TEXTO DE APOIO A
TUI-NA II
ANO LECTIVO
2011/ 2012
CURSOS
DEPARTAMENTO DE MASSAGEM
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PROGRAMA DE TUI-NA I/II
3.1. Moxibustão (Jie): aplicação das diversas técnicas segundo áreas a tratar e
finalidades pretendidas.
3.2. Ventosaterapia (Ba Guan):
1
4.2. Dorsalsias (distensões, traumatismos, tensão muscular patológica);
6. Avaliação teórico-prática.
Sistema de Avaliação:
A comunicar pelo(a) formador(a) no início do ano letivo.
A nota final resultará da soma das notas das várias avaliações, sumativas ou
contínuas, de testes efectuados na instituição ou de trabalhos de pesquisa
propostos pelo(a) docente.
No caso de avaliação contínua, os parâmetros que constam da mesma são:
- Assiduidade;
2
Índice do presente volume
Capítulo 1
Patologias em MTC 5
Aquisições recentes aplicadas ao Tui-Na 6
Capítulo 2
Distensão lombar 7
Contraturas musculares nos transtornos dorsais 11
Espasmo muscular – o torcicolo 13
Capítulo 3
Hérnia discal lombar 16
Hérnia discal cervical 22
Capítulo 4
Tendinite do ombro 26
Epicondilite 29
Capítulo 5
Artrose do joelho 32
Técnicas manuais 24
Bibliografia 37
3
NOTAS PRÉVIAS:
4
Capítulo 1
Introdução às patologias
Patologias em M.T.C.
Aquisições recentes aplicadas ao Tui-Na
Patologias em M.T.C.
Todos os textos que contribuíram para a construção do Clássico do Imperador
Amarelo, bem como outros textos fundamentais que ajudaram a definir a M.T.C.,
relevam o envolvimento do Qi nas patologias. Os desequilíbrios na saúde terão
sempre por trás alterações na qualidade, quantidade ou distribuição do Qi no corpo
(ou em áreas deste). O que não é de admirar, dada a universalidade que o Qi tinha
conseguido – se “ele” está presente em tudo o que existe, então está forçosamente
envolvido nas doenças.
Mas um outro fluido está também comprometido com muitas patologias: o Sangue,
naturalmente. A tal ponto o Sangue é uma entidade fundamental no equilíbrio do
Ser Humano, que o seu nome original em mandarim, “Xue”, é muitas vezes usado
em outras línguas para reforçar a sua identidade.
1
A expressão “energias perversas” diz respeito a seis tipos de climas ou ambientes: frio, vento,
humidade, calor, fogo e secura. A ordem de apresentação não respeita nenhuma norma, é perfeitamente
arbitrária. A invasão destas energias no organismo pode dever-se à força delas mesmas, ou à baixa
defesa desse organismo, que se torna dessa forma permeável.
5
resto do corpo, mas também o apoio ao suave fluxo de Qi no organismo. O Baço, à
semelhança do Elemento a que pertence, governa os músculos e é responsável pela
boa nutrição destes. E seguramente não é de descurar o papel das emoções nas
patologias do corpo.
Nos capítulos que se seguem recuperaremos com mais detalhes estas funções para
podermos compreender a instalação e evolução no corpo de algumas patologias
musculoesqueléticas, que adiante abordamos. É evidente que fica de fora deste
manual um número infindável de outras patologias. A escolha baseou-se em alguns
critérios, como a respetiva epidemiologia (a presença ou disseminação de
determinada patologia nas populações) e uma resposta eficaz ao tratamento de
Tui-Na.
Como tal, é normal que o Tui-Na hoje em dia se socorra dos mais recentes estudos
de motricidade humana e dos contributos da fisiologia e da fisiopatologia, que cruza
depois com a visão chinesa. Também recorre muitas vezes a testes ortopédicos e
não negligencia o recurso a exames imagiológicos.
De realçar, por fim, que a grande vocação do Tui.Na é o tratamento e não tanto a
prevenção, ainda que esta possa beneficiar de sessões regulares para equilíbrio
energético. Pode também ser um instrumento valioso de apoio ao desporto, à
dança, à reabilitação motora e psicomotora.
