Seminário 6 – Crise social e Crise do Estado de Bem-Estar Social

Contexto da Obra e do Autor

Claus Offe é um sociólogo político alemão cujas áreas de pesquisa se referem a temas como a
teoria da democracia, análises de fenômenos de transição, integração européia, dentre outros.
Graduado na Free University of Berlin em 1965, doutorou-se em 1968 na Universidade de
Frankfurt e tornou-se livre-docente pela Universidade de Konstanz. Foi professor na
Universidade de Bremen e na Humboldt University of Berlin, dedicando-se hoje, após sua
aposentadoria, a ministrar aulas na Hertie School of Governance.

O artigo estudado vem a se atrelar ao período em que o Welfare State começava a dar sinais
do seu esgotamento, de modo que este se relaciona intensamente com o momento em que
surgiam diversos debates a respeito dos rumos do capitalismo e da viabilidade da intervenção
estatal no domínio econômico.

Idéias Principais e Secundárias

• Existem mecanismos institucionais que acabam por garantir a coexistência do

capitalismo com a democracia dentro do Estado, sendo eles consubstanciados na
Democracia Partidária Competitiva, quando olhamos para a democracia de massas, e
no Welfare State Keynesiano, quando analisamos a estrutura econômica capitalista.

a) Ao contrario do que acreditavam autores clássicos como Marx e Mill, existe sim a
possibilidade de convivência harmônica entre uma democracia de massa e uma
estrutura econômica capitalista.

b) Ocorre uma contaminação mútua entre os domínios econômico e político, na qual

fenômenos tipicamente atrelados ao regime de mercado passam a ocorrer no campo
da política, e fenômenos característicos à política têm grande influência na
economia. Isso ocorre, basicamente, através da adoção pelo Estado de políticas
intervencionista e da utilização pelos partidos de técnicas de mercado e de uma
organização burocrática

c) Analisando a Democracia Partidária Competitiva verificamos três conseqüências

que vêm justamente a favorecer a estabilidade da relação entre capitalismo e
democracia, sendo elas: desradicalização ideológica, desativação das bases
partidárias e a erosão da identidade coletiva. Tais conseqüências garantem esta
estabilidade devido ao fato de reduzirem consideravelmente a possibilidade da
ocorrência de mudanças abruptas, de modo que o capitalismo se vê resguardado
frente a eventuais “ingerências” democráticas em seu domínio.

d) Do ponto de vista do Welfare State podemos verificar como suas decorrências

saudáveis à manutenção do capitalismo e da democracia: a atenuação do conflito
social e a redução dos custos econômicos para os empresários. Há uma espécie de
acordo que dá sustentação a este modelo estatal, acordo esse no qual o operariado
 aceita se submeter à lógica de mercado, e o empresariado não faz qualquer óbice ao
reconhecimento de certos direitos aos operários.

• Ainda que esses dois pilares tenham se mostrado suficientes para garantir a harmonia
entre capitalismo e democracia por um longo período, estes com o passar do tempo
acabaram por se desgastar.

a) Da perspectiva da Democracia Partidária Competitiva, ressalta-se a emergência

de novos elementos em substituição aos partidos políticos, os quais vão se
demonstrando cada vez mais ultrapassados, consistindo tais elementos no
surgimento de movimentos sociais, no corporativismo e no recurso à repressão
política.

b) Da perspectiva do Welfare State, sua decadência se deve a um processo de

autodestruição e do surgimento de problemas inerentes a esse modelo estatal

Conceitos

• Desradicalização ideológica: Os partidos políticos abrem mão de certos ideais visando

atender às preferências eleitorais e formar coalizões partidárias

• Organização burocrática do partido: O partido político passa a funcionar à maneira das

grandes empresas, desempenhando funções como coleta de recursos,
propagandeamento do partido e de suas idéias, pesquisa de mercado e gerenciamento
de conflitos internos

• Desativação das bases partidárias: Com a burocratização dos partidos políticos, os

dirigentes, predominantemente aqueles dotados de formação técnica, passam a ditar os
comportamentos partidários, reduzindo desse modo a participação das bases

• Erosão da identidade coletiva: Visando arregimentar o maior número possível de

indivíduos, os partidos generalizam cada vez mais suas diretrizes, de modo que a
identidade ideológica que levou à formação do partido vai se perdendo com o passar
do tempo.

• Atenuação do conflito social: Por meio de concessões aos indivíduos, os motivos dos
conflitos entre as distintas classes vão se diluindo

• Redução dos custos econômicos: O Estado assume, frente aos indivíduos, certas
obrigações que caberiam aos empresários

• Movimentos sociais: Pouco afeitos à prática política, os movimentos sociais tem como
fundamento a sua identidade coletiva e a defesa inquestionável de seus princípios, de
modo que diferem em grande medida dos partidos políticos

• Corporativismo: atribuição de grande parcela de influência a diferentes grupos dotados

dos mais diversos interesses, esvaziando por conseguinte o modelo parlamentar de
governo, já que a tomada de decisões políticas, em grande parte, fica a cargo desses
grupos.
• Repressão política: exclusão da representação por meio da restrição à competição
partidária, geralmente acompanhada da ascensão de um partido forte

• Autodestruição do Welfare State: Ao resolver certos problemas macroeconômicos, traz

à tona uma série de outros problemas de caráter completamente diferente, os quais este
modelo estatal não se encontra apto a resolver

• Problemas inerentes ao Welfare State: Com a constante intervenção do Estado no

domínio econômico, o empresariado habitua-se sempre a esperar a atuação daquele, de
modo que não há nenhum incentivo à atividade econômica privada. Além disso,
forma-se também uma burocracia estatal para a qual não convém a resolução de
problemas a ela endereçados, levando, por conseguinte, à ineficiência estatal.