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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

Prof.: Fredie Didier Jr.


(www.frediedidier.com.br)

 Indicação Bibliográfica:
- Curso de Processo Civil, Luis Guilherme Marinoni, RT (☺vol. II – o vol. I é indicado somente para os
concursos de Juiz Federal e MPF).
- Curso Sistematizado de Processo Civil, Cássio Scarpinella, Saraiva (bom para iniciantes).
- Lições de Direito Processual Civil, Alexandre Câmara, Lúmen Júris (é básico).
- Curso(cadastro
e-mail de Direito
noProcessual Civil, Fredie Didier Jr., Juspodivm, 4 volumes – atualização on line pelo
site do professor).
- Leituras Complementares de Processo Civil, Juspodivm (é muito importante a leitura – são temais mais
incomuns, que não são encontrados nos outros livros).
- Eupídio Donizetti (é livro de resumo).
- Código de Processo Civil Comentado, Nelson Nery, RT.

 Dica para concurso: para pesquisar os trabalhos dos professores que compõem as bancas: site
www.cnpq.com.br, link: plataforma lattes.

ÍND I CE

 PRINC
NCÍPIOS DO PROCESSO:.......................................................................................................... 6
 Processo e Direitos Fundamentais: .................................................................................................. 6
 Direitos Fundamentais Processuais – Princípios Processuais em espécie: ...................................... 7
1. Princípio do Devido Processo Legal: ...................................................................................... 7
2. Princípio da Efetividade; Princípio da Adequação; Princípio da Duração Razoável do
Processo e Princípio da Lealdade: ..................................................................................................... 9
3. Princípio do Contraditório:.................................................................................................... 11
4. Princípio da Cooperação: ...................................................................................................... 12
5. Princípio da Instrumentalidade: ............................................................................................ 12
6. Princípio da Preclusão:.......................................................................................................... 12
 JURISDIÇÃO: .................................................................................................................................. 15
 Conceito e Características da Jurisdição:....................................................................................... 15
 Equivalentes Jurisdicionais:........................................................................................................... 17
 Arbitragem: .................................................................................................................................... 18
 Princípios da Jurisdição: ................................................................................................................ 20
 Jurisdição Voluntária: .................................................................................................................... 22
 COMPETÊNC NCIA: ............................................................................................................................. 25

Conceito: ........................................................................................................................................ 25
 Princípios que regem a Competência:............................................................................................ 25
 Distribuição da Competência:........................................................................................................ 25
 Fixação ou Determinação da Competência: .................................................................................. 26
 Classificação da Competência: ...................................................................................................... 27
1) Competência absoluta e relativa: ................................................................................................. 27
2) Competência srcinária e derivada: ............................................................................................ 28
 Critérios de Determinação da Competência: ................................................................................. 28
1) Critério Objetivo: ......................................................................................................................... 28
2) Critério Funcional:....................................................................................................................... 29

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
3) Critério Territorial: ...................................................................................................................... 29
 Conflito de Competência: .............................................................................................................. 30
 Litispendência, Conexão e Continência:........................................................................................ 32
 Competência da Justiça Federal:.................................................................................................... 38
→ Competência dos Juízes Federais (Incisos do art. 109, CPC:) ................................................... 40
1) Competência em razão da pessoa: ......................................................................................... 40
2) Competência em razão da matéria:.................................. ...................................................... 42
3) Competência funcional: .......................................................................................................... 43
→ Competência dos Tribunais Federais (Incisos do art. 108, CR:) ............................... ................. 43
1) Competência Originária: ....................................................................................................... 43
 2)EORCompetência
T IA DA AÇÃODerivada: ..........................................................................................................45
: ........................................................................................................................ 44
 Acepções da palavra “Ação”: ........................................................................................................ 45
 Elementos da Ação: ....................................................................................................................... 45
1) Parte: ............................................................................................................................................ 46
2) Pedido:.......................................................................................................................................... 46
3) Causa de Pedir: ............................................................................................................................ 47
 Condições da Ação: ....................................................................................................................... 49
1) Legitimidade ad causam:.............................................................................................................. 52
2) Interesse de Agir: .......................................................................................................................... 53
3) Possibilidade jurídica do pedido:................................................................................................. 54
 Classificação das Ações: ................................................................................................................ 54
 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS: ................................................................................................ 63
 Pressupostos de Existência: ........................................................................................................... 63
 Pressupostos de Validade:.............................................................................................................. 64
→ Pressupostos objetivos: ................................................................................................................ 64
→ Pressupostos Subjetivos: .............................................................................................................. 66
 LITISCONS NSÓRCIO:......................................................................................................................... 70
 Conceito e Classificações: ............................................................................................................. 70
 Intervenção Iussus Iudicis: ............................................................................................................. 75
 Intervenção Litisconsorcial Voluntária:......................................................................................... 76
 INT
NTERVENÇ NÇÃO DE TERCEIRO: .................................................................................................. 77
 Conceitos Fundamentais: ............................................................................................................... 77
 Fundamentos da Intervenção de Terceiro: ..................................................................................... 77
 Classificação das Intervenções de Terceiro: .................................................................................. 77
 Efeitos da Intervenção de Terceiro no processo: ........................................................................... 78
 Controle da Intervenção pelo Magistrado:..................................................................................... 78
 Cabimento das Intervenções de Terceiro: ...................................................................................... 78
 Modalidades de Intervenção de Terceiro: ...................................................................................... 81
- Assistência: ..................................................................................................................................... 81
- Alienação da coisa ou do direito litigioso: .................................................................................... 86
- Intervenções Especiais dos Entes Públicos:.................................... ............................................... 87
- Oposição:........................................................................................................................................ 87
- Chamamento ao Processo: ............................................................................................................. 89
- Nomeação à autoria: ...................................................................................................................... 90
- Denunciação da Lide: .................................................................................................................... 91
 PETIÇÃO INI NICIAL: ......................................................................................................................... 98
 Conceito: ........................................................................................................................................ 98
 Requisitos:...................................................................................................................................... 98
 “Ocorrências” importantes em relação à Petição Inicial: .............................................................. 99
 Pedido: ......................................................................................................................................... 103
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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
→ Conceito e classificação: ........................................................................................................... 103
→ Requisitos do pedido: ................................................................................................................. 103
→ Cumulação de pedidos:.............................................................................................................. 104
→ Cumulação de pedidos e Litisconsórcio: ................................................................................... 105
→ Requisitos para a Cumulação de pedidos: ................................................................................ 106
 RESPOSTA DO RÉU:.................................................................................................................... 107
 Teoria da Exceção:....................................................................................................................... 107
 Classificação das Defesas: ........................................................................................................... 108
 Contestação: ................................................................................................................................. 109
→ Conceito: .................................................................................................................................... 109
→ Regras
→ Revelia:Básicas da Contestação: ............................................................................................... 109
...................................................................................................................................... 110
 Exceções Instrumentais:............................................................................................................... 112
a) Exceção de Incompetência Relativa:...................................... .................................................... 112
b) Exceção de Impedimento ou de Suspeição:................................... ............................................. 113
 Reconvenção: ............................................................................................................................... 114
 PROVIDÊNC NCIAS PRELIMINA NARES: ............................................................................................ 117
 Ação declaratória incidental: ....................................................................................................... 117
 JULGAMENT NTO CONF NFORME O ESTADO DO PROCESSO:..................................................... 120
1) Extinção do processo sem resolução do mérito: ........................................................................ 120
2) Extinção do processo pela prescrição ou decadência: .............................................................. 122
3) Extinção do processo por auto-composição: ............................................................................. 122
4) Extinção do processo pelo julgamento antecipado da lide: ......................... .............................. 122
5) Audiência preliminar:................................................................................................................. 123
6) Despacho saneador: ................................................................................................................... 123
7) Decisões parciais: ...................................................................................................................... 123
 TEORIA DA PROVA: ................................................................................................................... 125
 Acepções da palavra “Prova”: ..................................................................................................... 125
 Prova e Contraditório: .................................................................................................................. 125
 Poder instrutório do juiz: ............................................................................................................. 126
 Verdade e Processo: ..................................................................................................................... 126
 Sistemas de valoração da prova: .................................................................................................. 127
 Objeto da prova:........................................................................................................................... 129
 Ônus da prova: ............................................................................................................................. 130
 TEORIA DA DECISÃO: ................................................................................................................ 133
 Conceito de sentença: .................................................................................................................. 133
 Decisão Terminativa e Decisão Definitiva: ................................................................................. 134
 Decisão Determinativa:................................................................................................................ 134
 Elementos da decisão judicial: ..................................................................................................... 134
- Relatório: ...................................................................................................................................... 134
- Fundamentação:............................................................................................................................ 134
Ratio decidendi: .............................................................................................................................. 135
Distinguishing: ................................................................................................................................ 136
Obter dictum: .................................................................................................................................. 136
Overruling: ..................................................................................................................................... 137
- Dispositivo:................................................................................................................................... 139
 Requisitos da Sentença: ............................................................................................................... 140
 Decisão x Fato superveniente: ..................................................................................................... 141
 Efeitos da sentença:...................................................................................................................... 142
 Publicação e retratação da sentença:............................................................................................ 142

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
 TUTELA JURISDICIONA NAL ESPECÍFICA DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER, DE NÃ NÃO FAZER E
DE DAR COISA DISTINT NTA DE DINH NHEIRO:...................................................................................... 143
Tutela jurisdicional: ..................................................................................................................... 143
Classificação da tutela jurisdicional: ........................................................................................... 143
Demais Características do art. 461: ............................................................................................. 146
 COISA JULGADA: ........................................................................................................................ 149
Conceito: ...................................................................................................................................... 149
Pressupostos da coisa julgada: ..................................................................................................... 149
Efeitos da coisa julgada: .............................................................................................................. 150
Coisa julgada e relações jurídicas continuativas:......................................................................... 150

Limite objetivo da coisa julgada: ................................................................................................. 151
 Limites subjetivos da coisa julgada: ............................................................................................ 151
 Regime jurídico da formação da coisa julgada: ........................................................................... 151
 Instrumentos de revisão da coisa julgada: ................................................................................... 152
 Relativização da coisa julgada: .................................................................................................... 153
 ANT
NTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA:.......................................................................... 154
 Introdução: ................................................................................................................................... 154
 Conceito: ...................................................................................................................................... 154
 Histórico:...................................................................................................................................... 155
 Distinções:.................................................................................................................................... 156
 Análise do art. 273, CPC – tutela antecipada genérica: ............................................................... 157
- Efeitos antecipáveis: ..................................................................................................................... 157
- Legitimidade para pedir a tutela antecipada: ................................................................................ 157
- Momento:...................................................................................................................................... 158
- Pressupostos da tutela antecipada genérica: ................................................................................. 158
- Efetivação da tutela antecipada: ................................................................................................... 159
- Recursos: ...................................................................................................................................... 160
 Antecipação da Tutela contra o Poder Público: ........................................................................... 160
 §6º, do art. 273, CPC: .................................................................................................................. 162
 TEORIA GERAL DOS RECURSOS: ............................................................................................ 163
 Conceito de Recurso: ................................................................................................................... 163
 O recurso no panorama dos meios de impugnação da decisão judicial: ...................................... 164
 Atos sujeitos a recurso: ................................................................................................................ 165
 Decisões proferidas por juiz singular:.......................................................................................... 165
 Recursos nos Juizados Especiais: ................................................................................................ 166
 Recursos cabíveis contra decisões em Tribunal: ......................................................................... 166
 Classificação dos recursos: .......................................................................................................... 167
 Juízo de admissibilidade dos recursos: ........................................................................................ 168
- Competência para fazer o juízo de admissibilidade: ................................................................... 168
- Natureza jurídica do juízo de admissibilidade:............................... ............................................. 169
- Objeto do juízo de admissibilidade: ............................................................................................. 170
1) Cabimento: ................................................................................................................................. 170
2) Legitimidade: .............................................................................................................................. 171
3) Interesse recursal: ...................................................................................................................... 171
4) Inexistência de fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer: ..................................... 172
5) Preparo:...................................................................................................................................... 172
6) Tempestividade: .......................................................................................................................... 173
7) Regularidade formal: ................................................................................................................. 174
 Efeitos dos recursos: .................................................................................................................... 174
 RECURSOS EM ESPÉCIE: ........................................................................................................... 177
 APELAÇÃO: ................................................................................................................................... 177
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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- Generalidades: .............................................................................................................................. 177
- Efeito suspensivo da apelação: ..................................................................................................... 177
- Efeito desobistrutivo da apelação: ................................................................................................ 178
- Alegação de fatos novos na apelação: .......................................................................................... 179
- Juízo de Admissibilidade:............................................................................................................. 179
- Súmula impeditiva do recurso: ..................................................................................................... 179
- Correção de defeitos na apelação: ................................................................................................ 180
 EMBARGOS DE DECLARAÇÃO: ...................................................................................................... 180
- Conceito e hipóteses de cabimento:.............................................................................................. 180
- Natureza jurídica da decisão que julga os embargos de declaração: ............................................ 181
Efeitos dosdeembargos
- Embargos declaração de protelatórios:
declaração:............................................................................................
......................................................................................... 181
 EMBARGOS INFRINGENTES:........................................................................................................... 182
 AGRAVOS: .................................................................................................................................... 184
- Agravos contra decisões interlocutórias de 1ª instância: Retido e de Instrumento ...................... 184
→ Peculiaridades do Agravo Retido: ............................................................................................. 185
→ Considerações sobre o Agravo de Instrumento:............................... ......................................... 185
 RECURSO ESPECIAL E RECURSO EXTRAORDINÁRIO:..................................................................... 187
- Características comuns a ambos: .................................................................................................. 187
- Prequestionamento: ...................................................................................................................... 188
- Recursos extraordinários retidos: ................................................................................................. 189
 RECURSO ESPECIAL: ..................................................................................................................... 190
 RECURSO EXTRAORDINÁRIO: ........................................................................................................ 192

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
(26/01/09)

 PRINCÍPIOS DO PROCESSO:

 Processo e Direitos Fundamentais:

Após a 2ª guerra, desenvolveu-se o novo papel do direito constitucional: teoria do


neoconstitucionalismo . Essa
1) a consolidação da teoria
Teoriatemdos
basicamente 3 características:um verdadeiro pilar do Direito
Direitos Fundamentais,
Constitucional contemporâneo;
2) a força normativa da Constituição, ou seja, a Constituição é uma norma que pode ser
realizada concretamente e imediatamente, independentemente da vontade do legislador; é uma norma
com força e eficácia normativa. O Estado que vigorava era o Estado da lei. O Estado tem que ser um
estado constitucional.
3) a expansão da jurisdição constitucional, já que hoje temos um controle de
constitucionalidade consagrado que pode ser aplicado por qualquer juiz.
Hoje os princípios são normas. Antes, decidir com base nos princípios era a última alternativa.
Art. 126, CPC: Art. 126. O juiz não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou
obscuridade da lei. No julgamento da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo,
recorrerá à analogia, aos costumes e aos princípios gerais de direito.
Esse movimento do Neoconstitucionalismo repercutiu em diversos ramos do Direito, inclusive
no Processo. Hoje o estudo do Processo tem de ser feito a partir dessas novas premissas metodológicas;
é preciso pensar o Processo a partir desse novo paradigma. Foi inevitável, portanto, que se passasse a
denominar este nosso novo período histórico pelo qual passou o Direito Processual, de
“Neoprocessualismo”, que é exatamente o estudo, a compreensão do Processo a partir dessa nova
metodologia, das novas premissas do Neoconstitucionalismo. E é este o momento atual do Direito
Processual.
OBS.: no RS, mais precisamente na UFRS, os processualistas também pensam desta forma,
seguindo esta metodologia, mas dão a esta nova fase um outro nome, eles dão a esta fase o nome de
“F ase do F ormali smo-Valor ativo ” (atenção: só o nome é que é diferente, toda a metodologia é a
mesma), e dão este nome porque pensam que a forma do novo Direito Processual é aquela obtida a partir
dos valores estabelecidos pela Constituição. Mas segundo o prof., o melhor nome ainda seria
Neoprocessualismo. Mas atenção, porque a nomenclatura do RS está ganhando novos adeptos e pode ser
perguntada em concursos. O seu criador foi Carlos Alberto Alvaro de Oliveira (atenção: Alvaro é sem
acento). ☺ Textos sobre o assunto: Eduardo Cambi (Neoprocessualismo) e Carlos Alberto Alvaro de
Oliveira (Formalismo-Valorativo), que estão no livro “Leituras Complementares de Processo Civil”.

Relação entre o Processo e os Direitos Fundamentais:


1ª) No rol dos direitos fundamentais há diversos direitos de conteúdo processual (direitos
fundamentais processuais – ex.: contraditório, ampla defesa, proibição de prova ilícita, etc.);
2ª) Os direitos fundamentais têm dupla dimensão:
1. Dimensão subjetiva dos direitos fundamentais: os direitos fundamentais são direitos. Cada um
de nós é titular dos direitos fundamentais;
Relação: É preciso que o processo seja adequado à tutela dos direitos fundamentais. Ex. é preciso
que haja mecanismos processuais para tutelar a liberdade, como o hábeas corpus. O MS também nasceu
dessa forma.
2. Dimensão objetiva: os direitos fundamentais são normas que geram direitos, impõem a sua
observância. É preciso que as leis estejam em conformidade com as normas de direitos
fundamentais.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Relação: As normas de direito processual têm que estar de acordo com as normas de direitos
fundamentais. Ex. se houver uma regra processual que não prevê o contraditório, essa norma é
inconstitucional.

Assim, para responder esta questão deve-se dizer qual a relação entre processo e cada uma das
dimensões dos Direitos Fundamentais, a subjetiva e a objetiva, ou seja, respectivamente: o processo tem
de ser adequado à tutela, à proteção dos direitos fundamentais (ex.: o HC é um instrumento processual
para a tutela do direito à liberdade); ademais, o processo tem de ser estruturado de acordo, em
conformidade com as normas que prevêem direitos fundamentais.

 Direitos Fundamentais Processuais– Princípios Processuais em espécie:

1. Princípio do Devido Processo Legal:

É a tradução brasileira de uma expressão inglesa “ Due Process of Law”. É uma tradução
equivocada porque sendo “law” Direito, o devido processo não é aquele em conformidade com a lei,
mas com o Direito como um todo, ou seja, a palavra “lei” ai está no sentido amplo. É, pois, sinônimo de
Devido Processo Constitucional (neste caso se dá maior ênfase ao fato de que o processo deve estar em
conformidade com a Constituição, e não só com a lei).
Essa expressão surgiu há 800 anos e até hoje está entre nós. Surgiu na Inglaterra, mas foi
amplamente aceita nos EUA e posteriormente difundida pelo mundo. É uma expressão muito genérica, o
que dificulta um pouco a compreensão de seu real significado. O texto inglês que deu srcem à
expressão é um texto genérico de propósito, ao invés de dizer o que é ou não devido (justo, correto,
adequado), os ingleses optaram por deixar que a jurisprudência dos Tribunais estabelecesse o que era um
processo devido para eles, e foi a partir daí que surgiram todas as garantias que atualmente
conhecemos (contraditório, ampla defesa, juiz natural, etc.) e que ainda podem vir, de acordo com as
necessidades que forem surgindo.
Há a previsão na CR: art. 5, LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o
devido processo legal;
Essa definição é indeterminada, aberta, por isso perdura há muitos séculos, isso porque o que era
devido há 800 anos, não é o que é devido hoje.
Norma é diferente de texto. O texto do devido processo legal é o mesmo há 800 anos, mas a
norma é outra. Ex. placa na praia do RJ na década de 1940: Proibida a utilização de biquíni. Na época,
a interpretação é que tinha que usar maiô. Hoje, a interpretação é que é praia de nudismo.

→ O Devido Processo Legal é uma cláusula geral , um enunciado normativo aberto


cujo conteúdo é definido pelo juiz de acordo com as circunstâncias histórico-culturais do momento da
decisão (aquilo que naquele momento histórico se entende devido). Assim, o texto permanece o mesmo,
o que evolui é a compreensão, a interpretação do texto, de acordo com as novas necessidades. Desta
forma, nunca
garantias queseestão
poderá
numesgotar o conteúdomomento
determinado do Devido Processo Legal,
consolidadas comosepartes
pode nodo máximo listar as
Devido Processo
Legal, mas nunca se poderá saber quais garantias ainda poderão surgir (ex.: a garantia do juiz natural é
do séc. XVII, ou seja, surgiu 400 anos depois do surgimento do “ Due Process of Law”). Todos os
princípios processuais foram extraídos do devido processo legal. Sempre que houver a necessidade
histórica de proteção aos direitos das pessoas, recorre-se ao devido processo legal. Dele é possível
extrair outras garantias. Muitos princípios já estão expressos, outros ainda implícitos.
Ex.: hoje em dia estamos vivendo a era do processo eletrônico, e estamos ainda construindo as
peculiaridades deste tipo de processo para que se possa criar um modelo do devido processo eletrônico,
coisa que em 1815 não poderia ser sequer imaginado.

7
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
A palavra “Processo”, na expressão Devido Processo legal, significa método ou meio de criação
de normas jurídicas.
Todas as normas jurídicas, sem exceção, se produzem após o processo, elas são produto de um
processo; assim, o direito se cria processualmente, as normas jurídicas são criadas processualmente (as
leis são fruto de um processo legislativo, as normas administrativas são fruto de um processo
administrativo, as sentenças são fruto de umprocesso jurisdicional, e todos esses processos devem ser
devidos, justos – a expressão engloba todos os tipos de processo).
Nesta matéria estudaremos o Devido Processo Legal Jurisdicional (não o legislativo ou
administrativo).
Devido processo legal privado ou negocial – os direitos fundamentais regulam as relações
entre Estado e cidadão e entre cidadãos.Os neoconstitucionalistas dizem que os direitos fundamentais
têm uma eficácia vertical e horizontal. A eficácia horizontal se verifica na relação privada. No âmbito
privado há aplicação do devido processo legal. Ex. se um condômino é multado, ele tem direito de se
defender.
☺Art. 57, Código Civil: a exclusão do associado só é admissível havendo justa causa, assim
reconhecida em procedimento que assegure direito de defesa e de recurso , nos termos previstos no
estatuto – este é um exemplo claro de manifestação do devido processo legal no âmbito privado. Esta
norma foi ratificada (consagrada como admissível) pelo STF no RE 201.819, em 2005 – este é um dos
julgamentos mais significativos do STF no âmbito do processo civil; devemos dar atenção, pois, para
este tema dos Direitos Fundamentais no âmbito privado!

→ Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais (é a aplicação dos DF entre indivíduos; se


contrapõe à Eficácia Vertical dos Direitos Fundamentais, que é a eficácia dos DF nas relações entre o
Estado e o cidadão).

→ O Devido Processo Legal tem 2 dimensões:

I) Dimensão formal ou processual do Devido Processo Legal(Devido Processo Legal


Processual): é o conjunto de garantias processuais por todos conhecidas (é o que nós achamos que é o
Devido Processo Legal). Ex. contraditório, juiz natural, duração razoável, motivação das decisões,
etc.;

II) Dimensão material, substancial ou substantiva do Devido Processo Legal (Substantive Due
Process of Law): o Devido Processo Legal é um texto do qual se extraiu muitas coisas (inclusive, para
os americanos, tudo é DPL, eles buscam no DPL o fundamento para tudo). Contudo, para que uma
decisão, um ato seja devido não basta que ele preencha os requisitos formais do DPL, para isso é preciso
que ela, a decisão, em si mesma seja devida, e uma decisão devida é uma decisão razoável,
equilibrada. Ou seja, é preciso que a decisão seja substancialmente devida, para que se possa
controlar o abuso do poder (o poder exercido de forma correta não é suficiente, é preciso que ele seja
substancialmente devido, correto, razoável). Assim, o DPL garante também que as decisões devam ser
razoáveis, ponderadas e não despropositadas. É um instrumento para controlar o abuso do poder. O
legislador não pode tudo; o que pode, pode dentro do razoável.

OBS.: DPL Substancial x Princípio da Proporcionalidade: o Princípio da


Proporcionalidade tem srcem germânica; o DPL Substancial tem srcem na common l aw
(americana/inglesa), mas ambos são construções da jurisprudência para reprimir o abuso do
poder. Foi a resposta que esses diferentes povos deram para combater o abuso de poder. No Brasil,
temos um direito constitucional de influência dos EUA e um direito legal de influência européia. Nos
EUA, utiliza-se o termo devido processo legal substancial e na Europa, utiliza-se o termo
proporcionalidade. No Brasil, utiliza-se ambos os termos. Na opinião do prof., são a mesma coisa, têm
o mesmo objetivo, mas com srcens diferentes (é “o mesmo vinho, de garrafas diferentes”). O STF,
quando aplica o Princípio da Proporcionalidade, diz que este Princípio decorre da dimensão

8
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
substantiva do DPL, há inúmeras decisões nesse sentido (o STF julgou diversas ADIs afirmando que
a lei feriu o DPL substancial, ou seja, é uma lei irrazoável, desproporcional).
Há quem afirme, inclusive, que a proporcionalidade decorre do Estado Democrático de Direito;
isto também é correto. Mas, segundo o prof., é ainda mais fácil associar o Princípio da
Proporcionalidade ao DPL Substancial.
Para que um processo seja devido, ele tem que ser efetivo, tempestivo, adequado e leal. Cada um
desses adjetivos corresponde a um princípio.

2. Pr incípio da E f eti vidade ; Princípio da Adequação; Princípio da Duração Razoável do Processo e


Princípio da Lealdade:

→ “Processo devido é processo efetivo, adequado, tempestivo e leal”.

a) Princípio da Efetividade: este princípio não está consagrado em texto expresso; ele é um
corolário do Devido Processo Legal (é extraído do DPL). O princípio existe, só não está expresso em
um texto. É o direito de efetivar os seus direitos. É o direito que todos têm de verem seus direitos
efetivados. Não basta que eu tenha o direito, é preciso que esse direito seja concretizado, realizado. É,
para muitos (ex.: Marinoni), o mais importante direito fundamental que existe, porque ele garante todos
os demais. Importância de se reconhecer este direito: no desenvolver do Direito, sempre muito se falava
dos direitos do réu, dos direitos do devedor (não se falava muito dos direitos do credor, porque o
devedor é que era o desamparado, o desprotegido – é uma questão cultural, que provém da influência
religiosa, das religiões cristãs) – ex.: a impenhorabilidade do bem de família é para proteger a dignidade
do devedor, e isso mitiga o direito de cobrar do credor, que passa a ter um patrimônio inferior para
buscar a execução. Hoje, porém, a situação é diversa justamente em razão do Princípio da Efetividade: a
efetividade é também um direito fundamental e, portanto está em pé de igualdade com os demais
direitos (como o direito à dignidade do executado), portanto, se requer uma ponderação entre eles; não
se defende mais o devedor em detrimento do credor, ambos são sujeitos com direitos fundamentais;
deve-se dar ao caso uma solução ponderada de acordo com o caso concreto (por ex.: no caso de só
existir o bem de família e este ser de alto valor, o juiz pode determinar a penhora do bem, sua
venda, o pagamento do credor e a restituição do valor ao devedor para que compre outro imóvel –
coisa que não era aceitável há 10 anos atrás). Essa alteração da sistemática se deu pela aceitação do
Princípio da Efetividade, que visa a busca pela solução mais ponderável.

b) Princípio da Adequação: este princípio dita que as regras processuais devem ser
adequadas. Mas, o que é uma regra adequada? Para responder a isso, a doutrina apresenta 3 critérios:
1) critério objetivo de adequação: o processo tem que estar adequado ao direito que por ele será
tutelado; 2) critério subjetivo de adequação : o processo tem que ser adequado aos sujeitos que
deles se valerão, aos sujeitos do processo, não se pode dar o mesmo tratamento processual, por ex., a
um incapaz e a um capaz (ex.:estabelecimento de prazos dif erenciados de acordo com a peculiaridade
dos sujeitos envolvidos, como por ex. aos idosos); 3) critério teleológico de adequação: o processo
tem que ser adequado em relação aos seus fins (por ex., o processo de execução tem características
voltadas para este propósito , o processo dos Jesp´s tem características próprias adequadas aos seus
propósitos, como a celeridade). OBS.: o critério subjetivo nada mais é do que uma exigência do
Princípio da Igualdade, é a manifestação do Princípio da Igualdade no processo . Atenção: este
Princípio não tem redação expressa, ele também é um corolário do DPL . A visão tradicional do
Princípio da Adequação diz que ele é dirigido ao legislador, ou seja, cabe ao legislador criar regras
processuais adequadas (que observem os critérios de adequação) abstratamente, para a generalidade
dos casos. Esta visão não está errada, é correta, mas é a visão tradicional. Ex.: se o autor junta um
documento, o réu terá 15 dias para se defender, mas e se o autor junta 15.000 documentos? A lei diz que
o réu terá 15 dias para se defender, mas este prazo não é adequado nesta situação. Assim, pode o juiz,
diante do caso concreto, adequar a regra para adequar o processo àquele caso concreto, coisa que
o legislador não poderia f azer. Desta forma, hoje se fala também em uma adequação jurisdicional (não
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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
só legislativa) do processo. Cabe ao juiz, de ofício, no caso concreto, se se deparar com uma regra
inadequada (ainda que abstratamente considerada como adequada, prevista pelo legislador) para aquele
caso concreto, afastá-la e criar uma regra adequada. Segundo Marinoni, é direito fundamental do
indivíduo a adequação jurisdicional do processo. Essa adequação jurisdicional do processo é chamada
por alguns autores de Princípio da Flexibilidade, Elasticidade ou Adaptabilidade do Processo, ou seja, o
processo tem que ser adaptável às peculiaridades do caso concreto.

c) Princípio da Duração Razoável do Processo: processo de duração razoável é diferente de


um processo rápido, até porque processo rápido é processo tirano, processo autoritário (certamente
seria um processo que violaria o contraditório, porque a produção de provas, os recursos, etc., por
lógica causam uma certa demora no processo, e esta demora é que garante que a decisão seja a mais
correta possível, em conformidade com o próprio sistema por nós adotado; mas esta demora deve ser
razoável). Este princípio quer dizer que o processo tem que demorar apenas o tempo necessário para que
haja a decisão justa, e não mais do que isso. Existem 4 critérios para se aferir a duração razoável do
processo: 1) a complexidade da causa; 2) a estrutura do órgão jurisdicional (é preciso avaliar se o
órgão tem estrutura para dar vazão aos processos); 3) o comportamento do juiz (avaliação do papel do
juiz na demora do processo); 4) o comportamento das partes. Examinados todos os critérios,
percebendo-se que a duração é realmente razoável, quais são os instrumentos postos ao cidadão para
fazer valer este direito ao processo razoável? O primeiro instrumento é um instrumento de natureza
administrativa, a representação administrativa contra o juiz por excesso de prazo (☺art. 198,
CPC). Se o Tribunal não conceder, pode-se ir ao CNJ . Há ainda os instrumentos jurisdicionais,
dentre os quais o mais famoso, no âmbito do processo penal, é o HC e,no âmbito processual civil, o
MS contra a omissão do juiz.

d) Princípio da Lealdade ou Princípio da Boa-fé Objetiva Processual: (☺ texto


no site do prof.) A boa-fé aparece como:

- Fato – o legislador exige que a parte esteja de boa-fé . A boa-fé enquanto fato é a boa-fé
subjetiva. Relaciona-se ao conhecimento da parte;
- Princípio (norma) - O princípio da boa-fé é a boa-fé objetiva. No processo estuda-se o princípio
da boa-fé. Boa-fé objetiva é uma expressão criada pela doutrina para tratar a boa-fé como norma de
conduta, como cláusula geral, como princípio . “Todos têm que se comportar de acordo com a boa-fé”,
quer dizer, com a boa-fé objetiva (que é diferente da boa-fé subjetiva, que se contrapõe à má-fé, ou
seja, é um elemento puramente psicológico e não uma norma, quer dizer boa ou má intenção ). A
boa fé objetiva impõe a todos os sujeitos das relações jurídicas o dever de respeitar o outro, agindo com
lealdade e ética, de modo a proteger a confiança que o outro tem em seus comportamentos e atitudes.
Mas como se falar em lealdade e ética no caso de se envolver pessoas “inimigas”, de interesses
contrapostos? Basta lembrarmos da guerra, da ética da guerra, onde não se pode comportar-se de forma
desleal, sob pena de cometimento de crime de guerra (ex.: atacar alguém que se rendeu). Em qualquer
relação jurídica o comportamento leal e ético se impõe e essa proteção se estende também ao
processo. Esse pensamento sobre boa-fé objetiva surgiu no Direito Civil: “os contratantes devem
respeitar a boa-fé” (art. 242, CC Alemão) – com base nessa norma foi que as jurisprudências
construíram a idéia de que este é um dever que se impõe a qualquer relação jurídica, mesmo as de
direito público, inclusive o processo. Consolidou-se, pois, a expansão da boa-fé objetiva, que saiu do
direito civil contratual, para todas as relações jurídicas, inclusive as de direito público. Mas ainda há
muitas doutrinas que tratam da boa-fé somente no seu aspecto subjetivo, porque no Brasil a expressão
boa-fé objetiva processual é nova. Mas hoje é indispensável falar-se dela como conteúdo do devido
processo legal. De onde se extrai este princípio? Segundo o prof., esse dever é extraído da cláusula
geral do devido processo legal. Outros autores fundamentam-se em outros princípios da Constituição
(ex.: Menezes Cordeiro entende que este dever decorre do Princípio da Igualdade; já para os civilistas
brasileiros, em regra, o fundamento constitucional do Princípio da Boa-fé Objetiva é a dignidade da
pessoa humana). Há um julgado do STF segundo o qual a boa-fé objetiva é uma conseqüência, um

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
elemento do devido processo legal; “fair trial” quer dizer julgamento ou processo leal, justo –
participação equânime, justa, leal, sempre imbuída pela boa-fé e pela ética dos sujeitos processuais;
âmbito de proteção alargado do princípio – o dever de boa-fé objetiva não é só do autor e do réu, este
comportamento se exige de todos os sujeitos do processo (☺RE 464.962/60). Existe regra expressa no
CPC? ☺art. 14, CPC: “são dever es das part es e de todos aqueles que de qualquer f or ma par ti cipam
do processo: I I ) pr oceder com lealdade e boa-f é”. A redação do caput deste art. é de 2001 (foi alterado
para incluir todos os sujeitos, porque antes valia só para as partes). Antigamente, lia-se o inciso II como
uma exigência de boa-fé subjetiva, mas atualmente a leitura que se faz (do mesmo texto) é diversa,
extrai-se do texto a consagração do dever de atuar de acordo com a boa-fé objetiva. Mais ainda que
não houvesse esse texto expresso, o princípio já existiria como decorrência do dever constitucional do
devido processo legal.

Conseqüências da aplicação do princípio da boa-fé:


1. Veda-se o abuso do direito;
2. Veda veni re co ntr a f actum prop ri um – comporta-se contra as próprias atitudes.
Comportamento contraditório.
3. Veda comportamentos de má-fé. O agir doloso é ilícito. Ex. o exeqüente sabe onde o executado
mora, mas não revela essa informação para que o executado seja citado por edital.

(02/02/09)

3. Princípio do Contraditório:

Este princípio tem uma dupla dimensão:

- Dimensão F ormal : é a que garante às partes o direito de participar do processo ; é o direito


de ser ouvido; é só o direito de participar, e, participando, já estará garantida a dimensão formal do
contraditório, sem que haja direito de influenciar a decisão;

- Dimensão Substancial : é por conta dela que se garante às partes aquilo que se chama de
“poder de influência” das partes no processo – a parte tem o direito de poder interferir no conteúdo da
decisão, ou seja, não basta ter o direito a participar, é preciso que esta participação permita uma
influência no conteúdo da decisão (permita que a parte possa convencer o juiz das suas razões,
inclusive produzindo provas). Dessa dimensão surge o direito à produção de prova . O princípio da
ampla defesa é a dimensão substancial do contraditório.
Contraditório = participação + poder de influência.
É sabido que algumas questões no processo são questões uqe o juiz pode conhecer “ex officio”,
ou seja,
Mas, semo que
pode juiz tenha sido
decidir provocado
com base emaquestão
respeitoconhecida
(ex.: decadência, inconstitucionalidade
“ex officio da lei,antes
” sem tê-la submetido etc.).à
manifestação das partes? Se puder fazer isso, uma das partes vai ser pega de surpresa, pois a sentença se
sustentará num ponto que não foi submetido ao contraditório, não podendo esta parte influenciar a
decisão. E o contraditório é uma garantia de não surpresa (um aviso de que a parte pode perder, para
que ela se defenda). Assim, o juiz não pode manifestar-se em questão que conheça de ofício sem
que se dê às partes o contraditório (ex.: ele intima as partes a se manifestar sobre a
inconstitucionalidade da lei), ou seja, ele pode manifestar-se de ofício sobre a questão não suscitada
por ninguém, mas deve levar a questão ao contraditório das partes.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Como compatibilizar as decisões liminares (sem ouvir o réu) com o princípio do
contraditório?

- As decisões liminares são provisórias, precárias, podem ser revistas posteriormente.


- É um contraditório jogado para depois.
- As liminares se justificam pelo perigo de que o tempo cause lesão.
- Ponderação entre o direito à efetividade e o contraditório.
- O perigo e a provisoriedade tornam as liminares constitucionais.

4. Princípio da Cooperação:

É um produto da junção da Boa-fé com o Contraditório. Segundo este princípio, todos têm
que cooperar, agir em cooperação, para a melhor solução do conflito. O fato das partes serem inimigas
não quer dizer que elas não devam cooperar com o processo, justamente o contrário, elas não podem
embaraçar o processo, não podem agir com deslealdade, etc. Este princípio tem grande importância
quanto ao seu impacto no juiz: este princípio gera para o magistrado 3 deveres:

I) dever de consulta: dever de consultar as partes sobre ponto relevante a respeito do


qual não houve contraditório;
II) dever de esclarecimento: o juiz tem o dever de esclarecer os pontos obscuros de
suas manifestações e, além disso, o juiz tem o dever de pedir esclarecimento às partes , ou
seja, se o juiz não entende uma manifestação da parte, ele não pode indeferir tal pedido porque
não o entendeu, deve antes pedir esclarecimento;
III) dever de proteção ou de prevenção: se o juiz se depara com uma falha no
processo, ele t em o dever de apontar essa falha e dizer como ela deve ser corrigida. O STJ já
disse que o juiz não pode indeferir a Petição Inicial sem antes determinar a sua correção.

5. Princípio da Instrumentalidade:

Significa que o processo deve ser um instrumento de realização do direito material; é um


instrumento à disposição do direito material. Não há entre processo e direito material uma relação de
subordinação, o processo não é subordinado, subalterno ao direito material, a relação que se estabelece
entre ambos é uma relação complementar, de complementaridade, que se estabelece da seguinte
maneira: um serve ao outro – o processo serve ao direito material (como instrumento – o direito
processual realiza o direito material) e o direito material serve ao processo (dando sentido ao processo),
numa relação de mutualismo, de simbiose, já que um precisa e se vale do outro. O direito material é uma
abstração até ser concretizado.
Questão: explique a Teoria circular dos planos processual e material: esta Teoria quer dizer que
um plano se vale do outro, numa relação de complementaridade, D.M.
sem subordinação → “o processo serve ao direito material ao tempo em
que é servido por
É assim
ele”. representada graficamente: D.P.

6. Princípio da Preclusão:

Preclusão é perda de um poder jurídico processual. Este é o nome que no Brasil designa este
fenômeno da perda de um poder jurídico no processo (em outros países tem outros nomes).
A preclusão atinge as partes e o juiz. A preclusão é indispensável para que o processo ande,
caminhe pra frente. Não existe processo sem preclusão. O que pode haver é um processo em que a
preclusão seja relativizada em algum momento e estimulada em outro .

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Decadência, prescrição, caducidade relacionam-se à perda de um poder. A decadência atinge
direitos potestativos, materiais. Se estiver no âmbito do processo não se fala em decadência.
OBS. Se for fazer referência à preclusão para o juiz, não deve se utilizar a expressão preclusão
pro iudicado.
A doutrina costuma classificar a preclusão de acordo com os fatos que a geraram:

- Preclusão temporal: é a perda de um poder jurídico processual porque se perdeu um prazo


no processo; é a mais fácil de se compreender, é a mais simples;

- Preclusão consumativa: tem-se um poder processual que se acaba pelo uso , porque não é
um poder que se pode utilizar mais de uma vez no processo (ex.: poder de recorrer, que quando
exercitado se consuma e se extingue; poder de contestar);

- Preclusão lógica: é a mais difícil de se compreender – diz respeito a um comportamento


contraditório, e comportamento contraditório é ilícito, ou seja, se alguém induz o outro, criando nele
uma expectativa legítima, não pode agir de modo contrário a essa expectativa, sob pena de se quebrar a
confiança, a lealdade que há entre essas partes. O nome jurídico que se dá a isso é: proibição do “venire
contra factum proprium ” – proibição de comportar-se contra suas próprias atitudes (se essas
atitudes geraram em outra pessoa a confiança legítima de que a pessoa se manteria coerente). É uma
atitude proibida pelo Princípio da boa-fé. Para haver um comportamento contraditório, deve haver um
comportamento anterior. O primeiro (ato lícito) gera a proibição de praticar outro ato (ato lícito). Os dois
atos são isoladamente lícitos. O segundo torna-se ilícito a partir do momento em que se relaciona com o
primeiro. Assim, a preclusão lógica é a perda de um poder processual em razão de um comportamento
anterior que gerou uma expectativa legítima de que esse poder não seria exercido, ou seja, há um poder
que é contraditório a uma atitude tomada pela parte no processo anteriormente, e que, portanto, não
deverá ser exercido (ex.: eu peço ao juiz que homologue minha desistência e depois recorro –
haveria ai).uma
entre eles contradição
A preclusão entre
lógica um comportamento
é, pois, e outro,daque
a aplicação no processo gerariado
proibição uma incompatibilidade
“venire contra factum
proprium” (☺artigo do prof. no seu site e ☺caderno de Direito Civil).

Essas 3 espécies de preclusão são as três espécies clássicas, trazidas por qualquer livro que trate
do assunto. Mas é possível identificar uma 4ª espécie de preclusão: a Preclusão sanção, que ocorre
como resultado de um ato ilícito no processo, e assim, aparece como uma sanção à essa prática de
ato ilícito (as 3 outras são decorrentes de atos lícitos).
Ex.: o atentado, que é um ilícito processual (como por ex., a destruição do bem penhorado), e
que, quando praticado pela parte acarreta a perda do direito de falar nos autos enquanto permanecidas as
conseqüências do atentado (enquanto o atentado continuar a produzir efeitos). Funciona, pois como uma
sanção. Assim, nem sempre a preclusão é conseqüência de um ato lícito.

→ Preclusão e questões de ordem pública:

I) Há preclusão para o exame das questões de ordem pública?


Resposta: enquanto o processo estiver pendente, é possível examinar as
questões de ordem pública a qualquer tempo , não há preclusão para esse exame (na
pendência do processo, repita-se). Aplica-se o §3º do art. 267, CPC.
II) Há preclusão para o reexame das questões de ordem pública? Há 2 correntes:
1ª) é francamente majoritária, inclusive na jurisprudência; para esta corrente não há
preclusão, ou seja, é possível examinar e reexaminar a qualquer tempo, indefinidamente;
2ª) é a adotada pelo prof.; para esta corrente, uma vez decidida a questão, ocorre a
preclusão; ou seja, pode-se decidir a qualquer tempo, mas uma vez decidida, não haveria porque

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
não ocorrer a preclusão – fundamenta-se no fato de que não há no Código nenhum dispositivo
que diga que não haveria preclusão.

A 1ª corrente só é majoritária porque alguém disse isso e o pensamento foi seguido pelos
demais, sem nenhuma lógica para isso. Na corrente minoritária está também a figura de Barbosa
Moreira (que é o maior processualista do Brasil). Para esta corrente, acabado o processo seria
necessário fazer uso da rescisória.

OBS. A questão de ordem pública pode ser alegada inclusive em recurso extraordinário.

(parei aqui)

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 JURISDIÇÃO:

 Conceito e Características da Jurisdição:

→ Características:

a) Jurisdição
imperatividade é no
que há poder, édauma
umexercício função não
jurisdição, atribuída a alguémmas
é um conselho, . Destaca-se, portanto,
um poder com funçãoa
imperial. A função de julgar é uma função inerente ao poder. A jurisdição é, pois, um poder, um ato de
império.

b) Jurisdição é uma função atribuída a terceiro* imparcial* . O juiz é, pois, um terceiro, é


um estranho ao problema que será resolvido. Mas não basta que ele seja um terceiro (aspecto
objetivo), é preciso que seja um terceiro imparcial, sem interesse na causa (aspecto subjetivo). A
imparcialidade é uma marca da atividade jurisdicional, assim como a “terceiridade” (“ terziatà ”
expressão em italiano, que significa a condição de terceiro). Mas são coisas distintas. Por isso se diz que
a jurisdição é a solução do problema por heterocomposição: quem compõe, soluciona o problema pelas
partes é um outro (o juiz). Essa característica de um terceiro resolver o problema recebeu o nome de
“substitutividade ” – a jurisdição é uma atuação substitutiva – o juiz, terceiro, substitui as partes e
decide por elas (substitui a vontade das partes pela vontade dele ). Atenção: não confundir
imparcialidade com neutralidade! A neutralidade não existe, ninguém é neutro diante de outrem,
despido de experiências, de gostos, valores, preferências, opções; a neutralidade é incompatível
com o ser humano – o juiz não é neutro, é imparcial, ou seja, coloca-se de maneira eqüidistante
das partes (conduz o processo de maneira imparcial). Há quem afirme que esse terceiro, órgão julgador,
é sempre o Estado, mas isso está errado! A jurisdição é monopólio do Estado, mas isso não quer dizer
que o Estado exerça a jurisdição sempre pelos seus agentes, ele pode autorizar que outras pessoas
exerçam a jurisdição, pode autorizar que outras pessoas exerçam o poder jurisdicional – ex.:
arbitragem (que é uma jurisdição privada, exercitada por agentes privados – prática adotada no
Brasil); Tribunal de águas (composto por pessoas do povo, para julgamento de causas relacionadas com
as águas – é uma prática adotada na Espanha). Assim, embora a regra seja a de que é o Estado esse
terceiro, nem sempre será ele, necessariamente. Ademais, esse atributo da jurisdição não é
exclusividade dela, ou seja, não basta isso para que exista a jurisdição, não há como se definir jurisdição
somente a partir disso, até porque existem outros órgãos com tais características e que não possuem
jurisdição (Ex.: CADE, autarquia federal que decide as questões relacionadas à proteção da
concorrência, que tem “juízes”, terceiros imparciais, que vão julgar tais questões; mas as suas decisões
são meramente administrativas).

c) A jurisdição se exerce mediante um processo, se exerce processualmente. Não se pode


admitir jurisdição instantânea, o processo é um método de controle da jurisdição.

d) A jurisdição serve para reconhecer, efetivar ou proteger situações jurídicas . Tutela-se


reconhecendo, efetivando ou resguardando - tutela de conhecimento, de execução e tutela cautelar.
O juiz atua para reconhecer direitos, para efetivar direitos ou para proteger direitos (os direitos que
foram afirmados em juízos e que foram concretamente deduzidos - ☺letra “e”). Expressão: “Tutela dos
direitos” – significa proteção dos direitos, proteção jurídica dos direitos. Relação: jurisdição e a
tutela dos direitos – a jurisdição tutela os direitos mediante um processo, por um terceiro
imparcial, que vai reconhecer, efetivar ou proteger direitos. É diferente da relação: legislação e
tutela dos direitos – o legislador não é um terceiro imparcial, não tutela direitos concretamente

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
deduzidos, ele atua abstratamente, criando leis, parâmetros abstratos, para que os direitos sejam
protegidos. Jurisdição é uma forma de tutela dos direitos.

e) As situações jurídicas pela jurisdição reconhecidas, efetivadas ou protegidas são


“concretamente” deduzidas. O órgão jurisdicional sempre atua diante de problemas concretamente
deduzidos; a jurisdição atua “sob encomenda” (deve-se pedir algo, para que o juiz produza uma
decisão para aquele problema específico). Até mesmo quando o STF julga uma ADIN ele está
examinando um problema concreto. Embora essa seja a marca da jurisdição, não lhe é exclusiva. O
administrador também atua sobre situações concretas. Toda jurisdição atua sempre em problemas
concretamente deduzidos. Esse problema sobre o qual atua a jurisdição normalmente é uma lide –
conflito entre dois sujeitos (normalmente o judiciário é chamado para resolver uma lide entre dois
sujeitos). Mas há processos que se instauram para resolver problemas que não são lides, como por
ex., o processo de mudança de nome. Assim, é possível haver jurisdição sem lide . Não é possível
que haja jurisdição sem um problema concreto, mas é possível que haja jurisdição sem lide ( o
problema concreto pode não ser uma lide).
f) De modo imperativo e criativo: a jurisdição é ato imperativo, de poder. A jurisdição é
monopólio do Estado, mas isso não quer dizer que só o Estado a exerce. O Estado pode reconhecer que
alguns entes privados exerçam a jurisdição (Ex. a arbitragem no Brasil é jurisdição, embora seja uma
jurisdição não estatal). A jurisdição é, ainda, uma atividade criativa. O juiz, ao decidir, julgar, decide
inovando no ordenamento; ele cria uma norma jurídica nova, que vai regular aquele problema
concreto que a ele foi submetido, e essa nova norma é que vai regular esse problema. Não é correto
dizer que o legislador cria e o juiz apenas aplica o direito. O legislador cria normas gerais,
abstratamente. O juiz tenta ver em que medida aquela norma geral incide no caso concreto, e
quando da sua incidência, gera-se uma norma nova, que é diferente da norma geral, pois será
específica para aquele caso concreto. Em algumas hipóteses o juiz pode até mesmo criar uma nova
norma específica para um determinado caso concreto, sem que haja previsão normativa expressa
antecedente. É a atividade criativa da jurisdição, que não pode ser arbitrária, em substituição à atividade
do legislador, mas sim deverá complementá-la. As decisões do juiz sempre devem pautar-se na
legislação (em sentido amplo); quando a legislação é muito aberta (ex.: Princípio da boa-fé), ele poderá
agir mais amplamente. A criatividade judicial é uma constatação clara do Neoprocessualismo (apesar de
sempre ter existido), pois o Neoprocessualismo não i gnora o papel criativo do juiz, que inova diante
dos casos concretos. A criatividade judicial se revela de duas maneiras:

1ª) O juiz, ao julgar, cria a norma jurídica do caso concreto, que é uma norma
individualizada (é a norma que regula a situação concreta que foi submetida ao Judiciário) ; assim,
ao sentenciar (dizendo que João deve a José) o juiz trará ao ordenamento jurídico uma nova norma
jurídica individual, que só vale para essa relação específica. Essa não é uma questão polêmica não, é
uma coisa indiscutível, ao menos essa criatividade o juiz tem indiscutivelmente (de criar a norma
individualizada); o problema está na segunda manifestação.

2ª) Para o juiz criar a solução do caso concreto (ex.: dizer que João deve a José), ele tem que
examinar o ordenamento jurídico como um todo para identificar dentro do ordenamento qual é a norma
jurídica geral que fundamenta a norma individual no caso concreto; toda solução concreta tem que se
basear numa norma geral, sempre.
Essa norma geral do caso concreto é criada pelo juiz através da interpretação; a norma geral que
fundamenta a norma individual é uma norma que o juiz cria a partir da interpretação que ele faz
do ordenamento. Por isso essa segunda maneira é de mais difícil compreensão, já que podemos pensar
que quem cria a norma geral é o legislador, ocorre que o legislador não consegue prever todas as
nuances de cada caso possível de ser criado.
Assim, é o juiz que deve interpretar o ordenamento para identificar a norma geral que
fundamentará o caso concreto, e esta nem sempre está expressa no ordenamento, requerendo uma

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
interpretação (ex.: há uma norma no CC que diz que todos os contratantes devem se comportar de
acordo com a boa-fé – esse é um exemplo de norma extremamente aberta, ampla – é uma norma geral.
A norma geral do caso concreto se encontra sempre na fundamentação da decisão. Já a
norma individual do caso concreto se encontra sempre no dispositivo. A legislação é só um ponto de
partida, um guia para o juiz que criará diversas outras normas, não só declarará o que está na lei. A lei
não dá a resposta para todos os casos, necessariamente. E a lei não é sempre clara. Por isso o juiz e
os tribunais criam normas jurídicas.
Jurisprudência é a aplicação por diversos tribunais de uma mesma norma geral que
embasará diversas sentenças, e essas sentenças terão, cada qual, normas individuais diversas (ex.:
a lei de crimes hediondos é inconstitucional – é uma norma geral, uma jurisprudência). Ao decidir, um
tribunal, ou mesmo um juiz criará um precedente judicial, uma norma geral criada em determinado caso,
como fundamento de suas decisões. Súmulas são normas gerais de caso concreto que vêm sendo
aplicadas reiteradamente (não se sumula normas i ndividuais, mas sim as normas gerais que são as
mesmas para diversos casos concretos).
Exemplos:
Ex.1. João pede indenização contra José. O juiz acolhe o pedido. A norma individualizada que
está na conclusão da decisão: José deve a João. Norma geral do caso concreto. Aquele que dá um murro
em outra pessoa tem que indenizar.
Ex.2. Zeca Pagodinho contra Nova Skin. Nova Skin propõe ação de indenização sob a alegação
de que houve quebra de boa-fé objetiva pós-contratual. Norma individualizada: Zeca deve x a Nova
Skin. Norma geral: aquele que faz propaganda de cerveja não pode logo em seguida fazer propaganda
para a concorrente.
Ex.3. O STF decidiu que o parlamentar não pode trocar de partido durante o mandato, sob pena
de perdê-lo. Norma individual: senador x perde o mandato para o partido y. Norma geral: senador que
troca de partido durante o mandato perde o mandato.
(☺ Aula de novembro sobre Precedente Judicial).

g) Em decisão é insuscetível de controle externo. O poder jurisdicional é o único dos


poderes que não pode ser controlado por outro. A lei ou um ato administrativo não pode controlar
a jurisdição. A jurisdição se controla jurisdicionalmente. É por isso que as decisões do CADE não são
jurisdicionais (porque elas são suscetíveis de controle pelo Judiciário, e se fosse jurisdicional não
poderia).

h) É apta a tornar-se indiscutível pela coisa julgada material . É o único ato de poder que
pode tornar-se definitivo, indiscutível, até mesmo para a própria jurisdição. A coisa julgada impede
que a própria jurisdição decida de novo (porque a jurisdição se controla, controla os próprios atos, existe
esse controle interno – além de controlar os outros poderes, mas não diante da coisa julgada). Só a
atividade jurisdicional produz coisa julgada (a “coisa julgada administrativa” nada mais é que uma
preclusão administrativa).

Resumindo:

→ Conceito de Jurisdição: A jurisdição é um poder atribuído a um terceiro imparcial para,


mediante um processo, tutelar (reconhecendo, efetivando ou resguardando) situações jurídicas
“concretamente” deduzidas, de modo criativo e imperativo em decisão insuscetível de controle
externo, e apta a se tornar indiscutível pela coisa julgada material.

(parei aqui.)

 Equivalentes Jurisdicionais:

17
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
São técnicas de solução de conflito que não são jurisdicionais. Os equivalentes jurisdicionais
fazem as vezes de jurisdição, mas não são jurisdição. São 4 os equivalentes jurisdicionais:

1) Autotutela: é a solução egoísta do conflito, porque a solução do conflito é imposta por um dos
conflitantes ao outro. Em princípio, a autotutela é vedada, sendo considerada inclusive atividade
criminosa (“fazer justiça com as próprias mãos”), mas ainda sobrevive hipóteses excepcionais de
autotutela permitida, como ocorre com, por ex.: a legítima defesa, a greve, o desforço incontinenti
(reação do possuidor diante de uma violência à sua posse), a execução de suas próprias decisões pela
Administração Pública (autoexecutoriedade, que é ex. de autotutela), a guerra. A autotutela, sempre que
permitida, possibilitará um controle jurisdicional do seu excesso.

2) Autocomposição: é a solução negocial do conflito pelos conflitantes. Ao contrário da autotutela


ela é incentivada, pois é entendida como a forma mais eficaz de solução de conflitos. O direito brasileiro
incentiva a autocomposição, por ex., com a solução nos cartórios dos casos de separação e divórcio; nos
casos de acordo extrajudiciais que poderão ser levados ao juiz para homologação, sendo transformados a
partir daí em títulos executivos judiciais. Também é chamada de conciliação.
→ Atenção: guardar bem esta expressão (sigla inglesa) ADR – “alternative disput resolution”,
ou seja, solução alternativa de conflito (vale para qualquer uma técnica de resolução alternativa de
conflito, mas a autocomposição é a mais estimulada).
A autocomposição pode ser feita dentro do processo, ou pode ser extrajudicial. A
autocomposição extrajudicial sempre pode ser levada para homologação pelo juiz. Art. 475-N, V, CPC:
São títulos executivos judiciais: V – o acordo extrajudicial, de qualquer natureza, homologado
judicialmente. E se dará por transação (com ambas as partes fazendo concessões recíprocas), ou quando
uma parte se abdica em nome da outra voluntariamente. Quando quem abdica é o autor, fala-se em
renúncia; quando quem abdica é o réu, fala-se em reconhecimento da procedência do pedido.

3) Mediação:
estimular, consiste
incentivar na intervenção
o acordo, encaminhar de um terceiro no
os conflitantes conflito,Na
ao acordo. terceiro esse oque
mediação, tem anão
terceiro função de
decide
nada, não soluciona nada, quem o faz são os litigantes. Em conflitos de família ou nos societários, bem
como nos conflitos internacionais, é muito comum haver mediação. O mediador não precisa ser um
advogado, mas deve ser um profissional treinado para isso. Existem técnicas sérias de mediação,
desenvolvidas especificamente para isso. Ex.: o mediador não deve sugerir a solução, não deve partir
dele a solução; deve ocorrer em ambientes claros; a mesa deve ser redonda, sem lados, etc. As
comissões de conciliação prévia na justiça do trabalho são comissões de mediação.

4) Solução de conflitos por tribunais administrativos: atualmente a AP tem vários tribunais, várias
instâncias que no âmbito administrativo julgam conflitos por heterocomposição (são terceiros que
julgam conflitos); não se trata de jurisdição porque não tem definitividade e podem ser controladas pelo
PJ (ex.: tribunal marítimo, decisões do CADE, dos tribunais de contas, tribunal de contribuintes, etc.).

(04/02/09)

 Arbitragem:

Na arbitragem, um terceiro, escolhido pelas partes, é chamado para resolver o conflito. Ele não
só estimula a resolução do conflito (como ocorre na mediação), mas é chamado a resolvê-lo. Por isso é
uma solução por heterocomposição e não por autocomposição.
A fonte da arbitragem (de onde ela nasce) é um negócio jurídico que se chama “Convenção de
Arbitragem”. Assim, a sua fonte é a autonomia privada, porque as pessoas escolhem, optam pela
arbitragem, fazendo este negócio jurídico; ou seja, ela tem fundo negocial.

18
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Só pessoas capazes podem optar pela arbitragem, e elas só podem fazê-lo se o caso envolver
direitos disponíveis. O árbitro não precisa ser advogado, e pode, inclusive, ser uma junta arbitral (com
mais de um árbitro).
Hoje fala-se muito em arbitragem em contratos administrativos de cunho negocial (ex.: nas leis
que cuidam das concessões, PPPs, etc.), nos litígios trabalhistas (entre sindicatos que decidem escolher
um árbitro).
☺ Lei 9.307/96 – Lei que cuida da arbitragem no Brasil.
Pergunta: o que o juiz estatal pode fazer diante da decisão de um árbitro?
O Judiciário pode fazer duas coisas: executar a decisão arbitral, porque se trata de um título
executivo judicial, que o árbitro não tem poder para executar, só o PJ o tem; ou o Judiciário pode
ambular, invalidar, anular a sentença arbitral, se ela tiver um vício formal. Mas ele não poderá revisá-la,
alterá-la, controlar o que foi decidido pelo árbitro (ele só pode anular em caso de defeito e ai será caso
de ação anulatória da sentença arbitral, devendo o árbitro decidir novamente). Antes da Lei 9.307/96 o
árbitro podia questionar ou homologar a decisão arbitral, hoje não pode mais, só pode propor a ação
anulatória da sentença arbitral por vícios formais, que tem prazo de 90 dias contados da intimação da
sentença arbitral para ser ajuizada. Só se pode questionar no Judiciário a validade da decisão e não seu
mérito (o PJ só pode controlar a forma e só dentro de 90 dias, depois desse prazo ela será uma decisão
definitiva expugnável). A decisão do árbitro se torna estável após esse prazo. A arbitragem é
compulsória, ninguém a impõe a ninguém. É a parte exercendo sua liberdade, se perder perdeu. Não há
direito a recurso. Se a parte quiser se valer de um recurso, que recuse a arbitragem então. Caso contrário,
não haverá como o PJ controlar o mérito da decisão arbitral. E não tem nada de inconstitucional nisso
(só seria inconstitucional se a arbitragem fosse imposta, mas ela é voluntária, quem a escolhe está
abrindo mão de ir ao Judiciário).
A arbitragem tem um processo com a garantia do contraditório, bem como todas as demais
garantias do devido processo legal. Os litigantes escolhem seus prazos. A decisão arbitral se torna
definitiva, insuscetível de controle depois de 90 dias.
Assim,jurisdicionais.
equivalentes segundo o prof., trata-se
Para ele de Jurisdição,
o árbitro é um juize de
porfato
issoe ele não a colocou
de direito. O Estadonobrasileiro
rol dos
reconhece ao árbitro o poder de decidir de forma definitiva. Mas há quem diga que arbitragem não é
jurisdição (corrente minoritária), sob dois argumentos: o de que para ser jurisdição tem que ser do
Estado e o de que o árbitro não tem poder executivo, não pode executar suas decisões e assim sua
decisão não seria jurisdicional (Marinoni). Mas esses não são bons argumentos: o Estado aceita a
arbitragem e dá ao árbitro poderes decisórios, e o fato de um árbitro não ter competência para executar
não quer dizer que ele não seja um juiz (a ex. do juiz penal que só condena e não executa – é uma
questão de competência e não de falta de jurisdição). Assim, prevalece na doutrina majoritária que a
arbitragem é jurisdição. Ademais, o STF já decidiu que essa regra de que a decisão arbitral é insuscetível
de controle pelo Judiciário é constitucional. Dessa forma, é possível falar-se em coisa julgada arbitral. A
única ação rescisória da sentença arbitral é essa ação anulatória dentro do prazo de 90 dias da intimação
da sentença.

Daniel Mitidiero entende que a arbitragem não é jurisdição porque o juiz pode invalidar a
decisão. Como há controle externo, não é jurisdição. Para Diddier, a arbitragem é jurisdição. Se eu parto
do pressuposto que ambos são juízes, o controle da sentença arbitral não é externo, mas sim interno. O
raciocínio de Mitidiero é circular, viciado. Se se defende que a arbitragem é jurisdicional, há coisa
julgada.
Nos contratos de adesão é comum haver cláusula compromissória. Essa cláusula é abusiva, pois a
pessoa tem que ter liberdade, manifestar sua vontade em realizar arbitragem ou optar pela via judicial.
Se ambas as partes optam pela via judicial, revoga-se tacitamente a cláusula compromissória.
Até setembro/1996, o árbitro decidia e o juiz tinha que homologar a decisão. Hoje, o juiz estatal
não homologa a decisão arbitral, ele a executa. Laudo arbitral é expressão ultrapassada, em que tinha
que ser homologado em juízo.

→ Espécies de convenção de arbitragem:


19
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

a) Cláusula compromissória: se refere a conflitos futuros, as partes contratam entre si (ex.:


contrato social) para estabelecer que se porventura sobrevier algum conflito, esse conflito deverá ser
resolvido por um árbitro.
b) Compromisso arbitral: é uma convenção de arbitragem que se refere a um conflito que já
existe, um conflito concreto, que já se instaurou, e as partes resolvem que este conflito concreto já
existente será resolvido por um árbitro.
Se uma parte demandar em juízo, apesar da existência da cláusula compromissória (ou seja, a
parte a ignorou), se a outra parte não alegar sua existência, ocorrerá a revogação da cláusula de forma
tácita, e o conflito poderá ser resolvido em juízo.

 Princípios da Jurisdição:

1) Princípio da Investidura: só pode exercer jurisdição quem tiver sido investido devidamente
da função jurisdicional. O juiz estatal é investido por nomeação, concurso, e sua jurisdição é plena (vale
para todos os processos); já o árbitro é investido pela convenção arbitral, e sua jurisdição é específica
para aquele caso concreto.

2) Princípio da Inevitabilidade: a decisão jurisdicional é inevitável, inescapável; ninguém pode


evitar os efeitos da decisão jurisdicional sobre si. A jurisdição é ato de império.

3) Princípio da Indelegabilidade: o juiz, órgão jurisdicional, não pode delegar o exercício das
suas funções a ninguém. O poder decisório não pode ser delegado (e a arbitragem não é exceção a isso,
porque o árbitro designado não pode delegar a ninguém seu poder decisório). A CR permite, em seu art.
102, I, m, que o STF delegue a prática de atos executivos a juízes porque esses atos não são decisórios

a indelegabilidade vale para o poder decisório (e não para atos executivos). Atenção: a permissão
expressa é só para o STF, mas convencionou-se que todos os tribunais podem fazê-lo, porque só o que
não se pode delegar é o poder decisório. O poder instrutório também pode ser delegado. Os tribunais
podem delegar aos juízes de 1ª instância o poder instrutório e de execução. No caso de carta precatória
não se está delegando, trata-se, na verdade, de um pedido de ajuda para aquele que tem jurisdição onde o
juiz que pede não a tem. ☺art. 93, XIV, CR: os servidores podem receber delegação de juiz para
praticar atos sem conteúdo decisório; ☺ art. 162, §4º, CPC (art. equivalente no CPC).

4) Princípio da Territorialidade: a jurisdição se exerce sempre sobre um determinado território.


Esse território chama-se foro. Na justiça estadual, os foros se chamam comarcas. As comarcas ou se
referem a uma cidade, ou a um grupo de cidades. A comarca pode ser subdividida e a subdivisão da
comarca chama-se distrito. O distrito pode ser uma cidade (no caso da comarca ser um grupo de cidades)
ou um bairro (no caso de uma comarca muito grande). Na justiça federal, o foro se chama Seção
Judiciária. Cada Seção Judiciária corresponde a um Estado. A Seção Judiciária pode ser subdividida em
sub-seções. A Seção Judiciária sempre tem nome de Estado. A sub-seção sempre tem nome de cidade.

Casos de Extraterritorialidade:

- Existem comarcas que fazem fronteira uma com a outra, essas comarcas se chamam contíguas;
e existem comarcas que pertencem a uma mesma região metropolitana, mas não necessariamente são
fronteiriças. Quando a comarca for contígua ou da mesma região metropolitana, o oficial de justiça de
uma pode atravessar a fronteira e ir até a outra cidade e fazer comunicações judiciais (ex.: citação) – é
um caso de extraterritorialidade. ☺art. 230, CPC: o oficial de justiça poderá efetuar citações e
intimações em qualquer delas. Não importa se as cidades pertencem a Estados diferentes. Não é
necessário expedir carta precatória.

20
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- Se há um imóvel que fica entre duas comarcas diferentes, pertencendo, pois, a ambas, se um
juiz de uma das comarcas julgar uma causa relativa a esse imóvel, a jurisdição dele se exercerá sobre
todo o imóvel, mesmo sobre a parte do imóvel que está na comarca alheia. Determina-se o foro pela
prevenção. É mais um caso de extraterritorialidade. ☺art. 107, CPC.
Obs.: uma coisa é saber onde a decisão deve ser proferida (em que território), para se saber onde
se deve propor a ação; outra coisa muito diferente é saber onde a decisão irá produzir efeitos (Ex.: um
casal se divorcia em Salvador/BA; eles estarão divorciados em qualquer lugar do país, porque a decisão
irá produzir efeitos em qualquer lugar do país). Mas uma sentença proferida em Salvador/BA pode
produzir efeitos também em um outro país, se nele for homologada. Mas, e uma sentença de um outro
país, pode produzir efeitos aqui no Brasil? Sim, se homologada pelo STJ, quando então irá produzir
efeitos em todo território nacional. **Ocorre que isso não foi levado em consideração pelo legislador, na
Lei de Ação Civil Pública, art. 16, que diz: “ a sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites
da competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas (...)”. Ou seja, segundo esse dispositivo, a sentença civil proferida em
Salvador/BA só produzirá efeitos nos limites da competência do órgão prolator da decisão, ou seja, no
território do juiz que proferiu a decisão. É um absurdo. É uma norma absolutamente irrazoável, é um
despropósito, não tem sentido, é inconstitucional, e torna inviável a ação coletiva (porque se alguém
quiser produzir efeitos em todo o território, teria que entrar com uma ação em cada território). Mas
atenção para o concurso que se for fazer, se for para o MP deve-se falar tudo isso, caso seja para a
Advocacia Pública não (deve-se, ao contrário, utilizar esse art. em defesa da ação coletiva, pois é uma
forma de controlar o poder judiciário – inclusive o STJ tem várias decisões nesse sentido, apesar de ferir
o princípio da razoabilidade). Nelson Néri: criticou o art. 16, argumentando que a sentença deve ser
homologada pelo STJ como se fosse uma sentença estrangeiro para que produza efeitos no território
brasileiro.

5) Princípio da Inafastabilidade: ☺art. 5º, XXXV, CR: “A lei não excluirá da apreciação do PJ
lesão ou aameaça
garantiu a direito”(em
tutela preventiva – écaso
o princípio quea direito).
de ameaça garante oE acesso ao Judiciário,
o constituinte de 88 foiaos tribunais.
muito A CR
claro, não há
nada do ponto de vista jurídico que possa ser afastado do PJ, qualquer questão jurídica pode ser levada
ao Judiciário. Atos administrativos discricionários também podem ser levados ao PJ (controle da
discricionariedade administrativa – pela razoabilidade, proporcionalidade, etc.). As questões desportivas,
por sua vez, só podem ser levadas ao Judiciário após o exaurimento das instâncias desportivas (☺art.
217, §1º, CR – é uma exigência constitucional) – os tribunais desportivos são tribunais administrativos,
ou seja, são equivalentes jurisdicionais. Há uma série de leis infraconstitucionais que condicionam a ida
ao Judiciário ao esgotamento administrativo da controvérsia (ex.: Lei do HD; do MS; acidente de
trabalho; Súmula Vinculante, Comissões de Conciliação Prévia no âmbito trabalhista, etc.) – essas leis
devem ser interpretadas de acordo com a CR, ou seja, só se pode exigir esse condicionamento, esse
exaurimento, se não houver necessidade de ir ao judiciário e se não houver urgência (se a pessoa puder
esperar), não havendo urgência essa condição é razoável, mas se houver urgência, exigir esse
condicionamento se torna inconstitucional, porque se estaria negando justiça. O controle deixa de ser a
priori e passa a ser a posteriori. Por isso é preciso resolver o problema caso a caso, de acordo com o
caso concreto. Ex. na lei de habeas data, se não demonstrar necessidade de ir ao judiciário o hábeas data
não será admitido se não houver esgotamento da via administrativa; reclamação contra ato
administrativo se esgotar a instância administrativa.
OBS. A priori é um tipo de juízo que se faz antes de experimentar a coisa. É, portanto, um juízo
abstrato, que ignora as peculiaridades do objeto. A posteriori é um juízo que se faz após vivenciar a
situação concreta.

6) Princípio do Juiz Natural: é extraído do Devido Processo Legal e de dois incisos do art. 5º,
CR – incisos XXXVII (“não haverá juízo ou tribunal de exceção”) e LIII (“ninguém será processado
nem sentenciado senão pela autoridade competente”).
Tribunal de exceção ou juízo de exceção é um órgão jurisdicional criado extraordinariamente
para julgar determinado conflito ou causa; é o chamado juízo ou tribunal “ad hoc”, ou seja, “para isso”;
21
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
também chamado de “ex post facto” (ex.: Tribunal de Nuremberg, criado para julgar os nazistas após a
2ª Guerra). É a violação mais escandalosa ao Princípio do Juiz Natural, que é a garantia de qualquer um
ser julgado por um juízo já posto. Serve para garantir a imparcialidade do juiz, ou seja, a imparcialidade
do juiz decorre da vedação ao tribunal de exceção.
Mas não basta que o juiz seja imparcial, é preciso que ele seja competente para julgar a causa. A
competência tem que estar de acordo com as regras legais. A competência é atribuída ao juiz pela lei,
pelo legislador. E as regras de competência são regras gerais, previamente estabelecidas. A competência
é o aspecto formal do juiz natural, enquanto o aspecto material é a imparcialidade.
☺ Reclamação 417/STF, julgada em 11/03/93 (sobre o Estado de Roraima, que quando foi
criado não tinha juiz natural para julgar uma ação contra seus desembargadores).

 Jurisdição Voluntária:

Alguns atos jurídicos, para produzirem efeitos, exigem uma fiscalização do órgão jurisdicional;
exigem que se verifique se é o caso de eles produzirem aqueles efeitos jurídicos por eles desejados (tais
atos devem passar pelo crivo do órgão jurisdicional que os verifica, fiscaliza e integra). Essa atividade
jurisdicional é chamada de Jurisdição Voluntária.

→ Características gerais (sobre as quais não paira qualquer tipo de controvérsia):

a) a JV tem, em regra, natureza constitutiva: por ela criam-se, extinguem-se, ou modificam-se


situações jurídicas;
b) A jurisdição voluntária é uma atividade de fiscalização da prática de alguns atos jurídicos
para integrá-los. Integrar significa deixar os atos jurídicos íntegros, aptos à produção dos efeitos
jurídicos desejados.
c) a JV é, em regra, necessária: alguns atos jurídicos só podem produzir efeitos se o interessado
se valer do Poder Judiciário; a JV é um processo necessário, sem o qual não se pode obter nenhum
proveito. Essa é a regra (ex.: interdição, alteração de nome, etc., são atos que só podem ocorrer indo ao
Judiciário). Mas há casos excepcionais em que a JV é permitida e não exigida (ela é opcional, é uma
alternativa possível), como é o caso da separação, do divórcio e do arrolamento de bens (inventário)
consensuais, no caso de não haver incapazes (pode ser feito em Cartório, não é necessário ir ao
Judiciário, que é uma via opcional); ou ainda, o caso de acordo extrajudicial levado à homologação
judicial, que também é opcional (não é necessário, o acordo vale independentemente de homologação
pelo juiz);
d) o juiz da JV tem as mesmas garantias que detém qualquer outro juiz: ele é um juiz como
qualquer outro, ao contrário do que entendia a doutrina mais tradicional, segundo a qual o juiz da JV
teria as mesmas garantias de um tabelião e não de um magistrado;
e) na JV há contraditório: os interessados na causa (aqueles que de qualquer maneira podem
sofrer alguma conseqüência com a decisão) têm o direito de participar da JV (☺art. 1.105, CPC) . Deve
haver citação dos interessados; e existe prazo para manifestação dos interessados, que é de 10 dias
(☺art. 1.106);
f) a JV é um procedimento que se encerra por sentença, que é apelável;
g) a jurisdição voluntária é um processo em que o juiz tem grandes poderes. É estruturado de
acordo com o princípio inquisitivo, pois atribui ao juiz maiores poderes de decisão. Vários
procedimentos podem ser instaurados ex oficio (ex.: arts. 1.129, 1.142, 1.160, etc.)
h) ☺art. 1.109, CPC: “o juiz decidirá o pedido no prazo de 10 dias; não é, porém, obrigado a
observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais
conveniente ou oportuna” – é um art. de redação velha, nasceu com o Código, em 73; seu objetivo era
dar ao juiz na JV uma margem de discricionariedade maior, tanto na condução quanto na decisão do
processo (para que o magistrado não tivesse que se ater às literalidades da lei) – visava dar maior
elasticidade, liberdade ao magistrado; é um dispositivo que permitia um juízo de equidade por parte do

22
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
juiz. Isso porque no mesmo código de 73 existia o art. 126, que dizia que o juiz não poderia se eximir de
sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei (...); ele devia decidir com base na lei
(sobretudo – legalidade estrita), ou na analogia ou costumes; o que importava era a lei – mentalidade
legalista ao extremo, que não aceitava a equidade. Era o perfil do código à época. O art. 1.109 era, pois,
um art. revolucionário para aquela época. Atualmente o perfil do nosso código é bem diverso do daquela
época; o juiz não julga mais com base na legalidade estrita; aquilo que o legislador havia previsto como
caso excepcional (art. 1.109) para aquela época é o que ocorre em todos os casos atualmente (a regra
atual é justamente a verificação do caso concreto, da proporcionalidade, da ponderação, do juízo de
equidade, da maior discricionariedade, etc.). Assim, o art. 1.109 é sim um marco para a JV, mas também
para a jurisdição como um todo, já que nem mesmo na Jurisdição que não é voluntária o juiz não deve
mais decidir com base na legalidade estrita. O disposto no art. 1.109 de então, que só valia para a JV à
época, vale hoje para qualquer atividade jurisdicional, embora não haja previsão legal para isso. Ex. a
guarda compartilhada surgiu com base nesse artigo, hoje já é prevista expressamente; na interdição o
interditando tem que ser interrogado. Quando o interditando está em coma, o interrogatório é dispensado
com base no art. 1.109;
i) *☺art. 1.105, CPC: “serão citados sob pena de nulidade, todos os interessados, bem como o
MP” – a leitura deste art. dá a entender que em qualquer procedimento de JV o MP terá que intervir, e
não é bem assim; o MP só irá intervir quando a causa for do tipo que o MP tenha que se manifestar (e
não em toda JV) – ex.: em separação consensual, sem incapazes, o MP não terá que intervir (apesar do
código dizer que em ações de Estado o MP se manifesta – mas isso era em 73, quando o vínculo
matrimonial era um vínculo de Estado, e ainda não existia o divórcio).

→ Natureza Jurídica da Jurisdição Voluntária:

Aqui há controvérsias; existem, na doutrina brasileira, basicamente duas correntes:

1) Uma corrente –que


administrativa defende que
o Estado-juiz, na aJV,JVatuaria
não écomo
atividade jurisdicional;
administrador ela seria
de interesses uma atividade
privados. Esta é a
concepção majoritária e é a mais tradicional (é inclusive muito antiga), mais difundida. Sofre
influência da doutrina italiana, da PUC/SP e USP. Tem como fundamentos e peculiaridades os
seguintes argumentos:
a) a JV não é jurisdição porque não há lide (não havendo lide, não há jurisdição);
b) porque não há jurisdição não há ação (não se pode falar em ação de JV, deve-se falar em
requerimento de JV);
c) se não há jurisdição e nem ação, não há processo (o que há é um procedimento);
→ rima para recordar: “ na JV não há ação, só há requerimento; não há processo, só há
procedimento”;
d) não há partes, há interessados;
e) não há coisa julgada, só há preclusão.

2) Uma corrente que defende que a JV tem natureza jurisdicional – argumentos:


a) há lide (ex.: na interdição, na retificação de registro, etc. – é claro que há lide; há
interesses contrapostos, há a obrigação de se citar os interessados); na verdade, pode
realmente não haver lide em alguns casos, mas poder não haver lide na JV não significa
que não há lide; a própria citação dos interessados quer significar uma potencialidade de
lide. Ademais, não é correta a premissa de que só há jurisdição se houver lide; o que
importa é que a jurisdição atua sobre uma situação concreta (não se exige que
necessariamente a situação concreta seja litigiosa);
b) é ação, e não simples requerimento; trata-se de ação de JV (aqui é mera questão de
nomenclatura);
c) há processo (se há contraditório, há processo): o argumento da primeira corrente aqui não
é válido porque quando foi criada ainda não existia processo administrativo (que só foi
incorporado à nossa CR em 88 – “a todos é garantido o contraditório ao processo
23
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
administrativo”), processo para aquela época era só o processo judicial; portanto, mesmo
que se adotasse a concepção de que a JV tem natureza administrativa, dizer que não há
processo é uma questão imperdoável na atualidade; sendo ela administrativa ou
jurisdicional, não há como negar que existe o contraditório, e, portanto, existe sim o
processo;
d) existem partes (aqui é mera questão de nomenclatura);
e) há coisa julgada - ☺art. 1.111, CPC: “a sentença poderá ser modificada, sem prejuízo
dos efeitos já produzidos se ocorrerem circunstâncias supervenientes” – os adeptos da
corrente tradicional lêem este art. e afirmam com base nele que se a sentença pode ser
modificada é porque não há mesmo coisa julgada; já a segunda corrente afirma, com base
no mesmo art., que há coisa julgada, já que ele diz também que a sentença não pode ser
modificada (salvo se ocorrerem circunstâncias supervenientes). Ou seja, são duas formas
diversas de se ler o mesmo dispositivo legal. Solução – deve-se atentar para o seguinte: se
o fato é posterior à coisa julgada, isso não tem nada a ver com a revisão da coisa julgada,
porque não se desconstitui uma coisa julgada por fato que é posterior a ela (que não tem
nada a ver com a sentença dada, e exige uma nova decisão, já que a sentença diz respeito
aos fatos anteriores a ela); ou seja, qualquer sentença, por fato superveniente a ela pode
ser alterada, porque o fato é posterior a ela! (ex.1: o pagamento extingue o direito à
execução, sendo que esse direito a execução havia sido declarado em sentença; ex.2:
casal que se separa pode se casar de novo, se quiser, mesmo tendo a sentença da
separação constituído coisa julgada) – não se trata de rescisão da primeira coisa julgada,
mas sim a geração de uma nova coisa julgada diante de um novo fato. Assim, não se pode
falar que não há coisa julgada na JV (se não houvesse, seria possível entrar com um
mesmo pedido quantas vezes se quisesse, até que algum juiz o concedesse, já que não há
coisa julgada, mesmo que não houvesse nenhum fato superveniente – ex.: pedido de
mudança de nome). Concluindo: de acordo com esta corrente, havendo algum fato
superveniente,
não, a decisão éem
claro
JV que
faz ésim
possível
coisa entrar novamente
julgada, comcabe
e, portanto, o pedido, mas caso contrário
ação rescisória. O prof.,
nesse ponto, concorda com a segunda corrente.

24
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 COMPETÊNCIA:

(16/02/09)

 Conceito:

É a quantidade de poder atribuída a um determinado órgão, a um determinado ente. É a medida


do poder que lhe cabe.
Pode-se
competência falar em competência
jurisdicional, a quantidade legislativa, administrativa
de poder atribuída e jurisdicional.
a um órgão Aqui estudaremos
para que ele exerça jurisdição. a
A competência está intimamente relacionada ao controle do poder. Um Estado de Direito como é
o nosso, é um Estado em que quem tem poder deve exercê-lo nos limites da sua competência.