6
Capítulo 2
Perturbações musculares
Distensão lombar
Contraturas musculares nos transtornos dorsais
Espasmo muscular – o torcicolo
Distensão lombar
Uma distensão muscular entende-se como um estiramento brusco de um músculo
até ao seu limite, sem chegar a produzir rutura. “Distensão” parece ser uma
expressão mais coloquial do que técnica nos meios académicos. Não são muitos os
autores que a empregam, talvez pelo facto da distensão ser o estágio anterior à
rutura muscular, mas não implicar rutura. Desta
Uma rutura muscular implica o
forma, nem sempre é classificada como lesão
2 rompimento de miofibrilhas ou de
muscular. João da Silva Rocha , no entanto, fibras musculares. Nestes casos
definia distensão como uma lesão, ainda que de os sintomas são mais intensos do
pequena repercussão funcional (Rocha, 1961). Em que os da distensão. A rutura
pode ser classificada como de
certas fontes, no entanto, distensão surge como
grau I, II ou III, conforme a
sinónimo de rutura. Talvez essa confusão se deva extensão dos danos.
ao facto de, muitas vezes, as ruturas moderadas
apresentarem sintomas semelhantes aos das distensões. Clinicamente pode mesmo
não ser fácil distingui-las. À frente veremos o que fazer perante esta dúvida.
Outra nota para mencionar que outras fontes, normalmente brasileiras, falam de
“estiramento” como sinónimo de distensão. Não está propriamente errado, mas o
estiramento, entre nós, costuma referir-se ao ato de alongar músculos de forma
controlada e com fins preventivos.
Mecanismos de lesão
2
O Prof. João da Silva Rocha foi um dos precursores da Medicina Desportiva em Portugal nos anos 60
do século passado.
7
AVDs3, como ao erguer um peso do chão, ao pegar uma criança no colo ou
simplesmente ao estirar-se para alcançar um objeto.
As distensões de que temos vindo a falar, seja qual for o episódio desencadeador,
são sempre agudas. No entanto, por vezes pode falar-se em distensão muscular
crónica, quando a repetição constante de ações ou posturas ao longo de anos
produz sintomas semelhantes, mas prolongadas no tempo.
3
Atividades de Vida Diária
8
Assim, nestes casos as dores não surgem subitamente após
um único movimento, são constantes mas mais suportáveis
do que nos casos agudos. Há também rigidez ao toque,
menos intensa, e limitação de alguns movimentos. O princípio
de tratamento será o mesmo dos casos agudos, com algumas
variações que mais à frente se expõem. Nos casos crónicos
devemos acautelar a possibilidade de este quadro estar também associado a
degenerações de algumas estruturas da coluna – o diagnóstico da distensão lombar
é um diagnóstico de exclusão, ou seja, deve ser
Doença aguda é aquela que excluídas outras lesões até se concluir ser um processo
produz sintomas e sinais
logo após a exposição à
exclusivamente muscular. O capítulo3 é esclarecedor
causa, tem evolução rápida quanto a este ponto.
e final em alguns dias ou
Na perspectiva da M.T.C., o que se pode concluir
semanas; a doença crónica
quanto a estes quadros clínicos? Desde logo devemos
produz sintomas e sinais
num período de tempo recordar que a deficiente nutrição dos tecidos com Qi e
variável, tem evolução
Sangue pode resultar em respostas ineficazes por parte
lenta e recuperação parcial
(Phipps, 1995).
dos músculos. Um Baço deficiente não os alimenta
eficazmente, enquanto uma estagnação de Qi do
Fígado impede que o Qi geral circule de forma satisfatória. As distensões por
esforço podem dever-se a um destes fatores, senão
mesmo à combinação de ambos.
Princípios de Tratamento
Se a causa foi o frio, deve aplicar-se calor o mais breve possível. A aplicação de
gelo nos casos de distensão por esforço não é prática corrente em M.T.C.,
preferindo-se a sangria com martelo de sete pontas sobre o músculo lesado. Em
9
situações de rutura muscular, aí sim, justifica-se o gelo, para limitar possível
hemorragia interna.
