.
D1
95
Proposta 16 – texto 2
Você está participando de um curso sobre o livro O sentimento de si: corpo, emoção e consciência, de autoria
do neurocientista António Damásio. Uma das avaliações do curso consiste na produção de um texto de
divulgação científica a ser publicado em um blog do curso. O objetivo do seu texto será o de divulgar as ideias
do autor para um público mais amplo, especialmente para alunos do ensino médio. Você deverá escrever o seu
texto sobre o tema da indução das emoções, baseado no excerto abaixo, incluindo:
Lembre -se de que o texto de divulgação científica deverá ter um título adequado aos conteúdos tratados.
As emoções acontecem em dois tipos de encontram, de modo algum, confinados aos que
circunstâncias. O primeiro tipo de circunstâncias ajudaram a formar nosso cérebro emocional ao
tem lugar quando o organismo processa longo da evolução e que podem induzir emoção
determinados objetos ou situações através de um desde os primeiros dias de vida. À medida que se
dos seus dispositivos sensoriais, por exemplo, desenvolvem e interagem, os organismos ganham
quando o organismo avista um rosto ou um local experiência factual e emocional com diversos
familiar. O segundo tipo de circunstâncias tem lugar objetos e situações do ambiente, tendo assim uma
quando a mente de um organismo recorda certos oportunidade de associar muitos objetos e
objetos e situações e os representa, como imagens, situações que poderiam ter permanecido
no processo do pensamento, por exemplo, a emocionalmente neutros, com os objetos e as
recordação do rosto de uma amiga ou o fato de situações que causam emoções naturalmente. A
esta ter acabado de falecer. forma de aprendizagem conhecida por
condicionamento é uma das maneiras de obter esta
Um fato que se torna óbvio ao considerarmos as associação. Uma casa parecida com a que o leitor
emoções é que certas espécies de objetos ou viveu uma infância feliz pode fazê-lo sentir-se feliz,
acontecimentos tendem a estar mais embora nada de especialmente bom ainda se tenha
sistematicamente ligad as a determinado tipo de passado na casa. Do mesmo modo, o rosto de uma
emoção que a outros. As classes de estímulos que belíssima desconhecida, que se assemelha ao de
provocam alegria, medo ou tristeza tendem a fazê- uma pessoa ligada a um acontecimento terrível,
-lo de forma consistente no mesmo indivíduo e em pode causar-lhe desconforto ou irritação. Pode até
indivíduos que compartilham os mesmos nunca chegar a perceber por quê.
antecedentes culturais. Apesar de todas as
possíveis variações na expressão de uma emoção, A consequência de concedermos um valor
e apesar do fato de podermos ter emoções mistas, emocional aos objetos que não estavam
existe uma correspondência aproximada entre biologicamente destinados a receber essa carga
classes de indutores de emoção e o resultante emocional é tornar infinita a lista de estímulos que,
estado emocional. Ao longo da evolução, os potencialmente, podem induzir emoções. De uma
organismos adquiriram os meios para responder a forma ou de outra, a maior parte dos objetos e das
determinados estímulos – sobretudo aos que são situações conduzem a alguma reação emocional,
potencialmente úteis ou perigosos sob o ponto de embora uns em maior escala que outros. A reação
vista da sobrevivência – através de um conjunto de emocional pode ser fraca ou forte – e, felizmente
respostas a que chamamos emoção. para nós, é fraca na maior parte das vezes – mas
mesmo assim está sempre presente. A emoção e o
Também é importante notar que enquanto o mecanismo biológico que lhe é subjacente são os
mecanismo biológico das emoções é largamente companheiros obrigatórios do comportamento,
predeterminado, os indutores de emoção são consciente ou não. Um certo grau de emoção
externos e não fazem parte desse mecanismo. Os acompa nha, forçosamente, o pensamento sobre
estímulos que causam a emoção não se nós mesmos ou sobre o que nos rodeia.
(Adaptado de António Damásio, O sentimento de si: corpo, emoção e consciência. Lisboa: Círculo de Leitores, 2013, p.79-81.)
