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BIO

COMBUSTÍVEIS
Mercado, desafios
e perspectivas

SUSTENTABILIDADE XIX SINAFERM ECONOMIA


Engenharia Avanços na área de Produção de
química na palma pesquisas e diferentes biodiesel a partir
da mão abordagens sobre de borra de refino
bioprocessos de óleo de soja
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Todos equipamentos XOS aqui apresentados são compatíveis com a ASTMD7039-13 e ASTMD2622 que regulamenta o método padrão
para Enxofre na Gasolina, Diesel, Querosene de Aviação, Petróleo, Querosene, Biodiesel, misturas de biodiesel e
misturas gasolina-etanol por comprimento de onda monocromático dispersivo de Raios-X.
MENSAGEM DO
MENSAGEM DO PRESIDENTE
PRESIDENTE

A
realidade da produção de energia, versidade Federal da Bahia e aprovada
principalmente a de matriz fóssil, em um concurso para engenheiro de pro-
tem sido pródiga em novas e re- cessamento júnior, Camila não pode com-
veladoras discussões para os tempos atu- parecer cerimônia de entrega do Prêmio
ais. Há muitos anos que não assistíamos Incentivo porque já estava no Rio de Ja-
a debates tão calorosos como nos últimos neiro e trabalhando na própria Petrobras.
10 anos. Ampliando a sua inserção nas faculdades
O Brasil de hoje, com seus recursos tec- e universidades, estamos retomando a
nológicos e investimentos pesados, quer atuação do Professor ABEQ, um importan-
Prezadas e Prezados leitores,
chegar a extrair diariamente 1 milhão de te elo entre os estudantes de Engenharia
barris desse petróleo, que está entre 5 Química e a nossa associação. Professora
Nestadeedição
mil e 7 mil metros da REBEQ,
profundidade numa apresentamos interessantes
e também gestora artigos
da Faculdade sobre
de Enge-
um dos temas que mais chamam a atenção de nossas Universidades,
longa faixa do oceano Atlântico. nharia Química da Unifesp no campus de
Centros de Pesquisa e Indústria.
Mas enquanto nos debruçamos sobre o Diadema, cidade na Grande São Saulo, a
Os biocombustíveis têm assumido papel relevante na matriz energé-
pré-sal, inclusive com os mais variados doutora em Engenharia Química Patrícia
tica nacional e mundial. São muitas as alternativas desenvolvidas, como
incentivosoàsetanol e o nacionais,
empresas biodiesel, vêm de Fazzioainda
e certamente Martins
há émuito
a maisque
nova
seintegrante a
desenvolver
em relação
outras partes do mundoàs matérias-primas, rotasparte
as notícias das fazer de produção e logística
desse projeto em toda a
da ABEQ.
cadeia de produção.
conquistas inacreditáveis sobre a explora- Na Unifesp- Diadema, a professora Patrí-
Neste
ção do gás de xisto,mesmo
o shalediapasão, apresentamos
gas. Os su- cia relata temas relacionados
que, em tão pouco às questões
tempo de
ambientais e, na sessão Palma da Mão, abordamos a sustentabilidade.
cessos já são visíveis nos Estados Unidos, oferta da carreira de Engenharia Química,
com o produtoNão deixem de aler
já substituindo outros
queima derelevantes
o clima artigos técnicos
é de surpresa e novidades
e descobertas que
para
estão brotando de nossas Universidades. Nossas futuras Engenheiras
carvão para a geração termoelétrica. os alunos matriculados e os professores
e Engenheiros Químicos estão, a cada dia, mostrando sua competência e 
comprometimento
Ao lado dos norte-americanos,com maiso qua- contratados.Funcionando
desenvolvimento não apenas dedesde
suas 2007, o
carreiras,
tro paísesmas
estãotambém
definidosdacomo
própria Engenharia
os donos cursoQuímica
teve umanacional.
aceitação tão positiva que
das maiores Apresentamos também
reservas, com China, de 50 vagas
um sumário
Méxi- de uminiciais hoje jámais
dos eventos são marcan-
100 e
co, Áfricates
do na
Sulhistória da nossa
e a vizinha Associação,
Argentina. o XIXturnos,
em dois Sinaferm – Simpósio
diurno Nacional
(10 semestres) e
de Bioprocessos e X Simpósio denoturno
Hidrólise
(12 Enzimática
semestres). de Biomassa em
Ainda faltam muitos avanços nessa ex-
Foz do Iguaçu em 2013.
ploração, mas eles, ao final, se rivalizarão Como poderão ler nesta edição, a carreira
com o petróleo e gás do pré-sal, inclusive de Engenharia Química, de uma forma ou
na questão deUma boaTeremos
preços. leitura. que espe- de outra, do pré-sal às salas da acade-
rar mais novidades para termos uma real mia, das oportunidades na indústria ou
Edson Bouer, diretor presidente da ABEQ
perspectiva desse futuro, claro. nas estratégias dos grandes investidores,
Como o grande tema da REBEQ deste tem estado sempre em evidência e com
período é o petróleo, para nós foi uma interesse renovado, o que já marca even-
feliz coincidência a história da estudante tos estudantis ou o nosso Cobeq 2014,
Camila Ramalho Almeida, uma das ven- que será realizado em Florianópolis.
cedoras do nosso Prêmio Incentivo, ini- Vamos falar mais disso na próxima edi-
ciativa com apoio da Braskem, Henkel, ção, com certeza.
Oxiteno e Petrobras. Formada pela Uni- Agora, boa leitura a todos.

Edson Bouer, diretor presidente da ABEQ

www.abeq.org.br Revista Brasileira de Engenharia Química I 2º quadrimestre 2013 3


www.abeq.org.br Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 3
ÍNDICE
BIO
COMBUSTÍVEIS
Mercado, desafios
e perspectivas

REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA QUÍMICA


SUSTENTABILIDADE
Engenharia
química na palma
da mão
XIX SINAFERM
Avanços na área de
pesquisas e diferentes
abordagens sobre
bioprocessos
ECONOMIA
Produção de
biodiesel a partir
de borra de refino
de óleo de soja
Volume 29 • Número 3 • 2013 • 3º quadrimestre Nesta Edição
GESTÃO 2012 - 2014
Matéria de Capa��������������������������������������6
CONSELHO SUPERIOR
Carlos Eduardo Calmanovici, Eduardo Mach Queiroz, Fernando Baratelli Júnior, Biocombustíveis: mercado, desafios
Flávio Faria De Moraes, Gerson De Mello Almada, Gorete Ribeiro De Macedo,
Marcelo Faro, Milton Mori, Selene M.a.g. Ulson De Souza, Raquel De Lima C. e perspectivas
Giordano, Marcelo Martins Seckler

DIRETORIA
Edson Bouer - Diretor Presidente Entrevista��������������������������������������������� 12
Gorete Ribeiro de Macedo - Diretora Vice-Presidente
Denise Mazzaro Naranjo - Diretora Vice-Presidente Prêmio Incentivo à Aprendizagem
Maria Cristina S. Nascimento - Diretora Vice-Presidente reforça autoconfiança pessoal e pro-
Suzana Borschiver - Diretora Secretária
David Carlos Minatelli - Diretor Tesoureiro fissional dos estudantes, diz vence-
REGIONAIS dora da Poli-USP
Bahia
Luciano Sérgio Hocevar - Diretor Presidente
Ricardo de Araújo Kalid - Diretor Vice-Presidente
Artigos������������������������������������������������� 15
Pará Engenharia química na palma da
Pedro Ubiratan O. Sabaa Srur - Diretor Presidente
Fernando Alberto de Souza Jatene - Diretor Vice-Presidente
mão — sustentabilidade
Pernambuco
Maurício A. Motta Sobrinho - Diretor Presidente Plataformas de biorrefinaria:
Laísse C. de A. Maranhão - Diretora Vice-Presidente
a busca incessante pelo
Rio de Janeiro
Ricardo Medronho - Diretor Presidente
desenvolvimento contínuo
Argimiro Resende Secchi - Diretor Vice-Presidente

Rio Grande do Norte Avaliação de pré-viabilidade técnica


Ana Lúcia de Medeiros Lula da Mata - Diretora Presidente
Everaldo Silvino dos Santos - Diretor Vice-Presidente
e econômica de produção de
Rio Grande do Sul
biodiesel a partir de borra de refino
Heitor Luiz Rossetti - Diretor Presidente de óleo de soja
Jorge Otávio Trierweiler - Diretor Vice-Presidente

São Paulo
Maria Elizabeth Brotto - Diretora Presidente
SEQEP: apresentando o mercado
Henrique José Brum da Costa - Diretor Vice-Presidente para estudantes
Diretoria Convidada
Antonio J. G. Cruz - Danniel Luiz Panza - Eric Yuko Minami Taga - Hely de Andrade
Júnior - João Bruno V. Bastos - Mayra C. Matsumoto - Paulo Takakura - Raquel
XIX SINAFERM e X SHEB
Lemos Bouer - Reinaldo Giudici - Ricardo da Silva Seabra

Secretaria Recursos financeiros para o setor de


Supervisora Administrativa: Bernadete Aguilar Perez
Secretaria: Anderson Rogério da Silva petróleo e gás
Secretaria Geral ABEQ
Rua Líbero Badaró, 152 - 11º andar - Centro Resistência específica do material
01008-903 - São Paulo - SP
Fone: (11) 3107-8747 - Fax: (11) 3104-4649 sedimentado em ensaio de Jar Test,
E-mail: abeq@abeq.org.br obtido com a adição de lodo de
REBEQ – REVISTA BRASILEIRA DE ENGENHARIA QUÍMICA Estação de Tratamento de Água
Editor Responsável
Edson Bouer

Redação, Edição, Revisão e Coordenação


Zeppelini Editorial / Instituto Filantropia
Rua Bela Cintra, 178 - CEP: 01415-000 - Bela Vista - São Paulo (SP)
Tel.: (11) 2978-6686 / Email: zeppelini@zeppelini.com.br

Capa
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Produção
Zeppelini Editorial / Instituto Filantropia

A Revista Brasileira de Engenharia Química é uma publicação da ABEQ, registrada


no INPI sob o número 1.231/0663-032.
De periodicidade quadrimestral a REBEQ tem circulação nacional, distribuída aos
associados e profissionais da área de Engenharia Química.
A reprodução de seu conteúdo, total ou parcial, é permitida exclusivamente com
menção à fonte.
Os artigos assinados e declarações de entrevistados são de inteira responsabilidade
de seus autores.

Tiragem desta edição é de 4.500 exemplares.


MATÉRIA DE CAPA

Biocombustíveis:
mercado, desafios e perspectivas
Por Silvio Francisco dos Santos1, Suzana Borschiver2, Vanderléa de Souza1

de litros em 2010 (Figura 1 – IEA,


Introdução pois diversas oleaginosas adaptam-se 2011). Brasil e Estados Unidos são
a regiões específicas do País, apre- os principais produtores mundiais de
Os biocombustíveis são uma im- sentando-se, assim, como uma opção etanol, mas a taxa de crescimento da
portante fonte de energia renovável e econômica para as regiões mais pobres produção brasileira tem sido menor do
têm sido usados principalmente nos (MDIC, 2006). Neste artigo discutire- que a dos americanos. Em 2010, os
setores de transporte e geração de mos algumas questões associadas ao Estados Unidos produziram quase três
energia, com uma relevante participa- mercado, aos desafios e às perspecti- vezes a quantidade de etanol produzida
ção na matriz energética nacional. Um vas dos biocombustíveis. pelo Brasil.
dos aspectos mais importantes dos Cerca de 3% da produção mundial
biocombustíveis é a sua capacidade de O mercado dos é utilizada pelo setor de transporte ro-
funcionar como uma alternativa para biocombustíveis doviário. No Brasil, essa proporção é de
compensar efeitos negativos provoca- 21%, enquanto nos Estados Unidos é
dos pela liberação de gases de efeito A produção mundial de biocombus- 4% e na Europa, de 3% (IEA, 2011).
estufa. Além disso, os biocombustí- tíveis passou de 16 bilhões de litros Embora América do Sul e Ásia
veis têm uma forte motivação social, em 2000 para mais de 100 bilhões tenham aumentado sua produção

6 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


anual de biocombustíveis, a América (bioetanol, biometanol, biodiesel e aos níveis de demanda verificados até
do Norte e a Europa tiveram uma re- bioaditivos) e dos biocombustíveis janeiro de 2006. De acordo com o
dução em sua produção. A produção sólidos (madeira e resíduos sólidos) Ministério das Minas e Energia, parte
brasileira de biocombustíveis cresceu cresceu a taxas de 10,6% e 1,4%, res- desse crescimento se deve ao aumen-
2,4% em 2012, enquanto nos Estados pectivamente (IEA, 2013), conside- to da frota de veículos que, em 2013,
Unidos houve uma redução de 4,3%. rando as fontes renováveis. Nos países foi de 6,5%, quando houve o registro
Como resultado, em 2013 foi regis- da Organização para a Cooperação e o recorde de mais de 3,3 milhões de
trado o primeiro declínio desde 2000, Desenvolvimento Econômico (OCDE) veículos (MME, 2014). Atualmente,
tendo a produção mundial diminuído os biocombustíveis líquidos apre- a frota estimada de veículos leves do
em 0,4% em 2012 (BP, 2012). A pro- sentam a maior taxa de crescimento Brasil é de cerca de 35 milhões de
dução mundial de etanol caiu pela se- entre as fontes de energia renovável, unidades (Tabela 1).
gunda vez, tendo reduzido 1,7% em tendo crescido no período de 1990 a A matriz energética brasileira é
2012. Por outro lado, a produção de 2012 a uma taxa de 49,8%, seguido caracterizada pela forte presença de
biodiesel cresceu 2,7%, dobrando nos da energia fotovoltaica, que cresceu energia renovável (Figura 3). De acor-
últimos cinco anos. Atualmente o bio- a uma taxa de 46,9%, e da ener- do com as expectativas do Governo
diesel contribui com 31% da produção gia eólica, com uma taxa de 23,1% Federal, até 2030 a participação das
total de biocombustíveis no mundo (IEA, 2013). energias renováveis deverá alcançar
(BP, 2012 – Figura 2). No Brasil, a evolução da demanda 42,4% (MME, 2013), sendo os bio-
No período de 1990 a 2011, o su- mensal por combustíveis apresentou combustíveis um dos principais res-
primento dos biocombustíveis líquidos um crescimento de 100% em relação ponsáveis por esse cenário.
Essa configuração da matriz ener-
gética brasileira é superior à da matriz
120 mundial, em que a participação de
renováveis alcança 13% (IEA, 2013),
100
sendo que os biocombustíveis, tam-
80 bém nesse caso, têm uma importan-
te participação de 9,7%. Nos países
60
Outro biodiesel da OCDE, os combustíveis renováveis
40 Biodiesel da OCDE/Europa representam 8,5% da matriz energéti-
Outro etanol ca, sendo os biocombustíveis respon-
20
Etanol EUA sáveis por 4,7% do suprimento total
0 Etanol Brasil de energia do bloco (IEA, 2013).
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Fonte: IEA, 2011. Mercado de etanol


