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FAKE NEWS EM SALA DE AULA: O ENSINO DE HISTÓRIA E

INFORMAÇÃO NO TEMPO PRESENTE


Thiago Reisdorfer

A Terra é plana. Vacinas são responsáveis pelo aumento nos casos de


autismo. Médicos cubanos são militares infiltrados. Esses são alguns
exemplos das chamadas ―FakeNews‖, grosso modo ―notícias falsas‖,
que se propagam no cotidiano da Internet entre os mais diferentes
grupos sociais, interesses políticos, graus de instrução, etc. As
eleições de 2016 nos EUA, com a vitória de Donald Trump,
consagraram essa temática como questão a ser debatida, social e
academicamente,bem como, arma a ser operacionalizada no jogo
político. O termo atravessou a barreira da internet e ganha terreno
nos usos políticos acusatórios, mas também, na cultura popular
cotidiana.

Este texto parte da premissa de que o ensino de História pode ser


ferramenta poderosa no esforço necessário para instrumentalizar a
sociedade com mecanismos de identificação e combate às Fake News.
Ao abordar a construção do conhecimento a partir da pesquisa e da
contraposição de informações, do reforço da habilidade de
interpretação e problematização, podemos constituir uma
compreensão mais apurada do processo de criação e divulgação de
informações, seus interesses econômicos, ideológicos e culturais.
Com esses objetivos em mente, buscaremos relatar e problematizar
uma atividade realizada em sala de aula com estudantes da disciplina
de História do Brasil II, do 3º ano do curso de História da Unespar-
Campo Mourão no ano de 2017.

Tendo em vista nossa proposta, organizamos nosso texto da seguinte


forma: primeiro uma breve contextualização e conceituação do
fenômeno das ―Fake News‖; em seguida uma breve apresentação
descritiva da atividade proposta; por fim problematizaremos as
possibilidades que essa atividade pode ter no âmbito da formação de
professores e cidadãos capazes de pensarem a informação enquanto
algo produzido em contextos social e politicamente marcados.

Fake News: novidades e permanências


O início do século XXI tem presenciado um aprofundado e veloz
desenvolvimento das chamadas redes sociais. Grandes redes como o
Facebook contam com cerca de 2 bilhões de usuários ao redor do
mundo. Constantemente o Brasil tem sido colocado como um dos
países campeões de usuários. Esses espaços, organizados através de
algoritmos criados a partir dos interesses das corporações
proprietárias dessas redes sociais, tem se transformado em centro de

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informações para um número cada vez maior de pessoas. Assim, tem
sido terreno fértil para a criação e propagação de notícias falsas.

As Fake News, ou notícias falsas, possuem características específicas


que as diferenciam de conceitos tradicionais como a mentira, calúnia
ou notícia ―tendenciosa‖. Apesar da propagação de informações
falsas, ou de omissões de notícias por diferentes motivos, não serem
uma novidade na História brasileira, o fenômeno atual possui
características diferenciadoras. A primeira delas é sua definição. As
Fake News, apesar de poderem ser traduzidas como ―notícias falsas‖,
não são apenas isso. Raramente são pura invenção ou criação de
informações sem respaldo. Em geral partem de concepções, crenças
ou mitos presentes na sociedade, ou em parcelas que se deseja
atingir, para a construção de sua narrativa. Por exemplo, a suposta
relação entre um lote vencido de vacinas contra a rubéola que seria a
causa do surto de microcefalia ocorrido no Brasil em 2015. O boato
amplamente compartilhado por WhatsApp, Facebook, Twitter, e blogs
em geral não apresentava nenhuma evidência de sua veracidade. O
site e-Farsas, um dos mais importantes espaços de combate às Fake
News no Brasil, rastreou e desconstruiu a questão:

―As acusações foram espalhadas pelas redes sociais sem que


nenhuma prova fosse apresentada! Como já mostramos diversas
vezes aqui no E-farsas, uma das características de um boato digital é
justamente a de fazer afirmações absurdas sem que haja a
necessidade de se provar nada.Além disso, o boato se apoia em
um assunto que está em evidência no momento para atrair mais
cliques e conquistar mais compartilhamentos. Em algumas versões, o
lote de vacinas vencidas teria sido usado em grávidas de
Pernambuco. Já em outras versões, o fato teria ocorrido em Sergipe
e/ou ―em algum lugar do nordeste‖! Bem vago, né?‖ (Grifos do
Autor). (E-FARSAS, 10 de dezembro 2015)

