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Motrivivência Ano XXIII, Nº 36, P. 111-128 Jun.

/2011
doi: 10.5007/2175-8042.2011v23n36p111

A cultura corporal como objeto


de estudo nos referenciais
curriculares do ensino
fundamental da Paraíba

Jeimison Araújo Macieira1


Áurea Augusta R Mata2
Jorge F Hermida3

Resumo

O artigo procura fazer um panorama das discussões que estão acontecendo em nível
nacional no processo de reformulação dos Referenciais Curriculares Básicos de Educação
Física, situando-o nos estados do Paraná, Pernambuco, Bahia e, em particular, na Paraíba.
Observa-se nas discussões desenvolvidas nos estados citados uma tendência por construir
seus referenciais curriculares tendo como objeto de estudo a Cultura Corporal. Esta
proposta tem como perspectiva o desenvolvimento omnilateral e afirma o materialismo
histórico-dialético como teoria do conhecimento. Reconhece a escola como instrumento
de luta, por conferir elementos para uma melhor compreensão da realidade.

Palavras-chave: Cultura Corporal; Educação Física escolar; Referenciais Curriculares


Básicos de Educação Física.

1 Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Serviço Social da UFPB. Estudante de Filosofia da


UFPB. Contato: jeimison89@hotmail.com
2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal da
Paraíba;Professora de Educação Física da rede municipal de ensino de João Pessoa. Membro do
Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação Física & Esporte e Lazer da Paraíba (LEPELPB/
UFPB). Contato: aureaaugusta@hotmail.com
3 Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação na Universidade Federal da Paraíba;Doutor
em Filosofia e História da Educação (UNICAMP). Líder do Laboratório de Estudos e Pesquisas em
Educação Física & Esporte e Lazer da Paraíba (LEPELPB/UFPB).
Contato: jorgefernandohermida@hotmail.com
112

Introdução Curriculares para a Educação Física


da Paraíba, em 2010.
Este estudo tem como Embora os referenciais
objetivo fazer um panorama das sejam propostas oficiais que vêm
discussões que estão acontecendo sendo construídas estadualmente,
em nível nacional no processo eles têm uma característica parti-
de reformulação dos Referenciais cular: dependendo do modo em
Curriculares Básicos de Educação que são construídos e do nível de
Física, situando-o nos estados do participação e envolvimento dos
Paraná, Pernambuco, Bahia e, em professores da rede estadual de
particular, no contexto paraibano.4 ensino, eles abrem a possibilidade
O interesse pela questão para a construção coletiva de alter-
nativas emancipatórias. Uma pers-
dos processos de reformulação dos
pectiva que pretenda essa natureza
referenciais curriculares é um dos
precisa tomar como referência o
temas mais atuais e polêmicos na
acontecido na história recente da
pauta obrigatória de congressos
Educação Física brasileira a década
e seminários que têm como tema de 1980 até nossos dias, pois é nela
central a Educação Física escolar. que começam a manifestar-se “[...]
O artigo toma como ponto os primeiros elementos de uma
de partida os textos e o contexto crítica a sua função sócio-política
histórico de fins da década de 1990, conservadora no interior da escola”
época em que o Brasil retoma suas (Coletivo de Autores, 1992, p. 49).
liberdades e legitimidade social e Porém, esse avanço no campo das
política e a sociedade como um ideias não foi acompanhado na
todo (a sociedade civil e a sociedade realidade concreta, “no chão da es-
política) começa a debater novos cola”, já que se percebe um grande
projetos para a educação nacional. descompasso no que diz respeito à
É dessa época que datam os primei- qualidade da produção teórica dos
ros projetos de leis que procuram intelectuais brasileiros desenvolvida
regulamentar legal e pedagogica- principalmente nas universidades
mente à Educação Física nos tempos federais e o que vêm acontecendo
e espaços escolares, que serviram na realidade escolar concreta.
como fundamento sólido para che- Com a discussão e cons-
gar à elaboração dos Referenciais trução de referenciais nos diversos

4 Assuntos vinculados a este artigo foram apresentados no V Encontro Brasileiro de Educação e


Marxismo (EBEM), realizado na cidade de Florianópolis, de 11 a 14 de abril de 2011.
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estados do nosso país, têm-se a acontecendo nacionalmente, princi-


oportunidade histórica de propiciar palmente naqueles estados em que
uma melhor socialização de conhe- o referencial esta apontando para
cimentos e saberes vinculados com a construção fundamentada em
nosso campo de conhecimento, teorias críticas de educação contra-
construídos desde perspectivas edu- hegemônicas. Em “A construção dos
cacionais críticas. No entendimento Referenciais Curriculares do Estado
dos autores deste artigo, a opção da Paraíba” relata como aconteceu
pedagógica, teórica e metodológi- o processo de construção dos Re-
ca capaz de dar conta do processo ferenciais Curriculares do Estado
de socialização de conhecimentos da Paraíba, desde a publicação
produzidos historicamente pela do edital nº. 01/2010/SEAD/SEEC
humanidade é a da cultura corporal, (processo seletivo simplificado para
ancorada no materialismo histórico contratação de pessoal em caráter
e dialético. excepcional para a elaboração dos
Além desta introdução, o referenciais), até sistematização
artigo esta organizado em quatro a versão final do documento. No
tópicos mais as considerações fi- ítem 4, “Fundamentos teóricos e
nais. “Antecedentes legais e peda- metodológicos do Referencial do
gógicos” que trata de forma breve Estado da Paraíba” são apresentadas
do percurso histórico que tiveram as principais contribuições dos
os processos de regulamentação referenciais teóricos escolhidos
legal e pedagógica da Educação para a construção da versão final
Física escolar, até a aprovação das do documento. O artigo se encerra
Diretrizes Curriculares Nacionais com a apresentação das considera-
para a Educação Básica, em 2001. ções finais.
O item seguinte apresenta uma
análise dos processos de elaboração Antecedentes legais e peda-
dos Referenciais Curriculares de al- gógicos
guns estados, a saber, Paraná, Bahia
e Pernambuco, trazendo a baila Os primeiros esforços por
como se procedeu nesses estados regulamentar legal e pedagogica-
a construções desses documentos. mente a Educação Física escolar
Vale salientar que nossa intenção brasileira datam da década dos anos
não é aprofundar as discussões 1990. Nessa época, após aprovar
sobre o processo em cada estado, uma nova Constituição Federal em
mas, sobretudo, estabelecer um 1988, que dotou de legalidade e
panorama das discussões que estão legitimidade política à sociedade
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brasileira – deixando desta manei- projeto de lei originário, elaborado


