Anda di halaman 1dari 10
“ALTO” / “BAIXO” O GROTESCO CORPORAL E A MEDIDA DO CORPO’ Resumo Enfocamos aqui, com 0 apoio da teoria de Bahktin que contempla e explica a festa popular, 0 riso e o corpo desmedido, que, por si proprio, remete a prineipios de transformagao e subversdo, de alegria ¢ liberdade, Tomando 0 universo de Rabelais, 0 te6rico russo situa a forga da parddia, 0 alto ¢ © baixo, o dislogo entre o social e 0 césmico. Aproveitamos para acrescentar formulagdes do historiador e medievalista Aaron Gurevich, que, por sua vez, sugere outras perspectivas a respeito do corpo grotesco e da ciséo oficial/popular. Também nos servimos da contribuigdo de Paul Zumthor, que, a0 tratar da voz, situa no movimento ¢ no inacabado a forga e a transformac3o do corpo enquanto linguagem. A partir dai, comentamos ¢ situamos alguns materiais da tadigao popular, Palavras-chave Alto/baixo; corpo desmedido; festa, historia do corpo, transgressio, carnaval Proj. Hist6ria, Sdo Paulo, (25), dez. 2002 Jerusa Pires Ferreira” Abstract Supported by Bakhtin’s theory that explains the popular festivity, this article focuses on the laughter and the unlimited body that, in itself, recalls principles of transformation and subversion, happiness and freedom. Based on Rabelais’ universe, the Russian theorist situates the force of parody, the high and the low, the dialog between the social and the cosmic. The article also brings formulations made by the historian and ‘medievalist Aaron Gurevich, who suggests other perspectives concerning the grotesque body and the official/popular scission. In addition, it presents the contribution of Paul Zumthor, who deals with the voice, situating in movement and incompleteness the force and transformation of the body as language. Based on this, the author comments on some materials of the popular tradition. Key-words HighMow; unlimited body; festivity; history of the body; transgression; carnival. 397 Por mais que se tenha lido e comentado 0 memorével ¢ extraordinario livro A cultura popular na Idade Média ¢ no Renascimento: 0 contexto de Francois Rabelais, de Mibkail Bakhtin,! 0 eco de suas formulacdes nao cessa de repercutir. No grande estudo sobre Rabelais, ele nos faz ver que scu objetivo é colocar em foco ta Iingua quase esquecida — a lingua de Rabelais, sua vi qual dialogam 0 alto ¢ 0 baixo”. Ele nos faz perceber que, sem essa lingua, nao podemos falar do Renascimento ¢ do Barroco, nem das utopias do Renascimento e de sua concepgao de mundo, e também nao podemos deixar de levar em conta a importancia do riso popular, ) carnavalizada do mundo. na que ele associa a energia restauradora. E Bakhtin nos mostra como no meio desse oceano infinito, quanto ao espago ¢ ao tempo. que nutre a totalidade de imagens de todas as litera ras. ¢ ainda o sistema de gestos ¢ o canone corporal que governam a arte ca literatura. aquele que corresponde as pakivras “decentes” dos tempos modernos é apenas uma ilha reduzida & limitada. Ele chega a nos A partir da recuperag iramo-nos diante de um repert6rio imenso de representacoes inventariad sempre renovadas e surpreendentes a cada nova leitura. Elas nos levam a estabelecer cone- as culturas falar de literatura oficial dos povos da Europa como um todo Jo que procurou fazer ¢ de scu modelo de interpretagao. encon- s ¢ discutidas. xOes com outros repertorios € procedimentos poéticos. sempre Vivos em nos: tradicionais ¢ também na cultura de ma , que se apropria da tradigdo, transformando-a. ou que devolve a ela, transfigurados, seus proprios clementos Convém, num primeiro momento, refletir sobre a forga desse livro tio querido ¢ dis- cutido, por muito estudado que tenha sido, ¢ que tem ainda tanto a nos dizer. O préprio Bahktin propde uma quantidade de sugestdes de estudo que inclui as