em Cirurgia
I
II
CLÍNICA BRASILEIRA DE CIRURGIA
COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES
Aspectos Técnicos
em Cirurgia
Editor Convidado
ANO V — VOLUME II
1999
Atheneu
São Paulo • Rio de Janeiro • Belo Horizonte
III
EDITORA ATHENEU
MARGARIDO N. F.
Aspectos Técnicos em Cirurgia
IV
Colaboradores
ANDERSON BENÍCIO
Médico Assistente da Divisão Cirúrgica do Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
ANDRÉ DE MORICZ
Pós-Graduando do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo
V
ANDRÉ PAULO NEMETZ
Professor de Clínica Cirúrgica I, Fundação Universidade Regional de
Blumenau (FURB). Especialista em Cirurgia Plástica pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Serviço Professor Ivo
Pitanguy
CARLOS ALBERTO MALHEIROS
Professor Adjunto-Doutor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de
Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
EDUARDO H. PIROLLA
Médico Assistente da Divisão Cirúrgica do Instituto do Coração do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Cirurgião do Serviço de Emergência do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo.
Cirurgião do Corpo Clínico do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo
EDVALDO FAHEL
Professor Adjunto de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal da Bahia. Chefe do Serviço de Cirurgia Geral do Hospital São Rafael
— Fundação Monte Tabor
ERASMO SIMÃO DA SILVA
Professor Doutor da Disciplina de Topografia Estrutural Humana do
Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo (FMUSP)
FRANCISCO CÉSAR MARTINS RODRIGUES
Professor Assistente-Doutor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de
Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
ITALO ACCETA
Professor Titular de Clínica Cirúrgica do Departamento de Cirurgia da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Subcoordenador do Curso de Mestrado em Cirurgia Gastroenterológica
JOÃO BATISTA DE SOUZA
Professor Adjunto do Departamento de Clínica Cirúrgica da Faculdade de
Ciências da Saúde da Universidade de Brasília (UnB)
JOSÉ ANTONIO GOMES DE SOUZA
Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Fellow do American College of
Surgeons. Ex-Professor de Cirurgia da Universidade de Brasília (Unb)
JOSÉ WAZEN DA ROCHA
1º Vice-Presidente Nacional do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Chefe da
Cirurgia do Hospital de Clínicas de Ipanema — AMIL. Chefe e Responsável
pelo Centro de Hemorragia Digestiva do Hospital do Andaraí (1875-1986)
VI
LUIZ ALBERTO SOARES
Professor Doutor da Disciplina de Técnica Cirúrgica e Cirurgia Experimental
do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (FMUSP)
LUIZ GUILHERME BARROSO ROMANO
Presidente do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Mestre em Cirurgia Plástica
pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Serviço
Professor Ivo Pitanguy
MARCELO DOMINGUES MANSANO
Residente da Disciplina de Cirurgia de Tórax da Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo
MÁRCIO BOTTER
Pós-Graduando da Disciplina de Cirurgia de Tórax da Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo
NELSON FONTANA MARGARIDO
Professor Livre-Docente do Departamento de Cirurgia da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo. 2º Vice-Presidente Nacional do
Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Diretor Clínico do Hospital Universitário
da Universidade de São Paulo. Cirurgião do Corpo Clínico do Hospital
Sírio-Libanês de São Paulo
NOEDIR A. G. STOLF
Professor Adjunto, Professor Livre-Docente e Professor Associado da
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo — Departamento de
Cardiopneumologia, Diretor da Divisão Cirúrgica do Instituto do Coração do
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo
ORLANDO MARQUES VIEIRA
Membro Titular do Colégio Brasileiro de Cirurgiões. Professor Titular do
Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
PAULO GONÇALVES DE OLIVEIRA
Chefe do Serviço do Coloproctologia do Hospital Universitário de Brasília,
Mestre e Doutor pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto —
Universidade de São Paulo (USP). Professor Adjunto do Departamento de
Clínica Cirúrgica da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de
Brasília (UnB)
VII
PEDRO PUECH-LEÃO
Professor Titular da Disciplina de Cirurgia Vascular do Departamento de
Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo
PERETZ CAPELHUCHMIK
Professor Titular do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo (Área de Coloproctologia)
RAUL CUTAIT
Professor Associado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo (FMUSP). Cirurgião do Hospital Sírio-Libanês
de São Paulo
ROBERTO SAAD JR.
Professor Titular da Disciplina de Cirurgia de Tórax e Professor
Livre-Docente do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências
Médicas da Santa Casa de São Paulo
RODRIGO ALTENFELDER SILVA
Professor Assistente-Doutor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de
Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
SU CHAO
Aluno de Pós-Graduação do Departamento de Cirurgia da Faculdade de
Medicina da Universidade de São Paulo (USP)
VIII
Prefácio
IX
Esta é a razão pela qual Aspectos Técnicos em Cirurgia constitui mais
uma publicação da coleção CBC, que tem por objetivos o aprimoramento e a
educação continuada do cirurgião brasileiro.
Agradecemos ao TCBC Nelson Fontana Margarido e a seus
colaboradores por esta significativa contribuição ao Colégio Brasileiro de
Cirurgiões.
Samir Rasslan, TCBC
Editor Responsável
X
Apresentação
XI
XII
Sumário
4 Incisões Torácicas, 31
Roberto Saad Jr.
Marcelo Domingues Mansano
7 Drenagem Torácica, 65
Roberto Saad Júnior
Marcio Botter
XIII
9 Fechamento de Toracotomias, 87
Noedir A. G. Stolf
Anderson Benício
XIV
Esterilização, Assepsia e
1 Anti-Sepsia — Preparo da
Parede Abdominal
INTRODUÇÃO
1
que chamaremos a atenção de cada item procurando destacar a importância dos
processos de esterilização, de assepsia e de anti-sepsia e ainda sobre o preparo da
parede abdominal. Neste sentido, procuraremos promover uma revisão atualiza-
da sobre a influência de cada item e sua situação vigente, agregando todo o arse-
nal de medidas que ora dispomos, traduzida pela incansável busca do aprimora-
mento científico que tanto excita, qualifica e diferencia o cirurgião.
ESTERILIZAÇÃO
2
Esterilização pelo Calor
Calor Seco
Calor Úmido
3
Esterilização a Vácuo com Ciclos de Vapor
Esterilização Gasosa
Óxido de Etileno
4
que resultam em resíduos tóxicos, como o etilenoglicol. Não pode ser usado em
materiais que já tenham sido submetidos a esterilizações prévias, sobretudo
quando o foram por irradiações, pois nestas circunstâncias, é capaz de gerar
substâncias de alta toxicidade tipo o cloridrato de etileno, que possui ação alta-
mente deletéria, podendo inclusive provocar fenômeno de hemólise, quando em
contato com a superfície corporal1. Considerando-se que sempre existe a possi-
bilidade de ocorrer vazamentos, é terminantemente proibido que seja manuseado
por gestantes, já que tem efeito mutagênico sobre o feto.
Formaldeído
É um gás incolor, cáustico para a pele e mucosas, dotado de atividade bacte-
ricida, virucida e fungicida, mas não esporicida27. Em geral é utilizado em salas
de cirurgias sob a forma líquida e/ou de pastilhas para a produção de vapores em
caixas metálicas contendo todo e qualquer material que não pode ser submetido a
altas temperaturas e/ou umidade.
O tempo mínimo para a esterilização por este processo à temperatura ambi-
ente é de 36 horas, mas na vigência de aquecimento a 60°C é de 20 horas12.
Esterilização Química
Glutaraldeído
5
minação de resíduos tóxicos submetendo-os a uma minuciosa lavagem com água
destilada recém-processada.
Radiações Ionizantes
Este modelo de esterilização emprega, em geral, raios gama (Co60) e/ou elé-
trons de alta energia (aceleradores lineares). Tem como vantagem não necessitar
de qualquer período de quarentena para a sua utilização. A desvantagem corre
por conta da necessidade de dispor de aparelhagem de custo elevado, razão pela
qual sua aplicabilidade restringe-se ao setor industrial de materiais médico-
hospitalares adotados sobretudo no tratamento de produtos termoplásticos des-
cartáveis27.
Irradiação Ultravioleta
A irradiação por ultravioleta tem maior aplicabilidade como processo de es-
terilização do ar pela indústria farmacêutica. Caiu em desuso já algum tempo
como método válido para utilização em hospitais12,27.
Filtração
É um processo que usa membranas microporosas, para reter microrganismos
patogênicos existentes no ar e/ou nos líquidos. É mais utilizado em instalações
industriais, mas também é adotado em hospitais, particularmente, para a descon-
taminação de água para hemodiálise e esterilização de infusões parenterais no
momento da utilização12,27.
6
por envoltórios dotados de porosidade, isto porque é indispensável que haja vo-
lume suficiente de vapor para penetrar e deslocar o ar do interior do recipiente
que contém o instrumental e, ainda aquecê-lo à temperatura da esterilização. No
entanto, nas estocagens por períodos de tempo prolongados é mais seguro utili-
zar invólucros impermeáveis1,27.
Uma vez que a esterilização é regida por fenômenos físicos como tempo e
temperatura, é essencial que estes efeitos sejam cuidadosamente observados e
conduzidos por profissionais especializados e altamente qualificados, capazes
de controlar, tanto o procedimento básico, como a distribuição do material.
7
a mistura. Existe ainda um método que utiliza radicais liberados ou formados
pela eletrólise, mas não tem angariado muitos defensores1.
Equipamento de Angiografia
Equipamento Urológico
8
de tempo não inferior a 30 minutos e observar os cuidados previamente assinala-
dos, antes da reutilização.
Equipamento Endoscópico
Este tipo de material exige atenções especiais de tratamento, uma vez que as
medidas adotadas nos processos de esterilização têm que ser rápidas e eficientes
e não podem comprometer o funcionamento do aparelho. Sabe-se entretanto,
que estes instrumentos apresentam potenciais elevados de contaminação, razão
pela qual necessitam de cuidados adicionais no seu manuseio, de modo a evitar
complicações clínicas infecciosas como conseqüência do contágio por uma uti-
lização inadequada. Como exemplo, podemos citar o uso de um cistoscópio con-
taminado, que pode desencadear uma infecção urinária aguda ou até mesmo
uma obstrução ou ainda contrair uma hepatite como decorrência de um exame
laparoscópico. Alerte-se que neste último caso, a doença pode permanecer ocul-
ta por algum tempo em conseqüência do retardo da soroconversão1. Deste
modo, podemos inferir que há necessidade de extrema cautela na execução das
endoscopias nos pacientes contaminados, até porque, na atualidade, não se pode
afastar a possibilidade do exame de um portador do vírus HIV. Por estas razões,
manda a prudência que seja observado um rigoroso controle dos processos de
descontaminação dos equipamentos. Deduz-se, portanto, que a esterilização dos
endoscópios exige, pelo menos, que haja uma exposição adequada da superfície
a ser esterilizada por ação do germicida. E nunca é demais lembrar que todos os
componentes removíveis, sejam conectores, tubos, adaptadores e roscas, devem
ser retirados e cuidadosamente lavados e tratados individualmente. A parte prin-
cipal do aparelho é submetida a imersão em solução detergente com função ger-
micida e, ao ser retirada do banho, além da limpeza geral, aplicam-se jatos
d’água esterilizados em todos os canais e/ou orifícios e em seqüência oxigênio,
para secá-los adequadamente.
Dentre os meios mais seguros para a esterilização dos equipamentos endos-
cópicos está o óxido de etileno. Para que este tipo de tratamento alcance o efeito
desejado, torna-se necessário protegê-lo com um invólucro poroso para permitir
a penetração do gás. Pode-se também utilizar um esterilizador, com câmara de
esterilização, conforme descrito anteriormente. Contudo, o material assim trata-
do apresenta um grande problema, ou seja, a necessária inativação de 24 horas
para que haja a eliminação completa do gás tóxico, o que certamente limita este
procedimento, tendo em vista que o aparelho permanece indisponível por um
tempo extremamente alongado. Desta forma, há que se ter alternativas de abor-
dagens e o agente que tem merecido maior preferência para a esterilização deste
tipo de equipamento é uma solução de glutaraldeído a 2%, tamponado com clo-
reto de sódio para um pH entre 7,5 e 8,56,25. O tempo de imersão deve ser no mí-
nimo de 30 minutos25. Quando for totalmente impossível manter este último es-
quema, por necessidade absoluta da utilização do aparelho, pode-se optar por
9
tratar o equipamento mergulhando-o alternadamente por 10 minutos nas solu-
ções abaixo:
Solução A:
Chlorox (5,25% de hipoclorito de sódio) ........................................... 300ml
Água destilada q.s.p..........................................................................4.000ml
Solução B:
Ácido ascórbico ...................................................................................... 48g
Triton X 100 ............................................................................................8ml
Água destilada q.s.p......................................................................... 4.000ml
Equipamento de Anestesia
10
dados com o local da punção, é bom lembrar que deve merecer a mesma atenção
dispensada pelo cirurgião no preparo dos acessos abdominais.
ASSEPSIA
11
— Semicríticas — aquelas nas quais estão os portadores de doenças
não-infecciosas e/ou infecciosas não-transmissíveis.
— Não-críticas — compreendem todas as repartições administrativas,
cujo acesso ao público é proibido ou controlado.
Ainda dentro dos cuidados inerentes ao processo de assepsia, importa lem-
brar ao pessoal que compõe a equipe cirúrgica, bem como aos demais integrantes
do sistema operacional da sala de cirurgia que não é permitido transigir com
qualquer tipo de violação das normas de assepsia. Todos os componentes do gru-
po devem, obrigatoriamente, não só estar convenientemente paramentados —
roupas apropriadas, gorro, máscaras e sapatilhas21, e gozar de boa saúde —
como, também, manter perfeitas as condições de higiene corpórea, pois a sim-
ples presença de infecções dérmicas implica o afastamento do componente afeta-
do8.
Na vigência de surtos infecciosos em pacientes recém-operados, é mandató-
ria a execução de uma pesquisa, no sentido de localizar, identificar e afastar o
agente causador do problema.
A prática da assepsia iniciada por Lister há 121 anos13 tem sofrido intensa
modificação, principalmente a partir da metade deste século. Tal acontecimento,
está relacionado com o melhor conhecimento da interação das relações entre o
meio ambiente, as bactérias e os mecanismos de defesa do paciente. Infere-se,
portanto, que a prevenção de infecções cirúrgicas requer uma abordagem que in-
corpore os princípios de assepsia, com uma boa prática de anti-sepsia aliada à
execução de um ato operatório cercado de cuidados especiais e perfeitamente in-
tegrados dentro destes preceitos.
Entretanto, apesar de todos os avanços alcançados, conseguindo-se até a mo-
nitorização das infecções emergentes, ainda não a erradicamos completamente,
mesmo após cirurgias limpas.
ANTI-SEPSIA
12
mos patogênicos a uma proporção que os torne incapazes de provocar dano para
a saúde; e ainda tem a desgermação, que refere-se a erradicação total ou parcial
da microbiota da pele e/ou mucosas por processos físicos e/ou químicos24.
Como se trata realmente da ação de prevenção contra as infecções procuran-
do inibir ou destruir a microflora patogênica, ainda que temporariamente, as me-
didas de anti-sepsia utiliza agentes germicidas que possam desempenhar com su-
cesso esta função.
Vale lembrar que usualmente existem dois tipos de flora microbiana que vi-
vem na superfície corporal dos indivíduos: a residente, representada pelos estafi-
lococos epidermitis coagulase-negativos e os difteróides anaeróbicos, que são
encontrados na superfície da pele, nos folículos pilosos e nos ductos das glându-
las sebáceas, e a flora transitória, que é composta pelos microrganismos que co-
lonizam temporariamente a superfície da pele. Esta é variável e dependente da
ecologia bacteriana a que o indivíduo está exposto, de modo que, quando este
permanece em ambiente hospitalar, rapidamente é colonizado por germes deste
meio, representados, principalmente, por cepas patogênicas de estafilococos e
enterobactérias Gram-negativas antibiótico-resistentes. É possível conseguir a
redução do número destas bactérias por um determinado período de tempo mas
não erradicá-las totalmente18.
Os microrganismos que habitam as mãos e antebraços da equipe cirúrgica
devem ser removidos mecânica e quimicamente, pois o fato de usar luvas para a
execução das operações não confere segurança absoluta contra a contaminação
da ferida operatória, uma vez que é perfeitamente conhecido que no decorrer de
uma operação com tempo igual ou superior a duas horas, existe uma média de
perfurações das luvas em torno de 30% e mesmo orifícios microscópicos são ca-
pazes de permitir a passagem de milhares de bactérias em poucos minutos8,12.
A microbiota da pele pode ser convenientemente erradicada, mas a flora re-
sidente dos folículos pilosos e glândulas sebáceas não, assim, elas são capazes de
emergir e povoar a referida superfície em poucos minutos.
Diante desta realidade, seria importante que pudéssemos dispor de um an-
ti-séptico ideal. Entretanto, este teria que conter uma gama de propriedades tão
abrangente que torna-se praticamente impossível atingi-lo, uma vez que deveria
reunir as seguintes vantagens: ser solúvel em água, não manchar a pele nem o
vestuário, ser estável e ativo em baixas concentrações, ter amplo espectro de
ação, sendo bactericida e bacteriostático, possuir atividade prolongada e não ser
dotado de toxicidade e por fim ser de baixo custo. Todavia, como ainda não al-
cançamos tal patamar, o controle dos microrganismos da pele dependerá: da téc-
nica de remoção mecânica pela escovação, do tipo de agente utilizado e do tempo
empregado no processo.
A interação destes três itens tem merecido bastante atenção, de modo que a
escovagem está sempre associada a diferentes agentes, para o combate da flora
13
microbiana da pele. Dentre as substâncias mais utilizadas para a desgermação
das mãos e antebraços temos:
— Sabão — que tem como vantagem o baixo custo, mas possui apenas ati-
vidade mecânica.
— Iodofóricos — são complexos orgânicos composto por iodo e um deter-
gente sintético transportador (iodopovidone). É hidrossolúvel em alta
pressão coloidal e osmótica e tem ação surfactante, liberando 10% a
30% de iodo livre. A concentração germicida mínima é de 10% de iodo
livre com bom efeito residual. São ativos contra Gram-positivos e nega-
tivos, mas não agem contra esporos12. Não coram a pele e praticamente
não produzem reações alérgicas (0,04%). Sua principal ação residual se
prolonga, no mínimo, por quatro horas26. Os produtos comerciais con-
têm cerca de 1% de iodo na fórmula, que é liberado quando o composto
entra em contato com a água. O detergente aumenta sua atividade bacte-
ricida.
— Hexaclorofeno — bactericida eficiente, mas que necessita de contato
prolongado para atuar de modo significativo contra a flora bacteriana.
Sua ação se faz, principalmente, contra alguns fungos e bactérias, mas
não possui atividade contra Gram-negativos. As preparações comercia-
is contêm hexaclorofeno a 3%. Deixa na superfície da pele uma camada
ativa que, entretanto, é removida por uma única lavagem com sabão co-
mum. Apresenta um importante problema, ou seja, é absorvido pela pele
e membranas mucosas, razão pela qual podem provocar edema e dege-
neração esponjosa do cérebro e medula espinhal2,10,17.
— Clorexidina — composto orgânico com boa atividade antibacteriana,
destruindo-as através de lesões de suas paredes e também por precipitar
seu conteúdo celular. Tem boa ação fungicida, mas pouca atividade
contra bacilos da tuberculose e é pobremente virucida. É bastante ativa
quando aplicada na pele, mas é tóxica para o ouvido médio17 e/ou quan-
do mantém contato com a córnea23. É usada na concentração de 4%.
Não é alergênica, não mancha a pele e/ou roupa e exerce boa atividade
residual.
— Álcoois etílico e isopropílico a 90% e 70% — respectivamente, são
agentes bactericidas, muito embora não tenham ação contra esporos.
Tem como vantagem seu baixo custo, secar rapidamente e remover a
umidade da pele, o que facilita a colocação das luvas. O principal incon-
veniente é o fato de não terem qualquer ação residual, razão pela qual,
tem-se adicionado alguns emolientes, não só para impedir sua rápida
evaporação, como também evitar que resseque a pele após repetidas
aplicações9,11.
Estudos recentes mostram que a utilização de uma solução de hexaclorofeno
e/ou iodopovidone produz igual depressão do número de bactérias, quer após
14
cinco minutos quer após 10 minutos de escovagem5,16,17,21. Entretanto, não há
dúvida de que a escovação com boa técnica por cinco minutos é melhor do que
uma mal conduzida, por mais longo que seja o tempo empregado9, até porque o
Colégio Americano de Cirurgiões recomenda uma escovagem de apenas dois
minutos, seja usando clorexedine ou iodóforos. Sabe-se também que uma vigo-
rosa escovação de um minuto com álcool constitui eficiente método de an-
ti-sepsia da mão11,17.
15
no (mercúrio cromo), timerosal (mertiolate) e o nitromersol (metafem), por apre-
sentarem um coeficiente de anti-sepsia de 50%, têm a sua utilização desaconse-
lhada. Existem autores que preconizam a aposição de uma lâmina de plástico so-
bre o abdome, justificando tal adoção como sendo uma medida complementar de
proteção do campo operatório, pois esta impediria o contato das mãos da equipe
cirúrgica com a pele do paciente17,19. Entretanto, estudos recentes mostraram
que esta atitude não é capaz de trazer qualquer benefício, e, mais, o fato de causar
transpiração local facilitaria uma possível infecção8,19. Seqüencialmente, colo-
cam-se os campos primários que cobrem o paciente, primeiro o podálico seguido
do cefálico e então os laterais, deixando descoberta obviamente a região reserva-
da para incisão e acesso cirúrgico bem como a cabeça, área de ação do anestesis-
ta. A região a ser operada é a seguir delimitada pela colocação de campos secun-
dários esterilizados. A proteção local é complementada pelo isolamento da feri-
da cirúrgica, após a abertura da pele e subcutâneo, e pela fixação de compressas
às bordas da incisão.
COMENTÁRIOS
16
dade residual, como também, no controle e erradicação dos agentes patogênicos
da superfície da pele.
Estas ponderações são também válidas em relação ao preparo da parede ab-
dominal, para a execução dos diversos tipos de operações, uma vez que os parâ-
metros das ações e resultados são superpostos.
A ocorrência destes fatos tem de ser entendida como uma situação que mere-
ce ser analisada por um prisma favorável e deve servir como paradigma de estu-
dos, cada vez mais aprofundados, na busca de soluções que aufiram resultados
mais consistentes.
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gia — Ferraz EM (ed). Ed. Médica e Científica — Rio de Janeiro, 577-608, 1996.
18
Equipamento e Instrumental
2 de Videocirurgia: O Que Há
de Novo?
INTRODUÇÃO
Passados mais de 10 anos da realização da primeira colecistectomia videola-
paroscópica1, continuamos a presenciar avanços terapêuticos e desenvolvimen-
to de equipamentos e instrumentos. Procedimentos novos em diferentes especia-
lidades cirúrgicas têm sido descritos, particularmente na cirurgia cardíaca, cirur-
gia vascular, urologia e cirurgia endócrina, envolvendo a utilização de instru-
mental específico.
Na cirurgia geral e na cirurgia do aparelho digestivo, a busca do menor trau-
ma possível impulsiona o aperfeiçoamento de instrumentos de menor diâmetro e
equipamentos que associem eficiência, qualidade, durabilidade e custos mais re-
duzidos.
Assim, poderíamos dizer que o panorama atual da videocirurgia se caracte-
riza por amadurecimento e investigação. Se há alguns anos o cirurgião era de-
pendente de uma tecnologia que ele desconhecia, hoje ele amadureceu e já é ca-
paz de conhecer detalhes mais complexos do funcionamento de equipamentos e
instrumentos.
Com isso, a análise dos produtos existentes é hoje mais rigorosa e muitos ci-
rugiões passaram a selecionar os instrumentos de trabalho. Isso contribui para o
aparecimento de um profissional mais exigente e para o desenvolvimento dos
equipamentos e instrumentais.
Desse modo, o presente capítulo tem por objetivo analisar os avanços mais
significativos no desenvolvimento de equipamentos e instrumentos videocirúr-
gicos, bem como em relação à sua limpeza e esterilização.
EQUIPAMENTOS
Embora tenham ocorrido modificações em todos os equipamentos (fonte de
luz, microcâmera e insuflador), os principais avanços ocorreram nas microcâ-
19
meras. Nos últimos anos verificamos a preocupação na produção de equipamen-
tos capazes de gerar imagem de melhor qualidade e com mais alta definição, cul-
minando recentemente no aparecimento das microcâmeras que produzem ima-
gens em três dimensões (3D).
Apesar de sempre se ter afirmado que um dos problemas da videocirurgia
era a perda da terceira dimensão, que não permitia a noção de profundidade, as
avaliações preliminares sobre a utilização dessas novas microcâmeras não fo-
ram totalmente favoráveis. Algumas queixas de dificuldade de orientação e o
aparecimento de náuseas e tontura durante a intervenção chamaram a atenção2.
Mesmo sem a terceira dimensão, os novos recursos tecnológicos incorpora-
dos às microcâmeras, tais como: filtros, capacidade de intensificação de deta-
lhes, ajuste automático da intensidade de iluminação e sistema eletrônico de ex-
posição automática, permitiram a produção de equipamentos de alta qualidade.
As modificações introduzidas nos insufladores envolveram, praticamente,
sua capacidade de reposição de gás, recuperando mais rapidamente as eventuais
perdas do pneumoperitônio. A maioria dos insufladores eletrônicos trabalhava
com uma velocidade de reposição de gás de 10 litros/minuto. Os equipamentos
mais modernos passaram a ter uma velocidade de reposição de até 20 litros/mi-
nuto, tornando-se mais rápidos e eficientes na manutenção do pneumoperitônio.
Nas fontes de luz, observamos o lançamento de equipamentos com diferen-
tes potências. Embora os tipos de lâmpadas não tenham sido modificados, ou
são halógenas ou a gás (xenon), encontramos equipamentos de 100 a 300 watts
de potência, com diferentes períodos de vida útil das lâmpadas. Devemos lem-
brar que as fontes mais potentes e com lâmpadas a gás são as que produzem
maior luminosidade.
INSTRUMENTOS
A análise do desenvolvimento recente dos instrumentos videocirúrgicos
permite identificar avanços tanto na produção de instrumental permanente como
do descartável. Além de novos instrumentos, verificamos a preocupação na re-
dução do calibre dos mesmos.
Desse modo, encontramos óticas, clipadores, afastadores e diversas pinças
de apreensão e dissecção inicialmente fabricadas com diâmetro de 10 mm, com
diâmetro de 5 mm ou menos.
As óticas, por exemplo, são disponíveis em calibres de até 1 mm, podendo
ser utilizadas em procedimentos diagnósticos, ou para a realização de biópsias
dirigidas. Na cirurgia experimental, onde temos trabalhado com animais de pe-
queno porte (coelho e rato), os instrumentos de 3 a 4 mm, idealizados para uso
em crianças, se adaptam melhor.
Dos instrumentos descartáveis, além de pinças de menor calibre, observa-
mos o aparecimento de trocartes mais elaborados e clipadores específicos para
20
herniorrafia inguinal. Em relação aos trocartes, alguns passaram a ter redutor
universal e outros um componente permanente (cânula). Essas modificações ob-
jetivaram facilitar os procedimentos e reduzir o custo dos instrumentos.
Embora não seja um equipamento ou instrumento específico videocirúrgi-
co, devemos também ressaltar o aparecimento do bisturi ultra-sônico. Idealizado
tanto para procedimentos cirúrgicos convencionais como videolaparoscópicos,
quando utilizado com pinças próprias para laparoscopia, contribuem de maneira
significativa na redução do tempo cirúrgico de alguns procedimentos avança-
dos, como nas operações para a correção do refluxo gastroesofágico e nas res-
secções do cólon.
Assim, temos verificado uma preocupação da indústria em desenvolver
equipamentos e instrumentos que possibilitem maior rapidez e facilidade na
execução dos procedimentos videocirúrgicos. Embora os custos nem sempre se-
jam baixos, a qualidade dos produtos melhorou, possibilitando ao cirurgião uti-
lizar uma tecnologia mais avançada no tratamento de seus pacientes.
ESTERILIZAÇÃO
O processo de eliminação de microrganismos de instrumentos cirúrgicos
pode ser realizado por: limpeza, desinfecção e esterilização3.
A limpeza é um processo mecânico que visa a remoção de microrganismos
através de escovação e lavagem geralmente com substância detergente de partí-
culas de muco, fezes, sangue e tecidos. Pode ser empregada em instrumental ci-
rúrgico e endoscópico e é utilizada previamente à desinfecção.
A desinfecção é um processo químico que visa à eliminação de todas as for-
mas vegetativas como bactérias patogênicas, vírus e alguns esporos do material
cirúrgico. É realizada com o auxílio de substâncias “desinfetantes” ou “germici-
das”, cujo espectro de ação varia em baixo, médio ou elevado nível de desinfec-
ção.
A esterilização é definida como um método químico ou físico, capaz de pro-
mover a total destruição de microrganismos, incluindo os vírus e os esporos
mais resistentes. Pode ser feita por calor úmido (autoclave), com gás (óxido de
etileno) ou com irradiação (raio gama).
Um dos germicidas mais utilizados para desinfecção de materiais de lapa-
roscopia é o glutaraldeído alcalino a 2%, cujo espectro de ação é de elevado ní-
vel de desinfecção. Através dele consegue-se com eficácia a eliminação de bac-
térias, bacilo da tuberculose, fungos, vírus e esporos, após exposição de 20 mi-
nutos ao produto. O seu grande problema é o risco de danificar o instrumental
em exposições prolongadas, além de causar dermatite e sinusite4.
Em termos de avanços na desinfecção e esterilização vale ressaltar o apare-
cimento de autoclaves de pequenas dimensões que podem ficar na sala de cirur-
gia e que fazem o ciclo de esterilização num período de 20 minutos. Além disso,
21
em função da retirada progressiva do mercado do glutaraldeído e do óxido de
etileno, novas formas de esterilização têm sido pesquisadas, principalmente com
uso de gases e outras substâncias.
BIBLIOGRAFIA
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4. Duppler DW. Laparoscopic instrumentation, videoimaging and equipament disinfection and sterilizations.