ra para trás mais de vinte anos de por movimentos sociais defenso-
ditadura militar – é aprovada uma res do ensino público e gratuito
nova Lei de Diretrizes e Bases da e apresentado na Câmara Federal
Educação Nacional (LDBEN, em pelo deputado Octávio Elísio em
1996), os Parâmetros Curriculares dezembro de 1988 foi alterado. Até
Nacionais (PCN´s, em 1998), o chegar a sua versão final, teve três
Referencial Curricular Nacional projetos substitutivos, de natureza
para a Educação Infantil (RCNEI), ideológica e antitética diferente. E
de 1998, a lei 9.696, de 1998, a lei a lei teve que tramitar mais de oito
10.328, de dezembro de 2001, as anos no Congresso Nacional, até
Diretrizes Curriculares Nacionais ser aprovada em 20 de dezembro
para a Educação Física brasileira de 1996.
(DCN´s, em 2001), e a lei 10.793, Como era de pressupor, o
de 1 de dezembro de 2003.
projeto aprovado foi o oriundo do
Os processos de elabora-
Poder Executivo e do Ministério da
ção, discussão e aprovação da Lei
Educação de FHC.
Maior da educação nacional (LD-
A “nova forma de fazer po-
BEN) foram considerados na época
lítica” é fácil de ser fundamentada.
uma prioridade nacional, porém,
Com a posse de FHC, o processo
eles não estiveram isentos de dificul-
dades. Após ter sido eleito presiden- de reformas atingiu várias áreas da
te da República, a educação foi uma realidade brasileira. Dentre as mais
das cinco prioridades do governo de relevantes, junto à reforma educa-
Fernando Henrique Cardoso (FHC), tiva, houve a reforma do Estado.
junto com a agricultura, segurança, Mudanças macroeconômicas leva-
emprego e saúde. Após assumir a ram a reorganização da economia
Presidência, a elaboração de leis e trouxeram para o país a recupe-
educacionais começa a passar por ração do investimento privado, a
dificuldades, produto da interfe- privatização das empresas estatais
rência do Executivo no Congresso e a estabilidade monetária. Para o
Nacional. As dificuldades dizem setor público, o governo elaborou o
respeito ao caminho que teve que Programa Diretor para a Reforma do
tramitar a LDBEN até sua aprovação Aparelho do Estado (PDRAE). Para
final, pois, ao assumir FHC, o Poder Hermida (2009), com a reeleição de
Executivo adota uma nova forma de FHC na Presidência da República a
fazer política, menos participativa e “cruzada neoliberal” se consolida
mais centralizada. Por exemplo, o no poder,
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...continuando a subscrever a governo de Lula continua mantendo


estratégia que os países capi- vigente as políticas econômica e
talistas centrais determinaram educacional elaboradas pelo seu
para os países capitalistas peri- antecessor.
féricos, ou em vias de desenvol- No que diz respeito à
vimento: o controle da inflação,
Educação Física, do ponto de vis-
a privatização das empresas
ta legal citada no art. 26 da nova
estatais e estabilidade monetá-
ria como objetivo prioritário do
LDBEN parágrafo 3º. “Educação
governo, Com isto, o monetaris- Física, integrada à proposta peda-
mo e o liberalismo se tornaram gógica da escola, é componente
a religião oficial das políticas curricular da Educação Básica,
econômicas brasileiras, Sob a ajustando-se às faixas etárias e
égide da estratégia do consen- às condições da população esco-
timento, as classes dominantes lar, sendo facultativa nos cursos
continuaram a impor seus pro- noturnos”. Com a aprovação lei
jetos hegemônicos. Dentre eles, 10.328, em 12 de dezembro de
o educativo (2009, p. 21). 2001, ela acrescenta a palavra
“obrigatório” após a expressão
Com este tipo de política – curricular, constante no parágrafo
alinhada à necessidade de implantar supracitado. Com a sanção no Se-
para o país o modelo de “Estado Mí- nado Nacional da lei 10.793, de
nimo”, as instituições educacionais
2003, o parágrafo 3º. sofreu nova
começam a sofrer um processo de
alteração pois passa a vigorar
sucateamento e o arrocho salarial
acrescentando a facultatividade
dos trabalhadores da educação foi
para os alunos que cumpram jor-
“institucionalizado”.
nadas de trabalho igual ou supe-
Com as eleições nacionais
rior a seis horas, os que cumpram
de 2002, que elegem como presi-
dente da República Luíz Inácio Lula 30 anos de idade, que estiverem
da Silva, se implanta na política um prestando serviço militar e para
assunto extremamente polêmico, aqueles que tenham prole.
um problema estritamente político Semelhantemente ao acon-
e ideológico, a saber, o Partido tecido com os processos de aprova-
dos Trabalhadores (PT) que esteve, ção das leis educacionais, do ponto
em termos políticos, opondo-se de vista pedagógico, os documentos
sistematicamente à proposta edu- elaborados para orientarem legal-
cacional construída pelo governo mente os processos pedagógicos da
de FHC, ao assumir a presidência o Educação Física escolares sofreram
116