 Princípios que regem a Competência:

A competência é regida por dois princípios básicos:

1) Indisponibilidade da competência: o órgão não pode dispor sobre as regras de


competência; as regras de competência são postas pelo legislador e são indisponíveis, não
ficam a critério dos detentores do poder. Mas o próprio legislador, e só ele, que cria tais
regras de competência pode não ser tão rigoroso, permitindo que elas sejam modificadas
sobre certas circunstâncias.

2) Tipicidade das competências: as competências são típicas, devem estar tipicamente


previstas; decorrem do direito positivo, não existem competência da natureza, oriundas
do direito natural. Não obstante, existem competências implícitas (típicas, mas
implícitas), ou seja, que não estão previstas expressamente, mas que existem dentro do
sistema (até porque não há vácuo de competência, não é possível imaginar uma situação
para a qual não há órgão competente). Ex. de competência implícita: na CR/88 não há
regra de competência ao STF para julgar ED, no entanto, ele tem competência para julgá-
los.

OBS. Kompetenzkompetenz: regra que estabelece competência sobre competência. Todo juiz é
juiz de sua competência, ou seja, todo juiz tem a competência de examinar a própria competência. Por
mais que o juiz seja incompetente, a ele sempre restará a competência mínima de examinar a própria
competência. O juiz é no mínimo competente para se dizer incompetente.

Distribuição da Competência:
É tarefa legislativa (feita pelo legislador). A primeira grande distribuição de competência que se
faz está na CR, e se dá quando se faz a divisão entre as 5 Justiças: Federal, do Trabalho, Eleitoral,
Militar e Estadual.
A competência da Justiça Estadual é residual. O constituinte cuidou de enumerar a competência
das outras 4 Justiças, mas nada disse sobre a competência do Estado. As outras 4 são Justiças bancadas
pela União, embora só uma seja chamada de Justiça Federal. Justiça desportiva é equivalente
jurisdicional, ou seja, é justiça administrativa. A Federal e Estadual são justiças comuns, uma vez que há
uma generalidade de causas que podem ser processadas nessas justiças. As demais são justiças
especializadas.
25
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Se um órgão jurisdicional não tem competência constitucional, ele é um juiz incompetente ou um não
juiz? Para alguns autores como Ada Peregrine Grinover, um órgão jurisdicional que aprecia uma causa
fora de sua justiça é um não juiz, e tudo que ele decidir é inexistente, podendo ser impugnado a qualquer
tempo. O juiz só é juiz em sua justiça. Esse entendimento é minoritário, mas deve ser entendido. Ex.
causa trabalhista proposta na justiça eleitoral.
O pensamento majoritário, é que o juiz é incompetente, levando-se em consideração o princípio
da competência mínima. Sendo nula a decisão pode-se falar em coisa julgada e, portanto, em rescisória.

a) Após a distribuição de competência pela CR/88, há a distribuição de competência pelas leis


federais e estaduais.
b) Constituições estaduais.
c) Regimentos internos dos Tribunais: não cria competência para o Tribunal. Ele pega a
competência já atribuída ao Tribunal (por leis) e distribui essa competência internamente entre os
órgãos do tribunal. Ele não cria uma competência que a lei não atribuiu, salvo o regimento
interno do STF. A CF/69 dava competência legislativa ao STF. Hoje, o regimento interno não
poderia mais ser visto com força de lei, no entanto, o STF entende que ainda tem força de lei.

Depois de se examinar cada uma dessas distribuições, em cada uma dessas leis, é que se sabe
quem é que pode julgar determinada causa, quem potencialmente pode fazê-lo (quais órgãos podem
fazê-lo). Mas não se saberá ainda, concretamente, quem irá julgar determinada causa, qual juízo o fará.
Assim, é preciso concretizar essas leis, para se determinar a competência.

 Fixação ou Determinação da Competência:

É a concretização da competência; a identificação de qual órgão irá julgar determinada causa. Ao


passo que a legislação apenas determina qual é o juiz possível para cuidar do caso.

***CPC, Art. 87. (1) Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. (2)
São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, (3) salvo
quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da
hierarquia.

Isso se dá pela aplicação do art. 87, CPC (primeira parte): “determina-se a competência no
momento em que a ação é proposta ... ” ou seja, é a data da propositura da ação que determinará qual é o
juízo competente para julgar determinada causa.
É o momento em que as regras de competência saem do abstrato e vão para o real. Portanto, é
indispensável saber qual é o momento da propositura da ação: é o momento da distribuição, ou o
momento do despacho inicial nos casos em que só houver um juiz e um juízo (☺art. 263, CPC).
☺art. 87, segunda parte: “são irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito
ocorridas posteriormente...”, ou seja, fixada a competência, pouco importa o que ocorrer depois, a causa
permanecerá naquele juízo, fatos supervenientes não tirarão a causa daquele juízo.
Trata-se de uma regra de estabilidade do processo, para evitar que o processo fique indo de um
juízo para o outro. Esta segunda parte do dispositivo legal estabelece a chamada “perpetuação da
jurisdição”.
☺art. 87, última parte: “...salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a
competência em razão da matéria ou da hierarquia”. Assim, a regra da perpetuação tem duas exceções:
1) ela permite a quebra da perpetuação nos casos em que houver supressão do órgão
judiciário (ex.: deixa de existir uma Vara); ou
2) nos casos em que fatos supervenientes alterarem a competência absoluta (se houver
mudança superveniente de competência absoluta– ex.: a EC 45 alterou regras de competência

26
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
absoluta, incidindo nos processos em trâmite, fazendo com que eles fossem remetidos ao novo
juízo competente – alguns processos foram remetidos e outros não, os que não foram é porque já
havia sentença; se já tiver havido apelação também não será remetido, só o serão aquelas causas
que ainda não tiverem sido julgadas, inclusive em 1ª instância).
Atenção: sempre que se fala em validade de um ato jurídico, deve-se examinar o ato no momento
em que ele foi praticado (a validade de um ato é sempre analisada na data em que ele foi praticado); não
existe invalidade por fato superveniente. Se à época da decisão o juiz tinha competência, essa sua
decisão não poderá ser invalidada (ex.: quando da EC 45, os processos que já tinham sido julgados não
tiveram suas decisões invalidadas, porque foram proferidas por juízes que à época eram competentes;
somente posteriores decisões proferidas por juízes que deixaram de ser competentes é que podem ser
anuladas).
O art. 87 pressupõe que o juízo onde a causa se perpetuou é competente. Caso contrário, não irá
se perpetuar.

 Classificação da Competência:

1) Competência absoluta e relativa:

- Competência Absoluta: regra criada para atender o interesse público e por isso, é uma regra que se
submete ao um regime bastante rigoroso. O desrespeito a essa regra pode ser constatado ex officio.
Qualquer das partes pode alegar, a qualquer tempo (enquanto o processo estiver pendente), por qualquer
forma.

- Competência Relativa: regra para atender o interesse de parte. Por conta disso, só o réu pode alegar a
incompetência relativa. O juiz não pode de ofício reconhecer sua incompetência relativa (Súmula 33,
STJ). O réu deve alegar no primeiro momento que lhe couber falar nos autos, sob pena de preclusão. Ou
seja, o juiz inicialmente incompetente torna-se competente caso o réu não alegue a incompetência. Pela
legislação brasileira, o réu tem que alegar a incompetência relativa por meio de exceção de
incompetência relativa. A exceção é uma petição escrita formal, que gera um incidente processual. É
uma formalidade completamente necessária para se alegar a incompetência relativa. A jurisprudência do
STJ passou a admitir que o réu alegasse a incompetência relativa em sua contestação, desde que não
cause prejuízo ao autor.

A incompetência, qualquer que seja ela, não gera extinção do processo. Apenas levará a remessa
dos autos ao juízo competente. Há duas exceções:
 Juizados: a lei dos juizados diz que a incompetência gera extinção (não há nenhuma
explicação plausível para essa regra).
 Incompetência internacional: ex. propositura de ação no Brasil, quando a competência do
juízo australiano.

Antes,
tribunalohavia
regimento interno
extinção do STF Essa
do processo. diziaregra
que não
nos existe
casos mais.
de incompetência perante esse

Além da remessa dos autos ao juízo competente, a incompetência absoluta gera, ainda, a
anulação dos atos decisórios. No caso de incompetência relativa, os atos decisórios continuam tendo
validade. As regras de competência absoluta não se alteram por conexão e continência, nem se alteram
por vontade das partes. Em contrapartida, as regras de competência relativa podem ser alteradas por
conexão e continência, e vontade das partes. A modificação voluntária das regras de competência
relativa pode ocorrer de maneira tácita (silêncio do réu) e expressa (foro de eleição ou cláusula de
escolha de foro).

27
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- Foro de eleição ou cláusula de escolha de foro: duas pessoas ao celebrarem um negócio jurídico
podem escolher o local onde as causas relacionadas ao negócio irão tramitar (cumprimento, resolução,
interpretação), deve ser escrito, e pode haver mais de um foro de eleição. É muito comum em contratos
de adesão em relação de consumo haver a cláusula de foro de eleição. Existem cláusulas de foro de
eleição em contratos de adesão que são lícitas. Mas é possível também que essa cláusula seja abusiva. O
CDC estabelece que cláusulas abusivas são nulas e podem ser anuladas de ofício pelo juiz. O STJ
passou a admitir, nesse caso, excepcionalmente, que o juiz decline de ofício incompetência relativa. O
legislador consagrou o entendimento jurisprudencial no art. 112, embora tenha generalizado um
entendimento jurisprudencial, que previa a anulação de ofício apenas nos casos de contrato de adesão
nas relações de consumo. Se o juiz não reconhece de ofício e o réu não alega a incompetência, haverá
preclusão. Ou seja, o juiz pode conhecer de ofício, mas não poderá fazê-lo a qualquer tempo (Regime
jurídico novo – híbrido, embora mais se assemelhe à competência relativa).

2) Competência or iginária e der ivada:

- Competência srcinária: competência para conhecer e julgar a causa pela primeira vez, para
fazer o exame da causa. Costuma ser nos juízos de primeiro grau, embora haja casos de ações de
competência srcinária em um tribunal. Ex. ação rescisória de sentença, mandado de segurança contra
ato de um juiz.
- Competência derivada: competência para julgar recursos, ou seja, para julgar em um 2°
momento. A regra é que esse tipo de competência é de um tribunal. Há, no entanto, casos raros de juízes
de 1ª instância com competência recursal. Ex. na execução de fiscal de causas de até 50 ORTN (em
torno de R$ 500,00), o recurso contra a sentença é julgado pelo próprio juiz da causa (Embargos
Infringentes de Alçada). Isso não se aplica ao caso dos juizados, pois quem tem competência recursal é o
órgão (turma recursal) e não os juízes de 1° graus. Da mesma forma, não se aplica aos juízes que são
convocados para atuar nos tribunais.

 Critérios de Determinação da Competência:

Critérios:

1) Cr ité
rio Objetivo:

É aquele que leva em consideração, para distribuir a competência, a demanda (o que foi
demandado) – ex: despejo, separação, cobrança, etc. Ou seja, toma por base um dado objetivo, que é a
demanda. A demanda, que é a provocação ao Judiciário, tem 3 elementos:
- partes,
- pedido e
-Qualquer
causa deumpedir.
desses elementos da demanda pode ser levado em consideração pelo legislador para
distribuir competência. Por isso se diz que há 3 sub-critérios objetivos:
a) a competência em razão da pessoa: aquele que leva em consideração uma das partes,
como por ex., se há ou não a presença de um ente público;
b) em razão do valor da causa: é determinado pelo pedido – ex.: Jesp´s;
c) em razão da matéria: é a causa de pedir; é a competência pela natureza jurídica da
relação discutida (ex.: causa trabalhista, vara do trabalho; causa de família, vara de família, etc.).

A competência em razão da matéria e em razão da pessoa é uma competência absoluta; já a


competência em razão do valor da causa é um pouco complexa, requerendo maiores explicações:

28
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Quando o legislador estabelece um teto (o juiz só poderá julgar até determinado valor), se o juiz
extrapola o teto, o juiz será absolutamente incompetente (ou seja, trata-se, neste caso, de competência
absoluta); para questões abaixo do teto (dentro do limite), é uma opção do demandante demandar
perante o juiz com competência pelo valor, cabendo a ele escolher se demandará ou não perante o juiz a
quem o legislador determinou o teto (e ai, então, seria caso de competência relativa).
Os casos de competência em razão do valor por nós conhecidos são do Jesp (não há outros
exemplos) e nos Jesp´s o sistema é um pouco diferente: se a causa for acima do teto não há sequer
discussão sobre o tema (sobre a competência), o legislador já determinou que o autor renuncia o valor
excedente ao teto, e se o juiz der além do teto, tudo o que ele der será ineficaz. Nos Jesp´s estaduais, nas
causas que estão dentro do teto (40 SM), o demandante pode optar pelos Jesp´s estaduais ou pela Vara
comum. Já nos Jesp´s federais não é assim, as causas que estão dentro do teto têm que ser processadas
nos Jesp´s federais (não há liberalidade), ou seja, a competência é pelo valor da causa, mas não há opção
para o demandante (a competência é absoluta), quebrando uma tradição antiga de que a demanda perante
determinado juízo é uma opção do demandante.
Há situações em que o legislador se vale de mais de um desses critérios.
Obs.: A competência objetiva é sempre uma competência de Vara.
☺Súm. 206, STJ: “a existência de vara privativa, instituída por lei estadual, não altera a
competência territorial resultante das leis de processo ” – começou a acontecer muito na prática casos
de um Estado que foi demandado em uma cidade que não tenha Vara privativa da Fazenda Pública (só
tinha Vara única); um cidadão dessa cidade demanda contra o Estado, e o Estado alega que, por ser
Estado, só poderia ser processado em uma Vara privativa, requerendo que os autos fossem remetidos à
vara privativa da capital.
Mas o STJ diz que a existência de uma vara privativa em uma comarca não altera a competência
territorial, não significa que aquela comarca atrairia todas as causas contra o Estado (ou seja, o processo
fica naquela pequena cidade onde não existe vara privativa). A existência da vara privativa só significa
que qualquer demanda contra o Estado naquela comarca onde há a vara privativa, deve ser proposta na
vara privativa.

2) Cr ité
rio F un cion al:

Ao longo do processo existem diversas funções que devem ser exercidas pelo órgão
jurisdicional; quando o legislador distribui essas funções que devem ser exercidas nos processos entre
vários órgãos, fala-se em competência funcional, que é a competência para exercer funções em um
processo. Exs. de funções: recebimento da PI, instrução, julgamento, execução, julgamento do recurso,
julgamento da reconvenção, julgamento da ação cautelar, etc. Esta competência pode ser visualizada em
duas dimensões:
a) Dimensão vertical: visualização da competência funcional entre instâncias (ex.:
competência srcinal e derivada – é uma visualização vertical da competência funcional);
b) Dimensão horizontal: a distribuição da competência funcional se faz na mesma
instância, no mesmo nível (ex. no processo penal: o juiz pronuncia, o júri condena e o juiz dosa a
pena, tudo na mesma instância; ex. no processo civil: os tribunais só podem dizer que uma lei é
inconstitucional pela maioria absoluta dos seus membros, ou dos membros do seu órgão
especial).

3) Cri té
rio Terr itor ial :

É aquele que vai identificar em que lugar a causa deve ser processada; qual é o foro, a comarca.
A competência territorial é, em regra, relativa. Mas há casos de competência territorial absoluta
(casos excepcionais) – apesar da divergência na doutrina, já que não se admitia que uma competência
territorial pudesse ser absoluta, e, se o fosse, era porque na verdade se tratava de competência funcional

29
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
(sob o argumento absurdo de que se tratava de uma competência atribuída para que o juiz exerça melhor
suas funções – atenção para os concursos, pode ser a posição do examinador no concurso).
Mas o correto é que realmente existem casos de competência territorial absoluta sim. Atualmente
os autores estão corrigindo esses erros em seus livros.
Vejamos alguns exemplos:
Ex.1: art. 2º, da LACP “as ações previstas nessa lei serão propostas no foro do local onde
ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa ” – esse art. é de
1985, o objetivo da lei é claramente dizer que a competência para a ação coletiva do local do dano é
absoluta (e para deixar isso claro, o legislador deu o nome de funcional, mas trata-se de uma
competência territorial absoluta).
Ex.2: art. 209, do ECA (1990): “as ações previstas neste capítulo serão propostas no foro do
local ande ocorreu ou deva ocorrer a ação ou omissão, cujo juízo terá competência absoluta para
processar a causa (...)”, ou seja, este art. que já é posterior, corrigiu o erro da LACP, não dizendo nada
sobre competência funcional.
Ex.3: art. 80, Estatuto do Idoso (Lei 10.741/03): “as ações previstas neste capítulo serão
propostas no foro do domicílio do idoso, cujo juízo terá competência absoluta (...)”; mas há, aqui, uma
peculiaridade, já que a interpretação literal do art. induz que ele deve ser aplicado em ações coletivas
(como tradicionalmente acontece), mas é sabido que ele também pode ser aplicado às ações individuais
(o capítulo onde está o art. é chamado “ da proteção judicial dos interesses difusos, coletivos e
individuais indisponíveis ou homogêneos”). Assim, no caso das ações individuais, a interpretação mais
correta deve ser a que coloca o foro do idoso como uma opção e não como uma imposição, já que o
objetivo do dispositivo é mesmo proteger o idoso (assim, se o idoso quiser, ele poderá demandar em seu
domicílio, mas se não, poderá demandar em outro lugar). Não há jurisprudência sobre isso.

→ Regras gerais de competência territorial:

pessoais (aquelasI)queart. 94, CPC:


veiculam estabelece
direitos o edomicílio
pessoais) do réu,
para as ações reaiscomo regra (ou
mobiliárias geral,
seja,para
sobreasmóveis
ações
– incluindo-se ai carro, avião, etc.);

II) art. 95, CPC: estabelece o foro da situação da coisa como sendo o competente no
caso das ações reais imobiliárias – termo em latim: “forum rei sitae” (foro da situação da coisa) → “Nas
ações fundadas em direito real sobre imóveis, é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor,
entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de
propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova” –
assim: o legislador estabeleceu 3 foros possíveis para a ação real imobiliária (situação da coisa,
domicílio do réu ou foro de eleição); mas, se a causa for uma dessas 7 acima citadas, o autor não pode
optar (terá que ser o foro da situação da coisa, sendo, pois, caso de competência absoluta, embora
territorial) – guardar as 7 hipóteses!

(02/03/09)

 Conflito de Competência:

É a situação em que dois ou mais órgãos jurisdicionais discutem em torno da competência, para
julgar uma ou mais de uma causa. Pode ser positivo (conflito para julgar a causa) ou negativo (conflito
para não julgar a causa).
O conflito é um incidente processual, de competência srcinal de um Tribunal (sempre será um
Tribunal o competente para julgar o conflito), que tem por objeto um conflito entre dois ou mais juízos
sobre a competência para julgar determinada(s) causa(s).

30
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
O conflito é um incidente que pode ser provocado ou suscitado pelas partes, pelo MP, ou pelos
próprios órgãos conflitantes.
Caso de intervenção obrigatória do MP: se o MP não for o proponente (se não tiver sido ele a
suscitar o incidente) ele deve intervir obrigatoriamente no incidente.
☺art. 115 e 116, CPC.

☺art. 117, caput, CPC: “Não pode suscitar conflito a parte que, no processo, ofereceu exceção
de incompetência”. Ou seja, a parte não pode, ao mesmo tempo, suscitar conflito e oferecer exceção de
incompetência (é uma questão de preclusão). Se isso acontecer, no entanto, em momentos diversos,
sucessivos no processo, não há nenhum problema.
☺art. 120, P.U., CPC: “Havendo jurisprudência dominante do Tribunal sobre a questão
suscitada, o relator poderá decidir de plano o conflito de competência, cabendo agravo, no prazo de 5
dias (...)”, ou seja, é permitido ao relator decidir o conflito monocr aticamente, se se tratar de um tema
em que há jurisprudência dominante no Tribunal.
☺Súm. 59, STJ: “Não há conflito de competência se já existe sentença com trânsito em julgado,
proferida por um dos juízos conflitantes”, ou seja, se um dos processos já aca bou, não se pode falar em
conflito.

Atenção às seguintes premissas:

 O conflito pode se dar entre juízes; entre juiz e tribunal; e entre tribunais. Não existe
conflito se houver diferença hierárquica entre os conflitantes: se um dos conflitantes revisa as
decisões do outro, não pode se falar em conflito, devendo prevalecer a decisão daquele que fala
por último (que é hierarquicamente superior). Ex.: entre TJ e STJ não há conflito; entre STJ e
TRT pode haver conflito (o STJ não revê as decisões do TRT); pelo mesmo motivo não existe
conflito que envolva o STF (ele não conflita com ninguém).
 A Justiça Federal se divide em 5 regiões e nós devemos saber quais são elas, para se
definir quem decide o conflito de competência:

- 4ª Região: PR, SC e RS;


- 3ª Região: MS e SP;
- 2ª Região: RJ e ES;
- 5ª Região: SE, AL, PE, PB, RN, CE;
- 1ª Região: é o restante (BA, MG, GO, DF, TO, PI, MA, PA,
AP, AM, RO, AC, RR, MT).

**O principal
a competência tema
para julgar de conflito
o conflito de competência
de competência. Noque se cobra
processo emsóconcurso
civil é saber
nos interessa qualosé
saber
seguintes 3 níveis de competência: STF, STJ, TRF/TJ. Se há apenas 3 níveis, basta decorarmos
2, sendo o que sobrar do terceiro. Portanto, devemos decorar as competências do STF e do
TRF/TJ, o que sobrar é do STJ (pois a sua competência é imensa; o STJ é basicamente um
Tribunal para julgar conflito de competência – impossível de se decorar).

→ Regras:

31
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
 STF: se o conflito envolve um Tribunal Superior, é competência do STF (obs.: sempre que
tiver Tribunal no meio não será TJ/TRF, será STF ou STJ);

 TJ/TRF: tem sempre competência para julgar os conflitos entre juízes vinculados àquele
Tribunal (desde que os juízes conflitantes sejam vinculados ao mesmo Tribunal, porque se os
juízes que estão conflitando forem de tribunais diversos, ainda que do mesmo Estado, a
competência será do STJ).

Obs.:
- Existe a figura do juiz estadual que julga causas federais, devendo um eventual recurso ir para o
TRF. É o juiz estadual investido de jurisdição federal. Se ele conflitar com juiz federal da mesma região,
TRF; se forem de regiões diversas, STJ. ☺ Súm. 3, STJ: “ compete ao TRF dirimir conflito de
competência verificado, na respectiva região, entre juiz federal e juiz estadual investido de jurisdição
federal”.
- Juiz de Juizado Federal e Juiz Federal conflitando, ou Juiz estadual e Juiz de Juizado Estadual
conflitando (ou seja, conflito entre juiz comum e juiz de Juizado, ambas da mesma justiça): o juiz de
juizado é vinculado à Turma Recursal e o outro é vinculado ao seu Tribunal: a competência é do STJ
(não há previsão expressa para isso, mas é o que ocorre– Teoria das competências implícitas - é uma
competência implícita).
- Conflito entre juiz do trabalho e juiz federal é competência do STJ.
- Conflito entre dois juízes do trabalho: se forem da mesma região será julgado pelo TRT; se
forem de regiões diferentes, será julgado pelo TST.
- Pode haver conflito entre 3 órgãos: se tem Tribunal no meio, STJ, se tem Tribunal Superior,
STF, etc.


Litispendência, Conexão e Continência:

Para compararmos duas ou mais ações e sabermos se são conexas, ou se uma contém
alguma outra, ou se há litispendência entre elas, é preciso examinar os chamados elementos
identificadores da ação: partes, pedido e causa de pedir.
A conexão é esquematizada com dois círculos
que se sobrepõem em parte, ou seja, apenas em
parte as ações se superpõem:
A continência é esquematizada com o uso de
dois círculos concêntricos, sendo um de raio maior que o outro:
Finalmente a litispendência é representada por
dois círculos concêntricos e idênticos, que
se confundem como um só:

Imaginem-se duas causas pendentes que são iguais. O nome que se dá a esta situação é
LITISPENDÊNCIA (pendência de duas ações iguais). É uma situação tão importante que, em
ocorrendo, uma das ações deverá ser extinta.
Obs. importante: existe um outro sentido da palavra litispendência: vida do processo, existência
do processo; o fluir da existência do processo. Este sentido também é muito utilizado nas provas de
concurso, atenção para isso.

32
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Ex.: o recurso prolonga a litispendência; Questão: quais são os efeitos da litispendência em
relação a terceiros? Ou seja, aqui a questão quer saber quais são os efeitos de um processo em relação a
terceiros.
Imagine-se, agora, a pendência de duas causas totalmente diferentes entre si, tramitando ao
mesmo tempo. Não há nome para esta situação. E não há nome porque não há nela nenhuma
importância.
No entanto, entre esses dois extremos acima citados (litispendência e causas totalmente
diferentes), está a situação das causas que não são iguais, mas que guardam entre si alguma semelhança,
algum vínculo: a esta situação dá-se o nome de CONEXÃO.
A conexão produz um efeito muito importante: ela faz com que as causas sejam reunidas em um
mesmo juízo, para que o mesmo juízo as processe e as julgue, por uma questão de economia processual
e para evitar decisões contraditórias.
Ou seja, ela é um fato jurídico que gera a reunião de causas em um único juízo, com propósitos
econômicos e para evitar decisões contraditórias.
Desta forma, uma causa sai de um juízo e vai para outro, que passa a ter competência para julgar
essa causa, enquanto aquele outro juízo perderá a competência para julgá-la. Há, portanto, uma troca de
competências. Por isso é que se diz que a conexão é um caso de modificação de competência.
Mas atenção: conexão só modifica a competência relativa! Se os dois juízes tiverem competência
relativa diferentes, se se tratar de competência absoluta, não há como reunir as causas. Não se pode
reunir as causas se isso implicar mudança de competência absoluta.

Conexão x Reunião dos processos:


Esta é conseqüência daquela, é um efeito da conexão. No entanto, pode haver conexão sem haver
reunião dos processos, exatamente quando houver diferença de competência absoluta entre um juízo e
outro. Neste caso, mesmo que haja competência (ex.: causas conexas, sendo uma da vara cível e outra da
vara de família), não pode haver a reunião. Outro ex.: uma causa conexa perante o Tribunal e outra
perante
reunião.oCompetência
juiz, ou seja,funcional
caso de competências funcionais distintas, e, portanto, também não pode haver
vertical distinta.
☺Súm. 235, STJ: “a conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi
julgado” – é outro caso em que há conexão (há o vínculo), mas não pode haver reunião.
Nesses casos, em que há conexão, mas não pode haver reunião, o efeito que se tem é a suspensão
de uma das causas, para que se espere a decisão da outra, e, assim, se evite desperdício de atividades
jurisdicionais e decisões conflitantes. Espera-se até certo ponto, enquanto for possível, tendo em vista a
razoabilidade.
Assim, a suspensão também é um efeito da conexão, mas ela só ocorre quando não for possível a
reunião, que é o efeito principal da conexão.

Objetivos da conexão e reunião dos processos:


- Economia processual;
- Harmonia de decisões ou prevenção de decisões conflitantes.

A conexão pode ser conhecida de ofício pelo juiz e a qualquer tempo até o julgamento. E pode
ser suscitada por qualquer das partes. O autor, inclusive, costuma alegar a conexão logo na PI, através da
solicitação da distribuição por dependência. Já o réu costuma alegar a conexão na contestação.

***Obs.: a conexão não se alega por exceção de incompetência. Alegar modificação de


competência relativa (conexão) não tem nada a ver com alegar incompetência relativa. Alegar
incompetência relativa é dizer que o juiz não tem competência relativa. Alegar conexão é dizer que o
juiz até tem competência relativa, mas que perdeu sua competência em razão da conexão. Na conexão há
um interesse público.

33
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
☺ Diferenças entre elas:

M odi ficação da Competê


ncia Relativa (conexão): Alegação de I ncompetência Relativa:
Qualquer pessoa pode alegar (autor, réu, juiz). Só o réu pode alegar.
Pode ser alegada a qualquer tempo Não pode ser alegada a qualquer tempo
O juiz pode alegar de ofício O juiz não pode alegar de ofício
É alegada por qualquer forma (em preliminar da É alegada por exceção de incompetência.
contestação ou na PI).
O objetivo é a remessa dos autos a um juízo O objetivo é que a causa vá para um juízo
prevento. competente.

CONCEITO:
Cabe ao legislador estabelecer os casos em que haverá conexão e continência.
O código resolveu conceituar CONEXÃO - ☺art. 103, CPC: “Reputam-se conexas duas ou
mais ações quando lhes for comum o objeto ou a causa de pedir”.
É um conceito muito simples. Basta que um dos elementos objetivos (causa de pedir ou pedido)
seja igual para que haja conexão. A identidade de partes é irrelevante.

Ocorre que o art. 104, CPC trouxe um outro instituto e deu a ele o nome de CONTINÊNCIA:
“Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e a causa de
pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras ”. Ou seja, ai é preciso que haja a
mesma causa de pedir, as mesmas partes, e que, ainda, o pedido de uma seja mais abrangente que o da
outra, ou seja, os pedidos são diferentes.
Crítica:
- Desnecessidade do conceito de continência. (...)

O CPC dá nomes diversos aos dois institutos, mas todas as conseqüências da conexão são
também conseqüências da continência, porque o regime jurídico dado a ambos é o mesmo.
Questão: toda continência é uma conexão? Se há continência, as causas de pedir são iguais, e se
as causas de pedir são iguais, há conexão. Ou seja, toda continência é uma conexão sim. Mas nem toda
conexão é uma continência. Pode-se falar, inclusive, que a continência é uma espécie de conexão, que
tem o mesmo tratamento de todas as espécies de conexão. A continência, portanto, “está contida” na
conexão.

Os conceitos legais de Conexão e Continência são conceitos insuficientes. Na verdade, eles


revelam hipóteses mínimas de conexão, ou seja, naquelas hipóteses fáticas há conexão, mas também há
conexão em outras situações, que não estão previstas naquele conceito.
A interpretação que se dá ao dispositivo, portanto, é de que as hipóteses de conexão são
inúmeras, não se encaixando, muitas vezes na previsão do art. 103, CPC, constituindo as hipóteses ali
previstas meros exemplos. É uma questão tranqüila, não há discussão quanto a isso.
Como saber, então, se há ou não conexão?
Devemos nos lembrar da seguinte regra: se temos duas causas, para saber se são conexas é
preciso verificar se a solução de uma causa interfere de alguma maneira na solução da outra. Se a
resposta for positiva, há conexão (há um vínculo entre essas causas que justifica a reunião dos
processos).
Ex.1: ação de alimentos e ação de investigação de paternidade – os pedidos são distintos, as
causas de pedir também são distintas (uma coisa é a necessidade de alimentos, outra coisa é a ausência
de pai), mas há uma nítida conexão entre elas. A investigação de paternidade tem que ser reunida à ação
de alimentos (imagine se um juiz diz que a pessoa não é pai, e um outro juiz manda esta mesma pessoa
pagar alimentos). Isso prova que há hipóteses de conexão fora dos casos do art. 103.

34
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Ex.2: despejo por falta de pagamento e consignação em pagamento dos aluguéis – os pedidos são
diferentes e as causas de pedir também. Mas há conexão, sem dúvida. É caso de conexão em que não há
pedidos iguais e nem causas de pedir iguais (ou seja, fora dos casos do art. 103).

Isso ocorre sempre que a solução de uma causa possa interferir na solução da outra, portanto,
haverá conexão.
O nome que se dá a essa situação (quando a solução de uma causa interfere na solução da outra)
é prejudicialidade – há prejudicialidade quando a solução de uma causa interferir na solução da outra,
ou seja, uma causa for prejudicial à outra. E a prejudicialidade implica a conexão, pois existe conexão
por prejudicialidade (conexão em razão desse vínculo entre causas).
O CPC não previu expressamente a conexão por prejudicialidade, mas ela existe a partir de uma
interpretação elástica do art. 103.
Questão de prova: Existe conexão por prejudicialidade? Sim. Existe, fora das hipóteses do art.
103, que traz hipóteses mínimas de conexão. Esse tipo de conexão não é polêmico, ou seja, já é
pacificado na doutrina e jurisprudência.
Mas atenção: a conexão só produz efeitos se não mudar a competência absoluta! (incluindo-se ai
a conexão por prejudicialidade).

Conexão nas causas repetitivas:


As causas repetitivas são aquelas em que se discute uma mesma tese jurídica. Têm por diferença,
basicamente, o autor. São causas de massa. Ex. causas em que se discute correção de conta de FGTS,
causas tributárias, servidores públicos ao pedir reajuste, etc. As causas repetitivas são muito freqüentes
no foro brasileiro e, portanto, responsáveis pela crise do poder judiciário.

→ Atenção a este caso:

Um contribuinte
inconstitucionalidade. Umvai a juízo
outro pedir para
contribuinte vai anão
juízopagar determinado
pedindo tributo,
para não pagar em razão
o mesmo de sob
tributo umao
fundamento de que é inconstitucional. Temos, então, duas ações, propostas por contribuintes diversos,
pedindo para não pagar o mesmo tributo, sob o mesmo fundamento (inconstitucionalidade). Há
conexão? Nos termos do art. 103 não há conexão, porque os pedidos não são iguais e nem as causas de
pedir são iguais. São pedidos diferentes, embora se pareçam. Seriam iguais se A pedisse para não pagar
o tributo e B pedisse para que A não pagasse o tributo; como cada um está pedindo para que ele mesmo
não pague o tributo, são pedidos diferentes. E as causas de pedir são diferentes também, embora se
pareçam, porque cada um alega que não existe relação entre a sua própria pessoa e o Fisco. Não há a
conexão, nos termos do art. 103. Como então saber se há conexão fora dos casos do art. 103? A solução
de uma causa interfere na outra? Não. O fato de A ganhar ou perder é irrelevante para que B ganhe ou
não a sua causa. A solução de uma causa é indiferente em relação à solução da outra.
Este caso, portanto, é um caso em que, se examinado por uma perspectiva tradicional, não há
conexão, nem nos termos do art. 103 e nem também há conexão por prejudicialidade. E é um caso
clássico do ponto de vista de concursos. Atenção para ele!
Esse é um modelo de exemplo. É possível substituí-lo por outras inúmeras situações – ex: dois
segurados da previdência, pleiteando o mesmo benefício; dois consumidores de serviço de telefonia,
pedindo a mesma coisa; dois funcionários públicos pedindo o mesmo reajuste salarial; dois titulares de
conta de FGTS pedindo o reajuste em suas contas de FGTS; vítimas do mesmo acidente aéreo, etc. Os
exemplos são infinitos e revelam aquilo que hoje se chama de “ causas repetitivas”, ou seja, causas em
que as petições iniciais são iguais, só mudando o autor; geram as sentenças repetitivas, iguais
(“chapadas”).
São causas que se parecem, mas não há entre elas nenhum tipo de vínculo que de algum modo
interfira no julgamento da outra causa. Entre elas há afinidade e não prejudicialidade. São causas afins.
Esse fenômeno é recente, contemporâneo. Até muito pouco tempo atrás a Justiça brasileira não
era inundada com esse tipo de demanda, e, atualmente, é o que mais se vê nos fóruns. O nosso Judiciário
foi pensado para uma época em que pouca gente ia a juízo (só os ricos, os letrados), então não havia o
35
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
problema das causas repetitivas. E é por isso que não é possível encaixar esse fenômeno na conexão. É
uma situação nova que exige um novo tratamento (antigamente, poucas pessoas possuíam linha
telefônica, por ex.). Em pouco tempo histórico, milhões de pessoas foram incorporadas à atividade
econômica. Hoje, quando uma empresa comete um erro, ela prejudica milhares de pessoas, que têm
acesso ao judiciário.
As causas repetitivas são, hoje, o grande objeto das investigações doutrinárias. Está surgindo, nos
últimos 4 anos, um novo sistema de processamento de causas repetitivas. E de que maneira esse novo
sistema repercute na conexão, tendo em vista a óbvia indagação sobre a conveniência ou não da reunião
de tais causas?
“Historicamente, não há conexão entre causas repetitivas, o que tornaria inviável o
funcionamento do poder judiciário”.

É preciso que haja uma nova sistemática, porque imagine-se se todas as causas repetitivas (e,
portanto, conexas) fossem reunidas no mesmo juízo! Seria totalmente inviável.
Hoje, fala-se em um regramento especial para as causas repetitivas. O regramento do CPC não se
aplica às causas repetitivas.
A solução dada foi: havendo REs repetitivos (versando sobre causas repetitivas), os Tribunais
Superiores (STJ ou STF) podem escolher um ou alguns desses recursos (como amostras, causas
representativas) e esses serão julgados, enquanto os outros demais ficam parados; o julgamento que se
der aos escolhidos, valerá para todos. É uma forma de racionalizar o julgamento de causas repetitivas,
redimencionando o regramento, o perfil da conexão. Denomina-se julgamento por amostragem.

☺ Institutos novos que servem como exemplo desse novo tipo de processo que vem surgindo
(nos últimos 4 anos):
- súmula vinculante;
- art. 285-A, CPC (trata do julgamento liminar de causas repetitivas);

conexão- art.
para543-B e art. 543-C,
as causas CPC –Um
repetitivas. essas duasmodelo,
outro últimasadaptado
regras criaram um novo
para essa tipo dedos
realidade conexão, uma
processos
repetitivos.

→ Questão: É possível reunir por conexão uma ação de conhecimento e uma de execução?
Sim, sendo a jurisprudência bastante farta. Ex.: execução de um contrato e anulação do mesmo
contrato – se anular o contrato não se poderá executá-lo, e vice-versa. Há nitidamente uma
prejudicialidade entre essas duas ações. É, pois, caso de reunir os processos. Reuni-se no mesmo juízo,
mas não haverá processamento simultâneo, pois os procedimentos são diferentes. Classicamente essa
reunião não seria possível, devido à incompatibilidade de procedimentos.
Isso hoje é muito difundido no STJ.
Obs.: mas como se reúne, se uma é ação de conhecimento e outra é de execução? Como haverá o
processamento simultâneo? Dever-se-á reuni-las num mesmo juízo que as processará paralelamente,
mas, como as causas estão no mesmo juízo, ele evitará que haja soluções contraditórias. É como ocorre
com os embargos e a execução: não é possível dar o mesmo processamento aos dois, mas eles podem
caminhar conjuntamente, ainda que paralelamente.

→ Questão: Qual é o juízo onde as causas serão reunidas?


As causas serão reunidas no juízo prevento. Onde se operou a prevenção. O juízo que está
resguardado para o julgamento de causas conexas.
A prevenção não é hipótese de modificação de competência (o que modifica a competência é a
conexão e não a prevenção). A prevenção é um critério de escolha sobre o juízo onde as causas serão
reunidas.
O CPC prevê duas regras de prevenção:
1) se as causas conexas estiverem na mesma comarca, prevento é o juízo que primeiro
despachou; ☺art. 106: “Correndo em separado ações conexas perante juízes que têm a

36
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
mesma competência territorial, considera-se prevento aquele que despachou em primeiro
lugar”.
2) se as causas conexas estiverem em comarcas distintas, prevento é o juízo onde
primeiro ocorreu a citação válida. ☺ 219, CPC: “A citação válida torna prevento o juízo,
induz litispendência e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz
incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a prescrição”.
***Na Lei de Ação Civil Pública, há um terceiro critério, que só se aplica às ações coletivas:
prevento é o juízo onde primeiro se propôs a ação (o juízo da primeira ação proposta) – ou seja, é a data
da propositura da ação (☺art. 2º, P.U., LACP Lei 7.347/85: “Parágrafo único A propositura da ação
prevenirá a jurisdição do juízo para todas as ações posteriormente intentadas que possuam a mesma
causa de pedir ou o mesmo objeto”).
Há que se ressaltar que a competência territorial na ação civil pública é absoluta. A conexão, de
acordo com o regramento do CPC, não pode modificar competência absoluta, apenas a relativa. No
entanto, o art. 2º, P.U., LACP criou uma conexão que permite a mudança de competência absoluta, a
ensejar a reunião dos processos para julgamento simultâneo. O dispositivo aplica-se também à
continência, que nada mais é do que uma especial forma de conexão.
Esse regramento especial da conexão em causas coletivas leva-nos a concluir que a vetusta lição
de que conexão modifica competência relativa deve ser revista. Conexão pode modificar competência
territorial, em regra relativa, mas que, em alguns casos, pode ser absoluta.

☺Texto do Prof. sobre essa nova modalidade de conexão – “Conexão por afinidade e julgamento
de causas repetitivas” –editorial nº 39 no seu site.

Os arts. 543-B e 543-C, ambos do CPC, que cuidam do julgamento por amostragem de recursos
extraordinários em causas
conexão por afinidade entrerepetitivas, prevêem
esses recursos. um novo
Prefiro usar ocaso de afinidade
termo conexão nopordireito brasileiro:
uma questão uma
prática:
trata-se de designação para um certo tipo de vínculo entre causas já bastante consagrada na doutrina
brasileira, que serve à aplicação do inciso IV do art. 46 do CPC (litisconsórcio por afinidade). As
“causas repetitivas” são, para mim, como já disse outrora (Curso, 3ª ed., v. 4, p. 81), exatamente
aquelas em que os autores poderiam ter sido litisconsortes por afinidade, mas, por variadas razões,
optaram por demandar isoladamente.
Sucede que, em vez de essa conexão determinar a reunião dos recursos para processamento e
julgamento simultâneos (como ocorre com a conexão para fim de modificação de competência, art. 103,
CPC), outros são os efeitos jurídicos desta nova modalidade de vínculo entre causas: a) escolha de
alguns “recursos-modelo” e b) sobrestamento dos demais processos para o julgamento por amostragem.
De fato, não seria razoável que a conexão, no caso de demandas repetitivas, tivesse por efeito a reunião
dos processos em um mesmo juízo, o que certamente causaria grande confusão e problemas para a
solução dos litígios em tempo adequado. Mostra-se aqui, mais uma vez, a força do princípio da
adequação (cf. v. 1 do Curso), que impõe um processo diferenciado para o julgamento das causas de
massa.
É bom lembrar que conexão é um conceito jurídico-positivo. No direito processual civil brasileiro, é
bem aceita a idéia de que há “várias” espécies de conexão: modificação de competência (art. 103,
CPC), pressuposto da reconvenção (art. 315, CPC), formação do litisconsórcio (art. 46, II e III, CPC),
conexão por acessoriedade (art. 108, CPC), conexão para processamento de demandas incidentais (art.
109, CPC), conexão por sucessividade (art. 475-P, II, CPC) etc. Cada uma dessas modalidades de
conexão tem os seus próprios pressupostos e os seus efeitos jurídicos típicos.
O legislador, com a introdução desses dois novos artigos ao CPC, trouxe uma nova hipótese de
conexão, com pressupostos e efeitos próprios.
É preciso perceber isso.
Fredie Didier Jr. Em 27.06.2008.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 Competência da Justiça Federal:

A competência da Justiça Federal está prevista em dois artigos da Constituição: art. 109 e 108
(ler nesta ordem!)

→ O art. 109, CR/88 prevê a competência dos Juízes Federais.


→ O art. 108, CR/88 prevê a competência do Tribunal Regional Federal.

→ A competência dos juízes federais (art. 109) se divide em:


- competência em razão da pessoa: prevista nos incisos I, II e VIII;
- competência em razão da matéria: prevista nos incisos III, V-A, X e XI;
- competência funcional: prevista também no inciso X.
→ A competência do TRF (art. 108) se divide em:
- competência srcinária: prevista no inciso I;
- competência derivada: prevista no inciso II;

Quadro esquemático:

Competência - Juízes Federais (art. 109) - pessoa: I, II e VIII


da - matéria: III, V-A, X e XI
Justiça Federal - TRF (art. 108) - -srcinária:
funcional:I, Xb, c,e e
(funcional)
- derivada: II

Obs.: a Constituição autoriza que causas de juizes federais possam ser julgadas por juízes
estaduais, com recurso para o TRF. Existe uma figura esdrúxula chamada de “juiz estadual investido de
jurisdição federal” – esta previsão está no §3º, do art. 109, CR. Nem sempre o juiz estadual pode fazer
isso, ou seja, não basta que na localidade não haja JF.
Para que isso aconteça é preciso que se preencham dois pressupostos (cumulativos):
1) É preciso que na localidade não haja sede da Justiça Federal;
2) É preciso que haja autorização legal expressa, ou seja, é preciso que haja expressamente
prevista a autorização para que o juiz estadual julgue causas federais se não houver vara
federal na cidade.
Havendo esses dois pressupostos, o juiz estadual irá julgar a causa, com recurso para o TRF. E,
inclusive, se uma vara federal for supervenientemente criada, os processos serão remetidos a esta nova
vara federal. Só podem ficar na vara estadual enquanto não houver vara federal na cidade.
Quais são as autorizações legais expressas?
Existe uma autorização na CR/88, que se antecipou para dizer que as causas que envolvem o
segurado da Previdência e o INSS são causas que podem tramitar na justiça estadual se lá não houver
vara federal - §3º, do art. 109, CR (tanto em caso de causas previdenciárias, como no caso das causas
assistenciais).
Há também outros casos previstos na legislação extravagante, ou seja, há também leis federais
que trazem outras autorizações (a CR permite que leis federais tragam outras autorizações). Exs. mais
famosos: execuções fiscais federais podem tramitar na justiça estadual (Súmula 349, STJ); usucapião

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
especial rural (art. 4°, lei 6969/81 e Súmula 11, STJ); cumprimento de cartas precatórias federais;
justificações envolvendo entes federais (art. 15, lei 5.010/66); etc.

Exame de 3 graves problemas:

a) Se sobrevier a criação de vara federal na localidade, a causa deve ser


redistribuída. Configura fato novo que muda a competência absoluta.
Todo território nacional está sob a jurisdição da JF.

b) ☺ Súm. 216, TFR (Tribunal Federal de Recursos – Tribunal que não


existe mais, foi substituído pelo STJ, mas suas súmulas continuam a ser
aplicadas): “compete à justiça federal processar e julgar MS impetrado
contra ato de autoridade previdenciária, ainda que localizada em
comarca do interior”. De acordo com essasúmula, aquele benefício que
a CR estabelece é uma regra que não se aplica ao MS. Se o beneficiário
quiser propor uma ação ordinária contra o INSS, ele pode propor em seu
domicílio na justiça estadual, mas se quiser propor um MS, ele então
deverá propô-lo na justiça federal. Esta súmula infelizmente continua
sendo aplicada, apesar de ser uma coisa lamentável. Exatamente o MS
que é uma garantia ao cidadão não pode ser proposta na justiça estadual.
Ponto importante para defensoria pública!!

c) ☺ Súm. 689, STF: “o segurado pode ajuizar ação contra a instituição


previdenciária perante o juízo federal do seu domicílio, ou nas varas
federais da capital do estado membro”. Ou seja, o cidadão que mora em
cidade do interior em que há vara federal pode optar em demandar no
seu próprio
ajuíza domicílio
a ação. A vara ou
da demandar na capital;
capital, portanto, é uma possível.
é sempre opção de E,quem
se,
contudo, a pessoa morar em cidade em que não há vara federal, ela
poderá propor a ação na justiça estadual, mas, se quiser, poderá também
propor na capital, obviamente, não está obrigado a propor na justiça
estadual. O inverso não é possível, ou seja, o cidadão da capital não pode
demandar na justiça estadual.

d) Ação coletiva: é possível demandar uma ação coletiva federal perante o


juízo estadual se no local do dano não houver sede da justiça federal?
Enfim, a ACP é um exemplo de causa que o juiz estadual pode julgar
(como o é a usucapião especial rural, a execução fiscal, etc.)? Não! Por
ausência de lei que o autorize. A ACP Federal deve ser ajuizada na
justiça federal! Mas cuidado: não é que toda ACP deve ser ajuizada na
justiça federal – as ACPs federais é que correm na justiça federal (as
ACPs estaduais correm na justiça estadual). Cuidado com a Súm. 183,
STJ, que diz exatamente o contrário! Esta Súmula foi cancelada há 8
anos. Desde 2000, esse entendimento foi superado, pois o STF julgou no
sentido de que na ACP federal, a competência é da Justiça federal. Essa
questão deixou de ser polêmica. No concurso, aparece na prova prática
uma ACP federal. Na contestação, deve se alegar a incompetência do
juiz estadual.

Passemos agora ao exame de cada um dos casos de competência dos juízes federais e dos TRFs.

(09/03/09)

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
→ Competênci a dos Ju ízes F ederais (I ncisos do ar t. 109, CPC: )
A competência do art. 109 se divide em:
Competência em razão da matéria: Incisos III, V-A, X, XI.
Competência em razão da pessoa: I, II, VIII.
Competência em razão da função: X.
1) Competência em razão da pessoa:

I nciso I ) as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas
na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho
e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;
- União: o nome iuris é União e não União Federal!
- O art. fala em empresa pública. Não abarca a sociedade de economia mista federal (ai é justiça
estadual). Banco do Brasil, Banco do Nordeste, Petrobrás, é sempre justiça estadual (porque são SEM).
A CEF é empresa pública federal, assim como a Infraero e os Correios.
- Entidade autárquica é gênero que inclui: as autarquias (como o Banco Central e o INSS), as
universidades públicas federais, as fundações autárquicas (como a Funai), os Conselhos de Fiscalização
Profissional (CRM, OAB) e as agências reguladoras federais.
- O MP Federal não é União, nem entidade autárquica, e nem é empresa pública – para o prof. a
presença do MPF em juízo não faz, portanto, que a causa seja da justiça federal, isso porque não há
menção na CR a esse respeito. Não é porque ele é parte que a causa será da justiça federal. O que torna a
causa da justiça federal é ela se encaixar em uma das hipóteses do art., e não pela presença do MPF (ele
pode estar num processo que tramite perante a justiça estadual). Ocorre que o MPF quer que seus
processos tramitem na JF. O STJ entendeu no REsp 440.002 que a presença do MPF em juízo faz com
que a causa seja da JF (ampliação do inciso I – MPF implícito nesse inciso).

***“A historinha das 3 súmulas”:


Um belo dia existia um processo que tramitava na justiça estadual, quando, de repente,
um ente federal pede para intervir nele. O juiz estadual, diante de um pedido de um ente federal
para intervir no processo, terá de remeter a causa à justiça federal. O juiz estadual não poderá
fazer mais nada além de remeter os autos à justiça federal, porque ele não tem competência para
avaliar se o ente federal pode ou não intervir → ☺Súmula 150, STJ: “ compete à justiça federal
decidir sobre a existência de interesse jurídico que justifique a presença, no processo, da União,
suas autarquias ou empresas públicas”.
Chegando na justiça federal, pode acontecer de o juiz federal, a quem cabia examinar o
problema, não aceitar a intervenção do ente, excluindo-o do processo. A partir desse momento,
os autos têm que ser devolvidos ao juiz estadual, porque não haverá mais razão para a presença
do juiz federal → ☺Súmula 224, STJ: “excluído do feito o ente federal cuja presença levara o
juiz estadual a declinar da competência, deve o juiz federal restituir os autos e não suscitar o
conflito”.
O processo
mais nada. então,
A ele não voltou
cabe para a justiça
discutir decisãoestadual.
do juiz O juiz estadual
federal então,onão
que excluiu entepoderá fazer
federal →
☺Súmula 254, STJ: “a decisão do juízo federal que exclui da relação processual ente federal
não pode ser reexaminada no juízo estadual”.

- Ocorre que a CR prevê 4 exceções, situações em que a causa não vai para a justiça federal (ainda que
pareça ser, ou seja, mesmo se houver ente federal, a causa não será da justiça federal) – são elas:
a) causas de falência: falência é uma causa que sempre tramita na justiça estadual, mesmo
que haja interesse federal em jogo. Onde se lê falência na CR, leia-se também insolvência civil e
recuperação empresarial (interpretação extensiva).
b) causas eleitorais: são da justiça eleitoral (aqui não há dúvida).

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
c) causas trabalhistas: causas que pressupõem vínculo celetista e não estatutário; sempre
são da justiça do trabalho, mesmo se envolver ente federal. Obs.: as empresas públicas têm
regime celetista – mas não confundir: uma causa trabalhista contra a CEF é da justiça do trabalho
(será sempre da justiça do trabalho, ainda que envolva ente federal). Se a causa for para discutir
regime estatutário, ai será da justiça comum (sendo federal se os servidores forem federais; e
estadual se os servidores forem estaduais).
d) causas relativas a acidente do trabalho: não podem ser processadas na justiça federal.
Quando alguém entra em juízo em razão de um acidente, a ação chama-se acidentária (a que tem
como causa de pedir um acidente). Um acidente pode ser trabalhista, se ocorrer em razão de uma
relação de trabalho ou pode ser também um acidente de outra natureza (que não seja em razão de
uma relação de trabalho).

Ocorrido um acidente de trabalho surge para a vítima 2 direitos: o direito à indenização, e


o direito a uma pretensão previdenciária. A ação acidentária trabalhista indenizatória é uma ação
contra o empregador e será proposta na justiça do trabalho. A ação acidentária trabalhista
previdenciária é uma ação a ser proposta contra o INSS, mas, ao contrário do que se poderia
pensar, ela não é ajuizada na justiça federal – por expressa previsão constitucional, esta ação não
pode ser proposta na justiça federal, devendo tramitar na justiça estadual (é uma esquisitice
constitucional – foi uma exceção trazida pela CR, não há maiores explicações pra isso). No caso
dessa ação previdenciária trabalhista, a ação deve ser proposta na justiça estadual sempre (não é
exemplo de causa federal que a justiça estadual julga, mas sim uma causa estadual do início ao
fim). Nesta regra também se incluem as ações de revisão desses benefícios previdenciários, que
também devem ser propostas na justiça estadual. Ou seja, a competência da Justiça Estadual para
julgar ações previdenciárias acidentárias trabalhistas abrange também a competência para as
ações revisionais desses benefícios.
Ocorrido o acidente de outra natureza (não trabalhista), também surge para a vítima duas
pretensões: a pretensão
proposta contra indenizatória
o causador do acidentee (ex.:
uma fabricante
pretensão de
previdenciária. A indenizatória
um eletrodoméstico seráo
que causou
dano), que, se for ente federal, a ação será proposta na justiça federal; se for ente estadual ou
privado, será proposta na justiça estadual (é sempre caso de justiça comum). Já no caso da ação
previdenciária, esta será proposta contra o INSS e, neste caso, a ação será proposta na justiça
federal porque a CR só excepciona as causas previdenciárias trabalhistas, as demais ações
propostas contra o INSS são propostas na justiça federal.

Esquema (item d):

- Indenizatória → empregador → Justiça do Trabalho


- trabalhista
- **Previdenciária → INSS → Justiça Estadual
Ação
Acidentária - Indenizatória → causador do acidente → Justiça Comum
- de outra natureza
- Previdenciária → INSS → Justiça Federal

A súmula 366 não trata de ação trabalhista, o vínculo é cível. Na verdade a súmula deveria se
referir à justiça comum, conforme fosse o réu (federal ou estadual).
Súmula 366, STJ - Compete à Justiça estadual processar e julgar ação indenizatória proposta
por viúva e filhos de empregado falecido em acidente de trabalho. (DJeletrônico 26/11/2008).

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
I nciso I I ) as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa
domiciliada ou residente no País;

- **Por uma opção da CR, por se tratar de causas que envolvam estados estrangeiros, tramitam na
justiça federal (mesmo sem envolver ente federal). Os recursos dessas causas vão para o STJ e não para
o TRF. É o STJ que funciona como segunda instância (é mais uma “gracinha” constitucional que foge à
regra geral). Art. 105, II, “c”, CR.
- Princípio da imunidade de jurisdição: nós aprendemos em direito internacional que um Estado
Estrangeiro fica imune à jurisdição de outro, ou seja, não se submete à jurisdição de outro, salvo se
aceitar. Então por que foi que a CR previu um caso em que o estado estrangeiro pode ser demandado? É
porque o Princípio da imunidade de jurisdição não se aplica quando se discutem atos privados do estado
estrangeiro (quando ele atua como ente privado). A imunidade de jurisdição é para impedir que se
discutam questões relativas à soberania de outro estado. Ex. atropelamento realizado por carro de
embaixada estrangeira – ato privado.

Inciso VIII) os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato de autoridade federal,


excetuados os casos de competência dos tribunais federais;

- O segredo desse inciso é saber o que é autoridade federal: o funcionário público federal que exerce
alguma autoridade é o que vem primeiro em nossa mente; mas não podemos nos esquecer que há
autoridades federais que são privadas, mas que exercem competência federal (que não são funcionários
públicos) – assim, pode haver por ex., um MS contra uma autoridade federal privada (como as
autoridades das instituições de ensino superior privadas – ex.: reitor de uma universidade católica) que
vai tramitar na justiça federal. Isto está sumulado - ☺Súmula 15 do antigo TFR e Súmula 60 do antigo
TFR (MS contra autoridade privada federal deve tramitar na justiça federal), ou seja, esta súmula
confirma que é possível haver autoridade federal privada. Só vai para a JF se entrar com MS ou HD, se
entrar com ação ordinária irá para a justiça estadual.

2) Competência em razão da matéria:

I nciso I I I ) as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo
internacional.

- É da justiça federal a competência para julgar as causas que se fundam em tratados internacionais ou
contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional – a presença de ente federal é
irrelevante; o relevante aqui é a que matéria discutida esteja prevista em tratado internacional. O
problema é que o dispositivo acabou ficando muito amplo porque existe tratado para tudo atualmente.
Então não podemos aplicar este art. ao pé da letra, porque se assim o fosse todas as causas iriam para a
justiça federal. Ele foi, portanto, restringido jurisprudencialmente e sua nova interpretação é a de que a
causa irá para a justiça federal se o único fundamento da causa for o tratado (se só o tratado regular
aquela situação); se houver legislação interna que cuide do tema a causa não irá para a justiça federal
(ex.: alimentos internacionais; quem regula o assunto é um tratado, a Convenção de Nova Iorque –
menino que mora na Inglaterra propõe ação contra pai residente no Brasil). **Ex. importante: casal
morava nos EUA e a mãe brasileira leva o filho para o Brasil. A ação de guarda movida pelo novo
marido da mãe será da competência da JF – convenção de Haia.

I nciso V-A) as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;

- Causas relativas a direitos humanos a que se refere o §5º do art. 109: nas
“ hipóteses de grave violação
de direitos humanos, o PGR, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes
de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o
STJ, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a
42
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
justiça federal” – ou seja, o PGR pode pedir ao STJ que esse inquérito ou processo que estavam se
desenvolvendo no âmbito estadual sejam remetidos à justiça federal. Eis um caso de modificação da
competência, que não viola o juiz natural, pois é um caso de modificação prevista na Constituição. É o
mesmo caso de desaforamento do júri. A causa, portanto, não nasce na justiça federal, ela poderá ir para
a justiça federal se o PGR pedir e o STJ autorizar. Isso se aplica tanto ao âmbito penal como ao civil.
Esse dispositivo foi muito criticado, porque é como se dissesse que a justiça federal é melhor do que a
estadual. O primeiro pedido de deslocamento de competência foi no caso da. freira americana que
morreu no Pará (Incidente de Deslocamento de Competência n° 1). O STJ então decidiu que só pode
haver o deslocamento se houver um pressuposto implícito, qual seja, deve ser demonstrada a ineficiência
ou inaptidão das autoridades estaduais (por falta de estrutura, etc.). Só isso justificaria a transferência.
No processo penal, uma violação aos direitos humanos pode dar ensejo a uma ação civil pública.

I nciso X) os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta


rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à
nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

- Causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização.

I nciso XI ) a disputa sobre direitos indígenas.

- A disputa sobre direitos indígenas: esse inciso diz respeito aos direitos dos índios coletivamente
considerados (ex.: demarcação de terra indígena – salvo se houver conflito de interesses de estados
federativos, como está ocorrendo em Roraima, caso em que quem julga é o TRF e não a justiça federal;
outro ex.: genocídio indígena). O direito de um índio só (ex.: índio que comprou um produto e ficou
insatisfeito) tramita na justiça comum estadual. Obs.: uma tribo indígena pode ser parte no processo (a
tribo não é pessoa jurídica, mas também não é pessoa física; é um tipo de sujeito de direito diferente).
Obs.: ☺Súm.
figure 140,ou
como autor STJ: “compete
vítima à justiça
” – porque aqui comum estadual
é um índio processar
só, então e julgar
quem julga é a crime
justiçaem que o indígena
estadual.

3) Competência funcional:

I nciso X) a execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença estrangeira, após a


homologação

- Cumprir carta rogatória e executar sentença estrangeira: aqui pouco importa saber quem são os sujeitos
envolvidos ou a matéria envolvida, o relevante é saber que se trata dessas atribuições ai citadas.

→ Competênci a dos Tr ibun ais F ederais (I nci sos do ar t. 108, CR:)

A competência é sempre funcional

1) Competência Originária:

I nciso I )

- b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da


região; Ação rescisória de seus julgados e de juiz federal vinculados. Todo Tribunal julga a rescisória de
seus julgados, sem exceção! Ex. O TJ/RN profere decisão. A União propõe rescisória da decisão. A
rescisória será proposta no próprio TJ, pois não há exceção à regra.

43
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- c) os mandados de segurança e os "habeas-data" contra ato do próprio Tribunal ou de juiz
federal; MS ou HD
Esses dois casos seguem o mesmo padrão: sempre que o ato for ato do Tribunal ou de juiz federal.
Qualquer Tribunal é sempre competente para julgar as rescisórias de seus julgados e para julgar MS e
HD de seus atos. Não há exceção quanto a isso.
Obs.: Onde se lê juiz federal aqui, leia-se também juiz estadual investido de jurisdição federal.
- e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal; Conflito de
competência (já estudado).
Nas três letras o constituinte fala de juízes federais, não fala de juizes estaduais investidos de jurisdição
federal. Ao interpretar a letra e, o STJ acrescentou “juízes estaduais investidos de jurisdição federal”. Há
uma ampliação da incidência da letra e. Para manter coerência, deve-se ampliar a incidência também das
letras b e c.
Súmula 3, STJ - Compete ao Tribunal Regional Federal dirimir conflito de competência verificado, na
respectiva região, entre Juiz Federal e Juiz Estadual investido de Jurisdição Federal.
2) Competência Derivada:

I nciso I I ) julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais
no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.

A competência derivada do TRF é a competência para julgar recursos interpostos contra decisões
que provêem ou do juiz federal ou do juiz estadual investido de jurisdição federal.
A súmula 55, STJ completa o inciso II: “ Tribunal Regional Federal não é competente para
julgar recurso de decisão proferida por Juiz Estadual não investido de Jurisdição Federal”.
Juiz estadual – sentença – apelação – TJ. A União pede para intervir no processo já em grau de
recurso. Neste caso, a apelação vai para o TRF ou fica no TJ? O TRF pode julgar recurso de um juiz
estadual? Não pode. Portanto, a ação continua no TJ.
A súmula do STF deve ser adaptada ao TRF:
Súmula 518, STF: A intervenção da união, em feito já julgado pela segunda instância e pendente
de embargos, não desloca o processo para o Tribunal Federal de Recursos.
Se a intervenção se der na execução de um juízo estadual, há deslocamento. Mas se der em sede
de recurso, não desloca. Para que a súmula 365 não seja contraditória com o entendimento do STF,
deve-se entender que refere-se à execução e não ao recurso.
Súmula 365, STJ - A intervenção da União como sucessora da Rede Ferroviária Federal S/A
(RFFSA) desloca a competência para a Justiça Federal ainda que a sentença tenha sido proferida por
Juízo estadual. (DJeletrônico 26/11/2008)

44
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 TEORIA DA AÇÃO:

 Acepções da palavra “Ação”:

“Ação” tem várias acepções, vejamos as 3 principais:

(Obs.: estudar na seguinte ordem: 1, 3 e 2)

1) Acepção Constitucional: a palavra ação é um direito. Ação, em sentido constitucional, é o direito


de acesso à justiça, ao Judiciário. É o direito de provocar a atividade jurisdicional. É o Princípio da
Inafastabilidade. O direito de acesso à justiça é um direito fundamental; é um direito público (porque é
exercido contra o Estado); é um direito abstrato (é um direito de levar qualquer problema ao juízo; por
ele se pode buscar a proteção de qualquer situação; o direito de ação não se refere a nenhuma situação
concreta); e, ainda, é um direito autônomo (o direito de ação, ou seja, o direito de ir a juízo, não se
confunde com o direito que se afirma em juízo). Ademais, ainda nessa perspectiva constitucional, é
importante ressaltar que o direito de ação hoje é um direito de ação em conformidade com o devido
processo legal – eu tenho direito de ir ao judiciário, mas não só (não se trata de uma garantia formal), eu
tenho a garantia de ter um processo devido, adequado, célere (de duração razoável).

2) Acepção em sentido Processual: a palavra ação é um ato. É o que se chama de “demanda”.


Demanda é o ato de provocar a atividade jurisdicional. Pela demanda se abre o procedimento,
provocando o provimento jurisdicional. A demanda é o exercício do direito de ir a juízo (1), levando a
afirmação de um direito (3) (ou seja, pelo qual eu afirmo ter um direito). A demanda (2) é um ato de
união: ela une o direito exercitado (3) ao direito levado ao juízo (1). Esta acepção está no meio, pois
funde as demais. Por isso o ato de demandar, a demanda é sempre concreta. Assim, o direito de ação é
abstrato, mas a demanda é concreta, pois a petição inicial não pode ser em branco, o pedido só poderá
ser formulado se for levado um determinado problema. Toda demanda se refere a uma situação concreta.
É a ação que será estudada em Direito Processual Civil (elementos, classificação e condições da ação –
ou seja, da demanda).
OBS. Não se classifica o direito de ação, tampouco há elementos do direito de ação. Estudar a ação é
estudar o ato, a demanda.

3) Acepção Material: a palavra ação é um direito. Ação, em sentido material, é uma situação
jurídica substancial ativa; ou seja, é um direito (com “d” minúsculo) – significa o direito que se tem
contra outrem (ex.: ação de regresso = direito de regresso). Aplicação desta acepção: ☺art. 195, CC: “ os
relativamente incapazes e as pessoas jurídicas têm ação contra os seus assistentes ou representantes
legais, que derem causa à prescrição, ou não a alegarem oportunamente”. Não é o sentido que interessa
ao Direito Processual Civil.

 Elementos da Ação:

Este estudo deve partir de uma premissa: é possível dizer que em toda demanda há a afirmação
de uma relação jurídica (ao menos uma relação jurídica sempre será afirmada, sempre haverá).
Essa relação jurídica afirmada pelo demandante tem o nome de “ res in iudicium deducta” – coisa
deduzida, afirmada em juízo.

Relação jurídica: pessoas se vinculam por um fato a um objeto. Os elementos da ação são 3, porque 3
são os elementos da relação jurídica.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

☺ Quadro abaixo:

Elementos da Relação Critérios objetivos de


Element os da
Jurídica: Condições da Ação: distribuição de
Demanda (Ação):
Competência

- Sujeito (partes) Se em toda demanda há Não por mera São também 3 (na
- Objeto a afirmação de uma coincidência, são seguinte ordem):

A parte-geral
Fato do CC relação
os jurídica
elementos da erelação
são 3 também
da ação3(na
as condições
seguinte - Competência em razão
da pessoa
tem 3 Livros: Das jurídica; são também 3 ordem): - Competência pelo
Pessoas; Dos Bens; Dos os elementos da ação - Legitimidade ad valor da causa (é
Fatos Jurídicos. (na seguinte ordem): causam (legitimidade determinada pelo
- Partes das partes) pedido)
- Pedido - Possibilidade jurídica - Competência em razão
- Causa de Pedir do pedido da matéria (é
- Interesse de agir determinada pela causa
de pedir).

1) Parte:
É o sujeito parcial do processo, do contraditório. Partes da demanda são demandantes e
demandados. Parteprincipais
As partes do processo
doéprocesso
algo maissão
amplo.
o demandante e o demandado (autor e réu). O sujeito
pode não ser parte da demanda, mas ser parte do processo. São as partes auxiliares do processo,
coadjuvante, mas que também é parte, como, por ex., o assistente. Não se pode dizer que assistente não é
parte, isso é um entendimento superado.
Há sujeitos que não são partes em todo o processo. São partes em apenas em algum incidente do
processo. Ex. incidente para apurar suspeição do juiz; o juiz será parte em apenas um momento do
processo.
É importante não confundir a parte do processo com a parte do litígio (também chamada
parte em sentido material) – o sujeito pode ser parte do processo, mas não ser parte do litígio, ou seja, às
vezes elas são distintas, não coincidem (ex.: ação de alimentos proposta pelo MP – o MP não pleiteia um
direito para si, o conflito não diz respeito a ele). No mais das vezes, o ideal é que coincidam, mas isso
nem sempre ocorre.
Atenção: não se deve pensar que parte ilegítima não seja parte.Parte ilegítima é parte. Tanto é
parte, que a parte ilegítima pode alegar a sua própria ilegitimidade.
Parte complexa: quando o incapaz está em juízo, ele não pode estar sozinho, deve estar
acompanhado de seu representante. A esse conjunto “incapaz + representante”, dá -se o nome de
parte complexa. O mesmo acontece com pessoa jurídica e seu órgão de representação: pessoa jurídica +
órgão = parte complexa.

2) Pedido:
(será examinado mais a frente na aula de petição inicial).

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

3) Causa de Pedir:
☺Esquema a seguir:

2) HIPÓTESE
NORMATIVA - direitos

3) FATO
JURÍDICO 4)JURÍDICA
RELAÇÃO 5) PEDIDO/
DEMANDA
(direito) - deveres

1) FATO

Há uma incidência do n° 2 para o 1. O tempo corre para a direita.


Acontece um fato da vida → se esse fato corresponde a uma hipótese normativa, esta hipótese
recai sobre este fato, tornando-o um fato jurídico. Assim, fato jurídico é um fato da vida que sofreu a
incidência de uma hipótese normativa; é um fato iluminado pelo Direito (“colorido” pelo Direito, como
diria Pontes de Miranda). Portanto, a incidência dá ao fato um sentido jurídico, um sentido de licitude.
Há ainda uma hipótese normativa de direito canônico. Para esse direito, a incidência dá ao fato
um sentido ilícito.
O fato jurídico gera a relação jurídica, em cujo bojo estão os direitos e os deveres (a relação
jurídicaAcontém
causa direitos
de pedire deveres). Os direitos
será o número e deveres
7 (3+4), são conseqüências
ou seja, da relação
a causa de pedir são osjurídica.
fatos (3) e os
fundamentos jurídicos (4).
Atenção: os fundamentos jurídicos do pedido não é o quadro de nº 2 (que é o fundamento legal,
normativo do pedido); é o quadro nº 4, que é o direito que se afirma ter (com “d” minúsculo).
Eu peço alguma coisa porque um fato aconteceu e esse fato me dá o direito de pedir (ex.: houve
um acidente e eu tenho direito de ser indenizado, então eu peço a indenização).
Sempre a causa de pedir é composta do que aconteceu e do direito que eu extraio do que
aconteceu.

Causa de pedir são as afirmações dos fatos jurídicos (3) e dos fundamentos jurídicos (4) do
pedido. Fundamento jurídico é o direito que eu extraio dele. Causa de pedir é o direito que eu
afirmo ter por conseqüência do fato jurídico. O meu pedido de indenização é o dano físico (fato
jurídico) e o direito que eu tenho em decorrência do suposto desastre (fundamento jurídico). ???
Fundamento jurídico é o direito que se afirma ter. Fundamento jurídico não é fundamento legal.
Fundamento legal é o n° 2, que é apenas a hipótese normativa.

Exemplos:
- acidente de trânsito; alguém bateu em meu carro e eu quero ser indenizada: 3 é o acidente danoso e
culposo de trânsito, ou acidente que gerou o amasso do pára-choque; 4 é o direito de ser indenizado; 5 é
o pedido de indenização.
- faço contrato em erro, quero a anulação do contrato: 3 é a celebração do contrato em erro; 4 é o direito
de anular o contrato; 5 é o pedido de anulação.
- sentença proferida por juiz corrupto, quero rescindi-la: 3 é a sentença proferida por juiz corrupto; 4 é o
direito de rescindir; 5 é o pedido de rescisão.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- eu entro com uma ADI afirmando que uma lei baiana é inconstitucional: 3 é a inconstitucionalidade da
lei baiana; esse fato gera o direito de retirar a lei do sistema (4); 5 é o pedido de decretação da
inconstitucionalidade.
- um cidadão não cumpriu um contrato e eu quero cobrar o contrato não cumprido: 3 é o
inadimplemento do contrato; 4 é o direito ao crédito; 5 é a cobrança.

Sabendo que a causa de pedir é sempre a soma de 3 + 4,fala-se que o nosso sistema adotou a
“Teoria da Substanciação da Causa de Pedir” – é aquela segundo a qual a causa de pedir é
composta de fatos e fundamentos jurídicos.
Existe uma classificação que distingue a causa de pedir próxima da causa de pedir remota.
Sabemos que a causa de pedir tem duas partes. Assim, sabemos também que causa de pedir próxima +
causa de pedir remota é = a causa de pedir (CP = CPP + CPR). E se CP = 3 + 4, logo CPP + CPR = 3 +
4.
A causa é do pedido. Portanto, é próxima ou remota ao pedido. Os adjetivos próxima e remota se
relacionam ao pedido. Assim, a causa de pedir próxima é o direito (com “d” minúsculo), ou seja, o nº 4
(4 está mais perto de 5). E a causa de pedir remota é o fato (3).
Portanto, CPP = 4 e CPR = 5.
No entanto, Nelson Nery inverte esses conceitos. Diz que causa de pedir próxima é o fato e a
causa de pedir remota é o direito. É só ele que faz essa inversão. Isso é difícil de entender, porque o
direito não pode surgir antes do fato. O direito que é anterior ao fato é o Direito (com “D” maiúsculo). A
causa do pedido não pode ser a lei. Se eu fizer o pedido com base na lei abstratamente eu não terei
direito a nada. A causa de pedir nunca é a lei, mas sim um direito que eu extraio da lei no caso
concreto.

Há uma outra teoria, a Teoria da Individualização da causa de pedir ou Teoria da Individuação


da causa de pedir, para a qual a causa de pedir é tão somente o direito que se afirma ter. Os fatos não são
relevantes
De naacordo
definição
comdaacausa de pedir.
doutrina O relevante
dominante, é só oa direito
porém, teoria que
por senós
afirma ter (e foi
adotada não aosTeoria
fatos). da
Substanciação.
Ex.: ação para anular um contrato por dolo e ação para anular um contrato por erro: pela Teoria
da Substanciação as causas de pedir são distintas (porque erro não é dolo), somente seriam iguais se 3 e
4 fossem iguais; já para a Teoria da Individualização, se esta valesse entre nós, essas causas de pedir
seriam idênticas, porque em ambas se discutiria o mesmo direito (o direito de anular). Esta é a
importância de se saber qual a teoria por nós adotada.
Há autores que dizem que o nosso sistema é de substanciação para algumas situações e da
individuação para outras. A substanciação poderia ser relativizada em algumas situações. Para a causa
de pedir ser igual na substanciação há um rigor muito grande, para a individuação não. É como,
portanto, se para fins de conexão a teoria adotada fosse a da individuação. Mas a posição dominante
continua sendo a de que a causa de pedir segue a teoria da substanciação.

A causa de pedir remota (3 – ou seja, o fato jurídico) pode ser subdividida em duas causas de
pedir:
a) causa de pedir remota ativa: é o fato-título, ou seja, o fato gerador do direito (de onde se
srcina o direito); e
b) causa de pedir remota passiva: é o fato que impulsiona a ida ao Judiciário. É o fato que gera o
interesse de agir.
Atenção: a causa de pedir ativa e passiva é uma subdivisão da causa de pedir remota.
Ex.: o inadimplemento do contrato é a causa de pedir remota (3) – esta, por sua vez, se divide em
causa de pedir remota ativa, que é o contrato (fato-título); e a causa de pedir remota passiva, que é o
inadimplemento (impulsiona a ida ao judiciário).

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

(16/03/09)

 Condições da Ação:

→ Introdução:

Logo no começo dos estudos do Direito Processual (início do Séc. XIX), a primeira preocupação
era estudar o direito de ação, isso passou a ser o fato inicial dos estudos. Surgiram várias teorias sobre o
direito de ação. Concretista
Corrente
Surgiu a chamada Corrente Concretista, que defendia que o direito de ação é o direito a um
julgamento favorável. Assim, para eles, só tinha direito de ação quem ganhava a causa (o direito de ação
era o direito de ganhar a causa). Aquele que perde a ação não tinha o direito de ter ido ao Judiciário. O
direito de ação era só do vitorioso. Para eles, então, carência de ação (que é a falta do direito de ação) é
absolutamente a mesma coisa de improcedência da ação, porque não ter direito de ação e não ter o
direito discutido é rigorosamente a mesma coisa. Os adeptos desta corrente, então, começam a
mencionar a idéia de condições da ação, entendendo, dentro deste contexto, que as condições da ação
são condições para um julgamento favorável (condições para que se ganhe a causa). Obs.: para os
concretistas, no processo se discutiam dois tipos de questão: as questões relacionadas à regularidade do
processo (pressupostos processuais) e as questões de mérito (acolhimento ou rejeição do pedido). As
condições da ação para os concretistas são, pois, questões de mérito, porque relacionadas ao
acolhimento ou rejeição do pedido. Nesse contexto, carência de ação é igual a improcedência da ação; é
portanto, uma decisão de mérito. Esta concepção foi superada, tendo em vista, que ela não explica o que
acontece quando você demanda, passa-se 20 anos e perde a ação; tinha ação ou não? Não explica ainda a
possibilidade de se entrar com uma ação declaratória para dizer que não há direito.
Corrente Abstrativista
A concepção contraposta a dos concretistas é da Corrente Abstrativista, que diziam que o direito
de ação é um direito a qualquer decisão, é o direito à jurisdição. Não só a uma decisão favorável. É o
direito de ir ao Judiciário e de obter do Judiciário qualquer decisão. É o direito de provocar o Estado-
juiz, pouco importando a sua decisão. Para eles, portanto, não há que se falar em condições da ação.
Para os abstrativistas, assim como para os concretistas, ou no processo também só há dois tipos de
questões, só há pressupostos processuais ou questões de mérito. Mas eles, no entanto, não dão outro
nome para designar as condições da ação. Eles nem falam nisso. São, portanto, dois extremos.
Corrente Mista ou Eclética
Assim, surgiu como um meio termo, a Corrente Mista ou Eclética, a “Teoria Eclética da Ação”,
segundo a qual o direito de ação é o direito a uma decisão de mérito. É o direito de ter o seu pedido
examinado, acolhido ou rejeitado. O que importa é que o pedido seja examinado. Essa corrente tira o
resultado favorável ou não, mas exige um determinado resultado (tem que ser de mérito). Nem é a
decisão sempre favorável e nem é qualquer decisão. Os ecléticos falam em condições da ação e dizem
que elas são as condições para uma decisão de mérito. Se eu só tenho ação se o mérito for julgado,
condições da ação são as condições para que o mérito seja julgado.
Para os ecléticos, 3 são os tipos de decisão que o juiz examina (e não apenas 2 tipos). Assim,
além dos pressupostos processuais e do mérito, o juiz examina também as condições da ação, porque
para eles, condições da ação e pressupostos processuais não são questões de mérito.
Para os ecléticos, carência de ação é diferente de improcedência da ação. Para os ecléticos, a
carência de ação não é uma decisão de mérito, enquanto a improcedência é uma decisão de mérito. Para
os ecléticos, portanto, não sendo a carência de ação uma decisão de mérito, não há que se falar em coisa
julgada, enquanto que a improcedência faz coisa julgada.
O autor da concepção eclética foi Liebman. É italiano e judeu. Na época da guerra saiu da Itália
e veio para o Brasil. O Brasil, naquela época não tinha processualistas, não estudava processo. Ele

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
ensinava na USP. Tinha como alunos Frederico Marques, Moacir Amaral Santos, Alfredo Busaid, que,
posteriormente se transformaram nos professores titulares das universidades de SP. Com o fim da
guerra, Liebman retornou para a Itália. Busaid veio, 30 anos depois, a escrever o CPC/73, que foi
dedicado a Liebman.
Assim, por motivos óbvios, foi esta a teoria adotada no Brasil, a Teoria Eclética.

→ Aprofundamento:

A Teoria de Liebman é extremamente criticada pela doutrina brasileira atual. Praticamente não
há nenhum autor brasileiro que não teça ao menos uma crítica a esta teoria. Mesmo em relação aos
antigos discípulos de Liebman não passa ilesa esta teoria. Há tantas críticas pela sua incoerência e
inaplicabilidade.
Críticas:

1) Se só há ação quando houver decisão de mérito, se não houver decisão de mérito há o quê?
Esta separação que Liebman tentou fazer na prática não é possível de ser feita.
Ex.: veja o caso da ação de investigação de paternidade: se o réu for pai, é porque é procedente;
se o réu não é pai, ele é parte ilegítima, e, portanto, a ação é julgada extinta por carência de ação. Assim,
não há improcedência na ação de investigação de paternidade. Quem afirmava isso era a Corrente
Concretista. Ai então se confunde condição da ação com o mérito da causa.
Outro ex.: ação possessória: quem pode entrar com uma possessória é o possuidor, mas se ao
final o juiz perceber que ele não é o possuidor, julgará improcedente a ação possessória ou julgará
extinto processo por carência de ação?
Assim, não há como separar as duas coisas, de acordo com a Teoria de Liebman.

2) Crítica de ordem lógica (da Teoria de Liebman): no processo, ou as questões dizem respeito
ao mérito
válido e sedo
eleprocesso,
acolhe ouounão
dizem respeito
o pedido; ao examina
o juiz próprio processo. O processuais
as questões juiz tem queoudecidir se o processo
as questões é
de mérito.
De acordo com o princípio da lógica, ou princípio do terceiro excluído: não há uma terceira alternativa
(é mérito ou não é mérito). Para Liebman, o juiz examina 3 tipos de questão: questões de mérito,
pressupostos processuais e condições da ação (Trinômio das questões). A análise das condições da ação
é anterior ao mérito. Liebman criou um terceiro elemento desnecessário. As condições da ação têm
categoria híbrida, ficam na fronteira. O próprio Cândido Dinamarco (discípulo de Liebman) prefere não
usar o trinômio.
As condições da ação, para Liebman são questões processuais.

