fascı́culo 6
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c 2008 Mario J. Pinheiro
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March 4, 2013
Contents
7 Movimento circular não uniforme 121
10 Forças 128
10.1 Forças fundamentais na Natureza . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128
10.2 Primeira Lei de Newton . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
10.3 Referenciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130
10.4 Segunda lei de Newton ou princı́pio fundamental da mecânica . . 131
10.5 Definição de massa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
10.6 Superposição de forças . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
Mario J. Pinheiro
Departamento de Fı́sica e Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear
Instituto Superior Técnico
email: mpinheiro@ist.utl.pt
120
’Be a philosopher; but, admidst all your philosophy, be still a man.’
- (David Hume, 1737)
’It does not matter how slowly you go so long as you do not stop’. -
Confucius (571 BC –479 BC)
v2
a⊥ = . (7.2)
R
O módulo é dado por q
a= a2⊥ + a2k . (7.3)
- Referencial da viatura
121
• aparenta estar animado da aceleração centrı́fuga −→
−
a⊥
• é evidente então pela comparação dos eventos observados nestes dois ref-
erenciais diferentes que surgem forças com carácter fictı́cio 1 (ou ainda por
vezes denominadas por pseudo-forças).
Ciência fizeram notar a extrema semelhança que a Lei da Inércia de Galileu tem com o perı́odo
inicial do Cap. II do Leviathan, escrito por Thomas Hobbes com o fito de compreender o
funcionamento das sociedades humanas:
”Que quando uma coisa está parada, assim permanecerá eternamente a menos
que alguma outra coisa a mova, é verdade que ninguém duvida. Mas que, quando
uma coisa se encontra em movimento, assim permanecerá eternamente a menos
que alguma outra coisa a detenha, não é tão facilmente que se concorda com isso,
embora a razão seja a mesma, a de que nada pode modificar-se por si mesmo.”
122
Figure 1: Avião deixa cair saco postal.
Tem-se sucessivamente:
y = h − 21 gt2
x = vt
2
⇒ t = xv2
2
y = h − gx2v 22 (8.4)
y = 0 [saco no solo] ⇒hq = gx
2v 2
2h
x =v g
q
105 2x500
x = 3600 10 ≈ 210 m.
Referencial da Terra: x, y, z, t
Referencial do navio: x0 , y 0 , z 0 , t0 .
O tempo é absoluto no âmbito da mecânica Newtoniana: t = t0 .
Sejam:
→
−
r - vector posição do veleiro relativo à Terra.
123
→
−
r 0 - vector posição do veleiro relativo ao navio.
Iremos assumir que o sistema de coordenadas dos dois referenciais coincide no
instante t = t0 = 0 e que as coordenadas do navio movem-se com a velocidade
→
− →
−
V ao longo de R . Podemos então escrever:
→
− →
−
r =→
−
r0+R (8.5)
Esta adição imediata pode ser feita porque fora do contexto relativista (v c)
os comprimentos dos objectos fı́sicos são absolutos.
→
− →
−
R =Vt (8.6)
→
−
∴→
−
r =→
−
r 0 + V t, (8.7)
ou
→
− →
−
r0=→
−
r −Vt (8.8)
→
−
Caso particular: V orientado ao longo do eixo OX.
De
→
− →
−
r0=→
−
r −Vt i .
Daqui resulta a Transformação de Galileu (válida no limite v c, compri-
mentos e tempos absolutos):
0
x = x−Vt
0
y = y
(8.9)
z0 = z
0
t = t
→
− d→
−r0 d→
−r0 d → − →
− d→
−r →
−
v0= = = ( r − V t) = −V. (8.10)
dt0 dt dt dt
→
−
∴→ −v0=→ −v −V, (8.11)
ou então,
→
−
∴→
−
v =→
−
v0+V (8.12)
Isto significa que a velocidade do veleiro relativa ao navio é a diferença entre a
velocidade do veleiro relativo à Terra e a velocidade do navio relativo à Terra.
Também a poderı́amos escrever na forma:
→
− →
−
v 0V N = →
−
v V T − V NT ,
→
− →
− (8.13)
v VT = → −
v 0V N + V N T .
124
Figure 2: Movimento relativo da embarcação ao atravessar um rio.
→
−
Em particular, se V dirige-se ao longo do eixo Ox, temos:
vx = vx − V
vy = vy (8.14)
vz = vz
→
− d→
−v0 d→
−v0 d − → −
a0 = 0
= = (→v −V) (8.15)
dt dt dt
→
−
Como V assume-se constante (estudamos aqui o movimento uniforme), então
conclui-se que
→
− d→
−v
a0 = =→
−a. (8.16)
dt
Isto é, a aceleração é absoluta relativamente aos referenciais de inércia.
