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PRÓ-REITORIA DE PESQUISA, PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO

NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM QUALIDADE DE VIDA E MEIO AMBIENTE


MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE URBANO

Ericka Vicente Brandão

URBANIZAÇÃO E VIOLÊNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE A ANOMIA


ESTATAL E A ALTERAÇÃO DOS ÍNDICES DA VIOLÊNCIA URBANA EM
BELÉM DO PARÁ

BELÉM
2009
Ericka Vicente Brandão

URBANIZAÇÃO E VIOLÊNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE A ANOMIA ESTATAL E A


ALTERAÇÃO DOS ÍNDICES DA VIOLÊNCIA URBANA EM BELÉM DO PARÁ

Dissertação apresentada ao programa de


Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Urbano, da Universidade da Amazônia, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre. Linha de pesquisa: Dinâmica Sócio-
ambiental Urbana.

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello

BELÉM
2009
Ericka Vicente Brandão

URBANIZAÇÃO E VIOLÊNCIA: UMA REFLEXÃO SOBRE A ANOMIA ESTATAL E


A ALTERAÇÃO DOS ÍNDICES DA VIOLÊNCIA URBANA EM BELÉM DO PARÁ

Dissertação apresentada ao programa de


Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Urbano, da Universidade da Amazônia, como
requisito parcial para a obtenção do título de
Mestre. Linha de pesquisa: Dinâmica Sócio-
ambiental Urbana.

Orientador: Prof. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello

Defesa: Belém(PA), 19 de outubro de 2009

Banca Examinadora:

___________________________________

Prof. Dr. Leonardo Augusto Lobato Bello


Orientador, Universidade da Amazônia

__________________________________

Prof. Dr. Marco Aurélio Arbage Lobo


Examinador, Universidade da Amazônia

__________________________________

Prof. Dr. Reinaldo Nobre Pontes


Examinador, Universidade da Amazônia
Ao meu marido, que durante toda a minha
vida acadêmica me apoiou e acreditou no meu
trabalho, e que, mais uma vez, sonhou o meu
sonho tornando-o “nosso”. A ele com amor.
AGRADECIMENTOS

A Deus pelo dom da vida, nos momentos difíceis em que Ele me confortou e me
conduziu ao caminho do conhecimento.
À Pró-Reitoria de Pós-Graduação da Universidade da Amazônia, na pessoa da
professora Núbia Maria de Vasconcelos Maciel, pela competência com que conduz os
programas de mestrado da universidade, em especial o Programa de Mestrado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano.
À Coordenação do Programa de Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Urbano, na pessoa do professor Marco Aurélio Arbage Lobo, pela dedicação e empenho
durante todo o curso e, ainda pelos conhecimentos repassados sobre Sistema de Informação
Geográfica, que foram de grande valia para o desenvolvimento desta dissertação.
Às professoras Nírvia Ravena e Voyner Ravena Cañete, pela grande
contribuição no que trata do desenvolvimento de um “olhar” que escapa à visão
tecnicista, promovendo assim o aclaramento das questões que envolvem o espaço
urbano construído e, consequentemente a busca da compreensão deste fenômeno.
À professora Luciana Costa da Fonseca, a qual, como colega, procuro me
espelhar no desenvolvimento da docência, por ter encontrado nela uma grande
inspiração, uma verdadeira mestra ao que se propõe realizar, o ensino e a aprendizagem.
E ainda por ter me proporcionado a visão de uma ciência tão ampla e importante,
quando tratamos o meio ambiente urbano, o “direito” com suas nuances e vertentes.
Ao professor Mário Vasconcelos Sobrinho, que contribuiu sobremaneira
ao desenvolvimento desta dissertação, através dos momentos de convivência,
os quais proporcionaram o aprimoramento do pensamento científico refletindo no
desenvolvimento e compreensão de cada uma das etapas que constituem a pesquisa.
Ao meu orientador, professor Leonardo Augusto Lobato Bello, acima de tudo pela
confiança que depositou nesta pesquisa, e consequentemente nesta pesquisadora. A
paciência, dedicação, empenho e, ainda, pela forma com que abraçou esta pesquisa
incondicionalmente e por ter aceito orientá-la.
Aos novos colegas que através dos nossos debates contribuíram para o meu
conhecimento nas mais diferentes áreas.
A cada um dos funcionários que fazem parte do Programa de Mestrado em
Desenvolvimento e Meio Ambiente Urbano, que por vezes, estavam presentes nos
momentos de convivência que constituíram os dois últimos anos, sempre com uma palavra
ou um gesto amigo e carinhoso, em especial ao nosso querido Tiago, sempre por perto com
o objetivo de nos proporcionar o conforto adequado ao desenvolvimento de nossas tarefas.
Atodos os amigos que de alguma forma contribuíram, mesmo que inconscientemente,
para o desenvolvimento desta pesquisa, seja lendo, dando sugestões, indicando literaturas
ou simplesmente me aguentando nos momentos mais difíceis.
A minha família pelo carinho e compreensão, nos momentos de ausência e
também de conflito.
A Elaynia Cristina Vicente Ono pela dedicação, profissionalismo e competência
com que realizou o projeto gráfico desta dissertação, conferindo a esta pesquisa uma
leitura clara através de uma diagramação adequada ao escopo científico.
À FIDESA, pela assistência financeira concedida por meio da bolsa de estudos
para a realização deste mestrado.
“A mente que se abre a uma nova ideia jamais
voltará ao seu tamanho original.”
Albert Einstein
RESUMO

BRANDÃO, Ericka V. Urbanização e Violência: uma reflexão sobre a anomia estatal e a alteração
dos índices da violência urbana em Belém do Pará. 112 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade da
Amazônia, Belém, 2009.

No Brasil o fenômeno urbano transformou as “cidades” em organismos caracterizados


pelo seu poder de polarização, que traz como consequência desta característica a
produção das desigualdades “socioteritoriais”, reflexo da interação do homem com o
meio ambiente urbano. Um dos fenômenos decorrentes desta produção sócio-espacial
é a violência urbana, foco desta pesquisa, que leva em consideração a constituição
do espaço urbano como fator intrínseco ao fenômeno. Diante da necessidade de
políticas públicas que dêem conta do fenômeno da violência urbana, esta pesquisa
volta-se ao estudo das desigualdades sócio-territoriais com o objetivo de mapeá-
las tendo como ferramenta um sistema de informação geográfica como instrumento
de análise do fenômeno. A metodologia adotada se dá a partir da adaptação de
algumas metodologias utilizadas anteriormente, como por exemplo, Wiens (2007),
onde se propõe a classificação do índice de infraestrutura e equipamentos urbanos,
em contraponto com ao índice de criminalidade violenta, constituído por meio da
adaptação da metodologia utilizada por Massena (1986). De posse dos índices as
variáveis foram contrapostas, tendo como pano de fundo a sua leitura, o mapeamento
cartográfico do espaço. A partir da metodologia adotada nesta pesquisa, buscou-se
criar artifícios que pudessem contribuir na análise do espaço urbano, facilitando o
entendimento do objeto em estudo, neste caso o município de Belém.

Palavras-chave: Urbanismo. Violência Urbana. SIG. Belém


ABSTRACT

BRANDÃO, Ericka V. Urbanização e Violência: uma reflexão sobre a anomia estatal e a alteração
dos índices da violência urbana em Belém do Pará. 112 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade da
Amazônia, Belém, 2009.

The urban phenomenon in Brazil transformed the “cities” in organisms characterized


for its power of polarization, that brings as a consequence of this characteristic the
production of “the socio-spacial” inequalities, facing the interaction of the man with the
urban environment. One of the decurrent phenomena of this socio-spatial production is
the urban violence, focus of this research, that takes in consideration the constitution of
the urban space as intrinsic factor to the phenomenon. Ahead of the necessity of public
politics that give account of the phenomenon of the urban violence, this research turns
it the study of the socio-spacial inaqualities with the objective of mapping them with a
software tool of geographic information as instrument of analysis of the phenomenon.
The methodology adopted was the adaptation of some methodologies used previously,
as for example, Wiens (2007), where if it considers the classification of the index of
infrastructure and urban equipment, in counterpoint with the index of violent crime,
constituted by the adaptation of the methodology used for Massena (1986). The indices
was compared with the variable had been opposed, with the cartographic mapping of
the space. The methodology adopted in this research, was used to create artifices that
could contribute in the analysis of the urban space, facilitating the agreement of the
object in study, in this case the city of Belém.

Keywords: Urbanism. Urban violence. GIS. Belém


LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Princípios da Escola Penal Clássica..........................................................37

Tabela 2: Tendências da violência urbana no Brasil...................................................40

Tabela 3: Delimitação das fases do PRONACI..........................................................42

Tabela 4: Características do programa Terraview 3.3.1.............................................49

Tabela 5: Origem dos dados......................................................................................54

Tabela 6: Constituição da dimensão social................................................................57

Tabela 7: Constituição da dimensão ambiental..........................................................58

Tabela 8: Constituição da dimensão econômica........................................................58

Tabela 9: Indicadores relacionados segundo sua classificação, secundária e primária....59

Tabela 10: Classificação dos índices grupais.............................................................64

Tabela 11:Construção do índice sintético do bairro de Águas Lindas........................64

Tabela 12: Relação do ICV com o iIEU......................................................................94


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Ilustração 1: Ilustração da Teoria Multifatorial............................................................16

Ilustração 2: Esquema dos pressupostos do planejamento urbano integrado...........25

Ilustração 3: Boulevard da República.........................................................................29

Ilustração 4: Planta da cidade de Belém, com a primeira légua patrimonial demarcada-1903....31

Ilustração 5: Esquema que retrata as diversas causas da violência urbana.............35

Ilustração 6: Fluxograma da arquitetura do SIG........................................................46

Ilustração 7: Mapa de pontos do TerraView...............................................................47

Ilustração 8: Ilustração de mapa – densidade............................................................48

Ilustração 9: Mapa de Kernel.....................................................................................48

Ilustração 10: Metodologia utilizada na pesquisa.......................................................53

Ilustração 11: Município de Belém – divisão político-administrativa...........................55

Ilustração 12: iIEU......................................................................................................61

Ilustração 13: Exemplo de limiares do iIEU................................................................62

Ilustração 14: Esquema da construção do índice grupal...........................................62

Ilustração 15: Construção do índice sintético.............................................................63


LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Mapa do iIEU................................................................................................71

Mapa 2: Mapa do iIEU correlacionando os índices grupais.......................................73

Mapa 3: Mapa do Índice Social Grupal......................................................................74

Mapa 4: Índice grupal social e a relação com os índices parciais

de segurança, saúde e lazer..............................................................................75

Mapa 5: Índice grupal social e a relação com os índices parciais de educação.......77

Mapa 6: Índice ambiental grupal................................................................................82

Mapa 7: Índice ambiental grupal e a relação com os índices parciais de saneamento..84

Mapa 8: Índice econômico grupal..............................................................................86

Mapa 9: Índice econômico grupal e a relação entre os índices social grupal e

ambiental grupal...........................................................................................87

Mapa 10: Índice de criminalidade violenta.................................................................89

Mapa 11: Índice de criminalidade violenta e os eventos de criminalidade violenta....92

Mapa 12: Relação do ICV com o iIEU........................................................................94


LISTA DE SIGLAS

AE Anuário Estatístico do Município de Belém 2006

AEbd Análise Espacial de Dados Geográficos

AGB Associação dos Geógrafos Brasileiros

BDG Banco de Dados Geográficos

CBB Comissão dos Bairros de Belém

CMP Central de Movimentos Populares

Companhia de Desenvolvimento e Administração da área


CODEM
Metropolitana de Belém
Centro de Estudos da Criminalidade da Universidade Federal de
CRISP
Minas Gerais

DABEL Distrito Administrativo de Belém

DABEN Distrito Administrativo do Benguí

DAENT Distrito Administrativo do Entroncamento

DAGUA Distrito Administrativo do Guamá

DASAC Distrito Administrativo da Sacramenta

DPP Domicílio Particular Permanente

Domicílios Particulares Permanentes Abastecidos pela Rede


DPPa
Geral de Água

DPPb Domicílio Particular Permanente com Banheiro

DPPe Domicílio Particular Permanente com Ligação a Rede de Esgoto

DPPl Domicílio Particular Permanente Servido por Coleta de Lixo

FIDESA Fundação Instituto para o Desenvolvimento da Amazônia

FUNCATE Fundação de Ciência, Aplicações e Tecnologia Espaciais

IAB Instituto dos Arquitetos do Brasil


IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

iCV Índice de Criminalidade Violenta

IGS Instituto Econômico e Social da Polônia

iIEU Índice de Infraestrutura e Equipamentos Urbanos

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

IPARDES Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social

IPEA Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPPUC Instituto de Políticas Públicas de Curitiba

ias1 Índice Ambiental Social 1

ias2 Índice Ambiental Social 2

ias3 Índice Ambiental Social 3

ias4 Índice Ambiental Social 4

ier Índice Econômico de Renda

ise1 Índice Social de Educação 1

ise2 Índice Social de Educação 2

ise3 Índice Social de Educação 3

issg Índice Social de Segurança

issd Índice Social de Saúde

islz Índice Social de Lazer

MEC Ministério da Educação

NEV Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo

ONU Organização das Nações Unidas


PC Polícia Civil do Estado do Pará

PDN Plano de Desenvolvimento Nacional

PDTU Plano Diretor de Transportes Urbanos

PDU Plano Diretor Urbano

Plano de Integração e Acompanhamento de Programas Sociais


PIAPS
de Prevenção à Violência

PIN Plano de Intervenção Nacional

PMB Prefeitura Municipal de Belém

PNSP Plano Nacional de Segurança Pública

PRONASCI Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania

PUC-SP Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

PUC-RJ Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

SEDUC Secretaria de Estado de Educação

Secretaria Municipal de Coordenação Geral do Planejamento


SEGEP
e Gestão

SEMMA Secretaria Municipal de Meio Ambiente

SESPA Secretaria de Estado de Saúde Pública

SIG Sistema de Informação Geográfica

tDPP Taxa de Domicílio Particular Permanente

tDPPa Taxa de Domicílio Particular Permanente Abastecido por Água

tDPPb Taxa de Domicílio Particular Permanente com Banheiro

tDPPl Taxa de Domicílio Particular Permanente Servido de Coleta de Lixo


SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................16

2. REVISÃO DE LITERATURA..................................................................................19
2.1. O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO..................................................................19
2.1.1. O processo de urbanização no Brasil........................................................21
2.1.2. O processo de urbanização em Belém (PA)...............................................27
2.2. VIOLÊNCIA URBANA........................................................................................34
2.2.1. Crime e violência: uma visão das escolas penais.....................................36
2.2.2. Uma abordagem da violência urbana: o cenário brasileiro......................39
2.3. SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA:
UMA FERRAMENTA DE ANÁLISE....................................................................44
2.3.1. Análise espacial de dados geográficos......................................................45
2.3.2. Análise espacial de dados geográficos: uma aplicação no ambiente
urbano............................................................................................................49

3. MATERIAL, MÉTODO E DESCRIÇÃO DOS DADOS......................................52


3.1. ORIGEM DOS DADOS......................................................................................52
3.2. DELIMITAÇÃO DO UNIVERSO DA PESQUISA................................................54
3.3. CONSTRUÇÃO DOS INDICADORES POR BAIRRO.......................................56
3.3.1. Indicadores do iIEU......................................................................................56
3.3.2. Indicadores do iCV.......................................................................................60
3.4. CONSTRUÇÃO DOS ÍNDICES POR BAIRRO..................................................60
3.4.1. Construção do índice de infraestrutura e equipamentos urbanos:
método genebrino........................................................................................61
3.4.2. Construção do índice de criminalidade violenta: método bayesiano.....65
3.5. MAPAS TEMÁTICOS.........................................................................................66

4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS......................................68


4.1. ANÁLISE DO IIEU POR BAIRRO......................................................................68
4.1.1. Análise comparativa do iIEU correlacionando as suas dimensões..........72
4.1.1.1. Análise comparativa do índice social grupal...........................................72
4.1.1.2. Análise comparativa do índice ambiental grupal.....................................83
4.1.1.3. Análise comparativa do índice econômico grupal..................................85
4.2. ANÁLISE DO ICV POR BAIRRO.......................................................................88
4.3. ANÁLISE DA RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE O iIEU E O ICV........................93

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................96

REFERÊNCIAS........................................................................................................101
APÊNDICE A
1 INTRODUÇÃO

Acredita-se que nas primeiras décadas do século XXI a violência urbana será um
dos principais focos de pesquisas entre a sociedade brasileira e mundial, constituindo-se
talvez como o maior desafio de gestão da urbe. Alguns países, como por exemplo: os
Estados Unidos da América e a Colômbia já se mobilizam na intenção de criar mecanismos
que viabilizem a sustentabilidade da segurança pública. A cidade não está resumida à sua
delimitação físico-geográfica, ela deve ser analisada a partir de um todo que interage
diretamente com suas partes, com características dinâmicas sujeitas a mudanças.

Partindo deste princípio, o planejamento urbano se faz imprescindível na


relação “do todo com as partes” e atua como um agente na estruturação das partes
com o todo. As áreas de urbanização desordenada fazem com que surjam bolsões
dentro do tecido urbano, que se constituem em áreas potenciais ao desenvolvimento
da violência urbana, uma vez que os indivíduos que vivem nestes espaços encontram
dificuldades no que diz respeito a acessibilidade, educação, equipamentos de lazer,
cultura e outros. Isto faz com que diminuam as oportunidades de inserção na sociedade,
levando ao aumento da formação de novos indivíduos no crime. É válido ressaltar que
a violência urbana está presente em todas as classes sociais, no entanto é no extrato
mais pobre, onde as oportunidades são limitadas, que ela se intensifica.

Elliot e Merril (1961, p. 11) apud Gomes (2002), doutrinadores da Teoria


Multifatorial, afirmam que muitos delitos são frutos de uma acumulação de sete ou
mais circunstâncias negativas (Ilustração1).

Um jovem seria capaz de conviver e superar duas ou três das características


citadas acima como negativas, porém se ele tiver que enfrentar um número maior
passa a ser muito difícil sua superação, o que o leva a ingressar na criminalidade.

Ilustração 1: Ilustração da Teoria Multifatorial


Fonte: Elaborada pela autora com base em Elliot e Merril (1961) apud
Gomes (2002) (2009)

16
No Brasil o primeiro relatório oficial sobre o desenvolvimento sustentável
no país, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2004), constatou que no período de 1992 a 1999 os homicídios passaram de 19,2
para cada 100.000 habitantes para 26,18 para cada 100.000 habitantes, o que
reflete em um aumento de aproximadamente 40%. A pesquisa em questão tomou
para análise o fenômeno da urbanização como fator relacional do aumento deste
indicador de violência urbana.

A questão central que norteia esta pesquisa foi pautada na tentativa de


compreensão de como a ausência de infraestrutura e de equipamentos urbanos
podem contribuir para o crescimento da violência urbana nos grandes centros
metropolitanos. O critério estabelecido aqui para definir áreas de risco considera
aquelas áreas que apresentam a soma de dois fatores: (i) a constituição espontânea de
sítios urbanos, sem nenhum planejamento prévio; (ii) a anomia estatal, caracterizada
pela precariedade ou até inexistência de infraestrutura e equipamentos urbanos, tais
como escola, posto de saúde, água encanada, esgoto sanitário e áreas de lazer.

A temática violência urbana está diretamente atrelada às políticas públicas que


devem nortear a elaboração e a implantação de ações mitigadoras, relacionadas à
violência urbana, objetivando garantir à urbe suas funções. Dessa maneira, a sociedade
que a habita se encontrará protegida. O tema violência urbana deve ser gerido com
uma visão holística buscando gerenciar e integrar todos os fatores componentes deste
fenômeno. Quando se fala de políticas públicas, com um pano de fundo da violência
urbana, não se trata apenas de questões voltadas à segurança pública, mas também
de questões que envolvem o planejamento urbano, a educação, a saúde e a cultura.
Há, portando, a necessidade de um estudo amplo sobre a temática para obter juízo
sobre o tema em discussão.

A presente pesquisa atuou dentro da linha de discussão que entende o fenômeno


da anomia estatal como catalisador da violência urbana, em especial nos grandes
centros metropolitanos. Tem-se como hipótese que a presença de infraestrutura
dentro do tecido urbano é fundamental para que os indivíduos interajam através
do acesso a educação, equipamentos de lazer, cultura e outros, com o objetivo de
aumentar as oportunidades de inserção na sociedade. Partindo deste princípio tem-
se como objetivo realizar uma análise que dispõe da relação entre a implantação
de infraestrutura e equipamentos urbanos em áreas de urbanização desordenada
e a alteração dos índices da violência urbana nos grandes centros metropolitanos.
Tal análise foi demonstrada através do georeferenciamento da área que compõem o
tecido urbano do município de Belém, identificando através de mapas temáticos as
variáveis consideradas neste estudo, como por exemplo: o perfil socioeconômico da
população traduzido em níveis de escolaridade e renda.

17
Para esta pesquisa foi adotado como objeto de estudo o município de Belém,
capital do estado do Pará, que é constituído por áreas insulares (39 ilhas) e pela
área continental. Neste estudo foi considerada apenas a área continental envolvendo
analiticamente 37 dos 71 bairros1 que se distinguem pelo processo de urbanização
de cada um, gerando características particulares que foram expostas à análise nesta
pesquisa acadêmica, e a partir dos questionamentos acima postos realizou-se uma
leitura através da visualização de mapas temáticos obtidos com o auxilio de uma
ferramenta computacional, o Sistema de Informação Geográfica (SIG).

Nesta pesquisa foi utilizado como ferramenta o programa TerraView 3.3.1,


software livre, desenvolvido e disponibilizado pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (INPE). As análises de dados georeferenciados aconteceram por
meio de mapas temáticos que tem como suporte o tratamento de dados de base
geográfica e dados estatísticos tabulados, transformando as análises em imagens
cartográficas de leitura universal.

A presente dissertação consta de cinco capítulos que trataram sobre a questão


central da pesquisa. O primeiro capítulo buscou introduzir o tema direcionando o
leitor com objetivo de esclarecer as premissas da pesquisa. No capítulo segundo foi
exposto o que se refere à revisão de literatura, onde os conceitos foram destacados
e contrapostos para uma melhor análise dos fatos que representam a pesquisa.
No capítulo terceiro foram contemplados os procedimentos metodológicos que
a pesquisa seguiu para alcançar sua finalidade, neste capítulo foi descrito cada
etapa da metodologia adotada na pesquisa, detalhadamente. No capítulo quarto
foram tratadas a análise e a interpretação dos dados coletados durante a pesquisa.
No capítulo quinto foram dispostas as conclusões e as sugestões pertinentes à
pesquisa realizada. E por fim seguem as referências bibliográficas que fizeram
parte desta pesquisa.

1
Lei Municipal n. 7.806 de 30 de julho de 1996, que delimita as áreas que compõem os bairros de
Belém e dá outras providências.

18
2 REVISÃO DE LITERATURA

O presente capítulo disserta sobre a literatura que trata das questões inerentes
a esta pesquisa como crescimento urbano desordenado e violência urbana, e ainda
fala do uso da ferramenta que esteia a discussão, o georreferenciamento destes dados
traduzindo-os em mapas cartográficos.

O primeiro tópico deste capítulo trata da temática do crescimento urbano


dos centros metropolitanos caracterizado pelo assentamento urbano, muitas vezes
não planejado, onde o acesso a cidade, de fato, é negado à população que habita
essas áreas.

É comum e cotidiano o tema violência urbana, que faz parte de discussões


que acontecem nos âmbitos mais distintos como: no meio acadêmico, mas também
nos meios de comunicação em massa, nas ruas, e até mesmo em reuniões sociais, e
ainda assim, diante de intensos debates a conceituação é de extrema complexidade.
O segundo tópico desta revisão versa sobre tal temática.

O último tema a ser tratado nesta revisão trata a concretização da arguição


entre os aspectos que envolvem os índices de violência urbana e o nível de
infraestrutura urbana, que toma como princípio o georreferenciamento desses
dados estatísticos convertendo-os em uma análise de leitura universal através de
mapas temáticos.

2.1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO

Esta sessão aborda aspectos relacionados ao processo de urbanização e


crescimento urbano imposto às cidades durante o seu desenvolvimento. Para chegar
a tal abordagem, se faz necessário, inicialmente, trazer à tona a origem do termo
“urbanismo”, tendo como base a vertente de pensamento francesa, que foi difundida
por dois grandes teóricos. Um conceito bastante disseminado é o do urbanista francês
Alfred Agache2, que se intitula criador do termo. Para Agache (1931) apud Santos
(2006, p. 7) o termo significa:

Uma ciência, e uma arte e, sobretudo uma filosofia social. Entende-se


por urbanismo, o conjunto de regras aplicadas ao melhoramento das
edificações, do arruamento, da circulação e do descongestionamento das
artérias públicas. É a remodelação, a extensão e o embelezamento de
uma cidade, levados a efeito, mediante um estudo metódico da geografia
humana e da topografia urbana sem descurar as soluções financeiras.
2
Alfred Agache, urbanista francês nascido em Tours em 1875, faleceu em Paris em 1959. Chegou
ao Brasil em fevereiro de 1927, contratado pelo prefeito Prado Junior, para elaborar o plano de
remodelação da cidade do Rio de Janeiro.

19
Por sua vez, Bardet3 (1990) postula que o termo surgiu pela primeira vez no ano
de 1910, no Bulletin de la Societé geographique de Neufchâtel. Nascia então “uma nova
ciência” caracterizada por seu caráter crítico e reflexivo. Segundo Bardet (1990, p.8)

[...] afim de disciplinar essas massas que traziam problemas de


“grandes números” devido a sua concentração em certos pontos do
espaço [...] uma nova ciência de aplicação devia eclodir: a ciência
da organização das massas sobre o solo. Por volta de 1910 ela foi
batizada na França de Urbanismo (tow planning, städtebau), o que
quer dizer, etimologicamente, ciência do planejamento das cidades.

