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1 author:
Ruth Nogueira
Federal University of Santa Catarina
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Brasil um país que envelhece: Saberes e fazeres da geografia na formação da cidadnia View project
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MOTIVAÇÕES HODIERNAS
PARA ENSINAR GEOGRAFIA
Representações do espaço para visuais e invisuais
1ª Edição
Florianópolis, 2009
Copyright © 2009
Direitos Reservados
Organização
Ruth E. Nogueira
Projeto da Capa
Luisa Nogueira Loch
Revisão
Giovanni Secco
Impressão
Editora Nova Letra
Inclui bibliografia
CDU: 91:37
Agradecimentos 05
Roselane Neckel, incansáveis na busca do bem-estar ambiental e social
como condição para acontecer o ensino e a pesquisa no CFH, nosso
respeito e admiração.
A organizadora
Apresentação | 04
Sobre os Autores | 04
Sumário 07
Experiências reveladoras: desenhos e representações
gráficas bi e tridimensionais no ensino de invisuais
Apresentação 09
minimizar alguns efeitos que a primeira expressão acarreta. Foi escrito a
muitas mãos, que ensinam e aprendem e aprendem e ensinam... são
muitas trocas.
Apresentação 11
estimulados a desenhar objetos do cotidiano, jamais se sentirão confortá-
veis para representar o espaço vivido e, assim, apresentarão dificuldades
em ler mapas táteis e entendê-los. Observamos isso em um deficiente
visual que se sentiu intimidado quando perguntamos se gostaria de
desenhar seu trajeto no interior de um edifício. Ele respondeu: “Eu nunca
desenhei algo... não gosto disso...”. Em contrapartida, uma criança
invisual altamente motivada pelos pais e professores sentiu-se à vontade
para desenhar o que gosta, sentindo-se segura para comunicar com
desenhos o que pensa, sente ou compreende a respeito de objetos e do
espaço em que vive.
A organizadora
Simone B. de Campos
Kênya N. de Oliveira
Ruth E. Nogueira
Objetivos:
Duração: 2 horas
Método
Resultados da prática
As hipóteses e deduções dos alunos de 3ª série durante a realiza-
ção do experimento com a argila enriqueceram a formulação de conceitos
Método
Como já se havia trabalhado o tridimensional anteriormente, na
construção das formas de relevo no recipiente de plástico, nesta ativida-
de, a partir de um mapa temático do relevo de Santa Catarina, as crianças
construíram com argila, sobre um contorno do Estado feito em uma base
de madeirite, as formas de relevo sobressalentes na região. Ao represen-
tar a Planície Costeira, as Serras Litorâneas e o Planalto Ocidental, cada
grupo evidenciou uma maneira diferenciada de interpretar a realidade.
Resultados da prática
A discussão com o grupo sobre o tema em evidência possibilitou
correlacionar os aspectos físicos do Estado de Santa Catarina entre si e
com outros, de cunho social ou econômico. As crianças perceberam que
as regiões mais frias do Estado ficavam nas áreas mais elevadas, que as
serras interferem no direcionamento dos rios das duas principais verten-
tes catarinenses e que os imigrantes que colonizaram cada área influencia-
ram na economia e na cultura da região.
ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
CARLOS, Ana Fani (Org.) et al. A geografia na sala de aula. São Paulo:
Contexto, 2006.
Raphaela Desiderio
Roberta Sumar
Rosemy da S. Nascimento
ELABORAÇÃO DA OFICINA:
ORIENTANDO UM “MAPA” DE POSSIBILIDADES
1 A cartografia para o ensino de Geografia trazida pelos PCNs é embasada na proposta dessa autora.
2 Sinopse: “Na favela não há correio. Para evitar as confusões rotineiras na associação dos moradores, onde todas
as cartas são entregues, Laranjinha e Acerola são escalados pelo tráfico para trabalhar como carteiros. O
problema é que com esta missão vem junto uma ameaça: nenhuma carta pode deixar de ser entregue. Se isto
acontecer, eles terão que se entender com o dono do morro. Para se livrarem deste problema, resolvem fazer um
mapa da favela para que os carteiros profissionais possam fazer o trabalho. Descobrem que esta atividade pode
até ser muito rentável. Mas um mapa identificando ruas e vielas não é exatamente a melhor notícia para os
traficantes”. (Roteiro: Kátia Lund e Paulo Lins. Direção: Kátia Lund e Paulo Lins. Argumento: Kátia Lund).
