PSICOLOGIA JURÍDICA.
RESUMO:
O presente estudo tem como objetivo identificar na obra de Michel Focault:
Eu Pierre Rivière, que Degolei Minha Mãe, Minha Irmã e Meu Irmão, as contribuições
do caso Rivière para uma intersecção entre o direito e a psiquiatria na conformação
do que posteriormente se tornaria uma Psicologia Jurídica, de modo a fazer emergir
uma nova perspectiva para um tratamento jurídico mais adequado aos portadores de
psicopatologias .
Palavras-Chave:
Pierre Rivière; manomania; psicopatologia; psicologia jurídica; psicopatia; Michael
Foucault.
1
Graduado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana; Especializado em Filosofia
Contemporânea pela Universidade Estadual de Feira de Santana e Graduando em Direito pela
Universidade Estadual de Feira.
2
Graduando em Direito Pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
3
Graduado em Gestão de Segurança Pública pela Universidade do Estado da Bahia, Graduando em
Direito Pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
4
Graduanda em Direito Pela Universidade Estadual de Feira de Santana.
SUMMARY:
The present study aims to identify in Michel Focault's work: Pierre Pierre
Rivière, Having Slaughtered My Mother, My Sister and My Brother, the contributions
of the Rivière case to an intersection between law and psychiatry in the conformation
of what would later become a Juridical Psychology, in order to emerge a new
perspective for a legal treatment more appropriate to those with psychopathology.
Key words:
Pierre Rivière; manomania; psychopathology; Juridical Psychology; psychopathy;
Michael Foucault.
INTRODUÇÃO
Pierre não era o tempo todo louco, nem o tempo todo são, ele alternava entre
a lucidez e a loucura. O caso de Pierre Rivière é carregado de peculiaridades, que
não são possíveis de serem desvendadas utilizando isoladamente a psicologia, a
psiquiatria, ou o direito. Há aqui, uma necessidade de se conjugar essas ciências de
forma a desvendar e contribuir com um modo minimamente coerente de se aplicar a
justiça em casos que guardam peculiaridades, tal o caso de Pierre.
Este caso foi retirado da obra “Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe,
minha irmã e meu irmão”, relatado por Foucault em 1977. A obra traz a história de
um jovem chamado Jean Pierre Rivière que matou a golpes de foice sua mãe
Victorie, grávida de 6 meses, sua irmã Victorie Rivière e seu irmão Jules Rivière.
Executado o assassinato, Pierre Rivière foge e a partir disso dá-se início às
especulações sobre o crime. O prefeito decretou a prisão do mesmo e os
depoimentos acerca do crime não paravam.
Passados alguns dias, encontram Pierre caminhando pelo bosque e decidem
trancá-lo a fim de que fosse preso. O mesmo foi encontrado com um arco e flecha,
duas facas, um bastão de enxofre e um canivete.
Diante do seu relato, Pierre conta do relacionamento dos seus pais, do seu
nascimento, nascimento dos seus irmãos, sobre o crime e o pós-crime. Diz que seu
pai Pierre Margrin Rivière pediu a mão de sua mãe em casamento pois eram dignos
de fortunas e idade compatíveis, sendo, portanto, prometida. Após namoro de 6
meses, os pais de sua mãe mudaram de ideia e rejeitaram o casamento, mas logo
depois de um tempo, finalmente, casaram-se.
O casamento foi um tanto diferente, pois não teve festa e os mesmos não
dormiram juntos, pois a mãe de Pierre tinha receio de uma gravidez. Após o
casamento, sua mãe, Victoire, continuou morando com seus pais. No início do
casamento ela recebia diversas visitas do marido, mas o mesmo era recebido com
bastante frieza e indiferença, fazendo com que evitasse visitá-la.
Em 1815, nasce Pierre Rivière, onde logo após o parto Victoire fica bastante
enferma, mas seu marido toma todas as medidas necessárias para que se curasse
logo. Depois do primeiro filho, eles só dormiam juntos quando Rivière preparava o
trigo, ia rachar a lenha, plantar árvores, dentre outros serviços. Logo no ano seguinte,
sua mãe dá a luz a uma menina, que se chama, também, Victoire, onde sua mãe
passa a morar com seu pai.