Villaça (2004, p. 180) chamou atenção ao cuidado que é necessário existir


quando se coloca em pauta a conceituação do termo urbanismo:

[...] pode ter três sentidos. O primeiro corresponde ao conjunto de técnicas


e / ou discursos referentes à ação do Estado sobre a cidade; corresponde,
em inglês, ao city planning, ao francês urbanism e ao português urbanismo,
no sentido antigo. Esse sentido existe no Brasil desde seu aparecimento
na França, no início deste século. O segundo corresponde a um estilo de
vida “Wirth, 1973, publicado em 1938”, sendo designado, em inglês, por
urbanism; finalmente o terceiro refere-se ao conjunto das ciências – e
supostas ciências – que estudam o urbano; este último sentido só passou
a ser utilizado no Brasil em décadas recentes.

A partir das premissas pontuadas por Agache (1931) apud Santos (2006),
e Bardet (1990) e de posse das variáveis que o termo em pauta sugere ao ser
evocado, buscou-se nesta pesquisa o entendimento mais aprofundado do processo
de urbanização. Este teve seu início no século XIX, caracterizado pela Revolução
Industrial que tirou o homem do campo e o levou à cidade, na busca por novos meios
de produção, com a perspectiva de conquistar melhores condições de vida. Durante
este processo, houve diferentes respostas ao processo de urbanização no que tange
a assimilação das mudanças trazidas pela revolução industrial.

Algumas cidades do continente europeu como Barcelona, Paris e Londres


receberam as mudanças acompanhadas de planejamento, permitindo que o
assentamento da população que migrava do campo para a cidade ocorresse de
maneira favorável a esta sociedade, atrelando os benefícios gerados pela indústria.

Já a América Latina, que conheceu o fenômeno da urbanização no século


seguinte da Europa, respondeu ao processo de urbanização de maneira acelerada e
desequilibrada. Ao chegar a países como Brasil, Chile, Colômbia e Equador, a indústria
gerou a migração da sociedade do campo para a cidade, sem que houvesse um
planejamento urbano que pudesse dar conta de receber tal contingente nas cidades.

Gaston Bardet foi um urbanista, um arquiteto e um escritor francês, que nasceu em 1907 e faleceu em 1989
3

na cidade de Vichy. Ele foi um teórico do urbanismo francês e publicou o livro “L’urbanisme”, em 1945.

20
[...] deve-se atentar também em quando se pretende fazer comparações
entre o planejamento urbano na Europa ou nos Estados Unidos e o
planejamento urbano no Brasil. Lá, ao contrário daqui, ele corresponde
em parte à ação concreta do Estado (VILLAÇA, 2004, p. 191).

Ao considerar as particularidades entre os cenários que contextualizam o início do


processo de urbanização na Europa e no Brasil, tem-se então a aclaração dos diferentes
saldos desse processo. No cenário europeu o planejamento urbano atuou legitimando a
ação concreta do Estado. Já no Brasil, o planejamento urbano atuou como uma “fachada
ideológica” trabalhando de forma a ocultar à atuação do Estado, traduzindo-se em mero
discurso, ao confundir o campo ideológico com políticas urbanas.

Estas que se referem a reais ações e consequentes propostas de ação do Estado


sobre o urbano. Uma vez que, segundo Villaça (2004, p. 173) “urbanismo é a ação
do Estado sobre a organização do espaço intra-urbano”, daí a apreciação de cenários
distintos que se apresentam após dois séculos do início do processo de urbanização.

2.1.1 O processo de urbanização no Brasil

A história da urbanização brasileira pode ser dividida em três períodos distintos,


que remetem, consequentemente, a três fases distintas. Nestas, os conceitos de
urbanismo se mesclam à história do país se encaixando e reproduzindo o espaço
social e geográfico com suas características e pretensões bem delimitadas no tempo e
no espaço, expressando o cenário a que se refere cada um dos períodos em questão.
Para Villaça (2004, p. 182):

O primeiro período é marcado pelos planos de melhoramentos


e embelezamento ainda herdeiros da forma urbana monumental
que exaltava a burguesia e que destruiu a forma urbana medieval
(e colonial, no caso do Brasil). É o urbanismo de Versalhes, de
Washington, de Haussmman e de Pereira Passos. O segundo, que se
inicia na década de 1930, é marcado pela ideologia do planejamento,
enquanto técnica de base cientifica, indispensável para a solução dos
chamados “problemas urbanos”. Finalmente o último, que mal está
começando, é o período marcado pela reação ao segundo.

A primeira fase do urbanismo, a que Villaça (2004) se refere, abrangeu o período


que vai de 1875 a 1930, e foi caracterizada pelo embelezamento das cidades, premissa
trazida da França que pregava a beleza monumental. Notou-se esta fase em diversas
cidades do continente europeu e americano como, por exemplo: Madri, Barcelona,
Buenos Aires, Budapeste, Washington e Chicago. No Brasil tal vertente urbanística
tomou cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Belém, e outras tantas. Uma das

21
marcas dessa vertente explicitou-se pelo conceito de embelezamento urbano, o qual
não se resumiu apenas ao discurso, mas se concretizou pela ação do Estado.

No Brasil o planejamento urbano surgiu em 1875, acoplado ao princípio do


embelezamento urbano. Benchimol (1992, p. 228) apud Villaça (2004, p. 193)
transcorre com clareza sobre o termo, a saber:

O termo “embelezar” tem enorme ressonância no discurso


propagandístico da época. Designa, mais do que a imposição de novos
valores estéticos, a criação de uma nova fisionomia arquitetônica
para a cidade. Encobre, por assim dizer, múltiplas “estratégias”. A
erradicação da população trabalhadora que residia na área central;
[...] a mudança de função do centro, atendendo – num plano mais
imediato – aos interesses especulativos que cobiçavam essa área
altamente valorizada e – num plano mais geral – às exigências da
acumulação e circulação do capital comercial e financeiro; razões
ideológicas ligadas ao “desfrute” das camadas privilegiadas; razões
políticas decorrentes de exigências específicas do Estado republicano
em relação àquela cidade que era a sede do poder político nacional.

O segundo período da história do urbanismo, a que esta sessão se refere,


está vinculado a uma nova realidade trazida à reboque da Revolução Industrial, no
momento o Estado precisava responder à migração da população rural para as cidades.
A característica principal deste período – 1930 a 1990 – está conectada às melhorias
voltadas à infraestrutura, priorizadas até mesmo frente as obras de habitação, muitas
vezes esquecidas. Neste novo cenário tem-se como princípio a cidade como força de
produção, como relata Villaça (2004, p. 199):

[...] com o crescimento da riqueza do país com a concentração e


centralização crescentes do capital, há a necessidade de obras cada
vez mais gigantescas, e as de embelezamento dificilmente teriam
porte suficiente para consumir recursos vultuosos. Passa-se assim da
“cidade bela” para a “cidade eficiente”, da cidade do consumo para
a cidade da produção. Em ambas; entretanto, o interesse imobiliário
estará sempre fortemente presente.

No Brasil, o fenômeno da migração do campo para as cidades começou a


ser observado mais intensamente a partir da segunda metade do século XX,
quando se verificou que, em 1940, o Brasil tinha apenas cerca 23,6% do total de
sua população morando nas cidades. Algumas décadas depois, no ano de 2000,
o número de habitantes urbanos em relação ao total de sua população saltou para
81,2%. Em termos de números absolutos, esta estatística se traduz em um salto que
compreende um intervalo de 60 anos, onde as cidades que antes abrigavam 18,8
milhões de habitantes passam a acolher 138 milhões de habitantes, correspondendo
a um aumento de mais de 125 milhões pessoas.

22
Uma interpretação mais minuciosa indica que as cidades brasileiras receberam
um enorme contingente populacional em um breve espaço de tempo, sem que para tanto
houvesse um planejamento urbano adequado para o assentamento desta população,
juntamente com a ausência de políticas públicas que alcançassem as necessidades da
cidade de maneira efetiva, transformando o ofício do urbanista em um fazer utópico.

A função social da propriedade não se efetivou como era a intenção dos arquitetos
ao defenderem a reforma urbana no congresso do Instituto dos Arquitetos do Brasil
(IAB), em 1963. A especulação imobiliária tomou seu lugar excluindo grande parte da
população e priorizou assim as classes média e alta. A contrapartida apresentada pelo
poder público foi a criação de conjuntos habitacionais sempre localizados em “vazios
urbanos”, ou seja, áreas afastadas do centro urbano, sem serviços e infraestrutura,
penalizando assim, não só aos seus moradores como também os cofres públicos no
momento em que tiveram, mais tarde, que ampliar a rede de infraestrutura.

As reformas urbanas, realizadas em diversas cidades brasileiras


entre o final do séc. XIX e o início do séc. XX, lançaram as bases
de um urbanismo moderno, a “moda” da periferia. Realizavam obras
de saneamento básico para a eliminação das epidemias, ao mesmo
tempo em que se promovia o embelezamento paisagístico e eram
implantadas as bases legais para um mercado imobiliário de corte
capitalista. A população excluída desse processo era expulsa para
os morros e franjas da cidade. Manaus, Belém, Porto Alegre, Curitiba
Santos, Recife, São Paulo e especialmente o Rio de Janeiro são
cidades que passaram por mudanças que conjugaram saneamento
ambiental, embelezamento e segregação territorial, neste período
(MARICATO 2008, p. 17).

No ano de 1964, no momento da ascensão do regime militar, com o intuito de


amenizar a problemática da habitação popular, o Brasil passou a ter um direcionamento
de recursos voltados à habitação com a criação do Banco Nacional de Habitação e do
Sistema Financeiro de Habitação. Este foi o marco que permitiu a implementação, neste
período, de um novo conceito de moradia que passa a ser reconhecido nas cidades
brasileiras, a chegada da verticalização por meio dos edifícios de apartamentos.
Durante o período que envolveu o governo militar, e mesmo após ele com a volta do
Estado Democrático em 1988, algumas lacunas, no que diz respeito ao processo de
desenvolvimento urbano, ficaram abertas.

O terceiro e último período referente ao processo de urbanização, tratado nesta


sessão, marca a retomada da democratização do país, que através da nova Constituição
(1988) previu a criação e a implementação do plano diretor, agora transformado em
projeto de lei. No entanto, a chave propulsora desta nova fase foi a politização dos
planos através da conscientização popular em resposta ao período anterior, que por
sua vez permitiu o cerceamento de atitudes relacionadas a ação dos entes clássicos,

23
como os tecnocratas e cientistas, sobre a cidade, transformando assim tal fazer em
sessões de debates que agora envolveram uma concepção multidisciplinar tanto
no contexto técnico-cientifico como na tomada de poder da sociedade como parte
integrante do processo.

Os problemas a serem atacados num plano diretor, bem como suas


prioridades (dos problemas, não das obras, como disse A Folha), são
uma questão política e não técnica. São questões que devem estar
nas plataformas dos movimentos populares e dos partidos políticos. O
diagnóstico técnico servirá, isto sim, e sempre a posteriori (ao contrário do
tradicional), para dimensionar, escalonar ou viabilizar as propostas, que
são políticas; nunca para revelar os problemas VILLAÇA (2004, p. 236).

Ao observar o resultado no desenvolvimento das cidades, após décadas sem


a intervenção devida de políticas que respondessem às necessidades do espaço
urbano, têm-se hoje questionamentos que levam à reflexão: (i) Como dispor das Áreas
de Proteção Ambiental ocupadas por habitações irregulares? (ii) Como reagir diante
da especulação imobiliária? (iii) Como por em prática a função social da propriedade
e outras tantas que levam ao caos urbano?

A cidade brasileira é hoje o país. O Brasil está estampado nas suas cidades.
Sendo o país, elas são a síntese das potencialidades, dos avanços e
também dos problemas do país. Vamos falar dos problemas. Nossas
cidades são hoje o locus da injustiça social e da exclusão brasileiras.
Nelas estão a marginalidade, a violência, a baixa escolaridade, o precário
atendimento à saúde, as más condições de habitação e transporte e o
meio ambiente degradado. Essa é a nova face da urbanização brasileira
(VILLAÇA, 2003 apud BRITO 2009, p. 185).

Os urbanistas e os políticos vivenciam na primeira década do século XXI o que


alguns autores chamam de “limitações do planejamento democrático” caracterizado
por um ambiente construído que naturalmente reflete a sociedade que o constrói e
o ocupa, espelho de uma sociedade desigual e autoritária.

Segundo Villaça (1999) apud Maricato (2008, p. 56), “a inviabilidade do


planejamento no Brasil está ligada a falta de condições da elite de conquistar uma
posição hegemônica com suas propostas para a cidade”. O chamado planejamento
urbano modernista-funcionalista obteve resultados equivocados revelando planos
urbanísticos que foram batizados de “ideias fora do lugar” posto que não alcançavam
o mérito principal a que se propunham, isto é, solucionar o fenômeno do vertiginoso
crescimento urbano.

O urbanismo contemporâneo precisou, portanto, lidar com uma história recente


de urbanização desordenada. Os agentes envolvidos nesse processo extrapolam o
saber técnico e devem ampliar seus conhecimentos, buscando a realidade empírica

24
urbana, bem como detectar os erros e acertos das experiências convencionais recentes
(décadas de 1980 e 1990), além de observar também as experiências vividas em
outros países, em especial nos chamados países “em desenvolvimento”.

Atualmente a realidade urbana aparece mais como um caos e uma


desordem – que contém uma ordem a descobrir – do que como objeto.
Qual é o alcance, qual é o papel, disso que se chama urbanismo? Existem
urbanistas, saídos ou não do corpo dos arquitetos. Se já conhecem a
ordem urbana, não têm necessidade de uma ciência. Seu urbanismo
já contém esse conhecimento, ele se apodera do objeto e encerra no
seu sistema de ação. Se não conhecem a ordem urbana, oculta ou em
formação, tem necessidade de uma ciência nova. Mas, então, o que é
atualmente o urbanismo? Uma ideologia? Uma prática incerta e parcial
que se pretende global? Um sistema que implica elementos técnicos
que se fia na autoridade para se impor? Há que se perguntar e exigir
uma resposta clara e sólida (LEFEBVRE 2008, p. 59).

Nesta linha, segundo Maricato (2008), o planejamento urbano acredita que


para implementar uma proposta coerente, que dê conta das suas especificidades,
faz-se necessário a construção de um cenário que responda a alguns pressupostos
(Ilustração 2).

Ilustração 2: Esquema dos pressupostos do planejamento urbano integrado


Fonte: Elaborado pela autora com base em Maricato (2008) (2009)

No Brasil, via de regra, os centros urbanos apresentam uma realidade bastante


peculiar e distante do que preconiza o Estatuto da Cidade4, revelando a cidade como
um espaço elitizado e segregador, dedicado às classes alta e média, ficando reservado
Instrumento idealizado durante o processo de construção da Constituição de 1988 como uma emenda
4

popular identificada pela defesa da reforma urbana, que conquistou 250.000 assinaturas, passando a fazer
parte do texto constitucional e, inserido no Capítulo de Política Urbana, artigos 182 e 183, obtendo a Sanção
Presidencial somente em julho de 2001. Este instrumento nasce com princípios que buscam atender as
funções sociais das cidades e das propriedades visando o direito à moradia e inclusão territorial, a superação
da dualidade entre as cidades formais e informais, legais e ilegais, propondo ainda uma gestão democrática
que inclui todos os segmentos sociais no processo de elaboração e implementação de propostas.

25
à classe baixa as habitações implantadas e consolidadas em áreas de invasões,
algumas vezes através de um processo de assentamento espontâneo, outras até
mesmo dotado de certa organização.

A forma como estas áreas se constituem, na sua maioria à margem do tecido urbano
formal das cidades, demonstra que mesmo estando localizadas fora da cidade constituída
pela ação do Estado, e ainda denominadas como áreas “ilegais”, são sem dúvida áreas
“institucionais”, e de acordo com Maricato (2008) “as novas favelas e loteamentos ilegais
surgem nas terras vazias desprezadas pelo mercado imobiliário privado.”

A ocupação do solo obedece a uma estrutura informal de poder: a lei de


mercado precede a lei/norma jurídica. Esta é aplicada de forma arbitrária.
A ilegalidade é tolerada porque é válvula de escape para um mercado
fundiário altamente especulativo. Tanto a argumentação de cunho
liberal quanto a estatizante são utilizadas para assegurar manutenção
de privilégios. Regulação exagerada convive com total laissez faire em
diferentes áreas de uma mesma cidade (MARICATO 2008, p. 83).

Ao fenômeno do urbanismo não cabe mais o pensamento cartesiano, devendo-


se abandonar os princípios que partem apenas da comparação simplista dos elementos.
Para dar conta desta temática é necessária, além da busca por argumentos científicos,
para se apoiar no momento em que compreende e analisa o fenômeno, a discussão
sob diversas óticas a partir dos métodos que percebem a constituição do espaço
físico, do assentamento humano, adentrando em suas relações de vizinhança, e ainda
chegando ao nível de descrever as heterogeneidades do espaço físico e a absorção
desses espaços pelo sujeito que o habita.

[...] o objetivo não é construir o antigo urbanismo, comprometido desde


quando Marx e Nietzsche o submeteram à mais dura critica teórica. A
questão é saber se a sociedade urbana autoriza a elaboração de um
novo urbanismo, uma vez que a sociedade dita industrial capitalista
ou não, desacreditou praticamente o antigo (LEFEBVRE 2008, p. 65).

Ao tratarmos o espaço físico podemos encontrar duas situações distintas, a


saber: o espaço natural que não teve interferência do homem e o espaço resultante da
ação do homem. Este, reflete a sociedade e a época a que ela pertence, percebida e
traduzida por processos distintos, mas que reagem de maneira relacional, retratados
pela economia, pelas relações sociais e políticas, dentro de um cenário onde de acordo
com a intensidade destes fenômenos o espaço se molda.

Funcionalidade, forma e estrutura, alicerces que constituem o espaço, o


habitat de uma sociedade, são fatores necessários à compreensão global deste ente,
compreensão esta que só se faz possível a partir da análise simultânea das três
categorias analíticas que o sustentam. De posse deste julgamento para que se tenha

26
em mente a possibilidade de êxito no que trata o planejamento de espaços urbanos, a
equipe que envolve esta competência deve aplicar seus conceitos tendo em vista que a
funcionalidade, a forma e a estrutura que se adéquam à ideia de totalidade para atingir
os moldes de uma determinada sociedade. A funcionalidade, a forma e a estrutura do
espaço não alcançam seu cume quando tratadas separadamente, precisam ganhar a
dimensão da totalidade para contribuir efetivamente na análise dos espaços urbanos.

Na busca de novas soluções para a efetivação do espaço urbano Jane Jacobs5,


seguindo a inquietação de Levebvre6 ao discorrer sobre a nova ótica do fazer urbanístico,
lança severas críticas ao chamado “planejamento moderno”, não no que tange a métodos,
e sim a “princípios e objetivos que moldaram o planejamento urbano e a reurbanização
modernos e ortodoxos”. Em sua obra mais conhecida, “Morte e vida de grandes cidades”7,
Jacobs indaga a respeito do que leva determinadas ruas, parques e até mesmo bairros
a serem violentos ou prazerosos ao convívio da sociedade, de forma a pensar o ofício
urbanístico, questionando e instigando o saber da importância em relacionar a prática
vivencial das cidades como alicerce para embasar princípios que indiquem ao plano
urbanístico a promoção da “vitalidade socioeconômica” que faz uso da cidade. Na busca
equivocada pelo modelo urbanístico moderno, o que se viu, via de regra, são a segregação
e a expropriação de uma parcela da sociedade que vive à margem da “cidade legal”8.

O processo de crescimento urbano vivenciado no Brasil, desde o fim do século


XIX, passou por transformações conceituais no intuito de responder às mudanças
ideológicas ao longo do tempo, passando pela premissa do embelezamento das
cidades, muito bem explicitada neste capítulo, pela citação de Benchimol (1992) apud
Villaça (2004), entremeando ao período da grande migração populacional rural às
cidades e desembocando no início do século XXI, com o desafio de gestão das urbes.

2.1.2 O processo de urbanização em Belém (PA)

Feliz Lusitânia, Santa Maria do Grão Pará, Santa Maria de Belém do Grão Pará
e por fim simplesmente Belém denominam a capital do estado do Pará, constituída no
5
Jane Jacobs nasceu em 1916 na cidade de Scranton no estado da Pensilvania, mesmo sem possuir
formação urbanística a jornalista autodidata desenvolveu uma visão bastante peculiar sobre as
cidades, influenciou o trabalho de vários pesquisadores, foi editora associada da revista Architectural
Forum e em 1961 publicou o livro “The death and life of great American cities”.
6
Henri Lefebvre (1901-1991) estudou e se graduou na Universidade de Paris, em Filosofia (1920),
foi um ícone da filosofia francesa. Realizou estudos sobre o espaço urbano, os quais são tomados
até hoje como referência para quem pesquisa o assunto, suas obras mais difundidas são: “O
direito à cidade” (1969) e “A revolução urbana” (1970), nos quais o autor analisa a influência do
sistema econômico capitalista no espaço urbano, com base na necessidade do poder industrial
“modelar” a cidade de acordo com os seus interesses, mas sem excluir a influência de outros
agentes sociais.
7
Livro publicado originalmente em 1961, com o título “The death and life of great American cities”.
8
A “cidade Legal” é o espaço que possibilita o transcorrer do cotidiano tendo mantida as suas funções
sociais de fornecer às pessoas moradia, trabalho, saúde, educação, cultura, lazer, transporte,
saneamento ambiental, serviços públicos em geral, enfim toda infraestrutura urbana

27
ano de 1616, sob uma morfologia diminuta e singular, ergueu-se entre as vertentes
do rio Guamá e a baía do Guajará, em seu cume topográfico surgiu como marco
da colonização, o forte do Presépio que agregava a si uma grande importância no
contexto militar uma vez que sua localização estratégica caracterizou-se como a
entrada da Amazônia.

Seguido do Forte do Presépio, o primeiro, Belém mantém a premissa da arquitetura


fortificada com a chegada das missões religiosas que, ao adentrar o território também
fincam suas fortificações. De acordo com Vianna (1966) “a colonização da cidade de
Belém data do início do século XVII como consequência da disputa da colonização das
Américas, alvo das duas maiores potências da época, as Coroas Portuguesa e Espanhola.”

Estabelecidos no Grão-Pará os luso brasileiros, em 1616, com a


fundação da chamada Feliz Lusitânia e do Forte do Presépio, em
Belém, não tardou que recolhessem notícias relativas à frequência e
permanência de estrangeiros [...] (VIANNA, 1966, p. 58)

Rodrigues e Cardoso (1990) descrevem com clareza a constituição da cidade


com base nas construções fortificadas, cada convento instalado se encontrava sobre
a proteção de um forte, como por exemplo: o Presépio defendia o Convento dos
Jesuítas, o Fortim de São Pedro Nolasco o Convento dos Mercedários, e o da Barra o
dos Capuchos de Santo Antônio.

Belém surge visando a guarda do território lusitano, e ao tomar tal parâmetro


em análise a escolha do sítio não poderia ser mais adequada, entretanto ao tomarmos
como critério de análise a expansão urbana logo percebemos os obstáculos de uma
área cercada por baixios alagados que à primeira vista dava a impressão de tratar de
uma pequena ilha, acarretando na dificuldade de expansão, que tinha como seu maior
entrave a transposição do igarapé do Piri9, o que levou seus primeiros caminhos a
serem abertos paralelos ao rio.

[...] a cidade tem seu sítio atual limitado, a oeste, pela baía do Guajará
e, a leste, pelo igarapé do Tucunduba, afluente do rio Guamá, que lhe
serve de fronteira meridional; para o norte, a cidade termina no vale do
Igarapé do Una e de seus formadores. [...] (PENTEADO, 1968, p. 43).

Em meados do século XVIII e início do século XIX, Belém vivencia as primeiras


intervenções urbanísticas consideradas de grande porte, a primeira delas foi a
superação da barreira física que o igarapé do Piri representou à expansão urbana,
seguido pelo aterramento das áreas dos igarapés do Reduto e das Armas.

9
O igarapé do Piri constituiu uma área alagada que dividiu Belém em dois grandes núcleos, a Cidade
e a Campina, suas águas corriam ao encontro da baía do Guajará e do rio Guamá, local onde se
encontra o mercado do “Ver-o-Peso”.

28
Belém, “Capital da Borracha” – O fim da década de 1840 anunciava a
aproximação de grandes acontecimentos: surgiram em Belém seus dois
primeiros Bancos e mais novas representações consulares. Além disso
criou-se a Capitania do Porto, inaugurou-se a Freguesia da Trindade e
a colônia inglesa passou a ter seu próprio cemitério; são três fatos que
revelam a importância do movimento portuário, a expansão de Belém
e a presença efetiva do comércio britânico (PENTEADO, 1968, p. 127).

A época áurea de Belém está ligada ao chamado “ouro branco”, assim batizado
na época o látex, exportado em grande escala primeiramente para a Inglaterra tendo
posteriormente seu comércio expandido para os Estados Unidos, a França e Portugal.
No decorrer desse período – 1850 a 1920 – Belém foi cenário da primeira etapa do
urbanismo brasileiro, aquele que pregava o embelezamento, como foi analisado na
sessão anterior. Nesta etapa Belém passou por intervenções urbanas significativas,
as mesmas por exemplo vivenciadas nas cidades do centro-sul como São Paulo e
Rio de Janeiro, as ruas foram calçadas com paralelepípedo de granito importados de
Portugal ao mesmo tempo em que ganhou edificações institucionais como o magnífico
Teatro da Paz devendo-se citar ainda o elegante e grandioso projeto do boulevard da
República (Ilustração 3).

O reflexo do urbanismo voltado ao embelezamento da cidade, não diferente


de outras, se deu pela efetiva ação do Estado, que influenciado pela economia da

Ilustração 3: Boulevard da República


Fonte: Pará (2004, p. 79)

29
borracha direcionou os investimento públicos e também privados para as áreas
centrais, resultando na valorização imobiliária e expulsando assim as classes
mais populares para as franjas da cidade, que mais tarde indicaria o novo eixo de
expansão futura.