A informação que estava sendo propagada não apresentava


evidências de sua veracidade. Entretanto, dialogava com questões
presentes na cultura popular brasileira. É de amplo conhecimento de
estudantes de História o fenômeno amplamente discutido por José
Murilo de Carvalho da Revolta da Vacina, onde uma campanha de
vacinação enfrentou resistências baseadas em elementos da cultura
popular e na insatisfação com a intromissão do estado na esfera
privada dessa população. O medo e o desconhecimento sobre a
vacinação se manifestaram naquele contexto, e se reproduziram ao
longo do século XX. Assim, a propagação de boatos que tomam a
vacinação como objeto, encontra terreno fértil para a sua
propagação, especialmente em um país onde a escolaridade é baixa
e, quando existente, geralmente precária. Dessa forma, a FakeNews,

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mesmo não apresentando características básicas de verificabilidade
pode se propagar amplamente sem possibilidades de contraposição.

Outro exemplo importante no campo da educação e que tem afetado


a disciplina de História, é a discussão em torno da chamada
―ideologia de gênero‖. Propagou-se pelas redes sociais e pela
sociedade em geral a ideia de que professores desejam implantar o
que denominam de ―ideologia de gênero‖ e dessa forma causar
diferentes ―males‖: destruir a família, converter as crianças para a
homossexualidade, abrir as portas para a pedofilia, incentivar o
aborto, etc. Movimentos como o ―Escola sem Partido‖ tem sido
pródigos na proliferação desse tipo de Fake News. Esse tipo de
informação não encontra respaldo algum nas teorias e estudos sobre
gênero, mas dialogam densamente com a cultura patriarcal, machista
e homofóbica constitutivas da experiência histórica brasileira.

Tendo em vista esses breves insights em um universo amplo e denso


de FakeNews, fica a questão: O que nós, professores de História (ou
de outras áreas) podemos fazer perante a avalanche que são as
redes sociais e as falsas informações? Essa pergunta é complexa e,
certamente, não daremos conta de responder aqui. O que propomos
é pensar uma possibilidade de formação dos estudantes para que
sejam capazes de, por si mesmos, identificar, desconstruir e
combater esse tipo contemporâneo de boataria. Para tanto propomos
uma atividade de fácil e acessível realização em sala de aula.

O grito do Ipiranga: Entre curiosidades e memória oficial


A atividade que propomos tem por objeto a análise do processo de
independência brasileiro. Assim, pode ser aplicada tanto no ensino
fundamental, quanto no ensino médio. Como preparação
docente,este deve estudar o texto ‗Memória Da Independência:
Marcos e Representações Simbólicas‘, de Maria de Lourdes Viana
Lyra. O mesmo se encontra online, com fácil acesso aos professores.
Indica-se também, apesar de não ser mandatório, a visualização do
programa ‗Caminhos da Reportagem: Caminhos da Independência –
O grito nas ruas‘ disponível na integra no Youtube. Como preparação
para os estudantes, deve-se apresentar, em diálogo com o material
didático cotidiano, o processo de independência brasileiro. Após essa
discussão, pode-se iniciar a atividade.

Em termos práticos a atividade consiste na exibição e no debate de


um vídeo de 2015 do canal O Curioso, hospedado no Youtube. O
vídeo foi disponibilizado no dia 7 de setembro de 2015 com o
chamativo título ‗10 COISAS QUE VOCÊ NÃO SABE SOBRE A
INDEPENDÊNCIA DO BRASIL‘. Ali são apresentadas 10 informações
que, teoricamente, seriam desconhecidas de boa parte das pessoas:

