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MINISTÉRIO PÚBLICO ELEITORAL

PROCURADORIA-GERAL ELEITORAL

PGE Nº 126.058 305/19/MPE/PGE/HJ


RECURSO ESPECIAL ELEITORAL Nº 449-44.2016.6.05.0132 CONCEIÇÃO DO COITÉ/BA
RECORRENTES Francisco de Assis Alves dos Santos e outra
ADVOGADOS Jerônimo Luiz Plácio de Mesquita e outros

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RECORRIDOS Coligação “A Voz do Povo” e outros
ADVOGADOS Lilian Maria Santiago Reis e outros
RELATOR Ministro Admar Gonzaga

Egrégio Tribunal Superior Eleitoral,

PA R E C E R
Eleições 2016. Prefeito e vice-prefeito. Ação de investigação judicial
eleitoral. Captação ilícita de sufrágio. Ausência de cotejo analítico dos
acórdãos confrontados. Pretensão de reexame de fatos e provas.
Conhecimento parcial. Alegada violação ao art. 368-A, do Código Eleitoral.
Inocorrência. Condenação baseada em outros elementos de prova. Nulidade

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processual. Impossibilidade. Ausência de demonstração do prejuízo. Prova
de participação dos candidatos beneficiados. Inexistência. Conclusão a que
se chegou com base em presunções.

1. A divergência jurisprudencial que fundamenta o recurso especial interposto


com base na alínea “b” do inciso I do art. 276 do Código Eleitoral somente
estará demonstrada mediante a existência de similitude fática entre os acórdãos
paradigmas e o aresto recorrido. Enunciado nº 28 da Súmula do Tribunal
Superior Eleitoral.
2. Para modificar a conclusão da Corte de origem, seria necessário o reexame de
fatos e provas, providência inviável em sede extraordinária, a teor do enunciado
nº 24 da Súmula do Tribunal Superior Eleitoral.
3. Não há que falar em violação do art. 368-A, do Código Eleitoral, quando
comprovado que a condenação apoiou-se também na declaração dos eleitores
aos quais foi oferecida a vantagem em troca de voto.
4. Eventual defeito verificado na intimação dos representados acerca da
audiência para oitiva das testemunhas não acarreta a nulidade do julgamento se
não demonstrado o prejuízo. Art. 219 do Código Eleitoral.
5. A configuração da captação ilícita do sufrágio – art. 41-A da Lei nº 9.504/97
– exige que se evidencie a participação direta ou indireta do candidato
beneficiado na conduta.

Parecer pelo parcial conhecimento do recurso e, nessa extensão, pelo seu


provimento.

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-I-

1. Trata-se de recurso especial (fls. 1.229-1.254) interposto por Francisco de


Assis Alves dos Santos e Genivalda Pinto da Silva, candidatos eleitos aos cargos de
prefeito e vice-prefeita do município de Conceição do Coeté/BA, em face de
acórdão proferido pelo Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (fls. 1.132-1.164), que

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reformou a sentença de fls. 854-858.

2. Consta dos autos que a coligação “A Voz do Povo”, Ewerton Rios d'Araújo
Filho e Renato Souza dos Santos ajuizaram ação de investigação judicial eleitoral
em desfavor dos ora recorrentes e de Marinaldo Alves Maciel, atribuindo-lhes as
práticas de captação ilícita de sufrágio, abuso de poder econômico e conduta
vedada.

3. Após a instrução do feito, foram julgados improcedentes os pedidos (fls.


854-858), por ausência de elementos de prova.