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22
3 Anatomia Cirúrgica da
Parede Abdominal
INTRODUÇÃO
23
los para inervação da parede, sendo acompanhados por artérias e veias intercos-
tais. O VII e o VIII nervos intercostais têm um sentido ascendente após deixar o
espaço intercostal para inervar a parede anterior do abdome, enquanto o IX e o X
se dispõem em sentido transverso e o XI, XII e os mais inferiores têm disposição
oblíqua com sentido descendente.
Os ramos arteriais intercostais e veias intercostais acompanham o trajeto
dos nervos mencionados acima. Esta relação anatômica implica que uma incisão
transversa acarretaria menor dano vasculonervoso no abdome superior, como
também uma incisão oblíqua no sentido lateromedial e súpero-inferior na porção
inferior e lateral da parede. Já uma incisão oblíqua (subcostal) superior poderia
acarretar dano de até três feixes vasculonervosos (Fig. 3.1). Ainda com relação à
lesão neurológica o limite lateral do músculo retoabdominal é crítico para iner-
vação deste músculo, pois é por esta região que os ramos nervosos intercostais
penetram no músculo para inervá-lo. Portanto uma incisão longa vertical e late-
ral (pararretal externa) ao músculo reto do abdome acarretaria extensa denerva-
ção, com possível dor neurítica e fraqueza muscular.
A irrigação da parede abdominal é feita também pelas artérias epigástrica
inferior (ramo da artéria ilíaca externa) e epigástrica superior (ramo da artéria to-
Fig. 3.1 — Três tipos de incisão com suas prováveis lesões neurológicas. Notar que a subcostal
tem o potencial de lesar maior número de ramos neurológicos.
24
rácica interna). Estas duas artérias têm disposição vertical ao longo do músculo
reto abdominal (anteriores à sua bainha posterior), anastomosando-se entre si dois
centímetros acima do umbigo. Importante fato é que a artéria epigástrica inferior
tem trajeto lateral e a artéria epigástrica superior é medial considerando suas rela-
ções com o músculo reto do abdome e a linha mediana. Portanto, incisões ou
punções no abdome superior devem evitar a borda medial do músculo, enquanto
as realizadas abaixo do umbigo, quando localizadas lateralmente sobre o mes-
mo, têm maior probabilidade de dano vascular.
A função da parede abdominal além de conter os órgãos da cavidade abdo-
minal consiste no auxílio da flexão da coluna vertebral e reservatório de tecido
adiposo. A função respiratória pode sofrer influência de processos mórbidos loca-
lizados na parede abdominal ou de incisões nesta parede, pois em decorrência da
dor, os movimentos respiratórios podem ficar limitados, já que os músculos do
abdome se inserem na parede torácica e são mobilizados passivamente durante a
respiração tranqüila e ativamente na expiração forçada.
Para o adequado acesso cirúrgico aos órgãos da cavidade abdominal uma in-
cisão deve permitir exposição adequada até a região acometida, ser de natureza
tal que se possa prolongar facilmente, poupar na medida do possível estruturas
como os nervos, vasos e músculos, facilitar a recuperação pós-operatória (ser
pouco dolorosa e determinar pequena interferência em outros sistemas, p. ex. o
respiratório) e eliminar ou diminuir as complicações crônicas, como hérnias e
dor neurítica.
As incisões na parede abdominal obedecem a três orientações no plano fron-
tal, a saber, a longitudinal, a transversa e a oblíqua, podendo ser combinadas em
mais de uma orientação (Tabela 3.1).
LONGITUDINAIS
Mediana
Incisão sobre a linha alba (ponto de confluência das aponeuroses dos mús-
culos largos — oblíquo externo, oblíquo interno e transverso), que forma as bai-
nhas do músculo reto do abdome.
Mediana supra-umbilical e infra-umbilical: existem duas diferenças funda-
mentais nestas duas incisões apesar de serem realizadas sobre a mesma linha
alba. Na porção infra-umbilical, 3 a 4 cm abaixo do umbigo, todas as bainhas
aponeuróticas passam anteriormente ao músculo reto do abdome, acima deste
ponto as aponeuroses dos músculos largos se distribuem anterior e posterior-
mente a este músculo. Na porção supra-umbilical os músculos largos do abdome
tracionam o músculo reto do abdome, com tendência de afastar as bordas da in-
cisão mediana. Este fato é atenuado na região infra-umbilical pela presença da
25
Fig. 3.2 — Disposição das artérias epigástricas inferior e superior em relação músculo reto do ab-
dome e músculos largos.
Paramediana
Incisão paralela à linha mediana. Pode ser feita com deslocamento lateral do
músculo retoabdominal (pararretal interna), na porção supra-umbilical, in-
fra-umbilical, paraumbilical ou desde o apêndice xifóide até a região púbica. A
incisão paramediana pode ser feita com deslocamento medial do músculo reto
do abdome (pararretal externa) na sua porção infra-umbilical ou supra-
umbilical. Por último a incisão paramediana pode ser realizada através do mús-
culo reto, com divulsão das suas fibras (transretal). Importante ponto a ser lem-
brado nas incisões paramedianas diz respeito, novamente, à disposição das apo-
neuroses dos músculos ântero-laterais do abdome, que é diferente acima e abai-
26
Tabela 3.1
Principais Incisões na Parede Abdominal
Supra-umbilical
Mediana
Infra-umbilical
Supra-umbilical
Paraumbilical
Longitudinais Pararretal interna
Infra-umbilical
Xifopúbica
Paramediana Transretal
Supra-umbilical
Pararretal externa
Infra-umbilical
Parcial
Supra-umbilical
Total
Transversas Parcial
Infra-umbilical
Total
Subcostal
Supra-umbilical
Oblíquas
Infra-umbilical
Lombo-abdominal
Mistas
27
Parciais
Limitam-se a um lado do abdome, acima ou abaixo da cicatriz umbilical.
OBLÍQUAS
28
de do pneumoperitônio e a manipulação indireta das estruturas através de instru-
mentos, com pequenas incisões, a videolaparoscopia, proporcionalmente ao ta-
manho da ferida operatória, oferece um acesso mais amplo e com trauma à pare-
de abdominal incomparavelmente menor (as incisões geralmente não ultrapas-
sam os dois centímetros de extensão).
Obviamente as localizações das vias de entrada da ótica e do instrumental na
parede do abdome sofrem variações baseadas na localização do órgão-alvo. Se o
objetivo é assistir a uma biópsia hepática ou a um processo ginecológico, as por-
tas de entrada serão distintas.
As incisões na parede do abdome para colocação da ótica e das pinças de
manipulação das estruturas são pequenas e portanto podem não permitir a visua-
lização dos vasos e nervos, acarretando possibilidade de lesões destas estruturas.
O conhecimento da anatomia de superfície do abdome diminui a possibilidade
destas lesões, que algumas vezes levam a inconvenientes problemas, como gran-
des hematomas. Exemplificando, a artéria epigástrica inferior tem seu trajeto
partindo do ponto médio de uma linha que une a espinha ilíaca ântero-superior à
sínfise púbica, em direção ao umbigo. Nesta região ela tem trajeto ascendente
mantendo-se eqüidistante à linha alba e à linha semilunar até anastomosar-se
com a artéria epigástrica superior, que é ramo da artéria torácica interna e tem a
mesma disposição em relação ao músculo reto do abdome, porém com tendência
a um trajeto medial (Fig. 3.1). Um par de veias acompanha estas artérias.
Na porção lateral da parede abdominal os vasos têm trajeto oblíquo, no sen-
tido súpero-inferior, a partir da borda inferior 10ª, 11ª e 12ª costelas até a linha
média. Como a inervação nesta região é composta pelos nervos intercostais e o
subcostal, existem áreas com inervação por mais de um ramo, assim a lesão de
pequenos ramos não acarreta em geral inconvenientes (sobreposição da inerva-
ção).
Apesar dos procedimentos laparoscópicos serem utilizados há muito tempo,
em particular para diagnóstico, pode-se afirmar que a sua utilização, no campo
do tratamento, recebeu um impulso acentuado com a popularização da colecis-
tectomia videolaparoscópica. Nesta abordagem utiliza-se a região periumbilical
e mais três sítios na parede para realização das pequenas incisões que possibili-
tam a introdução do instrumental. Estes sítios são geralmente a linha mediana
entre o apêndice xifóide e a cicatriz umbilical, na região do hipocôndrio direito,
e uma terceira na região do flanco direito. Podem ser necessários outros sítios
complementares, até no flanco esquerdo ou entre a região umbilical e a segunda
incisão na vigência de dificuldades como na colecistite aguda ou conforme varia-
ções anatômicas dos pacientes.
Como são inúmeras as possibilidades de acesso laparoscópico às cavidades
abdominal e pélvica, que vão variar dependendo do órgão-alvo, da anatomia do
paciente (ângulo infra-esternal maior ou menor) e da preferência do cirurgião, as
regras gerais para se evitar lesões poderiam ser:
29
— a linha mediana é segura para acesso, porém abaixo do umbigo a aponeu-
rose é mais delicada, portanto a introdução dos trocartes afiados deve
ser mais delicada;
— sobre o músculo reto do abdome, acima do umbigo, a artéria epigástrica
superior localiza-se mais medialmente, enquanto abaixo dele a artéria
epigástrica inferior tem trajeto lateralizado;
— a linha semilunar (borda lateral do músculo reto do abdome) deve ser
evitada pois por esta região chega a inervação do reto abdominal;
— a projeção da linha hemiclavicular no abdome constitui um sítio seguro
às pequenas incisões laparoscópicas;
— o bom senso deve nortear a escolha e pesar os riscos dos acessos alterna-
tivos.
BIBLIOGRAFIA
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8. Meinero M, Melotti G, Mouret PH. Cirurgia laparoscópica. Buenos Aires, Editorial Médica
Panamericana, 1996.
30
4
INTRODUÇÃO
A parede torácica é revestida por grandes grupos musculares que têm função
principalmente relacionada aos movimentos do ombro e do tronco. Quando seccio-
nados, sua porção distal tem a inervação comprometida, perdendo força contrátil e
sofrendo considerável atrofia. A contração da parte proximal se apóia na cicatriz
resultante21. Assim, devemos reduzir ao máximo as secções musculares e quando
da necessidade de ampliarmos a incisão a mesma deverá ser baseada na divulsão
das fibras e nos descolamentos musculares.
Depois do diafragma, os músculos intercostais são os que têm maior função
na dinâmica da ventilação pulmonar. Quando incisados são inutilizados, porém,
os supra- e infra-adjacentes suprem sua função.
As incisões que solicitam grande secção muscular provocam muita dor no
pós-operatório. Isto deve ser levado em conta quando da escolha da incisão a ser
realizada visando à recuperação mais rápida do paciente, com menos dor.
A anatomia da parede e principalmente da cavidade e órgãos intratorácicos
deve ser muito bem conhecida pelo cirurgião para que a incisão escolhida e o
procedimento proposto sejam realizados com segurança.
Na atualidade, há tendência à realização de cirurgias minimamente invasi-
vas, principalmente com a videotoracoscopia8,15,17,24, poupando agressões à pa-
rede e as complicações que acarretam no pós-operatório recente e tardio. Neste
capítulo, daremos ênfase às principais incisões torácicas.
TORACOTOMIA PÓSTERO-LATERAL
31
A desvantagem é a eventual dificuldade às trocas gasosas devido à posição
dependente do lado não operado.
O paciente é posicionado em decúbito lateral. Os membros inferiores ficam
separados por coxim, sendo o de baixo mantido em flexão e o de cima em exten-
são. O membro superior do lado não operado é mantido em extensão e em abdu-
ção a 90°C em relação ao tronco, ficando apoiado em suporte adequado. O do
lado operado pode ser colocado em frente ao rosto, ficando pendente para fora
da mesa operatória e com isso alargando os espaços intercostais e deslocando a
escápula ântero-superiormente, ou pode ser colocado adiante, fletido à altura da
cabeça. Sob coxim dorsal, próximo à axila, para evitar lesão do plexo braquial, a
posição é mantida com a fixação do paciente à mesa com largas faixas de fitas
adesivas ao nível do quadril (Fig. 4.1).
Antes de se iniciar a incisão cutânea, vários parâmetros anatômicos devem
ser identificados: mamilo, espaços intercostais, escápula e coluna vertebral. Rea-
liza-se uma incisão curvilínea estendendo-se da linha axilar anterior até um pon-
to médio entre a coluna vertebral (ao nível da quarta vértebra torácica) e a borda
posterior da escápula, acompanhando o quinto espaço intercostal. Por haver níti-
do deslizamento dos planos superiores para frente (quatro a oito centímetros),
deve-se realizar marcas perpendiculares à futura incisão com bisturi para poste-
rior fechamento correto dos planos (Fig. 4.2). A pele e o tecido celular subcutâ-
neo são incisados expondo-se o grande dorsal e parcialmente o serrátil anterior e
o trapézio. O grande dorsal é seccionado com eletrocautério, sendo realizadas
eventuais ligaduras para perfeita hemostasia. O serrátil anterior pode ser desin-
serido ou mesmo seccionado próximo às suas inserções costais, sendo elevado
anteriormente. O trapézio pode ser facilmente rebatido posteriormente, ou ser
parcialmente seccionado se houver necessidade, proporcionando boa exposição
do gradil costal e dos espaços intercostais (Fig. 4.3). Escolhido o espaço inter-
costal a ser aberto, realiza-se a incisão dos músculos intercostais e a pleura parie-
tal com eletrocautério na borda superior da costela evitando-se lesão do feixe
32
Fig. 4.2 — Marcas perpendiculares à futura incisão para se evitar defasagem dos bordos no fecha-
mento.
Fig. 4.3 — Exposição do gradil costal após secção muscular: 1- grande dorsal 2 — serrátil anterior
3 — trapézio 4 — sacroespinhal.
33
forma contínua. Habitualmente não suturamos os intercostais e a pleura por não
julgarmos necessário. Esta pode ser realizada quando da exérese de um arco cos-
tal com fio absorvível de vicyrl 1.0. O serrátil anterior é reinserido ou suturado se
inicialmente seccionado. O grande dorsal é suturado de acordo com as marcas
iniciais na pele evitando-se defasagem dos bordos da incisão. O tecido celular
subcutâneo e a pele são cuidadosamente aproximados com fio de náilon 4.0 em
pontos simples.
Caso haja necessidade, esta incisão pode ser prolongada posteriormente, as-
cendendo-se no espaço interescápulo-vertebral, seccionando-se parcialmente os
músculos rombóide e trapézio.
TORACOTOMIA POSTERIOR
Esta incisão foi amplamente utilizada no passado quando não havia sonda
de duplo lúmen6 e para as toracoplastias no tratamento de cavidades residuais de
tuberculose1,1,22.
As vantagens são a melhor ventilação pulmonar, drenagem brônquica sem
risco de aspiração contralateral, dissecção mais segura do hilo pulmonar entre
outras. As desvantagens são a posição inconveniente do doente e a exposição
inadequada do tórax anterior e do mediastino.
O paciente é posicionado em decúbito ventral (Fig. 4.4) ou mesmo em decú-
bito lateral. A incisão cutânea se estende da linha axilar posterior, ascendendo
no espaço interescápulo-vertebral até a borda superior da escápula. O grande
dorsal é seccionado com eletrocautério expondo parcialmente o serrátil anterior
34
e o trapézio. Após a secção do trapézio ficam expostos o rombóide maior e o ser-
rátil anterior que são também seccionados. O sacroespinhal pode ser rebatido
posteriormente completando ampla exposição do gradil costal. Esta incisão é a
que maior exige secções musculares, porém permite ressecção de extensos seg-
mentos dos arcos costais posteriores, desde a primeira até a oitava costela. O es-
paço intercostal escolhido é aberto por secção dos intercostais e pleura com ele-
trocautério na borda superior da costela.
Para o fechamento, os arcos costais são aproximados com categute cromado
2 em pontos simples, os músculos são suturados individualmente com fio de
vicryl 1 em sutura contínua. O tecido celular subcutâneo e a pele são corretamen-
te aproximados com fio de náilon 4.0.
TORACOTOMIA ANTERIOR
Esta incisão pode ser utilizada para as lobectomias superiores e em cirurgia
cardíaca, principalmente quando em mulheres por ser mais estética. Quando am-
pliada, a lobectomia média e a esofagectomia total são passíveis de serem reali-
zadas. Permite boa visualização e dissecção do hilo pulmonar, da veia cava su-
perior e do tronco simpático paravertebral. As vantagens são a facilidade e rapi-
dez na sua execução, sendo a incisão de escolha nas urgências traumáticas11, pe-
quena perda de sangue e facilidade para o seu fechamento. A desvantagem é de
não permitir boa visualização do lobo inferior e permitir escape aéreo ocasio-
nando enfisema do tecido celular subcutâneo por dificuldade ao fechamento dos
arcos costais próximo ao esterno. A toracotomia anterior é a que acarreta meno-
res distúrbios funcionais à parede torácica por requerer menor secção muscular.
O paciente é posicionado em decúbito dorsal horizontal sendo o lado a ser
operado mantido elevado 30 a 45°C à mesa operatória por coxim. O membro su-
perior é fletido ao nível do cotovelo e elevado e mantido em suporte adequado.
A incisão é curvilínea, submamária, estendendo-se da borda esternal à linha
axilar média acompanhando o quinto espaço intercostal (Fig. 4.5). O peitoral mai-
or é seccionado com eletrocautério. A seguir, o peitoral menor é também seccio-
nado expondo o serrátil anterior o qual, se necessário é desinserido e rebatido su-
periormente (Fig. 4.6). Para melhor exposição, o grande dorsal pode ser descolado
e rebatido posteriormente. Os intercostais e a pleura são seccionados na borda su-
perior da costela. Deve-se ter cuidado com os vasos mamários que se localizam 1 a
2 centímetros da borda esternal atrás das cartilagens costais, os quais podem ser li-
gados e seccionados sem dificuldades. Para facilitar a abertura e melhorar a expo-
sição da cavidade pode-se realizar a ressecção subpericondral de fragmentos de
cartilagem costais ou mesmo promover a desarticulação condroesternal.
Para o fechamento, os arcos costais são aproximados com pontos simples de
categute cromado 2. A sutura dos intercostais e da pleura é opcional. Não consi-
deramos necessária a fixação condroesternal. O restante da musculatura é sutu-
rada com fio absorvível de vicryl 1 de forma contínua.
35
Fig. 4.5 — Toracotomia anterior.
Fig. 4.6 — Exposição dos arcos costais após secção muscular: 1 — peitoral maior 2 — peitoral
menor 3 — serrátil anterior 4 — grande dorsal.
36
TORACOTOMIA ANTEROLATERAL
Por esta incisão pode ser realizada lobectomia inferior, pericardiectomias,
pericardiotomias, ressecções de tumores mediastinais. Permite bom acesso ao
esôfago e à aorta descendente.
O paciente é mantido em decúbito lateral ligeiramente dorsalizado. A inci-
são se estende do bordo esternal até a linha axilar posterior acompanhando o
sexto espaço intercostal. Os músculos peitorais maior e menor são seccionados.
O serrátil anterior pode ser seccionado ou desinserido. Se necessário ampliar a
incisão, o grande dorsal pode ser descolado e rebatido posteriormente e os inter-
costais podem ser seccionados até a borda dos músculos paravertebrais. As car-
tilagens costais podem ser seccionadas ou desarticuladas do esterno para facili-
tar a abertura. Os mesmos cuidados devem ser tomados com os vasos mamários.
Para o fechamento, os arcos costais são aproximados e os músculos são sutura-
dos conforme citações anteriores.
37
A
B
Fig. 4.7A e B — Toracotomia lateral: A — incisão vertical e B — incisão acompanhando o bordo
anterior do grande dorsal.
38
Fig. 4.8 — Toracotomia lateral: 1 — exposição do nervo torácico longo 2 — serrátil anterior 3 —
grande dorsal rebatido posteriormente.
Fig. 4.9 — Divulsão das fibras do serrátil anterior e exposição do arco costal que poderá ser resse-
cado.
39
O paciente é mantido em posição supina com os membros superiores abdu-
zidos ao longo do corpo. A incisão é curvilínea, submamária, no quarto espaço
intercostal bilateral, estendendo-se da linha axilar média de um lado ao outro
(Fig. 4.10). Os peitorais maior e menor são seccionados, o serrátil anterior é de-
sinserido bilateralmente e rebatido superiormente. Os intercostais e a pleura são
abertos, os vasos mamários ligados e seccionados em ambos os espaços inter-
costais. Por um túnel retroesternal, rente a sua face posterior, passa-se uma serra
de Gigli e o esterno é seccionado com cuidado. A hemostasia pode ser feita com
eletrocautério ou cera de osso. A utilização desta, não é de nossa preferência por
se tratar de um corpo estranho, podendo interferir na cicatrização do esterno.
Para o fechamento, os arcos costais são aproximados. O esterno é suturado
com dois pontos simples de fio de aço 4. Os fios são apertados de forma firme e
cuidadosa para se evitar instabilidade esternal. Os músculos são reinseridos e su-
turados quando seccionados com fios absorvíveis.
ESTERNOTOMIA MEDIANA
De execução simples e segura, sem grandes perdas sangüíneas, permite boa
exposição do coração, vasos da base e mediastino. Fornece amplo acesso às ca-
vidades pleurais, porém há dificuldade em expor os segmentos pulmonares pos-
teriores. Utilizada para cirurgias cardíacas, ressecções de metástases pulmona-
res bilaterais, timectomias, ressecções de estenoses traqueais em concomitância
com cervicotomia. Nós indicamos no trauma11, quando da realização de uma ja-
40
nela pericárdica que se mostrou positiva e o paciente apresenta-se em plena esta-
bilidade hemodinâmica.
O paciente é mantido em posição supina com os braços em abdução. A inci-
são é realizada na linha média esternal estendendo-se da fúrcula até 2 a 3 cm do
apêndice xifóide (Fig. 4.11). Todos os planos são abertos até o periósteo com
eletrocautério e também a linha alba expondo a gordura pré-peritoneal. Reali-
za-se a dissecção e liberação da região da fúrcula esternal, havendo eventual-
mente a necessidade de se ligar o arco jugular, resultante da junção da veias ju-
gulares anteriores. O mesmo é feito na região do apêndice xifóide. O descola-
mento do plano posterior pode ser feito digitalmente ou por dissecção romba
com gaze na extremidade de uma pinça longa. O esterno é seccionado manual-
mente com uma serra de Gigli ou com serra circular oscilatória. A hemostasia do
mesmo é feita com eletrocautério e/ou com cera de osso. A fenda esternal deve
ser vagarosamente aberta com afastador mecânico evitando-se lesões pleurais.
Se ocorrerem, podem ser simplesmente suturadas após hiperinsuflação, não sen-
do necessário a drenagem pleural. O esterno é suturado com pontos simples, em
média de 8, em X ou em U, com fio de aço 4, os quais são apertados firmemente
evitando-se instabilidade esternal, osteomielite e/ou mediastinite. Os planos são
aproximados na linha média com fio absorvível de vicryl 1 em sutura contínua.
Cuidado especial é tomado na sutura da linha alba evitando-se futuras hérnias
epigástricas.
INCISÃO TORACOABDOMINAL
As cavidades pleural e abdominal são convertidas em uma única, com esta
incisão permitindo excelente exposição de estruturas intratorácicas baixas e ab-
41
dominais altas. Pode ser utilizada quando à direita para as reconstruções do trato
biliar, hepatectomia direita, exérese de tumores renais e da adrenal, derivações
portocava. Quando à esquerda, possibilita a ressecção do esôfago distal, gastrec-
tomia total, esplenectomia nas grandes esplenomegalias, derivações esplenorre-
nais.
O paciente pode ser posicionado em decúbito lateral completo ou não, de-
pendendo do procedimento a ser realizado. A incisão pode ser realizada do quin-
to ao oitavo espaço intercostal, cruzando o rebordo costal sobre a parede abdo-
minal até a linha média (Fig. 4.12). Os músculos da parede anterolateral do tórax
e anterior do abdome (grande dorsal, serrátil anterior, oblíquo externo, oblíquo
interno, transverso do abdome e retoabdominal) assim como as suas aponeuro-
ses são seccionadas, sendo então identificado o espaço intercostal e o peritônio a
serem abertos. O local da secção do diafragma depende da cirurgia proposta, po-
rém, quanto mais lateral, menor número de fibras do nervo frênico são lesadas e,
conseqüentemente, menor porção diafragmática será paralisada.
O fechamento da incisão se inicia com a sutura diafragmática com fio de
seda 2 ou vicryl 1 com pontos simples ou em U. O peritônio é suturado de forma
42
contínua ancorada, os arcos costais aproximados, os músculos suturados com
fios absorvíveis.
Não utilizamos de rotina esta incisão em nosso serviço. Preferimos, quando
necessário, realizar incisões separadas, isto é, uma no tórax e outra no abdome,
mantendo o arcabouço ósseo íntegro.
Agradecimentos:
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44
5 Cirurgia Minimamente
Invasiva
INTRODUÇÃO
45
as vantagens, segurança e limitações da referida via de acesso. Essa variante
técnica de via de acesso não teve difusão no meio médico; e com o advento da
videocirurgia, que se constituiu na grande novidade da cirurgia dos anos 90, a
minilaparotomia foi relegada para plano secundário.
No início de século, Kelling (1901) recorreu a um cistoscópio para realizar
experimentalmente em cão a inspeção da cavidade abdominal. Jacobeaus em
1910, empregou o mesmo tipo de aparelho para estudar em seres humanos a ca-
vidade pleural. A partir da quarta década deste século foi introduzido na prática
médica a realização do pneumoperitônio, que criou espaço real e permitiu avan-
ço nos diagnósticos de afecções intra-abdominais. Nos anos 60, o melhor con-
trole da confecção e manutenção do pneumoperitônio, associado a competentes
fontes de luz fria e surgimento da fibra óptica possibilitou significativos avanços
na laparoscopia (Stellato, 1992).
Na Alemanha, Semm desenvolveu instrumentos que permitiram manipular,
diagnosticar e realizar cirurgias ginecológicas. Semm, em 1982, realizou a pri-
meira apendicectomia por via laparoscópica.
A laparoscopia depois evoluiu para a realização de diagnósticos e estadia-
mento de afecções intra-abdominais, destacando-se entre nós o trabalho sobre
câncer gástrico de Possik (1990).
Coube a Mouret apresentar em Lyon, na França, em 1987, a execução da pri-
meira colecistectomia laparoscópica. No ano seguinte Dubois e colaboradores,
incentivados pelo pioneirismo de Mouret, apresentaram inicialmente série de 36
colecistectomias laparoscópicas, publicada em 1990. Este estudo consagrou a
maior novidade cirúrgica da última década do século: a videocirurgia (Dubois et
al., 1990).
Dentro ainda da idéia de cirurgia minimamente invasiva devemos lembrar
das cirurgias endoscópicas representadas pelas polipectomias, ligaduras elásti-
cas e esclerose de varizes, papilotomias endoscópicas, retirada de cálculos da
via biliar principal, colocação de drenos nasobiliares e, mais recentemente, a
técnica da mucosectomia para lesões gástricas iniciais. Cabe ainda lembrar os
procedimentos intraluminais como as angioplastias e colocação de próteses au-
to-expansivas (stent). Precisamos lembrar também dos procedimentos urológi-
cos, bem como ortopédicos.
Finalmente temos que ter em mente que as cirurgias minimamente invasivas
são procedimentos alternativos somente quanto à via de acesso, e portanto preci-
sam atender a todos os requisitos do tratamento da doença passível de cirurgia.
Jamais podemos recorrer a condutas incompletas ou ultrapassadas apenas por-
que as mesmas se adaptam melhor a uma via de acesso de menor dimensão.
EQUIPAMENTOS
Para a adoção de cirurgia minimamente invasiva são necessários equipa-
mentos e instrumentos específicos.
46
A correta visualização do campo operatório é requisito primordial para a
execução segura dos diferentes tempos cirúrgicos. Assim a iluminação é fator li-
mitante para a possível escolha da via de acesso de pequenas dimensões.
Para a realização de minilaparotomias ou de toracotomias mínimas necessi-
tamos inicialmente de fonte de luz fria, cabos maleáveis de fibras ópticas e afas-
tadores especiais que sejam dotados de iluminação fornecida pelos dois equipa-
mentos anteriormente enunciados. Precisamos de diferentes tipos de afastadores
dotados de luz fria, para executarem tarefas distintas; assim para a colecistecto-
mia por minilaparotomia são necessários três afastadores, ou seja: um para atuar
na superfície, outro maior para afastar o fígado e iluminar o pedículo da vesícula
biliar e, finalmente um afastador estreito e longo, para eventualmente afastar na
profundidade o duodeno e o colo transverso.
Estes afastadores especiais, ao lado da fonte de luz fria e cabos de fibra ópti-
ca, são de fácil obtenção, de baixo custo e de grande versatilidade (Margarido,
1998). É evidente que são necessários os demais instrumentos cirúrgicos para as
intervenções convencionais.
Quanto à laparoscopia os avanços tecnológicos da óptica e de transmissão
da luz aumentaram a segurança e precisão do método. O aperfeiçoamento da cria-
ção e manutenção do pneumoperitônio, e principalmente a introdução das ima-
gens por vídeo, possibilitaram aos cirurgiões a realização de operações mais so-
fisticadas, e adaptação e confecção de novos instrumentos. A videocirurgia per-
mitiu que toda a equipe cirúrgica participasse dos procedimentos no mesmo ins-
tante e com a mesma visão. A laparoscopia intervencionista se popularizou e a
videocirurgia passou a ser a maior novidade cirúrgica da última década do sécu-
lo XX.
Os equipamentos para a videocirurgia são mais sofisticados e caros quando
comparados com os empregados nas minilaparotomias. Assim para a videoci-
rurgia necessitamos de insuflador de CO2, minicâmera de vídeo, fonte de luz,
amplificador de imagens, trocarteres, redutores, pinças, tesouras, clipadores,
grampeadores e outros instrumentos específicos.
Para os procedimentos endoscópicos, cada especialidade tem suas peculiari-
dades e especificidades, que não cabem discutir dentro deste tema. É evidente
que o mesmo vale para os procedimentos intraluminais.