Após o período que concerne ao apogeu da metrópole da borracha, que começa


a se desfazer na década de 1920, ao enfrentar a produção do látex em fazendas da
Malásia a cidade passa por um período de declínio e estagnação que comprometeu
seu desenvolvimento urbano ao longo das próximas décadas.

Sem luz pelas ruas, sem dispor de água em quantidade suficiente às suas
necessidades, sem energia para que houvesse um desenvolvimento
industrial razoável, a capital do Pará, paradoxalmente não decaia:
estava como estagnada na sua evolução, à espera de um novo surto
de progresso, consequência de fatores que até então desconhecia,
lhe trouxesse condições socioeconômicas para transformá-la em uma
grande cidade (PENTEADO, 1968, p. 183).

A capital paraense chega ao segundo período do processo urbano brasileiro,


substituindo a vertente do urbanismo do embelezamento, implementou a premissa
urbanística que pregava pelas grandes obras de infraestrutura.

O evento da Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945) teve consequências benéficas


para Belém no momento em que o domínio nipônico sobre a Malásia, traz de volta a
procura pelo látex amazônico. Este evento foi caracterizado como o segundo ciclo da
borracha, o qual foi responsável pelo suspiro econômico da capital, que ganhou ainda o
reforço da intervenção política provida pelos então presidentes do Brasil e dos Estados
Unidos, Getúlio Vargas e Franklin Delano Roosevelt, que firmam um acordo entre as
partes que consta da implementação de uma base naval americana em Belém e, em
contra partida a capital recebeu em seu beneficio a implementação de infraestrutura que
contemplou a instalação de um complexo sistema de diques que teve como objetivo
deter a ação das marés sobre a cidade, Belém recebeu ainda, como parte do acordo, a
implementação de ações voltadas ao saneamento básico e telégrafos.

Outro braço do Governo Federal atuou ainda na primeira metade do século XX


ao iniciar o processo de institucionalização de grandes porções territoriais com propósito
militar e ainda com finalidades educacionais e científicas. Estas áreas margeavam
o entorno da Primeira Légua Patrimonial10 da cidade formando o chamado “cinturão
institucional”11 o qual foi tido como um limitador do processo de expansão urbana, visto
que neste período a Primeira Légua Patrimonial (Ilustração 4), havia sido tomada pela
10
A Primeira Légua Patrimonial é constituída pela porção do território municipal doada pela Coroa
Portuguesa para formar a Municipalidade de Belém, em 1627, e corresponde à área mais urbanizada
da cidade (CARNEIRO et al., 2007).
11
Grandes extensões de terra de propriedade do Exército, Marinha, Aeronáutica, Universidade e outras
instituições, também denominada de cinturão institucional.

30
população urbana que deu preferência as áreas constituídas por solo firme e não sujeitos
a alagações, e já partia timidamente para a ocupação das baixadas.

O urbanismo das grandes obras de infraestrutura pode ser visto ainda na cidade
de Belém através de intervenções voltadas à macro-estrutura, tal afirmação parte da

Ilustração 4: Planta da cidade de Belém, com a primeira légua patrimonial demarcada – 1903
Fonte: Pará (2004, p. 28)

31
análise dos projetos de drenagem e estrutura viária, obras de porte como os da bacia
do Una – década de 1980 – que correspondeu a cerca de 60% da área urbana do
município de Belém, com abrangência de 380.650 habitantes, dos quais cerca de 49%
viviam em regiões alagadas ou alagáveis.

O Projeto Una ocupa um espaço de 3.664 hectares, constituindo 60%


do município de Belém, com estimativa populacional total de 543.543
habitantes. A bacia do Una compreende nove bairros: Umarizal,
Souza, Fátima, Marco, Telégrafo, Pedreira, Sacramenta, Marambaia
e Benguí. Estes bairros estão dispostos em sete subáreas na zona
urbana, para a realização das obras (PORTELA, 2004, p. 9).

O vetor propulsor da migração interestadual em Belém esteve ligado mais


uma vez à intervenção do Governo Federal, presidido agora por Jucelino Kubitchek
Oliveira, que dentro da premissa de integrar as regiões do país, em 1960, entre outras
ações, promove a abertura da rodovia Belém-Brasília.

Na segunda metade da década de 1960, Belém presenciou o adensamento


das áreas centrais constituídas pela presença de serviços e do comércio, que por
sua vez começou a apresentar o fenômeno da verticalização. As áreas de baixadas,
sujeitas a ação das marés, antes desprezadas, tem um aumento populacional levando
a ocupação inclusive de áreas institucionais. Na década de 1970 a expansão urbana
começa timidamente a ultrapassar o cinturão institucional, que tem nas décadas de
1980 e 1990 esta tendência efetivada em direção ao município de Ananindeua.

Através de seu Plano de Desenvolvimento Nacional – PDN, da


Operação Amazônia e do Plano de Intervenção Nacional – PIN,
conjuntamente com a construção da Belém-Brasília, estimulou-se à
intensificação da ocupação urbana e criação de novos municípios na
região Norte. Esta política de desenvolvimento irá desencadear um
“processo intenso de ocupação com a chegada dos migrantes do
Nordeste e Sul do Brasil” (SOARES, 2007)12.

Faz-se de maneira clara a alusão das ações urbanísticas desse período às


premissas do urbanismo das grandes obras de infraestrutura, de orçamentos vultuosos,
que tendem a levar ao entorno da área central a população menos favorecida
monetariamente, no momento em que implanta os primeiros conjuntos habitacionais
localizados além dos limites da Primeira Légua Patrimonial, área esta carente de
infraestrutura e equipamentos urbanos, separadas da área central pela lacuna espacial
que se dá em função da disposição das áreas institucionalizadas, formando uma espécie
de barreira que distingue espacialmente o núcleo central do periférico.

12
A citação direta foi colhida de uma publicação disponibilizada em meio digital, não contendo numeração
de páginas.

32
Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 1999), quando se
analisa o período compreendido entre 1991 e 1996, pode-se constatar um crescimento
de 14,7% das áreas periféricas que envolvem as metrópoles em relação ao núcleo
urbano. O mesmo estudo aponta que no município de Belém, capital do estado do
Pará, ocorreu um perceptível crescimento de sua periferia, com ampliação em torno de
157,9%, em contrapartida a uma retração do seu núcleo urbano, no mesmo período.

Perceptivelmente Belém atravessou, como muitas cidades brasileiras, o


período que foi de 1930 a 1990 buscando o urbanismo pautado nas grandes obras de
infraestrutura, que por vezes desprezava o cenário caótico da habitação que alcançava
na década de 1990, segundo a Comissão dos Bairros de Belém13, um déficit na ordem
de 200.000 unidades habitacionais. Como consequência deste período é visível a
concatenação de diversos movimentos sociais que reagiram ao método urbanístico
tecnocrata e excludente, o que possibilitou a interação, a partir de uma nova fase, a
do Plano Diretor, legitimado agora pela Constituição de 1988.

Observa-se que no período entre 1991-2000, Belém teve um acréscimo


de 26,60% na sua taxa de urbanização passando de 78,48% para
99,35% em 2000. Sendo ainda que neste último ano, a população
do município representava 20,68% da população do estado, e 0,75%
da população do país. Neste sentido, detendo-se especificamente
no processo migratório do estado do Pará, tem-se que a maioria dos
migrantes da cidade de Belém são oriundos de cidades interioranas
do próprio Pará, sendo esta a principal corrente migratória na região
Norte, a denominada “migração cidade cidade”, ou seja, da cidade
pequena para a cidade grande, principalmente para as capitais dos
estados (DIAS; DIAS, 2007)14.

Na terceira e atual fase do urbanismo brasileiro, devidamente referido no


capítulo anterior, Belém se apresentou pioneira na assimilação de seus novos
preceitos, uma vez que já compunha no ano de 1993 o seu Plano Diretor Urbano15,
que por sua vez definia a organização espacial do município ao mesmo tempo em
que se vinculou às políticas públicas com o viés da política setorial e habitacional,
este foi apenas um dos instrumentos formatados para auxiliar no planejamento do
desenvolvimento do município, outro exemplo é o Plano Diretor de Transportes

13
A Comissão dos Bairros de Belém (CBB), fundada em 21 de janeiro de 1979 passou a ter como
principal pauta e bandeira a luta pela Reforma Urbana, produto de uma discussão realizada desde a
década de 1970 e definida como central no congresso nacional de fundação da Central de Movimentos
Populares (CMP) no ano de 1983.
14
A citação direta foi colhida de uma publicação disponibilizada em meio digital, não contendo numeração
de páginas.
15
Uma das diretrizes do PDU / Lei n. 7.603 (BELÉM, 1993) também busca alcançar a justa distribuição
dos benefícios decorrentes da ação do poder público e diz que a cidade cumpre suas funções sociais
na medida em que assegura o direito de todos os seus habitantes ao acesso à moradia, ao transporte
coletivo, ao saneamento, à energia elétrica, à iluminação pública, ao trabalho, à educação, à saúde,
ao lazer, à segurança, ao patrimônio ambiental e cultural, à informação e à cultura.

33
Urbanos16 da Região Metropolitana de Belém (1991/2001), que se apresentam
regulamentados pelo Estatuto da Cidade.

Entretanto o panorama ao qual Belém compete nas primeiras décadas do século


XXI, mesmo de posse desses instrumentos de planejamento urbano que procura
se calcar nas premissas do dito urbanismo contemporâneo, ainda assim, como nas
demais regiões metropolitanas brasileiras, possui o desafio do desenvolvimento urbano
estampado em suas ruas, bairros e distritos, espelhando uma cidade carente e desigual.

O destino do planejamento no Brasil atual, o perfil, a credibilidade e


o conteúdo dos planos diretores estão assim ligados aos avanços da
consciência de classe, da organização do poder político das classes
populares. Esse é um processo vagaroso, uma vez que no Brasil,
como diria Martins, nossa historia é lenta, pois é grande “o poder do
atraso” (VILLAÇA, 2004, p. 240).

Ao tratar nesta sessão da revisão de literatura sobre crescimento urbano,


não se pode negar o espaço físico ou ambiente construído como objeto e sujeito do
processo de urbanização, uma vez que este evento aconteceu com bases na exclusão
social, produzindo áreas degradadas e agredindo o meio ambiente, revertendo ao
surgimento, em meados dos anos 1990, no fenômeno chamado “violência urbana”, a
ser tratado no tópico a seguir.

2.2 VIOLÊNCIA URBANA

Esta sessão procurou-se ater na compreensão do fenômeno da violência urbana,


entretanto para alcançar tal entendimento foi necessário, antes de tudo, a busca da
conceituação do termo violência: (a) Segundo Ferreira (1993, p. 568): violência é a
qualidade de ser violento; ato de violentar; constrangimento físico ou moral; uso da
força; coação; (b) Para Dias (1997, p. 103-104), o termo é originário do latim vis absoluta
(violência física) e vis compulsiva e ou vis impulsiva (violência moral).

Por sua vez, a definição de violência urbana de acordo com Soares (2005, p. 245),vai
além da etimologia da palavra, e é detentora de muitos significados (Ilustração 5).

Bitencourt (2003) postula com base nas premissas de Durkheim (1982) que o dolo
não é apenas um fenômeno social normal, como também cumpre outra função importante,
qual seja, a de manter aberto o canal de transformações de que a sociedade precisa.

16
A proposta básica do projeto Via Metrópole (PDTU) em Belém, também é um modelo integrado
de transporte coletivo, com linhas troncais nas avenidas principais da região metropolitana e um
sistema de vias alimentadoras articuladas por terminais. Esse sistema é apontado também pelo
Ministério das Cidades como prioritário na concessão de investimentos, juntamente com os projetos
de redução de tarifas do transporte coletivo e o uso de transporte sobre trilhos em casos onde há
demanda compatível.

34
Ilustração 5: Esquema que retrata as diversas causas da violência urbana
Fonte: Elaborado pela autora com base em Soares (2005) (2009)

O crime é, pois, necessário; ele se liga às condições fundamentais


de toda a vida social e, por isso mesmo, tem sua utilidade; pois estas
condições de que é solidário são, elas próprias, indispensáveis à
evolução normal da moral e do direito. (DURKHEIM, 1982, p. 61)

Dando alicerces a esta revisão de literatura, são citados a seguir alguns autores
que estudaram as possíveis causas da violência urbana. Inicia-se este apontamento
por Kosovski (2003, p.172-176) que ao realizar uma reflexão sobre o tema da violência
urbana, percebe a existência de fatores que contribuem para a instauração do panorama
atual, a saber: (i) a revolução tecnológica, (ii) a explosão demográfica, (iii) as mudanças
geopolíticas, (iv) a sociedade permissiva, (v) os meios de comunicação de massa, (vi) a
certeza da impunidade ou a incerteza da punição, (vii) a grande disseminação das drogras.

O panorama descrito por Kosovski (2003, p. 172-176) concatena com o que se


convencionou chamar de “estado de anomia”, ou seja, na ausência de normas, ou ainda
uma sociedade que toma como norma o desvio, em função da mudança de valores ou até
mesmo da ausência deles, levando uma sociedade à criminalidade sem culpa, ou seja, esta
sociedade acredita nos valores agora adotados e não percebe o ato como um fator negativo.

Durkheim (1982) coloca que os laços sociais são as normas que todos aprendem
a respeitar, que mantêm a sociedade unida. Ao elaborar a “Teoria do Controle” aquele
autor enumera três mecanismos que mantêm o comportamento do indivíduo sob
controle: o autocontrole; (ii) o medo da punição e (iii) o controle social informal.

Para Friedmann (1992) apud Akerman e Bousquat (1999, p. 113), “o


empowerment, ou recuperação da cidadania, através do espaço local, do espaço do
cidadão, é essencial.” Tomando tal afirmação esta pesquisa traz como linha principal de

35
análise o “empoderamento” do espaço social e físico como fator relevante na busca da
regressão dos índices de violência urbana.

Até o presente momento, a revisão dissertada buscou a definição do termo violência


urbana, entretanto ao citar alguns autores apontou para o surgimento de algumas teorias,
todas elas vulneráveis a críticas, que levou à percepção de que este fenômeno é determinado
por vários fatores, este entendimento nos aclarou para a necessidade de realizar a seguir
uma abordagem do ponto de vista das escolas penais, a sessão seguinte proporcionou um
maior juízo de causa a respeito da violência urbana dentro do enfoque penal.

2.2.1 Crime e violência: uma visão das escolas penais

Mesmo diante da diversidade a qual o termo violência está inserido, é possível


verificar que existe uma forte conexão entre a temática violência e a ideia de crime.
De acordo com o relato do Código Penal Brasileiro: “é considerada como conduta
criminosa ações violentas que causam grande repulsa social traduzidas em assaltos,
homicídios, estupros, entre outros”.

Para esta pesquisa foi importante estudar, ainda que de maneira breve, o
conceito de crime, visto a conexão existente com a violência urbana no momento em
que é praticada através de condutas criminosas.

A Lei de Introdução ao Código Penal Brasileiro (Decreto – Lei nº 3.914/41), em


seu Artigo 1º, define:

Art 1º - Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena


de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou
cumulativamente com a pena de multa; contravenção, a infração penal
a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa,
ou ambas alternativa ou cumulativamente.

Na intenção de iluminar a abordagem da violência urbana a presente pesquisa


conversou com escolas penais que estudam as causas do crime. As teorias sobre o tema
começaram a surgir e ser sistematizadas no século XIX, e tinham por objetivo trazer à tona as
possíveis causas que levam o indivíduo à criminalidade. Dentro deste panorama esta pesquisa
se debruçou sob a perspectiva de três escolas: (i) Escola Clássica, (ii) Escola Positiva e (iii)
Escola Moderna Alemã, sem perder de vista a sua interação com a realidade brasileira.

A Escola Clássica está ligada fortemente a Francesco Carrara17, que segundo


Machado (2006, p. 327), encadeia os seus princípios conforme descrito na Tabela 1.

17
Francesco Carrara, jurista italiano, tratou de todos os assuntos do Direito Penal como ciência
estritamente jurídica. Sua obra mais importante, dentre várias, é “Programma del corso di Diritto
Criminale”. Suas ideias ainda hoje servem de base para o conhecimento da ciência penal.

36
Tabela 1: Princípios da Escola Penal Clássica

PRINCÍPIO CONTEÚDO

O crime é um ente jurídico, pois na sua essência é violação de um


01
direito, como exigência racional

02 O fundamento da punibilidade é o livre arbítrio

A pena é a retribuição jurídica e restabelecimento da ordem externa


03
violada pelo crime

04 Utilização do método lógico-abstrato no estudo do direito penal

Fonte: Machado (2006, p. 327). Elaborada pela autora (2009)

Os clássicos acreditavam que o crime é resultado do livre arbítrio, ou seja, “não é


determinado por outra causa que não seja esse poder ilusório que tem o homem, na posse
do seu livre arbítrio, de agir independente de quaisquer motivos” (MACHADO, 2006, p. 438).

Em contraponto à Escola Clássica surgiu a Escola Positiva no fim do século XIX,


neste período a Antropologia, a Sociologia e ainda a Psicologia passam por grandes
mudanças, o desenvolvimento dessas ciências não passa despercebido no âmbito das
ciências penais e gera questionamentos que vão de encontro aos valores adotados pela
Escola Clássica. A chamada Escola Positiva acredita na existência de um corpo social
contra o delinquente, onde os interesses sociais são priorizados em detrimento dos
interesses individuais.

A Escola Positiva prega que o homem age como sente e não como pensa.
As ações humanas “são sempre o produto de seu organismo fisiológico e psíquico e
da atmosfera física e social onde nasceu e na qual vive” (MACHADO, 2006). Desta
forma as ações do homem são frutos da junção de fatores antropológicos, psíquicos,
físicos e sociais (meio social). Para a Escola Positiva o meio social age de forma
determinante no que tange à criminalidade.

A Escola Moderna Alemã surge como crítica ao dicotômico modelo positivista,


que vê apenas a relação entre a ordem e a anomia, onde segundo Soares e Guindani
(2007) “a primeira, tratada como pressuposto idealizado e a segunda como uma
patologia a ser explicada por remissão a desvios independentes dos processos
geradores da ordem (obstruída e traída)”. Tal concepção foi embasada pelos autores
Franz von Liszt, seguido por Adolphe Prins, Gerard van Hamel e Karl Stoos.

Segundo Bitencourt (2003, p. 58): “o homem é determinado pelo motivo mais


forte, sendo imputável quem tiver capacidade de se deixar levar pelos motivos”. A

37
concepção desta escola tem sua representatividade no momento em que considera o
crime ao mesmo tempo um fato jurídico não excludente do fenômeno social.

Na tentativa de dar conta do fenômeno em discussão surgiu nos Estados Unidos


o movimento “Lei e Ordem”, que é um legítimo exemplo do direito penal, que teve sua
origem nos anos 1970, com o intuito de deflagrar o crescimento da violência urbana.
O preceito da chamada Lei e Ordem prega o Direito Penal Máximo, imputando-o a
função de neutralizar a criminalidade.

O exemplo desta vertente foi possível evidenciar em Nova York, no ano de


1993, com o surgimento da política “Tolerância Zero”, que tinha como doutrina uma
ação efetiva e próxima no que tange aos chamados pequenos delitos urbanos como:
a prostituição, a pichação, entre outros delitos que se apresentassem no espaço
público. No Brasil percebem-se alguns dispositivos inseridos no Código Penal que
acenam para a adoção desta conduta punitiva, como por exemplo a Lei de Crimes
Hediondos, Lei nº 8072/90 de acordo com a transcrição abaixo:
25 Art. 2º Os crimes hediondos, a prática de tortura, o tráfico ilícito
de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis
de: I – anistia, graça e indulto; II – fiança e liberdade provisória;\
§ 1º A pena por crime previsto neste artigo será cumprida integralmente
em regime fechado.
§ 2º Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá
fundamentadamente se o réu poderá apelar em liberdade.
§ 3º A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei nº 7.960, de 21 de
dezembro de 1989, nos crimes previstos neste artigo, terá prazo de trinta
dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade.

A implementação no Brasil, da vertente vista acima, causou várias críticas


no sentido de tratar problemas sociais apenas pela ótica penal, ou seja, os conflitos
ocasionados por questões socioeconômicas passaram a ser tratados como
simplesmente práticas criminosas. As estatísticas contribuem para o questionamento,
visto que mesmo após a adoção de leis mais severas os índices de violência urbana
não têm tido decréscimo considerável.

Em contraponto ao movimento da Lei e Ordem que prega o eficientismo penal,


surgiu o movimento intitulado “Abolicionismo Penal”, que acredita que o sistema penal
tradicional deve ser substituído pelo que se chamou de “modelos alternativos de
solução de conflitos”.

O movimento abolicionista se sustenta no que considera falhas do sistema


penal tradicional, em outras palavras o movimento se justifica a partir de uma análise
das condutas tradicionais as quais se acredita não estarem desempenhando o papel
a que se propõem, como por exemplo, a pena de prisão não cumpre com suas

38
finalidades diretas que seriam: (i) a reprovação e (ii) a prevenção; argumenta-se ainda
que grande parte das condutas tidas como criminosas podem ser solucionadas por
outros ramos do direito.

Ao abolicionismo encontramos algumas reflexões que se fazem pertinentes, é


válido ressaltar que a redução ou reformulação do sistema penal é coerente, e que
de fato o sistema penal vem perdendo a legitimidade no que diz respeito ao controle
dos conflitos sociais. No entanto, não existe um método desenhado para legitimar o
sistema penal, que responda a sociedade diante do fenômeno que resulta nos altos
índices de criminalidade, muitas vezes atos praticados com crueldade espantosa,
restando como artifício a aplicação do direito penal.

Hassemer (2005) citado por Machado (2006) enfatiza sobremaneira que:


aos quem pregam a abolição do Direito Penal serão tidos como: “perigosamente
ingênuos”. Para Hassemer os procedimentos que envolvem o sistema jurídico penal
estão arraigados na nossa cultura, não se pode clamar por duas vertentes tão distintas
ao mesmo tempo como a socialização e a abolição do controle social.

Encerrando este breve estudo a respeito do complexo significado dos termos


violência e crime do ponto de vista das escolas penais, buscou-se o entendimento
além do termo em sua amplitude, levando-se em consideração também a relação
intrínseca entre eles. A sessão a seguir realizou um recorte especificamente no
que tange à temática violência urbana, no cenário nacional, temática esta que tem
agregado muitos estudos com resultados diversos, onde se faz cada vez mais presente
a multidisciplinaridade que envolve as causas da violência.

2.2.2 Uma abordagem da violência urbana: o cenário brasileiro

O cenário da violência urbana no Brasil pode ser visualizado a partir de uma linha
do tempo que egressa do regime militar autoritário desembocando na ultima década
do século XX já com uma realidade concretizada, realidade esta que, segundo Adorno
(2002, p. 88) abrange quatro tendências bem definidas da violência urbana (Tabela 2).

As estatísticas oficiais não respondem à realidade absoluta no que tange à


delinquência, o crime e até mesmo a violência urbana. Os dados dimensionais da violência
no país alcançam de um modo geral as ocorrências de homicídio que se formam a partir
de dados coletados pelo Ministério da Saúde, que dispõem dos registros oficiais de óbitos.
Segundo Adorno (2002, p.89) “observa-se que os homicídios evoluíram de 21,04/100.000
habitantes, em 1991, para 25,33/100.000, em 1997”. Esta análise ganha outra dimensão ao
partir dos números que envolvem os óbitos na sua generalidade e os números que envolvem

39
Tabela 2: Tendências da violência urbana no Brasil

TENDÊNCIAS CONTEÚDO

O crescimento da delinquência urbana, em especial dos crimes contra o


1 patrimônio (roubo, extorsão mediante sequestro) e de homicídios dolosos
(voluntários);
A emergência da criminalidade organizada, em particular em torno
do tráfico internacional de drogas, que modifica os modelos e perfis
2
convencionais da delinquência urbana e propõe problemas novos para o
direito penal e para o funcionamento da justiça criminal;
Graves violações de direitos humanos que comprometem a consolidação
3
da ordem política democrática e;
A explosão de conflitos nas relações intersubjetivas, mais propriamente
conflitos de vizinhança que tendem a convergir para desfechos fatais.
4
Trata-se de tendências que, conquanto relacionadas entre si, radicam em
causas não necessariamente idênticas.
Fonte: Elaborada pela autora com base em Adorno (2002, p. 88) (2009).

os óbitos por causas violentas, na década de 1980. Neste caso, enquanto o número total de
óbitos cresceu 20%, o número de óbitos por causas violentas cresceu 60%.

Diante deste cenário desordenado, em 2000, no Brasil, institui-se o Plano Nacional


de Segurança Pública (PNSP), quando o Governo Federal, em meio a uma crise da
segurança pública, pretendeu criar uma estratégia que respondesse às necessidades da
sociedade, reunindo as três esferas de governo (federal, estadual e municipal) em uma
força tarefa articulada. Na tentativa de combater a crise da segurança pública pode-se citar
ainda a criação do Plano de Integração e Acompanhamento dos Programas Sociais de
Prevenção à Violência (PIAPS), que por sua vez visava articular segmentos como da saúde,
da educação, do meio ambiente, entre outros, que apontaria as demandas locais de cada
município, através de uma pesquisa entre o poder público local associado à sociedade civil.

Para exemplificar a importância dessas mudanças estruturais, o PNSP


(BRASIL, 2000, p. 13) argumenta com a seguinte hipótese:

determinada área urbana é mal iluminada, não conta com equipamentos


e serviços públicos – ou eles são insuficientes –, é cercada por
terrenos baldios. Suponha-se que não haja acesso viário fácil e que
as ruas próximas ou vielas não tenham calçamento. Adicionem-se
alguns ingredientes explosivos: ausência de espaços apropriados
para esporte e lazer, nenhuma atividade cultural atraente, alguns
bares vendendo bebida alcoólica à noite toda.