3) Extrema dificuldade ou até mesmo impossibilidade de se separar as condições da ação do


mérito da causa. Não obstante ele afirme que são questões processuais, é muito difícil separar essas
condições da ação do mérito da causa.
Ex.: legitimidade, que é uma condição da ação – quem tem legitimidade para propor uma ação
possessória? O possuidor, todos diriam. Mas se o sujeito que propuser a possessória não for possuidor,
extingue-se a causa por ilegitimidade (carência) ou se julga improcedente a possessória (já que por não
ser possuidor não tem direito à ação possessória)? Para Liebman, há carência de ação. O que seria uma
improcedência da ação possessória? Quando o juiz julga improcedente, ele diz que o sujeito não tem
direito à proteção possessória porque não é possuidor. Ao dizer que não é possuidor analisa-se o mérito.
Ou seja, é muito difícil distinguir uma coisa da outra. A confusão é nítida.
Outro ex.: investigação de paternidade – ou o sujeito é pai e a investigação é procedente, ou não
é pai e, assim, é parte ilegítima, devendo-se extinguir a ação por ilegitimidade de parte (sem exame de
mérito). Assim, na investigação de paternidade não existiria improcedência. A ação ou é procedente ou
será extinta sem julgamento de mérito. Segundo a teoria concretista, há procedência ou carência, não há
improcedência. Na concepção de Liebman, carência de ação e improcedência são inseparáveis.
Isso poderia se aplicar a qualquer caso: ação de cobrança – se o sujeito é credor, a ação é
procedente, se não é, a ação é extinta sem julgamento do mérito.
50
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Esse entendimento da Teoria de Liebman tem várias conseqüências: se a decisão não é de mérito
não faz coisa julgada. Não fazendo coisa julgada é possível repropor a ação.
Como o STJ vê a questão: ☺Emb. de Div. emResp. 160.850 – foi proposta uma ação e o
processo foi extinto por ilegitimidade; o autor propôs de novo a ação idêntica e o juiz do 2º processo
disse que havia coisa julgada e a parte disse que não, porque foi extinta sem julgamento de mérito. Seria
possível repropor a ação? Segundo o STJ, a extinção por ilegitimidade é sem exame de mérito e porque
é sem exame de mérito, não faz coisa julgada, e, porque não faz coisa julgada, não impede a
repropositura, salvo se o autor propuser contra outra pessoa (ou seja, salvo se não for uma
repropositura). Mas, se é contra outra pessoa não é uma repropositura! Se for contra a mesma pessoa
então não pode haver reproposição. Isso seria então coisa julgada, mas não se pode dizer que é coisa
julgada, já que a Teoria de Liebman não permite. É uma situação muito confusa!
Se há carência, há improcedência? A carência nos casos de ilegitimidade ordinária e
impossibilidade jurídica do pedido são decisões de mérito. Carência de ação por falta de interesse de
agir ou ilegitimidade extraordinária não são decisões de mérito. A concepção do CPC, assim como da
maioria doutrinária é a de Liebman, mas as críticas são também extremamente importantes e já estão de
certa forma consolidadas (devem ser ressaltadas em provas dissertativas e orais).

Teoria da Asserção
Para Liebman, a verificação do preenchimento das condições da ação pode se dar a qualquer
momento, podendo o juiz, inclusive, produzir provas sobre o assunto, ou seja, é possível produzir prova
para saber se a parte é legítima. Isso significa que as partes têm que provar que preencheram as
condições da ação (por perícia, inspeção judicial, depoimento pessoal, etc.). As condições da ação têm
de ser provadas, por qualquer meio de prova. Isso permite que o controle das condições da ação se dê a
qualquer momento – o juiz, a qualquer tempo pode controlar se estão ou não presentes as condições da
ação. Esse é o entendimento de Liebman e que foi aceito por nosso sistema, mas está sendo muito
questionado de forma ainda mais severa que no aspecto anterior.

corrente,Nasceu, porém,
hoje, ao menosnanodoutrina,
Brasil, é,uma corrente
do ponto que tenta
de vista rever esse
doutrinário, pensamentoEssa
a majoritária. de Liebman. Essao
teoria diz que
preenchimento das condições da ação não deve ser objeto de prova; não é preciso provar que as
condições da ação foram preenchidas, não é preciso produzir prova sobre isso. Para essa teoria, o
preenchimento das condições da ação será verificado a partir da afirmação que a parte fez. As condições
da ação estarão preenchidas de acordo com a afirmação das partes, e não com as provas. Na doutrina, o
entendimento de Liebman já está praticamente superado. Para a jurisprudência, o entendimento ainda
não foi superado, mas já está caminhando para isso.
Enquanto para Liebman é preciso provar que as condições da ação existem, para essa teoria as
condições da ação se aferem das afirmações das partes, que o juiz toma como verdadeiras. E, tomando-
as como verdadeiras, o juiz verificará se as condições da ação estão presentes (diante do que as partes
afirmarem). Se depois se verificar que a parte mentiu, será uma questão de mérito, de rejeição do pedido
(improcedência) e não de carência de ação.
Esta teoria que muda o pensamento de Liebman é majoritária no Brasil, e é chamada de Teoria
da Asserção, ou Teoria da Verificação in stato assertionis, ou, ainda, Teoria da Prospettazione. De
acordo com essa teoria a verificação das condições da ação deve ser feita apenas pelo que foi afirmado
pelo demandante e só a partir do que ele disse, independendo de prova. É a teoria da afirmação, da
alegação. Se o juiz tiver que produzir prova para constatar que a afirmação é falsa, trata-se de um
problema de mérito. Não se produz prova sobre as condições da ação. Não é o momento que determina
a teoria da asserção, importa se há ou não há prova; nesse caso, o réu também pode alegar carência de
ação.
Para Diddier, é possível admitir a asserção (improcedência) simplesmente pelo que foi alegado
na petição inicial, nos casos em que a improcedência for gritante. Esse entendimento é minoritário,
quase isolado.
Ex. 1: alguém entra com uma ação de alimentos contra seu pai, afirmando que precisa de
alimentos e que o seu pai pode lhe pagar esses alimentos – diante desse relato as condições da ação
estariam presentes. Mas adiante, se verifica que o autor mentiu porque ele não necessita alimentos ou
51
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
porque ele não é filho do pai, ai então será julgada improcedente a ação (julgamento de mérito). Para
Liebman, o caso seria de carência.
Ex. 2.: alguém entra com ação de alimentos contra um outro alguém, afirmando que este último é
seu amigo e por isso deve lhe pagar alimentos. Se tudo o que se afirmou for verdade, ainda assim não
estarão presentes as condições da ação porque da simples afirmação já se revela a falta das condições da
ação. É caso de carência de ação.
Ex. 3. Amigo empresta dinheiro para gerente do banco. O gerente não pagou e o credor propõe
ação contra o banco. Tomada a narrativa como verdadeira, as condições da ação não estão presentes,
mesmo que a assertiva seja verdadeira.

Passemos agora ao estudo de cada uma das condições da ação:

1) L egiti mi dade ad causam:

É o poder / aptidão / capacidade de conduzir um processo (no pólo ativo ou no pólo passivo),
em que se discute determinada situação jurídica.
A legitimidade é um atributo, um poder que se dá a alguém. Uma pessoa recebe a legitimidade e
tem, pois, esse poder de conduzir o processo.
Esse poder ou atribuição será concedido de acordo com a situação que se discute no processo. É
a situação discutida no processo que vai dizer se alguém pode ou não discuti-la em juízo. Ou seja, tem-
se ou não legitimidade sempre à luz de uma determinada situação, à luz do que se discute . O que
significa dizer que alguém pode ter legitimidade para propor uma demanda e não a ter para
propor outra.

→ Classificação da Legitimidade ad causam:

1) Exclusiva e Concorrente: a legitimidade exclusiva é a dada a apenas um sujeito;


apenas um sujeito pode propor / discutir em juízo aquela questão. Esta é a regra. Já a legitimidade
concorrente ocorre quando a legitimidade é atribuída a mais de um sujeito; ou seja, mais de um sujeito
passa a ter legitimidade para discutir o mesmo problema em juízo (co-legitimação). (ex.: ADI, que tem
vários legitimados; condôminos; credores solidários ). Obs.: a noção de legitimação concorrente é
indispensável à compreensão do litisconsórcio unitário.

2) Ordinária e Extraordinária: há legitimidade ordinária quando coincidem as figuras do


legitimado e do titular da relação jurídica discutida . Há legitimação ordinária, portanto, quando
alguém está em nome próprio defendendo os próprios interesses . Quem se alega credor é legitimado
ordinário para cobrar a dívida; quem se alega possuidor é legitimado ordinário para propor a possessória,
etc. Legitimado extraordinário é aquele que em nome próprio está em juízo defendendo interesse
alheio; portanto, quando não houver essa coincidência entre legitimado e titular da relação jurídica
discutida, fala-se em legitimidade extraordinária. A não coincidência é que gera vários problemas, pois o
direito material é diferente do direito processual. Ex.: toda legitimação coletiva é extraordinária; o
MP quando pede alimentos para uma criança, etc.
Obs.: por vezes o sujeito está em juízo em nome próprio defendendo interesse próprio e alheio
simultaneamente, atuando, portanto, como legitimado ordinário e extraordinário, como no caso do
condômino, que defende interesse próprio e dos outros condôminos (co-titular do direito); credores
solidários.

→ Características da Legitimidade Extraordinária:


a) ela decorre da lei (lei em sentido amplo), só a lei pode atribuir legitimidade extraordinária;
não há legitimidade extraordinária por força de contrato (legitimação ex traordinária negocial), só
por autorização legal (☺art. 6º, CPC);
52
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
b) o legitimado extraordinário é parte (a parte é ele); ele tem que pagar custas, ele que pode
ser multado por litigância de má-fé, etc . Ele é parte do processo, mas não é parte do litígio
exatamente porque não é dele o interesse discutido . É em relação a ele é que se vai examinar a
competência em razão da pessoa, pois é ele a parte;
c) a coisa julgada que resulte do processo conduzido pelo legitimado extraordinário (substituto
processual) vai atingir o titular do direito discutido (substituído) – se a lei dá legitimidade a um
sujeito para defender interesse de outro, é claro que o processo deve produzir alguma
conseqüência para o titular do direito; é uma exceção à regra, em que a coisa julgada atinge terceiro
(titular do direito) e, dá-se a esta coisa julgada o nome de coisa julgada ultr a parti s. Exceção da
exceção: é, no entanto, preciso que a lei expressamente diga que a coisa julgada não se estende para que
isso não ocorra. Isso acontece com os credores solidários, se um deles cobra e perde, não prejudica os
demais (art. 274, CC);
e) se o juiz reconhece a falta de legitimidade extraordinária, essa falta implica decisão que
não é de mérito, o juiz não estará decidindo se o direito discutido existe ou não existe, ele está
apenas dizendo que aquele sujeito não é legitimado, e não tem autorização para pedir o que pediu. Há
uma tendência legislativa e doutrinária de evitar a extinção por ilegitimidade extraordinária; recomenda-
se a sucessão processual (intimar o legitimado). As ações coletivas não devem ser extintas por
ilegitimidade extraordinária, o juiz procede a troca do autor.

→ Distinções terminológicas:
a) Legitimidade Extraordinária x Substituição Processual: para muitos, inclusive o prof., são
expressões sinônimas, não havendo distinção entre os termos , podendo-se utilizá-los indistintamente.
Mas uma parcela da doutrina, minoritária, mas relevante, distingue uma da outra (ex. Barbosa Moreira),
afirmando que substituição processual é um exemplo de legitimidade extraordinária, substituição
processual seria a legitimidade extraordinária em que o substituto está sozinho em juízo, defendendo os
interesses do titular do direito, sem a presença deste (o titular do direito não pode estar ao lado dele). Se
osubstituição
legitimado extraordinário estiver
processual – ex.: o em
MPlitisconsórcio com o legitimado
que pede alimentos para umaordinário,
criança não
(seseele
poderia falar em
estivesse em
litisconsórcio ele não seria substituto processual, mas só um legitimado extraordinário) – é, pois, uma
visão mais específica, mais rigorosa, na qual só há substituição processual se o sujeito estiver
agindo sozinho. Não é, contudo, a concepção que prevalece . Para o RJ, essa distinção teórica é
relevante, pois essa concepção é decorrente de Barbosa Moreira, que é carioca.
b) Substituição Processual x Representação Processual: na representação processual alguém
está no processo agindo em nome alheio, defendendo interesse alheio. O representante
processual não é parte, não age em nome próprio . Parte é o representado. Ex. menor é
representado pela mãe. O autor é o menor e não a mãe. Quem age em nome próprio é o substituto
processual.
c) Substituição Processual x Sucessão Processual: sucessão processual é a troca,
alteração, mudança de sujeitos do processo, sai uma parte, entra outra. A sucessão processual é
dinâmica, uma parte que existia sai e no seu lugar entra outra pessoa. É o que acontece, por ex., se uma
parte morre, quando em seu lugar entrará o espólio . Cuidado: no dicionário, a palavra substituição
pode ser sinônima de sucessão.

2) I nteresse de Agir :

É uma condição da ação relacionada à causa de pedir. É examinado sob duas dimensões: a
primeira é a dimensão da utilidade, é preciso verificar se o processo é útil. A segunda dimensão significa
demonstrar que a utilidade só pode ser alcançada pelo processo, ou seja, há necessidade do processo.
Um processo útil é o que pode propiciar algum tipo de proveito ao demandante; é o que,
chegando ao seu final, resulte em algum proveito. Se isso não ocorrer, falta interesse de agir. Se o tudo o
que o autor quiser for acolhido ele terá algum proveito, utilidade? Se sim, ele terá interesse de agir. Ex.
53
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
concurseiro é reprovado na 1ª etapa. Obtém liminar e consegue fazer a 2ª fase, na qual é reprovado. O
MS, nesse caso, perdeu sua utilidade. É a famosa perda de objeto.
Um processo necessário é aquele necessário à obtenção da utilidade– se não há resistência do
réu na concessão do proveito almejado não há necessidade de se ir a juízo. É preciso que se demonstre a
necessidade de ida ao Judiciário. No caso de recurso administrativo, é preciso demonstrar que há
necessidade de recorrer à esfera judiciária sem esgotar a instância administrativa.
Ação necessária: existem determinados direitos que somente podem ser exercitados em juízo.
Nesses casos, a ida a juízo será sempre necessária. Não se discute necessidade, que é presumida. Ex.
ação de falência, ação de interdição, rescisória de sentença, exclusão de herdeiro, anulatória de contrato.
Toda ação necessária é constitutiva.
Na USP (corrente doutrinária muito forte em SP) fala-se em um terceiro aspecto do interesse de
agir (além da utilidade e da necessidade) – fala-se que para que haja interesse é preciso que haja
adequação do pedido e do procedimento ao proveito almejado. É preciso que se escolha a via adequada
aos seus propósitos. É preciso que o pedido e o procedimento sejam adequados à obtenção do proveito
almejado. A escolha inadequada da via processual geraria carência de ação por falta de interesse. Ex.: se
alguém entra com um MS pedindo algo, mas é necessária a perícia, o procedimento é inadequado porque
o MS não permite perícia. Para a USP, isso seria falta de interesse de agir pela inadequação do
procedimento ao proveito almejado, ou, ainda, inadequação da via eleita; execução sem título, deve-se
entrar com ação de cobrança.
Para o professor, a escolha inadequada da via nada tem a ver com o interesse de agir, pois o juiz
pode corrigir o procedimento utilizado.
3) Possibilidade ju r ídica do pedido:

É a aptidão teórica de um pedido ser acolhido. Se o pedido teoricamente puder ser acolhido, a
condição da ação está preenchida.
É impossível separar esta condição da ação do mérito da causa. Por isso ela não é “levada a
sério” por ninguém. Se o pedido é juridicamente impossível, e não pode ser acolhido, a ação já está
sendo julgada improcedente.
Quem não concorda com isso dá exemplos absurdos, como, por ex., pleitear um terreno na lua.
Mas este não é um exemplo válido.
Assim, esta condição da ação, ao se confundir totalmente com o mérito da causa, não tem
relevância.
O CPC é uma homenagem a Liebman. O CPC foi aprovado em 73, no mesmo ano em que
Liebman publicou seu último livro, no qual ele simplesmente não falou em possibilidade jurídica do
pedido como condição da ação, sem nem ao menos dizer por quê. Ocorre que não houve tempo de avisar
a Busaid e o CPC saiu com esta condição da ação. Ou seja, nós adotamos uma Teoria que não foi mais
adotada nem sequer pelo seu próprio autor.
Ver o art. 3° e art. 267, VI, CPC. O art. 3° não fala em possibilidade jurídica do pedido porque é
uma reprodução do código italiano, já o art. 267 é uma produção nossa.
Existe uma expressão de Dinamarco que se chama “possibilidade jurídica da demanda”. Para
Dinamarco, essa condição da ação (a possibilidade jurídica do pedido) tem que se estender a todos os
elementos da ação/demanda, inclusive à causa de pedir, não podendo ficar restrito ao pedido. Ou seja,
todos os elementos da ação têm que ser juridicamente possíveis. Assim, ele opta pela expressão
possibilidade jurídica da demanda, para dizer que toda a demanda deve ser juridicamente possível. Ex.:
cobrança de dívida de jogo – para Dinamarco, o que é juridicamente impossível nesta causa não é o
pedido de cobrança e sim a causa de pedir (esta é que é ilícita). Assim, o que há não é um pedido
juridicamente impossível e sim uma demanda juridicamente impossível na causa de pedir.
(30/03/09)

 Classificação das Ações:

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
De acordo com a Causa de Pedir Próxima:

a) Reais ou Pessoais: classificação da ação de acordo com o tipo de direito afirmado – dependendo
se se tem um direito real ou pessoal sobre a coisa, respectivamente.

b) Reipersecutória: ação que persegue a coisa (sempre que eu for ao Judiciário e pedir a entrega de
uma coisa, eu estarei me valendo de uma ação reipersecutória). Esta ação, por sua vez, pode ser pessoal
ou real.

c) Mobiliárias ou Imobiliárias: é uma classificação de acordo com o objeto do pedido – se se quer


um móvel, a ação é mobiliária; se se quer um imóvel, a ação é imobiliária. Não há dificuldade teórica
aqui, mas há uma dificuldade prática: nós temos uma tendência a achar que as ações imobiliárias são
reais, e isso não é verdade (pode envolver imóvel e ser ação pessoal, como, por ex., o despejo, que é
ação pessoal imobiliária).

d) Ações Necessárias: alguns direitos somente podem ser exercidos, efetivados em juízo; não há
como efetivá-los sem ir ao Judiciário. Ex.: falência, ação rescisória, ação anulatória. Pergunta: o que são
processos necessários? São aqueles que surgem das ações necessárias.

e) Ações Dúplices: A ação dúplice pode aparecer nos concursos com 2 sentidos: (☺livro: Leituras
Complementares de Processo, de Juliana Demarchi)
1) Sentido processual de ação dúplice: a ação dúplice é aquela em que se permite ao réu a
formulação de um pedido contra o autor dentro da contestação; é o chamado pedido
contraposto. É possível nos Jesp’s; nas ações possessórias (pedido de indenização); nos
procedimentos sumários. Segundo Nelson Nery, as ações que tramitam nos Jesp’s são
ações dúplices. Este não é o sentido mais utilizado, mas existe. Aqui, faz-se uma analogia
com o boxe, o réu precisa se defender e atacar (se ele quer atacar, que formule o pedido
contraposto).
2) Sentido material de ação dúplice: é aquela em que a defesa do réu já é o seu ataque; o réu,
ao se defender do que o autor quer, já está atacando. Se ele resiste ao que o autor quer, já
se está atacando, sem precisar fazer mais nada. Aqui faz-se uma analogia com a
competição de cabo-de-guerra, em que há uma só conduta com dois efeitos – ao mesmo
tempo é uma defesa e um ataque. Ex.: toda ação declaratória é dúplice, porque se o autor
quer a declaração da existência de uma relação, a defesa do réu será dizer que a relação
não existe, ou seja, já é um ataque pedindo a declaração contrária, coisa que ele poderia
ter se fosse o autor (ele poderia ter proposto isso desde o início). Outro ex.: oferta de
alimentos, ao contestar o filho vai dizer que o autor ofereceu um valor indevido, o que já
é a afirmação do próprio direito (o juiz vai julgar improcedente o pedido do autor-pai,
fixando em valor superior, e quem vai executar será o réu-filho). Aqui, portanto, autor e
réu se confundem. O autor só é autor porque veio primeiro, porque se antecipou, mas
poderia ter sido o contrário (o réu poderia ter sido o autor e vice-versa). A diferença entre
autor e réu é cronológica. Outro ex.: ação de consignação em pagamento, na qual a defesa
do credor já revela o ataque.
f) Ações de conhecimento; de execução e cautelar: esta é uma classificação que divide as ações de
acordo com o tipo de tutela jurisdicional. Se eu vou ao judiciário e peço um reconhecimento de um
direito, entro com ação de conhecimento; se eu quero que o juiz efetive os meus direitos, entro com uma
ação de execução; e se eu quero que o juiz proteja os meus direitos, entro com uma ação cautelar. Esta
classificação é tradicional, mas está em crise. O problema dessa divisão é que ela pressupõe uma pureza
das ações, como se todas as demandas só servissem a um propósito. Atualmente, uma característica de
nosso sistema é o sincretismo processual. Há uma tendência de que as ações sejam sincréticas, o que
significa que as ações passaram a misturar as diversas espécies de tutela jurisdicional servindo a mais de
um propósito. Os tipos de tutelas se misturam nas ações, que deixaram de ser monofuncionais.
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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

g) Ações Sincréticas: vêm de sincretismo, que quer dizer mistura. As ações sincréticas são as ações
que servem a mais de um tipo de tutela (servem para certificar, efetivar e proteger). É a tendência atual.

h) *Ações Condenatórias; Mandamentais; Executivas em sentido amplo; Constitutivas e


Meramente declaratórias: é a classificação das ações de conhecimento. Sobre elas é preciso discorrer
mais detalhadamente. Vejamos:

Há uma divisão teórica dos direitos que divide os direitos em: direitos a uma prestação (também
chamados de direitos subjetivos) e dir eitos potestati vos.

→ Dir eito a uma pr estação:

É o poder de exigir de outrem o cumprimento de uma prestação, que é sempre uma conduta. De
um lado eu tenho a pretensão, que é o poder de exigir, e de outro a prestação, que é a conduta exigida. A
conduta exigida pode ser uma conduta de fazer, de não fazer ou de dar (dinheiro ou coisa distinta de
dinheiro). As obrigações são exemplos típicos de prestações (têm a estrutura de um direito à prestação),
mas não esgotam todas as prestações.
Prescrição: é a perda ou ineficácia de uma pretensão. Os direitos a uma prestação são os direitos
que se submetem à prescrição (a prescrição é um fenômeno exclusivo dos direitos a uma prestação – não
se pode falar em prescrição de direitos potestativos). O que prescreve é a pretensão; a prescrição atinge a
pretensão (☺art. 189, CC).
Só os direitos a uma prestação podem ser inadimplidos, são passíveis de lesão. Inadimplemento e
lesão pressupõem uma conduta devida, a qual não foi cumprida. Eu só posso falar de lesão se houver
inadimplemento de uma prestação. Lesar, inadimplir é não cumprir a prestação devida (não existe
inadimplemento de direitos potestativos). Tanto é que o prazo de prescrição se conta da lesão.
Os direitosmaterialmente,
efetivam a uma prestação
ou necessitam
seja, exigemde uma
que efetivação
a condutamaterial.
devida Os
sejadireitos a uma
realizada prestação só se
concretamente. A
efetivação material se dá, em regra, pelo cumprimento ou adimplemento espontâneo da obrigação. Caso
essa obrigação não seja cumprida, busca-se a execução (cumprir forçadamente uma obrigação). A
execução significa forçar o cumprimento de uma prestação. Por isso que ao estudar execução aparece o
art. 580, CPC, e o art. 617, CPC (correlação entre execução e prescrição).
São assuntos correlatos: pretensão, prestação, prescrição, inadimplemento, lesão, execução.
A execução pode se fundar em título judicial (ex.: sentença) ou em título extrajudicial (ex.:
contrato). A execução pode se realizar como fase de um processo sincrético, ou seja, um processo
instalado para certificar e efetivar o direito. O processo não é só de execução, é sincrético. A execução
se realizará, assim, como uma fase de um processo sincrético.
Mas a execução pode se realizar também em um processo autônomo, em um processo de
execução, ou seja, em um processo instaurado somente para se executar uma prestação.
A execução como fase do processo é também execução. A regra é que as decisões judiciais sejam
executadas como fase. O processo autônomo ficou reservado, basicamente, aos títulos extrajudiciais.
Toda execução se realiza por um processo (sincrético ou autônomo).
A execução pode ser direta ou indireta.
A execução direta é aquela em que o Estado prescinde do executado, e realiza a prestação por
ele, ou seja, o Estado ignora o executado e realiza a prestação devida no lugar dele, agindo pelo
executado. É uma execução violenta, visível, mais cara, pois existe todo um aparato (oficial de justiça,
depositário, etc.). Ex.: uma pessoa tinha que demolir um muro e não o fez, o Estado vai lá e demole o
muro; venda de um bem em hasta pública para pagar uma dívida, etc. Eis a execução por excelência,
pois está intimamente relacionada com a execução. Por isso, há autores que entendem que somente
existe a execução direta. Para Barbosa Moreira só existe execução direta.
Na execução indireta, por sua vez, o Estado força o devedor a cumprir a prestação, por ele
mesmo. Ele pressiona o devedor a cumprir a prestação, de forma psicológica. O Estado se vale do seu
poder para induzir psicologicamente a pessoa a cumprir a prestação. Tem sido muito estimulada nos
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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
últimos tempos, pois tem se revelado muito efetiva. Esta indução pode se dar de duas maneiras: pela
ameaça (faça sob pena de multa, de prisão, etc.) ou pela recompensa (faça que lhe darei um desconto,
você pagará menos honorários, etc.). Esta recompensa tem um nome técnico de “sanção premial”. A
execução indireta é menos violenta, é invisível, e é também mais barata.

Ação ou demanda de prestação: é a demanda que veicula a afirmação de um direito a uma


prestação. São elas: ação de prestação de fazer; ação de prestação de não fazer; ação de prestação de dar.
Estudo dos momentos históricos dessas aç ões de prestação(4 momentos históricos):

1) Entre 1973 até 1994: é a 1ª fase; até este ano as ações de prestação no Brasil eram em regra
ações de prestação não sincréticas (chamadas, portanto, de “ações puras”), ou seja, só serviam para
certificar, reconhecer o direito, e não para executar (para executar era preciso voltar a juízo
especificamente para isso). As ações eram de puro conhecimento, de certificação. Com base nessa
realidade, a doutrina dizia que essas ações de prestação eram ações condenatórias, para obtenção de um
título. Nessa época as ações condenatórias eram exatamente as ações de prestação não sincréticas, que
visavam a certificação de um fazer, um não-fazer ou um dar; a condenatória só dava um título executivo
para posterior execução. Elas estavam relacionadas a esta necessidade de 2 processos, um para certificar
e outro para executar. Ocorre que nessa época havia algumas exceções: havia algumas ações de
prestação que eram sincréticas, ou seja, ações que permitiam a ida ao Judiciário para, num mesmo
processo, se certificar e executar uma prestação (ações especiais, que fugiam à regra geral) – ex.: as
ações possessórias, MS. Essas ações eram regradas por procedimentos especiais. As ações de prestação
sincréticas eram chamadas de ações mandamentais ou ações executivas em sentido amplo. Assim, a
característica comum entre as ações condenatórias, mandamentais e executivas em sentido amplo é o
fato de serem todas ações de prestação; e o que as diferenciam, primeiramente, era que as condenatórias
eram não sincréticas e as demais sincréticas. Mas, como diferenciar, então, as ações mandamentais das
ações
efetivamexecutivas em sentido
por execução indireta amplo? As mandamentais
(por ordem – o Estado quersãoqueações de prestação
o executado cumprasincréticas queo se
a prestação,
Estado força o cumprimento da prestação pelo executado); enquanto a executiva lato senso é uma ação
de prestação sincrética que se efetiva por execução direta. Como não se via a execução indireta como
execução, criou-se a ação mandamental.
A maior parte da doutrina não concordava com a divisão acima, afirmando que todas as ações
devem ser chamadas de prestações condenatórias, todas visam o cumprimento de uma prestação. Se é
sincrética ou não, isso é tão somente uma contingência.

2) Entre 1994: houve uma grande reforma legislativa, na qual todas as ações de prestação de
fazer e de não-fazer viraram ações sincréticas. Houve uma “sincretização” de todas as ações de
prestação de fazer e de não-fazer. Assim, o que antes era especial, extraordinário, em matéria de
prestação de fazer e de não-fazer, virou a regra geral. Esta mudança fez com que surgissem duas
correntes doutrinárias:
- a 1ª corrente dizia que a partir de então não se podia mais falar em condenatória de fazer e de
não-fazer, já que toda ação passou a ser sincrética (ou a ação era mandamental ou era executiva);
- a 2ª corrente, por sua vez, dizia que não havia diferença, eram todas condenatórias, já que todas
condenavam a uma prestação, as variáveis são circunstâncias legislativas, que variam de legislador para
legislador.
A discussão fez surgir muitas polêmicas sobre se havia decisão condenatória, mandamental e
executiva ou tão somente mandamental e executiva.

3) Em 2002: generalizou-se o sincretismo para as ações de entrega de coisa, o que significa que
toda ação para entregar coisa passou a ser sincrética (a mesma coisa que já havia acontecido em 94 para
as ações de fazer e de não-fazer). Neste ponto então, aconteceu a mesma coisa: uma corrente dizia que já
não se podia mais falar em condenatória para as ações de entrega de coisa; e uma outra corrente dizia
que não havia diferença, eram todas condenatórias. (Ver art. 287, CPC).
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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

4) Em 2005: o legislador “sincretizou” todas as ações de prestação de pagamento de quantia.


Com isso, o legislador tornou todas as ações de prestação sincréticas. Com essa mudança, surgiram,
pois, as mesmas duas correntes: houve quem dissesse que, como agora é tudo sincrético, não existe mais
ação condenatória, e então a classificação que era quinária (condenatória, executiva, mandamental,
constitutiva e declaratória) passaria a ser quaternária (executiva, mandamental, constitutiva e
declaratória); e houve aqueles que diziam que são todas condenatórias. Ocorre que ninguém vai deixar
de usar o verbo “condenar”, ou vai deixar de dizer que quer a condenação do réu.

5) A partir de 2005:
Hoje, nós temos 3 correntes:
a) Corrente Trinaria: todas as ações de prestação são condenatórias. Todas as vezes que se vai ao
Judiciário pedindo que o réu faça ou deixe de fazer alguma coisa, tratar-se-á sempre de uma ação
condenatória. A ação mandamental e a ação executiva, hoje, portanto, passaram a ser espécies de ações
condenatórias: se a ação se efetiva por execução indireta é mandamental; se a condenação se efetiva por
execução direta ela é executiva. O que é relevante é saber a diferenciação entre execução direta e
indireta. Porque como agora a execução acontece no mesmo processo, como fase de um processo
sincrético, o que importa é saber se ela será direta ou indireta. Todas as ações de prestação são, pois,
condenatórias. Houve uma transformação do sentido do que seja ação condenatória, ainda que sempre
ela tenha sido vista como uma ação relacionada com o direito a uma prestação. Existem, portanto, 3
ações: condenatória, constitutiva e declaratória. Condenatória é sinônimo de prestação. Hoje, não
justifica a distinção entre sincrética e não sincrética. Mandamental e executiva são espécies de
condenatória. É a corrente majoritária, representada por Barbosa Moreira e Dinamarco.
b) Corrente Quaternária: as ações condenatórias devem ser excluídas, não existem mais, pois
todas as ações passaram a ser sincréticas. O verbo condenar é totalmente extinto. Só existem as ações:
executiva, mandamental, constitutiva e declaratória. Essa é a corrente de Ada Peregrine.
c) Corrente
mandamental). Quinária:é define
O problema a existência
saber qual de para
é o critério distinção entre as
distinguir, ações
já que (condenatória,
tudo é sincrético. executiva
É definida,e
principalmente, no RS. O principal responsável é Carlos Alberto Alvaro de Oliveira (professor titular da
universidade federal do RS). Ele mantém as 3 ações de prestação relacionando-as a tipos de prestação
Entende que a ação condenatória é a ação de prestação por quantia. Ação mandamental é a ação de
prestação de fazer ou não fazer. E ação executiva em sentido amplo é ação de prestação para entrega de
coisa. O professor não concorda com essa separação. Entende que só há dois tipos de execução: direta
ou indireta, não tendo espaço para a condenatória. Essa classificação também não explica as ações de
alimentos, que é exemplo clássico de ação mandamental, que condena para pagar quantia. Ademais, o
juiz poderá dizer: entregue a coisa sob pena de multa (é mandamental para entrega de coisa). Em suma,
essa distinção não é mais possível. Essa corrente ainda deveria deixar claro se entende que execução
indireta é ou não execução. Seguem ainda essa classificação: Pontes de Miranda e Ovídio Batista.

→ Di r eitos Potestati vos:

Existe o mundo dos fatos (mundo visível, concreto) e existe o mundo jurídico (que não se vê;
mundo onde situações acontecem, mas nós não as vemos; é o mundo das idéias, o mundo intelectual,
ideal). Ex.: doença mental é a situação de fato, que é perceptível; mas, se o juiz reconhecendo a doença
mental de alguém a interditar, significa que a situação jurídica de pessoa capaz desse sujeito se mudará
em incapacidade, e isso não se pode perceber visivelmente, porque se trata de uma situação jurídica, que
acontece no mundo jurídico, que pode ou não corresponder à situação fática. Ex.: contrato que foi
anulado continua a existir fisicamente (no papel), mas deixou de existir no mundo jurídico (se extinguiu
juridicamente).
Direito potestativo é exatamente o direito de criar, alterar ou extinguir situações jurídicas. A
efetivação de um direito se dá no mundo jurídico e não no mundo dos fatos. Esse direito não precisa de
nada no mundo material para se efetivar, não precisa de nenhuma conduta, não está relacionado a
nenhuma conduta do sujeito passivo que nada tem que fazer, apenas se submeter à nova situação
58
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
jurídica. Assim, não há conduta ou prestação devida. O direito potestativo, portanto, não pode ser
lesado. Não há inadimplemento de direito potestativo, porque não há conduta devida, ou seja, não há
como inadimplir. E, por isso, os direitos potestativos não se executam, eles se efetivam juridicamente.
Os direitos potestativos se efetivam pelo verbo (basta o juiz dizer: interdito, dissolvo, separo, anulo).
Não precisa de nenhum ato material. A sentença apenas altera o ato no mundo jurídico. Se eu vou ao
judiciário e afirmo um direito potestativo, eu me valho de uma ação constitutiva.

Ação constitutiva: é aquela que serve para criar, alterar ou extinguir situações jurídicas, pois
veicula um direito potestativo.
Nem toda ação constitutiva se sujeita a prazo, mas se houver prazo, esse prazo é decadencial. Ex.
ação de separação judicial não possui prazo de decadência.

Assim:
Direitos a uma prestação ações condenatórias

Direitos Potestativos a ões constitutivas


Atenção: é muito freqüente a afirmação de que as ações constitutivas não produzem efeitos
retroativos. Isso significa que elas servem apenas dali para frente, suas mudanças só repercutem para o
futuro. Esta afirmação é, em regra, certa, embora existam exemplos de ações constitutivas com eficácia
retroativa, ou seja, que produzem efeitos retroativos. Assim, não se pode conceituar a ação constitutiva a
partir dessa afirmação. Ex.: ☺art. 182, CC – cuida da ação anulatória, que é uma ação constitutiva, e diz
que “anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que se encontravam” –ou seja, é
uma ação constitutiva que tem eficácia retroativa. Assim, é possível a eficácia retroativa vinda de uma
ação constitutiva.
Exemplos de ações constitutivas: ação anulatória, ação rescisória, ação de separação, ação de
extinção do condomínio, resolução do contrato, etc.

**Atenção para as seguintes 5 ações constitutivas, que são problemáticas (não há sobre elas
unanimidade na doutrina):
a) Ação de interdição: é a ação que tira a capacidade do sujeito, ou seja, altera a sua situação
jurídica. Alguns civilistas colocam a ação de interdição como declaratória e não como constitutiva
(apesar de que do ponto de vista processual é muito claro que se trata de uma ação constitutiva). O que
se pede ao juiz não é a declaração da doença (isso se pede ao médico), ao juiz se pede que seja retirada a
capacidade do sujeito;
b) Ação de falência: tem como objetivo quebrar o sujeito, ou seja, retirar do comerciante a sua
capacidade. É, pois, uma ação constitutiva. A Sentença Declaratória da falência é constitutiva. Ela
constitui a massa falida, nomeia administrador judicial, suspende a fluência de juros, suspende o prazo
prescricional, o que comprova sua natureza constitutiva. Declaratória é apenas o nome e não a natureza.
Mas alguns comercialistas a colocam como declaratória, afirmando que o sujeito pedirá a declaração da
falência. Mas o que se pede ao juiz é que retire sua capacidade e não a simples declaração de que o
comerciante é devedor; não se declara a falência, mas sim se decreta a falência;
c) Ação de nulidade de ato jurídico (≠ da ação de anulação, sobre a qual não paira qualquer
discussão): para muitos civilistas trata-se de uma ação declaratória, já que eles entendem que o que se
pede ao juiz é que se declare a nulidade. Ocorre que o juiz não declara a nulidade, mas sim desfaz um
negócio; negócio é desfeito pela sentença. A diferença entre a nulidade e a anulação é apenas a
gravidade do defeito. A nulidade não susta os efeitos do ato, mas sim desfaz, destrói o ato porque ele
tem um defeito. O defeito é o que causa a nulidade, a nulidade é conseqüência de um defeito. A nulidade
é o desfazimento, que não é uma conseqüência da nulidade (simplesmente porque é a própria nulidade).
Existem várias formas de desfazimento: resolução, resilição, revogação e nulidade. Nulidade é uma
forma de desfazimento de um ato;
d) ADI: na opinião do prof. e, ainda, de Kelsen, Pontes de Miranda e Regina Nery, dentre outros,
é constitutiva, mas a maior parte da doutrina (que são constitucionalistas) a entende como uma ação

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
declaratória, afirmando que se declara a inconstitucionalidade. Na opinião do professor não se declara a
inconstitucionalidade, mas sim se constata o vício e se retira a lei do ordenamento jurídico.
e) Investigação de paternidade: trata-se de uma polêmica mais atual (ao contrário das demais).
Antigamente sempre se dizia que se tratava de uma ação declaratória (declarar a paternidade). Ocorre
que nos últimos 30 anos, houve um processo de “desbiologização” do direito de família, que vem
perdendo o caráter biológico. A família não é mais tão somente a família biológica. Há família sem
vínculo biológico, como a formada por filhos concebidos por fecundação heteróloga. Assim, a
investigação de paternidade passou a ser uma ação cujo objetivo não é mais declarar a paternidade, mas
sim atribuir a paternidade ao sujeito, que as vezes nem é o genitor. É, pois, uma ação constitutiva, que
vai tornar pai o sujeito que antes era apenas genitor. Pai é vínculo jurídico, enquanto genitor é vínculo
genético. Há uma dissociação clara hoje em dia quanto a isso. Eles podem ser a mesma pessoa, mas não
o será necessariamente. O pai tem com o filho uma relação jurídica, que pode ou não ser também
biológica. Assim, será possível, inclusive existir uma ação de paternidade afetiva, cujo objetivo será
tornar o sujeito pai (constituir o vínculo jurídico entre eles).

(06/04/09)

AÇÃO MERAMENTE DECLARATÓRIA: é a que tem por objeto a declaração da existência, inexistência,
ou modo de ser de uma relação jurídica.
Sempre que eu for ao Judiciário para pedir a existência, a inexistência ou o modo de ser de uma
situação jurídica, eu me valho de uma ação meramente declaratória. É, pois, uma ação para declarar
situações jurídicas e não fatos.
Situação jurídica é um gênero, é algo que acontece no mundo jurídico. Todo efeito jurídico é
uma situação jurídica. O mais importante ex. de situação jurídica é a relação jurídica. Outros exemplos
de situações jurídicas: direitos, deveres, capacidades.

Observações
1) O Códigoaprevê
respeito da ação
a ação meramentepara
declaratória declaratória:
a existência ou inexistência. Modo de ser é um
acréscimo feito pela doutrina, que significa como a relação jurídica se estrutura. É por isso que existe a
Súmula 181, STJ: É admissível ação declaratória, visando a obter certeza quanto a exata interpretação
de cláusula contratual. (Art. 4°, I, CPC).
2) De acordo com o conceito acima, não cabe ação meramente declaratória de um fato. O
judiciário não pode ser acionado para declarar um fato. É uma ação de relação jurídica e não de fato. Há
uma exceção: a ação meramente declaratória de autenticidade ou falsidade de documento (Art. 4, II,
CPC).
3) O poder judiciário não é órgão consultor. O judiciário resolve problemas concretos. Ação
meramente declaratória não pode servir como consulta. Há uma exceção, mas que não interessa ao
processo civil: a justiça eleitoral tem também uma função consultiva (ex. consultas que partidos
políticos fazem para esclarecer dúvidas sobre as eleições).
4) Exemplos de ações meramente declaratórias: ação de usucapião, ação de consignação em
pagamento, ação declaratória de constitucionalidade, ação de reconhecimento de união estável, ação
para declarar a inexistência de relação jurídica tributária.
5) O objetivo da ação declaratória é dar certeza jurídica, é apenas a certificação. Ao passo que a
ação constitutiva visa a certificação e a efetivação do direito potestativo. Na condenatória busca-se a
certificação e a efetivação do direito a uma prestação. Por isso, que as ações meramente declaratórias
são imprescritíveis. Por elas não se pretende efetivar direito algum, pretende-se apenas certificar
direitos.

Obs.: ADI e ADC são ações dúplices. Elas não teriam então a mesma natureza? Não! Quando se
classifica a ação dizendo que ela é constitutiva ou declaratória, esta classificação se faz pensando no
provimento (partindo da idéia de que a ação será vitoriosa). Assim, ADI é constitutiva, o que é
declaratória é a sua improcedência, porque a improcedência de qualquer ação constitutiva é declaratória.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
O parágrafo único, art. 4°, CPC: “É admissível a ação declaratória, ainda que tenha ocorrido a
violação do direito”.
Apenas os direitos à prestação podem ser violados, e o direito a uma prestação é objeto de uma
ação condenatória. De acordo com o CPC, o sujeito, se quiser, pode optar por uma ação meramente
declaratória, no lugar de uma ação declaratória. O § único do art. 4°, CPC permite uma ação meramente
declaratória de um direito já exigível.
Vladimir Herzog, jornalista famoso, morreu durante a ditadura militar brasileira. Até a sua morte,
a classe média ainda não tinha reagido à ditadura. O laudo médico dizia que ele havia se suicidado. O
rabino se recusou a enterrá-lo no cemitério dos suicidas (que era costume dos judeus). Clarice, sua
mulher, entrou com uma ação contra a União para obter o reconhecimento da responsabilidade da União
em relação à morte de seu marido. A decisão transitou em julgado reconhecendo a responsabilidade da
União (o dispositivo foi então excepcionalmente aplicado). Surgiu a seguinte dúvida: e se depois de
ganhar a ação, Clarice resolve requerer a condenação da União? Em outras palavras, aquele que entra
com ação meramente declaratória pode posteriormente cobrar o direito? A doutrina tradicional dizia que
se aquele que ganhou quisesse a efetivação do direito, teria que propor uma ação condenatória, pois só
com uma sentença condenatória é possível executar. Essa era a visão mais defendida à época. Se o
direito já estava transitado em julgado, precisa-se de uma ação para efetivar o direito e não condenar.
Mas a doutrina da época era muito ligada à necessidade de uma ação condenatória. O STJ começou a
admitir a possibilidade de execução de sentença meramente declaratória quando houvesse o
reconhecimento de um direito a uma prestação. Com isso, quebrou-se o dogma de que somente
sentenças condenatórias poderiam ser executadas.
Em 2005, o CPC foi alterado (art. 475-N, I, CPC). O texto da lei anterior falava em sentença
condenatória. Agora, dispõe que qualquer sentença que torne certa uma obrigação é título executivo.
Esse texto se inspirou na jurisprudência do STJ. Esse texto foi acrescentado no Senado e não voltou para
a CD. Com a publicação do artigo, questionou-se a inconstitucionalidade formal. Para Diddier, esse
artigo não é inconstitucional, já que com base no texto antigo, o STJ já tinha esse entendimento. O SF
não
houvecriou uma norma
alteração nova, apenas
normativa, esclareceupermaneceu
a interpretação a redação doatexto antigo.
mesma. Com aque
Aqueles alteração do texto não
não concordavam
anteriormente criticavam esse artigo. Mas esta mudança já foi praticamente consolidada, não havendo
muita discussão a respeito.
Ex. julgado em SP: contribuinte pediu a declaração de inexistência da relação tributária. O juiz
julgou improcedente o pedido, declarando que o tributo é devido. O estado, com essa sentença
meramente declaratória, executou o contribuinte.
A utilização da meramente declaratória não seria uma burla à prescrição, já que é uma ação
imprescritível? Pedir a declaração é uma coisa, mas a execução é outra. A execução não pode ser feita a
qualquer tempo. A interposição da ação meramente declaratória não interrompe a prescrição. Assim,
aquele que apenas pede a declaração de um direito está sujeito à prescrição do direito de execução.
Resumindo: Se eu fui lesado eu tenho o direito de propor uma ação condenatória ou uma ação
meramente declaratória. É uma opção minha. A diferença é que se eu propuser a meramente declaratória
(podendo propor a condenatória), esta minha propositura não interrompe a prescrição, porque eu estou
entrando com uma ação dizendo que não quero efetivar o direito (eu pedi só a declaração do direito, só a
certificação). Se eu não quero efetivar o direito agora, também não posso interromper a prescrição. A
interrupção da prescrição é sempre resultado de uma conduta ativa do credor, que demonstra querer ir
atrás do cumprimento da prestação.
Somente as ações meramente declaratórias de direitos exigíveis é que geram direito à execução.
Ações de autenticidade de documento e de interpretação de contrato, por exemplo, não geram execução.
Assim, tanto a ação condenatória como a meramente declaratória (ajuizada quando já se poderia
ajuizar a condenatória – que é a do PU do art. 4º) podem gerar título executivo, ambas podem gerar
execução. A única diferença entre elas, portanto, é que uma interrompe a prescrição e na outra não. Fora
isso não há distinção.
Sobre este tema → ☺ Texto de Teori Albino Zavascki (ministro do STJ), no Livro Leituras
Complementares (ou ☺jurisprudência do STJ – acórdão do ministro).

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS:

O grande aspecto a ser estudado é a sua classificação. Costumam ser estudados a partir de uma
divisão entre: os pressupostos de existência do processo e os pressupostos de validade do processo.

 Pressupostos de Existência:

Para que um processo surja é preciso que alguém demande perante um órgão jurisdicional. Esse
é o fato Disso
gerador do processo:
podemos extrairseosalguém demandar, de
três pressupostos surge o processo.
existência:
a) Existência de órgão jurisdicional;
b) Demanda (ato de instauração do processo). Alguns autores colocam o pedido, mas na verdade, é o ato
de instaurar o processo;
c) Capacidade de ser parte.

Para que o processo surja é preciso que haja um órgão investido de jurisdição, sem o qual não se
poderá falar em processo. Para que o processo nasça é preciso que haja um órgão investido de
jurisdição.
Para que nasça o processo, ademais, é preciso que haja um ato que instaure o processo perante o
órgão jurisdicional, este ato inicial instaurador do processo é a demanda.
O terceiro pressuposto de existência é a capacidade de ser parte. Atenção para não confundi-la
com outras capacidades!
A capacidade de ser parte exige algumas considerações:
É a aptidão de ser parte em um processo. É a personalidade processual ou judiciária. É absoluta,
quem a tem, tem sempre, não há gradação. Não é igual a legitimidade, que se pode ter pra uma coisa e
não ter para outra. Se, em tese, puder ser parte de um processo, tem capacidade de ser parte. Quem pode
ser parte pode ser parte sempre (mas pode ser que ele seja parte e não seja legítima).
Quem pode ser parte: pessoas físicas, pessoas jurídicas, condomínio, massa falida, espólio,
nascituro, tribos indígenas, herança jacente, órgãos administrativos (ex. MP, defensoria pública, TC,
Câmara de vereadores), nondum conceptus (é a prole eventual, ou seja, os filhos ainda não concebidos
de alguém, que podem receber herança).
Todo sujeito de direitos tem capacidade de ser parte. Se é sujeito de direito então tem capacidade
de ser parte.
Para a doutrina, não têm capacidade de ser parte os mortos e os animais. Há, no entanto, duas
observações:
Obs.1: hoje é pacífico que o natimorto tem direito a um nome e a uma sepultura (tem o direito de
ser enterrado e não pode ser enterrado como indigente). Se morto tem esse direito, morto então tem
capacidade de ser parte, e, portanto, a personalidade vai além da morte. Neste caso, o entendimento
antigo deve ser revisto. O problema é que o morto será incapaz e, como incapaz, terá que ser
representado. Quem admite essa ultra eficácia da personalidade, tem, pois, que admitir a capacidade de
ser parte do morto.
Obs.2: alguns escravos eram considerados coisas. Outros tinham alguns direitos. Com a abolição,
aqueles que eram coisas transformaram-se em sujeitos. Há um movimento filosófico muito forte nos
EUA que defende o abolicionismo animal, defendendo que os animais também têm direitos, pelos
menos os grandes primatas (chipanzé, gorila, bonobo e orangotango), em relação com as semelhanças
com os homens. Esta teoria tem repercussão no Brasil: está tramitando no STJ uma discussão sobre isso
e o STJ ainda não extinguiu a ação, porque ainda está discutindo o caso. Na Bahia já houve um caso de
ser impetrado um HC para um gorila (HC assinado por 36 pessoas), mas antes de se ouvir a autoridade
coatora o animal faleceu e o HC foi extinto.

63
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
 Pressupostos de Validade:

→ Considerações iniciais:

Basicamente, todas as discussões sobre os pressupostos dizem respeito aos pressupostos de


validade.

- Alguns autores preferem falar, ao invés de pressupostos processuais de validade, em requisitos


processuais de validade. Os pressupostos processuais ficariam então restritos aos pressupostos de
existência.
- Não devemos
muito relevante nosclassificação
saber esta preocupar muito
porquecomhá ainúmeras,
classificação
cada dos
autorpressupostos de validade,
faz a sua. Relevante não éé
mesmo
saber o que é cada pressuposto.
- Só é possível examinar a validade do processo se ele existir. O processo só será válido ou
inválido existindo. Então, primeiro se examina a existência do processo, para só depois examinar se ele
é válido ou inválido. O exame da validade do processo, portanto, pressupõe o exame da sua existência (e
para isso é preciso que alguém demande perante um juiz, com isso o processo nasce e nascido o
processo, tudo o mais é um problema de validade).
- Um único processo é composto de vários atos. Cada ato tem os seus pressupostos: a sentença, a
citação, etc. Assim, existem pressupostos de cada um dos atos do processo e existem pressupostos do
processo. Ex.: exigência de motivação da decisão é requisito do processo ou da sentença? É um requisito
da sentença, e não do processo como um todo. Os pressupostos processuais são os pressupostos que
dizem respeito a todo o procedimento, ao conjunto de atos que se chama processo, e não a um ato
específico.
- Costuma ser dito que a falta de um pressuposto processual pode ser reconhecida de ofício pelo
juiz (art. 267, § 3°, CPC). Há, no entanto, pressupostos processuais cuja falta não pode ser conhecida de
ofício pelo juiz. É o que acontece com a incompetência relativa e com a existência de compromisso
arbitral, que só podem ser conhecidos por provocação.
- Costuma ser dito que a falta de um pressuposto processual gera extinção do processo. Isto está
no art. 267, IV, CPC. Há, no entanto, casos em que a falta de um pressuposto processual não gera
extinção do processo. Ex. incompetência não gera extinção do processo.
- Há um dogma de que a análise dos pressupostos processuais deve preceder a análise de mérito.
Há uma prioridade do exame dos pressupostos processuais em relação ao exame de mérito. Portanto, a
falta de um pressuposto processual não admite o exame do mérito. Atualmente, vários doutrinadores
estão revendo este dogma, dizendo que se a falta do pressuposto processual não ocasionar prejuízo, ela
pode ser ignorada e o mérito ser examinado. A idéia da doutrina é aplicar ao exame dos pressupostos
processuais o sistema das invalidades, segundo o qual não há invalidade sem prejuízo. Aplicação ao
exame dos pressupostos processuais o art. 249, § 2°, CPC. Autores que defendem essa teoria: Bedaque
(USP), Daniel Hertel (ES) e Marinoni (UFPR). Essa corrente é nova. Ex1. réu não foi citado. O juiz
poderia ignorar o defeito para julgar improcedente o pedido. Ex.2. causa envolvendo incapaz, o MP não
foi intimado; o juiz poderia ignorar o defeito se fosse para julgar a favor do incapaz. O nome atribuído a

essa
as concepção
formas teórica é “Instrumentalidade
são instrumentais, substancial
podem ser ignoradas dasdelas
se a falta formas
não ou do processo”,
causar que significa
prejuízo mesmo que
em relação
aos pressupostos processuais.

Passemos à análise dos pressupostos de validade:

→ Pressupostos objetivos:

Dividem-se em intrínsecos e extrínsecos.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Os pressupostos intrínsecos são o respeito às regras procedimentais. É por conta disso que se
exige que a petição inicial seja apta, que se respeite os prazos, enfim, que se respeite as regras do
procedimento.
É dentro desse rol que se encaixa a citação. A citação é um ato processual que tem que ser
respeitado. A citação tem um duplo efeito: faz com que o processo passe a produzir efeitos para o réu (é
uma condição de eficácia do processo para o réu); além disso, a citação é um requisito de validade da
sentença proferida contra o réu.
A concepção de que a citação é um requisito de validade é a concepção majoritária.
Na PUC de SP entende-se que a citação é um pressuposto de existência do processo. Sem citação
o processo não existe. Este é um pilar teórico da PUC, que trata isso como pressuposto teórico, cujos
principais nomes são: Nelson Nery, Cássio Scarpinella, Arruda Alvim e Teresa Wambier (que estão
entre os maiores processualistas do Brasil).
Para Diddier, é um pensamento muito relevante, mas é inadmissível. O processo nasce com a
provocação do autor, prova disso é que o juiz pode indeferir a inicial. Portanto, o processo existe antes
da citação. Há uma confusão entre existência e eficácia. Sem a citação, o processo é ineficaz para o réu,
mas é existente. A citação é um ato do processo (que já existe).
Qual é a natureza da sentença proferida contra réu revel não citado ou citado invalidamente?

Doutrina Majoritária Professores da PUC


Essa sentença é nula. Ou seja, é uma sentença que Essa sentença é inexistente.
existe, mas é gravemente defeituosa.
Pode ser impugnada a qualquer tempo, porque é Pode ser impugnada a qualquer tempo, porque é
nula. inexistente.
Embasamento legal: art. 475-L, I e 741, I, CPC. Embasamento legal: art. 475-L, I e 741, I, CPC.
O caso é de vício transrescisório; é um defeito tão Não é caso de vício, mas de existência. A
grave que pode ser argüido mesmo após o prazo da inexistência pode ser argüida mesmo após a
rescisória. rescisória.
O meio de impugnação é uma ação de nulidade O meio de impugnação é uma ação declaratória de
denominada querela nullitatis (nome da ação de inexistência denominada querela nullitatis (nome
impugnação da sentença nula). da ação de impugnação da sentença inexistente).
Se o réu vem a juízo e não alega na execução, há Não há preclusão. O réu pode aparecer no
preclusão. processo, não alegar a inexistência e alegar apenas
depois que tudo acabou.

É possível impugnar a sentença a qualquer tempo com base nos arts. 475-L, I e 741, I, CPC. Em
ambos os dispositivos, a querela está prevista como defesa na execução, mas é unânime o entendimento
de que cabe ação autônoma dequerela nullitatis.

Os pressupostos extrínsecos são fatos estranhos ao processo, que não podem acontecer para que
o processo seja válido, e porque eles não podem acontecer, são chamados de pressupostos negativos (ou,
ainda, impedimentos processuais).

São eles:
de arbitragem, inexistência
inexistência dede litispendência,
perempção. inexistência
Atenção: de coisa
o pressuposto julgada,
é sempre inexistência de convenção
a inexistência!
OBS. 1: para autores mais antigos os pressupostos negativos são na verdade condições da ação,
porque são estranhos ao processo. É um pensamento minoritário, mas relevante (Barbosa Moreira,
Afrânio Jardim).
OBS. 2: alguns autores designam os pressupostos extrínsecos de impedimentos processuais. Há
quem utiliza a designação impedimento processual para alguns pressupostos cuja falta não pode ser
conhecida de ofício, como a incompetência relativa.

65
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
→ Pressupostos Subjetivos:

Dividem-se em:
o Pressupostos relacionados ao juiz
o Competência (já estudado);
o Imparcialidade (já estudado).
o Pressupostos relacionados às partes:
o Capacidade processual;
o Capacidade postulatória.
Atenção para não confundir com capacidade de ser parte, que é pressuposto de existência.

Capacidade Processual: também chamada de capacidade para estar em juízo, ou legitimatio ad


processum, é a aptidão para a prática de atos processuais independentemente de representação. O
conceito é muito semelhante à capacidade no direito civil (capacidade para praticar atos da vida civil).
Enquanto a capacidade de ser parte se relaciona com a personalidade; a capacidade processual se
relaciona à capacidade civil.
A capacidade processual comporta gradação. É possível ter capacidade processual para uma
coisa e não ter para outra.
A regra é a de que haja uma correspondência entre capacidade civil e capacidade processual, de
modo que quem tem capacidade civil tem capacidade processual. Esta é a regra, mas essa relação pode
não acontecer. Ex.: sujeito casado é capaz civilmente, mas em alguns casos não tem capacidade
processual; pessoa com 16 anos pode votar e, embora não seja civilmente capaz, sendo eleitor já pode
propor ação popular.
Conseqüências da falta de capacidade processual: diante da falta de capacidade processual, o juiz
determinará a correção do defeito; se o defeito não for corrigido: a) se for o autor que não tem
capacidade processual, o processo será extinto; b) se for o réu, o processo seguirá à sua revelia; c) se for
um terceiro, este será excluído do processo.
☺art. 13, CPC.
Há uma afirmação doutrinária antiga que dizia que as pessoas jurídicas eram processualmente
incapazes sob o seguinte fundamento: tinham que estar em juízo com seus representantes. Essa
expressão errônea, de que as pessoas jurídicas são representadas em juízo, leva-nos a pensar que as
pessoas jurídicas são incapazes; ocorre que as pessoas jurídicas são capazes. É preciso fazer uma
distinção muito simples, mas que não é muito feita: a distinção entre representação e presentação.
Sempre que se fala em representação, pressupõe-se dois sujeitos, o representante (quem representa) e o
representado (aquele que se representa). Na presentação não há dois sujeitos; a relação é orgânica, ou
seja, a relação é entre o sujeito e seu órgão. A pessoa jurídica existe no mundo ideal e se materializa em
seus órgãos, e, estes sim, existem no mundo físico. Ou seja, as pessoas jurídicas agem no mundo físico
por meio de seus presentantes. Ex.: Lula presenta o Brasil (fala em nome do Brasil). A pessoa jurídica
age por meio dos seus presentantes (aqueles que a tornam presente no mundo jurídico).

(13/04/09)

Curador especial: essa palavra nos remete à idéia de representante. Curador é um representante
de incapaz processual. O curador designado na interdição cuidará da vida do interdito toda, praticando
todos os atos em nome deste. O curador especial não se confunde com o curador geral. O curador
especial é representante em apenas um determinado processo. É um representante ad hoc, que significa
“para isso”. Portanto, recebe este nome porque ele é o representante de um incapaz processual em um
determinado processo. Tem natureza de representante processual. Ele não é parte. A parte é o
curatelado. Ele é o representante da parte.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
É o defensor público quem tem de exercer as funções do curador especial, numa função atípica
da Defensoria Pública, porque ela não está relacionada especificamente à insuficiência econômica; é
uma atuação dada pela lei orgânica da Defensoria. Se não houver defensor público, o juiz pode designar
qualquer pessoa capaz para ser curador especial, mas normalmente os juízes designam um advogado,
porque a pessoa terá que ter um advogado também.
A curatela especial é um dever. O curador especial tem o dever de defender o curatelado. Se ele
não praticar os atos de defesa do curatelado, o juiz pode destituí-lo e designar outro. Não é uma
faculdade. A curatela especial é um múnus público, uma função pública. O curador não pode dispor dos
direitos do curatelado, mesmo porque não é parte, mas sim, representante. O curador especial pode
praticar todos os atos de defesa do curatelado (ex.: contestar, recorrer), o que inclui até mesmo entrar
com embargos à execução (isto é uma questão já pacificada há muito tempo! Conforme a Súmula 196,
STJ, pode entrar com MS contra ato judicial), mas não pode reconvir, porque a reconvenção não é
defesa, é ataque.
Os casos em que o curador especial tem que ser nomeado (são 4 e estão todos no art. 9º, CPC):
a) quando o incapaz não tiver representante legal (I);
b) quando o incapaz estiver em conflito com o seu representante (I); Ex. espólio, representado
pelo inventariante, que era a viúva. A viúva ajuizou ação contra o espólio. Necessário nomear curador
especial, uma vez que estava em conflito com sua representante.
c) quando o réu revel for citado por edital ou com hora certa (mesmo que ele tenha advogado,
segundo o texto legal). São citações fictas, não há certeza que o réu foi cientificado, por isso a
necessidade de nomear curador especial. Revelia decorrente de citação por edital ou por hora certa não
produz efeitos.
d) em caso de réu preso (aqui não se fala de revelia!). Ocorre que esta última hipótese não é
aplicada na prática, nenhum juiz designa curador especial só porque o réu está preso, porque ele pode
ser capaz de se defender, ainda que esteja preso (tendo os melhores advogados, inclusive). O juiz só
nomeará ao réu preso o curador especial se entender que ele se encontra numa situação de fragilidade
processual, ou seja, se houver realmente a necessidade de nomear curador especial.

Capacidade processual das pessoas casadas

O sujeito pode ser capaz civilmente, mas não ser processualmente. As pessoas casadas, que são
civilmente capazes, sofrem restrições em sua capacidade processual.
A matéria está no art. 10, CPC e está dividido em 3 sub-itens:

1) capacidade processual das pessoas casadasno pólo ativo: ☺caput do art. 10, CPC – um
cônjuge somente pode propor uma ação real imobiliária se o outro consentir, se o outro der o seu
consentimento. Não quer dizer que ambos os cônjuges tenham que propor conjuntamente, isso pode
acontecer, mas não há necessidade de ambos irem conjuntamente; um pode ir sozinho, desde que o outro
consinta. O art. 10 não diz respeito a litisconsórcio ativo necessário. A necessidade é do consentimento.
Essa exigência não se aplica aos casos de separação absoluta. Consentimento, outorga ou autorização
são atos jurídicos que podem ser dados de forma livre. O CC/16 já exigia o consentimento. O CPC
apenas ratifica o que o direito material determina. Já o CC/02 inovou o regramento, havendo
repercussão no art. 10, CPC. O art. 1647, CC é um reflexo do art. 10, CPC, mas há uma diferença, que
prevê que nos casos de separação absoluta não há necessidade de consentimento. Esta mudança do CC
tem grande repercussão no processo civil. Além da repercussão no art. 10, CPC, há repercussão nos
casos de penhora de imóvel, em que deve haver intimação do cônjuge, exceto se casado em separação
absoluta. Esta é uma novidade do CC, art. 1.647 (não há no CPC).
Como se trata de consentimento, a falta de consentimento do cônjuge pode ser suprida pelo juiz
em duas situações: a) se o cônjuge não puder dar o consentimento (ex.: coma, guerra, etc.); b) quando a
negativa de consentimento for injusta - ☺art. 11, CPC e art. 1.648, CC. Questão: essa exigência de
consentimento se aplica à união estável? Não há regra, portanto, é o caso de aplicação por analogia. Há
quem defenda que, sendo uma norma para a proteção do patrimônio imobiliário da família, é razoável
67
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
que a norma se estenda à união estável; mas há quem defenda que a norma não pode ser estendida à
união estável porque esta união é informal, não havendo como saber em que dia teve início, não sendo,
pois, possível controlar a partir de quando seria necessário consentimento. A informalidade da união
estável impediria a aplicação da norma por analogia. Não há manifestação da jurisprudência e também
ainda não há doutrina majoritária. O prof. entende que se nos autos do processo houver notícia da
existência da união estável, e é um fato incontroverso, será necessário, por uma questão preventiva, ou
seja, para evitar que se discuta a falta de consentimento do companheiro depois, que ele participe.
Questão de aprofundamento na matéria: o juiz pode controlar de ofício a falta de consentimento?
O prof. entende que não, porque este é um problema do cônjuge preterido, não é uma questão de ordem
pública, mas sim privada; só o cônjuge preterido tem legitimidade para requerer a invalidação do ato.
Foi o próprio CC que disse isso ao restringir a possibilidade de invalidar pela falta de consentimento à
provocação do cônjuge preterido, em seus arts. 1.649 e 1.650. Em suma, diante da demanda sem
consentimento, o juiz deve intimar o cônjuge preterido para que tome ciência do ato e tome as
providências que achar devidas.

2) capacidade processual das pessoas casadas no pólo passivo: ☺art. 10, §1º, CPC – no pólo
passivo, nos casos que estão nesse dispositivo, os cônjuges têm de ser citados em litisconsórcio
necessário (aqui sim, se pode falar em litisconsórcio necessário, que se impõe nos 4 casos ali previstos).
Os 4 casos desse dispositivo devem ser divididos em dois grupos:
a) incisos I e IV. Os incisos I e IV seguem a regra do caput, cuidam de ações reais imobiliárias,
ou seja, em ações reais imobiliárias propostas contra os cônjuges, é preciso citar ambos.
b) incisos II e III. Os incisos II e III cuidam de obrigações solidárias entre os cônjuges, nas quais
o credor poderia cobrar de um só (é a regra geral), mas nesses casos, por envolverem cônjuges, elas
gerarão litisconsórcio necessário – são: as obrigações solidárias decorrentes da prática de ato ilícito, se
ambos os cônjuges praticam ato ilícito, ambos respondem solidariamente em litisconsórcio necessário; o
inciso II deve ainda ser combinado com os arts. 1.643 e 1.644, que dizem que dívida contraída pelo
cônjuge a bem
fóssil. Ele da família,
significa que se para a economia
estiver cobrando doméstica,
uma dívidaobriga ambos,
contraída solidariamente.
por qq dos cônjuges (O inciso
a bem da III é um
família,
ambos devem ser citados. Aplicam-se aqui os art. 1643 e 1644, CC).

3) ☺art. 10, §2º, CPC – que cuida da capacidade dos cônjuges nas ações possessórias; se for
possessória no pólo ativo, exige o consentimento; se for no pólo passivo, litisconsórcio necessário. Ou
seja, segue o padrão. Mas o problema é que isso não ocorre em todas as possessórias, essas
peculiaridades só se aplicam a duas espécies de possessórias: possessória quando houver composse ou
quando se tratar de possessória que discuta ato praticado por ambos os cônjuges.

Capacidade Postulatória: alguns atos processuais exigem que a parte tenha uma especial
capacidade técnica para praticá-los. São os atos processuais postulatórios, e a capacidade é a
postulatória. A capacidade postulatória, em regra, é atribuída aos advogados, defensores públicos e
membros do MP. Eles é que podem praticar os atos postulatórios. Os outros não podem, têm que
contratar advogado que têm capacidade técnica para demandar em juízo.
Há casos, porém, em que leigos têm capacidade postulatória, porque a lei atribui a eles essa
capacidade técnica. Nesses casos, não se dispensa a capacidade postulatória. O que se faz é atribuir
capacidade postulatória ao leigo. Exemplos: para interpor HC; nas ações dos Jesp´s Cíveis nas causas até
20 SM em primeira instância; na Justiça do Trabalho; o Governador do Estado tem capacidade
postulatória para ADI e ADC (esse é o entendimento do STF); se na comarca não houver nenhum
advogado; se na comarca todos os advogados recusarem sua causa (☺art. 36, CPC). Há outras hipóteses
ainda, como o caso da ação de alimentos, mas apenas para se pedir (e só para pedir) alimentos, o leigo
tem capacidade postulatória para pedir alimentos (o juiz concede os alimentos provisórios e para a
continuidade da causa será preciso constituir advogado); e, ainda, a mais nova das hipóteses, prevista na
Lei Maria da Penha, em que a mulher pode pedir as medidas protetivas sem advogado (mas

68
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
posteriormente será necessário constituir advogado). Ver no site do professor o artigo: “Aspectos
processuais civis da lei Maria da Penha”.

Questões polêmicas:

- O estagiário da OAB é um relativamente incapaz, ele pode praticar os atos da advocacia,


assistido por advogado.
- Qual é a natureza do ato praticado por quem não tem capacidade postulatória?
Existe um problema no estudo da capacidade postulatória muito grave: há duas situações que as
pessoas confundem, mas que não têm nada a ver uma com a outra – ato praticado por quem não é
advogado (leigo) é nulo, porque praticado por agente incapaz (☺art. 4º, EOAB), é a situação em que
falta capacidade postulatória já que o ato foi praticado por quem não tinha capacidade para praticá-lo. E
é porque a falta de capacidade postulatória gera nulidade é que ela é um pressuposto de validade. Agora,
um outro caso, completamente diferente, é o do ato praticado por advogado sem procuração, que é um
ato praticado por uma pessoa capaz; o problema desse segundo caso, portanto, não é a falta de
capacidade postulatória, mas sim a falta de procuração, ou seja, a falta de prova de que aquele advogado
foi constituído para aquele ato. As pessoas confundem essa segunda situação com a primeira, afirmando
ser caso de falta de capacidade postulatória, mas não é. O ato praticado por quem é advogado, mas não
tem procuração é um ato existente, válido, mas ineficaz ao suposto cliente (não vai produzir efeitos ao
suposto cliente). Mas é um ato que pode ser ratificado pelo cliente. Se o cliente pode ratificar o ato, é
porque o ato existe (não se pode ratificar o que não existe). A solução para esse caso está prevista no art.
662, CC: neste caso, a natureza desse ato é de ineficácia.
O CPC, porém, cometeu um erro grave em seu art. 37, P.U., que cuida exatamente dos atos
praticados por advogados sem procuração, ao dizer que os atos, não ratificados no prazo, serão havidos
por inexistentes, respondendo o advogado por despesas e perdas e danos. É um absurdo, porque se o ato
pode ser ratificado não poderia ser inexistente, e, ainda por cima, é um ato inexistente que produz o
efeito
efeitos)de– condenar o advogado
trata-se, pois, em técnico
de um erro perdas grosseiro
e danos (ée, um
por “nada” que se
causa desse pode ratificar
dispositivo e que autores
que alguns produz
(ex.: Tereza Wambier) colocam a capacidade postulatória como pressuposto de existência. Ocorre que
isso não tem nada a ver com falta de capacidade postulatória e, mesmo assim, o ato não pode ser
inexistente, já que pode ser ratificado. Para o professor, esse dispositivo foi revogado pelo CC/02. O art.
37, P.U. não cuida de capacidade postulatória, mas de falta de procuração.
Para piorar a situação o STJ entendeu o seguinte: Súm. 115, STJ:na instância especial é
inexistente o recurso interposto por advogado sem procuração nos autos – ou seja, a súmula reproduz o
P.U. do art. 37, CPC, sem qualquer análise crítica.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 LITISCONSÓRCIO:

 Conceito e Classificações:

Há litisconsórcio quando houver uma pluralidade de sujeitos em um dos pólos do processo.

→ A classificação mais simples é a que divide o litisconsórcio em:


a)
b) ativo: quando
passivo: ocorre
quando no no
ocorre pólo ativo;
pólo passivo;
c) misto: quando ocorre em ambos os pólos.

→ A segunda classificação é a que divide o litisconsórcio em:


a) Inicial: é aquele que se forma concomitantemente à formação do processo;
b) Ulterior ou superveniente: é aquele que surge durante a existência do processo (não nasce com
ele); ele deve ser encarado como algo excepcional, extraordinário, pois ele atrapalha o processo.
Existem 3 fatos que podem gerar litisconsórcio ulterior: I) conexão, que gera a reunião dos processos,
podendo surgir um litisconsórcio; II) sucessão, antes havia um só sujeito que morre e em seu lugar
entram seus herdeiros (mais de um); III) intervenções de terceiro, que também podem gerar
litisconsórcio ulterior (nem sempre geram, mas podem gerar), como, por ex., ocorre com o chamamento
ao processo, a denunciação da lide, a oposição etc.

→ A terceira classificação é a que divide o litisconsórcio em:


a) unitário e
b) simples ou comum.
Observações:
1) Trata-se de uma classificação do litisconsórcio de acordo com o direito material discutido. É o
direito material discutido é que determina se o lit. é unitário ou simples. É aquilo que se discute no
processo.

2) Há litisconsórcio unitário quando o juiz tiver de dar a mesma decisão de mérito para todos os
litisconsortes. Não há como a decisão de mérito não ser a mesma. Se o juiz tiver de decidir o mérito, terá
de fazê-lo contra todos ou a favor de todos igualmente, já que a relação é indivisível, não admitindo
soluções diferentes (é o direito material que impõe isso). Por isso, o litisconsórcio unitário é uma figura
esdrúxula.

3) Há litisconsórcio simples quando a decisão de mérito puder ser diferente para os


litisconsortes.

4) Método científico de identificação do litisconsórcio unitário:


O professor desenvolveu um método de identificação do litisconsórcio unitário (“MILU”) que é
infalível. Segundo ele, devemos olhar o caso e fazer as seguintes duas perguntas nesta exata ordem:
a) Os litisconsortes estão discutindo quantas relações jurídicas? Se X (nº de relações
jurídicas que eles estão discutindo) for > que 1 (se estiverem discutindo mais de uma relação jurídica), o
litisconsórcio é simples (e nem será preciso passar à segunda pergunta). Se X for = a 1 (se eles estiverem
discutindo uma relação jurídica), passa-se à segunda pergunta;
b) Esta única relação jurídica discutida é indivisível? Se a resposta for sim, é indivisível,
estamos diante do litisconsórcio unitário (que é exatamente isso: dois ou mais sujeitos discutindo em

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
juízo uma única relação jurídica que é indivisível); mas, se essa relação for divisível, o litisconsórcio é
simples.

5) Sempre que houver litisconsórcio unitário haverá legitimação concorrente, porque mais de
uma pessoa está em juízo discutindo a mesma coisa. Ou seja, o LU pressupõe que haja legitimação
concorrente (que seja possível que mais de um sujeito possa discutir uma mesma relação em juízo).

6) Questão: Vários segurados da previdência pedem o reajuste de seus benefícios em


litisconsórcio; ou vários correntistas pedem o reajuste de suas contas correntes; ou vários servidores
públicos pedem reajuste salarial; ou vários consumidores requerendo a mesma coisa, etc. – é o caso de
litisconsórcio em ações repetitivas – neste caso X > 1 (X = Y, que é o nº de litisconsórcio), ou seja, o nº
de relações jurídicas nesse caso é o nº de litisconsórcios existentes. A decisão pode ou não ser a mesma
para todos. Cada um tem uma relação jurídica diferente com o banco; um deles pode fazer um acordo,
por ex. E só a possibilidade de serem decisões diferentes já torna o litisconsórcio simples. Litisconsórcio
em causas repetitivas (ex. poupança, FGTS, reajuste de benefício, não pagar determinado tributo, etc.) é
sempre simples.

7) Caso de uma criança e do MP em litisconsórcio numa ação de alimentos. Aqui temos um


legitimado ordinário, que é a criança, e um legitimado extraordinário, que é o MP. A decisão é única
para ambos. Trata-se de LU. Sempre que um legitimado ordinário estiver em litisconsórcio com um
extraordinário, o litisconsórcio será unitário.

8) Hipótese de dois legitimados extraordinários de ações coletivas, ou dois cidadãos em uma


ação popular, ou duas associações em uma ACP, propõe uma ação. Nesse caso, trata-se de um LU. Aqui
não há exceção. Podemos gravar como regra: sempre que houver litisconsórcio entre legitimados
extraordinários para a tutela coletiva, será caso de LU. Até porque o direito em jogo não é dos
legitimados, mas de uma
mas da coletividade. coletividade
Os direitos (trata-se
coletivos de ação
são sempre coletiva) e a solução que se der não será deles,
indivisíveis.

9) MP propõe ação de anulação de casamento contra marido e mulher. É o caso de LU, o


casamento será anulado para ambos. Imagine que alguém entre com uma ação para anular um negócio
jurídico do qual fazem parte dois sujeitos. Esses dois sujeitos serão litisconsortes passivos dessa ação
anulatória proposta pelo terceiro. X=1; a relação é indivisível (não é possível anular o negócio para uma
parte e não anular para outra). Trata-se de LU.
Dica: se é ação constitutiva e tem litisconsórcio, tudo indica que se trata de LU.
A ação pauliana é uma ação em que há LU, seguindo o entendimento de que é ação constitutiva.

10) Dois credores solidários cobrando em juízo o crédito solidário: X=1 (discute-se apenas uma
relação jurídica, pois, a obrigação solidária é uma só). E agora, essa uma relação jurídica é indivisível ou
não? Aqui há um problema, porque a obrigação solidária pode ser divisível ou indivisível. Se for para
entrega de uma coisa infungível, será indivisível; se for para entregar dinheiro, por ex., será divisível.
Assim, pode ser caso de litisconsórcio unitário ou não. Atenção: a solidariedade não implica
unitariedade (não necessariamente, somente se a obrigação solidária for indivisível)! Não basta que a
relação seja uma (única), ela tem que ser indivisível.

Depois que se descobre se o litisconsórcio é unitário ou simples, será preciso definir qual será o
regime de tratamento dos litisconsortes. Ou seja, como os litisconsortes devem tratar-se reciprocamente.
E esse regime de tratamento dos litisconsortes variará conforme o litisconsórcio seja unitário ou
simples.)

71
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
11) Existe uma classificação que a doutrina faz dos atos das partes, dividindo os atos das partes
em: condutas determinantes e condutas alternativas.
As condutas determinantes são aquelas que colocam a parte que a pratica em uma situação
desfavorável. São elas: confessar, desistir, não contestar, não recorrer, renunciar.
As condutas alternativas, por sua vez, são aquelas que visam a uma situação favorável; tem por
objetivo colocar o litisconsorte numa situação favorável (é o reverso da conduta determinante). São elas:
recorrer, contestar, alegar.
Há 3 regrinhas que relacionam essas condutas ao litisconsórcio:
a) A conduta determinante de um litisconsorte não prejudica o outro; no litisconsórcio simples,
a conduta prejudicará ao próprio litisconsorte que a praticou; no litisconsórcio unitário, a
conduta não prejudicará nem ao menos ao litisconsorte que a praticou – como a decisão tem
que ser a mesma, ou todos os litisconsortes praticam a conduta e ela a todos aproveita ou
prejudica, sendo assim eficaz, ou, não produzirá efeitos.
b) No LU, a conduta alternativa de um beneficia a todos (se um recorre, isso ajuda os outros
litisconsortes).
c) No LS, a conduta alternativa de um não beneficia o outro. Atenção: existe um princípio,
chamado de Princípio da Aquisição Processual da Prova ou da Comunhão da Prova, segundo
o qual a prova uma vez produzida, pertence ao processo e não a quem a produziu. Assim,
como a prova passa a pertencer ao processo, pode ser que ela sirva a qualquer litisconsorte,
simples ou unitário (qualquer um poderá dela se valer). Ou seja, é um caso em que uma
conduta alternativa (produzir prova) pode beneficiar a outro litisconsorte, mesmo que o
litisconsórcio seja simples. ☺art. 48, CPC: salvo disposição em contrário, os litisconsortes
serão considerados, em suas relação com a parte adversa, como litigantes distintos: os atos
e as omissões de um não prejudicarão nem beneficiarão os outros . Este dispositivo se aplica
bem ao LS, mas não se aplica ao LU, porque as condutas alternativas, neste se comunicam,
beneficiam os demais.

12) À época do CPC de 39, a doutrina costumava fazer uma outra classificação do litisconsórcio,
que já caiu em desuso, mas que à época era muito famosa, chamada: “as 3 figuras do litisconsórcio” –
litisconsórcio por comunhão; litisconsórcio por conexão; ou litisconsórcio por afinidade.
Essa tripartição era de acordo com o nível de proximidade, de vínculo dos litisconsórcios. Era
uma ordem decrescente de vinculação: comunhão (litisconsórcio que discute a mesma questão – igual
ocorre com o LU: o), depois conexão (problemas distintos, mas ligados entre si – ex.: litisconsórcio
entre denunciante e denunciado na DL: o----o), depois por afinidade (problemas distintos, não ligados
entre si, individuais de cada litisconsorte, mas que são parecidos, afins: o o). Todo litisconsórcio por
afinidade é simples. E esse litisconsórcio por afinidade é o litisconsórcio das causas repetitivas
(segurados, contribuintes, correntistas de banco, consumidores, etc.).
A ordem decrescente de vinculação está expressa no art. 46, CPC: no inciso I fala da comunhão;
nos incisos II e III, da conexão; e no inciso IV, da afinidade.
Na época do CPC de 39, o réu tinha o direito de recusar a formação do litisconsórcio por
afinidade ativo. Por isso, se dizia que o litisconsórcio era recusável. Esse litisconsórcio recusável foi
também chamado de litisconsórcio facultativo impróprio, porque embora a lei permitisse a sua
formação, o réu poderia recusá-lo.
Pergunta: esse litisconsórcio permanece sendo recusável?
O Código de 73 aboliu a possibilidade de recusa do litisconsórcio pelo réu.
A partir do final da década de 70, e início da década de 80, as pessoas passaram a ter mais acesso
ao poder judiciário. Começou a surgir um fenômeno que até então não existia: o litisconsórcio
multitudinário (que é o litisconsórcio de multidão). Este fenômeno começou a ocorrer no litisconsórcio
por afinidade. Assim, um vínculo que não é tão sólido, como no litisconsórcio por afinidade, começou a
dar srcem a um litisconsórcio de centenas de pessoas, as quais teriam os mesmos prazos.
Isso começou a gerar um problema, em função do qual, começou-se a disseminar a idéia de
retorno do litisconsórcio recusável (litisconsórcio facultativo impróprio). Assim, resgataram,

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
revigoraram o litisconsórcio recusável, (para permitir que o réu pudesse recusar o litisconsórcio por
afinidade multitudinário), só que em outros termos, não nos mesmos previstos no código de 39.
☺P.U. do art. 46, incluído em 1994: torna novamente possível o litisconsórcio recusável – “O juiz
poderá limitar o litisconsórcio facultativo (por afinidade) quanto ao número de litigantes, quando este
comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a defesa. O pedido de limitação interrompe o
prazo para resposta, que começa da intimação da decisão”.
No entanto, houve uma grande mudança em relação ao código de 39: agora o juiz pode recusar o
litisconsórcio de ofício ou a requerimento do réu (no código de 39 só podia ocorrer diante do
requerimento do réu); ademais, a recusa agora tem que ser motivada.
Obs.: tem que haver motivação específica. Só se justifica a limitação do litisconsórcio facultativo
(simples, por afinidade), no pólo ativo, se ele comprometer a rápida solução do litígio ou dificultar a
defesa.
A decisão que limita é interlocutória, impugnável por agravo de instrumento.
É o juiz que estabelece o número e fraciona o processo em tantas outras demandas. Ocorre uma
fragmentação do processo.
Atenção: o réu pode pedir a limitação do litisconsórcio, e é muito importante lembrar que o
pedido do réu para limitar o litisconsórcio interrompe o prazo de defesa (e não suspende). Depois que o
juiz decidir se haverá ou não a limitação, o prazo começará a correr de novo integralmente do início.