4. Irresignados, os então representantes interpuseram recurso eleitoral (fls.

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1004-1060), que veio a ser parcialmente provido pelo Tribunal Regional Eleitoral
(fls. 1.132-1.143), reconhecendo a prática de ilícito, por meio de acórdão assim
ementado (fl. 1.132):
RECURSO ELEITORAL. AÇÃO DE INVESTIGAÇÃO JUDICIAL
ELEITORAL. IMPROCEDÊNCIA. CAPTAÇÃO ILÍCITA DE
SUFRÁGIO. ABUSO DE PODER ECONÔMICO. CONDUTA
VEDADA. CONFIGURAÇÃO DE COMPRA DE VOTO. ART. 41-A
DA LEI DAS ELEIÇÕES. PROVA ORAL SUFICIENTE. REFORMA
DA SENTENÇA. CASSAÇÃO DOS MANDATOS. MULTA.
PROVIMENTO PARCIAL.
NÃO HÁ QUE SE FALAR EM CERCEAMENTO DE DEFESA, EM
VIRTUDE DO ACOLHIMENTO DE CONTRADITAS DE
TESTEMUNHAS, QUANDO SE VERIFICA QUE,
FUNDAMENTADAMENTE, FORAM ACOLHIDAS AS
ALEGAÇÕES DE SUSPEIÇÃO E QUE OS APONTADOS TESTIGOS
FORAM OUVIDOS NA CONDIÇÃO DE INFORMANTES. AFASTA-
SE A SUSCITADA ILICITUDE DE GRAVAÇÃO AMBIENTAL, HAJA
VISTA QUE SE CONSIDERA PROVA LÍCITA A GRAVAÇÃO
AMBIENTAL PRODUZIDA POR UM DOS INTERLOCUTORES,
SEM O CONSENTIMENTO DOS DEMAIS, PODENDO SER
CONSIDERADA PARA A FORMAÇÃO DO CONVENCIMENTO
DO JULGADOR. A JURISPRUDÊNCIA DO TSE NÃO EXIGE A
PROVA DA PARTICIPAÇÃO DIRETA, OU MESMO INDIRETA, DO
CANDIDATO, PARA FINS DE APLICAÇÃO DO ART. 41-A DA LEI
DAS ELEIÇÕES, BASTANDO O CONSENTIMENTO, A
ANUÊNCIA, O CONHECIMENTO OU MESMO A CIÊNCIA DOS
FATOS QUE RESULTARAM NA PRÁTICA DO ILÍCITO
ELEITORAL. NÃO COMPROVADA A ILICITUDE PERPETRADA

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PELOS CANDIDATOS INVESTIGADOS, NO QUE TANGE À


CAUSA DE PEDIR QUE ENVOLVE O TERCEIRO RECORRIDO,
MANTÉM-SE IRRETOCÁVEL A SENTENÇA NO PARTICULAR.
DÁ-SE PROVIMENTO PARCIAL A RECURSO, PARA
RECONHECER A PRÁTICA DE CAPTAÇÃO ILÍCITA DE
SUFRÁGIO PELO PRIMEIRO E SEGUNDO RECORRIDOS,
CONFORME CONTUNDENTE PROVA TESTEMUNHAL

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COLIGIDA AOS AUTOS, A DEMONSTRAR A EFETIVA COMPRA
DE VOTOS, ATRAINDO AS PENALIDADES DE CASSAÇÃO E
MULTA. À UNANIMIDADE, DELIBEROU A CORTE PELO NÃO
AFASTAMENTO IMEDIATO DOS TITULARES DE MANDATO.

5. Essa decisão foi confirmada em sede de embargos de declaração, ocasião


em que o Tribunal a quo determinou a imediata execução executada (fls. 1.218-
1.226).

6. Ato contínuo, os candidatos Francisco de Assis Alves dos Santos e


Genivalda Pinto da Silva interpuseram recurso especial (fls. 1.229-1.254),
formulando, na mesma oportunidade, pedido de concessão de efeito suspensivo.

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7. Nas razões do especial, interposto com alegada base nos arts. 121, § 4º, I e
II, da Constituição da República, e 276, I, “a” e “b”, do Código Eleitoral, os
recorrentes aduzem:

a) violação ao art. 368-A, do Código Eleitoral, em virtude da


condenação ter se apoiado no depoimento de uma única
testemunha;

b) afronta ao art. 41-A, da Lei nº 9.504/97, pois ausente prova


robusta para a condenação;

c) nova infringência ao art. 41-A, da Lei nº 9.504/97, em


decorrência da interpretação inadequada de conceitos
indeterminados ali inscritos;

d) ofensa aos arts. 22, V, da Lei Complementar nº 64/90, e 5º, §§


3º, 4º e 5º, da Lei nº 11.419/06, por ocorrência de nulidade
processual, havida na intimação da designação da audiência de
oitiva de testemunhas;

e) a existência de divergência jurisprudencial.

8. O Presidente da Corte Regional admitiu o recurso, atribuindo a ele o efeito


suspensivo vindicado (fls. 591-1.596v).

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9. Devidamente intimados, os recorridos apresentaram contrarrazões (fls.


1601-1612).

10. Na sequência, vieram os autos à Procuradoria-Geral Eleitoral, para parecer.

- II -

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11. Tempestivamente interposto (fls. 1.227-1.229), e com regular
representação processual (fl. 100 e 226), o especial comporta parcial conhecimento.

12. De início, é dado constatar ser incognoscível o recurso pelo fundamento


descrito no art. 276, I, “b”, do Código Eleitoral.

