&
As 4 etapas do treinamento de alto rendimento
Dizem que esses materiais didáticos devem possuir uma página falando sobre o autor,
uma espécie de: “- confie no que vou falar, pois já fiz isso e aquilo outro e já estudei em tal
local!”. Apesar de não concordar plenamente com essa forma de convencimento, confesso
que sempre leio essa parte de todos os materiais didáticos que tenho acesso e considero
importante saber “quem” está falando.
2
de oficiais, do primeiro COTAM ( Curso que habilita o profissional do GETAM, Grupamento
Especial Tático de Motos), do primeiro EMOPAT (Estágio que habilitou os operadores do
GETAM de Itabaiana-SE), do curso de formação de mais de cinco Guardas Municipais de
Cidades do interior de Sergipe, do curso de perícia em material explosivo, ministrado para os
peritos do estado de Sergipe, do estágio de aplicações táticas, que capacitou a Força tática
do 5ºBPM, do estágio que capacitou Policiais da Cia de transito para atuação tática, além de
ter sido coordenador do II EATE (Estágio de Ações Táticas Especiais) que é a habilitação
mínima para compor os grupos táticos do COE/PMSE. Desde que ingressei na instituição, me
interesso fortemente em compreender qual a melhor forma de treinar e de dar treinamento,
focado em resultados práticos, preservação da vida do operador e máximo rendimento
operacional. Com esse intuito criei a FATOR 3 TREINAMENTO TÁTICO, que tem como
missão primordial juntar ciência e atuação tática em uma linguagem simples e acessível,
correndo longe dos embustes sem conexão com a realidade e teorias vazias que muitas vezes
desorientam operadores. Bem, acho que é isso.
3
PRECEITOS FUNDAMENTAIS
Antes de começar, gostaria de salientar que esse material tem como base os preceitos
da educação de adultos, formulados a partir das ideias de Malcolm Knowles na década de 70
e publicados na página eletrônica do Centro de Pesquisa, Desenvolvimento e Educação
Continuada-CPDEC.
1. Necessidade – Aplicabilidade
2. Autonomia – Autodiretividade
3. Experiências prévias
4. Interatividade
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5. Clima de segurança e respeito
6. Reflexão – Feedback
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SUMÁRIO
6- Estágios de competência.......................................................................................20
7- Inoculação de estresse..........................................................................................23
8- Distorções Perceptuais..........................................................................................25
9- Princípio de Pareto................................................................................................26
6
1- O que é mentalidade tática policial?
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policiais são como os jogos de futsal, pois se desenrolam de forma muito rápida e
exigem que o operador possua a capacidade de compreender tudo que está
ocorrendo em fração de segundos e adote uma postura que salvaguarde sua vida, da
sua equipe e da sociedade em geral. Essa é a Mentalidade Tática Policial.
Nas discussões sobre o conceito esportivo de Mentalidade Tática (Que alguns
também chamam de “Leitura de jogo” ou “Leitura tática de jogo”), presentes não
apenas no futsal, mas também no vôlei, basquete e até pôquer, é comum observarmos
princípios a serem seguidos pelo jogador, com objetivo de ter mais eficiência na
partida. No futsal, por exemplo, o professor Ricardo Pace fala em:
1-Fazer sempre o mais fácil (vamos falar mais à frente sobre a importância dessa
simplicidade)
2- Assegurar o controle da bola
3- Procurar as linhas diagonais de passe
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No que diz respeito ao treinamento, veremos que a estrutura e metodologias
aplicadas no ambiente de formação dos operadores de segurança pública na maioria
das vezes é inadequada ou completamente alienada da realidade operacional
vivenciada posteriormente por esses profissionais. Seja por falta de investimento em
capacitação ou por falta de pesquisa e desenvolvimento de uma metodologia eficiente
de instrução, a verdade é que as instituições, não raramente, capacitam os
operadores de forma equivocada, ensinando técnicas muitas vezes inúteis e deixando
de ensinar técnicas que o operador utilizaria todos os dias.