Figura 1. Produção mundial de biocombustíveis (2000-2010).
No Brasil, o percentual de mistu-
ra do etanol anidro na gasolina está
atualmente em 25%. De acordo com
o Governo (MME, 2013), o uso do
Resto do mundo 60
América Europa e Eurásia etanol na gasolina beneficia toda a
América do Sul e Central cadeia produtiva, pois possibilita a
América da Norte comercialização de um combustível
40
de alto valor agregado e reduz as im-
portações de gasolina, além de possi-
bilitar uma redução de cerca de 0,5%
20
no preço da gasolina C (combustível
resultante da mistura).
É importante mencionar que, em-
02 04 06 08 10 12 0
bora as perspectivas de aumento da
Fonte: BP, 2012.
produção de etanol sejam promisso-
Figura 2. Produção global de biocombustíveis (milhões de toneladas). ras — por exemplo, em 2013 foram

Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 7


Tabela 1. Os números do setor de biocombustíveis no Brasil (2011-2012). produzidos 27,2 bilhões de litros de
Etanol Biodiesel etanol, sendo 11,5 bilhões de etanol
2011 2012 2011 2012 anidro e 15,7 bilhões de hidratado
(MME, 2014) —, existem riscos as-
Produção (safras 2011/2012 e 2012/2013 –
22,8 23,5 n.d n.d sociados à insuficiência na oferta do
milhões de m³)
etanol, como a que ocorreu em ou-
Produção (ano civil – milhões de m³) 22,9 23,5 2,7 2,7
tubro de 2011, quando houve uma
Consumo de combustível (milhões de m³) 20,6 19 2,7 2,7
necessidade de redução no percentual
Exportações (milhões de m³) 1,96 3,10 - - de mistura (MME, 2013).
Importações (milhões de m³) 1,15 0,50 - - Do total de etanol produzido em
Preço médio no produtor – EH e B100* (R$/L) 1,21 1,12 2,21 2,41 2013, 2,9 bilhões de litros foram ex-
portados e geraram receitas da ordem
Preço médio no distribuidor – EH** e B5** (R$/L) 1,93 1,94 1,77 1,86
de US$ 1,87 bilhão, embora esse
Preço médio no consumidor final – EH e B5 (R$/L) ** **
2,19 2,21 2,01 2,09 volume represente uma redução de
Capacidade de produção instalada nominal 6,45% em relação ao volume expor-
n.d n.d 6,0 6,9
(milhões de m³) tado em 2012 (MME, 2014). No ou-
*Inclui tributos federais; **Com todos os tributos. tro lado da balança, as importações
Fonte: Ministério das Minas e Energia (MME), 2014. de etanol somaram, em 2013, um vo-
lume acumulado de 130 milhões de
litros, que custaram aproximadamen-
Nuclear te US$ 91,6 milhões. Isso representa
1,5% Carvão mineral
Gás natural
e coque
um custo médio anual de aproximada-
11,5%
5,4% mente US$ 0,70 por litro. No último
mês de 2013, o custo médio alcançou
Cana-de-açúcar e
derviados: 15,4% aproximadamente US$ 0,51 por litro
(MME, 2014).
Energia hidráulica: A produção mundial de etanol
Petróleo Renováveis 13,8% tem crescido, dando um salto sig-
39,2% 42,4%
Lenha e carvão nificativo a partir de 2000 até al-
vegetal: 9,1%
cançar, em 2011, a marca dos
Outras fontes de
renováveis: 4,1% 86,08 bilhões de litros produzidos
(Figura 4 – EPI, 2014).
Fonte: Ministério das Minas e Energia (MME), 2013. Dez países respondem por 96%
da produção global de etanol, sendo
Figura 3. Fontes renováveis na matriz energética brasileira.
os Estados Unidos o maior produtor
mundial, com 54,2 bilhões de litros.
90,00
O Brasil, segundo maior produtor
80,00
Nota: Dados de 2012 são uma projeção mundial com 21 bilhões de litros, res-
ponde por cerca de ¼ da produção
70,00
mundial do biocombustível.
60,00
Bilhões de litros

50,00
Mercado de biodiesel
40,00
30,00 Existem atualmente (junho de
20,00 2014) no Brasil 58 usinas produtoras
10,00 de biodiesel, cuja capacidade insta-
0,00
lada, autorizada a operar comercial-
1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 2015 mente, ficou em 7.542 mil m3/ano
Fonte: F.O. Licht; Worldwatch (EPI, 2014).
em dezembro de 2013, sendo que
79% dessa capacidade está localiza-
Figura 4. Produção mundial de etanol (1975-2012). da nas regiões Centro-Oeste (44%)

8 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


biodiesel é produzido com canola e
25,00 óleo de soja (KERCKOW, 2010).
Nos Estados Unidos, a mistura
20,00 mais comum é a B20 (20% de bio-
diesel e 80% de diesel de petróleo).
Bilhões de litros

15,00 De acordo com o departamento de


energia daquele país, essa mistura
10,00 é a que apresenta o melhor balanço
entre custos, emissões, desempenho
5,00 em climas frios, compatibilidade com
os materiais e habilidade de agir como
0,00 solvente (DOE, 2014). Na Europa, o
1990 1995 2000 2005 2010 2015 biodiesel é comercializado em mistu-
Fonte: F.O. Licht; Worldwatch (EPI, 2014). Nota: Dados de 2012 são uma projeção.
ras que variam entre 5% e 7%, mas
veículos destinados a transporte de
Figura 5. Produção mundial de biodiesel (1991-2012). carga podem usar uma mistura com
até 30% de biodiesel. Também é per-
e Sul (35% – MME, 2014). Essa pequena redução na produção, esti- mitido o uso do B100 (100% biodie-
capacidade de produção é maior do mada em 24,95 bilhões de litros. Em sel), desde que sejam feitas modifi-
que toda a produção acumulada em 2008 a produção global atingiu 18,8 cações em filtros e componentes de
2013, que foi de 2.930 mil m3, o que bilhões de litros, o que representa um borracha dos motores (EBB, 2013).
revela a existência de uma substancial crescimento global de 32% no perío- Visando aumentar ainda mais sua
capacidade ociosa e uma situação em do de 2008 a 2011. produção e seu consumo, em julho
que as empresas usam somente 39% De acordo com os dados de 2011, de 2014 o Governo Brasileiro autori-
de todo o seu potencial de produção. os Estados Unidos são os líderes zou o aumento da mistura de biodiesel
Essa capacidade ociosa do setor po- mundiais na produção de biodiesel, no diesel para 6%, e em novembro de
deria ser reduzida, caso a mistura de com uma produção de 3,7 bilhões 2014 para 7%. Com essa medida, es-
biodiesel no diesel fosse elevada para de litros naquele ano, seguido pela pera-se que haja um aumento na pro-
7%. Nesse caso o consumo passa- Alemanha, com 3,67 bilhões de li- dução e redução nas importações de
ria dos atuais 2,93 bilhões de litros tros. Brasil e Argentina também têm diesel, com impactos positivos para a
para 4,2 bilhões de litros em 2014 produção acima de três bilhões de balança comercial. De acordo com o
(Reuters, 2013). litros, sendo os principais produtores Governo, o aumento da mistura não
Em 2013, a produção nacional de na América Latina. produzirá um impacto significativo na
biodiesel alcançou o volume de 2,930 O biodiesel pode ser produzido a inflação, pois a ampliação da produ-
bilhões de litros, o que representa um partir de diversas matérias-primas, ção de biodiesel aumentará a oferta de
crescimento de 7,8% em relação à como óleos vegetais, gorduras ani- farelo de soja utilizada para a produ-
produção acumulada de 2012 (2,717 mais, óleos e gorduras residuais, por ção de ração. Outro aspecto ressaltado
bilhões de litros – MME, 2014). Nos meio de vários processos de conver- pelo Governo é o impacto ambiental
últimos quatro anos, a produção re- são, podendo ser usado puro ou em positivo, pois a ampliação do teor de
gional permanece mais ou menos diversas proporções com o diesel fós- biodiesel reduzirá a emissão de 23 mi-
constante. Em novembro de 2013, a sil. No período de 2011 a 2013, a lhões de toneladas de CO2 até 2020,
região Centro-Oeste foi a maior produ- participação média das três principais contribuindo para o alcance de metas
tora, com 42,9% da produção, segui- matérias-primas para a produção do previstas pela política nacional sobre
da da região Sul, com 38,2%. biodiesel no Brasil foi: 76,5% (soja), mudança do clima (Reuters, 2014).
A produção global de biodiesel tem 16,8% (gordura bovina) e 3,3% (al-
crescido ao longo dos anos (Figura godão – MME, 2014). A título de Desafios e perspectivas
5). De acordo com as informações comparação, nos Estados Unidos a para os biocombustíveis
disponibilizadas pelo Earth Policy participação das matérias-primas em
Institute (EPI, 2014), a produção 2013 foi: 54,3% (soja), 10,0% (óleo Um dos grandes entraves para o
alcançou 24,87 bilhões de litros em de milho), 8,2 (óleo de palma) e 3% aumento da produção e uso dos bio-
2011. Para 2012, era esperada uma (gordura animal). Na Europa, 80% do combustíveis no Brasil, em particular

Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 9


o biodiesel, é a sua excessiva de- preços aumentassem em 73% (THE convencionais, ou de primeira geração
pendência do óleo de soja. Quando ECONOMIST, 2013). produzidos no Brasil, como o etanol,
o Programa Nacional de Produção e Uma das saídas apontadas para produzido a partir da cana-de-açúcar,
Uso do Biodiesel (PNPB) foi lançado, a solução desse problema é usar to- e o biodiesel, prioritariamente produ-
a expectativa era de que a diversidade das as partes das plantas e não so- zido com soja, têm sido importantes
de matérias-primas, como mamona, mente a parte comestível, pois exis- para mitigação dos impactos ambien-
pinhão-manso, sementes de girassol e te mais energia armazenada nessas tais, sociais e econômicos.
palma, fosse aproveitada para a pro- partes do que nos grãos (IEA, 2011). A produção do biodiesel no Brasil
dução de biodiesel (PNPB, 2011). Entretanto, três desafios precisam ainda é altamente dependente da
Entretanto, esses produtos encontra- ser superados para fazer esse tipo de soja, existindo a necessidade de diver-
ram um grande entrave para o seu biocombustível: quebrar polímeros de sificação das matérias-primas. O esta-
desenvolvimento: a precariedade da celulose e lignina, presentes na estru- belecimento de um marco regulatório
rede de distribuição, que não tem a tura das fibras vegetais em açúcares é visto pelo segmento produtivo como
mesma abrangência e articulação simples; converter esses açúcares uma necessidade premente, pois pos-
que a da soja (MING, 2012). Os pro- em combustíveis prontos para uso, sibilitaria uma maior previsibilidade
blemas associados à logística se de- por meio de processos termoquími- para a realização de investimentos,
vem basicamente às condições ina- cos ou bioquímicos; e fazer tudo isso principalmente em novas matérias
dequadas das estradas brasileiras e à com custos compatíveis e em larga -primas. Os grandes deslocamentos
ausência de soluções que considerem escala (THE ECONOMIST, 2013). desde a produção da matéria-prima
outros modais. Praticamente 100% Atualmente, existem enzimas que di- até a disponibilização do biodiesel ao
do biodiesel brasileiro é transpor- gerem a lignina e extraem os nutrien- consumidor final é um dos entraves
tado pelo modal rodoviário (Conab, tes das plantas para, assim, produzir mais relevantes, pois têm um grande
2011). Essa condição impacta di- o etanol de lignocelulose. Entretanto, peso nos custos do biodiesel, além dos
retamente os custos de produção, elas ainda são caras, custam de 13 custos gerais de produção, que ainda
com consequências negativas para a 25 centavos de dólar por litro, en- são altos. Nesse sentido, a integração
as margens de lucro e competitivida- quanto um litro de enzimas usadas das etapas de produção e a prioriza-
de do biodiesel brasileiro. Em outros para a produção de etanol de milho ção da logística são apontadas como
países, como é o caso da Argentina, custa em torno de dois centavos de soluções para a redução dos custos e
maior exportador mundial de biodie- dólar (GRANHAM-ROWE, 2011). o aumento das produtividades agríco-
sel, o transporte hidroviário é inten- Os biocombustíveis produzidos a la e industrial.
samente utilizado para o escoamento partir de algas são ainda uma pro- O desenvolvimento de tecnologias
da produção de biodiesel, o que o messa pela sua grande produtividade avançadas para as produções de eta-
torna mais competitivo do que o bio- e potencial de reciclagem do CO2. Por nol e biodiesel é uma tendência que
diesel brasileiro. outro lado, o cultivo de algas requer se observa no mundo, podendo essas
O setor de biocombustíveis no Brasil alta disponibilidade de locais com serem adotadas como possíveis solu-
não enfrenta só questões de competi- condições favoráveis (sol, água, nu- ções de médio e longo prazos. Essas
tividade e infraestrutura. Assim como trientes) ao seu crescimento, e o pro- tecnologias têm como principal ca-
no resto do mundo, existem críticas de cesso de extração do óleo ainda é caro racterística a busca pela utilização de
que alimentos estejam destinados à (IEA, 2011). todo o potencial energético disponível
produção de combustível, sendo esse nas diversas biomassas.
o aspecto mais controverso dos bio- Conclusão
combustíveis convencionais ou de pri- Referências
meira geração. Nos Estados Unidos, Tendo em vista o aumento cres-
a produção de etanol consome 40% cente da demanda por energia e as BP. BP Statistical Review of World
do milho americano, enquanto no preocupações com o suprimento de Energy. British Petroleum (BP).
Reino Unido uma única planta de eta- combustíveis fósseis, tem sido cada Londres, p.46. 2012 http://
nol consome 1,1 milhões toneladas vez mais clara a importância dos www.bp.com/content/dam/bp/
de trigo por ano. No caso americano, biocombustíveis e do seu papel em pdf/Statistical-Review-2012/
tem sido discutido que o uso do milho reduzir a dependência do petróleo statistical_review_of_world_
para a produção de biocombustíveis e os efeitos negativos provocados energy_2012.pdf >, Acesso em:
fez com que no fim de 2010 seus ao meio ambiente. Os combustíveis mar. 2014

10 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


COMPANHIA NACIONAL DE
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Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 11


ENTREVISTA

Prêmio Incentivo à Aprendizagem


reforça autoconfiança pessoal e
profissional dos estudantes, diz
vencedora da Poli-USP
Por Felippe William

C
riado como forma de apoio em sala de aula. O comunicado é Devido à competitividade cada
e encorajamento aos es- feito pelas universidades partici- vez acirrada no mercado de trabalho,
tudantes de engenharia, o pantes, que possuem seus estu- diversas empresas do ramo têm pa-
Prêmio Incentivo é uma iniciativa da dantes matriculados. Essa relação trocinado a premiação como forma de
Associação Brasileira de Engenharia de universidades e as informações encorajar os futuros engenheiros quí-
Química (ABEQ). O evento, promovido sobre como participar do processo micos a buscarem excelência. Dentre
há 13 anos, homenageia os forman- podem ser acessadas no portal da essas empresas está a Oxiteno, que
dos com melhor desempenho estu- ABEQ (www.abeq.org.br). O prêmio patrocinou a aluna Isabela Rupp
dantil do Brasil. integra uma quantia em dinheiro, Kavanagh, formada na Escola
O aluno vencedor é seleciona- a entrega de um certificado e a Politécnica da Universidade de São
do com base nas notas das provas, primeira anuidade como sócio da Paulo (USP), nossa entrevistada des-
trabalhos realizados e frequência ABEQ quitada. ta edição.