→ A quarta e última classificação do litisconsórcio é a que o divide em:


a) necessário; e
b) facultativo.

O litisconsórcio necessário é aquele litisconsórcio de formação obrigatória; o processo, neste


caso, tem que se formar em litisconsórcio. Já o facultativo é aquele cuja formação é opcional.
O conceito nesse caso é muito simples. O mais complicado é saber quando o litisconsórcio será
ou não obrigatório.
O art. 47, CPC diz que o litisconsórcio será necessário quando for unitário ou quando a lei o
disser, ou seja, por expressa previsão legal.
O legislador estabeleceu uma regra geral (se o litisconsórcio for unitário ele será necessário), e,
ainda, disse que ele também o será por força de lei, em alguns casos.
Assim, existe uma subclassificação do litisconsórcio necessário: o litisconsórcio necessário
unitário e o litisconsórcio necessário por força de lei.
Esta divisão foi colocada pelo código, mas ela traz uma série de problemas. Por isso não basta
decorar a regra, que é apenas um ponto de partida.
Vejamos algumas considerações a respeito:
Quando se tratar de litisconsórcio por força de lei, este litisconsórcio será unitário ou simples? Se
fosse unitário não precisaria a lei fazer essa especificação. Assim, a primeira consideração a fazer é a de
que o litisconsórcio necessário por força de lei tende a ser simples!
Pergunta que cai muito em concurso: todo litisconsórcio necessário é unitário? Não! Existe
litisconsórcio necessário simples – aquele que é necessário por força de lei. Ex.: litisconsórcio na ação
de usucapião. Portanto, nem todo litisconsórcio necessário é unitário, pois existe o necessário simples
por força de lei.
Segunda consideração: não existe litisconsórcio necessário ativo. Uma pessoa não pode estar
condicionada a ir a juízo apenas se alguém for juntamente com ela. E mais: quem não quer demandar
não pode estar obrigada a ir a juízo. Trata-se de uma impossibilidade jurídica, uma incompatibilidade
com o nosso sistema que garante o acesso à justiça (acesso este que não pode ser limitado só porque
uma outra pessoa não quer ir a juízo). Portanto, sempre que o unitário for ativo, ele será facultativo. Ex.
legitimados à Ação coletiva: litisconsórcio unitário facultativo.

(20/04/09)

73
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

Mas isso não é tão simples: Nelson Nery tem um entendimento de que existe litisconsórcio ativo
necessário. E este entendimento (por ser de quem é) seduz muita gente. Mas o prof. não concorda.
Segundo Nelson Nery, aquele que se nega a ir a juízo com outrem viraria réu (faria parte do processo
como réu, já que o que importa é que ele faça parte do processo). O que ele quer dizer é que A e B têm
que estar no processo e não precisaria que fosse em litisconsórcio, poderia ser um como autor e outro
como réu. (pouco importa se B estará no pólo ativo ou passivo, o que importa é que B esteja no
processo.) Mas isso, segundo o prof. só vem provar que o litisconsórcio necessário ativo não existe.
Situações como essa podem ser resolvidas de outra maneira, se o litisconsórcio ativo for unitário e não
se formar, o juiz pode intimar os possíveis litisconsortes para que tenham ciência do processo e tomem
as providências que entenderem cabíveis; isso não significa que serão réus. Para o prof. o possível
litisconsorte unitário tem que ser cientificado e não colocado como réu.

Outra consideração: a EC 45 criou um dispositivo na Constituição, o §2º do art. 114, segundo o


qual “Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado as mesmas,
de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica (...)” – ou seja, os sindicatos só
poderiam propor um dissídio coletivo de comum acordo. Assim, tem doutrinador entendendo que esse
dispositivo exige um litisconsórcio necessário ativo, o que seria um absurdo! Se é um dissídio, como é
que eles poderiam entrar em acordo? Foi um dispositivo muito mal redigido e já há contra ele algumas
ADIs.
Outra questão: na separação consensual o que se exige é que ambos assinem o acordo de
separação (é um negócio jurídico bilateral), mas não é necessário que os dois proponham a separação!
Não se trata de litisconsórcio necessário.
A doutrina é um pouco tímida ao enfrentar esse tema. Por isso, há uma disputa equilibrada entre
os que seguem o pensamento de Nelson Nery e os demais. Há pouco tempo, porém, o STJ decidiu no
sentido de que não há litisconsórcio necessário no pólo ativo. Ademais, existe uma súmula do TST que

édizfacultativo
expressamente issonão
(...) pois, – ☺Súm.
se pode406, inciso I, TST
condicionar – “(...) do
o exercício Já em relação
direito ao pólodeativo,
individual um doso litisconsórcio
litigantes no
processo srcinário à anuência dos demais (...) ”.
Assim, podemos guardar a seguinte premissa: já que não existe litisconsórcio necessário ativo,
todo litisconsórcio unitário ativo será facultativo.
O código diz que todo litisconsórcio unitário será necessário. Mas nós já concluímos que o
litisconsórcio unitário ativo será facultativo. Exs.: condôminos, legitimados de uma ação coletiva, etc.
O litisconsórcio facultativo unitário exige que seja caso de litisconsórcio no pólo ativo. Até
existe no pólo passivo, mas é tão raro que não vale a pena lembrar o exemplo. É melhor lembrar que o
litisconsórcio facultativo unitário está no pólo ativo.
Pergunta: todo litisconsórcio unitário é necessário? Não! Existe litisconsórcio unitário
facultativo, desde que no pólo ativo!
Todo litisconsórcio facultativo é simples? Não! Porque existe litisconsórcio facultativo unitário
no pólo ativo.
Todo litisconsórcio simples é facultativo? Não! Existe simples necessário, quando se tratar de
litisconsórcio necessário por expressa previsão legal.
☺Esquema:
Obs.:
N U - Nem todo N é U porque existe NS, quando a lei disser;
- Existe FU? Sim, no pólo ativo.
- FS é a regra (litisconsórcio por afinidade).
F S - NU: ocorre quando a unitariedade estiver no pólo passivo (se a
unitariedade está no pólo passivo o litisconsórcio é necessário – se
ela estiver no pólo ativo o litisconsórcio será facultativo).

74
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

Reflexão:
Se o litisconsórcio é unitário facultativo, pode ser que ele não se forme. Isso acontecendo surge
um problema: como há unitariedade, a decisão tem que ser a mesma para todo mundo. Mas pode ter
acontecido de alguém não estar fazendo parte do processo, já que o litisconsórcio é facultativo.
Aí surge a seguinte pergunta: A decisão proferida no processo, em que não participou um
possível litisconsorte unitário, o atinge?

Há duas correntes doutrinárias muito sólidas que respondem a essa questão:


- Uma primeira, de Barbosa Moreira, afirma que a coisa julgada vai atingir um possível
litisconsorte unitário, em razão da unitariedade (já que a solução tem que ser a mesma para todos). É o
caso de coisa julgada ultra partes (que atinge terceiros). É a corrente adotada pelo professor. É um caso
semelhante à legitimação extraordinária, em que a coisa julgada atinge o substituído. Quando a lei diz
que qualquer um pode intentar uma ação coletiva, ela está dizendo que a decisão valerá por todos. Por
isso, que é necessária a intimação dos interessados, para que possam se manifestar.
Mas há também uma segunda corrente, de Liebman, que defende que a coisa julgada não atinge
um possível litisconsorte unitário porque ele é um terceiro, pouco importando que haja a unitariedade.
Esta corrente é seguida por Talamine e era a corrente seguida por Ada P. G., mas que mudou de uns
cinco anos pra cá (ela passou a adotar a corrente de Barbosa Moreira).
Na jurisprudência não há corrente majoritária.

Qual é a conseqüência da falta de citação de um litisconsórcio necessário? A resposta varia


conforme seja litisconsórcio necessário ou simples:
- O litisconsorte necessário unitário não foi citado: para a corrente adotada pelo professor, a
sentença será nula. Para a corrente da PUC, a sentença será inexistente.
- Opara
e ineficaz litisconsorte necessário
aquele que simples não foi citado: a sentença é válida para aquele que foi citado
não foi citado.

OBS. sobre litisconsórcio alternativo, eventual e sucessivo (que são todos exemplos de
litisconsórcio facultativo), ver páginas a frente.

Temas afins ao litisconsórcio:

 Intervenção I ussus I udicis :

É uma intervenção de terceiro no processo por determinação, provocação do juiz. O juiz traz um
terceiro ao processo, para que ele passe a fazer parte do processo.
No código de 39 havia previsão expressa sobre essa intervenção, e com alguma amplitude: o
juiz, pelo CPC de 39, poderia trazer ao processo o terceiro que ele achasse conveniente. Era uma
possibilidade muito ampla.
Veio o CPC de 73 e eliminou o art. que previa esta intervenção, não prevendo regra semelhante.
A norma equivalente está no parágrafo único do art. 47, CPC. Assim, logo que saiu o CPC de 73, houve
quem dissesse que a intervençãoiussus iudicis havia acabado, que não existia mais. Houve, porém quem
dissesse que a intervenção iussus iudissis tinha sido redimensionada pelo P.U. do art. 47 seria hoje a
intervenção iussus iudissis – “O juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos os litisconsortes
necessários (...)” – assim, teria havido uma redução: o juiz não pode mais trazer qualquer um ao
processo (previsão genérica), mas só o litisconsorte necessário não citado (previsão específica).
O tempo passou e a prática forense e a doutrina começou a revelar uma necessidade de autorizar
o magistrado a trazer ao processo outro sujeito, além do litisconsorte necessário não citado, como uma
75
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
forma de proteger a economia processual. Ou seja, a prática começou a revelar a necessidade de se
resgatar a intervenção iussus iudicis no modelo do código de 39, que era mais amplo em alguns casos,
como, por exemplo, nos casos de litisconsórcio facultativo unitário, em que o cônjuge é preterido nos
casos de ação real imobiliária. O juiz, para proteger o processo contra eventuais discussões, intima os
possíveis litisconsortes unitários, para que eles tomem ciência da existência do processo e tomem as
providências que entenderem cabíveis, para que depois esses não digam que não sabiam da existência do
processo.
Ex.: se um só condômino propor a ação, o juiz intimará os demais para que entrem no processo
na condição que lhes aprouver.
É uma visão ampliada do P.U. do art. 47, CPC.
Parece com o pensamento do Nelson Nery visto acima, mas a diferença é que o possível
litisconsorte não é colocado como réu, e sim intimado para ingressar no processo como bem quiser.
Assim, a intervenção iussus iudicis revigorada pela jurisprudência acaba sendo uma ferramenta
para resolver o problema do litisconsórcio facultativo unitário. Ou seja, ela não se aplica apenas aos
casos de litisconsórcio necessário não citado (como previsto no P.U. do art. 47), mas também se aplica,
numa visão revigorada, aos casos de litisconsórcio facultativo unitário não formado – o que se justifica
pelo Princípio da Adequação.

 Intervenção Li tisconsorcial Voluntária:

Aparece na doutrina em duas acepções:


1ª) Como sinônimo de assistência litisconsorcial (que será estudada mais adiante);
2ª) Como sinônimo de litisconsórcio facultativo ulterior ativo simples – que será ora estudado.
Ex.: contribuinte que vai a juízo para não pagar um tributo, e outros vão pelo mesmo motivo;
consumidores; etc. Ou seja, pessoa que está numa situação semelhante a do autor.
Esse litisconsórcio surge, na prática, portanto, para os casos daqueles que pretendem entrar no
processo alheio, “pegando uma carona”. E geralmente o fazem depois que a liminar já foi concedida.
Isso não é possível! Seria uma burla ao Princípio do juiz natural – se estaria formulando uma
demanda no juízo que se quer (é uma escolha do juiz).
Assim, ela não é admitida.
Há quem a admita, como por ex., Cássio Scarpinella, Leonardo Greco, Cândido Dinamarco,
como uma homenagem aos Princípios da economia processual e da igualdade (é um pensamento
minoritário, mas significativo). Não veda a intervenção em tese, a análise deve ser analisada no caso
concreto. Se for revelada má-fé, será vedada.
O STJ tem várias decisões não admitindo este tipo de intervenção por violência ao Princípio do
juiz natural.

76
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 INTERVENÇÃO DE TERCEIRO:

 Conceitos Fundamentais:

Para compreender o fenômeno interventivo, devemos rever alguns conceitos fundamentais:

1) Parte: é o sujeito que está no processo, agindo com parcialidade, está agindo no contraditório.
2)
3) Terceiro: é quem
Intervenção não é parte;
de Terceiro: este é um
é o ingresso deconceito queem
um terceiro se toma por exclusão.
processo alheio, tornando-se parte. Passa
a fazer parte do processo alheio. Assim, as duas grandes características da intervenção de terceiro são:
ele pressupõe um processo que já exista, dentro do qual o terceiro ingressa; e o ingresso no processo
alheio se dá para que o terceiro se torne parte naquele processo. Como exemplo: isso é o que diferencia a
intervenção de terceiro de uma intervenção de uma testemunha, que embora interfira em processo
alheio, não se torna parte.
4) Processo incidente: é um processo novo que surge em razão de um processo já existente, mas
dele se desgarra e nele produz efeitos (a palavra incidente é um adjetivo). É um processo “filhote”, é
como se fosse um filho. Exs.: ação cautelar incidental, embargos de terceiro, mandado de segurança
contra ato judicial.
5) Incidente do processo: é procedimento novo que surge de um processo já existente, de modo não
necessário, para dele fazer parte (para a ele incorporar-se). Ele não tem vida autônoma, vive atrelado ao
processo de onde surgiu. Ele torna o processo de onde surgiu maior, mais complexo. Exs.: impugnação
ao valor da causa, reconvenção, exceção de incompetência relativa, exceção de impedimento,
designação de um perito, e as intervenções de terceiro.
Assim:
Toda intervenção de terceiro é um incidente do processo. Ou seja, toda intervenção de terceiro é
um procedimento novo que se incorpora ao processo e passa a fazer parte dele. Se é processo incidente,
não é intervenção de terceiro. Por isso que embargos de terceiro não é intervenção de terceiro, mas sim
um processo novo. Para ser intervenção de terceiro é preciso que o terceiro “se meta” em um processo
que já existe.

 Fundamentos da Intervenção de Terceiro:

Por que autorizar que terceiro se meta em um processo alheio? Qual é a razão?
Todo processo, de alguma maneira, atinge terceiro (de forma sentimental, econômica, jurídica,
etc.). Sabendo que o terceiro pode sofrer alguma conseqüência em relação ao processo, o legislador
permite a sua intervenção.
Uma outra justificativa é a economia processual. As intervenções de terceiro funcionam,
sobretudo,
algum modocomo técnica
vão se para garantir
relacionar a economia
ao processo já façamprocessual,
parte desse jáprocesso,
que se permite quequestionamentos
para evitar pessoas que de
futuros.
O fundamento maior da Intervenção de Terceiro é, pois, prestigiar a economia processual, é fazer
que os vários problemas se resolvam num mesmo processo, já que o terceiro ficará vinculado à decisão
daquele processo.

 Classificação das Intervenções de Terceiro:

Uma primeira classificação é a que divide a Intervenção de Terceiro em:


77
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
a) Intervenção Espontânea: o terceiro pede para intervir; a intervenção de terceiro se dá pelo
pedido deste; é o caso da assistência, do recurso de terceiro e da oposição;
b) Intervenção Provocada ou Coacta: o terceiro é chamado a fazer parte do processo; ele é
trazido ao processo. É o que ocorre com o chamamento ao processo, na denunciação da lide e na
nomeação à autoria.

Uma segunda classificação é a que divide a intervenção de terceiro em:


a) Intervenção ad coadjuvandum: para ajudar as partes, para coadjuvar, auxiliar; como é o caso
da assistência;
b) Intervenção ad excludendum: para prejudicar, para excluir o que as partes querem; como é o
caso da oposição.

 Efeitos da Intervenção de Terceiro no processo:

O primeiro efeito, a primeira conseqüência da intervenção de terceiro é gerar no processo uma


nova parte.
Essa nova parte pode ampliar o rol de sujeitos do processo (o processo passa a ter mais um
sujeito – é o que acontece com a assistência), ou pode também substituir uma das partes srcinárias do
processo, não havendo, pois, uma ampliação das partes, mas sim uma mera alteração das partes (como
acontece com a nomeação à autoria).
Algumas intervenções de terceiro podem gerar também uma ampliação objetiva do processo: o
processo passa a ter um novo objeto, um novo pedido. Quando há ampliação objetiva do processo é
porque o processo passa a ter um novo pedido, e as intervenções de terceiros podem acarretar isso.
Assim, além do pedido que o processo já tinha, o processo passa a ter outro pedido. É o que ocorre, por
ex., com a denunciação da lide e com a oposição– o processo passa a ser maior, não só porque tem mais
sujeitos, mas porque houve a introdução de um outro pedido. Mas atenção, isso nem sempre ocorre. Por
ex., a assistência não gera a ampliação objetiva, mas tão só a ampliação subjetiva.

 Controle da Intervenção pelo Magistrado:

Toda intervenção de terceiro se submete ao controle jurisdicional. O terceiro não entra no


processo só porque quer e as partes deixam, é preciso, ainda, que o juiz a autorize. O juiz controla a
legitimidade do ingresso do terceiro em juízo. Sempre caberá a ele esse controle.
☺art. 51, CPC (que cuida da assistência): “Não havendo impugnação dentro de 5 dias, o pedido
do assistente será deferido (...)” – essa leitura dá a impressão equivocada de que se não houver
impugnação o pedido será deferido! É preciso que o pedido de intervenção se submeta ao crivo do juiz.
Não basta a concordância dos sujeitos processuais, é preciso que o juiz autorize a intervenção.

 Cabimento das Intervenções de Terceiro:

→ As intervenções de terceiro foram pensadas para o procedimento ordinário no processo de


conhecimento. Nesse procedimento ordinário do processo de conhecimento cabe qualquer intervenção
de terceiro.

→ Nos Jesp´s, por ex., não cabe qualquer intervenção de terceiro. Há uma proibição expressa
quanto a isso.

→ No Procedimento Sumário, por sua vez, admitem-se algumas modalidades de intervenção de


terceiro. São elas:
78
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- a assistência,
- o recurso de terceiro;
- a intervenção fundada em contrato de seguro.
Os dois primeiros exemplos são espécies de intervenção de terceiro. Já este último não é uma
espécie, mas sim um gênero de intervenção de terceiro: qualquer intervenção de terceiro fundada em
contrato de seguro.
As intervenções de terceiro que podem fundar-se em contrato de seguro são:
- a denunciação da lide; e
- o chamamento ao processo nas causas de consumo (☺art. 101, II, CDC).

As intervenções de terceiro na execução e no processo cautelar serão estudadas no Intensivo II.


As intervenções que são estudadas aqui são as intervenções no procedimento ordinário no processo de
conhecimento.

→ Nas ações de controle concentrado de constitucionalidade, (ADI, ADC e ADPF) a lei veda
expressamente a intervenção de terceiro. Por que a lei veda? Porque logo que a lei da ADI foi
promulgada, as pessoas (ex.: possível contribuinte) queriam intervir pra discutir a mesma questão (ex.:
inconstitucionalidade de um tributo). Se isso fosse possível seria o caos. Não se pode discutir interesse
particular num processo em que se discute direito em tese e que tem índole objetiva. Era um
entendimento consagrado na jurisprudência do STF e que passou a constar expressamente do texto legal
das leis 9.868/99 e 9.882/99.
No entanto, a doutrina pondera que não há como impedir que um co-legitimado possa intervir
numa ADI, ADC e ADPF. E esta ponderação doutrinária é interessante porque se um co-legitimado
pode propor a ADI, ele poderia intervir numa ADI já proposta (se ele for impedido de intervir, ele irá
propor uma ADI idêntica). A proibição seria inútil. A doutrina então diz que quem pode propor a ação
pode intervir num processo em que a ação é proposta, porque quem pode o mais pode o menos. É,
segundoAdemais,
o prof., uma ponderação
nessas ações secorreta.
admite a intervenção de um sujeito (que é um terceiro), o amicus
curiae, e quanto a isso não há controvérsia. Resta saber qual a natureza desse amicus curiae. Segundo o
próprio nome indica, ele seria um amigo da corte, do juízo, do tribunal. Alguém (que pode ser pessoa
física ou jurídica) que intervém no processo para auxiliar o órgão jurisdicional. Por isso, porque ele
intervém para auxiliar o órgão jurisdicional, o prof. entende que a sua intervenção não é uma
intervenção de terceiro, nos moldes que ora se estuda, já que se ele vem para auxiliar o juiz, ele não o
faz para ser parte e sim para ser auxiliar do juízo. Assim, não seria intervenção de terceiro, dentro do
conceito ora estudado (mas não deixa de ser uma intervenção de um terceiro).
Mas há quem entenda que essa figura seja sim uma intervenção de terceiro no sentido ora
estudado. Tanto o é que a maioria dos livros traz o estudo da figura dentro do capítulo de intervenção de
terceiro (o prof. mesmo o faz, mas justamente para dizer que não é uma espécie de intervenção de
terceiro). Cássio Scarpinella, em seu livro: “ Amicus curiae, um terceiro enigmático”, o define como uma
intervenção de terceiros.
O amicus curiae intervém para dar ao juízo mais elementos, mais subsídios, para oferecer ao
juízo uma outra visão do problema, de forma que a decisão do juiz possa ser mais justa, com uma visão
mais global, mais plural do problema. O amicus curiae é um instrumento que serve à pluralidade, serve
a tornar o processo mais plural, com mais visões, com mais elementos, dados, opiniões técnicas. É, pois,
uma técnica, um fator de legitimação democrática da decisão.
O juiz não fica obrigado ao que o amicus curiae disser, é mais uma opinião. O amicus curiae não
é um sujeito desinteressado. Na ADPF em que se discute a possibilidade de abortamento de anencéfelo,
a CNBB pediu para intervir no processo para mostrar a opinião da igreja. No julgamento da lei que
falava sobre pesquisa em células tronco, houve 76 amicus curiae.
O papel do amicus curiae ao longo dos tempos foi esse. É preciso, porém, estudar a evolução
histórica do instituto, que é muito importante:
Ate 1979 não havia a previsão do amicus curiae no Brasil. Em 1979 veio uma lei que
reformou uma lei de 1976 – a Lei 6.385/76 – que é a lei que cuida da CVM (Comissão de
79
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Valores Mobiliários), autarquia federal (agência reguladora) que cuida, que fiscaliza o mercado
de ações. Esta lei diz que em todo processo que tramite no Brasil em que se discuta matéria
relativa ao mercado de valores mobiliários, a CVM terá que ser intimada. Quando veio essa lei,
ninguém sabia para o que a CVM seria intimada. Então chegaram à conclusão de que ela seria
intimada justamente para ser um amicus curiae, para auxiliar o juízo nas questões relativas ao
mercado de ações (já que um juiz não tem conhecimentos suficientes para decidir sobre o
assunto). Esta foi a primeira previsão do amicus curiae no Brasil e trazia umas peculiaridades: é
uma intervenção obrigatória (imposta pela lei); na qual a própria lei já diz quem será o amicus
curiae e em que causas ocorrerá a sua intervenção.
Em 1994 veio a Lei 8.884, também conhecida como Lei de Proteção da Concorrência ou
LAT (Lei antitruste) que criou e regulamentou o CADE (Conselho Administrativo de Defesa
Econômica), autarquia federal que cuida da proteção da concorrência. Essa lei aplicou ao CADE
o que já existia para a CVM. Nos processos em que se discute matéria de competência do CADE,
ele terá que ser intimado a intervir e esta intervenção será a título de amicus curiae. Assim, o
tempo passou, mas o modelo permaneceu o mesmo até então: o legislador escolheu o amicus
curiae e impôs a sua intervenção.
Vieram então as leis 9.868 e 9882 de 1999 (da ADI, ADC e da ADPF), que
revolucionaram o assunto. Essas leis passaram a permitir a intervenção do amicus curiae e não a
impô-la. Inclusive trouxeram a previsão do amicus curiae espontâneo, que até então não existia.
Assim, a intervenção é permitida e não provocada. E as leis não dizem quem será o amicus
curiae, ele pode ser qualquer um que possa colaborar (pessoa física ou pessoa jurídica). A lei
exige apenas que seja alguém que tenha representatividade.
Foi a partir daí que começou a surgir a jurisprudência sobre o assunto. Hoje, por ex., se
diz que o amicus curiae pode fazer sustentação oral (antes a jurisprudência do STF não a
permitia, só o fez a partir de nov./2003). Atualmente, se vê amicus curiae em quase todos os
processos. Quando não há alguém que pede para intervir o relator geralmente o chama. O tempo
passa e asnoprevisões
prevista do amicus
procedimento curiae passam
de súmula a serem
vinculante, cada vez mais ampliadas.
julgamento de Resp. eHoje, a figura
de RO. está
Ou seja,
houve uma ampliação das hipóteses doamicus curiae, por previsão expressa de lei.
A partir de 2003, o STF passou a ser protagonista nas questões judiciárias. Isso se deve
aos ministros Gilmar Mendes, Barbosa Moreira, Peluso e Aires Brito. Os três últimos foram
indicados por Lula.
Logo após a posse desses ministros, em junho de 2003, especificamente, o STF julgou um
processo dos mais importantes de sua história: o HC impetrado por um cidadão do RS (caso
Elwanger), que tinha uma editora que só publicava livros contra os judeus. O MP do RS propôs
uma ação penal por racismo. O cidadão foi condenado. Ele então impetrou esse HC afirmando
que condutas anti-semitas não se encaixam no tipo racismo, que pressupõe raças distintas, e
judeu não é raça. Segundo ele, não existem raças humanas, portanto, o crime de racismo seria um
crime de objeto impossível. O STF examinou esse HC (nº 82.424) em uma decisão que ficou em
8 x 3, decidindo que o crime de racismo é um crime contra a intolerância (num acórdão muito
interessante, que inclusive gerou um livro – “racismo x anti-semitismo”). E até mesmo os 3 votos
vencidos são interessantes, porque em 2 deles não haveria crime não porque o judeu não seria
raça, mas porque o condenado estaria sofrendo uma ofensa à sua liberdade de expressão, de
pensamento. Nesse HC (ou seja, em processo penal) foi admitida a intervenção de amicus curiae
(sem autorização legal). Quem interveio como amicus curiae nesse processo foi o prof. Celso
Lafer, que é judeu, membro da Academia Brasileira de Letras, foi ministro de Fernando
Henrique, e é um grande estudioso dos direitos humanos e colaborou com o STF na explicação
do que era o racismo.

Ou seja, hoje em dia defende-se que cabe amicus curiae em qualquer processo. Assim, se
defende uma intervenção atípica de amicus curiae, não prevista em lei, desde que a causa seja
uma causa relevante e o amicus curiae tenha representatividade (ou seja, desde que ele possa
contribuir para a solução do problema). O ex. que se dá da aplicação dessa idéia de intervenção
80
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
atípica do amicus curiae (em qualquer processo) é o da intervenção em ações coletivas. Muito se
pergunta nos concursos se cabe amicus curiae nas ações coletivas. Se ela é coletiva, ela tem
impacto social e, portanto, cabe a intervenção do amicus curiae.
Em SC, houve uma ação coletiva envolvendo problemas ambientais. Essa ação, se fosse
acolhida, iria gerar um impacto tão grande (milhares de pessoas ficariam sem emprego), que o
juiz ficou com medo. Assim, ele determinou a oitiva de todo mundo a quem ele julgasse que o
poderia auxiliar. E ouviu a todos. Assim, ainda que não haja previsão expressa quanto a isso, é
possível a intervenção do amicus curiae nas ações coletivas.
Obs.: o amicus curiae não tem direito à honorários advocatícios ou periciais, sua
intervenção é gratuita; ele não pode recorrer (ele não é parte); se ele tiver interesse na causa
poderá intervir como assistente, se for o caso, mas como amicus curiae não é possível recorrer.

 Modalidades de Intervenção de Terceiro:

- Assistê
ncia:

Considerações gerais:

É uma intervenção de terceiro espontânea, que pode ocorrer em qualquer momento do processo,
pela qual o terceiro pretende aderir à pretensão de uma das partes. Por isso que a assistência não
introduz no processo pedido novo. O assistente adere ao pedido, às pretensões, já formuladas por uma
das partes. Portanto, a assistência apenas amplia subjetivamente a causa.
Ela pode ocorrer em qualquer dos pólos do processo – ativo ou passivo.
Para que alguém intervenha como assistente, é necessário demonstrar a existência de um
interesse jurídico na causa. Então, o terceiro não pode querer intervir como assistente, alegando interesse
econômico ou moral na causa. Ex.: o pai está sendo demandado, o filho quer intervir para ajudar o pai.
Isso não é permitido.
O que é interesse jurídico? É o assunto mais importante sobre assistência. Qual é o tipo de
interesse jurídico que justifica a intervenção como assistente? Esse interesse jurídico pode ser dividido
em 2 espécies: (e qualquer desses interesses permitem a intervenção como assistente)

a) interesse forte, direto ou imediato: refere-se à Assistência Litisconsorcial.


A = autor; B = réu; C = terceiro. A x B.
C pede para intervir e ser assistente de A, afirmando ao seguinte: juiz, A está discutindo com B
um direito que é meu. O objeto do processo atinge C diretamente. C faz parte da relação X. Se ele faz
parte de X, e X é a relação discutida, é claro que o interesse jurídico é forte, porque ele irá intervir num
processo em que se discute uma relação à qual ele pertence (que discute um direito de C). Ex.:
condômino que pede para intervir na ação proposta por outro condômino, já que ele também faz parte do
condomínio. Um outro exemplo: C é o substituído e A é o substituto processual. Neste caso, também há
interesse direto.
Também pode haver interesse forte se C for um co-legitimado à propositura da ação. Ele
intervirá alegando ser tão legitimado quanto a parte A, e ele quer, pois, intervir para ajudar A numa
demanda que ele mesmo poderia ter proposto. É o que acontece, por ex., nos casos de intervenção em
ADI (se uma entidade pode propor uma ADI, ela pode também intervir numa ADI já proposta), ou no
caso de uma associação que intervém numa ACP interposta pelo MP, já que ela também é co-legitimada
na mesma ação.
Esse interesse forte que acontece nesses dois casos gera a chamadaAssistência Litisconsorcial,
que recebe este nome exatamente porque o assistente se torna litisconsorte do assistido, ora porque é
sujeito da relação discutida, ora porque ele é co-legitimado. Trata-se de um litisconsórcio ulterior,

81
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
porque se forma com o processo em andamento, e é facultativo, porque é espontâneo. Pode ser ativo ou
passivo. E é unitário. A assistência litisconsorcial é um litisconsórcio unitário ulterior. Se o
litisconsórcio formado entre assistente e assistido for unitário, isso é uma assistência litisconsorcial.
(Algumas pessoas chamam de intervenção litisconsorcial voluntária).
Como a assistência litisconsorcial é um litisconsórcio facultativo unitário ulterior, ela acontecerá
mais no pólo ativo do processo, por uma razão simples: ela costuma aparecer no pólo ativo porque no
pólo ativo é onde está o litisconsórcio facultativo unitário. Quando o litisconsórcio é ativo ele tem que
ser facultativo (☺última aula). É por isso que a assistência litisconsorcial tende a aparecer no pólo ativo.
A relação entre a assistência litisconsorcial e o litisconsórcio unitário é íntima. Todo regime do
litisconsórcio unitário se aplica ao assistente litisconsorcial, que é parte no processo em pé de igualdade
com o assistido, já que ele também é um litisconsorte, juntamente com o assistido. O assistente
litisconsorcial se submete à coisa julgada. Se o possível litisconsorte unitário já se submete à coisa
julgada, assim também se submeterá o terceiro que interveio no processo.

(24/04/09)

b) interesse fraco, indireto, reflexo ou mediato: A demanda contra B, discutindo X. C é o


terceiro que quer intervir. Quando C vai intervir com interesse fraco ele dirá ao juiz que quer intervir
para ajudar B porque tem com B uma relação jurídica conexa àquela discutida em juízo, de modo que a
solução que se der na relação discutida (X) afetará essa relação conexa. O terceiro intervém não para
discutir um direito próprio, ele intervém para discutir uma relação de outrem (A e B), mas intervém
porque esta relação X de A com B está vinculada, tem uma conexão com uma outra relação da qual o
terceiro faz parte – C tem com B uma relação Y que está ligada à relação X – C tem um interesse
mediato, reflexo, já que a causa discute uma relação que reflexamente pode intervir em uma outra
relação Ex.:
da qual
casoeledofaça parte.
sublocatário numa ação de despejo: o sublocatário quer ajudar o inquilino porque se
este for despejado a sublocação cai. A relação de sublocação discutida não é de C, mas a relação que ele,
C, titulariza está intimamente ligada a esta sublocação discutida.
Ex.: funcionário intervém para ajudar a União numa determinada ação porque se a União for
condenada o funcionário poderá sofrer uma ação de regresso. Ele tem, pois, um interesse reflexo.
Nesse caso de interesse fraco, indireto ou mediato o assistente intervém para discutir relação de
outra pessoa. Porque o assistente intervém para discutir direito de outrem, ele é um legitimado
extraordinário. Ele estará no processo discutindo em nome próprio interesses de outro sujeito, portanto,
será um legitimado extraordinário. Mas ele será um legitimado extraordinário subordinado, porque ele
fica vinculado à vontade do assistido. Como o direito não é dele, ele se vincula à vontade do assistido,
que pode transigir, desistir, renunciar, sem que o assistente possa fazer qualquer coisa.

Por isso, essa assistência de interesse fraco é chamada de assistência simples. O assistente aqui
não é um litisconsorte do assistido, mas sim um mero ajudante, auxiliar do assistido, ficando a ele
subordinado. Ele é parte, mas é uma parte auxiliar. Por isso é um assistente simples.
Questão: se o assistido não recorrer e o assistente o faz, o recurso do assistente poderá ser
conhecido? Ou o não recurso do assistido significará que ele está abrindo mão, não podendo o assistente
fazer mais nada? (ex.: o assistido perde o prazo, mas o assistente não). Se o assistido não quiser
realmente recorrer, renunciando expressamente ao seu direito, o recurso do assistente realmente não
valerá de nada. Se o assistido recorre, mas desiste do recurso, também o assistente não pode fazer nada.
Mas, se o assistido perde o prazo do recurso, mas não diz nada sobre sua vontade de recorrer ou não, o
recurso do assistente simples será conhecido, salvo se posteriormente o assistido disser expressamente
que não quer recorrer. É para isso exatamente que serve o assistente (ex.: impedir o trânsito em julgado
que está para ocorrer).

82
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
☺art. 52, P.U., CPC: “Sendo revel o assistido, o assistente será considerado o seu gestor de
negócios” – ou seja, diante da omissão do assistido, o assistente pode atuar (contestar). Esta é
exatamente a sua função. Eis uma conduta determinante do assistido, mas uma conduta omissiva (não
contestar). Quando for uma conduta omissiva, o assistente poderá ajudar. Esta conduta não é negocial e
nem expressa, pois é omissiva (rigorosamente, é um ato-fato).
Mas é preciso diferenciar a omissão do assistido da dispo sição do assistido. ☺art. 53, CPC: “ A
assistência não obsta a que a parte principal reconheça a procedência do pedido, desista da ação ou
transija sobre direito controvertidos...”. São todas condutas expressas, determinantes e de caráter
negocial. O assistente simples fica subordinado à vontade negocial do assistido.

☺Editorial 52 no site do prof.:

Há jurisprudência do STJ no sentido de que o recurso interposto apenas pelo assistente simples não
pode ser conhecido, tendo em vista a circunstância de a atuação do assistente simples estar subordinada
à vontade do assistido. Assim, como o assistido não recorreu, o recurso do assistente simples não
poderia seguir autonomamente, pois seria “contrariar” a vontade do assistido, que não recorreu. Assim,
por exemplo, STJ, 2ª. T., REsp n. 535.937/SP, Rel. Min. Humberto Martins, j. em 26.09.2006,
publicado no DJ de 10.10.2006, p. 293: “1. É nítido o caráter secundário do assistente que não propõe
nova demanda tampouco modifica o objeto do litígio. O direito em litígio pertence ao assistido e não ao
interveniente. 2. Não se conhece do recurso especial interposto, tão-somente, pelo assistente simples.
Ausente o recurso especial da assistida”.
Há um equívoco na premissa: é possível que apenas o assistente simples recorra. Na verdade, eis o seu
papel: ajudar o assistido. Pode acontecer de o assistido perder o prazo do recurso; o recurso do
assistente evitará a preclusão. É essa, aliás, a orientação do próprio CPC, que expressamente diz que,
revel o assistido, atuará o assistente como seu gestor de negócios (legitimado extraordinário). Ora, o
dispositivo se expressamente
se o assistido aplica aos demais
tivercasos de condutas
manifestado omissivas
a vontade do assistido,renunciando
de não-recorrer, não apenas ao
a revelia.Agora,
recurso ou
desistindo do recurso já interposto, o recurso do assistente não poderá, efetivamente, ser conhecido,
pois a atuação do assistente simples fica vinculada à vontade do assistido (art. 53 do CPC).Assim,
quando houver manifestação de vontade do assistido no sentido de não impugnar ou não mais impugnar
a decisão (negócios jurídicos processuais), o recurso do assistente simples será anódino.Quando não
houver manifestação de vontade do assistido, que praticou atos-fatos processuais, como a perda de um
prazo, a atuação do assistido será eficaz e, caso tenha recorrido, o recurso deve ser conhecido, salvo
expressa manifestação contrária do assistido. Exatamente porque se trata de um ato-fato processual, em
que a vontade é irrelevante para a configuração da hipótese normativa, não se pode constatar o contraste
entre a vontade do assistente simples e a vontade do assistido; esse contraste não se admite, na forma do
art. 53, por isso que, quando houver ato negocial dispositivo pelo assistido, a vontade do assistente
simples não poderá ser em sentido contrário.Embora com uma fundamentação confusa, pois mistura
situações muito díspares (não interposição do recurso e desistência do recurso pelo assistido, ato-fato e
negócio jurídico processual, respectivamente), está correto o precedente do STJ de que não é possível o
conhecimento do recurso do assistente simples, quando o contraste entre a vontade do assistido e a
vontade do assistente se “verifica porque a União manifestou expressamente o seu desinteresse em
recorrer, enquanto o Estado do Rio de Janeiro interpõe o presente recurso especial” (no caso, o Estado
do Rio era assistente simples da União; STJ, 2ª. T., REsp n. 105.6127/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell
Marques, j. em 19.08.2008, publicado no DJe de 16.09.2008)

Em fevereiro/08, o STF aceitou uma assistência simples numa situação diferente daquelas
comuns.
Trata-se de uma verdadeira quebra de paradigmas: uma empresa produtora de tabaco, em São
Paulo, entrou com uma ação contra um Decreto, para que ele fosse tido como inconstitucional, não se
83
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
aplicando a ela. Trata-se de um RE discutido no STF. Veio o sindicato das empresas de tabaco pedindo
para ser assistente nesta ação, alegando que essa causa geraria um precedente para todas as empresas de
tabaco, repercutindo em todo o grupo das empresas de tabaco. Assim, o sindicato pretendia estar em
juízo para defender os interesses reflexos das empresas de tabaco, na formação desse precedente. E o
STF admitiu essa intervenção. É uma assistência de um ente coletivo numa ação individual. O comum é
que um indivíduo entre na ação coletiva, ente coletivo entrando em ação individual é uma novidade. E é
uma novidade que redefine a assistência simples, ampliando-a.
Essas causas repetitivas, múltiplas exigem um repensar das estruturas do processo.
☺editorial de fevereiro sobre este tema no site do prof.

Intervenção de legitimado extraordinário para a defesa de direitos coletivos ( lato sensu )


como assistente simples em processo individual.
No final de fevereiro de 2008, o STF admitiu a intervenção de um sindicato na qualidade de
assistente simples (Sindicato da Indústria do Fumo do Estado de São Paulo– SINDIFUMO), em
processo que envolve uma indústria de cigarros, em que se discute a constitucionalidade do Decreto-lei
n. 1.593/1977 (RE n. 550.769 QO/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 28.2.2008, publicada no Informativo
do STF n. 496). É certo que o Sindicato não mantém com o assistido uma relação jurídica conexa com
a que se discute. Desta forma, inviável a assistência simples, de acordo com o entendimento tradicional
sobre o tema, exposto linhas atrás. Sucede que o STF entendeu que ointeresse jurídico que autoriza a
assistência simples, no caso mencionado, configurou-se pela constatação de que o julgamento do STF
poderia definir a orientação da jurisprudência em torno do tema (constitucionalidade de meios de
coerção indireta para o pagamento do tributo, como a interdição de estabelecimento), que serviria para a
solução de um número indefinido de casosA relação jurídica conexa à relação discutida, aqui, é uma
relação jurídica coletiva, pois envolve a proteção de direitos individuais homogêneos, cuja titularidade
pertence à coletividade das vítimas [1] (no caso, as indústrias de tabaco).
O julgamento
Admitindo é bemvinculativa
a força interessante
doeprecedente
merece registro.
judicial, notadamente quando proveniente do STF,
o tribunal reconheceu a necessidade de permitir a ampliação do debate em momento anterior à
formação da orientação jurisprudencial. Quebra-se, então, um paradigma do processo individual, para
ampliar a concepção de interesse jurídico autorizador da assistência simples: em vez de exigir que o
assistente simples tenha com o assistido uma relação jurídica vinculada àquela discutida, admitiu-se a
assistência em razão da afirmação de existência de uma relação jurídica de direito coletivo ( lato sensu).
Note, porém, que, exatamente por isso, o assistente simples, nesses casos, teria de ser um
legitimado extraordinário coletivo: ente que tenha legitimação para a ação coletiva referente aos
direitos individuais homogêneos relacionados ao objeto litigioso do processo individual no qual se
intervém. Permitir a intervenção de indivíduos titulares de direito individual semelhante ao que se
discute em juízo certamente causaria grande tumulto processual.
SÉRGIO CRUZ ARENHART já defendia a necessária ampliação da noção de interesse para
intervir como assistente simples, tendo em vista a força vinculativa do precedente judicial. Entende,
porém, que deveria admitir-se a intervenção do indivíduo: "É certo que a ampliação desavisada do
conceito de 'interesse de intervenção' pode tornar inviável a solução da lide, por gerar a invasão de
terceiros no processo formado. Todavia, no outro vértice da questão, a não admissão desta intervenção
ampliada acarretará a violação clara dos direitos de ampla defesa e contraditório de todos estes
'terceiros' que sofrerão (praticamente de forma imutável) os efeitos de uma decisão judicial, sem jamais
ter condições de, efetivamente, opor-se a ela. De fato, não se pode admitir que o primeiro processo
instaurado a respeito de certa controvérsia acabe por resultar em decisão que será indistintamente
aplicada para todos os demais casos, sem que os titulares destes outros direitos tenham, de fato e de
maneira concreta, a possibilidade de apresentar seus argumentos e interferir na decisão judicial. A
garantia do contraditório, em sua versão moderna, tem sido vista como não apenas o direito de se
manifestar, mas de influir efetivamente na decisão judicial. Não há dúvida de que este direito é violado
se a decisão judicial já está pronta, mesmo antes de iniciada a ação em que o interessado pretende
apontar os argumentos". [2]
84
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Como se trata de situação que pode dizer respeito a um sem-número de indivíduos, parece
realmente que a técnica mais adequada para resolver o conflito entre o direito ao contraditório destes
terceiros interessados na fixação do precedente e o direito à duração razoável do processo é, no caso,
permitir apenas a intervenção de legitimado à proteção jurisdicional de direito coletivo (lato sensu).
A decisão reforça, ainda, uma percepção demonstrada no v. 2 deste Curso, no capítulo sobre
precedente judicial: o Direito brasileiro vem sendo reestruturado a cada dia para dar aos precedentes
judiciais força vinculativa. Ao lado disso, parece inexorável a tendência de adaptar o processo
individual ao julgamento de causas repetitivas (arts. 285-A e 543-B, por exemplo).
Perceba também que já se admitia intervenção semelhante nos processos individuais,
notadamente naqueles em se discutia incidenter tantum a inconstitucionalidade de um ato normativo.

Sucede que,de nesses


decretação casos, a intervenção
inconstitucionalidade se dava
em tribunal (art. na §§ 1º, 2ºdeeamicus
qualidade
482, 3º, do curiae
CPC) :e no
no incidente de
análise por amostragem da repercussão geral do recurso extraordinário (§ 6º do art. 543-A do CPC,
acrescentado pela Lei Federal n. 11.418/2006). O STF simplificou a questão, sem trocadilhos,
permitindo a intervenção como assistente simples, instituto já consagrado pela tradição jurídica
brasileira e expressamente regulado pelo CPC. A decisão segue, pois, uma tendência, já divisada pela
doutrina, de redefinição do pressuposto do interesse jurídico para a intervenção como assistente
simples, consoante demonstrando linhas atrás.

*Questão: o assistente simples se submete à coisa julgada? Não. Ele se submete a uma outra
modalidade de eficácia preclusiva chamada “Eficácia da Intervenção” ou “Eficácia Preclusiva da
Intervenção” ou “Submissão à justiça da decisão ”, que é uma eficácia que atinge ao assistente simples e
está regulada no art. 55, CPC.
Esta eficácia da intervenção a qual se submete o assistente simples é, a um só tempo, mais e
menos restritiva (rigorosa)dodoque
É mais restritiva que aa coisa
coisa julgada,
julgada dependendo do ponto
porque eficácia de vista. vincula o assistente
da intervenção
simples aos fundamentos, à justiça da decisão contra o assistido, ou seja, o assistente não vai poder
discutir mais toda a fundamentação que consta da decisão contra o assistido, ficando vinculado a tudo
que estiver na fundamentação da decisão (e a coisa julgada não recai sobre a fundamentação, tão
somente sobre a conclusão). O assistente simples interveio porque quis, e após a decisão não poderá
alegar os mesmos fundamentos em uma nova ação.
E é menos restritiva do que a coisa julgada porque ela pode ser afastada de uma maneira mais
simples do que se afasta a coisa julgada. A coisa julgada pode ser revista em regra, pela ação rescisória,
no prazo de 2 anos. Já a eficácia da intervenção pode ser afastada de maneira mais simples, com
alegações mais singelas. É possível que o assistente afaste a eficácia da intervenção alegando uma
matéria em sua defesa.
Há duas hipóteses em que o assistente poderá afastar a eficácia da intervenção: ☺at. 55, I (pelo
estado em que recebera o processo, ou pelas declarações e atos do assistido, fora impedido de produzir
provas suscetíveis de influir na sentença) e II (desconhecia a existência de alegações ou de provas, de
que o assistido, por dolo ou culpa, não se valeu) – por não ter tido a oportunidade de se defender no
processo ou se desconhecia a existência de alegações ou de provas, de que o assistido, por dolo ou culpa,
não se valeu. Ou seja, ele poderá escapar se demonstrar que o assistido conduziu mal o processo.
Essas alegações que permitem ao assistente simples escapar da eficácia da intervenção têm o
nome de exceptio male gestis processus – é a exceção (defesa) de má gestão processual. Se o assistente
conseguir demonstrar isso, ele escapará da eficácia da intervenção.

Obs. Há quem defenda que instituições como o MP, defensoria, OAB, etc. podem intervir como
assistente simples em processos que envolvam um dos seus membros sempre que se demonstrar um
interesse institucional no processo. Portanto, o interesse institucional autoriza a assistência simples. Ex.
pessoa ajuíza ação de danos morais contra promotor. O MP pode intervir como assistente simples na
causa, face a um interesse institucional.
85
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

- A lienação da coi sa ou do di r eito l iti gioso:

A demanda contra B discutindo X.


Pergunta: é lícito vender coisa ou direito litigioso?
É permitida a alienação de uma coisa litigiosa. Se essa alienação não fosse possível, as empresas
em dificuldades não poderiam ser vendidas. É possível comprar o direito litigioso das ações que já estão
em trâmite (ex.: direito litigioso contra o fisco). Uma empresa, ao comprar outra, compra todos os
direitos litigiosos.
O de
premissa que
queimporta saber é qual o impacto dessa alienação no processo, partindo-se sempre da
isso é possível.
Ex.: A demanda contra B e B vende a coisa a C.

A B

A alienação pode ser feito pelo autor ou pelo réu.


C é o adquirente ou cessionário (aquele que recebe a coisa ou o direito litigioso). B é o alienante
ou cedente (aquele que transfere). A, por sua vez, é o adversário comum. É preciso guardar esses nomes.
☺art. 42, CPC: “A alienação da coisa ou do direito litigioso, a título particular, por ato entre
vivos, não altera a legitimidade das partes”.
☺§§.

A transferência é ineficaz em relação ao adversário do alienante. Quem compra a coisa litigiosa


deve saber que se aquele que vendeu perder a causa sairá no prejuízo. Por essa razão, quem compra a
coisa litigiosa, a compra mais barata. Art. 42, § 3°, CPC: “A sentença, proferida entre as partes
srcinárias, estende os seus efeitos ao adquirente ou ao cessionário ”. Se o cessionário não souber que a
coisa é litigiosa deverá resolver posteriormente com quem vendeu.
O alienante não perde a legitimidade para estar no processo, embora não seja mais o dono,
continua legitimado a discutir a coisa.
Se o processo pode atingir o terceiro, é preciso criar mecanismos para que esse intervenha no
processo.
O adquirente pode, porém, suceder o alienante, mas para isso, é preciso que A consinta. Se
houver consentimento de A, haverá sucessão processual. B pode, se A consentir com a sucessão
processual, se retirar da relação. Mas se B quiser continuar no processo, será assistente simples de C.
Se A não consentir, C pode intervir como assistente. O que caracterizará a assistência
litisconsorcial, pois C irá discutir direito próprio.
Nesse caso, B continua no processo como legitimado extraordinário – continua no processo
defendendo em nome próprio direito alheio. Haverá uma transformação: B era inicialmente um
legitimado ordinário. Com a venda da coisa litigiosa, ele se torna legitimado extraordinário. Ocorre uma
legitimação extraordinária superveniente ou derivada.
Assim, a alienação da coisa litigiosa pode gerar a assistência simples, sucessão processual,
assistência litisconsorcial e legitimação extraordinária superveniente.

Para estabilizar o processo, a venda de coisa litigiosa não faz com a B perca a legitimidade para
continuar no processo. Isso quer dizer que a decisão do processo afetará C? Sim. Quem compra a coisa
litigiosa sabe que a decisão vai lhe afetar. É um caso de coisa julgada que atinge terceiro.
Há, no entanto, um caso em que essa coisa julgada pode não atingir o adquirente: se a coisa
disputada for um imóvel, cabe ao autor (é ônus dele) averbar na matrícula do imóvel a pendência da
ação sobre o imóvel. É uma disposição da Lei 6.015 (LRP) e serve para que quem quer que compre
aquele imóvel saiba que aquele imóvel é litigioso. Se assim é, se o autor não averba na matrícula do
86
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
imóvel, e o terceiro compra com boa-fé objetiva este imóvel, o terceiro não poderá se submeter à coisa
julgada. Se prejudicasse o terceiro, isso geraria uma insegurança jurídica muito grande, e o sistema exige
esta segurança.

- I ntervenções Especiais dos Entes Públicos:

Estão reguladas na Lei 9.469/97, art. 5º: “A União poderá intervir nas causas em que figurarem,
como autoras ou rés, autarquias, fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas
públicas federais. Parágrafo único. As pessoas jurídicas de direito público poderão, nas causas cuja
decisão possa ter
demonstração de reflexos,
interesseainda que indiretos,
jurídico, de natureza
para esclarecer econômica,
questões de fatointervir, independentemente
e de direito, da
podendo juntar
documentos e memoriais reputados úteis ao exame da matéria e, se for o caso, recorrer, hipótese em
que, para fins de deslocamento de competência, serão consideradas partes”.

Este art. 5º tem um caput e um parágrafo único e em cada um desses dispositivos há uma
modalidade de intervenção de terceiros.
É preciso entender bem isso: são duas as espécies de intervenção especial de entes públicos.
1) A intervenção do caput é uma intervenção espontânea em qualquer dos pólos, a qualquer
tempo, que não agrega pedido novo (e até aqui ela tem as mesmas características da assistência). Mas
essa intervenção especial é só da União, ela dispensa interesse jurídico (é como se houvesse uma
presunção absoluta de interesse jurídico por parte da União), e é uma intervenção que pode se dar nos
processos que envolvam autarquias e fundações federais, empresas públicas federais ou sociedades de
economia mista federais. A União, se quiser, pode intervir em qualquer desses processos, sem
demonstrar interesse jurídico. E nos casos dos processos que envolvem SEM, que correm perante a
Justiça Estadual, se a União intervier, o processo passará à Justiça Federal. (Essa intervenção é muito
importante e valorizada em concursos da AGU!).
2) a intervenção do P.U. tem aquelas mesmas primeiras 4 características (é uma intervenção
espontânea em qualquer dos pólos, a qualquer tempo, que não agrega pedido novo), mas tem algumas
nuances que a diferenciam: esta intervenção do P.U. é para qualquer pessoa jurídica de direito público (é
mais ampla – não serve só a União); é uma intervenção que pode ocorrer em qualquer processo; mas ela
se funda em interesse econômico (há necessidade de demonstração do interesse econômico); e é uma
intervenção para esclarecer fatos, juntar documentos e memoriais, ou seja, é uma intervenção para levar
subsídios para o órgão julgador. Por isso, há quem defenda que essa intervenção é de amicus curiae.
OBS. Há decisão do STJ, dizendo que essa intervenção não se aplica no MS, mas a lei não faz essa
restrição.

- Oposição:

É uma intervenção de terceiros na qual o terceiro intervém no processo querendo para ele
(terceiro) a coisa disputada.
Ex.: A e B estão disputando uma coisa. Um terceiro vem no processo e diz ao juiz que a coisa
não é nem de A e nem de B, e sim dele.
É diferente da assistência, porque o terceiro entra não para ajudar as partes, mas para brigar com
as partes.
O processo passa a ter um novo sujeito e um novo pedido. A oposição agrega ao processo um
pedido novo.
O processo, depois da oposição, terá a demanda 1, que é a demanda de A contra B; e a demanda
2, que é a demanda de C contra A e B.
O processo passa a ter, pois, 2 demandas a serem julgadas na mesma sentença.

87
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
1) A B

A
2) C
B

Qual dos dois processos será julgado primeiro? Primeiro, deve-se julgar a oposição e só depois,
deve-se julgar a ação principal. Isso porque se a coisa for de C, ela não será nem de A e nem de B (art.
61, CPC: Cabendo ao juiz decidir simultaneamente a ação e a oposição, desta conhecerá em primeiro
lugar.).
Assim, passa a acontecer um litisconsórcio entre A e B.
A oposição gera um litisconsórcio necessário, ulterior, passivo e simples.
É fácil perceber que é um litisconsórcio simples porque, imagine que A reconheça a procedência
do pedido; quando A faz isso, ele abdica o direito e a briga ficará entre C e B.

Esse litisconsórcio tem algumas peculiaridades, a saber:


- Necessariamente, o litisconsórcio (A e B) terá advogados diferentes. Embora tenha advogados
diferentes, o prazo é comum de 15 dias. O prazo não é dobrado. É uma característica da oposição.
- Os advogados dos opostos poderão receber a citação para a defesa na oposição (a citação
costuma ser pessoal, mas como os réus já estão no processo, a citação pode ser na pessoa de seus
advogados, art. 57, CPC).

Classificação da oposição: (há 2 espécies, com regramentos diversos)

/ 1 / 2 / 3
Audiência Sentença
Considerações:
- Depois da sentença, não cabe mais oposição, segundo o CPC.
- Até a audiência, a oposição é regulada pelo art. 59, CPC: “A oposição, oferecida antes da
audiência, será apensada aos autos principais e correrá simultaneamente com a ação, sendo ambas
julgadas pela mesma sentença”.
Essa oposição é chamada de Oposição Interventiva. Essa oposição é rigorosamente uma
intervenção de terceiros. O terceiro se mete no processo alheio e a sentença resolverá tudo. Essa
oposição é um incidente do processo. Após a oposição, o juiz terá de julgar simultaneamente a ação e a
oposição.
- Quando a oposição é oferecida entre a audiência e a sentença, ela é regulada pelo art. 60, CPC:
“Oferecida depois de iniciada a audiência, seguirá a oposição o procedimento ordinário, sendo julgada
sem prejuízo da causa principal. Poderá o juiz, todavia, sobrestar no andamento do processo, por prazo
nunca superior a 90 (noventa) dias, a fim de julgá-la conjuntamente com a oposição”.
Essa oposição é chamada de Oposição Autônoma. Essa oposição não é uma intervenção de
terceiro. O terceiro não se mete em processo alheio. É um processo novo instaurado pelo terceiro. O
terceiro dá srcem a um novo processo. Essa oposição é um processo incidente (e não um incidente de
processo) – na oposição interventiva o juiz terá de julgar tudo junto; na oposição autônoma ele não
precisará necessariamente julgar tudo junto, o julgamento conjunto pode não acontecer.
Obs.: em ambos os casos o opoente precisa de elaborar uma petição inicial. É sempre uma
demanda.

Até aqui estudamos as espécies de intervenção de terceiro espontâneas, em que o terceiro pede
para fazer parte do processo. A partir de agora estudaremos as espécies de intervenção de terceiro
provocadas.
88
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

→ Dica geral quanto às intervenções provocadas:

(A) demanda contra (B) e (B) traz ao processo (C) – nas intervenções provocadas, o terceiro (C),
sempre é trazido ao processo por provocação de uma das partes (B). Toda intervenção provocada segue
esse padrão.
Mas, como se sabe que se trata de uma intervenção provocada?
É preciso questionar: o terceiro tem relação com o adversário daquele que provocou a sua
intervenção? Ou seja, C tem relação com A?
Para cada hipótese de intervenção provocada a resposta a esta pergunta será diferente.
São elas:

- Ch amamento ao Pr ocesso:

É uma intervenção sempre provocada pelo réu.


É opcional (trata-se de uma faculdade).
O chamamento ao processo só é admitido no processo de conhecimento (não cabe em execução).
Pressupõe um vínculo de solidariedade entre chamante e chamado. Ele sempre parte do
pressuposto de que o chamado responde solidariamente com o chamante em relação a A. O réu
demandado traz ao processo um outro solidário que não havia sido demandado.
No direito civil o credor pode escolher quem demandar nos casos de obrigações solidárias. O
CPC, no entanto, permite que aquele que foi cobrado traga ao processo os outros, que não foram
escolhidos pelo demandante. É uma incompatibilidade com o direito material. Mas tem um lado
positivo: ao trazer o outro devedor ao processo, a sentença será contra todos. A sentença valerá contra
todos. E porque a sentença é contra todos, pode acontecer de um deles pagar toda a dívida. O sujeito que
vier a pagar toda a dívida já vai poder se voltar contra os outros na mesma sentença. Já vai poder buscar
dos outros os respectivos quinhões. Se não fosse assim, o que pagou teria que propor uma ação
autônoma para buscar os quinhões dos outros. A sentença vale contra todos e vale para aquele que vier a
pagar a dívida.
Com o chamamento, ambos são réus. A sentença poderá ser proferida contra chamante ou
chamado.
☺art. 80, CPC: “A sentença, que julgar procedente a ação, condenando os devedores, valerá
como título executivo, em favor do que satisfizer a dívida, para exigi-la, por inteiro, do devedor
principal, ou de cada um dos co-devedores a sua quota, na proporção que Ihes tocar”.

Portanto, não é correta a lição de que o chamamento ao processo é uma ação de regresso. O
chamante não está regredindo contra o chamado, até porque não se sabe quem irá regredir. O
chamamento é uma convocação para ser litisconsorte passivo.

Assim, o chamamento ao processo é uma convocação para que o outro devedor solidário seja
litisconsorte – litisconsorte passivo, ulterior, facultativo. E ele será unitário ou simples? Depende da
obrigação, se ela é divisível ou indivisível. A solidariedade nem sempre implica unitariedade. É preciso
que o bem seja indivisível. Se for solidariedade de obrigação indivisível será litisconsórcio unitário; se
for solidariedade de obrigação divisível, será litisconsórcio simples.

Chamante e Chamado:
- o fiador pode ser chamante e chamar ao processo o devedor;
- o fiador pode chamar ao processo o co-fiador;
- o devedor pode chamar ao processo um outro devedor.
Essas são as 3 hipóteses de chamamento ao processo.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Atenção: não existe a hipótese de o devedor chamar o fiador. O devedor não pode chamar ao
processo o fiador porque se o devedor pagar, ele não pode buscar nada do fiador. Só cabe chamamento
ao processo se se puder buscar alguma coisa do outro sujeito. Se o fiador se colocar como devedor, aí
sim, é possível o devedor chamar o devedor.
Ver Art. 77. É admissível o chamamento ao processo: I - do devedor, na ação em que o fiador
for réu; II - dos outros fiadores, quando para a ação for citado apenas um deles; III - de todos os
devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial ou totalmente, a dívida
comum.

*Pergunta: No chamamento ao processo, C tem relação com A? No chamamento ao processo o


chamado tem relação com o adversário do chamante? Sim. Ele tem, também, já que o chamante também
tem essa relação (o chamante é solidário) – C tem com A a mesma relação que B tem com A.

OBS. Existe uma hipótese especial de chamamento ao processo no CDC (art. 101, II): o fornecedor
demandado pelo consumidor pode chamar ao processo a sua seguradora, ou seja, o CDC colocou uma
hipótese em que a sentença a favor do consumidor poderá ser executada contra seu fornecedor e a
seguradora. Essa modalidade, diferentemente do que ocorre no CPC, é uma modalidade a favor do
credor. Traz ao processo alguém com patrimônio. No caso do CPC é desfavorável ao credor, porque
geralmente os outros devedores que não foram demandados não possuem patrimônio para solver a
dívida. E sendo assim, o chamamento desses devedores sem patrimônio pode tumultuar o processo e não
favorecer o credor.

- Nomeação àautor ia:

Considerações gerais:
É uma intervenção provocada pelo réu (só por ele), mas ela é um dever do réu, e não uma mera
opção ou faculdade, de modo que nos casos de nomeação se o réu não proceder à nomeação ele arcará
com as custas do processo e perdas e danos, já que estará configurado um ilícito processual, que gera
uma punição ao réu.
Nomear à autoria é indicar o réu legítimo, é indicar quem deve ser o réu legítimo, ou seja,
quando o réu nomeia à autoria ele está dizendo para o autor que ele demandou contra a pessoa errada e
que a pessoa a ser demandada é X.
O réu alega a sua ilegitimidade e tem o dever de indicar quem é o réu legítimo.
O objetivo da nomeação à autoria é, pois, corrigir o pólo passivo do processo, fazendo com que
saia o nomeante e entre, no seu lugar, o nomeado (redireciona a causa). Assim, seu objetivo é gerar uma
sucessão processual. (o legitimado correto - C - entra no lugar de quem não é legitimado – B).
Sempre que o réu alegar a ilegitimidade ele deverá nomear à autoria? Não. Se o réu alega a
ilegitimidade ele poderá simplesmente não nomear à autoria. Não precisa indicar quem é o réu, quem é a
parte legítima em qualquer caso. Este dever só existe em dois casos de nomeação à autoria.
Qual a razão para caber ao réu o dever de indicar ao autor quem é o réu? Afinal, o réu tem uma
obrigação de fazer alguma coisa que o autor deveria ter feito.
Isso acontece porque existem algumas relações jurídicas que ficam encobertas pela aparência –
ex.: pensamos que determinada pessoa é o dono do carro, mas é só um motorista; ou pessoa que aparenta
ser o proprietário da casa, mas é só o caseiro.
Imagine que se proponha uma ação contra o motorista do veículo (que aparentava ser o dono do
veículo) – ele sabe quem é o verdadeiro dono do veículo, já que é subordinado deste.
Assim, nos casos em que há uma relação de subordinação escondida pela aparência, se o autor se
equivoca na propositura da demanda, o subordinado que foi demandado tem o dever de indicar quem é o
seu chefe. Trata-se de um dever ético.
É nesses casos que será cabível a nomeação à autoria.

Hipóteses de nomeação:
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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
☺arts. 62 e 63, CPC.
- O art. 62 cuida das ações reipersecutórias (ações em que se busca uma coisa), propostas contra
o mero detentor (o caseiro, o motorista, a bibliotecária); o mero detentor nomeará à autoria o verdadeiro
possuidor ou proprietário;
- O art. 63 cuida das ações indenizatórias propostas contra o preposto; o preposto nomeará à
autoria contra o seu chefe.
Ambos têm o dever de nomear.
OBS. de aprofundamento: o art. 932, III, c/c o art. 942, P.U., do CC dizem que o preposto
responde pelos danos causados juntamente com o preponente – patrão e empregado (preponente e
preposto) respondem solidariamente pelos danos causados à vítima. Isso significa que se o preposto é
demandado não será caso de nomeação à autoria do chefe, não é caso de correção do pólo passivo, já
que o preposto é um dos possíveis demandados, ao lado do preponente. Trata-se não de um caso de
nomeação à autoria, e sim de chamamento ao processo, já que pelo direito material preposto e
preponente são solidariamente responsáveis perante a vítima (é caso não de corrigir o pólo passivo e sim
de ampliá-lo). São muito poucos os doutrinadores que falam disso. É uma sutileza, boa para se citar em
concurso caso se questione a relação entre o art. 63, CPC e o CC.

☺art. 66, CPC: “Se o nomeado reconhecer a qualidade que lhe é atribuída, contra ele correrá o
processo; se a negar, o processo continuará contra o nomeante” – trata-se de um art. de redação muito
estranha.
Se o nomeado não aceita a qualidade que lhe foi atribuída o nomeante continuará no processo,
mas continuará como legitimado extraordinário do nomeado. Se o juiz entender que o nomeado é o
legitimado, ele será condenado. Se não ocorresse isso, não teria sentido fazer a nomeação. Todo
nomeado iria se recusar.

Pergunta: Na nomeação à autoria C tem relação com A? O nomeado tem relação com o
adversário
ao processodoo sujeito
nomeante? Sim,relação
que tem tem e com
só eleAtem. O objetivo
(já que da nomeação
o nomeante não a tem).à autoria é exatamente trazer

- D enunciação da L ide:

É uma intervenção de terceiro provocada pelo autor ou pelo réu. O que é uma distinção em
relação às demais intervenções estudadas antes (Chamamento ao processo e Nomeação à autoria, que só
podem ser feitas pelo réu). Normalmente a DL é feita pelo réu. Se for pelo autor, ele já o fará na própria
petição inicial (haverá duas demandas). Portanto, rigorosamente, não é uma intervenção de terceiro. Se o
autor a faz na própria petição inicial, o processo já nasce desde o início contra o terceiro. Mas é tratada
como uma intervenção de terceiro pelo CPC.
Atenção para o nome: é Denunciação da Lide (e não à lide).
O correto é dizer que o réu denunciou a lide a um terceiro (o verbo denunciar aqui é transitivo
direto e indireto).
A B
A demanda contra B 1 2
B denuncia a lide a C.
C

A denunciação da lide (DL) é uma demanda, uma ação. Isso significa que a parte denunciante
propõe uma demanda em face do terceiro, que é trazido ao processo na qualidade de demandado.

91
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
A DL agrega ao processo um novo pedido. O processo passa a ter um novo pedido após a
denunciação. O processo que tinha o pedido de A contra B passa agora a ter o pedido de B contra C.
Portanto, a DL amplia objetivamente o processo.
A DL não gera processo novo! Ela é um pedido novo em processo já existente.
A DL é uma demanda regressiva. Ou seja, pela DL pretende-se buscar do terceiro o reembolso
de prejuízos sofridos. Falar em DL é falar em ação de regresso.

(27/04/09)

A DL é uma demanda regressiva eventual. Ela é oferecida para a hipótese de o denunciante vir a
perder a causa principal. A DL é proposta antes do sujeito ter o prejuízo cuja reparação ele busca, mas
ele pode vir a tê-lo e, por isso, já se autoriza que ele traga o terceiro ao processo. Se o denunciante
ganhar na ação principal, o juiz sequer examinará a DL, por isso é uma demanda eventual. Nesse caso,
se a DL não for examinada, o denunciante arcará com a sucumbência em relação a C, pois o trouxe
desnecessariamente ao processo.
Uma DL não examinada em 1º grau pode ser examinada no Tribunal.
A DL é também uma demanda antecipada. A DL é formulada antes da ocorrência do prejuízo. Se
a DL fosse uma ação comum, isso não seria possível (normalmente não se admite uma ação de
reembolso sem que se tenha havido prejuízo, faltaria interesse de agir).

Feitas estas considerações, é preciso agora entender que na sentença o juiz terá duas demandas
para examinar. Primeiramente o juiz examinará a demanda 1 (de A contra B), porque se B ganhar de A
na demanda 1, nem será preciso examinar a demanda 2 que ficará prejudicada.

Pergunta:em
(A) (levando-se Naconta
denunciação dafez
que quem lideaoDL
denunciado (C) tem
foi B, o réu)? Não,relação comCotem
não tem. adversário do denunciante
relação com B, que é a
relação de regresso.

Resumindo: Quanto à relação de C com A nas intervenções de terceiro provocadas:

- Chamamento ao processo: tem, também.


- Nomeação à autoria: tem, e somente ele tem.
- Denunciação da lide: não, não tem.

→ Situação processual do Denunciado:

Qual é o papel que o denunciado assume no processo? Qual é a posição processual do


denunciado?
Depende da demanda que está no processo. A posição do denunciado variará conforme se trate
da demanda 1 ou da demanda 2. Em relação à DL, que é a demanda 2 o denunciado é o réu, é
demandado, e, por isso, não há ai nenhuma peculiaridade. Em relação à demanda 1 é que há
questionamentos, ou seja, ao papel do denunciado na demanda srcinal (demanda 1).
Na demanda 1, a posição do demandado varia, havendo 3 correntes que tentam explicar sua
natureza:

a) O CPC coloca o denunciado como litisconsorte do denunciante, em face de A. C é inimigo de


B, mas isso na demanda 2, porque na demanda 1 C está ao lado de B, já que C quer que B ganhe
de A. É do interesse de C que B ganhe de A, assim, na demanda srcinal eles são litisconsortes.
É preciso, pois, dividir a análise em duas partes: na demanda 2 o denunciado é réu, na demanda 1
o denunciado é, para o código, litisconsorte do denunciante. E que espécie de litisconsórcio é
92
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
esse? Nesse caso, C será litisconsorte ulterior, facultativo e unitário. É unitário porque se trata de
um caso em que um legitimado ordinário se litisconsorcia com um legitimado extraordinário (na
demanda 1 C está discutindo os interesses de B, numa relação da qual ele não faz parte – C não
tem relação com A – sendo, C, pois, legitimado extraordinário). Já na demanda 2 (DL) nem há
litisconsórcio, o denunciado é réu, ou seja, legitimado ordinário. Esta é, pois, a corrente que o
código adotou, mas há ainda outras duas correntes. Obs. sempre que houver litisconsórcio entre
legitimado ordinário e extraordinário, o litisconsórcio é unitário.

b) Segundo Cândido Dinamarco, o denunciado é, na demanda principal, assistente


litisconsorcial do denunciante. Ele não fala em litisconsórcio, só em assistência litisconsorcial,
porque para ele, para ser litisconsórcio é preciso que se formule o pedido ou que contra o sujeito
seja formulado um pedido, e aqui não ocorre nada disso. Assim, de acordo com a concepção de
Dinamarco de litisconsórcio, não se pode falar em litisconsórcio aqui. Para nós isso não faz
diferença: dizer que houve litisconsórcio ou assistência litisconsorcial é a mesma coisa, já que a
assistência litisconsorcial é um litisconsórcio unitário. Do ponto de vista prático, pois, não há
diferença.

c) Segundo Nelson Nery, o denunciado é, na demanda 1, assistente simples do denunciante.


Esse pensamento de Nelson Nery é bem interessante, mas tem um problema: o código fala em
litisconsorte e de litisconsorte para assistente simples há uma diferença muito grande! Isso é o
que ele queria que fosse, mas não é.

O que é condenação direta do denunciado?


Nós já vimos que na DL C não tem relação com A. Assim, pode o juiz condenar diretamente C a
pagar a A? Ou o juiz tem que primeiro condenar B e depois condenar C a pagar B?
A condenação direta do denunciado é condenar o denunciado a ressarcir diretamente o
adversário
Issodonão
denunciante.
é possível do ponto de vista do direito material (o CPC e a doutrina não admitem), já
que C não tem vínculo jurídico com A. Não se poderia condenar C a pagar alguém que não é o seu
credor. Se C tivesse relação com A, o caso seria de chamamento ao processo. Mas, na prática, não é bem
isso que ocorre.
Ex. A é a vítima, B é o causador do dano e C é a seguradora. Vítima propõe ação de
responsabilidade contra B, que denuncia C a lide. O que acontecia é que o causador não tinha bens para
serem executados, não havendo também ação de regresso contra a seguradora.
O STJ começou a distorcer a DL, permitindo execução direta contra o denunciante,
transformando-a em um chamamento ao processo, em casos de seguro, como se a seguradora tivesse
relação com A. Assim, nestes casos específicos, seria possível a condenação direta da seguradora, ainda
que isso seja contra legem.
Esta já é uma jurisprudência bastante antiga e que teve uma força e um impacto tão grande, que
acabou interferindo no CC/02, que já incorporou essa jurisprudência em uma parte dele: nos casos de
seguro de responsabilidade obrigatório, como por ex., o DPVAT, mas só nesses casos, o CC já diz
expressamente que a vítima pode propor ação diretamente contra a seguradora, ou seja, transformando a
seguradora em solidária com o segurado diante da vítima - ☺art. 788, CC. Já não seria mais caso de DL
e sim de chamamento ao processo. E, ainda, nas causas de consumo, a seguradora responde diretamente
ao consumidor, tanto que cabe chamamento ao processo da seguradora (art. 101, II, CDC).

→ Distinção entre denunciação da lide e chamamento à autoria:

Obs.: não confundir com chamamento ao processo ou nomeação à autoria!


O chamamento à autoria era uma espécie de intervenção de terceiro que existia até 73. O código
de 73 acabou com essa intervenção, e criou a denunciação da lide. Ou seja, a DL é criação do código de
73.

93
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
A DL não é o chamamento à autoria com outro nome. O que podemos dizer é que o chamamento
à autoria é o antepassado próximo da DL. São coisas diferentes, embora um seja a srcem do outro. A
DL relaciona-se com qualquer direito de regresso e o chamamento à autoria relacionava-se com a
evicção.
Evicção: é a perda para uma terceira pessoa de direitos sobre uma coisa que fora adquirida
onerosamente a partir de uma decisão judicial ou de um ato administrativo que a atribuiu a um terceiro.
A evicção deve ser garantida nos contratos onerosos. O alienante garante o adquirente nos contratos
onerosos.
O chamamento à autoria era previsto para os casos de evicção. O adquirente da coisa A, surpreso
porque demandado por um terceiro C, diz que comprou a coisa de B, não podendo, pois, ser demandado
por C. Assim, A diz ao juiz: avise a B que se eu perder a coisa para C vou propor ação de regresso
contra ele.
Desta forma, o chamamento à autoria era um simples aviso. A DL, por sua vez, não é um simples
aviso e sim a própria demanda. A pessoa já traz ao processo o outro.

No chamamento à autoria, aquele que foi chamado (avisado) poderia dizer simplesmente que não
tinha nada a ver com isso, mas poderia também pedir para ocupar o lugar no processo do chamante.
Pediria para suceder o chamante. Ele se tornaria réu.
O chamamento à autoria acabou e a DL entrou em seu lugar.
Ocorre que a DL também é permitida nos casos de evicção, mas não só para esses casos, e sim
para qualquer caso de ação regressiva.
O chamamento à autoria era obrigatório: se o adquirente não chamasse à autoria ele não poderia
exercer o direito de cobrar a evicção. O aviso era indispensável para uma futura ação de regresso. E essa
obrigatoriedade vinha do antigo CC/16 (art. 1.116).
O NCC/02 manteve a redação do art. 1.116 em seu art. 456. Ocorre que o CC/16 servia para o
instituto do chamamento à autoria que deixou de existir com o CPC/73. O chamamento à autoria era
obrigatório, nos termos
O CPC/73, semdaterlegislação
percebidomaterial da época.
as alterações dosAgora, a denunciação
institutos, redigiu odaart.lide
70é do
obrigatória?
CPC que diz
exatamente que a DL é obrigatória – ou seja, é indispensável ao direito de regresso (só será possível
cobrar a pretensão regressiva pela DL), conforme o texto da lei. Ocorre que a DL só é obrigatória para
os casos de evicção (porque essa obrigatoriedade veio do direito material) – isso foi pacificado pela
jurisprudência.
Agora não há mais dúvida: a DL só pode ser obrigatória nos casos de evicção, porque em relação
a esses casos existe regra de direito material que impõe a DL.
O art. 70, CPC tem 3 incisos e só o primeiro diz respeito à evicção. Assim, a suposta
obrigatoriedade da DL se restringe ao inciso I do art. 70.
Ocorre que mesmo nos casos de evicção há hipóteses em que a DL não é obrigatória: quando ela
é impossível ou proibida. Se a DL é impossível ou proibida, não se poderia perder o direito de regresso
por não ter feito a DL – a não denunciação não pode implicar, pois, a perda do direito de regresso. Ex.: a
evicção pode decorrer de ato administrativo (ex.: DETRAN apreende um carro), e se a evicção foi por
ato administrativo não há como denunciar a lide, a DL pressupõe um processo jurisdicional, sendo
impossível num caso de processo administrativo. Neste caso, portanto, não se pode perder o direito de
regresso, ele poderá ser cobrado autonomamente. Outro ex.: a DL é proibida nos Jesp´s e no
procedimento sumário, e, se a DL é proibida, caso não se denuncie não se perderá o direito de regresso
(não se pode ser punido por não ter denunciado quando era proibido denunciar). No procedimento
sumário só cabe DL por contrato de seguro e não por evicção, é um caso em que a DL é proibida, não
podendo, assim, ser obrigatória. Portanto, evicção que decorre de ato administrativo, nos Jesp’s e no
procedimento sumário não se exige que se faça a DL para se pleitear ação de regresso, tendo em vista
que é proibida ou impossível.
Pergunta: Admite-se no Brasil ação autônoma de evicção? É possível cobrar a evicção de forma
autônoma ou deve ser por DL? Pelo menos nos casos em que a DL é impossível ou proibida (nos casos
acima citados) é possível a cobrança da evicção autonomamente. A ação autônoma de evicção existe
pelo menos para esses casos (isso é indiscutível, não há polêmica).
94
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Então, começamos dizendo que a DL é obrigatória, depois dizemos que ela só é obrigatória nos
casos de evicção (inciso I do art. 70). Agora já sabemos que nem nos casos de evicção ela será sempre
obrigatória. Para concluir esta guinada de 180º: ☺art. 456, CC/02 é a reprodução do art. 1.116 do
CC/16.
A obsolescência do art. 456 levaria à conclusão de que a DL não seria mais obrigatória.
Ademais, por uma questão puramente formal (não ter denunciado a lide) a pessoa perderia o direito de
regresso, o que seria uma interpretação favorável ao enriquecimento ilícito daquele que com isso se
beneficiará. Assim, seja porque o art. é obsoleto, seja porque leva ao enriquecimento ilícito, muitas
pessoas afirmam que a DL não é obrigatória. O STJ, por ex., tem inúmeras decisões dizendo que a não
denunciação da lide nos casos de evicção não gera a perda do direito de reaver o preço pago pela coisa.
Esse entendimento não é unânime, mas é seguido por muitos.
Assim, muitos livros novos já trazem esta afirmação de que a DL não é obrigatória sequer para
os casos de evicção.

