A Europa de 1815 havia sido organizada contra a hegemonia francesa, mas vai ter de lutar com forças
novas que rejeitam princípio da legitimidade, uma delas é o nacionalismo emergente. Os “sentimentos
nacionais” tornam-se força política através da sobreposição de movimentos intelectuais com
movimentos políticos (que também se somam aos interesses de potências em fortalecer ou enfraquecer
outras potências, e que passam a apoiar os movimentos nacionais que lhes interessam). No que diz
respeito às lutas entre o princípio de nacionalidade e o de legitimidade, pode-se identificar duas fases:
- 1815-51: com poucas exceções a reação vence; o mapa europeu fica mais ou menos inalterado.
- 1851-71: “triunfo” do “princípio das nacionalidades”. (DUROSELLE, 1976, 25)
No período que se estende das Revoluções de 1848 à derrota da Comuna de Paris (1871), a política
internacional passou a girar em torno da questão da criação de uma Europa de Estados-nações
(HOBSBAWM, 1982, 101)
- o nacionalismo era chamado no século XIX de “princípio de nacionalidade”.
- 1848, em termos internacionais, significou afirmação de nacionalidades rivais: alemães, italianos,
húngaros, poloneses, romenos, etc. afirmavam seu direito de serem Estados independentes.
- Discussão entre liberais (principalmente), democratas e socialistas sobre o “princípio de nacionalidade
e os critérios para a formação de um Estado-nação.
- Os movimentos liberais perdem progressivamente seu radicalismo, e as alianças com grupos
conservadores normalmente englobavam a questão das nacionalidades.
- Em meados do século XIX ocorre proliferação de movimentos nacionais, que em geral iniciam como
movimentos folclóricos de resgate ou estímulo (ou invenção) de uma língua, costumes e uma cultura
“nacional”.
- Numa segunda fase transformam-se em movimentos políticos (organização de sociedades
educacionais e culturais), mas ainda não se tratam de movimentos de massas; seus membros provém
geralmente de camadas médias, especialmente literatos, professores, estudantes e pequena burguesia
urbana.
- O nacionalismo de massas organiza-se sob influência de organizações das camadas médias liberais-
democratas que mobilizam camponeses e trabalhadores (diferentes do nacionalismo da elite dos
movimentos alemão e italiano). Exemplos para o período são o nacionalismo tcheco e os fenianos
irlandeses.
- Socialistas, em geral, não são nacionalistas e sim internacionalistas.
2
- Movimentos:
Pangermanismo: objetivo é unir em um só território todos os povos de língua alemã dispersos na
Holanda, Luxemburgo, Áustria-Hungria, Rússia, Império Otomano.
Paneslavismo: objetivo é união de todos os povos de língua eslava; idéia de formar uma grande
nação ao invés de pequenas nações consideradas inviáveis; movimento apoiado pela Rússia e
combatido pelas esquerdas, atuou como força desagregadora do Império Austro-Húngaro
Grande Sérvia: transformação da Sérvia numa grande potência, agrupando outras nacionalidades dos
Bálcãs ainda dominadas pelo Império Turco e Áustria-Hungria.
Fenianos (Irlanda): movimento de massas do final da década de 1850 (independente das classes
médias) contra a dominação inglesa; criação da Irmandade Republicana Irlandesa (que está na
origem do Exército Republicano Irlandês, IRA).
Nacionalismo tcheco: movimento da década de 1860, contra o domínio Austro-Húngaro.
Itália: movimentos de orientação político-ideológica e bases sociais diferentes: Risorgimento, Jovem
Itália e Camisas Vermelhas .
Figura 1
3
Unificações
Os processos que conduziram às unificações alemã e italiana foram liderados pelas burguesias das áreas
mais industrializadas, com interesses na formação de grandes mercados unificados; em ambos os casos
ocorreu aliança entre alta burguesia e setores sócio-econômicos tradicionais.
Unificação Italiana
- 1848: guerra do Piemonte, Lombardia e Veneza contra Áustria; revolta contra Pio IX nos Estados
Pontifícios, Mazzini lidera instauração de uma República;
- Reino do Piemonte-Sardenha, conduzido politicamente por Cavour, planejava libertar o norte da Itália
do domínio austríaco através de aliança com a França (apoio em 1859 para o caso de guerra);
- acordos de Cavour com Napoleão III: parte da Lombardia vai para Piemonte e Nice e Savóia para
França;
- plebiscitos na Toscana, Parma e Módena, que se anexam à Piemonte;
- organização de campanha de opinião pública em toda Itália na década de 1850;
- Cavour consegue tomar a Lombardia da Áustria-Hungria, enquanto Garibaldi e outros movimentos
revolucionários tomavam outras regiões (1860: Sicília e Nápoles);
- Garibaldi é convencido a deixar as regiões do centro e sul serem anexadas ao Piemonte (depois do
fracasso em tomar Roma em 1861 e 1867).
Figura 2
4
Figura 3
5
Unificação Alemã
Propostas:
- Antes de 1848:
Confederação do Reno (1803 a 1813): durante domínio napoleônico quase todos os territórios
seculares e cidades livres da Europa central foram eliminados, num processo que beneficiou
algumas regiões em detrimento do poder do Sacro Império Romano Germânico (que acabou em
1806), da Prússia e Áustria (que perderam territórios). Baden e Württemberg tornaram-se
reinos em 1805 e uniram-se a outros estados formando a Confederação do Reno (Rheinbund),
que posteriormente incluiu Saxônia, Westphalia e Berg. A Confederação do Reno terminou junto
com o colapso do regime napoleônico na região.