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1. A ida de D. Pedro de Santos a São Paulo teria sido realizada no
lombo de uma mula e não a cavalo como a memória oficial
consagrou.
2. D. Pedro, teria sido traído por sua amante a Marquesa de
Santos.
3. Um dia antes do 7 de setembro D. Pedro teria sido rejeitado por
uma ―mulata‖ em Santos, que teria dado um tapa no rosto do então
príncipe, após ele ter dado um beijo na bochecha dela. Após isso, ele
teria tentado comprar a ―mulata‖, o que teria sido negado pelo seu
dono.
4. Nos dias que precedem o 7 de setembro, D. Pedro teria se
alimentado com uma variedade de alimentos e bebidas em Santos.
Para ―tirar o gosto‖ dessa alimentação, ele teria bebido ―muito
vinho‖.
5. Como consequência, D. Pedro teria tido diarreia durante a
viagem. Essa condição teria sido a causa da parada as margens do
Rio Ipiranga. A tensão causada pela sua indisposição, juntamente
como o recebimento de cartas de Maria Leopoldina teriam levado D.
Pedro a proclamar a independência do Brasil.
6. O grito teria sido pura formalidade. O lema ―independência ou
morte‖ teria surgido depois. Mas a garantia da independência teria
ocorrido apenas após ―os brasileiros pegarem em armas‖.
7. O grande organizador da estrutura estatal brasileira no período
da independência seria José Bonifácio.
8. A maçonaria teria um papel importantíssimo nesse processo,
sendo ―pilar fundamental‖ da Independência.
9. Exigência por parte de Portugal de indenização de 2 milhões de
libras pelo reconhecimento da independência. Essa seria a origem da
dívida externa brasileira.
10. Angola ―quase teria‖ se tornado parte do território brasileiro.

A partir da exibição do vídeo e da enumeração das ―curiosidades‖


elencadas pelo mesmo inicia-se um processo de análise histórica do
vídeo. Essa análise pode ser feita coletivamente, pela turma toda, ou
pode-se propor uma pesquisa específica, dividindo a turma em
grupos responsáveis pelo levantamento de informações a respeito de
uma ou mais dessas curiosidades. O professor deve providenciar
material historiográfico para que os estudantes possam fazer o
levantamento dessas informações. Como elemento central os
estudantes devem ser incitados a verificar as informações disponíveis
no vídeo e no material disponibilizado para a pesquisa. Isso pode ser
feito tanto pela contraposição entre diferentes documentos históricos,
quanto pela elaboração de um roteiro de questões ao material
disponível. Algumas são centrais e comuns ao ofício do historiador e à
crítica textual, outras podem ser elaboradas a partir dos interesses
específicos do professor e da classe. Seguem algumas sugestões:

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Quem produziu o texto/vídeo? Quando foi produzido? Qual sua
intenção com essa narrativa? Como o texto/vídeo possui as
informações apresentadas? Qual documento de época registrou o
evento da forma narrada? Se não há registros, como é possível
afirmar tal coisa? Quais os motivos para a construção da narrativa
sem se basear em fontes confiáveis?

A partir desses questionamentos os estudantes poderão, de forma


acessível, perceber que as ―curiosidades‖ 2, 3, 4, 5 e 6, não se
sustentam após a verificação de textos da época. As ―curiosidades‖ 1,
7, 8, 9 e 10 são elementos com vasta sustentação historiográfica e
documental. A partir disso chegamos à parte argumentativa da
atividade. Com essas informações e conclusões, o professor pode, de
maneira dialógica, realizar uma discussão sobre como se faz
importante a problematização constante a aprofundada das
informações que nos chegam. Produtos de entretenimento, notícias
jornalísticas, ―links‖ compartilhados pelo Facebook, são produtos de
interesses políticos, culturais, sociais que precisam ser pensados.
Aceitar sumariamente informações sem sua leitura, sem sua
checagem se constitui em um dano à dimensão cidadã da experiência
dos sujeitos. Deste modo, o incentivo constante a essa
problematização é elemento importante do processo de formação
escolar do qual o ensino de História não deve se omitir.