A ciência tem ajudado as forças de segurança do mundo todo a treinar melhor
e de forma mais eficiente, ajudando a entender quais são as necessidades do
operador e como melhorar sua performance tática. As discussões sobre questões
como a influência da visão de túnel e como ela deve ser considerada no treinamento,
ou a respeito do ciclo cognitivo sob estresse e como simular esses fatores
estressantes, como adquirir a memória muscular adequada e até como treinar a visão
e capacidade de “ler” cenários com maior eficácia nos mostram o quanto a ciência
pode ser um poderoso impulso para formas mais eficazes de capacitar. A seguir
discutiremos algumas dessas temáticas de cunho teórico e sua relação prática com a
Mentalidade Tática Policial.
9
2-Ciclo OODA – Os ensinamentos de Boyd
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que é provável que sejam assaltantes e “decidimos” entrar em um estabelecimento
comercial com maior movimento, “agindo” assim com o objetivo de evitar o assalto.
Na maioria dos cursos e análises no Brasil sobre o ciclo O.O.D.A e sua
utilização por profissionais de segurança pública dentro e fora de serviço, é falado que
devemos realizar nosso ciclo de maneira mais rápida que o nosso adversário, pois
quando fazemos isso obrigamos ele a reiniciar o próprio processo e obtemos
vantagem tática sobre o oponente. Beleza, isso faz todo sentido, mas não nos diz
tanto assim sobre nossas formas de treinar. Além do mais, a maioria das pessoas
relaciona o ciclo O.O.D.A apenas com a necessidade de agir preventivamente (se eu
não estiver no celular e estiver “observando” o ambiente, tenho vantagem sobre meu
adversário na realização do ciclo O.O.D.A e vou conseguir entender o cenário de
forma mais rápida), citando uma série de casos práticos que mostram como é
importante estar atento ao que acontece ao redor, mas nem sempre isso explica uma
série de problemas que experimentamos em ocorrências reais, como quando não
percebemos algo que está na nossa frente, ou quando não ouvimos algo que está
sendo gritado do nosso lado ou quando não conseguimos tomar certas atitudes
racionais por conta de cargas emocionais relacionadas com o que está sendo visto.
A maioria das pessoas ignora as melhores análises de Boyd sobre o que ele
chamou de “Grande O”, que é a “Orientação”. No esquema abaixo, temos a versão
expandida e mais profunda do ciclo, mostrando os principais pilares que tornam a
orientação algo complexo e multifatorial.
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Imagem 3: Ciclo OODA versão simplificada
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3-Fricções de guerra – Os ensinamentos de Clausewitz
No meio policial existem expressões do tipo: “só sabe como é quem está na
rua”, “Na área (ambiente operacional) é diferente”, “Fulano não sabe comandar pois
nunca trabalhou na rua”. Essas frases são estimuladas por uma cultura específica,
porém, trazem consigo uma verdade tratada por teóricos de guerra, grandes líderes
militares, psicólogos e instrutores policiais de várias partes do mundo: Só entende as
particularidades do ambiente operacional quem tem experiência nesse ambiente! Nós
chamamos essas particularidades de “Fricções”.
O conceito de Fricção foi amplamente descrito por Clausewitz, General do
Reino da Prússia no final do século XVIII, início do século XIX. Ele escreveu um
clássico sobre estratégia de guerra chamado “Da Guerra”, onde dedica um capítulo
para descrever o que seriam essas fricções que tanto interferem no resultado das
batalhas e que devem ser encaradas com seriedade pelo comandante de uma força
militar.
Em resumo, fricção é o que distingue a guerra no papel da guerra de verdade.
É a diferença entre pensar e fazer. Só consegue compreender o valor de considerar
as fricções em um planejamento aqueles que possuem experiência com elas. Na
13
época em que o livro foi escrito, uma das fricções que mais atrapalhavam os
resultados das batalhas era o tempo. Para quem nunca esteve em uma batalha não
seria simples de entender o quanto uma chuva podia mudar o resultado de uma
guerra, mas quem vivenciou as fricções e deu a devida importância a elas, esteve em
vantagem na batalha. Será que esses conceitos de guerra do início do século XIX
servem para analisar e criticar as formas de operar e de treinar para atuação tática
nas demandas de segurança pública atuais?