No caso geral em que a velocidade entre os dois referenciais não é constante,
teremos
→
− d→ −
a0 =→−
a − V. (8.17)
dt
125
Figure 3: Movimento relativo de um objecto relativamente às magens de um
rio.
→
−
Nós queremos que o movimento tenha o sentido do vector V et , o ângulo θ deve
ser tal que
Vrt 12
sin θ = = = 0.60
Ver 20
donde
θ = 36.90 .
Com base nos dados de que dispomos podemos desde logo escrever:
→
− →
− →
−
v oe = 6[− cos 30o i − sin 30o j ] (8.20)
→
− →
− →
−
v er = 30[− sin 30o i + cos 30o j ] (8.21)
→
− →
−
v rt = −5 j (8.22)
126
9 Dinâmica - Leis de Newton
A cinemática faz a descrição do movimento. Parte da definição da posição,
velocidade e aceleração e as suas relações e evolução temporal.
A dinâmica interroga-se sobre:
• mostrou que a queda livre dos corpos faz-se com aceleração constante (é
independente do peso, ou da massa do objecto). Realizou experiências na
Torre de Pisa;
• determinou experimentalmente as relações dadas pelas expressões: v = at,
x = at2 /2;
• designando o peso de um corpo por força, mostrou que na queda dos
corpos a força pode ser medida pela aceleração que ela produz nesse corpo.
127
10 Forças
A noção de força é fundamental na fı́sica clássica. Força é um vector, este
indicando a direcção ao longo da qual é aplicada e a sua magnitude (módulo).
No quotidiano usa-se o conceito de força para explicar e descrever o acto de
“puxar” ou de “empurrar”. Por exemplo, usamos os seguintes instrumentos:
• mola comprimida;
• elásticos;
• cabos;
• cordas;
• liquidos;
• gases;
para exercer forças em paredes (ou superfı́cies) e gases para criar forças de
fluctuação (por ex., o balão de ar quente, força de empuxe de um foguete).
Os exemplos acima referidos representam forças de contacto porque os ob-
jectos estão em contacto directo uns com os outros.
Existe um certo tipo de forças, forças de acção à distância onde este contacto
directo não existe, tais como o são as forças gravitacional e electromagnética.
Gravitacional - É um tipo de força que age entre corpos que possuem massa,
é sempre atractiva, e é a força de mais fraca magnitude que se conhece na
Natureza. Segundo as teorias modernas baseadas na Mecânica Quântica,
todas as forças fundamentais são transmitidas entre partı́culas reais por
meio de partı́culas virtuais que não podem ser detectadas directamente,
mas cuja existência transitória é permitida pelo Princı́pio da Incerteza
de Heisenberg. É possı́vel que esta força resulte da troca de gravitões
entre os corpos. Poderão os corpos acelerados radiar energia? Se tal
acontecesse, radiariam ondas gravitacionais.
Electromagnética - Atracção ou repulsão consoante a carga eléctrica. A
partı́cula que transmite a força é o fotão. Cargas aceleradas radiam fotões.
128
Table 1: Forças fundamentais da natureza e sua magnitude e alcance. Nota:
Força relativa exercida entre 2 protões distantes de 10−15 m.
Tipo Alcance importância relativa mediadores
−15
Força nuclear forte ∼ 10 m 1 mesões, gluões
Força electromagnética ∞ 10−2 fotão
Força nuclear fraca 10−17 m 10−13 W ±, Z o
Força gravitacional ∞ 10−38 (Nota) gravitão ?
Força nuclear forte - A força nuclear age no interior do núcleo atómico entre
nucleões (ou entre quarks)
Força nuclear fraca - É exercida entre partı́culas elementares, por exemplo,
na desintegração beta do nucleão: n → p+e− +ν. Esta força foi observada
experimentalmente no CERN e predita teoricamente, afectando os leptões
e os quarks 3 e é mediada pelos bosões W e Z.
Quinta força? A experiência de Ëtvös verificou a igualdade da massa grav-
itacional com a massa inercial. Mas é possı́vel que exista uma pe-
quenı́ssima diferença entre elas devido à possı́vel existência desta 5a força.
A hipotética partı́cula mediadora seria uma espécie de hiper-fotão. Porém,
actualmente não há certeza sobre a sua existência.
partı́culas: i) leptões - partı́culas parecidas com os electrões com massa e carga eléctrica e os
neutrinos; ii) quarks - compõem os protões e neutrões e são basicamente de dois tipos, up e
down.
129
Figure 4: Referenciais não inerciais.