12 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


Para sua carreira, qual é a
importância de conquistar Receber um
um prêmio desse porte?
prêmio como este
Um prêmio como o Incentivo à reforça a autoconfiança
Aprendizagem da Engenharia Química
é um destaque no currículo. É muito e a força de vontade
valorizado em concursos, no meio
para que eu continue
acadêmico e por empresas inte-
ressadas em profissionais de nível procurando fazer
técnico elevado. Além disso, um
prêmio como este no currículo pode
todas as coisas bem
ser interpretado como um atestado feitas, tanto no âmbito
de disciplina e dedicação, que são
qualidades muito apreciadas no mer-
profissional como no
cado de trabalho. O prêmio também pessoal
contribui para que nós nos valorize-
mos como profissionais, tomando
consciência do nosso potencial. Isabela Rupp Kavanagh

Qual é a importância do
estímulo dado aos jovens capazes de relacionar diretamente os destacaram em cada curso. O contato
universitários? esforços do estudo a um melhor de- foi feito por telefone e e-mail
sempenho profissional. Experiências
O estímulo através de prêmios cria de estágio na área ao longo do cur- O que significa,
nos alunos a expectativa de uma re- so são muito eficazes para produzir pessoalmente, essa
compensa pelos seus esforços. Além este efeito. conquista para você?
disso, a possibilidade de começar a
vida profissional com este diferencial Quais os principais Receber um prêmio como este
no currículo contribui para a menta- obstáculos que você reforça a autoconfiança e a força de
lidade de que a carreira não começa encontrou desde que vontade para que eu continue procu-
no momento da formatura, mas inclui entrou na universidade? rando fazer todas as coisas bem fei-
também todos os anos de estudo que tas, tanto no âmbito profissional como
antecedem o primeiro emprego. O alu- O grande obstáculo do curso de no pessoal.
no percebe que o seu desempenho Engenharia Química é assimilar uma
acadêmico tem influência sobre o seu grande quantidade de conteúdo em Você está atuando
futuro profissional, o que faz com que um intervalo de tempo restrito, o que profissionalmente na área?
os estudos sejam encarados com mais requer organização, disciplina e um
seriedade. O reconhecimento do mérito bom domínio do programa de ciências Estou fazendo Mestrado em
acadêmico também estimula a compe- exatas do ensino médio. Engenharia Química, na Universidade
titividade, preparando os alunos para Federal do Rio de Janeiro.
os desafios da vida profissional. Como foi feito o contato
informando sobre a Quais as suas ambições
Como você acha que esse conquista do prêmio? para o futuro?
tipo de iniciativa pode
auxiliar e estimular ainda Eu soube do prêmio através Consolidar-me profissionalmente e
mais os estudantes? da USP, quando recebi um convite atuar no setor de pesquisa, colocando a
para comparecer à solenidade que a ciência a serviço da tecnologia, seja em
Os alunos se sentem mais es- Escola Politécnica realiza anualmente empresas ou em laboratórios de univer-
timulados a estudar quando são para premiar os alunos que mais se sidades e institutos de pesquisa.

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ARTIGO

Engenharia química na palma da


mão — sustentabilidade
Por Hely de Andrade Júnior

Sustentabilidade limite daquilo que pode ser feito em os processos para geração de ener-
qualquer parte do planeta é o permi- gia, que levam a um aumento inexo-
O nosso planeta Terra é um cor- tido nessa área até que conflite com o rável da entropia. Nesse caso, tudo é
po isolado que circula pelo espaço, o meio externo e com a operação da es- finito, pois serão esgotados os poten-
que o torna em muitos aspectos mo- paçonave. A incompatibilidade pode ciais que permitem realizar as trans-
delo de um sistema isolado, tal como ser encontrada no espaço e no tempo. formações de interesse para a vida
definido nos livros de Engenharia Essa caricatura simplifica as coi- da humanidade. A segunda lei da
Química. Esse ponto de vista é expos- sas, porém salienta o fundamento do Termodinâmica postula que é possí-
to por Buckminster Fuller em seu livro que chamo de sustentabilidade. vel reverter a entropia se for adiciona-
Manual de Operação da Espaçonave da em um sistema fechado entalpia
Terra. A ideia central do livro é que Termodinâmica ou trabalho externo.
todas as atividades humanas devem A "geração" de energia é tão impor-
ser avaliadas pelas consequências Todas as atividades humanas (e tante porque são as transformações
que terão sobre o ambiente terrestre. também as naturais) estão sujeitas às da entalpia que permitem realizar tra-
Para mim, essa é a metáfora de que o leis da Termodinâmica, em especial balho em nosso lugar. Por isso, devem

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Há todo um complexo
de tecnologias para
gerar energia, e todas
as alternativas são
avaliadas por uma série
de critérios amplamente
conhecidos, relativos a
eficiência, economia,
qualidade da energia,
poluição etc

ser utilizadas de forma mais racional


para satisfazer as necessidades da
nossa vida na terra.
Há todo um complexo de tecno-
logias para gerar energia, e todas
as alternativas são avaliadas por
uma série de critérios amplamente
conhecidos, relativos a eficiência,
economia, qualidade da energia, po-
luição etc.
civil, vidros etc. Entretanto, esses Energias renováveis
O lixo como exemplo materiais podem ser recuperados de- e biocombustíveis
vido ao menor conteúdo de energia
Tomemos como exemplo o lixo ur- que requerem para reutilização quan- Voltando o olhar para as energias
bano, como recolhido hoje — mistu- do comparados com a necessidade utilizadas na prática, todas as formas
ra de baixo valor pois sua utilidade é de energia para produção da mesma conhecidas são derivadas da luz solar
muito limitada. Sua entropia é eleva- quantidade desses materiais em sua ou são finitas, como a energia de com-
da e a reversibilidade pequena. forma original. No Brasil, a separa- bustíveis fósseis ou nucleares. As for-
Já a coleta seletiva é mais traba- ção é viável devido à grande dispo- mas assim chamadas sustentáveis ou
lhosa, mas fornece muitos materiais nibilidade de mão de obra e ao seu renováveis dependem da reciclagem
úteis, reduzindo a poluição e o des- baixo custo. feita pela energia externa vinda do sol,
perdício de lançamento em aterros, Já a parte orgânica do lixo, para cuja vida é estimada em mais 6 bi-
os quais comprometem a vida hoje e evitar o lançamento em aterros, é um lhões de anos, tempo suficiente para o
principalmente no futuro. problema com as tecnologias dispo- nosso horizonte de planejamento.
No passo seguinte, do lixo coletado níveis: incineração e compostagem. Começando a conhecer os efeitos
da forma convencional, pela posterior Como combustível, o lixo tem bai- do principal resíduo da combustão,
seleção em unidades de reciclagem ou xo rendimento energético devido ao o dióxido de carbono, as limitações
processamento, é possível recuperar custo da remoção da umidade, dos dos combustíveis fósseis crescem e
os resíduos separados, que apresen- equipamentos e de sua corrosão. Já tornam mais caras as energias gera-
tam mais valor porque podem ser reci- a compostagem exige pouca energia das a partir deles. No ano de 2012,
clados ou reutilizados após processa- de forma intensificada, mas demo- a revista POWER realizou um webinar
mento específico para cada tipo. ra muito mais tempo para produzir sobre os custos da captura do dióxi-
Parte dos resíduos da seleção do material útil e, consequentemente, do de carbono em termoelétricas a
lixo não tem valor como combustível, tem alto custo de investimento e carvão. Foram estudadas unidades
seja pelo baixo custo dos materiais ou operação. existentes e projetos novos. Para as
alto custo dos investimentos em equi- De qualquer forma, a sim- usinas existentes, a previsão é de que
pamentos de processamento e princi- ples acumulação em aterros não é o investimento será 52% maior para a
palmente da mão de obra. É o caso uma solução válida dentro de uma adequação (captura de CO²) e a eletri-
dos metais, materiais de construção espaçonave. cidade terá um preço 82% mais alto.

16 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


Biocombustíveis
líquidos e etanol

O Brasil optou nos anos 50 por


dar preferência ao transporte por
automóveis, o que possibilitou o de-
senvolvimento nacional das indústrias
automobilísticas e de autopeças.
A primeira crise do petróleo de
1974 veio tirar o País de sua posição
de conforto, quando passou a impor-
tar por ano cerca de 6 bilhões de dóla-
res de petróleo e derivados. Isso ocor-
ria enquanto o total das exportações
brasileiras era um pouco menor que
esse valor, e a importação de todos os
outro itens era também de valor simi-
lar e um pouco maior.
Dessa realidade surgem os bio-
combustíveis como uma resposta
adequada com as tecnologias disponí-
veis de forma econômica hoje. Nisso o muitos anos, conversei com o profes- Algumas das tentativas de utilizar o
Brasil é pioneiro e líder, seja pelo uso sor Bautista Vidal sobre as razões, e biodiesel foram tentadas, mas sempre
do etanol em automóveis, seja pelo está claro para mim que muitas cau- com um ponto de vista isolado, mui-
potencial de produção de biodiesel. sas se acumularam para chegar ao de- to distante do esforço multidisciplinar
Todo esse potencial ainda não está sastre de, ainda hoje, quase 30 anos requerido para mudar o estado dessa
realizado por falhas de planejamen- depois, não termos uma boa solução. família de combustíveis. O Brasil, por
to e de pesquisa aplicada. Conheci A realidade é que não há solu- sua grande área propícia a desenvol-
o professor Urbano Stumpf cerca de ção à vista devido às diferentes dis- ver plantações de oleaginosas, deveria
duas horas antes de ele apresentar ao ciplinas que devem ser coordenadas se interessar muito mais em estudar
professor Bautista Vidal suas expe- para a solução do problema. O Banco esse combustível.
riências com motores a álcool hidra- Interamericano de Desenvolvimento
tado feitas no Instituto Tecnológico de divulgou um relatório chamado A Bagaço de cana
Aeronáutica (ITA). Isso foi em meados Blueprint for Green Energy in the
de junho de 1975. Para quem se lem- Americas, preparado em 2007 por O bagaço de cana era um subpro-
bra, a adaptação dos carros nacionais Garten Rothkopf. Infelizmente não duto da produção de álcool e açúcar
da época podia ser feita aumentando vejo discussão sobre as suas reco- que se transformou em novo com-
a taxa de compressão dos motores por mendações apesar de grandes mo- bustível e responsável por fração re-
meio de sua retificação para aumentar dificações previstas e ocorridas na levante do fornecimento de energia
a taxa de compressão. área dos combustíveis líquidos desde elétrica no País. Como parte do meu
Respondendo à pergunta do pro- aquela data. interesse pelo etanol, para não dizer
fessor Stumpf, passei cerca de uma do álcool etílico, selecionei uma série
hora discutindo com ele como po- Biodiesel de tecnologias inovadoras que permi-
deria ser obtido álcool de mandioca, tem melhorar o rendimento energético
pois havia necessidade evidente de É óbvio que a produção de etanol e a economia da produção de energia
produção do combustível na entres- por fermentação produz álcool etíli- a partir do bagaço. Elas podem ser
safra da cana. co e ao mesmo tempo emite quase o classificadas considerando sua com-
As tentativas de resolver o pro- mesmo peso de dióxido de carbono. plexidade e crescente eficiência, com
blema da entressafra com o uso de Já as plantas oleaginosas produzem aumento correspondente dos investi-
mandioca foram perseguidas, mas cadeias longas similares aos hidro- mentos, sempre mantendo a viabilida-
os resultados foram nulos. Passados carbonetos de petróleo e gás natural. de econômica do investimento:

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Os ganhos de eficiência energética são No momento, as duas fontes mais
Secagem parcial do bagaço: consideráveis. Há diversos projetos promissoras para suprimento de dióxi-
aproveitando calor desperdiçado em andamento e há procura de capi- do de carbono são a indústria cimen-
nas caldeiras e biomassa prove- tal para sua implantação. teira e a de produção de etanol por
niente da colheita mecanizada; As tecnologias para melhorar o fermentação de açúcar de cana.
Secagem total do bagaço: com uso de biocombustíveis sólidos são As pesquisas no Brasil estão na
tecnologias inovadoras no setor, dirigidas para a produção de energia fase de seleção de espécies de al-
utilizando fluidos diferentes para elétrica. Para a geração de biocom- gas e sua caracterização, em escala
transporte de calor para secagem e bustíveis líquidos, a rota proposta é a de laboratório e de bancada. Para
que não causem explosões; transformação de celulose e hemice- aproveitar essa oportunidade, desen-
Secagem do bagaço e com- luloses de biomassas em etanol. Os volvi fornecedores de tecnologia em
pactação: para estocagem, ma- projetos relativos a essa alternativa áreas-chave:
nuseio e utilização fora de safra estão em andamento e devem come- • Processo de separação de algas en-
e para venda como combustível, çar a entrar em funcionamento neste tre uma população mista natural;
visando aos mercados nacional e ano ou no próximo. • Seleção de espécies de algas para fi-
de exportação; Como essa rota tecnológica pode nalidades especificadas;
Gaseificação do bagaço: é o pro- ser acoplada às citadas anteriormen- • Processos e reatores de cultivo de algas;
cesso que dá o maior rendimento na te, encontrei e tenho a representação • Controle de contaminações e otimiza-
conversão de energia do bagaço, ten- comercial de tecnologia comprovada ção de rendimentos.
do custo mais elevado e em fase de em escala piloto e que pode ser trans-
demonstração industrial; ferida para o Brasil para a produção Além das tecnologias para desenvol-
Recuperação do calor latente de de etanol de segunda geração. ver algas nativas do Brasil para produ-
evaporação: tecnologias provadas e Convém lembrar que no início dos ção no País, temos acesso a cerca de 80
conceito a ser estudado quanto às anos 80 o Brasil adquiriu na Rússia espécies já separadas e caracterizadas
viabilidades econômica e financeira; uma tecnologia de etanol a partir de em outro país. Os primeiros contatos
Gaseificação da cana inteira: madeira, e a respectiva fábrica foi poderão ser com a indústria cimenteira,
proposta ainda na fase de concei- montada em Uberlândia (MG). Ela cujos gases de processo são mais ricos
to, com muitas perguntas a serem nunca chegou a funcionar segundo em dióxido de carbono por juntar aquele
respondidas e que talvez se apli- me foi possível apurar. produzido pela combustão com o produ-
que melhor a resíduos orgânicos zido pela decomposição de rocha calcá-
menos valiosos, como resíduos de Algas ria. Além disso, as impurezas nos gases
colheitas e da exploração florestal. da saída dos fornos não apresentam pro-
Das fontes de biomassas para blemas para as algas selecionadas.
combustíveis e outros usos, as tradi-
Outros biocombustíveis cionais fontes são a indústria flores- Conclusão
agrícolas e florestais tal e as indústrias de álcool e açúcar.
Das oleaginosas para biodiesel, al- Como dizia o professor Bautista
Há muitas alternativas de biomas- gumas estão bastante conhecidas e Vidal, o Brasil, com áreas enormes
sas que podem ser aproveitadas para há muitas outras espécies em desen- disponíveis e abundância de sol, com
uso como combustíveis em substitui- volvimento. Pela velocidade de in- administração das águas que são
ção aos tradicionais fósseis e alguns trodução de inovações nessa área, abundantes e agricultura avançada,
renováveis. As indústrias de celulose é possível que demore décadas até pode ser líder na área dos biocom-
e papel são pioneiras, tendo substituí- que surja uma resposta comprovada bustíveis em seu território. Também
do durante os anos 70 quase todo o e dominante. já há projetos brasileiros de desenvol-
consumo de derivados de petróleo em As algas podem ser uma resposta vimento agrícola em andamento na
suas fábricas pelo uso de resíduos flo- adequada, considerando a alta produti- África, outro continente com potencial
restais e mesmo cavacos de madeira. vidade potencial que algumas espécies para aplicação das tecnologias desen-
Todas as tecnologias que mencio- apresentam, a ampla disponibilidade volvidas no nosso país. Esse desafio
nei no item anterior podem ser adap- de luz solar durante todo o ano e em representa imensa oportunidade para
tadas sem grandes dificuldades às todo o território nacional e a possibili- os brasileiros e, em particular, para os
matérias orgânicas contendo carbono. dade de capturar dióxido de carbono. engenheiros químicos.

