CAMPINAS
2015
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ii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Ciências Médicas
Assinatura do Orientador
CAMPINAS
2015
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Agência de fomento: Não se aplica
Nº processo: Não se aplica
Ficha catalográfica
Universidade Estadual de Campinas
Biblioteca da Faculdade de Ciências Médicas
Maristella Soares dos Santos - CRB 8/8402
Título em outro idioma: Evaluation of absorbed radiation dose and its importance for the
definition of computerized tomography exam protocols
Palavras-chave em inglês:
Computerized tomography
Absorption, Radiation
Radiation dosage
Área de concentração: Fisiopatologia Médica
Titulação: Doutor em Ciências
Banca examinadora:
Fernando Cendes [Orientador]
Diana Rodrigues de Pina
Izilda Aparecida Cardinalli
Carmen Silvia Passos Lima
Fabiano Reis
Data de defesa: 24-07-2015
Programa de Pós-Graduação: Fisiopatologia Médica
Esse trabalho foi realizado para avaliar as doses de radiação absorvidas em exames de
tomografia computadorizada em um hospital geral que atende uma grande população no
Brasil. O FDA (Food and Drug Administration) considera que exames de CT com a
absorção de uma dose efetiva de 10 mSv podem ser associados com um aumento na
probabilidade de desenvolver um câncer fatal na proporção de 1/2000. Foram revisados
1352 relatórios de exames de tomografia computadorizada, provenientes de dois aparelhos,
um com 16 e outro com 64 detectores. No aparelho de 16 detectores doses absorvidas 10
mSv foram observadas em 182 casos de um total de 326 pacientes (56%), enquanto no
aparelho de 64 detectores essas doses foram observadas em 517 casos de um total de 996
pacientes (52%). Doses absorvidas 100 mSv foram observadas em 16% de todos
pacientes. Em ambos aparelhos , exames de abdome e de tórax + abdome apresentaram
doses significantemente maiores que nos exames de pescoço, cabeça e tórax. Exames de
abdome e tórax + abdome realizados com espessura de 1,25 mm no tomógrafo de 16
detectores e com 1,0 mm no aparelho de 64 detectores mostraram uma significante redução
da dose absorvida em comparação com os mesmos tipos de exame realizados com
espessura de 0,5 mm no aparelho de 64 detectores. Os exames de tórax realizados com
espessura de 1,25 mm no tomógrafo de 16 detectores também mostraram uma significante
diminuição da dose absorvida em comparação ao mesmo tipo de exame realizado no
aparelho de 64 detectores com cortes de 0,5 mm. O aumento da espessura dos cortes
tomográficos não causou uma significativa alteração na qualidade das imagens. Em
conclusão, exames de tomografia computadorizada são frequentemente associados com
altas doses de radiação absorvida indicando que os protocolos de exames devem ser
reavaliados. Para exames de tomografia de abdome e de tórax + abdome , o aumento da
espessura dos cortes pode proteger os pacientes de altas doses de radiação desnecessárias.
vii
viii
ABSTRACT
This study was conducted to evaluate the absorbed radiation doses in CT examinations in a
general hospital that serves a large population in Brazil. The Food and Drug Administration
(FDA) considers that CT examination with an effective dose of 10 mSv may be associated
with an increase in the possibility of fatal cancer of around 1/2000. CT examinations of
1352 patients performed in two types of CT equipment (with 16 and 64 detectors) were
reviewed. In the 16 detector CT scanner, an absorbed dose ≥10 mSv was detected in 182
out of 326 patients (56%) whereas in the 64 detector CT scanner, in 517 out of 996 (52%).
Absorbed dose > 100 mSv was seen in 16% of all patients. In both CT scanners,
examinations of abdomen and thorax+ abdomen presented an absorbed dose significantly
higher than neck, head and thorax. Examinations of abdomen and thorax+ abdomen
performed with slices of 1,25 mm in the 16 detector CT scanner and with 1,0 mm in the 64
detector CT scanner showed a significant reduction of the absorbed dose in comparison to
the same type of examination with slices of 0.5 mm in the 64 detector CT scanner. The
examinations of thorax performed with slices of 1,25 mm in the 16 detector scanner also
showed a significant reduction of the absorbed dose in comparison to the examinations
performed with slices of 0,5 mm in the 64 detectors scanner. The increase of the slice
thickness did not lead to noticeable alteration of the image quality. In conclusion, CT
examinations were often associated with high doses of absorbed radiation indicating that
the protocols of the examinations should be reevaluated. For CT examinations of abdomen
and thorax+abdomen, the increase of the slice thickness can protect patients from
unnecessarily high doses of radiation.
ix
x
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA 1
2. REVISÃO DA LITERATURA 2
RADIAÇÃO 16
RADIAÇÕES 18
IONIZANTES 24
IONIZANTES 27
xi
2.15 TEORIAS DE EFEITOS DAS RADIAÇÕES IONIZANTES EM
3. OBJETIVOS 34
4. MATERIAL E MÉTODO 35
5. RESULTADOS 38
6. DISCUSSÃO 50
7. CONCLUSÕES 70
8. REFERÊNCIAS 71
xii
À minha esposa Albina e à meus
filhos Cláudia e Eduardo
xiii
xiv
AGRADECIMENTOS
Aos doutores Djalma de Carvalho Moreira Filho e Vitor Ângelo Martins Montalli
pelas inestimáveis colaborações prestadas.
xv
xvi
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
de abdome 45
xvii
e com modificação de protocolo 49
tomográfico 52
humano 61
xviii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Gy – Gray
Sv – Sievert
E – effective dose
xix
xx
INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA
1
O uso da tomografia computadorizada vem crescendo de modo importante. Credita-se a
essa modalidade de exames mais de 50% da dosagem de radiação ionizante às quais os
pacientes são expostos por razões médicas (Bruce 2010, David 2007, Rebecca 2010). Nos
EUA o número de exames aumentou de 18 milhões de exames em 1993 para 67 milhões
em 2006 (ICRP 2011, Smith-Bindman 2012, de Gonzalez 2009). Um aumento de exames
de mais de 10% ao ano, contra um aumento populacional global de menos de 1% ao ano.
As Nações Unidas, através de seus comitês responsáveis por ciências e saúde, já
contabilizam o número de exposições a exames radiológicos, principalmente tomografias
computadorizadas, em centenas de milhões de exames / ano em toda população mundial (
Linton 2003, Mettler 2006)
REVISÃO DA LITERATURA
Agentes biológicos, químicos e físicos interagem com organismos vivos de diversas formas
e podem atuar tanto em estruturas de seu arcabouço como em seus inúmeros ciclos físico-
químicos, causando efeitos benéficos ou nocivos. Entre os agentes físicos existentes alguns
se destacam por causarem grande interferência nociva. Dentre estes estão as radiações
ionizantes, em suas várias formas de atuação.
2
estruturas dos átomos irradiados, com perda de partículas e causando um desarranjo de
forças elétricas.
3
perigo cancerígeno. O radônio ocorre difusamente, com maior intensidade em litorais com
muita areia monazítica, podendo também surgir em formações rochosas, tijolos e outros
materiais cerâmicos. Em vários países existe uma preocupação crescente quanto à presença
desse gás, inclusive com o desenvolvimento de medidores caseiros para avaliar sua
concentração (BEIR VI 1999, Pirozynski 2006, Lubin 1995).
Exposições médicas:
4
X”. Sua descrição da descoberta foi publicada em dezembro de 1895 e já no mês seguinte,
em janeiro de 1896, a revista médica Lancet publicou o primeiro artigo médico
descrevendo o uso dessa tecnologia.
Para que haja um melhor entendimento a respeito dos modos de ação e dos perigos das
radiações, principalmente na forma de raios-X, algumas considerações são necessárias
sobre radiação e ionização.
5
elétrica exercida pela carga positiva dos prótons nos elétrons. Os átomos comumente têm
essas distribuições de carga, positivas dos prótons e negativa dos elétrons, em equilíbrio. O
número de cargas positivas nos núcleos é contrabalançada por igual número de cargas
negativas de elétrons em suas órbitas.
Os átomos são classificados de acordo com o número de prótons em seus núcleos (número
atômico) e pela soma de seus prótons e nêutrons nos núcleos (número de massa). A
estabilidade de um átomo é resultado do equilíbrio entre as forças de suas partículas.
Se um átomo está num estado de desequilíbrio de forças, se existe uma disparidade entre as
cargas positivas de seus núcleos e o número de elétrons que orbitam ao seu redor, ele tende
a perder energia para alcançar o equilíbrio. A tentativa de alcançar esse equilíbrio de
cargas, frequentemente resulta numa emissão de partículas com massa (positivas ou
negativas) por parte desse átomo e também em forma de ondas eletromagnéticas, com
perda de energia. Essas são as duas formas de ocorrência das radiações chamadas
ionizantes: forma particulada, quando essas emanações são constituídas por partículas
(prótons, neutros e elétrons) e radiação em forma de ondas eletromagnéticas (as quais não
contém partículas).
