Aula 8 – História Moderna II (2018) do homem” são a fundação de todo e qualquer governo.
Atribuía a soberania à nação, e não ao rei, e declarava que
A invenção dos direitos humanos – Uma história. Lynn
Avery Hunt. Trad. R. Eichenberg. São Paulo: Cia. das
Letras, 2009 [2007].
Quem é: Historiadora norte-americana, autora de A
nova história cultural (1992) e A invenção da
pornografia (1993), ambos sob sua organização.
O que faz: estudo histórico da ideia de direitos
humanos com base na chamada nova história (baseada
no culturalismo)
Contrapondo-se aos próprios textos preambulares das
cartas de direitos humanos que inauguraram os
“direitos dos homens” e, posteriormente, os “direitos
humanos” – da Declaração de Independência dos EUA
(1776), passando pela Declaração Universal dos
Direitos do Homem e do Cidadão (1789), até a
Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) as
três anexadas ao final do livro –, que consideravam
esses direitos como “naturais” ou “autoevidentes”, a
historiadora procura desvendar especialmente a
mudança nos sentimentos, principalmente na Europa
e nos EUA, ao longo do século XVIII, que permite a
concessão da crescente importância aos direitos
individuais até o alcance do status com que passaram
àquelas cartas.
Formação de uma “EMPATIA IMAGINADA”
Texto – Lynn Hunt, A invenção dos direitos humanos.
Introdução, “ossos dos seus ossos” e “Eles deram um
grande exemplo”.
INTRODUÇÃO – “Consideramos estas verdades
autoevidentes”
Passo 1: começa contando brevemente a história da
declaração.
“Consideramos estas verdades autoevidentes: que todos os
homens são criados iguais, dotados pelo seu Criador de
certos Direitos inalienáveis, que entre estes estão a Vida, a
Liberdade e a busca da Felicidade" (Thomas Jefferson –
Declaração de Independência, 1776).
Treze anos mais tarde, Jefferson estava em Paris e franceses
queriam redigir uma declaração de seus direitos – Lafayette
ajudado por Jefferson. Mas o trabalho foi, afinal, resultado
do trabalho da nova Assembleia Nacional, em 20 agosto
1789.
Aprovam o rascunho em 27 agosto de 1789, com 16 dos 24
artigos desejados. Documento “freneticamente ajambrado”.
“Sem mencionar nem uma única vez rei, nobreza ou igreja,
declarava que “os direitos naturais, inalienáveis e sagrados
todos são iguais perante a lei, abrindo posições para o
talento e o mérito e eliminando implicitamente todo o
privilégio baseado no nascimento”.
Caráter UNIVERSAL e não apenas francês. (P14)
Passo 2: a repercussão mundial da declaração – entre
favoráveis (Price) e contrários (Burke – Reflexões sobre a
Revolução em França, de 1790 – inauguração do
conservadorismo), no parlamento inglês. Problema – Price e
Burke haviam, no entanto, apoiado a Revolução Americana.
Passo 3: A reescrita – nova declaração – quer comparar, ver
o eco entre os dois documentos.
Por quase dois séculos, Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão encarnou a promessa de direitos humanos
universais;
1789: Art. 1 – “Os homens nascem e permanecem livre e
iguais em direitos”.
1948 – Nações Unidas – DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS
DIREITOS HUMANOS
Art. 1: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em
dignidade e direitos”.
IDEIA UNIVERSAL – MAS TINHAM EM MENTE ALGO MUITO
MENOS INCLUSIVO. (TEORIA X PRÁTICA)
Excluídos: sem propriedade, escravos, negros livres, minorias
religiosas e MULHERES.
JULGAMENTO DOS FUNDADORES – chamados de elitistas,
racistas e misóginos.
Questão – “Problema” de Lynn Hunt
Como é que esses homens, vivendo em sociedades
construídas sobre a escravidão, a subordinação e a
subserviência aparentemente natural, chegaram a imaginar
homens nada parecido com eles, em alguns casos, também
mulheres, como iguais? Como é que a igualdade de direitos
se tornou uma verdade autoevidente em lugares tão
improváveis? (17)
Jefferson – um senhor de escravos/ Lafayette – um
aristocrata.
Passo 4 – “O problema” da pesquisa
PISTA - Teor da autoevidência: “visto que”, “sendo fato que”
“Como podem os direitos humanos serem universais se não
são universalmente reconhecidos?”
1948 – Explicação dos redatores: “concordamos sobre os
direitos, desde que ninguém nos pergunte por quê”.
Jefferson nunca explicou o que queria dizer sua expressão.
Ninguém explicou.