o mesmo processo de interferência especificamente pedagógico. Para


da parte do Poder Executivo nos a Secretaria de Educação Funda-
governos de FHC. Os principais do- mental do Ministério de Educação,
cumentos elaborados que contêm os PCN´s:
referências que tratam de conteúdos
vinculados à Educação Física são: os ...constituem um referencial de
Parâmetros Curriculares Nacionais qualidade para a educação no
(PCN´s, de 1998), o Referencial Ensino Fundamental em todo
Curricular Nacional Para a Educa- o país. Sua função é orientar e
ção Infantil (RCNEI, de 1998), e a lei garantir a coerência dos instru-
10.328, de dezembro de 2001, que mentos no sistema educacional
apresenta as Diretrizes Curriculares (...) subsidiando a participação
Nacionais para a Educação Básica de técnicos e professores brasi-
leiros, principalmente daqueles
(DCN´s).
que se encontram mais isola-
A nova conjuntura legal
dos, com menor contato com
conquistada pela Educação Física
a produção pedagógica atual
escolar a partir da nova LDBEN (BRASIL-INEP, 1997, p. 13).
– pois ela passa ser componente
curricular obrigatório das escolas
O rcnei é um dos princi-
brasileiras, lhe permitiu ganhar
pais documentos elaborados pelo
um status qualitativo diferente.
governo nacional para garantir o
Ao ser componente curricular ela
direito à educação das crianças
ganha status de disciplina e assim
de zero a seis aos de idade. Ele foi
o trato com o conhecimento que a
elaborado no ano de 1988 aten-
caracteriza passa a ser diferente. Na
dendo a determinações da LDBEN.
opinião de Castellani Filho (1997) e
Hermida (2009), quando ela passa Seus três volumes, que procuram
a ser componente curricular, ela referenciar atividades educacionais
abre a possibilidade de que as dife- desenvolvidas em creches, entida-
rentes concepções de Educação Fí- des equivalentes e pré-escolas. Or-
sica escolar hoje existentes possam ganizado em linguagens (Música,
ser viabilizadas e desenvolvidas Artes Visuais, Linguagem oral e
objetivamente, embora paire, na escrita, Natureza e sociedade, Ma-
opinião dos autores, o “fantasma temáticas e Movimento), procura
dos PCN´s”. subsidiar a elaboração de projetos
Os PCN´s é um documen- educativos, o planejamento e o
to que foi criado para ordenar a Edu- funcionamento de creches e es-
cação Física brasileira no aspecto colas de todo o país.
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As Diretrizes Curriculares dizagem dos alunos e do com-


Nacionais para a Educação Básica se promisso com resultados, em
constituem de definições doutrinarias termos de desenvolvimento da
sobre princípios, fundamentos e capacidade de aprendizagem
procedimentos a serem observa- e de constituição de compe-
dos na organização pedagógica e tências que conduzam o aluno
curricular de cada unidade escolar à progressiva autonomia inte-
integrante dos diversos sistemas de lectual e o coloque em condi-
ensino, tendo em vista a vincula- ções de continuar aprendendo
(DCN´s, 2001, p. 05).
ção da educação com o mundo do
trabalho e a prática social, conso-
Os três documentos oficiais que
lidando a preparação para o exer-
orientam do ponto de vista pe-
cício da cidadania. Para a Câmara
dagógico a Educação Física es-
de Educação Básica do Conselho
colar têm uma característica em
Nacional de Educação,
comum: seus projetos iniciais
e produtos finais são oriundos
Não cabe mais a este Colegia-
dos Poderes Executivos dos
do fixar mínimos curriculares
governos de FHC (PCN´s e RC-
nacionais por curso ou modali-
NEI) e de Luiz Inácio Lula da
dade de ensino. Cabe, sim, fixar
Silva (DCN´s). Os dois primei-
Diretrizes Curriculares Nacio-
ros foram elaborados por asses-
nais que orientem os sistemas
sores governamentais (inclusive
de ensino na tarefa de apoiar o
alguns estrangeiros) contratados
desenvolvimento dos projetos
pelo MEC e o último, pelo co-
pedagógicos concebidos, exe-
legiado da Câmara de Educação
cutados e avaliados pelas esco-
Básica do Conselho Nacional de
las, com a efetiva participação
Educação. Os três documentos
de toda a comunidade escolar,
não permitiram a participação
em especial dos docentes.
de sindicatos, associações e
movimentos populares defenso-
Flexibilidade para atuação dos
res do ensino público, gratuito
sistemas de ensino e das esco-
e obrigatório. E, finalmente, o
las, de todos os níveis e modali-
principal: os documentos igno-
dades, bem como apoio, orien-
ram as valiosas contribuições
tação e avaliação da qualidade
que diversas formas de conceber
do ensino por parte do Poder
a Educação Física que, com o
Público são dois dos pilares da
passar do tempo, concretizaram
Educação Nacional pós-LDB
96, ao lado do zelo pela apren- originais e inovadoras propostas
118