6
Fig. 1 – Representação do espectro de manifestações físicas das ondas eletromagnéticas.
(ufpa.br)
7
Fig.2 – Representação esquemática do tubo de formação dos raios-X. O filamento
denominado cátodo dá origem ao feixe de elétrons que incide na placa denominada anodo e
dá formação aos raios-X.
(oocities.org)
8
Conceitos físicos de ondulatória:
A distância entre dois pontos iguais de onda, representada em temos físicos pela letra grega
“ λ “ é conhecida como comprimento de onda. O numero de vezes que essa onda passa,
num determinado ponto e unidade de tempo, é chamado de freqüência, representada pela
letra grega “ ν “. O produto da freqüência pelo comprimento de onda é chamado de
velocidade da onda : c = λν. Todas ondas eletromagnéticas (ex.: ondas de rádio,
microondas, luz visível, raios- X e raios- γ) movem-se na velocidade da luz.
No começo do século 20, um físico chamado Max Planck estabeleceu que as ondas
eletromagnéticas carregavam energia em forma de “pacotes” e essas unidades receberam o
9
nome de fótons. Esse físico definiu que essa energia era inversamente proporcional ao
comprimento de onda dessas radiações eletromagnéticas. Com isso desenvolveu uma
equação onde cada fóton carrega uma energia definida como o produto de hν, onde h é uma
constante (conhecida como constante de Planck) e ν a frequência daquela radiação. Os
raios-X têm um comprimento de onda muito pequeno, do tamanho aproximado de um
átomo, com isso a quantia de energia transportada por eles na forma de fótons é muito
grande. Isso pode ser constatado ao se aplicar a fórmula de Planck (energia do fóton = hν).
Como toda onda eletromagnética tem a velocidade da luz, é possível inferir a altíssima
frequência dos raios-X para caminhar a mesma distância que qualquer outra onda. Como
resultado disso carregam altas cargas de energia em seus fótons. Em termos energéticos
ficou estabelecido que a energia de 1 fóton, medida em kiloelétron volts e o comprimento
de onda medido em angstroms, teria o seguinte valor: 1Å = 12,4 keV. Essa equação
significa, portanto, que uma onda eletromagnética com um comprimento de onda de 1Å (1
angstrom), transporta fótons de energia de 12,4 kiloelétron volt. Essa unidade kiloelétron
volt (keV) é uma unidade de energia, que representa a energia passada a um elétron que foi
acelerado por uma diferença de potencial de 1000 volts (V). Por analogia, a unidade elétron
volt (eV) é a energia transferida para 1 elétron quando acelerado por uma diferença de
potencial de 1 V (1 volt). Volt (V) é a unidade de tensão elétrica (diferença de potencial
elétrico) do Sistema Internacional de Unidades. Essa unidade representa o potencial de
transmissão de energia medido em Joules, pela carga elétrica em Coulombs, existente entre
dois pontos distintos no espaço. Ou seja, quando existe uma tensão de 1 V (um volt) entre
dois pontos no espaço é o mesmo que dizer que cada carga elétrica de 1 Coulomb, que se
movimenta entre esses pontos, transmite 1 Joule de energia. O angstrom (Å) é uma unidade
de medida que corresponde a 10-8 cm. Os raios-X têm um comprimento de onda de cerca de
0,1Å, com isso aplicando-se a equação: 1 λ Å = 12,4 keV, fica constatado que a energia que
cada fóton de raio-X transporta é da ordem de 124 keV. Esses raios-X têm grande
capacidade de atravessarem as estruturas físicas em virtude de terem esse comprimento de
onda de dimensões atômicas e alta carga energética embutida
Para exemplificar essa energia podemos fazer uma comparação com a energia existente em
ligações químicas comumente encontradas em seres vivos, as ligações covalentes entre
10
átomos de carbono (C=C) e que são consideradas ligações químicas fortes com uma energia
equivalente a 4,9 eV . Um fóton de raio-X tem 124 keV, ou seja, tem energia suficiente
para quebrar aproximadamente 25.000 dessas ligações covalentes entre átomos de carbono
(Hall 2006). Isso não ocorre necessariamente em todas passagens de um fóton de raios-X
pelos tecidos de seres humanos, mas serve para exemplificar o potencial energético desses
fótons. Os raios-X, portanto, possuem fótons com grande carga energética e tem tamanho
de onda de dimensões atômicas. Consequentemente, quando atravessam as estruturas vivas
parte dessa energia é depositada em tecidos e células.
2 - interagir com a matéria atingida e ser completamente absorvido, transferindo toda sua
energia
11
Formas diretas de liberação de energia ionizante:
As cargas energéticas dos fótons das ondas eletromagnéticas dos raios X incidem em
elétrons dos átomos que estão em seu percurso e podem deslocá-los de suas órbitas
atômicas. Quanto maior a energia carregada, maior essa probabilidade e maior a
intensidade do evento. O fóton incidente, após cada choque com átomos em seu percurso,
sofre mudanças de sua direção e perde energia; essa perda pode variar de parcial a quase
total. O elétron que receber a energia do fóton irá absorver parte dela e se transformar num
elétron acelerado.
12
Fig. 4 – Representação da absorção de um fóton de raio-X. Parte da energia do fóton é
passada para um elétron e o fóton incidente perde parte da energia e é defletido de sua
direção original (Hall 2006).
Esse elétron, por sua vez, transforma-se num projétil e ao se chocar com outros átomos
poderá causar transformações nas suas estruturas, por deslocar elétrons de suas órbitas.
Esse processo poderá causar ionizações em outros átomos, levando a quebras em ligações
químicas, ou seja, tem o potencial de causar danos biológicos. Esse efeito direto dos fótons
das ondas eletromagnéticas, deslocando e energizando os elétrons para fora de seus átomos,
é chamado de efeito Compton e depende de energia. Se a quantia de energia dos fótons não
for alta o suficiente para causar esse descolamento dos elétrons de suas órbitas, ela poderá
causar um outro efeito chamado de efeito fotoelétrico. Nesse último caso, a carga
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energética dos fótons incidentes, por ser menor, irá causar somente uma mudança de órbita
de algumas camadas de elétrons em alguns átomos.
Se um elétron muda de uma órbita para outra de maior energia, seu lugar vai ser ocupado
por um elétron que estava numa órbita mais energética ou por um elétron de fora do átomo.
Todas essas movimentações também causam liberação de energia em forma de fótons. Isso
tende a criar radicais livres, principalmente em moléculas de água, que compõem cerca de
80% das células (H20 -- H2O+ + e-). Essa forma de atuação é, portanto, indireta.
Inicialmente são formados radicais livres que irão posteriormente interagir com outros
átomos e moléculas.
Os radicais hidroxilas possuem nove elétrons, um deles sem par, transformando-o num
radical livre altamente reativo. Considera-se que esses radicais livres reagem com o DNA
dos núcleos celulares e que são responsáveis por 2/3 das alterações causadas pelas
radiações ionizantes. Em cada exame radiográfico um enorme número de fótons interage
com muitos átomos. Essa quantia é variável e dependente das diferentes técnicas de exame
que são utilizadas. Portanto, é uma questão estatística o número e a importância das lesões
que podem ocorrer.
14
Fig. 5 – Representação das ações direta e indireta das radiações. Imagem de estrutura
esquemática do DNA sendo lesado por elétron deslocado de seu átomo por fóton incidente
(ação direta) e por efeito de radicais hidroxila formados por incidência dos fótons nas
moléculas de água (Hall 2006).
Se as alterações celulares que ocorrerem pela passagem dessa radiação não forem
adequadamente reparadas pode haver impedimento de reprodução ou mesmo de
sobrevivência das células, ou surgirem células viáveis porém modificadas. Esses dois
resultados têm implicações diferentes para os organismos hospedeiros das mesmas.
15
A probabilidade das radiações causarem danos vai variar dependendo das doses das
radiações, podendo chegar em 100% de chance em doses altas (Hall 2006, Yukiko 1990,
UNSCEAR 2000, BEIR VII 2006).
Quando se trata de radiação ionizante a unidade usada para quantificar essa energia
incidente recebe o nome específico de gray (Gy). Essa unidade substituiu a unidade usada
no passado, que tinha a denominação de rad (radiation absorbed dose) e era definida como
a transferência de 100 erg/g de tecido.
O Gy (gray) foi convencionado como sendo equivalente a 100 rad. Essa unidade mede a
transferência de energia para a matéria atingida pela radiação. Quando é transferida uma
quantia de energia equivalente a 1 Joule (1J) por quilograma de matéria (1Kg) é porque
houve a incidência de 1 Gray (1Gy) de radiação ionizante.
Energia é uma grandeza única, com diferentes modos de apresentação, essa transformação
de radiação (Gy) para uma energia mecânica (J) é um modo de fazer uma comparação entre
as formas de apresentação da energia. Com o aumento de conhecimento a respeito da
radiação ionizante e seus modos de ação, foram se desenvolvendo outros conceitos de
16
avaliação , entre eles o de fator ponderado de radiação (radiation weighting factor –
Wr). Esse conceito considera que diferentes tipos de radiações ionizantes causam
diferentes efeitos e riscos aos organismos numa mesma dose, dependendo da natureza física
dessas radiações que transportam cargas energéticas e efeitos ionizantes diferentes. Esse
conceito é utilizado pelo ICRP (International Commission on Radiological Protection) para
o conceito de efeito biológico relativo (RBE-relative biologic effectiveness) (CNEN
2010, relatórios ICRP 1989).
