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“Os festivais ‘A’, Berlim, Veneza e Cannes, me parecem estar em uma absoluta
crise, ou então assumiram que funcionam como um mercado paralelo não
muito distante do Oscar”, opina o argentino.
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15/04/2016 Roger Koza fala sobre a crise dos grandes festivais internacionais – Cine Festivais
Cine Festivais
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19ª Mostra de Tiradentes - Roger Koza aponta crise dos grand...
Cine Festivais: No debate você citou o seu gosto pelo filme Branco Sai,
Preto Fica, de Adirley Queirós. Aqui no Brasil os filmes mais
arriscados/interessantes têm conseguido espaço, quando conseguem, em
seções paralelas de eventos como Berlim e Cannes, ou em festivais um
pouquinho mais arriscados como Roterdã e Locarno. Você acha que as
competições oficiais dos festivais maiores têm se arriscado menos que as
seções paralelas?
Roger Koza: Sobre os festivais que você denominou como de maior risco entre
os festivais grandes, Locarno e Roterdã, tenho a impressão que cada vez têm
menos espaço para o risco. Locarno ainda toma algumas decisões arriscadas,
não tanto nas seções competitivas (Competição oficial e Cineastas do
Presente), mas sobretudo na seção Signos de Vida. Ali é possível ver filmes de
risco. No último ano estava 88:88, de Isiah Medina, provavelmente um dos
filmes mais inteligentes e interessantes que vi no cinema contemporâneo
recentemente.
Os festivais “A”, Berlim, Veneza e Cannes, nesse sentido que você fala, me
parecem estar em uma absoluta crise, ou então assumiram que funcionam
como um mercado paralelo não muito distante do Oscar. Cada vez mais os
filmes premiados nesses festivais estão indo parar nas indicações ao Oscar.
Isso para mim deveria ser alarmante, mas parece ser motivo de orgulho para os
festivais. Eu acho que parte do inconsciente dos festivais nos dias de hoje pode
ser observado no Twitter. Se um festival, como a Quinzena dos Realizadores,
vive twittando que Cinco Graças (Mustang) é um filme que foi indicado ao
Oscar… Eu estaria muito preocupado, no lugar deles, mas eles parecem estar
absolutamente felizes.
Voltando ao caso de Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós, acho que é
um filme que em outros tempos poderia ter sido selecionado para a Quinzena,
para a seção Um Certo Olhar no Festival de Cannes, para Berlim,
provavelmente nas seções Fórum ou Panorama. Poderia ter estado em
Roterdã, em Locarno, inclusive na competição oficial. Algo aconteceu que esse
filme não chega a quem decide as programações.
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15/04/2016 Roger Koza fala sobre a crise dos grandes festivais internacionais – Cine Festivais
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CF: Você acha que essa crise que você aponta passa por todos os
grandes festivais, ou você vê alguma exceção?
RK: Não vejo exceção alguma em festivais importantes. O único que tem um
certo ar, em linhas gerais, entre esses, é o de Locarno. É a única zona onde há
respiro. Não em todo seu conceito de programação, mas há um lugar para certo
risco. Dos importantes é o único. Acredito que Roterdã, que costumava ser um
festival muito poderoso nesse sentido, sobretudo com o cinema latino-
americano, seleciona os mesmos filmes ano após ano. Mudam os títulos, mas
sempre há camponeses sem falar, ou personagens ultraviolentos, e essa é a
oscilação. Acredito que Roterdã, em relação ao cinema latino-americano, está
inteiramente perdido.
CF: Você acredita que essa situação dá um peso maior para festivais
regionais como aqui em Tiradentes, ou outros eventos do tipo em todo
mundo.
RK: O produtor (Paulo de) Carvalho falou um termo chave para a circulação,
para a discussão, a produção e a exibição, que é a descentralização dos
centros de poder. Me parece que é por aí o caminho. Este festival de Tiradentes
é uma coisa absolutamente anômala. Não é o que costumamos pensar como
festivais no mundo. Estamos em região de 20 mil habitantes, não é um centro
de poder econômico. Sim, vem gente de São Paulo, Rio, Belo Horizonte,
provavelmente, ver filmes brasileiros. Acho que é um modelo bastante inovador,
não conheço muitos fora do Brasil.
O País, que tem uma cota às vezes, ao meu gosto, excessiva de nacionalismo,
organiza este tipo de evento, essa é a parte boa. Esse é um foco de atenção
para mim quase exemplar, de como descentralizar e estabelecer uma
discussão sobre o cinema contemporâneo, nesse caso do cinema nacional. Me
parece que Tiradentes, nesse sentido, está na linha de vanguarda.
CF: A facilidade trazida pelas câmeras digitais fez com que o número de
filmes recebidos pelos curadores aumentasse substancialmente. Ao
mesmo tempo, muito se diz que a influência de agentes de venda e de
coproduções é decisiva para entrar em grandes festivais. Qual é a sua
visão, também como programador, sobre esse cenário?
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15/04/2016 Roger Koza fala sobre a crise dos grandes festivais internacionais – Cine Festivais
Frente a isso, os festivais pequenos têm mais espaço para encontrar filmes que
chegam sem agentes de venda, sem coprodução, sem nada. O contraponto
disso é a quantidade excessiva de filmes que são feitos hoje em dia. Na
realidade me parece que este tipo de câmeras (digitais) permitiu que qualquer
um possa se sentir cineasta. Essa democratização é positiva.
CF: Qual é a sua visão sobre o atual momento do cinema brasileiro?
