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UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS

DEPARTAMENTO DE PEDAGOGIA

INSERIR OS NOMES

RAÇA/ETNIA E O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL NO BRASIL: A LUTA


POR DIREITOS

Lavras

2018

INSERIR NOMES das integrantes do grupo


RAÇA/ETNIA E O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL NO BRASIL: A LUTA
POR DIREITOS

Trabalho apresentado como exigência para obtenção de


pontos na disciplina (INSERIR) sob orientação da
Profa. Drº INSERIR NOME..

Lavras 2018
Temos de levar adiante as conquistas necessárias para assegurar os
direitos básicos: direito à vida, à dignidade e ao direito de sermos o
que somos. Temos que reconhecer e ensinar que “os índios e os
negros não desapareceram, apesar de todo massacre existente”. Não
desapareceram por causa da cultura e da espiritualidade. Temos de
educar as futuras gerações, para que a gente passe, realmente, a
construir uma sociedade com mais condições de a gente poder ter
essas diferenças e que elas não possam significar separação, ódio
(Terena, Silva & Pereira. 2013 p. 54-55). 1

INTRODUÇÃO

Ao longo da história da humanidade, o homem sempre apresentou diferentes


comportamentos de acordo com sua origem étnica. Estes comportamentos
diferenciavam os grupos e causavam certo estranhamento entre eles. Isso se tornou um
problema quando certos grupos começaram a acreditar que eram superiores e melhores
que os outros e a partir disso passaram a discriminar, menosprezar e até mesmo
escravizar aqueles que fossem de origem étnico-racial diferente da sua. Este tratamento
desigual é o que deu origem ao chamado racismo. Racismo é qualquer pensamento ou
atitude que separam as raças humanas por considerarem algumas superiores a outras. É
um preconceito construído por crenças sociais que se atrelou à cultura e à história da
humanidade, no qual os grupos mais bem estabelecidos política e economicamente se
impunham frente às minorias, o que ainda acontece também nos dias de hoje (Ayres,
2014).
No Brasil, quando se fala em racismo, o primeiro pensamento que vem a cabeça
das pessoas é o racismo contra os negros. Isso ocorre pelo fato dos negros terem tido
uma história mais sofrida com o preconceito, devido à escravidão na época do Brasil
Colônia. A escravidão no Brasil durou de 1500 a 1888 e foi abolida pela Lei Àurea
sancionada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888. A Lei Àurea sem dúvidas foi

1
TERENA, Marcos. In: SILVA, Joselina & PEREIRA. Amauri M. Olhares sobre a mobilização
brasileira para a III Conferência contra o Racismo, a Discriminação Racial, a Xenofobia e Intolerâncias
Correlatas. Brasília, Fundação Cultural Palmares; Belo horizonte, Nandyala, 2013. P. 54-55.
uma grande conquista para os negros, pois finalmente estavam livres para viver suas
vidas como quisessem. No entanto, o grande problema da lei é que não estabelecia meio
para se integrar os negros a sociedade e por isso muitos continuavam com seus
proprietários para terem como se sustentar.

Mesmo com o fim da escravidão, os negros continuaram sendo vistos como uma
raça inferior pelos brancos e tiveram muita dificuldade para se integrar à sociedade.
Com o passar do tempo, por meio de muitas lutas, foram surgindo leis e estatutos para
assegurar os direitos dos negros e garantir sua igualdade perante as demais raças. Em
1951, o deputado federal Afonso Arinos de Melo Franco, criou a primeira lei para
cuidar especificamente do preconceito e da discriminação racial, a Lei 1.390, de 3 de
julho de 1951. Em seguida foi aprovada a Lei nº 7.716/89, que até hoje está em vigor;
essa lei foi modificada pela Lei nº 9.459 de 13 de maio de 1997, e expandiu
significativamente seu alcance tipificado, já que nela está apontada, expressamente, a
discriminação, acrescentando-se os crimes resultantes de preconceito ou discriminação
de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Um dos maiores triunfos com o
aprimoramento da lei contra o racismo foi sua pena. Crime de racismo é inafiançável,
mas especifica a diferença entre atitudes que podem ser consideradas como racismo.
Para entender melhor, qualquer exclusão, distinção, restrição ou preferência
baseada na raça, cor e nacionalidade que tenha intenção de resultar ou anular o
reconhecimento de exercícios é considerado como discriminação racial. Todas as
pessoas, não importa a raça, tem direitos econômicos, sociais e culturais iguais. Mas
infelizmente, ainda existem pessoas que não tem tal compreensão e agem para
discriminar outros baseando-se somente na raça (Szklarowsky, 1997).

