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INGEDORE G. VILLAÇA KOCH


Universidade Estadual de Campinas

CONTRIBUIÇÕES DA LINGÜÍSTICA
TEXTUAL PARA O ENSINO DE
LÍNGUA PORTUGUESA NA ESCOLA
MÉDIA: A ANÁLISE DE TEXTOS

1 Introdução causas a (possíveis) malentendidos, de ne-


gociação, etc.;
Pretendo aqui proceder a uma reflexão sobre - textuais: conjunto de decisões concernentes
as contribuições que pode oferecer a Lingüística à organização textual, feitas pelo produtor
Textual para o ensino de língua portuguesa na es- do texto, tendo em vista seu “projeto de di-
cola média. zer” (pistas, marcas, sinalizações).
Constitui o fundamento desta reflexão uma
concepção sócio-interacional de linguagem, vista , 2 “Balanceamento” entre implícito x
pois, como lugar de “inter-ação” entre sujeitos so- explícito
ciais, isto é, de sujeitos ativos, empenhados em uma
atividade sociocomunicativa. Esta atividade com- O sentido de um texto, qualquer que seja a si-
preende, da parte do produtor do texto, um “proje- tuação comunicativa, não depende tão-somente da
to de dizer”; e, da parte do interpretador (leitor/ estrutura textual em si mesma (daí a metáfora do texto
ouvinte), uma participação ativa na construção do como um “iceberg”). Visto que não podem existir
sentido, através da mobilização do contexto (em textos totalmente explícitos, o produtor de um texto
sentido amplo), a partir das pistas e sinalizações que precisa proceder ao “balanceamento” do que neces-
o texto lhe oferece. sita ser explicitado textualmente e do que pode
O contexto, da forma como é aqui entendido, permanecer implícito, por ser recuperável via infe-
engloba não só o co-texto, como a situação de renciação (cf. NYSTRAND & WIEMELT, 1991 ;
interação quer imediata, quer mediata (entorno só- MARCUSCHI, 1994). Na verdade, é este o grande
cio-político-cultural) e também o contexto cognitivo segredo do locutor competente.
dos interlocutores que, na verdade, subsume os de- Um texto será explícito não quando o que é
mais. Ele reúne todos os tipos de conhecimentos dito coincide com o que o produtor pretende signi-
arquivados na memória dos actantes sociais, que ne- ficar, mas quando o que é dito consegue estabelecer
cessitam ser mobilizados por ocasião do intercâm- um balanceamento adequado entre o que necessita
bio verbal: o conhecimento lingüístico propriamente ser dito e o que pode ser presumido como partilha-
dito, o conhecimento enciclopédico, tanto de tipo do. A explicitude deve ser avaliada em termos da re-
declarativo, quanto de tipo episódico (“frames”, ciprocidade entre produtor e leitor/ouvinte tal como
“scripts”) (cf. KOCH, 1997), o conhecimento da si- mediada pelo texto (Nystrand & Wiemelt, 1991).
tuação comunicativa e de suas “regras” (situa- Quais significados devem ser tornados explícitos
cionalidade), o conhecimento superestrutural depende, em larga escala, do uso que o produtor do
(gêneros ou tipos textuais), o conhecimento texto faz dos fatores contextuais (modelos cognitivos
estilístico (registros, variedades de língua e sua ade- de contexto, conforme Van Dijk, 1995).
