Avaliação da
Composição Corporal:
o que os Profissionais
de Saúde Devem Saber
para Errar Menos?
Roberto Fernandes da Costa
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A bioimpedanciometria apresen- realizar os cálculos com base no Ao se aplicar esta técnica, antes de
ta vantagens quanto à facilidade valor de resistência obtido pelo utilizar o valor de porcentagem
de aplicação, entretanto existe aparelho 4. Existem softwares que de gordura obtido, é importante
um protocolo pré-teste bastante realizam esta tarefa. observar outro resultado: a porcen-
rigoroso para tentar garantir níveis tagem de água na massa magra,
ótimos de equilíbrio hidroeletrolí- Quadro 1 - Procedimentos pois existe uma faixa para esta
tico. Assim, se o avaliado não segue pré-teste para realização variável considerada ideal para a es-
as recomendações protocolares de avaliação por timativa de gordura corporal (69 a
(Quadro 1) pode comprometer o bioimpedanciometria 74%), sendo que valores fora desta
resultado e, conseqüentemente, a faixa indicam a inadequação desta
prescrição nele baseada 11. Manter-se em jejum de sólidos e líquidos avaliação para o sujeito naquele
pelo menos nas quatro horas que momento 12.
Outra vantagem diz respeito à ava- antecedem o teste;
liação de sujeitos obesos, pois exis- Não realizar atividades físicas extenuantes Em relação à antropometria, as
tem equações específicas para esta nas 24 horas anteriores ao teste; equações preditivas que utilizam
população baseadas na resistência Urinar pelo menos 30 minutos antes do medidas de espessura de dobras
teste;
que o corpo oferece à passagem cutâneas apresentam especificidade
Não ingerir bebidas alcoólicas nas 48 horas
da corrente elétrica. Porém, cabe anteriores ao teste; em relação à população de ori-
ressaltar que a maioria dos equipa- Não utilizar medicamentos diuréticos nos gem, mesmo que sejam equações
mentos disponíveis não apresenta sete dias que antecedem o teste; generalizadas. Por esta razão, ao se
equações para obesos. Permanecer de cinco a dez minutos escolher a equação a ser utilizada,
deitado, em decúbito dorsal, em total é necessário saber se foram realiza-
Desta forma, é preciso conhecer repouso, antes da execução do teste. dos estudos de validação da equa-
equações para esta população e ção para sujeitos com característi-
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cas semelhantes às características pode produzir erros substanciais na O valor absoluto das dobras cutâ-
daqueles que se pretende avaliar. estimativa da densidade corporal e, neas ou a soma dos valores de gru-
conseqüentemente, da porcenta- pos de dobras cutâneas pode ser
Algumas das equações mais gem de gordura. utilizada como um indicativo das
utilizadas no Brasil são cercadas alterações da gordura corporal,
de informações incorretas e são Muitos autores criaram equações em comparações longitudinais.
utilizadas de forma inadequada, para a estimativa da densidade Neste sentido, sugere-se a utiliza-
produzindo erros significativos corporal, que depois é convertida ção do somatório de cinco dobras
no diagnóstico da quantidade de matematicamente em porcenta- cutâneas (∑5 = tríceps + subesca-
gordura corporal. gem de gordura, como é o caso pular + supra-ilíaca + abdominal +
das equações de Durnin e Womer- coxa média), que representa bem
Um bom exemplo disso é a equa- ley 14, Jackson e Pollock 7, Jackson a gordura corporal total 16.
ção de Faulkner, a mais utilizada no et al 8, Guedes 9, Petroski 13, entre
Brasil nas décadas de 1970 e 1980, outros. Geralmente, a conversão O Quadro 2 exemplifica a
com adeptos até os dias de hoje. da densidade em porcentagem utilização dos valores absolutos
Comenta-se que esta equação foi de gordura é efetuada utilizando- dessas dobras cutâneas e de seu
criada para nadadores, entretanto, se a fórmula de Siri 15, produzida somatório em um sujeito de 25
o próprio John Faulkner, em e-mail para homens, de 20 a 50 anos de anos, do sexo masculino, antes e
enviado ao Prof. Dr. Cândido Pires idade. Assim, se utilizada em di- depois de um período de dieta de
Neto, em 1995, que está disponível ferentes idades ou em mulheres, 12 semanas.