Denunciação sucessiva:

☺art. 456, CC: “Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta, o adquirente
notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer dos anteriores, quando e como lhe determinarem
das leis do processo”.
Fala-se aqui em denunciações sucessivas. Elas são admitidas.
Mas trata-se de uma situação nova porque sempre aprendemos que B deve denunciar a lide a C,
C a D e assim sucessivamente. Mas o novo CC passou a permitir que B denunciasse a outros alienantes
anteriores, como D, diretamente, por ex. A expressão “qualquer dos anteriores” não existia no CC/16.
Quanto a isso há 5 correntes doutrinárias, e não existe nenhuma que seja majoritária ou principal.
É um problema puramente teórico. São elas:
1) É a corrente de Alexandre Câmara: para ele essa novidade é inaplicável porque ela
remete à legislaçãoque
outros alienantes processual
não sejae ao legislação
imediato. não
Nãofala disso, dessa
havendo possibilidade
legislação de se
processual notificar
a respeito,
regulamentando tal situação, ela é inaplicável. O melhor seria que este pensamento fosse o
seguido por todos, e que o art. 456 nem existia. Mas existem outras correntes.
2) Corrente de Flávio Yarshell, prof. da USP: para ele o que o art. 456 fez foi apenas
consagrar a possibilidade de denunciações sucessivas, não inovando em nada. Também seria
muito bom, portanto, que prevalecesse esse pensamento.
3) Corrente de Araken de Assis e Athos Carneiro: para eles o art. 456 permite a chamada
denunciação coletiva. Significa que B pode denunciar a lide a todos os sujeitos que compõem a
cadeia, todo mundo em bloco, para impedir as denunciações sucessivas, que atrapalham demais o
processo. Há julgados que já admitiam a denunciação coletiva antes da redação nova.
4) Corrente de Cássio Scarpinella Bueno: para ele o dispositivo tem que ser aplicado
literalmente, ou seja, B, o adquirente, pode escolher qualquer um dos que componham a cadeia
sucessória do bem, e não só aquele que lhe vendeu o bem. B pode demandar D, embora B não
tenha relação com D. Portanto, para ele o Código permitiu uma legitimação extraordinária, ou
seja, B pode demandar contra um sujeito com o qual ele não tenha relação. B pode demandar
qualquer um, mas não há solidariedade. Se trouxer o alienante que não é o imediato (D), D viria
a juízo defender os interesses de C, seria legitimado extraordinário de C. Quem responde é
sempre o alienante imediato. Os outros podem ser réus como legitimados extraordinários.
Segundo o prof., este é o pior entendimento, já que traz uma situação completamente esdrúxula.
Para Cássio, o código permitiria a denunciação per saltum.
5) Corrente de Humberto Theodoro Jr.: para ele o art. 456 consagrou um caso de
solidariedade legal. Ou seja, todos os alienantes da cadeia que venderam a coisa sem poder, ou
seja, indevidamente, respondem perante B e, por isso, B pode demandar qualquer um deles,
porque todos seriam solidariamente responsáveis. A diferença desse entendimento para o anterior
é justamente isso: aqui todos devem a B solidariamente. Na corrente anterior só C deve a B e os
demais seriam legitimados extraordinários. Aqui B pode denunciar a lide contra qualquer um
95
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
deles (C, D ou E) e qualquer um dos que foi demandado pode chamar ao processo os demais.
Assim, pode haver um chamamento ao processo incidente a uma DL. Pode haver inclusive uma
nomeação à autoria (E diz: não tenho nada a ver com isso, demande contra meu chefe). Só são
solidários, aqueles a partir de quando há o vício. Aqui também se admite a denunciação per
saltum, mas com fundamentos diferentes, pela solidariedade. Adotando o pensamento de Cássico
ou HTJ, é possível denunciar a lide quem não seja alienante imediato. B pode pular C e
denunciar D. Isso é denominado de denunciação da lideper saltum.

☺P.U. do art. 456, CC: “ Não atendendo o alienante (C - denunciado) à denunciação da lide, e
sendo manifesta a procedência da evicção, pode o adquirente (B - denunciante) deixar de oferecer
contestação, ou usar recursos”.

Este já é um texto mais contemporâneo, tanto que já fala em DL (enquanto o caput não o faz),
porque foi redigido mais a frente, em 2002.
Se o adquirente B perceber que vai perder a demanda contra A, pode abandonar a briga com A e
continuar na briga com C se este for revel.
☺art. 75, II, CPC: “Se o denunciado (C = alienante) for revel ou comparecer apenas para negar
a qualidade que lhe foi atribuída, cumprirá ao denunciante (B) prosseguir na defesa até o final”.
Ou seja, o CPC diz exatamente o contrário do que diz o art. 456, CC.
Mas o art. 75, II não tem sentido algum. A pessoa não pode simplesmente não aceitar ser réu.
Isso é inevitável. Esse dispositivo é da época do chamamento à autoria, não tem sentido algum. Por isso
foi revogado pelo P.U. do art. 456, CC/02. Este P.U. foi acrescentado durante a tramitação legislativa, já
durante a vigência do CPC/73.

→ Exame do inciso III do art. 70, CPC:

(Importante para concurso


“Cabe DL àquele da obrigado
que estiver AGU!). pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ação regressiva
o prejuízo do que perder a demanda”.
Prevê a hipótese geral de denunciação da lide: cabe DL em qualquer hipótese de regresso. É uma
hipótese genérica de DL.
Logo depois que o CPC de 73 saiu foi publicado um livro de Vicente Greco Filho sobre
intervenções de terceiro. Neste livro ele diz que o inciso III tem que ser interpretado restritivamente. A
DL não poderia ser permitida em qualquer direito de regresso. A DL não poderia introduzir fundamento
jurídico novo para não tumultuar muito o processo. Por isso, a DL com base no inciso III somente
poderia ser aceita nos casos de garantia própria.
Garantia própria, para ele, é toda garantia inerente aos negócios em que houve transmissão de
direito (quem transmite garante).
Para ele, pois, o inciso III só cabe nesses negócios em que há transmissão de direitos e, portanto,
garantia própria. Para Vicente Greco, o inciso III não permite o acréscimo de fundamento jurídico novo.
Assim, ele não caberia nem para casos de seguro. Esta é a corrente restritiva.
Logo depois disso, Dinamarco escreve um art. contrariando o entendimento de Vicente Greco.
Ele afirma que o inciso III é muito amplo, vale para qualquer que seja o fundamento da pretensão
regressiva. A sua idéia teria sido justamente abrir o sistema e não fechar. Deve-se ampliar por questão
de economia. Por isso não seria necessário fazer nenhuma exceção: se cabe ação de regresso, cabe pelo
inciso III. Até em caso de seguro. Esta é, pois, a corrente ampliativa.
Há jurisprudência com base em ambos os entendimentos.

*Pode o estado denunciar a lide ao servidor? Com base no entendimento de Dinamarco, o inciso
III, possibilita a ação de regresso do ente político contra o seu servidor nos casos de responsabilidade da
Administração. É possível se defender disso citando Vicente Greco e HLM, que entende não ser
possível misturar a responsabilidade objetiva com a subjetiva. Ou seja, os fundamentos para impedir a
DL pelo Estado são restritivos. Verdadeiramente, não há proibição feita pelo código. A jurisprudência é
96
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
bastante divergente quanto a esse entendimento, é um reflexo dessa polêmica. Atenção para os livros de
Direito Administrativo! Muitos afirmam que não cabe DL e ponto. Adotam a corrente restritiva.
O que acaba acontecendo é que o juiz pode embasar sua decisão em qualquer das duas correntes.
Assim, quando entender que a DL pode atrapalhar o processo, no caso concreto, ele não a permite. Caso
contrário ele a admite. A proibição legal não existe, o que existe é um controle judicial no caso concreto.
O juiz pode controlar a admissão da DL para evitar o tumulto no processo. Para o professor, não há
proibição em tese. Se no caso concreto, a DL tumultuar mais do que economizar, deve ser indeferida
pelo juiz.

97
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 PETIÇÃO INICIAL:

 Conceito:

É o instrumento da demanda. É a forma pela qual a demanda ingressará em juízo. É o documento


que formaliza o ato de demandar.
Ora, se a petição é o instrumento da demanda, significa que na petição deve haver partes, pedido
e causa Se
de apedir, já que
petição esses
inicial temsão os elementos
esses da significa
3 elementos demanda.que ela não será inepta.

 Requisitos:

☺art. 282, CPC:

1) Forma escrita: a PI é, em regra, apresentada por escrito; a demanda é em regra uma


demanda escrita. Mas há exceções, no âmbito dos Jesp´s a demanda pode ser oral, na Justiça do
Trabalho também. Mas quando a demanda for oral ela será reduzida a termo. A ação de alimentos pode
ser proposta oralmente e também pode ser proposta oralmente o pedido de medidas protetivas feito pela
mulher que se afirma vítima de violência doméstica (Lei Maria da Penha).
2) Assinatura de quem tenha a capacidade postulatória: a regra é a de que a capacidade
postulatória seja do advogado, membros do MP ou defensores públicos. Mas há casos em que leigos têm
tal capacidade.
3) Endereçamento: é aquele trecho da petição em que se endereça o pedido (Ao
Excelentíssimo Sr. Juiz de Direito...). É neste momento que se aplica as regras de competência. A PI
deve ser endereçada ao juiz competente. Ademais, é preciso verificar se a causa é uma causa de tribunal
(ex.: reclamação, ação rescisória, MS). Nestes casos é preciso utilizar alguns adjetivos tais como:
Egrégio Tribunal, Colendo, Vetusto (no caso do tribunal mais antigo – TJ/BA). Excelso só pode ser
usado para o STF. Se é o caso de dirigir-se ao juiz federal é preciso dizer “juiz Federal” (e não juiz de
direito), ademais, o juiz federal está sempre numa seção judiciária (é preciso citar isso). É possível que
ele esteja numa subseção (e se for o caso, é preciso citá-la). Se for juiz estadual, aí sim será caso de dizer
juiz de direito (e juiz estadual está em comarca).
4) Qualificação das partes: o autor deve colocar o nome completo, estado civil (inclusive
situação de união estável), nacionalidade e profissão, CPF (exigência do CNJ), endereço
(residente/situado na Rua x). Se for pessoa jurídica é preciso dizer o tipo (autarquia, sociedade simples,
etc.), colocar o CNPJ e o local da sua sede ou filial (com sede em, estabelecida em). Se o autor for um
nascituro, é preciso dizer “Nascituro de fulana, neste ato representado por ela”, e passa -se a qualificar
fulana (nascituro não tem nome). Se o endereço é ignorado deve-se dizer isso. Todas as dicas para autor
servem para o réu.
individualizado, Se não se sabe
identificado. Se ooréu
nomefor do
umaréumultidão,
é possível colocaraocitação
aceita-se apelido,dos
o importante é que ele
nomes de alguns seja
e dizer
“mais todos os outros que...”, ex. ações possessórias por invasão de multidão. Se o réu é incerto, é
preciso colocar as características (ex.: proponho a ação contra o credor da dívida tal – consignação em
pagamento), e ele será citado por edital.
5) Causa de pedir (já foi estudado).
6) Pedido (será estudado adiante).
7) Requerimento de citação: o autor tem que requerer a citação do réu. Se o réu é incerto, ou
vive em lugar incerto, terá que ser citado por edital.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
8) Requerimento de produção de provas: o autor tem que requerer na inicial para provar o
que afirma. Tem que indicar as provas e requerer a sua produção. Atenção: no MS não se pode requerer
todas as provas, apenas a prova documental.
9) Documentos indispensáveis à propositura da ação: são indispensáveis os documentos que
a lei impuser expressamente, como é o caso do título executivo na execução. Também é indispensável o
documento a que o autor se refere na inicial (se se refere a certo documento, terá que juntá-lo).
10) Atribuição de valor à causa: toda causa deve ter um valor. Em toda petição, o valor deve
ser atribuído pelo autor. Isso costuma ser feito logo ao final da petição. O valor da causa é um dado que
serve para muita coisa. Ele tem múltiplas funções: a) serve de base de cálculo para as custas processuais,
b) serve de base de cálculo para as multas processuais, c) serve para definir competência, d) serve para
definir procedimento. Ex: procedimento sumário existirá ou não, dependendo do valor da causa. Assim,
como o valor da causa tem várias funções, não se deve no concurso escrever a frase que se costuma
colocar na prática – “atribui à causa o valor de X para fins meramente fiscais”. Os fins do valor da causa
não são exclusivamente fiscais. Isso não tem sentido. Deve dizer apenas “ atribui à causa o valor X” (e
não dá-se). Existem 2 espécies do valor da causa. Vejamos:
a) Valor da causa legal: É o valor da causa calculado nos termos do art. 259, CPC. Este art. lista
uma série de situações e estabelece como se calcula o valor da causa naquelas situações. Em
suma, o que o art. 259 quer dizer é que o valor da causa é o valor econômico do seu pedido.
b) Valor da causa estipulado pelo autor: Quando a situação não se encaixa em nenhuma das
hipóteses do art. 259, CPC, cabe ao autor atribuir o valor da causa arbitrariamente. Toda
causa deve ter valor, mesmo que não tenha valor econômico. Ex: ação de guarda de filho.
Essa ação não tem valor econômico, mas deve ter valor da causa. E se for indenização por
danos morais? É o valor do pedido. Se pedir R$ 300.000,00, o valor da causa será de R$
300.000,00. Se o pedido não tiver valor (se não se estipular o valor que se quer), o pedido
será ilíquido, e o art. 259 pressupõe que o pedido seja líquido.
O valor deve ser em real. Há erro quando o autor desobedece o art. 259 ou arbitra de maneira
irrazoada
A esse valor. de valor à causa pode ser controlada/corrigida ex officio, ou controlada por
atribuição
provocação do réu. Se o réu quer controlar a atribuição que o autor deu à causa, o réu tem que provocar
a instauração de um incidente processual que se chama impugnação ao valor da causa. A impugnação ao
valor da causa é, pois, um incidente processual proposto pelo réu, inclusive recebe autos apartados, pelo
qual o réu questiona a atribuição que o autor deu ao valor da causa, questiona este ato do autor. E este
incidente processual será resolvido por decisão interlocutória, impugnável por agravo de instrumento.
É preciso distinguir impugnação ao pedido de impugnação ao valor da causa. Não são a mesma
coisa. Impugna-se o pedido na contestação. Impugna-se o valor da causa por meio desse incidente
processual específico.

Critérios para controle da atribuição do valor da causa:


I) respeito ao art. 259: quando o caso for de valor da causa legal;
II) critérios de razoabilidade: quando o caso for de valor da causa estipulado pelo autor.

(04/05/09)

 “Ocorrências” importantes em relação à Petição Inicial:

São cinco as vicissitudes da PI:

1) Emenda à PI:

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
É o conserto da PI. Emendar a PI é corrigi-la, é consertá-la. O juiz tem o dever de determinar a
emenda, diante de uma PI defeituosa. O juiz não pode indeferir a PI por um defeito dela, sem que antes
dê ao autor a oportunidade de corrigi-la. De modo que se pode dizer que existe um verdadeiro direito à
emenda. O prazo de emenda é de 10 dias, na forma do art. 284, CPC.

2) Alteração da PI:

Alterar a PI é mudá-la de alguma maneira, é trocar elementos desta PI. Essa alteração da PI pode
ser subjetiva, como a troca do réu (o autor pode pedir para mudar o réu) – essa alteração subjetiva pode
acontecer até a citação. Mas existe também a alteração objetiva da PI, que é a mais cobrada em
concurso. A alteração objetiva da PI é aquela em que se troca o pedido ou a causa de pedir. Esse
regramento é um pouco mais complexo:

/ / / /
1 2 3
- Momento 1: até a citação → a alteração do pedido ou da causa de pedir é possível;
- Momento 2: entre a citação e o saneamento → é possível desde que haja concordância do réu;
- Momento 3: após o saneamento → não é possível mais a alteração do pedido e da causa de pedir.
☺art. 264, CPC.
Essa opção do código é bastante criticada, porque ela tornou o sistema muito rígido. Imagine-se
se depois do saneamento, consentindo o réu, por que não se pode alterar o pedido e a causa de pedir?
Nesse caso seria uma mera formalidade que levaria a uma preclusão. Trata-se de uma regra obsoleta,
tendo em vista a vigência do Princípio da Adequação.

3) Aditamento da PI:

Aditar a PI CPC.
☺art. 294, é ampliá-la, é agregar pedido novo. O aditamento só é permitido até a citação.

4) Redução da PI:

Retira-se da PI algum pedido. Não existe um art. específico no código. A redução da PI pode
ocorrer de várias maneiras:
- pela desistência parcial;
- pela renúncia parcial;
- pela transação parcial.

5) Indeferimento da PI:

É uma decisão que não admite a PI (rejeita a PI), antes mesmo de o réu ser citado. O
indeferimento sempre tem que ocorrer antes da ouvida do réu. O réu nem sequer será citado para
responder aquela ação. Trata-se de uma decisão liminar, no sentido de que é sempre uma decisão
proferida no início do processo.
Se o juiz não indeferir a PI inicialmente, e o réu levar a ele causas que deveriam ser levadas em
conta para esse indeferimento, o juiz poderá se valer dessa alegação do réu, mas nesse caso não mais
poderá indeferir a PI, poderá extingui-la por algum outro motivo, mas não indeferi-la, eis que o
indeferimento só pode se dar até a citação do réu. Ou seja, um mesmo motivo pode levar ao
indeferimento da PI ou à sua extinção posterior.
O indeferimento é um tipo de extinção do processo peculiar, já que se extingue o processo sem
sequer ouvir o réu. Isto pode ocorrer porque se trata de uma decisão que favorece o réu. Por isso mesmo
também é que não haverá condenação ao pagamento de honorários advocatícios, já que o réu não foi
sequer citado.

100
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
O indeferimento da PI poderá ser impugnado por apelação e essa apelação, excepcionalmente,
permite juízo de retratação; ela permite que o juiz se retrate, se desdiga, volte atrás. Eis um caso raro de
apelação que permite retratação. Se o juiz não se retratar, a apelação subirá ao tribunal sem ouvir o réu.
É uma apelação sem contra-razões. Não haverá contra-razões por um motivo muito simples: o réu nem
citado foi. Neste caso, não será possível que se peça que o tribunal avance e julgue o mérito, já que a
causa ainda não está madura, pronta para ser decidida, já que o réu nem sequer foi citado. Se o tribunal
der provimento à apelação, os autos irão descer, o réu será citado e terá ampla resposta (art. 296, CPC).

Classificação:

1) Indeferimento total ou parcial:


O indeferimento pode ser total, quando o juiz indefere toda a PI. Neste caso, há extinção do
processo. O indeferimento parcial ocorre quando o juiz aceita parte da PI e indefere outra. Se o
indeferimento for parcial o processo não se encerra, ele terá que prosseguir em relação à parte que foi
proferida. Como o processo não se encerra, o recurso contra o indeferimento parcial é o agravo de
instrumento. Conclui-se que nem todo indeferimento da petição inicial extingue o processo.
Pode ser que o indeferimento seja de uma PI de causa de tribunal (ex.: ação rescisória), e se o
indeferimento da PI for em tribunal, ele não será nem uma sentença e nem uma decisão interlocutória (já
que esses são atos de juiz) – em tribunal ou o indeferimento será uma decisão monocrática do relator,
impugnável por agravo regimental, ou será um acórdão, sendo contra ele cabível algum dos recursos
cabíveis contra o acórdão (e não será apelação!).

2) Indeferimento com ou sem exame de mérito:


O indeferimento da PI gera uma decisão que não analisa o mérito, como regra. Sucede que há
hipóteses especiais de indeferimento da PI com análise do mérito, com resolução do mérito.
O indeferimento com análise do mérito é uma improcedência, é o juiz julgando improcedente o
pedido
julgada do autor sem
material, ouvir o Alguns
é definitiva. réu, ou chamam
seja, é uma improcedência
o indeferimento liminar.
com É uma
resolução decisãodeque
do mérito faz coisa
“julgamento
antecipadíssimo da lide”. É cabível ação rescisória contra essa decisão. Esses casos de indeferimento
com julgamento do mérito é uma improcedência prima facie.

- A primeira hipótese de indeferimento prima facie é a do indeferimento da PI por prescrição ou


decadência. Assim, só pode haver o indeferimento da PI por prescrição ou decadência se o juiz puder
conhecer de ofício da prescrição ou decadência, ou seja, no caso da decadência, o juiz só pode conhecer
de ofício da decadência legal (a contratual ou convencional não pode ser conhecida de ofício pelo juiz).
Já no caso de indeferimento por prescrição o problema é ainda mais grave: tradicionalmente a
prescrição não poderia ser conhecida de ofício, não faz parte da nossa tradição e nem da tradição da
família romano-germânica que o juiz conheça de ofício a prescrição (se é o direito do devedor, cabe a
ele exercitá-lo), mas veio o CC/16 e permite que o juiz conheça de ofício da prescrição de direitos não
patrimoniais. Essa regra do CC/16 foi repetida no CPC de 73, mas esta regra veio num art. tipicamente
não aplicado, continuando, assim, a mesma regra antiga, pois não havia casos de prescrição de direitos
não patrimoniais. Com o CC/02 houve uma mudança: passou a ser possível que o juiz conhecesse de
ofício da prescrição a favor de absolutamente incapaz. O tempo passou e veio uma lei de 2006, a Lei
11.280, que revogou o art. 194, CC/02 (que tratava do assunto), e alterou o §5º, do art. 219, CPC/73,
dando a ele uma nova redação, permitindo que o juiz conhecesse de ofício qualquer prescrição. Assim,
diante de uma interpretação literal desse novo dispositivo, não há mais restrição. O problema é que este
dispositivo está em absoluta dissonância com o nosso sistema de direito privado, visto que ele conflita
demais com outros direitos (ex.: na justiça do trabalho o juiz poderia decidir contra o trabalhador sem
nem ao menos citar o réu – por isso mesmo o TST não permite o conhecimento de ofício da prescrição
no direito trabalhista. O juiz ainda poderia conhecer de ofício a prescrição contra o consumidor ou
contra o idoso? Não, devido à hipossuficiência. Os direitos do consumidor e do idoso são
demasiadamente protegidos pela constituição). É um art. esquisitíssimo, por isso há uma divergência na
doutrina a respeito do tema. Pablo Stolze acha que qualquer prescrição pode ser reconhecida de ofício, o
101
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
prof. já acha que somente as prescrições relativas a direitos indisponíveis podem ser conhecidas de
ofício (a prescrição de direito que o réu pode renunciar não pode ser conhecida de ofício – a prescrição é
um direito do devedor e é renunciável), e há doutrinadores, como Alexandre Câmara e Humberto
Theodoro, para os quais a possibilidade de conhecimento de ofício da prescrição pelo juiz é
inconstitucional por ferir a autonomia privada. Cumpre ressaltar que a alteração do art. 219, § 5° surgiu
para desafogar o poder judiciário, a preocupação foi com a celeridade.

Questão importante para concurso:


O art. 267, I, CPC, traz um indeferimento da PI sem exame de mérito da causa.
O art. 295, IV, CPC, diz que cabe indeferimento por prescrição ou decadência.
O art. 269, IV, CPC, diz que prescrição e decadência geram decisão com exame do mérito.
Há, pois, um conflito: quando a lei diz que o indeferimento gera a decisão sem exame de mérito
(art. 267), e, ao mesmo tempo, diz que a prescrição e a decadência geram decisão com exame de mérito,
além de dizer que cabe indeferimento por prescrição e decadência.
Essa já foi questão de concurso: explique o conflito entre esses 3 dispositivos: o indeferimento
por prescrição e decadência é com exame de mérito, apesar da contradição legislativa.

- Há, ainda, uma segunda hipótese de improcedência prima facie: é a prevista no art. 285-A,
CPC, que prevê a improcedência nas causas repetitivas (julgamento liminar das causas repetitivas).
Quando se trata de causas repetitivas, daquelas que dispensam produção de provas em audiência, que
podem ser decididas apenas com prova documental e, ainda, se se tratar de causa que o juiz já concluiu
pela improcedência, ele fica dispensado de citar o réu, já podendo julgar improcedência desde logo
(utilizando-se de uma sentença modelo).
Esse art. 285-A nasceu da jurisprudência, mais especificamente da Justiça Federal, dos Jesp´s
Federais. E não há nada de inconstitucional nisso, já que o réu não é citado porque a sentença só pode
ser favorável a ele.

retratar,Aaapelação
apelaçãocontra
subiráessa
comsentença tambémNisso
contra-razões! permite
se odiferencia
juízo de retratação.
da hipóteseE anterior.
mais: se oHájuiz não se
previsão
expressa quanto a isso. Seu objetivo é que o tribunal, ao julgar esta apelação, já possa até reverter a
sentença, para que não tenha que descer de novo. Assim, a apelação já deve subir com a manifestação do
réu. Por isso, essas contra-razões funcionam como se fossem uma contestação. Por isso há quem diga,
inclusive, que esse prazo, se fosse contra ente público, deveria ser contado em quádruplo, já que é um
prazo para se manifestar pela primeira vez no processo, ou seja, seria assim um prazo de defesa. E há,
ainda, um posicionamento de Marinoni, segundo o qual o art. 285-A só pode ser aplicado se o
posicionamento do juiz estiver em conformidade com o pensamento do tribunal; isso porque se o juiz
souber que o tribunal é pela procedência e julga improcedente liminarmente, ele estaria tumultuando o
processo (☺www.professormarinoni.com.br – na parte de artigos). Não há violação ao contraditório do
réu, tampouco do autor. O art. 285-A é uma espécie de julgamento antecipado da lide, com base em
prova documental.
A previsão de contra-razões, específica ao art. 285-A pode ser aplicada ao indeferimento por
prescrição e decadência. Não há previsão expressa quanto a isso, mas é razoável que seja aplicada
também nesses casos.

Obs.: é comum a pergunta – “se o réu não foi citado, no caso de indeferimento prima facie, como
ele saberá que ganhou?” – o §6º do art. 219, que refere-se à prescrição e decadência, resolve essa
questão. Essa regra se aplica por analogia a todos os casos de improcedência prima facie (aplica-se
também ao art. 285-A). Transitada em julgado a sentença, o escrivão remete ao réu uma carta
comunicando-lhe o resultado do julgamento.

Vejamos agora os casos de indeferimento sem exame de mérito, previstos no art. 295, CPC:
1) Inépcia da PI: significa inaptidão; a PI é inepta quando não for apta. A inépcia é um dos
defeitos da PI (não é sinônimo de defeito da PI, atenção – é apenas um dos possíveis defeitos da PI). É
uma hipótese de indeferimento relacionada ao pedido ou à causa de pedir. Os casos de inépcia estão
102
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
previstos no P.U. do art. 295, são eles: a) quando faltar pedido ou causa de pedir; a doutrina entende,
ainda, que também há inépcia quando o pedido ou a causa de pedir forem obscuros; b) petição
incoerente: ocorre quando o pedido não é resultado da causa de pedir, quando o pedido não decorrer
logicamente da narração dos fatos; c) quando o pedido for juridicamente impossível, ou seja, quando
faltar essa condição da ação; d) quando se tratar de “petição suicida”, ou seja, de uma petição que
contenha pedidos incompatíveis entre si (ex. pedido de anulação e revisão de contrato).
Existe ainda uma outra hipótese de inépcia, prevista na legislação extravagante, que merece
registro: trata-se do art. 50, da Lei 10.931/04 – se o sujeito é devedor de um financiamento imobiliário e
quer revisar o valor desse financiamento, ele tem de dizer quanto acha que deve, ou seja, tem de apontar
quanto acha que deve e, se não fizer isso, a sua petição será inepta. Esse caso específico repercutiu nas
diversas outras hipóteses: sempre que eu vou a juízo solicitando revisão, eu tenho que indicar o quanto
acho que é devido.
2) Falta de interesse de agir
3) Ilegitimidade ad causam
4) Erro na escolha do procedimento: se o autor escolheu o procedimento errado (ex.: entrou
com MS, mas era caso de ação ordinária), essa escolha equivocada também gera o indeferimento da PI.
O problema é que essa escolha equivocada do procedimento só gera indeferimento se o juiz não puder
corrigir. Se o juiz puder corrigir, não deve levar ao indeferimento (☺art. 295, V). O problema é que
nenhum autor diz quando é que o juiz não poderá corrigir; em verdade ele sempre poderá fazê-lo (não há
ex. nenhum de caso em que o juiz não possa corrigir).
5) Indeferimento pelo fato do autor não emendar a PI. Se faltar algum requisito e o autor não
emendar o juiz indefere.

 Pedido:

É o pedido que irá delimitar a atividade do judiciário. É o pedido que vai dizer o que se espera do
judiciário.

→ Conceito e classificação:

É o núcleo da PI. É a sua parte mais importante.


Ele pode ser dividido didaticamente em 2:
a) pedido imediato, que é o pedido de decisão (ex. condenar);
b) pedido mediato, que é o resultado prático que se busca alcançar com o processo (ex.
dinheiro).

→ Requi sitos do pedido:

1) Certeza:
expressamente da PI.o Epedido tem que
é por isso que aser certo, ou do
interpretação seja, tem éque
pedido ser expresso,
restritiva tem CPC).
(☺art. 293, que constar
Como
regra, não se admite pedido implícito (aquele que se reputa formular sem que tenha sido efetivamente
formulado). Nos casos em que se admite pedido implícito, o juiz tem que decidir, considerando o pedido
formulado, mesmo sem ter sido feito expressamente. São casos excepcionais em que o pedido implícito
é admitido: juros legais e correção monetária, condenação ao pagamento das verbas de sucumbência,
obrigações periódicas (☺art. 290, CPC), pedido de alimentos provisórios na ação de alimentos. No caso
das prestações periódicas, as prestações futuras, vincendas reputam-se incluídas no pedido
implicitamente, caso contrário, todo mês a pessoa teria que voltar em juízo para fazer o pedido
novamente.

103
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
2) Determinação: o pedido tem que ser determinado, ou seja, tem que ser líquido, delimitado em
relação ao quê e ao quanto.
Art. 286. O pedido deve ser certo ou (leia-se e) determinado. É lícito, porém, formular pedido
genérico.
Há casos, porém, em que se admite o pedido genérico, ou seja, aquele que é indeterminado em
relação ao quantum – ☺art. 286, CPC, parte final: nas chamadas ações universais (aquelas que têm por
objeto uma universalidade – ex.: rebanho, patrimônio, biblioteca); nas ações indenizatórias, quando não
se puder determinar imediatamente a extensão dos prejuízos (pedido será: condenar o réu a ressarcir em
valor que será arbitrado depois); quando o valor do pedido depender de uma conduta do réu (ex.:
prestação de contas). Por isso que o pedido genérico é considerado relativamente indeterminado.
Atentar para o inciso II, art. 286: atos lícitos também podem gerar o dever de indenizar. É com
base nesse inciso que se costuma formular pedido genérico em ação de dano moral. A jurisprudência do
STJ aceita isso. Para o professor, não deveria ser aceito. Normalmente não falta nada para que o autor
afira o quantum lhe é devido. Todavia, nos casos em que o dano moral é continuado, é possível o pedido
genérico.

3) Clareza: se o pedido for pouco inteligível, obscuro, ocorrerá a inépcia.

4) Coerência/concludência: o pedido tem que ser concludente, o pedido tem que ser resultado da
causa de pedir.

Esses 4 atributos que se exigem do pedido, são também os mesmos 4 exigidos para a sentença, já
que a sentença é uma resposta ao pedido. “O pedido é o projeto de sentença”.

→ Cumulação de pedidos:

Há cumulação de pedidos quando vários pedidos são formulados em um mesmo processo.


A cumulação de pedidos pode se dividir em:
a) cumulação inicial: quando o processo já nasce em cumulação. A cumulação inicial forma-se
concomitantemente com o processo;
b) cumulação superveniente/ulterior: quando ocorre com o processo já em andamento. Agrega-se
um pedido novo a um processo já existente (ex.: reconvenção, ação declaratória incidental, denunciação
da lide feita pelo réu).

A cumulação pode ser ainda classificada em:


a) cumulação homogênea: é a cumulação feita pela mesma parte, ou seja, quando os pedidos são
cumulados pela mesma parte;
b) cumulação heterogênea: é aquela em que os pedidos provêm de partes distintas (ex.:
reconvenção).

A cumulação ainda pode ser dividida em cumulação própria e imprópria. Essa é a classificação
mais importante:
a) cumulação própria: é regida pela conjunção “e”, ou seja, formulam-se vários pedidos para que
todos sejam acolhidos; assim, a cumulação é própria quando os vários pedidos podem ser acolhidos.
Quer-se uma coisa e outra, e outra, e outra... Tudo o que se pede se quer, e tudo pode ser acolhido ao
mesmo tempo. Esta é a cumulação mais freqüente. Ela se divide em duas:
a.1) cumulação própria simples: nela o acolhimento de um pedido não depende do
acolhimento do outro; o autor quer A e B e o acolhimento de um é irrelevante para o acolhimento do
outro, não há entre os pedidos nenhuma dependência, ambos podem ser acolhidos e ambos podem ser
rejeitados (ex.: danos morais e danos materiais).
a.2) cumulação própria sucessiva: nela o acolhimento de um pedido depende do
acolhimento do outro. Um pedido só pode ser acolhido se o outro for acolhido também. O autor quer A e
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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
B, mas o acolhimento de B depende do acolhimento de A (ex.: investigação de paternidade e alimentos).
Assim pode-se chegar à seguinte fórmula: “B”, só se “A”.
Obs. imagine uma cumulação sucessiva heterogênea: João e Maria demandam contra Antônio.
João quer A (investigação de paternidade). Maria quer B (ressarcimento das despesas do parto). O
acolhimento de B depende do acolhimento de A. A cumulação é própria sucessiva e heterogênea. Há um
litisconsórcio ativo sucessivo, pois surge de uma cumulação sucessiva.
b) cumulação imprópria: é regida pela conjunção “ou”. Aqui vários pedidos são formulados, mas
apenas um pode ser acolhido. O autor quer A, ou B, ou C. É possível ter vários pedidos cumulados (a
cumulação é visual), mas só um deles pode ser acolhido. A cumulação imprópria se divide em duas:
b.1) cumulação imprópria subsidiária ou eventual: ela é uma cumulação imprópria na
qual o autor diz que quer A e, se não puder ter A, quer B. O autor estabelece uma hierarquia, uma ordem
de importância entre seus pedidos. O juiz só vai poder me conceder B se ele antes tiver rejeitado A. Se o
juiz pula para o pedido B sem antes rejeitar A, a sentença será nula. Tanto é assim, que se o autor ganha
B, mas perde em A (obviamente), ele pode recorrer, pois A é prioritário. Pode-se concluir, então, pela
seguinte fórmula: “B”, só se ~ “A”..
Ex. João propõe ação contra José e Antônio. Pede a condenação de José (A). Se não condenar
José, pede a condenação de Antônio (B). Houve uma cumulação eventual. Os pedidos são dirigidos a
réus diferentes. Surge um litisconsórcio entre José e Antônio: litisconsórcio eventual (art. 289, CPC).
b.2) cumulação imprópria alternativa: o juiz não tem uma ordem a seguir, já que o autor
não estabelece uma preferência, uma hierarquia entre os pedidos. O juiz pode dar B, sem examinar A. Se
o juiz der B, o autor não poderá recorrer. Não há previsão expressa de cumulação alternativa. Mas se
entende que ela é possível pela previsão da cumulação eventual.
Se o autor pedir que condene uma ou outra pessoa, surge um litisconsórcio alternativo.
Obs.: não se pode confundir cumulação alternativa com pedido alternativo! Pedido alternativo é
o pedido que se refere a uma obrigação alternativa (pode ser cumprida por mais de uma prestação). O
pedido de uma obrigação alternativa é um pedido único, mas que pode ser cumprido de mais de uma
forma. O pedido
de um pedido, alternativo
mas é único
só um pode e está previsto
ser acolhido. Esta é anodiferença.
art. 288, CPC. Na cumulação alternativa há mais
Assim:
Pedido alternativo é a imagem de um Y deitado virado para o oriente. Começa-se com uma
unidade e termina-se com uma alternância.
Cumulação alternativa é a imagem de um Y deitado virado para o ocidente. Começa-se com uma
alternância e termina-se com uma unidade.

→ Cumu lação de pedidos e L iti sconsór cio:

As cumulações de pedido podem gerar 3 tipos de litisconsórcio:


- Litisconsórcio Sucessivo: a mãe pede reembolso das despesas do parto e a criança pede o
reconhecimento da paternidade – o acolhimento do pedido da mãe depende do acolhimento do pedido
do filho. É uma aplicação da cumulação sucessiva.
- Litisconsórcio eventual: denunciação da lide feita pelo autor (é o exemplo mais famoso de
litisconsórcio eventual) – o autor A quer algo de B, mas se perder para B (ou seja, para a hipótese de
perder para B), quer que C o indenize. Ele quer mesmo é ganhar de B, mas se perder de B quer contra C.
É uma cumulação eventual, que gera um litisconsórcio eventual entre B e C porque o segundo pedido só
pode ser acolhido se o primeiro for rejeitado.
- Litisconsórcio alternativo: um devedor está na dúvida sobre quem seja o seu credor – requer ao
juiz que possa consignar o pagamento para A ou para B, sem estabelecer importância entre eles. É caso
de cumulação alternativa e, como há mais de um réu e há um pedido contra cada um deles, podendo um
só deles ser acolhido, trata-se de um litisconsórcio alternativo.

105
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
→ Requisitos para a Cumulação de pedidos:

a) Competência: é preciso que o juízo seja competente para todos os pedidos cumulados. Se o
juiz não é competente para um dos pedidos, não irá admitir a cumulação, mas irá processar o
pedido para o qual é competente.
b) Identidade de procedimento: é preciso que os pedidos cumulados tramitem sob o mesmo
procedimento. Se para cada pedido houver um tipo de procedimento, a cumulação só será
admitida se o autor optar pelo procedimento ordinário. Art. 292, § 2°, CPC: “Quando, para
cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, admitir-se-á a cumulação, se o
autor empregar o procedimento ordinário” . Isso só se aplica aos casos em que o
procedimentoOespecial
possessórias. é daqueles
autor pode abrir mão criados para proteger
do procedimento o eautor,
especial comoritoé ordinário.
optar pelo o caso dasSe
o procedimento for criado para proteger o réu, como é o caso da interdição, o autor não pode
optar pelo procedimento ordinário.
c) Compatibilidade dos pedidos: os pedidos cumulados hão de ser compatíveis. Se forem
incompatíveis haverá inépcia. Obs.: esse requisito só se aplica à cumulação própria –
cumulação imprópria não exige compatibilidade, até porque se ela é imprópria, só se quer um
pedido (e não todos ao mesmo tempo), portanto eles não precisam ser compatíveis.

106
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 RESPOSTA DO RÉU:

O réu demandado pode vir em juízo e responder das mais variadas maneiras: revelia,
reconhecimento da procedência do pedido, contestação, reconvenção, impugnação ao valor da causa,
exceções instrumentais, incompetência relativa (impedimento e suspeição), pedido de revogação da
justiça gratuita deferida ao autor.

(11/05/09)

 Teoria da Exceção:

Ao contrário da Teoria da Ação, que está relacionada ao autor, a Teoria da Exceção (e mais: a
palavra Exceção), na linguagem jurídica, remete ao réu.
Mas, assim como a palavra “ação” tem vários sentidos, a palavra “exceção” também tem vários
sentidos, que são simétricos aos da palavra “ação” – são eles:

a) Sentido constitucional: é o direito de defesa. Assim, como a ação em sentido constitucional é


o direito de ir ao Judiciário, a exceção aqui é o direito de se defender.

b) Sentido processual: é qualquer defesa apresentada pelo réu; assim, tudo o que o réu alega em
sua defesa é uma exceção. Da mesma forma que a ação em sentido processual quer dizer
demanda, é exercício do direito de ir a juízo, a palavra exceção, neste sentido, quer dizer
exercício do direito de defesa, qualquer defesa concretamente formulada.

c) Sentido material: é a chamada “exceção substancial” (uma figura um pouco esdrúxula e em


geral estudada de maneira superficial). Exceção substancial é um direito do demandado. Não
é um instituto processual, mas sim material. Ela é um direito utilizado como defesa ao ataque
que foi dirigido ao réu (é um direito usado como mecanismo de defesa). A exceção
substancial é um direito contra direito: é um direito utilizado contra um outro direito, mas
que se exerce como defesa. O autor tem o direito dele e o réu tem um outro direito que
aniquila o direito do autor. É um “antídoto contra um veneno”. O réutem um direito contra o
direito do autor. O contra-direito pressupõe o direito do adversário (pois o objetivo do contra-
direito é neutralizar o direito). Este direito do réu é uma defesa, é exercitado na contestação.
É uma defesa com uma peculiaridade: é também um direito (ou seja, é um direito utilizado
como defesa). Atenção: quem exerce uma exceção substancial não nega o direito do autor,
não nega a pretensão do autor. Quem exerce uma exceção substancial pressupõe o direito do
autor para neutralizá-lo (o antídoto não nega o veneno, mas sim parte do pressuposto de que
há o veneno, para então aniquilá-lo). Não se pode reconvir para alegar exceção substancial,
pois é um direito de defesa.

Exemplos:
- o mais famoso exemplo de exceção substancial é a exceção de contrato não cumprido (o
réu não nega o que o autor quer, mas diz que o autor não tem direito ao que quer enquanto
não cumprir sua parte. É um exercício contra o direito do autor);
- direito de retenção (direito de reter a coisa pelo valor das benfeitorias – depois de pago o
valor das benfeitorias o réu devolverá a coisa) – é um direito utilizado como defesa;
- prescrição (direito de não pagar a dívida prescrita – não se nega o crédito, o direito do
autor, mas apenas se alega que o crédito prescreveu).

107
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Esses exemplos são indiscutíveis. Numa eventual questão aberta é melhor parar nesses
exemplos. Há um ex. de exceção substancial mais polêmico, que é a compensação– a
compensação é um contra-crédito (e por isso um contra direito), e isso é indiscutível. Mas
parte da doutrina (conforme Pontes de Miranda) não coloca a compensação como exceção
substancial, pois a compensação visa a extinção do crédito. Para Pontes, para ser exceção
substancial é preciso que vise apenas a neutralização do direito. Da mesma forma, alegação
de usucapião em defesa, para Pontes, não é exceção substancial, pois visa extinguir o direito
do dono.
As exceções substanciais, como são direitos, não podem ser conhecidas de ofício. Exceção
substancial que o juiz conhece de ofício, significa que o juiz exerce um direito de defesa pelo
demandado. Por isso o prof. entende que a prescrição não pode ser reconhecida de ofício.
As exceções substanciais é uma das espécies de defesas, e é isso o que é relevante para o
direito processual. No mais, trata-se de uma matéria de direito material (Direito Civil).
**☺art. 190, CC: “A exceção prescreve no mesmo prazo em que a pretensão” (trata da
exceção substancial). Como veremos, as exceções substanciais são defesas de mérito.

Aqui estudaremos mais a fundo a acepção processual da palavra Exceção: direito de defesa.

 Classificação das Defesas:

→ 1ª Classificação: é a que divide as defesas em:

a) Defesas de admissibilidade: são as defesas opostas contra a regularidade do processo; o réu,


em sua defesa, questiona a regularidade do processo, ou seja, a possibilidade de um pedido ser
examinado pelo juiz. Têm por objetivo que o pedido não seja examinado. Ex.: incompetência, conexão,
carência de ação, falta de pressuposto processual, etc. No direito brasileiro, a defesa de admissibilidade é
prioritária à defesa de mérito (art. 301, CPC).
b) Defesas de mérito: são as defesas que têm por objetivo impedir o acolhimento do pedido.
Ex.: pagamento, decadência, nulidade absoluta do negócio, e todas as exceções substanciais. As
exceções substanciais, assim como o pagamento e a decadência, são sempre defesa de mérito.

→ 2ª Classificação:

a) Defesa direta: é aquela em que o réu não traz nenhum fato novo ao processo; é uma defesa que
não agrega nada de novo do ponto de vista fático ao processo. O réu se defende sem alegar fato
novo. São apenas duas as suas espécies: a.1) há defesa direita quando o réu nega os fatos
afirmados pelo autor; a.2) há defesa direta quando o réu reconhece os fatos do autor, mas nega as
conseqüências jurídicas pretendidas pelo autor (o que o autor pretende extrair do que ocorreu) –
essa segunda modalidade de defesa direta é também chamada de Confissão“ qualificada”.
Obs. sobre a defesa direta:
- se a defesa é direta, todo o ônus da prova é do autor (já que o réu não traz fato novo algum);
- se a defesa é direta, não haverá réplica (manifestação do autor sobre a contestação);
- toda defesa direta é de mérito (sem exceções).

b) Defesa indireta: é aquela em que o réu traz fato novo ao processo; ele agrega ao processo fato
novo sempre que se defende. Ai haverá necessidade de réplica (o autor será ouvido para se
manifestar sobre tais fatos novos). Se a defesa é indireta, o ônus da prova do fato novo é do réu.
Atenção: toda exceção substancial é defesa indireta (é defesa indireta de mérito). Toda defesa de
admissibilidade é indireta.

Dicas:

108
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- a defesa de admissibilidade é sempre indireta;
- a defesa direta é sempre de mérito;
- existe defesa de mérito indireta. Ex. exceções substanciais;
- quando o réu reconhece os fatos do autor (como na exceção substancial), mas traz fato novo que
impede, modifica ou extingue o que o autor quer, ocorre o que se chama confissão complexa, porque
tem a parte da confissão e a parte da alegação de fatos novos. Quando a confissão é complexa, fala-se
que ela é divisível ou cindível, o que significa que o juiz pode aceitar apenas uma parte dela (pode, por
ex., aceitar apenas a confissão e não aceitar o fato novo, pode dividi-la, já que ela é composta de duas
partes). Atenção: a confissão é de regra indivisível, ela só é divisível se for complexa (a confissão
qualificada não é cindível, só a complexa o é) – ☺art. 354, CPC.

→ 3ª Classificação:

a) Objeções: objeção é a defesa que o juiz pode conhecer de ofício. Se a defesa for daquelas que o
juiz pode conhecer de ofício, trata-se de objeção. Ex.: incompetência absoluta, decadência legal,
carência de ação, pagamento (atenção para esse ex.: se houver nos autos prova do pagamento, o
juiz pode conhecer dele de ofício).
b) Exceções em sentido estrito: são as defesas que o juiz na pode conhecer de ofício. Ex.:
incompetência relativa, decadência convencional, exceções substanciais (exceto a prescrição) e o
compromisso arbitral.

Obs.: Exceção de Pré-executividade: é o nome que se dá a um tipo de defesa na execução, deita de


maneira mais simples. Será estudado de forma mais aprofundada no intensivo II. Para alguns autores
como Nelson Nery, ela deveria se chamar objeção de pré-executividade, mas prevalece o nome exceção
porque esta palavra pode significar qualquer defesa, e a jurisprudência começou a dizer que por exceção
de pré-executividade pode ser alegada qualquer defesa.

→ 4ª Classificação:

a) Defesa Peremptória: é a defesa que visa exterminar o que o autor pretende; é uma defesa com
fins destrutivos, que visa aniquilar a pretensão do autor. Ex.: prescrição, pagamento, carência de
ação, decadência, convenção de arbitragem.
b) Defesa Dilatória: é a defesa que visa apenas retardar o que o autor pretende; ela cria um
obstáculo temporário para dilatar no tempo o que o autor pretende. Ex. de defesa dilatória de
admissibilidade: conexão, incompetência (só se quer a remessa dos autos ao juízo competente,
para retardar o que o autor pretende); ex. de defesa dilatória de mérito: direito de retenção,
exceção de contrato não cumprido (tem por objetivo retardar no tempo o pedido do autor, já que
quando este cumprir sua obrigação, o réu também deverá cumprir com sua).

 Contestação:

→ Conceito:

A contestação é o instrumento da defesa, assim como a petição inicial é o instrumento da ação.


Ou seja, é a forma pela qual se apresenta a defesa em juízo. Assim, o que foi dito sobre a PI pode ser
aplicado à contestação, desde que ressalvado que se trata de uma peça de defesa.

→ Regras Básicas da Contestação:

109
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
A contestação se estrutura sob duas regras básicas:

I) Princípio da Concentração da Defesa ou Eventualidade: a contestação tem de conter


toda a defesa do réu; a contestação concentra a defesa do réu. Ademais, o réu tem que alegar tudo o que
puder, para a eventualidade do que passar pela mente do juiz, ou seja, para o caso de superado um
argumento, deve a contestação concentrar todo outro argumento possível. Por isso se admite cumulação
imprópria de defesas – formula-se mais de uma defesa, para pelo menos uma ser acolhida (art. 300,
CPC). Ocorre que este Princípio sofre duas mitigações: a primeira é o fato de que existem defesas que
tem de ser alegadas, exercidas fora da contestação, por imposição do próprio Código (e, portanto, quebra
a concentração da contestação) – é o que ocorre com a incompetência relativa, impedimento e suspeição;
a segunda é que existem algumas defesas que podem ser alegadas, exercidas, deduzidas depois da
contestação – é o caso das defesas decorrentes de fatos supervenientes, das objeções (porque podem ser
conhecidas de ofício, podem ser alegadas a qualquer tempo), e das matérias que a lei autoriza sejam
alegadas a qualquer tempo (mesmo não sendo objeções), que é o caso da decadência convencional.
*☺art. 303, CPC.

II) Ônus da Impugnação Especificada: o réu tem o ônus de impugnar cada um dos fatos
afirmados pelo autor, sob pena de que o fato não contestado especificadamente seja considerado como
fato ocorrido, admitido como incontroverso (portanto, dispensa prova). Ou seja, pelo ônus da
impugnação especificada não se admite contestação genérica. ☺art. 302, CPC.

Este Princípio sofre também duas mitigações:


- a primeira é o fato de que alguns sujeitos estão dispensados deste ônus – é o caso do curador
especial, do advogado dativo e do MP. OBS. a) percebam que são sujeitos que caem no processo de pára
quedas para fazerem a defesa do réu, por isso seria muito complicado fazer essa impugnação específica;
b) o MP foi incluído nesse rol em 1973, na época em que podia defender interditando; mas essa regra
não tem maisespecificamente,
de impugnar aplicação prática;
masc) omuito
prof.gente entende
entende queum
que seria a Fazenda Pública também
comportamento está dispensada
anti-ético;
- a segunda mitigação ao ônus da impugnação especificada é que alguns fatos mesmo que não
impugnados não podem ser considerados como ocorridos, porque não podem ser provados pela simples
não impugnação do réu, a não impugnação do réu não pode suprir a prova, nem será capaz de dispensar
a prova dos fatos – art. 302, I - são os fatos que não podem ser confessados (e por isso também não
podem ser considerados verdadeiros se não impugnados, cabendo ao autor prová-los – são os fatos
relacionados a direito indisponível), II - os fatos que só se provam por instrumento (o silêncio do réu não
supre a falta do instrumento quando este é considerado da essência do ato, como é o caso do
testamento), e, por fim, III - também não se aplica essa presunção de veracidade quando o fato não
impugnado estiver em contraste com o resto da defesa do réu (quando o contexto da defesa revela que o
réu pretendia impugnar, o conjunto da defesa revela o animus de impugnar o fato, embora não o tenha
feito).

→ Revelia:

É a não apresentação tempestiva da contestação. Ou seja, o réu, citado, não respondeu, trazendo
sua defesa, dentro do prazo.
Revelia é um fato: é o fato da não apresentação tempestiva da defesa.
Este fato tem várias conseqüências jurídicas. E atenção: o fato revelia é diferente das
conseqüências jurídicas (efeitos nocivos ao réu) da revelia.
Tão importante como saber quais são esses efeitos nocivos da revelia, é saber o que pode ser
feito para proteger o réu revel. É o que estudaremos a partir de agora.

Efeitos da revelia:

110
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
1) Efeito material: presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo autor - é o efeito mais
conhecido. É a confissão ficta. Ela não se confunde com a própria revelia (revelia é o fato de não
apresentar defesa, a confissão ficta é um dos efeitos da revelia).
2) Efeito processual: prosseguimento do processo sem a intimação do réu revel - é um efeito
muito drástico.
3) Preclusão da possibilidade de se apresentar algumas defesas: a revelia faz com que
algumas defesas fiquem preclusas.
4) Possibilidade de julgamento antecipado da lide: é o que se pode chamar de efeito mediato
da revelia; é um efeito que só ocorrerá se houver confissão ficta (ele só ocorrerá se aquele efeito da
confissão ficta ocorrer – ou seja, havendo confissão ficta pode haver julgamento antecipado da lide). É
um efeito reflexo, pois pressupõe o primeiro efeito.

**Mitigações aos efeitos da revelia – sistema de proteção do réu revel:

São 12:

1) A presunção de veracidade não é um efeito automático, necessário da revelia. A presunção de


veracidade depende de um mínimo de verossimilhança das alegações do autor. Se as afirmações do autor
forem absurdas, não será a revelia que as tornarão alegações verídicas. Esse entendimento já está
consagrado expressamente nos Jesp’s e procedimento sumário. Não haverá presunção de veracidade se o
contrário resultar da prova dos autos.

2) A presunção de veracidade recai apenas sobre os fatos. O que significa que o réu revel pode ganhar.
A revelia não significa procedência do pedido.

3) Existem alegações de defesa que podem ser feitas após o prazo da contestação. O réu revel pode vir
ao processo posteriormente para alegar uma dessas defesas que não precluem (☺art. 303, CPC).
4) O réu revel tem o direito de intervir no processo a qualquer momento. E a partir de sua intervenção
tem o direito de ser intimado dos atos subseqüentes (art. 322, CPC e súmula 231, STF: O revel, em
processo civil, pode produzir provas, desde que compareça em tempo oportuno).

5) Réu revel que tem advogado nos autos tem o direito de ser intimado (art. 322, caput, CPC). Aquele
efeito da revelia não se lhe aplica.

6) Havendo revelia, o autor só poderá alterar o pedido ou a causa de pedir se promover nova citação.
☺art. 321, CPC.

7) Sentença proferida contra réu revel não citado ou citado invalidamente pode ser impugnada a
qualquer tempo, por meio da chamada “querela nullitatis”. Ou seja, a querela nullitatis é mais uma
mitigação dos efeitos da revelia, e mais uma forma de proteger o réu.

8) Réu revel citado por edital ou com hora certa tem direito a curador especial. Revelia que decorre de
citação por edital ou com hora certa não produz efeitos. Nomeia-se o curador especial, que terá que fazer
a defesa (art. 9°, II).

9) O assistente simples pode conduzir o processo pelo assistido revel (art. 52, PU, CPC).

O art. 320, CPC (A revelia não induz, contudo, o efeito mencionado no artigo antecedente) traz
hipóteses em que não ocorrerá a presunção de veracidade.

111
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
10) art. 320, I, CPC: se, havendo pluralidade de réus, algum deles contestar a ação: havendo
litisconsórcio passivo, se um contestar beneficia a todos. Aplica-se ao litisconsórcio unitário. Em relação
ao litisconsórcio simples, esse dispositivo pode se aplicar aos fatos comuns.

11) art. 320, II, CPC: se o litígio versar sobre direitos indisponíveis.

12) art. 320, III, CPC: se a petição inicial não estiver acompanhada do instrumento público, que a lei
considere indispensável à prova do ato: ato que só se prova por instrumento, só se prova por
instrumento. A revelia não supre a prova por instrumento quando for da substância do ato.

 Exceções Instrumentais:

São defesas deduzidas separadamente da contestação, sendo autuadas também separadamente


(recebem autos próprios), gerando um incidente processual.
Estão reguladas no código como resposta do réu.
Aqui é importante dividir o estudo em dois grupos:

a) Exceção pela qual se alega a incompetência relativa, e


b) Exceção pela qual se alega o impedimento ou a suspeição.

Vocabulário importante:
- excipiente: é o sujeito que propõe a exceção, ou seja, é quem alega a exceção.
- exceto ou excepto: é aquele contra quem se alega a exceção.

A lei diz que o prazo para entrar com as exceções instrumentais conta-se da data do fato que
gerou incompetência, impedimento ou suspeição.
Art. 305. Este direito pode ser exercido em qualquer tempo, ou grau de jurisdição, cabendo à
parte oferecer exceção, no prazo de 15 (quinze) dias, contado do fato que ocasionou a incompetência, o
impedimento ou a suspeição.
Observações a respeito do art. 305, CPC:
1) a incompetência relativa é sempre no primeiro momento que couber falar nos autos (no início)
– não existe incompetência relativa superveniente. Assim, depois de citado o réu terá 15 dias para alegá-
la, sob pena de preclusão. Se se tratar de Fazenda Pública, apesar de a lei não falar expressamente (já
que diz que o benefício do prazo prolongado é para contestar), entende-se que ele também se aplica aqui
– quádruplo para contestar e dobro para recorrer;
2) Esse prazo de 15 dias é inócuo para o impedimento. Não há prazo para alegar impedimento,
que pode ser alegado a qualquer tempo. Ele gera, inclusive, ação rescisória;
3) Embora exista prazo para alegar suspeição, ele só se aplica às partes. Só as partes podem
perder o direito de argüir suspeição, pois o juiz pode se declarar suspeito a qualquer tempo.
4) O impedimento e a suspeição podem ocorrer durante o processo. Até porque o juiz pode se
tornar impedido ou suspeito no curso do processo, ou até mesmo na sentença (caso na sentença ele se
mostre parcial). Obs. há uma regra no Código Eleitoral que diz que não se deve aceitar a suspeição se
ela foi provocada pela parte. Eis um comportamento temerário para burlar o juiz natural. Aplica-se, por
analogia, ao processo civil, como conseqüência da boa-fé (editorial 61).

a) Exceção de Incompetê
ncia Relativa:

Na exceção de incompetência relativa, é sempre o réu o excipiente e o autor o exceto. Por conta
disso, é sempre o juiz da causa que julgará esta exceção, e esta decisão do juiz é uma decisão
interlocutória impugnável por agravo de instrumento.

112
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
A incompetência relativa pode ser suscitada no domicílio do réu. O réu não precisa ir ao foro
onde está tramitando a causa para alegar incompetência relativa (Art. 305, PU, CPC).
A incompetência relativa tem por objetivo a remessa dos autos ao juízo competente. É preciso
lembrar que a incompetência relativa não gera a nulidade dos atos decisórios.

b) Exceção de Impedimento ou de Suspeição:

O excipiente pode ser qualquer das partes. A alegação de impedimento e suspeição não é
necessariamente uma resposta do réu. Para o professor, é melhor utilizar a expressão: “argüição de
impedimento
juiz, o tribunal,ouo suspeição”
membro do eMP,
nãoo exceção,
servidor epois não éOusempr
o perito. e oa outra
seja, réu que a alega.
parte não é oOexceto.
exceto pode ser o
As exceções instrumentais suspendem, em regra, o processo. Quando a argüição de suspeição ou
impedimento é dirigida contra o promotor, o escrivão ou o perito (alguém que não é juiz), essa argüição
não suspende o processo. Todas as exceções instrumentais (incompetência relativa, impedimento, ou
suspeição) suspendem o processo, menos essas. E, além de não suspenderem o processo, as argüições de
impedimento ou suspeição contra perito, escrivão ou promotor serão julgadas pelo próprio juiz da causa,
que julgará em decisão interlocutória impugnável por agravo de instrumento. OBS. o impedimento e a
suspeição têm por objetivo remeter os autos ao órgão substituto (na incompetência relativa vai para o
juízo competente).
Mas, quando o impedimento ou suspeição são dirigidos ao órgão jurisdicional (juiz), nesses
casos quem julgará é sempre um tribunal. Se o juiz não se reconhecer impedido ou suspeito, é o tribunal
que julgará essa argüição. Assim, a decisão do tribunal não será uma decisão interlocutória, e sim um
acórdão, e como acórdão que é, será impugnável por Resp. ou RE, conforme o caso.
O TJ ou TRF julga EIS de juízes e desembargadores. O STJ e o STF julgam EIS de seus
ministros.
Se alguém quiser alegar o impedimento ou suspeição de um tribunal inteiro ou da maioria
absoluta de um tribunal será o STF que julgará a argüição de suspeição ou impedimento de qualquer
tribunal. Se o STF entender que o tribunal é suspeito, também julgará a causa.
Mas e se a suspeição for do STF? Se a suspeição for do STF inteiro, não há solução; mas se a
suspeição for de parte do STF e esse número inviabilizar quorum de votação, ai então serão chamados
ministros do STJ para compor o quorum (foi o que houve no julgamento de Collor).

Poder Especial de Advogado: há uma discussão na jurisprudência sobre se alegar suspeição exige
poder especial do advogado. Ou seja, seria preciso uma autorização especial na procuração ou o poder
geral já autoriza que o advogado argua a suspeição? No âmbito do processo penal entende-se que é
preciso poder especial para tanto, mas no âmbito civil não se entende necessário o poder especial (mas é
conveniente).

Os atos decisórios antes praticados são nulos (alguns entendiam que isso só valia para os casos
de impedimento, mas o que predomina hoje é que vale tanto para o impedimento como para a
suspeição);
O juiz que não aceitou a suspeição que depois veio a ser reconhecida arcará com as custas do
retardamento (☺art. 314, CPC – e o juiz pode recorrer dessa decisão, e aqui há uma discussão na
doutrina sobre se o juiz tem ou não capacidade postulatória);

Questão polêmica: uma decisão sobre suspeição e impedimento vale para outros processos além
daquele em que ela foi proferida? Há coisa julgada? A maioria, inclusive o professor entende que sim,
mas há polêmica sobre esse assunto. Se as coisas mudarem, a coisa julgada não se aplica. Ela só se
aplica rebus sic stantibus.

113
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
 Reconvenção:

A reconvenção é uma ação do réu, contra o autor no mesmo processo em que o réu está sendo
demandado. Reconvenção é uma modalidade de resposta do réu, mas não é defesa, é demanda, ataque.
O réu agrega um pedido novo ao processo, mas não gera processo novo. A reconvenção amplia
objetivamente o processo. Torna o processo um processo maior do ponto de vista objetivo, porque um
novo pedido é feito, sem gerar processo novo.
A reconvenção é um incidente do processo. Tanto é assim que se o juiz indeferir a PI da
reconvenção, essa será uma decisão interlocutória impugnável por agravo de instrumento (ele não estará
extinguindo o processo).
A ação e a reconvenção
ações autônomas. Isso significadeverão
que umaserdelas
julgadas
podesimultaneamente na mesma
não ser julgada, ou sentença,
seja, pode embora
faltar um sejama
requisito
uma delas.
Importante: o réu que reconvém exerce o verbo reconvir, que é um verbo da família do verbo
“vir” (e não do verbo “ver”). Por isso, o réu reconveio ou interveio (e não “reconviu” ou “interviu”). O
réu que reconvém é chamando de réu reconvinte. E o autor, que será o réu da reconvenção, é o
reconvindo.

Competência: para o réu reconvir, é preciso que juiz seja também competente para a
reconvenção. Se não for competente para a reconvenção, o juiz não a aceitará.
O autor será intimado, na pessoa do seu advogado, para apresentar resposta à reconvenção no
prazo de 15 dias. O autor, réu da reconvenção, pode ser revel. Mas é um revel que está nos autos,
portanto, tem direito de ser intimado dos demais atos processuais. Não se aplica a ele a confissão ficta se
a PI dele tiver uma versão diferente sobre os fatos. Só há confissão ficta na reconvenção quanto a fatos
completamente novos, até então não vistos (sobre os quais o autor ainda não se manifestou na PI).
O autor poderá, ainda, apresentar uma reconvenção da reconvenção, pois sendo réu da
reconvenção pode apresentar qualquer resposta do réu, ou seja, pode apresentar reconvenção.
Prazo: a reconvenção tem que ser oferecida no prazo da contestação. Tanto que se for ente
público, terá prazo em quádruplo para reconvir. Mas, se o sujeito quer reconvir e contestar, ao mesmo
tempo, ele pode fazê-lo, mas tem que fazê-lo ao mesmo tempo. Ele não pode contestar num dia e
reconvir em outro, nem vice-versa, ainda que dentro do prazo. As duas coisas devem ser feitas ao
mesmo tempo, sob pena de preclusão consumativa.

(18/05/09)

Custas: Reconvenção tem custas? Na Justiça Federal, não, porque existe lei federal que dispensa
as custas para a reconvenção (é uma forma de se estimular a reconvenção no mesmo processo, para que
não seja necessária a abertura de um novo processo). Na justiça estadual, varia conforme a lei de cada
Estado.

Outro requisito da reconvenção que precisa ser observado é: a reconvenção tem de tramitar pelo

mesmo
este procedimento
pedido da pelo
novo tramite ação mesmo
principal. Se a reconvenção
procedimento agrega
do outro. pedido
A ação novoeàacausa,
principal é preciso
reconvenção que
devem
seguir juntas, pelo mesmo procedimento.

Procedimento especial: cabe reconvenção em procedimento especial? Se a causa tramita em


procedimento especial, o réu pode reconvir? Se o procedimento especial vira ordinário com a defesa,
cabe reconvenção. É por isso que cabe reconvenção em ação monitória (ela se transmuda em
procedimento ordinário com a defesa) - ☺Súm. 292, STJ.
Mas nem todo procedimento admite reconvenção. Nos Jesp´s, por ex., não cabe reconvenção, por
proibição expressa. No Jesp cabe pedido contraposto. Do ponto de vista substancial não há diferença
entre reconvenção e pedido contraposto, eles, substancialmente, são a mesma coisa, já que o pedido

114
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
contraposto é uma demanda do réu contra o autor, da mesma forma que a reconvenção. A diferença
entre eles é, pois, formal. O pedido contraposto é mais singelo do que a reconvenção. O pedido
contraposto é formulado na própria contestação e ele fica limitado aos fatos deduzidos pelo autor, ou
seja, o réu não pode, no pedido contraposto, trazer fato novo. O pedido contraposto é, assim, uma
reconvenção mais simples e com outro nome.
No procedimento sumário também não se admite reconvenção. A diferença é que no
procedimento sumário não há regra expressa nesse sentido. Entende-se, doutrinariamente, que não cabe
reconvenção no procedimento sumário porque no sumário cabe pedido contraposto (e quanto a isso há
previsão expressa). Ou seja, a reconvenção não caberia no sumário porque não cabe nos Jesp´s.

Conexão: A reconvenção tem de ser conexa com a ação principal ou com os fundamentos de
defesa. A conexão é um pressuposto da reconvenção. Essa conexão, pressuposto da reconvenção, no
entanto, não é a conexão estudada em competência. O nome é o mesmo, mas são coisas distintas.
Conexão para fins de reconvenção não é a conexão para fins de qualificação de competência. A conexão
aqui é algo muito simples. É simplesmente o fato de a reconvenção “ter a ver” com a ação principal ou
com os fundamentos de defesa, ou seja, é ter qualquer liame, ter qualquer ligação com a ação principal
ou com os fundamentos de defesa.
- Pergunta: A reconvenção pode ampliar subjetivamente o processo? Ou seja, pela reconvenção é
possível trazer sujeito novo ao processo? O réu pode reconvir contra outro sujeito que não seja o autor?
A reconvenção pode ampliar subjetivamente, desde que ela seja proposta contra o autor e um
terceiro em litisconsórcio necessário. Só neste caso será possível tal ampliação.

- Pergunta: Se o autor é substituto processual, pode o réu reconvir?


Sim, desde que o réu (B) demande contra o substituído (C) e o autor (A) responda por C, como
legitimado extraordinário de C. Ou seja, os dois pressupostos são: é preciso que o pedido que B formule
na reconvenção seja um pedido dirigido a C (o substituído) para que A responda (porque A é substituto
processual). A lógica
permanecer como é a seguinte:
substituto A é substituto
processual passivo. processual
Portanto, oativo,
pedidoe, tem
havendo reconvenção,
que ser eleAtem
para C, mas queo
será
réu. Importante lembrar que cabe reconvenção em ação coletiva.
Ex.: uma administradora de consórcio, quando vai a juízo, é substituta processual dos
consorciados; se uma administradora de consórcio vai a juízo contra uma empresa, se esta empresa
quiser reconvir, ela tem que reconvir contra os consorciados, e não contra a administradora, para que a
administradora possa atuar como substituta processual passiva dos consorciados.
☺art. 315, P.U, CPC – este é um art. muito mal escrito, por isso nem é bom lê-lo. Basta saber
que o que ele diz é exatamente o que foi dito acima.

→ *Interesse de agir na reconvenção:


A grande questão sobre o interesse é saber quando a reconvenção é necessária, ou seja, quando
há interesse de agir na reconvenção.
Aqui é preciso seguir uma regra geral: “Não cabe reconvenção por falta de interesse quando o
que se pretende por ela puder ser alcançado com a contestação ”.
Esta é uma regra fundamental. Não tem erro. Se a reconvenção veicular ou pretender algo que
seria possível se obter com a contestação, a reconvenção é desnecessária e, portanto, falta interesse de
agir.
Aplicações desta regra:
- Cabe reconvenção para pedir a improcedência do pedido do autor? Não, porque a
improcedência pode ser obtida com a contestação.
- O autor entra com uma ação declaratória positiva (quer obter a declaração da existência de uma
relação jurídica). Cabe reconvenção para pedir a declaração de inexistência da relação jurídica? Não,
porque a declaração de inexistência pode ser obtida com a simples defesa. Seria, pois, a reconvenção,
desnecessária.

115
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- Cabe reconvenção em ação declaratória? Sim, cabe. Só não cabe para pedir a declaração
contrária (o contrário do que o autor está pedindo), como visto acima. ☺Súm. 258, STF: “É admissível
reconvenção em ação declaratória”.
- Cabe reconvenção para pedir compensação? Não, porque a compensação é um contra-direito, e
como contra-direito que é, deve ser alegado em defesa. Assim, não há necessidade de reconvir para
alegá-la. Assim, chegamos a uma outra regra: não cabe reconvenção para exercer exceção substancial
(qualquer que seja ela), já que exceção substancial é defesa.
Mas atenção: o réu pode reconvir para pedir uma eventual diferença que resulte da compensação.
Se a compensação gerar para o réu um crédito, ele pode reconvir para pedir a diferença do crédito.
- Em caso de oferta de alimentos, se o pai oferta R$1.000,00 e o filho quer R$3.000,00, precisa
reconvir? Não, porque a ação de oferta de alimentos é uma ação dúplice, por isso basta que o réu se
defenda para que ele exerça a sua pretensão.

*Importante:
- Súmula 381, STJ: cláusulas abusivas dos contratos bancários. É uma súmula pessimamente redigida.
Não corresponde aos seus precedentes. Ler o editorial 63, site do professor.

116
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

(30/05/09 – aula de sábado)

 PROVIDÊNCIAS PRELIMINARES:

As providencias preliminares preparam o julgamento conforme o estado do processo e servem


para sanear o feito.
Após o prazo de resposta do réu os autos voltam para ao juiz. A partir desse momento, dá-se
início aAuma
fasefase chamada
chama-se dede fase de saneamento.
saneamento porque é uma fase em que o magistrado toma providências para
que o processo fique limpo, organizado, reparado, regularizado, ou seja, apto para que nele seja
proferida uma decisão. Essa decisão, preparada por essas providências, é denominada julgamento
conforme o estado do processo. As providências tomadas pelo juiz são as providências preliminares.
Atenção: não podemos confundir saneamento com fase de saneamento. O saneamento acontece
ao longo de todo o processo, já que durante todo ele, o magistrado tem que tomar providências
saneadoras (ex.: mandar emendar uma PI defeituosa). O saneamento acontece, pois, durante todo o
processo. Mas, na fase de saneamento os atos de saneamento são concentrados, ou seja, é o momento
propício para isso (mas não é o único momento em que a atividade de saneamento acontece).
Exemplos de providências preliminares:
- se o réu fez uma defesa indireta, a providência preliminar que deve ser tomada é a intimação do
autor para a réplica;
- se o réu é revel, mas a citação se deu por edital, a providência preliminar a ser tomada é a
nomeação de curador especial;
- o réu reconveio, a providência preliminar a ser tomada é a intimação do autor para contestar a
reconvenção;
- o réu, em sua defesa, aponta um vício processual, a providência preliminar a ser tomada pelo
juiz é a determinação da correção do vício;
- se o réu fez uma denunciação da lide em sua defesa, o juiz deverá determinar a citação do
denunciado (do chamado, do nomeado à autoria).
Existe uma providência preliminar que merece uma análise mais detalhada: trata-se da ação
declaratória incidental.

 Ação declaratória incidental:

Antes de sabermos o que é a ação declaratória incidental, é preciso antes saber o que é uma
questão prejudicial. Questão prejudicial é uma questão que tem que ser examinada antes de outra
questão. Há entre elas uma relação de subordinação lógica. A questão prejudicial é logicamente prévia
em relação à questão subordinada.
Essa subordinação ocorre porque a solução da questão prejudicial pode determinar a solução da
questão prejudicada.
Ex.: a paternidade é prejudicial aos alimentos – ora, se não for pai, não deve alimentos. Ou seja,
a solução desta questão pode determinar a solução da questão seguinte.
Questão incidente x questão principal: são duas noções teóricas muito importantes:
Qualquer decisão na vida de um ser humano pode ser fracionada em duas partes – ex.: fazer algo
ou não fazer algo, casar ou não casar, etc. Para decidir se casa ou não casa, será necessário examinar
algumas questões anteriores: gostar, diminuir a liberdade, tem dinheiro, etc. A questão principal é aquela
que é objeto da decisão, as questões incidentes (anteriores) são aquelas que devem ser examinadas para
que se tome a decisão principal.

117
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
No processo é a mesma coisa: existe a questão principal que é o pedido (acolher ou não o
pedido), e as questões incidentes são aquelas que devem ser examinadas para que o pedido seja
examinado, para ser acolhido ou rejeitado. Isso acontece em todo e qualquer processo, não há exceções.
As questões incidentes serão examinadas na fundamentação da sentença. A questão principal
será examinada no dispositivo da decisão.
A coisa julgada atinge a solução da questão principal. O que o juiz examina como questão
incidente não faz coisa julgada.
Questão incidenter tantum é o nome que se dá a análise incidente da questão. Quando se examina
uma questão como uma questão incidente, como uma questão que comporá a fundamentação da decisão,
se diz que a questão foi examinada incidenter tantum (ou seja, foi examinada como um fundamento para
a decisão de uma outra questão). Aplicação prática: quando se estuda controle difuso de
constitucionalidade, aprende-se que se trata de um controle incidenter tantum ou incidental, porque nele
a inconstitucionalidade é examinada como fundamento, como uma questão incidente; é por isso que não
há coisa julgada em relação à inconstitucionalidade.
Menos famoso, mas também muito importante é o modo de se referir à solução da questão
principal: principaliter tantum. A sua solução faz coisa julgada.
Essa diferença é absolutamente indispensável para a compreensão do processo.
Não há como saber se uma questão é sempre incidente ou sempre principal, porque depende da
maneira como ela aparece em cada processo. Uma mesma questão, num mesmo processo, não pode ser
ao mesmo tempo incidente e principal, mas em processos diferentes uma mesma questão pode aparecer
de forma diferente.
Ex.: investigação de paternidade – a questão sobre a paternidade é a principal. Mas, numa ação
de alimentos, a paternidade é uma questão incidente.

Vista esta introdução, passemos ao estudo da ação declaratória incidental:

*Uma
processo. questão
Se ela prejudicial
é o pedido é uma ela
do processo, questão incidente
é a questão ou principal?
principal, mas elaDepende de como
também pode ela veio
ser uma no
questão
incidente.
A paternidade, por ex., é prejudicial que pode ser principal ou incidente.
Proposta uma demanda, o autor tem duas opções em relação à questão prejudicial:
a) ou ele já coloca a questão prejudicial como objeto do processo (já propõe a demanda e já faz
um pedido colocando esta questão prejudicial desde o início como objeto do processo, que
passa a ter duas questões principais), e ai a solução da questão prejudicial fará coisa julgada
(ex. investigação de paternidade cumulada com alimentos);
b) pode ser que o autor proponha a demanda colocando a prejudicial como simples fundamento;
ele não formula um pedido sobre a questão prejudicial, mas simplesmente a coloca como
fundamento. Ex.: ação de alimentos, em que a questão da paternidade será analisada como
simples fundamento.
Se o autor coloca a questão prejudicial como simples fundamento, e o réu, em sua defesa, nega a
existência da questão prejudicial – ex.: na defesa da ação de alimentos o réu diz que não é o pai,
negando a questão prejudicial afirmada pelo autor – o autor então tem que ser intimado da contestação
para que, se quiser, em 10 dias, promover a Ação Declaratória Incidental.
O autor então dirá ao juiz que o réu negou a existência da questão prejudicial, que foi posta como
simples fundamento. E que, por isso, agora, quer transformar essa questão prejudicial em questão
principal, para que a decisão sobre ela passe a fazer coisa julgada. Trata-se, pois, de um novo pedido
feito pelo autor, para transformar a questão prejudicial em questão principal. Ele pretende então que o
juiz passe a examinar a questão como uma questão principal ( principaliter tantum ). O processo passa a
ter 2 pedidos: o pedido feito na inicial mais o pedido da declaratória incidental.
A ADI é uma cumulação de pedidos ulterior. É uma nova chance dada ao autor de formular um
pedido.

118
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
A ADI transforma a análise da questão prejudicial de incidenter tantum para principaliter
tantum, com o objetivo de que a decisão sobre ela possa tornar-se indiscutível pela coisa julgada.
Pergunta: a ADI pode ser proposta pelo réu?
Sim, mas como reconvenção. A ADI proposta pelo réu é uma reconvenção. Não há diferença
nisso. Por isso o código fala apenas em autor, já que para o réu já existe a figura da reconvenção.
☺art. 325, CPC.
☺art. 469, III, CPC.

Concluindo: para uma questão prejudicial ser questão principal, ou ela já é colocada no processo
como questão principal, ou ela se torna principal por meio da ADI.
☺art. 470, CPC.

Atenção:
☺Livro do prof., Vol. I. (Capítulo das Providencias Preliminares). Mas antes é preciso ler um
capítulo introdutório chamado Teoria da Cognição, que se encontra no início do livro.

→ Ultrapassadas as providências preliminares, o magistrado terá que tomar uma decisão no


processo. Esta decisão é o julgamento conforme o estado do processo.

119
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 JULGAMENTO CONFORME O ESTADO DO PROCESSO:

Este julgamento conforme o estado do processo pode assumir 7 possíveis variações, que serão a
partir de agora examinadas.

1) Extinção do processo sem resolução do mé


r ito:

Está regulada
Esses incisos devem serno organizados
art. 267, CPC.
emEste art. tem
3 grupos – ou10seja,
incisos e é preciso
a extinção examinarsem
do processo cada um deles.
resolução do
processo pode ser dar:
a) por morte: inciso IX;
b) por revogação: incisos II, III e VIII (nesses casos ocorre a perda da vontade);
c) por invalidade: incisos I, IV, V, VI e VII (nesses casos há um defeito).
São, pois, causas substancialmente diferentes, assim como as conseqüências para cada uma
delas.
Obs. importante: o inciso X do art. 267 diz que o processo se extingue sem exame de mérito por
confusão. Assim, a confusão seria uma quarta espécie de extinção do processo. Ocorre que o prof. não
coloca esta quarta hipótese porque há confusão quando as situações de credor e devedor se reúnem em
uma mesma pessoa, e a confusão extingue a obrigação. Assim, se a confusão extingue a obrigação, a
extinção não é sem exame do mérito. Se o juiz entende que houve confusão e que portanto não há mais
obrigação, a extinção do processo é com exame do mérito. Ele, ao dizer que não há mais obrigação, está
examinando o mérito da causa. Por isso se diz que este inciso encontra-se num lugar errado do código.
Na confusão ocorre o mesmo tipo de extinção que ocorre no pagamento, na transação, etc. Mas atenção
para as provas que trazem a transcrição exata do art. 267, CPC (neste caso é preciso marcar que se trata
de extinção sem resolução do mérito).
O código diz que a extinção do processo sem exame de mérito não impede a repropositura da
demanda, porque se o mérito não foi julgado, nada impede que se reproponha a ação para que o mérito
seja julgado. Aprendemos que a decisão que não examina o mérito não faz coisa julgada, e porque não
faz coisa julgada, não impede a repropositura.
O código, no entanto, ressalva uma hipótese excepcionalíssima, em que a extinção do processo
não permitirá a repropositura da ação: é a extinção com base no inciso V, do art. 267: quando o juiz
acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada.
A perempção é a perda do direito de levar determinada demanda em razão de o autor ter dado
causa a 3 extinções do processo por abandono. O autor perde, então, o direito de demandar pela 4ª vez.
☺art. 268, CPC.
É este art. que traz essa exceção. Com base nesse art. começou-se a fazer a seguinte discussão: se
essa extinção do inciso V, é uma extinção que impede a repropositura, será que não caberia ação
rescisória dessa sentença? Ela não teria um efeito semelhante ao da coisa julgada, já que impede a
repropositura?
A ação rescisória é uma ação contra decisão de mérito e essa decisão não é de mérito, mas é
semelhante a ela. O prof. e vários outros autores, então, entendem que cabe ação rescisória contra essa
decisão do inciso V porque ela tem um efeito semelhante ao da coisa julgada. Há um autor chamado
Luís Eduardo Mourão que defende inclusive que o art. 268, CPC (na hipótese do inciso V) é uma
hipótese de coisa julgada formal (coisa julgada sobre questão processual), porque se não se pode
repropor a demanda, isso é uma coisa julgada, e por isso ela também admite a ação rescisória.
Tudo isso é o básico sobre a extinção do processo sem resolução do mérito e repropositura da
ação. Até então não se falou nada de demais.
O problema é que o STJ passou a dizer que em outros casos do art. 267, CPC também estará
impedida a repropositura da ação, e não apenas o inciso V. O STJ diz que o art. 268, CPC é meramente

120
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
exemplificativo, sendo preciso alargar o “rol” do art. 268, sob o seguinte argumento (até engraçado):
tanto não é só pelo inciso V que se o processo for extinto por morte (inciso I) também não se poderá
repropor. Outro argumento é o de que se o juiz extingue por falta de pressuposto processual, por ex.,
também não será possível repropor, salvo se se consertar o defeito (caso contrário se estaria ignorando a
decisão judicial que disse que há um defeito).
Assim, o prof. percebeu que das 3 hipóteses de extinção acima mencionadas (morte, revogação e
invalidade), só poderá ser reproposta a ação (idêntica) se a extinção sem exame de mérito se deu por
revogação, já que no caso de morte não dá pra repropor por uma questão física, e nos casos de
invalidade não se pode repropor se não for sanado o defeito.
Este já é um aprofundamento.

Exame do at. 267, CPC:


O inciso X (confusão) e o inciso V já foram estudados.
O inciso I é o do indeferimento da Petição Inicial, o que já foi estudado em capítulo a parte.
Os incisos IV e VI também já foram vistos (pressupostos processuais).
O inciso VII também já foi estudado (convenção de arbitragem).
Aqui, pois, estudaremos as hipóteses dos incisos II, III, VIII e IX.

Inciso II:
Extingue-se o processo sem exame de mérito quando ficar parado durante mais de 1 ano por
negligência das partes. É o caso em que ambas as partes abandonam o processo por mais de 1 ano.
Considerações: ela pode se darex officio; para que o juiz extinga o processo por abandono, é preciso que
antes o juiz tenha intimado as partes pessoalmente, para que em 48 hs elas tomem providências no
sentido de colocar o processo para andar; a extinção por abandono só se justifica se o prosseguimento do
processo depender da atuação das partes.

Inciso
Quando,III:por não promover os atos e diligências que lhe competir, o autor abandonar a causa por
mais de 30 dias. Deve haver a intimação pessoal do autor. Se o réu já apresentou resposta, a extinção só
irá ocorrer mediante seu requerimento (após sua contestação, o réu passa a ter direito à sentença).
☺Súm. 240, STJ. O ato não praticado pelo autor deve ser indispensável ao andamento do processo. É o
inciso III que, se aplicado 3 vezes consecutivas para o mesmo sujeito, gerará a perempção.
Nas ações coletivas o abandono do autor coletivo não gera a extinção do processo, mas sim a
sucessão processual, ou seja, um outro autor terá que entrar no processo no lugar daquele que a
abandonou.

