INTRODUÇÃO
También los cristianos primitivos sabían muy exactamente que el mundo
está regido por los demonios y que quien se mete en política, es decir,
quien accede a utilizar como medios el poder y la violencia, ha sellado un
pacto con el diablo, de tal modo que ya no es cierto que en su actividad lo
bueno sólo produzca el bien y lo malo el mal, sino que frecuentemente
sucede lo contrario. Quien no ve esto es un niño, políticamente hablando.
Max Weber
conhecer a pessoa que arquitetou uma obra literária, de saber um pouco mais sobre
ela. De acordo com o professor Jonaedson Carino (1999), há mais de 2.000 anos
esta curiosidade em saber mais sobre a personagem ou a personalidade, ou seja, a
biografia mantém-se em evidência. O propósito de pesquisar e trazer alguns
detalhes da biografia particular e profissional do peruano é, pois, para descrever sua
trajetória única, com a finalidade de melhor conhecê-lo, interpretá-lo e de reconstruí-
lo perante suas criações. Abordamos algumas posturas polêmicas do autor peruano
para compreender seu posicionamento por meio de suas próprias exposições como
também de outros pesquisadores do escritor sobre o assunto. Nosso objetivo com
esse capítulo foi apresentar a biografia do escritor como um instrumento para a
análise histórica de entendimento de mundo e não somente como uma descrição de
episódios de uma vida. Além disso, outra justificativa para este capítulo é que Mario
Vargas Llosa pesquisa bastante antes de escrever seus livros, mas também várias
de suas obras se fundamentam em materiais de sua própria biografia, no entanto
não é nosso objetivo identificar em suas obras marcas de sua história.
O segundo capítulo dessa parte tem como objetivo não só apresentar ou listar
as obras narrativas, teatrais e ensaísticas desse escritor, mas também, de uma
forma breve, pois este não é nosso foco na pesquisa, comentar o conteúdo de cada
uma delas, bem como destacar especificidades sobre algumas de suas criações.
Como a lista de premiações do autor é muito extensa deixamos registrado neste
capítulo a página da internet de Vargas Llosa que poderá ser consultada para
verificar sua cronologia de prêmios.
Tendo em vista que nosso corpus se compõe de obras inspiradas em fatos
históricos, fez-se necessário, no segundo capítulo dessa primeira parte da pesquisa,
apresentar breves e básicas informações históricas sobre os dois países que estão
retratados nas duas obras aqui analisadas de Vargas Llosa. O objetivo deste
capítulo é propiciar mais comodidade à leitura e compreensão dos fatos históricos e
teóricos sobre nosso objeto de pesquisa para o leitor. Não pretendemos uma
abordagem detalhada, porém foi mister uma busca sobre as características das
ditaduras latino-americanas. Para tal objetivo, foram utilizados alguns estudos, como
os de Halperin Donghi (1975), Wiese Delgado (2000), entre outros, para a
compreensão do conflito, em um contexto diacrônico.
Na segunda parte, ao tomar como objeto de estudo a metaficção
historiográfica de Conversación en la catedral e La fiesta del Chivo, que versam
18
Não devemos nos deixar intimidar por quem quissesse nos arrebatar a
liberdade que fomos conquistando na longa façanha da civilização.
Defendamos a democracia liberal, que, com todas as suas limitações, segue
significando o pluralismo político, a convivência, a tolerância, os direitos
humanos, o respeito à crítica, a legalidade, as eleições livres, a alternância
no poder, tudo aquilo que nos foi retirando da vida feral e aproximando-nos
– ainda que nunca chegaremos a alcanzá-la – a charmosa e perfeita vida
que finge a literatura, aquela que somente inventando-a, escrevendo-a e
lendo-a podemos merecer.3
5
a pesar de lo que - incluso muchos sectores de la izquierda - han escrito y comentado tras su
condecoración, la literatura, como el discurso político, está no sólo inserta en la realidad, sino que es
un modo de construir, conocer y atravesar esa realidad. Por eso, no hay estilo inocuo ni estética literaria que
no esté siempre ya determinada por todas las tensiones del poder: el fondo y la forma son inseparables y están
abocados a producir efectos ideológicos. Mario Vargas Llosa es un escritor que siempre ha escrito a favor del
poder de las clases dominantes, primero en América Latina y más tarde a nivel global. Esta adscripción al poder
constituido se puede leer incluso en sus novelas a priori alejadas de la política. In: Miranda (2010) (Tradução
nossa)
6
A definição dessas técnicas será esclarecida no terceiro capítulo da quarta parte da tese.
7
Uno puede tener muy buenas ideas y ser un desatre a la hora de escribir una novela o tener ideas espantosas,
tener ideas absolutamente aberrantes y de pronto a la hora de ponerse a escribir producir uma obra de uma
gran originalidad, de gran creatividad. In: Vargas Llosa (1995) (Tradução nossa)
8
Entrevista a Mario Vargas Llosa no dia 2/1/1995 no Programa Roda Viva pelo professor Jorge Schwartz, que é
titular de Literatura Hispano-Americana da Universidade de São Paulo; Claudinei Ferreira, produtor e
apresentador do programa Certas Palavras da rádio CBN; o crítico de literatura Fábio Lucas, presidente da União
Brasileira de Escritores; Ricardo Setti, que é diretor de redação da revista Playboy e autor do livro Conversas
com Vargas Llosa; Hamilton dos Santos, editor de livros da editora Geração e colaborador das
revistas Vogue e Marie Claire; a tradutora Heloísa Jahn; Matinas Suzuki, editor executivo da Folha de S.Paulo;
Geraldo Galvão Ferraz, editor do Caderno de Sábado do Jornal da Tarde. Disponível em:
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/645/entrevistados/mario_vargas_llosa_1995.htm
http://www.youtube.com/watch?v=bEr2SCKGRDU
9
El principio básico del liberalismo es crear libertades indivisibles, una sola. Si hay libertad económica, tiene que
haber libertad política. De tal manera que en América latina políticas liberales son las políticas que hay en Chile,
por ejemplo, donde hay una política de mercado por una parte y por otra parte una democracia política donde
esas políticas económicas se modulan y están constantemente sometidas a las urgencias de una sociedad. Eso
es el liberalismo. Pero que venga un gobierno militar y abra políticas de mercado como en China hoy en día no
creo que sea liberalismo, no tiene nada que ver con el liberalismo. In: Martín Kohan, ( 2011) (Tradução nossa)
26
profundidade de sua obra criadora e por sua contínua presença no debate sobre
assuntos relativos à liberdade, violência, censura e justiça, é uma das
personalidades intelectuais mais ativas e influentes da atualidade.
Emir Rodríguez Monegal (1982, p. 29) considera Vargas Llosa um neo-
realista quando afirma que:
separaram antes mesmo do seu nascimento. Sua mãe foi enviada, pelo marido, aos
cinco meses de gestação para a casa dos pais dela para ter o bebê e, a partir de
então, ninguém teve notícias do pai de Vargas Llosa. No dia 28 de março de 1936,
em Arequipa, Peru, nasceu Jorge Mario Pedro Vargas Llosa. Até os dez anos de
idade, acreditou que era órfão de pai. Foi criado por sua mãe com a ajuda dos avós
e tios em Cochabamba, Boíivia. Em 1945, a família regressa ao Peru, porque seu
avô que era parente do presidente José Luis Bustamante y Rivero teve um cargo de
prefeito em Piura. Depois de completar dez anos, a mãe conta ao menino que seu
pai está vivo e que vai conhecê-lo. Em El pez en el água, o escritor peruano conta
que se sentiu raptado pelo pai no mesmo dia em que o conheceu, pois ao ser
apresentado ao pai, até então tido como morto, foi levado da casa de seus avós
para viver com seus pais em Lima sem nem mesmo ter podido se despedir dos
parentes. Os pais de Vargas Llosa reatam o casamento e o futuro romancista
passou a considerá-lo como um grande estranho que manda em sua vida e que
rompe o seu paraíso.
Os avós de Vargas Llosa o incentivavam a escrever contos infantis, pois
achavam “una gracia”. Já seu pai considerava a atividade da escrita um sintoma de
fraqueza que associava à homossexualidade, além de entender que a literatura não
dava dinheiro e conduzia ao fracasso. Quando Ernesto Vargas, seu pai, descobriu a
vocação de seu filho decidiu mudá-lo, tentou eliminar sua inclinação de poeta e
transformá-lo em um homem. Para isso, matriculou seu filho no Colégio Militar
Leoncio Prado, em Lima em 1950, no ensino médio. Segundo Armas Marcelo
(2002), o espírito da contradição do futuro romancista saiu reforçado nesta
experiência. O cronista Sergio Vilela tratou sobre essa época no seu livro EI cadete
Vargas LIosa (2003).
No colégio, o que antes parecia ser um jogo, uma aposta entre amigos,
passou a ser uma atividade profissional. Redatava cartas de amor para seus colegas
cadetes que tinham namoradas e não sabiam como expressar-se. Recebia por seu
trabalho em cigarros, mas para os amigos escrevia grátis. Escrever estas cartas,
além de diverti-lo, porque ficava conhecendo com detalhes os amores complicados,
ingênuos, transparentes, retorcidos, castos, pecaminosos dos cadetes, o entretinha
como o ato de ler romances.
Outra atividade de escrevinhador deste período, também relatada em El pez
en el agua de 1993, está relacionada ao primeiro romance erótico, que consistia em
29
Quando, agora, trato de reconstruir meus horários desses três anos —1955
a 1958—, fico atônito: como pude fazer tantas coisas, e, ainda, ler muitos
livros, e cultivar a amizade de alguns magníficos amigos como Lucho e
Abelardo, e também ir ao cinema algumas vezes e comer e dormir? No
papel, não cabem nas horas do dia. (1993, p.176)11
No jornal Mercurio Peruano, apareceu pela primeira vez o conto Los jefes e,
no suplemento dominical de El Comercio, El abuelo. Participou em edições
literárias, como Cuadernos de composición e a revista Literatura. Em 1957, com o
conto EI desafio, Mario ganhou o prêmio de contos da Revue Française, que
consistiu em passar duas semanas em Paris. Mais tarde, estes contos farão parte
11
Cuando, ahora, trato de reconstruir mis horarios de esos tres años —1955 a 1958—, me quedo atónito: ¿cómo
pude hacer tantas cosas, y, encima, leer muchos libros, y cultivar la amistad de algunos magníficos amigos como
Lucho y Abelardo, y también ir al cine algunas veces y comer y dormir? En el papel, no caben en las horas del
día. In: Mario Vargas Llosa (1993) (Tradução nossa)
30
do livro Los jefes publicado em Madri. Em Lima, em 1958, apresentou seu estudo de
segundo grau intitulado Bases para una interpretación de Rubén Darío.
Em 1959, viajou a Paris, o que para Vargas Llosa significava sair do Peru e
pular ao mundo, pois considerava, assim como o poeta Luis Cernuda, que Europa
era o mundo. Depois ganhou uma bolsa de estudos para cursar doutorado na
Universidade Complutense de Madri, na Espanha, mas nesta época sua intenção
maior era chegar a Paris, visto que suas leituras literárias eram norte-americanas ou
francesas. É em Madri, onde, segundo o próprio Vargas Llosa, pensa seriamente o
problema de sua vocação e decide ser escritor de romances.
O escasso valor da sua bolsa de estudos o fez participar de um concurso
folclórico de danças incaicas organizado na Espanha do qual ganhou o prêmio.
Também em Madri publicou seu primeiro livro, Los jefes, uma coleção de contos
ganhadora do Prêmio Leopoldo Alas em 1959.
Ganhou também o importante Prêmio Biblioteca Breve, de Barcelona. Com a
publicação de segundo livro, seu primeiro romance, intitulado La ciudad y los perros,
em 1963, recebeu o Prêmio da Crítica Espanhola e, em 1968, o Prêmio Rómulo
Gallegos.
Este romance foi considerado uma das expressões mais características
desse momento de renovação no romance hispano-americano, que se conhece
como o Boom, do qual Vargas Llosa era o representante mais jovem. Não se tem
claro o período do nascimento deste fenômeno literário, nem mesmo, segundo José
Donoso (1972, p. 14), se tem alguém que o adote e defina o modo em que se teve
consciência de sua existência e de seu fim, se é que terminou. Para Ángel Rama
(2005, p. 161), o fim representaria uma retirada estratégica de quem ostentava o
Boom (publicitário e comercial) já que as leis do sistema de mercado em que havia
funcionado começavam a murchar.
Com relação ao surgimento do Boom, Donoso (1972, p. 12) afirma que há
uma circunstância fortuita com explicações histórico-culturais para sua origem. Em
um período muito curto nasceram romances magníficos oriundos de diferentes
países do mesmo continente, cujos autores ou amadureceram muito, ou
relativamente cedo, ou já eram consagrados. De repente irromperam romances em
um ambiente quase desértico, como afirmou Donoso, produzindo uma conjunção
espetacular. Porém, o autor questiona também o nome dado ao período literário,
Boom, uma onomatopéia que, em inglês, além de significar estouro, o tempo
31
título: EI último clásico. Surge sua terceira peça teatral Kathie y el hipopótamo em
1984, porém, esta é a segunda que foi publicada. Ainda neste ano, publica La
historia de Mayta.
Outro aspecto destacado pelo escritor como motivo da derrota nas eleições
foi sua proposta de por fim a gratuidade indiscriminada do ensino. Em sua proposta
ninguém que precisasse de recursos ficaria sem colégio e universidade; porém as
famílias com rendas mais altas contribuiriam para que os pobres tivessem uma
educação que os preparasse para sair da pobreza. Apristas, socialistas e
comunistas proclamaram a defesa, com sua vida, da educação gratuita. Segundo o
escritor peruano, esta foi uma das reformas que mais assustou os eleitores e fez
com que muitos deles votassem contra ele. Ao escrever suas memórias sobre as
eleições na qual foi candidato à presidência no Peru, Vargas Llosa comenta sobre a
educação na época em que escreveu:
Há cinco meses que, por causa da greve, todos os colégios nacionais estão
fechados e desde que o novo governo asumiu o poder, o Estado não
construiu uma só sala de aula, por falta de fundos. ¡Mas a educação
continua sendo gratuita e tem que cumprimentar-se de que essa grande
conquista popular não foi destruída! 15 (1993, p.182).
neste mesmo ano. No ano seguinte, publicou Carta de batalla por Tirant lo Blanc e,
em 1992, escreveu um ensaio sobre a obra de Cortázar: La trompeta de Deyá.
A publicação de suas memórias EI pez en el agua surgiu em 1993. Também
publicou sua quinta obra teatral intitulada El loco de los balcones e o romance
Lituma en los Andes. Um ano depois, recopila e publica seus artigos publicados no
jornal El País em uma obra chamada Desafíos a la libertad.
Dois anos mais tarde, publica sua sexta peça de teatro chamada Ojos
bonitos, cuadros feos. Ainda em 1996, publica o livro de ensaios intitulado La utopia
arcaica. José María Arguedas y las ficciones del indigenismo.
No ano seguinte, surge o romance Los cuadernos de don Rigoberto e o livro
de ensaios chamado Carta a un joven novelista. Entre 1997 e 1999, dedicou-se a
um novo projeto romanesco, ambientado na República Dominicana: La Fiesta deI
Chivo. O projeto teve seu início em 1975, quando esteve no país, filmando a versão
cinematográfica de Pantaleón y Ias visitadoras.
La fiesta del Chivo foi publicada em 2000. Publica também seus artigos
escritos entre 1992 e 2000 para sua coluna Piedra de Toque do jornal El País em
seu livro El lenguaje de la pasión. Neste mesmo ano, começa um novo romance,
cuja ideia surgiu nos anos universitários, quando leu Peregrinaciones de una paria,
de Flora Tristán, que deu origem à obra EI Paraíso en Ia otra esquina, que foi
publicada em 2003. Também publicou o livro de ensaios Literatura y política e outro
de seus artigos publicados no jornal El País, chamado Diario de Irak.