PROCEDIMENTOS TÉCNICOS
47
A partir destas premissas iremos apresentar elenco de procedimentos técni-
cos passíveis de serem realizados por vias de pequenas dimensões.
Apenas por facilidade didática separaremos os procedimentos em abdomi-
nais e torácicos. Não nos preocuparemos com as cirurgias mais ou menos indica-
das, e por conseguinte as mais freqüentemente realizadas.
No abdome podemos realizar por meio de acessos de pequenas dimensões, o
tratamento das seguintes afecções:
— colelitíase e litíase da via biliar principal;
— hérnia hiatal, doença do refluxo gastroesofagiano;
— apendicite cecal; diverticulite de Meckel;
— úlcera duodenal: vagotomia troncular, vagotomia superseletiva;
— colecistojejunostomia;
— obstrução de intestino delgado;
— diverticulite de cólon;
— fechamento de colostomia; fechamento de cirurgia a Hartmann;
— tumores de supra-renal;
— esplenectomia;
— linfadenectomia pélvica;
— gastrectomia;
— estadiamento de câncer;
— cistos hepáticos periféricos;
— câncer de cólon;
— pancreatoduodenectomia;
— lesões de retroperitônio;
— laparotomia exploradora: abdome agudo;
— ooforectomia; ooforoplastia;
— anexectomia;
— histerectomia.
Ainda dentro do segmento abdominal, ao nível da parede, temos as hérnias
inguinais por técnicas pré- e transperitoneal.
Quanto ao segmento torácico citaremos:
— trauma de tórax: hemotórax, pneumotórax e hemopneumotórax;
— retirada de corpo estranho intrapleural;
— ferimento transfixante de mediastino;
— ferimento na transição toracoabdominal;
— biópsias pleurais e mediastinas;
— estadiamento do câncer pulmonar;
— estadiamento e tratamento do empiema pleural;
— ressecção de nódulos pleurais;
— tumores do esôfago torácico;
— simpatectomia dorsal;
— pericardioscopia e pericardiectomia;
48
— resseção de cistos mediastinais;
— bulectomias e pleurodese.
Voltamos a insistir que o que pode ser feito, nem sempre é o que deve ser fei-
to; temos que obedecer aos princípios oncológicos, à idéia de radicalidade, às
ressecções em monobloco, aos cuidados com a contaminação da cavidade, à pre-
cisa confecção das anastomoses, à segurança das ligaduras, em fim respeitar a
todos os princípios de técnica cirúrgica.
É evidente que para cada procedimento cirúrgico acima enunciado podere-
mos apresentar considerações peculiares quanto à anestesia, posição do paciente
na mesa, tempos e táticas cirúrgicas, realização de exames contrastados in-
tra-operatórios, emprego de grampeadores, tipos de fio, uso de drenos etc.
Devido à enorme variabilidade de aspectos para cada intervenção, e inclusi-
ve existindo critérios meramente pessoais, não cabe o desenvolvimento dos
mesmos dentro do tema genérico de cirurgia minimamente invasiva.
CIRURGIA VIDEOASSISTIDA
ANÁLISE CRÍTICA
49
1. As miniincisões não permitem a exploração sistematizada das cavidades,
principalmente a peritoneal. O correto estudo pré-operatório, com auxílio de
métodos por imagens, endoscópicos e laboratoriais pode compensar em parte
esta deficiência (Margarido, 1997). Essa desvantagem não pode ser imputada
para a videocirurgia, uma vez o cirurgião tem recursos para inspecionar quase
todos os diferentes quadrantes abdominais (Cohen et al., 1997).
2. A cirurgia minimamente invasiva é de resolução técnica mais difícil e
desconfortável que a cirurgia pela via convencional.
3. As vias de acesso de reduzidas dimensões exigem maior habilitação, ex-
periência e tranqüilidade por parte do cirurgião e sua equipe. A adoção dessa téc-
nica por cirurgião neófito, e principalmente sem equipamentos e instrumentos
específicos e adequados é um convite para graves acidentes (Nogueira et al.,
1992; Torres et al., 1994).
4. A cirurgia minimamente invasiva, principalmente as miniincisões não es-
tão indicadas para as situações de emergências. Vias de acesso limitadas podem
determinar avaliações incompletas e conduzir a adoção de condutas equivoca-
das com graves e funestas conseqüências. Na atualidade, em casos selecionados,
começam a ser normatizadas condutas de videocirurgia no trauma penetrante
abdominal (Kawahara, 1998).
5. Em pacientes obesos as miniincisões são formalmente contra-indicadas;
pelas inerentes dificuldades de visualização do campo operatório. Esta desvan-
tagem não pode ser estendida a videocirurgia tanto é verdade, que no passado a
obesidade se constituía em contra-indicação para o tratamento cirúrgico da do-
ença do refluxo gastroesofágico; enquanto que a indicação cirúrgica pela técnica
videolaparoscópica não sofre restrições por essa condição clínica (Cohen et al.
1997).
6. Pelas dificuldades técnicas inerentes a via de acesso de menores dimen-
sões, os procedimentos operatórios podem ser mais demorados, e esse aumento
de tempo cirúrgico e anestésico pode vir a se constituir numa desvantagem e
possível contra indicação de operação por miniincisões.
Como aspectos positivos, ou seja, vantagens da cirurgia minimamente inva-
siva, podemos destacar o seguintes aspectos:
1. Acarreta menor traumatismo cirúrgico do que ocorre com a via de acesso
convencional.
2. Em geral, determina menores fenômenos dolorosos e desconforto no
pós-operatório imediato. Teoricamente requer menor carga de analgésicos (Gar-
cia González et al., 1995; Moreira Filho et al., 1997).
3. Em determinados procedimentos cirúrgicos, as miniincisões, pela menor
manipulação da cavidade abdominal, permitem realimentação precoce após oito
a 10 horas, semelhante à conduta para o pós-operatório da maioria das videoci-
rurgias.
50
4. Menor comprometimento respiratório no período pós-operatório do que
na cirurgia convencional. Por outro lado, as incisões de dimensões restritas não
acarretam os inconvenientes da elevação das cúpulas diafragmáticas, como é
inevitável nos procedimentos videolaparoscópicos. Entre nós, Coelho et al.
(1993), em estudo comparativo do comprometimento da função respiratória, no
período pós-operatório de colecistectomias realizadas por três diferentes vias de
acesso (videolaparoscopia, minilaparotomia e incisão convencional subcostal
direita) concluíram pela superioridade da videocirurgia em relação aos outros
dois tipos de incisões.
5. A cirurgia minimamente invasiva possibilita melhores resultados estéti-
cos do que a cirurgia convencional (Casanova et al., 1993).
6. No que concerne à deambulação precoce pós-operatória, tempo de perma-
nência hospitalar e retorno às atividades sociais e profissionais, as intervenções
cirúrgicas com vias de acesso de dimensões reduzidas têm teoricamente índices
mais favoráveis do que quando realizadas por incisões convencionais. Estes fa-
tos são verdadeiros para pacientes menos privilegiados e cuja atividade profissio-
nal depende da atividade braçal; por outro lado, para o profissional intelectual,
de melhor poder aquisitivo, cujo trabalho pode ser desempenhado sentado e em
sua própria residência, sem necessidade de locomoções ou carregar equipamen-
tos ou malas pesadas e volumosas, essas vantagens diminuem ou podem até
mesmo desaparecer.
7. Finalmente quanto aos custos hospitalares, as cirurgias realizadas com
miniincisões, em face do baixo valor dos equipamentos necessários podem, no
cômputo geral, ser menos dispendiosas quando comparadas com as interven-
ções convencionais. Por outro lado, as videocirurgias, atualmente no Brasil, são
seguramente mais onerosas que a operações clássicas, contrariando os maiores
artifícios matemáticos e exercícios imaginativos desenvolvidos pelos ferrenhos
defensores da videocirurgia.
Após esta discussão a cirurgia minimamente invasiva se constitui em impor-
tante alternativa de via de acesso. Deve ser indicada e praticada por cirurgião ex-
periente e motivado.
Não podemos esquecer que temos que atender a todos os requisitos do trata-
mento da doença passível de cirurgia; que o nosso compromisso é com o pacien-
te e jamais com os métodos; e o que pode ser feito através de uma técnica mini-
mamente invasiva, nem sempre é o que deve ser feito.
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52
Drenagem Abdominal nas
6 Peritonites
INTRODUÇÃO
53
aumento da permeabilidade vascular. Havendo estímulo inflamatório aconte-
cem reações imediatas com liberação de histamina e prostaglandina, ocorrendo
vasodilatação e aumento da permeabilidade vascular seguida por exsudação de
grande quantidade de líquido rico em complemento, imunoglobulinas, fatores
de coagulação e fibrina.
Três mecanismos tentam limpar a cavidade peritoneal das bactérias: os lin-
fáticos diafragmáticos, os macrófagos peritoneais e o afluxo de neutrófilos. Com
a passagem das bactérias para a corrente sangüínea surgem os sinais clínicos, he-
modinâmicos e respiratórios da sepse.
Após controlar a fonte de contaminação peritoneal, a preocupação seguinte
é reduzir o líquido purulento, geralmente espesso, que pode se acumular entre as
alças formando verdadeiras lojas, assim como nos espaços subfrênicos, no fun-
do-de-saco de Douglas e nas goteiras parietocólicas. A lavagem abdominal deve
ser realizada com abundante quantidade de soro fisiológico (no mínimo quatro a
cinco litros), até se obter a limpeza completa da cavidade, chegando ao que
Hudspeth denomina desbridamento peritoneal radical. Durante algum tempo foi
proposto o uso de antibióticos no líquido de lavagem peritoneal, providência
abandonada após estudos randomizados não mostrarem vantagem de tal prática.
A terceira fase do tratamento das peritonites é tentar prevenir a recorrência da in-
fecção peritoneal através da drenagem cavitária com a utilização dos mais varia-
dos tipos de drenos, até as relaparotomias programadas ou de lavagem peritone-
al contínua que voltou a ser empregada nas pancreatites agudas graves como
proposto por Berger.
Vale ainda ressaltar que existem métodos especiais no tratamento das peri-
tonites como as lavagens (ou diálises) peritoneais contínuas, já citadas, as rela-
parotomias programadas ou “de necessidade”, e as laparotomias (peritoneosto-
mias) também programadas e “de necessidade”. As relaparotomias programadas
ou as “de necessidade” são realizadas após 48 ou 72 horas da operação inicial,
em situações nas quais a contaminação da cavidade abdominal não foi debelada
na primeira operação, para tentar impedir o ressurgimento da infecção peritone-
al ou quando há dúvidas na viabilidade de alguma víscera com por exemplo na
isquemia mesentérica, com o fim de remover o conteúdo tóxico abdominal antes
de aparecerem os sinais clínicos de sepse. São também conhecidas como second
look operations. As laparotomias ou peritoneostomias são utilizadas quando há
dificuldade de fechamento da parede abdominal por desproporção entre o conti-
nente e o conteúdo, e na peritonite difusa com manifestações sistêmicas de fa-
lência de um ou mais sistemas orgânicos. Após um período de emprego liberal,
na década de 80, as laparotomias tornaram-se um método de utilização restrita
no tratamento das peritonites. Podem ser realizadas com compressas, náilon, ou
telas de polipropileno, protegendo as alças intestinais contra o ressecamento,
aproximando-se as bordas da ferida com equipos de soro ou mesmo com sutura
com fio inabsorvível (Figs. 6.1 e 6.2). Na ocasião de revisão, quando se usa tela
54
Fig. 6.1 — Peritoneostomia. Proteção das alças intestinais com compressa e aproximação das
bordas da ferida com “pontos” de equipo de soro.
Fig. 6.2 — Peritoneostomia. Aproximação das bordas da ferida com pontos de náilon.
55
de polipropileno, o acesso à cavidade abdominal pode ser feito através da sua
secção tela com a posterior sutura da própria tela (Fig. 6.3), com uso de zíper
como descrito por Healderich ou o fechamento definitivo da parede. Já quando
se usa compressa com equipo de soro para aproximar as bordas da ferida, o fe-
chamento final pode ser com este material (Figs. 6.4 e 6.5). Deve ser relembrado
que o fechamento da parede abdominal após as laparostomias é seguido quase
sempre de alguma seqüela como evidenciam as Figs. 6.6 e 6.7. Além do mais, o
alto índice de mortalidade, que pode alcançar 50%, tornou-se mais um fator res-
tritivo ao seu emprego (Garcia-Sabrido).
O uso dos drenos abdominais continua a ser assunto de grande discussão e
polêmica entre os cirurgiões, pois os mesmos podem ser causa de erosões visce-
rais ou vasculares causando fístulas digestivas ou sangramento intracavitário,
assim como podem servir como fonte de infecção retrógrada. Na realidade, a
grande vantagem do uso de drenos é para esvaziar cavidades abscedadas bem
definidas permitindo uma drenagem satisfatória, ou para servir de escoamento
na lavagem peritoneal contínua. Recentemente esta técnica foi utilizada por Ber-
ger no tratamento das pancreatites agudas graves que apresentavam complica-
ções como abscessos residuais e fístulas digestivas. Consiste na introdução de
cerca de dois litros de soro por hora na cavidade peritoneal, em locais previa-
mente determinados na tentativa de remover todas as secreções. Exige um traba-
Fig. 6.3 — Peritoneostomia. Contenção visceral com tela de polipropileno que foi seccionada para
revisão e lavagem da cavidade peritoneal e posteriormente suturada.
56
Fig. 6.4 — Fechamento da parede após peritoneostomia com fio de náilon.
57
Fig. 6.6 — Aspectos da parede abdominal após a cicatrização da peritoneostomia fechada com
equipo de soro.
Fig. 6.7 — Aspectos da parede abdominal após a cicatrização da peritoneostomia fechada com
equipo de soro.
58
lho intenso de enfermagem em Unidade de Terapia Intensiva, podendo acarretar
complicações sérias como a hipovolemia.
Os drenos são dispositivos utilizados para escoamento de fluidos (sangue,
pus, secreções diversas e ar) originadas por várias afecções ou por procedimen-
tos cirúrgicos, evitando o seu acúmulo e as complicações decorrentes do mesmo.
Servem ainda para a realização de estudos diagnósticos (injeção de contras-
te-fistulografia) e terapêuticos (lavagem da cavidade e instilação de antibióti-
cos).
Desde os tempos de Hipócrates, o emprego dos drenos era indicado para o
tratamento dos empiemas. A evolução das drenagens cirúrgicas está relacionada
com a criatividade dos cirurgiões e também com o avanço tecnológico dos mate-
riais com os quais são confeccionados os drenos.
Os tubos de borracha foram introduzidos por Chassaignac em 1859. O deno-
minado “dreno em cigarrete” constituído por um tubo fino de borracha com gaze
em seu interior foi idealizado por Kehrer em 1882. Kellog, em 1882, criou o pre-
cursor do dreno de dois tubos, e em 1898 Heaton apresentou a drenagem aspira-
tiva (Yates).
Até hoje, mesmo com o aprimoramento dos materiais, os novos modelos de
drenos e a metodologia científica utilizada, ainda existem controvérsias sobre as
indicações das drenagens, principalmente da cavidade abdominal.
INDICAÇÕES
A drenagem tem por finalidade favorecer a saída de líquidos e/ou secreções
por capilaridade, gravidade ou aspiração. Quanto à função, os drenos podem ser
profiláticos ou preventivos e curativos, únicos ou múltiplos segundo o número
de drenos utilizados.
Apesar da controvérsia existente e do aforisma de Tait (1887): “quando em
dúvida drenar”, existem situações nas quais parece haver um consenso entre os
cirurgiões sobre a necessidade do uso de dreno. São elas:
— coleções purulentas, bloqueadas com a cavidade ou loja bem definida.
— anastomoses ou suturas do tubo digestivo consideradas como de “alto
risco” (tensão na linha de sutura, infecção, ausência de serosa no órgão
— esôfago, reto — e irrigação deficiente);
— grandes descolamentos que propiciem acúmulo de secreção se-
ro-hemática, biliar ou digestiva;
— desbridamentos incompletos nas operações de trauma;
— hemostasia deficiente;
— diminuição de “espaço morto”.
Deve ser enfatizado que se não existe unanimidade quanto ao uso da drena-
gem profilática, a aceitação da drenagem curativa é mais uniforme como vere-
mos a seguir.
59
DRENAGEM PROFILÁTICA
DRENAGEM CURATIVA
TIPOS DE DRENOS
60
líquidos orgânicos, e ter a capacidade reduzida de formar coágulos ou rolhas de
material protéico em seu interior. Com a intenção de evitar estas complicações
estão sendo pesquisados os drenos de PVC impregnados com uroquinase (Sugi-
tachi). Na seqüência serão descritos vários tipos de drenos, como funcionam,
sua utilidade e desvantagens.
Drenos Filiformes
São constituídos por um feixe de fios cirúrgicos inabsorvíveis. Drenam por
capilaridade de seus fios, são usados em áreas muito pequenas e com coleções lí-
quidas, e por isso têm pouca utilidade.
Drenos de Gaze
Estão em desuso nos dias atuais. Eventualmente são empregados como cu-
rativos de feridas cutâneas deixadas abertas para cicatrização por segunda inten-
ção como nas operações de ressecção ou marsupialização de cisto sacrococcí-
geo, ou ainda para tamponamento de hemorragias intra-abdominais
não-controladas por outros métodos, e nas peritoneostomias realizadas nos ca-
sos de pancreatite aguda.
Drenos de Penrose
São constituídos por um tubo de borracha bastante maleável, que com as pa-
redes colabadas forma uma lâmina dupla e atua por capilaridade. Além de serem
os mais comumente usados pelos cirurgiões, é comum o emprego de artifícios
com a colocação de gaze ou de um dreno tubular fino em seu interior com o intuito
de melhorar seu desempenho, formando o chamado dreno combinado. Têm
como desvantagem o estrangulamento parcial no orifício de saída pela musculatu-
ra da parede abdominal o que dificulta sua função. Outra manobra com finalidade
de tornar a drenagem mais eficaz é o uso de vários drenos de Penrose amarrados
entre si, conhecido com dreno de Hager (Parra).
Drenos Tubulares
Seu funcionamento dá-se por gravidade ou pressão. São constituídos de bor-
racha com rigidez mínima para que não haja colabamento das paredes pela com-
pressão dos tecidos. Têm as vantagens de permitir a introdução de substâncias
terapêuticas ou contraste, a instalação de aspiração e não serem deformados pelo
orifício de saída na parede abdominal. Por outro lado apresentam inconveniên-
cias como a erosão dos tecidos vizinhos (necrose por pressão) levando à forma-
61
ção de fístulas digestivas ou à ocorrência de hemorragias e além do mais drenam
uma área muito restrita. Neste grupo também estão incluídos os drenos conheci-
dos como “calhados”, fruto da criatividade dos cirurgiões que às vezes não dis-
põem do dreno ideal, mas que satisfaz plenamente à sua proposta. São construí-
dos por três ou quatro segmentos de um tubo de polietileno (equipo de soro),
abertos longitudinalmente e amarrados entre si em uma das extremidades for-
mando um feixe. Funcionam por capilaridade, são mais maleáveis do que os dre-
nos tubulares, podem drenar uma área maior e não são pinçados pelo orifício
muscular da parede abdominal. Fazem ainda parte deste grupo os diferentes ti-
pos de cateteres como Pezzer, Malecot, Nelaton e Kehr, usados principalmente
para drenagem visceral (bexiga, rins, vias biliares).
Drenos Bitubulares
Também conhecidos como sump drain, derivam de uma combinação de um
dreno tubular com outro de menor calibre que passa pelo seu interior (respiro).
São utilizados quando se necessita de aspiração no local drenado pois o respiro
deixa passar o ar na área de drenagem, impedindo o vácuo e a oclusão dos orifí-
cios do tubo maior pela aspiração. Estes tipos de drenos permitem a lavagem
contínua do foco a ser drenado.
Drenos Ativos
PRINCÍPIOS TÉCNICOS
Na prática da drenagem devem ser seguidos alguns princípios técnicos com
a finalidade de diminuir a morbidez e as complicações. Em primeiro lugar o ori-
fício de saída do dreno deve ficar localizado na porção de maior declive, prefe-
62
rencialmente nos flancos (no caso de drenagem abdominal). Não deve ser exterio-
rizado pela incisão cirúrgica, pois facilita a ocorrência de contaminação da feri-
da operatória e predispõe à deiscência da parede podendo, conseqüentemente,
haver mais tarde a formação de uma hérnia incisional. O trajeto entre a área dre-
nada e a saída do dreno deve ser o mais curto possível evitando tortuosidades e
prejuízo da sua função. O orifício de saída deve ser amplo o suficiente para evi-
tar o estrangulamento do dreno que deve ser fixado à parede com pontos ou alfi-
nete de pressão (segurança). A mobilização dos drenos deve ser realizada o mais
precocemente possível e sua retirada está condicionada às finalidades para as
quais foi utilizado, ou seja, quando diminui ou cede a saída de líquidos, ou quan-
do o risco de complicações foi ultrapassado. Esta retirada deve ser progressiva
exceto nas drenagens urológicas quando sua remoção é feita de uma só vez. Não
podemos esquecer que outros fatores como os curativos cuidadosos no pós-ope-
ratório e a proteção da pele em torno dos orifícios de saída dos drenos são de
grande relevância no sentido do bom funcionamento dos mesmos e da diminui-
ção da morbidez.
COMPLICAÇÕES
63
A permanência do dreno por tempo prolongado dificulta o fechamento das
fístulas digestivas no pós-operatório. Após 10 a 12 dias de drenagem, mesmo com
saída de secreção digestiva, o dreno deve ser removido pois seu trajeto já está for-
mado e orientado para o exterior. Por outro lado, a retirada precoce ou a saída aci-
dental do dreno na presença de uma fístula digestiva pode fazer com que haja o fe-
chamento do trajeto e ocorra a formação de uma coleção intracavitária.
Finalmente, nunca é demais enfatizar que a colocação e a escolha de um dre-
no devem ser resultantes de um julgamento criterioso e experiente, com conhe-
cimento dos princípios básicos das drenagens.
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64
7 Drenagem Torácica
INTRODUÇÃO
SISTEMA DE DRENAGEM
65
Estes princípios são observados no funcionamento dos sistemas de drena-
gem torácica, que se constituem, basicamente, em quatro partes: o dreno, propri-
amente dito, um conector, uma extensão intermediária e um frasco coletor28.
Os drenos atualmente utilizados são tubulares, multiperfurados e siliconiza-
dos, mas semi-rígidos, com múltiplos orifícios em uma das extremidades. Seu
calibre varia de 6 a 26 French (2 a 6 mm no diâmetro interno) para uso pediátrico
e de 20 a 40 French (5 a 11 mm) para adultos.
O conector é uma peça tubular que une o dreno à extensão. Deve ser prefe-
rencialmente de material transparente e com o mesmo diâmetro interno do res-
tante do sistema. A extensão intermediária é outra peça tubular, em geral de
plástico ou látex, que une o frasco coletor ao resto do sistema e deve igualmente
permitir a visualização do seu conteúdo. A equação de Poiseuille12, mostra que o
fluxo de gases através de um tubo é proporcional ao raio do tubo e inversamente
proporcional ao seu comprimento. Assim é recomendável que a extensão seja a
mais curta possível e que apresente um diâmetro também compatível com o res-
to do sistema.
Equação de Poiseuille
V = P π r4/ 8 ι v
(V = velocidade de fluxo; P = pressão de saída do gás; r = raio interno do
tubo; l = comprimento do tubo; v = viscosidade)
O frasco coletor, de plástico ou vidro, é graduado, para permitir o controle
do aspecto e o volume drenado. Comunica-se com o meio externo através dos
respiros, que permitem a saída de ar do interior do frasco e com o restante do sis-
tema através do tubo longo, do qual uma extremidade conecta-se à extensão e a
outra projeta-se no interior do frasco, mergulhando 2cm dentro de uma coluna lí-
quida, o selo d’água, que funciona como válvula, impedindo o refluxo do conteú-
do do frasco ao interior da cavidade.
Para que isso aconteça, a pressão intrapleural deve ser aumentada em 2cm
de água, nível facilmente atingível durante a expiração, fala, tosse etc., para fa-
zer com que a coluna de água baixe 2cm na porção submersa do tubo, vencendo
a resistência da coluna líquida e permitindo o escoamento do conteúdo da cavi-
dade. Durante a inspiração, mesmo profunda, a pressão intrapleural é insuficien-
te para aspirar de volta à cavidade o conteúdo do frasco, que deve permanecer
sempre num nível mais baixo do que o do tórax do doente de modo que, dessa
maneira, cria-se uma válvula que permite a saída do conteúdo e impede o retorno
do mesmo à cavidade e o pulmão, desde que sadio, se expande progressivamen-
te3,25,26.
Em algumas situações a expansão pulmonar não é adequada, apesar da pre-
sença do dreno, o que pode se dever a diversos fatores, como o encarceramento
pulmonar, por exemplo. Nestes casos, pode-se lançar mão da aspiração contí-
nua da cavidade pleural, que consiste em, através de um frasco regulador, criar
66
uma pressão “negativa” no interior da cavidade, facilitando a expansão do pul-
mão12,25.
INDICAÇÕES E CONTRA-INDICAÇÕES
Tabela 7.1
Indicações de Drenagem Torácica
1. Trauma torácico
}
• Pnt pequeno (até 1/3 da cavidade)
• Hmt pequeno (até 350 ml) sintomáticos ou progressivos ao RX
• Hpnt pequeno
67
O pneumotórax espontâneo ou o iatrogênico segue as mesmas considera-
ções do traumático quanto às indicações de drenagem. Atenção especial deve ser
dada ao doente que desenvolve barotrauma quando submetido a ventilação me-
cânica com uso de pressão expiratória final positiva (PEEP), devido ao grande
risco destes desenvolverem pneumotórax hipertensivo. Tais doentes devem ser
submetidos a drenagem logo que estabelecido o diagnóstico.
A drenagem torácica é indicada nos derrames pleurais de natureza neoplási-
ca, especialmente se sintomáticos ou recorrentes, quando se faz necessária a pleu-
rodese. O quilotórax também deve ser sempre inicialmente tratado através da
drenagem do tórax, associado a medidas dietéticas.
O empiema pleural tem indicação de tratamento cirúrgico assim que diag-
nosticado e, inicialmente, o tratamento de escolha é a drenagem fechada, especi-
almente nas fases aguda e subaguda, seja a coleção septada ou livre na cavidade
torácica.
Finalmente, após todo procedimento cirúrgico em que há abertura da pleura,
a cavidade torácica deve ser drenada para permitir a adequada reexpansão pul-
monar e o escoamento de pequena quantidade de sangue ou líquido aí coletada.
Não há contra-indicações absolutas à drenagem torácica. As contra-indi-
cações relativas referem-se àquelas condições em que o doente pode ser tratado
através de medidas conservadoras e menos agressivas.
É o caso do pneumotórax pequeno (ocupa no máximo 1/3 da cavidade) e do
hemotórax pequeno (menor que 350ml), desde que assintomáticos e não pro-
gressivos, já que estes podem ser esvaziados por punção1 ou mesmo observados
clinicamente, associados ou não a antibióticos profiláticos26.
Os derrames pleurais inflamatórios (parapneumônicos, tuberculosos, reu-
máticos) podem ser tratados por toracocentese e terapêutica específicas. As co-
leções multisseptadas geralmente requerem toracotomia ou videotoracoscopia,
sendo dificilmente tratadas de modo adequado através de um único dreno inseri-
do na cavidade pleural. O hidrotórax devido à ascite deve ser tratado, na medida
do possível, por punção e medidas específicas, devido à grande expoliação pro-
téica e eletrolítica por perda líquida através do dreno torácico12,24. Finalmente, é
também controversa a indicação de drenagem “profilática” de doentes que apre-
sentam enfisema subcutâneo ou daqueles sabidamente portadores de enfisema
bolhoso, que serão submetidos a ventilação mecânica ou anestesia geral. Nestes
casos, a observação clínica rigorosa durante a ventilação mecânica pode tornar
desnecessária a drenagem.
TÉCNICA CIRÚRGICA
68
linha hemiclavicular e com tubo fino, como uma sonda de Folley26, ou com o
uso de cateteres percutâneos23 30. Uma coleção septada deve ter o local de drena-
gem determinada previamente através de exames radiológicos ou ul-
tra-sonográficos e deve ser usado dreno calibroso. Coleções líquidas ou com ní-
vel hidroaéreo livres na cavidade devem ser drenadas com tubo calibroso e, pre-
ferencialmente, no 5º ou 6º espaços intercostais, na linha axilar média, pois na
expiração profunda, o diafragma pode subir até a altura do 4º espaço intercostal.
Para a introdução do dreno, o doente é colocado na posição sentada, ou, se
seu estado clínico permitir, em decúbito lateral. É realizada, após anestesia, uma
incisão de cerca de 2cm de extensão, paralela aos arcos costais, no nível da borda
superior do arco costal inferior no espaço selecionado para a drenagem. Cria-se
um túnel subcutâneo através de dissecção romba de todos os planos até a pleura
parietal, que é então aberta. É então realizada a exploração digital do interior do
tórax com o objetivo de observar a presença de eventuais aderências pleuroplu-
monares e desfazê-las, se possível.
Com o auxílio de uma pinça tipo Kelly ou Rochester, o dreno é introduzido
no interior da cavidade e direcionado ao ápice e para trás, tomando posição pós-
tero-superior, o que favorece tanto a drenagem de líquido como de ar. O dreno é
conectado ao sistema, sendo que, nesse momento, deve ser observada a oscila-
ção da coluna líquida no interior da extensão do frasco coletor. A ausência de os-
cilação é um indicativo de dreno dobrado ou fora da cavidade pleural! O dreno é
fixado à pele com ponto em “U” (fio inabsorvível), interessando pele e subcutâ-
neo, abraçando o dreno sem transfixá-lo. É dado um nó frouxo e o fio é trançado
ao redor do tubo à moda de “bailarina”. Caso a incisão da pele tenha permaneci-
do parcialmente aberta, a mesma deverá ser adequadamente suturada para impe-
dir a entrada de ar no interior da cavidade. É feito um curativo oclusivo ao redor
do orifício cutâneo e, a seguir, o dreno é fixado à pele através de faixas largas de
fita adesiva, para impedir o seu deslocamento. As conexões do sistema devem
ser também fixadas com fita adesiva para impedir deslocamentos acidentais. Na
Tabela 7.2 há um roteiro prático para realização da denagem e retirada do dreno.