40
Cabem aos gestores, ações que desarmem o cenário atual que favorecem
as condições de crescimento da criminalidade urbana, ou seja, em outras palavras,
segundo o próprio PNSP (BRASIL, 2000, p. 13) cita, de forma elucidativa:

(a) iluminar as áreas problemáticas; (b) ocupá-las com ações


agregadoras, lúdicas o de lazer; (c) reaproveitar os espaços públicos,
reformando-os para inundar os bairros populares com áreas para
esporte e para atividades culturais: artísticas, festivas, musicais;
(d) urbanizar os territórios para reduzir o isolamento; (e) apoiar a
construção de redes locais; (f) implementar políticas integradas
que focalizem os três domínios fundamentais para a vida social: a
casa, a rua – ou a comunidade e o bairro – e a escola, inclusive seu
desdobramento profissionalizante, que conduz ao trabalho.

A reflexão das evidências relacionadas na pesquisa de Melgaço (2003) leva a


crer que o planejamento de políticas públicas de segurança é de âmbito multidisciplinar
e não deve ser baseado apenas em dados estatísticos. As demais variáveis devem
ser estudadas e pontuadas para a obtenção de um resultado coeso e amplo. Não
cabe mais em pleno século XXI a correlação pura e simples das dimensões “pobreza”
e “violência”, de acordo com o relatório do IBGE (2004) que traduz os indicadores de
desenvolvimento sustentável no Brasil em 2004, e tomando como referência o item
segurança, pode-se analisar a evolução do coeficiente de mortalidade por homicídio
que aponta os estados mais pobres, como Piauí e Maranhão, os menores índices,
9.12 e 9.82 para cada 100.000 hab., respectivamente, e os estados mais ricos,
como Rio de Janeiro e São Paulo, com os maiores índices, 50.57 e 41.92 para cada
100.000 hab., respectivamente.

Segundo Gomes (2002), é possível analisar também outros dados que embasam
o conceito de que a miséria por si só não é motivo causador da violência, Alguns
países africanos, por exemplo, possuem baixíssimos coeficientes de mortalidade por
homicídio, em torno de menos de três homicídios para cada 100.000 hab.

Gomes (2002) aponta que a miséria transforma-se, sim, em ingrediente


substancial causador da violência urbana, no momento em que submete esta
população ao que se pode nomear de “urbanização desordenada”, caracterizada
pela falta de policiamento, falta de segurança, de saúde, de educação, de lazer e de
expectativa de vida que se traduz em condições de vida precária.

a intervenção efetivamente capaz de prevenir a violência e a criminalidade


é aquela que busca alterar as condições propiciatórias imediatas, isto
é, as condições diretamente ligadas às práticas que se deseja eliminar.
Não é a ação voltada para mudanças estruturais, cujos efeitos somente
exercerão impacto de desaceleração sobre as dinâmicas criminais em
um futuro distante – o que, evidentemente, não significa que essas
mudanças de tipo estrutural não devam ser realizadas (Secretaria
Nacional de Segurança Pública, Relatório de Gestão, 2005, p. 2).

41
O cenário de violência urbana vivido pelo Brasil encontra-se em nível de alerta,
e na tentativa de resposta a este problema o Governo Federal lançou o Programa
Nacional de Segurança Pública com Cidadania (PRONASCI) foi instituído no Brasil em
agosto de 2007, e previu a articulação de políticas de segurança com ações sociais,
priorizando a prevenção e buscando atingir as causas. Doze regiões metropolitanas
foram contempladas pelo plano, entre elas esta a Região Metropolitana de Belém, mais
precisamente os municípios de Belém e Ananindeua. Segundo o PRONASCI, a taxa de
homicídio do município de Belém é de 32 por 100.000 habitantes, sendo que ao analisar
a ocorrência de homicídios em Belém percebemos que a população que se encontra na
faixa etária de 15 a 29 anos é vitimizada em 52,6 por 100.000 habitantes.

Dentro de uma base constituída pelo preceito de que a sociedade deve se mobilizar
em defesa da saúde, igualdade e educação através da promoção dos jovens na busca da
consolidação de um território de “cidadania e coesão social”, o PRONASCI institui a junção
de políticas sociais à políticas de segurança pública trabalhando dentro de um cenário
comum. O programa foi elaborado para atuar em três momentos distintos (Tabela 3).

O governo brasileiro já percebe a tônica do fenômeno em tela, e de posse


disso começa a tratar a violência urbana com a ênfase que cabe a este fenômeno de
extrema complexidade.

Tabela 3: Delimitação das fases do PRONASCI

MOMENTOS CONTEÚDO

O primeiro momento trata a “pacificação do território”, o programa busca


entrar nos territórios ditos como de risco pelo alto índice de violência que
1° Momento

possui, unindo a atuação dos três entes federativos: Governo Federal, Estado
e Município, com o objetivo principal de restabelecer o equilíbrio social, por
meio de ações que promovam a recuperação de espaços e equipamentos
urbanos entre outras ações que permitam a garantia do território à sociedade.
2° Momento

O segundo momento recai sobre ações estratégicas que possibilitem a


conquista do jovem à cidadania, através da inclusão do jovem em conjunto
com a família

E por fim, o terceiro momento, a maior de todas as tarefas que toca a


3° Momento

“consolidar e manter” o território buscando a gestão integrada entre os


entes voltados à segurança pública com foco na valorização da vida e na
redução da criminalidade violenta

Fonte: PRONASCI (2007). Elaborada pela autora (2009)

42
Eric Cadora18, em seus estudos voltados a violência urbana, postula que a
melhor maneira de reduzir a reincidência criminosa é a reabilitação, não de presos, mas
dos bairros que o geram. Embora possamos observar que nas regiões metropolitanas
a presença da violência urbana está generalizada, o mesmo não acontece quando
é realizado um levantamento do endereço domiciliar dos criminosos, em geral estas
pessoas ocupam poucos bairros, geralmente áreas com alta concentração habitacional.

Destaca-se que a ocupação ilegal de terras é informalmente consentida


(ou por vezes até incentivada) pelo Estado que, entretanto, não admite
o direito formal do acesso a terra e a cidade. Isso se dá por conta da
articulação entre legislação, mercado e renda imobiliária. A ocupação é
consentida inclusive em áreas de proteção ambiental, mas raramente
em áreas valorizadas pelo mercado imobiliário calçado em relações
capitalistas (MARICATO, 1996, p. 5).

Um dos pontos da revisão de literatura desta pesquisa envolveu a questão da


regularização fundiária de áreas periféricas ocupadas, onde a população que a habita,
não possui de fato o direito a cidade, ou seja, esta parcela da população urbana ocupa
o que se convencionou chamar de “cidade ilegal”19. Segundo Maricato (1996), “nos
meados dos anos 90, a chamada violência urbana é um dos temas fundamentais
que preocupa todas as camadas sociais”. O espaço, o território, o ambiente físico
é parte intrínseca desse quadro, embora frequentemente esquecido e ignorado. A
preocupação aqui foi a de destacar o espaço físico ou ambiente construído como
objeto e sujeito desse processo.

[...]a gama de capacidades é enormemente variada – desde ter


acesso fidedigno a nutrição adequada a ter a possibilidade de ser
um participante respeitado na vida comunitária. A expansão das
capacidades das pessoas depende tanto da eliminação da opressão
quanto da provisão de recursos como educação básica, saúde e redes
de segurança social (SEN, 1999 apud EVANS, 2003, p. 32).

Ao realizar a revisão de literatura com base no tema proposto, foram


encontrados alguns estudos e propostas que relatam a relação entre áreas onde é
precária a existência de infraestrutura e equipamentos urbanos tais como escola,
posto de saúde, água encanada, esgoto sanitário e áreas de lazer e o crescimento da

18
Eric Cadora dirige o Justice Mapping Center, que utiliza mapeamento computadorizado e softwares
estatísticos para analisar e divulgar informações sobre criminalidade. A pesquisa do centro é
baseada no princípio que a sociedade americana é estratificada e que o local onde as pessoas
vivem é determinado por diferentes expressões sociais e econômicas. O centro possui colaboração
com a Universidade de Columbia “Columbia University Graduate School of Architecture, Planning, &
Preservation”. Disponibilizado em <http://www.justicemapping.org>. Acesso em: 26 dez. 2008.
19
Segundo Maricato (1996; 2008), a cidade ilegal é caracterizada por habitações onde existe a
completa ilegalidade da relação do morador com a terra. Esta ilegalidade pode ser caracterizada
pela falta de documentação de propriedade, na ausência da aprovação do projeto pela prefeitura ou
no descompasso entre o projeto aprovado e sua implantação. A irregularidade na implantação do
loteamento impede o registro do mesmo pelo cartório de registro de imóveis.

43
violência urbana. Em alguns países já existe a iniciativa de reestruturar estas áreas
com o intuito de equacionar o problema da violência urbana.

No Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, na favela da Rocinha, já pode ser vista


a aplicação de um programa que foi utilizado na Colômbia20, no entanto é preciso
atenção ao empregar um modelo, pois a monocultura institucional21 leva à mera
importação de projetos que funcionaram em determinada conjuntura, sem levar em
consideração a cultura e as circunstâncias nacionais.

Como é possível perceber, ao analisar as teorias aqui descritas, a violência


urbana depende de vários fatores para ser efetivada em uma sociedade. Desta forma
não seria possível desenvolver uma definição sobre as causas do crime no seio da
sociedade, o que nos levou a caminhar na direção de um estudo amplo dentro de
uma visão holística.

No entanto, esta dissertação optou pela adoção de um recorte que investiga


a relação entre violência urbana e anomia estatal, no que trata especificamente
a questão da infraestrutura e equipamentos urbanos tendo como análise o tecido
urbano, da cidade de Belém, metrópole da Amazônia22.

2.3 SISTEMA DE INFORMAÇÃO GEOGRÁFICA: UMA FERRAMENTA DE ANÁLISE

Esta sessão se propôs dissertar acerca da ferramenta de análise baseada


em Sistemas de Informações Geográficas (SIG), que devidamente associada a um
Banco de Dados Geográficos (BDG) e às técnicas de Análise Espacial de Dados
Geográficos (AEbd) transformou-se em um conjunto de instrumentos relevantes que
auxiliam na gestão de políticas públicas, facilitando a tomada de decisão por parte dos
gestores públicos, no momento em que permite a produção de análises espaciais de
dados integrados em uma mesma base cartográfica, uma vez que ao gerir a cidade é
necessário que haja a compreensão do espaço.

Compreender a distribuição espacial de dados oriundos de fenômenos


ocorridos no espaço constitui hoje em um grande desafio para a
elucidação de questões centrais em diversas áreas do conhecimento,
seja em saúde, em ambiente, em geologia, em agronomia, entre tantas
outras. Tais estudos vem se tornando cada vez mais comuns, devido a
disponibilidade de sistemas de informação geográfica (SIG) de baixo
custo e com interfaces amigáveis (CÂMARA et al., 2004, p. 1).

20
O Plano de Segurança Integrado da Colômbia propôs várias ações de combate a violência urbana, com
a participação da população, que incluiu desde a construção de equipamentos públicos, como creches
e praças, até processos jurídicos que deram a posse definitiva dos imóveis ocupados às famílias.
21
Para Evans (2003), a monocultura institucional é a imposição de versões idealizadas baseada em
planejamento que não levam em consideração as culturas e as circunstâncias nacionais.
22
De acordo com o Censo Populacional do IBGE de 1999, a Região Metropolitana de Belém possuía
1.280.614 habitantes.

44
O SIG proporciona uma análise espacial23, a partir da visualização por mapas,
de diversos fatores a que se deseja estudar como por exemplo densidade populacional,
índices de qualidade de vida, ocorrência de homicídios entre outros, tais informações
são geradas com base em um banco de dados em conjunto com uma base geográfica
transpondo tais dados a uma leitura universal permitindo a visualização espacial de
determinado fenômeno.

Como exemplo desta prática pode ser vista a atuação de algumas vertentes
que aplicam a metodologia do SIG, na busca da análise do evento da violência urbana
relacionada ao espaço territorial onde ela ocorre. Dentro deste cenário podemos citar,
entre outras, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), por meio do
Núcleo de Seguridade e Assistência Social, que construiu um “Mapa da exclusão/
inclusão social da cidade de São Paulo”, utilizando a metodologia de adoção do SIG,
proporcionando a produção de instrumentos que auxiliem a tomada de decisão no
momento da implementação de determinada política pública.

O SIG como ferramenta permite a melhor aplicação das políticas públicas,


resultando, de forma positiva, em um melhor planejamento das políticas setoriais. Tendo
em vista a necessidade de entender melhor o fenômeno da violência urbana, a tendência
de se replicar a metodologia do mapa de exclusão/inclusão social, foi utilizada em outros
centros urbanos, inicialmente a partir de uma parceria que envolveu a PUC-SP, o Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais e ainda o Instituto Polis. Outra referência desta prática
pode ser encontrada nos trabalhos desenvolvidos pelo Centro de Estudos de Criminalidade
e Segurança Pública da Universidade Federal de Minas Gerais (CRISP)24 e no Núcleo de
Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV)25.

2.3.1 Análise espacial de dados geográficos

Ao tratar especificamente, nesta sessão, de análise espacial e geoproces-


samento, esta pesquisa buscou referência em Câmara et al., (2004) ao pontuar acerca
da classificação dos três tipos de dados que podem ser considerados em uma análise
espacial, a saber:

O primeiro trata de “Eventos ou Padrões Pontuais” como sendo fenômenos


expressos por ocorrências identificadas com pontos localizados no espaço,
denominados processos pontuais. São exemplos: localização de crimes, ocorrências
de doenças e espécies vegetais.

23
Segundo Câmara et al., (2004) “[...] a ênfase da Análise Espacial é mensurar propriedades e
relacionamentos, levando em conta a localização espacial do fenômeno em estudo de forma explicita”
24
Disponível em: <http://www.crisp.ufmg.br/>
25
Disponível em: <http://www.nevusp.org/>

45
O segundo trata de “Superfícies Contínuas” que são estimadas com base em
um conjunto de amostras de campo que podem estar regularmente ou irregularmente
distribuídas. Usualmente, esse tipo de dados é resultante de levantamento de recursos
naturais e inclui mapas geológicos, topográficos, ecológicos, fitogeográficos e pedológicos.

E por fim o terceiro tipo é o de áreas com “Contagem e Taxas Agregadas”,


que tratam de dados associados a levantamentos populacionais, como censos e
estatísticas de saúde e que originalmente referem-se a indivíduos localizados em
pontos específicos do espaço. Por razões de confidencialidade, estes dados são
agregados em unidades de análise usualmente delimitadas por polígonos fechados
como setores censitários, zonas de endereçamento postal e municípios.

A cada um dos tipos de análise o SIG realiza, através do auxílio computacional,


o tratamento desses dados geográficos a partir do armazenamento de uma base
geográfica e de atributos de dados georeferenciados representados em uma mesma
projeção cartográfica. De acordo com Câmara et al (2004), um SIG possui basicamente
cinco componentes: (i) interface com usuário, (ii) entrada e interação de dados, (iii)
funções de processamento gráfico de imagens, (iv) visualização e plotagem e (v)
armazenamento e recuperação de dados (Ilustração 6).

A taxonomia de dados explanada acima pode ser concatenada, através da


utilização de um SIG, a três tipos de mapas, a saber: (i) mapa de pontos, (ii) mapa
temático e (iii) mapa de superfície.

Ilustração 6: Fluxograma da arquitetura do SIG


Fonte: Câmara (2004, p. 79)

46
O mapa de pontos se traduz em uma das técnicas mais simples, porém muito
efetiva de análise através da visualização de pontos georeferenciados (Ilustração 7).
Os pontos representam eventos individuais apontando a sua localização, neste caso
os dados são relacionados ao geoprocessamento de endereços.

Ilustração 7: Mapa de pontos do TerraView


Fonte: Beato Filho e Assunção (2008, p. 28)

O mapa temático consegue tornar visíveis áreas distintas de um distrito, e


trabalhar em cima da densidade de determinado evento, ou seja, é possível visualizar
a densidade populacional de um determinado bairro, ou o índice de criminalidade
de determinado distrito, sem que seja necessária a interpretação de cada evento
separadamente, mas, sim, com base em um parâmetro mais abrangente do evento
em análise (Ilustração 8).

Por fim pode-se trabalhar com mapas de superfície de Kernel, que são mais
indicados para uma análise de padrões complexos de pontos sem perda de informação.
De acordo com Beato Filho e Assunção (2008, p. 31), “os mapas de Kernel podem
ser usados para visualizar as tendências temporais de incidências criminais em um
determinado dia da semana”. A análise realizada com esta aplicação é recomendada
quando se precisa de um maior grau de informações a serem analisadas (Ilustração 9).

O panorama encontrado na primeira década do século XXI no que trata a


utilização dos Sistemas de Informação Geográfica está em crescente popularização,
uma vez que as plataformas SIG estão sendo desenvolvidas com características que

47
Ilustração 8: Ilustração de mapa – densidade
Fonte: Beato Filho e Assunção (2008, p. 30)

Ilustração 9: Mapa de Kernel


Fonte: Beato Filho e Assunção (2008, p. 33)

transpõem a uma interface amigável. A validação das técnicas de estatística espacial


tem direcionado as empresas e as instituições responsáveis pelo desenvolvimento de
programas a trabalharem em uma mesma direção, na intenção de concatenar estas

48
técnicas aos programas com o objetivo de tornar viável a sua utilização. No cenário
atual, podemos elencar uma série de programas que foram desenvolvidos para tal
aplicação, como por exemplo, Spring, ArcGIS, Mapinfo, TerraView, entre outros.

É importante ressaltar que no processo de análise espacial, algumas vezes


será necessário a utilização de mais de um programa, cada um possui características
específicas as quais se complementam. De acordo com Câmara et al., (2004), dentre
os programas de SIG, alguns já estão estabelecidos pelas características descritas
acima, nesta pesquisa, optou-se pelo TerraView 3.3.1, por ter uma interface amigável e
responder aos objetivos desta pesquisa, na Tabela 4 pode-se visualizar as características
do programa adotado nesta pesquisa.

Tabela 4: Características do programa Terraview 3.3.1

SOFTWARE TERRAVIEW 3.3.1

Descrição Software de análise e visualização de dados na biblioteca TerraLib

Equipes da Divisão de Processamento de Imagens do INPE, Grupo de


Autores
Computação Gráfica da PUC-RIO e da FUNCATE

Disponibilidade <www.terralib.org>

Análise Exploratória: estatísticas descritivas, cálculo de variograma


Funções (2D e 3D) índice I de Moran (Global e Local), mapa de Moran, índice
C de Geary, com testes de hipóteses sobre autocorrelação espacial

Aplicabilidade Análise de áreas

Fonte: Elaborada pela autora (2009)

2.3.2 Análise espacial de dados geográficos: uma aplicação no ambiente urbano

Uma geografia que se propõe ativa não pode considerar o espaço


geográfico apenas como território, mas como território usado por seus
habitantes. O território é resultado do processo histórico e a base material
e social das novas ações humanas (SANTOS et al., 2000, p. 3.).

Com base nas premissas de Santos et al., (2000), esta sessão buscou
discorrer sobre a utilização de um SIG, a partir de seus princípios e ainda pautar tais
considerações sobre a leitura de um Sistema de Informação Geográfica (SIG) como
ferramenta de apoio à gestão de uma cidade, tendo em vista a complexidade e os
fenômenos intrínsecos que a cidade comporta.

49
Melgaço (2003) exemplifica alguns conceitos por meio do georreferenciamento,
como, por exemplo, a relação existente entre a violência urbana, as diferenças
socioeconômicas e a ausência do poder público que gerou mapas temáticos diversos.
Na leitura de Melgaço (2003, p. 3):

Os SIG’s trazem as maiores possibilidades de representação


cartográfica, pois são capazes de trabalhar com dados de temáticas
diversas (saúde, educação, segurança pública, transportes, cobertura
vegetal, urbanização) e relacionar essas variáveis de forma bastante
complexa, oferecendo um rico panorama dos fluxos e dinâmicas sociais.

A proposta de trabalhar a ferramenta de SIG, não atende somente a uma


necessidade de demonstração dos resultados e posterior análise, mas principalmente por
tratar de dois fatores considerados de alta complexidade como a urbanização e a violência
urbana, que tem em seu cerne características que extrapolam mais de uma ciência, ou
seja, são temáticas conhecidas por sua multidisciplinaridade. O SIG permite que a análise
que envolve tanto a observação empírica dos fatos sobrepondo aos conceitos estudados
anteriormente, no momento em que permite sobreposições dos mapas, alguns detalhes
que passavam despercebidos passam a chamar atenção dos pesquisadores e dos
gestores públicos para aspectos não percebidos no arcabouço teórico.

A utilização de mapas para o estudo de fenômenos sociais é um artifício


centenário, que pode ser observada nos estudos realizados por Guerry (1833) e Quetelet
(1842) apud Beato Filho e Assunção (2008). Naquela época já se havia percebido que
a tipologia do crime está relacionada com a geografia onde ele se insere.

Os estudos realizados com base em mapas impressos, onde as áreas de estudo


eram demarcadas com tachinhas coloridas indicando a localização e tipo de crime,
ainda são usados para ilustrar determinados estudos. A utilização desse mecanismo
já não responde mais ao que vivenciamos no início do século XXI, onde o número de
eventos a serem analisados muitas vezes são superiores ao número de tachinhas que
podem ser inseridas em determinada região.

A evolução dos computadores e programas tem transformado a ferramenta


computacional, tornando-a mais ágil, potente e acessível, fazendo com que haja
uma melhoria substancial no que toca ao processamento e à leitura de vários dados
simultaneamente. Os novos mecanismos computacionais permitem que sejam
geradas informações precisas para tomadas de decisões, fazendo com que, tanto
os gestores quanto a comunidade acadêmica, tenham como analisar e identificar os
padrões de violência urbana.

Este advento computacional se traduz em marcos significativos na gestão da


segurança pública com ênfase nas organizações policiais. Na América Latina alguns

50
países já adotaram o SIG como ferramenta de apoio aos estudos da violência urbana,
como por exemplo, Brasil, Chile, Argentina e Colômbia. Talvez o diferencial do SIG seja
a clareza com que informações e eventos de alta complexidade podem ser traduzidos
em mapas, o que facilita a análise promovendo o compartilhamento das informações.

O uso do SIG permite a visualização das chamadas “áreas quentes da


criminalidade”26, direcionando as ações estratégicas voltadas ao controle e
posteriormente à erradicação da ocorrência violenta em determinados pontos da
cidade. O uso desta ferramenta permite uma maior clareza na identificação dos fatores
determinantes das ocorrências violentas.

Em alguns casos, um grande número de ocorrências pode originar-


se num pequeno número de ofensores. A tarefa de análise criminal.
Portanto, deverá ser complementada pela atividade de investigação pelos
policiais. Em outros casos, fatores relacionados a aspectos urbanísticos
e ambientais podem ser a explicação. O estudo das características
ambientais e ecológicas dos locais em que ocorrem os crimes tem sido
tema bastante explorado pela literatura nos últimos anos, além de ter
subsidiado importantes experiências de políticas públicas e projetos de
segurança (BEATO FILHO; ASSUNÇÃO, 2008 p. 18).

A ótica que relaciona “ambientes marcados pela desordem e degradação


física” à violência urbana tem sido reforçada por inúmeros estudos que correlacionam
a criminalidade e a incivilidade. De acordo com Kelling e Coles (1996) apud Beato
Filho e Assunção (2008), os mapas atuam como agente facilitador na arguição a esta
análise, no momento em que permitem o exame visual de áreas ou regiões geográficas,
transformadas a posteriori em bases de informação para tomada de decisões.

O capítulo da revisão de literatura buscou conectar alguns temas, a partir de um


recorte específico e ainda, considerando a complexidade das variáveis que envolvem
tanto o fenômeno da violência urbana quanto o fenômeno urbano. O objetivo deste
capítulo está em produzir um arcabouço teórico que auxilie a construção da metodologia
adotada nesta pesquisa, a qual foi minuciosamente detalhada no capítulo seguinte.

26
Segundo Assunção e Beato (2008), “áreas quentes” ou hotspots da criminalidade são áreas que
concentram um maior número de casos em um determinado espaço de tempo.

51
3 MATERIAL, MÉTODO E DESCRIÇÃO DOS DADOS

Este capítulo tem como objetivo apresentar a origem dos dados que comportam
a análise desta pesquisa e explicar o método utilizado no tratamento e na análise dos
dados adotados, e ainda a correlação entre eles, com o intuito de mensurar a relação
pertinente entre a infraestrutura e os equipamentos urbanos e a violência urbana.

No desenvolvimento desta pesquisa adotou-se algumas variáveis, a saber: (i)


econômicas, (ii) ambientais, (iii) espaciais e (iv) sociais; com o objetivo de proporcionar
uma avaliação do município de Belém e ainda uma avaliação que contemplasse a
escala intra-urbana, o bairro. O levantamento foi embasado em fontes secundárias
(Anuário Estatístico do Município de Belém, Polícia Civil, Secretaria Municipal de
Meio Ambiente, Secretaria de Estado de Educação, Secretaria de Estado de Saúde e
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

A presente pesquisa construiu dois índices a partir do levantamento de alguns


indicadores, devidamente agrupados e estruturados, com o objetivo de determinar
para o município de Belém um índice de “Infraestrutura e Equipamentos Urbanos
(iIEU)” e um índice de “Criminalidade Violenta (iCV)”. A construção desses índices foi
esteada em duas metodologias que serão dissertadas em detalhe na sessão 3.4.

Para a análise e interpretação dos índices foi adotado o método de AEbd através
da utilização do software TerraView 3.3.1, o qual possibilitou a criação de mapas
temáticos, transpondo a análise a uma leitura universal. Foi descrita na Ilustração 10
a metodologia utilizada na pesquisa.