A resposta é sim. Os tipos de fricções mudaram mas continuam sendo de
extrema importância para uma intervenção eficiente na resolução de conflitos,
execução de operações policiais e sobrevivência no confronto armado. Quem nunca
esteve envolvido em operações policiais de alto risco não compreende com facilidade
a importância de ter um objetivo de missão bem definido, comunicação eficiente,
realizar checagem de abandono, briefing detalhado, estar preparado para lidar com
alterações no plano e compreender o que é sucesso e o que é fracasso no ambiente
operacional.
Quem elabora planos complexos para uma ação operacional, geralmente, é
quem possui pouca experiência nisso. O treinamento deve proporcionar ao máximo a
aproximação do operador com o maior número possível de fricções, objetivando o
fortalecimento de mapas mentais eficientes, que provoquem uma resposta mais
rápida do operador, diante da situação inusitada. Ninguém treina a possibilidade de
escorregar, de não conseguir romper o cadeado para a entrada tática, da
comunicação falhar de maneira repentina. O treinamento precisa ser próximo da
realidade.
Quando o operador não sabe lidar direito com as fricções, ele pode acabar
entrando no que o autor Gary Klugiewicz chama de “Fixação tática”, que é quando
nosso cognitivo esbarra com um problema, mas não tem capacidade de resolver de
outra forma que não seja a que já tentou e não funcionou. Exemplo: um membro da
equipe tática, responsável por fazer a abertura de uma porta com aríete, entende que
o plano é bater o mais forte possível em um ponto e então provocar a abertura da
porta. Quando começa ele percebe que a porta possui uma série de treliças de
contenção, além de ser feita de um material extremamente resistente, ou seja, não
será possível provocar a abertura da porta com aquele aríete, porém, o operador
continua batendo indefinidamente, sem nem ao menos variar a posição do ataque.
14
Isso ocorre pelo fato de que, no momento de tensão, segundo o autor,
perdemos boa parte da capacidade adaptativa para traçar outros planejamentos e
propor uma nova solução para o problema. Como não foi considerada a possibilidade
de a porta não abrir, o operador não consegue se afastar da ideia que foi treinada ou
decidida antes de operação.
Você já parou para pensar que as barras anti-pânico da saída de emergência
do cinema são feitas daquela maneira pelo mesmo motivo?
Com relação ao treinamento, as instituições falham frequentemente em não
conseguir oferecer o ambiente de instrução mais próximo possível da realidade, seja
por questões logísticas e de baixo investimento, ou para garantir a segurança da
instrução, já que o ambiente operacional real é extremamente arriscado. Algumas
situações são até mais fáceis de contornar, como o treinamento em casas mobiliadas
ao invés de casas vazias de instrução. O treinamento com uso de airsoft ou paintball
são soluções que também fornecem uma experiência mais rica em termos de fricção
e proporcionam melhor aprendizado e em menor tempo, devido à importância da
“Inoculação de estresse” para o aprendizado tático.
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4- Relação entre estresse e performance
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(sem precisar ter passado por situações críticas) como a tensão de uma ocorrência
pode mudar o rendimento e a capacidade de pensar e de agir.
As cores, de acordo com Cooper, representam os estados da mente, onde, na
condição BRANCA, o indivíduo está completamente relaxado e vulnerável. Na
condição AMARELA o indivíduo está calmo, porém alerta ao que ocorre ao seu redor,
com ritmo cardíaco maior que na condição branca. A condição amarela é a que deve
se encontrar todo policial durante seu período de serviço. A condição VERMELHA é
relacionada ao momento da intervenção em uma ocorrência crítica, uma vez que o
ritmo cardíaco vai estar ainda mais elevado, uma série de hormônios entram em ação
e o indivíduo estará em sua capacidade máxima de performance para sobreviver
(lutando ou fugindo). Após a condição vermelha, os estudos mostram que os
indivíduos comuns perdem rendimento de maneira proporcional ao aumento do ritmo
cardíaco provocado pela tensão. Foram acrescentadas então a condição CINZA e
PRETA, que detalham esses problemas e o quanto isso pode interferir no resultado
de operações de alto risco e confronto armado fora do serviço.