Inciso VIII:
Quando o autor desistir da ação. Desistir da ação é, na verdade, desistir do processo, e não
desistir do direito material (renúncia). É a desistência do processo, ou seja, a parte não quer mais que o
direito seja discutido no processo.
A desistência exige poder especial do advogado. Ele só pode desistir se tiver poder especial para
isso. E se o réu já apresentou resposta, a desistência precisa do seu consentimento.
☺art. 267, §4º, CPC. Se o réu for revel, o autor pode desistir sem o consentimento do réu.
Se o réu em sua defesa pede a extinção sem exame do mérito, a doutrina diz que ele não pode
recusar a desistência.
A lei 9.469/97, em seu art. 3º, diz que quando o poder público for réu, ele só pode consentir com
a desistência do autor se o autor renunciar ao direito. Se o poder público tiver pedido a extinção sem
exame de mérito, essa exigência também será abusiva.
A desistência pode ser parcial. Nada impede que se desista só de uma parte do processo. Mas a
desistência deve ocorrer até a sentença, por óbvio.
A desistência tem que ser homologada pelo juiz. Ela só produz efeitos após a homologação do
juiz. ☺art. 158, P.U., CPC.

121
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Não é possível desistência em ADIN, e nas ações coletivas a desistência não gera a extinção do
processo, mas sim a sucessão processual (assim como o abandono).
O autor não pede a desistência, ele apenas desiste. O que ele pede é a homologação da
desistência.

Inciso IX:
A morte do autor, conjugada com a instransmissibilidade do direito, extingue o processo. Se não
houver essa conjugação, os herdeiros do espólio poderão entrar no processo em seu lugar.

2) Extinção do pr ocesso pela prescrição ou decadência:

☺art. 269, IV, CPC.

3) Exti nção do processo por auto-composição:

Há uma solução amigável do conflito, homologada pelo juiz.


A extinção por auto-composição é uma extinção com resolução do mérito. Ela pode se dar em
razão do reconhecimento da procedência do pedido pelo réu (☺art. 269, II); em razão da transação
(☺art. 269, III); ou em razão da renúncia do direito pelo autor (☺art. 269, V).
Em todos esses casos há um negócio jurídico homologado pelo juiz.
É preciso que os advogados tenham poder especial para isso.
Isso pode acontecer em qualquer momento do processo, não só na fase de saneamento. É
possível haver um acordo, por ex., também no recurso.
A auto-composição produz efeitos imediatamente, independentemente da homologação pelo juiz
(que serve apenas para extinguir o processo, salvo se o próprio acordo dispor que só produzirá efeitos
após homologação do juiz).
A auto-composição pode ser parcial, ou seja, pode abranger apenas parte da demanda, não
precisa ser total.
As partes podem trazer para o acordo outras questões. O acordo pode abranger outras lides além
daquela discutida.

4) E xtinção do processo pelo j ulgamento antecipado da l ide:

É um julgamento da causa pelo juiz num momento em que só se produziu prova documental.
É um julgamento antecipado porque é feito antes da instrução. O juiz dispensa a audiência e já
julga imediatamente, porque vê a que instrução não terá utilidade, já sendo possível julgar a causa só
com as provas documentais. É uma forma de abreviar o processo.
O julgamento antecipado pode ser pela procedência ou pela improcedência. Ele não é sempre
favorável ao autor não. A premissa do juiz é a de que o autor pode ter ou não razão, mas para isso só é
preciso analisar as provas documentais. Se for preciso analisar outra prova não será caso de julgamento
antecipado.
Se o juiz julga antecipadamente a lide e conclui pela improcedência por falta de provas, a
sentença será nula.
O julgamento antecipado deve ser bem fundamentado para que não se alegue cerceamento de
defesa. É importante o juiz despachar: “chame os autos para julgamento antecipado”, avisando que não
há mais provas a serem produzidas. Se uma das partes não concordar, pode agravar (AR), sob pena de
preclusão.
☺art. 330, CPC.

122
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Obs.: o inciso II deve ser assim lido: quando houver confissão ficta que decorra da revelia (não
basta apenas a revelia).

5) Au diênci a preli mi nar :

Se couber conciliação, o juiz marcará uma audiência preliminar. Se as partes conciliarem, o


processo estará resolvido.
Não havendo conciliação o juiz vai fixar os pontos controvertidos da causa e vai determinar a
audiência de instrução, delimitando-a: vai dizer quais são as provas que serão produzidas, quem é o
perito, os
Estequesitos do perito,
é o tríplice escopoetc.
daEle vai organizar
audiência a atividade instrutória.
preliminar:
- tentar conciliar
- fixar os pontos controvertidos
- delimitar a atividade instrutória.
Pelo código, o juiz só pode marcar a audiência preliminar, se não for caso de julgamento
antecipado. Mas, a interpretação que prevalece é a de que o juiz pode marcar a audiência preliminar
mesmo sendo caso de julgamento antecipado, para que se possa tentar conciliar as partes. Se não houver
conciliação, ai, ao invés de delimitar a atividade instrutória, o juiz já julga antecipadamente a lide.
Atenção: não se pode confundir esta audiência preliminar com aquela primeira audiência dos
Jesp´s. Nos Jesp’s, se o autor não comparecer se dará contumácia e se o réu não comparecer, se dará
revelia. Aqui, se não comparecerem, não irá acontecer nada. Significa apenas que as partes não querem
conciliar.

6) D espacho saneador:

Se o juiz não tiver como marcar a audiência preliminar, o juiz terá de proferir uma decisão escrita
dizendo que não é caso de extinção sem exame de mérito, não houve auto-composição, não houve
prescrição e decadência, não houve julgamento antecipado da lide, não foi possível marcar a audiência
preliminar. Ai então ele terá que fixar os pontos controvertidos e organiza a instrução.
Essa decisão é exatamente aquilo que ele faria na audiência preliminar.
Esse é o famoso despacho saneador, que é uma decisão que tem duas partes muito nítidas:
- uma primeira parte, chamada parte declaratória do despacho saneador, em que o juiz vai dizer
que o processo está regular, e
- uma parte constitutiva em que ele irá organizar a atividade instrutória.
Na verdade, o despacho saneador não é despacho e nem é saneador. Ele não é despacho porque
ele é uma decisão. E não é saneador porque o despacho saneador declara o processo saneado (regular) e
não saneia, na verdade.
O problema é saber quando é que não cabe audiência preliminar. Porque é ai que saberemos
quando será caso de despacho saneador. São duas as hipóteses:
a) quando não for possível a conciliação, e
b) quando não for provável a conciliação, ou seja, embora ela seja possível, ela não é provável.

7) D ecisões par ciais:

Pode ser que o julgamento conforme o estado do processo seja uma dessas últimas 6 possíveis
decisões apenas em relação a uma das partes do processo. Ou seja, pode ser que só haja julgamento
antecipado de um pedido, de outro não; pode ser que haja prescrição parcial, etc.
Quando isso acontece é preciso perceber que o processo vai prosseguir em relação a uma parte e
pode se extinguir em relação a outra.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Neste caso o processo será simplificado.
A decisão parcial não extingue o processo. Ela pode resolver parte do processo, mas o processo
não se extingue. E é por isso que há uma discussão grande sobre qual é a natureza das decisões parciais.
Há quem defenda que as decisões parciais são decisões interlocutórias, impugnáveis por agravo
de instrumento (o prof. entende assim, e é o entendimento majoritário, apesar de não francamente
majoritário). Mas há quem diga que as decisões parciais são sentenças parciais, e não decisões
interlocutórias. Todos admitem as decisões parciais. Uns a chamam de decisões interlocutórias (porque
elas não encerram o processo), e outros de sentenças parciais (porque uma parte do processo estará
resolvido). Os adeptos desse último entendimento discutem sobre o recurso cabível, e há então 3 sub-
correntes:
- há quem defenda que seria uma sentença parcial agravável (é o posicionamento “menos pior”
segundo o prof.);
- há quem defenda que seria uma sentença parcial apelável;
- e há quem defenda que seria uma sentença parcial apelável por instrumento.
O certo é que existem as decisões parciais, qualquer que seja o nome que elas recebam. E o certo
é que se elas forem decisões de mérito elas serão decisões definitivas, ou seja, haverá coisa julgada
material, de execução definitiva, cabendo contra elas até mesmo ação rescisória.
Ou seja, embora parciais, essas decisões serão definitivas.
A decisão parcial fragmenta o processo. Uma metade é resolvida e a outra metade prossegue. As
partes terão, pois, destinos distintos. Quando o juiz for julgar a outra parte, não terá que fazer referência
à parte que já foi decidida.

124
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

(18/05/09)

 TEORIA DA PROVA:

 Acepções da palavra “Prova”:

Há 3 acepções da palavra prova:


1) Prova como fonte de prova: fonte de prova é de onde se pode extrair prova, é tudo aquilo
de que se pode extrair prova – são as 3 fontes de prova: pessoas, coisas (inclui documentos) e
fenômenos (barulho, gravidez, hematoma, erosão, mau cheiro, etc.). Só se extrai prova disso.

2) Prova como meio de prova: é o modo pelo qual se extrai prova de uma fonte e se introduz
esta prova num processo, é a técnica de extração de uma prova de uma fonte para colocá-la num
processo. São inúmeros e as mais relevantes são: perícia, depoimento, inspeção judicial, juntada de um
documento, etc. Atenção: a testemunha é fonte de prova, o testemunho é meio de prova (esta é uma
importante consideração a se fazer ao se diferenciar fonte de prova de meio de prova).
Vigora no Brasil o Princípio da Liberdade ou Atipicidade dos meios de prova, que significa que
as partes têm o direito de produzir prova por qualquer meio previsto ou não previsto em lei. A
enumeração legal dos meios de prova é uma enumeração exemplificativa (art. 332, CPC). Provas
atípicas são os meios de prova atípicos, ou seja, os meios de prova não previstos em lei.
Ex.: prova emprestada, que não está regulada e é amplamente utilizada. A prova emprestada é a
importação de uma prova produzida em outro lugar. A prova emprestada não precisa ser reproduzida.
Ela só se justifica se for impossível a sua produção ou se for excessivamente onerosa. É necessário,
ainda, respeitar o contraditório na produção da prova (parte importa a prova de um processo no qual a
outra parte participou de sua produção, ou seja, participou do contraditório). A interceptação de telefone
pode ser autorizada pelo juiz para fins de investigação criminal. Interceptado um telefone por conta de
investigação penal, essa prova poderá ser emprestada em um processo cível.
Mas esta liberdade dos meios de prova tem um limite: a licitude dos meios de prova, ou seja, os
meios de prova têm de ser lícitos. Tudo que se construiu sobre prova ilícita no processo penal se aplica
ao processo civil. Os meios de prova lícitos são aqueles cuja produção não ofende nenhuma regra
jurídica. A proibição de prova ilícita é uma conquista histórica e é um direito fundamental. Só que ela,
exatamente por conta disso, tem de conviver com outros direitos fundamentais, como o direito ao
contraditório e o próprio direito à prova. Tais direitos podem entrar em conflito. Trata-se, pois, de um
dilema histórico. Se houver o conflito, como nenhum desses direitos fundamentais é absoluto, é preciso
que se resolva o caso concreto pela ponderação. Portanto, em alguns casos pode ser que se aceite uma
prova ilícita. Mas, aceitar uma prova ilícita não é dizer que ela é lícita. É possível aceitar uma prova
ilícita e se punir o seu autor, se esta for a decisão mais adequada ao caso concreto.
3) Prova como resultado, como convencimento do juiz: provar é convencer alguém do que se
está falando; assim, prova, como resultado, é o grau de convicção ao qual chegou o juiz. Prova como
resultado é o que se pretende ao se produzir um meio de prova. É prova em sentido subjetivo. É o
convencimento de que o que se provou é verdade e tem sentido.

 Prova e Contraditório:

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Se procurarmos no art. 5º, CR/88, não encontraremos um direito fundamental à prova, porque o
direito fundamental à prova que existe é um conteúdo do direito fundamental ao contraditório. Não há
previsão expressa deste direito, mas ele existe como conteúdo, como corolário do contraditório.
O direito à prova também tem seu conteúdo: ele consiste no direito de produzir prova, e no
direito de participar da produção da prova.
Isso significa que não basta garantir à parte o direito de produzir uma prova em juízo, é preciso
garantir a ela o direito de participar da produção dessa prova. A prova não pode ser produzida
secretamente, sem que se dê o direito à pessoa de dela participar. Ex.: quando se marca uma perícia, é
preciso intimar a parte da data e do local da perícia para que ela possa fiscalizar a realização da perícia
(é direito da parte esta intimação). Ex.: se a prova é em vídeo, as partes têm o direito de saber se o juiz
viu ou não o vídeo (ele não pode vê-lo sozinho, porque pode ser que ele não o assista com toda a atenção
possível, ou que nem mesmo o faça).
O direito à participação na produção da prova é inerente ao direito de produzir a prova.
Por fim, existe ainda o direito de manifestar-se sobre a prova produzida. Uma vez produzida a
prova, a parte tem o direito de dar a sua versão sobre a prova produzida.

 Poder instrutório do juiz:

No CPC brasileiro, art. 130, há previsão expressa de poder instrutório do juiz. Ou seja, o juiz
pode, de ofício, determinar a produção de qualquer meio de prova que ele entenda apto à formação de
seu convencimento.
Este poder instrutório não é um poder complementar ao das partes, mas sim paralelo ao poder
das partes. O juiz não agirá apenas se as partes não o fizerem. O juiz pode determinar mesmo as provas
que não foram pedidas. O juiz é um sujeito ativo em matéria de produção de provas.
Por isso é que se diz que em matéria de produção de prova, o processo civil brasileiro segue a
linha inquisitiva.
Pergunta: O processo civil brasileiro é inquisitivo? Depende da fase: para iniciá-lo não, mas para
produzir prova sim.
Esse poder de prova do juiz se aplica em qualquer causa, ainda que envolva direitos disponíveis
ou indisponíveis. Dizer que o juiz tem poder instrutório apenas em causas que envolvam direitos
indisponíveis é um retrocesso. No processo civil o juiz tem este poder em toda causa. Este poder é
atribuído inclusive ao tribunal.
No processo penal o raciocínio é um pouco diferente, já que ali há a presunção de inocência.
Assim, para que o juiz determinaria prova de ofício? Só se o juiz quiser condenar, porque para absolver
já há a presunção de inocência. E se assim o é, o juiz não seria mais imparcial.

 Verdade e Processo:

O poder instrutório do juiz está intimamente relacionado ao problema da verdade no processo.

Háverdade
A uma dicotomia muitoa verdade
formal seria famosa: verdade formal
que as partes e verdade real.
construíram no processo e que está nos autos. É a
verdade construída pelas partes, que pode ser real ou não.
A verdade real seria a verdade exatamente como ela aconteceu. Seria a “verdade verdadeira”.
Esta divisão durante muito tempo justificou a diferença entre processo civil e processo penal. O
processo civil seria um processo pautado na verdade formal, e o processo penal seria um processo
pautado na verdade real. Esta distinção já está totalmente superada pelos seguintes fundamentos:
- No processo penal não se fala mais em verdade real: basta dizer que o sistema admite transação
penal e a composição civil – ou seja, não se busca mais tanto a investigação dos fatos, mas sim a
resolução do problema

126
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- No processo civil não se pauta, e não se contenta mais simplesmente com uma verdade formal,
já que admite o poder instrutório do juiz. Seria incompatível.
- A dita verdade real não existe, porque ela é algo que aconteceu no passado, e nós só sabemos
do passado a partir do que nos contam dele, sendo que quem nos conta do passado está impregnado de
preconceitos, traumas, experiências, valores, visões e versões diversas etc. Reconstruir o passado é uma
tarefa muito difícil. O processo é a forma mais democrática e imparcial de se reconstruir a verdade, com
diálogo, igualdade e respeito.
“O segredo da Verdade consiste em saber que não existem fatos, só existem histórias ”. A história
mais bem contada e mais bem provada é a que será vitoriosa.
☺Música de Chico Buarque: “Verdade embolada”.
Assim, no lugar dessa dicotomia, hoje se fala em verdade processual. Esta verdade é aquela
verdade possível, a verdade que pode ser reconstruída e a verdade que seja bastante para produzir uma
decisão justa. Hoje é muito clara e tranqüila a idéia de que o processo não é um instrumento de
revelação da verdade, mas de fazer justiça. O processo é um instrumento para resolver problemas, não
necessariamente em conformidade com a verdade.
A verdade no processo não é a formal, devido ao poder instrutório do juiz e não é a real, pois não
existe. A verdade é a que possa ser reconstruída pela atuação de todos os sujeitos processuais, respeitado
o contraditório.

 Sistemas de valoração da prova:

Como controlar a valoração da prova feita pelo juiz? Este é um outro grande problema.
Ao longo da história, 3 foram os sistemas pensados para isso:

1) Sistema da convicção livre ou do livre convencimento: segundo o qual o órgão


jurisdicional pode valorar a prova livremente, sem nenhum tipo de restrição. É um sistema muito
relacionado a sistemas autoritários, com um certo fundo teocrático. Esse sistema sobrevive no Tribunal
do Júri.

2) Sistema da prova legal: segundo o qual o juiz não tem poder nenhum de valorar a
prova, esta é feita pelo legislador; é ele que atribui valores às provas como que em uma tabela que seria
apenas aplicada pelo juiz. É com base neste sistema que surgiram algumas regras curiosas que já
existiram: como a que diz que o testemunho de uma mulher não se sobrepõe ao testemunho de um
homem, salvo se duas mulheres o disserem; ou como a antiga máxima de que a confissão é a rainha das
provas – a lei previamente valora a prova. Este também é um sistema já superado. É um sistema de
enfraquecimento do juiz.

3) Sistema do livre convencimento motivado ou persuasão racional: é o sistema por nós


adotado. Por este sistema o juiz examina as provas livremente, e as provas não têm um valor
previamente definido, podendo o juiz dar às provas o valor que entender que elas merecem. Mas o juiz
se submete a uma série de restrições. Os limites, que servem para evitar arbitrariedades, são:
- exigência de motivação;
- vinculação ao que foi produzido em contraditório nos autos;
- ainda sobrevivem algumas regras de prova legal que se mostraram razoáveis ao
longo da história e que funcionam como balizadores do livre convencimento – ex.: contratos acima de
10 salários mínimos não podem ser provados só por testemunha (☺art. 227, CC);
- o juiz fica limitado pela racionalidade dos seus argumentos, ou seja, sua
fundamentação tem de ser racional, tem que permitir discussão; o juiz não pode, na valoração das
provas, se valer de concepções místicas, religiosas, relacionadas a sua fé, a sua crença;
- o juiz fica limitado às máximas (regras) da experiência – são regras extraídas da
observação daquilo que ordinariamente acontece. Ex.: amarelo com azul dá verde, toda cidade grande

127
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
tem um local em que há engarrafamento (nesse caso, o juiz não pode dizer que determinado sujeito
estava trafegando naquela região, naquele horário de pico a 130Km/h), gravidez da mulher tem 9 meses
ou 10 luas, lei da gravidade, etc. Essas regras da experiência existem em qualquer lugar, mas existem
também regras da experiência locais. O juiz não pode valorar as provas contra essas regras da
experiência. As regras da experiência têm outras 3 funções (além de limitar o livre convencimento): I)
elas servem para ajudar o juiz a preencher os conceitos indeterminados (ex.: a lei diz que não pode haver
arrematação por preço vil, e preço vil é um conceito indeterminado, o juiz decidirá se o preço é vil ou
não pelas suas regras da experiência); II) as regras da experiência ajudam o juiz a valorar/confrontar as
provas (ex.: se há dois testemunhos nos autos, e em um deles a testemunha gaguejou, suou as mãos, se
contradisse, ou seja, demonstrou sinais de insegurança, a partir do que se sabe das regras de experiência,
portanto esse testemunho será valorado de forma diversa); e III) as regras de experiência auxiliam o juiz
nas presunções judiciais. As presunções judiciais decorrem da aplicação de uma regra da experiência.
Presunção judicial é ter por ocorrido um fato a partir da prova de outro. A presunção é o resultado da
aplicação de um silogismo; é a conclusão do raciocínio do juiz que se baseia em duas premissas: o
indício e a regra da experiência. Quanto a esta última função é preciso estudar algumas premissas para
melhor compreendê-la:
a) não podemos confundir regras da experiência com fatos notórios, estes são fatos
que aconteceram, são fatos e não regras, é algo que aconteceu e que em um dado momento histórico,
para uma dada comunidade, é um fato tido como conhecido de todos, não é uma regra abstrata como as
regras da experiência;
b) antes de estudar o que são as presunções judiciais, é preciso conhecer o
conceito de indício: Indício: a palavra indício tem a mesma srcem da palavra dedo, pois é aquilo que
indica, remete a algum lugar. O indício é um fato que se liga a outro. O indício é um fato que, uma vez
provado, autoriza que se presuma que outro fato aconteceu, porque pelas regras da experiência, quando
tais indícios ocorrem, é porque o fato ocorreu. Ex. de fato presumido: adultério; a marca de batom é um
indício de adultério por conta das regras de experiência. Ex.2: dano moral se presume por uma série de
indícios, não é possível
indício. Assim, a relaçãoprovar o quanto regras
entre indícios, o sujeito
da sofreu; assim,
experiência dano moralé éíntima;
e presunção provado por meio
trata-se de
de uma
relação lógica. Eles formam um silogismo: a premissa maior são as regras da experiência, a premissa
menor são os indícios, e a conclusão é a presunção. Porém, não se pode dizer que o fato se prova por
presunção, a presunção já é o convencimento de que o fato aconteceu, ela não é um meio de prova, mas
sim a conclusão de que o fato aconteceu. Meio de prova é o indício. Por isso se pode dizer que o fato se
provou por indícios. Os indícios é que são os meios de prova (prova indiciária). O indício é uma prova
indireta, porque pelo indício podemos chegar à prova do fato indiretamente (ex.: não há a prova do
adultério, mas sim a prova do indício e do fato que se quer provar). O indício é um instituto um pouco
estranho, porque ele é também um fato, além de ser um meio de prova. O indício é, a um só tempo,
objeto de prova (porque ele te que ser provado) e meio de prova. Presunção, por sua vez, não é meio de
prova, ela é conclusão de um raciocínio.
c) presunções judiciais: são as presunções feitas pelo juiz a partir dos indícios e
com base nas regras de experiência. Não podemos confundir as presunções judiciais com as presunções
legais. A presunção legal é uma regra jurídica que impõe que se considere um fato como ocorrido. É
uma lei que diz: “juiz, este fato ocorreu”. Quando o juiz aplica uma presunção legal ele não está
valorando a prova, está aplicando a lei. Já quando um juiz faz uma presunção judicial, ele está
raciocinando em cima da prova. A presunção legal se divide em absoluta ou relativa. Essa é uma divisão
das presunções legais (as presunções judiciais não se dividem, ou elas existem ou não existem, ou o juiz
fez ou não fez). Uma presunção legal absoluta é aquela em que o legislador toma um fato como ocorrido
e considera irrelevante discutir sobre sua ocorrência, para o legislador o fato ocorreu e pronto, não se
admite nenhuma prova em sentido contrário (porque não se deve nem ao menos perder tempo discutindo
tal fato, que é presumido e pronto) – ex.: quem compra imóvel em cuja matrícula tenha sido averbada
uma penhora, tem conhecimento da penhora (art. 659, § 4°, CPC); presunção absoluta de repercussão
geral do recurso quando a decisão recorrida contrariar súmula ou jurisprudência dominante do STF. A
presunção relativa, por sua vez, é aquela presunção legal em que o legislador aceita prova em sentido
contrário, ou seja, o legislador presume, mas admite que se discuta aquilo, por meio de prova de que o
128
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
fato presumido não ocorreu. Quando há presunção legal relativa, o legislador redistribui o ônus da prova
(quem alega o fato presumido não precisa prová-lo, cabe à outra parte provar em sentido contrário) –
ex.: o registro de propriedade gera a presunção relativa de propriedade (obs.: o registro Torrens, por sua
vez, tem presunção absoluta de propriedade - só pode ser obtido por decisão judicial); presunção de
veracidade da declaração de pobreza.

 Objeto da prova:

Costuma-se dizer que o objeto da prova são as afirmações, alegações de fato feitas pelos

olitigantes.
objeto daBusca-se
prova é provar se elas são. verdadeiras ou não. É possível que digamos, para simplificar, que
o fato probandum
O fato probandum tem que ter 3 características:
1) Ele tem que ser um fato controvertido;
2) Ele tem que ser um fato determinado, ou seja, ele tem que ser delimitado no tempo e no
espaço (é preciso dizer quando o fato aconteceu e onde aconteceu, para que se possa prová-lo);
3) Ele tem que ser um fato relevante, ou seja, tem que ser importante para a causa; só pode ser
objeto de prova o fato que, uma vez provado, interfira na solução da causa.
O objeto da prova (fato probandum) pode ser tanto um fato jurídico, como um contrato, um
negócio jurídico, como pode ser um fato simples, como por ex., a cor da camisa de um sujeito, a marca
de pneu de um carro, etc.
Ainda se discute bastante, no âmbito do objeto da prova, sobre o problema da prova do fato
negativo. Existem os não-fatos, os chamados fatos negativos. O fato negativo pode ser objeto de prova,
desde que se trate de um fato determinado. Ex.: certidões negativas. O problema é que às vezes a prova
do fato negativo é uma prova muito difícil e excessivamente onerosa, senão impossível. Ex.: na
usucapião especial o usucapiendi precisa provar que não é proprietário de outro imóvel (esta prova é
bastante difícil, é na verdade impossível, porque é possível provar que não é proprietário em uma
determinada cidade, mas não em qualquer lugar do mundo). Mas atenção: não se deve usar o dogma de
que fato negativo não se prova, ele pode ser provado se for determinado.
A doutrina, quando se refere à prova impossível ou excessivamente difícil, usa o termo “ prova
diabólica”. Ela pode ser tanto a prova de um fato positivo quanto de um fato negativo. Não é só a prova
de um fato negativo. A prova do fato positivo também pode ser diabólica. Ex.: a prova de um doping,
que só pode ser feita por perícia e se o sujeito se recusar à perícia, a prova se tornará diabólica
(impossível), já que não há outro meio de se provar o doping.
Ainda sobre o objeto da prova, é preciso aqui discutir a questão da Prova do Direito.
A existência do direito positivo, objetivo, ou seja, a existência de uma lei pode ser objeto de
prova. Pode ser que se questione num processo se uma lei existe ou não. Pode ser que este seja o fato
controvertido. O direito brasileiro diz que Lei Federal não pode ser objeto de prova. Só as leis estaduais,
municipais, estrangeiras ou costumeiras podem ser objeto de prova.
O juiz pode exigir que a parte prove o teor e a vigência de uma lei, se se tratar de 4 direitos, no
caso de o juiz não os conhecer: direito municipal, estadual, estrangeiro ou consuetudinário - ☺art. 337,
CPC.
☺art. 334, CPC: cuida dos fatos que não dependem de prova, ou seja, os fatos que não devem
ser objeto de prova. São eles:
I) fatos notórios: é aquele cuja existência é incontroversa em uma dada comunidade, em um dado
momento histórico. Fato notório não se confunde com regra da experiência. Regra da experiência não é
fato, é um juízo, uma regra abstrata que se faz. Fato é algo que aconteceu.
II) os afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária e III) os fatos admitidos, no
processo, como incontroversos:
Fatos confessados Fatos admitidos
Confissão é ato jurídico em sentido estrito. Admissão é ato-fato.
É expressa. É tácita (admitir é não impugnar).

129
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Exige poder especial do advogado. Não exige poder especial.

IV) os fatos em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.

(01/06/09)

 Ônus da prova:

No estudo do ônus da prova é preciso, antes de mais nada, compreender o que significa a regra
do ônusUma
da prova.
regra de ônus da prova é uma regra que atribui a uma das partes o ônus da falta de prova de
um determinado fato. Isso significa que se ao final do processo o fato não estiver provado, aquele que
tem o ônus da prova será prejudicado, ele arcará com as conseqüências pela falta da prova deste fato.
Ter o ônus da prova significa, pois, arcar com as conseqüências pela falta de prova de um determinado
fato.
Quem tem o ônus da prova não tem de provar o fato, necessariamente. Ter o ônus da prova não
quer dizer que cabe a ele provar, mas sim que cabe a ele a responsabilidade pela falta da produção do
fato. Se um sujeito tem o ônus da prova, mas seu adversário provar o fato, ele se desincumbe do ônus da
prova. Inclusive, existe o poder instrutório do juiz que também pode acabar por desincumbir a parte do
ônus da prova.
O ônus recai sobre o autor, por exemplo, se não houver prova do fato. É irrelevante saber quem
produziu a prova. É importante, no entanto, que a prova tenha sido produzida.

Entendida esta premissa, é preciso saber que as regras de ônus da prova são regras de aplicação
subsidiária. Ou seja, o juiz só aplica as regras de ônus da prova se não houver possibilidade de
produção de novas provas. Se o juiz constata que não há prova do fato, ele só aplicará o ônus da prova
se não for possível produzir mais provas, até porque, se isso for possível, ele tem que determinar a
produção da prova. Esta é uma boa questão de prova: compatibilize o sistema que permite a aplicação
das regras do ônus da prova e, ao mesmo tempo, permite o poder instrutório do juiz - só se pode julgar
pelo ônus da prova se não puder produzir novas provas.

Ademais, as regras de ônus da prova sãoregras de julgamento, ou seja, são regras de aplicação
na decisão. O juiz aplicará as regras de ônus da prova quando for sentenciar. Tais regras auxiliam o juiz
a decidir. Regras de ônus da prova não são regras de procedimento, são regras de julgamento. São, pois,
de aplicação subsidiária.

O CPC adotou um sistema estático de distribuição do ônus da prova. Isso significa que o ônus
da prova é distribuído previamente e de maneira rígida.
A regra geral do ônus da prova é, pois, a seguinte: “quem alega o fato tem o ônus da sua prova”.
Esta é a regra básica de ônus da prova. O autor tem o ônus da prova dos fatos constitutivos e o réu tem o
ônus da prova dos fatos impeditivos, modificativos e extintivos.
☺art. 333, CPC: “O ônus da prova incumbe: I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.
Esta regra está prevista no código para qualquer processo. Ela é invariável. Ou seja, o ônus da
produção da prova é sempre de quem a alega, invariavelmente.
O máximo de flexibilidade que se prevê é a possibilidade de as partes convencionarem sobre
ônus da prova. Não se admite, no entanto, convenção das partes em se tratando de direitos indisponíveis,
ou se for excessivamente onerosa para uma das partes (art. 333, PU: “ É nula a convenção que distribui
de maneira diversa o ônus da prova quando: I - recair sobre direito indisponível da parte; II - tornar
excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito”).

130
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Há casos em que a prova de um fato é impossível ou excessivamente onerosa para as partes.
Nesses casos, fala-se em prova diabólica. O sistema rígido é incompatível com a prova diabólica. Se se
disser que o ônus da prova é de quem alega, sendo esta prova diabólica, coloca-se a parte numa situação
desigual, porque ela não poderá desincumbir-se do ônus, já que sua execução é impossível. Assim, a
jurisprudência começou a dizer que esta regra do ônus da prova era inaplicável aos casos de prova
diabólica. Ex. usucapião especial: exige-se que se prove que aquele que pleiteia não tem outro imóvel,
sendo essa prova impossível.
Começou a surgir na doutrina, com pronto atendimento pela jurisprudência, uma teoria que
pugnava pela flexibilidade das regras de ônus da prova, ou seja, por uma distribuição do ônus da prova
de acordo com as particularidades do caso, e não a priori, abstratamente. Ou seja, o ônus da prova deve
ser, segundo esta teoria, distribuído para aquele que puder desincumbir-se do ônus, a quem pudesse
suportá-lo. Caberia, pois, ao juiz, redistribuir o ônus da prova.
Esta teoria se chama “Teoria da distribuição dinâmica do ônus da prova”: não seria uma
distribuição rígida, prévia, mas feita no caso a caso. Ela tem como fundamento os princípios da
igualdade, da adequação, e do contraditório. É, portanto, uma teoria que pode ser aplicada a partir da
pauta de direitos fundamentais. É justamente por conta desse lastro constitucional que esta teoria vem
sendo acolhida pela jurisprudência brasileira, mesmo sem texto legal expresso (não há previsão legal,
pois o nosso CPC consagra a distribuição estática do ônus da prova). Isso é possível diante da visão do
processo pela perspectiva dos direitos fundamentais. Eis uma visão neoconstitucionalista.
Essa teoria nasceu na Argentina, e recebeu o nome “ Cargas Probatórias Dinâmicas”. Há um
autor chamado Robson Godinho (promotor e geralmente examinador do MP do RJ) que tem um texto
sobre a distribuição dinâmica do ônus da prova pela perspectiva dos direitos fundamentais, mostrando
exatamente o lastro constitucional dessa teoria (procurar o texto na internet!).
O CDC, em seu art. 6º, VIII, prevê um caso de distribuição dinâmica do ônus da prova, que é o
que costumamos chamar de inversão do ônus da prova para o consumidor. Ela é, nada mais, nada
menos, do que uma regra que quebra a rigidez do CPC, dando ao processo de consumo uma
flexibilidade,
☺art. pois permite
6º, VIII, que o“São
CDC: juiz direitos
redistribua o ônusdodaconsumidor:
básicos prova nas causas de consumo.
a facilitação da defesa de seus
direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do
juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de
experiências”
Esta talvez seja a primeira manifestação da teoria no Brasil. Não se trata de uma previsão
expressa, mas é uma manifestação isolada da teoria, já que o juiz permite que haja a inversão apenas a
favor do consumidor, e apenas se as alegações do consumidor forem verossímeis, ou se ele for
hipossuficiente tecnicamente – diferentemente da teoria da redistribuição dinâmica pura, que prevê a
redistribuição a favor de quem possa se desincumbir da prova. Ou seja, é uma manifestação da teoria,
mas com algumas peculiaridades.
A redistribuição do ônus da prova, seja aplicando a teoria, seja aplicando o CDC, é uma decisão
do juiz, e é uma decisão que pode ser tomadaex officio, e será sempre uma decisão proferida durante o
processo, para permitir que a parte que agora tem um ônus que não tinha possa também se desincumbir
desse ônus. O ônus da prova pode ser invertido a qualquer tempo, desde que se de à outra parte o direito
de se defender.
Não podemos confundir ônus da prova, aquele que se aplica na sentença, no julgamento, com
inversão do ônus da prova, que é uma regra que se aplica durante o processo. Ou seja, não é possível
inverter o ônus da prova na sentença, quando o processo já acabou.
Nelson Nery e Marinoni, no entanto, admitem a inversão do ônus da prova na sentença. Não é
algo fácil de ser aceito. O prof. não concorda. Se o juiz muda as “regras do jogo” quando o jogo termina,
ele estará surpreendendo uma das partes.
Esses casos até agora estudados são os casos em que o juiz examina o caso concreto e ele mesmo
inverte o ônus da prova. É diferente de quando a própria lei é que inverte o ônus da prova.
Quando a lei inverte o ônus da prova, o que ela está fazendo, na verdade, é criar uma nova regra
estática sobre o ônus da prova. É o que acontece, por ex., com o art. 38, CDC: “ O ônus da prova da
veracidade e correção da informação ou comunicação publicitária cabe a quem as patrocina ”. Ou seja,
131
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
se o consumidor alega que a publicidade é enganosa, ele não precisa provar, caberá ao fornecedor provar
que a publicidade não é enganosa. É como se o legislador tivesse dito que se presume verdadeira a
alegação do consumidor.

132
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 TEORIA DA DECISÃO:

 Conceito de sentença:

A palavra “sentença” pode aparecer em dois sentidos:

a) Acepção ampla: considera sentença como sinônimo de decisão judicial; ou seja,


qualquer decisão judicial é uma sentença em sentido amplo.
É, por
como será ex., como
utilizada aparece
a palavra peloa prof.
palavra
no sentença
decorrer na
da CR/88,
aula. É oe éconceito
como aparece nos concursos
que aparece do art. 457e
ao 466, CPC. Por isso mesmo aqui se estuda a Teoria da decisão, ou seja, a teoria que serve para
qualquer decisão;

b) Sentido estrito: é uma espécie de decisão (e não sinônimo de decisão). Sentença é um


tipo de decisão proferida por juiz singular.

O problema é que não há consenso sobre o que é esta decisão monocrática– há duas correntes
doutrinárias:

1ª) é a corrente que tenta interpretar sistematicamente este dispositivo, dizendo que sentença é o
ato do juiz que encerra o procedimento em primeira instância.
Assim, é preciso que no conceito de sentença se ponha a circunstância de ela encerrar o
procedimento. É assim que nosso código foi estruturado, do ponto de vista do sistema recursal. Esta é a
premissa de que parte o nosso código. É a corrente adotada pelo prof.
Segundo esta corrente, portanto, as decisões parciais são decisões interlocutórias, já que elas não
encerram o processo. É a corrente que deve prevalecer.

2ª) surgiu uma nova concepção depois da reforma do CPC. É a corrente que adota a interpretação
literal do CPC, cuja principal responsável é Teresa Wambier. Para esta concepção, é preciso interpretar
o §1º do art. 162, CPC: sentença aqui é a decisão que tem por base o art. 267 ou o art. 269, CPC.
Assim, sentença é um ato do juiz que tem um conteúdo específico, é toda decisão que se baseia
no art. 267 ou 269. É irrelevante que a decisão encerre o processo em primeira instância, o que importa é
o conteúdo. Interlocutórias são as decisões que não têm como conteúdo os art. 267 e 269. O problema
está nas decisões parciais, que são aquelas em que o juiz decide apenas uma parte do processo. Para esta
corrente, as decisões parciais são sentenças parciais, porque elas são decisões baseadas no art. 267 ou no
art. 269, são, pois, sentenças, mesmo não encerrando o processo. Assim, para esta corrente o processo
pode ter “n” sentenças.

Não há discussão se existe decisão parcial ou se não existe. O consenso é que existe. O problema
é de nomenclatura (se se trata de sentença parcial ou de decisão interlocutória). Para quem defende que é
decisão interlocutória, cabe agravo de instrumento. Para os que defendem que é sentença parcial,
defende-se que cabe agravo de instrumento, apelação ou apelação por instrumento. O STJ ainda não se
manifestou sobre o assunto.
Uma decisão parcial de mérito, sendo interlocutória, é uma decisão interlocutória de mérito,
fazendo coisa julgada e podendo ser alvo de ação rescisória.
OBS. existe um autor paraibano Delosmar Mendonça Júnior (examinador do concurso de
procurador da República) que defende que há uma terceira espécie de decisão do juiz. Essa espécie é a
decisão que não admite apelação (que é uma decisão que não é sentença e nem interlocutória). Não é
sentença porque é posterior à sentença. Não é interlocutória, pois é uma decisão que pode acabar com o

133
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
processo caso não se recorra. No processo do trabalho, as interlocutórias são irrecorríveis, mas cabe
recurso contra a decisão que não admite o recurso ordinário. Isso reafirma o raciocínio de Delosmar.

 Decisão Terminativa e Decisão Definitiva:

- Decisão terminativa é aquela em que o mérito não é examinado.

- Decisão definitiva é aquela em que o mérito foi examinado.

 Decisão Determinativa:

A decisão determinativa pode aparecer em duas acepções: (assunto recorrente)

a) é aquela em há exercício de discricionariedade judicial – sempre que se tratar de sentença


fruto de um exercício de discricionariedade pelo juiz, fala-se que a sentença é determinativa. É o que
acontece, por ex., com as sentenças em jurisdição voluntária, que podem ser dadas por critérios de
conveniência e oportunidade (art. 1.109, CPC); decisões em arbitragem, que podem se fundar em
equidade; decisões que aplicam cláusulas gerais. Também é sentença determinativa aquela prevista no
§2º, do art. 1.010, CC (“Prevalece a decisão sufragada por maior número de sócios no caso de empate,
e, se este persistir, decidirá o juiz”).

b) é toda sentença que cuida de relações jurídicas continuativas (aquelas que se projetam no
tempo, como relação de família, de alimentos, locatícia) – não é a melhor acepção.

 Elementos da decisão judicial:

São 3:

1) Relatório;
2) Fundamentação; e
3) Dispositivo ou Conclusão.

- Relatório:

O relatório é o histórico, o relato, a descrição daquilo que de relevante aconteceu no processo.


Ele conterá o resumo do pedido, da defesa, dos principais incidentes do processo, das provas produzidas,
etc. É um aparte da sentença muito descritiva.
Na prática
revela uma ele tem
tendência ao sido dispensado.
desprestígio Nos
total doJesp´s há previsão
relatório. expressa
O relatório quanto à cuja
é elemento sua dispensa,
falta nãoo tem
que
comprometido a validade da sentença.

- Fundamentação:

Toda decisão judicial tem sempre duas partes: a fundamentação e o dispositivo.

Funções da Motivação:

134
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
 Função Endoprocessual: É a função para dentro do processo. Serve para que as
partes possam elaborar os seus recursos e para que o tribunal possa verificar se o
caso é de manter ou de reformar a decisão.

 Função Extraprocessual: É permitir o controle do exercício do Poder Jurisdicional


pelo povo. A motivação extraprocessual está intimamente relacionada com a
publicidade.

Qual é a natureza da decisão sem fundamentação? A fundamentação é uma exigência


constitucional. Pelo art. 93, IX, CR a decisão sem fundamentação é nula. Esse é o pensamento
majoritário.
Taruffo e doHáautor
quemWilson
defendaAlves.
que decisão semsefundamentação
Todavia, é inexistente.
não há motivação, É o casogeral
não há norma do autor
para Miguel
o caso
concreto, mas há norma individual. Se não há fundamentação, e há dispositivo, o ato do dispositivo é
nulo. Se há decisão sem motivação, há decisão. Tanto ela existe que a decisão é imotivada. Sem
fundamentação, o caso é de nulidade.

No dispositivo, o magistrado decidirá a questão principal (norma jurídica individualizada do


caso concreto - pedido) e na fundamentação, as questões incidentes ( norma geral do caso concreto).
Por isso, se diz que a sentença é um ato normativo. Sobre a norma jurídica individualizada recai a coisa
julgada, que torna indiscutível a solução concreta. A coisa julgada recai, portanto, sobre o dispositivo.
Na fundamentação, o juiz vai dizer qual é a norma jurídica geral que irá determinar sua decisão.
Exemplo: STF decidiu que parlamentar que troca de partido durante o mandato, perde o
mandato. A norma individualizada é Fulano perde o mandato em favor do partido. Norma geral:
parlamentar que trocar de partido perde o mandato.
Qualquer que seja a decisão, tem sempre uma norma geral do caso que está na fundamentação e
uma norma individual do caso que está no dispositivo.
Sempre que se cita uma jurisprudência se está fazendo referência não à norma individual exata
dessa jurisprudência, até porque sequer se faz referência a quais foram as partes do processo, mas sim se
cita e quer para si a norma geral lá conhecida.
Jurisprudência é uma determinada norma geral, construída num caso concreto, que começa a
ser reproduzida, reiterada, ou seja, diversos outros casos semelhantes começam a adotá-la. Assim, a
jurisprudência é a reiterada manifestação dos Tribunais. É a reiteração de uma norma geral construída
pelo Judiciário. Ela se faz a partir da norma geral e está sempre na fundamentação.
Ratio decidendi:

Essa norma jurídica geral do caso concreto que está na fundamentação das decisões tem um
nome técnico e pedante: ratio decidendi. É a interpretação do direito feita pelo juiz, de onde ele extrai a
norma individualizada. É, ao pé da letra, a razão da decisão.
A ratio decidendi é que pode se transformar em jurisprudência se ela for reiterada, repetida. E é
ela também que se transforma em súmula.
Súmula é o texto da ratio decidendi, de vários julgados que a utilizaram.
Sempre que ouvirmos falar em precedente judicial, dirá respeito à ratio decidendi. Precedente é
sempre a ratio decidendi, não é a norma individual do caso concreto.
Problema: o prof. já havia dito que a coisa julgada torna indiscutível o caso julgado, ou seja,
aquilo que foi julgado. Só que é preciso perceber que a coisa julgada não recai sobre a fundamentação,
porque ela recai sobre o caso concreto. Sobre a fundamentação, sobre a ratio decidendi, recai um outro
tipo de efeito que não é a coisa julgada. O efeito que recai sobre o precedente é um efeito erga omnes,
vinculante, porque qualquer um pode dele se valer. A coisa julgada não, ela só vincula as partes
envolvidas.

Qual é a eficácia do precedente? Um precedente pode ser utilizado com 3 efeitos:

135
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

1º) é a chamada eficácia persuasiva do precedente: ele pode ser utilizado com fins persuasivos,
ou seja, para persuadir o juiz. Qualquer precedente tem eficácia persuasiva. Pode ser chamada de
eficácia mínima (o mínimo de eficácia que tem um precedente). É o uso mais freqüente do precedente, é
o uso tradicional, e há quem diga até que ele só pode ser usado para isso (mas essa posição já está
superada, porque há mais 2 efeitos);

2º) efeito bloqueador ou impeditivo: alguns precedentes impedem recurso contra as decisões que
o acolham. Ex.: se uma sentença do juiz se baseia em súmula do STF ou STJ, não cabe apelação, ou
seja, o precedente imuniza a decisão contra recurso. É daí que surge a expressão “súmula impeditiva de
recurso”. Qualquer súmula do STF e do STJ tem eficácia impeditiva;

3º) efeito vinculante: o precedente também pode ter eficácia vinculante, ou seja, ele tem de ser
observado por todo mundo. Nós temos no Brasil 2 exemplos de precedentes com eficácia vinculante: a
súmula vinculante do STF (que é vinculante para todos); e a súmula dos tribunais (que é vinculante para
eles próprios). Esses dois casos de precedentes com eficácia vinculante são indiscutíveis. Mas
atualmente se fala muito do precedente com eficácia vinculante vindo do Pleno do STF, ou seja, as
decisões do Pleno do SFT seriam também decisões vinculantes, mesmo que não sumulados (art. 475, §
3°, CPC). Isso já é polêmico, e esta polêmica será reapreciada na última aula do curso.
A Teoria da vinculação aos motivos determinantes, estudada em Direito Constitucional, nada
mais quer dizer que um precedente do STF tem eficácia vinculante.
Há uma diferença muito grande entre coisa julgada e eficácia do precedente, e isso os
constitucionalistas não explicam quando do estudo de controle de constitucionalidade. O que é inter
partes ou erga omnes é a coisa julgada, que sempre diz respeito ao dispositivo. O precedente que o STF
faz num controle concentrado ou difuso tem sempre eficácia erga omnes, porque todo precedente é geral
(é uma força argumentativa, bloqueadora, vinculante, que pode ser utilizada por qualquer um).
O sistema
Não, porque do precedente,
o exame se for muito
dos fatos é sempre do juiz.vinculante, não transformaria
Quando o sistema o juiz
é vinculante, isso em uma máquina?
significa que o juiz
não pode deixar de aplicar a tese jurídica que é o precedente, mas ele pode sempre dizer que o caso que
ele está julgando não é o caso do precedente. Ele pode dizer que o precedente não se aplica ao caso,
demonstrando o porquê.
Quer dizer que a súmula vinculante pode não ser aplicada? Pode, desde que o juiz argumente que
o caso não é o da súmula. O que não pode é o caso ser o da súmula e o juiz não aplicá-la porque não
concorda com ela. Súmula é norma geral e como toda norma geral, tem que ser interpretada. Súmula se
interpreta. É possível demonstrar que aquela súmula se aplica a um caso, mas não se aplica a outro.

Distinguishing:

Todo precedente, sendo uma norma, deve ser interpretado. Há uma palavra-chave que designa a
interpretação do precedente feita pelo juiz para verificar se ele se aplica ou não ao caso: “ distinguishing”
– é um método de interpretação do precedente, para se verificar se ele deverá ou não ser aplicado ao
caso concreto. Tem este nome porque é preciso verificar se há distinção entre o caso e o precedente.
Para se aplicar um precedente, deve-se demonstrar que o caso é semelhante aos casos que geraram o
precedente. Não há como aplicar precedente sem fazer distinguishing, não há aplicação automática de
precedente sem fazer interpretação, sem ver se o precedente se aplica ao caso concreto (atenção: esse
raciocínio se aplica também à súmula vinculante: o juiz pode deixar de aplicar uma súmula vinculante,
desde que verifique que o precedente não se aplica ao caso concreto).

Obter dictum:

136
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
O plural da expressão é obter dicta. Às vezes, na fundamentação de uma decisão, há vários
comentários, várias impressões, manifestações dadas pelo juiz, que não são a ratio decidendi. Assim,
obter dictum é tudo que estiver na fundamentação e não for ratio decidendi. É tudo aquilo que não for o
objeto da discussão, que não for o objeto principal da fundamentação. Se for retirado da fundamentação,
não fará diferença. O obter dictum não é precedente e não pode ser utilizado como precedente.
Precedente é a ratio decidendi.

Overruling:

tempo. ÉEles
a superação do precedente.
não são eternos Um apesar
e imutáveis, precedente pode estáveis.
de serem ser superado, podetécnico
O nome ser revisto a qualquer
da superação do
precedente é o overruling. Ele é o que dá ao sistema dos precedentes uma oxigenação, é o que faz com
que este sistema possa se adequar. Mas atenção para a diferença: uma coisa julgada pode ser revista pela
ação rescisória, o precedente é revisto pelas técnicas de overruling. Ex.: pedido de revisão de súmula,
que é uma técnica de superação de precedente. Somente o STF pode fazer o overruling de sua própria
súmula.
Prospective overruling: é a superação prospectiva, ou seja, daqui para frente.
Quando o precedente está estabilizado, já é duradouro, difundido, que todos conhecem, eventual
superação do precedente (overruling) só pode ter efeitos pro futuro. O tribunal que superar o seu
precedente já estabilizado só pode fazê-lo para o futuro, para proteger a confiança, a segurança das
pessoas.
Overruling restrospectivo: pode-se utilizar um precedente para alterar o que foi feito com base
em um precedente? Pode, mas é excepcional. Só se justifica se o precedente for de vida curta. Se for de
vida longa, não há como.

Questão: Overruling e segurança jurídica: os precedentes sempre podem ser alterados, sob pena
de se petrificar o sistema. Mas essa revisão deve ser vista com cuidado, preservando a segurança
jurídica. Por isso, se o precedente for consolidado, os efeitos devem ser ex nunc.

☺Teoria do Precedente Judicial.

☺ editorial 49 do prof. sobre a súmula vinculante n. 11. Esta súmula traz um conceito vago,
segundo ele. Súmula é para esclarecer, e não para complicar. Ex: “só cabe com grave ameaça”.
☺ também o editorial 31 do prof. que faz uma tabela para distinguir coisa julgada do efeito
vinculante do precedente.

Editorial 49:

O importante papel que a jurisprudência exerce na construção do direito positivo parece atualmente indiscutível.
A força normativa do precedente judicial apar ece em diversos institutos, como a “jurisprudência dominante”(art.
557, CPC), a “súmula impeditiva de recurso”(art. 518, § 1o, CPC) e a súmula vinculante (art. 103-A, CF/88).
A principal
casos característica
concretos, o órgão do “Direito Judicial”
jurisdicional, é a de
para criar que a sua
a norma produção
jurídica se faz por indução.
individualizada , precisaChamado
“criar”, aapartir
resolver
do
Direito Legislado, a norma jurídica geral que “fundamenta” a solução do caso concreto. Essa norma jurídica
geral que embasa o caso concreto é a ratio decidendi, fundamentação jurídica da decisão, que, se repetida em
vários casos, dá ensejo à uniformização da jurisprudência, à edição de enunciado de súmula etc. É a ratio
decidendi o precedente judicial que, em alguns casos, deve ser seguido pelo órgão jurisdicional.
Porque produzida a partir do caso concreto, a ratio decidendi não pode ter algumas características que
normalmente aparecem no Direito Legislado. Por exemplo: não há razão para que, na formulação da ratio
decidendi, se ponham termos de sentido vago. A vagueza na proposição normativa jurisprudencial é um contra-
senso: nascida a partir da necessidade de dar concretude aos termos vagos, abertos, gerais e abstratos do Direito
Legislado, a ratio decidendi deve ser formulada com termos de acepção precisa, para que não crie dúvidas
quanto à sua aplicação em casos futuros.
137
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Um exemplo pode vir a calhar.
O art. 1.102a do CPC permite o ajuizamento de ação monitória a quem disponha de “prova escrita” que não
tenha eficácia de título executivo. “Prova escrita” é termo vago. O STJ decidiu que “cheque prescrito” (n. 299 da
súmula do STJ) e “contrato de abertura de conta-corrente acompanhado de extrato bancário” (n. 247 da súmula
do STJ) são exemplos de prova escrita. Diante de casos concretos, criou “duas normas gerais”, a partir do Direito
Legislado, que podem ser aplicadas em diversos outros casos, tanto que viraram enunciado da súmula deste
Tribunal Superior. Note que a formulação destes enunciados sumulados não possui qualquer conceito vago, não
dando margem a muitas dúvidas quanto à sua incidência.
Infelizmente, essa técnica de elaboração do precedente judicial não foi observada pelo STF, ao editar o n. 11 da
sua súmula vinculante: “Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de
perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por

escrito,
ou do atosob pena de responsabilidade
processual disciplinar
a que se refere, sem prejuízocivil e penal do agentecivil
da responsabilidade ou do
da Estado”.
autoridade e de nulidade da prisão
Esse enunciado é tão extenso, e composto de termos de acepção tão vaga (“fundado receio de fuga”, “perigo à
integridade física própria ou alheia”, “justificada a excepcionalidade por escrito” etc.), que mais parece texto
legislativo. As dificuldades de sua aplicação serão tantas, que certamente deverão surgir outras “súmulas”
concretizando o disposto no enunciado n. 11.
A “súmula vinculante”, cuja existência se justifica para dar segurança/previsibilidade à solução de “determinadas
situações típicas”, neste caso terá pouca serventia. Não quero entrar, neste momento, no mérito da questão do
uso ou não de algemas, até porque não sou especialista no assunto. A minha preocupação é com a má-técnica do
STF na formulação do precedente, que é vinculante. O STF deve lembrar que o “papel normativo” da
jurisprudência tem outras características. Situações como essas não poderiam ser “sumuladas”, exatamente
porque, em razão das suas peculiaridades concretas, devem sempre ser examinadas a posteriori.
Se é certo que o papel da jurisprudência é cada vez mais importante, também é certo que é preciso um estudo
mais rigoroso da teoria do precedente e um aprimoramento na utilização das técnicas desenvolvidas a partir desse
conjunto teórico. E uma das técnicas mais importantes é, justamente, a técnica de “redação do preceito normativo
jurisprudencial”, a ratio decidendi, a “norma jurídica geral” construída a partir de casos concretos.
Fredie Didier Jr.
Em 23.09.2008

Editorial 31:

Distinção entre coisa julgada, eficácia da intervenção e eficácia vinculativa do precedente judicial:
Conforme venho falando em aulas e textos, é preciso, atualmente, fazer uma distinção entre a coisa julgada, a
eficácia da intervenção e a eficácia vinculativa do precedente judicial, efeitos jurídicos que vinculam sujeitos a
uma decisão judicial, mas que possuem regimes jurídicos bastante diferentes.
Segue um quadro esquemático para a compreensão da matéria.

Coisa Ju lgada Eficácia da Ef icácia vincul ati va do precedente


I ntervenção judi cial
Dispositivo da decisão – Fundamentação de Ratio decidendi – norma jurídica
Limite
norma jurídica fato e de direito da geral (fundamentação da decisão)
objetivo
individualizada decisão
Limite Inter partes, como regra Assistente simples Erga omnes
subjetivo (art. 472, CPC) (art. 55, CPC)
Ação rescisória, querela Exceptio male gestis Preventivo: intervenção do amicus
nullitatis, desconstituição processus (art. 55, I e curiae antes da formação do
de sentença inconstitucional II, CPC). precedente (arts. 482, §§1º, 2º e 3º, e
(art. 475-L, §1º, e 741, 543-A, § 6º, CPC).
Instrumentos
P.U., CPC) e a correção de Repressivo: mecanismos de superação
de controle
erro material (overruling) do precedente, como, p.
ex., o pedido de revisão de enunciado
de súmula vinculativa do STF (art. 3º,
Lei 11.417/06)

138
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- Dispositivo:

Dispositivo ou conclusão é a decisão propriamente dita. É o momento em que o magistrado


estabelece qual é a norma jurídica individualizada do caso concreto, dá a solução ao caso concreto. O
dispositivo é, pois, o resultado do raciocínio do juiz para resolver aquele problema específico. Por isso é
também chamado de conclusão.
Sem dispositivo, a decisão não existe. Quanto a isso não há discussão.
É preciso entender que muitas vezes a sentença é um conjunto de decisões, não é uma decisão só.
Muitas vezes, quando sai uma decisão judicial, ela não é apenas uma decisão, ela é um feixe de decisões.
Quando isso acontece, quando a sentença embora seja uma sentença (do ponto de vista formal), mas na
verdade ela
“sentença comcontém váriasQuando
capítulos”. sentenças
nos (do ponto aos
referimos de vista substancial),
capítulos ença,ocorre
da sent aquilo
estamos nos que chamamos
referindo a cada
uma das decisões que podem estar contidas em uma sentença.
Ex.: processo em que houve 3 pedidos (cumulação de pedidos); o juiz, ao julgar os 3 pedidos
dará 3 decisões. A sentença, embora uma só, conterá 3 decisões (uma decisão sobre cada pedido).
Quase sempre uma sentença é formalmente única, mas substancialmente plúrima. Quando isso
acontece, fala-se que a decisão é objetivamente complexa. Em toda sentença haverá pelo menos um
capítulo do pedido e mais a condenação em honorários (e o pedido de condenação em honorários é um
outro pedido). Assim, mesmo as sentenças mais simples, em que há um só pedido, são plúrimas.
Atenção: na elaboração da sentença é preciso recordar dessa teoria da sentença com capítulos.
Convém que se divida a fundamentação em capítulos (com uma fundamentação para cada capítulo).
Quando chegar o dispositivo, no momento de concluir, é preciso também reservar um parágrafo do
dispositivo para cada capítulo, assim é possível saber ao certo qual é a fundamentação de cada capítulo,
evitando a alegação de falta de fundamentação.
Pode ser que uma sentença seja parcialmente nula. O juiz pode decidir 2 capítulos e ser
incompetente em relação ao 3º capítulo, ou não ter fundamentado o 3º capítulo. Assim, ela pode ser
parcialmente nula. Mas só se concebe entender que uma sentença pode ser parcialmente nula, a quem
compreende que a sentença é formada de vários capítulos. Assim, ver a sentença dessa forma capitulada
ajuda a compreender esse fenômeno da nulidade parcial da sentença.
Ademais, através desse entendimento é também possível compreender que o recurso da parte
pode abranger apenas um capítulo da sentença. Ela pode ter perdido nos 3 capítulos e só recorrer de dois
deles, por ex. Só esses capítulos serão devolvidos ao Tribunal. Assim, muitas vezes não é toda a
sentença que será devolvida ao tribunal, mas apenas um capítulo. Se o recurso é parcial, o capítulo não
recorrido faz coisa julgada parcial. Um recurso pode ser recebido em seu efeito suspensivo com relação
a apenas um dos capítulos.
É também por meio disso que se pode entender que a ação rescisória pode atingir apenas um
capítulo da sentença. É possível que a parte tenha interesse em rescindir apenas um capítulo da sentença.
E só compreende o que é essa rescisória parcial quem entende que a sentença pode ter partes, pode ser
dividida, pode ter capítulos.
Essa teoria também nos ajuda no momento de se fixar a sucumbência. É possível saber se houve
sucumbência recíproca ou não, observando quantos capítulos foram ganhos pelo autor e quantos o foram
pelo réu. Se o autor ganhou mais, mas o réu também ganhou, é natural que o autor ganhe mais em
honorários. E é essa divisão da sentença em capítulos que vai ajudar na fixação da sucumbência.
Assim, na hora de fazer a sentença, é preciso julgar um capítulo por vez, fazendo a
fundamentação de cada um delas. A fundamentação de cada capítulo é dividida em itens.
Se há 3 capítulos e o autor ganha 2 e perde 1, é comum que se coloque na sentença que foi
julgado parcialmente o pedido. Isso é um erro. É preciso dizer que foi julgado procedente o pedido A,
procedente o pedido B, e improcedente o pedido C. Nenhum pedido foi parcialmente procedente ou
improcedente. Cada um deles foi procedente ou improcedente na sua totalidade. Só há pedido
parcialmente procedente quando se pede x e se ganha x/2, por ex. Quando há mais de um pedido e
apenas um foi julgado procedente, não se trata de sentença parcialmente procedente. Atenção para isso!
*Dica de livro: Capítulo de Sentença – Cândido Dinamarco (ler a partir do capítulo 3).

139
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
(08/06/09)

 Requisitos da Sentença:

Os requisitos da sentença são os atributos que ela tem que ter para que seja válida.
Requisitos são sempre qualidades.
É possível dizer que todos os requisitos, ou seja, todos os atributos que a sentença tem de ter,
podem ser resumidos em uma frase: a sentença tem que ser congruente. Congruente no sentido de
perfeição. Ela tem que ser perfeita e acabada, tem que estar em conformidade com uma série de regras.
A congruência da sentença pode ser interna ou externa.
Requisitos Internos

A congruência interna da sentença quer dizer que a sentença tem que ser: certa, clara, coerente e
líquida.

Certa: a certeza da sentença significa que ela não pode trazer dúvidas. Sentença certa é quando
ela expressamente certifica a relação jurídica discutida. O juiz, ao julgar, tem de resolver o problema, e
tem de fazê-lo de maneira expressa. Não se admite decisão implícita. Não se admite decisão que não
resolva o problema. Ex. condeno o réu a ressarcir o autor, se tiver tido prejuízo. Há uma frase muito
difundida na doutrina: “Não se admite sentença sob condição”. Essa frase significa que juiz não pode
colocar sob condição a própria certeza que é obrigado a dar na sentença. Mas, nada impede sentença
condicional se a condição for uma condição para modular o efeito da decisão. Ex. decisão da ADI.

Clara: sentença clara é a sentença inteligível, a que é bem escrita, que possa ser bem
compreendida. Sentença obscura é uma sentença impugnável por Embargos de Declaração.
Coerente: sentença coerente é aquela que não contém contradições, proposições contraditórias.
Também pode ser objeto de ED.

Líquida: sentença líquida é aquela que define de modo completo os elementos da norma jurídica
individualizada, a relação jurídica litigiosa. Para ser líquida a sentença tem de responder a 5 perguntas:
a) Deve? Ou seja, a dívida existe?
b) Quem deve? Ou seja, quem é o devedor?
c) A quem se deve? Ou seja, quem é o credor?
d) O que deve?
e) Quanto deve?
Se é possível responder a todas essas perguntas, sabe-se tudo da norma jurídica individualizada.
A sentença que responde a todas essas perguntas é uma sentença líquida e, sendo líquida, está pronta
para ser executada.
Normalmente, a decisão é ilíquida em relação ao quantum. Mas há casos de iliquidez que atinge
outras perguntas. Ex. sentença coletiva, na qual o juiz manda que a empresa X indenize as vítimas. Essa
decisão é ilíquida em relação ao quantum e a quem se deve. É uma sentença com uma carga de iliquidez
maior. Conclui-se que a sentença pode ser ilíquida por lhe faltar os diversos elementos e não somente o
quantum. No entanto, jamais uma sentença pode ser ilíquida com relação ao “se deve”. Se o juiz deixa
de responder a essa pergunta, a sentença será incerta e não ilíquida.
O ideal seria que a sentença sempre fosse líquida. Ocorre que a própria lei permite alguns casos
em que a sentença possa ser ilíquida. Vejamos algumas observações:
1) Nos Jesp´s a sentença sempre tem de ser líquida. Não há exceção.
2) No procedimento sumário, em causas que dizem respeito a acidente de trânsito, a sentença tem
de ser líquida.

140
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
3) Em qualquer procedimento, a sentença tem de ser líquida se o pedido for líquido. Se o pedido
é líquido e a sentença é ilíquida há um defeito, que só pode ser impugnado pelo autor (cabe a ele
impugnar e se não fizer, ocorrerá a preclusão). Nesse sentido, a ☺Súm. 318, STJ: “Formulado pedido
certo e determinado, somente o autor tem interesse recursal em argüir o vício da sentença ilíquida ”.
Ocorre que, se o pedido for ilíquido a sentença pode (não precisa ser!) ser ilíquida. Os casos em que o
pedido pode ser ilíquido estão no art. 286, CPC (ver a aula sobre pedido).

Requisitos externos:

A congruência externa da sentença significa que ela tem de estar em conformidade com as
alegações das partes. Tem de haver uma congruência entre a sentença e o que foi postulado por autor e
réu. Por isso se fala em congruência do ponto de vista externo. Aqui surgem 3 expressões que designam
vícios de congruência externa da sentença:
- sentença citra petita→ esquecer (é a sentença que deixa de examinar o que deveria ter sido
examinado);
- sentença ultra petita exagerar (o juiz dá além do que se pede, ele ultrapassa o que se pede);

- sentença extra petita inventar (o juiz dá o que não se pediu).


Quando o juiz concede mais do que foi pedido, não se anula toda a sentençaultra petita, mas só
se anula o excesso, aquilo que extrapola o que foi pedido.
É preciso aqui fazer uma observação mais aprofundada sobre a sentençacitra petita: uma
sentença pode ser omissa, ou seja, pode haver omissão na sentença de duas maneiras:
a) a omissão pode se dar na fundamentação: o juiz deixa de examinar uma questão incidente
relevante, que se fosse examinada poderia levar a uma outra conclusão (ex.: o juiz deixa de examinar um
fundamento trazido pela parte). Ai há uma omissão na análise de uma questão incidente, e a questão
incidente se examina na fundamentação da decisão. Assim, essa omissão ocorre na fundamentação da
decisão. Quando
de motivação. isso caso,
Neste ocorre,é ou seja, ação
cabível quando há omissão
rescisória na essa
contra fundamentação, a decisão
sentença nula. é não
nula
“O juiz , por vício
precisa
examinar todos os fundamentos alegados pela parte”, somente se a decisão julgar o pedido procedente.
Todavia, se a sentença julgar improcedente o pedido, deverá analisar todos os fundamentos alegados
pela parte.
b) a omissão em relação ao dispositivo: é a omissão no exame de um pedido. O juiz deixa de
examinar um pedido. Se isso ocorre, em relação ao pedido que não foi examinado, que não foi decidido,
a decisão é inexistente. Se o pedido não foi julgado, não há decisão. Ela não é nula, ela simplesmente
não existe. E, não existindo, não se pode falar em coisa julgada.
Questão: pedido feito, não examinado, pode ser repetido, reiterado? Sim. Porque se ele não foi
examinado, não houve coisa julgada. Mas, pedido feito que não foi motivado ou que teve uma
motivação ruim, acarreta uma decisão nula, e se não recorrer, haverá coisa julgada.

 Decisão x Fato superveniente:

Entre a propositura da demanda e a decisão da causa há um lapso de tempo.


O juiz quando vai julgar pode levar em consideração os fatos que aconteceram depois da
propositura da ação? Ele deve julgar de acordo com a realidade do momento da propositura da ação ou
ele tem que julgar de acordo com a realidade da época do julgamento?
O juiz tem que fazer a justiça na data da decisão. Ou seja, ele tem que dar uma decisão que seja
justa no momento da sua decisão (e não no momento da propositura da ação). Deve levar em
consideração os fatos supervenientes à propositura da demanda que interfiram na decisão da causa.
Ex.: A cobra uma dívida não vencida e o réu B se defende. O juiz poderia ter indeferido a petição
inicial, mas não o fez. Quando o juiz vai julgar, ele percebe que naquela época da propositura a dívida
não era vencida, mas agora já é. O juiz deve levar isso em consideração.

141
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Todo fato superveniente à propositura da demanda relevante para o julgamento da causa deve ser
levado em consideração pelo juiz até mesmo ex off icio .
☺art. 462, CPC – este artigo reconhece que o processo demora, que pressupõe tempo, e o tempo
inerente ao processo permite que fatos aconteçam e interfiram no julgamento do processo.

 Efeitos da sentença:

Os efeitos da sentença se dividem em 4:

a) Efeito
normativo principal:
da decisão) é aquele
e atinge que decorre
a relação jurídica diretamente
discutida na do conteúdo
causa. da decisão
O efeito principal(do
da comando
sentença
condenatória é permitir a execução da prestação devida (já que sentença condenatória se refere a um
direito a uma prestação). O efeito principal da sentença constitutiva é a criação da situação jurídica nova.
O efeito principal da sentença meramente declaratória é a certeza sobre a existência ou não da relação
jurídica.

b) Efeito reflexo: é aquele que decorre do conteúdo da sentença para atingir relação jurídica
conexa àquela que está sendo discutida. Ex.: o despejo do locatário atinge reflexamente o sublocatário.
A eficácia reflexa de uma sentença é aquela que autoriza a assistência simples (obs.: e se o efeito
principal atingir terceiro? Ai a assistência será litisconsorcial).

c) Efeito anexo: é aquele que decorre da lei, não da manifestação do juiz. A lei atribui à
sentença um efeito, independentemente da manifestação do juiz. É um efeito automático da sentença.
Independe de pedido da parte. Os dois primeiros efeitos decorrem do ato-sentença (pressupõem vontade
do juiz). Já o efeito anexo decorre da sentença como um fato (pouco importa a vontade do juiz). Ex.: a
perempção é o efeito anexo da terceira sentença que extingue por abandono. A lei confere a este fato (3ª
sentença por abandono) a conseqüência jurídica da perempção. Ex.2: hipoteca judiciária: se for proferida
uma sentença condenatória a pagar quantia contra o réu, o autor, por efeito anexo, tem o direito de
constituir uma hipoteca em imóveis do réu. O título da hipoteca judiciária é a sentença. ☺art. 466, CPC.

d) Efeito probatório: a sentença é um documento público. Assim, como documento público que
é, a sentença prova fatos, como por ex., prova a sua própria existência. Ademais, a sentença prova todos
os fatos que o juiz tiver presenciado.

 Publicação e retratação da sentença:

Uma vez publicada, a sentença é irretratável. O juiz só pode se retratar da sentença em poucas
exceções:
1) Se acolher embargos de declaração;

2) Nos
3) Se houver erroapelação
casos de materialcontra
(podesentença
ser corrigido a qualquer
que indefere tempo);inicial (art. 296 e 285-A);
a petição
4) Apelação em causas do ECA (em qualquer apelação).

Publicar é dar a pública e não quando houver publicação no diário oficial. Assim, considera-se
pública quando a sentença é juntada aos autos. A divulgação no diário tem fins de contagem de prazo.

142
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 TUTELA JURISDICIONAL ESPECÍFICA DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER, DE NÃO


FAZER E DE DAR COISA DISTINTA DE DINHEIRO:

 Tutela jurisdicional:

Rigorosamente, esse assunto é tratado na matéria de execução. Mas será tratada no intensivo I
devido à sua localização no CPC.

Tutela– jurisdicional
mais teórica é um conceito
tutela jurisdicional que temprático
como resultado várias favorável
concepções. Aquitenha
a quem estudaremos
razão. sua concepção
Tutela jurisdicional então, nessa acepção, é o resultado, o produto do processo, aquilo que o
processo gera.
Em um sentido amplo, tutela jurisdicional pode significar todo o regramento processual, o
conjunto das regras processuais, das regras que regulam a atividade jurisdicional.

 Classificação da tutela jurisdicional:

→ 1ª Classificação:

a) Tu tela pr eventi va: é aquela que tem por objetivo impedir a ocorrência ou a consumação de
um ilícito ou de um dano. Ela hoje é garantida constitucionalmente (“A lei não excluirá da apreciação do
Judiciário lesão ou ameaça a direito”). É importante lembrar que nem todo dano decorre de um ilícito
(ex. dano que decorre de uma legítima defesa). Há ainda ilícito que não cause dano.
b) Tu tela repressiva ou sancionatória : ela pressupõe que o dano ou o ilícito já tenham ocorrido.
Ela é, pois, posterior ao ilícito, ao dano. Seu objetivo é remover o ilícito, reparar o dano, reprimir; punir
o ilícito praticado ou o dano ocorrido. Visa recompor os prejuízos.

→ 2ª Classificação: aqui não há contraposição, são classificações diversas que convivem.

a) Tu tela de ur gênci a: é a tutela do perigo. Sempre que eu busco uma proteção contra o perigo,
eu quero uma tutela de urgência.
b) Tutela de evidência: evidência aqui deve ser compreendida como se compreende a palavra
“evidence” em inglês, que quer dizer prova. Alguns direitos, ou algumas situações se apresentam em
juízo com mais facilidade do que outros direitos. Há evidência, pois, quando um direito se apresenta em
juízo com mais facilidade do que outros. Ex.: ação monitória, que é cabível para o credor que tem prova
escrita da obrigação (se não tem prova alguma deve ir para o procedimento ordinário). Outro ex.: o MS,
que é previsto para aquele que tem direito líquido e certo, direito com prova pré-constituída.
Seria justo que alguém que pudesse comprovar algo de plano tivesse o mesmo tratamento
daquele que precisa de 30 perícias para provar. ??? O direito processual começa a prestigiar situações de
evidência.
Exemplos de tutela de evidência:
I) Ação monitória: cabe para o credor que tem a prova escrita. Se tiver a prova escrita, deverá
ter tratamento diferenciado. É preciso tutelar essa situação de evidência.
II) Mandado de Segurança: o MS é permito àquele que tenha direito líquido e certo. Ora, é um
direito que se demonstra com mais facilidade do que outro. É um direito que tenha prova pré-
constituída.
O problema é que nós aprendemos “fumaça do bom direito e perigo da demora” quando se fala
em cautelar. Mas, o que é fumaça do bom direito? É o pressuposto da evidência. E o perigo da demora?
É o pressuposto da urgência. É como se a tutela antecipada protegesse a urgência e evidência.

143
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Urgência e evidência são geralmente estudadas juntas. Mas devemos distingui-las porque muitas
vezes há só evidência e não há perigo (como na monitória), ou há só urgência (como na produção
antecipada de prova). Ex: ação monitória – só evidência; produção antecipada de prova– só urgência. A
produção antecipada de prova é para produzir uma prova.
Questão de concurso - MP/MG: A produção antecipada de prova é exemplo de tutela de
urgência. A ação monitória é exemplo de tutela de evidência. A liminar na ação possessória é exemplo
de tutela de evidencia. Na liminar em ação possessória nem tem que provar o perigo. Basta provar que
foi esbulhado e que é possuidor. A tutela antecipada pode ser concedida quando houver verossimilhança
e abuso do direito de defesa? Nessa hipótese, a tutela antecipada se deu por evidência. O legislador
dispensa a demonstração do perigo. O abuso do direito de defesa pelo réu reforça a evidência.
A liminar na ação possessória é exemplo da tutela da evidência. Não precisa nem provar o
perigo, basta provar que foi esbulhado e é possuidor.
A tutela antecipada pode ser concedida quando houver verossimilhança e abuso dos direitos de
defesa? Nessa hipótese é uma tutela antecipada só por evidência. Porque o legislador dispensa a
demonstração do perigo que é irrelevante. O abuso de direito de defesa pelo réu reforça a evidência.

→ 3ª Classificação: aqui há um contraponto, uma é o oposto da outra.

a) Tutela específica:
É aquela que atribui a quem tem razão a exata prestação devida. Se eu vou ao judiciário e
obtenho a exata prestação devida, fala-se em tutela específica.
A tutela específica deveria ser o objetivo principal do processo. Sucede que as coisas não foram
sempre assim. Só existem 4 espécies de prestações – fazer, não fazer, dar dinheiro ou dar coisa distinta
de dinheiro.
No caso da tutela de dar dinheiro, se uma pessoa tem direito a receber dinheiro, vai ao Poder
Judiciário e pede dinheiro. Rigorosamente, a tutela do dinheiro sempre foi específica. Existe um caso em
que
umaa coisa
obrigação
em de pagar
lugar de quantia
recebersedinheiro,
tutela pelomas
equivalente: o autor, aosóinvés
essa substituição de receber
ocorre dinheiro,
se o credor recebe
quiser. A
preferência será sempre da tutela específica. Esse assunto é tão banal, que não é tratado pelos autores.)
Tradicionalmente, o direito brasileiro não permitia a tutela específica das obrigações de fazer, de
não fazer e de dar. Isso significa que se o devedor não cumprisse com a sua obrigação, o credor deveria
se contentar com as perdas e danos, ou seja, o equivalente em dinheiro.
Esse regramento se pautava em duas premissas: 1ª) tudo tem um valor pecuniário (tudo pode ser
transformado em dinheiro); 2ª) ninguém poderia ser obrigado a fazer o que não quer.
A primeira premissa é equivocada, pois há direitos sem conteúdo patrimonial, que não podem ser
convertidos em dinheiro. A segunda premissa é ultra liberal. Se eu tenho um dever, eu sou obrigado a
cumprir com a obrigação. Ambas as premissas se mostraram equivocadas ao longo da história. Portanto,
o sistema da época era o da Primazia da Tutela do Equivalente em Dinheiro.
Ex: Indústria poluindo muito. Não poderia pedir para parar de poluir. Ela poderia pagar para
poluir. A lógica da época era essa.
O tempo foi passando. A primeira metade do século XX no Brasil foi uma época de expansão.
Paralelamente a isso, houve uma valorização muito grande dos imóveis. A classe média começou a
comprar imóvel. Imóvel é um bem que não se costuma comprar a vista. As pessoas começaram a fazer
um compromisso de compra e venda de imóvel. Alguns meses depois, o vendedor não transferia o
imóvel ao comprador. Como era obrigação de fazer, o vendedor não poderia ser obrigado a fazer. Era
muito mais interessante para o vendedor ficar com o imóvel. Os vendedores pagavam as arras e vendiam
os imóveis de novo. Isso gerava uma enorme insegurança.
Getúlio Vargas editou o Decreto-lei 58/1937. Esse decreto diz que o comprador que paga as
parcelas tem direito à execução específica. Era uma novidade para a época. O sujeito poderia ir ao Poder
Judiciário para pedir a tutela específica da obrigação de fazer – transferir o imóvel. Isso foi uma
revolução. Nesse momento, consagra-se a tutela específica da obrigação de fazer.
O CPC de 1939 expande essa tutela específica para qualquer obrigação de declarar vontade. Já
começa a se desenvolver mais a tutela específica.
144
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Em 1990, com o advento do CDC, o art. 84 estabeleceu que nas relações de consumo, o
consumidor tem direito à tutela específica. Em vários dispositivos do CDC (☺art. 14 e art. 18) diz que o
consumidor tem direito à tutela específica. O CDC revolucionou o tema. O CDC coloca a tutela
específica como prioritária. Só não haverá tutela específica se o credor não quiser ou for impossível a
prestação. Não é mais como era antigamente.
A reforma do CPC de 1994 trouxe uma nova redação ao art. 461 do Código, reproduzindo o art.
84 do CDC. O art. 461 generalizou a tutela específica no Brasil. Qualquer que seja a obrigação de fazer
ou de não fazer (legal ou contratual, fungível ou não fungível), o credor tem o direito à tutela específica.
Só não terá a tutela específica se não quiser ou se for impossível a prestação. Isso é a maior evolução
que se teve no processo, na opinião do professor. Houve uma mudança na perspectiva do direito
material.
Em 2002, o legislador acrescentou o art. 461-A que cuida das obrigações de dar coisa. Ele remete
ao art. 461, CPC. Este dispositivo também tornou prioritária a tutela específica.
Os arts. 461 e 461-A se aplicam a qualquer obrigação de fazer, não fazer e de dar (pouco importa
se o dever de fazer ou não fazer é fungível ou infungível, tendo a srcem que tiver).
Com toda a evolução, vigora, no direito brasileiro, o princípio da Primazia da Tutela Específica.

b) Tutela do Equivalente em D in heiro:


É a tutela que atribui a quem tem razão uma prestação equivalente àquela a que ele tem direito. É
uma tutela que transforma a prestação em dinheiro.
Ex: dação em pagamento. O cidadão, ao invés de receber dinheiro, recebe o equivalente em
coisa.

→ 4ª Classificação: é uma subdivisão da tutela específica. São exemplos de tutela específica.

a) Tutela in ibi tór ia : A tutela inibitória é uma tutela que tem por objetivo impedir a prática ou
aexistência
consumação de um
de dano ilícito. É uma
é irrelevante. tutela preventiva.
O relevante é discutir aNessa tutela,do
ocorrência nãoilícito.
se discute se há dano.
É irrelevante A
discutir
culpa. A culpa não é pressuposto do ilícito. A culpa é pressuposto para a responsabilidade.
O que se discute? Discute-se a ameaça de ocorrência de um ilícito. Como se distingue a tutela
inibitória de uma tutela preventiva? A tutela inibitória é um exemplo de tutela preventiva. Em certo
sentido, uma ação meramente declaratória não deixa de ser preventiva, mas ela não é inibitória.
A tutela inibitória sempre foi admitida no direito brasileiro. Só que ela era admitida em algumas
situações específicas, isoladas. Ex: MS preventivo, interdito proibitório, nunciação de obra nova, etc.
Eram hipóteses de tutela inibitória entre nós.
Com o art. 461 do CPC, houve uma generalização da tutela inibitória. O que isso quer dizer?
Quer dizer que hoje, pode-se entrar com uma ação inibitória para impedir qualquer ilícito. A ação
inibitória foi criada mais ou menos em 1994 (em 1994, criou-se uma ação inibitória geral). Ela permite
uma ação inibitória atípica.
A tutela inibitória é uma tutela para inibir o dano? Não. É tutela contra o ilícito, e não contra o
dano.

b) Tutela Reintegratória ou Remoção do I lícito: É uma tutela posterior ao ilícito. O ilícito já


ocorreu. Distingue-se, portanto, da tutela inibitória. O que se quer é remover, desfazer o ilícito. A idéia é
deixar as coisas como estavam antes do ilícito.
Notem que a tutela reintegratória é uma tutela contra o ilícito, não tendo nada a ver com o dano,
nem com culpa. Tudo que se falou para a inibitória se aplica aqui, mas a diferença é que no caso da
reintegratória pressupõe que o ilícito já ocorreu.
Ex: A teve o nome incluído no Serasa indevidamente. Tirar o nome do Serasa é remover o ilícito.
Não se fala em dano, nem em prejuízo.
A reintegratória existia entre nós episodicamente, como é o caso da possessória. A ação de
reintegração de posse é uma ação de remoção do ilícito – nela se quer a devolução da coisa esbulhada.
Com o art. 461 do CPC, permitiu-se a tutela de remoção de qualquer ilícito.
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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

c) T utela Ressarci tória : É a tutela de reparação do dano. A tutela ressarcitória visa o


ressarcimento do prejuízo. Nesse caso, poderá apurar se há ou não culpa. Pode ser que haja necessidade
de provar culpa para fins de ressarcimento.
Quando se fala em tutela ressarcitória, pensa-se logo em dinheiro. A tutela ressarcitória pode ser
pelo equivalente em dinheiro, mas também pode ser específica.
Ex. ressarcitória na forma específica: direito de resposta no direito eleitoral (se ofender a honra,
deve-se ressarcir a honra. Isso é um exemplo antigo); direito de resposta na lei de imprensa.
No direito ambiental (ex: ação civil pública ambiental), o ressarcimento específico é muito
interessante. Ex: reflorestamento. O reflorestamento é a recomposição do meio ambiente. Mas e quanto
à despoluição, qual tipo de tutela específica deve-se buscar? A tutela reintegratória. Isso porque quando
acontece um problema ambiental, pode-se pedir a despoluição (reintegratória), a indenização e tomada
de providências para não poluir novamente.