Disponível em: <http://epipoca.uol.com.br/filmes_detalhes.php?idf=17560&id_serie=5735>.
Figura 3 – Fotos dos instrumentos como bússola e GPS utilizados durante o percurso
Fotos: Sumar (2007)
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
Ana P. N. Chaves
Ruth E. Nogueira
2 Oliveira (1977) cita Balchin ao apontar quatro modos básicos de comunicação entre os seres humanos: a
graficácia, que consiste na habilidade espacial, o que permite ao ser humano a leitura dos mapas, incluindo a
codificação e a decodificação do processo geográfico; a articulácia, que aparece nos animais mais evoluídos e é
o que permite a comunicação por ruídos sociais – no caso do homem, a linguagem oral civilizada; a literácia,
que é a comunicação escrita; e a numerácia, que envolve a capacidade humana de manipular os símbolos
numéricos, que crescem e se desenvolvem no campo da matemática, e todas as suas aplicações práticas
(VOGES; CHAVES, 2007).
7 A descrição das etapas percorridas na construção do conhecimento por parte dos estudantes foi
apresentada durante o XIII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto e está disponível em:
http://marte.dpi.inpe.br/col/dpi.inpe.br/sbsr@80/2006/11.13.20.13/doc/1435-1442.pdf.
8 O projeto de extensão contou com o apoio do Pró-Extensão 2006, e seu relatório final encontra-se disponível
para consulta no Departamento de Apoio à Extensão (DAEx), vinculado à Pró-Reitoria de Cultura e Extensão
(PRCE) da UFSC.
9 O projeto deu origem a trabalho de conclusão de curso defendido em julho de 2007, que se encontra
disponível para consulta na Biblioteca Setorial (Sala de Leitura Saramago) do Centro de Filosofia e Ciências
Humanas (CFH) da UFSC.
Atividade 1
10 Atividades que elucidam o conceito de sensoriamento remoto em ambiente escolar podem ser verificadas
em: FLORENZANO, T. G. Imagens de satélite para estudos ambientais. São Paulo: Oficina de Textos, 2002;
SANTOS, Vânia M. N. dos. O uso escolar de dados de sensoriamento remoto como recurso didático-
pedagógico. VI Curso de Uso Escolar do Sensoriamento Remoto no Estudo do Meio Ambiente. São José dos
Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 2003; SAUSSEN, T. M. (Coord.). Cadernos didáticos:
Projeto Educa SeRe – Elaboração de Material Didático para o Ensino de Sensoriamento Remoto. nº I. São José
dos Campos: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais/SELPER, 1998; e SANTOS, V. M. N. dos. Escola,
cidadania e novas tecnologias: o sensoriamento remoto no ensino. São Paulo: Paulinas, 2002.
11 As descrições das atividades 1, 2 e 3 dizem respeito aos projetos citados e desenvolvidos durante os anos de
2005, 2006 e 2007 respectivamente.
c) mapa do estado;
6. Caminhos percorridos:
Atividade 2
5. Materiais utilizados:
c) mapa do estado;
e) Equipamento GPS.
6. Caminhos percorridos:
Atividade 3
5. Materiais utilizados:
6. Caminhos percorridos:
CONCLUSÕES
Magnun S. Voges
Kênya N. de Oliveira
Ruth E. Nogueira
Rosemy da S. Nascimento
O USO DE MAPAS
Soares (2001) enfatiza que o mundo de hoje está cada vez mais
ligado a mapas, códigos, legendas, referido a diversas escalas geográficas e
cartográficas, como fotografia ao nível do solo, fotografias aéreas e imagens
orbitais, como também à grande evolução da Informática. Ramos (2005) cita
algumas mídias encontradas no mercado que podem ser trabalhadas no
uso de mapas, como o Atlas Geográfico Universal, da ATR, explicitando
constantemente os termos “visualização geográfica” ou “geovisualização”.
