Resumo:
1
Graduado em Teologia pela universidade Unigranrio e graduando em História pela universidade
Estácio.
2.1. História do conceito sobre homossexualidade.
No decorrer da produção acadêmica, intelectual, médica e religiosa na historia
da humanidade, em demasia muito tem se falado a cerca do que vem a ser o fenômeno
do homossexualismo/homossexualidade, e pouco tem se entendido ou esclarecido sobre
o que de fato vem a ser. E nesse “muito” que foi até agora produzido, quase tudo são,
aproximações das aventuras ou desventuras dos povos gregos e romanos ou proibições
dos povos hebreus contidas no texto bíblico.
Nesse sentido, nossa proposta ousa caminhar pelas seguintes indagações: quando
nasce o conceito do homossexual/homossexualismo? Quando se afirmam esses termos o
que está implícito ou por detrás dessas afirmações para sua época e para a nossa? A
partir disso pretendemos concluir que, “a homossexualidade é uma invenção da
modernidade, o homossexual é uma espécie “fabricada” por ela2”.
2
CARNEIRO, Ailton José dos Santos. A fabricação do homossexual: História, verdade e poder. In: VI
ENCONTRO DE HISTÓRIA, 2013, Bahia. Anais, p. 7.
3
Idem. Existem registros que a primeira aparição do termo Homossexualidade no Brasil foi ao mesmo
século. Segundo MOLINA, no Brasil, o termo homossexualidade foi utilizado pela primeira vez em 1894,
no livro: “Atentados ao pudor: estudos sobre as aberrações do instinto sexual” de Francisco José Viveiros
de Castro, professor de Criminologia da Faculdade de Direito do Rio de Janeiro e desembargador da corte
de Apelação do Distrito Federal. MOLINA, Luana P. P. A homossexualidade e a historiografia e
trajetória do movimento homossexual. Antítesses. Londrina, v.4, n.8, p. 949-962, 2011.
partilham de tais práticas estão doentes ou anormais. Percebemos então por detrás da
afirmação que existem intenções implícitas, de descrever o outro como ser adoecido que
careça de cuidado, tratamento ou cura, que para T. Mesquita essa categorização de
doença é um posicionamento de outrora.4
4
Como nossa proposta no momento não se propõe a discutir as formas de tratamentos e curas para este
fenômeno, nos é saliente, todavia, reconhecer que, inúmeras atrocidades foram cometidas contra
indivíduos, sejam homens ou mulheres em busca de velar as realidades pessoais referentes à sexualidade
caracterizada anormal. Aqui corrobora conosco Teresa C. M. de Mesquita quando afirma que diversas
formas de tratamento foram utilizadas a fim de “curar” a homossexualidade, entre elas a hipnose, a
castração, a terapia de choques convulsivos, lobotomia, terapia hormonal, terapia por aversão e as
psicoterapias. Todas foram, e ainda são – pois ainda existem relatos de sua existência – ineficazes.
MESQUITA, Teresa Cristina Mendes de. Homossexualidade: constituição ou construção? 2008, p. 79.
Trabalho de conclusão de curso (graduação em psicologia) - Faculdade de ciências da saúde, Centro
Universitário de Brasília – UniCEUB, Brasília, Julho/2008, p. 28.
5
CECCARELLI, Paulo Roberto e FRANCO, Sergio. Homossexualidade: verdades e mitos. Bagoas
estudos gays – gêneros e sexualidades, Natal, n. 5, 2010, p. 121.
6
Ainda que o estigma do emprego do termo seja no período de seu surgimento relacionado aos “doentes
mentais” de sexualidade afetada do final do século XIX, esse período histórico é em muito devedor aos
tempos anteriores. Mesmo em tempos modernos ainda podemos detectar resquícios da mentalidade
viciada, ao que se refere sobre a “doença (homo)sexual. “Atualmente 74 países, dos 202 países do mundo,
consideram ilegal o comportamento homossexual. Nos países islâmicos, a punição de atos homossexuais
pode variar dede prisão a chicoteamento, apedrejamento e amputação de pés e de mãos. A prisão também
é a punição em países como Argentina, Cuba, Chipre, Paquistão e China, entre
outros. na Arábia Saudita, é crime passível de pena de morte.” Cf, MESQUITA, op. cit., p. 29.
desviantes, o uso corrente dessas expressões, no entanto, estão demasiadamente afetadas
e corrompidas por terem sido uma forma de obliterar e segregar a sexualidade de
homens e mulheres ao longo do tempo, logo também, a liberdade dos mesmos.