Fótons 1
Elétrons 1
Prótons 2
17
>100 keV a 2 MeV 20
> 20 MeV 5
Essas partículas alfa (α ) têm poder de penetração pequeno, podem ser detidas por uma
folha de papel, porém tem um alto poder de ionização. Elas apresentam uma composição
idêntica ao núcleo do hélio (constituído por 2 prótons e 2 nêutrons) e por onde passam tem
uma forte tendência de capturar elétrons, na tentativa de se transformar nesse elemento
químico (gás hélio). Consequentemente, partículas α tem fortíssimo poder de ionização.
São extremamente lesivas se ingeridas ou aspiradas.
18
Os nêutrons, que fazem parte dos núcleos, têm a seguinte composição: nêutron = próton +
elétron + neutrino. As partículas β são a emissão desses elétrons + neutrinos, restando
somente os prótons nos núcleos, com isso havendo aumento do número atômico dos átomos
emissores.
Quando são avaliados as ações de diferentes radiações, esses aspectos têm que ser
considerados, pois os efeitos podem ser diferentes. Em decorrência dessas diferenças foi
criado um novo conceito em termos de proteção radiológica, a chamada dose equivalente.
Esse parâmetro é o produto da dose absorvida pelos tecidos ou órgãos atingidos por essas
radiações ionizante pelo tipo de energia ionizante incidente. Ou seja:
Assim surge outra unidade, que é utilizada quando se trata de medir efeito de radiações
ionizantes, o Sievert (Sv). Enquanto a unidade de energia absorvida pelos organismos é
medida em gray (Gy), a dose equivalente é medida em sievert (Sv).
Por esses conceitos pode ser entendido que, embora as radiações incidentes possam ser
iguais, os efeitos biológicos são diferentes. Para exemplificar, 1 Gy (gray) de energia
ionizante incidente, na forma de nêutrons, tem um efeito biológico diferente de 1 Gy de
energia incidente na forma de raios-X.
Como vimos na tabela anterior, os nêutrons tem um fator ponderado de radiação = 20,
enquanto os fótons, que são a forma de propagação da energia nas ondas eletromagnéticas,
tem um fator ponderado de radiação = 1. Ou seja, a dose equivalente da energia
transportada pelos nêutrons vai ser 20 vezes maior que a mesma quantia de energia
transportada pelos raios-X.
Levando-se em conta esses conceitos, nas radiações provenientes dos raios-X, que tem um
fator ponderado de radiação unitário (1), conclui-se que os valores de radiação absorvidos,
19
medidos em Gray (Gy), têm os mesmos valores que as doses equivalentes (dose equivalente
= dose absorvida x fator ponderado) que são medidos em Sievert (Sv).
Outro parâmetro importante em termos de radiações é o conceito de dose efetiva (E). Esse
valor baseia-se em valores quando o corpo é uniformemente irradiado, em toda sua
extensão. Esse tipo de radiação no corpo todo é um evento mais passível de acontecer em
casos de exposições a detonações de armas nucleares ou exposições em casos de acidentes
nucleares (como em usinas nucleares).
A partir desse conceito de dose efetiva, ou seja, radiação total do corpo, surgiu também um
outro parâmetro, chamado fator ponderado tissular (tissue weighting factor – Wt). Esse
parâmetro existe em decorrência das diferentes vulnerabilidades tissulares às radiações.
Assim como é importante a avaliação do tipo de radiação ionizante que está atingindo o
organismo, também tem importância saber quais estruturas estão sendo atingidas, por
existirem diferentes vulnerabilidades entre os diferentes órgãos e tecidos do corpo humano.
Em virtude dessas diferentes sensibilidades, a formulação da dose efetiva quando o corpo é
irradiado tem a seguinte equação de definição:
TECIDOS Wt ΣWt
20
É importante ressaltar que as avaliações sobre probabilidades cancerígenas das radiações
foram inicialmente baseadas no conceito de dose efetiva. Esse conceito foi estabelecido
principalmente com os estudos das populações japonesas residentes em Hiroshima e
Nagasaki expostas às detonações atômicas na segunda guerra mundial. Os indivíduos
sobreviventes foram expostos à radiações com diferentes intensidades, em sua maioria
doses de corpo total. Baseado nesses casos desenvolveram-se índices de probabilidades
cancerígenas a partir dos níveis de radiações incidentes (BEIR V 1990, LSS Reports 1-14,
1950-2003)
Os exames de imagem raramente examinam o corpo todo do paciente numa mesma data,
portanto, não temos uma irradiação de corpo total. Porém, a partir desses estudos temos
conhecimento de diferentes vulnerabilidades do corpo humano às radiações ionizantes. Por
exemplo, usando-se a tabela de fatores ponderados teciduais (estabelecido pelo ICRP),
observa-se que os pulmões (Wt= 0.12) são 12 vezes mais sensíveis às radiações que os rins
(Wt=0.01). Portanto, a sensibilidade dos órgãos e tecidos são diferentes para a mesma dose
de radiação absorvida, resultando em efeitos potencialmente distintos, dependendo da área
atingida (ICRP 1989).
Como são necessários contingentes enormes de pessoas para um estudo prospectivo sobre
esse assunto e existem inúmeras variáveis envolvidas (carga genética, tempo decorrido após
o exame, exames intercalados, idade em cada exame, localização geográfica de moradia,
etc), fica muito difícil estabelecer com precisão os perigos envolvidos com essas doses
absorvidas em exames radiológicos. Os indivíduos já nascem com uma probabilidade
importante para desenvolver um câncer ao longo de suas vidas (segundo o FDA, em torno
de 20% na população americana). Essas incidências vão variar de acordo com sexo, idade,
grupos raciais, locais de moradia e exposições a fatores predisponentes. Seria necessário
estudo populacional numeroso, com grupos controles de pessoas nunca expostas,
semelhantes às populações expostas, por longo tempo, para se observar eventuais
acréscimos de incidências de câncer. Esses acompanhamentos ainda não estão sendo
realizados em grandes grupos populacionais, porém foram criados alguns conceitos para
avaliar o aumento de radiação às quais as populações estão sendo expostas, um deles é o de
dose equivalente coletiva (ICRP 1989).
21
Esse conceito toma a dose equivalente total (dose de exposição x fator ponderado do tipo
de radiação) à qual uma população foi exposta, em sievert (Sv) e estabelece uma relação de
1 pessoa para cada sievert (Sv) de exposição. Para exemplificar, suponha-se que um
determinado país teve um número de radiação quantificada (soma de exames de imagens,
medicina nuclear e outros métodos) em dose total/ano de 1 milhão de Sv. A dose
equivalente coletiva seria de 1milhão de pessoas/Sv, ou seja, seria como se 1 milhão de
indivíduos recebesse cada um a dose equivalente de 1 Sv.
Efeito determinístico:
São efeitos celulares e teciduais que vão ocorrer quando se ultrapassa determinada dose de
radiação. Por exemplo, a catarata vai ocorrer sempre que se ultrapassar uma dose gatilho
(threshold dose) para esse efeito (ICRP 1989)
Efeito estocástico:
22
independe da dose, mas a probabilidade de sua ocorrência tem correlação direta com ela
(não tem dose gatilho, exemplo - câncer).
Unidades de radiação :
Rad (radiaton absorbed dose): antiga unidade de radiação absorvida pelo corpo. 1 rad =
100erg/g de qualquer tecido. Substituída pelo Gray (Gy) - 1 rad = 1/100 Gy
Rem (roentgen equivalent man): é uma unidade antiga e introduzia o conceito de dose
equivalente ou efetiva. É o produto de dose absorvida em rad e o fator ponderado de
radiação. Substituída pelo Sievert (Sv) - 1 rem = 1/100 Sv
Gray (Gy) : é a unidade atualmente utilizada para dose absorvidas. Um unidade tem o
valor equivalente à deposição de 1 joule de energia em cada 1 kg de tecido exposto à
radiação ( 1J/Kg) . Substituiu a unidade antiga (rad) - 1 Gy = 100 rad
23
A seguir exemplificamos as doses de radiações ionizantes com seus respectivos efeitos já
conhecidos:
a) 10 – 50 rem (100 - 500 mSv; 0,1 – 0,5 Gy): depressão da medula e redução do
número de células sanguíneas
Temos, em decorrência de nossa estrutura orgânica, uma extrema sensibilidade a esse tipo
de radiação. Existe um grande número de publicações a respeito dos efeitos das radiações
ionizantes, a maioria deles mostrando efeitos nocivos, tanto imediatos em casos de maior
dosagem de radiação, como tardios em casos de menor dosagem.