18 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


AGITADOR NÃO-ISOTÉRMICO: Esta simulação considera
transferência de calor nos dutos e o efeito de perda de calor pelas
paredes do agitador. A distribuição de temperatura é mostrada no
gráfico de fatia e a velocidade como linhas de fluxo e flechas.

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ARTIGO

Plataformas de biorrefinaria:
a busca incessante pelo
desenvolvimento contínuo
Por Dr. Petri Vasara1, Katja Salmenkivi2, Fábio Bellotti da Fonseca3

F
elizmente, a palavra “biorrefina- mais um modismo e de ser repetida Guerra Mundial. Tratava-se simples-
ria” ainda não se tornou mais de forma mecânica, simplesmente mente da questão de aproveitar a
um modismo destituído de sen- para fazer algo parecer mais moderno biomassa disponível no local mais
tido. Ainda não chegou à etapa atual e interessante. Quando isso acontecer, próximo para as necessidades ime-
da palavra “sustentabilidade”, vaga a palavra não representará mais ne- diatas por meio da Tecnologia Mais
e difusa, com uma pitada de “verde” e nhuma novidade ou revolução. Avançada Disponível (TAD). A ma-
na qual a “sustentabilidade” propria- Na Pöyry, nós dividimos o ciclo de téria-prima utilizada, naturalmente,
mente dita passa geralmente desper- vida da biorrefinaria em quatro fases variava completamente de um local
cebida. Isso chega a ser uma ofensa a (Figura 1). Essas fases e suas conse- para o outro. Nos países nórdicos
um tema tão importante! No entanto, quências são de grande importância da Europa, por exemplo, cobrir uma
em uma recente análise divulgada na para lançarmos quaisquer previsões pilha de madeira com terra crua e
publicação Nature online, de julho de sobre o futuro da biorrefinaria no acendê-la com fogo (o chamado for-
2013, demonstrou-se que, com base mundo e particularmente no Brasil. no de terra) representou por muito
em 320 mil artigos, alguns cientistas tempo uma TAD. O modo pelo qual
(físicos) estão migrando para esse Primeira fase: a biomassa era processada para
assunto, no qual outros já estão há “biomassa descentralizada” se tornar papel e celulose também
algum tempo. Isso não é exatamente contava com uma TAD. A cadeia de
uma novidade, mas sua confirmação A primeira fase — “Biomassa suprimentos de bioenergia era cons-
é gratificante. A palavra biorrefinaria Descentralizada” — teve duração tituída simplesmente pelas pessoas
também corre o risco de se tornar entre as eras ancestrais e a Segunda recolhendo lenha.

PRIMEIRA FASE: SEGUNDA FASE: TERCEIRA FASE: QUARTA FASE:


Uso eficiente da biomassa Segunda Guerra Mundial – Crise do Petróleo dos anos 70 Bioeconomia moderna
disponível no local Aproveitamento total de recursos

ATUAL

Linha do tempo

Figura 1. As quatro fases da biorrefinaria segundo a Pöyry.

20 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


Felizmente, a
LIÇÕES APRENDIDAS DA PRIMEIRA FASE DA BIORREFINARIA palavra “biorrefinaria”
Matérias-primas disponíveis no local sempre exerceram um papel fundamental, e ainda não se tornou
nem a globalização poderá alterar isso. A tecnologia também geralmente se desen- mais um modismo
volve próximo ao local onde a biomassa se encontra disponível, e o conhecimento destituído de sentido.
adquirido sobre as propriedades da biomassa local será igualmente importante no fu-
turo. No caso do Brasil, a madeira e a cana-de-açúcar constituem as principais fontes
Ainda não chegou à
de biomassa, e quanto mais complexa a tecnologia, mais importante o conhecimento etapa atual da palavra
adquirido sobre as propriedades e o comportamento da biomassa nas diferentes “sustentabilidade”, vaga
reações químicas. e difusa, com uma pitada
de “verde” e na qual
a “sustentabilidade”
propriamente dita
Segunda fase: “inovações etanol a partir da madeira, como
passa geralmente
de tempos de guerra” na fábrica de papel sueca Domsjo.
No Brasil, devido às dificuldades
despercebida
A partir da Segunda Guerra de importação de petróleo duran-
Mundial, a escassez de recursos te a guerra, a produção de etanol
passou a representar um problema. cresceu substancialmente, uma vez
A segunda fase — “Inovações de que a proporção obrigatória da mis-
tempos de Guerra” — se caracte- tura com a gasolina chegou a 42%.
rizou, entre outros exemplos, com A guerra finalmente terminou, e,
o desenvolvimento dos automóveis com ela, os principais esforços de
movidos a biogás e a extração de desenvolvimento.

LIÇÕES APRENDIDAS DA SEGUNDA FASE DA BIORREFINARIA

Claro que não desejamos passar por uma guerra para promover mais inovações para
a biorrefinaria. No entanto, uma tecnologia criada a partir de uma situação extrema
como uma guerra pode trazer não apenas grandes avanços em determinados ramos da
tecnologia como também benefícios indiretos para outros setores relacionados. No caso
do Brasil, um elemento decisivo para sua competitividade mundial nos próximos anos
será a capacidade de combinar seus vastos recursos naturais, como a cana-de-açúcar,
o papel e a celulose, com os avanços tecnológicos oferecidos pela indústria química.

Terceira fase: de forma que quase todas as iniciati-


“substituição do petróleo” vas eram insuficientes e incapazes de
produzir resultados economicamente
Nos anos 70, aconteceu a crise viáveis. Na verdade, também faltavam
devido ao embargo do petróleo ára- as soluções e ferramentas modernas
be. A terceira fase — “Substituição de gestão na cadeia de suprimentos,
do Petróleo” — teve início, e mui- logo no início do processo. A falta de
to do conhecimento adquirido sobre know-how e a ausência de equipamen-
a biorrefinaria atual foi obtido na- tos adequados de colheita/obtenção
quela ocasião ou, no mínimo, teve da matéria-prima tornavam impossí-
ali suas origens. No entanto, a maio- veis a aplicação dos conceitos princi-
ria das tecnologias atualmente dis- pais de biorrefinaria; mesmo assim, o
poníveis ainda não existia na época, Brasil se destacou dos demais países

Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 21


nesse período. Com o lançamento do frota de veículos leves fabricados no reduzidos da gasolina. Mundialmente
Programa Nacional do Álcool, o Pró- Brasil nos anos 1980. Naturalmente, nessa ocasião, diversos estudos de alta
Álcool, as bases para uma indústria a época de crise terminou, e com isso importância desenvolvidos a partir dos
nacional de combustíveis renováveis foi encerrada a produção do mode- anos 70 relacionados à biorrefinaria fo-
estavam lançadas, e o primeiro veículo lo E100 no Brasil, uma vez que os ram simplesmente destruídos por falta
100% movido a etanol (E100) foi fa- consumidores perderam a confiança de espaço físico — esses estudos pas-
bricado pela Fiat no Brasil e, após isso, na disponibilidade de etanol que não saram a ser vistos como algo menos
a produção de veículos E100 chega- tinha mais uma produção competitiva prioritário e muito pouco competitivos
ria a responder por 72% do total da contra os altos preços do açúcar e os a partir de então.

LIÇÕES APRENDIDAS DA TERCEIRA FASE DA BIORREFINARIA

Naturalmente, a crise daquela época teve um fim, porém alguns de seus efeitos têm aparecido sob diferentes formas. A preocupação so-
bre a evolução dos preços do petróleo e do gás e os limites políticos e naturais para a disponibilidade de combustíveis fósseis permane-
cem. A garantia de abastecimento representa uma importante questão estratégica. Além disso, foi constatado que os recursos naturais
poderiam se tornar tanto uma arma na “guerra comercial por matérias-primas” como para uma guerra política em tempos de paz.
Ao mesmo tempo, a perspectiva do desenvolvimento de tecnologias no longo prazo é crucial para que não haja desperdício de tempo,
esforços e recursos financeiros em lapsos de pesquisas que mais tarde são deixados de lado.
Para o Brasil, essa perspectiva de desenvolvimento de longo prazo gerou frutos. O Pró-Álcool não apenas lançou as bases da indústria
de etanol nacional como também gerou confiança entre os consumidores sobre suas vantagens, além de promover a necessidade de
tecnologia para fabricação de automóveis biocombustíveis no longo prazo. Uma vez constatado que economicamente viável para os
consumidores, o uso do etanol teria continuidade, porém com a garantia de que pudessem abastecer seus respectivos veículos com o
combustível que julgassem mais conveniente a qualquer momento, sendo este de origem renovável ou não.

Quarta fase: “reinvenção assim, muitos desses itens seriam tecnológica, mas principalmente de
da biorrefinaria” completamente inviáveis sem esses uma gestão de alto nível da cadeia
subsídios. No entanto, felizmen- de suprimentos. Algumas aplica-
Chegamos finalmente à quar- te, ainda há exemplos que provam ções em andamento das rotas bio-
ta fase — a “Reinvenção da que nem sempre é assim. O furfu- tecnológicas possibilitam a redução
Biorrefinaria”. Devido parcialmente ral é um bom exemplo de “antigo” do número de etapas da cadeia de
a questões de mudanças climáti- bioquímico, produzido a partir da suprimentos, por meio da disponi-
cas, à escassez de recursos e à se- biomassa há muito tempo, e novos bilidade de novas tecnologias e pro-
gurança política de abastecimento, químicos já estão sendo integrados cessos alternativos de fabricação.
o mundo passou os últimos anos, a essa categoria, sejam eles como Outras soluções utilizam a biomassa
de certa forma, reinventando a pri- químicos drop in ou totalmente como forma de assumir o controle
meira, a segunda e a terceira fases, novos. Naturalmente, a tecnologia sobre a cadeia de suprimento como
muitas vezes ignorando de forma ocupa um importante espaço nisso, um todo, da plantação até o produto
solene todo o trabalho que já ha- e não somente a biotecnologia: os final — na verdade, cadeias de su-
via sido feito. Ao mesmo tempo, um avanços no fracking e no desen- primento mais longas são às vezes
número desconcertante de proje- volvimento da tecnologia do gás necessárias para isso. Se levarmos
tos voltados ao aproveitamento da de xisto contribuem para acelerar em consideração que algumas em-
biomassa foi criado para competir o desenvolvimento de determina- presas líderes mundiais estão pro-
entre si pela atenção mundial. Os dos bioprodutos, como os produ- curando ativamente o controle de
subsídios oferecidos favoreceram tos químicos da plataforma C4 que uma cadeia de “bio-suprimentos”,
alguns segmentos de produtos, en- não podem ser produzidos a partir temos aí um sólido argumento para
quanto outros chegaram quase a da rota do gás de xisto. O que deve entendermos a cadeia de suprimen-
desaparecer, deixando um rastro ser levado em consideração é que tos como uma das peças mais im-
de incerteza nessa ocasião. Ainda não se trata apenas de uma questão portantes em biorrefinarias.

22 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


LIÇÕES APRENDIDAS DA QUARTA FASE DA BIORREFINARIA

Ainda estamos passando pela quarta fase, então obviamente não podemos chegar a uma conclusão final. Porém, a “reinvenção da roda”
é o que tem acontecido simultaneamente em vários locais; literalmente, algumas ideias dos anos 70 eventualmente recebem recursos
para serem reinventadas. Pelo menos na Europa, a questão da inconsistência de subsídios em um ambiente comercial incerto tem
piorado ainda mais o problema.
A questão da cadeia de suprimentos, seja pelo incentivo de uma empresa, sua tecnologia ou vantagem de matéria-prima, seja pelo
controle da cadeia de “bio suprimentos” a partir da plantação até o produto final, configuram uma vantagem para o Brasil com suas
diversas cadeias de suprimentos, experiência tecnológica e bom relacionamento com empresas globais.

Quinta fase: “extinção total players já anunciaram investimentos associada à sustentabilidade, torna
da tecnologia” e depois? e, na verdade, a maioria das empre- possível o desenvolvimento. Porém,
sas líderes na produção de químicos cancelamentos também podem ocor-
Já que estamos ainda na quarta já anunciou o início das atividades rer. O investimento em plantas de
fase, vamos tentar prever como será tanto na área de biocombustíveis etileno baseadas em gás de xisto ao
a próxima. Simplesmente existem quanto na área de bioquímicos. Tais invés de bioetileno é um exemplo.
diversas tecnologias à nossa volta, anúncios incluem parcerias na utili- Nós, na Pöyry, avaliamos o desenvol-
e o ambiente econômico altamen- zação de matérias-primas renováveis vimento tecnológico em biorrefina-
te cíclico do momento atual torna o (ou bioquímicos) com a finalidade de rias como uma “árvore genealógica
risco financeiro particularmente alto. oferecer maior valor agregado ao pro- de tecnologia”, na qual as tecnolo-
Não há necessariamente uma falta duto de uma das partes e maior mer- gias são classificadas em mais de
de alternativas, mas a implementa- cado para o outro. Nessa situação, a 40 critérios, nos quais tecnologias
ção já é outra questão. Os principais garantia da cadeia de suprimentos, similares formam ramos correlatos.

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Parece óbvio que, com menos sub- desde a matéria-prima até o con- O “Grande Mestre” será aquele
sídios, muitas tecnologias similares sumidor final ou produto industrial, que melhor entende desde a bio-
e muitas opções financeiramente criamos uma visualização na qual massa de cana-de-açúcar e outros
inviáveis poderiam nos levar a uma as matérias-primas, os componentes produtos agrícolas, passando por
“extinção tecnológica” total e irrever- primários e intermediários e as utili- madeira e resíduos, dominando
sível. O desaparecimento dos dinos- zações finais são zonas concêntricas tecnologias e processos e estando
sauros há 65 milhões de anos já foi O espectro completo de produtos sempre preparado para decidir qual
chamado de “evento K-T” (relativo ao e processos também tende a se ajus- a melhor opção para agregar valor
intervalo entre os períodos geológi- tar por si só. O espectro completo ao seu produto. Tal “mestre” terá
cos cretáceo e terciário). Com menor na biorrefinaria, da bioenergia bási- todas as chances de romper todas
dramaticidade, estamos prevendo ca até a celulose, biocombustíveis as limitações prévias expandindo da
um “evento T-B” (para Tecnologia de sólidos e líquidos, bioquímicos e cana-de-açúcar até quaisquer outras
Biorrefinaria), com amplo e rápido biomateriais (incluindo papel) avan- matérias-primas, e por meio de se-
declínio dos diferentes tipos de tec- ça em todas as frentes e integra-se tores industriais e produtos finais.
nologias subsidiadas de biorrefinaria. em um conjunto. Da matéria-prima O sucesso o aguarda...
Caso façam as escolhas corretas, até o produto final, ou vice-versa,
tanto melhor para as indústrias bra- podemos separar e analisar as rotas 1
Head of Global Consulting Practice in
sileiras dos setores sucroalcooleiro, possíveis, bem como fornecer servi- Biobased Industry, Pöyry Management
químico, papel e celulose e florestal, ços de engenharia e gerenciamento Consulting – Helsinki, Finlândia.
que poderão, então, concentrar-se para quaisquer empreendimentos de E-mail: petri.vasara@poyry.com
2
Principal, Head of Global Chemicals and
em um número reduzido de tecnolo- biorrefinaria. Uma vez escolhida a Biomaterials Group in Management Consulting,
gias para alcançar sucesso mundial. tecnologia correta, a engenharia de Pöyry Management Consulting.
A Figura 2 mostra um resumo do que ponta e implementação eficaz do E-mail: katja.salmenkivi@poyry.com
3
Diretor de Químicos e Biorrefinaria da Pöyry
nós chamamos “BioLeque Pöyry”. projeto configuram um importante para a América Latina – São Paulo (SP), Brasil.
Devido à complexidade das vias fator competitivo adicional. E-mail: fabio.fonseca@poyry.com

Figura 2. “BioLequePöyry”: Visualização e rotas de análise da matéria-prima até o produto final.