13. Os recorrentes não procederam ao necessário cotejo analítico entre o


acórdão impugnado e as decisões invocadas como paradigma, deixando, com isso,
de demonstrar ter sido perfilhado entendimento diametralmente oposto ao atacado,
em que pese o enfrentamento dos mesmos fatos à luz de idêntica norma.

14. De fato, o exame das razões recursais evidencia que houve tão somente a

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simples reprodução das ementas dos julgados paradigmáticos.

15. No ponto, é oportuno referir à diretriz firmada nesse Tribunal Superior


Eleitoral, segundo a qual “a demonstração do dissídio jurisprudencial não se contenta
com meras transcrições de ementas, sendo absolutamente indispensável o cotejo analítico
de sorte a demonstrar a devida similitude fática entre os julgados”1.

16. O quadro atrai a aplicação do enunciado nº 282 da Súmula dessa Corte


Superior, de modo a obstar o processamento do recurso com base na existência de
divergência jurisprudencial.

17. Demais disso, é de igual modo insuscetível de conhecimento a alegação de


afronta ao art. 41-A da Lei nº 9.504/97, ao argumento de que as provas coligidas
aos autos não seriam robustas o bastante para legitimar a cassação dos mandatos
eletivos.

18. A esse respeito, a Corte Regional – que é soberana e absoluta no exame


dos elementos probatórios –, ao afastar a fragilidade das provas, consignou:

1
Agravo de Instrumento nº 3760-02/GO, relatado no Tribunal Superior Eleitoral pela Ministra
Laurita Vaz, acórdão publicado no DJe de 11 de fevereiro de 2014.
2
“A divergência jurisprudencial que fundamenta o recurso especial interposto com base na alínea b
do inciso I do art. 276 do Código Eleitoral somente estará demonstrada mediante a realização de
cotejo analítico e a existência de similitude fática entre os acórdãos paradigma e o aresto recorrido”.

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[…] considerando que as informações prestadas pela Sra. Gilmara foram


alicerçadas pelo depoimento da Sra. Luzinete, conclui-se que, no particular,
restou demonstrada a captação ilícita de sufrágio mediante pessoa notoriamente
ligada aso candidatos investigados, sendo certo que tais práticas dificilmente se
dão mediante participação direta do candidato. (fl. 1.139)

[…] exsurge dos elementos de prova constantes dos fólios a conclusão de que os

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cabos eleitorais dos investigados – chamados de Loy Barbeiro e Boizinho,
ofertaram vantagem com o intuito de angariar o coto do eleito Robenilton,
intenção inclusive expressamente manifestada ao dizerem “agora você vai votar
com a gente” (fl. 1140v).

19. Para afastar referidas conclusões e cogitar eventual transgressão ao art. 41-
A, da Lei nº 9.504/97, em razão da falta de robustez das provas, seria necessário
adentrar o acervo fático-probatório, providência, contudo, vedada na estreita via do
especial.

20. Desnecessário ressaltar que esse mesmo entendimento tem sido perfilhado
por essa Corte Superior, como o revelam os seguintes julgados:

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[…] a Corte Regional entendeu ser insuficiente o conjunto probatório para a
condenação dos agravados por abuso do poder político/econômico, captação
ilícita de sufrágio e uso indevido dos meios de comunicação social. Pela
moldura fática delineada no acórdão recorrido, não há como adotar conclusão
diversa, sob pena de revolvimento de fatos e provas, o que é inadmissível na via
estreita do recurso especial (Súmulas nos 7/STJ e 279/STF). 3

[…] A condenação pela prática de captação ilícita de sufrágio pressupõe a


existência de prova robusta acerca da ocorrência do ilícito. Precedentes: REspe
nº 346-10/MG, Redator para o acórdão Min. Dias Toffoli, DJe de 14.5.2014;
AgR-REspe nº 9581529-67/CE, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe de 10.4.2012;
REspe nº 9582854-18/CE, Rel. Min. Marcelo Ribeiro, DJe de 3.11.2011.
3. In casu, o TRE/PR, ao analisar o conteúdo fático-probatório carreado aos
autos, entendeu configurada a captação ilícita de sufrágio, a teor do art. 41-A da
Lei n° 9.504/97. Concluiu que o caderno acostado aos autos constitui prova
obtida licitamente e demonstra a prática da captação ilícita de sufrágio,
considerando as anotações de nomes, números de títulos de eleitor, valores em
reais e outras referências, como "comprovante de voto", "gasolina", "compensados",
ao lado dos nomes de supostos eleitores constantes no caderno.
4. A inversão do julgado quanto à licitude da prova obtida, bem como quanto à
configuração da captação ilícita de sufrágio, implicaria necessariamente nova
incursão no conjunto fático-probatório, o que não se coaduna com a via estreita
do apelo nobre eleitoral, ex vi dos Enunciados das Súmulas nos 279/STF e
7/STJ.4
3
Recurso Especial nº 1509-21.2012, relatado pelo Ministra Luciana Lóssio, acórdão publicado no
DJe de 7 de junho de 2016.
4
Agravo de Instrumento nº 407-37.2012, relatado pelo Ministro Luiz Fux, acórdão publicado no
DJe de 7 de abril de 2015.