nos anexos da tese de doutorado a margem de erro na estimativa
de Édio Petroski, afirma que esta é pode ser aumentada. As vantagens deste método são
uma equação para população em que o mesmo permite verificar
geral e não para nadadores 13. Observa-se que, embora a utiliza- como é o padrão de distribuição
ção de equações preditivas para a de gordura do avaliado, bem
Entre profissionais de nutrição, as avaliação da composição corporal como o comportamento da redu-
equações propostas por Durnin seja de grande utilidade para a ção da mesma em decorrência de
e Womerley 14 para a população prescrição de programas dietéti- um programa dietético.
escocesa estão entre as mais utiliza- cos ou de exercícios físicos, ainda
das, entretanto, a prática clínica e há muito erro envolvido nestes Além disso, estudo realizado em
alguns estudos de validação destas modelos matemáticos. Alternativa Santos (SP), com amostra repre-
equações realizados no Brasil viável e menos sujeita a tais erros é sentativa da população de 20 a 69
demonstram que elas tendem a a utilização das medidas de espessu- anos de idade, propôs valores em
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superestimar significativamente ra de dobras cutâneas em seu valor percentis para a soma destas cinco
a porcentagem de gordura tanto absoluto ou em somatórios. dobras cutâneas, considerando
para homens quanto para mulhe-
res 4, 13.
Quadro 2 - Acompanhamento das alterações
Em academias de ginástica no em valores absolutos e somatório de dobras cutâneas
Brasil, não é rara a utilização das Dobras Alteração Alteração
Pré (mm) Pós (mm)
equações de Guedes 9 de forma cutâneas absoluta (mm) relativa (%)
generalizada. Estas equações foram Tríceps 12,8 10,2 - 2,6 - 20,31
criadas para homens e mulheres Subescapular 9,6 9,2 - 0,4 - 4,16
fisicamente ativos, de 17 a 27 anos
Supra-ilíaca 22,4 18,4 - 4,0 - 17,85
de idade e de 17 a 29 anos de
idade, respectivamente, com base Abdominal 26,1 19,6 - 6,5 - 24,9
em estudo realizado no sul do País. Coxa medial 12,8 10,9 - 1,9 - 14,84
Assim, utilizá-las em sujeitos com
características diferentes destas Somatório 83,7 68,3 - 15,4 - 18,4
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magros os indivíduos abaixo do percentil 10, eutóficos aqueles entre os per-
centis 10 e 75, em sobrepeso os indivíduos acima do percentil 75 e abaixo
do percentil 90 e obesos aqueles acima do percentil 90 17. Os valores de per-
centil obtidos neste estudo são apresentados no Quadro 3 e no Quadro 4.
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parede para minimizar os efeitos Adipômetros científicos devida- há muitos profissionais que não a
de vícios ou desvios posturais. mente aferidos não tendem a utilizam em sua rotina de trabalho.
Além disso, cuidados referentes à apresentar diferenças significantes
perpendicularidade da escala do de medidas entre si 19, 20. Para a É importante considerar que não
equipamento em relação ao solo utilização clínica, se não houver basta decidir utilizar a avaliação
ou à base, com os quais é impres- a exigência de uma precisão tão da composição corporal, mas é
cindível um ângulo de 90 graus, grande como em pesquisa científi- necessário conhecer a terminologia
devem ser observados. ca os adipômetros clínicos podem adequada, observar as característi-
ser uma alternativa viável com con- cas do avaliado, escolher a técnica
Sobre as medidas de dobras cutâ- siderável qualidade de medidas. e o modelo preditivo indicado para
neas, uma dúvida frequente diz tais características e seguir rigorosa-
respeito a que marca ou modelo Considerações finais mente a padronização dos procedi-
escolher. Se o objetivo é obter mentos de medida.
precisão da medida, o ideal é op- Embora a avaliação da composi-
tar pelos adipômetros científicos ção corporal seja uma ferramenta Seguindo estas recomendações será
com maior resolução de medidas, indispensável à correta prescrição possível a realização da avaliação da
como os que medem até décimos de programas dietéticos e de pro- composição corporal com menor
de milímetro. gramas de exercícios físicos, ainda risco de erro. NP
Currículo
Roberto Fernandes Costa é graduado em educação física pela Faculdade de Educação Física da Associação Cristã de Moços (ACM) de
Sorocaba (SP), mestre em educação física pela Universidade de São Paulo (USP) e doutor em ciências aplicadas à pediatria pela Universidade
Federal de São Paulo (UNIFESP). Atualmente é diretor científico do Centro de Estudos e Pesquisas Sanny (CEPS).
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