No ano seguinte, surge o livro de ensaios chamado La tentación de lo
imposible, no qual Vargas Llosa explica sua própria teoria da literatura. Em 2006,
publica o romance Travesuras de la niña mala. Também aparece seu livro de artigos
intitulado Israel/Palestina: Paz o guerra santa. Neste ano ainda, estréia o filme
homônimo baseado em seu livro La fiesta del Chivo.
Em 2007, surge seu sétimo livro de teatro chamado Odiseo y Penélope. Um
ano depois, publica a peça teatral Al pie del Támesis. Sables y Utopías foi publicado
em 2009. No ano seguinte, em 2010, publica Las mil y una noches, sua nona peça
de teatro. El sueño del celta, seu mais recente romance, foi publicado em 2010. E
neste ano, em abril de 2012, nasce La civilización del espectáculo, sua mais recente
obra ensaística.
36
Narrativas
Los jefes
Quando Vargas Llosa ainda tinha em mãos o original de sua obra Sebastián
Salazar Bondy, segundo Miguel Oviedo (1982, p. 34), propôs o livro a um editor
argentino que não deu muita importância ao material. Pouco tempo depois,
16
usar una experiencia personal como punto de partida para la fantasía; emplear una forma que finge el realismo
mediante precisiones geográficas y urbanas; una objetividad lograda a través de diálogos y descripciones hechas
desde un punto de vista impersonal, borrando las huellas de autor y, por último, una actitud crítica de cierta
problemática que es el contexto u horizonte de la anécdota In: Vargas Llosa (1993) (Tradução nossa).
37
conheceu Carlos Barral, que leu e ficou impressionado com o original do livro. Barral
sugeriu que Vargas Llosa se inscrevesse no concurso de romance Biblioteca Breve
que a Seix Barral estava convocando. Vargas Llosa, mesmo reticente com a
sugestão, pensando que não conseguiria o prêmio, apresentou-se e ganhou por
unanimidade (o que ocorreu pela primeira vez neste prêmio) por causa da alta
qualidade dos originais apresentados ao concurso como consta na ata do concurso
Premio Biblioteca Breve.
Seu primeiro romance também foi publicado em Madri, em 1963. Esta obra
foi ambientada no Colégio Leoncio Prado, nas imediações de Lima, no qual o
escritor retrata a juventude limenha da classe média do bairro de Miraflores. A obra
mostra a oposição entre o mundo dos jovens e a realidade circundante. Segundo
José Miguel Oviedo (1982, p. 22), alguns generais que se sentiram ofendidos com a
obra, como forma de castigo simbólico, queimaram uns mil exemplares da primeira
edição desta obra no pátio do colégio Leoncio Prado e tentaram desprestigiar o
autor peruano dando informações da época de estudante do escritor nesta escola.
Para Donald Shaw, os temas desta obra são os mesmos que predominam nos
romances de Vargas Llosa em sua primeira época: hipocrisia, violência, corrupção
moral, falso ideal do machismo e determinismo social.
La Casa Verde
Los cachorros
Em 1967, publicou este romance curto. Nele Vargas Llosa narra a história de
um menino chamado Pichula Cuéllar, que foi castrado por um cachorro. Apesar do
nível realista da narração, a crítica indicou também vários níveis de simbolismo.
Para Shaw (1999, p. 145), Cuéllar não é somente uma vítima do cachorro, mas
também do código do machismo. O relato vem a ser uma metáfora da crueldade
universal.
Conversación en la Catedral
Em 1969, publicou seu terceiro romance. Para Shaw (1999, p. 145), este
romance fecha o primeiro período da obra de Vargas Llosa, além de pertencer a um
grupo importante de romances sobre a ditadura. Este grupo marcou um dos
momentos fundamentais do novo romance. Segundo Carlos Fuentes (1993, p 71), a
partir de um encontro com Mario Vargas Llosa em um pub de Hampstead em
Londres, no qual ambos haviam lido Patriotic Gore, de Edmund Wilson, eles
construíram um projeto cujo foco seria a escrita de um romance de publicação
coletiva realizado por cada escritor latino-americano cuja temática era a ditadura de
seu país de origem. Este volume coletivo se chamaria “Los padres de las pátrias”.
Apesar do fracasso do projeto, os escritores Roa Bastos, García Márquez e
Carpentier decidiram escrever o livro cujo protagonista era um tirano.
Um ano antes de sua publicação, esta obra já tinha mais de mil páginas. Esta
quantidade de páginas acarretaria um problema editorial já que teria que ser
publicada como um folhetim, em quatro tomos, e, por esta razão, a obra original
39
teve que sofrer vários cortes e correções. Todas estas alterações acarretaram uma
reestruturação do romance a qual conhecemos hoje em dia.
Conversación en la Catedral trata do período chamado de ochenio (1948-
1956) do governo do General Odría no Peru. Para reconstruir este período, em seu
afã de estar documentado, o próprio Vargas Llosa afirmou ter lido os discursos do
ditador. A partir de um fato ocorrido com o seu cachorro Batuque, que foi levado pela
carrocinha, Vargas Llosa começa as primeiras páginas desta obra: “Y allí se me vino
a la cabeza la idea de empezar con una escena así esa novela que escribiría algún
día, inspirada en Esparza Zañartu y en esa dictadura de Odría, que, en 1956, daba
las últimas boqueadas”. (1993, p. 179)
Zavalita, personagem principal do romance, foi buscar seu cachorro, que foi
capturado pela “carrocinha”, esse personagem principal encontra-se com o ex-chofer
do seu pai, muitos anos depois, em um bar chamado Catedral, dessa forma
descobre algumas informações secretas e sujas sobre seu país e sobre seu pai, Don
Fermín.
Em 1973, Vargas Llosa escreve este romance que, pela primeira vez,
emprega o humor em sua obra como procedimento estilístico e narrativo para tornar
mais verossímeis algumas situações absurdas como afirmou Bella Jozef (1989, p.
277). Para Shaw (1999, p. 147), é a partir desta obra que Vargas Llosa começa sua
segunda época. Para ele, até então os romances do peruano eram caracterizados
pela narrativa de protesto social. Pantaleón relata como um ingênuo oficial do
exército peruano cumpre as ordens de montar um serviço de prostitutas ambulante
para os soldados que estão na selva e na fronteira.
Foi publicada em 1977. Nesta obra, o autor relata parte de sua biografia (o
período no qual estava casado com sua primeira esposa, Julia), intercalando com
histórias dos radioteatros de Pedro Camacho. Nela o escritor se apropria dos temas,
40
La historia de Mayta
EI hablador
Este romance foi publicado em 1987. Nesta obra, o autor trata mais uma vez
do problema das tribos da região amazônica do Peru e da destruição de sua cultura.
Faz referência, nesta narrativa, ao caso de um personagem de La casa verde, Júm,
o cacique que foi torturado por exploradores brancos. O protagonista Saúl Zuratas,
conhecido como “Mascarita”, sofre insolências e crueldades de outras pessoas,
porque tem sangue judeu e uma mancha no rosto que o deforma. Por esta razão,
transforma-se em “falador” dos mitos e das tribos e líder espiritual. Para Shaw (1999,
p. 157), neste livro aparece um tema mais universal que é a defesa da identidade
cultural num mundo de megaculturas que deixa cada vez menos espaço para a
diversidade.
Elogio de la madrastra
Publicou este romance em 1988. Segundo Shaw (1999, p.155), este romance
erótico foi dedicado e escrito para uma coleção de romances eróticos dirigida pelo
cineasta e erotômano Luis Berlanga. A perversidade enreda sutilmente a harmonia
42
Este romance foi publicado em 1993. Mais uma vez o personagem Lituma, de
La casa verde, retorna a uma nova obra, agora o personagem aparece destacado
em local remoto na serra onde três homens desapareceram. Lituma e Tomás moram
num ambiente bárbaro e hostil, sofrem constantes ameaças dos guerrilheiros do
Sendeiro Luminoso. Para Shaw (1999, p.154), o final feliz deste romance talvez seja
reflexo da influência do pós-boom, porém não atenua o impacto do resto do
romance.
Vargas Llosa, em entrevista a Diego Barnabé, afirma que “Al escribir sobre la
dictadura de Trujillo, uno escribe sobre todas las dictaduras. Creo que una novela, si
no tiene esa perspectiva general, universal, no es novela, pasa a ser folklore, o un
testimonio localista.”17
17
Al escribir sobre la dictadura de Trujillo, uno escribe sobre todas las dictaduras. Creo que una novela, si no
tiene esa perspectiva general, universal, no es novela, pasa a ser folklore, o un testimonio localista. (2000) In:
Vargas Llosa, “Entrevista” para Radio El Espectador. (Tradução nossa)
44
Dramas
La huida del Inca
Sua primeira obra teatral escrita em 1951. Drama em três atos com prólogo e
epílogo. A estreia da peça foi no teatro Variedades no dia 17 de julho de 1952 e
ganhou o III Concurso de Teatro Escolar e Radioteatro Infantil do Ministério de
Educação Pública. Segundo Oviedo, o sucesso da apresentação do teatro foi o
mesmo que teve a duração dos atos de celebração da festa da cidade de Lima
naquele ano. Vargas Llosa nunca permitiu a publicação desta obra, mas sua mãe
conservou uma cópia do manuscrito.
Foi durante os ensaios da peça, por causa do ambiente que foi criado, e ao
ver que a obra tomava corpo, que ele convenceu-se neste ano de que não seria
poeta, mas sim um dramaturgo: “el drama era el príncipe de los géneros y yo
inundaría el mundo de obras teatrales como las de Lorca o Lenormand”. (1993, p.
102)
La señorita de Tacna
45
Kathie y el hipopótamo
Surge sua terceira peça teatral em 1983, porém, a segunda que foi publicada.
A estréia foi em abril de 1984 no teatro Ana Julia Rojas, em Caracas, durante o
Festival Internacional de Teatro de Venezuela. A história ocorre no sobrado de uma
casa em Lima. A personagem Kathie, uma mulher de classe social alta, deseja
relatar em um livro sua viagem realizada por diferentes lugares da Ásia e África e,
para isso, contrata Santiago Zavala, um professor universitário, para que escreva o
livro.
La Chunga
Vargas Llosa publicou, em 1993, sua quinta obra teatral, que trata de Aldo
Brunelli, professor de história da arte obcecado por balcões coloniais de Lima. Ele e
sua filha Lleana resgatam balcões coloniais abandonados em casas antigas para
levá-los a sua casa, um espaço chamado pelos dois de “cemitério de balcões”. Sua
obsessão termina em um fogo purificador. O tema neste relato é sobre a dinâmica
entre presente e passado, entre arte e vida.
Odiseo y Penélope
Em 2010, publica sua nona peça de teatro. Esta obra é uma recopilação de
vários contos árabes do Oriente Médio medieval. Depois de ser enganado por sua
esposa, o rei decide se casar todos os dias com uma mulher para matá-la no dia
seguinte. Ao casar-se com Sherezade, sua decisão muda, porque durante mil e uma
noites ela conta um relato impressionante e inacabado dessa forma se livra da
morte.
Artigos e Ensaios
García Márquez: historia de un deicidio
Em 1971, publica este trabalho, que foi sua tese doutoral na Universidad
Complutense de Madrid, onde foi defendida com o título García Márquez: lengua y
estructura de su obra narrativa 18, com a qual obteve dez (cum laude) na qualificação.
O propósito desta obra é descrever o processo da criação narrativa, respondendo às
questões, como por exemplo: como nasce a vontade de criação, de que
experiências se alimenta, mediante que procedimentos transforma os materiais do
mundo real em elementos da ficção. Trata-se de uma análise em profundidade da
obra de García Márquez, desde seus primeiros contos até Cien años de soledad.
El combate imaginario
18
Este foi o título da tese de Vargas Llosa; ao ser publicado o livro, o título original sofreu uma alteração.
48
Em 1983, publica seus artigos nesta coletânea. Nela reuniu 14 artigos sobre
Sartre, Camus e Simone de Beauvoir, além de adicionar mais ou menos 50 textos
de diferentes gêneros, como: manifestos, conferências e cartas, publicados entre
1962 e 1982. O próprio autor afirmou que são como um “documentário sobre os
mitos, utopias, entusiasmos, discórdias, fanatismos e violências em que vivia um
latino-americano nas décadas de 60 e 70”, [...] “clima político e intelectual para o
qual todos nós, escritores, contribuímos com nossa conduta e nossa pena para
purificar ou tornar menos denso”.19 (VARGAS LLOSA,1986:11).
La suntuosa abundancia
EI último clásico
Também em 1984, publicou este ensaio sobre Los miserables, a obra mestre
de Victor Hugo, para ser o prólogo de uma das suas publicações da obra. Foi a partir
de suas releituras das obras de Victor Hugo para realizar este prólogo que Vargas
Llosa escreveu mais tarde um estudo sobre a gestação de Los miserables.
19
clima político e intelectual para el cual todos nosotros, escritores, contribuimos con nuestra conducta y nuestra
pena para purificar o volver menos denso [...]In: VARGAS LLOSA (1986) (Tradução nossa)
50
Em 1986, publica o segundo volume desta obra que reúne os seus artigos de
1972 a 1983.
Em 1990, publicou o terceiro e último volume desta obra que reúne os artigos
jornalísticos de 1964 a 1988. Vargas Llosa se empenha em conseguir coincidência
entre pensamento, enunciação e práxis, empenho no qual persegue o "ambicioso
designio de capturar la vida y expresarla".
Também em 1990, publica este livro que reúne seus ensaios sobre vinte e
cinco romances, como por exemplo, Joyce, Thomas Mann, Faulkner, Scott
Fitzgerald, Nabokov, Lampedusa, entre outros. Nele o autor trata dos problemas e
da evolução da narrativa. Como afirmou o próprio autor, a obra é “uma acusação
terrível contra a existência sob qualquer regimene ou ideologia: um testemunnho
clamejante de suas insuficiências, de sua ineptidão para nos encher. (…) As
mentiras da literatura, se germinam em liberdade, nos provam que isso nunca foi
certo”20. Afirma ainda que todo bom romance diz a verdade e todo mal romance
mente. Porque «decir la verdad», para um romance, significa fazer o leitor viver uma
ilusão, e «mentir», ser incapaz de conseguir esse engano. Segundo o autor peruano,
ele partiu de algumas experiências vivas na sua memória e estimulantes para sua
imaginação e fantasiou algo que reflete de maneira muito infiel esses materiais de
trabalho. Para ele, os romances não são escritos para contar a vida, mas sim,
transformá-la, acrescentando-lhe algo.
20
una acusación terrible en contra la existencia bajo cualquier régimen o ideología: un testimonio llameante de
sus insuficiencias, de su ineptitud para colmarnos. (…) Las mentiras de la literatura, si germinan en libertad, nos
prueban que eso nunca fue cierto. In: Vargas Llosa (1990) (Tradução nossa)
51
La trompeta de Deyá
EI pez en el agua
Desafíos a la libertad
El lenguaje de la pasión
Em 2001, publica seus artigos jornalísticos escritos entre 1992 e 2000 para
sua coluna Piedra de Toque do jornal El País. Neles Vargas Llosa continua com
temas como a política, a cultura, os problemas sociais, a arte ou os fatos da
atualidade dos últimos anos.