pedagógicas desde fins da déca- Faz-se imprescindível à realiza-


da de 19805. ção de análises mais rigorosas e
radicais da realidade social atu-
A reformulação dos Refe- al, especialmente no interior da
escola e, a elaboração de uma
renciais Curriculares de Edu- teoria pedagógica mais avança-
cação Física nos estados do da que reconheça a cultura cor-
Paraná, Bahia e Pernambuco poral como objeto de estudo da
disciplina Educação Física, sem
Iniciamos as análises dos perder de vista os objetivos
processos de elaboração dos Re- relacionados com a formação
ferenciais Curriculares de alguns corporal, física, dos alunos, mas
estados, a saber, Paraná, Bahia, Per- situando-os no âmbito da vida
nambuco e Paraíba, trazendo a baila real de uma sociedade de clas-
ses (ESCOBAR, 2006).
como se procedeu nesses estados
a construções desses documentos.
Vale salientar que nossa intenção Desta feita, em linhas ge-
não é aprofundar as discussões sobre rais, o projeto de construção das
o processo em cada estado, mas, Diretrizes Curriculares da Educação
sobretudo, estabelecer um panorama Básica do Estado do Paraná (DCEB-
das discussões que estão acontecen- PR) foi resultado de um processo de
do nacionalmente, principalmente discussões coletivas ocorridas entre
naqueles estados em que o referen- os anos de 2004 e 2008, que envol-
cial esta apontando para a constru- veu professores de diversas áreas da
ção de referenciais fundamentados rede estadual de ensino.
em teorias críticas de educação anti- Durante os anos de 2004
hegemônicas, que procure contribuir e 2006, a Secretaria de Estado da
para a desconstrução do modelo Educação promoveu encontros,
capitalista de educação dominante simpósios e semanas de estudos
no Brasil e na maioria dos países do pedagógicos para elaboração dos
mundo ocidental, em favor de uma textos das DCEB-PR. Em 2007 e
proposta alternativa e emancipadora. 2008, a equipe pedagógica do
Ademais, Departamento de Educação Básica

5 A questão vinculada à elaboração das propostas pedagógicas oficiais elaboradas pelos governos para
a educação em geral e a Educação Física escolar em particular é um tema de grande importância
para os autores deste trabalho. No entanto, por motivos de espaço, optamos por priorizar os
processos de reformulação dos Referenciais Curriculares da Educação Básica, em especial aqueles
vinculados com a reformulação dos referenciais para a Educação Física escolar.
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(DEB) percorreu os 32 núcleos re- a seguinte organização: inicia-se


gionais de educação, realizando um delineando acerca da dimensão his-
evento chamado “DEB itinerante”, tórica da disciplina; os fundamentos
o qual ofereceu aos professores teórico-metodológicos; os conte-
alocados nas regionais 16 horas de údos estruturantes; os encaminha-
formação continuada (PARANÁ, mentos metodológicos; a avaliação
2008). Antes disso, todo o processo e as referencias. As Diretrizes Cur-
riculares para disciplina Educação
de elaboração das diretrizes se deu
Física do Estado do Paraná apontam
balizado em algumas constatações, para a construção de um currículo
são elas: o final do período da di- voltado para a formação de sujeitos
tadura militar no Brasil e, posterior críticos e reflexivos e, sobretudo,
emergência das teorias criticas da que consigam transformar a reali-
educação, as quais tinham o interes- dade a qual estão submetidos. A
se de redemocratizar a sociedade e, proposta de ensino de Educação
com isso, a educação; e a identifi- Física que fundamenta todo o do-
cação da incorporação nas políticas cumento é a Crítico-superadora e a
públicas da pedagogia histórico- proposta pedagógica que a sustenta
crítica (SAVIANI, 2008). é a Pedagogia Histórico-crítica.
Para as Diretrizes Curricu- No estado da Bahia, a
construção dos Referenciais Curri-
lares da Educação Básica - Educação
culares iniciou com o trabalho de
Física (DCEB-EF), o documento man-
definição das Diretrizes Curricula-
teve a estrutura formal definida para res do Ensino Fundamental em 1994
as demais disciplinas e seguindo e, as Orientações Curriculares para
uma concepção crítica, ou seja, o Ensino Médio em 2005. Para os
anos de 2010 e 2011, a Secretaria
Para as teorias críticas, nas quais de Educação do Estado da Bahia
estas diretrizes se fundamentam, em conjunto com o Grupo LEPEL/
o conceito de contextualização FACED/UFBA, organizou uma série
propicia a formação de sujeitos de atividades para a elaboração co-
históricos - alunos e professo- letiva dos referenciais, divididas em
res – que, ao se apropriarem do quatro momentos, são eles:
conhecimento, compreendem 1. Debate acerca do pro-
que as estruturas sociais são his- jeto histórico, formação humana,
tóricas, contraditórias e abertas teoria educacional e pedagógica,
(PARANÁ, 2008, p. 30) cultura corporal;
2. Evento científico para
Não obstante, ainda em debater formação de professores, a
torno do documento, este manteve escola e o trabalho pedagógico;
120