Problematizando a independência e pensando Fake News


O que podemos perceber nessas ―curiosidades‖ é uma mistura entre
eventos históricos reconhecidos e debatidos pela historiografia
brasileira contemporânea (casos da importância da maçonaria, da
relação Angola-Brasil, do papel de José Bonifácio), com situações
pitorescas sem fundamentação numa bibliografia séria. Mas, como
problema de fundo central, o vídeo, que tem funções de
entretenimento e não de cunho historiográfico,assume a versão
oficial do ―Grito do Ipiranga‖ como versão verdadeira e, a partir
disso, o pitoresco entra para dar um ―colorido‖ nessa versão,
tornando-a atrativa. Entretanto, como pode-se perceber a partir da
leitura do texto de Maria Lyra, entre outros, o ―Grito do Ipiranga‖ e o
7 de Setembro são tradições inventadas, no sentido atribuído por
Hobsbawm (2014). O texto de Maria Lyra traz amplos e densos
argumentos que sustentam que os eventos que a história oficial
colocou como tendo ocorrido naquela data, não aconteceram. Através
de vasta documentação de periódicos da época, mostra que esse
evento, em que pese sua importância e centralidade para as disputas
políticas da época, não foi noticiado pela imprensa brasileira. Mesmo
jornais favoráveis a independência e à figura de D. Pedro não
enunciam qualquer informação a respeito. Da mesma forma, o 7 de

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Setembro só é incorporado, oficialmente, às festividades da
independência a partir de 1826:

―Em 1826, uma lei promulgada em 9 de setembro incluía o Sete de


Setembro – ao lado do 9 de janeiro (o Fico), o 25 de março (o
juramento da Constituição de 1824), o 3 de maio (a abertura da
Assembleia Constituinte) e o 12 de outubro (a aclamação do
Imperador e a oficialização do Império do Brasil) – no calendário ―de
festividade nacional em todo o Império‖. A lei em questão, no
entanto, apenas elencava as datas festivas, não tecendo comentários
sobre nenhuma delas.‖ (LYRA, 1995, p. 196)

Partindo dessa interpretação do processo, a atividade cumpre dupla


função em sala de aula. Por um lado, permite a problematização da
memória oficial sobre o processo de independência, colocando em
cheque uma interpretação calcada na personalização das
transformações na figura do Imperador. Dessa forma, temos ganhos
importantes no âmbito da aprendizagem histórica, ao problematizar e
ressignificar a independência, não como um evento movido por
voluntarismos pessoais, mas sim, enquanto processo complexo que
tem diferentes momentos e interpretações. Por outro lado, ao
permitir a construção por parte dos estudantes da compreensão de
que as informações apresentadas no vídeo e, mais adiante, na
memória oficial, são construções e, em alguns casos, grosseiras
falsificações, possibilita o aprofundamento da capacidade destes
estudantes de interpretarem o mundo a sua volta de maneira mais
complexificada.

O que intentamos fazer foi a criação de uma proposta simples de


atividade e análise. Certamente a mesma precisa ainda de lapidação
e melhorias. Foi construída em espírito de colaboração e troca de
ideias entre professor e estudantes. Como tal, ampliamos aqui o
convite para que essa e outras atividades possam ser pensadas,
lapidadas e realizadas em nossas escolas. O ensino de História não
pode perder seu caráter problematizador, formador de uma
experiência cidadão que ultrapasse o mero utilitarismo que atravessa
e predomina socialmente. Emancipação e empoderamento do
indivíduo e da sociedade, como metas e estratégias, devem permear
a prática docente em História e nas demais áreas do conhecimento.

Referencias
Thiago Reisdorfer é professor substituto do curso de História da
Universidade Estadual do Paraná – Campo Mourão. Doutorando em
História do PPGH da Universidade do Estado de Santa Catarina –
UDESC.

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E-Farsas. Vacina contra a rubéola foi a causa da microcefalia?
Disponível em:
http://www.e-farsas.com/vacina-contra-a-rubeola-foi-a-causa-da-
microcefalia.html 2015.

HOSBAWN, Eric e RANGER, Terence. A Invenção das Tradições. –


Tradução de Celina Cavalcante – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2014.

LYRA, Maria de Lourdes. Memória da Independência: marcos e


representações simbólicas‖. Revista Brasileira de História. São Paulo,
ANPUH/Editora Contexto, vol. 15, nº 29, 1995, p. 173-206.

O Curioso. 10 coisas que você não sabe sobre a Independência.


Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=VPuh__5tmts&t=589s, 2015.

O Grito das Ruas. Independência do Brasil – 7 de Setembro.


Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=37XH5UEpjlI&t=24s, 2012.

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