CONCLUSÃO: Se explicassem, deixaria de ser
AUTOEVIDENTE. O QUE É AUTOEVIDENTE NÃO SE EXPLICA.
O QUE PRETENDE O LIVRO: EXPLICAR COMO A AFIRMAÇÃO
VEIO A SE TORNAR CONVINCENTE NO SÉCULO XVIII. P18
Para serem humanos, os direitos requerem 3 qualidades
encadeadas: 1 – ser naturais, iguais e universais.
Foi mais fácil aceitar a primeira (ser natural) do que igual e
universal.
Conclusão: “Entretanto, nem mesmo o caráter natural, a
igualdade e a universalidade são suficientes. Os direitos
humanos só se tornam significativos quando ganham
conteúdo político”. Isso porque são “DIREITOS HUMANOS
EM SOCIEDADE”. P19
Na Bill of Rights inglesa, de 1689, não se declarava a
igualdade, a universalidade ou o caráter natural. (p19)
Passo 5: história do termo – “Origem”.
“Direitos humanos” x “direitos do homem”
Breve história dos termos ajudará a fixar o momento do
surgimento dos direitos humanos.
ESTRATÉGIA DE PESQUISA:
1 - Mostra como Jefferson usou os termos (ex. “direitos
humanos” ao falar do tráfico). P20-21.
2 – Mostra termos usados em outros textos de época.
Expressões eram menos sinônimo de direitos políticos do
que distinção entre humano e divino, humano e animal.
Em francês, o termo “direito humano” só apareceu em 1763,
semelhante a “direito natural”, mas não pegou, apesar de ter
sido usado por Voltaire. (P21)
Nos anos de 1760, Franceses passaram a usar “DIREITOS
DOS HOMENS", depois da aparição em O contrato social
(1762), de Rousseau.
Rastreia, então, o termo “direitos dos homens” nas obras de
Holbach, Raynal, Mercier, etc., nos anos de 1770-1780.
Condorcet, por outro lado, ligava a história do termo à
Revolução americana. [“De l’influence de la révolution
d’Amrique sur l’Europe”, ensaio de 1786]. P23
Condorcet – Direito à segurança da pessoa, a segurança da
propriedade, a justiça imparcial e idônea e o direito de
contribuir para formação de leis.
Conclusão: quando a linguagem dos “direitos humanos”
apareceu na segunda metade do XVIII, havia a princípio
pouca definição desses direitos. (P23)
Vários usaram como se fossem “AUTOEVIDENTES” (p24)
Como OS DIREITOS SE TORNARAM AUTOEVIDENTES?
Se torna autoevidente (razão + emoção) quando RESSOA
dentro de CADA INDIVÍDUO (apelo emocional).
REQUER - “CERTO SENTIMENTO INTERIOR”, amplamente
partilhado (25) – Convicção profundamente arraigada,
tinham de ser experimentados por muitas pessoas
(Burlamaqui, Diderot)
Blackstone: “Mas, para que se tornassem membros de uma
comunidade política baseada naqueles julgamentos morais
independentes, esses indivíduos autônomos tinham de ser
capazes de sentir empatia pelos outros”. (ver-se como
SEMELHANTE)
ARGUMENTO 1: “Embora consideremos naturais as ideias de
autonomia e igualdade, junto com os direitos humanos, elas
só ganharam influência no século XVIII”. (P26)
INVENÇÃO DA AUTONOMIA: No século XVIII, não se
imaginavam todas as “pessoas” como igualmente capazes de
autonomia moral. Duas capacidades relacionadas: a de
raciocinar e a independência de decidir por si mesmo.
[Crianças, escravos, criados, os sem propriedade e as
mulheres não tinham a independência de status requerida
para serem plenamente autônomos] P26
Mas o “poder recém-descoberto da empatia” viu: 1791
governo revolucionário dar direitos iguais aos judeus, em
1792 aos sem propriedade, em 1794 aboliu oficialmente a
escravidão.
OU SEJA: BASE EMOCIONAL CONTINUAVA A SE DESLOCAR
(P27)
ARGUMENTO 2: AUTONOMIA E EMPATIA → SÃO PRÁTICAS
CULTURAIS e não apenas ideias, isto é, “tem dimensões
físicas e emocionais”. Dependem da “percepção”
CITAR: “Os direitos humanos dependem tanto do domínio
de si mesmo como do reconhecimento de que todos os
outros são igualmente senhores de si. É o desenvolvimento
incompleto dessa última condição que dá origem a todas as
desigualdades de direitos que nos têm preocupado ao longo
de toda a história”. (P28)
ARGUMENTO 3: A autonomia e a empatia não se
materializaram a partir do ar rarefeito do século XVIII: elas
tinham raízes profundas. (P28)
Há muito, indivíduos se afastando das teias da comunidade,
tornando-se agentes cada vez mais independentes tanto
legal, quanto psicologicamente.
Respeito pela integridade corporal; evolução de noções de