3. Aprofundamento dos das políticas educacionais. A partir


estudos, realizado no Programa de do convite feito pela Secretaria de
Pós-Graduação em Educação da FA- Educação (SEDE) do Estado de Per-
CED/UFBA, com a participação dos nambuco foi institucionalizada uma
professores da rede e diálogo com parceria entre a Universidade de
os professores que constroem as Pernambuco (UPE) e a Secretaria de
propostas de Pernambuco, Paraná, Educação do Estado. Essa parceria
Rio Grande do Sul; e finalmente, colocou em prática a proposta de
4. Apresentação de pro- uma formação continuada, voltada
posições superadoras, levando em aos professores da rede estadual.
consideração o diagnóstico da rea- A sistematização do do-
lidade da Educação Física na rede cumento foi resultado de estudos,
estadual da Bahia. discussões e produções realizadas
Esse processo de constru- pela comissão e pela SEDE, e o
ção optou pela perspectiva Crítico- processo de elaboração aconteceu
Superadora, pois esta admite para na forma de seminários, foram eles:
a reflexão pedagógica algumas seminários iniciais de diagnose,
características específicas no trato seminários de elaboração prelimi-
com o conhecimento, a saber, diag- nares, seminários regionais 2009 e
nóstica, judicativa e teleológica. Ela seminário de socialização da produ-
busca elementos da realidade social, ção. (PERNAMBUCO, 2008).
julgando-os a partir de uma ética, Percebe-se no documento
que defende os interesses de uma a adoção de uma perspectiva critica
determinada classe social apontando de educação e Educação Física,
um caminho, buscando uma direção a qual admite como princípios
(COLETIVO DE AUTORES, 1992), norteadores a formação humana,
em defesa, nesse caso, da classe tra- o currículo na escola, a dinâmica
balhadora. Atualmente o processo de curricular e a realidade dos alunos.
construção das diretrizes se encontra A semelhança do acontecido nos
no quarto e último momento. estados do Paraná e Pernambuco,
Já em Pernambuco, o pro- a disciplina Educação Física optou
cesso de construção dos referenciais pela abordagem Crítico-superadora,
curriculares, recebe o nome de “por perceber que essa permanece
Orientações Teórico-metodológi- na essência de todos os documentos
cas. Ele se deu a partir de um pro- governamentais utilizados” (PER-
cesso histórico, o qual considerou NAMBUCO, 2008).
o acúmulo das produções deste Assim como, é visível, que
componente curricular no cenário nesses três estados os processos de
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discussão e construção de Diretrizes que caracterizam as sociedades


Curriculares adotou perspectivas divididas em classes.
críticas de educação e Educação
Física, que denotam a necessidade A construção dos Referenciais
de garantir aos alunos pertencentes Curriculares do Estado da
as respectivas redes estaduais de Paraíba
ensino a possibilidade de com-
preender os conteúdos afeitos a O processo de construção
esta disciplina, tendo como objeto dos Referenciais Curriculares do
de estudo a cultura corporal No Estado da Paraíba teve início através
nosso entendimento, observa-se do edital nº. 01/2010/SEAD/SEEC,
um avanço teórico e uma provável tornou público o processo seletivo
perspectiva de elevação do padrão simplificado para contratação de
cultural dos alunos, tendo em vista pessoal em caráter excepcional
que estarão submetidos a uma pers- para a elaboração dos referenciais.
pectiva de ensino que tem como Foi motivado pela necessidade
finalidade a socialização do conhe- percebida pela, até então, gestão es-
cimento produzido historicamente tadual, de alterar o texto, admitindo
pela humanidade na sua vida em mudanças teóricas que culminas-
sociedade. São justamente esses sem em transformações didáticas,
pedagógicas e metodológicas nos
conhecimentos na perspectiva da
referenciais curriculares e na prática
cultura corporal que permitem o
pedagógica dos professores, uma
desenvolvimento do pensamento
vez que o último currículo do Ensi-
crítico, historicamente sonegado no Fundamental vigente no Estado
aos filhos da classe trabalhadora. A datava de 1988. Para o trabalho
apropriação do saber “burguês” para foram contratados 19 profissionais6,
dotá-lo de novos significados permi- para as seguintes áreas: Linguagens,
tirá à classe trabalhadora é essencial Códigos e suas Tecnologias; Ciên-
para desarticular os interesses bur- cias da Natureza; Matemática e suas
gueses e colocando-os a serviço de Tecnologias; Ciências Humanas
sua classe. E assim poder identificar e suas Tecnologias e Diversidade
as contradições do atual modelo de Sociocultural.
educação e produção que é o res- Após a conclusão do pro-
ponsável das desigualdades sociais cesso seletivo, iniciaram-se, os