relagdcs intersemid- ticas, a aten¢ao s imagens hipertrofiadas, a incorporagdo do social ao corporal, tendo 0 corpo como apoio ¢ linguagem. No seio de uma cultura popular, admitindo-se que hé uma assim configurada e defini- da, afirma-s controle exercido pelo mundo oficial, uma cultura que se quer subversiva pelo exercicio de tudo aquilo que desobedece ¢ desborda, de tudo 0 que 0 ultrapassa em seus limites Poderemos evocar aqui uma atinidade com algumas formulagdes de Nietzsche em O nascimento da tragédia,* quando se constréi toda uma memoria transbordante de ques- tionamentos € se crgue uma espécie de percep¢ao dion de contradoutrina. E esta, entao, a ocasido para se dizer que a cultura cOmica (popular?) & infinita. Nesta diregdo, Marcel Detienne? avanga com a apresentagio grandiosa que faz de Dyonisos. de seu corpo ambulante, com a cnergia das margens, como um Deus que nao se € uma concepgao do corpo, do riso ¢ do mundo que se opde ao sério ¢ ao ca do mundo, como uma espécie cansa de oscilar entre a presenca ¢ a auséncia. 398 Proj. Historia, Sao Paula, (25). dez. 2002 Acompanhando, no trabalho memoravel de Babktin, certas seqiiéncias que compro- metem 0 corpo, convém que ndo esquegamos o “Banquete” como situagao essencial, 0 papel atribufdo as tripas e a tudo o que se considera como 0 baixo corporal. Somos condu- zidos por Bahktin as imagens que aproximam natureza/cultura em suas metéforas, &meca- nica desta construgao c & relagio corporal e direta, que requer contigiiidade, como € 0 caso, por exemplo. das idéias de semente e de colheita: 0 corpo brotando, frutificando, amadurecendo, etc Surge aqui, e a partir do texto rabelaisiano, uma incessante construgao do drama corporal: comer, beber ¢ outras fungées naturais como transpiragdo, coito. gestagao, parto: o ciclo natural da vida, como crescimento, velhice, as doengas. a morte; & as praticas exercidas contra 0 corpo, como 0 esquartejamento, 0 esmigalhamento, a absor- Gao de um corpo pelo outro, enfim, o des aparecimento de um corpo antigo € 0 surgimen- to de um novo. numa concep¢ao gue aponta para principios escatolégicos de restauracao e renascimento. grotescas do corpo 6 colocada de for- A organizagao de todo um sistema de imagens ma tio bem sedimentada que, segundo Bahktin, cle vai predominar na lingua “nao oficial” : relacionam com dos povos, sobretudo as que s njlirias e 0 riso E instigante constatar. af também, toda uma dinamica ligada ao corpo grotesco, ao desmesurado ou ao transgressor — fecundante/fecundado, devorador/devorado. doente ou moribundo —, bem como uma grande ¢ detalhada lista de expressbes que concernem aos Orgaos genitais. ao trasciro, ao ventre. ete. Como se vé, Bahktin fez convergir do universo rabelaisiano um vasto conhecimento que ele proprio possuia dos textos medievais, de sua percepgao poética dos materiais, incluindo sua curiosa ¢ reveladora concepgao da sitira menipéia. Para ele, haveria um lastro subterrinco de uma cultura indomavel ¢ transbordante de derrisdo, transformadora ¢ radical. No mundo greco-latino, Menipo de Gadara, Luciano ‘a forma reversora na cultura, 0 que inclui a de Samosata e Apulcio teriam vinculado es inversio de valores ¢ 0 riso como possibilidade maior de transformagao. Aescolha do mundo de Rabelais foi muito significativa, como exercicio de liberdade de um autor, tanto no que toca a ituagdo de sua existéncia pessoal quanto a do universo tedrico que 0 cercava e coibia, Esse universo, comico, grotesco, méyel ¢ ao Mesmo tempo magico, seria depositiirio dos saberes. os mais diversos, sobre o homem ¢ 0 cosmo. Assim se desenvolve a concep¢ao priorizadora de um grotesco corporal. exagerado ¢ desmesurado, em oposigio a todo 0 equilfbrio paralizante. Proj. Historia, Sao Paulo, (25), dez. 2002 399

Anda mungkin juga menyukai