quação às situações comunicativas), bem como o co- Assim sendo, para que duas ou mais pessoas
nhecimento de outros textos que permeiam cada possam compreender-se mutuamente, é preciso que
cultura (intertextualidade). seus contextos cognitivos sejam, pelo menos, par-
A mobilização desses conhecimentos por oca- cialmente semelhantes. Em outras palavras, seus co-
Revista sião da produção e compreensão de textos realiza- nhecimentos - lingüístico, enciclopédico, episódico,
do GELNE se através de estratégias de diversas ordens: procedural, macro - e superestrutural (ou esque-
Ano 1
- cognitivas, como as de inferenciação, de mático) e interacional - devem ser, ao menos em
No. 1
1999
focalização, de busca da relevância; parte, compartilhados, visto que é impossível duas
- sócio-interacionais, como as de preservação pessoas partilharem exatamente os mesmos conhe-

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das faces, polidez, atenuação, atribuição de cimentos (os malentendidos surgem, em grande
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parte, de pressuposições errôneas sobre o domínio para manter o envolvimento conversacional e ter
de certos conhecimentos por parte do(s) interlo- acesso ao sentido pretendido. Entre tais pistas, o
cutor(es)). É isso que permite afirmar que o contex- autor inclui: prosódia (entonação, acento de inten-
to cognitivo engloba todos os demais tipos de con- sidade, mudanças de clave); sinais paralingüísticos
texto, já que tanto o co-texto, como a situação como pausas, hesitações, sobreposições de turnos,
comunicativa, imediata ou mediata, bem como as tom e volume de voz; escolha do código ou do re-
ações comunicativas e interacionais realizadas pe- gistro; formas de seleção lexical ou expressões
los interlocutores passam a fazer parte do domínio formulaicas. Aqui entram também os gestos, expres-
cognitivo de cada um deles, isto é, têm uma repre- sões fisionômicas, movimentos de corpo ou dos
sentação em sua memória, o mesmo ocorrendo com olhos, que podem significar apoio, oposição, ironia
o contexto sócio-histórico-cultural. ou sarcasmo, ênfase, aborrecimento etc.
Para SPERBER & WILSON(1986), uma pro- Tais pistas de contextualização têm também
posição é relevante em primeira instância não so- sua contraparte na escrita. NYSTRAND (1987), pos-
mente em relação ao discurso, mas ao contexto, ou tulando que os escritores habilidosos exploram toda
seja, em relação a um conjunto de proposições ou uma escala de recursos para “modular a fala”, cita,
hipóteses derivadas não apenas do discurso prece- entre estes, as aspas, para determinar ironia, ceti-
dente, mas também da memória, da percepção do cismo, ou distanciamento crítico; o uso de sinais de
entorno, através de inferências. Isto é, a informação exclamação, para veicular ênfase; o uso de recursos
é relevante para alguém quando interage, de certa gráficos, para distinguir tipos de conteúdo. Também
forma, com suas suposições prévias sobre o mundo, DASCAL & WEISMAN, ao analisar textos jorna-
quando tem efeitos contextuais em dado contexto lísticos, mencionam as aspas, a seleção lexical,
que lhe é acessível. certas questões retóricas, o uso de dadas formas de
Cabe, pois, ao interlocutor, no momento da tratamento e assim por diante como pistas impor-
interação, proceder a uma seleção do contexto rele- tantes para a captação do sentido pretendido pelo
vante para a interpretação. produtor do texto.
As relações entre informação textualmente ex- Entre os recursos gráficos são importantes,
pressa e conhecimentos pressupostos como partilha- também, para a construção do sentido, a diagra-
dos podem ser estabelecidas por meio de estratégias mação, a localização do texto na página ou no veí-
de “sinalização” textual, por meio das quais o locutor, culo, em se tratando de jornais ou revistas, o tipo de
por ocasião do processamento textual, procura levar letra, os travessões, parênteses, destaques (itálico,
o interlocutor a recorrer ao contexto sociocognitivo negrito), entre outros mais.
(situação comunicativa, “scripts” sociais, conhecimen-
tos intertextuais e assim por diante). 4 Estratégias textuais-interativas
DASCAL & WEIZMAN (1987) postulam que
um texto pode ser opaco de duas formas, estabele- O uso de determinados recursos lingüísticos
cendo assim uma distinção entre incompletude , que funciona também como índice de implicitude, isto
exige o recurso ao co-texto e ao contexto para o pre- é, tais recursos levam à exploração do contexto tal
enchimento de lacunas (gaps), isto é, para introdu- como definido acima. Entre as principais estratégi-
zir informações faltantes no texto; e indiretude, as de organização textual, podem-se mencionar as
responsável pelo desalinhamento (mismatch) entre seguintes:
o expresso (utterance-meaning) e o pretendido
(speaker’s meaning, cf. GRICE, 1975), ou seja, o 4.1 Uso ou não de elementos coesivos
descompasso entre a informação explícita e fatores,
como conhecimento de mundo, princípios comuni- A coesão não é condição necessária nem su-
cativos, condições de adequação e outros. Segundo ficiente para a construção do sentido, embora, de-
eles, o texto fornece pistas ou indícios (cues) para a pendendo do tipo de texto, o uso dos recursos tanto
identificação da necessidade de preenchimento de de coesão remissiva, como de coesão seqüencial (cf.