Literatura y política
Em 2002, publicou este livro de ensaios que inclui as conferências que leu na
Cátedra Alfonso Reyes del Tecnológico de Monterrey, México, e suas reflexões
sobre as pulsões que marcaram sua vida pública. Este livro inclui também um artigo
23
“... Tal vez, el atributo principal de la vocación literaria sea que, quien la tiene, vive el ejercicio de esa vocación
como su mejor recompensa, más, mucho más, que todas las que pudiera alcanzar como consecuencia de sus
frutos. In: Vargas Llosa (1993) (Tradução nossa)
54
Diario de Irak
La tentación de lo imposible
Em 2006, Mario Vargas Llosa deu um curso sobre Juan Carlos Onetti em
Georgetown University (Washington) e, para isso, voltou a ler a obra completa do
escritor uruguaio Juan Carlos Onetti e também sua bibliografia crítica. Em 2008,
publica seus estudos que, segundo ele, basicamente, o que fazia era “pesquisar a
maneira na qual Onetti utilizou a ficção como um mundo alternativo. A resposta à
56
Sables y Utopías
24
investigar la manera en la que Onetti utilizó la ficción como un mundo alternativo. La respuesta a la derrota
cotidiana es la imaginación: huir hacia un mundo de fantasía. Es decir, aquella operación de donde nació la
literatura, por la que existe la literatura y por eso el título del libro. In Vargas Llosa (2008) (Tradução nossa)
25
que ha experimentado lo que se entendía aún por cultura cuando mi generación entró a la escuela o a la
universidad y la abigarrada materia que la ha sustituido, una impostura que parece haberse realizado con
facilidad, en la aquiescencia general. In: Vargas Llosa (2012) (Tradução nossa)
57
Premiações e Condecorações
26
En esta cultura de oropel imperante, las estrellas de la televisión y los grandes futbolistas ejercen la influencia
que antes tenían los profesores, los pensadores y (antes todavía) los teólogos. In: Vargas Llosa (2012)
(Tradução nossa)
58
1ª PARTE
Rosalba Campra
Tiranía
Pablo Neruda
Rosalba Campra
Este capítulo não pretende ser uma história da América Latina, nem mesmo
pretende fazer um comentário dos fatos relatados. Nossa intenção com esta seção
é a de propiciar um esclarecimento para melhor compreensão desse momento
histórico que se representa nas obras literárias estudadas.
Há uma variedade tão grande de realidades latino-americanas que Halperin
Donghi (1975) considera a unidade da América Latina um problema. Segundo
Donghi, muitos manuais afirmam que existe a mesma quantidade de Américas
Latinas quanto são os Estados que nasceram da fragmentação pós-revolucionária.
Porém, para este professor, esta solução dada nos manuais sobre o problema da
unidade da América Latina tem uma vantagem, a da facilidade na qual se alinham
uma vintena de histórias paralelas. Mas o estudioso prefere o plural não da América
Latina, mas sim de cada um de seus Estados que o compõem devido aos
contrastes, a sua história complexa e à geografia atormentada.
61
27
es a la vez española, portuguesa, india, africana y varias realidades más. Cualquier empeño por fijar una
identidad única a América Latina tiene el inconveniente de practicar una cirugía discriminatoria que excluye y
abole a millones de latinoamericanos y a muchas formas y manifestaciones de su frondosa variedad cultural. In:
Vargas Llosa (2005) (Tradução nossa)
62
28
Seu bisavô paterno Sebastián Ignacio de Odría Urdanpilleta y Atristaín, era vasco e foi o primeiro Odría que
chegou no Perú em tempos da colônia onde lutou durante a guerra da independência. Aos 18 anos, Odría
ingressou na escola Militar de Chorrillos, se destacou em sua promoção. Graduou-se como o primeiro de sua
turma em 1915. Em 1927 ingressou na Escuela Superior de Guerra onde permaneceu até 1930, obteve o
diploma de Oficial de Estado Mayor. Foi um militar de destacada trajetória: participou como Jefe de Estado
Mayor durante a guerra contra o Equador em 1941.
29
mientras exista – me decía – un solo partido organizado como el de APRA, y frente a él solo agrupaciones
electorales eventuales, jamás habrá democracia en el Perú, y el país seguirá oscilando entre la dictadura
castrense y la prepotencia, inevitable, del grupo único. In: Franklin Pease (2003) (Tradução nossa)
66
Colombo foi hospedado por Guacanagarix, foi tratado de forma cortês e seus
desejos foram concedidos. Após várias tentativas na costa norte, sob a soberania
espanhola, na costa sul de La Española, estabeleceu-se o primeiro assentamento
permanente no Novo Mundo: Santo Domingo. Uma vez que se fundou a colônia,
uma série de primazias tomaram lugar em Hispaniola. Os índios se rebelaram por
69
causa das apropriações de alimentos além dos abusos praticados contra suas
mulheres, mas em 1495 foram dominados definitivamente.
La Española gozou de boa posição econômica e social durante o século XVI.
No entanto, no fim deste século, com a conquista da América do Norte e do Sul, a
ilha foi sendo esquecida e relegada a um segundo plano, o que a fez ficar cada vez
mais pobre. Outro fator que influiu para sua decadência foi o ataque
de corsários ingleses que destruíram grande parte das cidades e populações.
Até 1801, a República Dominicana teve como metrópole a Espanha e, de
1802 a 1808, a França. De 1808 a 1822, o domínio foi mais uma vez espanhol. Os
haitianos, durante vinte e dois anos, de 1822 a 1844, tiveram o controle da ilha. Em
1804, quando sai a declaração de independência do Haiti, vários governantes
haitianos trataram de unificar a ilha, e conseguiram no ano de 1822, algumas
semanas depois que a parte oriental da ilha adquiriu a independência da Espanha. A
este breve período de autonomia chamou-se "Independência Efémera".
No ano de 1844, inicia-se a gestão independentista preconizada por Juan
Pablo Duarte, um jovem de posição acomodada que havia estudado na França e
com ideais nacionalistas, dirigida por Francisco del Rosario Sánchez e Pedro
Santana. Para conseguir adeptos da causa independentista, fizeram circular folhas
manuscritas, por causa da falta de recursos, dentre elas, a considerada mais
importante foi a intitulada Manifestación de los pueblos de la Parte Este de la Isla
antes Española o de Santo Domingo, que tratava das causas da separação da
República Haitiana. Este é o primeiro documento oficial da Nação, com o qual se
iniciou a coleção de leis dominicanas. A independência aconteceu em 27 de
fevereiro de 1844. Os dominicanos constituíram a Junta Governativa da nova nação.
No entanto, por causa dos dirigentes que não tinham uma liderança sólida, os
latifundiários que tinham poder econômico governaram por breves períodos. Alguns
grupos internos que não estavam satisfeitos com a autonomia buscaram novamente
um vínculo com a Espanha, e, em 1861, conseguiram seu objetivo, a Espanha
retomou a ilha como sua colônia.
Os dominicanos recuperaram sua independência em 1863 por meio de lutas.
Contudo, uma vez mais, o país sofreu uma ação externa, dessa vez dos Estados
Unidos, que ocuparam a República Dominicana durante oito anos, de 1916 a 1924,
para garantir o pagamento das dívidas com os bancos norte-americanos e europeus.
70
30
Rafael Leónidas Trujillo nació el 24 de octubre de 1891 en la pequeña ciudad de San Cristóbal localizada al
sur de la República Dominicana. Fue el tercero de once hermanos y provenía de una familia de clase media. Su
padre, José Trujillo Valdés, de origen español, se dedicaba a los negocios y se distinguía por sus prácticas de
vida bohemia. Su madre, Julia Altagracia Molina Chevalier, se caracterizaba por su humildad, su sencillez y por
su abnegación en el cuidado de sus hijos y de su esposo, aun cuando sufría infidelidades por parte de éste.
Entre otros miembros de su familia, cabe mencionar a Ercina Chevalier, abuela de Trujillo y figura influyente en
su vida. Ercina era mulata, de origen haitiano y de sangre africana. Esta herencia negra era la responsable de la
obsesión desenfrenada de Trujillo por asearse y utilizar cremas para aminorar su piel morena Rafael Leónidas
Trujillo inició su carrera militar con la ocupación norteamericana en 1916. Durante este tiempo recibió
entrenamiento por parte de la Escuela Militar de Haina e ingresó a la llamada Policía Nacional. En 1918 el
Gobierno Militar de Estados Unidos lo nombró Comandante de la Guardia Nacional. Este cargo le permitió
demostrar a sus superiores su disciplina, su firmeza y su integridad al servicio del país, por ende, se destacó
dentro de su carrera militar y logró ascender apresuradamente. Fue así como obtuvo los rangos de Capitán,
Teniente Coronel, Comandante Auxiliar de la Policía Nacional y Jefe de Estado Mayor. Por su sólida formación y
por el respaldo del presidente Horacio Vázquez logró adentrarse en los espacios más ocultos del gobierno”. In:
MARRERO GONZALEZ, Eda. 2007, p.02)
71
o propósito de criar um sistema político no qual ele era o único que detinha poder
verdadeiro. Fortaleceu seu governo impondo a insegurança, o segredo e a
impotência dos cidadãos. Seu regime se caracterizou por ser uma ditadura pessoal
e anticomunista. Controlou o pensamento do povo dominicano através dos meios de
comunicação, da educação, da atividade intelectual, das relações públicas e de sua
relação com a Igreja.
O ex-presidente Balaguer (1996, p. 65), em seu livro autobiográfico Memorias
de un Cortesano en la Era de Trujillo, definiu o regime da seguinte maneira:
Trujillo não é somente o sanguinário ditador, o “Benfeitor da Pátria” é
lembrado por muitos como o primeiro e único presidente que pagou
totalmente a dívida externa do país; sentiu as bases de um estado
moderno, reprimindo qualquer inimigo e eliminando as lutas
caudilhistas. O poder onímodo que exerceu o ditador é
simultaneamente temido e respeitado.
31
Ana Gallego Cuiñas (2005), em sua tese sobre Trujillo afirma que existe uma quantidade relevante de obras
que destaca a semelhança nítida entre os dois tiranos.
74
Santo Domingo mudou seu nome para Ciudad Trujillo em honra ao ditador e a
sua boa vontade pela reconstrução da cidade depois de ser devastada pelo ciclone
San Zenón em 1930. Igualmente, outras cidades, parques, ruas, avenidas e edifícios
mudaram seu nome pelo de Trujillo ou por um de seus inumeráveis títulos.
A estabilidade econômica e política foram conquistadas por meio de uma
cruel e sangrenta repressão física e ideológica. O Haiti também foi uma vítima da
violência da Era Trujillo. Os habitantes que viviam na zona fronteiriça à República
Dominicana, em 1937, sofreram um genocídio. Naquela época, não havia uma
fronteira que determinasse os limites entre os dois países e, com o pretexto de
demarcar formalmente esta área, o tirano massacrou os haitianos no mês de
outubro de 1937. Trujillo estabeleceu esta política de fronteira para evitar a invasão
de estrangeiros. Para isso, ordenou a matança de todos os haitianos ilegais no país.
O exército cumpriu a ordem, exterminando, aproximadamente, trinta e sete mil
homens, mulheres e crianças haitianas.
González Blanco (1955, p. 52 apud TORRES DE LA CRUZ, 2003) afirma que
para Trujillo
32
estos haitianos cargados de hijos y enfermedades contagiosas, como la malaria, la tuberculosis o la sífilis, con
sus siniestras prácticas de vudú y costumbres contra natura como el incesto, implicaban un retorno a un estado
de oscurantismo y salvajismo que se antojaba insoportable para una nación de origen hispánico, de puro
abolengo español, de tradición cristiana. In: González Blanco (1955, apud TORRES DE LA CRUZ, 2003)
(Tradução nossa)
75
Horas depois da morte de Rafael Trujillo, seu filho Ramfis Trujillo, que estava
em Paris, alugou um avião e voltou a Santo Domingo e se colocou à frente da
situação, mesmo sendo Joaquín Balaguer quem estava formalmente na presidência.
O Serviço de Inteligência Militar (SIM) e todos os serviços de segurança do Estado
realizaram amplas buscas atrás dos culpados do assassinato do tirano.
Até novembro de 1961, vários envolvidos na morte de Trujillo foram
executados a mando de seu filho Ramfis. Pouco tempo depois da morte do pai,
Ramfis e sua família abandonaram o país por causa das pressões internacionais.
Depois de várias tentativas por parte dos familiares de Trujillo para retomar o poder
e do golpe de Estado que derrubou o novo presidente, Joaquín Balaguer, um
Conselho de Estado conseguiu realizar as eleições livres em 1962. A vitória foi
do Partido Revolucionário Dominicano, que elegeu o candidato Juan Bosch, com
59,5% dos votos.
Militares, había telefoneado a Juan Tomás Díaz diciéndole que el Generalísimo iría a San Cristóbal esa noche.
Dos carros le seguirían tan pronto entrara en la carretera y uno estaría esperándole adelante para bloquearlo.
Uno de los carros que le iban siguiendo, conducido por Antonio Imbert, se paró al lado del carro de Trujillo, y
Antonio de la Maza disparó su escopeta calibre 12 recortada. El generalísimo fue herido, pero decidió pararse y
luchar. […] Después de un rato el Benefactor estaba muerto. In: Eduardo Latorre (1975) (Tradução nossa)
77
2ª PARTE
A OBRA DE MARIO VARGAS LLOSA,
CONVERSACIÓN EN LA CATEDRAL E LA FIESTA DEL CHIVO
78
Es preciso, por eso, recordar a nuestras sociedades lo que les espera. Advertirles
que la literatura es fuego, que ella significa inconformismo y rebelión, que la razón
de ser del escritor es la protesta, la contradicción y la crítica.
Así como una gota de agua se parece a otra, el concepto de historia escrita de
Popper se parece a lo que siempre he creído que es la novela: una organización
arbitraria de la realidad humana, que nos defiende de la angustia por nuestra
percepción del mundo, de la vida, como un vasto desorden.
79
O autor reconstrói a seu modo, um mundo seu, uma vida sua, recriados com
meios próprios e intransferíveis, conforme uma visão particular, única, original.
81
Apesar das já citadas definições para este gênero, para a escritora Marthe
Robert, o romance é quase indefinível, pois adquire formas distintas, tornando-se
impossível encaixá-lo em qualquer definição. Segundo Robert (2007), o romance
faz rigorosamente o que quer: nada o impede de utilizar para seus próprios fins a
descrição, a narração, o drama, o ensaio, o comentário, o monólogo, o discurso;
nem de ser a seu bel-prazer, sucessiva ou simultaneamente, fábula, história,
apólogo, idílio, crônica, conto, epopeia; nenhuma prescrição, nenhuma proibição
vem limitá-lo. A autora considera o romance um
o romance, que aboliu de uma vez por todas as antigas castas – as dos
gêneros clássicos- apropria-se de todas as formas de expressão,
explorando em benefício próprio todos os procedimentos sem nem sequer
ser solicitado a justificar seu emprego. E, paralelamente a essa dilapidação
do capital literário acumulado por séculos, apodera-se de setores cada vez
mais vastos da experiência humana, vangloriando-se de conhecê-la
profundamente e da qual faz uma reprodução, ora apreendendo-a
diretamente, ora interpretando-a à maneira do moralista, do historiador, do
teólogo e, até mesmo do filosofo e do cientista. Robert. (2007, p. 13)
não tem regras nem freio, sendo aberto a todos os possíveis, de certa forma
indefinido de todos os lados. É esta evidentemente a razão principal de sua
expansão contínua, e também de sua voga nas sociedades modernas, às
quais se assemelha, quando não por seu espírito inventivo, por seu humor
buliçoso e vitalidade.
34
una de las más brillantes constelaciones de todos los tiempos: trátese de William Styron, Joan Didion, Tony
Morrison, Nadine Gordimer, V.S.Naipaul, Salman Rushdie y Julian Barnes en el dominio de la lengua inglesa;
Gabriel García Márquez, Juan Goytisolo, Mario Vargas Llosa, Fernando del Paso o Julian Ríos en la lengua
española; o en Europa, Italo Calvino, Milan Kundera, Gunter Grass, Thomas Bernhard y Gyorgy Konrad; en
Africa, Naguib Mahfouz, Sonallah Ibrahim, Chinua Achebe, o Breyten Breytenbach, y en Asia, Kobo Abe, Anita
Desai o Bei Dao. In: Carlos Fuentes (1993) (Tradução nossa)
84
[...] a de querer ser outros sem deixar de ser nós mesmos, a de nos
projetarmos sobre figuras e situações do passado buscando ali o que
nos falta aqui, ou seja, afanando-nos para alterar a história revela
nossa falta de conformação com o presente, o desejo de que as
coisas tivessem sido de outra maneira, e a pulsão inexplicável de ter
vivido a história como um romance.35
Um dos primeiros a utilizar o termo novo romance histórico foi o crítico literário
uruguaio Fernando Ainsa, em 1991, que, em seu artigo intitulado La nueva novela
latinoamericana, publicado na revista mexicana Plural, versou sobre este assunto. A
partir dos estudos de Fernando Aínsa sobre este novo gênero, Seymor Menton
(1993) enumerou seis características que distinguem o novo romance histórico do
romance histórico scottiano:
minucioso conocimiento de los hechos en realidad ocurridos, vaya ‘deformando’ la historia, vaya reorientando
la secuencia de los hechos conforme a su propio criterio, no sólo mediante el manejo a su antojo de la
cronología de los mismos, sino incluso a través de la invención de personajes y episodios ficticios a los que se
relaciona directamente con la vida real de los personajes veraces. In: Márquez Rodríguez, apud in:
FIORUCCI, (2003) (Tradução nossa).