A retirada do dreno deve também obedecer a alguns princípios técnicos.
Após a retirada das fixações e curativos, afrouxa-se o nó previamente dado e so-
licita-se ao doente que expire profundamente, para aumentar a pressão intrapleu-
ral, impedindo a entrada de ar na cavidade durante a retirada do dreno. Após sua
retirada o nó é novamente apertado, fechando o orifício cutâneo e é então reali-
zado curativo oclusivo9.
O dreno poderá ser retirado, basicamente, em duas situações distintas:
— dreno obstruído, que não se consegue desobstruir: o doente é redrenado,
se necessário;
— dreno que cumpriu sua função inicial, na ausência de borbulhamento,
com baixo débito (< 100mL / 24 horas) e com boa expansão pulmonar.
69
Tabela 7.2
Roteiro da Técnica de Drenagem e Retirada do Dreno
Drenagem
70
Um dreno torácico deve permanecer o menor tempo possível no interior da
cavidade, para que seu aproveitamento seja máximo. Deve-se ter sempre em
mente que o dreno é inserido na cavidade para cumprir uma determinada função.
Uma vez executada, ele passa a ser não só desnecessário, mas indesejável.
COMPLICAÇÕES
71
no12,14,19,21,26,28. Todas estas complicações podem ser evitadas pela simples ex-
ploração digital da cavidade antes de se introduzir o dreno4,15,18.
A incisão da pele em local e tamanho adequados previne a entrada de ar na
cavidade e lesões do feixe vásculo-nervoso intercostal, uma vez que o mesmo
localiza-se abaixo e posteriormente à borda inferior das costelas. Em doentes
idosos o cuidado deve ser redobrado, devido à tortuosidade acentuada dos va-
sos5,8,16.
Quanto à fixação do dreno, deve-se evitar tanto a transfixação do dreno pela
agulha de sutura como a permanência de algum orifício do dreno no subcutâneo
ou mesmo no meio externo, pois ambas as situações propiciam a entrada de ar na
cavidade, dificultando a expansão pulmonar e causando insuficiência respirató-
ria em alguns casos.
Outro cuidado importante a ser tomado é com relação ao transporte dos do-
entes do centro cirúrgico à UTI ou à enfermaria. Deve-se procurar não fechar o
dreno, especialmente se este estiver borbulhando, devido ao risco de se desen-
volver pneumotórax hipertensivo, com risco de desvio do mediastino e morte do
doente.
Quanto à retirada do dreno, o erro mais comum é pedir ao doente que inspire
nesse momento, ao invés de expirar, o que gera pressão negativa e permite a en-
trada de ar na cavidade. A não-oclusão da ferida após a retirada do dreno tam-
bém pode favorecer a entrada de ar e persistência de pneumotórax.
72
Todo o aparato de drenagem é, na realidade, um sistema de vasos comuni-
cantes. Assim, o frasco coletor deve permanecer sempre num nível mais baixo
do que o do tórax do doente para que o fluxo no sistema se oriente do doente para
o frasco. Caso contrário, haverá dificuldade de drenagem ou mesmo infecção pleu-
ral por refluxo. Este erro só pode ser evitado através de boa orientação, especial-
mente da equipe de enfermagem.
Outro erro que pode levar a complicações sérias é o uso de aspiração do
sistema sem que seja interposto o frasco regulador, gerando uma pressão cada
vez mais negativa no interior da cavidade, o que pode provocar a aspiração de
segmentos periféricos do pulmão, com conseqüente necrose dos mesmos, com
risco de aparecimento de fístulas aéreas e infecção pleural11,20.
Outras Complicações
73
da aspiração da cavidade sob alta pressão, há rápida expansão pulmonar com
extravasamento de líquido para o interstício e sacos alveolares, levando a edema
pulmonar. Tal complicação pode ser evitada se não se usar aspiração contínua
com elevada pressão de aspiração em doentes com derrames ou pneumotórax de
longa evolução.
As complicações infecciosas decorrentes da drenagem torácica apresentam
uma incidência que varia de 2% a 25%5,10,27. A maior parte dos autores tem de-
monstrado que a infecção relaciona-se principalmente a falha do tratamento (re-
tardo do diagnóstico, evacuação incompleta da cavidade e retenção de coágulos
na cavidade, múltiplas manipulações do dreno e permanência do dreno por pe-
ríodo prolongado) ou à presença de traumatismos associados (lesão diafragmáti-
ca e de vísceras abdominais, contusão pulmonar) e uso de ventilação
mecânica6,10,14,16,21,22. Apesar de existir ainda controvérsia não se tem recomen-
dado o uso de antibioticoterapia profilática na drenagem torácica, desde que sem
traumas associados e que a drenagem seja satisfatória5,10,13,17,22.
A drenagem de tórax, como dissemos no começo, é um procedimento sim-
ples, que não requer nenhum recurso tecnológico na sua execução. Em cerca de
20% dos casos, no entanto, complicações perfeitamente evitáveis e, em geral, re-
lacionadas a descuido em alguns de seus princípios básicos5 geram aumento da
morbidade do procedimento.
Uma vez realizada, o dreno deve permanecer na cavidade pleural o tempo
exato para que execute a função à qual se destina, o que, com adequados cuida-
dos de enfermagem e de manutenção do sistema de drenagem, propicia um me-
nor tempo de internação do doente e redução dos custos hospitalares.
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75
Fechamento da Parede
8 Abdominal
INTRODUÇÃO
77
Tabela 8.1
Análise Multifatorial dos Fatores de Risco da Deiscência da Ferida Cirúrgica
Abdominal (Modificado de Riou et al., 1992)
78
e ser de execução mais rápida que a técnica clássica de fechamento por planos
com pontos separados.
Fig. 8.1 — Distribuição das forças de tensão da rotura da parede e das cicatrizes abdominais sob
tração considerando a sutura do plano peritoneal com fio de categute (Soares, 1991).
79
Plano Aponeurótico — Sutura Contínua e Pontos de Retenção em “U”
80
Pele e Subcutâneo
Nas cirurgias limpas e potencialmente contaminadas o plano celular subcu-
tâneo da ferida só deverá ser suturado em pacientes obesos, com a finalidade de
eliminar os espaços mortos deixados pela incisão. O fio de categute jamais deve-
Fig. 8.2 — Desenho esquemático demonstrando a sutura contínua amarrada no meio da incisão,
com o ponto em “U” não englobando o plano peritoneal.
Fig. 8.3 — Pontos de retenção em “U” aplicados ao longo da incisão, reparados com pinças he-
mostáticas e com sutura contínua do plano aponeurótico.
81
rá ser utilizado no subcutâneo pois causa reação inflamatória deste tecido e faci-
lita o desenvolvimento de infecção.
A limpeza mecânica do plano celular subcutâneo é muito importante na re-
moção de coágulos, tecidos desvitalizados, “glóbulos” de gordura, ou bactérias
que possam estar presentes na ferida. Tecnicamente essa limpeza mecânica é ob-
tida com jatos de soro fisiológico produzidos pela expressão das “pêras de borra-
cha” ou pela compressão dos êmbolos das seringas.
No grupo de cirurgias limpas e potencialmente contaminadas, a pele poderá
ser suturada com pontos intradérmicos nos casos em que a pele apresente carac-
terísticas elásticas, semelhantes às encontradas nos pacientes jovens. Deverão
ser empregados pontos separados com boa coaptação das margens, tipo Donati,
quando a elasticidade da pele não for adequada, por exemplo a pele dos pacien-
tes idosos.
Nas cirurgias contaminadas ou sujas a melhor opção é a cicatrização primá-
ria retardada. Por essa técnica a pele e o subcutâneo são deixados abertos, e só
deverão ser suturados após o aparecimento do tecido de granulação, que ocorre
no quarto ou quinto dias do pós-operatório. A presença de tecido de granulação
aumenta a resistência da ferida à invasão bacteriana, diminuindo assim o risco
de infecção (Gottrup et al., 1982).
Os curativos devem ser feitos no Centro Cirúrgico e deixados por 24 ou 48
horas. Compressas de gazes secas sem anti-sépticos deverão ser colocadas sobre
a sutura com fitas adesivas microporosas.
Após esse período, a pele está completamente fechada, fato esse que impede
a entrada de qualquer líquido na intimidade da ferida. Dessa maneira não tem
sentido o uso de soluções anti-sépticas no pós-operatório tardio, uma vez que
sua ação será restrita somente à derme superficial adjacente à ferida.
LAPAROSTOMIA
82
cidade vital respiratória do paciente. Por outro lado, a ausência de sutura na pa-
rede abdominal nas laparostomias protege as margens da ferida cirúrgica. Isto é,
diminui o trauma da parede abdominal que na maioria das vezes apresenta-se
com infecção local e com tecido friáveis à fixação dos pontos de sutura.
Nesses casos em que a aproximação das margens da ferida abdominal é im-
possível devido à falta de compatibilidade entre o conteúdo abdominal e o conti-
nente cavitário, deve-se empregar material sintético para contenção das vísceras.
Atualmente as próteses sintéticas formadas por telas de náilon ou polipropi-
leno são as mais utilizadas na contenção das vísceras abdominais. Essas telas ci-
rúrgicas apresentam malhas de tamanhos diferentes que facilitam a drenagem do
líquido abdominal e devem ser fixadas na face interna da parede abdominal, com
fios inabsorvíveis sintéticos tipo náilon ou polipropileno.
Hoje em dia as laparostomias são empregadas principalmente nos casos de
infecção peritoneal grave; necessidade de drenagem ampla da cavidade abdomi-
nal; perda de tecido abdominal (fascite necrotizante); ou tensão exagerada para
aproximação das bordas.
Os pacientes que apresentam infecções peritoneais graves, com dissemina-
ção intracavitária generalizada poderão ser tratados com o emprego de múltiplas
reoperações abdominais, utilizando-se dos conceitos das laparostomias. Toda-
via trata-se de conduta de exceção, que apresenta altos índices de morbidade e
mortalidade pós-opertória (Rasslan et al., 1988).
Particularmente nos casos de reoperações programadas pode-se utilizar pró-
teses de náilon com zíper. Essas próteses foram desenvolvidas com a finalidade
de facilitar o acesso à cavidade abdominal nas reoperações programadas, e de
proteger a parede abdominal do trauma de suturar as margens da ferida em cada
procedimento cirúrgico (Utiyama et al., 1988).
83
Fig. 8.4 — Abertura da prótese de tela de náilon com zíper para acesso à cavidade abdominal nas
reoperações programadas.
84
Fig. 8.5 — Representação esquemática do ponto de Smead-Jones na ressutura da parede abdo-
minal.
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86
Fechamento de
9 Toracotomias
Noedir A. G. Stolf
Anderson Benício
INTRODUÇÃO
87
A regularidade com a qual os pontos devem ser aplicados justifica-se pela
adequada distribuição da tensão sob a pele, além do emprego adequado do tipo
de fio para determinado tecido. Os pontos devem ter a mesma distância entre um
e outro, sendo que todos devem ter a mesma profundidade e espessura (distância
entre o ponto e a borda da ferida) de forma simétrica, fazendo com que a tensão
sob cada ponto seja a mesma, evitando assim processos isquêmicos em pontos
isolados da ferida.
O respeito à anatomia local, preservando vasos e nervos, favorece o restabe-
lecimento da função de uma forma mais fisiológica e rápida. Do mesmo modo, o
respeito às linhas de força da pele contribui para uma cicatrização mais estética.
ESTERNOTOMIA MEDIANA
88
à borda lateral do esterno (Fig. 9.1). Outra técnica bastante difundida é a de Ro-
bicsec10. Descrita por esse autor, consiste na realização de uma sutura contínua
de fio de aço, passada longitudinalmente pelos espaços intercostais, bilateral-
mente. Novos fios são passados transversalmente também nos espaços intercos-
tais (Fig. 9.2). É aplicada em casos de fragilidade esternal (osteoporose), deis-
cência esternal ou mesmo profilaticamente, considerando a obesidade, a possi-
bilidade de longa permanência em ventilação mecânica, reoperações ou erro téc-
nico em aberturas do esterno.
Procedida a esternorrafia, faz-se de grande importância a aproximação do
periósteo juntamente com o tecido celular subcutâneo com rigorosa técnica. A
presença de espaço morto, hematomas ou eventuais coleções nesta região, é ex-
tremamente crítica. A possibilidade de uma mediastinite torna-se grande, o que
aumentaria significativamente não só a morbidade como também a mortalidade.
A síntese do tecido celular subcutâneo pode ser realizada através de uma sutura
contínua com fio absorvível ou com pontos separados de fio inabsorvível.
TORACOTOMIA PÓSTERO-LATERAL
É utilizada na grande maioria das intervenções cirúrgicas da cavidade torá-
cica, promovendo um excelente campo operatório. Entretanto, devido à espes-
sura da parede nesta região, seu fechamento torna-se mais demorado do que ou-
tros tipos de incisões. Os músculos envolvidos são, na seqüência em que apare-
cem, grande dorsal, trapézio, rombóide e serrátil maior. Dependendo do tipo
de intervenção, pode ou não haver a ressecção de um arco costal (geralmente o
quinto).
A síntese da toracotomia começará pela aproximação da abertura intercos-
tal. Utiliza-se fio de categute cromado ou de vicril nº 1. Estes pontos devem res-
peitar a anatomia evitando a constrição dos nervos intercostais e síndromes do-
lorosas no pós-operatório6.
Se a toracotomia tiver sido intercostal por ruginação da borda superior ou in-
ferior da costela, a reinserção do feixe intercostal se conseguirá respectivamente
por pontos pericostais inferiores ou superiores.
A aproximação da musculatura deve ser feita sem tensão, evitando isquemia
tecidual. É com fio inabsorvível tipo mersilene nº 3-0 ou 2-0.
O tecido celular subcutâneo deve ser aproximado eliminando completamen-
te o espaço morto bem como a tensão sob a pele. É feita com vicril nº 2-0 ou 3-0.
A pele pode ser aproximada tanto com pontos separados (simples ou Donati;
náilon nº 4-0) ou com sutura contínua (intradérmica; prolene nº 4-0) (Fig. 9.3).
Muitos cirurgiões realizam um bloqueio nervoso intercostal com um anestésico
local de ação prolongada, como por exemplo a bupivacaína a 0,5% com epinefri-
na no instante do fechamento do tórax. Outros advogam que um bloqueio inter-
costal deve ser evitado, pois caso seja feito em um vaso, pode acarretar conse-
89
Fig. 9.1 — Representação esquemática do fechamento da esternotomia mediana.
90
Fig. 9.2 — Representação esquemática da técnica de Robisec.
91
Fig. 9.3 — Representação esquemática do fechamento da toracotomia póstero-lateral. Aproxima-
ção dos planos musculares.
TORACOTOMIA ANTEROLATERAL
A toracotomia anterior tem a vantagem de permitir ao paciente permanecer
em posição supina, resultando numa melhora da função cardíaca. Sua indicação
tem diminuído, principalmente em decorrência dos avanços do manuseio e téc-
nicas anestésicas, e do desenvolvimento de novos procedimentos tais como a
mediastinoscopia e a mediastinotomia. Mantém-se como a incisão de escolha
para muitos cirurgiões, fornecendo um ótimo campo para as biópsias de pulmão.
É ocasionalmente usada no procedimento de Ivor Lewis (em casos de carcinoma
de esôfago), evitando o reposicionamento do paciente após a fase intra-abdo-
minal da operação14.
92
O fechamento da toracotomia anterolateral é semelhante ao da póste-
ro-lateral, variando apenas os grupos musculares.
A variação na drenagem baseia-se no fato de ser feita ao nível da linha axilar
média ou anterior.
O quarto arco costal é posicionado sob o terceiro, e sua musculatura é apro-
ximada. Procede-se à sutura partindo-se da musculatura do terceiro intercosto fi-
xando-se na musculatura do quarto intercosto, passando por sobre a quarta cos-
tela. Este tipo de fechamento fornece um primeiro plano bastante seguro, além
de favorecer uma reconstrução bastante próxima à anatomia, evitando as suturas
pericostais, usualmente dolorosas.
Após esse plano, o peitoral maior, o peitoral menor e o serrátil anterior são
aproximados com sutura contínua utilizando fio absorvível ou pontos separados
com fio inabsorvível.
TORACOTOMIA AXILAR
A toracotomia axilar foi inicialmente desenvolvida para as operações do sis-
tema nervoso simpático torácico superior. Foi modificada pela ressecção do 1º
arco costal para a síndrome do desfiladeiro torácico.
Esta incisão é particularmente útil quando se faz o uso de cânula endotra-
queal de duplo lúmen, o que favorece o controle de atelectasias combinado à ha-
bilidade do anestesista em elevar o mediastino em direção ao campo operatório
favorecendo as condições operatórias.
A extraordinária vantagem desta incisão é a facilidade e a rapidez com a
qual ela pode ser realizada, com reduzida perda sangüínea e uma mínima secção
muscular, resultando em uma recuperação pós-operatória bastante confortável.
O fechamento pela sobreposição das costelas é completado pela aproxima-
ção da musculatura intercostal do 4º espaço por sobre a quinta costela fixando-a
na musculatura do 5º espaço intercostal e periósteo. Com a retirada do aproxi-
mador, as costelas retornam à posição normal14.
A toracotomia axilar não é recomendada para o cirurgião torácico ocasional
ou para uma operação difícil, pela limitada exposição em relação à toracotomia
póstero-lateral.
93
e anatomia dos retalhos musculares ampliou consideravelmente sua utilização,
reduzindo significativamente a taxa de mortalidade.
Algumas condições clínicas impõem ao paciente um maior risco de infecção
mediastinal após esternotomia mediana. Estes incluem: doença pulmonar obs-
trutiva crônica, obesidade, diabetes melito, estado crônico de debilidade protéi-
ca e terapia corticosteróide a longo prazo. O uso insuficiente de antibióticos
pré-operatórios e o preparo asséptico inadequado da pele na sala de operação são
fatores operatórios predisponentes. No período pós-operatório, a necessidade de
ressuscitação cardíaca com o tórax fechado, o aumento de sangramento intrato-
rácico, a circulação extracorpórea prolongada e a reexploração por sangramento
são fatores que aumentam a probabilidade de infecção. A ventilação mecânica
prolongada com a necessidade de realização de traqueostomia e o surgimento de
pneumonia associa-se à maior incidência de mediastinite. Por fim, a instalação
de um quadro de baixo débito cardíaco com longos períodos de hipotensão ca-
racteriza-se outra condição na qual o paciente torna-se vulnerável a processos
infecciosos, no caso do mediastino. Quanto à utilização da artéria torácica inter-
na, apenas quando utilizada bilateralmente representaria uma pequena elevação
na taxa de incidência de mediastinite13 (Tabela 9.1).
O agente etiológico mais freqüente é o Staphylococcus aureus ou Staphylo-
coccus epidermidis12.
Apesar de raros, outros agentes podem causar mediastinite. Agentes como o
Micoplasma hominis7,11,16 são descritos, entretanto o tratamento cirúrgico não
difere do convencional.
O diagnóstico da infecção mediastinal deve ser feito o mais precoce possí-
vel. A taxa de mortalidade diminui consideravelmente com o reconhecimento e
tratamento precoce da mediastinite. Usualmente, é pronunciada por febre, leu-
Tabela 9.1
Fatores de Risco para Ocorrência de Mediastinite
94
cocitose, instabilidade esternal e secreção superficial. A tomografia computado-
rizada consiste em um exame bastante útil na detecção do processo.
O objetivo da terapia cirúrgica consiste em obter uma ferida fechada com
uma parede torácica estável e uma boa cobertura do coração e dos grandes vasos.
A mediastinite está associada à uma alta taxa de mortalidade. É por demais
provável que o paciente com mediastinite venha a sofrer morbidez de múltiplas
operações, hospitalização prolongada, deformidade estética e um resultado ope-
ratório precário.
A princípio, existem basicamente três métodos para o tratamento cirúrgico
da mediastinite e das infecções profundas após esternotomia mediana: a técnica
aberta, a técnica fechada e a técnica de cobertura com retalhos musculares4,13.
Técnica Aberta
A técnica aberta representa apenas um significado histórico, pois, na atuali-
dade, é utilizada apenas raramente. O esterno é aberto, desbridado e deixado
aberto para cicatrizar por segunda intenção. Esta abordagem é demorada, mal to-
lerada pela maioria dos pacientes e ainda está associada a uma taxa de mortalida-
de próxima a 35%12.
Técnica Fechada
Descrita inicialmente por Shumaker e Mandelbaum em 196315 e modificada
a seguir por Bryant, Spencer e Trinkle2, a técnica fechada consiste de desbrida-
mento e fechamento sob um sistema de irrigação. Os tubos de tórax são deixados
no local por sete a 14 dias e o mediastino é irrigado com uma solução antibiótica
ou de povidine, em uma concentração de 0,5%, com velocidade de infusão de 1 a
2 ml/kg/h4.
Esse método é valioso quando o acometimento esternal ou mediastinal for
limitado. Raramente é eficaz quando a infecção é significativa ou quando existe
um acometimento mais extenso.
Culliford e Rosenfeld3 reviram 77 infecções esternais graves após 7.949
operações cardíacas abertas consecutivas. Quando a infecção era tratada dentro
de três semanas após a operação cardíaca aberta, obteve-se uma taxa de sucesso
global de 76%. Quando a infecção era descoberta além de três semanas, advo-
gou-se o desbridamento aberto e fechamento com retalhos musculares. Foi rela-
tada uma taxa de mortalidade global de 28%.
95
Em 1976, Lee e colaboradores5 relataram pela primeira vez a utilização de
um pedículo epiplóico vascularizado, com fechamento primário de pele.
Em 1980, Brown, Fleming e Jurkiewicz1 utilizaram o músculo peitoral mai-
or como um retalho rotacional, tipo ilha, para cobrir um grande defeito na linha
média da parede torácica após excisão de um tumor.
Após este relato, alguns autores aprimoraram ainda mais a técnica de rota-
ção de retalhos no tratamento da mediastinite, tomando como base a anatomia
dos pedículos vasculonervosos e principalmente dos ramos perfurantes proveni-
entes da artéria torácica interna, o que possibilitou a utilização de novos grupos
musculares nesta técnica, tais como: o músculo retoabdominal e o grande dor-
sal12 (Fig. 9.4).
Abordagem Atual
96
Fig. 9.4 — Representação esquemática da rotação de retalhos (peitoral maior e retoabdominal) no
tratamento da mediastinite.
Tabela 9.2
Retalhos Usados para Reparo Esternal Após Cirurgia Cardíaca
97
Ao comparar os resultados da cobertura por retalhos com aqueles obtidos
por irrigação fechada ou granulação aberta, observa-se uma redução significati-
va na taxa de mortalidade, juntamente com quedas consistentes na morbidez e na
duração da hospitalização, com a utilização de retalhos. Portanto, a cobertura
por retalho muscular ou retalho epiplóico deve ser considerado como tratamento
de primeira escolha em todos os pacientes com mediastinite pós-esternotomia.
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98
10 Princípios Gerais de
Hemostasia
Pedro Puech-Leão
Su Chao
ENDOTÉLIO VASCULAR
99
devido à vasodilatação causados pela prostaciclina podem ajudar a depurar os
agregados de plaquetas em formação, então limitando a resposta hemostática in-
travascular. Os produtos da lipoxigenase do metabolismo da prostaglandina en-
dotelial também inibem a adesão plaquetária. A atividade da enzima ectonucleo-
tidase endotelial também afeta a função plaquetária pela degradação da adenosi-
na difosfato (ADP) plasmática, um composto que ativa plaquetas e estimula sua
agregação.
As células endoteliais também produzem fator de relaxamento derivado do
endotélio (EDRF), o qual foi identificado como sendo o óxido nítrico (NO). Tal
como a prostaciclina, o NO é um potente inibidor de contração da célula muscu-
lar lisa e causa vasodilatação. Também inibe a agregação plaquetária, estimula a
desagregação, inibe a adesão plaquetária e monocitária à superfície endotelial e
a proliferação de célula muscular lisa.
Além da inibição da adesão e agregação plaquetária, o endotélio vascular
também age contra as reações enzimáticas da coagulação. Células endoteliais
sintetizam glicosaminoglicanos heparina-símile que possuem atividade anticoa-
gulante. O heparan sulfato ativa a antitrombina III circulante (ATIII), que efeti-
vamente neutraliza os fatores ativados XII, XI, X, IX e II (trombina) ao nível da
superfície celular, assim limitando a produção de trombina. Trombomodulina é
um receptor de superfície endotelial que se liga à trombina e inibe a habilidade
da enzima em clivar fibrinogênio, o qual acelera a ativação da proteína C pela
trombina mais de 1.000 vezes. A proteína C ativa, por sua vez, inativa fatores Va
e VIIIa e aumenta fibrinólise, provavelmente pela ligação com um inibidor de
ativação de fibrinogênio. A atividade da proteína C é facilitada pela proteína S, a
qual funciona como um co-fator. A ATIII circulante também inativa a trombina
ligada à trombomodulina e isto é acelerado pelo heparan sulfato. A ligação da
trombina com a trombomodulina resulta em perda de seu efeito anticoagulante e
aumento de sua habilidade de ativar a proteína C, a qual age como um anticoagu-
lante e inibe trombogênese.
O endotélio sintetiza e secreta ativadores de plasminogênio. É a principal
fonte in vivo de ativador tecidual de plasminogênio (tPA), o qual converte plas-
minogênio em plasmina que, por sua vez, lisa a fibrina. A eficiência da fibrinóli-
se local é também aumentada pelos receptores da superfície celular do endotélio
que se ligam ao plasminogênio. Esta fibrinólise local pode agravar hemorragia
em alguns pacientes suscetíveis, bem como em pacientes sem produção normal
de inibidores de ativação de plasminogênio (PAI-1).
Lesão da parede vascular pode levar à lesão da célula endotelial com disfun-
ção desta, e formação subseqüente de trombo. A lesão direta ocorrre, por exemplo,
no trauma vascular, nos procedimentos de radiologia intervencionista e endovas-
cular, na lesão térmica e nos procedimentos cirúrgicos. A lesão indireta à célula
endotelial pode ocorrer por ação de bactérias, vírus, imunocomplexos, produtos
do cigarro, colesterol, hemocisteína sangüínea elevada, turbulência localizada
100
ao redor de áreas de estenose e enzimas produzidas por plaquetas e leucócitos
ativados. Perda de propriedades antitrombóticas do endotélio resulta em ativação
de atividade procoagulante endotelial. Isto pode ser induzido pelas endotoxinas
bacterianas, trombina, interleucina-1 e fator de necrose tumoral. A célula endote-
lial danificada expressa fator tecidual o qual age como um co-fator do fator VII
para ativar a via extrínseca da cascata de coagulação. Ademais, a célula endotelial
também induz a expressão de receptores que se ligam aos fatores de coagulação
que podem gerar trombina e aumentar o coágulo em superfície celular local.
PLAQUETAS
101
xane A2 e fator ativador de plaquetas (PAF), o qual causa esvaziamento do con-
teúdo dos grânulos densos e α-grânulos das plaquetas.
A agregação plaquetária ocorre simultaneamente com a secreção plaquetá-
ria, com ADP estimulando a expressão de receptor GPIIb:IIIa. O fibrinogênio
serve como elo entre plaquetas agregadas, e a ligação do fibrinogênio ao seu re-
ceptor é um pré-requisito para agregação plaquetária. Este elo de ligação é cál-
cio-dependente e envolve alguns dos produtos dos α-grânulos das plaquetas in-
cluindo fibronectina, trombospondina, vitronectina e vWF. Outros agonistas de
agregação plaquetária são tromboxane A2, colágeno, trombina e PAF. As vias
tanto de secreção quanto de agregação provavelmente agem através como uma
via final comum, envolvendo mobilização intracelular de cálcio do sistema tu-
bular denso da plaqueta no citosol e a ligação do cálcio à calmodulina. Esta re-
sulta em ativação de proteinocinases levando à agregação. A recaptação do cál-
cio para os túbulos densos é dependente de cAMP. Drogas que aumentam cAMP
reduzirão a mobilização de cálcio decorrente de todos os agonistas e assim inibe
a ativação da plaqueta.
CASCATA DA COAGULAÇÃO
A coagulação é a seqüência de eventos que leva à formação de coágulo de fi-
brina. Esta era inicialmente concebida como duas vias distintas, a intrínseca e a
extrínseca. Na via intrínseca, o fator XII é ativado pela superfície de contato e li-
gação, seguido pela ativação seqüencial de fatores XI, IX, X e protrombina. A
função da via intrínseca é mensurada pelo tempo de tromboplastina parcialmen-
te ativada (TTPa). Na via extrínseca há formação de um complexo entre fatores
teciduais e fator VII, o qual é então seguido pela ativação de fatores VII, X e pro-
trombina. A função da via extrínseca é mensurada pelo tempo de protrombina
(TP). A via comum ocorre da ativação do fator X.
In vivo, os fatores de coagulação teciduais são os mais importantes em he-
mostasia e trombose. Fator tecidual é um componente normal na superfície de
células não vasculares e é expresso na superfície de monócitos estimulados e cé-
lulas endoteliais. O domínio extracelular de fator tecidual é o receptor de fator
VII, e a exposição de superfície celular expressando o fator tecidual para proteí-
nas plasmáticas circulantes leva à ligação do fator VII com fatores teciduais. Isto
gera a forma ativada do fator VII, fator VIIa, o qual ativa fatores IX e X. O fator
Xa em complexo com fator Va ativa então a protrombina. Esta leva à geração de
trombina, a qual cliva fibrinogênio para fibrina monomérica. A fibrina monomé-
rica polimeriza-se para formar o coágulo de fibrina.