O grande destaque das observações de Dave Grossman, no entanto, é
entender as cores como uma representação não apenas de um estado da mente (algo
que escolhemos) mas uma sólida consequência fisiológica e psicológica da elevação
do ritmo cardíaco mediante tensão. Podemos estar em uma viatura, numa situação
calma, ao lado de uma pessoa que já está passando da condição vermelha para a
condição cinza. Temos que entender também que esses estágios acarretam em
alterações perceptuais nos sentidos (falaremos disso mais a frente) e que isso precisa
ser amplamente considerado durante o treinamento.
A última e mais importante observação é a respeito da linha pontilhada do
gráfico, mostrando uma extensão do pico de performance até a condição cinza. Essa
linha pontilhada se refere aos profissionais de ALTO RENDIMENTO, ou seja,
profissionais que treinaram tanto que conseguem se manter no pico de performance
mesmo com toda a carga de tensão da condição cinza, em que efeitos psicológicos
como o de “piloto automático”, em que a pessoa não pensa sobre o que está fazendo,
agem no indivíduo, mas o seu treinamento foi tão intenso que ele simplesmente
consegue fazer o que treinou sem pensar! Sim, isso existe!
Aí reside a motivação pela qual devemos levar a sério a forma como instruímos
e o quanto investimos em capacitação, evitando formar operadores que não
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compreendem as próprias limitações e que acham que desenvolveram uma
determinada habilidade por ter praticado algumas vezes.
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acender. Isso nos mostra o motivo pelo qual precisamos ser objetivos nas orientações,
de modo a exigir o mínimo possível do cognitivo do operador com questões
desnecessárias à compreensão da tarefa dele e do objetivo da missão.
6-Estágios de competência:
20
Onde quero chegar com tudo isso? Quero simplesmente afirmar que
desenvolver uma habilidade leva certo tempo e que uma nova habilidade atrofia muito
mais rápido que outra que foi sedimentada por mais tempo. Outra conclusão seria
sobre a necessidade de elencar quais habilidades são mais importantes para poder
investir maior carga horária nelas. Não adianta querer habilitar um aluno para utilizar
todas as armas da instituição se para isso eu acabar prejudicando o processo de
aprendizagem dele para o uso da pistola, sendo que a pistola será utilizada por todos
os policiais em todos os serviços e as outras armas não.
Autores de diversas áreas conexas à tática policial, psicologia do combate, tiro
tático, Programação Neurolinguistica e Neuropsicologia citam o conceito dos níveis
de competência para explicar de forma simplificada como funciona esse processo de
aprendizagem. Dentre os autores temos: Joseph O’Connor (2012), Dave Grossman
(2008), Pellegrini (2018). A teoria é atribuída originalmente ao autor Noel Burch (1970)
mas frequentemente associada ao psicólogo Abraham Maslow, o mesmo que
desenvolveu a famosa pirâmide das necessidades de Maslow. Para resumir a história,
os estágios de competência são quatro:
Incompetência Inconsciente: O operador não sabe e não sabe que não sabe. É o
nível mais perigoso pois muitas vezes o operador não compreende que precisa
desenvolver certa habilidade pois ainda não se tornou consciente da própria
incompetência.
Incompetência Consciente: Nesse estágio o operador começou a praticar
determinada habilidade e percebeu que precisa treinar muito ainda para dominá-la.
Ele entendeu que não sabe algo. Isso é muito bom para o manuseio de qualquer
material potencialmente lesivo, pois o operador ao menos já se dá conta dos riscos
envolvidos e age com maior prudência.
Competência Consciente: Nesse estágio o operador já possui pleno domínio da
nova habilidade, mas ainda precisa investir seu cognitivo consciente para executar a
habilidade de forma correta.
Competência Inconsciente: Esse é o estágio almejado por todos para qualquer
habilidade. Esse estágio significa que você dominou e treinou de tal forma que não é
mais necessário pensar em como fazer, o processo é automático e intuitivo. O
operador faz sem pensar e irá conseguir fazer sob forte tensão.