lacunas e para a distinção entre opacidade e KOCH, 1989) venha a tornar-se altamente desejá-
indiretude; e “chaves” (clues), quer co-textuais, quer vel, por aumentar a legibilidade, auxiliando, assim,
contextuais, para a depreensão da significação pre- o interpretador na construção da coerência.
tendida pelo autor. Através da remissão, opera-se: 1. a retomada
(repetição) de referentes textuais, re-alocando-os
3 Contextualizadores na memória operacional do interlocutor, para servi-
rem de suporte a novas predicações; 2. a dêixis (si-
GUMPERZ (1982,1992), como é sabido, de- nalização) textual, que tem por função situar Revista
signa por pistas de contextualização os sinais ver- espacio-temporalmente o leitor no texto, orientan- do GELNE
bais e não verbais utilizados por falantes/ouvintes, do-o na direção de porções ou elementos textuais Ano 1
na interação face-a-face, para relacionar o que é dito anteriores ou subseqüentes. No. 1
em dado tempo e em dado lugar ao conhecimento Os mecanismos de seqüenciação (recursos de 1999
adquirido através da experiência, com o objetivo de manutenção e de progressão temática, articuladores
detectar as pressuposições em que se devem basear discursivos, recorrência de determinados tempos
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verbais etc.), por seu turno, permitem proceder à como para realizar a tematização ou a rematização
progressão textual, ao mesmo tempo que sinalizam (cf. KOCH, 1997).
a continuidade dos sentidos.
4.3 Estratégias de formulação textual
4.2 Estratégias de organização da informa- Com o intuito de facilitar ao interlocutor o
ção e de estruturação textual processamento do texto e, portanto, a construção de
A informação semântica contida no texto dis- um sentido alinhado com seu projeto de dizer, o pro-
tribui-se, como se sabe, em (pelo menos) dois gran- dutor utiliza, com freqüência, estratégias
des blocos: o dado e o novo, cuja disposição e metaformulativas, ou seja, inserções dos mais di-
dosagem interferem na construção do sentido. A versos tipos, repetições, parafraseamentos, corre-
informação dada - aquela que se encontra no hori- ções etc.(cf. KOCH, 1992, 1997).
zonte de consciência dos interlocutores (cf. CHAFE,
1987) - tem por função estabelecer os pontos de 4.4 Recurso à intertextualidade
ancoragem para o aporte da informação nova. A re- A intertextualidade, quando implícita (cf.
tomada de informação já dada no texto se faz, como KOCH, 1991, 1997, inter alia), isto é, sem citação
foi mencionado acima, por meio de remissão ou expressa da fonte, exige do interlocutor uma busca
referenciação textual, formando-se destarte no tex- na memória, para a identificação do intertexto. Quan-
to as cadeias coesivas, que têm papel importante na do este não é identificado, grande parte ou mesmo
organização textual, contribuindo para a produção do toda a construção do sentido fica prejudicada.
sentido pretendido pelo produtor do texto. A remis-
são se faz, freqüentemente, não a referentes textual- 4.5 Marcação do tópico discursivo
mente expressos, mas a “conteúdos de consciência”, A indicação clara do tópico discursivo - atra-
isto é, a referentes estocados na memória dos vés de títulos, subtítulos, marcadores de armação e
interlocutores, que, a partir de “pistas” encontradas de enquadramento tópico, anúncios ou convites, em
na superfície textual, são (re)ativados, via infe- se tratando de interação falada, etc.- é estratégia de
renciação. É o que se denomina anáfora associativa grande importância para que o interlocutor possa
ou anáfora profunda. É em grande parte através de ativar e/ou construir o contexto adequado para a in-
inferências que se podem (re)construir os sentidos terpretação das expressões definidas presentes no
que o texto implícita. texto, para buscar em sua memória o intertexto ade-
quado, bem como para desfazer possíveis ambigüi-
Com ancoragem na informação dada, opera-se
dades decorrentes do uso de termos homônimos ou
a progressão textual, através da introdução de infor-
polissêmicos.