O que Costa diz revela algo interessante para nossa proposta. Na esfera da
linguagem, um termo possivelmente moderno não poderia dar conta de um fenômeno
antiquíssimo, tendo em mente que, mesmo sendo o ato em si semelhante em alguns
aspectos, esse mesmo fenômeno é polifórmico em relação as manifestações histórico-
cultural.
7
COSTA, Jurandir Freire. A face e o verso: estudos sobre Homoerotismo II. São Paulo: Escuta, 1995, p.
54.
8
O conceito de incomensurabilidade aqui proposto segue os moldes de Putnam (1981, p. 130 apud
COSTA, 1995, p. 58). A incomensurabilidade é a tese segundo a qual os termos utilizados por uma
cultura, por exemplo, o termo temperatura tal, como utilizava uma cientista do século XVII, não podem
ser equivalentes, no sentido ou na referência, aos termos ou às expressões que utilizamos hoje. Os dois
nomes que aparecem ao lado da tese da incomensurabilidade são Thomas Kuhn e Paul Feyerabend. Kuhn
trabalha a incomensurabilidade no campo semântico, que “procurará defender seus pontos de vista
essencialmente a partir de argumentos retirados das discussões do campo da linguagem. Agora o
problema da incomensurabilidade passa a ser exclusivamente semântico e o enfoque se dirige a certos
termos cujos referentes modificam-se na passagem de um léxico a outro, gerando dificuldades de
compreensão entre os adeptos de cada grupo. Kuhn identifica os termos mais problemáticos como termos
taxonômicos, que incluem uma vasta gama de substantivos que podem ser precedidos por artigos
indefinidos.” TEIXEIRA, Sandro Juarez. Significado e referência em Quine e Kuhn. 2012. 99. F.
Dissertação (Mestrado em filosofia) - Faculdade de ciências humanas letras e artes, Universidade federal
do Paraná, Curitiba, 2012, p. 50. Propomos também para introdução as teses de Kuhn: KUHN, Thomas
[1962]. A Estrutura das Revoluções Científicas. Trad. Beatriz Viannna Boeira e Nelson Boeira. 9ª. ed.
São Paulo: Ed. Perspectiva, 2006, (2000) O Caminho desde a Estrutura: ensaios filosóficos, 1970-
1993. São Paulo: UNESP, 2006.
No entanto, sabemos dos problemas e críticas que as teorias de Kuhn desencadearam, e nos
antecipando a isso, quando propomos aqui a incomensurabilidade linguística pensamos que é possível à
tradução dos paradigmas com o referencial prático, diferenciando-se do teórico. Ou seja, é possível para a
proposta de nossa investigação a comensurabilidade das práticas homossexuais trans-historicas, mesmo
que desconexas entre si aos rótulos históricos aplicados e desaplicados. Exemplificando, no sentido do
referencial prático, nada há de desigual entre o erastes, o eromenos, os pederastas, os sodomitas, os
Realmente as relações entre os do mesmo sexo não é algo recente emergido da
modernidade, e sim práticas antiquíssimas da humanidade,
homossexuais, etc., em todos os casos a realização é a mesma. Conquanto o que interessa a nossa
pesquisa é de fato o referencial teórico que propõe a diferenciação e a relevância que cada termo tem para
sua época, que evocam uma realidade vivencial, um lugar de origem, uma esfera de atuação. Assim, a
motivação e a finalidade do erastes em nada se assemelha a dos sodomitas, que não tem nenhuma relação
com o homossexual, que se desencontra totalmente com os pederastas.
9
FILHO, Francisco Carlos Moreira, MADRID, Daniela Martins. A homossexualidade e a sua história.
Intertemas., Araçatuba, Vol. 17, No 17, p. 1-8 , 2009.
10
CECCARELLI, FRANCO, op. cit, p. 124.
posicionar diante das situações reais, e no real nada é estanque, nada é
puro, tudo se faz pensar por momentos de transição.11
11
COSTA, Rogério da Silva Martins da. Homossexualidade: um conceito preso ao tempo. Bagoas
estudos gays – gêneros e sexualidades, Natal, n 1, v 1, p. 121 – 144, 2007.
12
COSTA, Jurandir Freire. A Inocência e o vicio: estudos sobre o Homoerotismo I. Rio de Janeiro:
Relume -Dumará, 1992, p. 21.