Existe um consenso, por parte das entidades responsáveis pela administração e controle
dessas radiações, da necessidade de uma contínua avaliação das dosagens aplicadas, para
proteger os pacientes de uma exposição desnecessária. Assim como também proteger as
pessoas envolvidas na manipulação desses aparelhos e o ambiente próximo a essas
instalações. Essa preocupação com o aumento das radiações vem crescendo em decorrência
da exposição crescente por atividades médicas (Hall 2006)
24
Measurements (ICRU). A ICRP, mesmo não tendo um poder regulador internacional, em
virtude das diferentes políticas entre os países, estabelece os conceitos de normas de
segurança e tem seus parâmetros aceitos internacionalmente. As autoridades reguladoras de
cada país tem suas próprias estruturas de legislação, controle, licenças e normas para as
práticas com essas radiações. Essas entidades anteriormente citadas são as balizadoras dos
assuntos de radiações ionizantes na maior parte dos países europeus e em muitos outros
países do mundo e mantêm relacionamento com a Organização Mundial da Saúde e com a
Agência Internacional de Energia Atômica. Tem também vínculos com a Organização
Internacional do Trabalho e outros órgãos das Nações Unidas.
Em 1929 foi criado nos Estados Unidos uma entidade denominada de “The Advisory
Committee on X-Ray and Radium Protection”. Essa entidade foi originariamente
estabelecida para representar todas organizações envolvidas com raios-X e radiações
ionizantes, atuando nos Estados Unidos . Tinha uma função análoga à “Internacional X-ray
and Radium Protection Committee “, criada no segundo congresso internacional de
radiologia. Como continuidade dessa instituição foi criado o National Council on Radiation
Protection and Measurements (NCRP). Essa entidade é a principal responsável pelas
políticas de controle e proteção às radiações ionizantes nos EUA. Com o contínuo
crescimento da radiologia e aumento do uso das radiações ionizantes houve uma importante
expansão das atividades do NCRP e com o tempo foi concluído que sua atividade de modo
informal era inapropriada. Como resultado, o NCRP foi reconhecido e oficializado pelo
congresso americano em 1964 com o nome de “National Council on Radiation Protection
and Measurements”. Essa transformação é importante no sentido de mostrar uma
preocupação crescente com o aumento do uso de meios emissores de radiações e
determinar medidas de controle . O NCRPM oficializado pelo congresso americano e por
leis públicas estabelece os seguintes objetivos :
25
2 – Providenciar os meios de cooperação entre as entidades envolvidas em aspectos
científicos e de proteção às radiações ionizantes, no intuito de efetiva utilização de seus
recursos e cooperação mútua.
Existem ainda várias outras organizações que cuidam das proteções às radiações e ocorrem
inter-relações entre vários comitês que cuidam desses controles. Alguns desses comitês
sumarizam os dados e análises dos riscos provenientes das radiações, principalmente
voltados aos perigos de desenvolvimento de câncer e de alterações hereditárias.
Como órgão das Nações Unidas e cuidando desses assuntos relacionados às radiações
existe o United Nations Scientific Committee on the Effects of Atomic Radiation
(UNSCEAR). Esse comitê tem grande representação internacional, com membros da
comunidade científica em vários países membros das Nações Unidas. Seus relatórios
ocorrem desde 1958; o último relatório foi em 2013 e trata quase exclusivamente dos
cuidados com radiações na faixa pediátrica. Os Estados Unidos tem um comitê conhecido
como BEIR (Biological Effects of Ionizing Radiations). Seu primeiro relatório foi em 1956
e é conhecido como BEAR (Biological Effects of Atomic Radiations). Após esse surgiram
os relatórios de 1972 (BEIR II), 1980 (BEIR III), 1990 (BEIR V),1999 (BEIR VI), 2006
(BEIR VII)
26
Estudos epidemiológicos com radiações ionizantes :
A maior fonte de estudos para avaliação dos efeitos das radiações nos seres humanos
vieram das populações atingidas pelas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki.
Inúmeros estudos e trabalhos epidemiológicos foram realizados a partir dessas fontes. O
maior estudo foi o LSS (Life Span Study), que foi um trabalho conjunto entre os governos e
comunidades científicas do Japão e dos EUA. Este estudo coletou dados dos sobreviventes
baseado nos locais onde se encontravam em relação ao epicentro das detonações e estes
foram acompanhadas por décadas. Esse acompanhamento estudou a incidência e
mortalidade por câncer e a mortalidade por causas não relacionadas ao câncer (Preston
2003, Pierce 2000). Foram estudados cerca de 60.000 sobreviventes de Hiroshima e 30.000
de Nagasaki. Aproximadamente 75% do total dos sobreviventes recebeu entre 5 – 100 mSv.
Esse estudo conjunto deu origem a muitos trabalhos científicos e relatórios, sendo a
principal fonte de apoio ao desenvolvimento de interpretações sobre radiações ionizantes.
Os sobreviventes foram catalogados em várias categorias. Os que receberam doses altas de
radiações tiveram grande incidência de mortalidade e efeitos nocivos mais precoces
(Preston 2003). No entanto, os estudos epidemiológicos mostraram, por exemplo, uma clara
associação entre câncer do pulmão, urotélio, bexiga, mama, estômago, fígado, etc, e baixas
doses de radiações ionizantes (LSS Reports 1-14, 1950-2003, Pierce 2003, Preston 2003,
Doll 1977, Doddy 2000, Pierce 2000, Gilbert 2001, Hendee 1992).
27
Fig. 6 – Representação das doses médias de radiação absorvidas por sobreviventes nas
explosões atômicas em Hiroshima e Nagasaki, com as respectivas variações de
significância estatística em termos de aumento de aparecimento de câncer (Brenner 2003).
28
Teorias de efeitos das radiações ionizantes em relação às doses recebidas :
Na análise dos riscos pelo uso das radiações ionizantes, baseadas em análises
epidemiológicas, existem duas avaliações bem estabelecidas. Uma quando se consideram
doses de radiação médias ou altas; nessas existe um consenso quanto ao poder lesivo. Outra
quando as doses baixam para um limite entre 100 – 200 mSv ou menores; nessas as
interpretações podem ser polêmicas, embora os estudos de pessoas sobreviventes às
bombas nucleares da segunda guerra apontaram para um efeito biológico adverso já para
doses no intervalo de 5 – 50 mSv.
Existem duas tendências predominantes para interpretação dos efeitos dessas radiações
denominadas de baixas doses. Um grupo que considera não existir perigo até que se atinja
uma dosagem limítrofe, a partir da qual os efeitos maléficos começariam a ocorrer. Essa
dosagem inicial, a partir da qual existe perigo aos indivíduos expostos a elas, tem valores
diferentes entre os diversos proponentes dessa corrente. Essa proposta é conhecida como
dose gatilho, ou dose linear (linear threshold) (Bond 1996, Becker 1997, Tubiana 2000,
Brenner 2003).
Com doses menores de radiação, os efeito dramáticos das altas doses não ocorrem. Os
efeitos como câncer ou alterações hereditárias podem levar décadas ou gerações para serem
detectadas e isso propicia interpretações contraditórias. A mais conhecida dessas
contradições é a chamada teoria da “radiation hormesis” (Calabrese 2002, Luckey 1997) .
Por essa hipótese as doses abaixo da dose gatilho (threshold) teriam um efeito benéfico ao
organismo. Essas baixas doses propiciariam um desenvolvimento (ou estímulo) dos
mecanismos de defesa enzimáticos responsáveis pelas reparações ocorridas quando da
incidência das radiações ionizantes ou diminuiriam a quantia de regiões potencialmente
perigosas no DNA. Estas seriam previamente destruídas e corretamente reparadas por essas
dosagens baixas. Deve ser ressaltado que um estudo prospectivo com pacientes que
receberam baixas doses exige estatisticamente um número muito grande de casos para
precisão estatística. A amostragem, do ponto de vista estatístico precisaria aumentar de
acordo com o inverso do quadrado da dose (Pochin 1976, Land 1980). Por exemplo, se
para uma dose de 1000 mSv são necessários 500 casos, para uma dose de 100 mSv seriam
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necessários 50000, para 10 mSv precisariam 5.000.000. Isso exemplifica uma das
dificuldades em se estudar os efeitos de baixas doses de radiações.
A teoria de dose gatilho (threshold) pode ser exemplificada em alguns casos, como em
sarcomas (tumores malignos originando-se em tecidos conectivos) que aparecem como
complicações após tratamentos radioterápicos. O tecido conectivo é normalmente mais
dormente e são necessárias altas doses de radiação para essas células serem estimuladas e
entrarem em reprodução. Esse é um exemplo de efeito de alta dosagem e não se enquadra
nas complicações ou efeitos nocivos de baixas doses. Existem riscos diferentes para
sarcomas e carcinomas por influência de radiações ionizantes. Entre os sobreviventes das
explosões nucleares de Hiroshima e Nagasaki houve um significante aumento de
carcinomas, não de sarcomas.