O MITO DA DEMOCRACIA RACIAL NO BRASIL

Há a mítica ideia de que vivemos em uma democracia racial no Brasil, ideia esta
que é defendida por muitos e que, para as pessoas que creem neste fato, significa dizer
que o critério racial jamais foi relevante para definir as chances de qualquer pessoa
neste país. (Bernardino, 2002).

Para haver uma contextualização dos antecedentes históricos ao surgimento


desse mito, retomamos a abolição da escravidão, em 1888, a qual corroborou para a
marginalização dos ex-escravos em relação ao sistema econômico vigente. O governo
brasileiro, após esse feito, estimulou a imigração europeia numa tentativa explícita de
“branquear” a população brasileira, além de substituir a mão de obra escrava. (Heringer,
2002). Na década de 30, com a crescente industrialização e modernização do país, havia
uma ansiedade por parte dos intelectuais da época de definirem uma identidade
nacional. De acordo com Guimarães (2002), esse grupo [de intelectuais] reforçava a
ideia de que “o Brasil era uma sociedade sem ‘linhas de cor’, ou seja, uma sociedade
sem barreiras legais que impedissem a ascensão social de pessoas de cor a cargos
oficiais ou a posições de riqueza e prestígio” (p. 139). Então, de acordo com o que foi
escrito anteriormente, a população brasileira deveria orgulhar-se da maioria negra e
mestiça e admirar-se por isso, pois representaria a tolerância e integração racial do
brasileiro. (Heringer, 2002).

Na década de 50, no entanto, a Organização das Nações Unidas para Educação,


Ciência e Cultura – UNESCO financiou um extenso projeto de pesquisa sobre o Brasil,
a fim de melhor entender como ocorriam as questões raciais no país. (Heringer, 2002).
Assim, para alguns autores, o Projeto Unesco frustrou-se, pois identificou que o
preconceito racial permanecia persistente no país, mesmo este sendo frequentemente
reconhecido como ‘paraíso racial’. (Skidmore, 1976; Winant, 1994; apud Heringer,
2002). Nas décadas de 60 e 70, período que ocorreu a ditadura militar no país, vários
movimentos e atividades sociais sofreram repressões por parte do governo da época
(Heringer, 2002), mas que não impediu de florescer movimentos de resistência, sendo
um desses o movimento negro. Já na década de 80, com a retomada do governo
democrático, a ‘questão racial’ voltou a ser pauta de discussão por parte de intelectuais,
ativistas e agências de cooperação internacional, os quais colaboraram para inserir a
questão racial na agenda pública nacional (Bordieu e Wacquant, 2002).

Portanto, como afirma Bernardino (2002), o mito da democracia racial não


surgiu com a publicação do livro Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, em 1933;
origina-se quando é estabelecido uma ordem, pelo menos do ponto de vista do direito,
livre e minimamente igualitária. Ainda, de acordo com o autor, tanto a proclamação da
República quanto a abolição da escravidão “foram condições indispensáveis para o
estabelecimento do referido mito, sem esses dois não se poderia falar em igualdade
racial entre brancos e negros no Brasil” (p. 251). Então, percebe-se que esse mito tem
como pilar as generalizações de casos de ascensão social do mestiço, pois ao mesmo
tempo em que é negada a sua ancestralidade africana, socialmente carregada de
significados negativos, coloca-o como ‘negro de alma branca’, a fim de embranquece-o
para ser aceito socialmente, pois a presença do mulato “não apenas espalha as pessoas
de cor na sociedade, mas ela literalmente borra e, portanto, suaviza a linha entre preto e
o branco”. (Fernandes, 1965).