Se houver suspeita de que tenha havido rutura muscular, não se deve aplicar
ventosa nos dias seguintes à lesão. A moxa pode ser usada com excelentes
resultados nas invasões de frio e nas distensões crónicas.
10
Contraturas musculares nos transtornos dorsais
Mecanismos de lesão
Muitas das tensões que se projetam nos músculos dorsais têm origem emocional.
As acções que não são expressas no decurso de uma tensão emocional, ficam
retidas pelos músculos superiores das costas, mantendo aí linhas de tensão durante
tempo considerável (Denys-Struyf, 1995). Significa isto que quando agimos sob
stress, contraímos alguns músculos dorsais como apoio a um estado de alarme ou
semi-alarme, que tanto pode durar horas, como anos. Enquanto a situação que
gostaríamos de ver ultrapassada se mantiver, as costas continuarão a dar-nos um
fiel apoio, à espera da ação.
O problema é que muitas das situações que nos impacientam
não são resolvidas com gestos – um negócio que demora a
concretizar-se, uma zanga com um familiar, o trânsito
infindável que não nos permite chegar a horas, um filho
doente, são exemplos de situações que não se solucionam
com ação física. Ainda que às vezes nos apetecesse empurrar
da nossa frente ou simplesmente fugir.
11
Ou seja, algumas fibras musculares mantêm-se
Fadiga muscular designa
a incapacidade de um contraídas, mesmo quando não estamos já a lidar com o
músculo esquelético de desafio preocupante ou quando interrompemos o
gerar níveis de força
muscular elevados, ou de
trabalho cansativo. Isto é uma contratura muscular. Se
manter esses níveis no assim permanecerem, os tecidos tensos vão dificultar a
tempo. microcirculação local, e o resultado da respiração celular
não é varrido como devia, nem o aporte de oxigénio às
mesmas células se faz convenientemente. A respiração mais profunda ou com
prazer pode ficar afetada com certas contraturas.
Princípios de Tratamento
Num primeiro momento, as mãos posicionadas de cada lado da coluna vão exercer
força para baixo, na direção da marquesa, à medida que o paciente expira
longamente. Quando não se espera que saia mais ar dos pulmões, as mãos fazem
uma pressão extra, súbita, em direções opostas, para promover uma ligeira rotação
às vértebras que estão a sofrer a pressão. Pode ouvir-se um pequeno estalido
quando se dá uma correção.
12
Espasmo muscular - torcicolo
Mecanismos de lesão
13
Há ainda um quadro que convém distinguir do espasmo muscular, e que é
conhecido por tetania. Esta expressão deriva de “tétano”, por esta doença produzir
os tremores de que falamos agora, mas um estado de tetania não tem
necessariamente que estar associado ao tétano. Ele identifica um acesso de
espasmos generalizados (sobretudo nos músculos dos membros) e resulta de
perturbações no metabolismo do cálcio (hipocalcemia) ou redução do dióxido de
carbono no sangue (hipocapnia), quando há hiperventilação (quando se respira
ofegantemente, aumentam-se os níveis de oxigénio no sangue, mas reduzem-se os
de dióxido de carbono).
Nos dois últimos casos, não é de descartar a componente emocional como fator
desencadeante. No espasmódico, que, ao contrário do repentino apresenta
cronicidade, há ainda outras causas possíveis, desde logo ideopáticas (ou seja, da
natureza do próprio paciente e não identificável pela Ciência), mas também
alterações neurológicas, hipertiroidismo, psicoses, disquinésia tardia (movimentos
involuntários induzidos por medicamentos neuroléticos) ou tumores na região. Os
pacientes com este quadro manifestam muitas vezes também espasmos em outros
músculos, sobretudo da face. É, no entanto, mais raro do que o torcicolo repentino.
Este caracteriza-se por tensão que se instala subitamente e que afeta um ou mais
de três músculos: esternocleidomastoideo (ECM), trapézio superior, elevador da
omoplata. O ECM está invariavelmente presente em todas as formas de torcicolo.
Como dito anteriormente, este espasmo resulta muitas vezes da exposição a
condições climatéricas adversas (frio e/ou vento), definido em MTC como síndromes
Bi (ver quadro explicativo na página seguinte).