Outros grupos apóiam a idéia que os efeitos lesivos das radiações ionizantes aumentam
linearmente em qualquer dose acima de zero. Esse conceito é conhecido como linear sem
gatilho (linear no-threshold – LNT) (Gofman 1971, Stewart 1990, UNSCEAR 2000,
NCRP 2001).
S = sobrevivência celular
D = dose de radiação
30
America) e o ICRP (International Commission on Radiological Protection), após extensas
revisões e estudos epidemiológicas da literatura, adotaram o conceito de LNT (linear no-
threshold) como o modelo mais apropriado para considerar os efeitos das radiações,
mesmo as chamadas radiações de pequenas dose.
Essas tres entidades tiveram relatórios respaldando essa teoria: UNSCEAR 2000, NCRP
2001, ICRP 1991. O ICRP, inclusive, faz um adendo onde considera que os riscos
estimados usando esse conceito são provavelmente conservadores (UNSCEAR 2000,
NCRP 2001, ICRP 1991, ICRP 2003 ).
Esse consenso foi extremamente importante, pois até então havia vários estudos e várias
tendências, muitas até antagônicas. A partir daí, o desenvolvimento de protocolos e
cuidados voltados à proteção dos efeitos das radiações ionizantes tornou-se mais
abrangente. Dois conceitos nasceram a partir desse consenso do modo de atuação das
radiações de baixas doses: o conceito ALARA (As Low As Readily Achievable) e o
conceito de Dose Coletiva (Musolino 2008, Clarke 1999, ICRP 2003). O primeiro conceito
(ALARA) estabelece uma preocupação de proteção no próprio nome, cuja correta
interpretação seria “usar as doses mais baixas possíveis para cada exame “. O ICRP passou
a quantificar o risco das radiações adotando o conceito de excesso de risco absoluto (excess
absolute risk- EAR) para câncer fatal, no valor de 5% para cada sievert (Sv) de dose de
radiação.
O National Cancer Institute (NCI), órgão do National Institutes of Health dos EUA, declara
que atualmente são realizados de 5 a 9 milhões de exames de tomografia computadorizada
em crianças nos EUA. Atesta que o uso de TC nos EUA cresceu 8 vezes desde 1980, com
31
uma taxa de crescimento anual estimada em 10%. Essa entidade faz uma consideração
específica quanto aos riscos de radiações em crianças, por vários motivos:
Essa entidade chama a atenção em sua página, para trabalhos mostrando um aumento de
probabilidade de três vezes para desenvolver tumores de SNC (sistema nervoso central) em
casos onde houve doses cumulativas de radiação de 50-60 mGy na região da cabeça. Essa
mesma dose cumulativa (50-60 mGy) em topografia de medula óssea , aumenta em três
vezes a probabilidade de leucemia. O número de exames de TC necessários para esse
acúmulo de radiação depende do tipo de aparelho de CT, das dimensões do paciente e dos
protocolos usados (Pearce 2012, Brenner 2001, Brenner 2007, Brody 2007).
Atualmente o FDA (U.S. Food and Drug Administration), que é o órgão do ministério da
saúde dos EUA que cuida e administra os assuntos relacionados a alimentos,
medicamentos, produtos e instrumentos médicos, incluindo aparelhos emissores da
radiações ionizantes, também tem normas estabelecendo cuidados em relação às radiações
ionizantes.Esse órgão estabelece, em termos de riscos à saúde provenientes de radiações
ionizantes usadas em exames de imagens, o seguinte critério: “um exame de CT com dose
efetiva de 10 milisieverts ( 10 mSv) pode ser associado com um aumento na possibilidade
de desenvolver um câncer fatal em aproximadamente 1/2000”. Nessa mesma consideração,
o FDA lembra que a possibilidade natural de um câncer fatal na população americana está
na faixa de 1/5, ou seja, cerca de 20% da população irá naturalmente desenvolver uma
forma mortal de câncer. Esse dado mostra a dificuldade em estudar os efeitos das radiações
ionizantes, visto que elas causam um acréscimo muito pequeno nessa probabilidade natural
de se desenvolver um câncer. Mas como se trata de um problema epidemiológico, com
32
grande número de pessoas sendo submetidas a esses exames com radiações ionizantes,
toma dimensões que merecem ser consideradas. Também é considerado pelo FDA que a
dose de radiação ionizante usada na maior parte dos exames de tomografia
computadorizada é equivalente às menores doses recebidas pelos sobreviventes das bombas
atômicas e que esses sobreviventes tiveram um aumento de casos de câncer em virtude
dessa dose de radiação.
33
OBJETIVOS
Objetivo principal:
Objetivos específicos:
34
MATERIAL E MÉTODO:
Como as dosagens de absorção das radiações dependem do volume corpóreo que está sendo
irradiado, foram realizadas correções de acordo com essa variação. Para essas correções foi
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utilizado uma medida corpórea denominada diâmetro efetivo. Essa medida (diâmetro
efetivo) é obtido pela raiz quadrada do produto da maior medida corpórea lateral pela maior
medida ântero-posterior. Esses valores foram obtidos a partir das imagens axiais
tomográficas e foram considerados as maiores medidas. Esses valores de diâmetro efetivo
sofrem uma conversão que variam conforme o modelo utilizado pelo tomógrafo (16 ou 32
cm) para cálculo das radiações produzidas. O resultado do produto do CTDIvol por esse
fator de correção é chamado de CTDIvol corrigido. O índice DLP corrigido foi obtido
multiplicando o CTDIvol pelo comprimento examinado.
Para obtenção das doses absorvidas pelo corpo utilizou-se outro fator de conversão,
denominado fator “k”. Esse índice tem variações dependendo da região corpórea
examinada. O produto final do DLP corrigido pelo fator “k” é a dose de radiação ionizante
absorvida por aquele segmento do corpo durante o exame. Após essas conversões, as doses
de radiação ionizantes absorvidas mudam de unidade e são medidas em mSv (Sievert é uma
unidade de radiação absorvida pelo corpo).
1- Aparelho de 64 detectores :
- CRÂNIO :
- Técnica = 300 mA ; tempo de rotação do tubo = 0,75 segundos; espessura do corte
= 0,5 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
- PESCOÇO :
- Técnica = 50 – 500 mA; tempo de rotação do tubo = 0,5 segundos; espessura do
corte = 0,5 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
- TÓRAX :
- Técnica = 50 – 500 mA; tempo de rotação do tubo = 0,6 segundos; espessura do
corte = 0,5 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
- ABDOME:
- Técnica = 50 – 500 mA; tempo de rotação do tubo = 0,6 segundos; espessura do
corte = 0,5 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
36
2 – Aparelho de 64 detectores , com protocolo modificado :
- TÓRAX :
- Técnica = 50 – 500 mA; tempo de rotação do tubo = 0,6 segundos; espessura do
corte = 1,0 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
- ABDOME:
- Técnica = 50 – 500 mA; tempo de rotação do tubo = 0,6 segundos; espessura do
corte = 1,0 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
3 – Aparelho de 16 detectores :
- CRÂNIO :
- Técnica = 380 mA ; tempo de rotação do tubo = 0,6 segundos; espessura do corte =
0,625 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
- PESCOÇO :
- Técnica = 380/440 mA; tempo de rotação do tubo = 0,8 segundos; espessura do
corte = 0,625 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
- TÓRAX :
- Técnica = 200/400 mA; tempo de rotação do tubo = 0,75 segundos; espessura do
corte = 1,25 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
- ABDOME:
- Técnica = 120/400 mA; tempo de rotação do tubo = 0,6 segundos; espessura do
corte = 1,25 mm; espaçamento entre os cortes (pitch) = 1
ANÁLISE ESTATÍSTICA:
Para comparação das variáveis entre os diferentes tipos de exames foi utilizado o teste
de Kruskal-Wallis com pós-teste de Dunn. Resultados com p<0.05 foram considerados
significantes.
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RESULTADOS
38
Fig. 7 – O gráfico (box-plot) mostra as médias de radiação absorvidas pelos pacientes nos
diferentes tipos de exames realizados no aparelho de 16 detectores (Kruskal Wallis seguido
de Dunn)
Nos exames de crânio a idade dos pacientes variou de 1 a 95 anos (média 44,83 anos),
sendo 59 homens e 38 mulheres. Destes pacientes, 17 estavam na faixa de 1 a 18 anos. A
dose de radiação absorvida por esses pacientes variou de 1,57 a 7,42 mSv, com a média de
4,21 mSv.
Nos exames de pescoço a idade dos pacientes variou de 21 anos a 72 anos (média 51,11
anos) sendo 14 homens e 12 mulheres. A dose de radiação absorvida por esses pacientes
variou de 3,55 a 15,77 mSv, com a média de 5,73 mSv.
Nos exames de abdome a idade dos pacientes variou de 1 ano a 92 anos (média de 49,96
anos), sendo 54 homens e 38 mulheres. Destes pacientes, 8 estavam na faixa de 1 a 18 anos.
39
A dose de radiação absorvida por esses pacientes variou de 8,3 a 61,01 mSv, com a média
de 31,66 mSv.