90
37
1 –La relectura crítica de la historia.
2 – El cuestionamiento de la historia oficial;
3 – La diversidad de puntos de vista que expresan diferentes versiones de la historia;
4 – La supresión de la distancia histórica que carcateriza a la novela decimonónica;
5 – El uso de la parodia par distanciarse de la historia oficial;
6 – La superposición de diferentes tiempos;
7 – La variedad en el uso de materiales históricos - desde la cita textual a la imitación de crónicas y relaciones;
8 – La utilización de pseudocrónicas o crónicas apócrifas que pretenden pasar por crónicas históricas;
9 – La reescritura de la historia a través del uso de la “carnavalización”, lo cual contribuye a fantasearla;
10 – La preocupación por el lenguaje a través del uso del pastiche, la parodia y la comicidad. In: Fernando Aínsa
(1991) (Tradução nossa)
91
Julia Kristeva (1984) afirma que todo texto se constrói como uma miscelânea
de citações, todo texto é a assimilação e a alteração de outro. Em La fiesta del
Chivo a presença da intertextualidade se faz notar através de citações bíblicas e
alusões a diversos ditadores de outras narrativas que tratam deste tema, o que,
também, contribui para dar o tom carnavalesco da obra.
No gracias a ella, sino a él, como todo lo que ocurría en este país
hacía tres décadas. Trujillo podía hacer que el agua se volviera vino y
los panes se multiplicaran, si le daba en los cojones. (La fiesta del
Chivo, p. 31)
Neste outro fragmento de La fiesta del Chivo (p. 341), o ponto de vista do
próprio Pedro:
39
la novela histórica de la posmodernidad es ya incapaz de representar el pasado histórico, lo único que puede
‘representar’ son nuestras ideas y esteriotipos del pasado [...] no puede ya conducir directamente a un mundo
supuestamente real ni a una reconstrucción de la historia pasada tal y como ella misma fue una vez presente. In:
Oleza, (1996) (Tradução nossa).
95
3ª PARTE
A palavra poder denota diferentes significados, podendo ser usada para fazer
alusão à capacidade, facilidade ou força para realizar algo. Além da sua variação
semântica o conceito de poder varia no decorrer do tempo e de acordo com seus
autores e respectivas correntes de pensamento. Ao longo da história da
humanidade vários filósofos se dedicaram a estudar esse tema e cada um deles
com uma visão peculiar.
Portanto, faz-se necessário uma breve definição de poder baseada em alguns
renomados filósofos para entender o pensamento, o conceito usado e sua
interpretação. Para este fim, faremos um pequeno histórico sobre as várias
concepções acerca do poder.
O homem de acordo com a sua realidade histórica, desde os primórdios, tem
a vontade de exercer o poder. Remontando-nos ao período anterior a Cristo,
destacamos o filósofo grego Aristóteles que foi o intelectual mais notável daquela
civilização. Nasceu na cidade de Estagira no ano 384 A.C. e morreu 322 A.C..
Aristóteles retira o homem do poder para dá-lo à lei, porque segundo ele o que é
geral é superior ao particular. Segundo esse filósofo desde o nascimento uns seres
estão destinados a obedecer e outros a mandar. Para ele, a presença das leis é que
impedem que o poder expresse a vontade do governante. Para Aristóteles, a política
é a melhor relação de poder, pois nela quem manda e quem obedece alternam suas
funções.
Dando um salto no tempo, agora no século XV, outro pensador sobre esse
tema foi Nicolau Maquiavel, que nasceu em Florença, em 1469 e morreu em 1527.
Foi historiador, poeta, diplomata e músico. É reconhecido como fundador do
pensamento e da ciência política moderna. Maquiavel sintetiza o pensamento
97
político da modernidade em O Príncipe, para ele não existe um modelo ideal político,
rompe a forma de conceitualização do poder outrora definida por Platão, Aristóteles
e outras correntes antigas, instaurando e consolidando uma nova definição de Poder
e de suas maneiras de atuação e manutenção. Estabeleceu a necessidade de um
poder uno e centralizador na figura do Príncipe sem as interferências e intervenções
da Igreja.
Maquiavel utilizou, com inovação, autores e conceitos da Antiguidade clássica.
Dentre eles Tito Lívio, e seus conceitos de virtù e fortuna que foram apropriados por
Maquiavel, passando a indicar as formas para se chegar ao poder. A fortuna é a
sorte, as oportunidades que se têm e a virtú é a vontade incessante de adquirir o
poder. Maquiavel observa que todo poder vem do povo. Para ele, o exercício do
poder e sua manutenção dependiam acima de tudo de estar em conformidade com
as aspirações populares. Por isso, escreve um tratado sobre a conduta do príncipe.
Para Maquiavel, a obrigação do governante, ou seja, do Príncipe, é conquistar e
manter o Poder.
No século seguinte, Thomas Hobbes, filósofo inglês, também pesquisa sobre o
poder. Ele viveu de 1588 a 1679, escreveu O Leviatán em 1651, um manual sobre a
natureza humana e a organização da sociedade. Nele, define o homem e suas
características, explana sobre o surgimento do Direito e dos diferentes tipos de
governo. Para Hobbes, o poder do Estado é o maior dos poderes, que resulta ser a
soma de poderes de todos os homens na formação do Contrato Social. Para que os
homens obtenham a paz é necessário que cada um renuncie ao direito que tem
sobre as coisas, para transferir para um poder soberano. Hobbes define duas
formas de constituir o poder soberano, capaz de manter uma ordem pública: a
primeira via é pela força; e a segunda pelo acordo. Hobbes representou suas ideias
em uma criatura mística denominada Leviatã, representado na ilustração feita pelo
autor como um monstro composto por vários homens dispostos como escamas.
Com isso, Hobbes quer dizer que o soberano que controla a sociedade é formado
pelo conjunto de indivíduos, mostrando também que o ser humano deu ao Estado o
direito de controlá-lo da maneira que se deseja; seu objetivo é a segurança do povo.
Para o filósofo Thomas Hobbes, o poder de um homem consistia nos seus meios
presentes para obter futuramente algum bem aparente futuro. Seria como se cada
pessoa transferisse seu direito de governar a si mesmo a outro homem. Thomas
Hobbes defendia que o poder devia ser confiado a um soberano que executaria sua
98
vontade sobre os seus súditos com total liberdade. Nessa definição o Poder é
entendido como algo que se possui como um objeto ou uma substância.
Outro pensador inglês, John Locke (1632-1704), considerado um dos mais
importantes filósofos da doutrina liberal e o pai do empirismo. Segundo Locke, um
poder que não garantisse o direito à propriedade e à proteção da vida não poderia
ter meios de legitimar o seu exercício. Para Locke, como o poder legislativo,
supremo, define as leis, ele deve ser superior ao poder que as executa. O poder
executivo e o federativo exigem o controle sobre a força armada; porém são
diferentes. O poder executivo deve subordinar-se ao legislativo.
O filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804) foi fundador da filosofia crítica.
Para Kant, o Estado estabelece um contrato por meio do qual todos os membros
entregam ao povo sua liberdade externa, para recebê-la imediatamente depois como
membros do Estado. O Estado, segundo Kant, contém e está dividido em três
poderes: o poder soberano, representado pelo legislador; o poder executivo, pelo
governante, que segue a lei, e o poder judicial, pelo juiz.
O economista, filósofo e socialista alemão, Karl Marx (1818-1883) foi intelectual e
pensador revolucionário. Além de fundador da doutrina comunista moderna, ele
atuou como economista, filósofo, historiador, sociólogo, teórico político e jornalista.
Para Marx, a sociedade está dividida entre a classe dos capitalistas que detêm a
posse dos meios de produção e a do proletariado, cuja posse é sua força de
trabalho. Segundo Marx, o poder estava diretamente vinculado às relações de
produção.
No século XIX, um influente filósofo alemão, Friedrich Wilhelm Nietzsche
(1844-1900) traz novos conceitos ao assunto poder. Nietzsche considera que a
vontade de poder é a essência de toda a realidade. No ser humano, a vontade de
poder manifesta-se como uma interpretação que pretende dar um sentido e um valor
ao mundo. Portanto, ela manifesta-se sob a forma de juízos de valor que são
sintomas de uma vontade forte ou de uma vontade débil. A vontade de poder é a
essência da força e é também a própria força, não há outra força física, dinâmica ou
psíquica. As forças, que aspiram à expansão de seu poder, lutam entre si,
aniquilam, dominam, escravizam, aliam-se temporariamente umas às outras: cada
corpo específico anseia por tornar-se senhor de todo espaço, por estender sua força
e afugentar tudo que dificulta a sua ampliação.
99
O poder deve ser analisado como algo que só funciona em cadeia. Nunca
está localizado aqui ou ali, nunca está nas mãos de alguns, nunca é
apropriado como riqueza ou um bem. O poder funciona e se exerce em
rede. Nas suas malhas os indivíduos não só circulam, mas estão sempre
em posição de exercer este poder e de sofrer sua ação; nunca são sempre
centros de transmissão. Em outros termos, o poder não se aplica aos
indivíduos, passa por eles.
100
Nossa análise tem como parâmetro essa visão do poder, e não a de que um
sempre o exerça e outro sempre o sofra; todos exercemos poder em algum
momento e de alguma forma.
O poder, segundo Foucault, é exercido em inúmeros pontos e em meio a
relações desiguais e móveis, por isso nunca se localiza aqui ou ali, nem se adquire,
mas sim se compartilha, guarda-se ou deixa escapar-se; existem micro-poderes, que
todos possuem, sofrem e exercem uns em maior quantidade ou qualidade que
outros. Nas duas obras o poder não é exercido somente através da imagem do
representante do poder político, mas também por meio do saber, que pode ser
usado para manipular os demais. Quem sabe exerce o poder e quem o exerce
domina o saber. Como afirma Roberto Machado (2002, p. XXII): “é o saber enquanto
tal que se encontra dotado estatutariamente, institucionalmente, de determinado
poder. O saber funciona na sociedade dotada de poder. É enquanto é saber que tem
poder”.
O poder já foi tema para vários romances, e alguns deles, muito significativos
na América Latina. Devido a seus vários e sérios problemas de economia, de
política, de moral e de abuso de poder, essa região fomenta a produção literária
nessa temática. Nos dois romances estudados, podemos destacar fragmentos nos
quais notamos a relação imagística de Odría e Trujillo com outros tiranos; a
resistência dos conspiradores, que constituem outra forma de poder, além de
personagens como Zavalita e Urania, que também exercem seu poder. Estes
romances tramam fatos reais, pessoais e históricos na tessitura ficcional, mostrando
poder, sexo, submissão, violência e morte.
A primeira obra analisada do escritor peruano, Conversación en la catedral,
obra idealizada em um período da história do Peru, trata de um contexto político que
abarca a década dos anos cinquenta, denominado “ochenio” de Odría (1948 a
1956). Em um bar chamado La Catedral, Santiago Zavala, o protagonista do
romance e Ambrosio, o motorista do pai de Santiago, reencontram- se depois de
101
algum tempo. A narração começa com uma conversa entre eles sobre o passado de
suas vidas, revelando segredos, ocultando e mostrando outras situações. As várias
histórias se organizam por meio de uma dinâmica de círculos concêntricos,
constituindo uma polifonia de vozes. Dessa forma reconstroem a história do período
ditatorial do Peru, governado pelo general Odría, a partir das relações pessoais dos
personagens que conversam na Catedral. O autor descreve e problematiza o
ambiente de poder entre senadores, empresários influentes, generais e prostitutas,
assim como, opositores comunistas e apristas. Além de tratar dos mecanismos
mentais e morais dos governantes e das diferentes retóricas das pessoas que o
exercem.
Conversación en la catedral está composta de quatro livros com estratégias
independentes. Santiago Zavala, de boa família e filho de um empresário
colaborador com a ditadura, empenha- se em estudar na universidade de San
Marcos contra a vontade de seu pai. Nessa instituição é onde Zavalita vivencia e
comprova a perseguição e represálias que existem contra os opositores da ditadura.
A segunda obra desta análise, La fiesta del Chivo, segunda obra de Vargas
Llosa sobre o tema da ditadura, é inspirada em um período da história da República
Dominicana de regime ditatorial, que durou trinta e um anos (1930 a 1961). A
protagonista da obra, Urania Cabral, uma dominicana de classe dominante, que
atualmente mora nos Estados Unidos, onde é advogada, volta a Santo Domingo
para ver seu pai, Agustín Cabral. Outro protagonista é Leonidas Trujillo, ditador da
República Dominicana que mantém o controle do país por meio de vigilância,
violência e assassinato. Através de amigos ou colegas de trabalho de Cabral, pai de
Urania, Trujillo manipula pessoas, faz com que se calem, que mantenham silêncio,
além de retirar quase tudo do senador. Depois desse fato, Cabral, fiel servidor do
ditador, tenta descobrir o que poderia ter feito de mal, mas descobre, através de um
superior seu, que provaria sua fidelidade ao tirano oferecendo ao ditador a
virgindade de sua filha de 14 anos. Nesse exemplo e em muitos outros notamos a
utilização do abuso de poder do tirano.
Outra forma de exercer o poder dá-se por meio da punição, do medo, da
vigilância, da disciplina sobre o corpo e, por fim, da violência como forma de exercê-
lo, amedrontando, intimidando e demonstrando soberania.
102
Do século XVII ao XIX, o uso da disciplina para controlar o corpo teve grande
êxito. Na ditadura de José Manuel Odría e na de Leónidas Trujillo, foi a base de seu
absolutismo: a disciplina, a vigilância, o controle do corpo e da mente. A disciplina
permitiu fabricar corpos submissos, obedientes, úteis e, usando o termo
foucaultiano, um corpo “dócil” para que fizesse o que e como o tirano quisesse, de
acordo com a rapidez e a eficácia que ele determinasse.
Foucault (1997, p. 118) define as disciplinas como “métodos que permitem o
controle minucioso das operações do corpo que realizam a sujeição constante de
suas forças e lhe impõem uma relação docilidade-utilidade”. O poder disciplinar
adestra e, dessa forma, retira e se apropria ainda mais e melhor do corpo. Ele está
em toda parte e, sempre alerta, tem o controle contínuo (inclusive daqueles que
estão controlando); funciona permanente e silenciosamente. Essa era a sensação
dos peruanos e dominicanos: a de que todos vigiavam todos e ninguém sabia quem
103
vigiava quem. Sob esse controle invisível e eficaz, todos desconfiavam de todos e a
maioria tentava seguir as normas estabelecidas.
Um dos instrumentos do poder disciplinar, segundo Foucault, é o uso de
instrumentos simples, como o olhar hierárquico, a sanção normalizadora e o exame.
Em Conversación en la catedral, o personagem Fermín Zavala, por suspeita de
conspiração, perdeu vários de seus negócios que tinham relação com o governo
odriísta, retiraram a concessão do laboratório que Fermín possuía, pararam a
emissão de dinheiro, exigiram o pagamento de suas dívidas etc; já o personagem
Cabral, da obra La fiesta del Chivo, foi punido, destituído do cargo de Presidente do
Senado. Este soube de sua destituição através de uma carta publicada no jornal da
cidade; em seguida, foi expulso do Instituto Trujilloniano, do Contry Club, do Partido
Dominicano, suas contas bancárias foram congeladas até o fim da averiguação do
Congresso. Conforme as normas do poder disciplinar, recompensa-se, promovendo
e gerando hierarquias e lugares; pune-se, rebaixando e degradando, como
constatamos nos dois contextos citados.