Visualização geográfica, segundo Ramos e Gerardi (2002), consiste em
fornecer ao usuário de mapas a possibilidade de explorar informações,
estabelecer análises e, dessa forma, obter um conhecimento novo auxiliado
pelo mapa, e nas aulas de Geografia ela pode servir como um novo meio de
aprendizagem, como veremos a seguir.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
1 O ensino fundamental passa a ter nove anos, sendo o 1º ano correspondente à pré-escola, a 1ª série, ao 2º
ano e assim sucessivamente, a partir de 6 de fevereiro de 2006, com a aprovação da Lei nº 11.274, que altera
o artigo 32 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996).
Conteúdo geral
Conteúdos de Cartografia
Procedimentos metodológicos
Representação Cartográfica
Meio de Divulgação
REFERÊNCIAS
Luciana C. de Almeida
Ruth E. Nogueira
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 107
espacial dessas pessoas, ou que as auxiliem na sua orientação e indepen-
dência de mobilidade.
1 Invisual é um vocábulo utilizado principalmente na Arte para designar pessoas deficientes visuais. A
cegueira é constada no indivíduo que apresenta acuidade visual menor que 0,05 no seu melhor olho sem
equipamento auxiliar, o que significa que poderá ver a 3 metros aquilo que um indivíduo sem problemas
de visão enxerga a 60 metros. Quanto à baixa visão, existem muitos e distintos tipos que impedem, mesmo
com o auxílio de dispositivos tecnológicos, que o indivíduo responda a testes de acuidade visual com
símbolos (LOCH, 2008).
Fredy (codinome) tem 26 anos, cresceu com baixa visão e ficou cego
aos 21 por motivo de doença. Nunca havia tido acesso a mapas ou plantas
táteis, porém conheceu mapas quando enxergava. Completou o ensino
médio em escola regular, sem acesso a material específico para pessoas com
baixa visão. Alega ter grande dificuldade com a leitura braile.
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 109
O processo de aquisição de conhecimento espacial se dá numa
sucessão ininterrupta de estágios. É um processo lento, gradual, progres-
sivo. A percepção resultante desse processo dependerá das características
do mundo físico, das particularidades dos órgãos sensoriais de cada
indivíduo e da motivação deste para tal.
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 111
adultos invisuais, o que corresponderia para muitos autores à “alfabeti-
zação cartográfica”. A tarefa 1 trabalhou os conceitos de “tridimensiona-
lidade” e de “visão vertical”, procurando reproduzir situações reais do
cotidiano (o quarto de dormir), um espaço que é real e comum para todos.
Nesse espaço foram trabalhadas questões como localização, orientação,
perspectiva e representação. A metodologia para a realização dessa tarefa
teve como base Almeida e Passini (2001), sobre a organização espacial do
adulto envolver perspectiva e coordenadas para a localização baseadas
em relações espaciais topológicas elementares, relações projetivas e
relações euclidianas3. Mesmo que nessa tarefa não tenhamos explicitado
as coordenadas, exploramos os limites, a forma do espaço representado e
a localização do observador para fazer a leitura dos espaços tridimensio-
nais e bidimensionais.
A tarefa 2 teve o objetivo de incentivar os deficientes visuais
(DVs) a lerem mapas para ampliar sua percepção espacial acerca do
espaço em que vivem. A representação do espaço escolhida foi a do
prédio da administração (que todos conheciam).
Vale destacar que as atividades foram mediadas de forma
individual com os DVs pela primeira autora deste texto. A socialização do
conhecimento só aconteceu nos primeiros encontros, devido à dificulda-
de de atender a todos em conjunto.
3 Para saber mais sobre as relações espaciais, consultar Almeida e Passini (2001).
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 113
Placa de metal, ímãs e material emborrachado: Utilizamos uma placa
de metal quadrada de aproximadamente 30 cm de lado, semelhante
àquelas usadas para fixar fotos e outros papéis, constituídas de pequenos
imãs (sucesso de vendas entre os adolescentes). Qualquer placa de metal
serve, contanto que não ofereça perigo ao tato dos usuários.
b) Procedimentos didáticos
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 115
Noutro encontro retomamos essa atividade, dessa vez arran-
jando as miniaturas dos móveis dentro da caixa de papelão, simulando
a disposição de móveis em um dormitório. Deixamos os DVs explora-
rem esse arranjo, conduzindo o tato para a forma dos móveis tocados de
cima. Mostramos em seguida o material emborrachado cortado no
formato e no tamanho semelhantes aos diferentes móveis em miniatu-
ra, e explicamos que cada um representava um móvel. Novamente
conduzimos essa atividade com calma, deixando cada pessoa explorar
os retângulos emborrachados para que, no seu tempo, internalizasse o
conhecimento que, esperávamos, fosse adquirido.