Nos exames de tórax a idade dos pacientes variou de 9 anos a 79 anos (média 48,74 anos),
sendo 22 homens e 24 mulheres. Destes pacientes, 4 estavam na faixa de 1 a 18 anos. A
dose de radiação absorvida por esses pacientes variou de 4,86 a 21,61 mSv, com a média de
12,28 mSv.
Nos exames de tórax + abdome a idade dos pacientes variou de 26 anos a 87 anos (média
57,1 anos), sendo 31 homens e 34 mulheres. A dose de radiação absorvida por esses
pacientes variou de 33,29 a 69,11 mSv, com a média de 47,33 mSv.
Foram examinados os dados de 449 exames de crânio, 36 de pescoço, 119 de tórax, 270 de
abdome, 130 de tórax+ abdome. A figura 8 ilustra a distribuição dos valores de dose
absorvida em mSv nos diferentes tipos de exames. A comparação entre os diversos tipos de
exames mostrou que a dose absorvida pelos pacientes nos exames de abdome e tórax
+abdome foi significativamente mais elevada em relação àquela dos exames de pescoço,
crânio e tórax (P<0,001). Não foi encontrada diferença significativa entre dose absorvida
versus gênero dos pacientes (p= 0,8 ) e idade versus gênero dos pacientes (p= 0,5755).
Entretanto, a análise entre idade dos pacientes em relação ao tipo de exame evidenciou
diferença significativa (p= 0,003). O grupo de exames tórax+abdome apresentou a média
de idade mais alta, enquanto que o grupo de exame de pescoço mostrava a média mais
baixa.
40
Fig. 8 – O gráfico (box-plot) mostra as médias de radiação absorvidas pelos pacientes nos
diferentes tipos de exames realizados no aparelho de 64 detectores
Nos exames de crânio a idade dos pacientes variou de 1 ano a 100 anos (média 51,2 anos),
sendo 256 homens e 193 mulheres. Destes pacientes, 49 estavam na faixa de 1 a 18 anos. A
dose de radiação absorvida por esses pacientes variou de 1 a 12,59 mSv, com a média de
3,29 mSv.
Nos exames de pescoço a idade dos pacientes variou de 3 anos a 86 anos (média 48,3
anos), sendo 26 homens e 10 mulheres. Destes pacientes, 8 estavam na faixa de 1 a 18 anos.
A dose de radiação absorvida por esses pacientes variou de 1,98 a 9,91 mSv, com a média
de 4,26 mSv.
Nos exames de abdome a idade dos pacientes variou de 6 anos a 87 anos (média 53,1
anos), sendo 137 homens e 133 mulheres. Destes pacientes, 9 estavam na faixa de 1 a 18
41
anos. A dose de radiação absorvida por esses pacientes variou de 20,85 a 203,35 mSv, com
a média de 91,08 mSv.
Nos exames de tórax a idade dos pacientes variou de 1 ano a 88 anos (média 51,1 anos),
sendo 54 homens e 65 mulheres. Destes pacientes, 12 estavam na faixa de 1 a 18 anos. A
dose de radiação absorvida por esses pacientes variou de 11 a 46,49 mSv, com a média de
23,76 mSv.
Nos exames de tórax + abdome a idade dos pacientes variou de 2 anos a 90 anos (média
58,8 anos), sendo 83 homens e 47 mulheres. Destes pacientes, 2 estavam na faixa de 1 a 18
anos. A dose de radiação absorvida por esses pacientes variou de 22,17 a 239,38 mSv , com
a média de 106,99 mSv.
Nos exames de abdome a idade dos pacientes variou de 17 anos a 73 anos (média de 46,21
anos), sendo 6 homens e 8 mulheres. A dose de radiação absorvida por esses pacientes
variou de 20,23 a 110,1 mSv, com a média de 57,84 mSv.
Nos exames de tórax + abdome a idade dos pacientes variou de 42 a 78 anos (média de
60,12 anos), sendo10 homens e 6 mulheres. A dose de radiação absorvida por esses
pacientes variou de 47,48 a 95,03 mSv, com a média de 66,89 mSv
42
B) Comparação das doses de radiação absorvida entre os exames realizados nos
aparelhos de 64 e 16 detectores :
A diferença de dose absorvida pelos pacientes nos exames realizados pelos aparelhos de 16
e 64 detectores foi significante e está ilustrada na figura 9.
-
- Fig.9 – O gráfico demonstra diferença estatisticamente significante (p<0,05) entre
os exames de crânio realizados nos aparelhos de 16 e 64 detectores (Teste
estatístico Mann-Whitney).
A diferença de dose absorvida pelos pacientes nos exames realizados pelos aparelhos de 16
e 64 detectores foi significante e está ilustrada na figura 10.
43
-
- Fig.10 – O gráfico demonstra diferença estatisticamente significante (p<0,05) entre
os exames de pescoço realizados pelos aparelhos com 16 e 64 detectores (Teste
estatístico Mann-Whitney)
A diferença de dose absorvida pelos pacientes nos exames realizados nos aparelhos de 16 e
64 detectores, incluindo o protocolo modificado foi significante e está ilustrada na figura
11.
44
-
Fig. 11 – O gráfico mostra diferença significativa entre as doses absorvidas pelos pacientes
em exames tomográficos de abdome, comparando-se protocolos usando a menor espessura
de corte com protocolos onde a espessura do corte é intencionalmente espessada. Na
comparação entre o aparelho de 64 detectores (usando a menor espessura de corte possível)
e o aparelho de 16 detectores (com corte espessado) , diferença representada pelo símbolo
“*” : p = 0,001. Na comparação entre o aparelho de 64 detectores (usando a menor
espessura de corte possível) e os exames realizados nesse mesmo aparelho, porém com
espessamento dos cortes tomográficos, representada pelo símbolo “# “: p=0,01 (testes
estatísticos Kruskal-Wallis seguido de Dunn).
45
A seguir ilustramos as imagens obtidas pelos aparelhos com 16 e 64 detectores e aquelas
realizadas com o protocolo modificado.
46
cortes tomográficos do aparelho de 64 detectores, em abdome superior e adquiridas em
fases precoce e tardia do exame. As definições das estruturas e atenuações das mesmas são
perfeitamente identificadas em ambos cortes. C e F mostram cortes tomográficos do
aparelho de 64 detectores, também na região do abdome superior, porém com alteração do
protocolo (espessamento das aquisições primárias). As imagens são também obtidas em
fases precoce e tardia do exame e não tem modificações quanto à definição e identificação
das atenuações das estruturas.
A diferença de dose absorvida pelos pacientes nos exames de tórax realizados pelos
aparelhos de 16 e 64 detectores está ilustrada na figura 13.
-
Fig. 13 – O gráfico mostra a existência de diferença estatisticamente significante entre as
doses de radiação absorvidas pelos pacientes utilizando-se o aparelho de 16 detectores
(com espessamento dos cortes : 1,25 mm) e o aparelho de 64 detectores (utilizando-se a
menor espessura possível : 0,5 mm). p < 0,05 (teste estatístico Mann-Whitney)
Nos exames de tórax + abdome a média de radiação absorvida pelos pacientes foi:
A diferença de dose absorvida pelos pacientes nos exames realizados nos aparelhos de 16 e
64 detectores, incluindo o protocolo modificado foi significante e está ilustrada na figura
14.
48
A) 16 detectores B) 64 detectores (máximo) C) 64 (baixa dose)
49
DISCUSSÃO:
Os dados de radiações usadas em cada exame são fornecidos pelos aparelhos de tomografia
computadorizada em duas variáveis, denominadas: CTDIvol e DLP. Inicialmente
comentaremos como são obtidas as doses de radiações nos exames de imagens, quais as
técnicas utilizadas e as limitações desses valores. Os feixes de raios-X atingem uma estreita
faixa em cada corte tomográfico, num plano axial do corpo e com uma rotação de 360° ao
redor de um ponto central. Esse fato dificulta muito a adequada avaliação das quantias de
radiação produzidas e absorvidas.
Em 1981 foi introduzido o conceito de CTDI (“CT dose index “) por Shope como uma
nova medida para quantificar a radiação emitida durante um exame de tomografia
computadorizada. Esse parâmetro baseia-se na idéia de se usar modelos físicos (phantoms)
para a captação das dosagens de radiação emitidas pelo aparelho e o uso de fórmulas
matemáticas que permitissem seu uso em diferentes máquinas, de diferentes fabricantes.
Foram desenvolvidos dois modelos padrões (phantoms) de polimetilmetacrilato (PMMA),
com tamanhos definidos em 14-15 cm de comprimento e diâmetros fixos de 16 ou de 32
cm. Nesses dois modelos foram feitos orifícios na posição central e também periféricos.
Nesses orifícios foram introduzidos sensores próprios para captação e medida de radiações
ionizantes. Esses sensores têm a forma de um lápis e dimensões padronizadas, com
comprimento fixo de 100 mm. A localização dos sensores nas posições periférica e central
visa medir a quantia de radiação que é absorvida nas zonas periféricas no corpo e também
na porção mais central (Shope 1981).