interioridade (alma cristã e consciência protestante), noções
de sensibilidade preenchia o indivíduo. “Todos esses
processos aconteceram durante um longo processo”. (P28)
Um avanço repentino:
Autoridade absoluta dos pais sobre filhos foi questionada.
Público começou a ver teatro ou música em silêncio
Retratos e pinturas de gênero desafiaram predomínio das
grandes telas mitológicas e históricas.
Romances sobre vidas comunas.
Tortura começou a ser vista como inaceitável
Tudo isso: percepção da separação e do autocontrole dos
corpos individuais, junto com a possibilidade de empatia
com os outros. (P29)
OBJETIVO:
1 – QUER ENXERGAR ESSAS MUDANÇAS DE PONTOS DE
VISTA.
2 – Quer entender a natureza da autoridade política (que
derivaria agora do interior dos indivíduos) a partir de uma
atenção maior à VISÃO DOS CORPOS e das
INDIVIDUALIDADES. (30).
3 – EXAMINAR A INFLUÊNCIA DE NOVOS TIPOS DE
EXPERIÊNCIAS: imagens e exposições públicas, romances
epistolares sobre amor e casamento – que ajudaram a
difundir práticas de autonomia e empatia.
BENEDICT ANDERSON: fala que jornais e romances criaram a
“comunidade imaginada” que o nacionalismo requer para
florescer.
CITAR: Vai propor: EMPATIA IMAGINADA – como
fundamento dos direitos humanos. É imaginada não no
sentido de inventada, mas do sentido de que a empatia
requer um salto de fé, de imaginar que alguma outra
pessoa é como você. P30
INDIVÍDUOS PASSARIAM A SE RELACIONAR (para além de
famílias, associações religiosas ou nações), mas através de
VALORES UNIVERSAIS. P31.
MÉTODO: VAI OBSERVAR PRÁTICAS E EXPERIÊNCIAS
CULTURAIS.
Pessoa ou individualidade: como um acúmulo de
experiências – como o próprio eu muda ao longo do tempo.
ARGUMENTO CENTRAL: “Ler relatos de tortura ou romances
epistolares teve efeitos físicos que se traduziram em
mudanças cerebrais e tornaram a sair do cérebro como
novos conceitos sobre a organização da vida social e
política”.
Novo tipo de leitura (visão e audição) criaram novas
experiências individuais (EMPATIA), que por sua vez
tornaram possíveis novos conceitos sociais e políticos (os
direitos humanos). P32
Alteração do psicológico – voltar a atenção para o que
acontece dentro das mentes individuais. 32
Capítulo 2 - “Ossos dos seus ossos”: abolindo a tortura
Começa com o caso de Jean Calas (acusado de matar o filho
para impedi-lo de se converter ao catolicismo), condenado à
roda do suplício.
VOLTAIRE usa o caso para escrever panfleto e livro – Tratado
sobre a tolerância por ocasião da morte de Jean Calas, no
qual usou pela 1ª vez a expressão “direito humano”. 73
Esse não foi o tema desde o começo, mas depois se tornou
central: denúncia da tortura judicial – Compaixão natural
leva todo mudo a detestar a crueldade judicial, insistia
Voltaire.
Novas atitudes sobre a tortura se cristalizaram a partir de
1760
Outros países, exemplo da Rússia, já haviam abolido nos
anos de 1770 e 1780 a tortura judicial. (75)
“Em 1780, a monarquia francesa eliminou o uso da tortura
para extrair confissões de culpa antes da condenação” e em
1788 aboliu o uso da tortura pouco antes da execução para
obter nomes dos cúmplices.
Inglaterra (1783) – enforcamentos mais humanos, mais
rápidos (plataforma mais alta).
1789 – Governo revolucionário aboliu todas as formas de
tortura judicial.
1792 – Guilhotina: execução indolor quanto possível.
No final do XVIII – opinião pública parecia exigir o fim da
tortura judicial e o fim das indignidades impostas aos corpos
dos condenados.
Benjamin Rush, médico americano, em 1787, até os
criminosos “possuem almas e corpos compostos dos
mesmos materiais que o de nossos amigos e conhecidos. São
ossos dos seus ossos”. (76)
A Bill of Rights, de 1689, proibia o castigo cruel, mas juízes
ainda sentenciam a poste de açoites, afogamentos, tronco,
pelourinho, o ferro de marcar, esquartejamento, morte na
fogueira.
Foi somente em 1790 que o parlamento britânico proibiu
queimar mulheres na fogueira. E prática de escarnecer dos
cadáveres durou até 1834. (77)
A Bill of Rights não protegia os escravos, já que não eram
considerados pessoas com direitos legais.
Montesquieu inspirado em Beccaria, aristocrata italiano, de