6 Sendo um coordenador geral, um revisor técnico e 16 consultores.


122

trabalhos de elaboração, com a pri- iniciada a construção do texto base


meira reunião geral junto à coorde- dos Referenciais Curriculares do
nação do projeto, os consultores das Ensino Fundamental, no nosso caso,
áreas e o revisor técnico em julho da Educação Física (RCEF-EF) e o
de 2010. Na reunião, decidiu-se o planejamento da primeira oficina
formato para a construção coletiva com a participação dos professores
dos RCEF, assim estabelecido: duas da rede estadual.
oficinas pedagógicas com a presen- Na I Oficina Pedagógica
ça dos professores da rede estadual foram trabalhadas questões pro-
de ensino; reuniões quinzenais com blematizadoras (feitas através de
a coordenação do projeto; reuniões exposições/apresentações de sli-
periódicas entre consultores das áre- des), exposição de vídeos e leitura
as correlatas para tratar das possíveis de textos, a fim de que os profes-
articulações entre as disciplinas; sores pudessem refletir sobre sua
prática pedagógica. As questões
reuniões periódicas com o outro
foram formuladas com a intenção
consultor (no caso da disciplina ter
de entender como os professo-
dois consultores) para elaboração
res desenvolvem suas aulas, que
do texto. Também foi definida
abordagem pedagógica utilizam,
a estrutura do texto: inserção da
como percebem a Educação Física
disciplina no Ensino fundamental; enquanto componente do currículo
objetivos; competências formativas escolar, entre outras questões; e as
no ensino da disciplina; conceitos dificuldades que eles encontram
necessários ao ensino da disciplina; no cotidiano escolar (sejam elas
conteúdos estruturantes e temas pedagógicas e/ou de infra-estrutura
transversais, procedimentos didá- – espaço, material).
tico-metodológicos; avaliação; e Esse momento também
finalmente os referenciais teóricos. serviu de caminho para dialogar so-
Posteriormente os consul- bre as experiências dos professores,
tores7 fizeram um levantamento de para assim, partir para a construção
documentos, textos, livros, diretri- do RCEF-EF, considerando as vivên-
zes da Paraíba de anos anteriores cias e experiências acumuladas dos
e, também, diretrizes de outros professores.
estados. Após, realizar a leitura e A I oficina também deba-
estudo do material encontrado, foi teu concepções de sociedade e de

7 Foram contratados para o processo de elaboração do referencial da disciplina Educação Física,


os professores Msnda. Áurea Augusta Rodrigues da Mata (UFPB/PMJP); e Ms. Jeimison de Araújo
Macieira (PMJP).
Ano XXIII, n° 36, junho/2011 123

homem, apontando que a socie- nos seus espaços de intervenção


dade capitalista é excludente e se (MACIEIRA, 2010, p. 29).
baseia na acumulação individual.
Foi utilizada uma videoconferên- Faz-se necessário compre-
cia8 com a professora Celi Taffarel ender o movimento da educação no
(UFBA), onde se faz um resgate dos atual momento histórico, inserida
principais argumentos históricos em um contexto social moldado
sobre a inserção da Educação Fí- pelo capital, ou seja, “não é pos-
sica no contexto escolar. Também sível, portanto, compreender radi-
foram utilizados como referenciais calmente a história da sociedade
teóricos os estudos de Marx & En- contemporânea e, conseqüente-
gels (2007), Marx (2007), Mészáros mente, a história da educação con-
(2005, 2009) e Saviani (2000, 2005, temporânea sem se compreender o
2008). Tais referenciais serviram movimento do capital” (SAVIANI,
para compreender como esta socie- 2005, p. 17).
dade forma homens fragmentados Na sequência, foram de-
e desumanos. Essas característi- batidos os objetivos da Educação
cas apontaram à necessidade de Física escolar e a compreensão de
construir uma sociedade que vá currículo ampliado, delineando a
de encontro aos valores e normas necessidade de compreender as
apregoadas pela sociedade capi- relações da Educação Física com
talista, na busca pela formação de ela mesma e com o mundo. Outra
sujeitos históricos, que intervenham importante ação realizada na I Ofi-
politicamente na realidade em que cina foi a assimilação dos conceitos
estão inseridos, ou seja, básicos para a Educação Física, im-
prescindíveis para ampliar e elevar
Entender a realidade de forma
o padrão cultural do ser humano,
crítica agrega novos significados das competências e capacidades
a vida social destes entes, subs- necessárias ao processo ensino-
tanciando suas práticas pedagó- aprendizagem e dos conteúdos
gicas no sentido de desvelar a afeitos a Educação Física.
essência destes fatos e aconte- O momento final da I ofi-
cimentos, atribuindo-lhes novas cina esteve marcado pela avaliação
possibilidades de atuação política da experiência, onde os presentes

8 A videoconferência utilizada foi um espaço realizado pela Secretaria de Educação do Estado


da Bahia em 14 de julho de 2010, com a professora Celi Taffarel, onde a mesma proferiu uma
palestra sobre o tema da inserção da disciplina Educação Física no currículo escolar.
124