- 1848: Assembléia de Frankfurt (alemães e não-alemães do Império Austríaco) eleita por sufrágio
universal tenta a união da Alemanha, mas a Prússia impõe fracasso a esse projeto.
Figura 4
6
- Unificação acaba ocorrendo mais tarde, a partir do Reino da Prússia: predomínio da aristocracia
territorial Junker, aliada a uma crescente burguesia industrial, que promovem e se beneficiam da
criação da União Aduaneira (Zollwerein) e da expansão industrial da década de 1850, que fornecem
bases para a expansão da Prússia.
- Articulador político da unificação foi Bismarck (era 1º ministro de Guilherme I, dinastia Hohenzollern),
para quem a unificação só se daria pela eliminação da influência política da Áustria através da força
militar.
- A diplomacia bismarquiana (manobras que forçam países a declarar guerra à Prússia) consegue isolar a
Áustria e, através de série de guerras, estimular um nacionalismo alemão em apoio à dominação da
Prússia.
- 1866: Guerra entre Prússia e Áustria na questão do Holstein: Prússia forma Confederação Alemã do
Norte, excluindo a Áustria.
Figura 5
7
Figura 6
8
A Questão do Oriente
Denominação dos problemas políticos internacionais gerados pelo declínio do Império Otomano.
Interesses envolvidos:
- Rússia utiliza paneslavismo para estimular independência de áreas do Império Otomano.
- Rússia tem interesse na navegação pelos estreitos de Bósforo e Dardanelos, que lhe permitiria saída do
Mar Negro. A Questão dos Estreitos coloca a Rússia em conflito com Inglaterra e Império Turco.
- Inglaterra tenta impedir expansão russa em função dos seus interesses comerciais no Oriente Médio e
nas rotas de comunicação com a Índia; nesse sentido, fornece apoio ao Império Otomano para evitar
crescimento da Rússia.
- A Áustria-Hungria fazia fronteira com Império Otomano, mas não queria perder mais territórios para as
nacionalidades (tinha clara posição contrária às independências nacionais).
- A França tinha interesses econômicos no Oriente Médio e Egito.
Figuras 7 e 8
9
Figuras 9 e 10
Figura 11
10
Figura 12
Figura 13
11
Referências bibliográficas:
DUROSELLE, J. B. A Europa de 1815 aos nossos dias. Vida política e relações internacionais. São Paulo: Pioneira,
1976. Caps. 3 e 4.
HOBSBAWM, Eric J. A era do capital. 1848-1875. 4 a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. Cap. 5.
KINDER, Herman e HILGEMANN, Werner. Atlas histórico mundial. De la Revolución Francesa a nuestros días. 10a
ed. Madrid: Istmo, 1982.
PARKER, Geoffrey (ed.). Atlas da História do Mundo. 4a. Ed., São Paulo: Folha de São Paulo, 1995. [Publicado
originalmente como: The Times Atlas of World History. Editado por Geoffrey Barraclough, Londres: The Times
Books, 1993.]
Leituras sugeridas:
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas. Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo:
Companhia das Letras, 2008.
BALAKRISHNAN, Gopal (org.). Um mapa da questão nacional. Rio de Janeiro: Contraponto, 2000. [Mapping the
nation. London: Verso, 1996.]
Estudos Avançados. v. 22, no 62, São Paulo, jan./abr. 2008. Dossiê Nação/Nacionalismo. [Textos disponíveis em
<www.scielo.br> ou <http://novo.periodicos.capes.gov.br/>]
GEARY, Patrick J. O mito das nações. A invenção do nacionalismo. São Paulo: Conrad Editora do Brasil, 2005.
GIDDENS, Anthony. O Estado-nação e a violência. Segundo volume de Uma crítica contemporânea ao materialismo
histórico. São Paulo: Edusp, 2001. Especialmente caps. 4, 8 e 10
HOBSBAWM, Eric J. A era dos impérios. 1875-1914. 2 a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1989. Cap. 6.
HOBSBAWM, Eric J. Nações e nacionalismo desde 1780. Programa, mito e realidade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1990.
Figuras 1, 3, 11, 12 e 13: KINDER, Herman e HILGEMANN, Werner. Atlas histórico mundial: de la Revolución
Francesa a nuestros días. 10a ed. Madrid: Istmo, 1982.
Figura 6: PARKER, Geoffrey (ed.). Atlas da História do Mundo. 4a. Ed., São Paulo: Folha de São Paulo, 1995.
[Publicado originalmente como: The Times Atlas of World History. Editado por Geoffrey Barraclough, Londres:
The Times Books, 1993.]
Lista de sites recomendados com conteúdo complementar e recursos didáticos, principalmente mapas e
textos:
Atlas-historique.net - <http://www.atlas-historique.net>
Atlas-historique.net a pour ambition d'offrir aux internautes francophones des repères utiles à la compréhension
de l'histoire du monde contemporain (de 1815 à nos jours) et de la situation géopolitique du monde actuel à
travers un médium particulier, situé entre l'image et le texte ; la cartographie.