Para relembrar os 3 tipos de tutela específica, ver o art. 12, CC. Esse artigo é didático – “cesse a
ameaça” (tutela inibitória) ou “cesse a lesão” (tutela reintegratória) e “reclamar perdas e danos” (tutela
ressarcitória).
Notem que há 3 verbos. Esse artigo traz as 3 tutelas. Ele está previsto para os direitos de
personalidade.
Os arts. 461 e 461-A cuida da tutela específica (inibitória, ressarcitória e reintegratória). O art.
461 do CPC generalizou a possibilidade de ressarcimento na forma específica. Quaisquer das tutelas
específicas podem ser obtidas pelo art. 461 do CPC.
Ex: nome inscrito no Serasa: a parte pode pedir retirar o nome do Serasa (remoção do ilícito),
não colocar o nome de novo (inibitória) e ainda pode pedir indenização (ressarcitória).


Demais Características do art. 461:
Características da tutela específica:
- Ele consagra a primazia da tutela específica.

- Ele serve para qualquer tutela específica, para qualquer obrigação.

- As sentenças do art. 461 são sentenças que se efetivam no mesmo processo em que foram
proferidas, sem necessidade de outro processo. Hoje, isso é uma característica de qualquer sentença de
prestação.

- A execução dessas sentenças pode se darex officio. Ou seja, o juiz pode mandar cumprir a
decisão. Não precisa que o exeqüente peça. Para fazer, não fazer ou dar, não precisa de provocação do
exeqüente. Por outro lado, a execução de pagar quantia só pode começar com a provocação do
exeqüente.

- O art. 461 mitiga o Princípio da Congruência Externa, que significa que o juiz fica limitado ao
que foi pedido. Há dois aspectos que revelam essa mitigação:
1°) o juiz não fica vinculado ao meio executivo requerido pela parte (ex. parte pede que a
execução seja feita sob pena de multa e o juiz estabelece outro meio executivo). Se a parte não pedir
qualquer meio executivo, o juiz pode de ofício determiná-lo.
2°) o juiz pode dar ao autor outro resultado prático distinto daquele que ele pediu, desde que
equivalha ao que ele pediu. Ex. construção de telhado que mira no quintal do vizinho. O autor pede para
que o réu derrube o muro, sob pena de multa. O juiz determina que o réu construa calha para desviar a
água da chuva.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Atenção para isso porque já foi questão de prova em concurso (“Relacione o art. 461 com o
Princípio da Congruência”.

- O art. 461, CPC permite que o juiz troque a medida executiva que ele havia determinado. Se o
juiz percebe que o meio que havia determinado é inapropriado, ele pode trocar o meio executivo no
meio da execução. A fixação do meio executivo não é rígida, não se submete à preclusão. A coisa
julgada não recai sobre o meio executivo. O que faz coisa julgada é que o autor tem direito àquilo.
Agora, o modo de efetivar a decisão não faz coisa julgada.

- O juiz pode criar um meio executivo não previsto em lei, com base no art. 461, § 5°, que
consagra o “Princípio da Atipicidade dos Meios Executivos”. A execução dessas sentenças pode se dar
por meios atípicos. Ex. inscrever o nome no SERASA é um meio atípico. Houve uma mudança
revolucionária, pois a execução deveria ser típica. Consagra uma cláusula geral executiva. Ex. a multa
prevista em lei reverte ao autor. Em algumas decisões, a multa é revertida a uma associação de caridade.
Essas medidas executivas atípicas são controladas pela proporcionalidade e razoabilidade.

**Há duas questões importantíssimas que emergem do art. 461, § 5°:


- Aplica-se à execução por quantia? A pergunta é relevante, pois não há disposição expressa. De
um modo geral, a doutrina não admite. É o pensamento que prevalece. Ou seja, a execução por quantia
deve ser típica.
- Pode o juiz utilizar a prisão civil como meio executivo atípico? Há duas correntes: a) não cabe
prisão civil como medida atípica, o caso é de estender a proibição constitucional (Talamini); b) entende
que a proibição constitucional só atinge direitos patrimoniais, ou seja, não se pode efetivar direitos
patrimoniais por prisão civil. Direitos sem conteúdo patrimonial poderiam ser efetivados por prisão civil
(Marinoni, Pontes de Miranda, Fredie). A primeira corrente é majoritária, embora não haja uma boa
fundamentação.
O posicionamento
depositário recenteé do
infiel cabe a prisão, STF areforça
porque posiçãoosdoargumentos
STF é peladaexcepcionalidade
corrente majoritária. Se nem
da prisão para
civil. O
STF ratifica, reforça o entendimento da primeira corrente. Mas o STF ainda não examinou a questão da
utilização da prisão nos casos de efetivação de direitos não patrimoniais.

(15/06/09)

→ Multa:

É o principal meio de execução indireta de que se vale o juiz. Praticamente os juízes só aplicam a
multa. Os juízes tratam a multa como se fosse o meio (e não apenas um dos meios) para efetivar as
decisões do art. 461.
Essa multa tem caráter coercitivo, o que significa que é um instrumento de efetivação da decisão,
para auxiliar o juiz a efetivar o que ele diz. Ela não tem caráter indenizatório, não substitui a
indenização. O valor da multa não se compensa com as perdas e danos. Ela é um valor a mais. Ou seja, a
parte terá direito à multa e à indenização por perdas e danos.
A multa reverte para a parte, não vai para o Estado. E não há limite para essa multa. Ela pode
extrapolar e muito o valor da obrigação. Ela serve mesmo para “estrangular” juridicamente o sujeito. A
idéia é que ela seja uma pressão, um contra-motivo. Por isso ela não tem teto, mesmo nos Jesp´s. Uma
decisão de um Jesp pode gerar uma multa maior mesmo que o seu teto, e será executada no próprio
Juizado.
A multa, porém, vem sendo utilizada de maneira equivocada. Os juízes, por só conhecerem a
multa, a aplicam a qualquer tipo de causa. E isso faz com que, atualmente, haja uma verdadeira indústria
da multa. As pessoas vão ao Judiciário torcendo para que o réu não cumpra a decisão, já que cada dia de
não cumprimento reverterá em favor da parte, em forma de multa. Isso é uma distorção.
147
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
O juiz não percebe que há determinadas obrigações para a qual a efetivação por meio da multa
não é adequada. Valores astronômicos, gigantescos, para causas de valor pecuniário insignificante,
fizeram com que os tribunais passassem a reduzir retroativamente as multas, o que teoricamente não
poderia ser feito (o nosso ordenamento não permite). Mas isso tem sido feito para corrigir os absurdos,
as distorções, assombros existentes.
Tudo isso vale para a multa (gênero). Agora passemos às suas classificações:
A multa pode ser periódica (diária) ou fixa. Ela pode ser horária (o juiz decide às 5 da tarde um
direito que tem que ser efetivado à meia noite – e ai não adianta de nada o juiz fixar multa diária). O juiz
pode também colocar uma multa semanal. Como também pode alterar o valor da multa (pode aumentar
a multa se perceber que aquele valor não surtiu o efeito esperado), e pode também trocar a multa por um
outro meio executivo.
Questão: A multa pode ser fixada em tutela antecipada (o juiz diz liminarmente: “faça sob pena
de multa”). Caso isso ocorra e o réu descumpra a liminar, o conta-giro da multa começa a rodar. Dúvida:
o autor já pode executar essa multa, que advém do descumprimento de uma decisão liminar?
O autor pode, mas esta execução é provisória. Ela é provisória porque fica na dependência de
uma confirmação posterior. Se a decisão provisória for confirmada o réu terá que pagar a multa desde a
data do descumprimento. Mas, se não houver essa confirmação, ou seja, se ao final o autor perder, ele
não terá direito à multa. A multa não sobrevive se a decisão não for confirmada. O processo não pode
empobrecer quem tem razão.
☺art. 83, §3º, do Estatuto do Idoso: “A multa só será exigível do réu após o trânsito em julgado
da sentença favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado ”.
Essa regra, embora não prevista expressamente no CPC, é repetida no ECA e na LACP,
revelando, portanto, que o sistema se estrutura dessa maneira.
Por fim, resta dizer que a multa coercitiva pode aparecer em concursos com o nome de
“astreinte”.

148
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 COISA JULGADA:

 Conceito:

Coisa julgada é a indiscutibilidade dentro e fora do processo do comando normativo (conteúdo)


contido na decisão judicial.
Dentro e fora do processo significa que não se poderá discutir essa decisão nem no processo em
que ela foique
a solução proferida
foi dadae nem
a umem outro. A coisa
determinado julgada é, pois, uma situação de estabilidade. Estabiliza-se
problema.
Alguns autores preferem chamar essa coisa julgada de “coisa julgada material”. Este é o nome
completo do assunto “coisa julgada”. É o que o Código regula, é o nome dos capítulos dos livros, etc.
Faz-se essa diferenciação porque a doutrina costuma se referir também a uma “coisa julgada
formal”, que seria a indiscutibilidade da decisão no processo em que ela foi proferida (e não em
qualquer esfera). Assim, nesta acepção, coisa julgada formal se assemelha à preclusão. E também nessa
acepção, qualquer decisão pode fazer coisa julgada formal.

OBS. É preciso lembrar, ainda, de um posicionamento novo e muito interessante, já mencionado


pelo prof., de um autor chamado Luiz Eduardo Mourão: segundo ele, coisa julgada material é a coisa
julgada das decisões de mérito, e coisa julgada formal é a coisa julgada das decisões terminativas (art.
268, CPC – é uma coisa julgada de decisões processuais). Ambas, para ele, são indiscutíveis para dentro
e fora do processo. A diferença não está na indiscutibilidade, mas sim no que se torna indiscutível: para
uma, a solução de mérito, e para a outra, a solução da questão processual. Para ele, o que a maioria
chama de coisa julgada formal é a preclusão. Ou seja, para ele são 3 coisas diferentes: coisa julgada
material, coisa julgada formal e preclusão. É assim que ele explica o art. 268, CPC, que diz que a
decisão que extingue sem exame de mérito impede a repropositura nos casos de perempção e coisa
julgada.
☺o estudo do art. 268, CPC (aula sobre providências preliminares e julgamento conforme o
estado do processo).
Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que o autor
intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do
pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado.
Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo
fundamento previsto no no III do artigo anterior, não poderá intentar nova ação contra o
réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar
em defesa o seu direito.

A partir de agora, falaremos somente sobre a verdadeira coisa julgada, que é a coisa julgada
material.

 Pressupostos da coisa julgada:

1) Decisão jurisdicional;
2) Decisões de mérito: pode ser sentença, pode ser acórdão, pode ser sentença interlocutória, ou
não. O nome pouco importa, o que importa é que seja uma decisão de mérito. Atualmente, inclusive,
fala-se muito em decisões interlocutórias de mérito, ou sentenças parciais de mérito, que podem fazer
coisa julgada.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
3) Decisões definitivas (cognição exauriente ou exaustiva): significa que se a decisão se fundar
em cognição sumária, não há coisa julgada. E é por isso que decisão sobre tutela antecipada não faz
coisa julgada;
4) Preclusão: a decisão tem que ter feito coisa julgada formal. Ou seja, a coisa julgada formal é
pressuposto para a coisa julgada material. É preciso que primeiro a questão se torne indiscutível para
dentro do processo, para que depois se torne indiscutível para fora dele.

 Efeitos da coisa julgada:

a) Efeito
decidido. negativo
Significa ou impeditivo:
que aquela a coisa julgada
questão principal que jáimpede que se não
foi resolvida decida de novo
poderá ser aquilo que jáuma
novamente foi
questão principal. O mesmo problema não pode ser submetido a uma nova decisão, se já foi antes
decidido.
b) Efeito positivo: aqui é preciso fazer uma pequena digressão: muitas vezes vamos ao Judiciário
propor uma demanda que se baseia numa coisa julgada – ex.: alguém ganhou uma decisão em ação de
paternidade e, tempos depois, se vai ao Judiciário buscando alimentos contra aquele pai (a ação de
alimentos utilizou uma coisa julgada). Quando isso ocorre, ou seja, quando uma ação tem como
fundamento uma coisa julgada, a coisa julgada exerce um efeito positivo, porque o juiz, nessa demanda,
vai ter de levar a coisa julgada em consideração. O juiz, na ação de alimentos, não vai poder dizer que o
autor não é filho de seu pai, porque quanto a isso já há coisa julgada. Quando uma questão sobre a qual
já há coisa julgada é posta como fundamento de outra demanda, o juiz dessa segunda demanda terá de
levá-la em consideração.
c) Eficácia preclusiva da coisa julgada ou efeito preclusivo da coisa julgada: a coisa julgada faz
com que todas as alegações quepoderiam ter sido suscitadas, mas não foram, reputam-se suscitadas e
rejeitadas. Tudo aquilo que poderia ter sido alegado pela parte, mas não o foi, a coisa julgada fecha a
possibilidade de se alegar. É a preclusão das preclusões. Por isso, sempre que se fala em algo que se
pode alegar “a qualquer tempo” devemos entender esta expressão “a qualquer tempo, desde que antes da
coisa julgada”. A coisa julgada torna aquilo que poderia ser deduzido em algo deduzido e repelido. Ex.:
esqueceu-se de alegar a prescrição, ela considera-se alegada e repelida. O que era deduzível e não foi
deduzido, considera-se deduzido e repelido. ☺art. 474, CPC – é o art. que consagra a eficácia preclusiva
da coisa julgada.

 Coisa julgada e relações jurídicas continuativas:

Uma relação jurídica continuativa é aquela que se prolonga no tempo, que não é instantânea, mas
sim permanente. É uma relação que se renova com o tempo. É o caso das relações de alimentos, de
família, tributárias, previdenciárias, locatícias, etc. Elas se projetam para o futuro, se prolongam no
tempo.
Uma sentença sobre relação jurídica continuativa, pode se tornar definitiva, pode constituir coisa

julgada?
não tem aSim,
verclaro.
com aMas é possível
coisa julgada sempre
(só foi rever os os
julgado alimentos, por ex., não
fatos passados, em razão de fatosSefuturos,
os futuros). novos ofatos
que
surgirem, uma nova decisão se impõe. Mas, aquela decisão que foi dada diante das circunstâncias da
época é indiscutível, imutável, não podendo ser alterada. Só se pode mudar uma decisão por fatos
supervenientes a ela, e isso quer dizer que, mantidas as mesmas circunstâncias, a decisão será imutável,
pois há coisa julgada.
**Por isso, há coisa julgada de sentença sobre relações continuativas. Novos fatos impõem nova
decisão, que só ocorrerá se novos fatos ocorrerem.
Fato posterior à coisa julgada não fica acobertado pela eficácia preclusiva, que diz respeito ao
que poderia ter sido alegado. Se o fato é posterior à coisa julgada não poderia ter sido alegado. E todo
fato que é posterior à coisa julgada pode exigir, em alguns casos, uma nova decisão.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
A coisa julgada é, pois, rebus sic stantibus, ou seja, permanecerá se assim as coisas
permanecerem.
☺Súm. 239, STF: “Decisão que declara indevida a cobrança do imposto em determinado
exercício não faz coisa julgada em relação aos posteriores”. Como a relação tributária se prolonga no
tempo, a decisão continua valendo, mas pode valer também por exercício fiscal. Pode ser que haja
mudança das regras ou das circunstâncias de um exercício para o outro. E, se isso ocorrer, a coisa
julgada de um exercício não atinge o outro. Mas se não houver mudança, a coisa julgada atingirá o outro
exercício, permanecendo eficaz. Mantidas as mesmas regras não há necessidade de uma nova decisão.
Essa súmula é importante para compreender o estudo da coisa julgada nas relações continuativas.

 Limite objetivo da coisa julgada:

O limite objetivo é o quê se torna indiscutível pela coisa julgada. Isso já foi estudado: o que se
torna indiscutível pela coisa julgada é o dispositivo da decisão, é a norma individualizada. Aqui, é
imprescindível lembrarmos de algumas premissas: fundamentação não faz coisa julgada; problema da
coisa julgada e questões prejudiciais (☺aula de ação declaratória incidental).

 Limites subjetivos da coisa julgada:

O limite subjetivo da coisa julgada é quem é que se submete à coisa julgada, quem fica vinculado
a ela. Há 3 espécies de limitação subjetiva da coisa julgada:

a) coisa julgada inter partes: é aquela que vincula apenas aqueles que foram parte no
processo – é a regra geral (☺art. 472, CPC);
b) coisa julgada ultra partes: é a coisa julgada que atinge terceiros, vincula terceiros –
isso é excepcional, mas existe. Ela extrapola o rol de partes para atingir terceiros. Ex.:
a coisa julgada em processo conduzido por substituto processual (a coisa julgada
neste caso atinge o substituído); a coisa julgada que atinge o possível litisconsorte
unitário facultativo; coisa julgada coletiva para direitos coletivos (☺art. 103, II,
CDC); coisa julgada que atinge o adquirente de coisa litigiosa.
c) coisa julgada erga omnes: é a coisa julgada que vincula a todos. É por ex. a coisa
julgada da ADI, da ADC, da ADPF. Outro exemplo: a coisa julgada nas ações
coletivas envolvendo direitos difusos (☺art. 103, I, CDC).

OBS. Há quem entenda não haver necessita em se distinguir coisa julgada ultra partes de erga
omnes, pois nunca uma decisão atinge todo o mundo. Rigorosamente, tudo seria ultra partes. Mas essa
diferenciação é adotada por nosso sistema.

 Regime jurídico da formação da coisa julgada:

Qual o seu modo de produção? Aqui o que se quer saber é como e quando haverá coisa julgada.
O modo da produção da coisa julgada entre nós também pode se dar de 3 formas diversas:
a) Coisa julgada pro et contra: é a coisa julgada independente do resultado da causa;
favorável ou desfavorável, o autor ganhando ou perdendo, haverá coisa julgada. Esta
é a regra.
b) Coisa julgada secundum eventum litis: a coisa julgada só se forma se a causa for
procedente ou improcedente, ou seja, depende do resultado da causa. O legislador
escolhe em qual caso haverá coisa julgada (se de procedência ou de improcedência).
Só um resultado da causa faz coisa julgada, o outro não. Esse regime desequilibra o
151
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
contraditório, porque uma das partes não terá coisa julgada, e se prejudicará. Por isso
esse sistema não é adotado no âmbito cível. Mas é, por ex., o sistema da coisa julgada
penal – se a sentença absolve, faz coisa julgada, mas se é condenatória, pode ser
revista a qualquer tempo. A estabilidade varia conforme o resultado.
c) Coisa julgada secundum eventum probationis: só há coisa julgada se houver
esgotamento da prova, se a prova for exaurida. Isso significa que se a improcedência
for por falta de provas, não há coisa julgada. Isso não é a regra, só ocorre em alguns
casos excepcionais, como por ex., no caso da ação coletiva, na ação popular, no MS
(atenção para isso!). No MS, se o juiz disser que não concede a segurança (decisão
denegatória) por falta de provas, é possível propor outra ação, não há coisa julgada.
Há doutrinadores que entendem que a coisa julgada na investigação de paternidade é
secundum eventum probationis. Para esses autores, só haveria coisa julgada se
houvesse exame de DNA.

 Instrumentos de revisão da coisa julgada:

A coisa julgada entre nós não é inexpugnável, absoluta. Há instrumentos para a sua revisão da
coisa julgada.

a) Ação Rescisória:
O primeiro e mais importante instrumento de revisão da coisa julgada é a ação rescisória. Está
prevista no art. 485, CPC. Tem duas características marcantes: tem o prazo de 2 anos e permite a
revisão por questões substanciais (de justiça) e por questões formais.
Ela é, pois, um instrumento muito amplo.
Por isso que se diz que somente depois desses 2 anos do prazo da rescisória é que a coisa é
“soberanamente julgada”. A coisa julgada soberana é a coisa julgada após o prazo da rescisória, já que
depois desse prazo ela fica inexpugnavelmente julgada.
Este será o primeiro assunto a ser visto no Intensivo II.

b) Querela nullitatis:
Já foi estudado (☺aula de pressupostos processuais).
Está previsto no art. 475-L, I e no art. 741, I, CPC.
Ela não tem prazo. É um instrumento de revisão por questões formais, relacionadas à citação
(ex.: o réu não foi citado e perde). Por se tratar de revisão de questões formais, é uma ação de nulidade.

c) Correção de erros materiais:


É possível corrigir erros materiais a qualquer tempo (ex.: erros de cálculo, referências
equivocadas a nomes de pessoas ou a pags. dos autos, etc.). Essa correção pode se dar, inclusive, de
ofício. ☺art. 463, CPC.

d) Revisão de decisão fundada em lei, ato normativo ou interpretação tidos pelo STF como
inconstitucionais:
É possível rever decisões fundadas em lei, ato normativo ou interpretação tidos pelo STF como
inconstitucionais, por outro instrumento regulado pelo art. 475-L, §1º e art. 741, P.U., CPC (atenção que
não é rescisória, querella ou correção de erros materiais). Discute-se o fundamento da decisão, por isso,
é uma forma de rever a coisa julgada por questões substanciais. Esse caso específico não tem prazo.
OBS. Reclamação serve para rever decisões e não coisa julgada.
Essa hipótese de revisão será estudada quando do estudo da defesa do executado (em Execução).

Visto isso, é fácil perceber que nossa coisa julgada não é absoluta, mas sim relativizada, que
pode ser revista de diversas formas.

152
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 Relativização da coisa julgada:

Alguns doutrinadores, não satisfeitos com esse sistema complexo de revisão da coisa julgada,
entendem que a coisa julgada tem que ser relativizada ainda mais, que deve haver uma forma atípica de
revisão da coisa julgada. Eles entendem que a coisa julgada não pode prevalecer nos casos de decisão
manifestamente injusta ou desproporcional. E, se por acaso, não houver mais possibilidade de se
impugnar a coisa julgada por qualquer um daqueles meios acima estudados, não haveria problema,
poder-se-ia impugnar por qualquer outro meio, porque a injustiça não pode prevalecer.
A coisaque
Isso significa julgada não poderia
é preciso perpetuar
defender a injustiça.
a existência de umPorinstrumento
isso é preciso relativizá-la
atípico atipicamente.
de revisão da coisa
julgada. Não bastam esses meios típicos, a coisa julgada poderia ser revista por qualquer meio.
É a esse movimento que se dá o nome de “relativização da coisa julgada”. Este movimento prevê
que a coisa julgada pode ser revista para além das hipóteses típicas.
Os principais expoentes desse pensamento são: Cândido Dinamarco, Humberto Theodoro Jr., e o
Min. do STJ José Delgado.
Esse pensamento é bastante influente, tanto que já repercutiu no STJ. Ali já há decisões
aplicando a relativização da coisa julgada em 3 situações (ex. mais famosos, mas não únicos): na revisão
das sentenças de investigação de paternidade em razão do exame de DNA, na revisão das multas
astronômicas, e na redução do valor das desapropriações quando também se tratar de valor astronômico.
Doutrinariamente, porém, esse pensamento não prevalece, embora seja influente e tenha
repercutido no STJ. Nelson Nery, Marinoni, Barbosa Moreira, Ovídio Batista, por ex., são contrários à
relativização atípica, até porque a nossa coisa julgada já é relativa, já possui vários instrumentos de
revisão. Segundo eles, relativizar atipicamente seria acabar com a coisa julgada. A coisa julgada é o
único limite ao STF, que pode decidir da forma que quiser (pois não há recurso contra sua decisão),
exceto quando já houver coisa julgada. A relativização da coisa julgada tornou-se um assunto sem
prestígio. O que mais cai em concursos é a 4ª hipótese de revisão da coisa julgada.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

(12/06/09)

 ANTECIPAÇÃO DOS EFEITOS DA TUTELA:

 Introdução:

Distinção entre tutela definitiva e tutela provisória:


É uma distinção que se funda na profundidade da cognição do magistrado.
Tutela definitiva é a tutela que se funda em cognição exauriente, exaustiva. Por isso é uma
tutela que tende a ser definitiva, indiscutível, tende a durar no tempo, tende a se estabilizar. É uma
decisão apta à coisa julgada material.
A tutela provisória se sabe não definitiva, ela precisará ser confirmada, substituída por outra.
Ela necessita de uma substituição, confirmação futura. Ela é essencialmente precária, porque se funda
em cognição sumária. E porque se funda em cognição sumária, não há coisa julgada em decisões
provisórias. Decisões provisórias não são aptas à coisa julgada material. Existe como uma forma de
proteger a parte contra os males do tempo do processo, é uma forma de se reequilibrar o ônus do tempo
do processo.

Quais são as três tutelas definitivas? (o sujeito vai ao Judiciário para obter uma de 3 coisas):
- Tutela de conhecimento (obter a certificação de um direito);
- Tutela de execução (obter a execução de um direito);
- Tutela cautelar.
A doutrina diz que as tutelas que certificam ou efetivam direitos são tutelas satisfativas. A tutela
cautelar é uma tutela definitiva não satisfativa, pois o seu objetivo é garantir a futura satisfação. A tutela
cautelar também é definitiva, pois para o que ela existe, ela é definitiva. Ela serve para garantir o
resultado útil do processo de conhecimento ou de execução, e isso é um propósito definitivo. A cautelar
não é provisória. Ela não tende a ser substituída por nenhuma outra. A cautelar é temporária, mas não
provisória (ela é definitiva, mas só duram enquanto forem úteis – é definitiva enquanto dura, enquanto o
processo estiver em andamento). Ex.: não existe um arresto que dure para sempre, mas é uma medida
que será definitiva, enquanto for útil ao processo.
É importante não confundir provisório com temporário! Temporário tem uma limitação no
tempo, mas pode ser definitivo. Coisas definitivas podem ser temporárias. A tutela antecipada é
provisória porque será substituída no tempo. A tutela cautelar é temporária, pois dura enquanto a
providência for útil. A tutela antecipada cautelar é provisória, pois toda tutela antecipada é provisória.
Obs. Toda tutela definitiva pode ser concedida provisoriamente. Isso significa que existe tutela
antecipada de conhecimento, executiva e cautelar, ou seja, de qualquer tutela definitiva. A diferença é
que a tutela provisória precisa ser confirmada depois. Não há uma diferença de conteúdo. A tutela
provisória é a mesma tutela definitiva concedida provisoriamente.

 Conceito:

Tutela antecipada é uma técnica processual que permite a antecipação provisória (no tempo) dos
efeitos da tutela definitiva.
A antecipação de tutela é a tutela provisória.
O legislador permite que o magistrado conceda logo efeitos de uma futura tutela definitiva. Ao
invés de se esperar que o processo acabe, é possível conceder os efeitos da tutela definitiva

154
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
provisoriamente. Ela concede agora, efeitos que o sujeito só obteria ao final do processo, em cognição
sumária (para ratificação posterior).

 Histórico:

A antecipação de tutela antecipa os efeitos de uma tutela definitiva. A tutela definitiva pode ser
de conhecimento, de execução ou cautelar.
Assim, a tutela definitiva pode ser dividida em: tutela definitiva satisfativa (de conhecimento e
de execução) e tutela definitiva cautelar.

Em 1973, o CPC só trazia como regra a previsão de uma tutela antecipada, que era a tutela
antecipada genérica cautelar (art. 804, CPC). Isso significa que qualquer tutela cautelar poderia ser
concedida antecipadamente. Não havia regra semelhante para a tutela antecipada satisfativa. Tutela
antecipada satisfativa só existia em alguns procedimentos especiais, que eram especiais exatamente
porque permitia uma tutela antecipada satisfativa. Ex. ação de alimentos, mandado de segurança, ações
possessórias. Assim, tutela antecipada geral era só para a tutela cautelar e a tutela antecipada para a
tutela satisfativa era excepcional. A linguagem era pouco técnica naquela época. Falava-se sempre em
“liminar”. Nesse ambiente, os advogados começaram a perceber o seguinte: em algumas situações havia
a necessidade de uma tutela antecipada satisfativa (porque a cautelar não era suficiente), só que o direito
não permitia. Ex.: precisava impedir que um leilão acontecesse; precisava impedir que um título fosse
protestado, etc. Tudo isso é tutela satisfativa antecipada. Só que o sistema não permitia (porque não era
possessória, nem MS, nem alimentos).
Os advogados então começaram, diante dessa omissão legislativa, a pedir essas providências,
chamando-as de tutela antecipada cautelar (se valendo da regra geral). As providências de cunho
satisfativo (não cautelares) começaram a ser requeridas como se fossem providências cautelares (art.
804). Obs.: porém, não se fazia isso com tanta lucidez doutrinária, por isso ninguém explicava isso nos
livros de antigamente.
E a jurisprudência começou a conceder, preenchendo uma lacuna do sistema. A jurisprudência,
distorcendo a tutela antecipada cautelar, começou a conceder tais medidas. Surgiu então aquilo que
passou a ser chamado na prática de “cautelar satisfativa”, uma verdadeira deformação da tutela cautelar
em razão da omissão legislativa. Ajuizava-se a cautelar apenas para obter a tutela antecipada. Ex.:
sustação de protesto, que é uma cautelar satisfativa clássica.
A ação principal dessa “cautelar” nada mais era do que outra ação igual à primeira, só para
confirmar aquela, apenas para se cumprir a formalidade de se ter uma ação principal. Um problema só
gerava dois processos (um só para obter a tutela antecipada e outro para confirmar a tutela que se
obteve).
O tempo passou, com essa situação acontecendo.

Em 1994, dois arts. foram criados no CPC: o art. 273 e o §3º do art. 461. Esses dois dispositivos
do CPC são rigorosamente revolucionários. Trata-se de um marco histórico dos mais importantes. Eles
estabeleceram a previsão que faltava. Corrigiram aquela omissão que até então existia: estabeleceram a
previsão da tutela antecipada satisfativa genérica (para qualquer situação – e não só para alguns
procedimentos especiais). Ela foi, pois, generalizada. A omissão que existia foi consertada e o nosso
código passou a ter duas previsões sobre tutela antecipada: a satisfativa e a cautelar (que já existia, desde
73, com o at. 804).

Por isso, até 1994 estudava-se apenas a liminar na cautelar.


Agora é preciso, então, estudar esta figura da tutela antecipada.
Vimos que a tutela cautelar também pode ser antecipada. O que o art. 273 fez foi criar uma tutela
antecipada satisfativa genérica.

155
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Só que a doutrina dessa época começou a fazer um contraponto entre tutela antecipada de um
lado e tutela cautelar de outro. Esquecendo-se de que a tutela cautelar era também antecipada. Essa
comparação gerou, assim, muitos problemas. Não era para ter sido feita. O que deve-se comparar é a
tutela antecipada satisfativa com a tutela antecipada cautelar.
Esta confusão ocorreu porque as pessoas não entenderam que a tutela antecipada não foi criada
em 1994, ela foi apenas generalizada em 1994. Ela já existia para a hipótese de tutela antecipada
cautelar, e também já existia tutela antecipada satisfativa na legislação extravagante.
Com essa reforma de 1994 passou a perder sentido as chamadas cautelares satisfativas. Não
havia mais nenhuma justificativa para se continuar propondo cautelar satisfativa, já que a omissão
legislativa que justificou o surgimento das cautelares satisfativas deixou de existir.
Ocorre que ainda assim havia muita confusão: alguns juízes não admitiam ainda o modelo novo,
acreditando ser caso da antiga tutela cautelar satisfativa, e outros, em especial os juízes mais novos, não
aceitavam mais o modelo antigo.

Dica : sempre que estivermos diante de um concurso que tenha em seu edital o tema antecipação
de tutela, eles querem que você estude sobre a tutela antecipada satisfativa genérica (ats. 273 e 461, §3º).
O assunto “antecipação de tutela” se restringe a esses dispositivos – antecipação de tutela satisfativa
genérica (apesar de isso não significar que não exista tutela antecipada cautelar). A tutela antecipada
cautelar, embora seja uma tutela antecipada, será estudado em outro item do programa: processo
cautelar. Essa premissa dá sentido ao estudo que iremos ora percorrer.
Questão: a tutela antecipada foi criada pela reforma de 1994? Não, a reforma de 1994 apenas
generalizou a tutela antecipada satisfativa, que já existia.

Em 2002, houve a “2ª etapa da reforma”, com o acréscimo do §7º ao art. 273, CPC:

“Se o autor, a título de antecipação de t utela, requerer providência de natureza cautelar,


poderá o juiz, quando
caráter incidental presentes
do processo os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em
ajuizado”.

Este novo dispositivo permitiu que o juiz, entendendo se tratar de cautelar, já concede ali mesmo
a tutela. Veio para sanar as confusões que estavam ocorrendo até então.
É possível obter tutela cautelar dentro de um processo não cautelar. Não preciso dar srcem a um
processo cautelar para obter tutela cautelar. Um mesmo processo serve à obtenção de providências
satisfativas e cautelares. Sincretiza-se ainda mais o processo. Se há necessidade de tutela antecipada,
seja ela satisfativa ou cautelar, poderá ser concedida em um mesmo processo. Não há qualquer prejuízo
ao réu, mesmo porque o prazo de defesa é maior no processo de conhecimento que no cautelar.
Ademais, o juiz terá que observar os pressupostos do art. 804.
A maioria dos autores entende que o § 7º consagrou uma fungibilidade. Para o prof., não é uma
verdadeira fungibilidade, pois não há erro no procedimento escolhido. Por isso, pergunta-se se a
fungibilidade é de mão dupla, ou seja, se o sujeito pode entrar com uma ação cautelar e pedir uma tutela
antecipada satisfativa. Hoje, não tem sentido que isso seja concedido, pois haveria prejuízo ao réu. Se o
juiz quiser aproveitar, terá que converter o processo para um processo de conhecimento. Assim, a
fungibilidade de mão dupla só se aplica se o juiz adaptar o processo.

 Distinções:

Tutela antecipada x Liminar:

A palavra “Liminar” é um adjetivo, significa aquilo que está no início, no limiar. Assim, uma
decisão é liminar quando é dada no início do processo, antes da ouvida do réu. O indeferimento da
petição inicial, por ex., é uma liminar. Só que a palavra liminar, embora seja um adjetivo, foi

156
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
substantivada, ou seja, se transformou num substantivo, passando a ser a tutela antecipada liminar, ou
seja, aquela decisão tomada logo no início do processo, em que o juiz concede uma tutela antecipada. O
sujeito vinha a juízo pedindo uma “liminar”, mas o que ele quer, na verdade, é uma tutela antecipada
liminar.
Importante lembrar que existe tutela antecipada liminar e não liminar, ou seja, concedida ao
longo do processo (e não no seu início). Ex.: concedida num recurso. A tutela antecipada só será liminar
se concedida antes da oitiva do réu.

Tutela antecipada x Julgamento antecipado da lide:

O julgamento antecipado da lide é uma decisão definitiva, é o próprio julgamento definitivo da


causa, só que dado sem audiência de instrução. Não é uma decisão provisória. O juiz dispensa a
audiência de instrução e julga antecipadamente o processo. Na tutela antecipada, o que se antecipa são
os efeitos do julgamento e não o próprio julgamento como no julgamento antecipado da lide.

 Análise do art. 273, CPC – tutela antecipada genérica:

Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os


efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se
convença da verossimilhança da alegação e:

I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou

II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito


protelatório do réu.

- Efeitos antecipáveis:

O art. 273, CPC se constitui numa previsão genérica de antecipação da tutela, ou seja, é possível
antecipar os efeitos da tutela em qualquer ação de conhecimento. Seja ela de procedimento sumário, dos
Jesp´s, não importa. Qualquer que seja a ação de conhecimento, é possível pedir a antecipação dos
efeitos da decisão final.
Mesmo em ações constitutivas e declaratórias é possível a antecipação dos efeitos da tutela.
Ex. de tutela antecipada em ação declaratória: ação declaratória de inexistência de relação
tributária; é possível pedir uma tutela antecipada para suspender a exigibilidade, para suspender a
eficácia do tributo, para que o tributo não seja cobrado, antecipando-se os efeitos de uma declaração
negativa.
Ex. de tutela antecipada em ação constitutiva: ação para anular um ato administrativo. É possível
pedir como tutela antecipada a suspensão dos efeitos deste ato. Para impedir que este ato produza
efeitos.

- Legitimidade para pedir a tutela antecipada:

Não cabe tutela antecipada ex offício. O juiz não pode dar a tutela antecipada ex offício, sem que
haja requerimento da parte – o autor. É ele que pode, obviamente, pedir tutela antecipada.
E o réu, pode? Se o réu reconveio ou formulou pedido contraposto, pode pedir a tutela
antecipado do que pediu, pois é também demandante.

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Ademais, se a ação for dúplice, ele pode pedir uma tutela antecipada em favor dele, porque ali
ele está numa posição semelhante à do autor. Em qualquer que seja a ação dúplice, o réu pode pedir.
Lembrar aqui que a ação dúplice pode ser formal ou material.
Se o réu só apresentou a contestação, ele pode pedir tutela antecipada da improcedência do
pedido do autor. Preenchidos os pressupostos, ele pode pedir a antecipação dos efeitos de uma
improcedência. Às vezes, só a existência do processo já é um peso para o réu, porque pode impedi-lo,
por ex., que ele participe de uma licitação. Ele pode então pedir a antecipação dos efeitos da
improcedência para poder participar da licitação.
E o MP, pode pedir tutela antecipada? Se o MP for autor (parte), é claro que ele pode pedir. Ele
entra na regra da parte. Não há discussão quanto a isso. A dúvida existe sobre se o MPcustos legis pode
pedir tutela antecipada. O prof. entende que não é possível. O MP é só fiscal da lei, não é parte, e por
isso não pode pedir. Mas há muita gente que entende que quando o MP é custos legis em causas que
envolvem incapazes, ele pode pedir a tutela antecipada em favor do incapaz. E quanto a isso o prof.
concorda, porque nesses casos de incapazes, o MP não écustos legis, ele é assistente do incapaz e, sendo
assim, pode pedir a tutela antecipada.

- Momento:

A tutela antecipada satisfativa, desde que preenchidos os seus pressupostos, pode ser concedida
em qualquer momento do processo, inclusive na sentença. Neste caso o juiz sentencia e já antecipa a
tutela para permitir que a sentença produza efeitos imediatamente; ele já dá eficácia executiva à
sentença.
Neste caso, a antecipação de tutela vai ser concedida em cognição exauriente. Já na sentença. O
juiz já decidiu que o sujeito tem razão e imediatamente antecipa a tutela. Não será, pois, uma
antecipação fundada em cognição sumária. Este é, pois, um exemplo de situação em que a tutela
antecipada é dada em cognição exauriente.

- Pressupostos da tutela antecipada genérica:

A doutrina costuma dividir os pressupostos da tutela provisória em tutela de urgência e tutela de


evidência. Urgência é o perigo e a evidência é a verossimilhança. Há casos, no entanto, que o legislador
exige apenas evidência ou apenas urgência. Ex. liminar em ação possessória não pressupõe urgência,
basta apresentar a evidência; decisão em ação monitória também é exemplo de tutela de evidência. A
produção antecipada de prova tem como pressuposto a urgência e não a evidência.

Eles se dividem em:

a) Pressupostos gerais: que sempre devem ser observados:

a.1) a prova inequívoca das alegações: é preciso que haja prova do que se afirma, não
basta a mera afirmação, é preciso um mínimo lastro probatório produzido regularmente daquilo
que foi afirmado. A prova inequívoca não é exclusivamente documental, pode ser pericial,
testemunhal, etc. Inequívoca significa que a prova tem que ter sido produzida regularmente, em
contraditório e que não haja dúvidas quanto a ela;
a.2) verossimilhança das alegações: é preciso que o juiz se convença da probabilidade das
alegações.
A prova inequívoca e a verossimilhança somam-se para gerar a evidência bastante à
concessão da tutela antecipada.
a.3) inexistência de perigo de irreversibilidade do provimento antecipado. É um
pressuposto geral negativo (☺§2º, art. 273, CPC). Ou seja, se as conseqüências forem

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
irreversíveis, não é possível conceder a tutela antecipada. Este pressuposto é o mais polêmico,
porque se levado ao pé da letra, praticamente nunca se poderá conceder a tutela antecipada em
ações envolvendo saúde, por ex. A interpretação correta do dispositivo, portanto, é a de que pode
acontecer de a não-concessão da tutela antecipada trazer prejuízos também irreversíveis. Às
vezes, a não concessão da medida é tão irreversível quanto a sua concessão e ai, então, será
preciso fazer um juízo de ponderação, para verificar o que é mais importante naquele caso
(conceder com conseqüências irreversíveis ou não conceder com conseqüências irreversíveis).

b) Pressupostos alternativos: basta observar um deles; basta preencher um deles. Eles estão
previstos nos incisos do art. 273, CPC:

I) haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação: temos aqui uma tutela
antecipada fundada em urgência (perigo) e em evidência (prova inequívoca e verossimilhança) –
só com a soma dos dois é que cabe a tutela antecipada com base no inciso I. Esta tutela
antecipada é a única que pode ser dada liminarmente, sem ouvir o réu, caso contrário, não
haveria justificativa para a mesma.
II) fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório
do réu: é uma forma de punir o réu ou a parte que se comportou de maneira abusiva, ilícita. Por
isso que se diz que se trata de uma tutela antecipada punitiva. Essa antecipação de tutela não
pode ser dada liminarmente, é preciso que haja defesa, para que caiba abuso. É preciso examinar
o comportamento processual da parte para se verificar se houve ou não uma conduta abusiva. Ela
não tem por pressuposto a urgência. Ela se baseia em 3 elementos de evidência (é uma tutela
antecipada só por evidência): prova inequívoca, verossimilhança e conduta abusiva. A conduta
abusiva reforça a evidência do direito da parte. Ou seja, nem toda tutela antecipada é exemplo de
tutela de urgência (esta aqui é só de evidência). Obs.: a tutela antecipada cautelar sempre se
funda em perigo (é de urgência), já a satisfativa não, ela pode não se fundar em perigo. Assim,
nem toda uma
hipóteses: tutelacoisa
de éurgência é cautelar.
efetivar para Dica:
assegurar Pontes
(tutela de Miranda
satisfativa), outra édistinguiu
assegurar as
paraseguintes
efetivar
depois (tutela cautelar).

- Efetivação da tutela antecipada:

A tutela antecipada é uma decisão que precisa ser executada. Como executar, efetivar a decisão
que antecipa a tutela?

1º) A antecipação de tutela se efetiva no mesmo processo em que é proferida. Não há


necessidade de um novo processo.
2º) Aquele poder geral de ef etivação (☺§ 4º e 5º, do art. 461), que dá muitos poderes ao juiz,
serve à tutela antecipada. Ou seja, o juiz poderá efetivar a tutela antecipada se valendo daquele arsenal
de medidas executivas.
3º) O regramento da execução provisória (☺art. 475-O que estabelece regras para a execução
provisória) se aplica à execução da tutela antecipada.
Antes de examinar cada uma destas regras, é preciso observar o seguinte:
☺art. 273, §3º: “A efetivação da tutela antecipada observará, no que couber e conforme
a natureza, as normas previstas nos art.s 588, 461, §§ 4º e 5º e 461-A” – onde se lê 588, leia-se
475-O, porque o art. 588 já não existe mais.

☺art. 475-O: Regramento da execução provisória que se aplica à tutela antecipada:

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- Ambas correm sob responsabilidade objetiva do beneficiário da medida: quem se beneficia da
tutela antecipada tem de saber que se depois vier a perder a causa, os prejuízos causados à outra parte
haverão de ser ressarcidos em responsabilidade objetiva.
- A tutela antecipada, assim como a execução provisória, pode ir até o final, pode executar tudo,
pode-se até mesmo levantar dinheiro (não é só até a penhora). Ocorre que é possível levantar dinheiro,
vender coisas em tutela antecipada, porém, tem que ter caução idônea (☺art. 475-O, III). A caução não
é para que se execute a tutela antecipada, ou seja, o juiz não pode dizer que só vai executar a tutela
antecipada se der caução. A caução é só para vender coisa, levantar dinheiro ou praticar atos que possam
resultar grave dano ao executado. Esta caução, porém, é dispensada em créditos alimentares até 60
salários mínimos. Dispensa-se a caução também nos casos de execução provisória em que penda agravo
de instrumento (o agravo de instrumento do art. 544), aquele utilizado para fazer subir RE ou Resp.
Pendente este agravo, durante essa execução provisória se dispensa a caução, salvo quando a dispensa
possa resultar em grave dano. Esta é uma incongruência do dispositivo: se o legislador diz que ele
dispensa a caução salvo se causar grave dano, e causar grave dano é uma hipótese de caução, então não
é caso de dispensa.

- Recursos:

A tutela antecipada costuma ser concedida por decisão interlocutória, impugnável por agravo de
instrumento (sempre por instrumento, nunca retido). Mas, se ela for dada na sentença, como vimos que
é possível, ela então será impugnável por apelação sem efeito suspensivo. Se a tutela antecipada for dada
por um relator em Tribunal, o recurso oponível é o agravo regimental.
*Se a tutela antecipada for dada por um acórdão de um Tribunal, cabe Resp. para controlar a
aplicação do art. 273, CPC (verificar se o juiz aplicou o dispositivo corretamente), mas não caberá RE -
☺Súm 735, STF: “não cabe RE contra acórdão que defere medida liminar”.

 Antecipação da Tutela contra o Poder Público:

A primeira coisa que se tem que saber sobre isso é: cabe tutela antecipada contra o Poder
Público.
Mas atenção: não cabe sempre. Existe um regramento próprio da tutela antecipada contra o Poder
Público.
Há uma série de restrições que devem ser divididas de acordo com o tipo de prestação:

a) t ut ela an tecipada contr a o Poder Público em ações para pagar quan ti a: aqui se encontram
as principais restrições. O maior problema é a exigência de precatório. Para pagar quantia vinda de
decisões judiciais, o Poder Público tem que inscrevê-la em precatório.
A doutrina então diz que deve se inscrever antes, e não só ao final do processo. Há quem diga,
inclusive, que se há urgência, tem que se quebrar a regra do precatório, pelo Princípio da efetividade. É
uma questão polêmica. O certo é que a história nos revela hipóteses claras de leis que expressamente
proibiam a tutela antecipada contra o Poder Público. Vimos que até 1994, a tutela antecipada satisfativa
era encontrada apenas em procedimento especial. E o grande procedimento especial contra o Poder
Público era o MS, que permitia a tutela antecipada.
A CF/88 exige que o precatório só pode ser inscrito após o trânsito em julgado. Como fazer, se a
tutela antecipada é provisória e o pagamento se dá por precatório que pressupõe trânsito em julgado? Há
divergentes opiniões: trânsito em julgado pode ser o da decisão que concedeu a antecipação de tutela;
nada impede que se antecipe a inscrição em precatório; há dívidas que não se sujeitam ao precatório,
portanto, em relação a elas não haveria obstáculo constitucional; não se sujeitam ao precatório as dívidas
salariais, pois já têm previsão orçamentária (refere-se ao salário e não ao aumento de salário pleiteado),
etc. O MS é um procedimento que desde o início previa uma previsão de tutela antecipada satisfativa

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Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
contra o poder público. O MS sempre foi utilizado para obter dinheiro contra o poder público. As
pessoas começaram a impetrar MS para aumentar seus salários. Foram editadas duas leis: lei 4.348/64 e
5.021/66, que impedem a concessão de tutela antecipada no MS relacionadas a servidores públicos para
aumento de salários (proibição episódica). Nas décadas de 70 e 80, as ações cautelares começaram a ser
utilizadas com cunho satisfativo. Isso chegou ao auge com o plano Collor, em que várias pessoas
ajuizaram cautelar para liberar o dinheiro. Foi editada uma MP, que virou a lei 8437/92, que determina
que não cabe cautelar satisfativa contra o Poder Público ou quando ela for proibida no MS (as proibições
do caso de MS foram estendidas).
Com isso, ajuizou-se a ADI 223-6 (☺acórdão – é um dos grandes julgamentos em matéria
processual do STF e sua leitura é indispensável para os concursos de advocacia da União), que dizia que
a lei era inconstitucional, pois impedia a tutela de urgência contra o poder público. O STF entendeu
que não é inconstitucional limitar a tutela de urgência contra o poder público (julgamento em
1994). Mas, nada impede que o juiz, no caso concreto, afaste a aplicação da lei que se revela irrazoável.
Ex. sujeito queria liberar o dinheiro para ir para o Caribe e outro precisa fazer um transplante. Deve-se
fazer uma ponderação e liberar o dinheiro no último caso. Esse entendimento é válido até hoje.
No início de maio de 2007 (☺informativo 501) o STF decidiu que havia uma ponderação entre o
direito à vida e o direito do Erário.

No final de 1994, é editada a Reforma do CPC (que é de dez/94), criando a tutela antecipada
genérica, que até então não existia.
Os advogados então começaram a perceber que havia a proibição em MS e em cautelar, mas não
na tutela antecipada. Então começaram a pedir tutela antecipada contra o Poder Público.
O PR Fernando Henrique Cardoso então fez a mesma coisa que Collor tinha feito, baixou uma
MP que foi convertida na Lei 9.494/97. Esta lei diz que todas as restrições que já havia, se estendem à
tutela antecipada, para simplificar tudo. Só que Fernando Henrique, já auxiliado por Gilmar Ferreira
Mendes, não esperou uma ADI. Ele se antecipou e propôs a ADC nº 04, para declarar a
constitucionalidade
dada uma liminar paradessa lei.pois,
dizer, Ele queria
que asque o STF são
restrições dissesse a mesma coisa
constitucionais. que disse
Ou seja, na ADI
repetiu-se 223-6.
mesmo Foi
o que
já se havia dito antes: que é possível restringir a antecipação de tutela contra o Poder Público. Esta
liminar permanece até hoje.
O STF não inovou, apenas manteve a orientação de antes.
Essas restrições que existem desde 64 e foram estendidas paulatinamente para outros casos,
valiam para casos que diziam respeito a direitos do servidor.
Muitas pessoas começaram a entrar com ação previdenciária, pedindo tutela antecipada na
concessão do benefício. Os juízes diziam que o STF já tinha dito que não pode.
O STF foi então chamado a confirmar essa sua antiga posição.
☺Súm. 729: “A decisão na ADC 04 não se aplica à antecipação de tutela em causas de natureza
previdenciária”.
Ou seja, o STF disse que sempre que a lei restringir, as restrições eram devidas. Só que a lei não
restringiu em matéria previdenciária, então, se não havia restrição em matéria previdenciária, cabe tutela
antecipada em matéria previdenciária.
A ADC 04 se aplica às restrições da lei de 1997, mas esta lei não proíbe tutela antecipada em
ação previdenciária.
No final das contas, parece que a regra é: se tem restrição na lei, e elas existem, elas devem ser
respeitadas (e decoradas!). Mas, o que importa, na verdade, é o caso concreto, porque se estas restrições
que existem forem desarrazoadas, devem ser afastadas no caso concreto.
Para os casos em que as restrições não existem, aplica-se a regra geral.

b) tu tela an tecipada par a f azer ou não f azer : aqui não há diferença na tutela antecipada contra o
Poder Público para fazer ou não fazer. Não existem peculiaridades.

c) tutela antec ipada para dar coisa distin ta de din heir o: em princípio não há restrição (como
regra geral). Ex. tutela antecipada para entrega de remédio. As pessoas buscam no judiciário o que o
161
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
administrador poderia dar. Mas há alguns problemas: há estados que estimulam esse tipo de demanda
para poder comprar remédios sem licitação; o público alvo desse tipo de demanda são as pessoas de
classe média para cima.
Há, ainda, duas ponderações para se fazer sobre o tema:
- ☺ Lei 2.770/56 – esta lei veda a tutela antecipada para entrega de coisa retida na alfândega,
proveniente do estrangeiro (é algo muito específico);
- em caso de ação possessória, tutela antecipada contra o Poder Público só pode ocorrer após a
oitiva dele (o Poder Público tem que ser ouvido antes) - ☺art. 928, P.U., CPC.

d) tu tela an tecipada contr a o Poder Público em ações declar atóri as e constitutivas: como regra
não há diferença. Mas há duas ponderações há serem feitas (e ambas se encontram no CTN):
- ☺art. 151, V, CTN: suspende a exigibilidade do crédito tributário a concessão de medida
liminar ou de tutela antecipada – trata-se, pois, de uma lei que expressamente permite a tutela antecipada
contra o Poder Público. É algo típico das ações declaratórias ou constitutivas (ex.: que pretendem
declarar que não é exigível o tributo). É, pois, um caso curioso em que a regra existe para permitir e não
para proibir;
- ☺art. 170-A, CTN: é vedada a compensação tributária mediante o aproveitamento de tributo,
objeto de contestação judicial pelo sujeito passivo, antes do trânsito em julgado – ou seja, é proibida a
tutela antecipada para obter compensação tributária (o que acontece em ações declaratórias) – não é
possível a compensação provisória, mas tão somente na decisão final. O art. 1º, § 4º, lei 8437/92 também
proíbe compensação antes do trânsito em julgado. Esta proibição já estava disposta na lei e também em
uma súmula do STJ (☺ Súm. 212, STJ: A compensação de créditos tributários não pode ser deferida
em ação cautelar ou por medida liminar cautelar ou antecipatória).

e) tut ela antecipada contr a o Poder Público em ações coletivas: a lei 8437/92, art. 2º tem uma
regra especial: ratifica a idéia de que cabe tutela antecipada contra o poder público, mas que só pode ser
concedida após aantecipada
conceder tutela oitiva do poder público
em ações em atécontra
coletivas 72hs. oO poder
art. 2º público.
disciplinaImportante
o modo pelo qual sedapode
a leitura lei
8.437/92 para advocacia pública.

 §6º, do art. 273, CPC:

“A tutela antecipada também poderá ser concedida quando um ou mais dos pedidos
cumulados ou parcela deles mostrar-se incontroversos”.

Imagine-se que em um processo parte da causa esteja incontroversa. Ex.: peço 100 e o réu
reconhece que deve 70, discutindo apenas 30. Numa situação como esta, o código diz que o juiz pode
conceder a tutela antecipada para esta parte incontroversa. Mas, se parcela da causa está incontroversa, e
não será mais discutida, o caso não é de tutela antecipada, e sim de uma decisão definitiva sobre parte da
causa (e não de uma decisão em cognição sumária, não se funda em perigo).
Assim, o §6º está no lugar errado do código. Ele está num art. sobre tutela antecipada, mas na
verdade é uma decisão parcial de mérito definitiva . Esse art. deveria estar na parte que cuida do
julgamento conforme o estado do processo. É uma decisão definitiva sobre parte da causa
(independentemente do nome e da natureza que se dá para isso – interlocutória ou sentença parcial).
Esse dispositivo é de 2002. Na época, havia discussão sobre sua natureza, mas atualmente essa
discussão não vigora. É caso de coisa julgada, execução definitiva.
Mas atenção: Dinamarco discorda. Segundo ele, trata-se de tutela antecipada, mas o pressuposto
é só a incontrovérsia (e não todos aqueles outros já estudados). Mas este pensamento de Dinamarco nem
repercutiu, porque se não precisa dos pressupostos, se a única coisa que importa é a incontrovérsia sobre
o tema, é uma decisão definitiva sim.

162
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 TEORIA GERAL DOS RECURSOS:

 Conceito de Recurso:

→ “O recurso é um meio de 1) impugnação voluntário, 2) previsto em lei, para, 3) no mesmo


processo,4) reformar, invalidar, integrar ou esclarecer uma decisão judicial ”.

1) Recurso
provocação. é umquemeio
É preciso de impugnação
alguém voluntário.
voluntariamente recorra.Isso
Nãosignifica que necessário,
há recurso só há recurso por
reexame
necessário. O recurso não pode ser legal, de ofício. Essa é uma opção do nosso Direito. E é exatamente
por conta dessa circunstância que para o nosso direito a chamada remessa necessária ou reexame
necessário não é recurso, exatamente porque ela é necessária (o reexame necessário é assunto estudado
no Intensivo II).

2) O recurso é, pois, um meio de impugnação voluntária, previsto em lei. É um meio de


impugnação legal. Não há recurso sem previsão legal.
Pergunta: E o agravo regimental? Ele é previsto em lei e regulado pelo Regimento do tribunal,
não é criado pelo RI do Tribunal.

3) O recurso serve ao mesmo processo. Não gera processo novo. Ele prolonga a vida de um
processo que já existe. Por isso mesmo que a ação rescisória não é um recurso, já que ela gera um
processo novo.

4) O recurso serve para reformar, invalidar, integrar ou esclarecer uma decisão judicial. Esta
parte final do conceito determina o objetivo do recurso. Refere-se ao pedido do recurso. O recurso visa
um desses quatro propósitos. Vejamos cada um deles, mas antes, é preciso analisar algumas premissas:
O recurso é um ato postulatório. É uma demanda. Por ele nós pedimos alguma coisa – reformar,
invalidar, integrar ou esclarecer uma decisão judicial –, por isso o recurso tem um pedido e uma causa
de pedir.
É preciso perceber que o recurso dá srcem a um procedimento que tem mérito próprio. O mérito
do recurso, do procedimento recursal é o pedido e a causa de pedir do recurso.
Não podemos confundir o mérito do recurso, que é o pedido e a causa de pedir do recurso, com o
mérito da causa, que é o pedido da PI ou da reconvenção. Assim, é preciso entender que o recurso é uma
outra demanda, diferente daquela que consta da inicial.

- Reformar a decisão: ao pedir a reforma da decisão o recorrente quer que o tribunal corrija,
conserte, reveja a decisão. Ao se pedir a reforma, o que se discute é o conteúdo da decisão, dizendo que
a decisão é uma decisão injusta, errada. O pedido da reforma está relacionado a uma causa de pedir:
trata-se do error in iudicando. Esta é uma expressão que não pode ser traduzida. Ela significa que o juiz
decidiu mal, erroneamente. É um erro de análise, que compromete a justiça da decisão. O error in
iudicando leva à reforma. Lembrar que a causa de pedir tem que corresponder ao pedido, sob pena de a
petição inicial ser inepta.

- Invalidar a decisão: quando se pede para o Tribunal invalidar uma decisão num recurso, o que
se quer é que a decisão seja desfeita em razão de um defeito. Está-se dizendo que a decisão é nula. E,
então, não se está discutindo o seu conteúdo, mas sim, a sua forma. Não se discute se a decisão é boa ou
ruim, mas se quer a sua invalidação porque ela tem um problema formal. A causa de pedir que se
relaciona ao pedido de invalidação é o chamadoerror in procedendo. Esta expressão também não pode
ser traduzida. Basta lembrar que ele gera a invalidade. É o defeito formal de uma decisão.

163
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

Exemplos:
a) se um juiz indeferir a PI por inépcia, o autor apela dizendo ao tribunal que o juiz disse que sua
PI é inepta, mas ela não é inepta: trata-se de uma apelação por error in iudicando. A decisão não é nula,
ela pode ser errada, injusta, mas não nula. O apelante alega que o juiz examinou mal os requisitos da sua
PI. Cuidado para não traduzir a expressão error in procedendo, porque se o fizermos podemos nos
confundir (pensando que se o juiz nem examinou o mérito ainda só pode se tratar de um “erro no
processo” – mas não tem nada a ver com isso!).
b) se eu recorro dizendo que a decisão não tem motivação, trata-se de error in procedendo, já
que a decisão sem motivação é nula. Ai nem se discute o que foi decidido, só se diz que a decisão é nula,
pouco importando o que ela diz.
c) se eu recorro dizendo que a decisão é extra petita, trata-se de error in procedendo, porque o
juiz não pode julgar extra petita, a sua decisão é nula (ainda que fosse justo dar a mais do que foi pedido
– não se discute o acerto ou o desacerto da decisão), há um vício formal.

- Integrar a decisão: a causa de pedir do pedido de integração é a omissão. Quando a decisão é


omissa, eu posso recorrer para integrá-la, para torná-la íntegra.

- Esclarecer a decisão: a causa de pedir, nesse caso, será a obscuridade ou a contradição da


decisão.
Esses últimos são os casos de embargos de declaração, que servem para integrar e esclarecer a
decisão.

Mérito do Recurso
Causa de pedir Pedido
Error in iudicando Reforma
Error in procedendo Invalidação
Omissão Integrar
Obscuridade/contradição Esclarecer

No recurso pode haver cumulação de pedidos. Assim, pode-se se recorrer de mais de uma
decisão. Pode-se pedir para anular e para reformar decisões diferentes. Pode ainda haver uma cumulação
imprópria: anule a decisão, se não anular, reforme.

 O recurso no panorama dos meios de impugnação da decisão judicial:

Os meios de uma impugnação judicial costumam ser divididos em 3 grupos:


a) Recursos;
b) Ações autônomas de impugnação: é um meio de se impugnar uma decisão judicial, dando
srcem a um
contra ato novo HC
judicial, processo. rescisória, querela nullitatis, reclamação constitucional, MS
Ex. açãojudicial;
contra decisão
c) Sucedâneos recursais: eles são tudo o quanto sirva para impugnar uma decisão que não seja
nem recurso e nem ação autônoma. Ou seja, são todos os outros meios de impugnação de decisões
judiciais. Ex.: remessa necessária, pedido de suspensão da segurança, correição parcial.
Obs.: alguns autores dividem os meios de impugnação da decisão judicial apenas em recursos e
sucedâneos recursais (eles colocam as ações autônomas dentre dos sucedâneos recursais). E esta
classificação pode cair em concurso.

164
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
 Atos sujeitos a recurso:

Somente as decisões judiciais são recorríveis. Os despachos são irrecorríveis. E as decisões se


dividem em: decisões do juiz singular e decisões em tribunal.

→ As decisões do juiz singular se dividem em:


I) decisões interlocutórias, e
II) sentenças.

→ As decisões em tribunal, por sua vez, se dividem em:


I) decisões monocráticas:
a) decisões decisões
proferidas proferidas por um membro do tribunal, que se dividem em:
pelo Relator
b) decisões proferidas pelo Presidente ou Vice-Presidente do Tribunal
II) decisões colegiadas: acórdãos.

Assim, há 5 tipos de decisões recorríveis:


1) Interlocutórias
2) Sentenças
3) Proferidas pelo relator
4) Proferidas pelo presidente ou vice presidente do tribunal
5) Acórdão

 Decisões proferidas por juiz singular:

Contra as decisões interlocutórias de juiz singular cabem agravo retido ou agravo de instrumento,
ambos previstos no art. 522, CPC. E contra sentença cabe apelação (☺art. 513, CPC).
Atenção para as seguintes observações:
- É preciso lembrar da polêmica atual sobre as decisões parciais, que para uns são interlocutórias
e, para outros, são sentenças parciais. E, para quem admite que é sentença parcial, cabe apelação,
apelação por instrumento, ou agravo de instrumento. Assim, a depender da corrente, haverá sentenças
agraváveis!

- Existe um autor brasileiro chamado Delosmar Mendonça (que muitas vezes aparece como
examinador em concursos), professor da Universidade Federal da Paraíba, que defende que as decisões
do juiz singular não são duas, mas sim de 3 espécies: segundo ele, a terceira espécie, ao lado das
sentenças e das interlocutórias, seria a decisão que não admite apelação – esta decisão não é sentença
(até porque vem depois da sentença), e também não é interlocutória porque uma decisão que se não for
recorrida, o processo acaba. Então ele defende que esta decisão que não admite apelação não é
interlocutória porque tem aptidão para acabar com o processo e também não é sentença porque é
posterior à sentença. Esta decisão seria impugnável por agravo de instrumento.
- ☺Lei de Execução Fiscal (lei 6.830/80), art. 34: este art. diz que nas execuções fiscais de até
50 ORTN (que daria hoje mais ou menos R$ 500,00), as sentenças não são apeláveis. Contra essas
sentenças caberia outro recurso, muito estranho, chamado “embargos infringentes de alçada”, também
chamado por uns de “embarguinhos”, que são julgados pelo próprio juiz da causa. É uma situação em
que não cabe apelação de sentença. Atenção: Esses embargos infringentes não são os mesmos do
previsto no CPC; são embargos infringentes do processo tributário.

- Lei de Assistência Judiciária (lei 1.060/50), art. 17: as decisões que aplicarem essa lei são
decisões impugnáveis por apelação. Um exemplo de decisão que aplica essa lei é uma decisão que nega
165
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
justiça gratuita. Mas essa decisão não é sentença, é decisão interlocutória. De toda forma, a lei determina
que a decisão que nega justiça gratuita deve ser impugnada por apelação. Hoje, interpreta-se esse artigo
da seguinte forma: decisão que se funda na LAJ nos mesmos autos é decisão interlocutória, sendo
cabível agravo. Se a decisão se funda na LAJ, mas é proferida em autos apartados, cabe apelação.
Exemplos: decisão sobre o pedido de revogação da justiça gratuita que é feita em autos apartados é
apelável. Decisão sobre o pedido de justiça gratuita superveniente, esse pedido será autuado
separadamente, portanto, a decisão a seu respeito será apelável.

- Sentença que decreta a falência é agravável. Já a sentença que não decreta a falência é apelável.

- Sentença que julga a fase de liquidação de sentença é agravável (art. 475-H, CPC).

 Recursos nos Juizados Especiais:

Nos Jesp´s estaduais, as decisões interlocutórias são irrecorríveis e as sentenças são impugnadas
por um recurso diferente, chamado de recurso sem nome ou Recurso Inominado.
Nos Jesp´s federais, as interlocutórias que cuidam de tutela de urgência podem ser agravadas.

 Recursos cabíveis contra decisões em Tribunal:

Em Tribunal existem 3 espécies de decisões:

→ As decisões do relator são decisões impugnáveis por agravo regimental, agravo interno ou
agravinho. Isso é uma regra geral. Ocorre por uma razão muito simples: se o relator decide sozinho, é
preciso verificar se o colegiado do qual ele faz parte concorda com a decisão que ele decidiu sozinho, já
que a idéia é a de que a decisão seja do órgão colegiado.
OBS.1: existe uma previsão geral de agravo interno contra decisão do relator no art. 39 da lei
8.038/90. Essa lei cuida de recursos para o STJ e STF. Portanto, esse artigo deveria ficar restrito ao STJ
e STF. No entanto, o STJ e STF entendem que esse artigo é a previsão geral, aplicável a qualquer
tribunal: as decisões do relator são impugnáveis por agravo interno ou agravo regimental.
OBS.2: Há uma tendência de tornar irrecorrível decisão do relator que não extinga o processo.
Ex.1: Súmula 622, STF: “Não cabe agravo regimental contra a decisão do relator que concede ou
indefere liminar em MS”. Essa decisão não extingue o processo. Só o STF adota essa súmula. Nenhum
outro tribunal a adota. Ex.2: Art. 527, PU, CPC: traz hipótese de decisão do relator que não extingue o
processo e não é agravável.
OBS.3: relator decide apelação monocraticamente. Dessa decisão cabe agravo interno. A turma,
ao julgar o agravo interno, pode manter a decisão do relator ou pode reformar a decisão do relator. A
decisão que julgar esse agravo interno tem a natureza da decisão que julgou o recurso decidido
monocraticamente. Na prática, o julgamento do agravo interno tem a natureza de julgamento da

apelação. O julgamento
Cabem embargosdoinfringentes
agravo interno assume
contra a natureza
acórdão do julgamento
de agravo interno? da
O apelação.
CPC dispõe que cabem
embargos infringentes contra acórdão de apelação. Assim, cabem, se o acórdão do agravo interno tiver a
natureza de acórdão de apelação.
Cabem Embargos de divergência contra decisão de Resp e RE. Assim, cabem Embargos de
divergência contra acórdão do agravo interno se tiver natureza de acórdão de Resp ou RE.
Ver a súmula 316, STJ. O segredo dessa súmula é entender que o julgamento do agravo interno
assume a natureza do julgamento proferido pela decisão monocrática.
A súmula 599, STF, por outro lado, foi cancelada.

166
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
(19/06/09)

→ Contra as decisões do Presidente ou do Vice-presidente do Tribunal sempre cabe um tipo de


agravo, cada um com suas peculiaridades:
a) a regra geral é o agravo interno (art. 39, lei 8.038/90);
b) agravo do art. 544: agravo contra decisão do PT ou do VPT, que não admite recurso
extraordinário ou especial;
c) agravo do pedido de suspensão de segurança (PSS); é um incidente julgado pelo PT, e nesse
incidente cabe um agravo da decisão do PT;
d) agravo na homologação de sentença estrangeira: é também decidido pelo PT, de cuja decisão
também cabe outro agravo.

→ Já contra os acórdãos cabem 5 tipos de recursos:


I) Resp.
II) RE
III) Embargos infringentes
IV) Embargos de divergência
V) Recurso Ordinário Constitucional (ROC)

Cada um desses recursos deverá ser estudado mais aprofundadamente. Mas desde já é preciso
estudar esta tabela (☺vol. III do livro do prof.).

Algumas premissas são importantes:


- Nunca cabe Agravo contra acórdão, que só é cabível contra decisões de uma pessoa só.
- Contra qualquer decisão cabem embargos de declaração. O STF tem o esdrúxulo entendimento
de que não cabem15
- Existem EDespécies
contra decisão de relator, mas doutrinariamente cabe.
recursais:
- 6 agravos,
- 5 recursos contra acórdão,
- apelação,
- embargos de declaração,
- recurso inominado e
- embargos infringentes de alçada.

 Classificação dos recursos:

1) Uma primeira classificação é a que divide os recursos em:


a) recursos de fundamentação livre: servem para se alegar qualquer coisa, é possível se opor à
decisão alegando qualquer vício. É o que ocorre, por ex., com a apelação, com o agravo.
b) recursos de fundamentação vinculada: são recursos dos quais apenas podemos nos valer se
alegarmos algum tipo específico de fundamento; são recursos de fundamentação típica. Não é possível
se valer desse recurso para alegar qualquer coisa, qualquer matéria contra a decisão. É o que acontece
com os embargos de declaração, que têm fundamentação vinculada, já que só podem ser utilizados para
alegar obscuridade, omissão ou contradição; recurso especial e recurso extraordinário. Nesse caso, tem
que constar no próprio recurso uma das hipóteses típicas do recurso.

2) Uma segunda classificação divide os recursos em:


a) Recurso total
b) Recuso parcial
Na verdade, existem duas versões doutrinárias sobre esta classificação, e temos que saber ambas:

167
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- Versão de Barbosa Moreira: segundo ele, o recurso é total quando serve para impugnar tudo o
que poderia ter sido impugnado; se se recorre para impugnar apenas parte do que poderia ter sido
impugnado, o recurso é parcial.
- Versão de Dinamarco: segundo ele, o recurso é total quando serve para impugnar toda a
decisão, e é parcial quando serve para impugnar uma parte da decisão.
Vejamos a diferença na aplicação dessas versões:
Imagine-se uma sentença com dois capítulos (A e B). O autor ganhou o capítulo A e perdeu o
capítulo B. Ele recorreu do capítulo B. Para Barbosa Moreira o recurso do autor é total, porque ele
impugnou tudo o quanto poderia ter impugnado (se ele só perdeu B, só poderia ter impugnado B). Para
Dinamarco, porém, o recurso será parcial, porque envolve apenas um capítulo da decisão.
É uma diferença sutil, mas que existe, e pode aparecer no concurso.

 Juízo de admissibilidade dos recursos:

É um dos assuntos mais importantes sobre recursos.


Como toda demanda, o recurso se submete a um juízo de admissibilidade e a um juízo de mérito.
Juízo de admissibilidade é um juízo sobre a regularidade/validade do procedimento. Serve para
sabermos se o procedimento está regular ou não. É um juízo para verificar se o juiz poderá ou não
examinar o pedido, ou seja, sobre a possibilidade de se examinar o pedido. Já o juízo de mérito, é o juízo
sobre o pedido, para saber se será acolhido ou rejeitado. O juízo de mérito só será verificado depois de
analisado o juízo de admissibilidade.
Assim, fazer um juízo de admissibilidade do recurso é fazer um juízo de admissibilidade do
procedimento recursal. Quando se faz um juízo de admissibilidade busca-se verificar se estão presentes
alguns requisitos que permitem a decisão sobre o mérito do recurso.
Terminologia:
No juízo de admissibilidade, o juiz:
- conhece/admite/recebe: significa que o juízo é positivo;
- não conhece/não admite/não recebe: significa que o juízo é negativo.
No juízo de mérito fala-se em:
- dar provimento
- negar provimento
Se o tribunal não conhece do recurso ele nem sequer examinará o mérito do recurso. Assim,
jamais poderemos dizer “não conheço e nego provimento ao recurso”, porque se não se conhece do
recurso nem se examina o mérito dele.
Mas, se o recurso é conhecido, é plenamente possível que ele seja provido ou improvido.

- Competência par a f azer o juízo de admi ssibi lidade:

De acordo com o nosso sistema, vale a seguinte regra: o recurso deve ser interposto perante o
órgão que proferiu a decisão recorrida. Ou seja, perante órgão “a quo”, o órgão de srcem, o órgão que
proferiu a decisão recorrida.
Como esta é a regra, fala-se que a competência para a admissibilidade do recurso é dupla. Há um
duplo juízo de admissibilidade do recurso: o órgão a quo faz o primeiro juízo de admissibilidade (já que
cabe a ele receber o recurso, como regra); e ai podem ocorrer duas coisas:
a) o recurso é recebido (o juízo a quo admite o recurso), e o recurso vai para o órgão ad quem,
que é o órgão de destino - que poderá fazer um novo juízo de admissibilidade (ele sempre poderá fazê-
lo, não ficando vinculado à decisão do órgão a quo);
b) o recurso não é admitido pelo órgão a quo, e, neste caso, caberá sempre, sem qualquer
exceção, um recurso contra esta decisão – já que será sempre possível que o órgão ad quem também faça
seu controle, sendo a regra o duplo controle de admissibilidade.

168
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Exceções ao duplo juízo de admissibilidade:
- No agravo de instrumento a coisa é diferente, porque o AI é um recurso interposto diretamente
no órgão ad quem e, assim, não há um duplo juízo – só o órgão ad quem fará o juízo de admissibilidade.
- Os embargos de declaração e os embargos infringentes de alçada (da LEF) também têm uma
peculiaridade: trata-se de um recurso julgado pelo órgão a quo; na verdade o órgão ad quem e o a quo
são o mesmo. Quem profere a decisão embargada é que vai julgar os embargos de declaração. O órgão a
quo é também o ad quem, razão pela qual os embargos de declaração também não se submetem ao duplo
juízo de admissibilidade.

A regra é de que o mérito do recurso será julgado pelo órgão ad quem. Mas existem recursos que
permitem que o a quo se retrate. Exemplos: todos os agravos; apelação contra sentença que indefere a
petição inicial, com ou sem exame de mérito; apelação no ECA. Esse efeito que permite a retratação do
órgão a quo é chamado efeito regressivo.

- N atu reza jurídi ca do juízo de admissibilidade:

É preciso lembrar que o juízo de admissibilidade pode ser positivo ou negativo: o tribunal pode
admitir ou inadmitir.
Para a corrente francamente majoritária, o juízo de admissibilidade tem natureza declaratória
(sendo ele positivo ou negativo).
O prof. não concorda. Segundo ele, quando o juízo de admissibilidade é negativo, ele é
constitutivo.
Considerando que ele seja declaratório, como entende a grande maioria da doutrina, passamos a
analisar um outro aspecto: ele tem eficácia retroativa ou não?
O juízo de admissibilidade positivo é uma decisão declaratória com eficácia retroativa. Significa
que o recurso sempre foi admissível e por isso, produz efeitos desde sempre. Quanto a isso não há
dúvidas, é uma questão unânime.
Já quanto ao juízo de admissibilidade negativo há discussão sobre a existência ou não de eficácia
retroativa. Há 3 correntes teóricas para explicar se o juízo de admissibilidade negativo tem ou não
eficácia retroativa:
Imaginemos o seguinte exemplo: houve uma sentença proferida em 2002; o sujeito apela e em
2005 o tribunal diz que não conhece da apelação. Portanto, trata-se de uma decisão de juízo de
admissibilidade negativo. Esta decisão tem ou não tem eficácia retroativa?
- 1ª Corrente: para esta corrente, que é a de Barbosa Moreira e Nelson Nery, o juízo de
admissibilidade negativo é declaratório com eficácia retroativa. O que significa que esse recurso
que não foi conhecido não tinha de ser conhecido desde o dia em que foi interposto (em 2002),
razão pela qual é como se ele não tivesse sido interposto e, então, porque tem eficácia retroativa,
o trânsito em julgado teria ocorrido em 2002. Por este mesmo motivo, já passou o prazo para a
ação rescisória (já se passaram 3 anos e o prazo da rescisória é de 2 anos). Recurso inadmissível
não impede o trânsito em julgado. Esta corrente não é adotada.
- 2ª Corrente: é a corrente majoritária, tanto na doutrina quanto na jurisprudência. O juízo de
admissibilidade negativo é declaratório, mas não retroage, salvo em duas hipóteses: manifesto
incabimento ou intempestividade. É uma corrente mista. A data do trânsito em julgado é a data
da última decisão (2005), salvo em duas únicas hipóteses, em que haverá retroação: se o recurso
for intempestivo ou manifestamente incabível. O expoente desta corrente é a *Súmula 100, do
TST, que fala sobre ação rescisória; e o TST é o principal tribunal do país que tem jurisprudência
sobre rescisória (já que ele julga rescisória em grau de recurso, coisa que o STJ não faz).
- 3ª Corrente: também é minoritária, mas é digna de nota. É a corrente do prof. e de mais alguns
outros doutrinadores. Defende que o juízo de admissibilidade negativo é desconstitutivo porque
desfaz o recurso que já foi interposto. Por isso, não tem eficácia retroativa. As situações absurdas
devem ser resolvidas excepcionalmente (ex.: se o sujeito interpuser o recurso 3 anos depois. Mas,

169
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
como regra, ao prof. parece que não é possível retroagir nunca. No exemplo, o trânsito em
julgado ocorreu em 2005 (o trânsito em julgado se dá da última decisão).

Há decisões que aplicam as 3 correntes, mas a mais consolidada é a 2ª corrente.

*Questão: Embargos de declaração intempestivos interrompem o prazo de recurso? Recurso


intempestivo produz efeito? Depende da concepção que se adota. Para a 1ª corrente, recurso
inadmissível não produz nenhum efeito, para a 2ª corrente, não produz efeito (pois é a exceção) e para a
3ª corrente, interrompe.

- Obj eto do ju ízo de admissibilidade:

O objeto do juízo de admissibilidade são os requisitos de admissibilidade, que se dividem em:

a) Requisitos intrínsecos: são eles:


- o cabimento;
- a legitimidade;
- o interesse recursal;
- a inexistência de fatos impeditivos ou extintivos do direito de recorrer : para alguns
doutrinadores, esse requisito será extrínseco e não intrínseco. E isso é apenas uma
arrumação doutrinária, não está certo ou errado. É preciso recordar essa peculiaridade.

b) Requisitos extrínsecos: são eles;


- o preparo;
- a tempestividade;
- a regularidade formal.

1) Cabim ento:

Para que um recurso seja cabível é preciso verificar se a decisão é recorrível e se o recurso
interposto é correto. Se foi interposto o recurso correto contra uma decisão recorrível, o recurso será
cabível.
No exame do cabimento do recurso é preciso analisar 3 princípios da teoria dos recursos:
- Princípio da taxatividade dos recursos: só existem os recursos taxativamente previstos em lei; o
rol de recursos é um rol taxativo; os recursos são típicos;
- Princípio da singularidade ou unirrecorribilidade: só é possível entrar com um recurso de cada
vez para impugnar determinada decisão; não é possível impugnar uma decisão com mais de um recurso
ao mesmo tempo – contra uma decisão, um recurso – este Princípio é um princípio implícito, que não
está previsto expressamente. Mas ele tem um problema: contra um acórdão podem caber Resp. e RE, e,
por isso, no que diz respeito ao acórdão, este princípio é mitigado;
- Princípio da fungibilidade: um recurso indevido pode ser aproveitado como o recurso correto,
respeitados alguns pressupostos. Este era um princípio expresso do código de 1939, que era muito
confuso, dando margem a diversas dúvidas sobre o cabimento dos recursos, e, por isso o próprio código
assumia a ambigüidade de sua legislação, prevendo expressamente a fungibilidade dos recursos. Mas
este código dizia que só era possível aplicar a fungibilidade se não houvesse má-fé e se fosse respeitado
o prazo do recurso devido. O que caracterizava a má-fé era o cometimento de um erro grosseiro,
identificável. O código de 73 não prevê expressamente a regra da fungibilidade, porque este código se
imaginava um código que teria resolvido todas as ambigüidades em matéria de recurso, ele foi
desenvolvido para isso. Ocorre que dúvidas existem, ao longo do curso mesmo pudemos ver várias.
Assim, ainda é possível falar em fungibilidade no código de hoje, mesmo que não haja regra expressa, já

170
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
que este Princípio da fungibilidade é decorrência do Princípio da instrumentalidade das formas, previsto
no art. 244, CPC. E o Princípio da fungibilidade hoje deve observar os mesmos pressupostos de antes,
ou seja, respeito ao prazo do recurso devido e não ocorrência de erro grosseiro. Para se saber se há
erro grosseiro ou não, parte-se da seguinte premissa: se houver dúvida na doutrina ou na jurisprudência
quanto ao cabimento do recurso, há uma dúvida que não é grosseira, imperdoável, mas muito pelo
contrário, é legítima, pois se pauta, se justifica na doutrina e na jurisprudência que não se resolvem. Ex.:
problema das decisões parciais, que é uma situação de dúvida legítima, havendo 3 correntes: agravo,
agravo parcial ou apelação. Para o prof. o pressuposto do respeito ao prazo não deveria ser mais
aplicado, pois, já que a principal dúvida é se cabe apelação ou agravo, que possuem prazos distintos (15
ou 10 dias), não seria possível punir aquele que interpôs o recurso equivocado no prazo maior. Mas este
não é o entendimento majoritário. O STJ exige o respeito ao prazo do recurso correto.