50
Fig.16 – Representação do modelo em polimetilmetacrilato (PMMA) utilizado para
metodologia da obtenção do CTDI100. Uma câmara de medida de ionização de 100 mm de
comprimento é introduzida na periferia e no centro desse modelo . Há dois modelos
padronizados, com 16 cm e 32 cm de diâmetro e 15 cm de comprimento. O CTDI100 é
utilizado para obtenção do CTDIvol. (AAPM 2011)
A idéia dessa metodologia de estudo foi medir todas dosagens das radiações usando
diferentes técnicas para os mais diferentes tipos de exames, em ambos modelos desenhados.
Padronizou-se que o modelo de 16 cm de diâmetro seria usado para exames de cabeça e o
modelo de 32 cm de diâmetro seria calibrado para os exames do restante do corpo.
51
Fig. 17 – Esquema do perfil de dose unitária de radiação em um único corte tomográfico. A
porção central representa a radiação principal nesse corte e as denominadas “dose tail”
representam as radiações secundárias existentes em cada corte tomográfico (McCollough
2011)
Pode ser observado que existe uma porção central mais alta, que corresponde à
representação da radiação mais concentrada no feixe principal, dentro do limite
estabelecido para ser a espessura do corte tomográfico (“nominal beam width “), mas
também existem duas áreas localizadas lateralmente a esse feixe principal. Essas duas áreas
são doses de radiações secundárias, fora do feixe principal e recebem o nome de “dose tail
“.
A idéia do conceito de CTDI foi fazer um valor de dose padronizado, obtido numa extensão
definida. Foi estabelecido o tamanho padrão de 100 mm do sensor de radiações, o qual é
introduzido tanto central como perifericamente nos modelos padronizados de 16 e 32 cm. O
52
conceito é que fazendo-se uma media da somatória (uma integral matemática) desses vários
cortes necessários para varrer toda extensão do sensor, iria ser acrescentado também as
dosagens daquelas radiações secundárias. Estas não seriam consideradas se fosse obtido o
valor de somente um único corte. Com isso obter-se-ia um valor médio de dose em cada
corte mais próximo ao real.
Por esse esquema pode ser observado que a dose máxima obtida do CTDI coletivo é maior
do que somente a somatória das doses individuais. Isso ocorre porque aquelas porções
laterais (“dose tail “) são somadas às doses principais e tornam os valores de radiação
maiores.
53
O próximo esquema mostra uma comparação entre os dois métodos:
Fig.19 – Perfil esquemático mostrando a comparação entre uma dose tomográfica única e
dose múltipla em aparelhos multidetectores. A radiação final é muito maior que a somatória
das radiações principais devido ao acréscimo das radiações secundárias existentes em cada
corte tomográfico (Bauhs 2008).
Também pode ser inferido que quanto mais finos forem os cortes tomográficos, maior será
o valor final do CTDI obtido, pois haveria uma somatória maior de doses colaterais a serem
adicionadas.
Portanto, o valor CTDI fornecido pelo aparelho de tomografia representa a média da dose
produzida pelo aparelho ao longo do eixo “z “ (o eixo de deslocamento do paciente no
aparelho) por cada programação feita de exame. Resumindo, quando é feito o protocolo do
exame, que pode ter várias passagens, o aparelho faz a somatória de todas as doses
necessárias e dá o resultado final total.
+ ∞
CTDI = 1/NT ∫- ∞ D(z) . dz
54
D(z) = dose de radiação ao longo do eixo “z”
Após a definição desse conceito básico de CTDI, foram estabelecidos alguns outros
parâmetros importantes: CTDIFDA , CTDI100 , CTDIw , CTDIVOL , DLP
7T
CTDIFDA = 1/NT ∫ -7T D(z) . dz
Por convenção o FDA (Food and Drug Administration) assume um valor de CTDI como
uma média numa distância de +/- 7T, onde T significa a largura de cada corte (“slice”)
tomográfico.
Em resumo, o FDA assume uma distância de medida que abrange 14 cortes tomográficos.
Se a espessura do corte for de 1,0 cm , então os valores vão corresponder exatamente ao
tamanho padrão dos modelos (14 cm de comprimento e 16 ou 32 cm de diâmetro).
Se as espessuras de corte forem diferentes de 1,0 cm, então haveria diferenças nas zonas de
aquisição.
+ 50
CTDI100 = 1/NT ∫- 50 D(z) . dz
55
Esse índice (CTDI100) representa a dose média acumulada dos múltiplos cortes
tomográficos necessários para varrer a distância padrão de 100 mm. Essa distância é o
tamanho do sensor padrão colocado no interior dos modelos (phantoms) de PMMA.
Esse índice subestima as doses acumuladas para varreduras maiores que esses 100 mm do
sensor padrão.
O CTDI100 pode ser medido de dois modos : um quando o sensor de 100 mm está no centro
do modelo, resultando no CTDI100 –central e outro quando o sensor é colocado na
periferia, resultando no CTDI100-periférico.
Essa fórmula acima representa esse CTDI ponderado (w), onde é feita essa composição
descrita, 1/3 de dosagem central e 2/3 de dosagem periférica nos modelos (phantoms) de 16
e 32 cm.
56
4- CTDIVOL = (IEC 2002)
Para quantificar a dose em exames com protocolos longos, com várias passagens e de
extensões diferentes no mesmo paciente, é essencial se levar em consideração a
existência de espaçamentos entre os cortes ou áreas examinadas (“pitch”) ou também o
contrário, se existem sobreposições de imagens (“overlaps”).
CTDIvol = N x T/ I x CTDIw
Para simplificar, nos casos de aparelhos multidectores , onde normalmente não existem
espaçamentos entre os feixes de raios-X, o CTDIvol tem o mesmo valor que o CTDIw , ou
seja sua medida =
57
Fig.20 – Foto mostrando um modelo de PMMA com a parte central de 16 cm e a periférica
de 32 cm para obtenção dos valores de CTDI100. Evidenciam-se o orifício central e os
periféricos em ambos tamanhos de modelos. A seta branca aponta para o detector de 100
mm que é introduzido nesses orifícios para as tomadas de medidas (McCollough 2011)
Essa foto mostra um modelo padrão (phantom) sobre a mesa de um aparelho de tomografia
computadorizada para a medida do CTDI 100 do mesmo.
É importante ressaltar que a quantia medida pelo CTDI é a ionização provocada no ar por
aquela quantia de radiação programada para o exame, definida como “air kerma “,
representado como unidade de radiação em mGy. Esse termo “air kerma “ é a
58
representação do número de moléculas de ar ionizadas nas faixas de exposição da
tomografia (nos “cortes”do exame), ou seja, é a medida da unidade física denominada
“roentgen “(que mede o número de ionizações em 1 cm3 de ar por uma determinada quantia
de radiação ionizante) na faixa de cada corte tomográfico (“slice”). Para a transformação
em “air kerma” é feita a seguinte conversão: Exposição (R) x Fator de correção (varia de
8.73 a 9.37, dependendo da metodologia usada) = Air Kerma (mGy).
Esse parâmetro foi desenvolvido para fazer uma avaliação da dose absorvida. É obtido pelo
produto do CTDIvol pelo comprimento total da varredura realizada no paciente. A fórmula
para esse parâmetro é a seguinte:
No entanto, nem o CTDIvol , nem esse outro índice (DLP), podem efetivamente medir a
dose de radiação absorvida pelos pacientes e assim serem usados para estimar os riscos de
cancer decorrentes dos exames.(Leng 2010, Rong 2010). São necessárias algumas
correções prévias, é preciso um ajuste das doses absorvidas às diferentes massas corpóreas
dos pacientes. Para converter os valores de DLP ajustados em valores de dose absorvida é
necessário a utilização de um fator de correção denominado fator “k” (Christner 2010,
Shrimpton 2005). Após a utilização desse fator de correção obtem-se a efetiva dose de
radiação absorvida pelo paciente durante o exame. Essa dose absorvida recebe o nome de
dose efetiva (E).
59
Tanto o CTDIvol como o DLP são índices sensíveis a alterações com eventuais mudanças
nos parâmetros dos exames tais como: voltagem do tubo produtor de raios-X, corrente
elétrica nesse tubo, tempo de rotação do gantry (gantry = arco onde o tubo de raios-X gira
em 360°), pitch (pitch = a relação entre a espessura dos cortes tomográficos e a distância
que a mesa de exames e consequentemente o paciente deitado sobre ela avançam após cada
aquisição de imagem ) e filtros usados. A dose de radiação ionizante produzida pelo
aparelho e portanto a que atinge o paciente, são esses valores relatados. Esses índices
indicam a quantia de energia produzida pelo aparelho, mas não estimam a dose absorvida
pelo paciente, que depende de vários fatores (McCollough 2011).