O mito da democracia racial aliado ao ideal de branqueamento da população


brasileira trouxeram consequências que são percebidas na prática, a exemplo da ideia de
que não há raças no Brasil, uma vez que o processo de miscigenação diluiu as três raças
que fundaram a população brasileira. Com isso, imagina-se que este país inaugura a
possibilidade de um mundo sem raças. (Gilroy, 2001, p. 9). No entanto, essa afirmação
torna-se falaciosa pois, envolvendo a questão de negação de raças, é utilizada a ideia da
total miscigenação do brasileiro para retirar certos benefícios sociais de minorias.
(Bernardino, 2002). Além disso, acredita-se que existe no Brasil uma classificação
baseada somente na cor, ignorando a raça, e encarada apenas como uma descrição
objetiva da realidade, sem implicações político-econômico-sociais. (Bernardino, 2002).
Isto é, constroem-se hierarquias classificatórias de tonalidades de cor, cujos ditos
‘brancos’ são tidos como melhores ao passo que os ‘pretos’ são piores. (Guimarães,
1999).
Por fim, falar de políticas públicas para negros é considerado como um ato
racista, já que não é preciso garantir direitos a uma população negra se não há de fato
essa raça no país. (Guimarães, 1999). Então, como afirma Bernardino (2002), devido ao
fato de não ser identificado na estruturação das relações sociais nenhum problema de
“justiça racial”, o mito da democracia causou o engessamento do padrão de relações
raciais no país, não sendo posto em prática políticas que contornassem as desigualdades
raciais.

MARCO DA VISIBILIDADE EMANCIPATÓRIA DO MOVIMENTO NEGRO


BRASILEIRO

A Constituição Federal de 1988 reconheceu a criminalização do racismo, que


posteriormente definiu os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor com a Lei
7.716/1989. Depreende-se que na década de 1990 acelera-se um processo de mudanças
acerca das questões raciais, marcado fortemente pelo movimento negro brasileiro. Dois
momentos importantes para esse processo aconteceram, sendo um de cunho nacional e
outro internacional. Desse modo, através desses eventos, foram debatidas algumas
demandas, políticas públicas e direitos, tendo como título da primeira: Marcha de
Zumbi de Palmares contra o Racismo pela Cidadania e pela vida. Este evento ocorreu
no ano de 1995, com a participação de 30 mil pessoas, sendo enriquecedor para o
movimento negro. Além disso, foi gerado um documento que foi entregue para o
presidente Fernando Henrique Cardoso. Neste dia foi criado, por decreto presidencial, o
Grupo de Trabalho Internacional para a Valorização da População Negra (GTI) que
representa uma estratégia do movimento negro com Estado (Lima, 2010).

O segundo intitulado Internacional (Conferência de Durban, em 2001),


constituiu um momento para se concentrar nas etapas práticas para lutar contra o
racismo e decretou recomendações para combater os prejuízos e a intolerância. Os
intercâmbios entre os Estados membros, as Instituições especializadas e as organizações
não governamentais levaram a uma declaração e um programa de ações incluindo
medidas para a prevenção, a educação e reparações ou pretendendo melhorar as
cooperações e o reforçamento dos mecanismos de colaborações para lutar contra o
racismo, a discriminação racial, a xenofobia e a intolerância. Foram debatidos assuntos
pertinentes ao movimento negro na área de saúde, educação e trabalho foram temas
prioritários nas recomendações do governo brasileiro. Assim, o Brasil ratifica a
Declaração de Durban, que explicita:

Art. 108: Reconhecemos a necessidade de se adotarem medidas


especiais ou medidas positivas em favor das vítimas de racismo,
discriminação e racial, xenofobia e intolerância correlata com o intuito
de promover sua plena integração na sociedade. As medidas para uma
ação afetiva, inclusive as medidas sociais, devem visar corrigir as
condições que impedem o gozo dos direitos ou introdução de medidas
especiais para incentivar a participação o igualitário de todos os
grupos raciais, culturais, linguísticos e religiosos em todos os setores
da sociedade, colocando todos em igualdade de condições.