14
A mudança de local de sono pode implicar
Uma síndrome Bi (em português,
mudança do grau de humidade no ar. Uma janela “síndrome de obstrução”) refere-se
entreaberta numa noite supostamente quente ou ao bloqueio da circulação livre do
Qi em zonas bem definidas do
simplesmente um ombro descoberto quando se corpo (normalmente superficiais ou
dorme com o pescoço mal pousada na almofada pouco profundas) por parte dos
propiciam as condições para se acordar com fatores climáticos agressivos.
Princípios de Tratamento
Quiz – Desafio
1. Que sintomas iria descrever-lhe um paciente que tivesse sofrido uma
distensão lombar mecânica? E que quadro clínico iria apresentar?
15
Capítulo 3
Discopatias degenerativas
Mecanismos de lesão
Aqueles discos estão em constante estado de pré-carga: qualquer disco está sob
pressão considerável, mesmo quando não há acção de nenhuma força externa,
graças à PEO – pressão de enchimento osmótico (Watkins, 1995). Significa que um
disco saudável perde e ganha água constantemente, conforme é ou não sujeito a
16
carga (peso do corpo na vertical mais carga exterior adicional). A redução
fisiológica (leia-se “normal”) do disco serve de resposta a dois tipos de pressão:
prolapsem para fora dos limites do disco. A isto se chama hérnia discal.
A maior parte das lesões que produzem prolapso ocorre no exercício de carga com
a coluna em flexão ou em torção. Graças à orientação que o núcleo adota na flexão
da coluna lombar, quando ele prolapsa toma muitas vezes a direção póstero-lateral
17
(figura 5). Uma vez aí, esta hérnia pode afetar as raízes nervosas que partem da
medula através do buraco de conjugação próximo (figura 6). Isto ocorre com mais
frequência nos discos L4/L5 e L5/S1 (Adams e Hutton, 1982; Brinckmann, 1985,
apud Watkins, 1995), afetando, por isso, as raízes do nervo ciático, que “nasce”
desde a L4 até à S3. Uma hérnia no disco L3-L4 afetará o nervo femoral. Estes
compromissos radiculares (isto é, da raiz) podem ocasionar dor no trajeto dos
nervos e parestesias ou paresias nas extremidades (figura 8).
Fig. 5 – Orientação possível de uma hérnia Fig. 6 – Hérnia afetando uma raiz nervosa
discal em vista axial
18
A diminuição da altura do disco pode também
Parestesia é um distúrbio sensitivo
levar ao impacto extra-articular, isto é, ao que altera a qualidade informativa
impacto entre facetas articulares. Num segmento neural (formigueiros, perda de
sensibilidade, etc.). Paresia é um
motor saudável, elas sustentam cerca de 16% da distúrbio na resposta motora.
força de compressão vertical, mas passam a
cerca de 70% da mesma se o disco está degenerado (Adams e Hutton, 1980, apud
Watkins, 1995). O impacto extra-articular produz dor pontual, dor continuada ou
lesão das facetas, contribuindo para a degeneração das mesmas (figura 9). A
degeneração dos elementos de uma articulação toma o
nome de artrose (mais detalhes no capítulo 5), e no caso
de afetar as vértebras pode chamar-se espondilose.
Princípios de Tratamento
19
Kernig: em supinação, flexão passiva da cabeça com os joelhos flectidos e pés
apoiados na marquesa. Positivo se houver dor lombar ao alongar uma das pernas
(por estiramento da medula).
O tratamento passa por reduzir as dores locais com Rou e Gun estacionário e a
estimulação dos pontos sugeridos abaixo. A perna onde haja irradiação de dor pode
ser trabalhada com Na e com Gun ascendente. Percussões no calcanhar, na área
reflexa do ciático, também poderão ser eficazes. A ventosa pode ser aplicada no
lado contralateral da coluna, ao mesmo nível do disco lesado, ou no abdómen,
diametralmente oposta à lesão, com o intuito de a “puxar” para uma posição não
conflituosa com os tecidos envolventes, sobretudo as raízes nervosas.
No final do tratamento, a manipulação lombar oblíqua pode ser um recurso, se o
paciente não estiver num estado grave, como dificuldades motoras, perda total da
sensibilidade de parte de um membro, etc.