Em Conversación en la catedral, o mecanismo “exame” era praticado
permanentemente por meio de telefones grampeados, vigiando, seguindo os
suspeitos e, se caso fosse necessário, punindo e eliminando os traidores como já foi
citado anteriormente. Já em La fiesta del Chivo, o uso do instrumento “exame”, no
poder disciplinar, era uma prova de lealdade a Trujillo, prova esta que somente era
conhecida como tal após a sua conclusão; servia para mostrar se o candidato
merecia uma ascensão militar; como o personagem Amadito, um dos conspiradores,
não pôde se casar e teve que se separar da mulher amada a pedido do tirano e, em
seguida, matou o irmão dela sem saber quem era o alvo.
Em Conversación en la catedral, para manter-se no poder e evitar
questionamentos, o tirano convoca uma eleição para presidente na qual o candidato
adversário será sabotado para que tudo continue da mesma forma de antes, no
entanto, com o aparente apoio popular. Odría expõe vários cartazes e frases de
apoio a ele mesmo por todos os lugares visíveis da cidade, inclusive em escolas e
universidades.
A seleção de jovens militares, o treinamento militar, a educação baseada nas
cartilhas trujillistas, o culto ao corpo e à farda impecável eram o processo para a
mecânica do poder investir sobre o corpo humano militar. Dessa forma adestra,
104
Su voz, su cuerpo son los de él, pero parece tener treinta años más. La
misma jeta fina, la misma nariz chata, el mismo pelo crespo. Pero ahora,
además, hay bolsones violáceos en los párpados, arrugas en su cuello, un
sarro amarillo verdoso en los dientes de caballo. Piensa: eran blanquísimos.
Qué cambiado, qué arruinado. Está más flaco, más sucio, muchísimo más
viejo, pero ése es su andar rumboso y demorado, ésas sus piernas de
araña. Sus manazas tienen ahora una corteza nudosa y hay un bozal de
saliva alrededor de su boca.
Em La fiesta del Chivo, (2001: 85), uma das vozes traça as características do
Coronel que se ocupa da segurança do país, Johnny Abbes apesar de ter um cargo
representativo de poder, por meio da descrição do narrador, ele não exercia o poder:
105
Trujillo critica o corpo da menina como forma de culpá-la pelo fracasso sexual.
Era magra, esquelética, sem atrativos, contudo, antes a menina era desejada por
ele, servia para o seu propósito (Vargas Llosa, 2001: 32):
La señora era más alta que Amalia, más baja que la señorita Queta, pelo
negro retinto, cutis como si nunca le hubiera dado el sol, ojos verdes, boca
roja que andaba siempre mordiendo con sus dientes parejitos de una
manera coquetísima. ¿Qué edad tendría? Más de treinta decía Carlota,
Amalia pensaba veinticinco. De la cintura para arriba su cuerpo era así así,
pero para abajo qué curvas. Hombros echaditos para atrás, senos paraditos,
una cintura de niñita. Pero las caderas eran un corazón, anchas anchas y se
iban cerrando, cerrando, y las piernas se iban adelgazando despacito,
tobillos finos y pies como los de la niña Teté.
Don Cayo era chiquito, la cara curtida, el pelo amarillento como tabaco
pasado, ojos hundidos que miraban frío y de lejos, arrugas en el cuello, una
boca casi sin labios y dientes manchados de fumar, porque siempre andaba
con un cigarrillo en la mano. Era tan flaquito que la parte de adelante de su
terno se tocaba casi con la de atrás. Cuando Símula no las oía, ella y
Carlota se mataban haciendo chistes: imagínatelo calato, qué esqueletito,
qué bracitos, qué piernitas. Apenas si se cambiaba de terno, andaba con las
corbatas mal puestas y las uñas sucias. Nunca decía buenos días ni hasta
luego, cuando ellas lo saludaban respondía con un mugido y sin mirar.
40
Este personagem foi criado por Vargas Llosa inspirado em um político que conheceu em sua época de
estudante na Universidad Nacional Mayor de San Marcos. Durante um econtro com Esparza Zañartu, diretor de
Governo e cerebro da repressão política de Odría. Foi este episodio, segundo Vargas Llosa, que deu a ele a
ideia de escrever um romance ambientado na época da ditadura peruana. Em El pez en el gua (1993, p.138)
afirma que “Al salir de aquella entrevista supe que tarde o temprano iba a escribir lo que acabaría siendo mi
novela Conversación en La Catedral. (Cuando el libro salió, en 1969, y los periodistas fueron a preguntarle a
Esparza Zañartu, que vivía en Chosica, dedicado a la filantropía y la horticultura, qué pensaba de esa novela,
cuyo protagonista, Cayo Mierda, se le parecía tanto, repuso [imagino su gesto aburrido]: «Pssst... si Vargas Llosa
me hubiera consultado, le habría contado tantas cosas...»)”
108
falar, já diz tudo, já indica tudo o que quer, tudo o que quer mandar. O olhar também
é um instrumento de poder.
Conforme J.C. Lüning (apud BURKE, 1994, p. 19), estudioso alemão, que
trata do impacto das impressões físicas: "Entre a gente do povo [...] impressões
físicas têm um impacto muito maior que a linguagem, que faz apelo ao intelecto e à
razão." Este estudioso afirma que isso serve para incentivar a obediência. Ou seja,
uma boa imagem, com os adornos adequados que, por exemplo, remetam a outra
imagem do poder, ajuda ou propicia o exercício do poder. Saber olhar com força, no
momento certo, pode impressionar e inclusive intimidar as pessoas; o olhar seduz ou
recrimina, isso depende de quem e como o usa. O saber olhar faz parte da
construção da imagem.
Através da resposta dada à jornalista Sanjuana Martínez (2000), notamos que
Vargas Llosa teve a preocupação de traçar em seu livro o paradigma de ditador.
Além de verificar as marcas de ditadores latinos deixadas por Vargas Llosa nesta
obra, destacaremos a semelhança ou a hibridez dos tiranos latinos no personagem
Leónidas Trujillo. No fragmento a seguir (Vargas Llosa, 2001, p. 88), há uma
referência a Fidel Castro e a sua atitude xenófoba, a que Trujillo pretende copiar:
Pensaba que en cualquier momento tendrían que salir huyendo, que había
que tener bien forradas las cuentas en el extranjero, para gozar de un exilio
110
No capítulo dois, dessa mesma obra (2001, p. 32), conta-se um mito sobre o
ditador, que aparece como um homem que não sua. Um mito que o tirano quis
manter.
Trujillo nunca suda. Se pone en lo más ardiente del verano esos uniformes
de paño, tricornio de terciopelo y guantes, sin que se vea en su frente brillo
de sudor. No sudaba si no quería. Pero, en la intimidad, cuando hacía sus
ejercicios, daba permiso a su cuerpo para que lo hiciera.
41
“la plata está ligada a la dignidad real". In: Chevalier, (1993) (tradução nossa).
111
—Guárdese esos dólares para el viaje, Ferrito y usted los necesitan más
que yo —dijo él, muy lentamente, y vio inmovilizarse a la mujer y vio sus
ojos, sus dientes—. Además, usted vale mucho más que todo ese dinero.
Está bien, es un negocio. No grite, no llore, dígame sí o no. Pasamos un
rato juntos, vamos a sacar a Ferro, mañana toman el avión.
—Cómo se atreve, canalla —y vio su nariz, sus manos, sus hombros y
pensó no grita, no llora, no se asombra, no se va—. Cholo miserable,
cobarde.
—No soy un caballero, ése es el precio, esto lo sabía usted también —
murmuró él—. Puedo garantizarle la más absoluta discreción, desde luego.
No es una conquista, es un negocio, tómelo así. Y decídase de una vez, ya
se pasaron los diez minutos, señora.
Uma pergunta que permeia toda a obra é “¿Cuándo se había jodido el Perú?”
A circunstância de “joder” no caso do personagem Ambrosio parece concretizar a
pergunta feita pelo personagem principal Zavalita. Um motorista capanga, pobre,
113
negro, que sofre vários preconceitos, além de ser enganado por outras pessoas, é o
parceiro na relação homossexual com um burguês que é o seu patrão (Vargas
Llosa, 2001, p. 530):
Durante muito tempo, a mulher foi considerada como não detentora de poder
na ordem da sexualidade, assim como as crianças. Em Conversación en la catedral,
Hortensia e Queta são usadas por Cayo para facilitar suas negociações como um
modo de seduzir os interessados a fazer negócios com ele ou com o governo, mas é
por meio do sexo que elas conseguem jóias, dinheiro e prestígio nesse meio.
Já o personagem Ambrosio, apesar de aceitar manter relações sexuais com
seu patrão Fermín deseja a prostituta Queta e, para tal fim, junta dinheiro por um
tempo para poder pagar os serviços dela (Vargas Llosa, 2001, p. 495-496):
lo enlazó con las piernas y le sobó la espalda, las nalgas que transpiraban.
Permitió que la besara en la boca pero mantuvo los dientes apretados.
Isso prova que sua relação homossexual com seu chefe não passa de
carinho, submissão e admiração. Tudo isso se mostra como consequência de um
poder que age sobre ele, de modo a anulá-lo em seus impulsos de contrariedade ao
outro; o corpo deve ser modelado para o trabalho produtivo, o sujeito se adapta ou
perde sua liberdade (FOUCAULT, 1997, p. 26).
Em La fiesta del Chivo, Urania era do sexo feminino e adolescente, logo não
exercia nenhuma forma de poder na visão do ditador e na de outros homens e,
inclusive, na de mulheres da época. Contudo, Urania prova ao tirano que sua
suposta ausência de poder a fez mais poderosa que ele, pois aquela menina o fez
sentir inferior como homem e como machista: ele não conseguiu concretizar o ato
sexual. Dessa maneira, mostrou ao tirano sua forma de poder, pois Trujillo esperava
que a garota demonstrasse de alguma forma que estava realizada por viver a
115
fantasia de estar com o detentor do poder, no entanto, ela ficou fria, não o desejava
e não reagiu como ele esperava. Dessa maneira, exerceu seu poder sobre o tirano
mantendo-se inerte e alienada, demonstrando resistência ao seu poder viril,
permanecendo indiferente a ele e ao momento (Vargas Llosa, 2001, p. 557-558).
No fragmento a seguir de La fiesta del Chivo (2001, p.557), temos claro o que
o ditador quer com Urania: mostrar sua masculinidade e continuar sendo um Chivo
(nome recebido exatamente por considerarem o bode um animal de grande apetite
sexual):
Ao notar que não conseguiria manter relações sexuais, utilizando seu falo,
Trujillo, com medo de perder o poder, porque pensa como um tirano, que seu poder
está presente no seu órgão sexual, fê-lo com a mão, demonstrando-lhe que é
poderoso mesmo sem o uso do órgão masculino (Vargas Llosa, 2001, p. 558).
secretamente, não controlava seu próprio corpo; tampouco era o “macho singador”
de antes. Para evitar que a menina saísse dali como entrou, ou seja, virgem, e
fizesse comentários sobre sua masculinidade, ele usou de violência para mostrar
que ainda exercia seu poder, mascarando a realidade de maneira rude, violenta.
Em Conversación en la catedral, Cayo usa as relações sexuais, os desejos
como instrumentos de poder; a partir dos desejos sexuais das pessoas, ele
manipula, controla, detém o saber e exerce o poder sobre os demais. Ele
representa, nessa obra, o ditador e suas decisões, é por meio dele que se realizam
as ações ditatoriais; porém, quando parece que tudo está mal para ele, foge do país
e retorna no final da história bem melhor que estava.
A relação de poder de Trujillo com os demais em La fiesta del Chivo consistiu
em demonstrar que era um super-macho, el Chivo, aquele que possuiu todas as
mulheres que desejou, recebendo de presente dos próprios pais, como prova de
devoção, o que mais respeitavam em sua cultura machista, a virgindade de suas
filhas. Esse contexto da história ratificou o sexo como o instrumento de poder, de
sujeição.
Segundo Foucault (2002, p. 24-25), a dominação se exibe por meio de regras
que são impostas pelos dominadores aos dominados. Apesar das regras não
dizerem nada, elas permitem a violência, portanto o dominador é aquele que
subverte a regra e, perverte o próprio sistema de regras, trocando sua posição para
dominador. Para ele, a regra é entendida como:
Paz estuvo preso seis meses, no que había vuelto clandestinamente al Perú:
sólo que parecía un pajarito, esa mañana, mientras su vocecita les resumía
la historia del Partido y lo veían mover su delgada mano amarilla en un
movimiento rotativo e idéntico, como si tuviera calambre en la mano, y mirar
de soslayo al patio y la calle.
¿Qué sabíamos? Que los sindicatos eran amarillos, pues los verdaderos
dirigentes obreros estaban muertos o presos o desterrados, que con la
huelga vendría la represión y habría detenciones y que las otras
universidades darían la espalda a San Marcos. Lo que no sabíamos, lo que
no estaba previsto, camaradas, ¿qué era? Su manita subía y bajaba junto a
tu cara, Zavalita, su voz bajita insistía, repetía, convencía. Que la huelga
alcanzaría este éxito y obligaría al gobierno a desenmascararse y a mostrar
toda su brutalidad a plena luz. ¿Que la situación iba mal? ¿Con tres
universidades ocupadas, con lo menos cincuenta estudiantes y dirigentes
obreros presos, iba mal? ¿Con las manifestaciones—relámpago en el Jirón
de la Unión y la prensa burguesa obligada a informar sobre la represión,
mal? Por primera vez un movimiento de esa envergadura contra Odría,
camaradas, por primera vez una grieta en tantos años de dictadura
monolítica. ¿Mal, mal? ¿No era absurdo retroceder en estos momentos?
¿No era más correcto tratar de extender y de radicalizar el movimiento?
Juzgando la situación no desde un punto de vista reformista, sino
revolucionario, camaradas.
A las dos o tres semanas, en vez del apestoso plato de harina de maíz
habitual, le trajeron al calabozo una olla con trozos de carne. Miguel Ángel
Báez y Modesto se atragantaron, comiendo con las manos hasta hartarse.
El carcelero volvió a entrar, poco después. Encaró a Báez Díaz: el general
Ramfis Trujillo quería saber si no le daba asco comerse a su propio hijo.
Desde el suelo, Miguel Ángel lo insultó: "Dile de mi parte a ese inmundo hijo
de puta, que se trague la lengua y se envenene". El carcelero se echó a reír.
Se fue y se volvió, mostrándoles desde la puerta una cabeza juvenil que
tenía asida por los pelos. Miguel Ángel Báez Díaz murió horas después, en
brazos de Modesto, de un ataque al corazón.
no pensamento arcaico. E, por isso, segue cultuando os mitos que criaram dele: de
não suar, de sua virilidade e de estar em todos os lugares, em eterna vigilância.
Galíndez é outro exemplo do uso da violência para demonstrar seu poder
tirânico e eliminar o que poderia acontecer a alguém que soubesse demais sobre o
ditador ou sobre seu governo e quisesse repassar essas informações. O professor
Galíndez foi trazido de avião, dos Estados Unidos para a República Dominicana,
logo após defender sua tese de doutorado sobre o regime trujillista e, em seguida,
foi assassinado.
O tirano manteve seu poder usando a violência, o que produziu no povo ou
em um grupo específico a resistência que, por sua vez, levou às revoltas, resultando
num governo menos eficaz.
Nesses romances de Vargas Llosa, cada personagem pode exercer o poder
por meio de sua imagem, do sexo ou por meio da violência. Esse tema é tão
evidente em suas obras que em Literatura y política (2003, p. 93) em uma entrevista
cedida a Raymond Williams, Vargas Llosa responde a um questionamento
relacionado à presença marcante da violência em seus textos da seguinte forma:
“No creo que la violencia esté en mis libros porque yo tenga una fascinación especial
por ella, al contrario, si algo tengo al respecto es rechazo, una repugnancia terrible.