Ao finalizar essa atividade, a caixa de papelão com os móveis de
plástico dispostos de maneira a simular a posição dos móveis em um
dormitório foi novamente entregue a cada DV para análise tátil. A seguir,
foi solicitado ao DV que tomasse os retângulos de material emborrachado
para reproduzir, na placa de metal, o arranjo espacial dos móveis que ele
percebeu dentro da caixa de papelão. Consideramos essa prática uma
maneira de instigar o invisual na observação do espaço percebido real
(seu quarto) reduzido, conservando a tridimensionalidade (maquete) e a
sua representação (orientação e organização do espaço) no plano.
Depois de completada essa atividade, outra foi proposta, utilizan-
do ainda esses materiais. Nessa nova atividade, a placa de metal foi utiliza-
da como suporte para fazer a representação dos móveis de plástico (brin-
quedos) – retângulos de material emborrachado na mesma dimensão de
cada objeto. Foi considerado que o invisual já tinha abstraído a representa-
ção espacial do espaço percebido (seu quarto). Foi solicitado que ele
explorasse na placa de metal a organização espacial dos móveis representa-
dos (retângulos de borracha) e depois disso fizesse a reprodução do que
percebera utilizando o mobiliário correspondente (brinquedos de plástico),
na caixa de papelão. O objetivo dessa tarefa era avaliar a compreensão da
representação espacial, uma maneira de iniciar a leitura de “mapas”.
c) Resultados alcançados
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 117
Figura 5 – Resultados de Fredy na disposição dos objetos após sua
leitura na representação deles, efetuada na placa de metal
Fonte: Almeida (2008)
a) Materiais criados
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 119
Figura 7 – Prancheta tátil e detalhe da tela mosquiteira
Fonte: Almeida (2008)
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 121
b) Procedimentos didáticos
Partimos da compreensão do espaço vivido pelos DVs na ACIC,
isto é, como cada um deles configura mentalmente o espaço em que vive.
Para tanto, decidimos, antes de apresentar um mapa tátil do ambiente
interno do prédio da administração da ACIC, mostrar a prancheta para
desenho tátil aos DVs. Mostramos como desenhar sobre a prancheta, e
alguns deles fizeram livremente alguns desenhos e depois os examinaram.
Noutro encontro, após o deficiente visual familiarizar-se com a
prancheta tátil e com o ato de desenhar, explicamos que seria importante
ele se lembrar do prédio da administração e nos explicar verbalmente e
por desenhos na prancheta como ele lembrava o espaço que freqüentava
regularmente. Cada participante fez suas representações e interações
com o que desenhara, verbalizando ou não cada local representado.
Depois de concluído o desenho do mapa na prancheta, mostra-
mos a planta tátil elaborada com barbante para uma análise detalhada
com nosso auxílio. Em seguida, solicitamos que eles desenhassem um
novo mapa na prancheta. Conduzimos essas duas atividades, a de
representar o mapa mental que tinham do prédio antes da leitura da
planta tátil e, depois, a de explorá-la, no intuito de observar se realmente a
planta tátil foi entendida e se ela agregou algum conhecimento do espaço
em questão para cada DV.
c) Resultados alcançados
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 123
desenho, tateou o que havia representado, verbalizando passo a passo o
que pretendeu representar e repetindo o nome das salas e sua função (veja
na Figura 9 os significados). Pode-se concluir, pela explicação detalhada de
Davi, que seus traços representavam o percurso comumente rastreado pela
bengala, ou seja, as paredes que a bengala tocam.
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 125
Figura 11 – Primeira e segunda plantas elaboradas por Fredy
Fonte: Almeida (2008)
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 127
Para dar seguimento à iniciação cartográfica de DVs, uma
próxima tarefa seria conduzir os DVs para a compreensão da redução do
espaço quando representado, isto é, da escala cartográfica. Uma sugestão
é aquela que aplicamos com o adolescente invisual Caio, ao medir os seus
passos e relacionando-os com o metro4.
