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Geografia

Intervenções militares e "Apagão”

1)
i) “Enquanto a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) se prepara para deslocar 3,5
mil soldados para a Macedônia e os países europeus continuam enviando recursos volumosos
para a reconstrução da Bósnia e de Kosovo, as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central estão
vivendo uma verdadeira crise humanitária e, pior, o abandono praticamente total por parte da
comunidade internacional.”
ii) “... a solução dos problemas das ex-repúblicas soviéticas será o teste para saber até que
ponto vai o cinismo da comunidade internacional em justificar uma intervenção por razões
humanitárias (como na Bósnia e em Kosovo).”
(Jamil Chade, O Estado de São Paulo - Internacional, 22/08/01)
a) Os segmentos acima denunciam um problema atual. Qual este problema? Quais as suas
causas?
b) Comente o segundo segmento. Dê exemplos de intervenções e explique seus motivos. Dê
exemplos de onde intervenções deveriam ser realizadas e não foram.

Resolução
a) O problema denunciado nos segmentos acima é o das intervenções militares de cunho
“humanitário” feitas pelos países desenvolvidos em algumas repúblicas em crise e não em
outras. Raramente estas intervenções são realmente justificadas pelo que a sua propaganda
prega. Geralmente intervenções são feitas nos seguintes países:
• O país é central e/ou possui posição estratégica;
• O país possui muitas riquezas minerais;
• O país localiza-se em rota comercial;
• A intervenção rende destaque na mídia.
Em tempo, durante a Guerra Fria, a indústria bélica era a que movimentava o maior volume de
dinheiro do planeta, seguida pela indústria do petróleo. Com seu fim (da Guerra Fria), há uma
pressão política da indústria bélica incitando os Estados a se envolverem nos conflitos
regionais.
Ainda, sabe-se que os EUA sofrem uma retração da economia há 10 anos. O FED (Federal
Reserve, Banco Central Americano) teme que o país esteja vivendo um crescimento tipo
“bolha” e sofra conseqüências análogas à Crise de 29. Por isso os diversos reajustes nas taxas
de juros (T-Bonds), nos últimos anos, visando conter o crescimento da economia. Como todo
bom governo apenas sobrevive de uma imagem boa, as intervenções militares desviam a
atenção da população, mantendo a imagem do governo de “defensor da liberdade”.
b) Alguns exemplos de intervenções e seus motivos:
• Albânia / Bósnia – país central;
• Timor Leste – localiza-se em rota de comércio do Japão;
• Kweit – país com abundância de petróleo.
Exemplos de onde deveria haver intervenção e não houve:
• Repúblicas (ex)soviéticas como o Uzbequistão e o Tadjiquistão (que vivem uma situação de
miséria e total abandono após a fragmentação da (ex)URSS);
• Países africanos (estima-se que na África estão mais de 80% dos portadores de HIV do
planeta, consumindo menos de 10% dos remédios anti-HIV. Muitos países da África vivem
ditaduras e guerras civis fruto ainda de seu processo de descolonização).
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2)
i) “Apenas 7% (dos brasileiros) ligam o governo à estabilização (econômica). Para 36%, sua
imagem está associada às denúncias de corrupção.”
ii) “Quase 100% da energia elétrica consumida no Brasil depende de hidrelétricas.”
iii) “Muito provavelmente o dano neste ano é inevitável. Muito pouco poderá ser realizado para
reverter as expectativas negativas.”
iv) “Já são visíveis (alguns) efeitos negativos na cotação do dólar e na taxa de juros básica.”
v)

Crescimento na Variação do
Projeções para a Crescimento Taxa de
PIB produção rendimento médio do
economia dos serviços desemprego
agropecuária trabalhador
Antes do
4,2% 6,2% 3,1% 6,9% 6,9%
Racionamento
Depois do
2,3% 6,2% 2,5% 7,5% 0%
Racionamento