96
TEXTO 1
97
TEXTO 2
98
Critérios de correção das provas
de Redação dos Vestibulares de Medicina
A redação deverá ser, obrigatoriamente, uma dissertação de caráter argumentativo, na qual se espera que o candi-
dato, visando a sustentar um ponto de vista sobre o tema proposto ou sugerido, demonstre capacidade de mobi-
lizar conhecimentos e opiniões; argumentar de forma coerente e pertinente; articular eficientemente as partes do
texto e expressar-se de modo claro, correto e adequado.
Os textos elaborados pelos candidatos serão avaliados quanto a três aspectos ou quesitos:
competência 1
Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.
Demonstra excelente domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro.
200 pontos Desvios gramaticais ou de convenções da escrita serão aceitos somente como excepcionalidade e quando não
caracterizem reincidência.
Demonstra bom domínio da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro, com poucos
160 pontos
desvios gramaticais e de convenções da escrita.
Demonstra domínio mediano da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa e de escolha de registro, com alguns
120 pontos
desvios gramaticais e de convenções da escrita.
Demonstra domínio insuficiente da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa, com muitos desvios gramaticais, de
80 pontos
escolha de registro e de convenções da escrita.
Demonstra domínio precário da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa, de forma sistemática, com diversifica-
40 pontos
dos e frequentes desvios gramaticais, de escolha de registro e de convenções da escrita.
0 ponto Demonstra desconhecimento da modalidade escrita formal da Língua Portuguesa.
competência 2
Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para
desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.
Desenvolve o tema por meio de argumentação consistente, a partir de um repertório sociocultural produtivo, e apresenta
200 pontos
excelente domínio do texto dissertativo-argumentativo.
Desenvolve o tema por meio de argumentação consistente e apresenta bom domínio do texto dissertativo-argumenta-
160 pontos
tivo, com proposição, argumentação e conclusão.
Desenvolve o tema por meio de argumentação previsível e apresenta domínio mediano do texto dissertativo-argumen-
120 pontos
tativo, com proposição, argumentação e conclusão.
Desenvolve o tema recorrendo à cópia de trechos dos textos motivadores ou apresenta domínio insuficiente do texto
80 pontos
dissertativo-argumentativo, não atendendo à estrutura com proposição, argumentação e conclusão.
Apresenta o assunto, tangenciando o tema, ou demonstra domínio precário do texto dissertativo-argumentativo, com
40 pontos
traços constantes de outros tipos textuais.
0 ponto Fuga ao tema/não atendimento à estrutura dissertativo-argumentativa.
competência 3
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos,
opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema proposto, de forma consistente e organizada, configuran-
200 pontos
do autoria, em defesa de um ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, de forma organizada, com indícios de autoria, em defesa
160 pontos
de um ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, limitados aos argumentos dos textos motivadores e
120 pontos
pouco organizados, em defesa de um ponto de vista.
Apresenta informações, fatos e opiniões relacionados ao tema, mas desorganizados ou contraditórios e limitados aos
80 pontos
argumentos dos textos motivadores, em defesa de um ponto de vista.
40 pontos Apresenta informações, fatos e opiniões pouco relacionados ao tema ou incoerentes e sem defesa de um ponto de vista.
0 ponto Apresenta informações, fatos e opiniões não relacionados ao tema e sem defesa de um ponto de vista.
101
competência 4
Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.
200 pontos Articula bem as partes do texto e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos.
160 pontos Articula as partes do texto com poucas inadequações e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos.
120 pontos Articula as partes do texto com algumas inadequações e apresenta repertório diversificado de recursos coesivos.
Articula as partes do texto, de forma insuficiente, com muitas inadequações e apresenta repertório limitado de recur-
80 pontos
sos coesivos.
40 pontos Articula as partes do texto de forma precária.
0 ponto Ausência de marcas de articulação, resultando em fragmentação das ideias.
competência 5
Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
Elabora muito bem a proposta de intervenção, detalhada, relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida
200 pontos
no texto.
160 pontos Elabora bem a proposta de intervenção relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida no texto.
Elabora, de forma mediana, a proposta de intervenção relacionada ao tema e articulada à discussão desenvolvida
120 pontos
no texto.
Elabora, de forma insuficiente, a proposta de intervenção relacionada ao tema ou não articulada com a discussão de-
80 pontos
senvolvida no texto.
40 pontos Apresenta proposta de intervenção vaga, precária ou relacionada apenas ao assunto.
0 ponto Não apresenta proposta de intervenção ou apresenta proposta não relacionada ao tema ou ao assunto.
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