REFERÊNCIAS
1. Iniciação cartográfica de
adultos invisuais 129
2
Mediando a compreensão do
espaço microgeográfico:
uma experiência com aluno cego
Ruth E. Nogueira
Sarah Andrade
1 Os pisos podotáteis foram criados na tentativa de possibilitar a melhor orientação e mobilidade no trajeto
para as pessoas desprovidas de visão, conforme as leis municipais de acessibilidade.
2 Batista (2005 apud VENTORINI, 2007) atesta que podemos ocorrer em erros ao supervalorizar a função da
visão na aquisição de conceitos, apesar de ela possibilitar percepção global, facilitando a análise de objetos que
compõem o ambiente. Podemos confundir a percepção visual com os processos cognitivos superiores na
compreensão dos significados das palavras. Um gato é diferenciado de um cachorro pela criança não só por tê-
los visto, mas por tratar os dados obtidos sensorialmente com processos cognitivos, especialmente a
linguagem e o pensamento.
O Caio relatou que a sua sala possui forma retangular, que, para
locomover-se pela escola, usa como referencial a sua sala de aula e utiliza
as paredes como apoio, e quando anda pela escola acaba se esbarrando
nos bebedouros e nas lixeiras. Disse ele: “Saindo da minha sala posso ir
para qualquer lugar da escola”. Essa afirmação mostra que o referencial
espacial do menino é externo ao seu corpo, tendo um objeto fixo, a sala,
parede onde o sol bate. Ele constatou sozinho que o sol “nasce” numa das
janelas. Explorou tanto a maquete como o planta tátil da sala observando
as seqüências dos objetos nela contidos, mas não demos continuidade na
questão da escala, pois consideramos que essa questão precisaria de mais
tempo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
4 O trabalho de conclusão de curso na íntegra está no site do LabTATE. Nele também se encontra o modelo
em tinta da planta confeccionada em plástico termoform.
Geisa Golin
Ruth E. Nogueira
Gabriela A. Custódio
Felipe M. Silva
CIDADE E MOBILIDADE
A Cidade não pode, pois, ser concebida, como uma forma que
se produz simplesmente pela contigüidade das moradias ou
pelos simples adensamento de população. Ela é, antes de
qualquer coisa, um tipo de associação entre pessoas, associa-
ção esta que é uma forma física e um conteúdo. [...] A cidade é
uma forma necessária a um certo gênero de associação
humana, e suas mudanças morfológicas são condições para
que esta associação se transforme. (GOMES, 2002, p. 20).
1 O trabalho tem como base a dissertação da primeira autora, com a orientação da segunda, que está em
desenvolvimento na UFSC. A parte relatada aqui foi conduzida como projeto de extensão universitária em
2008, com os bolsistas co-autores.
2 Para conhecer mais sobre Topofilia e Topofobia ver Tuan, Yi-fu (1980).
METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO
Esse encontro foi, com certeza, um dos mais tensos até então
concebidos. Talvez porque tivesse um caráter mais sério ou talvez porque
as reuniões estariam perto do seu fim. Cada participante, entretanto, fez o
seu relato, descrevendo o seu caminho preferido para acessar o lugar,
descrevendo de que forma chegava lá, com quem ia, se fazia uso de algum
serviço, se conhecia ou não a redondeza. Ainda descreveram onde e em
que contexto urbano localizavam esse equipamento público.
Figura 2 – Representação da rota terminal urbano até a rodoviária feita por um dos
participantes invisuais – os textos das caixas são as explicações verbalizadas por
quem desenhou.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Rosemy da S. Nascimento
Gabriel Lima
Leonildo Lepre Filho
“A desproporção do mundo,
parece ser, de modo consolador,
apenas uma questão quantitativa.”