SISTEMA FIBRINOLÍTICO
Fibrinólise no sangue circulante é um processo natural e constante dirigido
para manter a patência do vaso sangüíneo pela lise de trombo de fibrina. A ativi-
102
dade fibrinolítica ocorre quando o plasminogênio β-globulina é convertido para
a enzima proteolítica ativada, plasmina, por diversos ativadores de plasminogê-
nio sintetizados pelas células endoteliais e outros tecidos. A plasmina então de-
grada a fibrina pela hidrólise em polipeptídeos solúveis chamados produtos de
degradação de fibrina.
A interação entre componentes do sistema fibrinolítico toma lugar dentro do
ambiente local do coágulo sangüíneo. Tanto o plasminogênio quanto o tPA são
derivados do endotélio adjacente e ligam-se especificamente à fibrina, com tPA
convertendo o plasminogênio ligado ao coágulo em plasmina que é ligada a fi-
brina e parcialmente protegida da inibição pela α2-antiplasmina, que é o princi-
pal inibidor circulante de plasmina. A plasmina é liberada após a fibrinólise,
onde é rapidamente neutralizada pela α2-antiplasmina com o excesso de plasmi-
na sendo inativado pela α2-macroglobulina.
O endotélio exerce um papel importante na modulação da fibrinólise in vivo.
Células endoteliais que são expostas à trombina são estimuladas para sintetizar
tanto tPA como inibidor de ativação de plasminogênio PAI-1.
103
No exame físico, inspeção deve ser feita com atenção especial para equimo-
ses, petéquias, púrpura, hemangioma, icterícia, hematoma e hemartroses.
Equimose pode ser resultante de anormalidade de coagulação, da parede
vascular ou de plaquetas. Petéquias são associadas a plaquetopenia. Hematomas
e hemartroses freqüentes podem ser atribuídos a doenças hemorrágicas hereditá-
rias.
O tempo de sangramento, um teste muito sensível para hemostasia, é pro-
longado para deficiência qualitativa de plaquetas, baixos níveis de fibrinogênio
e fatores V e VIII. O tempo de protrombina (TP) avalia a via extrínseca e seu au-
mento demonstra deficiência da protrombina, fibrinogênio, fatores V, VII e X.
O tempo de tromboplastina parcial ativado (TTPa) avalia principalmente a
via intrínseca e é prolongado na deficiência de fatores VIII, IX, XI e XII; em me-
nor extensão a via comum que seriam os fatores V, X, protrombina e fibrinogê-
nio. O TTPa também é utilizado para mensurar a eficiência da heparinização. O
tempo de trombina (TT) é alongado nos casos de hipofibrinogenemia, fibrina
defectiva e heparinização.
O tempo de protrombina (TP) avalia a via extrínseca e seu aumento demons-
tra deficiência da protrombina, fibrinogênio, fatores V, VII e X.
Num paciente submetido à operação eletiva, a contagem de plaquetas é o
mais importante teste laboratorial. Sangramento espontâneo pode ocorrer quan-
do contagem de plaquetas é inferior a 20.000/mm3. Valores entre 30.000 e
50.000/mm3 são suficientes para assegurar hemostasia desde que não exista
defeito funcional da plaqueta ou desordem de coagulação. De 50.000-100.000/mm3
são necessárias para estabelecer hemostasia durante sangramento.
Os testes devem ser solicitados baseados na história e exame físico e inclu-
em TP, TTPa, tempo de sangramento e contagem de fibrinogênio. Diretrizes fo-
ram propostas por Rappaport (1983) para atribuir o nível de risco de sangramen-
to intra-operatório, como segue:
Nível 1. História de sangramento é negativa e o procedimento é menor. Ne-
nhum exame laboratorial é recomendado.
Nível 2. História de sangramento é negativa mas o procedimento é maior.
Contagem de plaquetas e TTPa detectam trombocitopenia ou a presença de anti-
coagulante que podem ter sido desenvolvidos sem nenhuma alteração na hemos-
tasia.
Nível 3. História de sangramento eleva a possibilidade de uma desordem he-
morrágica, ou um procedimento maior com múltiplas transfusões é antecipado,
ou trata-se de um paciente no qual mesmo um sangramento menor pode ser peri-
goso (i.e. cirurgia intracraniana, prostatectomia aberta). Tempo de sangramento,
TP, e um teste de solubilidade de coágulo são realizados para determinar defi-
ciência para fator XIII além da contagem de plaquetas e TTPa.
Nível 4. História de sangramento é fortemente positiva para uma desordem
hemorrágica. Além dos testes de rastreamento usados no nível 3, agregometria
104
de plaquetas, testes específicos para fatores VIII e IX para detectar hemofilia A
ou B, um tempo de sangramento para detectar doença de Von Willebrand ou ou-
tras desordens qualitativas de plaquetas, e um tempo de trombina para detectar
disfibrinogemia ou um anticoagulante circulante.
105
DESORDEM DE PLAQUETAS
106
Elas podem ser congênitas ou adquiridas (mais freqüentes).
Doença de Von Willebrand é o distúrbio de coagulação congênito mais co-
mum. É mais freqüentemente transmitida como um caráter autossômico domi-
nante, mas herança recessiva pode ocorrer. A doença é caracterizada por um
defeito hemostático dual. Primeiro, há uma deficiência ou disfunção do fator de
Von Willebrand (vWF), o qual é importante na adesão plaquetária para a super-
fície subendotelial. Este é mediado pelo receptor plaquetário, GPIb, de uma pla-
queta inativa que se liga com vWF que está presente no subendotélio. Este
defeito causa prolongamento do tempo de sangramento devido à formação pre-
judicada de tampão plaquetário. Embora a adesão plaquetária esteja anormal em
pacientes com doença de Von Willebrand, a secreção plaquetária e agregação
não são afetadas. Segundo, há uma deficiência de atividade coagulante do fator
VIII (defeito primário da hemofilia A) que contribui para o defeito hemostático.
A redução na atividade do fator VIII:C não é maior que aquela vista na hemofilia
A e é usualmente variável.
O subtipo mais comum de doença de Von Willebrand é o tipo I, o qual é pre-
sente em 80% dos casos; manifesta-se por diminuição quantitativa no antígeno
vWF e pela atividade do co-fator ristocetina. Uma anormalidade qualitativa na
proteína que previne formação de multímeros está presente no subtipo IIa; tipo
IIb é causado por uma anormalidade qualitativa na proteína que causa clarea-
mento rápido de grandes formas multiméricas. O tipo IIa tem um decréscimo
marcante na atividade do co-fator ristocetina e pode, portanto, ser diferenciado
daqueles outros subtipos. No tipo III da doença de Von Willebrand, o antígeno
vWF e a atividade do co-fator ristocetina são virtualmente ausentes; esta é uma
desordem autossômica recessiva rara. A pseudodoença de Von Willebrand é ca-
racterizada por clareamento rápido de multímeros grandes de vWF do plasma
devido a uma anormalidade na GPIb plaquetária. Pacientes afetados desenvol-
vem uma leve trombocitopenia.
Os defeitos qualitativos adquiridos são freqüentemente associados à ingestão
de drogas que inibem a agregação plaquetária, sendo a mais comum o ácido acetil-
salicílico.
A adesão aumentada de plaquetas é observada após parto e intervenções ci-
rúrgicas, em doença cardíaca isquêmica, aterosclerose, esclerose múltipla, tu-
mores intracranianos, tromboembolismo e hiperlipemia.
Diversos agentes vasopressores agregam plaquetas, por exemplo, adrenali-
na, noradrenalina e serotonina. Por outro lado, várias drogas hipotensoras ou va-
sodilatadoras tais como intensain, papaverina, fentolamina, propranolol e
trinitrato de gliceril, inibem a agregação plaquetária. É possível, portanto, que
vários agentes vasoativos presentes na circulação possam influenciar a agrega-
ção plaquetária e adesão plaquetária.
107
DESORDENS DE FATORES DE COAGULAÇÃO
108
Anormalidades do fibrinogênio podem também ser hereditárias. Afibrino-
genemia é herdada com caráter autossômico recessivo e é muito rara. Disfibri-
nogenemia refere-se a traço autossômico dominante caracterizado pela síntese
de fibrinogênio estruturalmente anormal. Pacientes com estas desordens podem
desenvolver complicações hemorrágicas. O nível de fibrinogênio normal neces-
sário para hemostasia é 100 mg/dl. Este nível pode ser obtido pela transfusão de
crioprecipitado ou plasma fresco congelado.
Estados hiperfibrinolíticos congênitos que podem resultar em sangramento
têm sido descritos. Os estados hiperfibrinolíticos congênitos incluem deficiênci-
as heterozigotas ou homozigotas de α2-antiplasmina, níveis elevados de t-PA e
PAI-1 funcionalmente anormais. Ácido épsilon aminocapróico (EACA) é reco-
mendado para tratar pacientes que podem sangrar devido ao estado hiperfibrino-
lítico congênito.
DESORDENS ADQUIRIDAS
109
estados de má absorção ou desnutrição para aumentar o nível de proteínas de coa-
gulação vitamina K-dependentes.
O sangue estocado utilizado para transfusão maciça contém pouca, se algu-
ma, plaqueta funcional e pode ser deficiente em fatores V e VIII. A diluição de
fatores V e VIII circulantes devido à transfusão maciça, entretanto, mais signifi-
cativamente, potencia a diátese hemorrágica pós-operatória freqüentemente as-
sociada com operações longas complicadas pela hipotensão e pela perda maciça
de sangue.
Pacientes com doenças vasculares podem ter complicações hemorrágicas
secundárias a anticoagulação excessiva. A heparina tem meia-vida de 90 minu-
tos; portanto, a infusão de heparina deve ser parada uma a duas horas no
pré-operatório para assegurar a hemostasia. Sangramento decorrente de hepari-
na excessiva pode ser neutralizado pela administração de sulfato de protamina
diluído, 1mg/100 unidades de heparina, lentamente para evitar hipotensão. Paci-
entes devem aguardar dois a quatro dias após a parada da anticoagulação com
warfarina antes de serem submetidos a operação eletiva. Deficiências de fatores
de coagulação vitamina K-dependente podem ser corrigidas lentamente com ad-
ministração de vitamina K e mais rapidamente com plasma fresco congelado.
A coagulação intravascular disseminada é caracterizada pela coagulação in-
travascular com consumo de fatores de coagulação e plaquetas e ativação secun-
dária do sistema fibrinolítico. Sua etiologia pode ser atribuída a destruição teci-
dual maciça, sepse, hipotensão, trauma, reação transfusional, fístula arteriove-
nosa, hemangioma cavernoso, vasculite, insuficiência hepática e aneurisma. De-
posição de fibrina e plaquetas ocorre na microcirculação enquanto o plasmino-
gênio é convertido em plasmina, a qual inicia fibrinólise e mantém a patência da
microcirculação. Hemorragia é associada com CIVD severa porque as deficiên-
cias de fatores de coagulação e plaquetas desenvolvem-se como resultado do
consumo intravascular contínuo. Os produtos de degradação de fibrina, resul-
tantes da fibrinólise secundária, possuem um forte efeito anticoagulante e poten-
ciam a diátese hemorrágica.
A CIVD pode existir naqueles em que os fatores de coagulação e plaquetas
são repostos e então consumidos (isto é, uma CIVD compensada). Este tipo de
CIVD é diagnosticado apenas pelos testes laboratoriais. A presença de equimo-
ses e petéquias em pacientes devem alertar o cirurgião para a possibilidade de
CIVD de baixo grau. Durante a operação, a CIVD pode ser acelerada pelo trau-
ma tecidual, hipotensão e/ou reações transfusionais; com o consumo de fatores
de coagulação e plaquetas agora ocorrendo mais rapidamente que eles podem
ser repostos, levando à hemorragia excessiva. Apesar da etiologia, o cirurgião
deve estar alerta para o desenvolvimento de CIVD, tanto pelo sangramento per-
sistente de superfícies novamente incisas, indicando uma falha da hemostasia,
quanto pelo sangramento “fresco” de áreas previamente secas, indicando lise de
coágulos previamente formados.
110
Uma combinação de resultados de testes laboratoriais anormais, incluindo
trombocitopenia, prolongamento do TP e TTPa, hipofibrinogenemia e aumento
nos produtos de degradação de fibrina, confirma o diagnóstico clínico de CIVD.
No momento da operação um teste de coagulação de sangue total pode ser reali-
zado colocando-se 1ml de sangue em um tubo de vidro e avaliando a formação
de coágulo. Falha do sangue em coagular ou a formação de coágulo friável que
sofre lise dentro de uma hora sugere a presença de CIVD.
O primeiro objetivo do tratamento é a eliminação da causa de CIVD. Quan-
do possível, a coagulação intravascular cessa com o retorno da hemostasia nor-
mal. Em CIVD severa, com perda de sangue contínua, pacientes são mais bem
tratados pela reposição de elementos deficientes do sangue utilizando sangue to-
tal, plasma fresco congelado e plaquetas enquanto a causa precipitante da CIVD
é eliminada. Se a causa da CIVD não pode ser eliminada, transfusão de hemode-
rivados pode aumentar o consumo de fatores de coagulação.
Alguns investigadores têm proposto que a heparina pode ser benéfica em
parar o processo de consumo em CIVD. A administração de heparina é ocasio-
nalmente benéfica naqueles pacientes com sangramento ativo nos quais a repo-
sição de hemoderivados é incapaz de restaurar os níveis de fatores de coagula-
ção. A heparina deve ser utilizada cuidadosamente, em dose de ataque de 3.000
unidades intravenosas seguido de 300-500 unidades/hora, com observação clí-
nica cuidadosa pela monitorização laboratorial. O EACA, o qual inibe a lise do
coágulo por prevenir a ligação do plasminogênio a fibrina, não deve ser usado
para tratar qualquer hiperfibrinólise secundária persistente. Entretanto, quando
o estímulo para a coagulação intravascular for removido e a CIVD estiver con-
trolada, o EACA pode ser usado para tratar qualquer hiperfibrinólise secundária
persistente. A dose usual de EACA é 5mg intravenosa como dose de ataque e
1g/hora até que a lise excessiva seja controlada, usualmente em três a seis horas.
A hiperfibrinólise primária é uma causa rara de sangramento e é freqüente-
mente difícil de distinguir da hiperfibrinólise secundária da CIVD. Ambas as
condições são caracterizadas pela redução de proteínas de coagulação. A conta-
gem de plaquetas é normal em pacientes com hiperfibrinólise primária e é dimi-
nuída em pacientes com CIVD. Hiperfibrinólise primária está associada com
condições que causam ativação fibrinolítica excessiva, tais como trauma elétri-
co, circulação extracorpórea, hipoxemia aguda, acidose severa e leucemia. O
tratamento consiste na remoção (isto é, circulação extracorpórea) ou melhoria
das condições (isto é, hipoxemia, acidose, leucemia) que levaram a hiperfibrinó-
lise primária. O EACA é oferecido se o estado hiperfibrinolítico persistir.
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112
11 Fios de Sutura
INTRODUÇÃO
O fio de sutura começou a ser usado para o fechamento das feridas 3.500
anos antes de Cristo, no Egito22, e até hoje o ato de suturar continua o método
mais comum para reaproximação das bordas das feridas cirúrgicas. A seleção do
material de sutura deve ser baseada nas propriedades biológicas dos tecidos a se-
rem aproximados, nas características físicas e biológicas dos fios e nas condi-
ções da ferida a ser fechada.
Mesmo com o avanço atual da tecnologia, permanece verdadeira a idéia de
que nenhum fio de sutura tem todas as características que o classifiquem como o
fio ideal.
113
• Ser de baixo custo.
Os fios de sutura podem ser classificados de acordo com vários parâmetros
que dizem respeito a sua estrutura, origem do material e permanência nos teci-
dos. Assim, quanto à degradação que eles sofrem in vivo são classificados em
duas grandes categorias como absorvíveis e inabsorvíveis, ambas com fios que
são fabricados de fibras naturais ou de materiais sintéticos. Embora os fios de
fibras naturais tenham sido usados por muito tempo e até hoje o são com bons
resultados, os fios sintéticos mais modernos são considerados mais adequados.
Entre outras razões, pela reação tecidual mais baixa quando comparados com
os fios naturais ou orgânicos21. Os fios de sutura podem também ser caracteri-
zados por sua configuração física. Aqueles constituídos de um único filamento
são ditos monofilamentares e os formados por múltiplas fibras, trançadas ou
torcidas, são chamados multifilamentares. O náilon e o aço são exemplos de
fios disponíveis tanto como monofilamentares quanto multifilamentares.
A classificação geral dos fios de sutura pode ser observada na Fig. 11.1,
onde foram acrescentados os nomes comerciais de alguns deles, com a única fi-
nalidade de facilitar a identificação dos mesmos.
A decisão do uso de fio absorvível, inabsorvível, monofilamentar ou multi-
filamentar depende de uma série de fatores. Há que se considerar o tempo ne-
cessário para a ferida cicatrizar, a tensão suportada pelos tecidos durante o pro-
cesso de cicatrização e a questão da necessidade temporária ou permanente do
fio de sutura para garantir o suporte mecânico. Estudos experimentais revela-
ram que os fios de sutura em feridas da parede abdominal pararam de exercer
suporte mecânico entre os dias 15 e 28 do pós-operatório13, e que a aponeurose
readquiriu apenas 41% de sua resistência inicial dois meses após ter sido sutu-
rada8. Tanto achados como estes, quanto a complexa dinâmica das estruturas
músculo-aponeuróticas da parede abdominal e sua suscetibilidade a hérnias in-
cisionais e deiscências, têm provocado discussão a respeito da escolha do me-
lhor fio de sutura a ser usado.
As variações no comportamento dos diferentes tipos de materiais de sutura
têm sido amplamente estudadas in vivo, in vitro, experimental e clinicamente,
cada estudo ressaltando as qualidades de cada um deles. Em geral, os fios monofi-
lamentares são apontados como mais vantajosos, pois os multifilamentares pro-
porcionam condições propícias para o desenvolvimento de infecção, uma vez que
colônias bacterianas são formadas nos espaços entre os filamentos17. Os fios ab-
sorvíveis naturais (categute) são responsáveis pela reação inflamatória mais in-
tensa entre todos os fios de sutura, além de apresentarem um tempo de absorção
muito curto e imprevisível. O aparecimento dos fios absorvíveis sintéticos foi
muito promissor, por vários motivos: a) desencadeiam reações inflamatórias sig-
nificativamente menores que os absorvíveis naturais; b) mantêm muito da sua
resistência até que o processo de absorção tenha início e se complete; c) são dis-
poníveis com tempos de absorção curto, médio e longo, dando oportunidade
114
Fig. 11.1 — Classificação dos fios de sutura disponíveis.
para o cirurgião escolher o fio adequado para cada caso; d) a qualidade mecâni-
ca dos nós é a mesma para todos os fios absorvíveis sintéticos testados24.
A descrição de cada fio de sutura é feita a seguir.
ABSORVÍVEIS
Categute
Fio fabricado a partir do colágeno extraído da submucosa do intestino de
ovinos ou da serosa intestinal de bovinos, existe disponível sob a forma de cate-
115
gute simples e categute cromado. O simples perde metade da resistência após
cinco a sete dias nos tecidos e 100% após três a quatro semanas. O tratamento do
fio com sais de cromo prolonga o tempo de absorção e aumenta sua resistência à
tensão. O categute cromado perde 50% da resistência em 19 a 20 dias e 100%
após cinco semanas nos tecidos. Trata-se de um fio monofilamentar, absorvido
pelo mecanismo de digestão enzimática, que provoca reação tecidual significati-
vamente mais intensa do que os absorvíveis sintéticos27.
Deve ser evitado em suturas de tendões e fáscias, uma vez que são estruturas
de cicatrização lenta, que são submetidas a esforços e tensões constantes. Além
disso, o tempo de absorção do categute é imprevisível. É contra-indicado em su-
turas de úlceras duodenais sangrantes ou perfuradas, anastomoses pancreatoje-
junais e anastomoses biliares, pois pode ser rapidamente desintegrado pela ação
de enzimas proteolíticas 5.
116
Polidioxanona (PDS)
Poliglecaprone (Monocril)
Poligliconato (Maxon)
117
INABSORVÍVEIS
Algodão, Linho e Seda
São fios multifilamentares de fibras naturais, possuem elevada resistência,
são de fácil manuseio e proporcionam nó mecanicamente firme. Sua grande vir-
tude é o baixo custo, razão pela qual ainda hoje são amplamente utilizados em
muitos hospitais. Por serem multifilamentares de alta capilaridade, potenciali-
zam a infecção mais do que os fios monofilamentares inabsorvíveis. A intensa
reação inflamatória que provocam diminui a resistência dos tecidos à infecção e
a estrutura multifilamentar retém as bactérias na sua intimidade. Isso facilita a
infecção de parede, a formação de fístulas e a eliminação de pontos através das
feridas operatórias. Desse modo, esses fios devem ser evitados na sutura de feri-
das que apresentam contaminação bacteriana grosseira. A seda, em particular,
exerce um considerável efeito inibidor sobre as funções dos macrófagos, preju-
dicando principalmente a adesividade dessas células26.
Poliamida (Náilon)
Disponível como monofilamentar e multifilamentar trançado, o náilon pro-
voca pequena reação tecidual, pode ser utilizado e é bem tolerado em tecidos in-
fectados na apresentação monofilamentar. É de baixo custo, de fácil manuseio,
porém, os nós podem desfazer-se com muita facilidade. Tal característica obriga
o cirurgião a confeccionar múltiplos nós em cada ponto de uma sutura, fazendo
com que bactérias proliferem nas reentrâncias desses nós.
Tido outrora como material quimicamente inerte, o náilon decompõe-se ao
longo do tempo em 1-6-hexanodiamina e ácido adípico, de maneira que após
118
seis meses nos tecidos perde quase totalmente sua resistência à tensão12. Essa
perda de resistência dá-se pela degradação química e não por fenômenos físi-
cos como exaustão da matéria ou desfeita dos nós. Enzimas proteolíticas
provocam a hidrólise ao atacarem o grupo amida do polímero, resultando em
1-6-hexanodiamina e ácido adípico. Estudo in vitro indicou uma provável ação
antibacteriana desses produtos de degradação do náilon, capazes de reduzir o
número de colônias de Staphylococcus aureus em concentrações variadas3.
Entretanto, quando o fio foi implantado no subcutâneo de ratos por um período
prolongado, seus supostos produtos de degradação não apresentaram qualquer
ação antibacteriana10.
Politetrafluoroetileno (PTFE)
Polibutester (Novafil)
119
hipertrófica por possuir especial elasticidade, que permite adaptação dos tecidos
à tensão que é exercida sobre eles. Quando comparado com o náilon, mostrou-se
superior em todos os parâmetros estudados18. Em anastomoses vasculares o po-
libutester demonstrou grande facilidade de manuseio, nó firme, e elasticidade
mais adequada que o polipropileno para acompanhar a complacência dos va-
sos11.
Aço (Aciflex)
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121
12 Suturas Digestivas
INTRODUÇÃO
O propósito desta apresentação é o de descrever os fundamentos básicos das
suturas digestivas. É de nosso alcance a possibilidade do emprego de várias for-
mas de suturas como as mecânicas, no entanto, achamos conveniente uma dis-
cussão sobre os procedimentos cirúrgicos fundamentais na cirurgia digestiva,
ainda hoje em uso rotineiro.
As operações de fechamento, as suturas, da parede dos segmentos esôfago,
gastrointestinais ou as anastomoses entre os diversos segmentos do tubo digesti-
vo são freqüentes e portanto aplicadas comumente, quer em cirurgias eletivas,
quer em procedimentos de emergências.
O êxito das suturas ou anastomoses digestivas dependerá do emprego de
uma técnica cirúrgica adequada e deverá seguir princípios básicos que são: 1)
aproximação adequada dos planos; 2) boa perfusão; 3) evitar a tração; 4) ser her-
mética; 5) boa hemostasia; 6) evitar a contaminação; 7) evitar a estenose e 8) re-
mover as coleções próximas das suturas7,8.
No tubo digestivo são utilizadas suturas em pontos separados ou contínuos.
Levando em consideração os planos envolvidos da parede, podem ser em pla-
no único (Figs. 12.1, 12.2 e 12.3) ou em vários planos, neste caso a mais co-
mum é a sutura em dois planos (Fig. 12.4), que foi a preferida durante vários
anos.
SUTURAS DIGESTIVAS
123
Fig. 12.1 — Esquema de ponto em sutura em plano único (Lager L, Patel J). Notar que a agulha
atinge a serosa até a muscular e deixa livre a camada mucosa.
Fig. 12.2 — Sutura em plano único seromuscular. O ponto permite a invaginação da borda da feri-
da.
124
Fig. 12.3 — Ponto único total. Todas as camadas são englobadas na sutura que deve provocar a
invaginação da borda.
Fig. 12.4 — Sutura em dois planos. O plano total será sepultado pelo plano seromuscular.
125
SUTURA EM UM OU DOIS PLANOS
Esôfago
O esôfago, por não ter serosa no revestimento é sempre suturado com risco
de deiscência. As suturas da parede esofagiana podem ser realizadas de diversas
formas, mas a preferência recai sobre as suturas em pontos separados e com
aproximação independentes da mucosa (Fig. 12.5) com fio absorvível ou inab-
sorvível a seda-000 por exemplo, e da muscular com fio não absorvível. Não fica
descartado o uso de plano único com sutura exclusiva da muscular.
Como as suturas esofagianas são de risco elevado, quanto a deiscência, al-
guns preferem o fechamento ou as anastomoses em dois tempos, que consiste,
por exemplo, no nível cervical, em realizar uma esofagostomia proximal e anco-
ramento do coto distal e no segundo tempo fechamento definitivo cem realiza-
ção da anastomose5.
Fig. 12.5 — Sutura do esôfago em dois planos. À esquerda o primeiro plano, só suturada a muco-
sa. À direita, fechamento do plano muscular.
126
Suturas Gastrointestinais
Anastomose Terminoterminal
127
Fig. 12.6 — Sutura simples contínua. A sutura Fig. 12.7 — Sutura contínua com pontos de
poderá também ser entrecortada. Schmieden.
128
Fig. 12.8 — Sutura contínua com pontos de Connel-Mayo.
tura de uma sutura, no entanto, dois grupos podem ser citados: os defeitos técni-
cos, e os fatores locais e gerais.
Os defeitos técnicos são facilmente compreendidos e de fácil entendimento;
os fatores locais como a infecção, as peritonites, são considerados como causa-
dores das deiscências. Entre as causas gerais, a desnutrição e conseqüente hipo-
proteinemia são consideradas causas importantes.
A presença de infecção, peritonite, provoca a deiscência e a necessidade de
uma nova sutura, considerada de risco, inclusive.
As suturas de risco, as ressuturas ou reanastomoses obrigam a várias mano-
bras ou artifícios. A primeira é o fechamento e conseqüente programa para
acompanhamento, neste caso o second look será importante, a relaparotomia
para avaliação do estado da sutura.
Nos casos de sutura de risco é permitida a coloração da sutura ou subcutâneo
ou mucosa à mostra para acompanhamento evolutivo. Embora de alto risco, estas
possibilidades permitem o acompanhamento e novas tentativas de fechamento.
129
Fig. 12.9 — Anastomose terminoterminal, sutura total em pontos separados. Em cima: ponto total
com o nó para dentro da luz. A sutura é invaginante. Em baixo: sutura da parede anterior da anas-
tomose (notar o nó para dentro de luz da alça).
130
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131
13 Suturas em Situações
Críticas
Eduardo H. Pirolla
Nelson F. Margarido
INTRODUÇÃO
133
APARELHO DIGESTIVO: CÓLON, RETO E ÂNUS
134
re-se ao estudo que demonstra que a sutura contínua retarda a deposição de colá-
geno na anastomose, e interfere mais no suprimento sangüíneo da anastomose
quando comparada a sutura com pontos separados, principalmente quando esta
anastomose já está sendo realizada em condições adversas. Alguns estudos têm
sugerido a utilização de uma cola para adesão tecidual, como o butil-2-cia-
noacrilato, que complementaria a anastomose nos casos de sutura intestinal em
situações de alto risco de deiscência.
VIAS BILIARES
Nesse segmento as condições críticas mais prováveis ocorrem em casos de
colangites, tumores das vias biliares, síndromes (síndrome de Caroli), e nos
transplantes.
Para todos os casos deve-se destacar que fica afastado o uso de fios inabsor-
víveis, que podem causar reação tipo corpo estranho, levando a retrações cicatri-
ciais, e eventual subestenose. Os fios inabsorvíveis, mas de confecção orgânica,
são fagocitados, causando maior reação local, e, por esse motivo devem ser evi-
tados. Os multifilamentados podem sofrer depósitos de sais, pigmentos biliares
e/ou colesterol entre as fibras, ocasionando novos cálculos nas vias biliares.
Seja para anastomoses colédoco-colédoco ou colédoco-delgado, ou qual-
quer outro segmento da via biliar, é mais indicado a utilização de fios absorvíve-
is sintéticos monofilamentados, 5-0 ou 6-0 para colédoco-colédoco, e 4-0 para
biliodigestivas. A agulha deve ser sempre atraumática. Os pontos devem ser
sempre separados, pois desse modo tem-se facilidade para ajustar os bordos dos
cotos, bem como controle maior sobre a pressão ideal para cada nó. Em todos os
casos o nó deve ficar para fora da luz da anastomose.
Deve-se, ainda, nesses casos observar muito bem a irrigação dos cotos anas-
tomosados tendo em vista as particularidades da irrigação das vias biliares.
BAÇO
A importância do baço vem desde a sua inclusão como órgão do antigo siste-
ma hematopoiético, e apesar desde fato, até passado não muito remoto, a esple-
nectomia era a cirurgia de escolha quando o órgão sofria traumatismo importan-
te, bem como, muitas vezes, como manobra tática operatória em cirurgias de
esôfago, cólon ou estômago. Contudo, estudos anatômicos desde Neder (1958) e
Zappalá (1958; 1959) demonstraram os segmentos esplênicos, e, associados aos
estudos da fisiologia do baço, muito contribuíram para os trabalhos da literatura
envolvidos na preservação do órgão.
Todas as suturas no baço são realizadas em condições críticas, pois sempre
que necessária, envolve situação de politraumatismo ou lesão intra-operatória
em qualquer outro procedimento cirúrgico.