O que está claro é que na década de 60, sobretudo no final de 60 e 70, havia
um movimento que era algo do mundo, e que o Brasil incorporou, no qual a
figura de Rocha era a figura de intersecção. Ele entendeu muito bem que tinha
que roubar certas expressões… certas estéticas da Europa, apropriar-se delas,
mesclá-las com tradições daqui e fazer algo completamente distinto.
Na Argentina também havia cineastas dessa natureza, mas me parece que esta
descontinuidade fez com que os cineastas do nosso tempo, tanto no Brasil e na
Argentina, são filhos sem pais, fazem um cinema da orfandade. Eles estão
reinventando, constituindo uma nova tradição, e alguns olham novamente para
trás porque sabem que seus pais existiram e foram assassinados, simbólica ou
fisicamente.
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Hoje me parece que o mais interessante que encontro do cinema feito no Brasil
são esses filmes laterais: Branco Sai, Preto Fica, Avanti Popolo, de Michael
Wahrmann, que é um caso estranho, pois é um uruguaio que viveu em Israel,
se sente brasileiro e filma aqui. Me parece que é um filme importante.
Me interessa o que faz Allan Ribeiro, é um cineasta que trabalha em uma zona
muito peculiar, que mescla algo de vanguarda com algo extremamente popular.
Me interessou em certa medida, entre o que vi recentemente, um filme de
gênero, A Misteriosa Morte de Pérola. É um filme de uma hora. Acho que aí
Guto Parente trabalha com uma excessiva tensão formal um cinema de gênero.
Acho que a primeira meia hora é notável. Na segunda metade, quando o ponto
de vista muda, o filme perde um pouco da intensidade, mas me interessa saber
o que vai fazer a partir de agora este diretor, há ali algo para prestar atenção.
Ele é o exemplo de cineasta que está em uma zona de risco. Um tipo muito
capaz, um cineasta com um olhar, que é reconhecido no âmbito internacional e
que começa a ter certos condicionamentos. Minha pergunta é: ele poderia fazer
hoje um filme como Doméstica? Ou o anterior, Avenida Brasília Formosa.
Acho que já é difícil para ele propor um filme assim. O ideal seria que não
perdesse isso, e que siga em evolução.
Este é um pouco do panorama do que tenho visto. E o cinema industrial
brasileiro é horrível. Vi algumas coisas que me parecem terríveis.
Queria falar que A Misteriosa Morte de Pérola, me parece que é um filme que
pode ser posto em discussão com outro filme que por aqui teve grande êxito,
mas que para mim é ruim, terrível, que é O Lobo Atrás da Porta. Esse filme é
abjeto, trabalha de uma forma o gozo da violência, que pouco tem a ver, por
exemplo, com o trabalho do Tarantino. É outra maneira de se colocar. Acho que
ali há justamente o cinema da crueldade, da sordidez latino-americana, em
chave de gênero.
Em contrapartida, o que se vê em A Misteriosa Morte de Pérola é distinto, por
isso parece que são dois filmes para se por em choque, que trabalham o
gênero de perspectivas estritamente distintas e quase opostas.
CF: Aqui no Brasil os filmes são feitos basicamente com apoio de editais.
É assim também na Argentina? Você acredita que isso pode formatar de
alguma forma o olhar dos cineastas?
RK: Não sei no Brasil, mas tenho a impressão que o dinheiro que os cineastas
recebem não resulta em uma formatação dos filmes. Uma vez que o cineasta
tem o dinheiro na mão, acho que não se formata nem à estética nem aos
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temas. Em última instância dizem que vão fazer isso e fazem outra coisa
depois. Um burocrata, por mais boas intenções que tenha, é um burocrata. A
princípio podemos dizer isso.
Na Argentina é assim. Para os filmes de ficção há um sistema para recepção
dos fundos, para o campo do documentário há escalas de importância em um
sistema de produção, e não há nesse sentido, no meu ponto de vista, nenhuma
forma de modelar esteticamente nem idelogicamente os filmes.
CF: Você está com o catálogo do Festival Fronteira nas mãos. Há dois
anos você participou como júri do Olhar de Cinema, em Curitiba. Queria
que você comentasse a sua impressão sobre o evento.
RK: Bom, eu não tenho interesse em ir ao Festival do Rio, por exemplo, que
dura duas ou três semanas, no qual acontece uma confusão que existe em
muitos festivais latino-americanos que acham que ter muito é o que vale. Há
uma substituição da qualidade pela quantidade. Então não me interessa ir ao
Festival do Rio, tampouco ao de São Paulo (Mostra). Se me convidam, eu vou,
porque sempre há filmes para ver, mas são festivais elefantes, não são aqueles
em que particularmente eu acredito que alguém pode encontrar com os
pequenos filmes que não são pequenos.
Mencionei “elefante”, e há um famoso texto de Manny Farber, um crítico
americano extraordinário, que define os “elefantes brancos” em contraposição
com os “cupins”. Acho que há “festivais cupins”, que comem o poder aos
poucos e sobrevivem. Acho que esses são Curitiba (Olhar de Cinema),
Fronteira, Tiradentes… Eu, como programador de três festivais, prefiro ir a
estes.
Por mim, se me convidam para cá, venho todos os anos. Jamais entrei nos
últimos quatro anos, exceto no início da minha carreira, para ver o que estão
exibindo no Festival do Rio. Em Tiradentes fui pesquisar desde que vi o filme do
Adirley Queirós.
Adriano Garrett
(http://cinefestivais.com.br/author/agarrett1105) (http://cinefestivais.com.br/author/agarrett1105)
Idealizador do Cine Festivais, é
formado em Jornalismo pela
Faculdade Cásper Líbero. Como
repórter e crítico de cinema,
colaborou com o site Opera
Mundi.
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15/04/2016 Roger Koza fala sobre a crise dos grandes festivais internacionais – Cine Festivais
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