24 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


De
De 27 aa 30 de Abril de 2014
De 27 a 30 de Abril de 2014
27 30 de Abril de 2014
Casa
Casa Grande Hotel Resort & Spa
Casa Grande Hotel Resort & Spa
Grande Hotel Resort & Spa
Guarujá
Guarujá - SP
Guarujá -- SP
SP

Venha,
Venha, Inscreva-se ee Participe
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Empresas interessadas em apoiar o EBA 2014 poderão


Empresas
Empresas interessadas
interessadas em apoiar o
o EBA 2014
2014 poderão
colaborar com o encontro,em
queapoiar EBA
divulgará o apoio poderão
na forma
colaborar
colaborar com o encontro, que divulgará o apoio na
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de
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internet e
e durante
durante o
o evento.
evento.
Organização: Apoio:
Organização:
Organização: Apoio:
Apoio:
ARTIGO

Avaliação de pré-viabilidade técnica e


econômica de produção de biodiesel a
partir de borra de refino de óleo de soja
Por Frederico Augusto Furlan Zafaneli1, João Guilherme Rocha Poço1

C
onforme dados publica- sendo, quase em sua totalidade, re- O volume gerado desse subprodu-
dos (USDA-FAS, 2013), o finadas para atenderem aos padrões to é considerável, sendo algo em torno
Brasil produziu, na safra de mercado e se tornarem comestí- de 3,5% do óleo degomado. Desses
2012/2013, 82 milhões de tonela- veis, gerando como subproduto a 3,5%, a metade (1,75%) é composta
das de soja em grão, que representa- “borra de refino de óleo de soja”, ob- por água e os outros50 % são a per-
ram 30,66% da produção mundial, jeto de estudo deste trabalho. da do óleo refinado, que são os ácidos
sendo o segundo maior produtor, logo A “borra de refino de óleo de soja” graxos e outros produtos arrastados
atrás dos Estados Unidos. Da pro- (Figura 1) é um resíduo oriundo da na neutralização. De acordo com es-
dução nacional, 41 Mton foram ex- neutralização do óleo de soja, após o ses números, estima-se que foram ge-
portadas e 34,84 Mton, esmagadas, processo de extração e degomagem radas por volta de 194 mil toneladas
produzindo 27 Mton de farelo de soja do óleo bruto, sendo constituída pelos de “borra de refino” de óleo de soja”
e 6,69 Mton de óleo de soja dego- sabões gerados na neutralização alca- na safra 2012/2013.
mado. Destas, 5,54 milhões foram lina dos ácidos graxos livres e também Da produção estimada de 194 mil
direcionadas ao consumo doméstico, por óleo arrastado na emulsão. toneladas por ano de borra de refino

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Borra

Ácido
Água Acidulação
sulfúrico

Água
Decantação
ácida

Óleo ácido
Etanol Ácido
anidro Esterificação sulfúrico
Óleo éster

Etanol Neutralização Soda


anidro
Figura 1. Borra de refino.

ter-se-ia disponibilidade de produzir Centrifugação Borra


79,5 mil t/ano de biodiesel da borra
de refino (rendimento de aproximada- Óleo éster
mente 41%), o que equivaleria a 3,3%
Etanol
da demanda de B5 (óleo diesel com anidro Transesterificação Soda
5% de biodiesel em volume), confor-
me demanda de diesel fornecida pelo Éster
SINDCOM (SINDCOM, 2014), com
Etanol Ácido
uma matéria-prima que é muito mais Neutralização
anidro sulfúrico
barata que o óleo de soja (ABOISSA Água
ÓLEOS VEGETAIS, 2008a; 2008b), quente
principal matéria-prima (ABIOVE,
2013) e de menor custo atualmente Centrifugação Borra
utilizada no Brasil para a produção co-
Éster
mercial de biodiesel (CARRAMENHA
& POÇO, 2008). Etanol
Destilação
+ Água
Pré-viabilidade
técnica do produto
Éster
Devido à composição básica da
borra de refino e dos processos utili-
zados para a obtenção de biodiesel, Figura 2. Diagrama sequencial de produção de biodiesel a partir de borra de refino.
os ensaios foram divididos em três
etapas principais, sendo a primeira a
“acidulação”, devido à grande quanti- processado por “esterificação” direta e et al., 2006), permitindo então a
dade de umidade, além do óleo neutro que, devido à presença do óleo neutro, transesterificação, efetuada com cata-
arrastado pelos sabões. Essa umida- exige também o processo de “transes- lisador alcalino e assim convertendo
de deve ser retirada, e a hidrólise, ou terificação” (RITTNER, 2002). os glicerídeos em éster.
Cisão Ácida de Twitchell (RITTNER, A esterificação se apresenta efi- Com a execução dos ensaios de la-
2002), simplificada, mais rápida e ciente na diminuição da acidez do boratório, conforme metodologia e eta-
sem o catalisador, fornece um produ- material, no entanto, ineficiente na pas definidas no trabalho (Figura 2),
to (óleo e ácidos graxos) que pode ser conversão dos glicerídeos (VELJKOVIC não se obteve o biodiesel dentro da

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especificação ANP 255 (KNOTHE especificação, estiveram próximos para a produção de biodiesel a partir
et al., 2006), que garantiria uma qua- do objetivo, a pré-análise econômi- da borra de refino de óleo de soja.
lidade mínima necessária para o uso ca, fundamentada no balanço de
habitual nos motores diesel e a eventual massa, de energia e nos custos ope- Conclusão
substituição do óleo diesel de petróleo. racionais (Tabela 2), ainda se mos-
A acidez residual ficou em torno de trou interessante. Apesar de fora das especificações
1,19%, conforme Tabela 1, sendo que Em uma primeira verificação, em técnicas e econômicas, os resultados
o máximo permitido seria 0,40% de que se considerou a venda do biodiesel obtidos parecem ser interessantes,
Ácidos Graxos Livres (AGL). O glicerol produzido para o mercado, o resultado principalmente quando se considera o
total resultou em 0,92% (Tabela 1), da pré-avaliação econômica indicou consumo do biodiesel para abasteci-
bem acima do 0,38% especificado. ser esse processo inviável, pois o lucro mento de frota de caminhões própria.
O biodiesel apresentou coloração mui- líquido resultou em número negativo. Para a viabilização do projeto, algu-
to escura, indicando a presença de im- Uma segunda pré-avaliação foi mas alternativas podem ser estudadas,
purezas indesejáveis. realizada visando obter o resultado no tanto no sentido de redução de cus-
Constatou-se também a variação dos caso de produção do biodiesel para tos, por meio de outra opção de tra-
resultados obtidos em função da maté- consumo próprio, sem os impostos tamento de água ou outro sistema de
ria-prima, que depende da qualidade do que incidem sobre a venda (Tabelas 3 recuperação de glicerina loira, que são
processamento do grão e do próprio óleo. e 4). Nessa avaliação, o Tempo de etapas com grande influência no custo
Portanto, a pré-viabilidade técni- Retorno conseguido foi de 13,8 anos operacional, como na busca da me-
ca não foi atingida com os experi- (Figura 3), um número elevado, con- lhora na qualidade do produto, pela
mentos realizados. siderando-se o definido na metodolo- inclusão de etapas de filtração ou de
gia, que foi de dois anos. Portanto, em destilação, que resultariam em um
Pré-viabilidade ambos os casos, o processo se mos- produto mais claro e sem resíduos.
econômica do processo trou economicamente inviável. Além disso, outras alternativas
Sendo assim, tanto pela pré-ava- de processo poderiam ser estudadas,
Considerando-se que os resul- liação técnica como pela econômica, como a saponificação total da borra de
tados técnicos, apesar de fora da o projeto foi considerado reprovado refino, que faria a hidrólise total dos

Tabela 1.Testes com resultados das análises das principais etapas sem o efeito do etanol nas amostras.
CARACTERIZAÇÃO DO PRODUTO EM PROCESSO (resultados sem álcool)
Neutralização Neutralização
Data Óleo de soja Borra Acidulação Esterificação Eficiência
(Esterificação) (Transesterificação)

AGL Fósforo Óleo Umidade AGL Glicerol AGL AGL Glicerol AGL Glicerol Esterificação Transesterificação
nº teste
% ppm % % % % % % % % % % %
2008
1,40 130 19,00 50,00 58,88 5,43 38,27 16,57 9,44 0,88 1,65 35,0 82,5
Teste 01
2008
1,40 130 19,00 50,00 61,43 6,15 18,57 8,23 5,78 1,10 1,46 69,8 74,7
Teste 02
4/28/2009
0,47 159 17,60 57,70 67,59 2,61 12,32 5,86 7,02 0,09 n.a. 81,8 n.a.
Teste 03
6/26/2009
0,89 177 18,50 55,90 54,47 0,09 9,84 7,19 4,93 0,09 1,06 81,9 78,5
Teste 04
7/20/2009
1,08 150 12,33 65,80 77,92 n.a. 17,47 2,17 n.a. n.a. n.a. 77,6 n.a.
Teste 05
8/5/2009
1,05 135 18,77 54,12 75,16 n.a. 12,68 4,51 4,26 5,15 0,30 83,1 93,0
Teste 06
9/12/2009
1,51 114 17,78 54,37 55,23 n.a. 8,99 1,49 n.a. 0,53 n.a. 83,7 n.a.
Teste 07
9/21/2009
1,60 114 18,50 49,80 66,72 3,04 11,22 0,20 0,85 0,50 0,14 83,2 83,8
Teste 08
Média (s/ result.descart.) % 64,68 3,46 16,17 5,78 5,38 1,19 0,92 74,5 82,5
Notas: n.a.: não avaliado.

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Tabela 2. Custo operacional (dados).
Resumo Balanço de Massa

R$/kg éster
Item Produto kg/h R$/kg kg/kg éster R$/kg éster Receita Custo

Borra de Refino 1000,0 0,17 2,20 0,37 0,374

Água de Processo -519,3 0,03 -1,14 -0,04 -0,038


Ácido Sulfúrico 82,8 2,05 0,18 0,37 0,374
Etanol Anidro 67,7 1,46 0,15 0,22 0,217
Entradas
Soda em Escamas 40,1 3,30 0,09 0,29 0,291
Sulfato de Alumínio (ETA) 24,2 1,25 0,05 0,07 0,067
Polímero (ETA) 0,003 19,00 0,00 0,00 0,000
Ciclohexano
0,0 0,00 0,000
(desidratação do etanol)
Éster Etílico de Ácido Graxo 454,2 2,03 1,00 2,03 2,035
Glicerina Loira (ETA) 20,5 1,22 0,05 0,05 0,055
Saídas Água Tratada (ETA) 0,03 0,00 0,00
Lodo do Tratamento de Água
220,8 0,10 0,49 0,05 0,049
(ETA)
Total 2,090 1,334

Resumo Energias

R$/kg éster
Quantidade R$/kg kg/kg éster R$/kg éster Receita Custo
Vapor (kg/h) 1794 0,067 3,95 0,265 0,265
Água de reposição torre resfr. (kg/h) 1950 0,03 4,29 0,142 0,142
Energia elétrica (kWh) 150 0,26 0,33 0,086 0,086
Demanda
Consumo
Total 0,000 0,493

Mão de obra

R$/kg éster

Quantidade/ R$1732,5/
Total Total Receita Custo
turno pessoa

Operador processo 2 6 10395 0,134

Operador ETA/ETE 1 3 5197,5

Operador caldeira 1 3 5197,5


R$ 36382,5
Laboratório 1 3 5197,5 para 25
dias/mês
Man.elétrica 1 3 5197,5

Man.mecânica 1 3 5197,5

Total 7 21

Total geral 2,090 1,960

Lucro 0,129

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Tabela 3. Dados para calculo de receita. Tabela 4. Obtenção do lucro líquido (consumo próprio).
24 h/dia Biodiesel de Borra de Refino de Óleo de Soja (consumo próprio - sem impostos)
25 dias/mês
Processamento: Demonstrativo de Resultado do Exercício (milhões de R$)
11 meses/ano
12/31/2008
6600 h/ano (consumo próprio - sem impostos)
Preço Biodiesel em 2,03 (preço final do
R$ %
R$/kg diesel)
Preço Glicerina Loira 1,22 (US$ 0,64 a Receita Operacional ou Vendas (V) 6.264.367,92 100,0%

em R$/kg R$1,55/US$) Custo do Produto Vendido (CPV) 5.876.392,85 93,8%


Custo Produção em
Lucro Bruto (LB) 387.975,07 6,2%
R$/kg 1,960
(biodiesel + glicerina) Despesas Administrativas 12.000,00 0,2%
Biodiesel 454,2 kg/h Despesas Gerais 12.000,00 0,2%
Glicerina 20,5 kg/h
Despesas Vendas 0,0%
Biodiesel 2.997.654 kg/ano
Glicerina 135.272 kg/ano Lucro Operacional (LO) 363.975,07 5,8%

6.099.877 R$/ano Receitas Financeiras - 0,0%


Biodiesel
Despesas Financeiras - 0,0%
164.491 R$/ano
Receita Bruta Lucros (prejuízos) excepcionais - 0,0%
Glicerina
6.264.368 R$/ano Lucro Antes do IR (LAIR) 363.975,07 5,8%
Total
IR (15%) CSSL (9%) 87.354,02 1,4%
Custo Produto
5.876.393 R$/ano
Vendido (CPV) Lucro Líquido (LL) 276.621,05 4,4%

conseguida com a implantação da


Investimento unidade de biodiesel dentro de uma
Tempo de Retorno = refinadora de óleo de soja, ou dentro
Lucro Líquido
de uma usina de álcool, o que poderia
sendo, acelerar o retorno do investimento.
Outro fator de grande importân-
Investimento = R$ 3.820.205,93 cia é o preço do biodiesel utilizado
Lucro Líquido = R$276.621,05/ano como referência. O estudo realizado
tomou como base o preço do diesel,
portanto mas, na prática, o governo tem esti-
mulado o desenvolvimento do setor
Tempo de Retorno = 13,81 anos com uma política de preços favorá-
vel, resultando em valor maior que
Figura 3. Tempo de retorno obtido no estudo realizado.
o do diesel, o que também tem con-
sequências positivas no tempo de
glicerídeos e dos fosfatídeos, permitin- total da borra, como o aumento do retorno do projeto.
do maior aproveitamento dos ácidos rendimento final de éster e a elimi- Portanto, há ainda muito a ser
graxos, principalmente dos presentes nação da etapa de transesterificação, estudado, mas os resultados aqui al-
nos fostatídeos, que estavam sendo porém sem o uso exagerado de ácido cançados servem de ponto de partida
perdidos para o tratamento de água. para a hidrólise, simplificando muito o rumo ao melhor aproveitamento da
Ou também o processamento em es- tratamento de água. borra de refino do óleo de soja, sub-
tado supercrítico, que poderia gerar os Deve ser considerada também a produto abundante e com interessante
mesmos benefícios da saponificação economia de instalações e operacional potencial energético.