(Franz Kafka)
d) Brasil
Mapa-base – 1:25.000.000
Escala Horizontal – 1:7.000.000
Escala Vertical – 1:28.500
Foto 7 – Maquete Geográfica Tátil do Brasil
Foto: Nascimento (2007)
Foto 10 – Passeio tátil guiado pela Maquete Foto 11 – Passeio tátil pela Maquete Geográfica
Geográfica Tátil do Centro Urbano Tátil do Município de Florianópolis
do Município de Florianópolis Foto: Nascimento (2007)
Foto: Ribeiro (2007)
Foto 12 – Passeio tátil pela Maquete Geográfica Foto 13 – Passeio tátil pela Maquete
Tátil do Estado de Santa Catarina Geográfica Tátil do Brasil
Foto: Nascimento (2007) Foto: Nascimento (2007)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
Ruth E. Nogueira
1 Símbolos táteis são aqueles que aparecem em um mapa como ponto, linha ou área, construídos com
textura ou relevo, que são identificados e diferenciados pela discriminação tátil.
Legenda
· selecionar a informação;
· verificar o método de produção e a escala mais adequados;
· selecionar e limitar o número de símbolos;
· limitar as informações escritas, usar legenda;
· usar símbolos contrastantes na textura, forma, altura e cor;
· representar a escala e o norte; e
· utilizar informações gravadas e sons;
3 Edutenimento é um processo pelo qual a tecnologia interativa é usada para promover a educação e o
entretenimento ao mesmo tempo (TAYLOR, 1999 citado por NOGUEIRA, 2008).
Figura 9 – Conteúdos que podem ser baixados, escritos do lado esquerdo da janela
Figura 12 – Planisfério para ser impresso ou para salvar como arquivo .jpg
REFERÊNCIAS
LIMA, Fabrício de. Por uma geografia além da visão. Disponível em:
<http://portaberta.net/educar/>. Acesso em: 22 jul. 2008.
6. A importância do desenho
para crianças cegas 225
Na primeira parte do texto são apresentados alguns aspectos
fundamentais do desenho infantil. Na segunda parte, busca-se justificar e
incentivar o ensino do desenho às crianças cegas apresentando um caso
vivenciado.
DESENHO E INFÂNCIA
1 Todas as fotografias e todos os desenhos apresentados aqui fazem parte dos arquivos do LabDIA,
Laboratório de Pesquisa em Desenho Infantil e Adolescente, por mim coordenado no CEART/UDESC
6. A importância do desenho
para crianças cegas 227
exercício motor – o gesto de traçar linhas – e um exercício visual de
reconhecimento e assemelhamento entre formas e figuras (analogia).
6. A importância do desenho
para crianças cegas 229
usuária de computador são capazes, antes mesmo de serem alfabetiza-
das, de usar as ferramentas desse equipamento para realizar os seus
desenhos.
6. A importância do desenho
para crianças cegas 231
âmbito cerebral, o nível cognitivo de base, isto é, os dados que, pelo resto
da nossa vida, vão nos auxiliar a distinguir rapidamente, por exemplo,
uma mosca de um elefante (DARRAS, 1996, 1998, 2003; RICHARD, 2004;
ROSCH, 1978). Nesse processo algumas categorias de objetos vão sendo
aprendidas, entre elas, por exemplo, passarinho, casa, pessoa, árvore,
nuvem, sol, pato, gato e flor.
DESENHO E INVISUALIDADE
6. A importância do desenho
para crianças cegas 233
Ao mesmo tempo, uma longa seqüência de exercícios foi sendo
realizada, a fim de viabilizar o traçado das figuras: o desenho de linhas mais
longas e mais curtas em várias direções; seqüências de movimentos
ondulados e sinuosos; linhas traçadas ao som de ritmos e cantigas infantis.
Com esses exercícios era trabalhado o controle do gesto necessário ao
desenho (e à escrita). Simultaneamente, as figuras descobertas tatilmente
nas maquetes tridimensionais recebiam uma versão bidimensional, mas
ainda com espessura suficiente para serem percebidas tatilmente. Após, a
figura conhecida por meio de maquetes tridimensionais e bidimensionais
era apresentada em sua versão linear, por meio de um desenho realizado
com linhas de contorno em relevo. Nesse momento, Manuella recebia para
percepção tátil o desenho “já desenhado” que todas as crianças standards
dispõem visualmente como modelo. Ela deveria imitar o desenho e ser
acompanhada, ensinada, nessa imitação, como as demais crianças. Abaixo,
um exemplo da seqüência de aprendizagem.
