De acordo com Moura (1999) aludido por Burgos et al. (2016, p. 1-2) a
construção de uma proposta educativa pautada para jovens e adultos no cenário
brasileiro foi uma consequência da trajetória histórica sofrida pela conjuntura
educacional nacional de um modo geral. Assim, associou-se, simultaneamente, as
tessituras econômicas, politicas e societárias, mediante a atuação de grupos sociais
hegemônicos que a tomada decisões no cenário governamental nacional.
Portanto, no decênio de 1950, as experiências no que diz respeito ao
processo de escolarização de jovens e adultos não são tão recentes, desde as
primeiras décadas do século as esferas governamentais tentaram construir
mecanismos que fomentassem promover uma ação alfabetizadora para os sujeitos
não alfabetizados, porém eram propostas que não se configuravam como
interessantes para os educandos, como aponta Silva et al. (2016, p. 1694).
Feliciano et al. (2011, p. 9) dialoga que as proposições de escolarização dos
sujeitos que não completaram seu processo de formação na idade certa ou que não
foram alfabetizados constituiu-se como uma garantia constitucional, no final dos
anos 1980, mas o que tem se materializado nas propostas, ou em sala de aula e nas
escolas que ela não tido a atenção devida. Esta conjuntura se dar tanto nas
propostas pensadas sobre a EJA para a cidade, como também para as
comunidades rurais, onde a situação-problema assume fatores mais agravantes,
resultante das complexidades que se materializam no cotidiano dos sujeitos do
campo que subsistem através do trabalho agrícola.
Os embates das diversas mobilizações societárias vão ser responsáveis por
viabilizar a construção de outros percursos para o desenvolvimento de uma proposta
de Educação de Jovens e Adultos que paute as necessidades da população jovem e
adulta no cenário educacional. Assim, nos anos 1940, surgem programas educativos
desenvolvidos pelo Estado que insiram a EJA, além disso, houve o direcionamento
de financiamento que possibilitasse a concretização destas propostas e,
consequentemente, houvesse assistência a esta abordagem educativa. Deste modo,
neste momento histórico o foco deste modal foi trabalhar em cima dos altos índices
de desalfabetizados e, consequentemente, pudesse lutar contra a conjuntura vigente
de tantos analfabetos no território brasileiro.
Losso (2012, p. 107) aludido por Sanceverino (2017, p. 6-7) discute que no
âmbito da Educação de Jovens e Adultos, os educadores devem atuam em prol da
construção de uma ação mediadora no que concerne a sua prática docente, assim,
dentro da proposta de EJA é competência do professor mediar, potencializar que
produza os saberes e a construção de uma proposta social emancipadora.
Deste modo, Costa (2014, p. 18) aponta que o enfoque mediador na prática
docente perpassa pela criação de possibilidades para que o educando experiencie
conhecer diversos saberes e, assim, possa haver a articulação deste com os
conhecimentos que eles mesmos produziram, no decorrer das suas vivências
cotidianas, em vista disso, torna-se como finalidade do trabalho educativo atenuar o
distanciamento entre o que a escola oferta para o processo educacional do discente
e o que de fato ele necessita aprender.
Ao docente da Educação de Jovens e Adultos, conforme Silva et al (2016, p.
1701) cabe articular uma conexão pautada na proximidade com os alunos,
consequentemente, vindo a contribuir para a construção de relações mais próximas,
de modo que possibilite que os educandos mantenham laços de confiabilidade com
o educador e, desta maneira a prática pedagógica possa ser potencializada e, em
contrapartida o aluno possa aprender de forma mais significativa. Dentro da
proposta é responsabilidade do docente compreender que o processo de
aprendizagem se constrói mediante uma relação dialógica que deve priorizar pela
ação participativa dos educandos, sendo que estes trazem elementos culturais e
sociais da sua prática societária.
Faz-se necessário, de acordo Silva et al. (2016, p. 1701) que a perspectiva
de educador que tenha no âmbito da EJA articule a uma proposta de professor-
pesquisador, onde a formação docente paute-se no desenvolvimento de
investigações, produza-se saberes e se fomente relações respeitosas entre os
sujeitos. Portanto, o processo formativo docente tem que dar conta de perceber a
importância que se tem de articular a proposta pedagógica com os saberes os
sujeitos jovens e adultos produzem no seu cotidiano e atuação comunitária.
Giovanetti (2011, P, 243) reflete que a formação docente no âmbito da
Educação de Jovens e Adultos se dar a partir de duas perspectivas, sendo elas: a
prática que dar conta da atuação em sala de aula, isto é, da ação a partir da prática
pedagógica e a teórica que dar subsídios para que o professor construa reflexões,
ressignifique suas ações.