30 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


Referências ÓLEOS VEGETAIS. Arquivos com asp?conteudo=72&id_pai=60&tar-
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SoybeanOil/ NACIONAL DAS EMPRESAS Pesquisas Tecnológicas do Estado de
DetalhesCota%c3%a7%c3%a3o/ DISTRIBUIDORAS DE São Paulo, São Paulo, 2010.
tabid/167/newsId/1127/language/ COMBUSTÍVEIS E LUBRIFICANTES.
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nov. 2008. anuais por produto e UF (m³).
1
Departamento de Engenharia Química
do Centro Universitário da Faculdade de
ABIOVE – ASSOCIAÇÃO Disponível em: <http://www. Engenharia Industrial (FEI) – São Paulo (SP),
BRASILEIRA DAS INDÚSTRIAS DE sindicom.com.br/#conteudo. Brasil. E-mail: zafaneli@ig.com.br

Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 31


ARTIGO

SEQEP: apresentando o
mercado para estudantes
Por Camila Calafiori Amancio

A
SEQEP é uma semana aca- Química e Farmácia, que participam Abertura: a abertura nada mais
dêmica com diversas ativi- em tempo integral de todas as ativida- é do que uma apresentação do que
dades complementares à for- des oferecidas. A VIII SEQEP, realiza- é a SEQEP por seus organizadores,
mação profissional dos participantes. da em 2013, contou com 230 partici- assim como uma breve palavra do
Realizado anualmente e organizado in- pantes, enquanto a IX SEQEP, ocorrida Departamento de Engenharia Química
teiramente pelos alunos de Engenharia em 2014, teve cerca de 250. e da própria direção da Escola
Química da Escola Politécnica da Em 2014, a nona edição da Politécnica, de quem recebemos total
Universidade de São Paulo (USP), SEQEP abordou o tema “As com- apoio para o evento.
nosso evento proporciona contato en- petências do engenheiro químico Palestra motivacional: para rea-
tre os alunos e as melhores empresas frente aos seus novos desafios”. Por lizar a palestra motivacional, a orga-
da área. meio desse tema, procuramos ex- nização procura escolher uma pessoa
Nosso principal objetivo é inte- por aos participantes habilidades do que os participantes conheçam e cujo
grar o estudante universitário com a engenheiro químico e como elas o tema da palestra os motivará, não
profissão e o mercado de trabalho, auxiliam na resolução dos atuais de- somente para a semana, como para
estabelecendo contato com temas safios da profissão, proporcionando seus futuros. A palestra não precisa
relevantes, indústrias e empresas do melhores condições para seu desen- remeter necessariamente ao tema do
ramo. Para isso, procuramos atrair volvimento profissional. evento, desde que atenda às especifi-
estudantes de Engenharia Química e Nosso cronograma é dividido entre cações acima.
áreas relacionadas, como Engenharia diversas atividades, apresentadas em Almoço: o almoço de todos os par-
de Alimentos, Química Industrial, uma sucinta descrição a seguir: ticipantes é fornecido pelo evento.

Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 33


Uma empresa pode participar da
SEQEP por meio de diversas formas de
colaboração. Entre elas, temos apoio
em produtos — suporte por meio do
fornecimento de material e serviços ne-
cessários ao evento —, atividades —
profissionais da empresa para minis-
trar palestras, oficinas e minicursos —,
visita técnica — acesso às instalações
da empresa, assim como disponibiliza-
ção de funcionários para acompanhar
os participantes — e patrocínio em
dinheiro — cotas financeiras distin-
tas. Em 2014, por exemplo, a SEQEP
contou com empresas de grande
nome como patrocinadoras, como Air
Palestras: apresentam temas rele- mostrando como os conhecimentos Liquide, BASF, Dow, Engevix, Essencis,
vantes e perspectivas atuais sobre as- são aplicados na indústria. Petrobras, Radix e Unigel.
suntos da área que remetam ao tema Oficinas: atividades que desafiam Fazer parte da SEQEP proporcio-
abordado durante a semana. os participantes, com foco mais prá- na muitas vantagens às empresas,
Coffee break tico. Têm temas diversos que vão assim como para os alunos, sejam
Minicurso: com duração total de de simulações de dinâmicas a cases elas da área química ou não, visto
seis horas divididas em dois dias, visa técnicos. que cada vez mais os alunos des-
complementar conhecimentos especí- Mesa-Redonda: promove debates sa área se interessam por âmbitos
ficos do estudante. sobre tópicos importantes no universo diferentes do de suas formações
Workshop: feira de stands onde os do engenheiro químico. e demonstram grande capacidade
representantes das empresas patroci- Encerramento: durante o encer- para desempenhar tais atividades.
nadoras podem conversar diretamente ramento a organização agradece a Durante o evento, as empresas en-
com os participantes, tirando suas dú- presença de todos, tanto participan- tram em contato com os alunos de
vidas e explicando mais a respeito da tes quanto empresas, há o anúncio diversos centros acadêmicos, e essa
companhia. Ocorre simultaneamente e a distribuição dos prêmios para aproximação entre a empresa e a
às minipalestras e à mostra de inicia- os melhores classificados na mos- universidade é uma oportunidade de
ção científica, porém ocorrem todas tra de iniciação científica e há entrega promover a empresa entre funcioná-
próximas umas às outras, permitindo de certificado aos participantes com rios em potencial e divulgar a marca
aos participantes ir e vir. mais de 70% de frequência durante para futuros profissionais da área —
Minipalestras: palestras de curta as atividades. que podem vir a ser clientes e públi-
duração com foco institucional. É um Como já mencionado anterior- co específico de Engenharia Química
espaço para a empresa patrocinado- mente, a SEQEP é realizada inteira- e áreas relacionadas.
ra se apresentar e divulgar seu traba- mente pela Associação de Engenharia A organização da X SEQEP, a ser
lho. Teve início em 2013 e, apesar de Química, centro acadêmico sem fins lu- realizada entre os dias 26 e 30 de
ocorrer simultaneamente ao workshop crativos dos estudantes de Engenharia janeiro de 2015, já começou. Para
e à mostra de iniciação científica, Química da Escola Politécnica da USP. maiores informações sobre nossa se-
atraiu muitas pessoas na oitava edi- A organização conta com cerca de 20 mana acadêmica, consultem nossa
ção da SEQEP. membros, que se reúnem semanal- página no facebook (www.facebook.
Mostra de IC: apresentação de tra- mente para planejar o evento, além do com/seqep) ou acessem nosso site
balhos acadêmicos realizados por par- apoio do Departamento de Engenharia (www.seqep.com.br).
ticipantes do evento, com premiação Química, que libera seus alunos das Muito obrigada pela atenção!
para os mais bem avaliados. aulas para que estes possam partici-
Visita técnica: oportunidade da par do evento, e da Administração da Associação de Engenharia Química – AEQ
Av. Professor Lineu Prestes, nº 580
empresa de trazer os alunos para Escola Politécnica. A semana é gratui- Bloco 19 – Cidade Universitária – USP
dentro de seu ambiente de trabalho, ta para todos os participantes. 05508-000 São Paulo – SP

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ARTIGO

XIX SINAFERM e X SHEB

N
os dias 30 de julho a 2 de O evento de 2013 contou com
agosto de 2013 foram reali- conferências plenárias, conferências
Além disso, 759
zados, em Foz do Iguaçu, o de área, mesas redondas, sessões trabalhos foram
XIX Simpósio Nacional de Bioproces- orais, sessões de pôsteres e mini-cur- submetidos e somente
sos (SINAFERM) e o X Simpósio de sos. Compareceram ao evento 716 51 foram reprovados —
Hidrólise Enzimática de Biomassas congressistas, sendo 94 graduandos, ou seja, 708 trabalhos
(SHEB), organizados pela Associa- 308 pós-graduandos, 246 professo- foram apresentados.
ção Brasileira de Engenharia Quími- res e pesquisadores e 68 profissio-
A abstenção foi baixa:
ca (ABEQ). nais de empresas. Mais de 50% dos
O SINAFERM acontece a cada participantes era da região sudeste do
100% dos trabalhos
dois anos, desde 1964, e seu obje- país. Os temas abordados nos mini- orais e 92% dos pôsteres
tivo é abordar as áreas dos biopro- cursos foram engenharia metabólica foram apresentados por
cessos, reportando avanços na área utilizando Optflux; Instrumentação e seus autores
de pesquisas e demonstrando dife- Monitoramento de Biorreatores; Imo-
rentes abordagens sobre o tema. bilização e Estabilização de Enzimas;
O SHEB, por sua vez, aborda fon- Caracterização de Biomassa Vegetal; trabalhos foram apresentados. A abs-
tes alternativas para a produção de Planejamento de Experimentos em tenção foi baixa: 100% dos trabalhos
biocombustíveis e é realizado des- Bioprocessos; e Técnicas Avançadas orais e 92% dos pôsteres foram apre-
de 1983. A partir de 2013, o SI- em Downstream. Além disso, 759 tra- sentados porseus autores.
NAFERM e o SHEB passaram a ser balhos foram submetidos e somente
realizados em conjunto. 51 foram reprovados — ou seja, 708 Link: www.sinafermsheb.com.br

36 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


ARTIGO

Recursos financeiros
para o setor de petróleo e gás
Por Eduardo Barbosa1, Tiara Bicalho2

P
“ romover o fomento a projetos Estudos e Projetos (Finep), com apoio setores estratégicos (MCTI, 2012).
que contemplem pesquisa, de- técnico da Petrobras, na seleção de Nesse contexto, a descoberta dos
senvolvimento, engenharia e/ou Planos de Negócios inovadores de grandes campos de petróleo no pré-
absorção tecnológica, produção e co- empresas brasileiras no setor de pe- sal e a alta dos preços das commo-
mercialização de produtos, processos tróleo e gás (P&G). dities no mercado mundial geraram a
e/ou serviços inovadores, visando o O objetivo do edital veio ao encon- expectativa pelo desenvolvimento de
desenvolvimento de fornecedores bra- tro da Estratégia Nacional de Ciência, novas tecnologias, tendo em vista os
sileiros para a cadeia produtiva da in- Tecnologia e Inovação (ENCTI) 2012- desafios da extração do petróleo em
dústria de petróleo e gás natural [...]” 2015, divulgada em 2012 pelo águas profundas. Esse fato contri-
(FINEP; BNDES, 2013). Ministério da Ciência, Tecnologia e buiu para aumentar a notoriedade do
Essa foi uma das finalidades do 2º Inovação (MCTI), que aborda a ele- setor de P&G na política de Ciência,
Edital do Programa Inova Petro, lan- vação de recursos financeiros des- Tecnologia e Inovação (CT&I) brasilei-
çado em janeiro deste ano e ainda em tinados a apoiar o desenvolvimento ra, que se voltou a estimular o desen-
andamento. A iniciativa envolve uma tecnológico e a inovação em uma volvimento da cadeia produtiva local.
ação conjunta do Banco Nacional economia do conhecimento, dan- O enfoque no desenvolvimento
de Desenvolvimento Econômico e do enfoque a temas que visam am- da cadeia produtiva local é justifica-
Social (BNDES) e da Financiadora de pliar as competências nacionais em do ao se observar que cerca de 90%

38 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


As empresas
pertencentes à cadeia
de P&G podem se
beneficiar de deduções
e exclusões da base
de cálculo do lucro
líquido para apuração
do Imposto de Renda
de Pessoa Jurídica
(IRPJ) e Contribuição
Social sobre o Lucro
Líquido (CSLL)

dos serviços e produtos mais intensi- mecanismos indiretos de apoio finan- ganho de qualidade ou produtivida-
vos em tecnologia demandados pela ceiro à inovação, os incentivos fiscais, de, resultando maior competitividade
indústria do petróleo são importados. bem como mecanismos de aporte di- no mercado” (BRASIL, 2005). É im-
Assim, o atual plano estratégico de reto de recursos à inovação por meio portante ressaltar que, para a Lei do
CT&I para o setor de P&G surgiu com de programas dos órgãos de fomento. Bem, a pesquisa e desenvolvimento
o objetivo de desenvolver tecnologias A seguir, serão tratadas as prin- deve ser vista pelo contexto de ino-
e novos negócios na cadeia de produ- cipais oportunidades para o setor de vação na empresa, sem necessida-
ção do petróleo e do gás natural, com P&G por meio da apresentação des- de de ser uma inovação inédita para
ênfase em fornecedores nacionais de ses mecanismos. os contextos nacional ou mundial.
bens e serviços. Normalmente, o incentivo representa-
Nesse setor, a Petrobras ocu- Os incentivos fiscais à rá um retorno financeiro entre 20,4%
pa papel importante, de forma que inovação tecnológica e 27,2% dos dispêndios nos proje-
seu Plano de Negócios para o pe- tos de PD&I, podendo chegar a 34%
ríodo de 2011-2015 prevê investi- Devido à intensa necessidade do (INVENTTA+BGI, 2014).
mentos de U$ 224,7 bilhões, com desenvolvimento de equipamentos e no- Em um cenário nacional, à medida
maior destinação ao segmento de vas tecnologias para serem utilizados no que a exploração de petróleo avançou
exploração e produção, gerando im- contexto do pré-sal, bem como ao risco cada vez mais em direção a águas ul-
pacto em toda a cadeia produtiva tecnológico que envolve os projetos de traprofundas, avanços tecnológicos
nacional (MENDONÇA; OLIVEIRA, inovação nessa área, as empresas per- relacionados a sistemas submarinos
2013). Além disso, os investimen- tencentes à cadeia de P&G podem se be- (cabeças de poço, árvore de natal mo-
tos em Pesquisa, Desenvolvimento neficiar de deduções e exclusões da base lhada e coletores submarinos), linhas
e Inovação (PD&I) nesse setor são de cálculo do lucro líquido para apuração submarinas (linhas flexíveis e umbili-
estimulados pela cláusula 24 dos do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica cais), sistemas de controle e alimen-
contratos de concessão, estabeleci- (IRPJ) e Contribuição Social sobre o tação elétrica são aqueles com maior
dos em 1998, que prevê a obrigato- Lucro Líquido (CSLL), decorrente de dis- potencial para utilização dos incentivos
riedade de o concessionário investir pêndios em pesquisa tecnológica e de- fiscais, uma vez que os maiores de-
1% da receita bruta de um campo senvolvimento de inovação tecnológica, safios tecnológicos e incertezas estão
sob o qual incida a participação es- conhecida como Lei do Bem. integralmente relacionados ao desen-
pecial na realização de despesas de A Lei no 11.196/05 conceitua volvimento de soluções aplicadas às
PD&I, sendo que pelo menos 50% inovação como “a concepção de condições mais severas de pressão
desses recursos devem ser aplicados novo produto ou processo de fabrica- e temperatura do meio submarino
na contratação de instituições de ção, bem como a agregação de novas (MENDES; ROMEIRO; COSTA, 2012).
P&D nacionais. funcionalidades ou características Nesse contexto, é importante que
Além dos investimentos privados, ao produto ou processo que impli- empresas de todos os portes que atuam
o setor de P&G é beneficiado por que melhorias incrementais e efetivo no setor de P&G consolidem seus

Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 39


processos de desenvolvimento de pro- de apoio financeiro dos órgãos de fomen- disponibilizados recursos na ordem de
dutos, internalizem atividades de pes- to, como a Finep, o BNDES e as FAPs R$ 32,9 bilhões.
quisa e desenvolvimento, buscando estaduais. Tais instrumentos podem pro- Do montante total de recursos pre-
especialização de sua mão-de-obra ver recursos reembolsáveis ou recursos vistos no Programa Inova Empresa,
que gere conhecimentos internos para não reembolsáveis a empresas de dife- R$ 4,1 bilhões deverão ser destinados
avanço contínuo nas fronteiras do rentes portes, bem como a Instituições ao setor de P&G, sendo que destes,
conhecimento. de Ciência e Tecnologia (ICTs). R$ 3 bilhões serão voltados ao pipe-
No ultimo Relatório Anual da Os recursos reembolsáveis são line de tecnologias para áreas mais
Utilização dos Incentivos Fiscais – Ano- aqueles que apresentam taxas de ju- intensivas em conhecimento, dentro
Base 2012, divulgado pelo MCTI no ros subsidiadas, com prazos de pa- do Programa Inova Petro. O restante
mês de dezembro de 2013, foi apresen- gamento de até 12 anos. Os recursos dos recursos destinados ao setor será
tada a utilização dos benefícios fiscais não reembolsáveis são aqueles em que distribuído por meio de outras iniciati-
previstos na Lei do Bem por diversas não é necessária sua devolução à fon- vas, que abrangem tecnologias para a
empresas do setor de P&G no Brasil. te de fomento, sendo disponibilizados cadeia do pré-sal e para a exploração
Entre as que utilizaram o benefício às empresas por meio da subvenção do gás não convencional.
estão: BG Group, FMC Technologies, econômica, ou às ICTs por intermé- Os R$ 3 bilhões de recursos a
Oceaneering do Brasil, Repsol Sinopec, dio de instrumentos cooperativos ICT/ serem disponibilizados por meio do
Statoil, entre outras (MCTI, 2013). Empresa. Inova Petro deverão ser distribuídos
Nesse contexto, dentre às inicia- entre 2012 e 2017, sendo meta-
Recursos diretos à inovação tivas recentes voltadas para fomento de dos recursos apoiados pelos ins-
à inovação, destaca-se o Plano Inova trumentos da Finep e a outra, pelo
Outra maneira de alavancar a inova- Empresa, que envolve a articulação BNDES. Os recursos da Finep poderão
ção nas empresas é por meio da capta- de diferentes ministérios, além do ser oferecidos nas modalidades crédi-
ção direta de recursos financeiros para BNDES e da Finep como executores tos reembolsáveis, subvenção econô-
desenvolvimento de programas ou proje- do programa. Por meio desse progra- mica, não reembolsável via cooperati-
tos de inovação. Esses recursos são dis- ma, para o desenvolvimento de pla- vo ICT-Empresas e investimento direto
ponibilizados por meio de instrumentos nos de negócios inovadores, serão em empresas inovadoras. O BNDES

40 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


apoiáveis e ao processo de manifes- aumento do nível de internalização de
A cadeia tação de interesse. competências, aumento do grau de co-
produtiva de petróleo Durante os workshops, foram apre- nhecimento gerencial sobre projetos de
e gás apresenta sentadas as linhas temáticas a serem inovação tecnológica, abertura na par-
oportunidades diversas apoiadas e seus subtemas. Vale a ticipação em plataformas tecnológicas
pena ressaltar que até 2017 altera- e proventos de representatividade no
para solucionar
ções pontuais nos subtemas serão cenário de P&D nacional.
gaps tecnológicos, realizados de acordo com as priorida-
utilizando os recursos des estabelecidas pelas instituições, Considerações finais
financeiros disponíveis sendo necessário o monitoramento
nos programas contínuo das tecnologias potenciais. Observamos que existem muitos
governamentais Nesses workshops, foi possível perce- questionamentos relacionados à utili-
como uma forma de ber que o Inova Petro tem um objetivo zação dos benefícios fiscais e na cap-
diferencial frente aos outros progra- tação de recursos. Quanto ao primeiro,
compartilhar os riscos mas; nesse caso, além do desenvol- os questionamentos são referentes ao
inerentes à inovação vimento de inovações, o foco é na ge- desconhecimento da lei de incentivo
ração de tecnologias que representem à inovação, dos conceitos de inovação
competitividade global às empresas para a empresa, da metodologia de
poderá aplicar seus recursos na forma sediadas no Brasil. Essa peculiaridade enquadramento de projetos e dos me-
de crédito reembolsável, participa- pode ser percebida pela abertura da canismos de controle dos dispêndios
ção acionária e não reembolsável via linha relacionada a serviços de aná- com projetos, já que nesse cenário um
Funtec (FINEP; BNDES, 2013).. lises de petrofísica de reservatórios diagnóstico e um plano de ações eficaz
O programa tem vigência prevista e tecnologias de exploração de gás e possibilitam a redução das incertezas
até o ano de 2017, porém com abertu- óleo de fonte não convencional (shale no uso dos incentivos. Em relação à
ra de editais anuais, oferecendo recur- gas e shale oil). captação de recursos, percebemos
sos para desenvolvimento de tecnolo- Destacamos que os principais que existem três diferentes fases de
gias voltadas a atender às demandas critérios estabelecidos para todas as maturidade: Operacional, Estrutural e
da cadeia produtiva, nas seguintes li- fases de seleção, deste e dos futuros Estratégica. Essa maturidade, obtida
nhas temáticas: (i) Processamento de editais, são relacionados à aderência ao longo do tempo e das experiências
Superfície; (ii) Instalações Submarinas; dos projetos aos objetivos do progra- da empresa com os agentes de finan-
(iii) Poços; e (iv) Reservatórios. ma, consistência entre a estratégia ciamento, favorece a obtenção de re-
Desde a criação do programa até competitiva e de inovação da empresa cursos. O objetivo final é que a empre-
o presente momento, foram lança- com o projeto proposto, capacidade sa esteja estruturada o bastante para
dos dois editais de chamada pública. financeira e gerencial da empresa em captar recursos de forma eficiente e
Após o encerramento de sua primeira cumprir os objetivos propostos e sua que as atividades de pesquisa e inova-
etapa, foi recebida uma demanda de capacitação técnica. As empresas que ção tecnológica tornem-se constantes,
R$ 2,8 bilhões por meio de 38 Cartas desejem exclusivamente recursos não parte do dia a dia da organização.
de Manifestação de Interesse. O resul- reembolsáveis, devem ainda se aten- A cadeia produtiva de petróleo e
tado final foi divulgado em agosto de tar ao grau de novidade do projeto, gás apresenta oportunidades diversas
2013, com 11 empresas seleciona- conteúdo local, grau de maturidade para solucionar gaps tecnológicos, uti-
das que repartirão recursos da ordem no desenvolvimento de inovações e lizando os recursos financeiros dispo-
de R$ 353 milhões. Entre as selecio- experiências anteriores com projetos níveis nos programas governamentais
nadas, sete são de capital nacional e de inovação tecnológica. como uma forma de compartilhar os
quatro, multinacionais. Vale a pena lembrar que ainda estão riscos inerentes à inovação. Entender
Ao longo deste ano, as institui- disponíveis outras fontes de recursos à essa dinâmica é o desafio para trans-
ções apoiadoras do programa, com inovação tecnológica por meio da sub- por as barreiras do conhecimento,
o suporte técnico da Petrobras, rea- missão de projetos e planos de negócios manter a competitividade no merca-
lizaram workshops tecnológicos com por fluxo contínuo, como o Finep 30 do e contribuir na transformação dos
o objetivo de apresentar as linhas te- Dias e o BNDES Inovação. Esses ins- recursos provenientes do pré-sal em
máticas do Inova Petro, além de sa- trumentos podem representar o primei- desenvolvimento econômico e social
nar dúvidas referentes às tecnológicas ro passo na estruturação de empresas, para o País.

Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 41


Apoiamos grandes empresas a Referências MCTI. Estratégia Nacional de
otimizar seus investimentos em pes- Ciência, Tecnologia e Inovação
quisa e desenvolvimento, por meio da BRASIL. Lei nº 11.196 de 21 2012 – 2015. Balanço das
captação ativa de recursos financeiros de novembro de 2005. Brasília: Atividades Estruturantes 2011.
ou utilização dos incentivos fiscais, e Senado, 2005. Disponível em: <http://www.mct.
percebemos a necessidade de com- FINEP; BNDES. Edital de seleção gov.br/upd_blob/0218/218981.
partilharmos informações sobre os pública conjunta BNDES/FINEP pdf> Acesso em 13 mar. 2012.
instrumentos de apoio para que as de apoio à inovação tecnológica MCTI. Relatório Anual da
empresas se tornem inovadoras ou industrial no setor de petróleo Utilização dos Incentivos Fiscais:
inovem cada vez mais. & gás – Inova Petro – 01/2014. Ano Base 2012. Brasília, 2013.
Entendemos que o compartilhamen- 2013. Disponível em: http:// Disponível em: <http://www.mct.
to das experiências daquelas empresas download.finep.gov.br/chamadas/ gov.br/upd_blob/0229/229781.
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passo importante para ampliar o co- Acesso em 15 jan. 2014. G. A Política de Conteúdo Local
nhecimento desses mecanismos e so- INVENTTA+BGI. Lei do Bem: no Sistema Setorial de Inovação
lucionar dúvidas, buscando equacionar como alavancar a inovação com a do Setor de Óleo & Gás Brasileiro.
as barreiras e os desafios encontrados utilização dos incentivos fiscais. Brasília, 2013. Disponível em:
com os impactos positivos em seus 1. ed. São Paulo: Editora Pilares, < h t t p : / / w w w. a l t e c 2 0 1 3 . o r g /
resultados. 2014. programme_pdf/799.pdf> Acesso
Compartilhe conosco: sua empresa já MENDES, A. P. A.; ROMEIRO, em 15 jan. de 2014.
participou de algum edital ou já utilizou R. A. P.; COSTA, R. C. Mercado e
os benefícios da Lei do Bem? Quais fo- aspectos técnicos dos sistemas
ram as barreiras e os desafios encontra- submarinos de produção de petróleo
1
Innovation Project Analyst na Inventta+bgi–
E-mail: eduardo.barbosa@inventta.net
dos? E como os mecanismos de fomento e gás natural. BNDES Setorial 35, 2
Innovation Project Manager na Inventta+bgi –
deveriam atender as empresas? Brasília, p. 155-188. 2012. E-mail: tiara.bicalho@inventta.net

42 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


Mix with the world of pharma,
products, people & solutions
ARTIGO

Resistência específica do material


sedimentado em ensaio de Jar Test,
obtido com a adição de lodo de
Estação de Tratamento de Água
Por Leonora Milagre de Souza1, Paulo Sérgio Scalize2

características reológicas e fractais,


Introdução coagulação/floculação tem se mostra- como morfologia, tamanho e dimen-
do oportuna na solução de problemas sões, variando com as dosagens de
É evidente a crescente demanda de das ETAs. Segundo Cordeiro (1981), polímero. No caso da pesquisa des-
água para consumo humano (FABRIZI quando o resíduo é empregado de for- ses autores, utilizando polímero de
et al., 2010) e o alto grau de polui- ma controlada, pode contribuir para elevado peso molecular catiônico, o
ção e contaminação dos mananciais. a redução do consumo de insumos diâmetro médio dos flocos agregados
As Estações de Tratamento de Água químicos e a melhoria da sedimenta- nas suspensões do resíduo aumentou
(ETAs) têm grande importância frente bilidade dos flocos, obtendo-se, por com certas dosagens de polímero,
a essa problemática, pois removem o consequência, a redução nos custos aumentando também a resistência
material em suspensão na água bruta de tratamento de água. específica para filtração. A dosagem
e geram grandes quantidades de resí- A caracterização do resíduo é de ótima de polímero no estudo foi de 8
duos, muitas vezes dispostos direta- extrema importância para os estu- ou 24 kg.ton-1 de resíduo seco, o que
mente nos corpos d’água. dos de impacto ambiental (AYOL, indica a necessidade de testes para
Em geral, o resíduo das ETAs é DENTEL e FILIBELI, 2005) e para determinar essa dosagem.
constituído por matéria orgânica e a definição de parâmetros de projeto De acordo com Reali (1999),
inorgânica, além de grande concen- para o transporte, o armazenamento, os resíduos podem apresentar va-
tração de água, de óxidos e hidróxi- o aterro e as operações de disper- lores de resistência específica en-
dos de alumínio, no caso da utilização são, e de parâmetros de controle em tre 5x1012 e 70x1012 m.kg-1. No
de coagulantes a base de alumínio muitos tratamentos, tais como o seu trabalho desenvolvido por Grandin
(MILLER et al., 2011). deságue (CHEN, LEE e LEE, 2005), (1992), com exceção do lodo novo
De acordo com Moghaddam, Alavi o qual pode ser constatado pelo tes- dos decantadores sem condiciona-
Moghaddame e Arami (2010), com o te de resistência específica, definida mento, que apresentou característi-
aumento contínuo na produção desse pela APHA (2005) como sendo a re- cas boas de filtrabilidade com valor
tipo de resíduo e com a existência de sistência oferecida por um peso uni- de 2,72x1012 m.Kg-1, os demais lo-
normas que apontam a necessidade tário de lodo por unidade de área de dos não condicionados quimicamen-
de evitar disperdícios, a reutilização filtro, isto é, lodos com resistência es- te apresentaram resistências espe-
do resíduo tem sido estudada e in- pecífica menor são considerados de cíficas maiores que 5x1012 m.kg-1,
vestigada particulamente nos últimos mais fácil deságue. O aumento dos sendo considerados de difícil desa-
anos. Segundo os autores, os resí- valores de resistência implica que guamento. Segundo esse autor, de
duos das ETAs podem ser considera- os poros entre os flocos tornaram-se forma geral, os lodos com resistência
dos uma matéria-prima valiosa para menores e o impedimento correspon- específica superior a 5x1012  m.kg-1
o tratamento de diversos poluentes dente foi alto para o transporte de são considerados de difícil desá-
devido ao seu elevado teor de hidró- água sob pressão. gue, e os com valores inferiores a
xido de metal. Segundo Dong, Wang e Feng 1x1012 m.kg-1 são fáceis de desaguar.
A utilização do resíduo de decan- (2011), o condicionamento do re- De acordo com Wolfe et al. (1996),
tador na melhoria do processo de síduo de ETA pode alterar suas os lodos com resistência específica