2) L egiti midade:

Nos termos do art. 499, CPC, podem recorrer a parte vencida, o MP custus legis e o terceiro
interessado.
O MP pode recorrer custus legis, independentemente do recurso da parte. Ver as súmulas 99 e
226, STJ.
Pode recorrer como terceiro todo aquele que poderia ter intervindo no processo, mas não
interveio (ex.: aquele que poderia ter sido denunciado à lide, assistente, nomeado à autoria, etc.). Isso
inclui também o litisconsorte necessário não citado. O recurso pelo terceiro é uma modalidade de
intervenção pelo terceiro. Só tem um sujeito que não pode recorrer como terceiro, mesmo tendo podido
intervir no processo: aquele que poderia ter sido o opoente, porque ele interpõe demanda própria.
Atenção: o opoente, sendo parte, pode recorrer; quem não pode recorrer é aquele que poderia ter sido
opoente e não foi!
Obs.: o prazo de recurso para o terceiro é o mesmo prazo de recurso para a parte. Ele não é
intimado, mas o seu prazo começa a contar da intimação da parte.
Há uma discussão se o assistente simples pode recorrer, se o assistido não tiver recorrido. O STJ
tem várias decisões dizendo que não.

3) I nteresse recur sal:

O interesse recursal segue a mesma linha do interesse de agir. É preciso que o recurso seja útil e
necessário. O recurso útil é aquele que pode propiciar algum proveito para o recorrente. E recurso
necessário é o meio necessário para a obtenção daquele proveito. O recurso desnecessário é aquele que
não precisaria ser feito, já que com a simples defesa o recorrente poderia conseguir tudo o que desejava.
Obs. A doutrina costuma dizer que não há interesse recursal se a parte quiser discutir apenas o
fundamento de uma decisão. O recurso é inútil, porque não altera nada para o recorrente (ele concorda
com o dispositivo, só não concorda com a fundamentação).
Todavia, foi visto que há um coisa julgada secundun eventun probationis. Se a improcedência for
por falta de prova não há coisa julgada. Se o réu, que ganhou, recorre ao tribunal concordando com a
improcedência dizendo que é improcedente por falta de direito e não por falta de prova, o recurso é útil,
pois só por falta de direito é que haverá coisa julgada. Nesse caso, pode recorrer da fundamentação, pois
a mudança do fundamento altera a coisa julgada.
Começa-se a defender, ainda, o interesse recursal na discussão da fundamentação com vistas a
fixar corretamente um precedente judicial.

Imaginemos um acórdão que tenha um dispositivo, mas que o dispositivo tenha um fundamento
legal e outro fundamento constitucional (dois fundamentos sustentando um mesmo dispositivo). Se cada
um desses fundamentos sozinho seria apto a sustentar a decisão, é preciso entrar com o RE e com o

171
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Resp. – porque se o recorrente só entrar com o Resp., por ex., o recurso será inútil, já que ainda que ele
ganhe, permanecerá o outro fundamento sustentando a decisão. É preciso dinamitar ambas as
fundamentações. ☺Súm. 126, STJ.
Há uma tendência de se relacionar interesse recursal com sucumbência. É certo que se houver
sucumbência há interesse, mas pode haver interesse sem sucumbência. Não podemos pensar que só tem
interesse recursal quem sucumbiu, porque o terceiro não sucumbe, exatamente porque é terceiro, e ele
pode ter interesse recursal. O interesse recursal se verifica pela necessidade e pela utilidade, e não pela
sucumbência.

4) I nexi stênci a de fat os impediti vos ou exti nt ivos do dir eito de recorr er:

Trata-se de um pressuposto negativo de admissibilidade. São fatos que não podem ocorrer para
que o recurso seja admitido.
A doutrina costuma identificar 3 fatos que não podem acontecer para que o recurso seja
admitido:
- a renúncia: quando ocorre, o sujeito está abdicando ao direito de recorrer. A renúncia é sempre
anterior ao recurso e independe do consentimento da parte contrária. Se o sujeito renuncia e depois
recorre, seu recurso será inadmissível, porque houve a renúncia;
- a aceitação da decisão: aceitar a decisão é cumpri-la espontaneamente. Se o sujeito
espontaneamente aceita a decisão, não pode depois recorrer – neste caso haveria até mesmo preclusão
lógica. Atenção: a aceitação da decisão pode ser tácita (prática de atos compatíveis com a aceitação da
decisão). Para que o recurso seja admissível, não pode ter havido a aceitação;
- a desistência do recurso: o recurso já interposto pode ser revogado, e esta revogação do recurso
já interposto chama-se desistência. Ou seja, a desistência pressupõe que o recurso já tenha sido
interposto (ao contrário da renúncia, que é prévia). *A desistência do recurso tem duas características
muito próprias: ela independe de homologação judicial e independe da aceitação do recorrido
(diferentemente da desistência do processo). Ademais, a desistência do recurso pode ser feita até o início
da votação, e nunca após o julgamento. Se o sujeito recorre e desiste, ele não pode recorrer de novo. Se
o fizer, neste segundo recurso o juiz dirá que não pode conhecer do recurso porque já houve desistência.
A desistência impede, pois, outro recurso.

5) Prep aro:

É o pagamento das despesas relacionadas ao processamento do recurso. E essas despesas são de


duas ordens: as taxas (custas) + os portes de remessa e de retorno dos autos (despesas postais).
O preparo tem que ser pago antes da interposição do recurso, porque no momento em que se
apresenta o recurso, é preciso comprovar que o preparo foi feito. A comprovação do preparo deve ser
feita, em regra, no ato da interposição do recurso, com duas exceções:
- nos Jesp´s é possível comprovar o preparo até 48 hs após a interposição do recurso; e
- na Justiça Federal, nos recursos contra a sentença, o preparo pode ser comprovado até 5 dias
após a interposição do recurso (☺art. 14, II, da Lei 9.289/96 – Lei de custas da Justiça Federal).
Existe a figura chamada “preparo insuficiente”. Ele ocorre quando o preparo é feito, mas em
valor menor. Neste caso é preciso intimar o recorrente para complementar o preparo. Não se pode
inadmitir o recurso sem se intimar o recorrente para completar o preparo feito. A inadmissão do recurso
pela falta do preparo se chama deserção. Quando não se conhece do recurso porque não há preparo, fala-
se, pois, que houve deserção.
O art. 519, CPC tem uma regra que, embora prevista para a apelação, se aplica a qualquer
recurso. Este art. está dentro da parte de apelação, mas contém uma regra geral, e quanto a isso não há
polêmica. Esta regra diz que o juiz pode relevar a deserção se houver justo motivo para que não se tenha
feito o preparo (ex.: havia greve no banco, houve uma situação de calamidade pública, etc.).

172
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Recursos que não têm preparo: embargos de declaração, agravo interno, embargos infringentes
de alçada, agravo retido, agravo do art. 544, agravo regimental, recursos do ECA.
Há também sujeitos que estão dispensados do preparo: o MP, a Fazenda Pública e o beneficiário
da justiça gratuita.
O beneficiário da justiça gratuita não precisa fazer o preparo. E no caso em que a parte não é
beneficiária, mas quer pedir o benefício no recurso, o juiz terá que decidir se tem direito ao benefício. Se
não tiver direito ao benefício, será dado prazo para que faça o preparo.

6) Tempesti vidade:

Este deveria ser o requisito de admissibilidade mais simples. Ele significa apenas que o recurso
tem que ser interposto no prazo. Não há ai nenhuma grande novidade, mas existem várias peculiaridades
que surgem da tempestividade que devemos saber:
É preciso lembrar que o MP e a Fazenda Pública têm prazo em dobro para recorrer (mesmo que
recorram como terceiro). O prazo em dobro aplica-se ao recurso adesivo, mas cuidado: eles têm prazo
simples para apresentar contra-razões. Causa patrocinada por defensor público dá ao sujeito
acompanhado pelo defensor prazo em dobro para recorrer e para contra-arrazoar. O STJ entende que nos
casos de assistência judiciária não se aplica o prazo em dobro, apenas quando patrocinada pelo defensor
público.
Se há nos autos litisconsortes com advogados diferentes o prazo será contado em dobro (☺art.
191, CPC). No entanto, a súmula 641, STF dispõe: “Não se conta em dobro o prazo para recorrer
quando só um dos litisconsortes haja sucumbido”.
☺art. 507, CPC: “Se, durante o prazo para a interposição do recurso, sobrevier o falecimento
da parte ou de seu advogado, ou ocorrer motivo de força maior, que suspenda o curso do processo, será
tal prazo restituído em proveito da parte, do herdeiro ou do sucessor, contra quem começará a correr
novamente depois da intimação”. O prazo será devolvido integralmente.
Criou-se na jurisprudência a figura do “recurso prematuro” ou “recurso precoce”, que é o recurso
interposto antes da fluência do prazo, ou seja, o prazo nem havia começado a correr e já se interpôs o
recurso (antes mesmo da intimação para tanto). O STF tem o entendimento bastante consolidado no
sentido de que recurso precoce é um recurso intempestivo, porque foi interposto fora do prazo. Isso é
absurdo, até anti-humanitário. É algo incompreensível para um leigo. Até porque se o recurso é
interposto antes da intimação, quer dizer que ele está se dando por intimado, já tomou ciência da decisão
e quer adiantar o processo. O STJ também tinha esse posicionamento, mas já o modificou.
☺Súm. 216, STJ: “A tempestividade de recurso interposto no STJ é aferida pelo registro no
protocolo da secretaria e não pela data da entrega na agência do correio ”. E ainda por cima este
tribunal se denomina “Tribunal da cidadania”! É um absurdo.
Para terminar este tema é preciso ainda falar que os tribunais só ficam em capitais, e se for
tribunal federal só fica em 5 capitais. A pessoa que mora em Rio Branco no Acre, e quer entrar com um
recurso no TRF (que fica em bsb), é preciso ir até lá. Quem mora no Amazonas precisa ir a Manaus
protocolar sua petição. Como isso demoraria muito, começou-se a aceitar o protocolo em outros lugares,
para incentivar o acesso à justiça. Ocorre que o STJ (Tribunal da cidadania) editou a Súm. 256 dizendo
que “O sistema de protocolo integrado não se aplica aos recursos dirigidos ao STJ ”. Esta súmula saiu
em agosto de 2001, sob o fundamento de que não havia lei que permitisse esse tipo de protocolo (foi
uma criação administrativa, produto de decisão administrativa) e, por isso, só vale para o âmbito interno
dos próprios tribunais (não valia para o STJ, que depende de lei federal). Em dezembro de 2001 veio
uma lei que alterou o CPC - ☺P.U. do art. 547: “Os serviços de protocolo poderão, a critério do
Tribunal, ser descentralizados...”. Ou seja, a lacuna legal que existia até agosto foi preenchida em
dezembro de 2001. Pareceu então que a súmula do STJ havia sido revogada, não se aplicando mais.
Ocorre que, mesmo após a lei, no STJ continuou valendo a súmula, até maio de 2008, quando eles enfim
perceberam (6 anos e meio depois) que a súmula não tinha mais sentido e então foi cancelada. Atenção,
porque o Vol. III (5ª edição) do prof. ainda traz o entendimento anterior.

173
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
7) Regular idade for mal:

O recurso tem formalidades a serem atendidas: ele tem que ter pedido, causa de pedir, tem que
ter assinatura de advogado, tem que ser escrito (recurso oral no processo civil, só o Ag. Retido, os ED
nos Jesp), etc. No caso do AI, o instrumento tem que estar completo.
O preenchimento dessas formalidades é o último dos requisitos de admissibilidade dos recursos.
Ele quer dizer que é preciso que o recurso preencha todas as suas formalidades para que seja admissível.
Aqui aparece um princípio da teoria dos recursos: o Princípio da dialeticidade dos recursos ,
que significa que os recursos têm de ter fundamentação para permitir a dialética, o debate, o
contraditório. Uma pessoa não pode recorrer sem apresentar suas razões.

(29/06/09)

 Efeitos dos recursos:

1) O primeiro efeito do recurso é impedir o trânsito em julgado da decisão. Ele prolonga a


litispendência (naquele outro sentido da palavra).
Atenção: é preciso lembrar que para Barbosa Moreira e Nelson Nery, recurso inadmissível não
produz efeito nenhum (nem o de impedir o trânsito em julgado).

2) O segundo efeito dos recursos é o efeito suspensivo. É o efeito que o recurso tem de prolongar
a ineficácia da decisão. É o recurso que mantém a decisão ineficaz. Atenção: não é o efeito que suspende
a ineficácia, mas sim que prolonga a ineficácia. A doutrina quando estuda o assunto, diz que o que
suspende a eficácia não é o recurso, mas sim a recorribilidade da decisão. Quando o recurso tem efeito
suspensivo, o recurso prolonga essa ineficácia (a decisão que já era ineficaz porque era recorrível,
mantém-se ineficaz com o recurso com efeito suspensivo). O efeito suspensivo do recurso decorre
diretamente da lei ou pode ser concedido pelo juiz, caso a caso. A regra entre nós é a de que os nossos
recursos têm efeito suspensivo legal. Todos podem ter efeito suspensivo, uns já têm por determinação da
lei, outros podem vir a ter por determinação do juiz.

3) O terceiro efeito é o efeito devolutivo. Esse efeito costuma ser apresentado em duas
dimensões: em sua extensão e em sua profundidade.
Obs. muitos doutrinadores ao estudar a profundidade do efeito devolutivo dão a ele outro nome:
efeito translativo do recurso ou profundidade do efeito devolutivo.
Pela extensão do efeito devolutivo determina-se o quê se quer que o Tribunal reexamine. É o
quê será devolvido para ser redecidido. Este é o efeito devolutivo em sua extensão. Ele está, pois,
relacionado àquilo que o requerente impugnar. Devolve-se o que o recorrente impugnar. Cabe ao
recorrente determinar o quê ele quer que o Tribunal decida – a extensão do efeito devolutivo fica
determinada pelo recorrente. É manifestação, portanto, do Princípio dispositivo. Cabe ao recorrente,
assim, dizer
extensão o quedevolutivo,
do efeito ele quer que
queo determina
tribunal faça.
o queOoque não foi
tribunal teráimpugnado
que decidir,não é devolvido,
é delimitada pelaporque
vontadea
do recorrente.
Fixado o quê vai ser redecidido, quais serão as questões que o tribunal examinará para decidir o
que foi devolvido?
Todo recurso tem uma questão principal (que está no dispositivo), e questões incidentes (que
estão na fundamentação). A questão principal é delimitada pelo recorrente. Mas quais questões o
tribunal terá que examinar para saber se o recurso é provido ou improvido? Essas questões
correspondem à profundidade do efeito devolutivo. É ela que determina quais são as questões que
sobem com o recurso e que terão de ser examinadas pelo tribunal para decidir o recurso. Essas questões

174
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
sobem independentemente da vontade do recorrente. Não é o recorrente que delimita a profundidade, ele
delimita apenas a extensão.
Quais são as questões que compõem a profundidade do efeito devolutivo?
São todas as questões suscitadas e discutidas no processo e as questões de ordem pública, que
sobem mesmo que não tenham sido suscitadas.
Ex.: eu formulo um pedido e tenho três fundamentos para ele. O juiz acolhe o meu pedido com
base no primeiro fundamento, nem examinando os outros dois (apesar de eu os ter suscitado). O réu
apela, querendo que o juiz julgue improcedente o meu pedido (fixa, assim, a questão principal). O
tribunal vai julgar o recurso do réu e vai poder ai analisar os outros dois fundamentos do meu pedido.
Essas são questões suscitadas no processo e que sobem com a profundidade do recurso. Eu não posso
recorrer, mas eu sei que o recurso do réu levará consigo todas as questões suscitadas e não analisadas. Se
não fosse assim, ainda que eu tivesse ganhado eu também teria que recorrer. Essa profundidade do
recurso, que é enorme, me garante isso. E, além disso, o tribunal poderá examinar também todas as
eventuais questões de ordem pública que possam existir.
Imaginemos uma decisão com dois capítulos: A e B. Vem um sujeito e recorre só do capítulo A.
Ele não quer recorrer do capítulo B. Entra, então, com um recurso parcial. Neste caso, o Tribunal poderá
reexaminar o capítulo A em toda a sua profundidade (examinando todos os fundamentos relacionados a
esse capítulo), mas nenhuma questão relacionada ao capítulo B poderá ser revisto, porque em relação ao
capítulo B houve coisa julgada, já que o sujeito não recorreu.
Assim, “o efeito devolutivo bitola o translativo”. Isso quer dizer que o efeito translativo devolve
tudo, de tudo o quanto foi impugnado. Ou seja, sobe tudo de tudo o que foi impugnado. Se só foi
impugnado metade, só sobe tudo da metade.
**Questão: uma sentença condenou em danos morais (capítulo A) e em danos materiais (capítulo
B). O sujeito apelou apenas do capítulo relativo aos danos morais. Chegou ao tribunal essa apelação e o
tribunal, de ofício, reconheceu uma ilegitimidade ad causam (ou uma incompetência absoluta, etc., ou
seja, qualquer questão de ordem pública). O Tribunal então extinguiu o processo em relação aos danos
morais
decisão ecorreta,
não disse nada
porque emem relação
relação aos aos danos
danos materiais.
materiais Elecoisa
ocorreu agiu julgada.
bem ouQuestão
mal? Agiu bem! pública
de ordem É uma
pode ser examinada a qualquer tempo, é verdade, mas dentro do que foi subido para a sua análise. As
questões de ordem pública que podem subir neste caso são todas, mas somente todas do capítulo A. As
decisões de ordem pública do capítulo B já transitaram em julgado. Se for caso de incompetência, por
ex., o sujeito prejudicado que proponha uma ação rescisória do capítulo B.
Atenção para isso, porque todo mundo erra!
☺art. 515, CPC – é um art. da apelação que se aplica para todos os recursos (assim como o art.
519):
“A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada” →é a extensão do
efeito devolutivo.
§1º: “Serão porém objeto de apreciação e julgamento pelo tribunal todas as questões suscitadas
e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro” é a profundidade do

efeito devolutivo. Mas atenção: a profundidade é tudo de tudo o que foi impugnado!
§2º: “Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um
deles, a apelação devolverá ao tribunal o conhecimento dos demais ” é também a profundidade do

efeito devolutivo. Mas aqui vale a mesma premissa: sobe tudo de tudo o que foi impugnado (e apenas
do que foi impugnado).

4) Efeito regressivo: é o efeito que alguns recursos têm de permitir o juízo de retratação pelo
juízo a quo. É o que acontece com os agravos (todos), com a apelação contra a sentença que indefere a
petição inicial, e, ainda, com a apelação nas causas do ECA. Em todos esses casos temos um recurso
com efeito regressivo, porque permite a retratação, a revogação pelo juiz.

5) Efeito expansivo subjetivo: a regra é a de que o recurso só produza efeito para o recorrente, só
que, em algumas situações, o recurso pode produzir efeitos para outra parte, além do recorrente. Nesses

175
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
casos, fala-se num efeito expansivo subjetivo, exatamente porque expande os efeitos a outros sujeitos,
que se beneficiarão com o recurso. São situações excepcionais, mas que existem.
Ex.1: recurso de litisconsorte unitário aproveita aos demais litisconsortes.
Ex.2: recurso de devedor solidário aproveita ao outro, desde que verse sobre questão comum.
Ambos os casos estão no art. 509, CPC: “O recurso interposto por um dos litisconsortes a todos
aproveita, salvo se distintos ou opostos os seus interesses. Parágrafo único. Havendo solidariedade
passiva, o recurso interposto por um devedor aproveitará aos outros, quando as defesas opostas ao
credor lhes forem comuns”.
Ex.3.: ED opostos por uma parte interrompem o prazo recursal para ambas as partes.

6) Efeito substitutivo: o julgamento de um recurso substitui a decisão recorrida. A decisão


recorrida deixa de existir e em seu lugar entra a decisão que julgou o recurso. É como se houvesse uma
sucessão. A decisão que julgou o recurso, que é a última decisão, é que será o alvo de uma futura ação
rescisória.
Observações:
1) Percebam que esse efeito só ocorrerá se o recurso for conhecido. É preciso que o recurso
tenha sido julgado.
2) Só existe um caso de decisão que julga o recurso e não substitui: é a decisão que julga o
recurso e acolhe o pedido de invalidação (não há substituição, o Tribunal desfaz a decisão
recorrida).

Atenção:
☺ Material sobre recurso adesivo (no material de apoio).

176
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

 RECURSOS EM ESPÉCIE:

 APELAÇÃO:

- Generalidades:

Grande parteé um
A apelação das recurso
regras quanto
contra aa apelação
sentença jáe seu
foram vistas
prazo é dena15parte
dias.de Teoria dos Recursos.
☺art. 513 e seguintes, do CPC.

- Efeito suspensivo da apelação:

A regra entre nós é a de que a apelação tem efeito suspensivo por força de lei. Há casos, porém,
em que a lei tira o efeito suspensivo. Nesses casos em que a lei tira o efeito suspensivo, é possível obtê-
lo, mas para tanto é preciso uma decisão judicial que lhe atribua esse efeito. Nessas situações, o apelante
costuma entrar com uma ação cautelar para pedir o efeito suspensivo à apelação.

→ Casos em que a apelação não tem efeito suspensivo por força de lei:

☺art. 520, CPC: “A apelação será recebida em seu efeito devolutivo e suspensivo. Será, no
entanto, recebida só no efeito devolutivo, quando interposta de sentença que: I - homologar a divisão ou
a demarcação; II - condenar à prestação de alimentos; IV - decidir o processo cautelar; V - rejeitar
liminarmente embargos à execução ou julgá-los improcedentes; VI - julgar procedente o pedido de
instituição de arbitragem; VII - confirmar a antecipação dos efeitos da tutela ”.

- Quanto aos incisos I, II, IV e VI não há problemas (e o inciso III foi revogado).

- Quanto ao inciso V, este sim merece maior análise: a rejeição produz efeitos imediatamente, o
que significa que a execução irá prosseguir. Como agora, os embargos à execução são próprios da
execução de título extrajudicial, que se executa definitivamente, essa execução volta a correr como
execução definitiva.
É isso que foi posto na Súm. 317, STJ: “É definitiva a execução de título extrajudicial, ainda que
pendente apelação contra sentença que julgue improcedentes os embargos” – ou seja, parou como
definitiva, volta a correr como definitiva.
Sempre foi assim, até que há 2 anos houve uma reforma no Código, que reescreveu o art. 587,
CPC: “É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória enquanto pendente
apelação
suspensivoda(art.
sentença
739)”. de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito
Ou seja, este novo texto do art. contradiz a súmula – a execução era definitiva, foi suspensa pelos
embargos, os embargos foram rejeitados e, ao invés de voltar a correr como estava, a execução volta a
correr como provisória. É um dispositivo péssimo, bizarro, e que revogou a Súm. 317, STJ: a execução é
definitiva, tem uma sentença que a confirma, e, ao invés de ela se tornar ainda mais definitiva, ela se
torna provisória. Assim, o exeqüente ganha, mas tem sua situação piorada.
Mas atenção para a redação deste art., que cai muito em concurso.
Atenção para o trecho final do art.: “...improcedência dos embargos do executado, quando
recebidos com efeito suspensivo” – leia-se: quando os embargos forem recebidos com efeito suspensivo

177
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
(o que foi recebido com efeito suspensivo foram os embargos, e não a apelação!). Tanto que o art. nos
remete ao art.739, que é um art. que trata dos embargos.

- Quanto ao inciso VII: ele diz que a apelação não tem efeito suspensivo quando a sentença
confirmar a antecipação dos efeitos da tutela. Isso significa que houve uma tutela antecipada, veio a
sentença e confirmou a tutela antecipada. Esta sentença que confirma a tutela antecipada é impugnável
por apelação sem efeito suspensivo. Aqui precisamos fazer duas ponderações:
a) este dispositivo também se aplica aos casos em que o juiz concede a tutela antecipada na
sentença; isso significa que se a antecipação de tutela for concedida na sentença, ela é impugnável por
apelação sem efeito suspensivo. Obs. A antecipação da tutela funda-se em cognição sumária. Mas uma
antecipação de tutela dada na sentença funda-se em cognição exauriente. Questão: cabe tutela antecipada
fundada em cognição exauriente? Sim, quando concedida na sentença.
b) imaginem que houve a tutela antecipada e que o juiz revogou a tutela antecipada na sentença
(ao invés de confirmá-la) – esta situação não está no inciso VII, então, imaginemos que esta apelação
contra a sentença que revoga a tutela antecipada tenha efeito suspensivo – se isso acontecer, a tutela
antecipada permanece, porque a apelação vai suspender a sentença e, portanto, suspender a revogação,
ou seja, a tutela antecipada vai continuar mesmo com uma sentença de mérito que tenha julgado
improcedente a tutela antecipada. Isso seria uma situação muito esdrúxula, é uma hipótese que não tem
sentido (uma tutela antecipada não pode prevalecer diante de uma sentença definitiva). Então, a doutrina
estabeleceu (e a jurisprudência acolheu) que a apelação não tem efeito suspensivo da sentença que
confirma ou revoga a antecipação de tutela. Esta foi uma interpretação que se fez para dar sentido ao
dispositivo (não é disposição expressa).

Por fim, ainda quanto ao efeito suspensivo, devemos fazer duas observações:
- existem outros casos previstos de maneira esparsa em que a apelação não tem efeito
suspensivo: interdição, sentença que concede MS e HD, sentença em ação de despejo e em ACP.
- é fundamental
se a sentença nos recordarmos
tiver vários aquiacontecer
capítulos, pode novamentededoaproblema
apelaçãodossercapítulos
recebida dacom
sentença:
efeito
suspensivo em relação a um deles e não o ser em relação a outro. É o que acontece por ex. no
caso de uma sentença em que o juiz julgou na mesma sentença a cautelar e a principal, e houve
apelação – essa apelação será recebida no efeito suspensivo em relação ao capítulo principal, mas
em relação ao capítulo cautelar não.

- Efeito desobistrutivo da apelação:

☺art. 515, §3º, CPC: “Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o
tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em
condições de imediato julgamento”
Até anos atrás a situação era a seguinte: se o juiz proferisse uma sentença terminativa (sentença
que não examinou o mérito), se alguém apelasse dessa sentença terminativa, o máximo que o tribunal
poderia fazer no julgamento da apelação, como o mérito não foi examinado em primeira instância, era
mandar voltar à primeira instância para que o juiz analisasse o mérito.
Veio depois o §3º do art. 515, que permite agora, numa situação como esta, de apelação de uma
sentença terminativa, que o tribunal possa avançar e julgar o mérito. Este dispositivo confere ao tribunal
a competência para decidir o mérito numa situação como esta, pela primeira vez. Trata-se, pois, de um
avanço muito grande, muito significativo em busca da celeridade processual.
Por isso o nome: efeito desobstrutivo da apelação, pois criou-se a possibilidade de a apelação
libertar, desobstruir aquele obstáculo antes existente no exame do mérito.
Isto não tem nada a ver com o efeito translativo. A apelação é julgada e, se provida, o tribunal
avança e julga o mérito.
É preciso, porém, entender, quais são os pressupostos para que o tribunal possa fazer isso:

178
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
a) é preciso que a apelação seja provida: o tribunal só poderá examinar o mérito se a apelação for
provida; se a apelação na foi provida é porque o juiz de 1º grau acertou, fez o que tinha que fazer. O
julgamento de mérito é posterior ao próprio julgamento do recurso. O recurso apenas permite o
julgamento do mérito.
b) é preciso que a apelação seja uma apelação por error in iudicando: porque se a apelação for
por error in procedendo o tribunal vai anular a decisão, e então não poderá avançar para reformar a
decisão;
c) é preciso que a causa esteja “madura”: causa madura é a causa qu e está pronta para ser
decidida, ou seja, o tribunal deve perceber que o mérito tinha que ter sido julgado e não foi, e, ainda, que
a causa já estava pronta para ser julgada.

Esses 3 pressupostos são indiscutíveis. O prof. adota uma corrente que apresenta um 4º
pressuposto, mas que quanto a ele há polêmica. Segundo ele, é ainda preciso que o apelante requeira ao
tribunal que avance e julgue o mérito. Há quem entenda que isso pode ser feito de ofício, mas o prof.
entende que não, que o apelante teria que pedir.

Esse parágrafo pode ser aplicado a outros recursos? Este parágrafo tem sido aplicado ao Recurso
Ordinário constitucional e aos Jesp’s.

- Alegação de fatos novos na apelação:

É possível alegar fatos novos no julgamento de uma apelação, desde que os fatos sejam novos.
Mas também podem ser alegados fatos cuja existência só apareceu posteriormente. Ou seja, se por
motivo de força maior não se pode alegar o fato antes, será possível alegá-lo em apelação (neste caso o
fato não é novo, mas o seu conhecimento é).

☺art. 517, CPC: “As questões de fato, não propostas no juízo inferior, poderão ser suscitadas
na apelação, se a parte provar que deixou de fazê-lo por motivo de força maior ”.

- Juízo de Admissibilidade:

A apelação será interposta perante o juiz que proferiu a sentença. Será feito o juízo de
admissibilidade. Manda ouvir o apelado. Quando voltarem as contra-razões do apelado, o juiz poderá
fazer um novo juízo de admissibilidade. Portanto, a apelação passa por dois juízos de admissibilidade
em 1ª instância: o 1º, logo que é interposta e o 2º, após as contra-razões do apelado.

- Súmula impeditiva do recurso:

Já vimos o que é Súmula, e também o que é precedente. Já vimos que o precedente pode ter por
efeito exatamente impedir recurso (ele pode ser persuasivo, vinculante ou impeditivo de recurso).
A súmula de tribunal superior (STJ e STF) é sempre uma súmula impeditiva de recurso. Ou seja,
se o juiz decide com base nela, essa decisão não pode ser apelada. Não podemos apelar contra sentença
que se funda em súmula do STJ ou do STF. Uma eventual apelação neste caso nem seria recebida.
Esta súmula não é vinculante, não é de observância obrigatória, mas se for observada, impede o
recurso. O que se impede no §1º é que se discuta a tese sumulada.
Agora, dentro da súmula de tribunal superior, no caso do STF, temos ainda a súmula vinculante,
que é um subconjunto das súmulas do STF. Toda súmula vinculante é impeditiva, porque ela além de
vincular, além de ser de observância obrigatória, ela ainda impede o recurso. Mas há súmulas que não
são vinculantes, são apenas impeditivas.

179
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
☺§1º, do art. 518, CPC: “ O juiz não receberá o recurso de apelação quando a sentença estiver
em conformidade com súmula do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo Tribunal Federal ”.
Mas há casos em que este dispositivo não se aplica. Ou seja, há casos em que a sentença se
baseia em súmula, mas a apelação terá que ser recebida. É o que acontece nos seguintes casos:
1º) se a apelação for para invalidar a sentença, ela terá que subir, porque ai o apelante não está
discutindo a súmula, a opinião, a orientação do juiz, mas ele quer sim anular a sentença;
2º) se o apelante, por acaso, fizer o distinguishing na apelação, ou seja, dizendo que o seu caso
não é caso para a aplicação da súmula;
3º) se na apelação o apelante traga argumentos para o overruling, ou seja, para superar a súmula,
para superar o precedente. Dúvida: mas como fica a questão que somente o STF pode fazer o overruling
de sua própria súmula?

- Correção de defeitos na apelação:

☺§4º, do art. 515, CPC: “ Constatando a ocorrência de nulidade sanável, o tribunal poderá
determinar a realização ou renovação do ato processual, intimadas as partes; cumprida a diligência,
sempre que possível prosseguirá o julgamento da apelação”.
Ou seja, se o tribunal vai julgar a apelação e constata que há algum defeito sanável, deve
proceder à correção do defeito (deve determiná-la), e não invalidar o processo por causa deste defeito.
Há quem diga que atualmente não pode mais haver inadmissibilidade por falta de preparo,
porque este é um defeito sanável, que o tribunal teria que mandar corrigir, e tão somente se ele não for
corrigido é que o tribunal poderia então inadmitir o recurso. Quanto a isso já havia regras na disciplina
das nulidades que permitia isso, mas este art. veio como uma garantia expressa.


EMBARGOS DE DECLARAÇÃO:

- Conceito e hipóteses de cabimento:

Os embargos de declaração é um recurso estranho, porque ele cabe contra qualquer decisão, no
prazo de 5 dias, não tem preparo, e vai ser julgado pelo mesmo órgão que proferiu a decisão recorrida
(embargada). Obs. O STF tem o entendimento peculiar de que não cabem ED contra decisão de relator.
Assim, não há alteração de instâncias: se foi o juiz que proferiu a decisão, ele julgará os ED; se
foi uma turma, ela julgará os ED; se foi o relator, ele julgará.
Os ED é um recurso de fundamentação vinculada. Só cabem em hipóteses previamente
definidas: omissão, obscuridade ou contradição na decisão.
A jurisprudência, porém, começou a admitir ED contra decisões ultra ou extra petita, mesmo
sem previsão legal. Também passou a aceitar ED por erro material (já que o erro material pode ser
corrigido de ofício).
A CLT,
requisitos no art.de897-A
extrínsecos prevê outra
admissibilidade do hipótese de cabimento depreparo
recurso (tempestividade, ED: ED por erro no formal).
e regularidade exame dos
A Lei dos Jesp´s prevê expressamente uma 4ª hipótese de cabimento de ED (além da
obscuridade, contrariedade ou omissão): quando houver dúvida. Esta hipótese já existia na redação
srcinária do CPC, mas o código foi alterado em 1994, e a lei dos jesp´s é de 1995 (o projeto desta lei foi
feito com base no CPC, mas não acompanhou a alteração do código).
A dúvida não pode ser uma hipótese para ED simplesmente porque uma sentença não pode ter
dúvida. Decisão gera, causa dúvida, mas não tem dúvida. Por isso, esta previsão é inaplicável.

180
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- Natureza jurídica da decisão que julga os embargos de declaração:

O julgamento dos ED tem a natureza da decisão embargada. Se eu embargo uma sentença, o


julgamento dos ED será uma sentença, porque o julgamento dos ED se incorpora ao julgamento
embargado, passa a fazer parte do julgamento embargado, como se fosse uma coisa só. O julgamento
dos ED completa o julgamento embargado.

Pergunta: Cabem embargos infringentes contra acórdão que julgou embargos de declaração?
Pelo art. 530, CPC poderíamos ter a impressão de que não cabem, mas cabem sim, desde que o
acórdão dos ED tenham natureza de acórdão de apelação– e ele terá esta natureza de acórdão de
apelação contra
apelação se se tratar dedeembargos
decisão opostos
ED, se tiver contra
natureza acórdão de apelação. Nesse sentido, também cabe
de sentença.

- Efeitos dos embargos de declaração:

1) Efeito interruptivo: os ED interrompem o prazo para a interposição de qualquer outro recurso.


Essa interrupção vale para ambas as partes. Até 1994, os ED suspendiam o prazo para outro recurso. A
lei dos Jesp mantém a referência em relação à suspensão (mudaram o CPC, mas não alteraram o projeto
da lei dos juizados). A lei dos juizados fala: “embargos de declaração contra sentença”. O STF entendeu
que no âmbito dos juizados, os ED só suspendem se forem opostos contra sentença. Se opostos contra
acórdão de turma recursal, irão interromper o prazo.

2) Efeito devolutivo: os ED também têm efeito devolutivo, como qualquer recurso. Ocorre que,
como os ED serão julgados pelo mesmo órgão que proferiu a decisão embargada, há quem diga que isso
não é efeito devolutivo (não haveria devolutividade). Barbosa Moreira, por ex., defende isso, mas seu
entendimento não é o que prevalece.
3) Efeito suspensivo: os ED têm efeito suspensivo se o recurso contra aquela decisão tiver efeito
suspensivo.

4) Efeito modificativo: pode aparecer no concurso com o nome de “efeito infringente dos
embargos de declaração”. Atenção para não confundir este efeito dos ED com os embargos infringentes
(que é um recurso). Este é o efeito dos embargos de alterar a decisão embargada. Ou seja, os ED podem
gerar uma modificação da decisão embargada. Ex.: se o tribunal supre a omissão, ao fazê-lo estará
mudando a decisão. Atenção: não há no código previsão para contra-razões aos ED, mas veio a
jurisprudência e passou a exigir contra-razões nos casos em que os embargos puderem ter efeito
modificativo. Exatamente porque os ED podem ter efeito modificativo, surgiu o seguinte problema: sai
uma sentença, uma parte embarga e a outra apela – quando isso acontece, o juiz terá que julgar os ED, e
o fazendo, pode ser que a decisão mude, e, ai, uma parte já havia apelado com base na decisão que
sofreu alteração por conta do julgamento dos ED – se isso acontecer, a parte que apelou terá direito a

complementar
alteração a sua apelação,
(a doutrina chama estaempossibilidade
mais 15 dias,
de e“Princípio
esse complemento deve ser só daquilo
da Complementaridade” que sofreu
– atenção: não é
complementariedade – porque quando o adjetivo termina em “r”, basta acrescentar “idade”, enquanto
que se terminar com ditongo, como no caso de “extraordinário”, devemos acrescentar “iedade”).

- Embargos de declaração protelatórios:

Como os ED interrompem o recurso, eles acabam sendo muito utilizados para protelar o
processo. Eles servem, pois, quase que naturalmente para protelar o processo.
Por isso o código trata com muito rigor esta hipótese.

181
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I

☺P.U. do art. 538:


“Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o tribunal, declarando que o são,
condenará o embargante a pagar ao embargado multa não excedente de 1% (um por cento) sobre o
valor da causa. Na reiteração de embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por cento),
ficando condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor respectivo”.
Trata-se de um sistema rigoroso de punição aos embargos meramente protelatórios. Para o prof.,
não é possível entrar com um 3º ED protelatório, por isso a punição até o 2º.
De acordo com a Súm. 98, STJ, embargos de declaração com intuito de pré-questionamento não
têm caráter protelatório.

 EMBARGOS INFRINGENTES:

É um recurso que só cabe contra acórdão. E é preciso que se trate de um acórdão não-unânime
(ou seja, aquele em que houve voto divergente).
É cabível em acórdão não-unânime em julgamento de apelação ou em julgamento de ação
rescisória. Isso reduz ainda mais o cabimento do recurso.
É preciso, ainda, que seja um acórdão que tenha reformado sentença de mérito por maioria em
julgamento de apelação. No caso da rescisória só cabem se o acórdão não-unânime de rescisória tiver
rescindido a sentença.
São hipóteses muito específicas.
Seu objetivo é fazer com que o voto vencido prevaleça. Este recurso não tem por objetivo a
unanimidade, mas sim, que haja uma nova decisão para que prevaleça o posicionamento do voto
vencido.
Obs. Não esquecer do problema de cabimento dos embargos infringentes contra acórdão de
agravo regimental ou de embargos de declaração.
Isso tudo é o básico em tema de embargos infringentes. Mas este é um assunto que, nos
concursos, não é cobrado de maneira básica. Existe uma série de questões polêmicas sobre o tema que
precisam ser analisadas:
1) **Não cabem Embargos infringentes em Mandado de Segurança: ☺ Súm. 169, STJ e Súm.
597, STF.
2) Cabem embargos infringentes em falência: ☺ Súm. 88, STJ.
3) Discute-se bastante se cabem embargos infringentes em julgamento de remessa necessária,
porque o CPC só fala de apelação e rescisória. Só que a remessa necessária, embora não seja apelação,
faz as vezes de apelação, de modo que muita gente (inclusive o prof.) defende que cabem EI em
julgamento de remessa necessária, havendo inclusive algumas decisões do STJ nesse sentido. Sucede
que mesmo o STJ também tem decisões não admitindo EI em julgamento de remessa necessária (é
questão polêmica ainda não resolvida definitivamente). O antigo TFR tinha uma súmula sobre isso (a
Súm. 77), que era favorável aos EI em reexame necessário.
4) Embargos infringentes e capítulo relativo aos honorários advocatícios: há muitas decisões do
STJ não admitindo EI para discutir apenas o capítulo relativo aos honorários advocatícios. Não há
fundamentação para tanto, mas tais decisões existem.
5) Embargos infringentes e o §3º, do art. 515, CPC: este dispositivo é aquele que permite ao
Tribunal que avance para julgar o mérito pela primeira vez na apelação (o mérito não havia sido
analisado em 1º grau). A dúvida aqui é: se o Tribunal julga o mérito com base neste dispositivo, cabem
EI? O caso do §3º do art. 515 é um caso em que a sentença não é de mérito, é uma sentença que não
examinou o mérito, e, por não ser uma sentença de mérito (e sim terminativa), não se encaixaria nas
hipóteses dos EI (que pressupõe uma reforma de uma sentença de mérito). Mas o fato é que os EI são
admitidos. Tem prevalecido, atualmente, a idéia de que o que importa para que caibam os EI é que o

182
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
acórdão da apelação seja de mérito. Como o acórdão do §3º, do art. 515 é um acórdão de mérito (que
julgou o mérito), naquela hipótese seria possível a interposição dos EI.
6) Cabem embargos infringentes em julgamento de agravo? Esta polêmica é a mais importante
dentre todas (porque as demais são básicas e devem ser de conhecimento de todos). Pela leitura do
código não é cabível, pois os EI só cabem contra acórdão de apelação ou de rescisória. Mas a
jurisprudência e a doutrina admitem EI em julgamento de agravo, se o julgamento do agravo for um
julgamento de mérito. Este posicionamento está consolidado numa súmula do STJ, a Súm. 255. Sucede
que dentro desse problema maior que é saber se cabem EI no julgamento de agravo há um problema
menor: saber se cabem EI no julgamento de agravo interno ou regimental. Esta pergunta já foi feita em
questão discursiva em concurso e é reputada como muito difícil pelo prof. Atenção para ela!
Historinha para melhor entender a matéria: “Era uma vez” uma apelação que foi julgada
monocraticamente pelo relator. Dessa decisão monocrática do relator foi interposto agravo regimental.
Esse agravo regimental será julgado pela turma, pelo órgão colegiado a que pertence o relator. O
colegiado, ao julgar o agravo regimental, terá duas alternativas: ou ele manterá a decisão do relator, ou
irá reformá-la. Se o colegiado mantiver a decisão do relator, significa que o colegiado concordou com o
julgamento da apelação que o relator fez. Se, porém, o colegiado reformar a decisão do relator, ele dará
à apelação outro julgamento (porque não concordou com o julgamento que o relator deu à apelação).
Assim, mantendo ou reformando a decisão do relator, o colegiado, ao julgar o agravo regimental, estará
julgando a apelação (do jeito que o relator julgou, se mantiver a decisão do relator; ou de outro jeito, se
reformar a decisão do relator). Conclusão: o julgamento do agravo regimental interposto contra decisão
do relator que julgou a apelação tem a natureza do recurso que foi julgado monocraticamente. Ou seja, o
julgamento do agravo regimental, neste caso, tem natureza de julgamento de apelação. Assim, para
responder à pergunta “Cabem EI em julgamento de agravo regimental?” é preciso responder que sim,
cabem, desde que o julgamento do agravo regimental tiver natureza de julgamento de apelação – o que
ocorrerá quando o recurso julgado monocraticamente pelo relator for apelação.

Obs. importante:
contra acórdão existe
que julgou RE ouumResp.
recurso que se chama
Pergunta: cabem Embargos
Embargos de
de Divergência. Essejulgamento
Divergência em recurso cabe
de
agravo regimental? Se o julgamento do agravo regimental tiver natureza de RE ou Resp., sim, cabe. É
exatamente o mesmo raciocínio visto acima.
☺ Súm. 316, STJ: “Cabem embargos de divergência contra acórdão que, em agravo regimental,
decide recurso especial”.
Assim, onde se lê “divergência” nesta súmula, leia-se “infringentes”. E onde se lê recurso
especial, leia-se “apelação” “Cabem embargos de infringência contra acórdão que, em agravo

regimental, decide apelação”.

Essas são as polêmicas sobre os embargos infringentes.


Ainda devemos saber, porém, que os EI são á última possibilidade que temos de recorrer dentro
da instância ordinária. Eles são o último dos recursos ordinários. Como existe uma regra de que os
recursos extraordinários somente podem ser interpostos após o esgotamento das instâncias ordinárias, os
EI acabam sendo a última opção dos recorrentes. De modo que, se cabem EI, não cabe recurso
extraordinário (primeiro eu tenho que me valer dos EI, para só depois entrar com o RE).
☺Súm. 207, STJ: “É inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes
contra o acórdão proferido no tribunal de srcem ”.
Problema: Imaginemos um acórdão que tenha dois capítulos, sendo que o capítulo 1 é um
capítulo unânime e o capítulo 2 é um capítulo não-unânime. Sabemos que contra o capítulo não-unânime
cabem os EI. E contra o capítulo unânime, como não cabem EI, caberá RE ou Resp. Sabemos também
que depois que os EI forem julgados, ainda poderá caber RE ou Resp. do capítulo não-unânime. Assim,
é possível imaginarmos até 5 recursos: EI contra o capítulo não-unânime, RE contra o capítulo unânime,
Resp. contra o capítulo unânime, RE contra o capítulo não-unânime e Resp. contra o capítulo não-
unânime.
Para solucionar isso, faz-se o seguinte “acordo”: se vier um acórdão com um capítulo unânime e
outro não-unânime, a parte tem que esquecer o capítulo unânime (fazendo de conta que ele não existe –
183
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
o legislador pede para que ele espere e não entre com o Resp. e o RE só do capítulo unânime). E terá
então 15 dias para recorrer só do capítulo não-unânime.
Se a parte entrar com os EI, eles serão julgados e do acórdão que julgar os EI caberá Resp. e RE
contra tudo. O legislador racionalizou. Ao invés de o sujeito entrar com um Resp. lá no início e depois
com outro no final, ele espera para entrar com um Resp. só ao final.
Porém, como vimos, existem duas possibilidades: o sujeito entrar ou não com os EI.
Se ele não entrar com os EI nos 15 dias, o capítulo não-unânime transita em julgado. Faz coisa
julgada, já que ele poderia ter recorrido e não o fez. Assim, automaticamente contam-se 15 dias para que
ele entre com o Resp. ou RE contra o capítulo unânime (e só contra ele).
☺art. 498, CPC: “Quando o dispositivo do acórdão contiver julgamento por maioria de votos e
julgamento unânime, e forem interpostos embargos infringentes, o prazo para recurso extraordinário ou
recurso especial, relativamente ao julgamento unânime, ficará sobrestado até a intimação da decisão
nos embargos”.
☺P.U.: “Quando não forem interpostos embargos infringentes, o prazo relativo à parte unânime
da decisão terá como dia de início aquele em que transitar em julgado a decisão por maioria de votos ”.
fff

 AGRAVOS:

- Agravos contra decisões interlocutórias de 1ª instância: Retido e de Instrumento

Já vimos que contra as decisões interlocutórias de 1ª instância ou cabe agravo retido, ou cabe
agravo de instrumento.
Atualmente não há mais opção por um ou por outro. A agravante não pode escolher se vai entrar
com agravo retido ou agravo de instrumento. Ele não tem mais esta opção. Ele deve entrar com um ou
com outro, dependendo da situação. Não há mais nenhuma situação em que ele pode se valer de um ou
de outro.
Temos, pois, que saber quando é caso de um e quando é caso de outro.
Primeiramente, porém, devemos fazer uma observação: o que significa dizer que o recurso é
retido?
Recurso retido é aquele que não é processado; ele fica preso nos autos, à espera, na dependência
de uma confirmação posterior do recorrente. O recorrente recorre, evita a preclusão, mas precisará,
futuramente, confirmar aquele recurso, sob pena do seu recurso não ser conhecido.
O agravo retido precisa ser confirmado na apelação ou nas contra-razões de apelação. Caso
contrário o agravo não será examinado; é como se houvesse uma desistência desse agravo.
O agravo retido tem uma potencialidade de efeito destrutivo muito grande. Ele sendo confirmado
futuramente, quando da decisão final, pode anular tudo.

Existem 3 regras de obrigatoriedade para o agravo de instrumento, sendo que, se tais regras
forem superadas, será caso de agravo retido. São elas:

1ª) Cabe agravo de instrumento em situações de urgência: se a situação é urgente, ou seja, se há o


risco de dano irreparável ou de difícil reparação, é caso de AI, e esta é a sua previsão mais importante.
Tanto é assim, que o art. 527, II diz que se não houver urgência o AI será convertido em AR, pelo
relator do AI. ☺P.U. deste art. 527: “dessa decisão que converte o AI em AR não cabe agravo
regimental”.
Ex.: decisão que antecipou tutela AI. Esta é a regra básica.

2ª) Caberá agravo de instrumento sempre que a lei expressamente previr isso: ai pouco importa
se há ou não há urgência. Aqui aquela regra de conversão vista acima não se aplica. Se for caso de AI
por previsão legal, não se converte em AR se não houver urgência.

184
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Casos de AI por expressa previsão legal:
- decisão que não recebe a apelação;
- decisão que recebe a apelação em efeitos diversos;
- decisão que decreta a falência;
- decisão que julga liquidação de sentença;

3ª) Cabe agravo de instrumento quando o agravo retido for incompatível com a situação:
vejamos 3 casos de incompatibilidade:
- agravo em execução: é sempre por instrumento, porque não é possível entrar com AR
em execução (não dá pra confirmar nunca, ou somente quando já não houver mais necessidade de
se fazer mais nada);
- decisões parciais: é sempre por instrumento (se adotarmos a idéia de que as decisões
parciais são agraváveis e não apeláveis, é claro) – o AR também é incompatível;
- declinação de competência do juiz estadual para o juiz do trabalho: na JT não há agravo
retido, e, assim, não seria possível confirmar este AR, por isso é caso de AI.

Superadas essas 3 regras, será caso de agravo retido.

→ Peculiaridades do Agravo Retido:

O agravo retido não tem preparo e é interposto diretamente no juízo a quo. Ele tem duas
espécies:
a) agravo retido contra decisões escritas: se a decisão agravada pelo AR for uma decisão escrita
do juiz (ex.: decisão que convoca para o julgamento antecipado da lide), o AR será escrito e em 10 dias.
b) agravo retido contra decisões proferidas em audiência: a lei fala em AIJ, mas temos que
entender apenas audiência – leia-se: decisões orais – neste caso o AR tem de ser oral e tem de ser feito
na mesma hora. Se passar a decisão, preclui.

Pergunta de prova aberta do MP: O juiz, em audiência, antecipa a tutela. Entre com o recurso
cabível.
É caso de agravo de instrumento! A primeira coisa que devemos fazer é examinar as 3 regras. Se
for caso de agravo retido, ai sim será caso de agravo retido oral, mas já que é caso de AI, não vai ser AR
oral. Decisão proferida em audiência é oral, somente se for impugnável pro agravo retido. Se for
impugnável por AI, não importará se foi proferida em audiência ou não.

Atenção: aquela regra de conversão do instrumento em retido só se aplica aos casos de agravo
retido contra decisões escritas! Porque é este agravo que tem prazo (10 dias). Por isso não seria possível
que o advogado deixasse passar os dias e depois agravasse de instrumento, pensando que o máximo que
poderia ocorrer era o tribunal converter o instrumento em retido (depois de ele já ter tido prazo
suficiente para redigir o seu agravo – quando na verdade ele deveria tê-lo feito imediatamente em
audiência).

→ Considerações sobre o Agravo de Instrumento:

O agravo de instrumento é o único recurso que é interposto diretamente no órgão ad quem. Ou


seja, ele vai diretamente para o órgão que vai julgá-lo.
Ele tem prazo de 10 dias.
O agravo de instrumento é um recurso que vem acompanhado de uma série de documentos que
têm o propósito de reproduzir no tribunal o que está acontecendo em 1ª instância. Esta série de

185
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
documentos deverá ser autuada, se transformando em um caderno próprio, um instrumento processual.
Daí o nome “agravo de instrumento”.
Cabe ao agravante formar este conjunto de documentos, com cópias de peças relevantes. E essas
cópias podem ser declaradas autênticas pelo próprio advogado.
Quais são esses documentos?
Existem aqueles documentos que a lei impõe que sejam juntados sempre:
- cópia da decisão agravada,
- cópia da procuração do agravante,
- cópia da procuração do agravado, e
- certidão de intimação da decisão (esta última serve para comprovar a tempestividade do
seu recurso – é exatamente por isso que a jurisprudência, com razão, diz que quando a
tempestividade do recurso é manifesta, a certidão de intimação é dispensável – ex.: se o juiz
decidir de manhã e o advogado agravar de tarde).

A jurisprudência, contudo, criou uma figura esdrúxula: diz que o agravo deve vir acompanhado
de peças indispensáveis à compreensão da controvérsia. Foi uma válvula criada pela jurisprudência para
que o agravo não fosse conhecido.
No concurso devemos escrever: “este agravo vem acompanhado da reprodução integral dos autos
em 1ª instância, mais a certidão de intimação” – e, ai, não haverá como se alegar que não foi juntada
uma peça indispensável à compreensão da controvérsia, já que foi tudo juntado.

O agravante tem o prazo de 3 dias (depois de agravar) para ir ao juízo de 1ª instância e juntar a
cópia do agravo, a relação de documentos do agravo, e a cópia do protocolo de interposição. Se ele não
fizer isso, e o agravado alegar e provar esta falta do agravante, o recurso não será conhecido. Trata-se de
uma peculiaridade: ou seja, só não será conhecido se o agravado alegar.
☺art. 526, CPC: “O agravante, no prazo de 3 (três) dias, requererá juntada, aos autos do
processo de cópia
como a relação dosda petição doque
documentos agravo de instrumento
instruíram o recurso”e do comprovante de sua interposição, assim

O agravo de instrumento não tem efeito suspensivo legal, cabe, pois, ao agravante pedir o efeito
suspensivo e caberá ao relator analisar este pedido.
☺art. 558 c/c art. 527, III, CPC.

Imaginemos uma interlocutória em que o juiz negue uma tutela antecipada. O autor vai agravar –
agravo de instrumento – ele vai entrar com AI contra uma decisão que nega uma tutela antecipada. É
possível pedir efeito suspensivo de uma decisão que não concedeu o que se pediu? O Tribunal pode
suspender uma decisão que de resto foi negativa? O tribunal pode suspender a não-decisão?
Suspender os efeitos de uma decisão negativa é conceder o que foi negado. Assim, os advogados
começaram a pedir efeito suspensivo para decisões negativas, o que é um efeito suspensivo estranho, já
que serve para ativar, para dar, e não para desativar, para tirar. É para ganhar alguma coisa, aquilo que
havia sido negado. Por isso esse efeito passou a ser chamado de efeito suspensivo ativo.
Atualmente ele já não é mais chamado assim. O código resolveu tratá-lo como uma antecipação
da tutela recursal (o autor pede que lhe seja antecipado a tutela do que lhe foi negado em 1ª instância).
☺art. 527, III.

Pergunta: Pendente agravo de instrumento, sobrevindo sentença, o agravo cai?


Depende. O agravo pode cair, como pode sobreviver. Ele vai sobreviver, ou seja, permanece
mesmo com a superveniência da sentença, se o seu julgamento puder implicar nulidade da sentença (ex.:
quando se discute competência no agravo); se provido puder atingir a validade da sentença, podendo
derrubá-la. E ele sobreviera ainda que ninguém apele. A sentença ficará sob condição, à espera do
julgamento do agravo.

186
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
 RECURSO ESPECIAL E RECURSO EXTRAORDINÁRIO:

Até 1988 não havia STJ, só havia o STF. E porque não havia STJ, também não havia Resp. tanto
o STJ como o Resp. são criações da CR/88.
Até então só havia recurso extraordinário para o STF, RE este que servia tanto para o controle da
legislação federal, quanto para o controle da Constituição. Tanto é que em súmulas mais antigas do STF
há matérias típicas de lei federal.
Com a criação de um outro Tribunal Superior, pegaram uma parte do antigo RE (que dizia
respeito a matéria legal e não constitucional) e criaram um outro recurso, o Resp. Assim, o Resp. surgiu
de um pedaço do antigo RE.
Rigorosamente,
com outro portanto,
nome. De modo o Resp. éfalar,
que podemos um recurso
e se falaextraordinário. É metade
muito, em recurso do antigo RE,
extraordinário só que
em sentido
amplo, um gênero que abarca não apenas o RE para o STF, mas também o Resp. para o STJ (ambos são
espécies do gênero recurso extraordinário em sentido amplo).
Este recurso extraordinário em sentido amplo também é chamado de recurso excepcional ou
recurso de superposição.
Por conta dessa srcem comum, o RE e o Resp. têm uma série de características comuns e
algumas diferenças. Eles têm, na verdade, mais semelhanças do que diferenças.
Por isso aqui estudaremos primeiramente tudo o que for comum a ambos os recursos e, só
posteriormente falaremos de suas diferenças.

- Características comuns a ambos:

1) O prazo dos recursos extraordinários é de 15 dias.

2) Os recursos extraordinários não têm efeito suspensivo por força de lei, por isso eles permitem a
execução provisória. Surge então a dúvida: se se quiser pedir o efeito suspensivo ao recurso
extraordinário, a quem se deve dirigir esse pedido? A quem compete conceder o efeito suspensivo ao
recurso extraordinário? O recurso extraordinário é interposto sempre no tribunal de srcem. É o
Presidente do tribunal de srcem que o recebe. Enquanto não for feito o juízo de admissibilidade na
srcem, compete ao Presidente do Tribunal local examinar o pedido de efeito suspensivo. Feito o juízo
de admissibilidade na srcem, a competência será do Tribunal Superior. ☺ Súm. 634 e Súm. 635, STF.

3) Os recursos extraordinários são recursos de efeito devolutivo restrito. Isso porque eles são recursos de
fundamentação vinculada – só cabem recursos extraordinários para discutir questões de direito (questões
de direito federal pelo Resp., e questões de direito constitucional pelo RE).
É exatamente por conta disso que se diz que em recurso extraordinário não se pode pedir o
reexame de questões de fato.
É também por conta disso que se diz que não cabe recurso extraordinário para pedir o reexame
de prova (☺Súm. 07, STJ). Sobre esse entendimento da Súm. 07, STJ é preciso fazer a seguinte
observação: existem regras
podem ser discutidas de direito
num recurso probatório, regras
extraordinário. O que que
não regulam a produção
se pode discutir de provas
é o exame e tais regras
da prova, mas a
aplicação das regras de direito probatório (por ex.:. que impeça determinado meio de prova).
Por conta disso também se diz que não cabe recurso extraordinário para pleitear a revisão da
interpretação de cláusula contratual. Não é possível entrar com recurso extraordinário e pedir que o
tribunal superior reinterprete uma cláusula contratual. ☺ Súm. 05, STJ. Aqui devemos fazer uma
ponderação: às vezes a interpretação da cláusula contratual é indispensável para saber qual é o direito
aplicável ao contrato. Neste caso, quando isso acontecer, ou seja, quando a interpretação da cláusula
contratual for indispensável para que se saiba qual o direito aplicável ao caso, caberá recurso
extraordinário. Ex.: em muitos contratos de leasing há uma cláusula que pega o valor residual do
leasing e dilui nas parcelas; essa cláusula gerou uma discussão sobre se ela desnaturaria ou não o

187
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
contrato de leasing, transformando-o numa compra e venda. A interpretação dessa cláusula é
indispensável para saber se se trata de leasing ou de compra e venda. Por isso o STJ admitiu um Resp.
para discutir esta cláusula, já que isso determinaria qual o direito aplicável ao caso. ☺ Súm. 293, STJ.

Por conta disso tudo foi desenvolvido pela jurisprudência o instituto da prequestionamento.

- Prequestionamento:

Nasceu dentro desse contexto e é uma exigência para que o recurso extraordinário seja
conhecido.
Há 3 acepções do que seja prequestionamento:
II) Para uma primeira corrente, é a prévia provocação pelo recorrente da questão que ele
está discutindo no recurso; ou seja, se eu entro com um recurso extraordinário para
discutir uma questão X, haverá prequestionamento se eu já havia questionado aquilo
antes. O RE só pode ser aceito se ele trazer uma questão que a parte já havia suscitado.
Por isso que muita gente até hoje, já na petição inicial, diz que suscita a questão para fins
de prequestionamento (para depois nãos e dizer que ela não o tenha feito).
III) Para uma segunda corrente, o prequestionamento exige que a parte tenha suscitado e
o tribunal recorrido se tenha manifestado sobre a questão. A decisão recorrida tem que ter
enfrentado aquela questão que foi suscitada.
IV) Há ainda uma terceira posição que diz que o prequestionamento é apenas a prévia
manifestação pelo Tribunal sobre o tema recorrido. Basta, pois, que o tribunal tenha
examinado aquela questão, pouco importando que o recorrente tenha suscitado a questão.
Esta corrente tem um lado positivo: evitar surpresa, pois se a parte for surpreendida sobre
uma questão ainda não suscitada, pelo menos se terá a garantia de que é cabível RE sobre
ela.
O problema ocorre, pois, quando a parte se manifestou, provocando, suscitando a questão, e o
tribunal não se manifesta sobre ela. Quando isso ocorre é preciso entrar com embargos de declaração. Se
o tribunal suprir a omissão, estará resolvido o problema.
Mas, se o tribunal se mantiver omisso, ai há uma divergência:
- para o STF, há prequestionamento (a parte fez sua parte, e pode entrar com o RE) – é o
que se chama de prequestionamento ficto (porque não houve manifestação do tribunal, mas se
reputa que ela existiu, já que a parte provocou o tribunal e este se manteve omisso - ☺Súm. 356,
STF.
- já o STJ entende que não há prequestionamento (é o posicionamento do “Tribunal da
cidadania”!). ☺ Súm. 211, STJ. A solução (absurda) então é a seguinte: não tem
prequestionamento, mas é possível entrar com Resp. para anular a decisão que se manteve
omissa, já que ela ofendeu os arts. do código que obrigada o tribunal a se manifestar. Ai o STJ
vai anular a decisão e vai mandar descer o processo para o tribunal se manifestar. Ai então o
tribunal vai se manifestar sobre a questão e, só então, a parte (na verdade seu espólio) poderá
entrar com o outro Resp.
Obs.: Prequestionamento implícito: é aquele em que o tribunal se manifesta sobre a questão, sem
fazer referencia a texto da lei (ele não cita o texto da lei, mas examina a lei). Ex.: extingo o processo por
ilegitimidade ad causam. É admitido.
☺ Súm. 320, STJ: “A questão federal somente ventilada no voto vencido não atende ao requisito
do prequestionamento”. Ou seja, o prequestionamento exige que a questão esteja no acórdão, e não no
voto vencido.

Vimos até aqui que para que o RE seja conhecido há uma série de obstáculos. É bastante difícil.
Tem que superar uma série de exigências formais que o legislador foi criando. Sucede que, uma vez
188
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
superados tais obstáculos, a jurisdição do tribunal superior se abre. Assim, ao admitir o recurso, o
tribunal abre a sua jurisdição, permite o exercício da sua própria jurisdição. Esta sutileza é muito
importante.
Na verdade, o julgamento de um RE é exatamente igual ao julgamento de qualquer outro recurso.
Difícil é ele ser admitido, mas, uma vez admitido, ele será julgado exatamente da mesma forma que se
julgam os demais recursos.
Se o tribunal conhecer do recurso extraordinário, o tribunal superior terá que julgar a causa.
Conhecido o RE, a jurisdição do tribunal superior se abre e ele terá que julgar a causa. Para conhecer do
recurso há todas aquelas dificuldades, mas conhecido o recurso, ele terá que rejulgar a causa. Rejulgar a
causa significa reexaminar os autos, o que significa examinar as provas, examinar os fatos. Não há como
julgar a causa sem fazer isso.
Assim, há esta sutileza: o tribunal não pode examinar as provas, conhecer do recurso para
reexaminar as provas, mas se a parte encaixa o RE em uma das hipóteses em que ele cabe, e o tribunal
conhece do recurso, ele terá que julgar a causa e, então, terá que examinar tudo, inclusive as provas.
☺ Súm. 456, STF: “O STF, conhecendo do recurso extraordinário, julgará a causa, aplicando o
direito à espécie”. Esta Súmula, que é muito antiga, foi incorporada aos Regimentos internos do STJ e
do STF. E ela é que nos revela esta preciosidade: os recursos extraordinários só são extraordinários até a
admissibilidade, superada esta o tribunal te´ra que reexaminar a causa para julgá-la.
É por isso que o STJ ora aumenta ora diminui a indenização por danos morais.

Na primeira aula do curso dissemos que as questões de ordem pública podem ser alegadas em
qualquer tempo. Foi perguntado se era possível inclusive alegar questão de ordem pública pela primeira
vez em um recurso extraordinário. Agora poderemos responder a esta questão.
Não se pode entrar com recurso extraordinário alegando uma incompetência absoluta pela
primeira vez, porque isso não foi prequestionado. Então não se pode entrar com RE alegando uma
questão de ordem pública pela primeira vez, porque isso violaria o prequestionamento.
Mas, imagine
outra questão, que foi que se entre comO um
prequestionada. recurso
recurso será extraordinário para discutir
conhecido e, conhecido uma outra
o recurso coisa, umaa
extraordinário,
jurisdição se abre. Foi superada a barreira da admissibilidade, e entoa agora poderá ser alegada uma
questão de ordem pública.
Assim, é sim possível alegar uma questão de ordem pública no STF ou no STJ, desde que o
recurso seja conhecido (se o recurso foi encaixado em alguma questão que foi prequestionada e o
recurso foi conhecido, devendo o tribunal rejulgar a causa).
☺Súm. 456, STF – aplicação no STJ (pesquisar no site do STJ): o STJ conhece do recurso, para
examinar questões de ordem pública pela primeira vez.

- Recursos extraordinários retidos:

Como se estruturam?
Se na primeira instância houve uma decisão interlocutória, sabemos que contra ela cabe agravo.
Imaginemos que o agravo foi julgado e da decisão que julgar o agravo cabe RE ou Resp. (porque cabe re
ou Resp. do julgamento de agravo - ☺Súm. 86, STJ). Nesta situação de re ou Resp. interposto de
julgamento de agravo, os recursos extraordinários ficam retidos (quando interpostos contra julgamento
de agravo).
Obs.: essa retenção não ocorrerá, porém, se se tratar de processo de execução (☺§3º, do art. 542,
CPC). Sucede que a doutrina e a jurisprudência começaram a identificar outras situações (fora do
código) em que o recurso não fica retido, situações que sistematicamente seriam incompatíveis com o
recurso retido – ex.: se o agravo envolve antecipação de tutela, por conta da urgência o agravo não pode
ficar retido; se o julgamento do agravo gerou a extinção do processo, também não vai ficar retido o
recurso extraordinário.

189
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Surgiu então a seguinte dúvida: qual é o instrumento processual para liberar, soltar o recurso (já
que ele não pode ficar preso)? É a ação cautelar. O STJ tem várias decisões admitindo ação cautelar para
liberar o recurso retido.
Os autos sobem com o recurso que havia ficado retido. A apelação foi julgada. Contra
julgamento de apelação cabem embargos infringentes. As instâncias ordinárias vão se esgotando.
Contra julgamento de EI só caberá RE ou Resp. (a instância ordináira acabou).
Neste momento – no prazo para o recurso extraordinário da última decisão – é preciso reiterar os
recursos retidos anteriormente. É o momento de confirmação dos recursos que ficaram retidos é este: o
do prazo para o recurso extraordinário da última decisão. Quando nada mais há de ser feito nas
instancias ordinárias é que tem-se que confirmar o recurso antes retido.
Não é preciso recorrer para confirma. Pode-se juntar uma petição pedindo isso. Mas, se quiser, é
possível recorrer da ultima decisão e confirmar o recurso que interpusera antes. Ou se pode também não
fazer nada, o que acarretará na queda do recurso retido (que exige confirmação posterior).
Tudo isso está no §3º, do art. 542, CPC.

O que falamos até agora era comum a ambos os recursos extraordinários.


Agora passemos as especificidades.

 RECURSO ESPECIAL:

O Resp. está regulado no art. 105, III, CR.


O Resp. só cabe contra acórdão. E acórdão de TJ ou TRF. Não cabe Resp., por ex., de turma
recursal (☺ Súm. 203, STJ).

O Resp. tem 3 hipóteses de cabimento. Vejamos cada uma delas:


1ª) Cabe Resp. quando o acórdão contrariar ou negar vigência a lei ou tratado.
Obs.1: contrariar é ofender de qualquer modo (não aplicar a lei, aplicar mal a lei). Assim,
rigorosamente, contrariar abrange negar vigência, de modo que não seria necessário que houvesse
menção à negar vigência.
Obs. 2: existem tratados que têm natureza de norma constitucional – os que versam sobre direitos
humanos e que tenham sido aprovados com um quorum diferenciado pelo CN – assim, acórdão que os
violar se´ra impugnado por RE e não por Resp. Trata-se de uma mutação constitucional, que não está
expressa.

2ª) ☺art. 105, III, b, CR: “…quando julgar válido ato de governo local contestado em face de lei
federal”. Assim, se o acórdão do TJ ou TRF entende que ele prepondera em face de lei federal, cabe
Resp., para que o STJ se expresse sobre isso. A lei federal pode estar potencialmente sendo lesada. O
problema dessa letra “b” é que ele não é o seu texto srcinário. Nele havia o termo “ato de governo ou
lei local” e não “ato de governo local”. Esta parte que falava de lei local foi suprimida pela EC 45. Isso
aconteceu porque não há hierarquia entre lei local e lei federal, o que há é diferença de competências
legislativas, e as competências legislativas estão previstas na CR, de modo que conflito entre lei local e
lei federal é um conflito constitucional (porque é um conflito de competência legislativa). Assim, o
constituinte tirou este trecho e o remeteu para o RE (trata-se de uma nova hipótese de RE: letra “d”, do
inciso III, do art. 102, CR).

3ª) ☺art. 105, III, c, CR: “ ...quando o acórdão der a lei federal interpretação divergente da que
lhe haja atribuído outro tribunal ”. Se temos duas decisões, aquela contra a qual se recorre com o Resp.,
que disse X; e a decisão chamada paradigma, ou seja, a decisão de um outro tribunal, que disse Y
(interpretação divergente). Tem que se trazer a decisão paradigma. O fundamento do Resp. é a

190
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
divergência entre a decisão recorrida e uma outra proferida por um outro tribunal e esta divergência
justifica que se interponha um Resp. para que o STJ uniformize o entendimento. O problema é que será
preciso comparar os dois julgados, já que será preciso demonstrar porque que a decisão paradigma está
certa e a outra errada. Então será preciso demonstrar que as duas situações são semelhantes. Na verdade
o que se quer é que a decisão paradigma prevaleça (ou seja, que a decisão do outro tribunal). O método
para se demonstrar o confronto entre o precedente e o caso em análise é o Distinguishing. Assim, para
que seja cabível o Resp. com base na letra “c” é preciso aplicar o Distinguishing, ou seja, será preciso
fazer o confronto analítico entre as duas decisões. Caso contrário o recurso sequer será conhecido. Esta
divergência poderá ser provada até pela extração de um julgado do site do tribunal.

Atenção:
Ao longo de todo o curso o prof. vem dizendo que há uma tentativa de criação de regras
processuais próprias para o julgamento de causas repetitivas, que têm exigido do legislador uma atenção
especial.
Em maio de 2008 foi publicada a Lei 10.672, que criou um procedimento próprio para o
julgamento dos recursos especiais repetitivos. Assim, quando houver Resp. em causas repetitivas será
preciso observar o procedimento criado por esta lei. Esta lei criou o art. 546-C, do CPC, que cuida do
tema.
O STJ escolherá alguns desses recursos repetitivos, por amostragem (por isso se chama
julgamento por amostragem), enquanto os demais ficam sobrestados. Ao julgar esses recursos a mostra,
fixará uma tese que valerá para todos os outros.
Isso é uma técnica interessante. O legislador reconhece que entre as causas repetitivas há um
liame, um vínculo. Elas discutem a mesma tese. Mas esse vínculo não justifica que se reúnam todas as
causas no mesmo processo.
Esse procedimento é diferenciado e pode ser tomado de ofício pelo próprio relator.
Este art. 546-C foi regulamentado pela Resolução nº 08 do STJ.

Naquele julgamento por amostragem, como será fixada a tese jurídica, aqueles cujos recursos
foram sobrestados podem intervir como amicus curiae.

O STJ já vinha aplicando esta tese quando em dezembro/08 aconteceu um fato: havia sido
escolhido um recurso e o seu recorrente desistiu do recurso, porque não qria que fosse fixada a tese com
o seu recurso. O STJ ficou numa situação complicada, porque pelo CPC a desistência do recurso não
depende sequer de homologação. Os juízes ficaram indignados e decidiram agora não aceitar a
desistência do recurso, fixando a regra de que no caso de recurso escolhido por amostragem não é
possível a desistência porque surge um interesse público sobre a fixação da tese. Um dia a parte recorreu
e o seu recurso já possibilita o procedimento de fixação da tese.
O STJ, segundo o prof., concluiu certo por premissas erradas. O procedimento de fixação da tese
é um procedimento outro, que não pode ser extinguido pela vontade do recorrente. Ai o STJ está certo.
A desistência do recurso não poderia extinguir o procedimento de fixação da tese. Mas ocorre que o STJ
não poderia negar a homologação da desistência. A tese tem que ser fixada de qualquer maneira, mas
deveria ser possível a desistência.
Este é um tema novo que certamente será cobrado em concursos.
☺ Editorial 55 no site do prof.

Os recursos extraordinário e especial, quando têm por objeto uma questão repetitiva em várias causas,
serão submetidos à técnica de julgamento dos arts. 543-B e 543-C, ambos do CPC. Significa que, em
casos repetitivos, um ou alguns dos recursos são escolhidos para julgamento pelo STF ou STJ, ficando
os demais sobrestados, no aguardo de tal julgamento. É o que se chama de julgamento por amostragem.
Realizado o julgamento pelo STF ou STJ, os demais recursos devem ter o mesmo destino daquele que
foi destacado para julgamento
Se, selecionado um recurso para julgamento, quando já pronto para ser levado a debate no órgão do
191
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
STF ou STJ, pode o recorrente desistir dele? Em outras palavras, é eficaz a desistência de recurso
destacado, por amostragem, para julgamento? A desistência do recurso, como se viu, produz efeitos
imediatos (CPC, art. 158), não necessitando de homologação judicial, nem de concordância da parte
contrária (CPC, art. 501). É dizer: não se pode, em princípio, rejeitar a desistência, pois não se pede a
desistência; simplesmente se desiste e a desistência produz efeitos imediatos.
Há, contudo, um detalhe a ser observado.
Quando se seleciona um dos recursos para julgamento, instaura-se um novo procedimento. Esse
procedimento incidental é instaurado por provocação oficial e não se confunde com o procedimento
principal recursal, instaurado por provocação do recorrente. Passa, então, a haver, ao lado do recurso,
um procedimento específico para julgamento e fixação da tese que irá repercutir relativamente a vários

outros casos repetitivos.


procedimento Quer isso
recursal, principal, dizer que
destinado surgem,a questão
a resolver paralelamente, doisdoprocedimentos:
individual recorrente; e, a)
b) o
procedimento incidental de definição do precedente ou da tese a ser adotada pelo tribunal superior, que
haverá de ser seguida pelos demais tribunais e que repercutirá na análise dos demais recursos que estão
sobrestados para julgamento. Este último procedimento tem uma feição coletiva, não devendo ser
objeto de desistência, da mesma forma que não se admite a desistência em ações coletivas (Ação Civil
Pública e Ação Direta de Inconstitucionalidade, por exemplo). O objeto desse incidente é a fixação de
uma tese jurídica geral, semelhante ao de um processo coletivo em que se discutam direitos individuais
homogêneos. Trata-se de um incidente com objeto litigioso coletivo. Quando o recorrente, num caso
como esse, desiste do recurso, a desistência deve atingir, apenas, o procedimento recursal, não havendo
como negar tal desistência, já que, como visto, ela produz efeitos imediatos, não dependendo de
concordância da outra parte, nem de autorização ou homologação judicial. Ademais, a parte pode,
realmente, precisar da desistência para que se realize um acordo, ou se celebre um negócio jurídico, ou
por qualquer outro motivo legítimo, que não necessita ser declinado ou justificado. Demais disso, o
procedimento recursal é, como se sabe, orientado pelo princípio dispositivo
Tal desistência, todavia, não atinge o segundo procedimento, instaurado para definição do precedente
ou da tese a oficial,
provocação ser adotada
o quepelo tribunal
revela superior.
o interesse Esse que
público procedimento incidental é, inclusive, instaurado por
lhe é subjacente.
Em suma, a desistência não impede o julgamento, com a definição da tese a ser adotada pelo tribunal
superior, mas tal julgamento não atinge o recorrente que desistiu, servindo, apenas, para estabelecer o
entendimento do tribunal, a influenciar e repercutir nos outros recursos que ficaram sobrestados
Em determinada questão repetitiva, foram selecionados para julgamento no STJ dois casos, contidos
nos REsp 1.058.114 e REsp 1.063.343. Em tais casos, o recorrente desistiu dos recursos, mas o STJ
negou a desistência. Em tais casos, o STJ rejeitou a desistência do recurso, não fazendo a distinção ora
proposta. Parece mais adequado, como visto, entender que há revogação do recurso, pela desistência,
mas deve realizar o julgamento no tocante ao procedimento instaurado com a seleção dos recursos para
definição da tese pelo STJ.
Fredie Didier Jr .
Leonardo José Carneiro da Cunha

 RECURSO EXTRAORDINÁRIO:

É cabível contra qualquer decisão, venha ela de onde vier. Por isso que ele é cabível na Justiça do
Trabalho, na Militar, na Eleitoral.
Mas ele pressupõe que a decisão recorrida seja a última.
Por isso até existe recurso extraordinário contra a decisão de juiz. Ex.: decisão de juiz que julga
os embargos infringentes em execução fiscal pode ser impugnada por RE, já que não é cabível nenhum
outro recurso dessa decisão. (☺Súm. 640, STF).
Cabe também RE dos Juizados Especiais.

192
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
Há duas súmulas importantes, sempre cobradas em concursos:
- Súm. 733, STF: “Não cabe RE contra decisão proferida no processamento de precatório”,
porque se entende que se trata de decisão administrativa.
- Súm. 735, STF: “Não cabe RE contra acórdão que defere medida liminar”.

Todos sabem que Re serve para controlar alguma ofensa à Constituição. O problema é que o STF
entende que a ofensa à Constituição que autoriza RE tem que ser a chamada ofensa direta ou frontal, de
modo que ofensa reflexa, oblíqua, indireta à Constituição não autoriza RE.
Há ofensa reflexa quando é preciso examinar a Eli federal para saber se a Constituição foi
violada. Se a lei estiver no meio do caminho entre a violação e a Constituição, não é cabível RE (se for
preciso primeiro ler a lei para só então saber se houve ou não violação).
☺Súm. 636, STF: “Não cabe RE por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade,
quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela
decisão recorrida”.
Esta é uma ótima súmula para ser citada em concursos. Se possível, lembrar dela!

Atenção:
O RE é um instrumento de controle de constitucionalidade difuso. O controle de
constitucionalidade no Brasil tem se transformado. O controle de constitucionalidade pelo STF tem tido
eficácia erga omnes, mesmo quando se trata de controle difuso. Se a questão constitucional vem pelo RE
e chega ao STF, o STF examina esta questão como se estivesse julgando uma ADI, apesar de não o ser.
Isso ocorre a tal ponto que podemos dizer que somos todos contemporâneos de uma época em que o
STF tem se supervalorizado demais. Ele tem uma agenda com temas de importâncias ímpares: aborto de
anencéfalo, lei de crimes hediondos, cálculo de número de vereadores, etc., e tudo isso em decisões em
controle difuso, que tiveram efeito erga omnes.
O RE, portanto, se transformou em um instrumento de controle poderosíssimo, ganhando
atributos
É antes só válidos
a objetivação dopara
RE,oou
controle concentrado.
seja, sua transformação em um processo objetivo, em que se vai fixar
uma tese constitucional, aplicável a todos os processos semelhantes (como ocorre com a ADI, ADC).
É essa aptidão do RE para criar uma tese que se aplica a várias situações que facilita o
entendimento sobre o que é repercussão geral .
A EC 45 passou a exigir que os RE só poderiam ser conhecidos se tivessem repercussão geral. ou
seja, é preciso que o recurso veicule um problema que vá além do recorrente, que transborde, transcenda
os seus interesses. O constituinte exige isso porque a repercussão geral é corolário da transformação do
controle difuso: se o recurso for examinado, o que for decidido nele valerá para todas as situações
semelhantes a ela.
O STF tem 11 ministros. Diz a Constituição que só por 8 votos dos 11 ministros é que o recurso
não pode ser conhecido por falta de repercussão geral. Ou seja, para que se diga que um recurso não tem
repercussão geral, é preciso que 8 ministros digam isso. Ai surge uma situação curiosa: se 7 ministros
disserem que não há repercussão geral, há repercussão geral!!!
No STF há 1 presidente e duas turmas com 5 ministros em cada. O RE vai para uma turma de 5
ministros. Se 4 ministros dessa turma já dizem que há repercussão geral, há repercussão geral (porque o
máximo que pode acontecer é que 7 ministros digam que não é, e ai, ainda assim, haverá repercussão
geral). Neste caso então, nem se remete a questão ao Pleno.
Cabe ao recorrente elaborar na petição do RE um item sobre repercussão geral. Ele tem que abrir
uma preliminar para tanto. Se ele não o fizer, o recurso nem será conhecido.
Só quem pode dizer se há repercussão geral ou não. Mas o presidente do tribunal local pode não
admitir seu RE se por ventura ele não tiver esta preliminar. Já se esta preliminar foi alegada, só o STF
poderá dizer se há ou não a repercussão geral.
O legislador criou uma presunção absoluta de repercussão geral em 2 casos:
- se a decisão recorrida contrariou súmula ou jurisprudência dominante do STF (☺§3º, do art.
543-A);

193
Direito Processual Civil – LFG – Intensivo I
- também existe um procedimento para julgamento por amostragem dos RE repetitivos, e a idéia
é a mesma: escolhem-se alguns, fixa-se a tese, e esta tese vale para todos os outros. Se o STF julga os
recursos a mostra e acolheu os recursos, significa que os tribunais erraram, então a lei diz que os
tribunais devem se retratar (reconsiderar suas decisões, para que nem subam os demais recursos). Se os
tribunais não quiserem reconsiderar, e mantiverem suas decisões, os recursos que estavam presos vão
subir, vão chegar ao PSTF e ele nem os distribuirá.

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