A partir daí, no início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, marca
uma mudança profunda das políticas com perspectiva racial. Por meio das lutas
históricas do Movimento Negro brasileiro, no mesmo ano, nasce a Secretaria de
Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República – SEPPIR,
estabelecida pela Medida Provisória n° 111, de 21de março de 2003.
Na mesma linha, o Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial
(SINAPIR), instituído pelo Estatuto da Igualdade Racial (Lei no 12.288/2010),
representa uma forma de organização e articulação estratégica, que pavimenta a
implementação de um conjunto de políticas e serviços para superar as desigualdades
raciais no Brasil, e, consequentemente, a violência brutal em nossos estados (Lima,
2010).
De acordo com os dados estatísticos sobre a violência contra a juventude no
Brasil, são escandalosos e pioram quando a estatística analisa as mortes de jovens
negros e pobres pelo país. Considerando os dados de 2004 a 2007, percebe-se que o
número de mortes da juventude negra supera o de mortos na guerra do Afeganistão.,
sendo que esse é o número da vergonha, da exclusão e revela o caminho que esses,
outrora jovens, foram compelidos a seguir2.
Portanto, desde 1998, o movimento negro brasileiro vem lutando por seus direitos,
sendo possível perceber um progresso. Dentre os avanços alcançados pelo SEPPIR, no
período de 2003-2015 destacam-se a realização de conferências nacionais de promoção
de igualdade racial em 2005, 2009 e 2013, a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial
em 2010 e a articulação do Sistema Nacional de Promoção da Igualdade Racial, que
levou às cotas em concursos e universidades públicas. Sem contar a criação de
programas de vital importância como o “Saúde da População Negra”, o “Brasil
Quilombola” e o Programa Cultura Afro-Brasileira3.

O CASO DA MENINA DE LITTLE ROCK NAS ANÁLISES DE HANNAH


ARENDT

Hannah Arendt (1906-1975) foi uma pensadora da política tanto em suas


abordagens teórico-filosóficas quanto em sua compreensão dos eventos empíricos.
Dessa perspectiva partem seus questionamentos sobre os eventos revolucionários
marcantes e suas reflexões relativas ao Direito e à lei, os quais, ao lado da categoria do

2
Disponível em http://www.geledes.org.br. Acessado dia 19 de Outubro de 2015

3
Ibidem.
poder, constituem os pilares conceituais que, desde a Antiguidade sustentam os vários
tipos de governos (Arent, 2011, p. 275).
Os acontecimentos históricos e políticos que permearam o século XVIII fundamentaram
os “Direitos do homem” pela defesa, por parte de alguns filósofos, da existência de
direitos inatos à condição humana. Entretanto, alguns elementos desses direitos não
levaram em consideração a liberdade aos “negros”. Nas suas “Reflexões sobre Little
Rock” (2004), voltando-se para a questão dos negros, a pensadora faz menção à
exclusão dos afrodescedentes da vivência da igualdade constitucional. Nessa análise,
Arendt expõe que o governo federal americano não deveria exigir, por imposição legal,
a integração das crianças negras em escolas tradicionalmente frequentadas por crianças
brancas nas instituições de ensino do Sul dos Estados Unidos da América:

Em vez de ser convocada a travar uma batalha bem definida pelos


meus direitos indiscutíveis – o meu direito de votar e ser protegida no
ato de votar, de casar com quem eu quiser e ser protegida no meu
casamento (embora, é claro, não nas tentativas de alguém se tornar
cunhado de outro), ou o meu direito de ter oportunidades iguais, eu
sentiria que havia me envolvido num caso de ascensão social, e se
escolhermos esse caminho de melhorar a minha situação, eu
certamente preferiria fazê-lo sozinha, sem a ajuda de agências
governamentais (p. 263).

A autora considera tal integração como invasão duplamente ilegítima. Por um


lado, há o domínio do político sobre o social, na medida em que as pessoas são forçadas
a se associarem com aqueles que prefeririam evitar. Por outro, ocorre invasão do
domínio privado na medida em que o governo interfere no direito dos pais de educarem
seus filhos como acharem melhor.
Para Arendt (2004), a conexão entre os movimentos de massa na Europa
totalitária e a homogeneização governamental de grupos sociais nos Estados Unidos se
torna evidente em seu ensaio sobre Little Rock. Nele, ela comenta:

A sociedade de massas – que obscurece as linhas da discriminação e


nivela distinções de grupo – é um perigo para a sociedade em si, mais
do que à integridade da pessoa, pois a identidade pessoal tem origem
além do meio social. O conformismo, entretanto, não é uma
característica somente da sociedade de massas, mas de toda sociedade
na medida em que apenas aqueles que se conformam aos traços
diferenciais genéricos que mantêm o grupo unido são admitidos em
um dado grupo social. O risco de conformismo neste país – um risco
quase tão velho quanto a república – é que, por causa da
extraordinária heterogeneidade de sua população, o conformismo
social tende a se tornar um absoluto e um substituto para a
homogeneidade nacional. De todo modo, a discriminação é um direito
social tão indispensável como a igualdade é um direito político
(Arendt, 1959a, p. 51).