mação nova, estabelecendo-se, assim, relações de
É importante, também, que a focalização dada
sentido entre: a. segmentos textuais de extensões
ao tópico, de alguma forma, fique clara para o ou-
variadas; b. segmentos textuais e conhecimentos pré-
vinte/leitor, através da indicação da perspectiva sob
vios; c. segmentos textuais e conhecimentos e/ou
a qual o assunto está sendo enfocado, do uso de
práticas socioculturalmente partilhados.
delimitadores (hedges), de advérbios de domínio,
As relações entre segmentos textuais estabe- bem como de outros recursos que permitam identi-
lecem-se em vários níveis: 1. no interior do enunci- ficar o domínio estendido de referência, ou seja,
ado, através da articulação tema-rema. A informação tanto o foco explícito como o foco implícito (cf.
temática é normalmente dada, enquanto a remática SANFORD & GARROD, 1985).
constitui, em geral, informação nova. O uso de um
ou outro tipo de articulação tema - rema (progres- 4.6 Estratégias argumentativas
são com tema constante, progressão linear, progres- Podem-se mencionar aqui, apenas a título de
são com tema derivado, progressão por subdivisão exemplo, dentre as inúmeras estratégias de ordem
do rema, progressão com salto temático - cf. DANEŠ, argumentativa, a estratégia da referenciação por ex-
1974) tem a ver com o tipo de texto, com a modali- pressões nominais definidas, o uso de operadores
dade (oral ou escrita), com os propósitos e atitudes ou conectores argumentativos, o emprego de
do produtor; 2. entre orações de um mesmo período modalizadores, de índices de pressuposição ou de
ou entre períodos no interior de um parágrafo avaliação, o uso argumentativo dos tempos verbais,
(encadeamento), por meio dos conectores interfrás- a seleção lexical e o interrelacionamento de cam-
ticos, aqui considerados tanto aqueles que esta- pos lexicais, a argumentação por autoridade poli-
belecem relações de tipo lógico-semântico, como fônica, entre muitas outras.
aqueles responsáveis pelo estabelecimento de rela- O emprego, por exemplo, de uma expressão
ções discursivas ou argumentativas (cf. KOCH,1984, nominal introduzida por artigo definido ou por pro-
Revista 1987 e 1989a); 3. entre parágrafos, seqüências ou nome demonstrativo (descrição definida) implica
do GELNE partes inteiras do texto, por meio dos “articuladores uma pressuposição de conhecimento partilhado e
Ano 1 textuais” ou também por mera justaposição . obriga o interlocutor a uma busca no contexto,
No. 1
1999
O produtor do texto pode recorrer a uma série cognitivo ou situacional. Por outro lado, visto que a
de estratégias de focalização, para dar destaque quer descrição definida opera, com muita freqüência, uma

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à informação nova, quer à informação dada, bem seleção, entre as possíveis propriedades, qualidades
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e defeitos do referente, daquela ou daquelas que, informação entre os outros tipos de modelos e o
em determinado contexto, interessa ressaltar (ou texto, como também pela monitoração da interação
mesmo anunciar), isto é, seleciona aquelas mais como um todo, em função de suas características
adequadas ao projeto de dizer do produtor do texto, específicas - e, em particular, pela forma como o
seu emprego vai exigir do interlocutor a percepção texto será construído - inclusive em termos do
do porquê da escolha de uma e não de outra, no balanceamento entre implícito e explícito - e pela
contexto dado. Tais expressões têm, ainda, a impor- maneira como, por ocasião da leitura, cada contex-
tante função de sumarizar, recategorizando-os, seg- to vai condicionar, de certa maneira, a construção
mentos anteriores do texto, dando-lhe, ao fazê-lo dos sentidos.
determinada orientação argumentativa. (cf. KOCH, Em suma, a coerência global de um texto para
1997, 1998). os participantes de um “jogo de atuação comunica-
tiva” decorre da possibilidade de construírem, para
Considerações finais ele, determinado(s) sentido(s).