20
apoiado, e em sentido oposto empurra o tronco com o antebraço pousado no
extremo lateral do peito, sobre os pontos P1 e P2. No limite dessa torção, executa-
se um movimento súbito nessas direções opostas. Poderá ou não ouvir-se um
estalido, que denuncia redução de sub-luxação de vértebras lombares. No final,
tracionar e sacudir (técnicas bashen e dou) em decúbito dorsal.
Complemento da massagem:
Os pacientes devem observar alguns cuidados, quer nas fases agudas, quer nas
crónicas. Nas fases de dor, eles poderão repousar como sugerido na imagem 15. A
lombar fica aliviada de tensão, podendo até colocar-se sob ela uma bolsa de gel
aquecido. A imagem 16 expõe um fortalecimento dos músculos lombares que é fácil
de executar: de gatas, estendem-se simultaneamente uma perna e o braço
contrário. Após alguns segundos nesta posição, invertem-se os membros solicitados
a estirar. A imagem acrescenta uma barra de madeira longitudinal, que ajuda na
manutenção do equilíbrio, mas o exercício pode ser efetuado sem ela.
21
Hérnia discal cervical
Mecanismos de lesão
De facto, lombar e cervical têm responsabilidades diferentes, por isso as causas das
respetivas patologias podem também não ser as mesmas. Dada a sua localização
geográfica tão central, as vocações da lombar passam por absorção de impactos,
distribuição de forças, apoio à sustentação de vísceras, além de que, naturalmente,
tem de suportar mais peso do que os segmentos da coluna que estão acima. São
tarefas mais “musculadas”. A cervical, por outro lado, em termos de carga,
sustenta apenas a cabeça. Tem maior amplitude de movimentos do que a sua
congénere lombar, porque não tem de dar suporte a vísceras. Os seus músculos
são relativamente curtos e delgados.
Podemos pensar, então, que, havendo muito menos carga sobre a cervical, não se
compreende como pode ela ser residência de hérnias discais. De facto, a causa dos
desgastes discais cervicais não estará na carga, ao contrário da lombar. Mas se nos
recordarmos que os seus discos são mais finos do que os de outros segmentos e de
que ela possui os mais elevados graus de amplitude da coluna em extensão, flexão
lateral e torção, só sendo “batida” na flexão anterior pela dorsal, perceberemos que
há certas vulnerabilidades próprias que a tornam alvo de desgastes.
Assim, uma das causas que mais contribui para esta lesão é simplesmente a
postura. Por exemplo, a cervical deve compensar possíveis hipercifoses ou
escolioses dos segmentos subjacentes a ela. A horizontalidade da visão e o sistema
vestibular exigem que a cabeça se
mantenha na vertical. Pequenos músculos
acessórios à coluna cervical corrigem
constantemente, se estiverem saudáveis,
a posição da cabeça para que o mundo
físico nos pareça em ordem. Mas estas
ações sobrecarregam esses pequenos
músculos, e a tensão pode tornar-se
crónica, fazer parte do dia-a-dia do
indivíduo.
22
Fig. 17.a – Posição incorreta ao computador Fig. 17.b – Posição correta ao computador
23
Fig. 19 – Áreas de dor reflexa por compressão das raízes nervosas
Princípios de Tratamento
Fig. 20.a – Spurling vertical Fig. 20.b – Spurling com flexão lateral
massagem.
24
Manipulação cervical oblíqua: com o paciente sentado, o terapeuta posiciona-se por
trás, segurando-lhe simultaneamente a base do crânio e a mandíbula. Desta forma,
pode rodar-lhe a cabeça lentamente durante alguns segundos. Depois de parar, o
terapeuta promove uma flexão da cabeça à frente (cerca de 30), e roda-a até ao
seu limite fisiológico para o lado da mão que seguira a mandíbula. Uma vez aí, com
um gesto seco traciona a cabeça um pouco além desse limite, soltando-a de
seguida. É possível ouvir-se um estalido na cervical.
Quiz – Desafio
1. Resumidamente, o que é a PEO dos discos intervertebrais?
3. Que nervos são mais provavelmente afetados numa hérnia discal lombar
que produza dor irradiada?