24 anos, que escreveu Dos delitos e das penas (1764). 80
BECCARIA: rejeitava a tortura, o castigo cruel e a PENA DE
MORTE. “Contra o poder absoluto dos governantes, a
ortodoxia religiosa e os privilégios da nobreza, ele propunha
um padrão democrático de justiça.
Beccaria – usou da “nova linguagem do sentimento.
“Crueldade inútil”, instrumentos de um fanatismo furioso.
Blackstone (jurista) dirá, então, que lei criminal deveria
sempre “se conformar aos ditados da verdade e da justiça,
aos sentimentos humanitários e aos direitos indeléveis da
humanidade”. (81)
POR QUE ESSAS COISAS NÃO ERAM ÓBVIAS ANTES DA
DÉCADA DE 1760?
Se a compaixão natural leva todo mundo a detestar a
crueldade da tortura judicial, porque isso não era óbvio
antes da década de 1760? “OPERAÇÃO DE EMPATIA”
Necessário: novo interesse pelo corpo humano – corpo se
tornou sagrado por si próprio – autonomia e inviolabilidade.
A pessoa autônoma
Fronteiras entre corpos se tornaram mais nítidas depois do
século XIV. Autocontrole (82) sobre excretos. Cuspir, comer
em tigela comum, dormir numa mesma cama – atos
repugnantes. Explosões violentas de emoção, etc. ADVENTO
DO INDIVÍDUO - COMPOSTURA, DISCIPLINA E
AUTONOMIA.
Assistir e ouvir peças e músicas e silêncio: capacidade de
sentir fortes emoções individuais (paralelo com experiências
religiosas) 83
Teatro: experiências interiores individuais e mais tranquilas.
(bancos para se sentar, silêncio religioso)
Casa: quartos de dormir; quartos de uso privado; quartos de
banho; movimento para PRIVACIDADE INDIVIDUAL.
Pintura: retratos de pessoas comuns; a pessoa podia ser
heroica meramente em virtude de sua individualidade. Cada
pessoas era um indivíduo distinto, singular, separado e
original. (89)
Pintores cada vez mais queriam: FRANQUEZA E A
INTIMIDADE PSICOLÓGICA.
O espetáculo público da dor
A imagem do leitor empático incongruente com a
tortura.
Na visão tradicional, pessoas comuns não sabiam
controlar suas próprias paixões. Controlar os
indisciplinados
Castigo exemplar: ostentação da dor no cadafalso era
destinada a insuflar o terror nos espectadores e servir
como instrumento de dissuasão. Presenciadas por
multidões (Muyart) Era preciso se identificar, mas para
temer. 94
Transformação do modo de entender o castigo: não é
expiação de um pecado, mas o pagamento de uma
“dívida” com a sociedade. E pagamento nenhum podia
ser esperado de um corpo mutilado.
América: multa por delitos contra a propriedade em
vez de chibatadas.
Mudança de percepção:
A) Exposição a cadáveres embotava sentimentos,
brutalizava, banalizava. 98
B) Castigo privado e não exposto publicamente.
Criminosos deviam ser reabilitados.
Os estertores da tortura
Novas visões da elite sobre a dor e a punição
Reistência de Calas – argumentando inocência –
provocou inversão dos sentimentos da população. O
povo sentiu COMPAIXÃO. 99
Beccaria – a dor não poderia ser o “teste da verdade”.
Tortura privada, para ele, causava repulsa, já que o
acusado perdia sua “proteção pública” mesmo antes
de ser considerado culpado.
CENTRAL: O próprio Beccaria não faria ligação sobre
suas postulações com a questão dos direitos do
homem. Isso será feito pelo abade MORELLET na
introdução da obra de Beccaria no francês (1766).
Método: usar as edições do livro de Beccaria
(introduções, prefácios, traduções).
Liderando as acusações contra a tortura estavam as
muitas traduções, reimpressões e reedições de
Beccaria. 28 edições italianas, 9 francesas antes de
1800. Tradução inglesa de 1767.
QUESTÃO: uma coincidência que ao caso Calas tivesse
sucedido o tratado definidor sobre a reforma penal?
Beccaria seria uma “petição indireta em favor de
Calas”?
2 artigos da Enciclopédia (1765)
Na segunda metade de 1760, cinco livros sobre
reforma criminal.
Tortura vai sendo aos poucos ligada aos direitos do
homem.
Exemplo: Brissot, 17809, ensaio que comparou
barbárie da tortura na França a “atrocidade de
canibais”. PP105-106.
EMPATIA: Petições judiciais começam a ser escritas na
1ª pessoa dos clientes, para desenvolver narrativas
romanescas melodramáticas.
Método: olha petições.
Conclusão: Campanha pela REFORMA PENAL NA
FRANÇA USA VOCABULÁRIO E EXPRESSÕES DOS
DIREITOS DOS HOMENS.