13
Ibidem., p. 21
14
É claro que nem todas as pessoas que usam o(s) termo(s) homossexual no cotidiano, quem sabe até
mesmo desconhecendo o dogma do critério que a fundou no século XIX, são preconceituosas. No
entanto, acreditamos que essas categorias estão tão desgastadas pelo uso equivocado que
involuntariamente, usa-la(s) é dar caminho ao preconceito de onde se originaram, e que nessa direção,
viciam o modo pelo qual descrevemos nossos semelhantes, “afinal não se toma café, conversa-se,
trabalha-se, estuda-se com a opção sexual de ninguém.” GOMES, Christiane Texeira & NETO, José
Nesse sentido, a manutenção do hábito linguístico e a substituição das categorias do
pensamento quanto à conduta sexual, nos seriam protuberantes a sadia igualdade dos
que outrora eram doentes e diferentes no imaginário social.
Por esse caminho proposto nos convém explorar as sugestões que essa
substituição nos oferta enquanto ao emprego do termo. O conceito sobre
homoerotismo refere-se à atração erótica entre indivíduos do mesmo sexo, tanto entre
homens como entre mulheres.16 Quanto ao significado etimológico do termo dentre
tudo, D. Barbo nos diz o seguinte,
Nosso escopo não é propor uma reforma linguística (isso certamente nos indica
outro possível caminho), e não temos a intenção de incorrer na mesma questão de
categorizar comportamentos e posturas. No entanto, trata-se de indicar um novo modo
de abordagem a partir da linguagem, que determina quem nos somos e o que fazemos.
18
Segundo C. Ceia, “uma maneira de se refletir sobre o homoerotismo é considerá-lo uma estética, uma
pungente estética, aliás, que vem enformando, desde que a humanidade inventou a arte, as formas mais
sublimes de arte, em suas diversas linguagens.” Carlos Ceia: s.v. "Homoerotismo", E-Dicionário de
Termos Literários (EDTL), coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, <http://www.edtl.com.pt>,
consultado em 28-10-2014.
19
COSTA, op. cit, p. 23.
20
Afirmamos isso a partir da seguinte pergunta que Costa articula: “Que direito temos nós, sociedade,
grupos ou indivíduos, de obrigar quem quer que seja a ser sociomoralmente identificado em sua aparência
pública por suas preferências eróticas?”. COSTA, Jurandir Freire. A ética e o espelho da cultura. Rio de
Janeiro: Rocco, 1994. p. 113-116. Acreditamos que essa indagação está totalmente relacionada ao rótulo
de “homossexual” que a sociedade heterocêntrica oferta a colocar naquele que não oculta os seus desejos
homoeróticos. Como dissemos anteriormente, entendemos que no momento em que alguém é
caracterizado como “homossexual”, toda uma série de preconceitos nos faz imaginar e acreditar que esse
ser rotulado é alienado devido a sua conduta “anormal”, a conduta estabelecida como norma.
21
SOUZA, Warley Matias de. Literatura homoerótica: o homoerotismo em seis narrativas brasileiras.
2010. 15 3 f. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Letras, Belo
Horizonte, 2010, p. 43.
E muito, além disso, podemos sugerir a intuição que se tenha acerca do termo.
Pelo feito que o termo homoerotismo não tenha a predisposição de ter conotações
sexuais, e sim de desejo, seu emprego é adequado em diversos tipos de relações.
Tirando os fatos que o senso comum geralmente atribui questões sexuais ao termo, além
de a idéia do erótico e o pornográfico estarem de certa maneira confundidas, podemos
pesar em empatias homoeróticas entre amigos, filhos e pais, etc.,
Seth matara Osíris, seu irmão, e passa a disputar o trono do Egito com
o sobrinho Hórus, seu legítimo herdeiro. Segundo uma das versões
dessa lenda, Seth procura desonrar Hórus, tentando violentá-lo.
22
Ibidem., p. 46.
23
JUNIOR, Antonio Brancaglion. Homossexualismo no Egito Antigo. MÉTIS: história & cultura. Rio
de Janeiro, v. 10, n. 20, jul./dez. 2011.
Assim, vai à Enéade, o tribunal de nove deuses, anunciar que
desempenhou o papel de homem com Hórus, tendo este, portanto,
tomado a posição feminina na relação sexual.24
A forma como o homoerotismo era encarado no Egito antigo não parece ser tão
estreita e categórica. Do pouco que se tem do Egito antigo, em sua maior parte, trata-se,
de textos de zombaria possivelmente para serem lidos após a morte dos faraós, “uma
forma de atacar a memória, poderia também ser uma forma de ilustrar os defeitos da
classe governante e da moral decadente da época.” 26
24
MESQUITA, op. cit, p. 9.
25
JUNIOR, op. cit, p. 72.
26
Idem, p. 73.
27
FURTADO, Antonio Luz. Mitos e lendas: heróis do Ocidente e do oriente. Rio de Janeiro: Nova Era,
2006, p. 21.