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21. Em suma, também incide na espécie o óbice processual constante do


enunciado nº 24 da Súmula do Tribunal Superior Eleitoral, que assim dispõe:
Não cabe recurso especial eleitoral para simples reexame do conjunto fático-
probatório.

- III -

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22. Convém rememorar – antes do exame da extensão que se pode conhecer
do especial – que o decreto condenatório, ao concluir configurada a captação ilícita
de sufrágio, apoiou-se na ocorrência de dois fatos, a saber:

a) o oferecimento de um vale-gás à eleitora Gilmara Mercês dos


Santos, pelo advogado Leonardo Guimarães, em troca de voto na
chapa composta pelos ora recorrentes;

b) a liberação irregular de veículo, promovida por agentes do 26 o


CIRETRAN, ao eleitor Robenilton Nascimento Pereira, seu
proprietário, em troca de votos também em favor dos recorrentes.

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23. Em primeiro plano, os recorrentes alegam que o art. 368-A, do Código
Eleitoral, foi violado, pois a condenação apoiou-se “em uma única testemunha e na
informação prestada em juízo por um único informante” (fl. 1.236).

24. O argumento não procede, pois, tal como reconhecem os próprios


recorrentes, a prova não consistiu apenas no depoimento de uma testemunha, mas
também em informações prestadas pelos próprios eleitores aos quais as vantagens
foram oferecidas.

25. Não foi por outro motivo que, ao apreciar essa específica alegação, o
Tribunal Regional fez consignar a seguinte ponderação (fl. 1.141):
[…] em que pese na condição de declarantes, as narrativas de ambos eleitores
são firmes e minudentes, encontrando respaldo nos respectivos testemunhos de
Luzinete e Josemário, acima considerados.

Não se trata, portanto, da oitiva isolada de uma testemunha, mas sim da


ratificação das declarações dos eleitores pelos correspondentes testigos, de
modo que não socorre a defesa a invocação do art. 368-A do Código Eleitoral.

26. Desse modo, não há falar em afronta à regra do art. 368-A do Código
Eleitoral.

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- IV-

27. Também não merece prosperar a tese de nulidade processual ocasionada


pelo suposto defeito da intimação dos representados acerca da designação da
audiência para oitiva das testemunhas.

28. Como se sabe, a jurisdição eleitoral é marcada pelo princípio da celeridade

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e, como tal, não é suscetível ao excessivo rigor formal que, em tese, direciona o rito
adotado em outros campos judiciais.

29. Demais disso, o princípio do prejuízo, que inspira o microssistema de


nulidades processuais, encontra expressa previsão no artigo 219 do Código
Eleitoral, que assim dispõe:
Art. 219 Na aplicação da lei eleitoral o juiz atenderá sempre aos fins e
resultados a que ela se dirige, abstendo-se de pronunciar nulidades sem
demonstração do prejuízo.

30. Na espécie, colhe-se do acórdão recorrido que o único prejuízo

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potencialmente causado pelo defeito da intimação em questão foi suscitado pelo
então terceiro recorrente – Marinaldo Alves Maciel –, para o qual, entretanto, não
foi imposta qualquer condenação (fl. 1.133v):
Constata-se do termo de audiência de fl. 482 que, naquela assentada, apenas o
terceiro recorrido se insurgiu em relação a este fato, sob a alegação de que ficou
impossibilitado de levar testemunhas para fins de contradita.

31. Não bastasse isso, a Corte Regional foi categórica ao registrar que “as partes
e advogados foram intimados com urgência por e-mail (em 14.09.17 – conforme registro
no SADP) além de intimados pelo DJE., em 18.09.17, para audiência designada para
20.09.17, portanto, em tempo hábil.” (fls. 1.133v e 1.134).

32. Desse modo, não há como acolher a alegação de ofensa aos arts. 22, V, da
Lei Complementar nº 64/90, e 5º, §§ 3º, 4º e 5º, da Lei nº 11.419/06.