3.1 ORIGEM DOS DADOS

Os dados que constituem esta pesquisa foram obtidos em meios digitais


e pesquisa documental em órgãos municipais, estaduais e federais. Procurou-se
adotar os dados que gerassem indicadores27 dos bairros do município de Belém,
unidade espacial adotada nesta pesquisa, desconsiderando assim os indicadores
que não corresponderam à unidade espacial assumida, pelo fato de não suprirem as
informações necessárias a compreensão da estrutura intra-urbana local.

As fontes que embasaram a coleta de dados desta pesquisa foram obtidas


através dos órgãos descritos na Tabela 5. Por meio das fontes aqui relacionadas
foram considerados dois tipos de dados nesta análise, a saber: (i) de Base Estatística
e (ii) de Base Geográfica

27
“O termo indicador é originário do latim indicare, que significa descobrir, apontar, anunciar, estimar
[...]” (HAMMOND et al., 1995 apud WIENS, 2007).

52
Ilustração 10: Metodologia utilizada na pesquisa
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

Os dados considerados nesta pesquisa agregam diversas variáveis como


economia, educação, demografia, segurança pública e ambiente.

Esta pesquisa encontrou algumas limitações no que se refere à coleta de dados,


visto que a falta de informações catalogadas por bairros e ainda a atualização delas é uma
realidade que se fez presente no cenário em estudo, município de Belém, o que nos levou a
limitar o recorte da pesquisa em função das informações disponíveis por unidade de bairro.

Outra limitação encontrada nesta etapa foi o fato de alguns dados possuírem anos-
base diferenciados, o que levou à adoção de um único ano-base. Neste caso foi tomado
o ano de 2009, por ser o último ano que possui dados relacionados à unidade espacial
adotada. No caso de médias ou somas, onde se faz presente mais de um ano na construção
de um indicador, foi tomado como base o último ano. Ao construir a tabela de indicadores
parciais foi inserida uma coluna que demonstra os anos de defasagem de cada informação.

53
Tabela 5: Origem dos dados

ÓRGÃO SIGLA VÍNCULO

Secretaria Municipal de Coordenação


SEGEP Prefeitura Municipal de Belém
Geral do Planejamento e Gestão

Secretaria Municipal de Meio Ambiente SEMMA Prefeitura Municipal de Belém

Instituto Brasileiro de Ministério do Planejamento,


IBGE
Geografia e Estatística Orçamento e Gestão

Secretaria de Estado de Educação SEDUC Governo do Estado do Pará

Secretaria de Estado de Estado


SESPA Governo do Estado do Pará
de Saúde Pública
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

A fonte que forneceu os dados de base geográfica, foi a PMB através do seu
Anuário Estatístico 2006, é válido ressaltar que no caso do Anuário Estatístico (AE) os
dados são compostos pela leitura de outras fontes, como as secretarias municipais, o
IBGE, a Polícia Civil do Estado do Pará (PC), e a Companhia de Desenvolvimento e
Administração da Área Metropolitana de Belém (CODEM), que repassam informações
ao AE para a sua composição.

3.2 DELIMITAÇÃO DO UNIVERSO DA PESQUISA

O município de Belém contempla oito distritos administrativos, entre áreas


insulares e área continental, conforme se observa na Ilustração 11.

Nesta pesquisa foram adotados como recorte desta análise, apenas cinco
distritos. O critério de inclusão foi mais uma vez com base nas informações disponíveis
pela unidade espacial adotada, bairro, o que sintetizou a pesquisa no estudo dos
distritos a saber:

(i) Distrito Administrativo de Belém (DABEL),


(ii) Distrito Administrativo do Guamá (DAGUA),
(iii) Distrito Administrativo da Sacramenta (DASAC),
(iv) Distrito Administrativo do Entroncamento (DAENT) e,
(v) Distrito Administrativo do Benguí (DABEN).

Os bairros do município de Belém por vezes fazem parte de mais de um distrito,


conforme pode ser visto na Ilustração 11.

54
Ó
RAJ
PREFEITURA MUNICIPAL DE BELÉM MA
A DE
BAÍ
SECRETARIA MUNICIPAL DE COORDENAÇÃO GERAL
DO PLANEJAMENTO E GESTÃO

DIVISÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA

BAIRROS DO MUNICÍPIO DE BELÉM


Conforme Lei nº 7.806, publicado no
Diário Oficial do Município, em 30 de julho de 1996.

DAMOS
Ilha de Mosqueiro

DABEN
01 Tapanã
02 São Clemente
03 Parque Verde Ilha de
04 Benguí
Cotijuba DAOUT Ilha de
Caratateua
05 Cabanagem
06 Una
07 Mangueirão
DAENT
07 Mangueirão
08 Val-de-Cães DAICO
09 Marambaia
10 Castanheira
11 Águas Lindas
N
12 Curió-Utinga
17 Souza NO NE
27 Universitário
01
O L
DASAC
09 Marambaia 03 SO SE
02
13 Maracangalha 05 06
14 Barreiro 04 S
15 Sacramenta 08 07
16 Pedreira
18 Telégrafo 13 09
19 Marco 10
11
20 Umarizal 14 15
17
21 Fátima 18 16
19 12
DABEL DAGUA 20
19 Marco 21
12 Curió-Utinga 22
20 Umarizal 19 Marco 28 23 24 25
26
22 Reduto 24 São Brás 32 29 30 31 27
23 Nazaré 25 Canudos 33 34
24 São Brás 26 Terra Firme
25 Canudos 29 Batista Campos Ilha Grande
28 Campina Ilha do
31 Guamá Murutucu
29 Batista Campos
30 Cremação 30 Cremação Ilha do
Combu
31 Guamá 32 Cidade Velha
32 Cidade Velha 33 Jurunas
33 Jurunas 34 Condor Ilha de
Cintra

Ilustração 11: Município de Belém – divisão político-administrativa


Fonte: Anuário Estatístico (BELÉM, 2006) – Adaptada pela autora (2009)

55
Os cinco distritos elencados acima constituem trinta e nove bairros, entretanto
cinco bairros foram excluídos da análise pelo mesmo critério exposto anteriormente,
isto é, a ausência de informações sobre a unidade espacial adotada, bairro. Quando
se dispunha de informação, muitas vezes notava-se a inconsistência dos dados.

Este fato ocorreu nas análises dos bairros da Pratinha, do Aurá, Coqueiro, Miramar e
Guanabara, o que levou a sua exclusão. Portanto, adotaram-se apenas 34 (trinta e quatro)
dos 39 (trinta e nove) bairros como universo de representatividade do município de Belém.

3.3 CONSTRUÇÃO DOS INDICADORES POR BAIRRO

Esta sessão teve por objetivo detalhar a construção dos indicadores que foram
utilizados na composição do índice de Infraestrutura e Equipamentos Urbanos (iIEU) e
do índice de Criminalidade Violenta (iCV). Para cada um dos índices foram adotados
indicadores aos quais se apresentam nas sessões a seguir.

3.3.1 Indicadores do iIEU

Esta pesquisa propõe a utilização de uma metodologia de análise de índices


de infraestrutura e equipamentos urbanos com base na adaptação da metodologia
aplicada por Wiens (2007), que adota como princípio base cinco dimensões, a saber:
(i) social, (ii) espacial, (iii) econômica, (iv) ambiental e (v) cultural. E a partir das
dimensões busca-se a classificação de cada uma delas submetendo-as ao que se
denominou chamar de “classificação secundária” que envolve a explicação de cada
dimensão adotada. Esta metodologia assumida por Wiens (2007) é uma aplicação
também do Instituto de Políticas Públicas de Curitiba (IPPUC), que por sua vez
baseou sua concepção nos critérios adotados pelo IBGE (2004) para a construção
dos “Indicadores de Desenvolvimento Sustentável”.

A metodologia proposta utiliza para a formulação do iIEU a adoção de 11


indicadores distribuídos em apenas três dimensões, a saber: (i) social, (ii) econômica
e (iii) ambiental. De acordo com o critério adotado alguns indicadores foram excluídos
e outros foram agregados. Propôs-se a realizar a análise da infraestrutura urbana e
dos equipamentos urbanos a partir da interação e da interdependência das dimensões
adotadas para a formulação do iIEU.

Na formulação do iIEU cada uma das dimensões são compostas por sub-
dimensões, que se convencionou chamar de classificação secundária, que por sua vez
é caracterizada por indicadores que podem ser de natureza simples, ou seja, constituído
por um único indicador, como por exemplo, a dimensão econômica caracterizada pela

56
sub-dimensão renda formada por um único indicador, isto é, o valor do rendimento
nominal mediano mensal das pessoas com rendimento responsáveis pelos Domicílios
Particulares Permanentes (DPP)28 em Reais (R$). As sub-dimensões podem ser
caracterizadas ainda, por indicadores de natureza composta, ou seja, constituídos por
mais de um indicador, como por exemplo, a dimensão social que foi constituída pelas
sub-dimensões classificadas como educação, segurança, saúde e lazer composta por
seis indicadores, sendo três indicadores referentes a educação, um indicador referente
a segurança, um indicador referente a saúde e um indicador referente a lazer.

Nesta sessão buscou-se apresentar cada um dos indicadores utilizados,


devidamente delimitados em suas classificações secundárias que explicitam o que
cada dimensão representa. A delimitação desta análise foi tomada a partir do que
se convencionou chamar de “limiares”, de acordo com Wiens (2007), que permitiu
relacionar as características específicas de cada bairro em estudo, possibilitando
assim a mensuração de indicadores qualitativos.

A dimensão social foi constituída a partir das sub-dimensões classificadas como


educação, segurança, saúde e renda, resultando em um “indicador composto”, obtido
a partir de outros seis indicadores delimitados na Tabela 6:

Tabela 6: Constituição da dimensão social


SUB-
FÓRMULA OBJETIVO DO INDICADOR
DIMENSÃO

Educação Mensurar a taxa de alfabetização;

Mensurar a relação entre o número de anal-


Educação
fabetos existentes para cada alfabetizado
Mensurar o número de equipamentos de
Educação educação existentes para cada 10.000 hab.
em idade escolar*
Mensurar o número de equipamentos de
Segurança
segurança existentes para cada 10.000 hab.
Mensurar o número de equipamentos de se-
Saúde
gurança existentes para cada 100.000 hab.
Mensurar a quantidade de área verde**
Lazer
(m²) por hab.
*Esta pesquisa considerou como população em idade escolar as crianças entre quatro anos de idade
até completarem 17 anos, de acordo com o critério adotado pelo Ministério da Educação (MEC).
**Nesta pesquisa considerou-se como áreas verdes aquelas trabalhadas pelo poder público,
como praças, parques e bosques.
Fonte: Elaborada pela autora (2009)

28
Segundo o IBGE o conceito de domicílio particular permanente se caracteriza como moradia de uma ou mais
pessoas onde o relacionamento entre os seus ocupantes é ditado por laços de parentesco, de dependência
doméstica ou por normas de convivência, e que foi construído para servir exclusivamente de habitação.

57
A dimensão ambiental, assim como a social, foi constituída a partir da sub-dimensão
classificada como saneamento, a qual se estabelece com base em um “indicador
composto”, obtido a partir de outros quatro indicadores descritos na Tabela 7.

Tabela 7: Constituição da dimensão ambiental

SUB-DIMENSÃO FÓRMULA OBJETIVO DO INDICADOR

Saneamento Mensurar a taxa de DPPe*

Saneamento Mensurar a taxa de DPPa**

Saneamento Mensurar a taxa de DPPcl***

Saneamento Mensurar a taxa de DPPb****

*Esta pesquisa considerou como domicílio particular permanente com rede de esgoto (DPPe) os
conectados a rede de esgoto, uma vez que a fossa séptica não depende diretamente da ação do
poder público.
**Esta pesquisa considerou como domicílio particular permanente com abastecimento de água (DPPa)
os conectados a rede geral de abastecimento, não sendo considerados os domicílios abastecidos por
poço uma vez que este equipamento não depende diretamente da ação do poder público.
***Esta pesquisa considerou como domicílio particular permanente servido por coleta de lixo (DPPcl)
apenas os domicílios servidos por coleta de lixo, neste caso não foram considerados os outros
destinos dados ao lixo, uma vez que este serviço não depende diretamente da ação do poder público.
****Esta pesquisa considerou como domicílio particular com banheiro (DPPcl) apenas os domicílios
que possuem banheiro.
Fonte: Elaborada pela autora (2009)

A dimensão econômica foi composta a partir da sub-dimensão renda que por


sua vez se constitui a partir de um indicador simples, representado pelo valor do
rendimento nominal mediano mensal das pessoas com rendimento responsáveis
pelos DPP em reais (R$), conforme foi representada na Tabela 8.

Tabela 8: Constituição da dimensão econômica


OBJETIVO DO
SUB-DIMENSÃO FÓRMULA
INDICADOR
rendimento nominal mediano Estabelecer uma faixa de
Econômica mensal das pessoas com rendimento rendimento nominal mediano
responsáveis pelos DPP em reais (R$) mensal.*
Fonte: Elaborada pela autora (2009)

58
A Tabela 9 relaciona os indicadores delimitados nesta sessão de acordo com
a sua classificação secundária (sub-dimensão) e respectivamente a sua classificação
primária (dimensão) de acordo com sua fonte, periodicidade, atualização dos dados
e ao ano de defasagem. No que se refere ao ano base adotado, para esta pesquisa
foi considerado o ano de 2009, pelo fato de ser o último ano em que se tem dados
referentes a unidade espacial adotada, o bairro.

Os onze indicadores descritos nesta sessão foram adotados com base


em dois parâmetros. O primeiro buscou a interdependência desses dados com
o grau de urbanização, ou seja, buscou quantificar a infraestrutura urbana e os
equipamentos urbanos presentes no universo estudado; o segundo parâmetro
foi a disponibilização dos dados de forma que pudessem responder à unidade
Tabela 9: Indicadores relacionados segundo sua classificação, secundária e primária

Defasa-
Classificação Classificação Periodi- Última
Índices Fonte gem
primária secundária cidade atualiz.
/indicador

Educação AE/IBGE Censo 2000 9

Educação AE/IBGE Censo 2000 9

AE/IBGE/
Educação SEDUC/ Censo 2009 0
Social PMB
AE/IBGE/
Segurança Censo 2006 3
PMB
AE/IBGE/
Saúde SESPA/ Censo 2006 3
PMB
AE/IBGE
Lazer Censo 2006 3
SEMMA

Saneamento AE/IBGE Censo 2000 9

Saneamento AE/IBGE Censo 2000 9


Ambiental

Saneamento AE/IBGE Censo 2000 9

Saneamento AE/IBGE Censo 2000 9

Econômica Renda AE/IBGE Censo 2000 9

Fonte: Elaborada pela autora (2009)

59
espacial adotada. A tabela com os indicadores relacionados acima, por bairro, foi
inserida no Apêndice A.

3.3.2 Indicadores do iCV

Esta pesquisa buscou tratar os indicadores com base na adaptação da metodologia


utilizada por Massena (1986), que trata do índice de criminalidade violenta. Para este
estudo foram considerados quatro eventos específicos como crimes violentos29, a
saber: (i) número de homicídios, (ii) número de tentativas de homicídios, (iii) número de
estupros e (iv) número de latrocínios. O indicador é formado a partir da Fórmula 1.

CV=(n° homicídio+n° tentativa de homicídio+n° latrocínio+n°estupro)

Fórmula 1: Construção da fórmula do indicador criminalidade violenta


Fonte: Wiens (2007, p. 85)

Outro indicador adotado para a construção do iCV foi o número total da população.
A tabela com os indicadores relacionados acima, por bairro, foi inserida no Apêndice A.

3.4 CONSTRUÇÃO DOS ÍNDICES POR BAIRRO

Esta sessão descreve a construção dos índices que foram tomados para
análise da interdependência entre as variáveis adotadas nesta pesquisa. Foram
construídos a partir da adaptação de algumas metodologias utilizadas em outras
pesquisas, que trataram a temática em questão, a saber: (i)

Método Genebrino30, que embasou a construção do iIEU; e para a construção


do iCV foi adaptada a metodologia utilizada por Massena (1986).

No caso do iCV, os dados obtidos foram tratados com base na adoção do


método “bayesiano”, para a devida leitura dos dados, uma vez que temos como
unidade espacial o bairro que, pelo fato de se tratar de uma escala relativamente
pequena dentro do universo estudado, necessita ser tratado para não incorrer em uma

29
Segundo Massena (1986), crime violento é definido como aquele que envolve uma violência
predatória, e que se realiza através de um contato direto entre o criminoso e a vitima.
30
O método Genebrino ou Distancial é um método que mensura, basicamente, os resultados do grau
de satisfação das necessidades materiais e culturais da população. Foi usado pela primeira vez
em 1966, pelo Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento da ONU e posteriormente incorporado pelo
Instituto Econômico e Social (IGS) da Polônia. No Brasil, o primeiro trabalho a usar o método foi
intitulado “A medição do nível de satisfação das necessidades materiais e culturais da população em
Curitiba”, elaborado pelo IPPUC em conjunto com o IPARDES em 1984 (WIENS, 1997, p. 85).

60
leitura equivocada dos números, evitando assim distorções que comprometessem os
resultados desta pesquisa.

3.4.1 Construção do índice de infraestrutura e equipamentos urbanos:


método genebrino

Ao adotar o Método Genebrino para a construção do iIEU buscou-se alcançar um


número a partir de dimensões que estabeleceram o grau de infraestrutura urbana, uma vez
que envolve uma gama de variáveis diversas a considerar como por exemplo, saneamento
básico, grau de alfabetização da população, número de domicílios particulares permanentes,
entre outros.

O método genebrino partiu de um indicador simples, representado pelo que chamamos


de valor empírico (número de equipamentos de educação, total da população) passando ao
índice parcial, e em seguida ao índice grupal que resultou no índice sintético (Ilustração 12).

Ilustração 12: iIEU


Fonte: Wiens (2007, p. 84)

Para a avaliação dos dados foram estabelecidos limiares que variam em uma
escala com dois extremos, o limiar máximo, considerado como ótimo e o limiar mínimo
considerado como péssimo (Ilustração 13).

Ilustração 13: Exemplo de limiares do iIEU


Fonte: Wiens (2007, p. 85) – Adaptada pela autora (2009)

61
A primeira etapa desta metodologia consta da transformação do valor empírico
em porcentagem, onde pode-se obter uma variação que vai de 0% a 100% através da
aplicação da fórmula de construção de índices parciais (Fórmula 2).

Fórmula 2: Construção do índice parcial


Fonte: Wiens (2007, p. 85)

No caso de existir mais de um indicador por dimensão, como acontece por exemplo
na dimensão social desta pesquisa, deve-se adotar o indicador grupal, que representa
os indicadores parciais compondo o que chamamos de índice grupal (Ilustração 14).

Ilustração 14: Esquema da construção do índice grupal


Fonte: Wiens (2007, p. 87).

Para o cálculo do índice grupal deve ser adotada a média aritmética simples
dos índices parciais que compõem o grupo, através da Fórmula 3.

Fórmula 3: Construção do índice grupal


Fonte: Wiens (2007, p. 87).

62
O último passo resulta na formulação do índice sintético, que é construído a
partir de vários índices grupais, resultando assim no iIEU (Ilustração 15).

Ilustração 15: Construção do índice sintético


Fonte: Wiens (2007, p. 87). Adaptada pela autora (2009)

O cálculo do índice sintético que traduz o iIEU é elaborado a partir da média


aritmética dos índices grupais (Fórmula 4).

Fórmula 4: Construção do índice sintético


Fonte: Wiens (2007, p.87).

Postos e aceitos os valores delimitados para os limiares máximos e mínimos,


ainda que as grandezas em análise sejam diretamente ou inversamente proporcionais,
tem-se para os índices parciais, grupais e sintéticos, o maior valor como sendo sempre
a melhor condição.

Esta pesquisa tomou como parâmetro de análise o mesmo critério adotado


pelo IPUUC, onde os índices, grupal e sintético, foram divididos em quatro faixas de
acordo com a Tabela 10.

Na construção do índice sintético, cada indicador possui um peso específico,


como demonstra a Tabela 11, que descreve a construção do índice sintético do bairro
de Águas Lindas. Nesta pesquisa, por exemplo, temos o índice sintético construído a
partir de três dimensões, que condiciona que cada uma das dimensões terá o peso de

63
Tabela 10: Classificação dos índices grupais

VARIAÇÃO - PORCENTAGEM CLASSIFICAÇÃO

0% a 24,99% Ruim

25% a 49,99% Regular

50% a 74,99% Bom

75% a 100% Ótimo

Fonte: Wiens (2007, p. 87). Adaptada pela autora (2009)

Tabela 11: Construção do índice sintético do bairro de Águas Lindas


ÍNDICE ÍNDICE ÍNDICE
PESO PARCIAL GRUPAL SINTÉTICO
VALOR VALOR VALOR
INDICADORES
% MÍNIMO EMPÍRICO MÁXIMO
0% - 100%

(%) 5,55 0% 93,45% 100% 93,45

(unidade) 5,55 0 165,54 244,25 32,33

51,51
(unidade) 5,55 0 (unid) 5,65 (unid) 10,97
(unid)
26,99

5,55 110,97
(unidade) 0 (unid) 0 (unid) 0
(unid)

18,47 72,98
(unidade) 5,55 0 (unid) 25,31
(unid) (unid)
24,59

0 m²/ 27,28 m²/


(m²/hab.) 5,55 0 m²/hab. 0
hab. hab.

(%) 8,33 0% 1,73% 100% 1.73

(%) 8,33 0% 0,74% 100% 0,74


44,56

(%) 8,33 0% 84,12% 100% 84,12

(%) 8,33 0% 91,65% 100% 91,65

R$ R$ R$
2,22

(R$) 33,33 2.22


200,00 251,00 2500,00
Fonte: Adaptada pela autora (2009)

64
1/3 do total, e as dimensões constituídas a partir de mais de um indicador, como por
exemplo a dimensão ambiental que é construída por quatro indicadores, terá o seu 1/3
dividido igualmente pelos quatro indicadores.

A adaptação da metodologia de Wiens (2007), possibilitou a construção do


iIEU dos trinta e quatro bairros que fazem parte do universo da pesquisa. Após a
construção deste índice a sessão seguinte tratou da construção do iCV.

3.4.2 Construção do índice de criminalidade violenta: método bayesiano

Para a construção do iCV foi adaptada a metodologia de Massena (1986), ao


adotar os princípios desta metodologia buscou-se identificar a partir de quatro eventos
específicos (homicídio, tentativa de homicídio, estupro e latrocínio) o grau de violência
por bairro, e também do município de Belém, considerando como universo de pesquisa
os trinta e quatro bairros em estudo.
A metodologia utilizada para analisar os eventos relacionados anteriormente,
propõe a soma das ocorrências dos eventos dividida pela população total multiplicado
por 10.000 habitantes (Fórmula 5).

Fórmula 5: Construção do índice de criminalidade violenta


Fonte: Adaptada pela autora (2009)

Nesta pesquisa, onde a unidade espacial em estudo é o bairro, foi incorporado à


análise o tratamento dos dados através do método “bayesiano” ou “taxas bayesianas”.
Esta metodologia permite a análise das ocorrências de criminalidade violenta, tendo como
unidade espacial uma área relativamente pequena sem que haja distorção dos resultados
obtidos. No entanto, a adoção de áreas pequenas como unidade espacial de trabalho
pode incorrer em estimativas inconsistentes, uma vez que o acréscimo ou decréscimo de
um único evento pode representar uma grande diferença quando falamos em taxas.

[...] aproximadamente 20% dos municípios mineiros possuíam, no


máximo, 4 mil habitantes em 1996. Se a população fosse de 4 mil, a
ocorrência de um único crime violento nessa população levaria a uma
taxa de 25 por 100 mil, enquanto a adição de apenas mais um caso
faria a taxa pular para 50 por 100 mil. Essa instabilidade é característica
de taxas de pequenas populações. Já para o município com 20 mil
habitantes, a taxa de 25 por 100 mil ocorre quando cinco casos forem
registrados. Para a taxa dobrar para 50 por 100 mil, como antes, é
necessária a ocorrência de cinco casos adicionais, o que é mais raro de
acontecer por mero acaso (BEATO FILHO; ASSUNÇÃO, 2008, p. 35).

65
A metodologia que aplica a taxa bayesiana procura corrigir as taxas usuais
(taxas brutas) transformando-as no que denomina de “taxa de risco” que permite
trabalhar com pequenas populações sem que haja uma variabilidade grande que
possa comprometer a análise dos dados obtidos.

Após encontrar o iCV, através da fórmula especificada na Figura 19, foram obtidas
as taxas brutas por bairro que posteriormente foram submetidas à análise bayesiana.
Para a aplicação desta análise as taxas foram submetidas ao software TerraView 3.1.1,
a escolha desta ferramenta deu-se por dois motivos, a saber: (i) por ter uma plataforma
agradável e de fácil manipulação, mantendo a segurança dos dados obtidos e (ii) por ter
sido utilizado para a construção dos mapas temáticos, detalhados na sessão a seguir.

3.5 MAPAS TEMÁTICOS

O mapa do município de Belém, foi disponibilizado pela SEGEP, a base


cartográfica mais recente, que se apresenta descriminado por seus oito distritos e
trinta e nove bairros, entretanto o universo desta pesquisa realizou um recorte que
abrange apenas cinco distritos e trinta e quatro bairros, a justificativa deste recorte foi
a unidade espacial adotada nesta análise, bairro, o que limitou a pesquisa em função
das informações necessárias que respondessem a unidade espacial.

A análise foi realizada tomando como base os dados elencados nas sessões
anteriores deste capítulo, a partir dos índices construídos – iIEU e iCV – referenciados
a unidade espacial adotada, transformando esta leitura em polígonos que delimitaram
as áreas referentes a cada bairro.

Após a construção dos índices que foram tomados como parâmetro desta
pesquisa, foi construído um banco de dados, através da tabulação dos dados com
o auxilio do software Excel 2007, para posteriormente serem convertidos no formato
“mdb” através do software Access 2007, uma vez que a plataforma do software utilizado
para construção dos mapas temáticos (TerraView 3.1.1) só realiza a leitura do banco de
dados em formatos específicos como por exemplo o formato adotado “mdb”.