Agora são esses que se queixam... Gilgamesh manda uma prostituta
seduzir Enkidu. Ele perde a inocência, os animais passam a evitá-lo. A
prostituta, certa em agir em benefício dele, convence-o a aderir à
civilização e a procurar Gilgamesh. Os dois lutam, Gilgamesh o
vence, tornam-se amigos inseparáveis.Realizam juntos várias façanhas
[...] a deusa Ishtar contempla Gilgamesh vitorioso e se apaixona por
ele, mas o herói a rejeita e Enkidu zomba dela. Nada podendo contra o
semideus, Ishtar causa a morte de Enkidu.28
28
Idem, p. 22. Além de recomendarmos a leitura da obra para aprofundamento no enredo da epopeia,
orientamos a leitura de, BUGDE, E. A. Wallis. A versão Babilônica sobre o dilpuvio e a epopéia de
Gilgamesh. São Paulo: editora Madras, 2004, ANONIMO. A epopéia de Gilgamesh. São Paulo: editora
Martins Fontes, 2001.
29
SILVA, Fernando Candido. Homossexualidade na bíblia hebraica ou uma historiografia bicha?.
Revista trilhas da história. Três Lagoas: v. 1, nº1, 2011.
30
Ibidem, p.8 apud PRITCHARD, p.79.
31
Ibidem, p. 89-90.
32
AGUIAR, Adriana. Grete: A infância perdida. Colóquio Nacional Poéticas do Imaginário da
Cátedra Amazonense de Estudos Literários, Amazonas, n I, p. 8 – 22, 2009.
Em meio a outros aspectos com características homoeróticas no mundo antigo,
nem sempre o discurso mítico foi o sitz im leben desses relacionamentos. Quando
entramos em “solo firme”, esse chão nem sempre foi tão firme quanto à aceitação
desses contatos. O rastro que podemos seguir e remontar o cenário da aceitação é as
proibições sexuais das sociedades do antigo oriente próximo.33
Das inúmeras produções do mundo antigo que alcançam nosso tema, relativos a
códigos legais, são indispensáveis citar uma das extintas referências a possíveis contatos
homoeróticos provenientes do código de Hammurabi.
33
Montalvão propõe a partir de Olyan que existe uma orda de povos que integram a concepção de Antigo
Oriente Próximo, babilônicos, assírios, egípcios e outros povos vizinhos. Cf. MONTALVÃO, S. A. A
homossexualidade na Bíblia Hebraica: um estudo sobre a prostituição Sagrada no Antigo Oriente
Médio. Dissertação (mestrado em letras) – Faculdade de filosofia, Letras e ciências humanas,
universidade de São Paulo, SP, 2009.
34
MONTALVÃO, op. cit, p. 35 – 36. As ênfases em negrito foram acrescentadas por nós, devido fato
que esclarecemos anteriormente, referente à caducidade e incomensurabilidade do termo homossexual,
todavia, optamos por essa forma com o intuito de manter o texto integral do autor. Quanto as referencias
dadas as leis dos imperadores nos remetem as seguintes datas; Urukagina aproximadamente 2357 a.C,
Ur-Nammu aproximadamente 2100, Eshnunna aproximadamente 1750 a.C e Hammurabi
aproximadamente 1726 a.C.
35
Ibidem, op. cit., loc. cit.
Se um proprietário começar um rumor contra seu vizinho em
particular ao dizer: “pessoas têm deitado com ele repetidamente” ou
dizer a esse vizinho em uma briga na presença das (outras) pessoas,
“pessoas têm deitado com você repetidamente; eu te processarei”,
desde que não seja capaz de processá-(lo) (e) não processá-(lo), eles
chicotearão este proprietário cinquenta (vezes) com madeiras (e) ele
deverá trabalhar para o rei durante um mês inteiro; e eles o castrarão e
ele também pagará um talento com antecedência.36
36
Ibidem.
37
O termo philía é comumente traduzido do grego como amizade, no entanto raramente como amor.
Aristóteles em sua obra Retórica define a atividade envolvida na philia como: "querendo para alguém o
que se pensa de bom, e por sua causa e não pelas nossas próprias, e assim estar inclinado, “tão” tempo
quanto “puder”, fazer tais coisas por ele" (1380b36– 1381a2). Informação disponível em,
http://pt.wikipedia.org/wiki/Philia. Z. Rocha vai mais além a respeito do que o termo representa em sua
época, “Na Cultura Ocidental, a palavra ϕιλια geralmente foi traduzida por “amizade”. Todavia, nos
escritos da Grécia Arcaica, o termo tinha uma conotação semântica muito mais ampla e era empregado
para traduzir um vínculo de união ou de interesse entre os homens, quer este fosse devido ao sentimento
de mútua simpatia, quer fosse fruto de uma vantagem específica, ou até mesmo do próprio acaso.”