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Um autor adiciona ainda o estágio de Maestria, onde poucos indivíduos
conseguem chegar e que transcende a competência inconsciente, permitindo que o
indivíduo execute uma determinada habilidade em altíssimo nível de rendimento e
perfeição, fazendo parecer algo fácil aos olhos alheios. Outro Autor relaciona uma
carga horária média de treinamento para atingir cada nível de competência já descrito,
ficando a relação como mostra o quadro abaixo:
22
7-Inoculação de estresse
23
ficaram imóveis, foram então colocados dentro da banheira cheia de água e foi
marcado o tempo que levavam para morrer afogados. Levou apenas 20 minutos. Eles
foram expostos a uma situação de extrema tensão pela primeira vez e logo após
tiveram que lutar por suas vidas. A tensão os levou a desistir de lutar, pois não sabiam
que era possível lutar e sobreviver.
O terceiro grupo também foi colocado de cabeça para baixo, mas depois de
certo tempo foram retirados e colocados na gaiola novamente. Isso foi repetido
diversas vezes e só depois os ratos foram colocados também na banheira. Dessa vez
os ratos passaram as 60 horas e ainda não haviam se afogado. A diferença é que
esses ratos receberam inoculação de estresse, de forma repetida, nas vezes que
foram colocados de cabeça para baixo, porém sempre ficavam vivos após isso.
Quando foram colocados na banheira ficaram por mais tempo lutando para não morrer
afogados, condicionados para lutar e sobreviver.
Muitas pessoas criticam o formato pedagógico doutrinário dos cursos de
formação de unidades especiais militares em vários lugares do mundo. Levar o aluno
ao limite do cansaço físico e mental, estabelecer tensão constante, seja através de
diversas avaliações, seja na exposição do aluno aos seus maiores medos, ou
colocando o aluno em situações aparentemente de humilhação ou degradação moral,
são algumas das ferramentas duramente criticadas por pessoas alheias à realidade
operacional de alto risco.
Esses cursos, extremamente rígidos, são os melhores inoculadores de estresse
de combate, preparando com maior eficácia o operador para a realidade que ele irá
enfrentar.
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8-Distorções Perceptuais
25
Essas distorções possuem TOTAL relação com o gráfico de estresse e
performance que discutimos anteriormente. São efeitos físicos e psicológicos
resultantes do aumento do ritmo cardíaco, provocado pela tensão da ocorrência. De
acordo com isso, podemos entender a importância de exercícios de memória muscular
que favoreçam o escaneamento do ambiente, checagem da arma de fogo,
conhecimento prévio de onde está localizado cada carregador de pistola ou arma
longa e formas de comunicação visual como linguagem das armas. Devemos fazer
com que o treinamento desafogue o nosso cognitivo, deixando ele livre para as
fricções especificas da ocorrência.
9- Princípio de Pareto
Também chamado de regra do 80/20 ou lei dos poucos vitais, o princípio foi
sugerido por Joseph Moses, que deu o nome em homenagem ao economista Vilfredo
Pareto, que, no século 19, observou em seu jardim que 80% das ervilhas eram
produzidas por apenas 20% das vagens. Ele observou a distribuição de terras na Itália
e verificou a mesma proporção, onde 80% das terras pertenciam a apenas 20% das
famílias. Esse princípio então passou a ser aplicado em diversas áreas do
conhecimento, como uma espécie de regra da tumba. O princípio de Pareto, em
síntese, afirma de 80% das consequências são efetivadas por 20% das causas.
Trazendo para a questão tática, o princípio de Pareto deve ser considerado
com seriedade em nossos treinamentos, uma vez que em breve análise, percebemos
que 80% dos problemas de desempenho tático são causados por 20% dos erros, bem
como 20% das técnicas são utilizadas em 80% das situações. Se juntarmos o princípio
de Pareto com a lei da simplicidade tática de Hick, veremos que é mais valioso treinar
poucas técnicas e as técnicas mais utilizadas na realidade do operador, ou treinar um
procedimento que resulta em uma solução mais abrangente. Caso clássico seria a
solução de panes em armas curtas. Outro exemplo prático seria o treino de
fundamentos de tiro, onde é possível observar que apenas dois ou três erros
(antecipação do recuo, esmagamento incorreto do gatilho e pouca força na mão de
suporte) atingem cerca de 80% dos atiradores, sendo muito mais produtivo dedicar
mais tempo a esses fundamentos do que aos outros, que possuem pouca interferência
estatística na qualidade dos disparos.