25
Capítulo 4
Lesões tendinosas
Tendinite do ombro
Epicondilite
Tendinite do ombro
Antes de mais, importa definir o termo “tendinite”: ele significa tão simplesmente
uma inflamação num tendão. De novo impõem-se outra definição: o que é uma
inflamação? Ela é, basicamente, uma resposta ou reação do organismo a uma
agressão, no sentido de isolar a zona lesada e, se necessário, destruir e diluir o
agente lesivo e/ou as células destruídas durante o processo.
Esta resposta, normalmente localizada, ocorre
apenas em tecidos vascularizados. Isto porque os
agentes reativos (que desencadeiam a resposta
inflamatória) convivem no sangue ou próximo dele,
seja a grande família dos leucócitos, sejam outras
células que medeiam o processo inflamatório. Estes
agentes têm funções diferentes entre si: uns
alargam a permeabilidade dos tecidos (por isso há
muitas vezes edema na região), outros aumentam a
elasticidade da pele, uns destroem o tecido lesado
para que outros o “devorem” e processem. E há
finalmente os que produzem tecido cicatricial para
reparação da zona. Fig. 22 – Tendinite do Aquiles
Mecanismos de lesão
26
De entre os músculos que ajudam a
estabilizar esta articulação, destacam-se
quatro: supraespinhoso, infraespinhoso,
pequeno redondo e subescapular. Eles
possuem inserções muito próximas entre si
na tuberosidade maior do úmero. Tão
próximas, que se assemelham a uma
pequena manga que envolve parte da cabeça
do úmero, e que dá o nome de “manguito
rotador” a este grupo muscular (por vezes
também chamado “coifa dos rotadores”). A
figura 23 esquematiza, ainda que de forma
pouco precisa, a distribuição dos tendões
destes quatro músculos na tuberosidade
maior do úmero. Mas a imagem ajuda a
perceber a localização daquelas inserções e
Fig. 23 – Manguito rotador
como elas cobrem aquela área óssea.
O nome “rotador” advém do facto destes músculos promoverem a rotação externa
do braço (à exceção do supraespinhoso, que abordaremos com mais detalhe de
seguida).
27
Eles perdem, então, a habilidade de suster a
cabeça do úmero na sua relação glenoidal
ideal, devido a disfunções nos seus órgãos
tendinosos de Golgi, o que leva à migração
superior da cabeça do úmero, produzindo a
chamada “síndrome de impacto”. Na abdução,
a grande tuberosidade do úmero, por se
destacar morfologicamente, passa a trilhar os
tecidos contra a superfície inferior do acrómio,
agravando a tendinite.
Qualquer inflamação tendinosa pode acometer também a película sinovial que
envolve o tendão, e aí toma o nome de tenossinovite. No caso do ombro, e graças
à mecânica explicada atrás, uma bolsa de líquido sinovial, a bursa subacromial,
pode também ser afetada pela síndrome de impacto e inflamar. A este processo
patológico dá-se o nome de bursite.
Por vezes, a porção longa do tendão do bíceps braquial pode estar também
inflamada, uma vez que ela se “dirige” para a glenóide, para se inserir
imediatamente acima dela, numa pequena extensão do labrum.
Princípios de Tratamento
28
segurando o antebraço, resistirá. A presença de dor na face anterior do ombro
denunciará lesão na porção longa do bíceps.
Uma tendinite em fase aguda não aconselha a moxa, mas a ventosa poderá ser
usada com vantagens, sobretudo sobre as inserções (face ânterolateral da cabeça
do úmero) e sobre o supraespinhoso. Rou e Gun vão ser importantes para diminuir
a dor e recrutar os agentes anti-inflamatórios do próprio organismo, como as
endorfinas. São também úteis para eliminar as estagnações locais de Sangue.
Epicondilite
A epicondilite é uma forma de tendinite que afeta as inserções musculares que o
epicôndilo umeral possui. Tal como no caso do manguito rotador, também aqui há
vários músculos com inserções muito próximas entre si. São eles o extensor radial
curto do carpo, o extensor cubital do carpo, o extensor comum longo dos dedos e o
extensor do dedo mindinho. Já se depreende que a lesão poderá ter na origem a
solicitação excessiva da extensão de dedos da mão ou da própria mão.