Desse modo, a autora salienta que o direito de ter direito ocorre quando somos
julgados por nossas ações, e quando adentramos e participamos de uma comunidade
organizada e quando milhões de pessoas perdem esse direito e não o recuperam.
Querendo ou não vivemos em um mundo único (Arendt, 1989, p. 330). Trilhando essa
linha argumentativa, segundo Arendt (1989):

A calamidade do que não têm direito não decorre do fato de terem


sido privados da vida, da liberdade ou da procura da felicidade, nem
da igualdade perante a lei ou da liberdade de opinião – fórmulas que
se destinavam a resolver problemas dentro de certas comunidades –
mas do fato de já não pertencerem a qualquer comunidade. Sua
situação angustiante não resulta do fato de não serem oprimidos, mas
de não haver ninguém mais que se interesse por eles, nem que seja
para oprimi-los. Só no último estágio de um longo processo o seu
direito à vida é ameaçado; só se permanecerem absolutamente
‘supérfluos’, se não se puder encontrar ninguém para ‘reclamá-los’, as
suas vidas podem correr perigo. (p. 329).

Depreende-se que, para a autora, os direitos dos homens constituem-se


características relevantes para a condição humana. Os crimes contra os direitos
humanos, dentre eles aqueles cometidos pelo regime totalitário (extermínio dos judeus)
e a escravidão do negro, constituíram fatos nos quais esses seres perderam muito: só não
deixaram de ser seres humanos. O entendimento de que “onde há ser humano há direitos
dos homens” estabelece um paradoxo, uma contradição, pois se confronta com os
crimes cometidos contra judeus e negros.

AÇÕES AFIRMATIVAS

Ao nos depararmos com a Questão Racial no Brasil, é necessário compreender a


política pública de ação afirmativa. As ações afirmativas são políticas públicas, de
iniciativa privada ou criadas pelo governo, que pretendem corrigir desigualdades
socioeconômicas procedentes de discriminação, atual ou histórica, sofrida por algum
grupo de pessoas. As ações afirmativas possuem três possibilidades de atuação: reverter
a representação negativa da população negra; combater o preconceito e o racismo e
promover igualdade de oportunidades.
A política de ação afirmativa emerge a partir da análise sócio-histórica de uma
população e do levantamento de dados estatísticos que comprovem as desigualdades e a
necessidade de solucioná-las. Após o planejamento da política, é encaminhado à
legislação, que irá ou não, aprovar e implementar.
Voltada à população, são concedidas vantagens para membros de grupos que
estão em situação de inferioridade a fim de que essas pessoas estejam, daqui a um
tempo, em melhores condições. Desse modo, as ações afirmativas buscam, através do
conceito de equidade, o ajuste das desigualdades.
Outra questão essencial para a compreensão das políticas públicas que envolvem
a questão racial, é sobre as cotas. Elas representam uma maneira de atuação de ações
afirmativas, ou seja, é diferente destas. Neste caso, se reserva um percentual de vagas
para minorias políticas e culturais e a raça passa a ser considerada um critério absoluto
para a seleção de pessoas.
Há uma grande problemática que envolve a questão das cotas, no sentido de que muitos
acreditam que as minorias que alcançam uma vaga por meio de cotas, estão
contrariando o princípio do mérito. Mas isso não passa de um mito, assim como
acreditar que as cotas incentivariam ainda mais a discriminação.
As discussões a respeito das ações afirmativas ganharam projeção política e
acadêmica, para além dos integrantes do movimento negro brasileiro com a abertura do
seminário Multiculturalismo e Racismo em que o presidente da República Fernando
Henrique Cardoso reconheceu publicamente o Brasil como um país racista em 1996. No
mesmo ano, ele estimulou a discussão sobre as ações afirmativas divulgando o Plano
Nacional dos Direitos Humanos e tomou como um de seus objetivos o desenvolvimento
de ações afirmativas para o acesso de negros aos cursos profissionalizantes, à
universidade e às áreas de tecnologia de ponta, esclarecendo que seria com a intenção
de aplicar “políticas compensatórias que promovam social e economicamente a
comunidade negra”.
Em 1996, outra ação do executivo foi a criação do Grupo de Trabalho
Interministerial (GTI) com o objetivo de desenvolver políticas para a valorização da
população negra priorizando a educação, o trabalho e a comunicação. Criou-se também
o Grupo de Trabalho para Eliminação da Discriminação no Emprego e na Ocupação
(GTDEO), também em 1996, com o objetivo de definir um programa de ações e propor
estratégias de combate à discriminação no emprego e na ocupação
Nesse momento, o negro entra em discussão não só no munistério da cultura, mas
também no ministério do trabalho.