26
É fundamental compreender quais habilidades geram mais resultados na
atuação profissional e quais falhas são mais recorrentes, para que o esforço de
qualificação seja mais eficiente, principalmente na distribuição de carga horária e
elaboração de ementas dos componente curriculares.
27
Mas, como deve ser a estrutura desse
treinamento, então?
28
10- As quatro etapas do treinamento de alto rendimento
29
1-CRIAÇÃO DE MEMÓRIA MUSCULAR:
30
2-EXERCÍCIO COGNITIVO:
31
Exemplos de exercícios cognitivos:
3-PROTOCOLO DOUTRINÁRIO:
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é mais fácil de observar essas diferenças está na “Abordagem policial”, que mesmo
com o frequente intercambio de conhecimento entre polícias e tentativas de
padronização doutrinária, verificamos muitas diferenças na forma de cada instituição
realizar uma busca pessoal em individuo suspeito. A ROTA de São Paulo faz de uma
forma, a RONDESP da Bahia faz de outra forma, a Rádio Patrulha em Sergipe faz de
outra forma diferente das duas primeiras.
Quero apenas salientar que um protocolo doutrinário não é necessariamente
melhor do que outro e uma demanda tática pode ter sucesso sendo solucionada com
vários tipos de protocolos diferentes. Porém, é temerário apenas misturar os
protocolos dentro de uma mesma instituição, uma vez que feito isso, deixará de ser
um protocolo e os operadores serão colocados em situação de risco a cada
ocorrência.
4- REALIDADE SIMULADA:
33
diferentes níveis de investimento. Nem sempre o maior investimento irá significar
maior aprendizado, mas em geral os melhores métodos de realidade simulada
significam maior investimento.
Na execução de exercícios de realidade simulada, é importante que o aluno
receba as instruções abrangentes sobre as condições de simulação e seja apenas
observado e avaliado quanto a sua capacidade de aplicar o conteúdo aprendido de
forma prática, uma vez que o grande diferencial da realidade simulada é a
responsabilidade cognitiva que o operador terá em fazer escolhas. Não existe apenas
uma resposta certa quando se trata de ocorrência policial ou confronto armado. Nessa
fase do treinamento o instrutor não te mostra o caminho ou o que pode ou não pode
fazer. Além disso, essa fase de treinamento tem como objetivo preparar o aluno para
as singularidades das ocorrências, além de proporcionar inoculação de estresse,
principal recurso pedagógico para capacitar o operador para situações de alto risco.
34
Vejamos agora métodos inovadores para
treinamento tático...
35
11-Método RAIO
_____________________________________________________________________
RETÂNGULOS ALTERNADOS DE INSTRUÇÃO OPERACIONAL
RAIO ®
1) Histórico:
2) Finalidades do RAIO®
36
O principal fundamento do método é a automatização do controle na execução de
movimentos a serem adquiridos durante o deslocamento em uma trajetória pré-definida,
antes de treinamentos de maior complexidade. Durante os exercícios com o RAIO ®, os
policiais podem desenvolver as seguintes habilidades:
a) Caminhar tático;
c) Transição de armamento;
f) Mudanças de direção;
g) Visão Periférica;
3) Pré-requisitos técnicos:
a) Fundamentos de tiro de pistola e armas longas, tais como, empunhadura, visada, base,
plataforma de tiro, respiração, olho “diretor”, entre outros fundamentos;
c) Caminhar “Tático”;
4) Descrição do método:
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comprimento por 4 metros de largura, que se cruzam perpendicularmente, dois a dois,
conforme desenho abaixo:
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e) Dinâmica da atividade – Cada quarteto deverá passar pelo menos três vezes pelo
exercício. A primeira passagem deverá ser em um deslocamento lento. A segunda de
maneira moderada e, por conseguinte, a última mais acelerada. A partir da segunda
passagem, serão dados os comandos de “CONTATO!”, onde o policial deverá assumir a
posição de joelhos. Ao comando de “DESLOCA!”, a equipe retomará a movimentação. Na
última etapa, o instrutor também deverá comandar “retaguarda!” para que aluno execute
a mudança de direção. A partir da segunda passagem o instrutor pode comandar a
transição do armamento, por meio da verbalização “TRANSIÇÃO!”. Esta manobra pode
ser para que a arma longa seja substituída pela pistola e vice-versa.