135
A principal condição a ser considerada é o fato de ter-se cirurgião treinado
nas técnicas de preservação do baço. Torna-se necessário boa exposição do ór-
gão para que se possa definir qual a melhor técnica de sutura. Os fios mais utili-
zados são os absorvíveis, como o categute cromado, porém mais recentemente
tem-se utilizado com bastante sucesso os derivados dos ácidos poliglicólicos e
poligalácticos. A justificativa se baseia, segundo alguns autores, no fato de que a
absorção do fio evitaria a ocorrência de reação de corpo estranho e assim perpe-
tuar ou desenvolver processo infeccioso, que se constitui numa das piores com-
plicações da cirurgia de preservação do baço. O calibre do fio deve variar entre 0
e 2-0, pois fios muito finos podem traumatizar mais o baço. A agulha deve ser
sempre atraumática e com o fio embutido, ou seja, fio agulhado.
As técnicas são as mais variadas possíveis, desde a transfixação do baço
com agulhas longas, como de raquianestesia e passagem do fio no seu interior
(Buntain e Lynn, 1979), até a utilização de telas de prolene ou náilon (Manssur,
1988), ou mesmo fragmentos de gelfoam para sustentar os pontos. Muitos cirur-
giões utilizam o epíploo como se fosse uma tela, para auxiliar na sutura (epiplo-
onplastia). Outra alternativa técnica seria a utilização das colas biológicas, à
base de colágeno, para complementar as suturas.
A principal complicação, e também a mais temida, é a infecção do baço pre-
servado, que pode ocorrer principalmente quando o politraumatismo envolveu
outras lesões abdominais, e em 100% dos casos, quando a outra estrutura lesada
é uma víscera oca, como o colón (Manssur, 1988). Nesses casos, existe con-
tra-indicação formal na rafia com o objetivo de preservação do baço. Outra situa-
ção bastante freqüente em nosso meio é a ocorrência de endocardite, diabetes e
lesão esplênica, associação essa que, quando presente, pela alta incidência de in-
fartos do baço, com trombos sépticos, e conseqüente abscesso, estabelece con-
tra-indicação relativa para a preservação do órgão em questão (Pirolla e cols,
1998).
Deste modo, cada caso deve ser avaliado individualmente, levando-se em
conta a experiência da equipe cirúrgica, os riscos da preservação e os recursos
institucionais.
FÍGADO
136
RINS, VIAS URINÁRIAS E BEXIGA
PAREDE ABDOMINAL
137
Em relação ao tipo de sutura, os pontos separados têm algumas vantagens
clássicas como: interromper menos a irrigação dos tecidos, no caso de despren-
dimento de algum nó cirúrgico, isto seria amenizado pois ficaria restrito a ape-
nas um ponto da anastomose. No entanto, a sutura contínua não ancorada e bem
realizada envolve helicoidalmente o tecido, o que não compromete a circulação
(Soares, 1991). Outro aspecto é o fato de a sutura contínua absorver melhor as
distensões abdominais, pois distribui de forma homogênea a tensão, sendo tam-
bém de execução mais rápida, o que muitas vezes é importante no caso de paci-
entes graves.
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139
14 Suturas Mecânicas
INTRODUÇÃO
HISTÓRICO
141
ros métodos foram criados, dos quais procuraremos apenas listar os de maior im-
portância em suturas mecânicas6,9,10,15,16,20,27.
• 1826 — Denans propôs pela primeira vez um sistema para anastomose
intestinal, que consistia na colocação de anéis nas luzes dos segmentos a
serem suturados, com posterior encaixe e aproximação das serosas. No
mesmo ano, Henroz formulou um sistema também de anéis, aplicados
externamente à luz, para realização das anastomoses evertidas, ou seja,
com aproximação das mucosas.
• 1892 — Murphy demonstrou um “botão” anastomótico, inicialmente
utilizado para as derivações colecistoduodenais e posteriormente para as
gastrointestinais. Nos anos seguintes, este sistema ganhou inúmeras mo-
dificações de diversos cirurgiões europeus.
• 1909 — Hültl elaborou e publicou os princípios da cirurgia mecânica vá-
lidos até hoje: compressão e imobilização dos tecidos num primeiro tem-
po; aplicação dos grampos num segundo tempo; fechamento dos
grampos em forma de “B” após sua penetração nos tecidos num terceiro
tempo. No entanto, o instrumento de Hültl pesava cerca de 3,5kg e era de
manuseio extremamente complicado.
• 1921 — Von Petz criou um instrumento com princípios semelhantes aos
de Hültl, porém mais leve e mais simples. Seus grampos eram mais lar-
gos e aplicados em dupla fila paralela. Apesar da grande popularidade
que o aparelho de Von Petz atingiu, os grampos modernos são finos,
como propusera Hültl.
• 1934 — Friedrich e Neuffer aperfeiçoaram o aparelho de Von Petz crian-
do um instrumento capaz de aplicar todos os grampos em um só golpe.
Seu aparelho tinha o mesmo desenho básico dos aparelhos de sutura me-
cânica linear não cortante de nossos dias.
• 1954 — Nakayama simplificou mais o aparelho de Von Petz, utilizado
até hoje para fechamento visceral sob o nome de instrumento de Nakaya-
ma — Von Petz.
• 1956 — Androsov e Gudov divulgaram os resultados das pesquisas ini-
ciadas ao término da Segunda Guerra, apresentando vários grampeado-
res, dentre os quais merecem destaque:
— um aparelho para sutura linear lateral ou terminal, que inspirou mais tar-
de os grampeadores lineares hoje utilizados (p. ex., TA®, RL®);
— um instrumento para criação de anastomoses látero-laterais do tubo di-
gestivo, com o qual era possível aplicar uma fila linear de grampos de
cada lado de uma lâmina cortante; este aparelho deu origem aos gram-
peadores lineares cortantes de hoje (p. ex., GIA®, PLC®, TLC®);
— um grampeador para a realização de anastomoses circulares térmi-
no-terminais e término-laterais capaz de inverter as túnicas intestinais
142
aproximando as serosas na anastomose; a partir deste instrumento, de-
senvolveram-se os grampeadores circulares intraluminais atualmente
utilizados (p.ex., EEA®, CEEA®, ILS®, ILS-DHC® etc.)
• 1958 — Ravitch iniciou extensa pesquisa, utilizando e desenvolvendo os
aparelhos russos, que culminou com o início da comercialização dos ins-
trumentos e de seu uso difundido a partir de 1966. Os grampeadores re-
ceberam os nomes de TA® (thoraco-abdominal) para suturas lineares,
GIA® (gastro-intestinal anastomosis) para as lineares-cortantes e EEA®
(end-to-end anastomosis) para as circulares.
143
A SUTURA
144
diâmetro das vísceras a serem suturadas. A luz da anastomose é cerca de 10 mm
inferior ao diâmetro do aparelho. Deve-se confeccionar uma sutura em bolsa nas
bordas a serem aproximadas, podendo-se ou não utilizar pinças próprias (pinça
para sutura em bolsa — purse string). Após o adequado posicionamento do ca-
nhão e do anteparo nas vísceras, realiza-se seu encaixe seguido de fechamento
do instrumento até a aproximação ideal das mesmas. Em seguida, destrava-se o
gatilho e dispara-se o aparelho (Fig. 14.2). Após a retirada do aparelho, deve-se
ter especial atenção na observação dos “anéis” de tecido recém-seccionados pela
lâmina circular deste tipo de grampeador: a integridade em toda sua circunferên-
cia e túnicas é o principal sinal de que todas as paredes foram devidamente sutu-
radas1,2,14,17,26.
2. Grampeador linear cortante: a sua aplicação baseia-se no simples encai-
xe dos elementos, seguido do disparo por alavanca deslizante (Fig. 14.3A, B, C).
É de manipulação mais fácil que o circular, podendo ser utilizado em secções
viscerais, fechamento de coto duodenal (Fig. 14.4A, B, C) e nas diversas técni-
cas de anastomoses látero-laterais. Os aparelhos disponíveis permitem a substi-
tuição da carga de grampos, podendo ser utilizados até seis vezes durante a mes-
ma intervenção. Este tipo de grampeador ganhou recentemente grande populari-
dade por ser o mais utilizado nas operações por videolaparoscopia (modelo endo-
linear cortante)7,18,19.
3. Grampeador linear: é o menos utilizado em nosso meio, apesar de ampla-
mente difundido em outros países. Sua aplicação restringe-se ao fechamento de
vísceras durante o preparo para anastomoses, diminuindo a possibilidade de
contaminação. Pode também ser empregado no fechamento do coto duodenal7.
Fig. 14.2 — Grampeamento com instrumento circular, produzindo sutura invertida com aproxima-
ção pelas serosas.
145
Fig. 14.3A — Esquema de secção visceral com grampeador linear cortante. Posicionamento dos
dois elementos do aparelho.
146
Fig. 14.3B — Esquema de secção visceral com grampeador linear cortante. Após o encaixe dos
dois elementos, o grampeador é travado e disparado.
147
Fig. 14.3C — Esquema de secção visceral com grampeador linear cortante. Após o disparo, o
aparelho é aberto, demonstrando as bordas seccionadas e grampeadas de maneira evertida.
148
A B
Fig. 14.4A — Fotografia intra-operatória: fechamento de coto duodenal com grampeador linear
cortante. Posicionamento do aparelho e encaixe de seus dois componentes. B — Fotografia in-
tra-operatória: fechamento de coto duodenal com grampeador linear cortante. Após completa-
mente encaixado, o aparelho é disparado. C — Fotografia intra-operatória: fechamento de coto
duodenal com grampeador linear cortante. Aspecto final, com as setas mostrando as duas extre-
midades recém-grampeadas e seccionadas.
149
Fig. 14.5A — Fotografia intra-operatória: gastrectomia subtotal com reconstrução com boca parci-
al; fechamento da pequena curvatura com grampeador linear cortante.
Fig. 14.5B — Fotografia intra-operatória: gastrectomia subtotal com reconstrução com boca parci-
al; fechamento da pequena curvatura com grampeador linear cortante. Aspecto final do fechamen-
to da pequena curvatura.
150
Fig. 14.6 — Esquema ilustrando a aproximação adequada e insuficiente dos elementos do gram-
peador circular.
151
dos grampeadores de aproximação variável leva ao fechamento imperfeito do
grampo e à não coaptação adequada dos tecidos (Fig. 14.6). Daí a importância da
correta avaliação da espessura do tecido e do conhecimento das características
do instrumental a ser utilizado.
4. O fechamento dos grampeadores de aproximação variável (circulares)
com interposição de tecidos desvitalizados (Fig. 14.7) aumenta o risco de deis-
cência por distanciar as bordas da cicatriz.
5. No momento da retirada de um grampeador circular, deve-se ter o cuida-
do de liberar os segmentos proximal e distal, afastando-se adequadamente o ca-
nhão do anteparo do instrumento. Quando feita de maneira incorreta, esta mano-
bra pode levar à laceração e ao desluvamento da mucosa.
CONCLUSÃO
O desenvolvimento da sutura mecânica permitiu a criação de técnicas origi-
nais na cirurgia digestiva. A observação da literatura mundial mostra-nos a ima-
ginação e a criatividade de nossos colegas de diversos países incluindo o nosso,
que muito contribuíram e produzem para esse desenvolvimento. As anastomo-
ses grampeadas são hoje tão seguras quanto as manuais. Entretanto, a habilida-
de, a inteligência, o bom senso e sobretudo o conhecimento e o respeito à técnica
cirúrgica são indispensáveis à correta escolha do método e ao sucesso do proce-
dimento.
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153
Nós e Suturas em
15 Videocirurgia
Edvaldo Fahel
CONCEITO
CLASSIFICAÇÃO
Tabela 15.1
Tipos de Nós Utilizados em Endocirurgia
Internos Externos
Quadrado Tay side
Duplo Roeder
De cirurgião Melzer (Roeder modificado)
Mayo
De ligadura
155
Os internos ou intracorpóreos são realizados dentro da cavidade com instru-
mental adaptado ao acesso (porta-agulhas, pinças de apreensão e redutores).
Estão entre os mais utilizados: o nó quadrado, dois seminós opostos, utilizado
em ligadura de vasos e anastomoses com fios monofilamentares (Fig. 15.1); o nó
de ligadura, dois seminós iniciais e contínuos, seguidos de um seminó único,
mais seguro que o nó quadrado (Fig. 15.2); o nó duplo, dois seminós duplos e
opostos, mais seguro que os anteriores (Fig. 15.3); o nó Mayo, três seminós úni-
cos e opostos, certamente o mais utilizado na prática cirúrgica convencional
(Fig. 15.4); e por fim, o nó de cirurgião, um seminó duplo seguido de dois semi-
nós opostos, utilizado como nó preferencial endocirúrgico (Fig. 15.5)1.
Os externos ou extracorpóreos são confeccionados fora da cavidade operada
(Figs. 15.6 a 15.14) e deslizados até a estrutura intracavitária mediante aplicado-
res de sutura e uma pinça de apreensão. Neste grupo de nós encontramos os
pré-formados como os endoloops (Figs. 15.15 a 15.17), com aplicadores própri-
os, facilitando o ato em cirurgias sobre estruturas pediculares (ooforectomias),
tubulares (apendicectomias) e cirurgias com a visualização do campo limitada.
Somente fios com boa memória e resistência podem ser utilizados nesta sutura2.
156
Fig. 15.3 Fig. 15.4
157
Fig. 15.9 Fig. 15.10
158
Fig. 15.15
INTEGRIDADE DA AGULHA
Quando a agulha é corretamente escolhida, esta deve promover uma boa se-
gurança quanto ao porta-agulha e ser o mais atraumática possível, respeitan-
do-se a regra de não posicionar o porta-agulha na porção proximal, nem na por-
ção distal, sob pena de deformar a agulha durante a sutura (Fig. 15.19). Ainda
mais que o instrumental endocirúrgico, por ser mais longo, favorece o uso inde-
vido da força exercida pelo cirurgião.
TAMANHO
159
Fig. 15.18
FORMATO
As agulhas retas, embora de fácil introdução através dos redutores, mais fá-
ceis de manuseio sob a visão em duas dimensões e mais bem adaptadas aos por-
ta-agulhas endoscópicos, não preenchem os critérios como agulhas ideais já que
são traumáticas à sutura, sendo neste aspecto mais favorável o uso de agulhas
curvas3.
Baseando-se nestes conceitos, desenvolveu-se um grande número de agu-
lhas das mais variadas curvaturas, tópico este que foge ao objetivo deste capítu-
lo, estando entre elas a agulha de Endoski (Fig. 15.20) com componentes curvo e
reto desenvolvidos especialmente para o uso laparoscópico4.
Algumas particularidades do método endoscópico vêm dificultar a realiza-
ção das suturas no que se refere ao uso das agulhas:
160
Fig. 15.19 Fig. 15.20
INSTRUMENTAL CIRÚRGICO
Sistema de Imagem — Não há dúvidas que para uma adequada sutura endos-
cópica um ponto primordial é a qualidade da imagem, devendo haver uma esco-
lha criteriosa deste material considerando-se:
• Sistema de lentes
161
Fig. 15.21
• Fibra óptica
• Eixo óptico
• Videocâmera
• Videomonitor
O que realmente difere entre a execução das suturas endoscópicas e as con-
vencionais é o fato de serem realizadas, geralmente, com visão bidimensional, e
dependerem de um posicionamento adequado dos trocateres, da distensão gaso-
sa e tração dos retratores para abertura do campo cirúrgico, como nos casos das
laparoscopias, da iluminação adequada e da familiaridade do cirurgião com o
acesso.
As suturas são mais bem realizadas com eixo óptico a 30° ou 45°, em vez de
0°, devido à possibilidade de visualização de vários ângulos da sutura, favore-
cendo a técnica de execução e controle quanto à possibilidade de escapes (Fig.
15.21A, B).
Hoje, já dispomos de sistema óptico articulado que permite maior angula-
ção, devido à movimentação circular da extremidade. Apesar de estar se desen-
volvendo o sistema de imagem em 3D, a óptica de 30° ou 45° em 2D permanece
como a mais utilizada, já que a imagem em 3D não está otimizada quanto à lumi-
Fig. 15.22
162
nosidade e coloração; e exceto no sistema Zeiss, opera-se com distância fixa en-
tre a óptica e a sutura7,8.
Para se obter uma boa imagem e conseqüente boa sutura, aconselhamos
“manter a óptica aquecida e limpa”, manipulada por um médico afeito a este mé-
todo.
Instrumentos Cirúrgicos — Os porta-agulhas devem promover uma ade-
quada apreensão da agulha. Assim como seu formato deve ter empunhadura er-
gonômica acompanhando o eixo do instrumento, e não formar um ângulo com
este, para oferecer conforto na confecção da sutura. Uma curvatura coaxial na
porção distal do instrumento pode facilitar a realização das suturas (Fig. 15.22).
A realização das suturas mediante o uso de dois porta-agulhas fez com que
os cirurgiões necessitassem adaptar-se ao uso das duas mãos.
Pinças de apreensão atraumáticas podem auxiliar a sutura, manipuladas pelo
cirurgião auxiliar, mantendo a tensão da sutura através do reparo do fio.
O instrumental utilizado para a divisão tecidual como tesouras e eletrocauté-
rios também é utilizado na realização das anastomoses, porém não serão aborda-
dos neste capítulo.
163
Fig. 15.23 Fig. 15.24
Fig. 15.27
164
Fig. 15.28 Fig. 15.29
165
Fig. 15.34
Fig. 15.37
166
Fig. 15.38
Fig. 15.41
167
Fig. 15.42
TÉCNICAS EM ANASTOMOSES
Os princípios básicos das anastomoses endoscópicas mantêm-se os mesmos
da cirurgia convencional:
• Suprimento sangüíneo adequado
168
Fig. 15.45 Fig. 15.46
169
deve-se escolher o método que cause menos fadiga ao cirurgião, sem contudo
perder em segurança.
TIPOS DE SUTURA
Plano Único — Quando realizada de maneira meticulosa, apresenta baixa
taxa de deiscência devido à menor redução do suprimento sangüíneo em relação
à sutura em dois planos e mais rápida execução pelo método endocirúrgico.
As camadas utilizadas nas suturas vão depender das estruturas a serem anas-
tomosadas, sendo a camada seromuscular a de escolha para aproximação das es-
truturas. Deve-se observar que este tipo se sutura é mais bem indicada em vísce-
ras de parede fina e com serosa bem definida (Figs. 15.43 e 15.44).
Um princípio importante na sutura em plano único é a introdução da agulha
a poucos milímetros das bordas das vísceras, diminuindo com isto os processos
isquêmicos e inflamatórios e conseqüentemente a possibilidade de deiscência,
porém na prática este princípio pode estar sujeito à dificuldade de acesso e tama-
nho reduzido das estruturas como vias biliares ou ureter.
Para realização das anastomoses pode-se optar por suturas contínuas, por
pontos separados ou por combinações destas, como por exemplo, a realização da
sutura posterior de uma anastomose com técnica contínua e anterior por pontos
separados (Figs. 15.45 e 15.46).
Sutura Contínua — Geralmente dá-se preferência a essa técnica quando a li-
nha de anastomose ultrapassa 3cm, proporcionando a realização de uma sutura
mais rápida.
Não deve utilizar mais de 20cm de fio em uma sutura contínua. Caso isso
ocorra, deve-se optar pela interrupção da sutura e a utilização de vários fios.
170
Fig. 15.51 Fig. 15.52
171
Fig. 15.57 Fig. 15.58
172
Fig. 15.63
Fig. 15.66
173
Fig. 15.67 Fig. 15.68
174
Fig. 15.73 Fig. 15.74
175
Fig. 15.79 Fig. 15.80
176
Fig. 15.85 Fig. 15.86
177
Fig. 15.91
Fig. 15.92
178
O posicionamento da agulha em relação ao porta-agulha deve representar
um ângulo de 90 graus, exceto quando a situação da víscera exige uma angula-
ção obtusa ou aguda (Figs. 15.47 e 15.48).
O início de uma sutura contínua é dado por um nó que pode ser pré-formado,
como o nó de Sopper ou de Jamming Loop (Figs. 15.49 a 15.67).
A pegada das bordas deve ser simétrica em relação à entrada dos pontos e
aos nós.
• Slipping Knots
• Jamming Loop
• Stopper
• Nó do cirurgião.
• Retrograde Slipping Knot.
• Aberdeen.
Sutura Interrompida — Prefere-se esta à sutura contínua, quando as estrutu-
ras são pequenas e de difícil acesso, também tendo uma possibilidade maior de
estenoses. Uma manobra útil é o reparo das extremidades da ferida a ser suturada
(Figs. 15.84 e 15.85).
Suturas com Stappler — Sem dúvida o uso do stappler é mais um grande
avanço para a cirurgia endoscópica, envolvendo a criação e excisão de anasto-
moses tanto para restaurar como para confeccionar bypasses em obstruções in-
testinais. O uso do stappler não exclui a utilização concomitante de sutura por
fio, podendo esta ser feita para otimização dos resultados (Figs. 15.86 a 15.90).
As vantagens da utilização do stappler são:
• Menor risco de contaminação.
• Rapidez de execução.
• Redução na utilização de clamps intestinais.
• Resultado cirúrgico uniforme.
Essas vantagens estão diretamente relacionadas com o aprimoramento e a
experiência do cirurgião. Porém, algumas desvantagens podem ser listadas na
utilização do stappler.
• Alto custo da aparelhagem.
• Dificuldade do uso em estruturas tubulares e/ou delicadas.
• Contra-indicação, seu uso em tratos biliar e urinário.
• Tendência maior à estenose.
179
TIPOS DE STAPPLER
180
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181
Preparo Intestinal para
16 Cirurgia Colorretal
Peretz Capelhuchnik
Alexandre Margutti Fonoff
INTRODUÇÃO
183
A ingenuidade daquele conceito não resistiu muito tempo, pois logo com-
preendeu-se que a contaminação era de origem endógena. Sabemos que o conteú-
do fecal contém cerca de 108 a 1012 bactérias por cm3 de fezes.
De 1930 a 1945 a utilização de uma colostomia de início desfuncionalizante
em duas bocas20 e depois em alça era prática obrigatória realizada três a quatro
semanas antes da ressecção do cólon esquerdo. Este procedimento permitia uma
cirurgia em cólon vazio e limpo, portanto com menor chance de contaminação e
complicações.
Após a Segunda Guerra Mundial iniciou-se o uso dos antimicrobianos. As
sulfas26 foram as primeiras drogas utilizadas. As sulfas inabsorvíveis, sulfaguani-
dina, succinilsulfatiazol e ftalilsulfatialol, ministradas por via oral, supositórios ou
enemas demonstraram a sua capacidade em reduzir a flora bacteriana intestinal.
A segurança obtida então, e a introdução dos antibióticos — penicilina, neo-
micina, e estreptomicina — foram os responsáveis pelo gradual abandono das
colostomias prévias32, que são hoje raramente utilizadas.
O objetivo do preparo do cólon para a cirurgia é a redução bacteriana máxi-
ma possível uma vez que a sua supressão total é utópica33,44,45,73.
Os procedimentos disponíveis com essa finalidade são dois: preparo mecâ-
nico e uso de agentes antimicrobianos: antibióticos e quimioterápicos.
PREPARO MECÂNICO
Define-se preparação mecânica do cólon como o conjunto de métodos de re-
moção do conteúdo luminal fecal com a finalidade de facilitar, encurtar o tempo
e diminuir a morbidade dos procedimentos diagnósticos e operatórios sobre o in-
testino grosso. Sem dúvida nenhuma, é de grande conveniência para os cirur-
giões, radiologistas e colonoscopistas lidar com o intestino completamente lim-
po57. Isto tem sido tão amplamente aceito como sensato e lógico, que poucos se
arriscam a operar sobre os cólons sem um preparo adequado.
De maneira simples e objetiva, podemos dividir os métodos de preparo me-
cânico dos cólons em dois tipos3,43:
a) Retrógrados — que são preparados no sentido inverso ao trânsito intesti-
nal, quase sempre associados a uma dieta e laxantes orais. São denominados mé-
todos convencionais.
b) Anterógrados — que se fazem no sentido normal do trânsito intestinal.
O método de escolha nos dias atuais para limpeza intestinal, seja para exa-
mes diagnósticos como colonoscopia, seja para cirurgia colorretal, é o método
anterógrado, mais especificamente o oral. Consiste na ingestão de laxativos as-
sociados a substâncias que exercem poder osmótico na luz intestinal, de volume
líquido variável de acordo com o tipo de solução, até que se obtenha evacuação
líquida, livre de resíduos fecais67. A intensidade do preparo varia de acordo com
a necessidade. Em qualquer tipo de preparo, uma dieta livre de resíduos vegetais
por um ou dois dias antes do procedimento é de fundamental importância.
184
Para o enema opaco, não é necessário a ingestão de soluções osmóticas além
de laxativos de contato. Para colonoscopia e cirurgia, a mucosa intestinal livre
de resíduos fecais é primordial1,32,43, embora uma minoria conteste tal afirmati-
va no que se refere às operações colorretais, desde que sejam utilizados antibió-
ticos de forma profilática e terapêutica13,24,42,74.
A preparação retrógrada, feita por clisteres ou enemas de soluções salinas,
está em progressivo desuso, sendo reservada para situações especiais. Alguns
centros ainda utilizam o esquema clássico de Nichols63 combinando a prepara-
ção retrógrada com os antibióticos orais eritromicina e neomicina.
Entre os métodos anterógrados, os mais utilizados são o manitol a 10%, so-
lução eletrolítica de polietilenoglicol (SEPEG) e fosfo-soda.
A solução de lactulose a 10% tem sido por nós utilizada com resultados se-
melhantes e com algumas vantagens em relação a alguns outros métodos orais27.
MÉTODO RETRÓGRADO (CONVENCIONAL)
Muito utilizado de 1950 a 1970, consistia em: dieta pobre em resíduos; uso
de laxantes, catárticos ou purgativos; e clisteres.
A dieta era pobre em resíduos e prolongada (quatro a sete dias).
Vários tipos de catárticos, laxantes ou purgativos associados a enemas fo-
ram utilizados por muitos cirurgiões no preparo de seus pacientes. Assim o óleo
de rícino em doses de 60 a 80ml era ministrado dois dias antes do procedimento
cirúrgico sendo por nós abandonado pelo sabor insuportável e nauseante.
O sulfato de sódio ou magnésio foi por nós utilizado em doses totais de 25 a
30g ou em frações de 5g ministradas de quatro em quatro horas até o início de
uma diarréia profusa.
Também nós utilizamos de óleos minerais na dose de 15ml, três a quatro ve-
zes ao dia com a intenção de amolecer as fezes e facilitar a sua exoneração.
Os enemas, geralmente soluções salinas ou glicerinadas, eram utilizados vá-
rias vezes ao dia até a emissão de líquido claro e sem resíduos.
Os resultados quanto a limpeza e vacuidade dos cólons e reto eram na maio-
ria bastante satisfatórios.
Entretanto o preparo assim realizado demandava vários dias, causava des-
conforto ao enfermo, alterações de seu equilíbrio hidrossalino56 e sobrecarrega-
va a enfermagem. Tornou-se economicamente inviável mas ainda hoje alguns
serviços o preconizam47,76,77.
MÉTODOS ANTERÓGRADOS
Lavagem Intestinal por Sonda Nasogástrica
A metodologia de preparo de cólon de forma anterógrada teve início em
1973 com a lavagem intestinal por sonda nasogástrica39. Também conhecida por
lavagem gastroenterocólica ou total, foi idealizada a partir de estudos prelimina-
res para investigação do fluxo de íons no cólon54,55, baseado no conceito de que
185
a capacidade limitada de absorção intestinal de água durante a irrigação com
grandes volumes de solução salina em curto intervalo de tempo promove diar-
réia com exoneração total do conteúdo cólico21,54.
Caracterizada pela infusão por sonda nasogástrica de grandes volumes de
solução salina isotônica (10 a 12 litros) aquecida a 35°C, contendo aproximada-
mente 100mEq de sódio/litro na forma de cloreto e bicarbonato, além de cloreto
de potássio, produziu excelentes resultados em qualidade de limpeza58. Efeitos
adversos caracterizados por um alto grau de intolerância e sobrecarga hidroele-
trolítica foram verificados com freqüência32, uma vez que 15% do volume in-
fundido era absorvido e lentamente eliminado por via urinária. Foi demonstrado
que o novo método era mais tolerado que o clássico e que seu maior incômodo
consistia na utilização de sonda nasogástrica16. O método era contra-indicado
nos portadores de colites agudas, megacólon e tumores obstrutivos do intestino
grosso43 e considerado no mínimo arriscado em pacientes idosos, cardiopatas,
hepatopatas e nefropatas32.
Também o manitol foi empregado na irrigação intestinal através de sonda
nasogástrica, em volume de 5.000ml a 4% para evacuação de melena em pacien-
tes cirróticos38 bem como no preparo para cirurgia colorretal, explorações radio-
lógicas e endoscópicas14. Donovan22 et al. e Minervini et al.58, em 1980, utiliza-
ram o manitol como agente osmótico imediatamente antes das irrigações sali-
nas, possibilitando a redução do volume de infusão e da retenção de água e sódio
que invariavelmente se fazia presente. Estudos mais pormenorizados com a as-
sociação de osmóticos, desta vez com o polietilenoglicol (PEG), realizados por
Davis et al., em 198018, concluíram haver inibição da retenção de água e eletróli-
tos nas perfusões intestinais mesmo com grandes volumes.
O método certamente sempre fora mais eficiente que o método retrógrado
mas muito mal aceito pelos pacientes15. Para alguns, se a sondagem nasogástrica
não fosse tão mal tolerada, o uso de agentes osmóticos combinados a soluções
salinas se constituiria no método de preparo do cólon ideal50.
Soluções Salinas
A maior objeção à irrigação total foi o uso da sonda nasogástrica. Por esta
razão, Levy et al.53 propuseram, em 1976, a ingestão de solução eletrolítica em
volume semelhante outrora infundido por sonda nasogástrica, empregando-a no
preparo de enemas baritados. Uma redução do volume a ser ingerido para
3.500ml da solução associado a uso de metoclopramida oral diminuiu significa-
tivamente os efeitos adversos71, e a limpeza intestinal apresentou boa qualidade
em 90% dos casos.