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acima de 10x1012 m.kg-1 têm baixa Os valores dos parâmetros de mis- Tendo em vista que o volume de
desaguabilidade. tura rápida, floculação e sedimen- material sedimentado obtido nos en-
Dessa forma, o presente trabalho tação utilizados nos ensaios de Jar saios de Jar Test era pequeno para a
tem como objetivo avaliar o efeito da Test foram os mesmos utilizados nos caracterização e o estudo de resis-
aplicação de resíduo de decantador de ensaios de Jar Test na ETA e, conse- tência especifica, os ensaios foram
ETA, que utiliza sulfato de alumínio quentemente, aqueles empregados no realizados em réplicas, o que per-
como coagulante, no desaguamento tratamento da ETA. mitiu a geração de uma quantidade
do material sedimentado em ensaio O coagulante primário utilizado na maior de material.
de Jar Test, por meio do teste de re- etapa de coagulação do tratamento Os melhores resultados obtidos
sistência específica à filtração. da água foi o sulfato de alumínio – nas séries de ensaios utilizando
Al2(SO4)3.14H2O. As amostras do água com valores de turbidez di-
METODOLOGIA resíduo dos decantadores aplicadas ferentes (séries 1 e 2) apresenta-
nos ensaios de Jar Test foram prepa- ram concomitantemente a remoção
Resíduo para o teste de radas para apresentar SST da ordem de turbidez do sobrenadante igual
resistência específica de 1.500, 3.000, 4.500, 6.000 e ou superior à remoção no branco,
9.000 mg.L-1. a aplicação de menor dosagem de
A aplicação do resíduo dos de- Após a realização dos ensaios de coagulante e a aplicação do resíduo
cantadores da ETA no tratamento de Jar Test e a coleta das amostras do com maior concentração de SST.
água se deu por meio de ensaios de sobrenadante para caracterização, o Considerando a operacionalidade
bancada utilizando o equipamento de restante do sobrenadante foi retirado da ETA, os melhores resultados fo-
reatores estáticos Jar Test. Os parâ- com o auxílio do dispositivo de cole- ram aqueles em que se utilizou a
metros e seus valores aplicados nos ta de amostras do equipamento e de concentração do resíduo que aten-
ensaios estão descritos na Tabela 1. uma bomba a vácuo, com adaptação deu aos critérios anteriores em to-
Mantiveram-se fixos os volumes de uma pipeta na extremidade. Em das as séries de ensaios.
de água (2.000 mL) e de resíduo cada cuba restou volume variável (55 O estudo de resistência específica
(40 mL) aplicado em cada cuba do a 90 mL) composto de um pouco de foi realizado com o material sedimen-
Jar Test; e variaram-se as dosagens sobrenadante e material sedimentado tado após realização dos ensaios de
de coagulante (30 a 90% da dosagem no fundo da cuba. Esse método foi Jar Test considerando os melhores re-
utilizada na ETA) e as concentrações utilizado para minimizar a turbulência sultados das séries 1 e 2.
de sólidos suspensos totais (SST) nas no sobrenadante e o revolvimento do
amostras de resíduo. resíduo sedimentado. Teste de resistência
específica à filtração

O teste de resistência específica foi


Tabela 1. Valores dos parâmetros de mistura rápida, floculação e sedimentação para realizado com o objetivo de determinar
ensaios de Jar Test. a aptidão dos materiais sedimentados
Etapas Parâmetros Valores Unidades (com e sem aplicação do resíduo de
Gmr1 200 s-1 ETA) ao desaguamento por meio de
filtros prensas ou a vácuo, conforme
Mistura rápida Tmr1 60 s indicado por Andreoli, Von Sperling e
Tmr2 20 s Fernandes (2001).
Devido à dificuldade de obtenção
Gf1 50 s-1
de volumes maiores de material, foi
Tf1 12 min utilizado o teste da resistência espe-
Gf2 30 s-1 cifica conforme adaptado por Scalize
Floculação e Di Bernardo (1999) com base no
Tf2 06 min
teste do tempo de filtração cons-
Gf3 20 s-1 tante na 21ª edição do Standard
Tf3 06 min Methods for the Examination of
Water and Wastewater publicado
Sedimentação Ts 5 min
pela APHA (2005).

Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 45


De acordo com Almeida, Gonçalves
e Guimarães (1991), numericamente
t/v
a resistência específica pode ser de-
terminada por meio da equação 1:
Fase

2. b . P . A
2
Inicial
r= (Equação 1)
 µ. c

na qual: Fase
r = resistência específica (cm/g); b
Final
P = pressão de filtração (g/cm.s2).
A = área filtrante (cm2);
μ = viscosidade do filtrado (g/cm.s);
c = massa de sólidos da torta seca por
V
unidade de volume filtrado (g/cm3);
Fonte: Almeida; Gonçalves e Guimarães (1991).
b = valor da tangente no trecho retilí-
neo do gráfico “t/v” (s/cm3) versus “v”
Figura 1. Gráfico típico dos valores de “t/v” em função de “v”, para obtenção de “b” no
(cm3), resultante da equação 2:
cálculo da resistência específica.

t2 t
- 1
V2 V1
b
 = tgα = (Equação 2)
V2 - V1
em que:
t = tempo de filtração (s);
v = volume filtrado (cm3).

O valor de “b” é obtido construin-


do-se um gráfico no qual se tem os
valores de “v” e “t/v”, conforme mos-
trado na Figura 1.
A Figura 2 ilustra os equipamentos
e materiais utilizados no teste de re-
sistência específica.

Resultados e discussões

As amostras de água bruta coletadas


na ETA e utilizadas nos ensaios apre-
sentavam 95 UNT (série 1) e 218 UNT Figura 2. Equipamentos e materiais utilizados no teste de resistência específica.
(série 2). As amostras preparadas do
resíduo dos decantadores da ETA para
aplicação nos ensaios de Jar Test apre- 3.645 mg.L-1. Para a série 2, os me- Test foram caracterizadas quanto ao
sentaram 2.615, 3.645, 4.664, 7.500, lhores resultados foram: 35 e 40% da teor de sólidos, conforme apresentado
8.573 e 9.670 mg.L-1 de SST. dosagem de coagulante, com a apli- nas Tabelas 2 e 3.
Os melhores resultados para a cação de resíduo com 2.678 mg.L-1 e As curvas dos volumes filtrados
série 1 foram aqueles com 50% da 45 e 55% da dosagem de coagulan- em função do tempo de filtração para
dosagem de coagulante, com a apli- te, com a aplicação de resíduo com as diferentes concentrações de resí-
cação de resíduo com 7.500 mg.L-1, 8.556 mg.L-1. duos aplicados nos testes de resistên-
e 75% da dosagem de coagulan- As amostras do material sedimen- cia específica estão apresentadas nas
te, com aplicação de resíduo com tado gerado após os ensaios de Jar Figuras 3 e 4.

46 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


Tabela 2. Caracterização do material sedimentado nos melhores resultados para série 1. Ao adicionar o resíduo de ETA, o tem-
po de filtração do material sedimentado
Turbidez = 95 UNT
tornou-se maior se comparado à situa-
SST do resíduo aplicado (mg.L-1) 0 3.645 7.500
ção sem aplicação do resíduo, o que era
esperado devido ao aumento na quanti-
Coagulante (% da dosagem da ETA) 100 75 50 dade de sólidos. Nos ensaios com água
de turbidez 218 UNT, o tempo de filtra-
Parâmetros Resultados ção foi maior com a aplicação do resíduo
mais concentrado.
Sólidos totais (mg.L-1) 7.160 10.472 13.568 Nessa série, a resistência específica
dos materiais sedimentados foi cerca de
Sólidos fixos totais (mg.L-1) 5.604 7.556 10.720
70 a 130% maior que a resistência do
Sólidos voláteis totais (mg.L-1) 1.556 2.916 2.848
material sedimentado que não recebeu
resíduo da ETA, como apresentado na
Sólidos suspensos totais (mg.L-1) 6.329 9.657 11.743 Tabela 4. Provavelmente, isso se deve a
maior quantidade de hidróxido presente
Sólidos suspensos fixos (mg.L-1) 5.143 7.243 10.557 no material sedimentado, proveniente
do resíduo da ETA adicionado ao ensaio
Sólidos suspensos voláteis (mg.L-1) 1.186 2.414 1.186 de Jar Test. Esses resultados confir-
mam os resultados obtidos por Richter
Sólidos dissolvidos totais (mg.L-1) 831 815 1.825
(2009), cuja indicação foi que os lodos
Sólidos dissolvidos fixos (mg.L-1) 461 313 163
com menor proporção de hidróxido de
alumínio são mais fáceis de adensar e,
Sólidos dissolvidos voláteis (mg.L-1) 370 502 1.662 portanto, desaguar.
Na série 1, o comportamento foi
semelhante, porém com a exceção do
Tabela 3. Caracterização do material sedimentado nos melhores resultados para série 2. material que recebeu resíduo com SST
igual a 7.500 mg.L-1. Nesse caso, o de-
Turbidez = 218 UNT
saguamento foi favorecido, já que a re-
sistência foi inferior à obtida no branco
SST do resíduo aplicado (mg.L-1) 0 2.678 2.678 8.556 8.556
(8,3x1012 m.kg-1), como apresentado
Coagulante (% da dosagem da ETA) 100 35 40 45 55 na Tabela 5.
Segundo a classificação de Grandin
Parâmetros Resultados (1992), os materiais sedimentados são
considerados de difícil desaguamento,
Sólidos totais (mg.L-1) 9.993 12.750 12.867 19.953 17.320 exceto aquele gerado na série 2 sem apli-
cação de resíduo, cuja resistência é de
Sólidos fixos totais (mg.L-1) 8.177 10.343 10.473 16.493 14.080 3,8x1012 m.kg-1. Segundo este autor, a
comparação dos resultados de resistên-
Sólidos voláteis totais (mg.L-1) 1.817 2.407 2.393 3.460 3.240
cia específica de resíduos de estudos dis-
Sólidos suspensos totais (mg.L-1) 9.460 12.540 12.540 18.970 16.630 tintos deve ser cuidadosa. Deve-se levar
em consideração, entre outros aspectos,
Sólidos suspensos fixos (mg.L-1) 7.680 10.310 10.290 15.660 13.560 o condicionamento químico, a idade do
lodo, a área do meio filtrante utilizada
Sólidos suspensos voláteis (mg.L-1) 1.780 2.230 2.250 3.310 3.070 no teste, já que podem ocorrer variações
nas determinações por alterações na
Sólidos dissolvidos totais (mg.L-1) 533 210 327 983 690 espessura da torta, efeitos de parede e
eventual compressão da torta.
Sólidos dissolvidos fixos (mg.L-1) 497 33 183 833 520
Nos estudos realizados por Grandin
Sólidos dissolvidos voláteis (mg.L-1) 37 177 143 150 170 (1992), o lodo novo de decantador
(tempo de armazenamento inferior a

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100

90 Branco
3.645 mg.L-1 (75% da dosagem de coagulante)
80 7.500 mg.L-1 (50% da dosagem de coagulante)

70

60
Tempo de filtração (s)

50

40

30

20

10

0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Volume filtrada (mL)

Figura 3. Volume filtrado em função do tempo de filtração do material sedimentado para os melhores resultados dos ensaios com água
95 UNT (série 1).

dez dias) apresenta desaguamento su- Na Figura 5 observa-se que não com 7.500 mg.L-1 e 50% de sulfato de
perior ao do lodo velho, quando não há houve correlação entre a resistência es- alumínio. Nesse caso, a resistência foi
condicionamento químico. No caso des- pecífica e a concentração de SST nas igual a 6,8x1012 m.kg-1, inferior ao valor
te estudo, o tempo de armazenamento amostras. Segundo Christensen e Dick obtido na amostra sem adição do resí-
do material sedimentado foi superior a (1985) apud Grandin (1992), a resis- duo (8,3x1012 m.kg-1). Nas amostras
dez dias, indicando que o deságue po- tência se torna relativamente indepen- analisadas ao longo do estudo, não foi
deria ser superior se o processo de desi- dente para altas concentrações de SST, verificada correlação entre a resistência
dratação fosse feito com o material mais como é o caso deste estudo. específica e a concentração de SST.
novo, como ocorreria em uma ETA. Recomenda-se a realização de es-
Ainda que não tenha sido realizado Conclusão e Recomendação tudos considerando o condicionamento
condicionamento químico do material químico do material sedimentado para o
sedimentado para o teste de resis- O desaguamento, em escala labo- deságue por meio de filtração, verifican-
tência, sabe-se que a adição de po- ratorial, do material sedimentado em do as vantagens e desvantagens. É im-
lieletrólito, em dosagens específicas, ensaio de Jar Test por meio do teste portante que os estudos sejam realiza-
poderia melhorar substancialmente o de resistência específica ficou preju- dos de tal forma que a água bruta e o
seu desaguamento, já que garantiria dicado com a aplicação do resíduo de material sedimentado sejam analisados
a formação de uma estrutura pouco decantador de ETA, exceto para o en- em menor tempo possível, reduzindo as
compressível e de alta filtrabilidade. saio com água de 95 UNT e resíduo interferências do armazenamento.

48 Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br


280
Branco
260
2.678 mg.L-1 (35% da dosagem de coagulante)
240 2.678 mg.L-1 (40% da dosagem de coagulante)
8.556 mg.L-1 (45% da dosagem de coagulante)
220 8.556 mg.L-1 (55% da dosagem de coagulante)
200

180
Tempo de filtração (s)

160
140

120
100

80
60
40

20

0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Volume filtrado (mL)

Figura 4.Volume filtrado em função do tempo de filtração do material sedimentado para os melhores resultados dos ensaios com água
218 UNT (série 2).

Tabela 4. Resistência específica do material sedimentado após realização do ensaio de Jar Test – série 2 (218 UNT).
Turbidez = 218 UNT
SST do resíduo aplicado (mg.L )-1
0 2.678 2.678 8.556 8.556
Coagulante (% da dosagem da ETA) 100 35 40 45 55
SST do material sedimentado (mg.L-1) 9.460 12.540 12.540 18.970 16.630
Parâmetro Resultados
Resistência específica (x1012 m.kg-1) 3,8 6,3 6,1 9,0 6,1

Tabela 5. Resistência específica do material sedimentado após realização do ensaio de Jar Test – série 1 (95 UNT).
Turbidez = 95 UNT
SST do resíduo aplicado (mg.L )
-1
0 3.645 7.500
Coagulante (% da dosagem da ETA) 100 75 50
SST do material sedimentado (mg.L-1) 6.329 9.657 11.743
Parâmetro Resultados
Resistência específica (x1012 m.kg-1) 8,3 9,4 6,8

Revista Brasileira de Engenharia Química I 3º quadrimestre 2013 www.abeq.org.br 49


MOGHADDAM, S. S.; ALAVI
MOGHADDAM, M. R.; ARAMI, M.
10 Coagulation/flocculation process for
Resistência específica (x1012 mg.L-1)

9 dye removal using sludge from water


8 treatment plant: Optimization through
7 response surface methodology.
6 Journal of Hazardous Materials, v.
175, p. 651-657, 2010.
5
REALI, M. A. P. Principais
4
Características Quantitativas e
3
Qualitativas do Lodo de ETAs. In:
2 ______. Noções Gerais de Tratamento
1 e Disposição Final de Lodos de
0 Estações de Tratamento de Água. Rio
2,6
2,7
3,6
4,7

6,3
7,5
8,6
8,6
9,5
9,7
9,7
11,7
12,5
12,5
12,7
14,3
16,6
19,0
19,1
5,4

de Janeiro: PROSAB, 1999, cap. 2.,


SST (x103 mg.L-1) p. 21-39.
RICHTER, C. A. Sedimentação e
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