Auguste Comte, o grande mestre dos positivistas brasileiros, valorizava
as funções humanizantes da arte e afirmava a conexão entre o “gênio
estético” e o “gênio científico” já que, para ele, a formação científica devia “basear-se naquela formação estética geral que predispõe a desfrutar profundamente todos os modos de idealização”, tornando os homens capazes de pensar melhor e de organizar melhor sua vida social. Enfim, os positivistas, dominados pelo sentido de ordem expresso no lema ordem e progresso e na própria forma caracterizada pela superposição de figuras geométricas da Bandeira por eles criada para simbolizar o Brasil Republicano, imprimiram ao ensino da Arte um excessivo rigorismo, baseado na ideia do princípio da ordenação das formas e na ideia de que o individual, enquanto elemento de expressão e composição, passa a ser insignificante para o próprio indivíduo. O Desenho no plano geral dos estudos deverá figurar como perfeita linguagem descritiva, de sorte a ser utilizado como instrumento prestadio de comum transmissão de concepções e ideias concretas.
As formas convencionais, atenta sua regularidade hão de preceder as naturais
que são irregulares. As formas naturais que se tiverem de desenhar, hão de ser primeiramente reduzidas às geométricas em que se basearem. A percepção há de preceder à execução, sendo vedado que o aluno comece a desenhar qualquer objeto ou modelo antes de o ter estudado com sua totalidade e nas suas partes, comparando-as entre si. O estudo da perspectiva deve entrar a propósito, de modo elementar e intuitivo, e em uma escala rigorosamente graduada. O curso deverá finalizar pela prática do desenho projetivo precedida da resolução gráfica dos mais importantes problemas da geometria descritiva. Que o estudante aprenda o desenho como aprender a ler e a escrever, isto é, como instrumento próprio para desenvolver no futuro os seus conhecimentos. Para os positivistas era um meio de racionalização da emoção e, para os liberais, um meio de libertar a inventividade dos entraves da ignorância das normas básicas de construção. No entender dos liberais, a liberdade exigia o conhecimento objetivo das coisas.
Entretanto, uma série de variáveis de outra natureza iria estimular o progresso
da posição positivista em direção a um exagero da importância do desenho geométrico, transformando-o num fim em si mesmo.
No início do século XX, um sistema dual estava nitidamente implantado no
campo da educação brasileira: a escola primária, a escola normal e as chamadas profissionais (industriais) constituíam um dos sistemas; e a escola secundária de tipo acadêmico, propedêutica ao ensino superior, o segundo sistema. Sempre se orientou no sentido da arte decorativa em que o motivo brasileiro fosse estudado e estilizado, definindo essa estilização como interpretação ornamental procurada de um objeto. Seu processo de ensino era, segundo ele, o da Escola de Guerin, ou mais precisamente, o de Eugene Grasset, mestre daquela escola. Seguia os seguintes princípios:
- Apropriação da obra a seu destino;
- Estilização pela forma das propriedades de cada material; - A natureza como principal livro ornamental a ser consultado.
“Diante do modelo de uma flor a criança depois de a desenhar e colorir
aproveitará os seus elementos como motivos ornamentais, aplicando-os a destinos determinados”.