expuseram impressões sobre suas Fundamentos teóricos e me-


participações e, também, da aborda- todológicos do Referencial do
gem metodológica do espaço como
Estado da Paraíba
um todo. A primeira oficina foi um
espaço gerador, onde os professores
A partir da primeira reu-
da rede assumiram a função de inter-
locutores dos consultores, apresen- nião com a coordenação do projeto
tando as dificuldades encontradas de reformulação curricular ficou
por eles no cotidiano escolar, ou definido que a estrutura básica dos
seja, foi debatida a realidade con- textos seria a mesma para todas as
creta da Educação Física nas escolas disciplinas. O texto de Educação
públicas da rede estadual de ensino Física inicia com o resgate histórico
da Paraíba. Desta forma, os profes- da inserção da disciplina no contex-
sores contribuíram diretamente para to educacional brasileiro, onde são
elaboração dos referenciais. mencionadas suas bases históricas
A II Oficina (realizada en- desde as influências sofridas pelos
tre 06 e 10 de dezembro) iniciou-se movimentos ginásticos e militares
com a apresentação realizada pela nas primeiras quatro décadas do
coordenação do projeto, que fez século XX, até emergência das
um resgate do realizado na I ofici- principais abordagens de ensino
na, para aqueles professores que na década de 1980: a psicomotri-
estiveram ausentes. A consultora de cidade (LE BOULCH, 1983), a de-
diversidade sociocultural (tema que senvolvimentista (GO TANI, 1988),
atravessa todas as áreas) socializou a construtivista (FREIRE, 1989),
com todo o coletivo (consultores e a critico-superadora (COLETIVO
professores) como ficou o documen- DE AUTORES, 1992) e a critico-
to de diversidade sociocultural. emancipatória (KUNZ, 1991), assim
Para finalizar a segunda como também os PCN´s e o orde-
oficina, foi realizada uma sociali- namento legal que fundamenta a
zação entre todas as áreas, onde nossa profissão.
foram colocados os principais pon- No final do tópico se re-
tos debatidos durante a semana, se afirma o papel da escola enquanto
realizou a avaliação e foram ouvidas “um instrumento de luta, no sentido
sugestões para serem incorporadas de que permite compreender me-
aos Referenciais Curriculares. A lhor o mundo [...] com a finalidade
segunda oficina serviu para sistema- de transformá-lo, segundo interesses
tizar a versão final do documento. e anseios da classe trabalhadora”
Ano XXIII, n° 36, junho/2011 125

(FREITAS, 2009, p. 34) e o relaciona e alunos se percebam enquanto


com o cotidiano e as necessidades coletivo, no sentido de desenvolver
históricas das escolas da rede esta- ações que ajudem a resolver as pro-
dual de ensino do Estado da Paraíba. blemáticas do cotidiano da escola,
Em suma, a realidade dessas escolas das aulas de Educação Física e de
é de enfrentamento de dificuldades sua comunidade. Podemos afirmar,
relacionadas a infraestrutura, a falta segundo os interesses da classe
de corpo docente, a desvio de fun- trabalhadora, que a escola tem a
ção, ou seja, disciplinas ministradas função social de elevar a capacida-
por professores que não tem forma- de de reflexão teórica dos alunos, e
ção específica na área, assim como, nessa perspectiva, elevar o padrão
professores sem formação alguma. cultural esportivo da sociedade,
Nas oficinas pedagógicas consequentemente, ampliar o pen-
realizadas com os professores da samento teórico dos alunos sobre a
rede estadual foi identificado que cultura corporal.
a abordagem Crítico-superadora, Na sequência o documen-
que tem como objeto de estudo a to aponta a discussão da diversidade
Cultura Corporal é a que mais se e Educação Física, onde se situou os
aproxima da realidade concreta temas socioculturais e sua relevân-
dos professores e das contradições cia para conjunto das disciplinas. A
que caracterizam a sociedade pa- temática da diversidade sociocultu-
raibana. Professores e consultores ral presente no documento partiu
consideraram esta abordagem como das reflexões realizadas de forma
aquela que dá conta de respon- coletiva nas oficinas pedagógicas e,
der às necessidades do cotidiano principalmente, das problemáticas
escolar e de garantir aos alunos o do cotidiano dos professores da
acesso ao conhecimento produzido rede estadual. No que se refere aos
e acumulado historicamente pela procedimentos didático-metodo-
humanidade. lógicos, tomou-se como base uma
A segunda parte do do- perspectiva critica de educação, o
cumento apresenta os objetivos, método didático da prática social
construídos a partir da abordagem (SAVIANI, 2008), o qual prevê cin-
Critico-superadora, e os fundamen- co etapas: a prática social, a proble-
tos teóricos e metodológicos, que matização, a instrumentalização, a
orientam a organização do trabalho catarse e a nova prática social.
pedagógico nas escolas. É funda- O texto finaliza trazendo
mental que através da organização uma critica ao modelo atual de
do trabalho pedagógico, professores avaliação, baseado na meritocracia
126

e na aplicação de testes, com fins a a compreensão e a explicação da


seleção e classificação de alunos, realidade social complexa e con-
indicando uma avaliação que apon- traditória” (p.28), e, além disso,
te a aproximação ou o afastamento estabelece uma reflexão crítica a
dos objetivos propostos, para que essa realidade.
o professor possa tomar decisões
e reorganizar o ensino. É preciso Considerações Finais
romper com o processo avaliativo
somente por participação, frequ- Observando a necessi-
ência e rendimento atlético/físico; dade de compreender a realidade
compreende-se a necessidade de das escolas públicas dos estados
avaliar levando em consideração analisados, podemos perceber que,
os objetivos e critérios propostos em linhas gerais, encontramos um
para que, assim, a apropriação do cenário bastante conturbado, onde
conhecimento seja oportunizada de os professores de Educação Física
maneira significativa. sofrem com uma intensa precariza-
Entendendo que a função ção das condições de trabalho, tanto
social do currículo “é ordenar a do ponto de vista teórico quanto das
reflexão pedagógica do aluno de condições estruturais. Nesse senti-
forma a pensar a realidade social do, as propostas de renovação dos
desenvolvendo determinada lógica” referenciais curriculares em ques-
(COLETIVO DE AUTORES, 1992, tão, estabelecem compromisso com
p. 27), é possível afirmar que para uma educação problematizadora
dar conta das proposições apresen- que está fundamentada nos alunos
tadas nos referenciais curriculares como sujeitos históricos, autênticos
referidos, faz-se necessário adotar e incompletos – em permanente
uma perspectiva de currículo que devir – e que fazem parte de uma
possa responder as problemáticas realidade também incompleta e em
significativas do cotidiano escolar, contínua construção, pois a educa-
e que permita desvelar e superar as ção se constitui como uma prática
contradições que caracterizam as social. Encaminhamento comum a
sociedades que, como a brasileira, todas as realidades analisadas, a for-
estão divididas em classes; perspec- mação continuada torna-se elemen-
tiva essa materializada na proposta to imprescindível para a assimilação
de currículo ampliado defendida desses documentos. Outro impor-
pelo Coletivo de Autores (1992), tante elemento é o reconhecimento
que se caracteriza por ter “como do avanço teórico-prático oportuni-
eixo a constatação, a interpretação, zado pela vigência de todos esses
Ano XXIII, n° 36, junho/2011 127