La violencia política, desde luego, pero también sus otras manifestaciones.”
Em suas obras, percebemos os “micro-poderes” a partir da polifonia, ou seja,
da não centralização do poder; ele é múltiplo, ramificado, passa pelos indivíduos, é
exercido ou sofrido por estes; não está localizado em um lugar. O autor delega
poderes, verdades a cada personagem.
Apesar de o tirano usar os “mecanismos de poder” para manter-se no
exercício dele, percebemos que o autor nos permitiu ver os “micro-poderes” uma vez
que, em um sistema ditatorial, o controle, o domínio sobre os corpos e as mentes é
tão forte que poucos percebem ou sabem que o poder circula, passa por eles
também.
Em “Aquí Vargas Llosa para la intimidad” entrevista de Leonard Kirschen
(1967, p.04-05), Vargas Llosa afirmou que Conversación en la catedral não era um
romance político, porém com personagens verdadeiros da vida política peruana.
Para o peruano a ditadura odríista se diferenciou das demais por preferir governar
mediante a corrupção, a intriga, o compromisso e a duplicidade em lugar da
violência. Vargas Llosa reitera afirmando que “Fue una dictadura que robó a nuestra
120
42
“Trujillo, que utilizó el sexo como un instrumento de coerción, de avasallamiento de la sociedad. Esto hizo que
la mujer fuera realmente un objeto maltratado, brutalizado de una manera terrible durante esos años. (Literatura
y política, 2003, p. 91)
121
43
desde un presente en el que aún deja huellas, secuelas, remiminiscencias, reverberaciones. Ése es el punto
de vista que da Urania, el de la mujer y el de una perspectiva contemporánea, moderna, desde la cual se evoca
la era de Trujillo. In: Vargas Llosa (2003) (Tradução nossa)
122
4ª Parte
PARÓDIA, CARNAVALIZAÇÃO, MEMÓRIA E TÉCNICAS
NARRATIVAS: A TESSITURA NARRATIVA VARGALLOSIANA
123
perceber um significado na vida no interior e através da obra, porém isso não implica
que se possa ordenar a própria vida desse modo ou investi-la de sentido.
Georg Lukács
paródia o desvio total (1988, p. 81). Sant’Anna (1988, p. 28) afirma ainda que “falar
de paródia é falar de intertextualidade das diferenças.
Linda Hutcheon em sua obra Uma teoria da paródia (1985: 47) afirma que
grande parte dos estudiosos da parodia remontam à raiz etimológica do termo, ao
substantivo grego parodia, no entanto estes não mostram que o prefixo para possui
dois significados. Normalmente referem-se ao significado de “contra” ou “oposição”,
tornando a paródia uma oposição ou contraste entre textos. Porém, o prefixo para
em grego também pode significar “ao longo de” e, portanto, segundo Hutcheon
(1985:48) “existe uma sugestão de um acordo ou intimidade, em vez de um
contraste. A paródia é, pois, na sua irônica “transcontextualização” e inversão,
repetição com diferença”.
A professora Linda Hutcheon (1985, p. 54), diferentemente dos autores
anteriores, concebe a paródia não somente como subversão e ridicularização, mas
como
[...] repetição, mas repetição que inclui diferença; é imitação com distância
crítica, cuja ironia pode beneficiar e prejudicar ao mesmo tempo. Versões
irônicas de “transcontextualização” e inversão são os seus principais
operadores formais, e o âmbito de ethos pragmático vai do ridículo
desdenhoso à homenagem reverencial.
44
Barthes e Riffterre, apud in: HUTCHEON (1988) p. 166.
45
Idem. P. 167
46
Apud Said In: Hutcheon (1988) p. 89
127
De la cintura para arriba su cuerpo era así así, pero para abajo qué curvas.
Hombros echaditos para atrás, senos paraditos, una cintura de niñita. Pero
las caderas eran un corazón, anchas anchas y se iban cerrando, cerrando, y
las piernas se iban adelgazando despacito, tobillos finos y pies como los de
la niña Teté. Manos chiquitas también, uñas larguísimas siempre pintadas
del mismo color que los labios.
Bakhtin inicia seu estudo sobre o carnaval concebendo-o como festa popular
para assim conceituar a carnavalização e as especificidades da literatura
carnavalizada. Para este formalista russo (1997: 122-3) não há separação, é um
espetáculo globalizante, pois:
—Guárdese esos dólares para el viaje, Ferrito y usted los necesitan más
que yo —dijo él, muy lentamente, y vio inmovilizarse a la mujer y vio sus
ojos, sus dientes—. Además, usted vale mucho más que todo ese dinero.
Está bien, es un negocio. No grite, no llore, dígame sí o no. Pasamos un
rato juntos, vamos a sacar a Ferro, mañana toman el avión.
—Cómo se atreve, canalla —y vio su nariz, sus manos, sus hombros y
pensó no grita, no llora, no se asombra, no se va—. Cholo miserable,
cobarde.
—No soy un caballero, ése es el precio, esto lo sabía usted también —
murmuró él—. Puedo garantizarle la más absoluta discreción, desde luego.
No es una conquista, es un negocio, tómelo así. Y decídase de una vez, ya
se pasaron los diez minutos, señora.
Cayo usava sua amante para conquistar seus convidados e assim saber
informações, conseguir favores para seu governo.
O pai de Santiago, Don Fermín, convence seu motorista, que é heterossexual,
a ter relações homossexuais com ele. Apesar de contrariado, submete-se à relação
crendo que dessa forma estará ajudando-o a relaxar de seu dia-a-dia estressante e
também demonstra confiança e gratidão ao chefe. O autor carnavaliza o
personagem Don Fermín que mantém uma vida familiar de aparências, mas que na
verdade, se submete, implora a seu chofer para ter com ele relações homossexuais.
No fragmento abaixo, no qual a prostituta Queta e Ambrosio conversam sobre estes
momentos entre ele e seu chefe, percebemos a devoção do motorista por Don
Fermín (Conversación en la Catedral, p. 528):
—¿Qué te haría? —insistió Queta—. Si un día me lo encuentro en San
Miguel y le digo Ambrosio se gasta tu plata conmigo.
—Usted sólo le conoce una cara, por eso está tan equivocada con él —dijo
Ambrosio—. Tiene otra. No es un déspota. Es bueno, un señor. Hace que
uno sienta respeto por él.
47
“em todos os generos do comico-serio ha também um forte elemento retorico, mas este muda essencialmente
no clima da alegre relatividade da cosmovisao carnavalesca: debilitam-se a sua seriedade retórica unilateral, a
racionalidade, a univocidade e o dogmatismo”. In: Bakhtin, 1981: 92.
134
no cenário público e sua missão é unir, abrir, aproximar, reordenar o que a visão
hierárquica da vida mantém fechado, desunido, distanciado” 48.
A transposição, direta ou indireta, do carnaval para a linguagem simbólica é o
que Bakhtin chama de “carnavalização da literatura”. É como se o carnaval se
transformasse em literatura, precisamente numa poderosa linha determinada de sua
evolução. As formas carnavalescas se converteram em poderosos meios de
interpretação artística da vida, numa linguagem especial cujas palavras são dotadas
de uma força excepcional de generalização simbólica, ou seja, de generalização em
profundidade e, segundo Bakhtin, todo o campo do cômico-sério constitui o primeiro
exemplo desse tipo de literatura.
Em Conversación en la Catedral a carnavalização se faz notar na relação que
o motorista de Zavala, Ambrosio, mantém com seu chefe. Ambrosio é pobre, negro e
submisso, como podemos observar no fragmento abaixo no qual o personagem
relata a primeira vez que seu chefe colocava suas mãos sobre seu órgão genital
quando dirigia (Conversación en la Catedral, p. 518):
—Se dio cuenta que te morirías de miedo —dijo Queta con sequedad, sin
compasión—. Que no harías nada, que contigo podía hacer lo que quería.
—Voy a chocar, voy a chocar —jadeó Ambrosio—. Y hundía el pie. Sí, tenía
miedo ¿ve?
—Tenías miedo porque eres un servil —dijo Queta con asco—. Porque él es
blanco y tú no, porque él es rico y tú no. Porque estás acostumbrado a que
hagan contigo lo que quieran.
48
“El carnaval se representa, así en el escenario público y su misión es unir, abrir, aproximar, reordenar lo que la
visión jerárquica de la vida mantiene cerrado, desunido, distanciado”. Zavala (1996) (tradução nossa)
135
49
“Lo esencial carnavalesco no es ponerse la careta, sino quitarse la cara”. [tradução nossa]. Apud Arana y
Castillo, 2003, p.4
136
50
Santos explica dessa forma (2003: 50-51): “Bergson construiu uma teoria a partir da mediação entre atitudes
adaptativas, orgânicas e intuição e subjetividade. Respondeu às crenças no determinismo da matéria sobre o
espírito defendendo uma relação entre ambas. Freud desenvolveu conceitos que tinham por base diferentes
sistemas psíquicos, um referenciado na ‘matéria’ e outro na relação do indivíduo com o mundo. Trouxe para o
corpo humano a dualidade entre matéria e espírito. Halbwachs rejeitou ambas as teorias sobre a memória e
deslocou o eixo do debate: as vivências do passado não estavam materializadas em nossos corpos ou mentes,
mas na sociedade. Afirmou não só que não podemos armazenar fisicamente a totalidade de nossas experiências
passadas, mas também que a memória não pode ser explicada a partir do conflito entre a matéria e o espírito, ou
mesmo, entre o consciente e o inconsciente”.
138
51
Desde la historia, desde el psicoanálisis, este testimonio científico del horror, escrito con cierto temblor y un
enorme temor de convertir en ciencia pura lo que fue dolor, nos invita a recordar, a reintegrar a la memoria
colectiva lo que, de olvidarse, retornaría. Pocas veces la función catártica de la Historia queda tan en claro. In:
José Pedro Barrán (1993) (Tradução nossa)
140
52
esta fragmentación de la memoria y del proyecto colectivo inaugura –por la vía del horror y la violencia– un
mecanismo disociativo que corroe y corrompe el lazo social. El origen traumático y violento de esta
fragmentación sería la razón de su persistencia, es decir, que aunque cese la causa no cesan los efectos:
ruptura de pactos y alianzas transubjetivas, que tejen y sostienen los lazos sociales y aportan, en una lógica
freudiana, los factores de cohesión grupal y comunitaria. In: Ulriksen de Maren e Marcelo Viñar (1993) (Tradução
nossa)
141
De tal modo o escritor peruano deu voz em suas obras não somente ao
ditador, mas também a memórias excluídas da história oficial, prostitutas, mulheres,
pessoas que sofreram com a ditadura. Elas rememoram juntas o período ditatorial e
reconstroem a história. Para Michael Pollak as duas funções essenciais da memória
comum são: Manter a coesão interna e defender as fronteiras daquilo que um grupo
tem em comum, em que se inclui o território.
Por meio de um jogo narrativo de dois planos (o histórico e o ficcional) Vargas
Llosa elabora uma memória histórica na memória ficcional de seus personagens -
Santiago Zavala e Urania Cabral. Em Conversación en la catedral é a partir do
encontro, das lembranças entre Santiago Zavala e Ambrosio que se forma a
narrativa memoralistica. É por meio desta conversa entre os dois que se evoca a
memória de todos os demais personagens construindo assim o romance. Em La
144
fiesta del Chivo Urania Cabral proporciona, por meio de sua memória, outra
perspectiva da realidade do regime ditatorial. Além de Urania, os revolucionários que
matam o ditador e o próprio tirano também relatam suas histórias. Urania regressa a
seu país de origem já adulta após 34 anos, revive e reflete sobre suas memórias do
período em que viveu naquele país.
Tendo em vista o conceito de memória coletiva de Maurice Halbwachs (2006)
podemos considerar esta personagem do romance como uma memória coletiva. Já
que para ela a memória individual existe sempre a partir de uma memória coletiva,
posto que todas as lembranças são formadas em um grupo: “nossas lembranças
permanecem coletivas e nos são lembradas por outros, ainda que se trate de
eventos em que somente nós estivemos envolvidos e objetos que somente nós
vimos” (HALBWACHS, 2006, p. 30). A memória individual refere- se, segundo o
sociológo francês Halbwachs, a “um ponto de vista sobre a memória coletiva”.
O reencontro entre Santiago e Ambrosio em um canil, depois de anos sem se
falar, aguça a curiosidade de Santiago sobre alguns fatos do passado que não foram
esclarecidos, a partir daí eles rememoram fatos e sentimentos guardados na
memória. É também um regresso ao período odríista e a sua antiga vida e escolhas,
por isso um encontro consigo mesmo, com suas dúvidas, medos, angustias e
amores, como podemos observar no fragmento a seguir, no qual Santiago conversa
consigo mesmo (p. 23-24):
¿Lo detestas? ¿Lo odias? ¿Todavía? «Ya no», dice en voz alta. No habrías
vuelto si el rencor siguiera crepitando, la herida sangrando, la decepción
145
descrever uma realidade total, enfrentar à realidade real uma imagem que é
sua expressão e negação… Trata-se de um romance total por sua materia,
na medida em que descreve um mundo fechado, desde seu nacimento até
sua morte e em todos as órdens que o compõem.53
53
describir una realidad total, enfrentar a la realidad real una imagen que es su expresión y negación…
Se trata de una novela total por su materia, en la medida en que describe un mundo cerrado, desde su
nacimiento hasta su muerte y en todos los órdenes que lo componen. In: Vargas Llosa (2007) (Tradução
nossa)
54
imitar al Creador, creando una realidad tan numerosa como la que Él creó, es una manera de querer substituir
a Dios, de ser Dios. In: Vargas Llosa (2004) (Tradução nossa)
147
Vargas Llosa é um artesão em sua narrativa, pois, como vemos, em toda a sua
obra são muito usadas renovadas técnicas narrativas. Para José Luis Martín (1979, p.
155) o “sentido do escritor revolucionário, na arte narrativa, leva-o a experimentar
técnicas velhas e novas, transformando-as em ouro superfino, e a criar outras
56
novíssimas e originais” ; Vargas Llosa, em uma entrevista a Cano Gaviria (1972, p.
75), define o que é técnica: “Minha técnica são esses procedimentos, esses métodos,
táticas, truques dos quais me valho para começar a trasvasar esse material, do plano
nebuloso das obsessões e pulsões, ao plano temporal e concreto da escritura” 57.
55
Antes que por un tema que se presenta neutro y translucido, la tecnica es dictada por la realidad - realidad
que es también la del novelista en la medida en que éste puede llegar a ser materia de su propio relato y en la
medida, asimismo, en que no puede llegar a tener total conciencia de su obra. Realmente lo que se lleva a cabo
entre realidad y técnica es una especie de “dialogo”, un duelo de preguntas y respuestas. La técnica interroga a
la realidad y la realidad, al responderle, la transforma íntimamente. In: Ricardo Cano Gaviria (1972) (Tradução
nossa)
56
“sentido de escritor revolucionario en el arte narrativo lo lleva a experimentar con técnicas viejas y nuevas,
transmutándolas en oro superfino, y a crear otras novísimas y originales”. [tradução nossa]. (1979) p. 155
57
“Mi técnica son esos procedimientos, esos métodos, tácticas, trucos de los que me valgo para empezar a
trasvasar ese material, del plano nebuloso de las obsesiones y pulsiones, al plano temporal y concreto de la
148
59
Esta é a epígrafe do novo romance O Sonho do Celta de Vargas Llosa sobre a vida de Casement.