Assim, a autora aponta que a construção formativa do educador que atuará
na deve se dar na implementação de intervenções e na problematização destas,
consequentemente, contribuindo para a construção de uma articulação entre prática
e teoria no âmbito da atuação docente, deste modo, configurando-se como um
processo recíproco, onde se retroalimentam.
É crucial também se discutir e refletir a formação de educadores da Educação
de Jovens e Adultos para o campo, visto que ressignificações são necessárias e
primordiais, de acordo com a problematização de diversos autores.
Deste modo, segundo Alencar et al. (2016, p. 6) surge como
elementosdesafiador para os docentes das escolas do campo articular uma proposta
de EJA que construa conhecimentos que contemplem o fortalecimento valores
solidários e de reciprocidade humana.
Os setores sociais e comunitários do cenário rural tem constantemente
reiterado as necessidades do campo, no que diz respeito ao processo formativo dos
docentes, sendo assim, estes compreender que a formação dos educadores deve-
se dar articulada aos interesses das populações que de fato residem nas
comunidades rurais, portanto, o preparo profissional dos professores deve ser
pautado pelo conhecimento a trajetória histórica do espaço rural, das problemáticas
que envolvem a posse da terra e as questões conflituosas que se materializam nas
relações interpessoais no cenário campesino, em consonância com Ribeiro (2010)
referenciado por Ribeiro (2013, p. 495-496).
Ribeiro (2013, p. 404-495) enfatiza que a problemática relacionada a
formação de educadores do campo no âmbito da Educação de Jovens e Adultos é
ainda mais urgente, em virtude que o rural é compreendido como o lócuo de vivência
de outrem, assim, plural no âmbito populacional e nos aspectos culturais e, ainda
mais pelos papéis que o homem e a mulher do campo representam, isto é,
exercendo atividades laborais que o subsistem e um perfil social que são alvo de
discriminação por parte da sociedade urbano-industrial.
Eu não pude estudar quando criança, eu sou da zona rural, as coisas eram
difíceis e meus pais não tinham condições de mim colocar na escola. Eu
sou esforçado, necessito frequentar a escola até concluir, ter direitos. Estou
aqui porque quero um objetivo lá na frente, pois atrás perdi. (EDUCANDO 4)
Burgos el al. (2016, p. 12) salienta que dentro da perspectiva da EJA para o
campo não se pode esquecer das especificidades que os sujeitos deste contexto
possuem. Assim, o homem e a mulher que vivem em contextos comunitários
campesinos são que inter-relacionam coletivamente e sua humanização é um
processo resultante da apropriação da língua falada e da valorização dos seus
aspectos culturais.
Desta forma, os alunos desta modalidade educacional precisam ser
motivados para que consigam superar suas dificuldades e consigam ter êxito
escolar. Por outro lado, as pessoas que acessam a Educação de Jovens e Adultos
querem adquirir, principalmente as competências da leitura e da escrita e percebem
que a escola é um lócuo onde podem aprender e como um espaço importante de
aprendizagem. “Eu sofri muito, mas batalhei e eu estou aqui e vou conseguir vencer.
Depois de velha, quero conseguir alguma coisa, ler e escrever. Ninguém me tira
daqui! Quem quer me tirar não vai conseguir. Eu vou conseguir (EDUCANDA 5)”.
Ao problematizar sobre a Educação de Jovens e Adultos não se deve perder
o note que os educandos que chegam neste espaço são pessoas que foram
excluídas do processo de escolarização, em virtude do seu condicionamento social
que impossibilitou estes de estudarem, pois tinham que atividade laboral, devido as
necessidades de subsistência e do seu respectivo grupo familiar. Deste modo, esta
modalidade educacional tem que assumir o compromisso primordial de atender aos
trabalhadores que precisam dar conta do seu processo de formação. Portanto, a
EJA é percebida pelos discentes que a acessam um mecanismo para legitimar suas
garantias enquanto cidadão. Logo, uma proposta educativa para este público no
cenário rural precisa dar construção de lógicas emancipatórias e ressignificar à vida.
[...] quando falamos de EJA devemos ter a clareza quais os sujeitos que
estão sendo atendidos/as: jovens e adultos que foram excluídos do direito à
educação por suas condições de vida, que exige a prática do trabalho
desde a mais tenra idade, o que os impediu de estudar. Assim fica claro que
o atendimento da EJA são os que fazem a classe trabalhadora. E ao
identificar essa característica identitária, percebe-se que a representação
dessa educação para esses trabalhadores/as é de afirmação de sujeitos de
direitos, sujeitos históricos. Portanto, a EJA, na perspectiva da Educação do
campo, vai trazer, em sua prática pedagógica, a emancipação desses
sujeitos e a transformação de sua realidade. (ALENCAR et al., 2016p. 7)