-V-

33. Não obstante as considerações até aqui realizadas, impõe-se reconhecer


que assiste razão aos recorrentes, no ponto em que alegam que a Corte Regional
desrespeitou, mais uma vez, o art. 41-A da Lei nº 9.504/97, ao considerar
evidenciada a participação dos candidatos.

34. Vale lembrar, quanto ao tema, que a disposição legal em questão,


conquanto dispense – para a configuração do ilícito eleitoral – a participação direta

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do candidato beneficiado, exige que se demonstre o seu inequívoco envolvimento,


mesmo que este tenha se dado de modo indireto.

35. Nesse preciso sentido é o magistério de José Jairo Gomes5:


Embora o dispositivo em exame se destine a “candidato” (TSE – AAI nº 212-
84/SE, DJe 15-10-2014), não é imperioso que a ação ilícita seja levada a efeito

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pelo candidato, ele mesmo, Poderá ser realizada de forma mediata, por
interposta pessoa, já que se endente como “desnecessário que o ato de compra
de cotas tenha sido praticado diretamente pelo candidato, mostrando-se
suficiente que, evidenciado o benefício, haja participado de qualquer forma ou
com ele consentido [...]” (TSE – REspe nº 21.792/MG – DJ, 21-10-2005,
p.99). É, pois, suficiente que a participação do candidato beneficiado seja
indireta, havendo de sua parte “explícita anuência” (TSE – REspe nº
21.327/MG – DJ 31-8-2006, p. 125). Assim, não se exige que sua vontade
seja manifestada de forma expressa, podendo sê-lo tacitamente, desde que
evidente.

36. In casu, é dado constatar que a Corte Regional, embora tenha


expressamente admitido que não existiam provas acerca do envolvimento direto dos

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candidatos, presumiu que a respectiva participação indireta teria ocorrido, o que
decerto ofende o teor do art. 41-A da Lei nº 9.504/97.

37. É possível observar que o Tribunal a quo – no que diz respeito à compra do
voto da eleitora Gilmara – afirmou que o envolvimento dos candidatos era
suficientemente atestado pelo vínculo estreito havido entre estes e o advogado
Leonardo Guimarães (fl. 1.139):
[…] no particular, restou demonstrada a captação ilícita de sufrágio mediante
pessoa notoriamente ligada aos candidatos investigados, sendo certo que tais
práticas dificilmente se dão mediante a participação direta do candidato.

38. No que concerne ao segundo episódio de captação ilícita, a Corte Regional


deduziu a participação do candidato a prefeito apenas a partir do fato de “pessoas
que atuaram na campanha” terem indagado do eleitor, no momento de liberação do
veículo, se ele havia esquecido quem mandava na cidade. A ver (fl. 1.140):
[…] há prova no sentido de que pessoas que atuaram na campanha do então
prefeito devolveram o veículo, esclarecendo ao proprietário como conseguiram
fazê-lo, com a seguinte indagação: “você esqueceu quem e que manda na cidade
agora?”. Presentes, portanto, fortes indícios de que houve interferência do
primeiro investigado para a incontroversa liberação irregular do veículo.

39. Tem-se claro, portanto, que o acórdão recorrido, na realidade, dispensou a


apresentação de provas aptas a evidenciar o envolvimento – direto ou indireto – dos
5
GOMES, José Jairo. Direito Eleitoral. 13a ed. São Paulo: Atlas, 2017. p. 749. Destaque acrescido.

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recorrentes, contentando-se, ao revés disso, com simples indícios de que teriam


anuído com os atos ilícitos praticados.

40. Em outros termos: a Corte a qua inferiu o consentimento dos candidatos


exclusivamente a partir da constatação de que os agentes que ofereceram as
vantagens eram a eles ligados. Ao agir assim, negou vigência ao disposto no art. 41-

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A da Lei nº 9.504/97.

41. Recorde-se o que bem advertiu o Procurador Regional Eleitoral, ao


afirmar, em pronunciamento ministerial, não existirem “elementos que vinculem o
fato aos candidatos, não sendo crível ou razoável atribuir aos recorridos a conduta de
terceiro, sem prova da solicitação ou instigação” (fl. 1.110)

42. Presente esse contexto, impõe-se a reforma do acórdão, a fim de afastar a


configuração da prática de captação ilícita e, por conseguinte, a sanção de cassação
dos diplomas outorgados aos recorrentes.

- VI -

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43. Diante do exposto, o Ministério Público Eleitoral manifesta-se pelo parcial
conhecimento do especial e, nessa extensão, pelo seu provimento.

Brasília, 29 de janeiro de 2019.

HUMBERTO JACQUES DE MEDEIROS


Vice-Procurador-Geral Eleitoral

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