referenciais, pois acreditamos que que caracterizam as sociedades


a adoção de perspectivas críticas divididas em classes.
contra-hegemônicas de educação e
Educação Física, pode alterar signifi- Referenciais
cativamente a realidade dos sujeitos
submetidos a essas pedagogias e BRASIL. Lei nº 10.328, de 12 de
contribuir para a construção de uma dezembro de 2001. Introduz
sociedade mais justa e solidária. a palavra obrigatório após a
Portanto, após nos deter- expressão curricular, constante
mos nas análises destes referenciais, do parágrafo 3º artigo 26 da
podemos perceber consideráveis Lei 9.394, de 20 de dezembro
avanços teóricos na fundamenta- de 1996, que estabelece as
ção destes documentos, sobretudo, diretrizes e bases da educação
porque constituem instrumentos de nacional. Diário Oficial da
luta e de valorização da educação República Federativa do Brasil.
e, especificamente, do professor, Poder Executivo. Brasília, DF, 23
enquanto facilitador na assimilação dez.2001. Seção1, p. 1.
do conhecimento. COLETIVO DE AUTORES.
Esses conhecimentos que Metodologia do ensino de
constituem os novos referenciais, Educação Física. Coleção
elaborados na perspectiva da cul- Magistério 2º grau. Série
tura corporal, propiciarão o desen- formação do professor. São
volvimento do pensamento crítico, Paulo: Cortez, 1992.
historicamente sonegado aos filhos FREITAS. Luiz Carlos de. A luta
da classe trabalhadora. A apropria- por uma pedagogia do meio:
ção do saber “burguês” para dotá-lo Revisitando o conceito. In:
de novos significados permitirá à PISTRAK. M. M.(org) A Escola
classe trabalhadora desarticular os Comuna. São Paulo: Expressão
interesses burgueses, colocando- Popular, 2009, p. 9-103.
os a serviço de sua classe e assim HOFFMANN, Jussara. Avaliação
propiciar o desenvolvimento do mediadora: uma prática em
homem omnilateral. Inserindo-o, construção da pré-escola
na perspectiva da cultura histórico- à universidade. 14.ed. Porto
proletária, no dizer de Saviani. Isto Alegre: Educação e Realidade,
é fundamental para poder identificar 1998.
as contradições do atual modelo de LEPEL/FACED/UFBA. Educação
educação e produção que é o res- Física: Referências Curriculares
ponsável das desigualdades sociais para a rede pública do estado da
128

Bahia. Texto Didático destinado PARANÁ. Secretaria de Educação.


ao Seminário da DIREC 1 A e Diretrizes Curriculares da
B. 2010 Educação Básica – Educação
MACIEIRA, Jeimison de Araújo. Física. Curitiba: SE-PR, 2008.
Uma análise sobre as condições PERNAMBUCO. Secretaria de
de realização do trabalho Educação. Orientações
pedagógico dos professores Teórico-Metodológicas: Ensino
de Educação Física na rede Fundamental – Educação Física.
municipal de ensino da cidade Recife: SE-PE, 2008.
de João Pessoa-PB. Dissertação SAVIANI, Demerval. Pedagogia
de mestrado (Mestrado em histórico-crítica: primeiras
Serviço Social) – Universidade aproximações. 10º ed. Campinas
Federal da Paraíba, 2010. – SP, Autores Associados, 2008.
MARX, Karl. ENGELS, Friedrich. SAVIANI, Demerval et al. As
Manifesto do partido comunista. transformações do capitalismo,
São Paulo, Boitempo, 2007. do mundo do trabalho e
____. A ideologia alemã. São Paulo, educação. In: LOMBARDI, J.C.,
Boitempo, 2007. SAVIANI, D. e SANFELICE, J.L.
MÉSZÁROS, István. A educação (orgs.). Capitalismo, trabalho e
para além do capital. São Paulo, educação. São Paulo, Ed. Autores
Boitempo, 2005. Associados, 3º Ed. 2005.

Abstratc

The article tries to do an overview of the discussions that are happening nationally in
the recasting of the Core Curriculum Benchmarks for Physical Education, placing it in
the states of Parana, Pernambuco, Bahia and, in particular, in Paraíba. Notes on the
discussions held in the states cited a tendency to build their curriculum frameworks
having as object the Body Culture. This proposal is the development perspective
omnilateral and affirms the historical and dialectical materialism as a theory of
knowledge. Recognizes the school as an instrument of struggle, to give evidence to a
better understanding of reality.

Keywords: Body Culture; School Physical Education, Curriculum Benchmarks Basic


Physical Education

Recebido: maio/2011
Aprovado: junho/2011.

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