Projeções para a Taxa Básica de Balança Comercial Investimento

Inflação Dólar
economia Juros (déficit em US$) estrangeiro (US$)
Antes do R$
4,3% 13,5% 1,5 bilhão 22 bilhões
Racionamento 2,05
Depois do R$
5,8% 16,0% 1,7 bilhão 19 bilhões
Racionamento 2,30
(Veja, 06/06/01)

vi) “Parece que estamos cada vez pior. O racionamento de energia ameaça o emprego, a
produção e os investimentos. Não vamos conseguir nem aproveitar o câmbio para aumentar as
exportações.”
(João Ubaldo Ribeiro, escritor)
vii) “O Brasil não tem visão de desenvolvimento. Não valoriza as iniciativas e mantém uma
política de juros altos.”
“... nosso PIB deveria crescer, pelo menos, 7% ao ano.”
(Olacyr de Moraes, empresário)
viii) “A personalidade dos dirigentes, o acerto de suas políticas econômicas e o grau de
crueldade ou humanismo dos regimes que eles comandam são apenas forças secundárias da
história. O elemento determinante são os embaraços da vida material como a escassez de
alimentos ou a dificuldade de obter proteção adequada contra as colossais forças da natureza.”
(Fernand Braudel, 1902-1985, historiador francês)
Com base nos textos e em seus conhecimentos, responda:
a) Quais as causas da crise energética?
b) Quais as possíveis conseqüências?
c) Com base na tabela, qual o único setor não afetado? Por que?
d) Explique o segmento (v).
e) Por que o PIB brasileiro deveria crescer 7% ao ano, ao menos?
f) Comente o segmento (vii). (Dica: este trecho assemelha-se a uma teoria da Idade Média,
qual? É válido hoje? Por que?)

Resolução
a) A principal causa da crise energética é a falta de investimentos do governo na modernização
e ampliação da matriz energética brasileira. Ainda pode-se destacar alguns pontos:
• O modelo de geração de energia no Brasil depende quase exclusivamente de hidrelétricas
(segmento ii). Este modelo foi adotado dada a abundância de rios com alto potencial energético
(planálticos e com grande volume de água) no país. Porém isto decorreu numa dependência de
aspectos naturais como a ocorrência de chuvas;
• A diminuição dos investimentos em novas tecnologias. Os maiores investimentos neste setor
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se deram no pós-Crise do Petróleo, na década de 70. Nesta época o Brasil investiu no
desenvolvimento do Proálcool, na produção energética por Xisto Pirubetuminoso, na extração
de carvão mineral, no programa nuclear, na intensificação da extração de petróleo, etc);
• Na desorganização da Aneel (a agência reguladora do governo, submetida ao Ministério das
Minas e Energia);
b) Algumas possíveis conseqüências são:
• Redução da produção;
• Desemprego;
• Aumento das importações dada ao retraimento da indústria nacional;
• Queda da credibilidade do país no exterior;
• Menor crescimento do PIB;
• Déficite da Balança Comercial;
• Alta do dólar.
c) Com base na tabela, o setor que não apresenta mudança na previsão de crescimento é o
setor agropecuário. Isto pode ser justificado por:
• O setor primário (agropecuário) naturalmente consome menos energia que o setor secundário
(indústria de transformação);
• O setor agropecuário brasileiro ainda é pouco mecanizado e automatizado.
d) A alta do dólar iria beneficiar as empresas nacionais que gastam em real e exportam em
dólar. Porém a própria redução da produção inibe as exportações.
e) O PIB brasileiro deve crescer no mínimo 7% ao ano, pois este é o crescimento mínimo dos
setores da economia que possibilita a abertura de empregos para absorver a mão de obra
jovem que entra no mercado de trabalho num ano.
f) Este trecho assemelha-se à Teoria Malthusiana. Esta teoria defendia que o crescimento da
população era restringido pela produção de alimentos. Uma extensão deste raciocínio é que os
“embaraços da vida material” restrigem o desenvolvimento da humanidade. Esta teoria não é
totalmente aplicável nos dias de hoje dado que o próprio desenvolvimento do homem procurou
contornar os problemas naturais. Como exemplo tem-se:
• O desenvolvimento de vegetais adaptáveis à diversas condições climáticas permitem, por
exemplo, a cultura de uvas no nordeste;
• Técnicas de irrigação incorporam regiões excluídas (áridas ou semi-áridas);
• Técnicas de dessalinização da água marinha viabilizam a obtenção de água potável em
regiões onde há sua escassez.
Quanto aos desastres naturais:
• Desenvolvimento de técnicas de “tiros de sal” para fazer chover;
• Estudos para previsão de furacões, dentre outros;
Reforçando: os “embaraços da vida material” hoje em dia não são tão determinantes no
crescimento da humanidade quanto quando a Teoria de Malthus foi formulada.

René Wingeter Bartar

Professor de Geografia do CASD Vestibulares