Logo após Victorie Filha nascer, a doença da mãe voltou de maneira sucinta,
onde os sintomas perduraram por 3 meses. Recebeu novamente os cuidados do
marido e de sua sogra. Pierre diz que sua mãe estava praticamente curada, foi
quando os avós paternos a convidaram pra ir pra sua casa e ela aceita. A mesma
relatava para as pessoas que estava retornando pois não era bem cuidada e faltava-
lhe algo ali na casa da sogra. Ela passa a odiar o marido e passa a tomar atitudes
aborrecedoras que contrariasse o marido.
Os pais de Pierre ainda tiveram quatro filhos (Aimée, Prosper, Jean e Jule).
Sobre o momento do crime, Pierre conta que esperou sua irmã Aimèe ir com sua vó
ordenhar as vacas. Foi o momento em que ele pega a foice e entra na casa de sua
mãe, executando-a. Logo depois executou sua irmã e depois seu irmão. Logo em
seguida sai em direção ao bosque e joga sua foice num trigal.
Pierre confessa que se entregou à justiça, mas possuía receio em contar a
verdade e resolve relatar que foi influenciado por visões. Alega ainda que viu
espíritos e anjos que mandavam fazer aquilo a mando de Deus e que o levariam para
o céu logo em seguida. Mas fica claro seu arrependimento pelo fato praticado.
Pierre Rivière foi condenado por crime de parricídio à pena de morte.
Entretanto, após esta decisão o rei recebe um parecer sobre o estado mental do
acusado que relatava que desde os 4 anos de idade, Pierre demonstrava sinais de
alienação mental e que esta persistiu ao longo do tempo. Consta nos relatos também
que esses homicídios só aconteceram por conta dos delírios. Após este parecer, o
Rei substitui a pena de morte em prisão perpétua.
Ao longo do tempo começaram a notar que Pierre possuía sinais evidentes
de loucura. O mesmo delirava e dizia que estava morto e não teria nenhum cuidado
com seu corpo. Ele ainda ameaçava as pessoas que o impedissem de cortar seu
pescoço, momento em que é isolado e que se aproveita para, finalmente, suicidar-se.
CONCLUSÃO
O estudo da obra Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e
meu irmão é o marco histórico do nascimento e do desenvolvimento das relações
entre a Psiquiatria e a justiça penal. O estudo do caso Rivière trouxe à tona um dos
principais problemas que atormentou a psiquiatria e o Direito Penal na época cujos
desdobramentos ecoam até os tempos atuais em debates sobre a questão da
psicopatologia e os atuais debates acerca do vigente modelo de sistema carcerário.
Muito embora a psiquiatria trate os crimes praticados pelos ditos psicóticos como
condutas imotivadas e o Código Penal trate os ditos “anormais” como inimputáveis, o
estudo demonstra que o principal desafio seria encontrar a forma mais adequada de
tratá-los, pois, embora os métodos utilizados no século XIX, época em que ocorreu o
crime cometido por Rivière, fossem mais cruéis e não existisse ainda a figura forte
dos Direitos Humanos, em que pese hoje sejam considerados inimputáveis, tais
indivíduos devem cumprir uma série de medidas compulsórias. Não obstante,
atualmente o método do encarceramento a que muitos são submetidos é igualmente
prejudicial, pois não facilita e, muitas vezes, não torna possível o retorno ao convívio
social do indivíduo que, ao ser retirado do meio social a que pertencia, é colocado
em um ambiente também não saudável, a clausura, destituindo-o, como se imputável
fosse, de seus direitos e características personalíssimas.
REFERÊNCIAS
FOUCAULT, Michel. Eu, Pierre Rivière, que degolei minha mãe, minha irmã e
meu irmão: Um caso de parricídio do século XIX apresentado por Michel
Foucault. Trad. Denize Lezan de Almeida. Rio de Janeiro: Graal, 1977.