O arquivo digital com a base cartográfica foi tratado através do software AutoCad
2008. Nesta etapa as áreas referentes a delimitação do município por bairros foram
redesenhadas e transformadas em polígonos fechados. De posse da base cartográfica
digitalizada foi possível transportar as informações geográficas à plataforma do
software TerraView 3.1.1, possibilitando a integração dessas com o banco de dados
que caracteriza a concretização do sistema de informações geográficas para que as
análises espaciais sejam efetivadas.

66
Após todos os tratamentos preliminares dos dados, tanto do que trata a base
cartográfica quanto as informações estatísticas, passou-se ao software Terraview, que
permitiu a construção dos mapas temáticos que embasaram a análise do fenômeno
da violência urbana em consequência do próprio espaço urbano construído. A análise
foi realizada tomando como base o bairro com suas características específicas, as
quais foram determinadas em função dos índices em estudo de cada um dos bairros.

67
4. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS

A construção dos índices, juntamente com a base cartográfica do objeto em


estudo, foram as bases estruturais que permitiram realizar a análise a que esta pesquisa
se propôs, ou seja, através da “análise espacial” foi possível iniciar o mapeamento da
criminalidade violenta no município de Belém não estanque ao perfil dos bairros no
que diz respeito a infraestrutura e equipamentos urbanos, agregando ainda outros
aspectos como o geográfico e socioeconômico.

4.1 ANÁLISE DO IIEU POR BAIRRO.

O iIEU foi constituído a partir de onze variáveis classificadas em três dimensões,


as quais reproduzem, com pesos específicos, o retrato de cada bairro estudado.

A análise da dimensão social trata seis índices parciais, sendo três voltados a
sub-dimensão educação, um voltado a segurança, um voltado a saúde e por fim um
voltado ao lazer.

A sub-dimensão educação nesta pesquisa envolveu três parâmetros de


análise com propostas distintas, entretanto com objetivo único, o de mensurar a
capacidade de crescimento social a partir do acesso de condições básicas para
o desenvolvimento educacional da população, uma vez que a educação possui
um valor que agrega além do aumento na produtividade, como também, se torna
elemento propulsor do desenvolvimento igualitário no momento em que proporciona
a sociedade ferramentas que imputam a diminuição da pobreza e a melhoria das
condições de vida em um centro urbano.

A sub-dimensão segurança compõe a dimensão social com o objetivo de


mensurar a presença do Estado institucionalizada, ou seja, estabelecer a relação
entre a presença efetiva do Estado nos bairros com objetivo de oferecer a sociedade
o acolhimento institucional.

Ao tratar os dados que integram a sub-dimensão saúde, mais uma vez esta
pesquisa procurou mensurar qual seria o grau de acessibilidade da sociedade aos
equipamentos de saúde, neste caso o parâmetro adotado para quantificar tais
equipamentos disponíveis a sociedade foi a tabulação apenas dos equipamentos
públicos, mais uma vez, assim como na educação e segurança, procurou-se computar
apenas o que reflete a presença do Estado institucionalizada.

E por fim a sub-dimensão lazer se propôs a mensurar o acesso da sociedade


no que tange a presença de áreas voltadas a atividades culturais que possam ser
capazes de produzir um espaço comunitário, onde a integração e identificação com

68
estes espaços laborem a interação da própria sociedade, transformando estes espaços
públicos e dando a eles características implícitas de quem os usufrui.

A dimensão ambiental compreende quatro sub-dimensões, todas elas com


enfoque no que trata o saneamento básico. Esta tem como objetivo abordar cada sub-
dimensão dentro do enfoque que retrata a qualidade de vida em um centro urbano.

Os serviços voltados ao abastecimento de água potável pela rede geral e


esgotamento sanitário, assim como a coleta de lixo, estão diretamente ligados ao que
chamamos aqui de presença do Estado institucionalizada. São serviços básicos, os
quais desempenham um papel que vão além da qualidade de vida ambiental, mas
também agregam de maneira efetiva na formação de uma sociedade mais coesa com
poder de amortizar a formação de áreas periféricas, muitas vezes caracterizadas pela
ausência de serviços básicos como por exemplo os de saneamento.

Outro item analisado na dimensão ambiental, também pertinente ao que tange


o saneamento básico, foi a presença de banheiro nos DPPs, com o objetivo maior de
mensurar o grau de acesso que a população de determinado bairro atinge no que trata
uma melhor qualidade de vida em um centro urbano, no momento em que dispõe de
um equipamento básico de saneamento, mesmo não sendo este, caracterizado como
um equipamento público, ou seja, voltado a ação específica do Estado.

Nesta dimensão, a ambiental, foi possível ainda tratar uma relação


intrínseca da população e do número de DPPs, com o objetivo de mensurar
a necessidade da implementação da infraestrutura urbana relacionada com a
demanda populacional de cada bairro.

A terceira e última dimensão estudada foi a econômica, que através da sua


sub-dimensão renda vai além da análise pura da condição financeira do indivíduo
responsável por DPP, mas permite a inter-relação com as dimensões estudadas
anteriormente, no momento em que reflete na análise da demanda dos serviços a
sociedade. A análise compreendida na dimensão econômica auxilia na avaliação no
que diz respeito as necessidades de cada bairro, facilitando assim a tomada de ação
do poder público no direcionamento dos recursos.

A compreensão do iIEU está vinculada, nesta pesquisa, a indicadores que se


correlacionam entre si, dentro de um parâmetro que busca estabelecer um ambiente
urbano sustentável, através da inserção da sociedade que o compõe, sem que haja
a exclusão aos serviços básicos, como por exemplo: (i) educação, (ii) saúde, (iii)
segurança, (iv) lazer e (v) saneamento.

O iIEU se constitui em um índice que permite três níveis de análise , a saber: (i)
o parcial, (ii) o grupal e (iii) por fim o sintético. Através da análise espacial, realizada
com o auxilio da ferramenta computacional Terra View 3.1.1, foi possível compreender

69
cada bairro presente ao universo desta pesquisa a partir do nível sintético e ainda
observando a inter-relação dos vários aspectos que compõem este índice.

A análise do iIEU foi similar a análise dos índices grupais descritos no capítulo
anterior, onde o índice foi dividido em quatro faixas, a saber:

• Ruim (0% a 24,99%)

• Regular (25% a 49,99%)

• Bom (50% a 74,99%)

• Ótimo (75% a 100%)

A avaliação do iIEU do município de Belém31 alcançou um resultado regular


dentro da faixa de análise adotada, caracterizado pelo percentual apresentado de
38,01%. A partir deste parâmetro esta pesquisa buscou uma correlação analítica entre
o município como um “todo” e os bairros que compõem.

Por sua vez, o iIEU dos bairros revelou que apenas um bairro encontra-se
na situação ótima, dois encontram-se na situação ruim, oito na situação bom e
vinte e três na situação razoável. O resultado inicial desta análise evidencia que o
município de Belém apresenta grandes desigualdades intraurbanas, uma vez que
67,65% dos bairros que compõem este estudo encontram-se inseridos na faixa
regular, apresentando grandes contrastes em relação aos 32,35% dos bairros
distribuídos nas demais faixas.

O Mapa 1 permite a visualização da análise espacial do iIEU, onde o bairro de


Nazaré figura como o melhor bairro obtendo uma porcentagem de 77,44% (iIEU). Ao
analisar os bairros que se encontram na faixa ruim, encontramos os bairros de São
Clemente e Águas Lindas com índices de 18,87% e 24,59%, respectivamente.

Ao comparar o iIEU do bairro de Nazaré com o iIEU do município de Belém é


visível a disparidade dos índices, entretanto ao confrontarmos o iIEU do município
com os bairros que figuram na faixa caracterizada como ruim a proximidade é maior, o
que de fato não ameniza a desigualdade intraurbana presente no município. A melhor
compreensão do iIEU nesta pesquisa partiu na análise das dimensões que o compõem
descritas na sessão seguinte.

31
Nesta pesquisa o universo de estudo limita-se a cinco distritos administrativos, a saber: (i) DABEN,
(ii) DABEL, (iii) DAGUA, (iv) DAENT e (v) DASAC. Os cinco distritos que compõem a pesquisa
compreendem 34 bairros em estudo.

70
Ruim (0% a 24,99%) 2 Bairros

Regular (25% a 49,99%) 23 Bairros

Bom (50% a 74,99%) 8 Bairros

Ótimo (75% a 100%) 1 Bairro


Mapa 1: Mapa do iIEU
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

71
4.1.1 Análise comparativa do iIEU correlacionando as suas dimensões.

As três dimensões tomadas como alicerce na construção do iIEU apresentaram-se


sempre correlacionadas e por isso permitiram uma análise a partir da interdependência
existente entre elas, visto que o iIEU procurou representar não só a qualidade no que
trata os serviços de saneamento do ponto de vista estrutural, mas também a qualidade
econômica e social de um bairro (Mapa 2).

4.1.1.1 Análise comparativa do índice social grupal.

A análise da dimensão social foi baseada nas suas sub-dimensões e, reproduziu


mais uma vez, a desigualdade intraurbana presente no município de Belém (Mapa 3), uma
vez que o índice social grupal do município encontra-se no limiar regular com 31,21%.
Verificou-se a partir da análise espacial que apenas um bairro figura na condição ótima,
um bairro na condição boa, vinte e seis bairros na condição regular e seis bairros na
condição péssima.

O bairro da Campina figurou como o de melhor índice social grupal com


77,88%, caracterizado geograficamente por ser uma das primeiras áreas do município
a ser urbanizada, faz parte da região central onde está presente o maior número de
equipamentos urbanos públicos revelando assim, o melhor acesso aos serviços e, ainda
concatena com o fato de ser um bairro onde a característica de ocupação residencial não
é predominante, este fato se faz claro quando se observa o indicador população com
apenas 5.407hab. É um dos bairros menos populosos do município, com exceção do
bairro do Una e Universitário com população de 2.629hab. e 4.724hab., respectivamente.

Ao realizar a análise do índice social grupal o bairro da Campina se destaca


com os melhores resultados do município em dois índices parciais a saber: (i) iSSEG e (ii)
iSLZ. Além do fato do bairro ser possuidor dos melhores índices parciais de segurança
e lazer, existem outros pontos que enfatizam esta análise.

Considerando os 34 (trinta quatro) bairros que compõem este estudo (Mapa 4)


apenas 17 (dezessete) possuem equipamentos de segurança, e dos 42 (quarenta e
dois) equipamentos de segurança, considerados nesta pesquisa, o bairro da Campina
agrega 6 (seis), o que representa 14% dos equipamentos de segurança inseridos
neste bairro, o bairro da campina se apresenta com uma excelente situação no que
trata a relação dos equipamentos de segurança e a população residente, iSSEG.

Ao tratar o iSLZ, 8 (oito) bairros estão completamente desprovidos de áreas de


lazer, ou seja, a presença de praças, parques e bosques, já a Campina possui 21 das

72
Ruim (0% a 24,99%) 2 Bairros

Regular (25% a 49,99%) 23 Bairros

Bom (50% a 74,99%) 8 Bairros

Ótimo (75% a 100%) 1 Bairro

Mapa 2: Mapa do iIEU correlacionando os índices grupais


Fonte: Elaborado pela autora (2009)

73
Ruim (0% a 24,99%) 6 Bairros

Regular (25% a 49,99%) 26 Bairros

Bom (50% a 74,99%) 1 Bairro

Ótimo (75% a 100%) 1 Bairro


Mapa 3: Mapa do Índice Social Grupal
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

74
Ruim (0% a 24,99%) 6 Bairros

Regular (25% a 49,99%) 26 Bairros

Bom (50% a 74,99%) 1 Bairro

Ótimo (75% a 100%) 1 Bairro


Mapa 4: Índice grupal social e a relação com os índices parciais de segurança, saúde e lazer.
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

75
184 áreas de lazer, este número pode ser melhor percebido quando falamos em área
per capita, onde a Campina atinge o melhor número 27,28m²/hab., ficando com o
segundo melhor indicador o bairro da Cidade Velha com 7,09 m²/hab.

A análise do índice social grupal, depõe fortemente a favor do bairro da Campina,


uma vez que 2 (dois) dos 6 (seis) índices parciais que compõem o índice social grupal
figuram na melhor situação, iSSEG e iSLZ, estando 3 (três) na faixa ótima, iSE1, iSE2, iSE3,
o que minimiza o resultado do iSSD, onde o bairro alcança a pior situação encontrada.

O bairro de Val de Cães apresentou-se como o segundo melhor resultado na


análise do índice social grupal, este fato decorreu de algumas distorções fazendo-se
necessário a interpretação dos dados através da análise espacial.

Este resultado implicou em dois índices parciais, a saber: (i) iSSD e (ii) iSE3,
os quais despontam em relação ao contexto do município, apresentando a melhor
situação encontrada o que remete ao limiar de 100%, entretanto ao buscar a
interpretação destes dados fez-se necessário a análise de cada um dos fatores
que envolvem os números.

Ao passo que o bairro de Val de Cães é possuidor do melhor índice de saúde,


atingindo o limiar máximo, e o segundo melhor bairro é o de Águas Lindas que se
encontra na faixa regular com 25,31%, verifica-se uma grande lacuna nos resultados
alcançados entre o primeiro e o segundo melhor índice parcial de saúde.

O contexto do município se apresentou dentro da faixa ruim no que trata o


índice parcial de saúde, onde 14 (quatorze) dos 34 (trinta e quatro) bairros indicam
0%, ou seja não apresentam nenhum equipamento público de saúde.

Esse reflexo não é resultante apenas do número de equipamentos de saúde que


foram implantados no bairro de Val de Cães, onde dos 50 (cinquenta) equipamentos
de saúde considerados nesta pesquisa, 4 (quatro) encontram-se em Val de Cães. Esta
análise está firmada na relação existente entre o número de equipamentos de saúde
e a população residente, que procurou mostrar o acesso que determinada população
possui em relação ao serviço de saúde publica.

O segundo indicador que levou o bairro de Val de Cães a figurar como único
bairro dentro do limiar bom é o iSE3, (Mapa 5), muito embora a este resultado também
cabe uma análise, uma vez que ele está inserido no melhor resultado encontrado,
atingindo 100%, o que o leva ao limiar ótimo. Mais uma vez foi necessário observar
este resultado com o objetivo de interpretar os números, que neste caso, assim
como o indicador de segurança, está correlacionado diretamente com o número
da população em idade escolar, Val de Cães possui um dos menores indicadores
com 1.359hab. em idade escolar, perdendo apenas para o bairro Universitário com
939hab. em idade escolar.

76
Ruim (0% a 24,99%) 6 Bairros

Regular (25% a 49,99%) 26 Bairros

Bom (50% a 74,99%) 1 Bairro

Ótimo (75% a 100%) 1 Bairro


Mapa 5: Índice grupal social e a relação com os índices parciais de educação.
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

77
O índice social grupal foi constituído por 6 (seis) índices parciais, dentre os
quais, como dito anteriormente, o bairro de Val de Cães alcançou a melhor situação
encontrada (iSSD e iSE3), entretanto os outros 4 (quatro) índices parciais não apresentaram
resultados equilibrados, como por exemplo o iSE1, iSE2 que figuraram na faixa ótima de
análise em contraponto com iSSEG que apresentou a pior situação encontrada assim
como o iSLZ que também se encontrou na pior faixa de análise com índice 7,29%.

Na faixa de análise ruim, o município em estudo apresentou 6 (seis) bairros,


a saber: (i) Universitário, (ii) Barreiro, (iii) Cabanagem, (iv) São Clemente, (v) Terra
Firme e (vi) Una.

O bairro de São Clemente, possui uma condição extrema, uma vez que se encontra
na pior situação onde, em 5 (cinco) dos 6 (seis) índices parciais que compõem o índice
social grupal a saber: (i) iSE2, (ii) iSE3, (iii) isSEG, (iv) iSSD e (v) iSLZ (Mapas 4 e 5), o bairro figurou
na faixa ruim, e no que trata o iSE1, onde figurou na faixa ótima, ainda assim representa o
menor índice encontrado. A condição encontrada no bairro de São Clemente, onde o índice
social grupal atingiu 14,87%, se mostra como sendo o outro ponto da balança quando o
defrontamos com o bairro da Campina que atingiu no índice social grupal 77,88%.

A população residente neste bairro caracterizou-se como uma das menores,


com 5.833hab., ou seja, assim como o bairro da Campina, com 5.407hab., sua
população é uma das menores entre os bairros estudados que possui, em média, uma
população em torno de 30.437hab.

Em contraponto ao bairro da Campina, que faz parte da primeira légua


patrimonial, São Clemente encontra-se em uma área de invasão, onde a ocupação
aconteceu de forma irregular, e a presença efetiva do Estado é insatisfatória ou em
alguns casos inexistente.

A anomia estatal se traduziu na análise do índice social grupal do bairro de


São Clemente, onde o único índice social parcial que se encontra na faixa de análise
ótima, o iSE1, que buscou mensurar a taxa de alfabetizados levando em consideração
a população de 15 anos ou mais, refletiu, assim como os demais índices parciais, a
pior situação encontrada com 89,16% (Mapa 5).

O segundo pior índice social grupal foi o do bairro Universitário que atingiu o
percentual de 17,37%. O bairro apresentou em todos os índices parciais que compõem
o índice social grupal, resultados que figuraram na faixa ruim, com exceção do iSE1,
que apesar de estar presente na faixa de análise ótima, ainda assim reflete uma das
piores situações encontradas com 90,07% (Mapas 4 e 5).

A população do bairro Universitário é a menor em relação ao universo


estudado e ocupa uma área de baixada, onde não há presença de estabelecimento

78
público de ensino, equipamento de saúde e segurança, e ainda não há a presença
de áreas de lazer (Mapas 4 e 5).

O bairro do Barreiro se incluiu na pior faixa de análise do índice social grupal uma vez
que ao analisarmos os índices parciais como iSEG, iSSD e iSLZ, ele figura como a pior situação
encontrada neste estudo, ficando ainda o iSE2, iSE3, na faixa ruim de análise com 23,83% e
12,33% respectivamente, e assim como nas análises anteriores o iSE1, apareceu mais uma
vez como exceção nesta análise atingindo o percentual de 91,13% (Mapas 4 e 5).

A população do Barreiro, em contraponto aos bairros acima analisados, possui


uma população que se aproxima da média, com 24.446hab. A forma de ocupação
também teve sua origem irregular, entretanto já se percebe a intervenção do Estado
no que trata a implantação de equipamentos públicos de ensino, o que ainda assim
não reverteu a situação precária, uma vez que o número de equipamento de educação
não supre a necessidade da população em idade escolar, na análise do iSE3. Tal fato
refletiu diretamente na análise do iSE2, onde é perceptível que a população em idade
escolar não está sendo atendida.

O bairro da Cabanagem com índice social grupal de 22,42%, e com população


de 29.013hab., não apresentou áreas de lazer assim como não existe a presença de
equipamentos de segurança, ou seja os iSLZ e iSSEG, foram caracterizados como a pior
situação encontrada (Mapa 4).

O iSSD com 9,45% também encontrou-se na pior faixa de análise, o que nos levou a
perceber que mesmo que haja a presença de equipamentos de saúde, ainda assim não
contempla a população do bairro uma vez que a relação entre o número de equipamento
de saúde e a população representa 6,89 equipamentos de saúde para cada 100.000hab.

Os índices parciais voltados a educação figuraram em duas faixas de análise


distintas. O iSE1, aparece mais uma vez como exceção nesta análise atingindo o
percentual de 91,79% (Mapa 5). No que trata a análise do iSE2 o bairro encontrou-se
na faixa regular, com 29,49%, onde para cada 1.000 alfabetizados, existem 172,21
analfabetos. O iSE3, está presente na faixa ruim, onde para cada 10.000hab. existe
apenas 1,96 equipamento de educação, resultando no índice parcial de 3,81%, uma
das piores situações encontradas, perdendo apenas para o bairro da Maracangalha
com iSE3 igual a 2,33%, além dos bairros do Universitário, Una e São Clemente que
figuraram como a pior situação encontrada.

O bairro da Terra Firme foi inserido na faixa de análise ruim no que trata o
índice social grupal, com 24,75%. O iSSEG, foi o pior índice parcial do bairro por não
apresentar nenhum equipamento de segurança, entretanto outros índices parciais
figuraram na pior faixa de análise como o iSSD com 4,34%, que equivale a presença
de 3,17 equipamentos de saúde para cada 100.000hab. O iSLZ por sua vez, colaborou

79
sobremaneira com o resultado do índice social grupal, uma vez que apresentou um
dos piores índices parciais encontrados com 0,14% que refletiu em 0,04m²/hab.

No que trata os índices parciais voltados a educação percebeu-se uma melhora


dos resultados, o iSE3 é igual a 10,79%, que indicou 5,53 equipamentos de educação
para cada 10.000hab. O iSE2 é igual a 40,47%, o que representou 145,39 analfabetos
para cada 1.000 alfabetizados, e por fim a análise referente ao iSE1 é igual a 92,77%,
estando, assim como nos demais bairros, na faixa de análise ótima.

O bairro do Una ficou na faixa de análise ruim ao observarmos o seu índice


social grupal com 23,16%. Ao partirmos para a análise dos índices parciais que
compõem o índice social grupal foi possível o entendimento deste resultado. Todos
os índices parciais que remetem a ação efetiva do Estado foram caracterizadas neste
estudo como a pior situação encontrada. Com uma população de 4.724hab. o bairro
não possui equipamentos de saúde, de segurança, de educação, assim como não
existem áreas destinadas ao lazer como por exemplo praças.

O iSE2 é igual a 42,55%, o que representou 140,32 analfabetos para cada 1.000
alfabetizados, esta dado colaborou muito com o resultado do índice social grupal, uma
vez que encontrou-se na faixa de análise regular. E por fim a análise referente ao iSE1
é igual a 96,43%, sendo o único índice parcial a figurar na faixa de análise ótima.

O estudo do índice social grupal apontou grande parte dos bairros, 26 (vinte e
seis) dos 34 (trinta e quatro) que formam o universo desta pesquisa, encontraram-se
na faixa de análise regular, demonstrando que de fato são responsáveis pelo resultado
do índice social grupal, que figura nesta mesma faixa. Foi possível perceber que os
índices parciais destes 26 (vinte e seis) bairros encontraram uma linha de equilíbrio
dentro da faixa regular, sem que houvesse grandes distorções que elevem ou reduzam
os resultados, de forma a manter-se sempre na faixa regular.

Ao buscar a análise voltada a vertente educação esta pesquisa buscou analisar


a situação da população total do bairro, mas também se preocupou em destacar a
população em idade escolar, a qual se volta a maior parte dos equipamentos de
educação implementados pelo poder público.

Ao considerarmos os parâmetros voltados a educação da população residente


por bairro é possível demonstrar geograficamente o mapa da educação no município
sob os diversos aspectos abordados neste estudo (Mapa 5).

O iSE1 buscou mensurar a taxa de alfabetização da população de 15 anos ou


mais, e a partir dessa análise foi possível identificar uma homogeneidade, não havendo
grandes distorções intraurbanas, e ainda refletiu em uma situação ótima uma vez que
todos os bairros do município encontram-na faixa de análise de 80% a 100%.

80
A análise do iSE2 buscou mensurar a relação entre o número de analfabetos para
cada alfabetizado, considerando nesta relação a população total do bairro, onde a pior
situação encontrada foi no bairro de São Clemente, havendo para cada 1.000 alfabetizados
244, 25 analfabetos, o que o insere na faixa de análise do índice parcial na categoria ruim.

Ao confrontarmos a pior situação com a melhor, que neste caso corresponde


ao bairro de Nazaré, onde para cada 1.000 alfabetizados existem 14,47 analfabetos, é
visível, mais uma vez, a existência da desigualdade intraurbana refletida diretamente
nos números apresentados, ao contrário do iSE1 que mantém uma homogeneidade nos
resultados encontrados.

E por fim, agregando as análises anteriores, o iSE3, buscou mensurar o número de


equipamentos de educação existente para cada habitante em idade escolar, o reflexo
deste estudo apontou mais uma vez para grandes distorções nos resultados. O melhor
resultado encontrado foi no bairro de Val de Cães com 51,51 equipamentos de educação
para cada 10.000hab. em idade escolar, e o pior resultado foram ilustrados pelos bairros
Universitário, Una e São Clemente que não possuem nenhum equipamento de educação.

O aspecto que envolve a segurança pública, nesta pesquisa, buscou fomentar a


discussão em torno da presença do Estado com o objetivo de ordenar a conduta urbana
e proporcionar a segurança pública por meio do melhor acesso aos equipamentos de
segurança como seccionais, juizados, entre outros que evidenciam a presença do
poder público (Mapa 6). Neste aspecto os piores índices parciais encontrados foram
nos bairros de Águas Lindas, Barreiro, Cabanagem, Canudos, Castanheira, Condor,
Curió Utinga, Fátima. Mangueirão, Parque Verde, Reduto, São Clemente, Terra Firme,
Umarizal, Una, Universitário e Val de Cães, onde não foi detectada a presença de
equipamentos de segurança, enquanto a melhor situação foi apontada no bairro da
Campina com 110,97 equipamentos de segurança para cada 100.000hab.

O quesito saúde pública buscou avaliar o acesso da população a este serviço,


com o objetivo de visualizar o mapa de equipamentos de saúde seccionado por bairros
(Mapa 4), o qual subsidiou a análise espacial com foco nas diferenças intraurbanas
existentes ou não. Na análise do município a pior situação foi detectada em 14
(quatorze) dos 34 (trinta e quatro) bairros em estudo o que significa que 41,17% do
município apresentou-se completamente desprovido de equipamento de saúde.

A análise das áreas de lazer foi realizada como ponto integrante da discussão, no
momento em que recai sobre o acesso do indivíduo ao lazer e a cultura, desta forma ao
analisarmos os resultados obtidos, é perceptível a existência de grandes distorções (Mapa 4).
A diferença presente entre a melhor situação e a segunda melhor, mostra claramente esta
distorção, onde o bairro da Campina possui 27,28m² de área de lazer para cada habitante
seguido pelo bairro da Cidade Velha com 7,09m² de área de lazer para cada habitante.