Quando as dimensões do corpo varridas pela tomografia computadorizada são maiores que
o do sensor padrão (100 mm) há uma subavaliação da dosagem emitida pelo aparelho
(Boone 2007, Mori 2005 ). A estimativa existente é que utilizando-se modelos
padronizados, a dose calculada de CTDI pode ser subestimada em até 40% (Boone 2007,
Dixon 2006, McCollough 2011)
O índice chamado de dose efetiva (E) está teoricamente relacionado com efeito nocivo à
saúde e, portanto, relacionado com os efeitos determinístico e estocástico. O índice é
derivado da soma das doses ponderadas de radiação ionizante nos diversos tecidos e órgãos
(ICRP Publication 60). As ponderações dos diversos tecidos e órgãos são derivadas de
extrapolações de evidencias epidemiológicas em eventos de exposição à radiações
ionizantes, principalmente com estudos em sobreviventes das bombas atômicas que
envolve os cálculos para obtenção dessa dose efetiva atinge a faixa de até +/- 40%. (Martin
2007).
Aqui deve ser ressaltado que os exames tomográficos de tórax, abdome e pelve tem uma
porcentagem de incerteza em torno de 25%, enquanto os exames de crânio, juntamente com
grande número de exames de medicina nuclear atingem em torno de 40%. (Jones 1985,
ICRP Publication 2007, Hart 1994, ImPACT 2005, UNSCEAR 2000 ). O índice (E) não
60
pode ser diretamente medido; ele deriva de cálculos computacionais. Foram desenvolvidas
constantes (fator “k”) para dosar e diferenciar a vulnerabilidade de diferentes estruturas
corpóreas. Esse fator vai ser usado para compor o resultado final de dose efetiva em cada
segmento do corpo exposto a radiação ionizante.
A figura 21 ilustra que a configuração corpórea tem dimensões mais variadas que somente
os dois modelos padrões utilizados.
61
É sabido que as doses absorvidas pelo corpo humano são dependentes do volume corpóreo
e da radiação emitida pelo aparelho (McCollough 2011). Como necessidade de correção
das doses absorvidas, dependendo dos diferentes tamanhos corpóreos, foram desenvolvidos
vários métodos, por diferentes grupos de estudo. A figura 22 ilustra as várias metodologias
utilizadas para essa finalidade .
Fig.22 – Os vários modelos usados por diferentes grupos de estudo para estabelecimento
das doses efetivas de absorção de radiação nos exames de tomografia computadorizada
(AAPM 2011)
62
Quatro grupos estudaram as variações corpóreas e os modos de se calcular as doses
recebida. Os resultados obtidos pelos diferentes grupos foram muito equivalentes. Esses
trabalhos levaram a elaboração de tabelas, através das quais é possível se fazer uma
avaliação das doses absorvidas pelos pacientes utilizando-se os valores de CTDIvol e
aplicando-se fatores de correção. Esses fatores de correção podem ser obtidos por dados
físicos dos pacientes: soma das medidas laterais e diâmetros ântero-posteriores, medidas
laterais somente, diâmetro AP isoladamente ou cálculo do diâmetro em cada corte axial.
63
quando utilizado o aparelho de 64 detectores. Entretanto, levando-se em conta que a média
de variabilidade aceita para essas absorções gira na ordem de 25-40 %, poderíamos
considerar qua ambos aparelhos produzem dosagens semelhantes para esses exames, dentro
da margem de variabilidade aceita.
Nessas regiões, crânio e pescoço, os protocolos de exames utilizam a maior definição dos
aparelhos. O aparelho de 16 detectores adquire imagens com 0,625 mm de espessura
enquanto o aparelho de 64 detectores adquire imagens de 0,5 mm de espessura. Nos dois
aparelhos o espaçamento entre os cortes é de 1:1, o que significa que a mesa move-se após
cada corte numa distância igual a espessura do mesmo. Essa relação de espessura de corte e
de movimentação da mesa permite a máxima definição possível por esses aparelhos. Isso é
utilizado visando o aproveitamento do aspecto de isotropia das imagens, que permite a
reconstrução das mesmas em vários planos, a partir da aquisição primária no plano axial.
Para o crânio e pescoço, exames com alta definição são necessários para observação
adequada dos detalhes estruturais e suas alterações. O pescoço, por exemplo, uma região
com predominância de tecidos com atenuações de radiação similares, a alta definição das
imagens permite observar pequenas alterações estruturais. Entretanto, o protocolo poderia
ser modificado com a finalidade de diminuir as doses de radiação absorvidas pelos
pacientes nos exames subsequentes, que são realizados com a finalidade de seguimento da
doença (exames controles).
64
absorvida pelo paciente nos exames realizados pelo aparelho de 16 detectores foi
significantemente menor em relação a do aparelho de 64 detectores. Além disso, quanto a
definição da imagem, não se observou alteração significante de resolução entre os dois
aparelhos tomográficos.
65
- Exames gerados por motivações comerciais, auto-referencias e recomendações de
novas imagens por radiologistas (Levin 2004)
- Disponibilidade de aparelhagem
- Desconhecimento de exames previamente realizados; essa causa é estimada como
responsável por 1 em cada 5 exames (Levin 2004, Sodickson 2009).
Para exemplificar o aumento alarmante de exames de tomografia computadorizada ao
longo dos anos, nos EUA em 1980 foram realizados aproximadamente 3 milhões e em
2007 aproximadamente 70 milhões (ICRP 2007, Smith-Bindman 2009, Shrimpton 2006,
AAPM 2008). Baseado nesses dados existem estimativas de 29.000 novos casos de câncer
para o ano 2007, os quais seriam derivados exclusivamente das doses de radiação
absorvidas em exames de topografia computadorizada (de González 2009)
Este é um dos principais fatores que devem ser controlados e fiscalizados para não se expor
os pacientes a doses desnecessárias de radiação durante os exames de tomografia
computadorizada.
66
Considerando esses fatos nos propusemos a reavaliar os protocolos dos exames
tomográficos do aparelho de 64 detectores para abdome e tórax + abdome visando reduzir
as doses de radiação. Estes exames (abdome e tórax + abdome) foram aqueles que
apresentaram as médias significantemente mais elevadas de radiação absorvida pelos
pacientes.
As aquisições de imagens podem ser feitas de uma maneira contínua, ou seja, sem
intervalos ou espaços não irradiados. Todo segmento corpóreo a ser estudado é irradiado.
Ou podem ser realizadas aquisições que façam intervalos ou espaçamentos após cada
aquisição. Para exemplificar, considerando o aparelho de 64 detectores, com 0,5 mm em
cada detector. Se for realizado uma aquisição contínua isso significa que após cada
varredura de 32,0 mm (64 faixas de avaliação de 0,5 mm em cada volta do tubo de raios-X
) a mesa onde o paciente está deitado movimenta-se linearmente por essa distância (32,0
mm) e nova parte do corpo é examinada e assim sucessivamente. Outros modos de
realização de exames são possíveis, por exemplo, após cada rotação do tubo, com obtenção
de 32,0 mm de espessura examinada, a mesa move-se numa distância maior que isso
(movimento de deslocamento da mesa maior que 32,0 mm) e só então é realizado nova
emissão de raios-X e nova aquisição de imagens. Essa variação de aquisição possibilita que
se façam aquisições com intervalos do corpo menos irradiados.
Quando se utilizam essas técnicas com espaçamento maior entre as aquisições, os aparelhos
fazem o preenchimento das áreas pouco irradiadas por meio de algoritmos matemáticos.
Òbviamente, esse último procedimento irá causar uma diminuição da quantia de dados que
cada receptor irá receber, com isso haverá uma diminuição da acuidade da imagem como
um todo. Porém, fazendo uso do aparelho desse modo irradia-se menos o paciente. O
importante é o balanço final, até que ponto essa diminuição de dados irá prejudicar a
avaliação das imagens obtidas com eles.
67
do protocolo do aparelho de 64 detectores (utilizando cortes de 1,0 mm ) não alterou
significantemente a definição das imagens de abdome e tórax+abdome em relação ao seu
protocolo original e nem em relação ao aparelho de 16 detectores. Consequentemente, a
modificação do protocolo do aparelho de 64 detectores tem aplicabilidade na rotina de
imagem do abdome e tórax+abdome, com a importante vantagem de diminuir
significantemente a dose de radiação absorvida pelo paciente numa região contendo órgãos
muito vulneráveis a radiação.
68
puderem substituir sem perdas de possibilidade diagnóstica os exames de
tomografia computadorizada.
3- Registro das doses de radiação absorvidas por cada paciente. Essas dosagens, em
medidas compreensíveis por parte dos médicos, deveriam fazer parte dos
prontuários eletrônicos das instituições de saúde e as doses acumuladas dos diversos
exames mostradas em cada novo pedido. O conhecimento desses dados poderia
levar a uma maior ponderação em termos da real necessidade do exame a ser
solicitado e também influenciar nas repetições de controles (Berrington de Gonzalez
2004, Caoili 2009, Griffey 2009, Greess 2000)
69
CONCLUSÕES:
- Com algumas alterações nos protocolos dos exames (aumento da espessura dos
cortes) foi possível uma significante redução de dose de radiação ionizante
absorvida nos exames de tórax, abdome e exames múltiplos que envolvem essas
áreas.
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