6. A importância do desenho
para crianças cegas 235
no seu cotidiano. Esse fato demonstrava que, no processo de repetição e
aprendizagem, Manuella adquirira uma concepção de desenho e estava
ganhando autonomia para realizar as suas próprias experiências
(DUARTE; KLUG, 2004).
6. A importância do desenho
para crianças cegas 237
Destaco a seguir alguns desenhos, entre o conjunto obtido, a fim
de analisar aspectos compreendidos como relevantes.
Manuella desenha a si mesma com orelhas (os dois pontos negros laterais
na cabeça, um registrado internamente e o outro na lateral direita externa
à face). Esse detalhe torna evidente que a modalidade sensorial auditiva
de Manuella estava altamente ativada durante a vivência da cena.
Orelhas não são elementos formais utilizados nos esquemas gráficos
infantis para representar figuras humanas, por isso não haviam sido
convocadas quando esse esquema foi ensinado. As partes componentes
do corpo humano foram insistentemente reconhecidas tatilmente tanto
no corpo de Manuella quanto no meu corpo durante o processo de
ensino/aprendizagem, mas a decisão de agregar orelhas ao desenho foi
fotografia recebida pela sua mãe (à direita, no desenho). Ela ouviu a sua
mãe dizer que a fotografia era “bonita”, mas não foi capaz de representar
pelo desenho um significado pessoal para essa palavra. “Bonito” era uma
palavra sem sentido, sem uma concepção própria para Manuella.
6. A importância do desenho
para crianças cegas 239
as partes que nos faziam identificar “beleza”. (Depois dessa nossa
conversa, Manuella esteve um longo período tecendo, verbalmente,
elogios à sua própria “beleza”!) Esse desenho foi, portanto, recurso para a
compreensão de uma dificuldade de significação resultante da impossibi-
lidade visual.
6. A importância do desenho
para crianças cegas 241
Foram evidentes o desinteresse e o desconforto de Manuella ao
tentar desenhar uma cidade. Ela realizou o desenho em segundos: fechou
um espaço com linhas configurando um quadrado e indicou rapidamen-
te casas (à direita, no alto), praça (à esquerda, no alto) e escola. O desenho
parece traduzir uma compreensão limitada pelo verbal, que denuncia a
ausência da experiência visual. Cidade é, na concepção de Manuella, um
espaço fechado (pela linha que configura um quadrado) onde existem
casas, praças e escolas.
5) Desenho e cognição
Figura 19 – Manuella, ago. 2007, Prédio 1 Figura 20 – Manuella, ago. 2007, Prédio 2,
após aprendizagem
6. A importância do desenho
para crianças cegas 243
pedido para desenhar um prédio de apartamentos. A resposta foi rápida:
– Porque desenhando eu posso conhecer!
CONSIDERAÇÕES FINAIS
6. A importância do desenho
para crianças cegas 245
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
KENNEDY, John M. What can we learn about pictures from the blind?
Blind people unfamiliar with pictures can draw in a universally
recognizable outline style. American Cientist, US, v. 71, p. 19-26,
Jan./Feb. 1983.
6. A importância do desenho
para crianças cegas 247
ROCHA, Armando F. O cérebro: um breve relato de sua função.
Jundiaí: EINA, 1999.
GEISA GOLIN
É graduada em Design pela UFSC, especialização em Outdoor
Design pelo Politecnico di Milano – Itália e mestranda do
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil - Cadastro
Técnico Multifinalitário, UFSC. Foi bolsista do projeto Mapas
Táteis no LabTATE. Desenvolve sua dissertação de mestrado
sob a orientação da Prof.ª Ruth E. Nogueira, com enfoque em
Design Universal e Acessibilidade à Web para Deficientes Vi-
suais e Baixa Visão. Contato: geisagolin@gmail.com
RAPHAELA DESIDERIO
Licenciada em Geografia pela Universidade do Estado de
Santa Catarina - UDESC. Foi bolsista de extensão universitária
desenvolvendo projetos na área de ensino de geografia na
rede pública de ensino. É mestranda no Programa de Pós-Gra-
duação em Geografia da UFSC, na linha de pesquisa Geografia em
Processos Educativos. Contato: raphaeladesiderio@yahoo.com.br