81
Ruim (0% a 24,99%) 0 Bairro

Regular (25% a 49,99%) 2 Bairros

Bom (50% a 74,99%) 11 Bairros

Ótimo (75% a 100%) 21 Bairros


Mapa 6: Índice ambiental grupal.
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

82
O município é detentor de 677.225m² voltados ao lazer e cultura, entretanto apenas os
bairros de Campina e Cidade Velha somam 232.818 m², ou seja, 34,38% destas áreas
estão localizadas em dois bairros cuja soma da população residente representa 1,68% do
total residente no município. Para enfatizar esta análise é importante relatar que 8 (oito) dos
34 (trinta e quatro) bairros que compõem este estudo encontram-se desprovidos de áreas
destinadas ao lazer e a cultura, o que representa 12,91% da população.

4.1.1.2 Análise comparativa do índice ambiental grupal.

A análise da dimensão ambiental foi baseada, assim como a social, nas suas
subdimensões e, configurou um panorama com menor desigualdade intraurbana,
figurando na faixa de análise ótima, isso se traduziu no momento em que 61,77%
dos bairros figuraram nesta mesma faixa de análise, 32,35% dos bairros figuraram na
faixa de análise bom, estando sempre muito próximo do limiar ótimo e apenas 5,88%
dos bairros foram detectados na faixa regular (Mapa 6).

A dimensão ambiental procurou retratar a situação do município em relação a


infraestrutura urbana no que trata o saneamento básico, dessa forma foram adotados 4
índices parciais a saber: (i) iAS1, que buscou mensurar o número de DPP abastecido pela
rede de esgoto, (ii) ) iAS2, que buscou mensurar o número de DPP com abastecimento
de água pela rede geral,(iii) iAS3, que buscou mensurar o número de DPP servido por
coleta de lixo e (iv) iAS4, que buscou mensurar o número de DPP provido de sanitário.

Diante da análise espacial realizada a partir da dimensão ambiental, é possível


perceber (Mapa 6), que a linha que delimita a primeira légua patrimonial do município,
encontrou-se na melhor faixa de análise, onde dos 21 (vinte e um) bairros analisados
como ótimo, 17 (dezessete) fazem parte da primeira légua patrimonial e, os quatro
bairros restantes que figuram na melhor faixa de análise estão circundando esta área.

Ao analisarmos os quatro índices parciais (Mapa 7), verificou-se que o iAS1,


apresentou uma grande lacuna no que trata os seus resultados em relação aos demais
índices parciais, muito embora o índice ambiental grupal esteja caracterizado como
ótimo, as condições relacionadas ao abastecimento pela rede de esgoto é precário,
onde 41, 11% dos bairros em estudo estão na faixa ruim de análise.

No que trata o iAS2 temos 76,47% dos bairros em estudo figurando na faixa ótima
de análise, e apenas dois bairros se apresentaram dentro da faixa de análise ruim,
destoando completamente dos demais, Águas Lindas e São Clemente com 0,74% e
18,01% respectivamente.

O iAS3 assim como o iAS4 100% dos bairros em estudo figuraram na faixa ótima
de análise, o que levou o índice ambiental grupal a obter um resultado ótimo. Apesar

83
Ruim (0% a 24,99%) 0 Bairro

Regular (25% a 49,99%) 2 Bairros

Bom (50% a 74,99%) 11 Bairros

Ótimo (75% a 100%) 21 Bairros


Mapa 7: Índice ambiental grupal e a relação com os índices parciais de saneamento.
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

84
de alguns resultados demonstrarem quedas na análise desta dimensão, e de serem
estes resultados preocupantes, ainda assim a análise ambiental grupal refletiu uma
menor desigualdade intraurbana.

4.1.1.3 Análise comparativa do índice econômico grupal.

A análise da dimensão econômica foi baseada na subdimensão renda que


compôs o iER que por sua vez analisou o rendimento nominal mensal das pessoas
com rendimento responsáveis pelos DPPs em reais (R$). Nesta análise buscou-se
relacionar o nível de renda mediano mensal, por bairro, ao acesso desta população
aos serviços públicos como educação, saúde, segurança, lazer e ainda a infraestrutura
urbana no que trata o saneamento básico.

A análise espacial permitiu a visualização do mapa de renda do município


(Mapa 8), e ainda a observância deste com os demais índices grupais considerados
neste estudo (Mapa 9).

O índice econômico grupal do município figurou na faixa ruim de análise com


18,98%. Foi possível enxergar, através da análise espacial, as diferenças intraurbanas
presentes na dimensão econômica, uma vez que o mapa de renda do município
apresentou apenas 3 (três) dos 34 (trinta e quatro) bairros em estudo, inseridos na
faixa de análise ótima, a saber: (i) Nazaré, (ii) Reduto e (iii) Batista Campos. Estes
bairros aparecem centrais e pertencentes a primeira légua patrimonial do município e,
ainda, são adjacentes fisicamente entre eles.

A desigualdade intraurbana, nesta dimensão, ficou clara ao detectarmos que


do universo considerado 8,82% dos bairros figuraram na situação ótima, não havendo
a inserção de nenhum bairro na faixa de análise bom, sendo remetido diretamente a
próxima faixa de análise, razoável, onde 6 (seis) bairros estão inseridos, o que reflete
17,65% do universo estudado. Na última faixa de análise, ruim, encontram-se grande
parte do universo em estudo, 25 bairros que corresponde a 73,53%.

Outro ponto em destaque nesta análise foi visualizado entre os bairros que
figuraram na faixa de análise ruim, onde 84% destes bairros não ultrapassaram a faixa
de 10% no que tange o índice parcial de renda, o que enfatizou a análise, uma vez que
foram detectados resultados como os dos bairros de São Clemente e Universitário
com 0% e 1,30% respectivamente. Em contraponto encontramos os bairros de Nazaré
com 100% e os bairros do Reduto e Batista Campos com 78%.

85
Ruim (0% a 24,99%) 25 Bairros

Regular (25% a 49,99%) 6 Bairros

Bom (50% a 74,99%) 0 Bairro

Ótimo (75% a 100%) 3 Bairros


Mapa 8: Índice econômico grupal.
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

86
Ruim (0% a 24,99%) 25 Bairros

Regular (25% a 49,99%) 6 Bairros

Bom (50% a 74,99%) 0 Bairro

Ótimo (75% a 100%) 3 Bairros


Mapa 9: Índice econômico grupal e a relação entre os índices social grupal e ambiental grupal.
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

87
A análise dos índices social e ambiental grupal, frente ao índice econômico
grupal nos permitiu a interpretação de alguns resultados observando a relação
existente entre as dimensões que estruturaram este estudo.

A distribuição de renda da população do município mostrou uma relação


clara com a leitura dos índices social e ambiental grupal (Mapa 9), uma vez que as
melhores rendas mediana mensal, por responsável de DPP, encontram-se em bairros
onde foram detectados os melhores resultados no que trata a dimensão ambiental e,
ainda social se considerarmos as distorções apresentadas nas análises dos bairros
de Campina e Val de Cães, anteriormente descritas neste estudo.

4.2 ANÁLISE DO iCV POR BAIRRO.

O iCV foi constituído com base em 4 (quatro) eventos específicos que envolvem
o contato direto entre o agressor e a vítima, a saber: (i) homicídio, (ii) tentativa de
homicídio, (iii) estupro e (iv) latrocínio. A soma desses crimes foi dividida pela população
residente no bairro e relativizada para cada 10.000hab.

O propósito de tomar como análise eventos criminosos onde o contato entre o


agressor e a vítima sejam eminentes foi adotado com o objetivo de caracterizar o que
se convencionou chamar, nesta pesquisa, de criminalidade violenta.

A análise espacial dos resultados alcançados neste estudo permitiu visualizar o


mapa de criminalidade violenta no município de Belém (Mapa 10), que foi delimitado
em quatro faixas de análise, onde foram detectados bairros com iCV igual a zero,
muitas vezes por inconsistência dos dados, como por exemplo o bairro de Águas
Lindas, e o bairro da Campina com iCV igual a 22,19 ocorrências de crimes violentos
para cada 10.000hab., que por sua vez, além de ser possuidor de uma população
residente pequena, em relação a média dos bairros envolvidos nesta pesquisa, ainda é
caracterizado pela presença de uma população pendular, que se desloca diariamente
na busca ao acesso dos serviços institucionais constituídos no bairro e também em
função das atividades de comércio desenvolvidas.

A esta análise foi necessário a submissão dos resultados brutos ao tratamento


pelo método bayesiano, com o propósito de tornar menos vulnerável os resultados que
consideram pequenas populações, esta análise foi realizada por meio da ferramenta
computacional Terraview 3.1.1.

A faixa de análise adotada neste índice foi construída com base na distribuição
dos resultados pelo conceito de “passos iguais”, onde o intervalo dos valores existentes

88
Faixa 1 14 Bairros

Faixa 2 16 Bairros

Faixa 3 2 Bairros

Faixa 4 2 Bairros
Mapa 10: Índice de criminalidade violenta
Fonte: Elaborado pela autora (2009)

89
foi dividido em quatro intervalos de tamanhos iguais, associando cada intervalo a uma
faixa de análise de acordo com a Tabela 12.

Tabela 12: Classificação do índice de criminalidade violenta

VARIAÇÃO CLASSIFICAÇÃO

0 a 4,79 ocor./10.000hab. Faixa 1

4,8 a 9,59 ocor./10.000hab. Faixa 2

9,6 a 14,49 ocor./10.000hab. Faixa 3

14,5 a 19,5 ocor./10.000hab. Faixa 4


Fonte: Elaborada pela autora (2009)

O mapa de criminalidade violenta do município revelou 2 (dois) bairros na Faixa


4, a Campina e o Benguí, com iCV igual a 19,36 ocorrências para cada 10.000hab. e
17,68 ocorrências para cada 10.000hab. respectivamente. A análise espacial mostra
que são bairros com características distintas, o primeiro pertence a primeira légua
patrimonial com uma população de apenas 5.407 hab. e o segundo pertence a área
de expansão do município com população de 28.120hab.

Pertencente a Faixa 3, a segunda mais violenta, onde o iCV compreende


um intervalo que vai de 9,6 a 14,49 ocorrências para cada 10.000hab., estão os
bairros de Val de Cães com 9,80 ocorrências para cada 10.000hab., e Una com 9,78
ocorrências para cada 10.000hab. Neste caso os dois bairros pertencem a área de
expansão do município.

Na Faixa de análise 2, onde o intervalo de ocorrências para cada 10.000hab.


vai de 4,8 a 9,59, foi detectada a presença de 16 (dezesseis) dos 34 (trinta e quatro)
bairros que compõem este estudo. É válido ressaltar que dos bairros que figuram
nesta faixa 81,25% estão localizados dentro da primeira légua patrimonial.

E por fim a melhor situação encontrada no município pertence a Faixa 1, onde


intervalo de ocorrências para cada 10.000hab. vai de 0 a 4,79. Nesta situação foram
apontados 14 (quatorze) bairros, sendo que 28,57% pertencem a primeira légua
patrimonial do município.

Os bairros da Campina e do Benguí apresentaram os maiores índices de


criminalidade violenta, entretanto a incidência de crimes violentos apresenta-se
distintamente. Na Campina um equilíbrio no registro das ocorrências em cada um
dos eventos, não havendo um destaque maior para um evento específico, já no

90
Benguí dentre os quatro eventos de criminalidade violenta o homicídio aparece como
indicador principal, sendo o bairro com maior número de ocorrência em todo município,
com 33 homicídios registrados no ano de 2005, de acordo com a Polícia Civil, que
disponibilizou os seus dados através do AE do município, ficando atrás apenas do
bairro do Guamá que registrou neste mesmo período 38 homicídios (Mapa 11).

91
Faixa 1 14 Bairros

Faixa 2 16 Bairros

Faixa 3 2 Bairros

Faixa 4 2 Bairros

Mapa 11: Índice de criminalidade violenta e os eventos de criminalidade violenta.


Fonte: Elaborado pela autora (2009)

92
4.3 ANÁLISE DA RELAÇÃO EXISTENTE ENTRE O iIEU E O iCV.

Esta análise foi realizada tomando como parâmetro os índices adotados nesta
pesquisa, o iIEU e o iCV, tal metodologia foi adotada em níveis de análise diferenciados,
sempre partindo do critério específico e alcançando o critério generalista, qual seja
ele, buscou-se pela análise que respondesse unidade espacial adotada. No que trata
o iIEU, as etapas analíticas averiguaram os índices parciais, passando aos índices
grupais e chegando ao índice sintético, sempre cruzando as informações pertinentes a
esta análise. No tratamento do iCV o parâmetro de análise se repete, sempre partindo
do bairro levando a uma confrontação do índice e também dos indicadores específicos
que o compõem.

A partir da análise dos índices realizada nas sessões anteriores, esta pesquisa
cruzou os resultados com o objetivo de buscar a relação existente ou não entre a
infraestrutura presente em um centro urbano e a criminalidade violenta. Objetivando
a viabilidade desta análise optou-se pelo critério de inclusão que apontasse os
bairros que figuraram na melhor faixa de análise do iIEU e os bairros que figuraram
na faixa onde o iCV é mais alto, o que resultou em dois bairros com melhor índice
de infraestrutura e equipamentos urbanos e dois bairros com os maiores índices de
criminalidade violenta, de acordo com o Mapa 12.

Como melhor situação encontrada, no que trata a análise do iIEU, este estudo
apontou o bairro de Nazaré com o melhor índice de infraestrutura e equipamentos
urbanos, sendo ainda o único dos 34 (trinta e quatro) bairros a figurar na faixa de
análise ótima, com 77,45%. Ao realizar a análise do iCV do bairro de Nazaré foi
constatado um dos menores índices encontrados, com apenas 3,43 ocorrências para
cada 10.000 hab., de acordo com a análise bayesiana considerada nesta pesquisa.

Como pior situação encontrada no que trata a análise do iCV, este estudo
apontou o bairro do Benguí, onde após a submissão dos valores brutos a análise
bayesiana, o índice alcançou o patamar de 16,24 ocorrências para cada 10.000 hab.
Agregando a este resultado a análise do iIEU no bairro do Benguí figurou abaixo da
média do município com o índice de 36,37%.

Com base nos resultados relacionados acima, foi possível traçar um fio condutor
entre os conceitos que embasaram este estudo, uma vez que a relação entre os índices
de criminalidade violenta e infraestrutura e equipamentos urbanos se mostraram
coerentes através dos resultados obtidos nesta pesquisa. Fatores relacionados a
localização geográfica, ao acesso a cultura, educação e lazer, a segurança e saúde
pública, mostram-se fortemente entrelaçadas ao fenômeno da violência urbana.

93
Bairro iIEU Bairro iCV – Bayes

1 Nazaré 77.45% 1 Benguí 16.24 ocor./10.000hab.

2 Campina 73.36% 2 Campina 14.73 ocor./10.000hab.

Mapa 12: Relação do iCV com o iIEU


Fonte: Elaborado pela autora (2009)

94
O bairro da Campina se apresentou nesta pesquisa com características que, em
uma análise inicial, rebate e rejeita a relação entre os índices de criminalidade violenta
e infraestrutura e equipamentos urbanos, uma vez que foi apontado como o segundo
melhor iIEU (73,36%) e também com o segundo maior iCV (14.73 ocorrências para
cada 10.000hab.).

Entretanto o bairro da Campina apresenta características que o distingue dos


demais, como o fato de ser eminentemente comercial, possuidor de uma população
residente pequena, apenas 5.407 hab., tendo como contraponto uma grande população
pendular que transita pelo bairro em busca ao acesso dos serviços institucionais e
ainda das atividades de comércio constituídas no bairro.

95
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sustentabilidade da urbe vem acoplada ao seu entendimento em um contexto


mais amplo, não somente do espaço físico mas também da cidade enquanto organismo
que compreende suas partes como elementos integrados. Dessa forma o planejamento
urbano atua como um agente facilitador, proporcionando áreas iluminadas caracterizadas
pelo acesso à cidade, onde se faz presente o indivíduo inserido na sociedade.

O meio ambiente urbano transparece suas desigualdades sociais não obstante


das desigualdades espaciais o qual retrata um espaço físico demarcado por territórios
luminosos e hegemônicos em contraponto a territórios opacos e alienados, estes
muitas vezes são tomados pela violência.

A inserção das novas tecnologias no âmbito exploratório com objetivo de


identificar as características de determinada cidade, não se resume ao traçado de
mapas de informação, este elemento se mostra muito rasteiro ao estudo do fenômeno
urbano. A ferramenta de geoprocessamento tem como fundamento maior ilustrar e
delinear cada espaço e absorvê-lo em sua totalidade onde o individuo é tão importante
quanto o espaço que ele ocupa.

O mapeamento da violência urbana permite o melhor entendimento do fenômeno


uma vez que é possível a sua relação direta com o território, apontando os espaços
alienados tendo a anomia estatal como uma realidade, onde a violência prevalece. Através
do mapeamento se fez claro que as áreas que surgem fora do cinturão institucional,
áreas que compreendem as franjas da cidade, são marcadas pela violência. Entretanto
a solução do fenômeno da violência urbana não recai sobre ações que visem apenas o
desenvolvimento bélico da policia, mas sim a retomada da cidadania.

Maricato (2008, p. 97), fala com clareza da importância em correlacionar o


espaço físico a sociedade que o habita:

“A dimensão da tragédia urbana brasileira está a exigir o desenvolvimento


de respostas que, acreditamos, devem partir do conhecimento da
realidade empírica respaldado pelas informações cientificas sobre o
ambiente construído para evitar a formulação de “idéias fora do lugar”
tão características do planejamento urbano do Brasil”.

Ações que tratam o espaço como produto da sociedade e que tomam a


abordagem da temática violência urbana parte desse processo, tem obtido resultados
satisfatórios no que trata o enfrentamento do fenômeno. Cidades sul-americanas
como, por exemplo, em Bogotá, a prefeitura iniciou, no ano de 1998, a implementação
do programa que pleiteava à redução dos índices de violência, agindo diretamente
em questões como a regularização fundiária, juntamente com a construção de

96
equipamentos públicos, como creches e praças, e até processos jurídicos que deram
a posse definitiva dos imóveis ocupados. Tais ações podem ser traduzidas na redução
de 84% da taxa de homicídio em dez anos de programa, que alerta ainda sobre a
importância da presença institucional como delegacias de família, unidades de
mediação pacífica de conflito e defensoria pública.

O mapa desenvolvido no contexto desta pesquisa mostrou a desigualdade


espacial ao delinear com clareza os espaços luminosos e opacos do município de
Belém, as mensurações e avaliações adotadas neste estudo permitiram a visualização
espacial de cada variável considerada. Ao analisar os dois índices que compõem este
estudo, verificou-se a pertinência na correlação entre a presença de infraestrutura
urbana e avariação dos índices de criminalidade violenta.

Os bairros com os melhores índices de infraestrutura e equipamentos urbanos


compreendem a área que corresponde a primeira légua patrimonial, dos 8 (oito) bairros
que encontram-se na segunda melhor faixa de análise do iIEU 75% estão localizados
dentro da primeira légua patrimonial. Isto significa dizer que a população residente
nestes bairros está acolhida pela presença efetiva do Estado, possuindo uma maior
capacidade de desenvolvimento social com base na educação, saúde, segurança,
e lazer através de espaços voltados ao desenvolvimento de atividades culturais que
integram a sociedade.

Observou-se ainda neste estudo que os bairros que estão localizados dentro
da primeira légua patrimonial encontram-se dentro das duas melhores faixas do iCV.
É válido ressaltar que dos 16 bairros que compõem a área de expansão do município,
25% apresentam inconsistência de dados no que trata o índice em tela, uma vez que
em 4 (quatro) dos 16 bairros não há registro de nenhum dos eventos considerados
nesta pesquisa como crimes violentos.

Em relação à ausência de registros de ocorrência criminosa nestas áreas de


expansão esta pesquisa considerou como consequência o fato de 12 dos 16 bairros
em questão não possuírem equipamentos de segurança, de acordo com os critérios
adotados nesta pesquisa, o que reflete em 75% dos bairros não terem acesso facilitado
aos serviços de segurança pública. Tal fato recorre mais uma vez a falta de infraestrutura
básica, ou seja a eminente anomia Estatal. Como fato agregador a este panorama esta
pesquisa considerou ainda o fato de não haver uma identidade consolidada nestes
bairros que muitas vezes não constituem seu limite territorial fazendo com que haja
distorções no que relata o registro oficial de ocorrências dos eventos criminosos.

Neste estudo o bairro de Nazaré, além de ter obtido o maior iIEU e figurar na
melhor faixa de análise, ainda apresenta os melhores índices no que trata a taxa
de alfabetização da população com 15 anos ou mais e ainda no que se refere ao

97
número de analfabetos para cada 1.000 alfabetizados, em contraponto a estes índices
a pesquisa revelou que o número de equipamentos de educação é de 17,39 para
cada 10.000hab. em idade escolar, o que o levou a figurar como o sétimo melhor
índice. Diante dos dados acolhidos neste estudo, há inicialmente uma incoerência
dos resultados, entretanto ao agregar a esta análise o índice econômico de renda do
bairro em questão, a incoerência inicial toma outra forma, uma vez que se mostrou ser
o bairro com maior renda mediana mensal, esta população não acessa a educação
pública, fazendo em sua grande maioria a opção pelo ensino privado.

Ao olhar para os índices que envolvem o lazer, a segurança e a saúde, verificou-


se mais uma vez a concordância desses resultados com o índice econômico de renda.
A presença do Estado é perceptível no momento em que o bairro em tela apresenta o
terceiro melhor índice no que diz respeito a segurança e ao lazer, estando abaixo da
média apenas no índice que considera a saúde ficando clara a correlação existente
entre a demanda por este serviço e o nível de renda mediano mensal do bairro, que
tem como característica o direcionamento da população ao serviço privado de saúde.

A análise da dimensão ambiental reforça a posição do bairro de Nazaré, pois


dentro dos critérios adotados nesta pesquisa o iSA1, que buscou mensurar a taxa de
domicílio servida por esgoto, o iSA3 que buscou mensurar a taxa de domicilio abastecida
por coleta de lixo e o iSA4 que buscou mensurar a taxa de domicílio com banheiro
correspondem a melhor faixa de análise. Os resultados refletem o fato de o bairro em
tela fazer parte da primeira légua patrimonial do município que leva a população de
maior rendimento mediano mensal a optar pelo espaço de melhor infraestrutura.

No que trata a dimensão ambiental grupal, apenas o iSA2 que buscou mensurar
a taxa de domicílio abastecido por água na rede geral, obteve um resultado dentro da
faixa de análise bom, entretanto este fato não compromete a análise do índice grupal,
uma vez que a população residente no bairro de Nazaré possui a melhor condição
de renda mediana mensal, de acordo com os critérios adotados nesta pesquisa,
direcionando a demanda voltada a este serviço básico, assim como nos serviços
voltados a educação e saúde, aos meios de acesso onde não há interferência direta
do Estado, ou seja, parte da população que não acessa o serviço de abastecimento
de água geral, o faz por opção, uma vez que utiliza outros meios.

Ao voltar a análise sob o bairro do Benguí, o qual apresentou o maior índice


de criminalidade violenta, foi perceptível a coerência relatada no que diz respeito aos
conceitos que envolveram as bases desta pesquisa. O bairro é possuidor de um dos
piores índices de infraestrutura e equipamentos urbanos encontrados nesta pesquisa,
entretanto ao tratar cada uma das dimensões que compõem o referido índice, foi possível
detectar alguns pontos que refletem diretamente o resultado encontrado no iCV.

98
A dimensão ambiental, assim como nos demais bairros que fazem parte deste
estudo, não apresentou uma situação crítica, mas ao analisar as sub-dimensões que a
compõem foi perceptível a fragilidade do iSA1, que buscou mensurar a taxa de domicílio
servida por esgoto, uma vez que figurou como o décimo pior índice, dimensionando a
ausência do saneamento básico em um item que reproduz além do retrato de qualidade
de vida ambiental, mas também significa a formação de uma sociedade coesa inserida
na cidade e não pertencente a uma periferia alienada e ignorada pelo Estado.

A dimensão social se mostrou frágil no que tratam os critérios voltados à


educação, entretanto se fez alarmante a análise voltada aos critérios voltados a
segurança pública e ao lazer e cultura.

É válido ressaltar que a educação da população está relacionada não somente ao


desenvolvimento educacional, mas é um elemento propulsor que esteia o aumento da
produtividade e ainda agrega coesão à sociedade urbana. Dessa forma esta pesquisa
confere ao bairro do Benguí uma situação mediana, nem ao extremo péssimo, nem
tão pouco ao extremo ótimo, o que não quer dizer que não necessite de maior atenção
por parte do Estado visto que possui uma das maiores populações em idade escolar.

As sub-dimensões que retrataram a segurança pública, a saúde e o lazer


figuraram na pior faixa de análise, dentro dos critérios adotados nesta pesquisa,
caracterizando uma população desamparada pelo acolhimento institucional uma vez
que tem seu acesso restrito aos serviços públicos aqui retratados.

Os resultados acima assimilados são potencializados no momento em que


temos a dimensão econômica associada como fator que limita e exclui o bairro, uma
vez que o iER do bairro compreende a pior faixa de análise, de acordo com os critérios
adotados nesta pesquisa. A esta análise coube a interdependência da renda com
a presença efetiva do Estado na forma de serviços públicos que atendam a uma
sociedade mais carente.

O bairro de Nazaré assim como o do Benguí, através da análise descrita acima,


se encaixaram nos conceitos elencados neste estudo, confirmando a hipótese que
estruturou as análises adotadas nesta dissertação, que acredita na influência direta
entre a ausência do Estado e o aumento do índice de criminalidade violenta.

O bairro da Campina foi inserido neste contexto com uma leitura pertinente que
pode levar a hipótese adotada nesta pesquisa a xeque, uma vez que apresenta ao
mesmo tempo o segundo melhor índice de infraestrutura e equipamentos urbanos e
ainda o segundo maior índice de criminalidade violenta.