186
Manitol
187
Em nosso meio Patrício67 observou vantagens relacionadas à tolerabilidade
e eficiência do PEG sobre o método convencional como preparo de cirurgia co-
lorretal eletiva em pacientes com ou sem suboclusão. Desde então, o preparo de
cólon para cirurgia com PEG tornou-se a rotina em nossa instituição (Área de
Coloproctologia do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médi-
cas da Santa Casa de São Paulo) até a introdução das soluções de lactulose por
nós iniciadas em 1993.
Laxativos Orais
Uma grande variedade de laxativos orais31 tem sido utilizada no preparo in-
testinal. Constituem-se em componentes fundamentais associados à dieta sem
resíduos tanto na preparação retrógrada quanto nos diversos métodos orais.
Mais recentemente têm sido empregados de forma isolada, e pelo menos dois
compostos merecem maior destaque: o picossulfato de sódio associado ao citra-
to ou sulfato de magnésio (Picolax®) e o bifosfato de sódio, conhecido por fos-
fo-soda oral (Fleet Phospho-Soda®).
Meio milhão de doses de Picolax, aproximadamente, são utilizadas por ano
na Inglaterra no preparo de cólon para cirurgia, radiologia contrastada dos có-
lons ou colonoscopia, com altos índices de qualidade de limpeza intestinal51.
Em nosso meio, constatou-se alta eficiência com produto semelhante, o sulfato
de sódio por via oral (Solução de Glauber), ressaltando-se o encontro de volume
residual cólico reduzido em cirurgia colorretal68.
A fosfo-soda foi de início utilizada por via oral na preparação do cólon por
Vanner et al. em 1990, que referiram excelentes resultados quanto à qualidade
de limpeza e menores índices de efeitos adversos quando comparada ao PEG84.
Um dos inconvenientes relatados diz respeito à formação de bolhas de gás que
dificultam o exame endoscópico, problema contornado com a adição de simeti-
cone à solução de preparo78.
A maior vantagem do método, é a boa tolerabilidade, pois pequenos volu-
mes são necessários para o preparo do cólon. Recomenda-se a ingestão dos 90ml
padronizados da forma comercial da fosfo-soda em dose única na véspera da ci-
rurgia ou algumas horas antes do exame endoscópico34.
Este produto não é comercializado em nosso meio. Oliveira e Zuccaro65 uti-
lizaram a solução de enema salino (fleet) por via oral na dosagem de 240ml diluí-
dos em 200ml de suco coado e obtiveram bons resultados no preparo de cólon
para colonoscopia.
Lactulose
A idéia do uso da solução de lactulose (Lactulona®) como opção de preparo
do cólon pelo nosso grupo partiu do mesmo raciocínio feito para o manitol como
188
agente osmótico na lavagem intestinal anterógrada. Inicialmente empregado
(1964) para evacuação de melena em pacientes cirróticos na prevenção da ence-
falopatia hepática40,41, é inovação recente a sua utilização para exoneração de
fezes normais do lúmen cólico com finalidade de limpeza intestinal para colo-
noscopia e com potencial semelhante para preparação pré-operatória27-30. Estu-
dos mais pormenorizados comprovaram que o uso de lactulose promove queda
dos níveis séricos de amônia por aumento da sua excreção, em decorrência da
acidificação intestinal66, proveniente da lise da lactulose em produtos ácidos a
partir de sua metabolização por bactérias sacarolíticas (Lactobacillus sp.). Esta
acidificação intestinal ocorre principalmente no ceco10, promovendo efeito la-
xante e aceleração do trânsito por estímulo da motilidade intestinal. Um segundo
efeito desta acidificação orgânica do cólon é o aumento da pressão osmótica in-
traluminar. A quantidade de ácidos produzidos é proporcional às doses empre-
gadas e tem poder osmótico. Cada 30 mililitros de xarope de lactulose ingerido
corresponde, após duas horas, a aumento do volume fecal em torno de 300 mili-
litros8.
Como a acidificação a partir da metabolização da lactulose ocorre apenas do
ceco em diante, seu efeito osmótico é seletivo, podendo significar uma grande
vantagem em relação aos outros agentes osmóticos utilizados para preparo do
cólon, que atuam desde as porções iniciais do intestino delgado, causando desi-
dratação e edema de mucosa significativos.
Em nossa experiência, o uso de lactulose a 10% como preparo para colonos-
copia27 em estudo prospectivo e comparativo revelou ser muito proveitoso, com
taxas de eficácia em torno de 96% e tolerabilidade à ingestão da solução melhor
que o manitol a 10%.
Qualquer que seja o tipo de preparo oral, são necessários os seguintes cuida-
dos, considerando-se o procedimento operatório às 7:30 horas.
a) Antevéspera da operação: dieta geral sem resíduos no desjejum e no al-
moço e dieta leve sem resíduos no jantar.
b) Véspera da operação:
1) Dieta líquida sem resíduos até as 10 horas.
2) Bisacordil 5mg (dulcolax) 4 cps VO às 11 horas.
3) Solução de preparo às 18 horas. Tomar toda a solução em 60 minutos,
permitindo a ingestão de água ou chá até as 23 horas.
189
Jejum absoluto após as 23 horas. Utilizar antiemético parenteral conforme a
necessidade (Metoclopramida 10mg intramuscular se o paciente tiver náuseas
ou vômitos).
Casos Especiais
190
segundo as técnicas de Muir59 ou Dudley23. São procedimentos tediosos e ainda
controversos.
Os raios laser (Ng: Yag) têm sido indicados para recanalizar tumores obs-
trutivos do cólon esquerdo e do reto25.
Recentemente o uso de stents, próteses metálicas auto-expansivas19,81 tem
sido introduzido na estenose tumoral para recanalizá-la, desobstruí-la e permitir
o preparo adequado para cirurgia.
Os dois últimos procedimentos ainda não aceitos como rotina pela comuni-
dade cirúrgica representam uma importante opção futura.
Oclusão no Megacólon
191
Preparo dos Cólons com Agentes Antimicrobianos (Antibióticos
e Quimioterápicos)
192
resultados foram bons, mas o procedimento era bastante oneroso e de longa du-
ração.
A associação de eritromicina e neomicina, 1g de cada em três tomadas, 19
horas antes da cirurgia foi também coroada com bons resultados. Entretanto,
eram freqüentes as náuseas e vômitos por intolerância principalmente à eritro-
micina.
O uso oral do metronidazol 400mg de seis em seis horas durante 48 horas
também não foi satisfatório. A incidência de infecção chegou a 23,3%.
Os resultados com o tinidazol, 500mg de seis e seis horas durante 48 horas
também não foram satisfatórios. A incidência de infecção chegou a 50%.
Os melhores resultados foram obtidos com a utilização da associação de clo-
ranfenicol e amicacina endovenosa durante 48 horas ou sete dias, respectiva-
mente a incidência da infecção foi 8,3% e 14%.
A cefoxitina, 1g endovenosa de oito em oito horas durante 24 horas, mos-
trou um índice de 12,5% de infecção.
O preparo mecânico sem uso de antibióticos em pequena experiência (13 ca-
sos) e que pelos resultados e respeito à ética foram interrompidos mostrou a inci-
dência de 61,5% de infecção.
O ideal seria conseguir taxas menores que 10% de infecção.
Devemos lembrar que nos casos de amputação abdominoperineal a infecção
da ferida perineal é muito mais freqüente, elevando muito os resultados globais e
índices de infecção.
Os resultados com incisões abdominais são melhores. A incidência de infec-
ção estaria entre 4% a 6%.
A Tabela 16.1 mostra de forma esquemática os resultados obtidos por nós
com vários esquemas antimicrobianos.
193
Tabela 16.1
Preparo do Cólon — Índice de Infecção — Vários Métodos
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197
Cicatrizações da Ferida
17 Operatória
INTRODUÇÃO
A ferida operatória constitui-se em uma solução de continuidade causada
por uma injúria em um tecido. E a cicatriz, da maneira pela qual este tecido se re-
para, através de uma série de fenômenos celulares, fisiológicos e bioquímicos
que se processam até que ocorra a sua estabilização.
O objetivo seria a cicatrização da homeostase, porém, o grau de síntese do
tecido fibroso neste processo pode ser prejudicial até o ponto de destruir o pró-
prio organismo que deveria preservar. Ou seja, o reparo da parte lesada, pode
ocorrer de duas formas: a regeneração (vem do latim regenerare, que significa
tornar a gerar, reproduzir o que está destruído), que é a substituição da parte lesa-
da por células parenquimatosas do mesmo tipo, geralmente sem deixar marcas,
ou então pela cicatrização propriamente dita, que é a substituição por um tecido
conjuntivo, deixando uma marca permanente. Em termos práticos, a cicatriz do
tecido cardíaco no enfarto, a cicatriz do fígado tipo cirrose, a cicatriz tipo hiper-
trófica e quelóide da pele, são exemplos de cicatrizes indesejáveis, que em últi-
ma análise são uma resposta exagerada do organismo e motivo de muitos estu-
dos, pois os fenômenos que os cercam envolvem de maneira complexa um nú-
mero incontável de fatores que, inter-relacionados, geram dúvidas e nem sempre
podem ser controlados.
Este capítulo busca desenvolver um tema que seja interessante não apenas
ao cirurgião mas também ao não especialista, tentando trazer de forma clara e
objetiva os processos da fisiologia da cicatrização, dando ênfase à cicatrização
da ferida operatória (conseqüente a incisões cirúrgicas).
ASPECTOS HISTÓRICOS
Através de uma visão panorâmica observamos de maneira interessante as
mudanças de atitude dos cirurgiões no desafio de obter melhores resultados com
199
a cicatrização. Às vezes, se formos analisar de maneira contemporânea, pode
nos parecer até peculiar: nos primeiros tempos, até o início da era cristã, o médi-
co era um mero espectador, e o tratamento embasava-se na interferência míni-
ma, com a aplicação de mel e tecido limpo sobre o ferimento, aguardando sua re-
solução a custo do que se entende atualmente de cicatrização por segunda inten-
ção. Na época seguinte, com o advento da pólvora (Idade Média), os cirurgiões
assumiram uma posição mais agressiva, com o uso de óleo fervente ou metais
aquecidos sobre a ferida, prevalecia então o conceito paradoxal de que a presen-
ça de secreção purulenta era benéfica, pois supunha-se que ela acelerava a cica-
trização. Estes conceitos permaneceram estáveis até 1586, quando Ambroise
Parré retomou o princípio da interferência mínima que foi consubstanciado na
seguinte frase: “...a natureza fará a cicatrização desde que o médico não atrapa-
lhe a sua evolução”. À propositura de Parré somaram-se nesse século os concei-
tos de Halsted e Carrel, que aprimoraram técnicas de limpeza minuciosas de fe-
ridas e uso de sutura para aproximação de suas bordas. Evidenciaram-se também
dentro desta época, Lister, Pauster e Samelweiss, cujos princípios de assepsia e
anti-sepsia permitiam o controle das infecções, e por Princípios de Halsted
(princípios estes que até hoje são ensinados aos jovens estudantes de Medicina e
devem ser respeitados e observados como básicos pelo bom cirurgião).
PRINCÍPIOS DE HALSTED
— Limpeza.
— Delicadeza.
— Afrontamento de bordos.
— Boa hemostasia.
— Bom suprimento vascular.
— Evitar tensão.
— Evitar espaço morto.
Finalmente, graças às aquisições de conhecimentos em metabologia cirúrgi-
ca bioquímica e nutrição, surgiu um nova época na qual se pretende interferir na
biologia molecular, influindo na síntese das substâncias responsáveis pelos fe-
nômenos cicatriciais; entretanto, em nível local, persiste o princípio de interfe-
rência mínima. Surpreendentemente, dentre os recursos empregados no trata-
mento tópico, retomou-se o uso do açúcar e do mel (e até de subprodutos afins,
como é o caso do bio-fill, película de celulose derivada do favo de colméias, in-
dicado como substituto temporário da pele em alguns casos) para facilitar a cica-
trização, de forma idêntica àquela proposta pelos antigos egípcios.
FISIOLOGIA
Como foi dito acima, trata-se de um processo complexo e dinâmico em que
fases estão inter-relaciondas, como podemos encontrar numa etapa elementos
200
que compõem as outras, ou seja, não ocorrem eventos únicos ou isolados. No en-
tanto, o exame de todos os processos de modo simultâneo pode gerar confusão,
por isso, com finalidade didática, divide-se a cicatrização em três fases:
• Inicial ou inflamatória aguda.
• Proliferativa ou de fibroplasia.
• Maturação ou contração da ferida.
SEQÜÊNCIA DE EVENTOS
FASE DE INFLAMAÇÃO
201
de vasoconstrição que é seguido por vasodilatação, esta sim mais duradoura.
Acompanhando a vasodilatação, há um aumento da permeabilidade e conse-
qüente extravasamento de componentes plasmáticos para o foco da ferida. Esta
fase estende-se até 72 horas após a injúria.
Tais fenômenos são modulados por vasoaminas locais e sistêmicas que,
após uma injúria, são liberadas entre elas:
— Histamina: liberada pelos mastócitos, atua rapidamente, durante, no
máximo, 30 minutos.
— Serotonina: também liberada pelos mastócitos, parece ser coadjutora da
histamina — em estudos recentes, foi observado que estas substâncias
não tem importância na cicatrização no ser humano, apesar de serem im-
portantes no rato.
— Leucotaxina: liberada pela degradação enzimática da albumina, é um po-
lipeptídeo que substitui a ação da histamina e da serotonina na permeabi-
lidade capilar. Alguns autores propõem que seja responsável também
pela quimiotaxia dos leucócitos, porém este fato ainda é controverso.
— Cininas: é uma enzima plasmática, a calicreína, cliva a globulina levan-
do à formação da bradicinina e calidina. Em presença desta e de certas
frações do complemento as células locais produzem prostaglandinas.
— Prostaglandinas: principalmente PGE1, PGE2 e PGA2 são os mediado-
res bioquímicos mais importantes da cicatrização, já que atuam em to-
das as fases. São derivadas do ácido araquidônico. Estão envolvidas
com o aumento da permeabilidade capilar, com a migração e prolifera-
ção dos fibroblastos e também com a contração das feridas abertas.
— Linfocinas: são substâncias produzidas pelos linfócitos no local da feri-
da. Parece que estão associadas à fibroplasia.
— Interleucina: é sintetizada pelo complexo monócito/macrófago; leva à
produção de prostaglandinas e proteínas presentes no tecido de granula-
ção. A IL-I produzida pelos queratinócitos em resposta à injúria atua so-
bre os fibroblastos estimulando seu crescimento e induzindo a síntese de
colágeno por estas células e sobre os próprios queratinócitos também esti-
mulando seu crescimento e quimiotaxia. Estas células sofrem ainda in-
fluência do KGF (keratinocyte growth factor — fator de crescimento dos
queratinócitos). Esta indução é mediada por duas vias intracelulares que
envolvem a proteína quinase C e proteínas quinases dependentes do AMP.
Quase simultaneamente a esta fase de alterações vasculares, observa-se uma
hemocoagulação. Há formação de rede de fibrina que, além de controlar o san-
gramento, serve como superfície para a adesão e degranulação das plaquetas,
além de ser uma orientação na migração dos fibroblastos.
A degranulação das plaquetas, além de ser uma orientação na migração dos
fibroblastos, é responsável pela liberação do PDGF (platelet-derived growth
factor ou fator de crescimento derivado das plaquetas), que é de suma importân-
202
cia na modulação da proliferação de células mesenquimais; participa da quimio-
taxia dos fibroblastos e aumenta a atividade da colagenase fibroblástica. A injú-
ria celular crônica poderia produzir expressão genética irreversível, levando ao
crescimento celular desregulado e patológico.
O passo seguinte na resposta inflamatória é a fase celular. Os leucócitos ade-
rem às superfícies endoteliais e, por diapedese, chegam ao local da lesão, junta-
mente com as hemácias, proteínas plasmáticas solúveis e feixes de fibrina, que
vão formar um exsudato inflamatório altamente celular.
Inicialmente, as células inflamatórias no local da lesão são as mesmas do
sangue periférico. A quimiotaxia propriamente dita começa algumas horas
após o trauma, quando os leucócitos polimorfonucleares (PMN) constituem a
maioria das células no sítio da injúria. Os responsáveis pela migração dos
PMN são vários, incluindo os leucotrienos B4 e a fração C5 do complemento.
Já foi descrita a influência da fibronectina, que é uma proteína de alto peso mo-
lecular e é produzida por vários tipos de células (fibroblastos, monócitos e cé-
lulas endoteliais, além de outras). Em associação com a fibrina, facilita a ade-
são, migração e os processos fagocíticos dos leucócitos. Além disso, em outra
fase, esta proteína fornece o substrato primário para a organização e deposição
do colágeno. Estas substâncias produzem um gradiente químico através do
qual os PMN irão migrar, chegando ao foco da ferida. Ainda que estas células
não sejam importantes no metabolismo do colágeno, são essenciais na defesa
contra infecções.
Os neutrófilos são responsáveis pela remoção de corpos estranhos, mas rapi-
damente sofrem degeneração gordurosa e lise. Isto se torna muito importante,
pois o exsudato (visível na ferida operatória) pode ter um aspecto purulento sem
contudo necessariamente apresentar contaminação bacteriana.
Já os monócitos irão se modificar e transformar em macrófagos, que podem
manter sua atividade de fagocitose por várias semanas. Além dos derivados dos
mastócitos, os macrófagos locais também são recrutados. O macrófago chega ao
sítio da injúria celular aproximadamente 24 a 36 horas após a lesão e é uma célu-
la-chave na cura das feridas. Estas células não somente fagocitam restos celula-
res e bactérias, como também produzem várias substâncias importantes no pro-
cesso de cicatrização. Algumas destas substâncias são: um fator similar ao
PDGF, um inibidor da síntese do colágeno ao nível da transcrição, além de fibro-
nectina e do próprio colágeno. Já foi proposto que a concentração de produtos
dos macrófagos é capaz de modular a proliferação do colágeno.
Os linfócitos T e B são os tipos inflamatórios finais a ocupar a ferida.
Foram identificados dendrócitos, células da derme, como parte do processo
de cicatrização. Estes expresssam o fator de coagulação XIIIa — ou fator estabi-
lizador da fibrina — e têm seu número aumentado também em certas dermatoses
inflamatórias.
203
FASES DE FIBROPLASIA
204
gênio, que destrói a rede de fibrina, impedindo que grandes quantidades desta
inibam a migração dos fibroblastos. Estes cordões endoteliais canalizam-se for-
mando novos vasos sangüíneos que, junto com os fibroblastos dão aspecto ma-
croscópico do que será denominado de tecido de granulação.
Quando está produzindo colágeno ativamente, o fibroblasto é caracterizado
por um retículo endoplasmático rugoso em forma de longas cisternas comuni-
cantes com filas duplas de polissomos aderidos às membranas. Este retículo é o
local de produção de colágeno. Para que haja a produção de colágeno isto é reali-
zado pela transmissão, processamento e transferência do RNAm maduro para o
ribossomo. O RNAm então fornece o padrão necessário para ocorrer a síntese.
Apesar de todos os tipos celulares terem a informação genética para a produção
de colágeno, isto raramente ocorre. Quando presente, pode gerar patologias gra-
ves, como a síndrome de Ehlers-Danlos.
Conforme vai diminuindo a população de fibroblastos, aumenta a quantida-
de de fibras colágenas, que vão dominando a ferida. O depósito de colágeno ini-
cia-se no quarto ou quinto dia após a lesão e promove a formação de uma densa
estrutura maciça: a cicatriz que une assim os bordos lesados.
FASE DE MATURAÇÃO
205
dos de repouso; portanto, em condições de baixos níveis séricos de corticóides e
adrenalina.
Já foi descrita também a regulação hormonal da epitelização, controlada
pela epibolina, que seria necessária para a migração. O EGF (epidermal growth
factor — fator de crescimento epidermal) seria necessário para a mitose.
Até o momento, não há descrição de nenhuma substância capaz de acelerar a
epitelização artificialmente. O que se sabe é que o epitélio migra melhor em su-
perfícies úmidas, assépticas, livres de traumas e protegidas da destruição por
agentes químicos em geral, além da necessidade de um bom suprimento de oxi-
gênio tecidual (área onde se desenvolvem rapidamente a pesquisa e o desenvol-
vimento da utilização de técnicas de medicina hiperbárica) sempre considerando
também o indivíduo ter condições nutricionais adequadas.
Em feridas onde a inibição por contato não ocorre, seja porque a área é mui-
to grande ou por estar repetidamente traumatizada, haverá constante estímulo
para diferenciação celular. Com isso, algumas células podem começar a apre-
sentar características anormais, já que a taxa de mitoses será alta, criando um es-
tado pré-neoplásico. Assim, feridas crônicas podem ter como desfecho o apare-
cimento de carcinoma epidermóide (conhecido como úlceras de “Marjolin”). O
tempo para a formação deste irá depender do tipo de ferida e do agente causador
desta.
Nesta fase (maturação) observamos também a regressão endotelial, que
pode ser confirmada pela observação da coloração local, que passa do rosado
para o esbranquiçado.
Um evento que ocorre em feridas abertas, com perda de substância, é a con-
tração. Este é um processo biológico que diminui as dimensões da ferida (e de-
ve-se acrescentar é diferente de contratura, que vem a ser o resultado da contra-
ção). A contração inicia-se após dois ou três dias, quando as bordas da lesão co-
meçam a mover-se em direção centrípeta. Neste processo não há formação da
pele nova e sim estiramento da pele já existente, muitas vezes levando a condi-
ções patológicas graves, tipo retrações cicatriciais (exemplo: retração mentoto-
rácica como seqüela tardia nas queimaduras cervicais, ou então na forma de bri-
das nas cicatrizes cirúrgicas mal planejadas).
A contração pode ser inibida pelo EGF e estimulado pelo TGFβ1 (transfor-
ming growth factor β1 — fator de crescimento transformante β1). Estudos com-
provaram que há contração até mesmo no feto e que esta é tanto maior quanto for
a idade gestacional.
Cerca de 30% dos fibroblastos presentes no tecido de granulação diferenci-
am-se numa população celular específica, que tem comportamento análogo ao
das células musculares lisas, conferem capacidade contrátil ao tecido de granu-
lação, por conseguinte, reduzem a área cruenta da ferida nos processos por cica-
trização em segunda intenção. É conhecido como miofibroblasto, um fibroblas-
to modificado que possui retículo endoplasmático bem desenvolvido e várias ca-
206
racterísticas da célula muscular lisa. Este foi identificado em quase todos os ti-
pos de tecido em contração desde a fáscia palmar na contratura de Dupuytren até
cápsulas ao redor de implantes de silicone. Também é produzido na fase de fi-
broplasia e acumula-se até esta fase, quando inicia a sua função.
O colágeno é uma macromolécula de 300mm de comprimento e 15mm de
largura, peso molecular de 270.000. É composto de três cadeias polipeptídicas
alternantes, na sequência: prolina — glicina — hidroxipolina; lisina — glicina
— hidroxilisina. As hidroxilações da prolina e da lisina ocorrem no interior do
fibroblasto estão dependentes de certos co-fatores, como pO2, ácido ascórbico,
íons ferrosos, α-cetoglutarato e radical sulfidrila. Há necessidade também de en-
zimas, como a prolil hidroxiliase. Com essas hidroxilações, forma-se a estrutura
primária ou protocolágeno, que é excretada pelos fibroblastos, e será clivada por
uma peptidase, formando, assim, a estrutura secundária ou procolágeno. Este é
constituído por três cadeias, cada uma com cerca de 1.000 aminoácidos. Há duas
cadeias tipo α1 e uma cadeia tipo α2. O tropocolágeno, estrutura terciária, é o ar-
ranjo destas três cadeias em uma hélice, com pontes entre elas. Estas pontes são
polimerização do tropocolágeno forma-se então a estrutura quaternária, os fila-
mentos, fibrilas e fibras colágenas. São estes que irão fornecer a força tensora da
cicatriz. Esta força depende da elasticidade, tamanho e forma da cicatriz, e sua
organização física é extremamente importante.
O arranjo das cadeias pode-se dar de várias formas, resultando em pelo me-
nos 10 tipos diferentes de colágeno, que ocorrem em maior ou menor quantidade
dependendo do tecido. A pele, por exemplo, tem 80% de colágeno tipo I e 20%
do tipo III. As artérias, que são mais elásticas, por exemplo, têm 80% do tipo III
e 20 % do tipo I.
Pesquisas recentes demonstram que, nas feridas fetais, a produção de colá-
geno tipo I é 3 a 5 dias após a lesão. Já no adulto, este pico se dá no sétimo dia.
Descobriu-se que, no feto, isto ocorre por aumento do número de células na área
da ferida, enquanto que no adulto há indução do gen do procolágeno tipo I e mi-
gração de fibroblastos.
Para que haja um processo normal de cicatrização, deve haver um equilíbrio
entre a produção e a degradação do colágeno. Se este equilíbrio se perder, haverá
reparação tissular anormal. Se houver diminuição na degradação, ocorrerá a for-
mação de quelóides e cicatrizes hipertróficas; se houver aumento desta, ocorrerá
uma falha na cura ou deiscência da ferida.
A responsável pela degradação do colágeno é a colagenase, que o despoli-
meriza. Esta enzima, foi identificada em praticamente todos os tecidos, sabe-se
na verdade que não se trata de apenas uma enzima, mas sim, de um sistema cola-
genese, produzido por células variadas e com funções diferenciadas em circuns-
tâncias diversas. A colagenase dos mamíferos cliva o colágeno em dois frag-
mentos, Tca e TCb, que são desnaturados a 37ºC e podem ainda ser quebrados até
ficarem solúveis na circulação plasmática. A hidroxiprolina e a hidroxilisina são
207
encontradas quase que exclusivamente no colágeno, havendo ainda uma peque-
na parcela na fração C1q do complemento e na enzima acetilcolinesterase. Se es-
tas últimas não estiverem presentes, os níveis séricos destas substâncias são in-
dicativos da degradação do colágeno.
O antigo conceito de colágeno como uma substância estática e adinâmica é
errôneo. Na verdade, o colágeno presente em uma cicatriz de ferida é uma estru-
tura relativamente dinâmica que, como outros tecidos, sofre remodelação e
substituição constantemente. Após o 42º dia de cicatrização, não há um aumento
mensurável na quantidade de colágeno em uma ferida em cicatrização, e, não
obstante, a cicatriz continua a adquirir força durante pelo menos dois anos. Por-
tanto, devem estar ocorrendo alterações no colágeno, como, por exemplo, o au-
mento na formação de ligações cruzadas e o rearranjo das fibras e fibrilas. O
tempo de remodelação do colágeno em uma ferida em cicatrização é extenso. A
maior parte do colágeno recém-sintetizado é substituída à medida que a cicatriz
amadurece e, literalmente, todo o colágeno presente em um transplante fibroso,
como um enxerto cutâneo, será removido e finalmente substituído.
Entre as fibras do tecido conjuntivo, existe um material viscoso, amorfo, se-
melhante a um gel, denominado substância fundamental ou matriz, que é elabo-
rada pelos fibroblastos. A substância fundamental contém água, eletrólitos e um
complexo de ácidos mucopolissacarídeos. Há um conjunto de hipóteses para ex-
plicar sua função (entre elas aquelas que envolvem estas substâncias com a pro-
dução, orientação e comprimento da fibracolágena).
É importante ressaltar que a síntese de colágeno não tem relação direta com
o ganho de força da ferida. Esta irá resultar da organização espacial do colágeno
e de suas ligações entre as moléculas. Apesar de haver um ganho de força signi-
ficativo, que se inicia imediatamente após a sutura e é máximo principalmente
entre a 3ª e 8ª semana, a ferida jamais terá a mesma tensão da pele normal (duas
semanas após a lesão, a cicatriz é frágil, tem 5% da sua força tênsil normal, esta
aumenta progressivamente até um ano após a lesão, mas terá sempre no máximo
80% da força tênsil normal). Além disso, a cicatrização converte tecidos maleá-
veis e elásticos a massas inelásticas, duras e quebradiças.
A concentração de miofibroblastos também é importante, pois também de-
termina a força tênsil da cicatriz.
As cicatrizes, sejam profundas ou superficiais, modificam-se lenta e pro-
gressivamente durante os anos, modificações estas na sua massa e forma. A ex-
plicação para este fenômeno ainda não é conhecida, mas parece resultar da alte-
ração das fibras colágenas ou de novos padrões arquiteturais que estas desenvol-
vem com o tempo.
208
Em nível de pele, onde a fase de maturação foi mais bem estudada, a recons-
trução da continuidade associa-se à epitelização. Assim, 10 a 15 horas após a le-
são, as células epiteliais da margem da ferida migram sobre o tecido subjacente
com movimentos amebóides, formando camadas estratificadas, de modo que no
prazo de quatro a cinco dias, em condições ideais de assepsia, identificamos um
estrato granuloso e uma membrana basal na interface dermoepidérmica. Em tor-
no do 10º dia há um estrato córneo, que, comumente, é mais espesso do que o da
pele sã circunjacente.
O processo de epitelização é controlado por um mediador bioquímico deno-
minado chalona, cuja estrutura é de um complexo glicoprotéico produzido pelas
próprias células epiteliais. A atividade da chalona é interdependente dos hormô-
nios da supra-renal; com efeito, acurados estudos histoquímicos revelam que a
mitose epitelial é estimulada pela chalona, cuja atuação é mais efetiva nos perío-
dos de repouso; portanto, em condições de baixos níveis de corticóide e adrena-
lina.
Nas cicatrizes cutâneas a regressão endotelial pode ser confirmada pela ob-
servação da coloração local, que gradualmente, passa do matiz rosado para o es-
branquiçado graças à redução da vasculatura do tecido conetivo.
DEFICIÊNCIA PROTÉICA
Como regra geral, todo paciente cirúrgico apresenta inanição por um inter-
valo de tempo variável. Embora raramente haja comprometimento do perfil pro-
téico, essa situação deve ser criteriosamente observada.
Em casos graves — após traumatismos severos de doentes portadores de do-
enças consumptivas — a reserva protéica diminui, consideravelmente, acarre-
tando danos à reparação cicatricial.
Conquanto os recursos e as técnicas de reposição nutricial estejam adianta-
dos, a depleção protéica favorece e agrava-se pela sobreposição de infecções nos
estados patológicos aludidos.