As paixões e as pessoas
Benjamim Rush e seu panfleto de 1787: ligou os
defeitos do castigo físico à nova noção do indivíduo
autônomo, mas solidário. Empatia.
“A sensibilidade é a sentinela da faculdade moral”.
Castigo público solapava os sentimentos sociais,
quebrava a empatia.
Argumento final: “Tortura legalmente sancionada não
terminou apenas porque os juízes desistiram desse
expediente, ou porque os escritores do Iluminismo
finalmente se opuseram a ela. A tortura terminou
porque a estrutura tradicional da dor e da pessoa se
desmantelou e foi substituída pouco a pouco por uma
nova estrutura, na qual os indivíduos eram donos de
seus corpos, tinham direitos relativos à individualidade
e `a inviolabilidade desses corpos, e reconheciam em
outras pessoas as mesmas paixões, sentimentos e
simpatias que viam em si mesmos. PRINCÍPIO DA
SIMPATIA. 112
Capítulo 3: “Eles deram um grande exemplo”:
declarando os direitos
Por que os direitos devem ser apresentados numa
declaração?
“As campanhas para abolir a tortura e o castigo cruel
apontam para uma resposta: uma afirmação formal e
pública confirma as mudanças que ocorreram nas
atitudes subjacentes”. (113)
Declarações de 1776 e 1789 fizeram mais: abriram
panoramas políticos inteiramente novos (114).
História da palavra “Declaração” – Declaration: ligada
ao ato de soberania.
Colônias estavam se declarando um Estado em
separado e igual e se apoderando da própria
soberania.
Declaração – DIREITOS INQUESTIONÁVEIS (mais que
petição, carta ou bill).
DECLARANDO OS DIREITOS NOS ESTADOS UNIDOS
No começo, americanos não tinham intenção de se
separar da Grã-Bretanha.
Remodelamento da sensibilidade. Noção dos direitos
mudou também em reação às circunstâncias políticas
(116)
“Eles deram um grande exemplo no novo hemisfério;
vamos dar um exemplo para o universo”, duque
francês referindo-se aos americanos.
Nem americanos, nem franceses: holandeses, alemães
e suíços.
Ideias dos direitos naturais são esboçados na Europa,
mas circulavam pelo Atlântico – América. E é
especialmente devido ao contexto da guerra entre
colonos americanos e a metrópole que há o impulso
para a declaração universalista.
A declaração universalista – passada pela América-
retornaria à Europa para influenciar franceses,
Rousseau e em 1789.
Mostra como ingleses haviam transformado direitos de
caráter universalista em puramente inglês livre. É na
metrópole, segundo Hunt, que se resgata o sendo de
universalidade, abandonado desde 1688 na Inglaterra.
Observação: Crítica – não fala na participação do povo
nessas reivindicações universalistas. Rediker e
Linebaugh mostram como as tradições inglesas, da
época da revolução, que envolvia camponeses,
pregadores religiosos, artesãos e outros – carregavam
essa memória de reivindicações universalistas.
Nem mostra o papel de trabalhadores, marujos,
nativos, escravos, forros etc. nesse processo de
circulação de princípios universais, concepções de
direitos fundamentais.
Precedentes americanos num contexto de “estado de
emergência constitucional” em 1788. Dá a entender
que DECLARAÇÕES NECESSITAM DESSES ESTADOS
EMERGENCIAIS, CONFLITUOSOS, nas atmosferas de
crise. 128
Material:
A - Lê as listas de queixas, cartas enviadas aos Estados
Gerais de 1789 – o que pediam – uma declaração de
direitos. Quase todas as listas, de diferentes classes
sociais, pediam declaração de direitos.
B- Lê correspondência de Thomas Jefferson a Thomas
Paine. [Paine era autor de Comon Sense, o panfleto
mais importante do movimento da independência
americana]
Declaração de Independência – como chegam a ela.
P131.
Desafio à antiga ordem: “Num único documento,
portanto, os deputados franceses tentaram condensar
tanto as proteções legais dos direitos individuais como
um novo fundamento para a legitimidade do governo”.
(132)