Entretanto tal fato contribui e valida a hipótese adotada neste estudo, uma vez
que se faz uma análise sócio-espacial do bairro. Ao olhar a questão físico-territorial
constatou-se que o bairro faz parte da primeira légua patrimonial da cidade, e ainda foi

99
um dos primeiros bairros urbanizados do município, fatos que o leva a ter um alto grau
de infraestrutura urbana.

Em contraponto a análise sócio-espacial, ao ater-se sobre os aspectos voltados


a ocupação e uso do solo, a Campina é um bairro caracterizado por ser uma área
eminentemente central, onde a ocupação comercial se sobrepõe a ocupação residencial.
Esta análise não se faz estanque ao aspecto estrutural do bairro, uma vez que possui além
da estrutura comercial uma ampla oferta dos serviços públicos considerados neste estudo.

As particularidades que envolvem a caracterização do bairro da Campina, o faz


pólo atrativo de populações residentes nos demais bairros do município, com ênfase a
população que não dispõe de uma infraestrutura básica, fazendo do bairro receptor de um
movimento populacional pendular, flutuante, que eleva o seu iCV visto que, neste estudo,
realizou-se uma correlação direta entre o número de registros de ocorrências criminosas
com a população residente ao bairro e não com movimento populacional pendular.

A análise relacional entre os índices de criminalidade violenta e o de infraestrutura e


equipamentos urbanos no município de Belém deve considerar ainda que o fator geográfico
tem influência no que tange a expansão uma vez que é cortado por bacias hidrográficas que
se interpõem as dificuldades que envolvem esta expansão de forma coesa, caracterizada
em grande parte pela presença das desigualdades espaciais eminentes entre os bairros
que comportam esta pesquisa. A desigualdade espacial vem junto a desigualdade social,
no momento em que em determinados bairros são caracterizados pela presença de
habitações precárias no que trata a presença de serviços básicos como saneamento,
educação, saúde, segurança e ainda a exiguidade de espaços públicos voltados ao lazer
e cultura da população.

O desenvolvimento desta pesquisa se traduziu em ultrapassar vários obstáculos


no que diz respeito a coleta de informações oficiais, uma vez que a carência de dados
que respondessem a unidade de análise adotada assim como a atualização dos dados
do município de Belém é uma realidade. Os dados que compuseram esta pesquisa
foram limitados pela indisponibilidade de referências que dessem aporte a uma análise
mais profunda, considerando a unidade espacial adotada, o bairro, o que permite sugerir
o aprofundamento desta análise específica por bairro e a sua correlação espacial de
vizinhança com os bairros circundantes.

Esta pesquisa buscou contribuir ao entendimento do fenômeno da violência urbana


tomando como alicerce deste evento o próprio fenômeno urbano, explorando a análise
espacial como elemento capaz de responder às lacunas presentes no desenvolvimento
do planejamento urbano de uma cidade, no que tange o direcionamento das políticas
públicas em conexão com as demandas de um centro urbano voltadas as diferentes
escalas que compreendem este espaço.

100
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103
APÊNDICE
APÊNDICE A

i) Tabela de Valores Empíricos por Bairro Continua


Rendimento Nominal
Mediano Mensal
Domicílios Domicílios
População Total de Domicílios das Pessoas
Domicílios População População População com Domicílios com Ligação Total de Total de Área
de 15 anos População Estabeleci- com com Rendimento
BAIRRO População Particulares de 15 anos Alfabeti- em Idade Ligação de com de Esgoto Equipamentos Equipamentos Verde
ou mais Analfabeta mentos Coleta de Responsáveis por
Permanentes ou mais zada Escolar Água na Banheiro na Rede de Segurança de Saúde Total (m²)
Alfabetizada de Ensino Lixo Domicílios
Rede Geral Geral
Particulares
Permanentes (R$)

ÁGUAS LINDAS 10829 2720 6317 6760 1321 7980 3539 2 20 2493 47 2288 0 2 0 251,00

BARREIRO 24446 5085 14679 16107 3381 18172 7875 5 4777 4596 420 4559 0 0 0 239,00

BATISTA
19412 5138 15503 15723 527 17844 4066 6 4406 5102 3189 5134 2 0 43212,85 2000,00
CAMPOS

BENGUÍ 28120 6173 18076 19402 2939 22123 8367 25 4063 5911 934 5994 1 4 28004,06 280,00

CABANAGEM 29013 6579 16977 18496 3777 21932 10204 2 5109 5928 1178 6030 0 2 0 250,00

CAMPINA 5407 1610 4459 4522 138 5008 971 4 1442 1607 1552 1609 6 0 147510,13 1252,50

CANUDOS 14612 3347 10906 11270 836 12751 3464 9 3133 3291 1090 3343 0 0 1918,25 400,00

CASTANHEIRA 24667 5865 17618 18377 1770 20793 6140 9 4705 5773 1456 5774 0 0 0 408,00

CIDADE VELHA 12025 2601 9282 9503 478 10778 2671 5 2525 2581 1795 2569 6 1 85307,97 800,00

CONDOR 42038 8753 28400 30185 3989 34085 11582 4 8640 8551 1888 8684 0 2 5092,64 300,00

CREMAÇÃO 30480 6998 22525 23327 1661 26505 7189 8 6441 6942 2622 6983 1 3 11281,2 500,00

CURIÓ UTINGA 18892 4312 13345 13925 1346 15959 4981 3 3664 4048 1165 4036 0 2 4255,59 320,00

FÁTIMA 13206 2882 9451 9818 834 11330 3349 3 2785 2841 983 2844 0 2 10020,78 350,00

GUAMÁ 102124 22138 67149 71816 10322 81674 29189 14 21192 21415 2378 21588 2 5 3107,72 300,00

JURUNAS 62740 13320 42747 45665 5896 51177 16892 19 12883 13024 3867 13257 2 2 13244,31 300,00

MANGUEIRÃO 32699 8242 21302 22199 2724 26568 10001 4 4273 7730 1759 7499 0 0 6897,32 400,00

MARACANGALHA 27767 5974 18172 19178 2703 22256 8339 1 5337 5877 850 5795 1 0 29508 300,00

MARAMBAIA 62370 14333 47111 51332 3780 53559 11078 13 12387 14120 5757 14166 3 4 84114,35 500,00

MARCO 64016 15528 48699 49867 2754 56973 14896 7 13683 15378 8131 15501 5 2 152498,16 700,00

NAZARÉ 18706 5256 15764 15870 257 17758 3451 6 3395 5252 4270 5255 6 1 61511,43 2500,00
i) Tabela de Valores Empíricos por Bairro Conclusão
Rendimento Nominal
Mediano Mensal
Domicílios Domicílios
População Total de Domicílios das Pessoas
Domicílios População População População com Domicílios com Ligação Total de Total de Área
de 15 anos População Estabeleci- com com Rendimento
BAIRRO População Particulares de 15 anos Alfabeti- em Idade Ligação de com de Esgoto Equipamentos Equipamentos Verde
ou mais Analfabeta mentos Coleta de Responsáveis por
Permanentes ou mais zada Escolar Água na Banheiro na Rede de Segurança de Saúde Total (m²)
Alfabetizada de Ensino Lixo Domicílios
Rede Geral Geral
Particulares
Permanentes (R$)

PARQUE VERDE 31488 7773 20322 21243 2621 25350 9505 5 3163 7142 2142 7515 0 0 0 350,00

PEDREIRA 69067 16339 50408 51975 3742 59900 17075 16 14103 16104 6485 16175 2 0 3082,5 480,00

REDUTO 6998 1863 5680 5729 122 6544 1483 2 1630 1862 1779 1862 0 0 12816,6 2000,00

SACRAMENTA 44407 9928 30254 31925 3830 36528 12255 7 9203 9719 2178 9517 1 2 7136 300,00

SÃO BRÁS 19881 5040 16048 16243 483 18353 3980 16 4390 5031 3214 5037 1 2 17454,9 1200,00

SÃO CLEMENTE 5833 1455 3110 3488 966 3955 1978 0 262 1016 4 1148 0 0 0 200,00

SOUZA 12856 3292 9525 9707 447 11430 3149 9 2482 3279 1059 3289 1 0 16128,25 1000,00

TAPANÃ 51916 12510 32038 34003 5595 39984 16344 17 4003 10964 805 11562 1 2 33904,84 300,00

TELÉGRAFO 42785 9135 29791 31477 3594 35540 11165 17 8839 8774 2184 9021 1 4 2329,4 305,50

TERRA FIRME 63191 13735 39880 42986 7181 49391 19794 11 13044 13192 897 13314 0 2 2346,09 270,00

UMARIZAL 30064 7501 23855 24198 848 27536 6264 7 6729 7478 4592 7495 0 2 10965 1100,00

UMA 4724 1144 3103 3218 514 3663 1369 0 501 986 12 1090 0 0 0 280,00

UNIVERSITÁRIO 2629 560 1478 1641 396 1888 939 0 552 546 1 560 0 0 0 230,00

VAL DE CÃES 5481 1301 3991 4054 221 4769 1359 7 1009 1284 591 1299 0 4 10904,25 1280,00

TOTAL BELÉM 1034925 238439 717993 755258 81994 860089 280868 265 194775 229846 71276 231801 42 50 804552,59 360

Fonte: Anuário Estatístico do Município de Belém 2006. Adaptada pela autora


ii) Tabela de Indicadores por Bairro Continua
Coeficiente de Rendimento Nominal
Coeficiente de Coeficiente de
Equipamentos de Taxa de Domicílio Taxa de Domicílio Taxa de Mediano Mensal
Equipamentos de Equipamentos Coeficiente de Taxa de Domicílio
Educação pela Particular Particular Domicílio das Pessoas
Taxa de Coeficiente Segurança pela de Saúde pela Áreas Verdes Particular
BAIRRO População em Permanente Permanente Particular com Rendimento
Alfabetização de Analfabetos População por População por (m²) Permanente com
Idade Escolar com Água da Rede com Coleta Permanente com Responsáveis por
100.000 100.000 por População Rede de Esgoto
Por 10.000 Geral de Lixo Banheiro Domicílios Particulares
Habitantes Habitantes
Habitantes Permanentes (R$)

ÁGUAS LINDAS 93,45 16,55 5,65 0,00 18,47 0,00 1,73 0,74 84,12 91,65 251,00

BARREIRO 91,13 18,61 6,35 0,00 0,00 0,00 8,26 93,94 89,66 90,38 239,00

BATISTA CAMPOS 98,60 2,95 14,76 10,30 0,00 2,23 62,07 85,75 99,92 99,30 2000,00

BENGUÍ 93,17 13,28 29,88 3,56 14,22 1,00 15,13 65,82 97,10 95,76 280,00

CABANAGEM 91,79 17,22 1,96 0,00 6,89 0,00 17,91 77,66 91,66 90,10 250,00

CAMPINA 98,61 2,76 41,19 110,97 0,00 27,28 96,40 89,57 99,94 99,81 1252,50

CANUDOS 96,77 6,56 25,98 0,00 0,00 0,13 32,57 93,61 99,88 98,33 400,00

CASTANHEIRA 95,87 8,51 14,66 0,00 0,00 0,00 24,83 80,22 98,45 98,43 408,00

CIDADE VELHA 97,67 4,43 18,72 49,90 8,32 7,09 69,01 97,08 98,77 99,23 800,00

CONDOR 94,09 11,70 3,45 0,00 4,76 0,12 21,57 98,71 99,21 97,69 300,00

CREMAÇÃO 96,56 6,27 11,13 3,28 9,84 0,37 37,47 92,04 99,79 99,20 500,00

CURIÓ UTINGA 95,83 8,43 6,02 0,00 10,59 0,23 27,02 84,97 93,60 93,88 320,00

FÁTIMA 96,26 7,36 8,96 0,00 15,14 0,76 34,11 96,63 98,68 98,58 350,00

GUAMÁ 93,50 12,64 4,80 1,96 4,90 0,03 10,74 95,73 97,52 96,73 300,00

JURUNAS 93,61 11,52 11,25 3,19 3,19 0,21 29,03 96,72 99,53 97,78 300,00

MANGUEIRÃO 95,96 10,25 4,00 0,00 0,00 0,21 21,34 51,84 90,99 93,79 400,00

MARACANGALHA 94,75 12,15 1,20 3,60 0,00 1,06 14,23 89,34 97,00 98,38 300,00

MARAMBAIA 91,78 7,06 11,73 4,81 6,41 1,35 40,17 86,42 98,83 98,51 500,00

MARCO 97,66 4,83 4,70 7,81 3,12 2,38 52,36 88,12 99,83 99,03 700,00

NAZARÉ 99,33 1,45 17,39 32,08 5,35 3,29 81,24 64,59 99,98 99,92 2500,00
ii) Tabela de Indicadores por Bairro Conclusão
Coeficiente de Rendimento Nominal
Coeficiente de Coeficiente de
Equipamentos de Taxa de Domicílio Taxa de Domicílio Taxa de Mediano Mensal
Equipamentos de Equipamentos Coeficiente de Taxa de Domicílio
Educação pela Particular Particular Domicílio das Pessoas
Taxa de Coeficiente Segurança pela de Saúde pela Áreas Verdes Particular
BAIRRO População em Permanente Permanente Particular com Rendimento
Alfabetização de Analfabetos População por População por (m²) Permanente com
Idade Escolar com Água da Rede com Coleta Permanente com Responsáveis por
100.000 100.000 por População Rede de Esgoto
Por 10.000 Geral de Lixo Banheiro Domicílios Particulares
Habitantes Habitantes
Habitantes Permanentes (R$)

PARQUE VERDE 95,66 10,34 5,26 0,00 0,00 0,00 27,56 40,69 96,68 91,88 350,00

PEDREIRA 96,99 6,25 9,37 2,90 0,00 0,04 39,69 86,31 99,00 98,56 480,00

REDUTO 99,14 1,86 13,49 0,00 0,00 1,83 95,49 87,49 99,95 99,95 2000,00

SACRAMENTA 94,77 10,49 5,71 2,25 4,50 0,16 21,94 92,70 95,86 97,89 300,00

SÃO BRÁS 98,80 2,63 40,20 5,03 10,06 0,88 63,77 87,10 99,94 99,82 1200,00

SÃO CLEMENTE 89,16 24,42 0,00 0,00 0,00 0,00 0,27 18,01 78,90 69,83 200,00

SOUZA 98,13 3,91 28,58 7,78 0,00 1,25 32,17 75,39 99,91 99,61 1000,00

TAPANÃ 94,22 13,99 10,40 1,93 3,85 0,65 6,43 32,00 92,42 87,64 300,00

TELÉGRAFO 94,64 10,11 15,23 2,34 9,35 0,05 23,91 96,76 98,75 96,05 305,50

TERRA FIRME 92,77 14,54 5,56 0,00 3,17 0,04 6,53 94,97 96,93 96,05 270,00

UMARIZAL 98,58 3,08 11,17 0,00 6,65 0,36 61,22 89,71 99,92 99,69 1100,00

UNA 96,43 14,03 0,00 0,00 0,00 0,00 1,05 43,79 95,28 86,19 280,00

UNIVERSITÁRIO 90,07 20,97 0,00 0,00 0,00 0,00 0,18 98,57 100,00 97,50 230,00

VAL DE CÃES 98,45 4,63 51,51 0,00 72,98 1,99 45,43 77,56 99,85 98,69 1280,00

TOTAL BELÉM 95,07 9,53 9,44 4,06 4,83 0,78 29,89 81,69 97,22 96,40 360,00

Fonte: Adaptada pela autora


iii) Tabela de Indicadores da Dimensão Social por Bairro.

Índice
BAIRRO ISE1 ISE2 ISE3 ISSG ISSD ISLZ Grupal Social

ÄGUAS LINDAS 93,45 32,23 10,97 0,00 25,31 0,00 26,99

BARREIRO 91,13 23,83 12,33 0,00 0,00 0,00 21,21

BATISTA CAMPOS 98,60 87,91 28,65 9,28 0,00 8,16 38,77

BENGUÍ 93,17 45,61 58,01 3,20 19,49 3,65 37,19

CABANAGEM 91,79 29,49 3,81 0,00 9,45 0,00 22,42

CAMPINA 98,61 88,72 79,97 100,00 0,00 100,00 77,88

CANUDOS 96,77 73,16 50,44 0,00 0,00 0,48 36,81

CASTANHEIRA 95,87 65,15 28,46 0,00 0,00 0,00 31,58

CIDADE VELHA 97,67 81,84 36,34 44,96 11,39 26,01 49,70

CONDOR 94,09 52,09 6,70 0,00 6,52 0,44 26,64

CREMAÇÃO 96,56 74,34 21,60 2,96 13,49 1,36 35,05

CURIÓ UTINGA 95,83 65,47 11,69 0,00 14,51 0,83 31,39

FÄTIMA 96,26 69,86 17,39 0,00 20,75 2,78 34,51

GUAMÁ 93,50 48,26 9,31 1,76 6,71 0,11 26,61

JURUNAS 93,61 52,83 21,84 2,87 4,37 0,77 29,38

MANGUEIRÃO 95,96 58,02 7,76 0,00 0,00 0,77 27,09

MARACANGALHA 94,75 50,28 2,33 3,25 0,00 3,90 25,75

MARAMBAIA 91,78 71,10 22,78 4,33 8,79 4,94 33,95

MARCO 97,66 80,21 9,12 7,04 4,28 8,73 34,51

NAZARÉ 99,33 94,07 33,75 28,90 7,33 12,05 45,91

PARQUE VERDE 95,66 57,67 10,21 0,00 0,00 0,00 27,26

PEDREIRA 96,99 74,42 18,19 2,61 0,00 0,16 32,06

REDUTO 99,14 92,37 26,18 0,00 0,00 6,71 37,40

SACRAMENTA 94,77 57,07 11,09 2,03 6,17 0,59 28,62

SÃO BRÁS 98,80 89,23 78,05 4,53 13,78 3,22 47,93

SÃO CLEMENTE 89,16 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 14,86

SOUZA 98,13 83,99 55,49 7,01 0,00 4,60 41,53

TAPANÃ 94,22 42,71 20,19 1,74 5,28 2,39 27,76

TELÉGRAFO 94,64 58,60 29,56 2,11 12,81 0,20 32,99

TERRA FIRME 92,77 40,47 10,79 0,00 4,34 0,14 24,75

UMARIZAL 98,58 87,39 21,69 0,00 9,12 1,34 36,35

UNA 96,43 42,55 0,00 0,00 0,00 0,00 23,16

UNIVERSITÁRIO 90,07 14,13 0,00 0,00 0,00 0,00 17,37

VAL DE CÃES 98,45 81,03 100,00 0,00 100,00 7,29 64,46

TOTAL BELÉM 95,07 60,97 18,57 3,66 6,62 2,40 31,21

Fonte: Adaptada pela autora


iv) Tabela de Indicadores da Dimensão Ambiental por Bairro

BAIRRO ISA1 ISA2 ISA3 ISA4 Índice Grupal Ambiental

ÁGUAS LINDAS 1,73 0,74 84,12 91,65 44,56

BARREIRO 8,26 93,94 89,66 90,38 70,56

BATISTA CAMPOS 62,07 85,75 99,92 99,30 86,76

BENGUÍ 15,13 65,82 97,10 95,76 68,45

CABANAGEM 17,91 77,66 91,66 90,10 69,33

CAMPINA 96,40 89,57 99,94 99,81 96,43

CANUDOS 32,57 93,61 99,88 98,33 81,10

CASTANHEIRA 24,83 80,22 98,45 98,43 75,48

CIDADE VELHA 69,01 97,08 98,77 99,23 91,02

CONDOR 21,57 98,71 99,21 97,69 79,30

CREMAÇÃO 37,47 92,04 99,79 99,20 82,12

CURIÓ UTINGA 27,02 84,97 93,60 93,88 74,87

FÁTIMA 34,11 96,63 98,68 98,58 82,00

GUAMÁ 10,74 95,73 97,52 96,73 75,18

JURUNAS 29,03 96,72 99,53 97,78 80,76

MANGUEIRÃO 21,34 51,84 90,99 93,79 64,49

MARACANGALHA 14,23 89,34 97,00 98,38 74,74

MARAMBAIA 40,17 86,42 98,83 98,51 80,98

MARCO 52,36 88,12 99,83 99,03 84,84

NAZARÉ 81,24 64,59 99,98 99,92 86,43

PARQUE VERDE 27,56 40,69 96,68 91,88 64,20

PEDREIRA 39,69 86,31 99,00 98,56 80,89

REDUTO 95,49 87,49 99,95 99,95 95,72

SACRAMENTA 21,94 92,70 95,86 97,89 77,10

SÃO BRÁS 63,77 87,10 99,94 99,82 87,66

SÃO CLEMENTE 0,27 18,01 78,90 69,83 41,75

SOUZA 32,17 75,39 99,91 99,61 76,77

TAPANÃ 6,43 32,00 92,42 87,64 54,62

TELÉGRAFO 23,91 96,76 98,75 96,05 78,87

TERRA FIRME 6,53 94,97 96,93 96,05 73,62

UMARIZAL 61,22 89,71 99,92 99,69 87,63

UNA 1,05 43,79 95,28 86,19 56,58

UNIVERSITÁRIO 0,18 98,57 100,00 97,50 74,06

VAL DE CÃES 45,43 77,56 99,85 98,69 80,38

TOTAL BELÉM 29,89 81,69 97,22 96,40 76,30

Fonte: Adaptada pela autora


v) Tabela de Índices Grupais e Índice Sintético por Bairro
Índice Grupal da Dimensão
BAIRRO Índice Grupal Ambiental Índice Grupal Social Índice Sintético
Econômica

ÁGUAS LINDAS 44,56 26,99 2,22 24,59

BARREIRO 70,56 21,21 1,70 31,16

BATISTA CAMPOS 86,76 38,77 78,26 67,93

BENGUÍ 68,45 37,19 3,48 36,37

CABANAGEM 69,33 22,42 2,17 31,31

CAMPINA 96,43 77,88 45,76 73,36

CANUDOS 81,10 36,81 8,70 42,20

CASTANHEIRA 75,48 31,58 9,04 38,70

CIDADE VELHA 91,02 49,70 26,09 55,60

CONDOR 79,30 26,64 4,35 36,76

CREMAÇÃO 82,12 35,05 13,04 43,41

CURIÓ UTINGA 74,87 31,39 5,22 37,16

FÁTIMA 82,00 34,51 6,52 41,01

GUAMÁ 75,18 26,61 4,35 35,38

JURUNAS 80,76 29,38 4,35 38,16

MANGUEIRÃO 64,49 27,09 8,70 33,42

MARACANGALHA 74,74 25,75 4,35 34,94

MARAMBAIA 80,98 33,95 13,04 42,66

MARCO 84,84 34,51 21,74 47,03

NAZARÉ 86,43 45,91 100,00 77,45

PARQUE VERDE 64,20 27,26 6,52 32,66

PEDREIRA 80,89 32,06 12,17 41,71

REDUTO 95,72 37,40 78,26 70,46

SACRAMENTA 77,10 28,62 4,35 36,69

SÃO BRÁS 87,66 47,93 43,48 59,69

SÃO CLEMENTE 41,75 14,86 0,00 18,87

SOUZA 76,77 41,53 34,78 51,03

TAPANÃ 54,62 27,76 4,35 28,91

TELÉGRAFO 78,87 32,99 4,59 38,81

TERRA FIRME 73,62 24,75 3,04 33,81

UMARIZAL 87,63 36,35 39,13 54,37

UNA 56,58 23,16 3,48 27,74

UNIVERSITÁRIO 74,06 17,37 1,30 30,91

VAL DE CÃES 80,38 64,46 46,96 63,93

TOTAL BELÉM 76,30 31,21 6,52 38,01

Fonte: Adaptada pela autora


vi) Tabela de Indicadores e ICV

Tentativa de
BAIRRO População Latrocínio Homicídio Estupro ICV
Homicídio

ÁGUAS LINDAS 10829 0 0 0 0 0,00

BARREIRO 24446 0 3 0 2 2,05

BATISTA CAMPOS 19412 1 2 0 2 2,58

BENGUÍ 28120 8 33 5 5 18,14

CABANAGEM 29013 3 17 3 5 9,65

CAMPINA 5407 0 5 2 5 22,19

CANUDOS 14612 0 4 4 3 7,53

CASTANHEIRA 24667 0 1 3 0 1,62

CIDADE VELHA 12025 0 4 3 1 6,65

CONDOR 42038 0 7 11 2 4,76

CREMAÇÃO 30480 0 13 15 5 10,83

CURIÓ UTINGA 18892 0 6 1 2 4,76

FÁTIMA 13206 0 3 6 1 7,57

GUAMÁ 102124 8 38 21 6 7,15

JURUNAS 62740 8 23 18 3 8,29

MANGUEIRÃO 32699 0 3 0 1 1,22

MARACANGALHA 27767 0 0 0 1 0,36

MARAMBAIA 62370 6 27 15 9 9,14

MARCO 64016 1 13 10 3 4,22

NAZARÉ 18706 0 4 1 0 2,67

PARQUE VERDE 31488 0 1 1 0 0,64

PEDREIRA 69067 1 20 10 4 5,07

REDUTO 6998 0 0 0 1 1,43

SACRAMENTA 44407 3 21 4 6 7,66

SÃO BRÁS 19881 5 10 6 1 11,07

SÃO CLEMENTE 5833 0 0 0 0 0,00

SOUZA 12856 0 0 1 1 1,56

TAPANÃ 51916 0 12 6 5 4,43

TELÉGRAFO 42785 2 14 4 5 5,84

TERRA FIRME 63191 5 25 15 4 7,75

UMARIZAL 30064 3 10 3 3 6,32

UNA 4724 0 1 2 2 10,58

UNIVERSITÁRIO 2629 0 0 0 0 0,00

VAL DE CÃES 5481 1 3 1 0 9,12

TOTAL BELÉM 1034925 55 323 171 88 6,16

Fonte: Adaptada pela autora

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