ROCHA, Zeferino. O amigo, um outro si mesmo: a Philia na metafísica de Platão e na ética de
Aristóteles. Psychê, São Paulo, Ano X, nº 17, p. 65 — 86, 2006, p. 65.
É interessante termos em mente que a amizade entendida por essa raiz, era levada as últimas
consequências saindo da amizade privada e encontrando aberturas no espaço público, ter amizade na
Grécia clássica era envolver-se ou até confundir-se relações intimas com interesses populares. A cerca
disso Sheila Romero expõe o seguinte dado, “na época clássica, esperava-se que todos os cidadãos da
pólisateniense fossem phíloi (amigos) entre si, tanto nas esferas cívica e pública, quanto nas esferas
pessoal e privada. Essa regra, tradicional, ao mesmo tempo em que promovia a coesão social, fazia com
que os interesses particulares se sobrepusessem aos interesses públicos”. ROMERO, Sheila R. A
introdução da Philíanas relações homoeróticas entre Erastês e Erômenos nas obras simpóticas de Platão e
Xenofonte. Revista Espaço Acadêmico, Maringá, nº 95, p. 1 – 6, 2009.
38
FILHO; MADRID, op. cit, p. 4.
transmissão de conhecimento e experiências profundas. É de se ressaltar, que as
mulheres na sociedade grega em geral não tinham responsabilidades na educação dos
meninos,
39
Ibidem.
40
KERBER, Karine Studzinski. Literatura, homoerotismo e crítica social: a perspectiva queer em
Caio Fernando Abreu. 2011. 205 f. (Mestrado em letras) - Universidade regional integrada do alto
uruguai e das missões – URI, Frederico Westphalen, Rio Grande do Sul, 2011, p. 17.
41
CORINO, Luiz Carlos Pinto. Homoerotismo na Grécia Antiga: homossexualidade e bissexualidade,
mitos e verdades. Biblos, 2006. p. 22.
relações homoeróticas de ensino aconteciam42 o meio de maior naturalidade de fato é
considerado o meio didático grego.
42
Nos meios militares encontramos também a presença dos meios de transmissão de conhecimento entre
o amante e o amado. Diversas sociedades de guerra na Grécia antiga, como o exemplo de Esparta, “os
casais de amantes homens eram incentivados por parte do treinamento e da disciplina militar.” Para
consulta indicamos; CORINO, Luiz Carlos Pinto. Homoerotismo na Grécia Antiga: homossexualidade e
bissexualidade, mitos e verdades. Biblos, 2006. p. 1 - 22, PASTORE, Fortunato. O Batalhão Sagrado de
Tebas: militarismo e homoafetividade na Grécia Antiga. Revista Trilhas da História, Três Lagoas, v.1,
nº1 jun-nov 2011, p. 39 – 51.
Compreendia-se que o estreitamento da relação e do contato entre os soldados poderia melhorar
o entrosamento da tropa e a hombridade no campo de batalha, nas horas de confronto e dependência do
companheiro. A de se ressaltar aqui, algo que o amor e a paixão desenvolvidos em alguns casos nos
campos de treinamento e de batalha desencadeiam. Cristina Ternes Dieter expõe a ideia que, quando
contraposto o desempenho dos soldados heterossexuais e os homossexuais percebia-se alterações
consideráveis no rendimento. “Era estimulado pelas forças militares, pois entendiam que um soldado
homossexual, ao ir para guerra, lutaria com muito mais bravura do que um soldado heterossexual, tendo
em vista que estaria lutando não só pelo seu povo, mas também pelo seu amado.” DIETER, Cristina
Ternes. As raízes históricas da homossexualidade, os avanços no campo jurídico e o prisma
constitucional. 2012, p. 2.
Esses incentivos de poder através de Homoerotismo masculino não são peculiar somete do
mundo Grego, encontramos esse tipo de práticas também em outras culturas da antiguidade e ainda na
modernidade. William C.C. Pereira no trabalho intitulado Homoerotismo, cita a obra de Colin Spencer,
Homossexualidade: uma história, a respeito das tribos Marind e Kiman da Nova Guiné, afirmando que
“todo menino, para se tornar homem forte e guerreiro, deveria passar por ritual oral, de felação, que
simbolizava a introjeção do significante do poder, da força, e da estratégia de guerra. PERREIRA,
William Cesar Castilho. Homoerotismo. Janus, Lorena, v. 4, n. 5, p. 101- 116, 2007. (grifo em negrito é
de responsabilidade nosso e não faz parte do texto).