g) O treinando não avançará nas etapas enquanto não executar corretamente e sem
dificuldades, o procedimento anterior.
i) Ao término da instrução, o instrutor deverá informar aos policiais os pontos fracos que
necessitam ser melhorados.
j) Caso o treinamento de ITI não seja bem automatizado, o método pode ficar bastante
prejudicado. Os alunos podem apresentar dificuldades na transição do armamento,
empunhadura deficiente, deslocando de maneira inadequada, entre outras deficiências.
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m) Uma das vantagens do método é desenvolvimento da visão periférica em conjunto
com o controle de cano. Atentar para que os policiais saibam o que acontece ao seu redor,
trabalhando a atenção de maneira difusa.
Tive contato pela primeira vez com o método RAIO durante o VI Curso de
Operações de Controle de Distúrbios-COCD ministrado pela PRF no Rio de Janeiro,
em 2013, onde o criador do método foi um dos instrutores. Depois que conheci o
exercício, a simplicidade e efetividade, tanto para o aluno quanto para o instrutor,
passei a utilizar em todas as instruções possíveis e imagináveis para diversos
segmentos operacionais da PMSE, cometendo a ousadia, inclusive, de fazer algumas
adaptações do método para atender às demandas específicas de alguns cursos. O
exercício permite treinar, em deslocamento, uma série de movimentos táticos para os
quais é absolutamente necessário desenvolver uma eficiente memória muscular,
aliando isso com aspectos cognitivos importantes da relação do operador com o
cenário, como a utilização da visão periférica, comunicação verbal e não verbal com
outros operadores e começar a sentir algumas das fricções da realidade operacional.
O método permite ainda uma série de adaptações, com inserção de habilidades
diversas, podendo ser convertido em uma atividade de intensidade física ao substituir
as armas por anilhas de peso, podendo utilizar airsoft, paintball, podendo adaptar
regras especificas ou fazer a adaptação de procedimentos doutrinários, permitindo ao
instrutor observar vários operadores ao mesmo tempo, todos em movimento. Uma das
melhores características da metodologia, no entanto, é a efetividade relacionada ao
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baixíssimo custo logístico, pois basicamente precisamos apenas de cones e armas,
para realizar a instrução.
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Exemplos de exercícios utilizando o banner:
Exercícios de escaneamento:
-Identificar as letras em ordem alfabética
-Identificar os números em ordem
-Identificar as armas longas
-Identificar as expressões faciais
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-Escanear número ou letra específica e realizar disparo com arma longa ou curta, a
depender da figura encontrada na parte superior direita do círculo
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Print Editora, 2016.
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2 ed. Florida: CRC Press. 2000.
FLORES, E; GOMES, G. Tiro Policial: Técnicas sem fronteiras. Porto Alegre: Evangraf, 2006.
FORD, D. When Sun-tzu Met Clausewitz: The OODA Loop and the invasion of Iraq. War bird
Books, 2017.
GLADWELL, M. Blink: a decisão num piscar de olhos. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.
46
GROSSMAN, D. On Combat: The Psychology and Physiology os Deadly Conflict in War and in
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https://www.volleyball1on1.com/just-launched-peak-performance-ooda-loop-vision-
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LEANDRO, A. Armas de Fogo e Legítima Defesa: A desconstrução de oito mitos. 1. Ed. Rio de
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47
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OSINGA, F. Science, Strategy and War: The strategic theory of John Boyd. Netherlands:
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Pareto’s Principle: How the 80/20 Rule Can Help Improve Your Performance. Artigo disponível
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SIDDLE, B. Sharpening the Warriors Edge: The Psychology & Science of Training. PPCT
Research Publications, 1995.
48