“Nenhum dos artigos especificava os direitos de grupos

particulares. “Os homens”, “o homem”, “cada homem”,
“todos os cidadãos”, “cada cidadão”, “a sociedade”,
“qualquer sociedade”, ninguém, “nenhum indivíduo”.
Era literalmente tudo ou nada. Classes, religiões e os
sexos não apareciam na declaração.

2º artigo: “O objetivo de toda associação política é a

preservação dos direitos naturais e imprescritíveis do
homem”. 133

“Declarar era mais do que esclarecer artigos de

doutrina: ao fazer a declaração, os deputados se
apoderavam efetivamente da soberania”. 133.

Efeitos da declaração fora da França – formou uma

“linguagem” de todo o mundo.

Debate Burke x Price se espalha pelo mundo.

Crescem número de obras que usam dessa linguagem,
da palavra “direitos”.
Abolindo a tortura e a punição cruel

Seis semanas depois de aprovarem a Declaração, os

deputados franceses aboliram todos os usos da tortura
judicial como parte de uma reforma provisória.

Na esteira da declaração dos direitos, a tortura foi por

fim completamente abolida.

Prisão e trabalhos forçados. Desejo de reabilitação e

reingresso do criminoso na sociedade. Guilhotina.

O condenado era agora um cidadão.

Novo código penal foi apenas uma das muitas

consequências que derivaram da Declaração dos
Direitos do Homem e do cidadão.