60
A la multiplicidad de perspectivas se sobrepone una unidad narrativa que niega conflictos y/o yuxtaposiciones
entre las voces. Todas ellas se concatenan coherentemente. Así, la realidad expuesta en La fiesta del Chivo,
lejos de ser fragmentaria -como El otoño del patriarca de García Márquez o Yo el Supremo de Roa Bastos -
delata una visión “consistente y totalizadora del pasado” que asemeja a la elaborada por los historiadores. In:
Frauke Gewecke (2001) (Tradução nossa)
150
[...] tudo que é dito, tudo que é expresso por um falante, por um
enunciador, não pertence só a ele. Em todo discurso são percebidas
vozes, às vezes infinitamente distantes, anônimas, quase
impessoais, quase imperceptíveis, assim como as vozes próximas
que ecoam simultaneamente no momento da fala.
-Le sacaba plata, y el tipo la mandó matar para que no lo chantajeara más
-recitó, suavemente, Becerrita-. ¿Quién es el tipo que contrató al matón?
-No lo contrató, le hablaría -dijo Queta, mirando a Becerrita a los ojos-. Le
hablaría y lo convencería. Lo tenía dominado, era como su esclavo. Hacía lo
que quería con él.
-Yo me atrevo, yo lo publico -repitió Becerrita, a media voz-. Qué carajo, yo
te creo, Queta.
-Bola de Oro la mandó matar -dijo Queta-. El matón es su cachero. Se llama
Ambrosio.
[...] não é falado por uma única voz, mas por muitas vozes, geradoras
de muitos textos que se entrecruzam no tempo e no espaço, a tal
ponto que se faz necessária toda uma escavação “filológico-
semiótica” detectar toda uma rede de isotopias que governam as
vozes, os textos e, finalmente, o discurso.
O personagem Trujillo, uma das vozes que se faz ouvir, dialoga e representa,
como afirmou em entrevista o próprio escritor Mario Vargas Llosa, a todos os tiranos
já existentes; seu caráter e sua postura física foram inspirados em outros ditadores.
Sua representação física “la cara ancha, cuidadosamente rasurada, los cabellos
grises bien asentados y el bigotito mosca, imitado de Hitler" (La fiesta del Chivo,
2001, p. 31) é um dos aspectos que corrobora a afirmação do escritor de que ele
representa outros ditadores em sua obra.
Notamos a consciência crítica do autor em suas obras promovendo a
reflexão, a crítica através da polifonia de seus personagens. Bakhtin, ao referir-se à
consciência do criador do romance polifônico, afirma que ela está constantemente
154
61
Uno es fracasado cuando no hay un mérito de por medio, en el caso de Santiago, el no poder pasar
directamente del pensamiento a la acción, no lo logra la encarnación de sus principios, no logra actuar o
sencillamente se descompromete en lo que dice; la fe, si la tiene no le alcanza para tanto. In: Ricardo A. Setti
(1986) (Trdução nossa)
155
os personagens deixam de exercer seu poder, se isolam não mantendo mais suas
relações, o fracasso é a consequência.
A polifonia ocorre quando cada personagem utiliza sua própria voz,
expressando seu pensamento particular, de tal modo que, existindo várias
personagens, existirão várias ideologias. Por tanto Conversación en la catedral e La
fiesta del Chivo são romances polifônicos, pois apresentam o funcionamento de
cada personagem como um ser autônomo, a expressão de sua própria visão de
mundo, pouco importando a coincidência ou não com a ideologia própria do autor da
obra. A polifonia, segundo Pessoa (1994, p. 5), chega a sua plenitude quando “as
vozes que dialogam e polemizam ‘olham’ de posições sociais e ideológicas
diferentes, e o discurso se constrói no cruzamento dos pontos de vista”.
62
“en su interrogación constante, consigue hacernos asomar al mundo interior, donde no rige la lógica simplista
del vivir cotidiano del sujeto indivisible y unitario”. (1991) (tradução nosa)
63
GUBERMAN (1997) p. 38
157
¿Lo detestas? ¿Lo odias? ¿Todavía? «Ya no», dice en voz alta. No habrías
vuelto si el rencor siguiera crepitando, la herida sangrando, la decepción
anonadándola, envenenándola, como en tu juventud, cuando estudiar,
trabajar, se convirtieron en obsesionante remedio para no recordar.
Entonces sí lo odiabas. Con todos los átomos de tu ser, con todos
pensamientos y sentimientos que te cabían en el cuerpo. Le habías
deseado desgracias, enfermedades, accidentes. Dios te dio gusto, Urania.
El diablo, más bien. ¿No es suficiente que el derrame cerebral lo haya
matado en vida? ¿Una dulce venganza que estuviera hace diez años en
silla de ruedas, sin andar, hablar, dependiendo de una enfermera para
comer, acostarse, vestirse, desvestirse, cortarse las uñas, afeitarse, orinar,
defecar. ¿Te sientes desagraviada? «No».
64
“la sintaxis, las comillas, las cursivas que revelan las citas directas, o bien se priva el texto de todo marcador”.
[tradução nossa]. ZAVALA (1991) p. 50
158
¿Había sido ese segundo año, Zavalita, al ver que no bastaba aprender
marxismo, que también hacía falta creer? A lo mejor te había jodido la falta
de fe, Zavalita. ¿Falta de fe para creer en Dios, niño? Para creer en
cualquier cosa, Ambrosio. La idea de Dios, la idea de un “puro espíritu"
creador del universo no tenía sentido, decía Politzer, un Dios fuera del
espacio y del tiempo era algo que no podía existir. Andabas con una cara
que no es tu cara de siempre, Santiago. (Conversación en la Catedral
p.100)
Tu padre había sido tu padre y tu madre aquellos años. Por eso lo habías
querido tanto. Por eso te había dolido tanto, Urania. [...] ¿Por dónde vas?
No ha tomado decisión alguna. Por su cabeza, concentrada en su niñez, en
su colegio, en los domingos en que iba con su tía Adelina y sus primas a las
tandas infantiles del cine Elite, no ha cruzado la idea de no entrar al hotel a
ducharse y desayunar. Sus pies han decidido seguir. Camina sin vacilar,
segura del rumbo, entre peatones y automóviles impacientes por los
semáforos. ¿Seguro quieres ir donde estás yendo, Urania? Ahora, sabes
que irás, aunque tengas que lamentarlo. (La fiesta del Chivo, p. 23)
65
“lo otro no es la máscara, sino la realidad, valoración que lo aleja de la tradición en el tratamiento de este
motivo”. Zavala (1991) (tradução nossa)
159
segundo, sem nenhum elemento narrativo que justifique esta fusão de cenas. Há
momentos em que o narrador está em terceira pessoa e de forma inesperada o
pensamento de um personagem interrompe a narração. O seguinte fragmento
exemplifica essa técnica (Conversación en la Catedral, p.31):
Sonó el teléfono y el mayordomo vino corriendo: su amigo Santiago, niño.
Tenía que verlo urgente, pecoso. ¿A las tres en el Cream Rica de Larco,
flaco? A las tres en punto, pecoso.
¿Tu cuñado iba a sacarte la mugre si no dejabas en paz a [...]—El flaco no
se lleva bien con su viejo porque no tienen las mismas ideas —dijo Popeye.
—¿Y qué ideas tiene ese mocoso recién salido del cascarón?
—se rió el senador.
—Estudia, recíbete de abogado y podrás meter tu cuchara en política —dijo
don Fermín—. ¿De acuerdo, flaco?
—Al flaco le da cólera que su viejo ayudara a Odría a hacerle la revolución a
Bustamante —dijo Popeye— […]
O crítico literário José Miguel Oviedo (2007, p. 18) afirma que Conversación
en la Catedral “lleva a su extremo el procedimiento de diálogos telescópicos, en
cierto momento, los interlocutores simultáneos son dieciocho, lo que hace que el
relato vibre como en un estado de suspensión”.
Em La fiesta del Chivo, temos o fragmento no qual Urania conversa com a
imagem de seu pai sobre a época em que ele caminhava pela avenida de Santo
Domingo, só para ser notado pelo ditador que sempre fazia esta trajetória. Em
seguida volta a fala da outra voz que a ouve e comparte as mesmas memórias. A
construção bivocal dissonante e o local da ação são os mesmos: a autoconsciência.
Nessa autoconsciência, como afirmou Bakhtin (1981), “o poder foi ocupado pela
palavra do outro que nela se instalou”. Vejamos:
A dialogia permite a cada leitor encontrar a sua verdade, pois, como afirma
Bakhtin (1981, p. 94), a verdade não está em um único homem, em uma única voz.
Por meio da dialogia está permitido ao leitor confrontar-se com o texto, com a
verdade já estabelecida e, logo, tirar a sua própria conclusão, sua verdade.
Uma constante paixão na narrativa vargasllosiana tem sido a busca por formas
de expressar as ações simultâneas. O continuo emprego do procedimento dos
vasos comunicantes, por parte do escritor peruano, para a construção de seus
romances demonstra isso. Essa técnica, dentro dos limites da linguagem, permite
criar a sensação de simultaneidade apagando as fronteiras do tempo e do espaço.
A técnica dos vasos comunicantes, dos diálogos telescópicos do discurso são
utilizados desde La casa verde, Conversación en la Catedral, e também La fiesta del
chivo. Para María Bobes (2005) essa técnica se realiza com frequência, mas não
exclusivamente, “mediante diálogos cuyos sujetos son los mismos y sirven de nexo,
o cuyo tema es idéntico y permite el paso de uno a otro arrastrando y fundiendo los
tiempos y los espacios.” Como podemos observar no seguinte exemplo de vasos
comunicantes, em Conversación en la Catedral (p. 39-40), dado pela estudiosa
citada acima:
66
Mario Vargas Llosa, Literatura y política. Prólogo de Gonzalo Celorio. Prefacio y entrevista de Raymond L.
Williams. Colección Cuadernos de la Cátedra Alfonso Reyes del Tecnológico de Monterrey, ITESM/FCE. 3ª
edición. México, septiembre de 2005. 103 pp.
67
Optamos por expor as teorías sobre a alternância de vozes entre a segunda e a terceira pessoas e o uso do
“tu”, mas não decidimos por nenhuma das nomenclaturas. Deixamos que o leitor opte por uma delas.
161
Ainda segundo María Bobes (1991, p. 226-227), esse diálogo apresenta dois
sujeitos comuns a dois diálogos que se fundem mediante o uso de uma frase
comum. Há dois diálogos em dois tempos e dois espaços diferentes que se
oferecem em unidade por um nexo comum “Anda Amalia”. Essa frase foi usada
tanto para animá-la a dançar quanto para pegar o dinheiro. Tudo isso caracteriza o
procedimento dos vasos comunicantes.
As três perpectivas da narração, apresentadas por Urania, pelo ditador
dominicano e pelos autores do atentado, exemplificam o procedimento dos vasos
comunicantes maiores que, por sua vez, abarcam outros menores. A partir dos
pontos de contato entre eles, dos encontros entre as tramas que eles vão-se
modificando mutuamente.
Esse procedimento consiste em integrar dentro de uma realidade narrativa
acontecimentos, personagens, situações, que ocorrem em tempos ou em lugares
diferentes. Por tanto se funde aconteciemntos, personagens, situações. Como
afirmou Vagas Llosa (La novela, 1969, p. 14)
contínuo. Os vasos comunicantes refletem uma percepção do tempo que perde seu
caráter linear e se fragmenta. Além de acrescentar outra forma de vasos
comunicantes, nesta última obra de María del Carmen Bobes Naves (2005, p.14) os
vasos comunicantes foram chamados de “escenas comunicadas, enmarcadas o
superpuestas”. A professora María Bobes define esta técnica como:
duas ou mais conversas, em lugares e tempos diversos, distantes e
sucessivos, com temas e locutores que estão parcialmente presentes nelas,
se fundem em uma só conversa, em um só motivo, mediante interpolações
de frases, opiniões, palavras das diversas situações, organizadas em um
diálogo no qual intervem todos, uns presentes, outros não. Não se trata, por
tanto, de um fundido dos habituais no cinema, mas sim de uma composição
feita com fragmentos de várias situações, e palavras de várias converss
criando um diálogo cujos verbos introdutorios mantêm a orientação temporal
para o passado (disse) ou para o presente (diz), para deixar claro que são
diferentes momentos.69
69
dos o más conversaciones, en lugares y tiempos diversos, distantes y sucesivos, con temas y locutores que
están parcialmente presentes en ellas, se funden em una sola conversación, en un solo motivo, mediante
interpolaciones de frases, opiniones, palabras de las diversas situaciones, organizadas en un diálogo en el que
intervienen todos, unos presentes, otros no. No se trata, por tanto, de un fundido de los habituales en el cine,
sino de una composición hecha con fragmentos de varias situaciones, y palabras de varias conversaciones
creando un diálogo cuyos verbos introductorios mantienen la orientación temporal hacia el pasado (dijo) o hacia
el presente (dice), para dejar claro que son diferentes momentos. In: María del Carmen Bobes Naves (2005)
(Tradução nossa)
70
son efecto de una reflexión original sobre las posibilidades de introducir la realidad del tiempo en la realidad
del cronotopo narrativo, los problemas de los que tantos novelistas tienen consciencia: la sucesividad de la
palabra frente a las posibilidades de simultaneidad temporal de la realidad, la capacidad limitada del narrador
humano frente a la ilimitada del narrador omnisciente, a la que ha renunciado la novela moderna, mueven al
autor a buscar recursos que permitan expresar de forma modificada su propia visión de la realidad. In: María del
Carmen Bobes Naves (2005) (Tradução nossa)
163
71
1) Se asocian en una unidad narrativa dos o más elementos o episodios de distinta condición temporal,
espacial o de nivel de realidad;
2) Los elementos o episodios unidos “se comunican”: se modifican mutuamente, se contagian sus respectivas
cualidades;
3) En esta mezcla brota una realidad distinta de la que existiría si los episodios hubieran sido narrados por
separado. In: Ewa Kobyłecka (2006) (Tradução nossa)
164
Ewa Kobyłecka (2006, p.63) termina seu artigo afirmando que é por meio dessa
técnica que o escritor peruno consegue desdobrar a realidade para que ela seja
recibida em toda a sua pluralidade:
72
En el “trenzado” de los hilos narrativos se intuye el paralelismo de las acciones que se superponen y hasta
chocan entre sí para entregar al lector el profundo significado que han cobrado al ser sincrónicamente enfocadas
desde varias perspectivas. Por tanto, gracias a los vasos comunicantes, es la misma realidad ficticia la que se
desdobla, se deja percibir simultáneamente, para poder ser captada en toda su pluralidad. In: Ewa Kobyłecka
(2006) (Tradução nossa)
165
-Así que en Pucallpa y por culpa de ese Hilario Morales, así que sabes
cuándo y por qué te jodiste -dice Santiago-. Yo haría cualquier cosa por
saber en qué momento me jodí.
¿Se acordaría, traería el libro? El verano estaba acabando, parecían las
cinco y todavía no eran las dos, y Santiago piensa: trajo el libro, se acordó.
Se sentía eufórico al entrar al polvoriento zaguán de losetas y pilares
desportillados, impaciente, que él ingresara, que ella ingresara, optimista, y
tú ingresaste, piensa, y ella ingresó: ah, Zavalita, te sentías feliz.
-Está sano, es joven, tiene trabajo, tiene mujer -dice Ambrosio-. ¿En qué
forma puede haberse jodido, niño?
Em La fiesta del Chivo (2001, p. 75- 77) , podemos perceber esta alteração
pelas reminiscências de Urania no seguinte fragmento:
…dar mais saliência ou força narrativa a esses mesmos dados que foram
momentáneo ou totalmente suprimidos. Esse vazio premeditado sugere,
esse silêncio fala, essa mutilação turba, intriga, contamina o resto do relato
certo enigma, certa soçobra, e obriga o leitor a intervir na narração para
encher esse buraco significativo, acrescentando, adivinhando, em
cumplicidade ativa com o narrador.73
Com base na nomenclatura usada por Vargas Llosa, há duas grandes formas
de uso do método: o dado escamoteado elíptico e dado escamoteado em hipérbato.