Dois dos senadores militantes e influentes na luta pela democracia racial foram
Benedita da Silva e Abdias do Nascimento. Benedita da Silva acreditava que a cota não
resolveria o problema estrutural, mas que mesmo assim criaria precedentes para
minimizar a injustiça e exclusão. Criou, então o projeto de lei que institui a cota em
instituições de ensino superior tanto públicas quanto privadas.

“Projeto de Lei nº 14 - Fica instituída a cota


mínima de 10% (dez por cento) de vagas
existentes para os setores etnorraciais
socialmente discriminados em instituições de
ensino superior públicas e particulares, federal,
estadual e municipal.” (Benedita da Silva, 1995)

Abdias do Nascimento exigia medidas de ação compensatória para que houvesse


a implementação de igualdade de direitos sociais dos negros. Um apelo à isonomia a
partir do seguinte projeto de lei:

“Projeto de Lei nº 75 – Todos os órgãos da


administração pública direta e indireta, as
empresas públicas e as sociedades de
economia mista são obrigadas a manter nos
seus respectivos quadros de servidores,
20% (vinte por cento) de homens negros e
20% (vinte por cento) de mulheres negras
em todos os postos de trabalho e direção e
Toda empresa privada ou estabelecimento
de serviço são obrigados a executar
medidas de ação compensatória com vistas
a atingir, no prazo de cinco anos, a
participação de ao menos 20% (vinte por
cento) de homens negros e 20% (vinte por
cento) de mulheres negras em todos os
níveis de seu quadro de emprego
e remuneração.”
(Abdias do Nacimento, 1997)

Ambos os projetos sugriram como reflexos do discurso político do MNU


(Movimento Negro Unificado) em 1978 e como recursos necessários à implementação
da igualdade por meio legislativo. As discussões entre ativistas negros sbre as propostas
de ação afirmativa depois do Plano Nacional dos Direitos Humanos e dos projetos de lei
de Benedita da Silva e Abdias do Nacimento estavam ligadas a um projeto para
construir um grupo social que estivesse calcado na ideia de raça, além de construir uma
identidade negra que englobasse toda a população negra, mestiça, e não só os militantes
negros e, principalmente, para que fosse definitivamente superado o mito da democracia
racial.

Outro grande empecilho é que no Brasil há uma dificuldade classificatória de


raças que reside no fato de que essa classificação reconhece apenas o mestiço, o híbrido.
Essa classificação depende do contexto de sua aplicação em que duas variáveis
importantes interferem: a escolaridade e o rendimento familiar. Nesse caso, o dinheiro
seria um determinante classificatório. O dinheiro, então, seria um fator embranquecedor.
Desse modo, quando mais rico aquele negro for, mais próximo da elite branca ele seria
classificado.
Portanto, as ações afirmativas funcionam como instrumentos de correção de
problemas reletivos à redistribuição de bens econômicos e cargos de poder a curto e
médio prazo, ou seja, as acões afirmativas servem como um instrumento de racialização
positiva por ser eficaz na correção do preconceito, da justiça redistributiva e simbólica,
criando oportunidades para a construção da identidade negra. E para que a identidade
negra esteja bem demarcada, é necessário o diálogo entre os negros e os autoentitulados
brancos. Esse diálogo passa pela questão do reconhecimento da identidade do outro, na
demarcação dessas diferenças como uma necessidade para um melhor convívio
humano.

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Trad: Rousara Einchenberg.

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