Desta forma, tenho procurado demonstrar que
O uso dos diversos tipos de estratégias de o sentido não está no texto, mas se constrói a partir
processamento textual é monitorado por um tipo dele, no curso da interação. Uma vez construído um
particular de modelo cognitivo, descrito por VAN - e não o - sentido, adequado ao contexto (no senti-
DIJK (1995) como modelo cognitivo de contexto. do amplo aqui defendido) e à forma como o texto
Trata-se, segundo ele, de uma representação do se encontra lingüisticamente construído, a manifes-
evento comunicativo como um todo, que engloba: tação verbal será considerada coerente pelo leitor/
papéis, posições e relações sociais dos participan- ouvinte (KOCH & TRAVAGLIA, 1989, 1990;
tes; seus objetivos, propósitos, interesses, expecta- KOCH, 1997).
tivas, opiniões; grupos sociais e outros grupos a que A Lingüística Textual é o ramo da ciência lin-
pertencem (idade, raça, gênero, classe social, pro- güística que tem dado o respaldo necessário à re-
fissão, etc.); representações sociais compartilhadas flexão sobre todas as questões aqui levantadas, o que
(atitudes, ideologias); condicionamentos institucio- evidencia as importantes contribuições que seu es-
nais e sociais da interação; gêneros textuais e varie- tudo pode trazer ao aperfeiçoamento do ensino de
dade de língua apropriados ao evento; preferências Língua Portuguesa na escola média.
culturalmente determinadas com relação à situação;
circunstâncias da interação, como tempo, lugar, ob- Bibliografia
jetos, tipos de participação.
A função de tais modelos é, pois, a de monitorar
a própria organização do texto com vistas à produ- DANEŠ, F. 1974. Papers on Functional Sentence
ção do sentido em cada situação de interação verbal, Perspective. Praga: The Hague.
no que diz respeito, por exemplo, a decisões sobre DASCAL, M. & E. WEIZMAN. 1987. Contextual
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ordem ou proeminência dada aos enunciados ou a understanding: an integrated model. In: J.
segmentos destes; interesse, necessidade ou incon- Verschueren & M Bertucelli-Papi (eds.), The
veniência de explicitação de informações ou de re- Pragmatic Perspective - Selected papers from
cursos responsáveis pela coerência local; introdução the 1985 International Pragmatic Conference.
de conteúdos pressupostos ou conveniência de sua Amsterdã: J. Benjamins, 1987:31- 46.
explicitação, em função do gênero, de necessidades _____. 1988. On clues and cues: strategies of text-
de ordem pedagógica, de relações sociais ou inte- understanding. (mímeo)
resses grupais; recurso ou não a repetições; suma-
GOODWIN, C. & A . DURANTI . 1992. Rethinking
rização ou não de informação já dada, bem como o
Context: an Introduction. In: DURANTI &
próprio nível de sumarização ou abstração; apresen-
GOODWIN (eds.), Cambridge: Cambridge
tação ou não de pormenores; uso ou não de apaga-
University Press, pp.1-42.
mentos, parafraseamentos, inserções, correções; uso
de fórmulas de polidez e marcadores de atenuação, GUMPERZ, J.C. 1982.Discourse Strategies.
etc., etc. Cambridge: Cambridge University Press.
Desta forma, enquanto os demais modelos _____. 1992. Contextualization and understanding.
cognitivos (frames, scripts, cenários, modelos In: DURANTI & GOODWIN (eds.), pp. 229-252.
episódicos, esquemas, modelos mentais) controlam KOCH, I.G.V. 1991. “Intertextualidade e polifonia: um
o conteúdo semântico do texto, ou seja, o que está só fenômeno?”. D. E. L. T. A ., vol.7(2): 529-541.
sendo ou será dito, os modelos de contexto contro- Revista
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lam o como, a maneira como os interlocutores vão do GELNE
texto.
formular tais conteúdos em função do contexto em Ano 1
que a interação se realiza. _____. 1992. A inter-ação pela linguagem. São
No. 1
É por esta razão que, segundo VAN DIJK, os Paulo: Contexto.
1999
modelos de contexto desempenham o papel de sis- _____. 1997. O texto e a construção dos sentidos.
tema de controle, responsável não só pelo fluxo de São Paulo: Contexto.
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