No primeiro tipo, o dado é totalmente omitido da historia, já no segundo, ele é
73
…dar más relieve o fuerza narrativa a esos mismos datos que han sido momentánea o totalmente
suprimidos. Ese vacío premeditado sugiere, ese silencio habla, esa mutilación turba, intriga,
contamina al resto del relato cierto enigma, cierta zozobra, y obliga al lector a intervenir en la
narración para llenar ese hueco significativo, añadiendo, adivinando, en complicidad activa con el
narrador.In: Vargas Llosa (1971) (Tradução nossa)
74
“datos escamoteados por un astuto narrador que se las arregla para que las informaciones que calla sean sin
embargo locuaces y azucen la imaginación del lector, de modo que este tenga que llenar aquellos blancos de la
historia con hipótesis y conjeturas de su propia cosecha”. In: VARGAS LLOSA, (1971) (Tradução nossa)
167
provisoriamente suprimido, mais tarde será revelado, o que segundo Vargas Llosa
tem o propósito de que com a revelação modifique a historia de forma retrospectiva.
Esses dois tipos de dados ocultos fazem brotar a vivência na matéria narrativa e
conferem poder de persuasão à realidade na obra.
Em Conversación en la Catedral o elemento escamoteado elíptico é a dúvida
que persegue Santiago durante todo o relato “¿Ahí, piensa, me jodí ahí?”. O seu
questionamento aparece várias vezes na narrativa, na medida em que vai se
lembrando de sua vida e tenta descobrir onde fracassou. Sua dúvida sobre sua vida
e sobre o Peru se confundem a tal ponto que ele se relaciona com seu país da
seguinte forma: "Él era como el Perú, Zavalita, se había jodido en algún momento.
Piensa: ¿en cuál?" Nesse ínterim Santiago vai encontrando os momentos em que
também seu país “se jode”. Contudo o personagem não consegue ter uma resposta
a sua pergunta, por isso se frustra e afirma que “no hay solución”.
Em La fiesta del Chivo podemos classificar o silêncio como elíptico já que é
impossível, fisicamente, ao pai explicar a razão que o motivou a ter entregado a
virgindade de sua filha ao ditador. Através dessa técnica, fica claro para o leitor que
o relevante não é a atitude do pai, mas sim o que a ditadura, como “mecanismo de
poder”, pode levar um homem a fazer.
A homossexualidade de Fermín em Conversación en la Catedral e o estupro de
Urania em La fiesta del Chivo, podem ser denominados como hipérbato, pois
somente é dado a saber mais adiante ou no final do relato. O dado escondido e o
“semi-escondido” sugerem uma ambiguidade e ambivalência da vida humana,
porque, ao ler o romance, estamos fazendo projeções, suposições, gerando dúvidas.
Além do desejo de descobrir o elemento oculto, a variação temporal, o vaivém dos
relatos, dos personagens, instigando, ainda mais, o leitor à investigação das
verdades.
O ponto de vista espacial, como define o próprio escritor, é “a relação que existe,
em todo romance, entre o espaço que ocupa o narrador em relação com o espaço
168
75
narrado”. Segundo Vargas Llosa (1997, p. 34), há vários tipos de narrador, mas
ele destaca três possibilidades:
O escritor afirma ainda em Cartas a un joven escritor (1997, p. 34- 35) que
dentro desse esquema cabem múltiplas variedades, que permitem que cada autor
disponha de originalidade e liberdade. Para Vargas Llosa (1997, p. 43), as
mudanças de ponto de vista tanto podem enriquecer uma historia, tornando-a densa,
sutil, misteriosa, ambígua, quanto pode também sufocá-la e desintegrá-la se em vez
de fazer brotar nela as vivências, resultem em incongruências ou em gratuitas e
artificiais complicações que destroem sua credibilidade e demonstram sua natureza
de mero artifício.
Segundo Inger Enkevist (1987, p.45), “a segunda pessoa se usa, por exemplo,
77
no tempo imaginário quando uma personagem fala a si mesma” . O narrador-
ambígüo é característico do romance moderno, seria o que conversa com o
personagem Santiago e Urania, não nos permitindo saber se se narra a partir de
dentro ou de fora do mundo narrado.
Segundo um estudo de Abarracín Fernández (1997), sobre outra obra de Vargas
Llosa, La casa verde, o autor manipula os quatro aspectos da duração do tempo
75
“la relación que existe en toda novela entre el espacio que ocupa el narrador en relación con el espacio
narrado”. [tradução nossa]. VARGAS LLOSA (1997) p. 53.
76
a) un narrador-personaje, que narra desde la primera persona gramatical, punto de vista en el que el espacio
del narrador y el espacio narrado se confunden;
b) un narrador-omnisciente, que narra desde la tercera persona gramatical y ocupa un espacio distinto e
independiente del espacio donde sucede lo que narra; y
c) un narrador-ambiguo, escondido detrás de una segunda persona gramatical, un tú que puede ser la voz de un
narrador omnisciente y prepotente, que, desde afuera del espacio narrado, ordena imperativamente que suceda
lo que sucede en la ficción, o la voz de un narrador-personaje, implicado en la acción, que, presa de timidez,
astucia, esquizofrenia o mero capricho, se desdobla y se habla a sí mismo a la vez que habla al lector.In: Vargas
Llosa (1997) (Tradução nossa)
77
“la segunda persona se usa por ejemplo en el tiempo imaginario cuando un personaje se habla a sí mismo”.
ENKVIST (1987) (tradução nossa)
169
espaço. Espaço e tempo funcionam cada um com sua própria trajetória. As mudas
temporais correspondem a movimentos do narrador no tempo de uma história,
desdobrando-se simultaneamente no passado, no presente ou no futuro. As mudas
no nível de realidade são as que oferecem maiores possibilidades de complexidade
e originalidade aos escritores. As mudas têm o efeito de reforçar ou de destruir o
poder de persuasão da historia.
A muda também é um recurso muito utilizado por Vargas Llosa em suas obras, seu
uso permite mais um avanço em direção ao romance total. Da página 32 a 45 em
Conversación en la catedral o peruno alterna em seu relato, por meio das mudas, o
acontecimento que fez com que Amalia fosse despedida. Primeiro Santiago e Popeye
discutem porque Santiago quer dar seu dinheiro para Amalia e porque se sente culpado
pelo que ocasionou com sua atitude com ela. Este relato é mesclado com o momento no
qual Popeye e Santiago drogam Amalia com a Huambisa para poder manter relações
sexuais com ela. Além de também relatar o momento posterior a todos os outros no qual
Santiago entrega o dinheiro a Amalia. Notamos então o uso da muda temporal e
espacial.
Em La fiesta del Chivo (2001, p.289), destacamos o fragmento no qual Urania vai
visitar seu pai; e revive alguns acontecimentos do passado, como se houvesse
acontecido naquele mesmo tempo e espaço.
Salió del aula sonriendo, pero antes de llegar hasta Aída, ¿daban ahí mismo
las notas, preguntas largas o cortas?, tuvo que soportar el asalto de los
postulantes, y Aída lo recibió sonriendo: por su cara se veía que había
salido bien, qué bien, ya no tienes que pegarte un tiro.
-Antes de sacar la balota, pensé mi alma por una fácil -dijo Santiago-. Así
que si el diablo existe me iré al infierno. Pero el fin justifica los medios.
Em La fiesta del Chivo, destacamos este fragmento (La fiesta del Chivo, 2001,
p.120):
[...] Se había cubierto con su bata de seda azul y tenía en la mano la copa
de coñac. Le señaló la escalera:
— Vete, vete — se atoraba - Que Benita traiga sábanas limpias y una
colcha, que cambie esta inmundicia.
173
Nesse fragmento, Urania descreve, na sala da casa de seu pai, todo o ocorrido a
seus parentes, narra, no momento presente, um fato acontecido há muitos anos,
mas como se estivesse ocorrendo agora. Há flashback e feedback temporais
alternados nos relatos.
O mundo narrado está baseado nos acontecimentos reais, nos lugares, nas
datas e nas pessoas e, por meio das técnicas empregadas, pode-se confundir o real
e o ficcional. O narrador poderia estar realmente relatando o acontecido como se
fosse um leitor; o tempo e o espaço simultâneos ajudam nessa representação
realista. A mudança de perspectiva espacial, temporal e as “mudas” nos mostram
que a verdade é relativa, depende de quem, onde e como é apresentado um fato.
Quando mesclam os tempos presente e passado, o que pretende mostrar é a
essência do grupo de seus personagens em sua totalidade. Toda sua técnica
favorece a uma intensa força narrativa e mostra-nos sua necessidade de representar
o ser humano com suas máscaras, como afirma Abarracín Fernández (1997, p.
178), “en su verdadera realidad”, e quando mesclam os tempos presente e passado,
o que quer é mostrar a essência do grupo de seus personagens em sua totalidade.
Já os saltos qualitativos são capazes de provocar, segundo o romancista
peruano (1997, p.67), um “cataclismo ontológico —pues cambian el ser del orden
narrativo”:
O tempo, nessas duas obras vargallosianas, como ele mesmo explicou, em seu
estudo La orgía perpetua. Flaubert y Madame Bavary (1975, p.152), não é uniforme
nem apresenta acontecimentos pausados
Como as águas de um rio que o leitor veria desfilar diante de seus olhos
sem mudar nunca de velocidade. É, melhor, um discorrer heterogêneo,
que, ainda que constitue uma progressão – um antes, um agora e um
depois-, consta de movimentos e imobilidades, de giros em redondo, de
mudanças de natureza, que fazem com que os fatos e pessoas da
realidade ficticia tenham distintos graus de certeza segundo apareçam em
um ou outro dos quatro planos que integram o sistema temporal do
romance.79
79
Como las aguas de un río que el lector vería desfilar ante sus ojos sin cambiar nunca de velocidad. Es, más
bien, un discurrir heterogeneo, que, aunque constituye una progresión – un antes, un ahora y un después-,
consta de movimientos e inmovilidades, de giros en redondo, de cambios de naturaleza, que hacen que los
hechos y personas de la realidad ficticia tengan distintos grados de certidumbre según aparezcan en uno u otro
de los cuatro planos que integran el sistema temporal de la novela. In: Vargas Llosa (1975) (Trdução nossa)
80
Vargas Llosa da un paso más y manipula el tiempo de la expresión: dos o más escenas sucesivas en el
tiempo, o simultáneas en distintos espacios, son reducidas a una única escena dialogada. Su genialidad
consigue centrar en la palabra el mensaje y unificar dos o tres tiempos, dos o tres espacios diferentes en el límite
de un solo diálogo. In: María del Carmen Bobes Naves (2005) (Tradução nossa)
175
segundo esta estudiosa, é uma técnica magistralmente integrada nas demais partes
do relato do escritor peruano. Para Vargas Llosa (1989, p. 189), o primordial é a
interdependência entre os quatro tempos, as mudanças de um a outro e a maneira
como se modificam e se complementam, não simplesmente a existência deles. Para
exemplificar essa afirmação ele cria a seguinte metáfora: “Una gran orquesta de
músicos provistos de los mejores instrumentos, de nada serviría sin un director
capaz de organizar ese material y esas disposiciones”.
O autor peruano, em seu estudo do romance Madame Bovary, distingue
quatro tipos de tempo: o tempo singular ou específico, o circular ou repetitivo, o
imóvel e o imaginário. O uso desses diferentes tempos narrativos ajuda a prender a
atenção do leitor, porque dá maior ritmo e vitalidade à narração. Nas duas obras ora
analisadas destacamos o uso dos quatro tempos. A narração é fragmentada pela
memória, pelas vozes dos personagens e essa alternância dos tempos, do presente
ao passado e vice-versa, serve para criar efeitos psicológicos no leitor, efeitos de
surpresa, de choque e, algumas vezes, a sensação de sentir-se perdido, indeciso.
O tempo singular ou específico “serve para contar coisas que acontecem uma vez
81
e não se repetem” e ninguém pode contestar a verdade do narrado: é uma cadeia
ordenada e progressiva de eventos que aonteceram, ocuparam um instante concreto e
transitório do curso do tempo, inconfundíveis, fixados no desenvolvimento da história.
Segundo Vargas Llosa (1989, p. 198) eles existem em um nível objetivo da realidade,
não dependem da subjetividade dos personagens. Reconhecemos que o relato se
encontra neste tempo quando o narrador usa o pretérito perfeito ou formas perifrásticas
equivalentes. Para Vargas Llosa (1989, p. 198),
81
“sirve para contar cosas que suceden una vez y no se repiten” [tradução nossa]. VARGAS LLOSA (1989). p.
198
82
Cuando el narrador emplea este tiempo gramatical, la novela alcanza su mayor dinamismo y agilidad,
porque es el tiempo privilegiado de la acción y el movimiento; en él están n a r r a d o s , s o b r e t o d o , l o s
176
É por meio deste tempo que notamos o desenrolar da narrativa, da história, como
vemos neste trecho das respectivas obras analisadas:
Esse tempo possui uma forma repetitiva e uma natureza abstrata, são cenas
que exibem uma atividade serial, reincidente, um hábito, um costume. Apesar de
estar intercalado com os acontecimentotos singulares o narrador relata outros. Para
Vargas Llosa (1989, p. 189): o tempo narrativo é “un movimiento en redondo. La
historia se mueve pero no avanza, gira sobre el sitio, es repetición. Hay vínculos
entre lo que sucede y lo que se cuenta pero se trata de cosas diferentes”. O tempo
circular ou repetitivo, afirma o escritor peruano, que “se utiliza para resumir uma
série de ações distintas, cujas diferenças desaparecem precisamente ao integrar-se
nele” 83. O narrador descreve algo genérico e plural, ele não descreve cada cena, ele
resume, reduz uma grande quantidade de fatos em pouquíssimas palavras,
condensa, sintetiza várias ações em uma só e simboliza todas em uma “cena-
resumo”.
Este tempo circular ou repetitivo é usado para a r eflexão, o
pensamento, para os estados de ânimo, os sentimentos, para modelar as
84
Cuando la realidad ficticia es tiempo inmóvil, la voz humana desaparece, y también la intimidad, los
pensamientos y los sentimientos: la vida se torna muda y estatuaria, inacción y plasticidad. Nada se mueve, no
corre el tiempo, todo es materia y espacio como en un cuadro. In: Vargas Llosa (1989) (Tradução nossa)
178
No tempo imóvel “as cenas narradas são pura exterioridade, de forma que a voz
85
humana desaparece e a linguagem se torna informativa e exata”. Além dessas
cracterísticas, es s e t e m p o t a m b é m é c o n s i d e r a d o p e l o escritor p e r u a n o
c o m o o t e m p o d a “ f i l o s o f i a ” d a realidade ficticia, ou seja, aqueles princípios
de ordem ética, histórica ou metafísica. Seu tempo gramatical é o presente do
indicativo.
Em Conversación en La Catedral esse tempo é usado quando o narrador
delineia o bar La Catedral no qual Santiago e Ambrosio começam a conversa (p.
22):
85
“las escenas narradas son pura exterioridad, de forma que la voz humana desaparece y el lenguaje se vuelve
informativo y exacto” [tradução nossa]. Ibid. p. 206.
179
86
“expresa las fantasías, los sueños y los deseos que transcurren en la mente de los personajes” Ibid. (tradução
nossa)
87
Cuando la materia es descrita en este plano el narrador alcanza su máximo alejamiento, su mayor invisibilidad.
In: Vargas Llosa (1989) (Tradução nossa)
180
91
A professora Helena Establier Perez em seu estudo intitulado Vargas Llosa y el nuevo arte de hacer
novelas exemplifica como técnica dos vasos comunicantes esse diálogo inicial entre Santiago e Ambrosio,
no entanto nós concordamos com a explicação e classificação dada pela crítica literária María del Carmen
Bobes Naves para esse mesmo exemplo. Por isso, usamos o exemplo de María Bobes para vasos
comunicantes.
183
cumprimento de ordens. Como todo o relato está focado por Amadito não se revela
o dado escondido que é a confirmação da identidade do homem executado pelo
tenente, se era o irmão de sua ex-namorada ou não.
CONCLUSÃO
http://4.bp.blogspot.com/_HOEHLe731-Y/S9SPTa1sHqI/AAAAAAAAABQ/7BqzBJWh2f8/s1600/Caleidosc%C3%B3pio.jpg
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