Mecanismos de lesão
29
mas quase todos os tenistas passam por esta experiência, o que fundamenta
aquela expressão.
Princípios de Tratamento
Geralmente, as tendinites podem ser detetadas com testes ortopédicos, porque elas
comprometem fortemente a ação de músculos. É o caso da epicondilite.
Testes neurofisiológicos para a epicondilite:
O trabalho deve incidir sobre o epicôndilo e próximo dele, sobre as fibras dos
músculos extensores. A técnica Bo, ainda que dolorosa, tem aqui vantagens
acrescidas. Uma pequena ventosa, com ou sem sangria, também pode ser usada.
30
Pontos energéticos favoráveis:
Complemento da massagem:
Quiz – Desafio
1. Defina tendinite.
31
Capítulo 5
Degenerações ósteo-articulares
Artrose do joelho
Artrose do joelho
No capítulo 2 tínhamos referido que as distensões lombares poderiam ser mais
frequentes em quem tenha degenerações da coluna lombar. No capítulo 3 falamos
da degeneração de estruturas importantes da coluna, os discos intervertebrais. No
presente capítulo recuperamos o tema das degenerações ósteo-articulares (ou seja,
das artroses), para abordarmos com ênfase
particular as do joelho, articulação ainda não
referida neste manual, e tantas vezes alvo deste
tipo de patologias.
Mecanismos de lesão
32
semilunar ou unciforme (referida na página 23). Esta estrutura aumenta as áreas
vulneráveis a desgaste das vértebras cervicais, e que, a ocorrer, será designada de
“uncartrose”.
Para dar estabilidade a esta articulação, existem mais de dez ligamentos naquele
espaço de alguns centímetros quadrados. E para proteger todas as estruturas de
atrito existem umas seis bursas e uma prega sinovial extensa.
33
destas numa estrutura tão importante como são os membros inferiores, poderia pôr
em causa a estabilidade bípede (sobre dois pés). As leis da física dizem-nos que
uma peça inclinada 14 ou mais apoiada sobre outra que está praticamente vertical,
vai seguramente colapsar. Ou seja, os nossos joelhos quebrariam para dentro, um
na direção do outro.
Mas isso não acontece, graças a músculos tensos existentes na face lateral da
coxa: os tensores da fáscia lata. Eles têm suficiente força para tracionar os joelhos
lateralmente, impedindo desta forma que os joelhos choquem medialmente. Nas
mulheres cujas ancas alargam, o ângulo Q, que numa primeira fase aumenta
porque os fémures inclinam ainda mais, vai
diminuir por ação dos tensores. Estes vão puxar Quando os joelhos se afastam um
mais ainda os joelhos para fora (genu varo), do outro, diz-se que estamos na
promovendo o desenho que a figura B da imagem presença de genu varo. Quando
eles se aproximam, esse
32 mostra. Desta forma, as faces mediais de fémur
fenómeno chama-se genu valgo.
e tíbia vão sofrer compressão e provável desgaste.
Já vimos que as causas da gonartrose podem ser mecânicas, bioquímicas ou
mistas. A seguir enumeram-se os vários fatores desencadeadores:
a) Uso abusivo da articulação durante um período considerável da vida ativa;
34
Princípios de Tratamento
Complemento da massagem:
35
Quiz – Desafio
4. O que é o ângulo Q?
36
Bibliografia do presente volume:
CHAITOW, Leon, DeLany, Judith Walter, 2006, Aplicacion Clínica de las Técnicas
Neuromusculares. Badalona, Ed. Paidotribo.
CIPRIANO, Joseph J., 2005 [1999], Manual Fotográfico de Testes Ortopédicos e
Neurológicos. São Paulo, Ed. Manole.
COOPER, Grant, 2006, Pocket Guide to Musculoskeletal Diagnosis. New York,
Humana Press.
CUNHA, Antônio A., 1996, Ventosaterapia, 2ª ed. São Paulo, Ícone Editora.
DENYS-STRUYF, Godelieve, 1995, Cadeias Musculares e Articulares – O Método
G.D.S. 4ª ed. São Paulo, Summus Editorial.
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