No local da ferida a presença de exsudato inflamatório exuberante propicia a
instalação de infecções que, em termos finais, compromete a cicatrização pela
destruição do colágeno recém-formado. Essa situação, sobretudo no grande quei-
mado, contribui para o aumento da perda protéica.
209
Experimentalmente, comprovou-se que a desnutrição protéica retarda a
contração das feridas abertas por alteração do substrato morfológico responsá-
vel pela reparação; todavia, essa situação reverte-se à normalidade pela introdu-
ção de dieta com níveis protéicos adequados.
Como foi dito no início, alguns conceitos têm muita importância no manuseio
das feridas; à guisa de ilustração, citamos abaixo os Princípios de Halsted (prin-
cípios estes que até hoje são ensinados aos jovens estudantes de Medicina e de-
vem ser respeitados e observados como básicos pelo bom cirurgião).
— Limpeza.
— Delicadeza.
— Afrontamento de bordos.
— Boa hemostasia.
— Boa vascularização.
— Evitar tensão.
— Evitar espaço morto.
Além destes, outros fatores têm influência. Citaremos alguns.
OXIGENAÇÃO
Deficiência de Vitamina C
210
Vitamina A e Cortisona
Complexo B
Vitamina E
Zinco
Ferro
211
de oxigênio, intervêm diretamente na produção de colágeno, eis que concorrem
a alterações metabólicas e facilitam instalação de infecções.
Choque e Septicemia
Tanto o choque, independentemente de sua etiologia, quanto a septicemia,
têm como tônica a hipóxia e a acidose, que alteram a função celular e, em temos
finais, modificam os processos que disciplinam as diversas fases da cicatrização.
Insuficiência Renal
O portador de insuficiência renal freqüentemente apresenta acidose em
graus variáveis, podendo ter alteração da função celular, conseqüentemente,
com eventuais falhas na cicatrização. Além disso, in vitro, as soluções concen-
tradas de uréia quebram a estrutura helicoidal do colágeno com precipitação das
proteínas componentes da fibra.
Insuficiência Hepática
A insuficiência hepática contribui para a diminuição da síntese das proteí-
nas, cujas conseqüências, em relação à cicatrização das feridas, já foram ante-
riormente citadas.
Diabetes Melito
A microangiopatia diabética leva à hipóxia tecidual e obstrução arterial.
Uma hiperglicemia (acima de 200mg%) pode levar a alterações celulares (defi-
ciência de função dos leucócitos diminuindo a quimiotaxia, fagocitose).
Irradiação
A irradiação local de uma ferida, com doses em torno de 1.000 rad, retarda a
cicatrização. Doses superiores a 3.000 rad destroem irreversivelmente o tecido
de granulação.
Quando todo o corpo é irradiado há diminuição da força tênsil da cicatriz.
212
tros fenômenos gerais, como choque e septicemia, que comprometem ainda
mais a cicatrização da ferida. Esses pacientes devem receber, se possível, ade-
quada atenção pré-operatória, como transfusões de sangue e plaquetas, o ambi-
ente o mais asséptico possível, prévia esterilização do intestino etc.
Aspirina e Antiinflamatório
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213
Cuidados com a Ferida
18 Operatória — Infecção
INTRODUÇÃO
As feridas representam um apanágio das operações. O trauma tecidual desen-
cadeia uma série de processos e ativa várias células e elementos que visam à restau-
ração funcional do órgão acometido. Cabe ao cirurgião reconhecer estes fenôme-
nos, sua seqüência e cuidados nas diferentes fases, para melhor contribuir para a
rápida e plena recuperação do paciente. Vários fatores podem interferir negativa-
mente sobre este processo, sendo a infecção um dos mais importantes por estar re-
lacionado a aumento de morbidade e mortalidade.
HEMOSTASIA E INFLAMAÇÃO
Hemostasia
O trauma tecidual desencadeia alguns fenômenos e ativa células e elemen-
tos celulares. O dano tecidual leva à liberação de grande número de mediadores
215
químicos e substâncias mensageiras intercelulares chamadas citocinas. Estas
moléculas podem agir tanto como fatores estimulantes quanto inibitórios e dar
início a uma complexa série de eventos inter-relacionados que levam à hemosta-
sia e cicatrização53.
Quando os vasos sangüíneos são lesados, as plaquetas, ativadas pelo coláge-
no exposto na parede dos vasos, tornam-se viscosas e aderem à parede e entre si
formando agregados. As plaquetas se agregam por ação do tromboxane A2, uma
prostaglandina sintetizada por plaquetas ativadas. Elas então formam tampões
temporários no sítio de lesão. Prostaciclinas produzidas por células endoteliais
previnem a aderência de plaquetas à superfície endotelial não lesada. Plaquetas
também liberam serotonina e outros vasoconstritores em resposta ao trauma.
Isto ajuda a limitar a perda sangüínea imediata por constrição dos vasos lesa-
dos78.
O trauma do endotélio vascular também desencadeia a cascata de coagula-
ção. Parede vascular lesada, plaquetas e fatores de coagulação são os três com-
ponentes que interagem na formação do coágulo. O mecanismo de coagulação é
desenvolvido de modo que o produto final de cada reação na cascata ativa a pró-
xima reação. Íons de cálcio e fosfolipídeos são necessários para que ocorram
muitos estágios da coagulação. Estas reações produzem trombina, que forma o
coágulo por converter fibrinogênio em fibrina. A fibrina forma uma rede que age
retendo elementos celulares do sangue. A trama de fibrina ajuda também a esta-
bilizar o tampão de plaquetas46,79.
A cascata de coagulação é precisamente regulada. Uma vez formado o coá-
gulo em resposta ao trauma e servido ao seu propósito ele é lisado por plasmina,
uma protease sérica que age sobre a fibrina. A plasmina é formada por ativação
de plasminogênio presente no plasma. O exato papel dos produtos da degrada-
ção de fibrina e outros mediadores liberados nesta fase sobre a cicatrização ain-
da não está estabelecido5.
Inflamação
216
Várias células são atraídas à área da ferida e ativadas para cumprirem seus
papéis no processo cicatricial. As primeiras células a chegarem à ferida são os
neutrófilos, que são atraídos por substâncias como complemento, interleuci-
na-1, fator de necrose tumoral 4 — α (FNT-α), fator transformador do cresci-
mento — β, (FTC-β), fator plaquetário — e produtos bacterianos79.
Após cerca de 72 horas da lesão, os macrófagos se tornam as células domi-
nantes, fagocitando células mortas e bactérias. Mais tardiamente, em torno do
sexto dia pós-lesão, os linfócitos se tornam as células de defesa predominantes
na ferida71,79.
A contribuição de cada população celular no processo cicatricial é variável.
Macrófagos e linfócitos exercem papéis essenciais porém, desde que não haja
contaminação bacteriana, os neutrófilos não são fundamentais para a cicatriza-
ção. Isto decorre de que o seu papel na fagocitose e defesa antimicrobiana pode
ser suprido pelos macrófagos48,69.
Macrófagos ativados cumprem várias funções na cicatrização, como71,79:
— na angiogênese, via liberação de fatores de crescimento e citocinas
como o FNT-α;
— no recrutamento e ativação de células como os linfócitos, que liberarão
linfocinas como interferons e interleucinas, e fibroblastos que participa-
rão na síntese de colágeno;
— na regulação da síntese da matriz celular, via fatores de crescimento, ci-
tocinas, prostaglandinas e outras enzimas como arginase e colagenase;
— no desbridamento da ferida, tanto por fagocitose quanto pela liberação
de enzimas como colagenase e elastase;
— na função antimicrobiana, pela produção de óxido nítrico e outros radi-
cais livres.
A fase inflamatória afeta de modo decisivo as etapas seguintes da cicatriza-
ção. A diminuição do estímulo inflamatório resulta em quimiotaxia diminuída e
fagocitose alterada, o que facilita o aparecimento de infecções e redução na de-
posição de colágeno.
PROLIFERAÇÃO
A fase de proliferação de novos tecidos segue-se à resposta inflamatória.
Inicia-se em torno do quarto dia pós-trauma e perdura, em geral, até o décimo
quarto dia71,79.
Esta fase envolve três processos:
— granulação, que leva à formação de uma rede de novos vasos sangüíneos
(angiogênese) em uma matriz rica em colágeno;
— contração, que contribui para a diminuição do tamanho da ferida;
— e epitelização, que recobre a ferida por epitélio regenerado, habitual-
mente partindo de suas margens para seu centro.
217
Granulação
Contração
Epitelização
218
Alguns fatores podem interferir sobre a epitelização tais como a presença e
tipo de curativos, a temperatura e o pH. A epitelização pode ser retardada pela
presença de corpos estranhos, dessecação e infecção10,59.
MATURAÇÃO OU REMODELAGEM
Esta fase se inicia em torno do oitavo dia pós-lesão e permanece por tempo
variável. O principal aspecto desta fase é a deposição de colágeno, cuja síntese
encontra-se aumentada por pelo menos quatro a cinco semanas. Muitas altera-
ções de cicatrização se manifestarão, do ponto de vista clínico, neste período.
Acontecerão seja por deficiência de deposição de colágeno, como no diabetes ou
uso crônico de corticosteróides, como também por síntese excessiva de coláge-
no nos casos de cicatriz hipertrófica e de quelóides71,79.
Inicialmente a matriz tecidual ao nível da ferida é composta de fibrina e fi-
bronectina. Glicosaminoglicanas e proteoglicanas, e também outras proteínas,
são em seguida sintetizadas e representam o suporte para a deposição de outros
componentes. Em seqüência o colágeno torna-se a proteína predominante na
área da ferida79.
O colágeno tipo I é o principal componente da pele normal (80% a 90%), en-
quanto o tipo III é encontrado em menor quantidade (10% a 20%). Em tecido de
granulação o colágeno tipo III está aumentado (30%), enquanto que na cicatriz
madura esta proporção diminui (10%). O papel desempenhado pela deposição
aumentada de colágeno tipo III na fase inicial da cicatrização não está esclareci-
do, porém é reconhecido que ele não contribui para a resistência da ferida59,79.
Na maturação o colágeno tipo III, que iniciou sua formação durante a fase de
proliferação, será convertido em tipo I e submetido a extenso processo de reor-
ganização. Uma vez que a base de colágeno esteja estabelecida, o conteúdo total
de colágeno permanece constante, porém, trata-se de um balanço dinâmico em
que está ocorrendo constantemente síntese e degradação. Com o progredir do
processo de remodelagem a atividade celular se reduz e o número de vasos san-
güíneos na área reparada diminui10,59,71,79.
219
É o método habitualmente utilizado após operações, especialmente nos ca-
sos de operações limpas. A aproximação das bordas poderá ser feita com pontos,
grampos ou mesmo tiras de adesivos que permitam o perfeito apropinquamento
das bordas.
Este é o tipo de cicatrização que ocorrerá após perdas de pele ou tecidos mo-
les, em que os processos biológicos naturais se desenvolverão sem intervenção
cirúrgica. É o procedimento em que a ferida é deixada aberta sendo a contração o
fenômeno mais importante neste tipo de cicatrização8,71.
Esta opção é também utilizada nos casos de feridas maciçamente infectadas,
como nos casos de drenagem de abscessos, e após grandes desbridamentos de
áreas necrosadas.
A cicatrização por segunda intenção pode demorar semanas ou meses, de-
pendendo do local e tamanho do defeito.
220
A FERIDA CIRÚRGICA
PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO
221
rariamente38. Foi também demonstrado que a utilização de vitamina A pode cor-
rigir os efeitos deletérios da radiação e do diabetes49,67.
A radioterapia e a quimioterapia interferem no processo cicatricial, especi-
almente nas fases inflamatória e proliferativa, devendo portanto, sempre que
possível, serem iniciadas após o vigésimo primeiro dia pós-operatório71.
As infecções interferem na cicatrização devendo ser controlados todos os
possíveis focos contaminantes26. O uso de antibióticos profiláticos deve obede-
cer rigorosamente aos princípios de sua utilização70.
A tricotomia deve ser restrita à área a ser operada e, sempre que possível,
deve ser evitada70. Quando utilizada deve-se tomar cuidado especial para evitar
que aconteçam escarificações na pele que poderão funcionar como portas de en-
trada para infecções.
CUIDADOS INTRA-OPERATÓRIOS
222
CUIDADOS PÓS-OPERATÓRIOS
223
No abdome, dados retrospectivos mostraram maiores taxas de deiscências
com incisões na linha média que incisões transversas7. Alguns estudos sugeri-
ram que incisões supra-umbilicais têm maiores riscos de deiscência que as in-
fra-umbilicais, porém, estes dados não foram confirmados em avaliação pros-
pectiva7,61. De modo geral deve-se evitar a abertura de aponeurose com bisturi
elétrico e dar preferência ao bisturi frio.
Pele e Subcutâneo
O objetivo do fechamento é a coaptação das bordas de modo que ocorra a ci-
catrização primária.
A utilização de fios absorvíveis está restrita aos casos de feridas limpas, pois
a contaminação em presença de material absorvível, que sabidamente provoca
maior reação inflamatória, poderá contribuir para a infecção da ferida. A prefe-
rência está portanto com os fios inabsorvíveis. Embora possam ser utilizados
fios como algodão ou seda, os fios sintéticos, como o náilon e o polipropileno,
apresentam menor reação do tipo corpo estranho e, por serem monofilamenta-
res, têm menor superfície para albergar bactérias o que representa significativa
vantagem, ressalvados os seus custos. Existem também fios multifilamentares
que são encapados e agregam as vantagens dos fios monofilamentares à melhor
maleabilidade daqueles multifilamentares39.
O tipo de ponto preferencial será aquele que com menor tensão promova a
coaptação das bordas. Para isto a sutura simples é satisfatória. Nos casos de es-
pessa camada gordurosa subcutânea pode-se optar pelos pontos do tipo Donnati,
que diminuem o espaço morto porém à custa de resultados estéticos piores. A su-
tura intradérmica pode ser utilizada nos casos de operações limpas e com pouca
tensão na linha de sutura, como por exemplo em incisões em colar para tiroidec-
tomias ou aquelas seguindo a prega inguinal em hernioplastias71.
O subcutâneo poderá ser aproximado nos casos de operações limpas, porém,
devemos nos lembrar que é melhor a colocação de drenagem aspirativa fechada
em um grande espaço morto do que tentar sua aproximação com suturas70,71.
Parede Abdominal
Alguns aspectos no fechamento da parede abdominal merecem ser analisa-
dos por ainda apresentarem controvérsias, dentre os quais podem ser destaca-
dos:
— o fechamento do peritônio — não é fundamental para se prevenir deis-
cências. Vários estudos demonstraram que não há diferenças entre o fe-
chamento englobando ou não o peritônio, por outro lado, o fechamento
224
do peritônio foi associado com maior formação de aderências, o que
pode ser um efeito nocivo desta conduta22,35,37;
— sutura total (em massa) ou sutura por camada — apresentam índices de
deiscência semelhantes, porém, a sutura total parece ser preferível pois
é segura, eficaz e rápida2;
— pontos interrompidos ou sutura contínua — os dois tipos de sutura apre-
sentam índices semelhantes na prevenção de deiscências, porém, a sutu-
ra contínua parece ser superior pois além de ser segura, rápida e eficaz, é
de menor custo, caso se utilize o mesmo tipo de fio28,61,76;
— uso de pontos de retenção — não há, até o momento, dados que justifi-
quem a adoção desta prática rotineiramente, porém sua utilização em si-
tuações de risco não foi testada36,50;
— tipo de fio — ensaios casualizados não mostraram diferença entre os
fios absorvíveis ou não-absorvíveis, desde que utilizados aqueles de ab-
sorção lenta; do ponto de vista de suas resistências à ruptura in vitro,
apresentam maior força os fios monofilamentares de absorção lenta (po-
lidioxanona e poligliconato), seguidos pelos monofilamentares
não-absorvíveis (náilon e polipropileno), suturas trançadas (poliglacti-
na, ácido poliglicólico e poliéster), categutes e também a seda que apre-
senta, por exemplo, 15% da resistência do fio de polidioxanona6,31,45;
— distância entre os pontos e quantidade de tecido englobado — a propor-
ção recomendada entre o tamanho do ponto e a distância entre os pontos
deve ser uma taxa superior a 2:1, isto significa, em sutura contínua total,
a utilização de pontos de 2 cm ou mais, metade em cada lado da ferida, e
distantes entre si 1 cm7,42,45.
CURATIVOS
225
0,9%, estando o uso de soluções anti-sépticas restritas à pele sadia em torno da
ferida19,71.
226
A prevenção do aparecimento destas lesões inclui a escolha de incisões ao
longo das linhas de tensão da pele, o manuseio delicado dos tecidos e a tentativa
de limitar a resposta inflamatória que é importante estímulo para a fibrose75.
As medidas conservadoras incluem moldes de pressão, gel de silicone e ou-
tras opções que visam, basicamente, diminuir a tensão de oxigênio na ferida, o
que diminuirá a síntese de colágeno, e elevar a temperatura local, desta forma
aumentando a atividade da colagenase29,44,47.
A injeção intralesional de corticosteróides de ação prolongada, como a tri-
amcinolona, está associada com taxas de sucesso superiores a 50%. Estas inje-
ções devem ser feitas na ferida e a 0,5cm de suas bordas, preferencialmente com
anestesia tópica ou local, e com dosagens de até 40mg/ml, muito embora se sai-
ba que doses de até 5mg/ml apresentam menores índices de atrofia e pigmenta-
ção local. Outros efeitos adversos incluem formação de telangiectasias, necrose,
ulceração ou efeitos sistêmicos, sendo que estes podem ser evitados com aplica-
ção do corticóide em intervalos acima de quatro semanas43,71,75.
A excisão cirúrgica está associada com taxas de recorrência de 50% a
80%17. De modo geral os melhores resultados estão associados com a utilização
de medidas complementares como a infiltração de corticosteróides e radiotera-
pia.
As cicatrizes retráteis podem ser tratadas com o uso de moldes de pressão
estando a liberação cirúrgica indicada nos casos de lesões refratárias ou que, por
sua localização, não permitam seu manuseio conservador75.
DEFINIÇÃO
227
Em 1992, o The Surgical Wound Infecction Task Force publicou as defini-
ções de infecções do sítio cirúrgico em que foram separadas as infecções incisio-
nais, superficiais e profundas, das infecções que acometem órgãos e espaços
profundamente localizados, como, por exemplo, peritônio e ossos34.
As infecções incisionais, que serão consideradas como infecções de ferida
operatória, foram definidas em:
a — Infecção incisional superficial
— drenagem de secreção purulenta pela ferida;
— isolamento de microrganismos de cultura de fluidos ou tecidos obtidos
assepticamente;
— ao menos um dos sinais ou sintomas de infecção — dor, tumor, rubor ou
calor — em ferida deliberadamente reaberta pelo cirurgião, a menos que
a cultura da incisão seja negativa;
— diagnóstico de infecção incisional superficial pelo cirurgião ou médico
assistente.
b — Infecção incisional profunda
— drenagem de secreção purulenta, que não seja proveniente de órgãos ou
espaços profundos;
— ferida profunda com deiscência espontânea ou deliberadamente reaber-
ta pelo cirurgião quando o paciente apresenta febre (>38°C) e/ou
dor/sensibilidade localizada, a menos que a cultura da incisão seja nega-
tiva;
— achado de abscesso ou outra evidência de infecção profunda na incisão,
seja por exame direto, durante reoperação ou por exame histopatológico
ou de imagem;
— diagnóstico de infecção incisional profunda pelo cirurgião ou médico
assistente.
228
— idade — os extremos de idade parecem associados com aumento na inci-
dência de infecção de feridas, provavelmente por alteração na imunocom-
petência, embora haja discordância se este é um fator independente15,32,54,70;
— doenças concomitantes — múltiplos diagnósticos, avaliados pelo índice
de risco SENIC (Study on the Efficacy of Nosocomial Infection Con-
trol) ou com a utilização da classificação da American Society of Anest-
hesiologists (ASA)16,26,32,65;
— diabetes — fisiopatologia provavelmente relacionada com distúrbio na
cicatrização14,55;
— obesidade — parece haver relação, embora fraca, e talvez apenas para
incisões específicas, como esternotomias14,21,55;
— tempo de internação pré-operatória — embora não esteja devidamente
comprovado, teoricamente está relacionado com a colonização da pele
com organismos resistentes14,15,26,54;
— infecção a distância — apesar de não estar provado, é prudente que se tra-
te infecções em sítios distantes no pré-operatório, se possível20,26,40,74;
— desnutrição — parece ser mais importante como fator de comorbidade,
associado a outras variáveis14,21,30,68.
Fatores Exógenos
Relativos à Ferida
Este talvez seja o mais importante fator de risco independente para infecção
de feridas. Os dados de cinco estudos prospectivos5,15,32,56,57, com 208.049 paci-
entes, foram avaliados por Evans & Meakins23 em 1994, e podem ser vistos na
Tabela 18.1.
229
Tabela 18.1
Taxas de Infecções de Ferida em Três Décadas de Acordo
com a Classificação das Feridas
Classificação Definição Taxa de Infecção nas Três Décadas
1960-69 1970-79 1980-89
Limpa Técnica estéril, ferida não- 5,1% 1,5% 2,3%
traumática, sem foco
inflamatório ou abertura da
luz digestiva, urinária ou
respiratória.
Potencialmente Abertura controlada da luz 10,8% 7,7% 3,4%
contaminada digestiva, urinária ou
respiratória sem escape
grosseiro de conteúdo;
quebra leve no rigor da
técnica e assepsia.
Contaminada Abertura da luz digestiva, 16,3% 15,2% 8,5%
com extravasamento
abundante de conteúdo ou
abertura de trato
geniturinário ou biliar na
presença de urina ou bile
infectadas; quebra
grosseira na técnica;
ferida traumática recente.
Infectada Inflamação bacteriana 28,0% 40,0% 12,6%
aguda ou contaminação
fecal prolongada; retenção
de tecido desvitalizado ou
presença de corpo
estranho; ferida traumática
tardia.
230
A irrigação com baixa pressão é capaz apenas de retirar contaminação su-
perficial, mesmo com utilização de grandes volumes. Recomenda-se que, quan-
do se pretender a retirada de microrganismos mais profundamente, deve-se utili-
zar irrigação de alta pressão e intermitente64.
Em feridas pequenas pode-se utilizar uma seringa com agulha 19 e aplica-
ção de jatos de solução salina72.
A utilização de antibióticos tópicos não demonstrou benefícios significati-
vos e não encontram aplicação rotineira65.
Perfusão Tecidual
DIAGNÓSTICO
231
Cuidados Locais
A maneira mais rápida de se remover tecido morto é a excisão cirúrgica, po-
rém, quantidades menores de tecido podem ser desbridadas pela troca freqüente
de curativos.
A limpeza da ferida pela irrigação de soluções salinas (NaCl 0,9%) pode re-
duzir o número de microrganismos presentes na ferida, e os curativos, utilizados
nas primeiras 24 a 48 horas pós-trauma, contribuem para a formação de uma bar-
reira que impede a contaminação.
As feridas tratadas por cicatrização secundária ou primária retardada reque-
rem cuidados especiais de curativos até que ocorra a epitelização de toda super-
fície.
232
ção de antibióticos superam os prováveis benefícios de sua
utilização41,58,60;
— quanto aos efeitos colaterais: deve-se optar por antibióticos com menor
potencial de efeitos adversos, preferencialmente uma droga apenas, lem-
brando que muitos antibióticos interferem sobre a quimiotaxia de neutró-
filos ou podem selecionar cepas resistentes e portanto devem ser
evitados3,58,70.
Drenagem da Ferida
É o passo inicial do tratamento e consiste habitualmente da retirada de al-
guns pontos da pele que permitam a drenagem efetiva da coleção de fluidos lo-
calizada. Neste instante, deve-se proceder à coleta de material para cultura, anti-
biograma e bacterioscopia. A extensão a ser aberta depende da área infectada.
Limpeza
Feridas infectadas devem ser lavadas para retirada de debris, material estra-
nho e bactérias. A lavagem não deve causar dano adicional aos tecidos normais e
viáveis.
A irrigação copiosa solução salina 0,9% ou fluidos não-iônicos é o método
considerado padrão. No passado, várias soluções fortes, como o peróxido de hi-
drogênio, foram utilizadas para limpeza. Não foi comprovado benefício à cica-
trização e há evidências, in vitro, de dano às células vivas.
233
A exploração em Centro Cirúrgico pode ser indicada para feridas profundas,
eventualmente sob anestesia.
Antibioticoterapia
Vigilância
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237
19 Bases da Cirurgia
Oncológica
Eduardo Pirolla
Raul Cutait
INTRODUÇÃO
INDICAÇÕES
Na atualidade, mais de 60% dos pacientes com câncer são submetidos a al-
gum tipo de procedimento cirúrgico, com uma ou mais das seguintes finalida-
des: diagnóstico; estadiamento; tratamento; acesso vascular; prevenção; reabili-
tação e reconstrução.
239
DIAGNÓSTICO
Diagnóstico Citológico
Citologia Esfoliativa
Esta abordagem baseia-se no fato de que as células tumorais descolam-se
mais facilmente que as células normais das superfícies teciduais. Essa liberação
celular pode ser facilitada de duas formas, que são o esfregaço da superfície ou a
lavagem desta superfície que contém as células-alvo. Dois bons exemplos deste
procedimento são o esfregaço cervical do colo uterino e os lavados brônquicos.
Aspiração
A punção aspirativa, realizada por meio de agulhas finas, é um procedimen-
to relativamente simples e muito útil no diagnóstico de determinados tumores
sólidos, como, por exemplo, de tireóide, mama, abdome, e tórax. Sempre que
necessário, utiliza-se o auxílio da ultra-sonografia ou tomografia computadori-
zada, para a melhor definição do local a ser puncionado. A experiência do pato-
logista é fundamental para a interpretação do material obtido, onde células tu-
morais podem ser confundidas com células inflamatórias ou de regeneração. A
aspiração pode, também, ser de fluidos, tais como líquido cefalorraquidiano, lí-
quido pleural ou ascite.
Diagnóstico Histológico
Biósia com Agulha Grossa
Esta técnica baseia-se na obtenção de pequenos fragmentos de tecido tumo-
ral através de agulhas especiais, tais como tru-cut, Vin-Silverman, Franklin e
Chibba. Em relação à técnica de aspiração, tem-se a vantagem do diagnóstico
histológico, em geral mais fácil do que o citológico. Tem sua maior indicação
nos casos de tumores de parede, linfonodos superficiais e de massas abdominais
ou torácicas.
Biópsia Incisional
Constitui-se na ressecção de pequena parte de massas tumorais. Está indica-
da quando não se consegue material adequado ou suficiente por punção por agu-
lha ou, então, quando a ressecção de toda a massa tumoral pode ser de risco ou
prejudicar o tratamento definitivo. Esta é a principal técnica para o diagnóstico
de tumores de cavidade oral, de lesões de pele, mama, partes moles e ósseas, e
pode ser eventualmente empregada em abordagens endoscópicas.
240
Biópsia Excisional
Consiste na ressecção completa do tumor ou lesão suspeita com finalidade
diagnóstica. Tem a vantagem de ser o tratamento definitivo quando a lesão é be-
nigna ou, então, em situações de malignidade onde se reconhecem margens de
segurança. A biópsia excisional tem ampla indicação para lesões de pele e nódu-
los de mama e tireóide, entre outros.
ESTADIAMENTO
Em algumas situações clínicas, os exames de imagem, endoscópicos ou la-
boratoriais não permitem definir o real estadiamento da doença, impondo-se a
indicação de procedimentos cirúrgicos com a finalidade de gerar informações
que irão definir a conduta terapêutica. Um exemplo clássico é a doença de Hodg-
kin, cujo estadiamento cirúrgico implica a realização de esplenectomia, biópsias
hepáticas, exérese de linfonodos periaórticos e biópsia de crista ilíaca. Mais re-
centemente, alguns grupos têm indicado a laparoscopia como rotina no estadia-
mento dos tumores gástricos e pancreáticos. O estadiamento pode ser ampliado
com procedimentos complementares, como, por exemplo, a ultra-sonografia la-
paroscópica, que pode ser de valiosa ajuda na definição da invasão de estruturas
contíguas a tumores do pâncreas ou de metástases hepáticas.
TRATAMENTO
A cirurgia de caráter terapêutico pode ter finalidades distintas, como será
apresentado a seguir. A decisão depende do estadiamento do tumor, das condi-
ções clínicas do paciente, da possibilidade de se utilizarem métodos terapêuticos
complementares, tais como radioterapia e quimioterapia, em caráter de adjuvân-
cia ou neo-adjuvância, bem como da experiência do cirurgião e das condições da
instituição onde o paciente é tratado.
241
a cirurgia preservando-se a inervação autonômica pélvica, para prevenir compli-
cações urogenitais, e a excisão do mesorreto, que diminui os índices de recidiva
local. Em câncer de mama, a quadrantectomia e a nodulectomia com rádio e qui-
mioterapia adjuvantes substituíram a mastectomia, enquanto que o rabdomios-
sarcoma, que é o tumor de partes moles mais comum em recém-nascidos e crian-
ças, apresentou expressivo aumento de cura, de 10% a 20% para mais de 80%,
com a quimioterapia e radioterapia complementares.
Cirurgia Citorredutora
Cirurgia Paliativa
242
Cirurgia Oncológica na Emergência
Acesso Vascular
Prevenção
243
Quanto à prevenção do câncer de mama, tem sido proposta a adenomastec-
tomia profilática, com retirada de “todo” o tecido mamário em pacientes com
BRCA1 e BRCA2 positivos. Outra indicação atualmente aceita é para portado-
ras de hiperplasia epitelial atípica já submetidas a múltiplas cirurgias, e que
apresentam algum outro fator de risco para câncer de mama, tal como nulipari-
dade, menarca precoce ou menopausa tardia.
Uma associação bastante contundente, como afecção preexistente, é a ob-
servada em pacientes com retocolite ulcerativa, cujo risco de desenvolver câncer
aumenta com o tempo de evolução da doença, entre outros fatores. A identifica-
ção de displasia grave de mucosa intestinal é, para vários grupos, indicativa de
colectomia profilática.
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