10.3 Referenciais
As leis de Newton não são válidas em todos os referenciais, somente nos desig-
nados referenciais de inércia.
A Fig. 4 mostra um observador sobre uma carruagem em movimento acelerado
com →−a > 0. No ponto de vista deste observador a bola que está no solo é
submetida a uma aceleração. A bola parece ao observador animada por uma
aceleracão espontânea, mesmo se na realidade não há nenhuma força actuando
sobre ela.
Podemos assim sugerir um teste para verificar se um dado referencial é um
referencial de inércia:
4 Curiosamente, as palavras que Newton usou para enunciar esta lei apresentam grande
parecença com o perı́odo inicial do segundo capı́tulo do Leviathan, a obra máxima do filósofo
materialista inglês Thomas Hobbes: “Que quando uma coisa está parada, assim permanecerá
eternamente a menos que alguma outra coisa a mova, é verdade de que ninguém duvida. Mas
que, quando uma coisa se encontra em movimento, assim permanecerá eternamente a menos
que alguma outra coisa a detenha, não é tão facilmente que se concorda com isso, embora a
razão seja a mesma, a de que nada pode modificar-se po si mesma”. O Leviathan aborda a
questão do contracto social (acordo sobre direitos e deveres entre os diversos membros de uma
sociedade) e as origens da criação de um Estado ideal.
5 No Latim original as leis exprimem-se assim: Lex I. Corpus onme perseverare in statu
suo quiescendi vel movendi uniformiter in directum; nisi quatems a viribus impressis cogitur
statum illum mutare; Lex II. Mutationem motus preportionalem esse vi motrici impressæ, et
fieri secundum lineam rectam qua vis illa imprimitur; Lex III. Actioni contrarium semper et
æqualemesse reactionem; sive corporum duorum actiones in se mutuo semper esse æquales et
in partes contrarias dirigi.
6 Embora possamos argumentar que a primeira lei de Newton tem um cunho um tanto ou
quanto metafı́sico.
130
• observe um corpo livre (nenhuma força actua sobre ele);
• se ele persistir em repouso ou num estado de movimento uniforme (veloci-
dade constante) num dado referencial, então esse referencial é de inércia.
131
• Coloca-se uma força comum a agir sobre a massa padrão e a massa de-
sconhecida;
• sob a acção dessa força os corpos são acelerados relativamente um ao outro;
• Esta experiência deve ser realizada num referencial de inércia.
F = ma
(10.24)
F = mS aS
m aS
∴ = . (10.25)
mS a
A massa resulta da resistência que os corpos oferecem à variação da sua veloci-
dade. A massa é uma quantidade fı́sica aditiva, m = m1 + m2 .
132
Figure 5: (a) Partı́cula em movimento circular presa por um fio; (b) o fio parte-
se e a partı́cula parte ao longo da tangencial à curva no ponto em que se parte
o fio...A força centrifuga é fictı́cia!; (c) Viatura numa curva inclinada vista de
fronte ou pela traseira.
Exemplo 5: Uma viatura move-se com velocidade v sobre uma estrada curva
e inclinada, fazendo um ângulo θ com a horizontal. Suponha que a estrada
descreve uma curva de raio r. Supõem-se que a estrada e os pneus não oferecem
→
−
atrito ao movimento, mas existe uma reacção da estrada N .
Solução:
Tem-se:
X v2
Fn = m ,
r
onde Fn = N sin θ. Na vertical temos:
Fg = mg = N cos θ,
donde se obtém:
v2
tan θ =
gr
133
Figure 6: Um disco desliza sobre um lago gelado com velocidade inicial vo e
move-se submetido a uma força de frição fr .
Exemplo 7: Um bloco de massa m = 7/3 kg, é actuado por duas forças, uma
→
− →
−
horizontal F 1 de 7 N e outra vertical F 2 de 5 N. Determine a aceleração do
bloco.
Solução:
→
−
Comece por encontrar a resultante das forças, F R . Escolha um sistema de
coordenadas apropriado:
→
− →
− →
−
F1 =7 i +0j
→
− →
− →
−
F2 =0 i +5j
donde resulta
→
− →
− →
− →
− →
−
FR = F1+ F2 =7 i +5j
Módulo: p
FR = 72 + 52 = 8.60N
FRy 5
tan θ = = ⇒ θ = 35.5o
FRx 7
→
− →
−
→
− FR 7 i +5j →
− 15 →
−
a = = =3i + j.
m 7/3 7
8.60
a= = 3.69m/s2 .
7/3
v02 5×5
−v02 = 2as ⇒ s = − =− = 6.25 m. (10.31)
2a 2 × (−2)
134